Revista J.P | Edição 161

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DE CONVERSA EM CONVERSA POR ANTONIO BIVAR

[ALGUNS] PROSPECTOS PARA 2020

Reflexões para o ano que começa – só agora – e dicas culturais por um andarilho da pauliceia

É

aquela coisa, Jorge Ben Jor, ainda como Jorge Ben, deixou bem claro: a gente mora num país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza. E que beleza. Em fevereiro tem Carnaval, sim, mas Tom Jobim foi além, ao nos lembrar das águas de março fechando o verão. (Assim mesmo, no gerúndio.) E a gente, precavida, se prepara. Sabemos que aquele aguaceiro dificulta, inclusive, o trânsito. Ainda assim damos um jeito de transitar. Pois é, falaram tanto, que a morena foi embora. Ataulfo Alves não deixou por menos. Tudo acaba em samba, esse ritmo tão nosso, tão setentrional, não é mesmo? Mas nem todo verão é Verão de 42, aquele filme da sumida Jennifer O’Neill, tão linda! Ano passado, resiliência foi uma palavra que caiu até na política, segundo o Houaiss. O substantivo é feminino, que na física indica a propriedade que alguns corpos têm de retornar à forma original após terem sido submetidos a uma deformação. Se serve de consolo, aí já no Aurélio, resiliência é a capacidade de se recobrar ou de se adaptar à má sorte, às mudanças. E se nem todos atravessam a existência com um corpitcho à Costanza Pascolato, não é por falta de escola. A cenoura está aí, é só ralar e engolir. Com limão, de preferência, porque o danado do cítrico corta qualquer ressaca. E se não conseguimos aquele corpinho, pra que chorar, pra que sofrer, depois de uma noite de angústia vem logo um lindo amanhecer e tem até quem prefira barriguinha de tomate. O bom do Brasil é que brasileiro sabe que aqui tem gosto pra tudo, embora uma facção seja escrava da moda. E a moda, quando não se ajusta bem ao corpo, morde. Seja qual for o barato, ninguém fica sem seu quinhão. Seja rico, seja pobre ou remediado, miserável, e até sem teto, o todo, no que tange ao cenário, faz a festa. Se a vida está muito barulhenta, tem quem se refugie no silêncio. Como naquele sucesso da década de 1960, “Silence is Golden”, o silêncio é dourado. Do grupo mainstream inglês, The Tremeloes, e este trecho da letra, que dispensa tradução: “Talking is cheap / people follow like sheep / Even though there is nowhere to go”. Mas a gente vai, porque em 2020 não tem como não ir. O bom é que temos, no presente, acesso total ao passado, sem-

58 J.P FEVEREIRO 2020

De cima para baixo, Jorge Ben Jor, Jennifer O’Neill e Costanza Pascolato

pre inspirador. Seja via Google, YouTube, Wikipédia e o escambau. A prosódia é uma boa, mexe com a pronúncia correta das palavras, quanto à acentuação e a entonação. Quem quiser


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