4 minute read

EXPEDIÇÃO BRASIL

Next Article
SOB OS HOLOFOTES

SOB OS HOLOFOTES

A designer Julia Gastin dirigiu 4 mil quilômetros e explorou rincões para fazer um mergulho no artesanato nacional

Advertisement

POR ISABELLA D’ERCOLE

oteiros alternativos são a especialidade da designer de joias e produtos Julia Gastin. A carioca gosta de se aventurar por lugares pouco explorados e de descobrir hábitos locais. Não sentiu dificuldade, portanto, em montar o planejamento de cerca de 40 dias percorrendo parte do sertão nordestino de furgão.

FOTOS ARQUIVO PESSOAL

Ponto de partida

“Começamos a viagem pelo litoral alagoano, porque eu queria passar o Réveillon perto da água. Fui às praias do Patacho, Lages e Japaratinga. Descansamos bastante antes de cair na estrada. De lá, de furgão, fomos para a cidade de Bezerros, no interior de Pernambuco, onde nasceu J. Borges, um dos mais importantes cordelistas do Brasil, que conta suas histórias por meio de xilogravuras. Tem até um museu em homenagem a ele. São trabalhos lindos.”

Próxima parada

“Seguimos cerca de 150 quilômetros até Cabaceiras, interior da Paraíba, onde fica o Lajedo de Pai Mateus, uma região rochosa. Bem perto dali, em um distrito ao lado, se localiza Ribeira, que abriga a Rota do Couro. Acompanhamos o processo artesanal de produção do couro e de transformação em objetos. O Moisés é um dos caras mais antigos de lá, faz chapéu de vaqueiro, é supertradicional. São produzidas ali também as celas de cavalo para caça.”

As paisagens do sertão são coloridas pelas casas e ateliês de artesãos. Acima, a oficina de Beto de Meirús, na cidade de Pão de Açúcar, Alagoas. Na página ao lado, a Casa Oficina Mestra Dinha, especialista em fazer redes com uma técnica manual antiga

Outro estado

“Atravessamos para Nova Olinda, no Ceará, para conhecer a Fundação Casa Grande – Memorial do Homem Kariri, também conhecida como Casa Azul. É um local que promove a educação sobre a cultura para a região, especialmente para as crianças. Fiquei hospedada na casa de um morador e recomendo muito a experiência. Ali, há muitas casas-museu. São lares de artesãos talentosos convertidos para valorizar um ofício. Tem, por exemplo, a Casa Oficina Mestra Dinha, que faz redes manualmente com uma técnica bastante antiga. E, claro, a do Espedito Seleiro, a grande estrela da cidade, que trabalha com couro. É uma forma de também ir conhecendo a região, já que elas não ficam muito próximas. Depois, fomos para a Chapada do Araripe, um sítio paleontológico entre o Ceará, Pernambuco e o Piauí. Suspeita-se que o lugar foi habitado antes de Cristo.”

Julia registrou as diferentes paisagens encontradas pelo caminho, desde a vista inesquecível do Velho Chico até detalhes das construções no Cariri

Arte, cultura e conhecimento

“O próximo ponto foi Juazeiro do Norte, cidade onde Padre Cícero se tornou famoso e querido pelos fiéis. Dá para ver a igreja onde ele trabalhou. Ainda tem, na cidade, o Centro Mestre Noza Associação dos Artesãos de Juazeiro do Norte, um museu que reúne todos os artesãos da região. Ficam expostas ali as máscaras de barro, bem tradicionais, santuários de espelhos, trabalhos com palha, cabaça.”

Jornada completa

“Descemos de volta sentido Alagoas, estado onde começamos. Mas, dessa vez, fomos para Piranhas, uma cidade histórica incrível. Fica lá a Associação de Artesãos de Couro de Tilápia, que faz produtos muito bonitos com essa matéria-prima. Fomos também no Cânion do Xingó e em Entremontes, onde se concentram as rendeiras locais, tradicionais no ponto boa noite. Ali passa o rio São Francisco e as carrancas, outro artesanato local, aparecem nas proas do barco, um sinal de proteção. É possível fazer um passeio em alguns desses barcos. Fomos a caminho de Pão de Açúcar, porque queríamos nos hospedar na Ilha do Ferro. Conhecemos a Rochinha, uma artesã que trabalha com pedaços de vidro, e vimos o trabalho do Beto de Meirús, seleiro que faz cadeira, banco, chapéus, cintos. É um trabalho manual absurdo. Já o Geninho usa pedaços de árvores para criar móveis e objetos de decoração. Acompanhei de perto o trabalho de mais de dez artesãos e fiquei encantada. A casa em que me hospedei, reservada no Airbnb, tinha vista para o Velho Chico.”

Sensações

“Especialmente depois do isolamento da pandemia, tenho preferido fazer viagens em que eu possa estar em contato direto com a cultura local. Procuro hospedagens em casas, às vezes até como hóspede de um morador. Recomendo

FOTOS ARQUIVO PESSOAL

andar pela cidade, comer nos lugares onde os locais vão, experimentar um pouco de outro estilo de vida. Nessa rota, recomendo especialmente o camarão pitu, que achei delicioso, e as cachaças. Não dá para não mencionar o cuscuz, o queijo coalho e o cajá. A feijoada de peru do Beijupirá, restaurante com unidades pelo Nordeste, é imperdível.” n

Os diferentes artesanatos encontrados pelo caminho enriqueceram as referências de Julia, que trabalha com símbolos da brasilidade

A comida e a hospedagem foram essenciais para absorver a identidade e a cultura locais, por isso, Julia preferiu restaurantes frequentados por moradores

This article is from: