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ENTRE LENÇÓIS

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POR AÍ

POR AÍ

POR ROBERTA SENDACZ

FOTO FERNANDO TORRES; ARTE ISABELLE TUCHBAND

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A alma e a morte

Os escritos do filósofo escocês David Hume, do século 18, permitem nos curvarmos sobre assuntos como a imortalidade e outras formas de infinito e de universais tradicionais. Ele defende o conhecimento como algo empírico, fruto da experiência que ocorre nesse mundo e nessa época. Assim sendo, a mortalidade está acima da imortalidade e da metafísica. Se a alma “é imortal, ela existia antes do nosso nascimento; e se nossa existência passada não nos diz respeito, tampouco dirá a que vem depois”, diz Hume. “A alma e o corpo possuem tudo em comum. Os órgãos da primeira são, todos eles, órgãos do segundo”, continua. Isso equivale ao filósofo constatar que um não existe sem o outro.

No cruzamento entre corpo e alma, tão difundido pela filosofia, surge o erotismo, cuja participação se limita aos encontros de corpos visitados pela alma. Segundo Georges Bataille, pensador da ideia do erotismo sagrado, o erotismo é algo que transcende sem ser metafisico, porém que nos arranca das funções do dia a dia. Tido como um ritual, o erotismo está perto da religião, da fé e do Evangelho. A alma gosta de estar aí. Parece uma película. É a alma que sobe e desce nos movimentos da cópula, acompanhando o corpo em rotação.

Até a alma dos animais é também, segundo Hume, mortal, apesar de eles não terem em si a relação da alma com a noção de morte, como ocorre com o homem. Os animais fazem uso total do corpo na hora do sexo, nenhuma parte transcende (como no homem). Sabe-se, portanto, que o homem deriva do animal.

Falando no sono, outro elemento em jogatina com a alma humana, tido como algo reparador da alma, crê-se em ditos populares que a alma passeia enquanto dormimos e volta de manhã cedo. Para Hume, o sono seria um “aniquilamento temporário”, uma “confusão da alma”. A alma não deixa o corpo só.

A natureza também surge na questão da imortalidade da alma, sob visão de Hume, não apenas como pano de fundo, mas como estímulo à aversão à morte. “A morte é o fim inevitável, no entanto, a espécie humana jamais poderia subsistir caso a natureza não nos tivesse inspirado uma aversão a ela (à morte)”, escreve o filósofo. “A natureza não faz nada em vão.” Mas ela não é mágica. Para Hume, “nada neste mundo é perpétuo. Todas as coisas, por mais fixas que pareçam, estão em contínuo fluxo e mudança; o próprio mundo apresenta sintomas de fragilidade e de dissolução”. “A alma é, então, o orgulho do corpo”, como defende Frédéric Gros. Cabe a nós, portanto, refletir. É preciso saber caso alma e corpo andem em paralelo ou na complementaridade.

ROBERTA SENDACZ É FORMADA EM JORNALISMO E FILOSOFIA, ESPECIALIZADA EM FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA E EROTISMO

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