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SEGUNDO ATO
Claudia Raia sabe que está em seu melhor momento. Cada vez mais linda, questionadora e consciente de seus erros e acertos, a atriz representa uma geração de mulheres que está desafiando o tempo e mostrando que os 50 anos são o clímax da maturidade
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laudia Raia decidiu que vai morrer aos 103 anos. No palco, protagonizando um musical, cairá desfalecida. Vão achar que é jogo de cena, mas ela terá “feito a passagem”. Em seguida virão dias de celebração no Teatro Municipal, com familiares, amigos, colegas e fãs prestando suas últimas homenagens. “Já combinei tudo com meus filhos. Quero que meu funeral seja uma superprodução, com fogos de artifício, bailarinos... Chegarei no caixão com muita fumaça de gelo seco, igual quando entrei na Candelária para me casar com o Alexandre Frota.”
Apesar do tom debochado da narrativa, fica difícil duvidar que o gran finale planejado em detalhes pela atriz não se realize. Porque Claudia é mulher acostumada a colocar seus projetos de pé. E, na maioria das vezes, eles são grandiosos. Na lista estão 20 musicais que lhe renderam prêmios – em oito deles, além de protagonista, foi a produtora do espetáculo. Em 38 anos de Globo, fez pelo menos 40 trabalhos, entre novelas, minisséries e humorísticos. Recentemente, renovou por mais dois anos sua exclusividade com a emissora, privilégio cada vez mais raro, com atores do primeiro escalão tendo contratos de décadas desfeitos.
Casada há dez anos com o ator e bailarino Jarbas Homem de Mello, Claudia o define como “um leonino, com uma baita autoestima”. “Quando digo isso, ele responde: ‘Se eu não tiver autoestima, estou fodido, sendo casado com você...’. E é verdade mesmo!”, ri.
Além da parceria amorosa, o marido é também companheiro constante de palco. Já são seis espetáculos juntos. Foi nos bastidores de um deles, Cabaret (2010), que se apaixonaram. “Eu estava me separando do Edson [Celulari, ator com quem foi casada por 17 anos e é pai de seus dois filhos, Enzo, 25, e Sophia, 19]. O Jarbas era meu confidente”, recorda. “Um tempo depois, quando já estava sozinha, começou a pintar um clima entre nós...”
Bem antes de Jarbas e Celulari, aos 19, Claudia se casou com o ator e atual deputado federal Alexandre Frota. Foram apenas três anos de união. Mas a cerimônia, em 1986, marcou toda uma geração. A cena de Claudia adentrando a igreja da Candelária, com seu vestido acetinado de cauda quilométrica, cabelo armadíssimo, batom vermelho sangue, envolta por muito gelo seco indo ao encontro do noivo de terno rabo-de-andorinha branco, tornou-se um clássico oitentista. Vira e mexe fotos do casamento voltam a ser assunto – seja em memes nas redes sociais ou até citado pela própria Claudia, ao planejar seu funeral, aos 103.
“Sou fruto dos anos 1980, meu amor”, ironiza. “Como é que eu não vou rir do meu cabelo pigmaleão e do nariz antes da plástica, aquela coisa triste, uma berinjela velha pendurada na cara? Era o que eu tinha na época e tudo bem.”
LUGAR DE MULHER
Dona de uma trajetória única e cheia de realizações, Claudia diz que não é uma mulher realizada. Carrega a certeza de que ainda há muito que conquistar e, aos 55 anos, acabou de iniciar o que chama de “o segundo ato” de sua vida. “Não aceito ficar nesse lugar que a sociedade exige das mulheres da minha idade. E mais do que exige, faz toda uma preparação para que a gente chegue aos 50, 60 cagadas da cabeça, sentindo que acabou”, explica. “Quando somos jovens, nos preparam para menstruar, parir, amamentar. Mas ninguém nos prepara para a menopausa. É como se a mulher não existisse a partir dali nem para os médicos. Não é preciso mais perder tempo com ela”, assegura.
Muito de sua potência, Claudia credita à mãe, a bailarina Odette Motta Raia, que morreu em 2019, aos 95. “Ela ficou viúva quando eu tinha 4 anos e minha irmã, Olenka, 9. Foi uma mulher absolutamente empoderada, que
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nos criou sozinha,com sua academia de dança”, recorda. “Com minha mãe aprendi a não me calar. Quando fiz a minha primeira Playboy [em 1984, aos 17 anos, a atriz posou nua para a revista], ela perdeu metade de seus alunos. Fiquei me sentindo culpadérrima, mas minha mãe disse: ‘Não preciso dessa gente na minha escola, prefiro que saiam mesmo’.”
Para a filha, Sophia, se orgulha de ter construído uma base feminista tão sólida quanto a que recebeu da mãe. No entanto, reconhece que não é fácil ser “filha de Claudia Raia”. “Sophia faz análise desde os 6 anos. Tive que aprender a ser coadjuvante da minha filha, porque, na vida, treinei para ser protagonista”, explica. “Não posso competir com ela em seus momentos de glória. Eu a assisto e a aplaudo assim como ela sempre faz comigo nas minhas estreias.”
ARTE É POSICIONAMENTO
Dos medos e arrependimentos que Claudia carrega de seu “primeiro ato” alguns estão relacionados à política. Nos últimos anos nos quais vimos servidas à mesa opiniões polarizadas regadas a fake news, a atriz diz temer uma possível volta à ditadura. “Tenho medo de me calarem a boca como artista, como aconteceu no passado deste país e parece que foi meia hora atrás. Essa ameaça ainda nos ronda e me assusta”, pontua.
Claudia também prefere não apoiar nenhum político em disputas eleitorais. Lição aprendida com o trauma de 1989, quando emprestou sua imagem em favor de um certo caçador de marajás. “O que passei por aquela situação do Fernando Collor, não quero passar nunca mais. Nem se minha mãe reencarnasse e se candidatasse, faria campanha para ela. Não preciso fi“O que passei por aquela situação do Fernando Collor, não quero passar nunca mais. Nem se minha mãe reencarnasse e se candidatasse, faria campanha para ela. Não preciso ficar falando qual é meu posicionamento político porque está implícito. Eu faço arte”
car falando qual é meu posicionamento político porque ele está implícito. Eu faço arte.”
O próximo “posicionamento político” de Claudia, portanto, atende pelo nome de Tarsila do Amaral (1886-1973). A atriz prepara um musical baseado na trajetória da pintora, um dos maiores ícones da arte brasileira. A direção do espetáculo será de José Possi Neto e roteiro de Anna Toledo.
As fotos de Claudia caracterizada como Tarsila impressionam: até a sobrinha-neta da pintora, Tarsilinha, se emocionou com a semelhança. “Foi ela quem me procurou para fazer o musical. Veio assim, endereçada, dizendo que só faria se eu topasse”, empolga-se. O espetáculo está previsto para novembro, com Claudia executando as primeiras cenas de seu segundo ato. n
Top Juliana Gevaerd, calça Vitor Zerbinato, cinto Reinaldo Lourenço. Na pág. seguinte, top Fendi
Direção de arte: Jeff Leal Edição de estilo e produção executiva: Ana Elisa Meyer Assistente de styling: Larissa Oliveira Produção de moda: Julie Marques e Matheus Spindola Assistente de beleza: Ivan Pasciscenai Assistentes de fotografia: Edu Malta e Erick Gianezzi Manicure: Rose Luna Tratamento de imagem: Eddie Mendes Retouch Image Agradecimento: Loja Teo
Mateus Corradi, Roberta Castellan, Carlinhos Brown, Camila Nunes Carneiro e Fabíola Secchin
Licia Fabio e Fabíola Secchin
RE-TOQUE
Foi ao som do cantor e compositor baiano Carlinhos Brown que aconteceu a reinauguração da Florense em Salvador. O artista preparou um repertório especial para a turma que passou por lá para conferir a novidade, tudo comandado pelos empresários Camila Nunes Carneiro e Claudio Guillen Carneiro.
Com projeto assinado pelo arquiteto gaúcho Rafael Kroth, o spot teve fachada, iluminação e ambientes totalmente modernizados, incluindo um bistrô instalado no terceiro piso e exposição do mobiliário high-end.
O espaço será comandado por um chef contratado para atender exclusivamente profissionais de arquitetura, design de interiores, decoradores, além de clientes e convidados, claro. Completa o ambiente uma adega especial – uma das novidades do mix de produtos fabricados e comercializados pela marca – com diversos rótulos de vinhos, todos produzidos na Serra Gaúcha.
Álvaro Carrascosa e Michelle Marie Magalhães
Andrea Velame, Ivane Barbosa e Marcos Barbosa
Cristiana Reis, Lais Galvão, Flávia Foguel e Milena Sá Maria Eugenia Mello, Caco Carneiro e Ricardo Henriques
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