R$ 14,90
946006 771982 9
ISSN 1982-9469
00132
2
OUTUBRO 2019 N.132
OLHO GRANDE
O engenheiro florestal TASSO AZEVEDO aponta as causas do fogo amazônico e crê no Brasil como potência ambiental
SUPREMA
Quem é RUTH BADER GINSBURG, a juíza de 86 anos do mais alto tribunal federal dos EUA que virou fenômeno midiático
ERRAR É HUMANO
Como a frustração pode fazer a diferença em seu negócio
HONRA AO MÉRITO Há pouco mais de um ano no comando da operação brasileira da Avon, JOSÉ VICENTE MARINO persegue com afinco a meta de fazer das mulheres, cada vez mais, a razão de ser da companhia E MAIS
RÔMULO ESTRELA,
o novo star das novelas; CLAUDIA ITO, a CEO do GP Brasil de F-1; as predileções do crítico ARTHUR NESTROVSKI
e a redescoberta do teatro por
JUCA DE OLIVEIRA
A P R E S E N TA :
UM NOVO CONCEITO EM GASTRONOMIA JAPONESA
PISO VILABOIM
patiohigienopolis.com.br
32 SUMÁRIO 14 16 20
EDITORIAL COLUNA DA JOYCE RAZÃO E SENSIBILIDADE
À frente da Avon, José Vicente Marino vive um dia de cada vez antes da incorporação pela Natura 26
ALMOÇO DE PODER
46
Um bate-papo com o engenheiro florestal Tasso Azevedo para abafar o aquecimento global 32
ENSAIO
O galã Rômulo Estrela ao som dos Rolling Stones 38
ERRAR É HUMANO
Aprender a lidar com a frustração traz benefícios para você e sua empresa 42
TOGA POP
45 46 48
DOWNLOAD PODER VIAJA PÉ NA ESTRADA
51
Em trailers chics, curta a paisagem como se estivesse em casa A DONA DOS BOXES De estagiária a CEO: a trajetória de Claudia Ito no GP Brasil de F-1
52
SOB MEDIDA
O dia a dia do diretor artístico da Osesp, Arthur Nestrovski
52
54 56 62
63 64
CULTURA INC. ESTANTE O SABOR DA GENTILEZA
JOSÉ VICENTE MARINO POR ROBERTO SETTON
NA REDE: /Poder.JoycePascowitch
A tradição em receber de Carla Bolla, do La Tambouille
@revistapoder
CARTAS ÚLTIMA PÁGINA
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Juíza da Suprema Corte americana, Ruth Bader Ginsburg vira fenômeno midiático aos 86 anos
Challenger 350
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Pé-direito duplo São Paulo reflete a evolução da arquitetura em diferentes interpretações. Linhas que se combinam para criar significados. Novas formas e funções. LINA JARDINS é a síntese do bem-estar residencial lapidado através dos tempos. Uma homenagem ao estilo de viver nos Jardins, com olhos para o conforto definido em cada detalhe.
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PODER EDITORIAL
N
ão sei quem foi a primeira pessoa que retirou a palavra “foco” do mundo da física e da ótica e a colocou no ambiente corporativo. Foco no cliente, foco no resultado, foco na operação: virou uma loucura, que se espalhou fortemente também entre o pessoal da atividade física – tem até um negócio de 3 “F”: força, fé e foco. Se você tiver um objetivo, nem que seja terminar uma corrida de 5 quilômetros, é preciso ter foco. Na entrevista que concedeu a PODER, José Vicente Marino, o presidente da enorme operação brasileira da Avon, não usou essa palavra uma única vez, mas mostrou que o bom executivo não precisa falar coisas apenas para a plateia ouvir. Ao ser perguntado sobre a Amazônia, assunto mundial nas últimas semanas e preocupação importante da Natura, que comprou a Avon por meio da troca de ações entre as duas companhias, ele foi sincero ao dizer que a bandeira – o foco – da Avon é a mulher: clientes, revendedoras, funcionárias. A Avon está liderando no Brasil uma Coalizão Empresarial pelo Fim da Violência contra as Mulheres, e vem sensibilizando outras companhias e governos pela causa. Se a Coalizão precisasse de uma grande inspiração internacional, poderia ser a juíza Ruth Bader Ginsburg, a RBG, a segunda mulher a integrar a Suprema Corte americana. Formada e forjada em um ambiente masculino, ela ganhou causas que mudaram o entendimento legal e os costumes que viam a mulher como ser inferior. A cultura empresarial hoje valoriza o erro, desde que ele seja rapidamente corrigido. A reportagem especial de Victor Santos mostra mesmo que aprender com os chutes na trave (ou na canela) é uma ferramenta poderosa, e não só para as companhias. E a Amazônia, no final, claro que não poderia ficar de fora. O engenheiro florestal Tasso Azevedo, que estruturou o Fundo Amazônia e está hoje à frente da ONG MapBiomas, que mapeia o solo de todo o país, disse no Almoço de PODER que o Brasil pode virar uma potência – ambiental. Não é uma utopia. Ah! sim, e para quem quiser ajudar a deter o aquecimento global, a ideia de virar vegetariano é boa – desde que antes todos façam um churrascão, já que boi no pasto produz muito gás metano. Que mais? Tem camper vans – antigamente falávamos “trailer” – para quem quiser não só cair como ficar na estrada; o belíssimo ator Rômulo Estrela clicado pelo talentosíssimo fotógrafo Maurício Nahas; Juca de Oliveira falando sobre política, teatro – e política no teatro – e a trajetória pole position da CEO do GP Brasil de Fórmula 1 – uma mulher. Pode dar o start nas máquinas que esta edição vem caprichada.
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AEROCLUBE
JAIR BOLSONARO não gostou nada de saber da existência de um aeroporto clandestino utilizado por congressistas e empresários nos arredores de Brasília. O motivo em si não seria a ilicitude, mas o fato de o presidente ter sido o último a tomar conhecimento do terminal irregular. O local, a 30 quilômetros do Palácio do Planalto, abriga dezenas de hangares e uma pista pavimentada com cerca de 2 quilômetros de comprimento. Para decolar, os pilotos só precisam apresentar um plano de voo com antecedência de 45 minutos. Ideal para quem quer fugir das taxas e do controle da Polícia Federal.
ESTRANHO NO NINHO
Enfraquecido na executiva do PSDB, o ex-governador GERALDO ALCKMIN tem usado de eufemismo quando questionado sobre as suas atuais ambições políticas. A interlocutores que o abordam pelas ruas, em restaurantes e outros locais públicos, ele tem dito estar passando por um “retiro cívico”. Na queda de braço com João Doria com relação aos rumos do partido, Alckmin e a velha guarda tucana têm levado a pior.
16 PODER JOYCE PASCOWITCH
MÉDIA
ARITIMÉTICA
Está circulando nos bastidores do poder em Brasília um documento que mostra um detalhado comparativo entre as gestões de HENRIQUE MEIRELLES e PAULO GUEDES em oito meses à frente do Ministério da Economia. A conclusão da obra é a de que Meirelles, no período Temer, falou pouco e entregou muito, e Guedes, agora com Bolsonaro, falou muito e entregou pouco – vale lembrar que o primeiro aprovou a Reforma Trabalhista e o segundo a da Previdência. Há quem diga que a peça foi elaborada pelo presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia. Fato é que ela tem sido muito bem avaliada.
NEM UM, NEM OUTRO
No livro de memórias que tem dado o que falar e no qual revela ter planejado matar o ministro Gilmar Mendes, o ex-procurador-geral da República RODRIGO JANOT também fala sobre o atual ocupante do cargo, Augusto Aras. Segundo Janot, Aras queria mesmo era ser ministro do STF. De acordo com um trecho, o então subprocurador-geral teria ficado chateado com ele por não ter recebido apoio para chegar à corte – na época, Janot apoiou Eugênio Aragão para a vaga deixada por Joaquim Barbosa. Contudo, o posto foi ocupado pelo então advogado gaúcho Edson Fachin, atual relator da Lava Jato no Supremo. Nada Menos Que Tudo (ed. Planeta) foi escrito pelos jornalistas Guilherme Evelin e Jailton de Carvalho.
CARANGUEJO JAPONÊS Um navio japonês virou destino preferido dos
FOTOS JOSÉ CRUZ/AGÊNCIA BRASIL; SERGIO DUTTI/DIVULGAÇÃO; MARCELO CAMARGO/AGÊNCIA BRASIL; PAULO FREITAS; LULA MARQUES/PT; ANTONIO CRUZ/AGÊNCIA BRASIL; GETTY IMAGES; DIVULGAÇÃO
REUNIÃO DE CONDOMÍNIO Morada de Sigmund Freud, Walter Gropius, Charles Dickens e boa parte da intelligentsia inglesa, o bairro de Hampstead, zona norte de Londres, passa por uma transformação. A vizinhança intelectual virou reduto de boleiros, celebridades e mauricinhos do mercado financeiro. Os moradores mais antigos reclamam do burburinho causado pelos novos vizinhos e com o fato de Hampstead ter virado a locação preferida da indústria cinematográfica, deixando Notting Hill para trás.
poderosos que buscam sossego. E luxo, claro. Desenhado para ser uma versão flutuante de um ryokan – como são chamadas as típicas hospedarias orientais –, o Guntû possui 19 cabines magníficas, todas com terraço. O projeto é do renomado arquiteto Yasushi Horibe e venceu o Architectural Institute of Japan Prize. Entre os destaques da embarcação que navega pelas ilhas do sul do Japão, está o restaurante do chef Kenzo Sato, do Shigeyoshi, em Tóquio. O nome Guntû homenageia um tipo de caranguejo azul da região.
#FICAADICA
ANTONIO LUIZ MACEDO, ex-cirurgião estrela
do hospital Albert Einstein e hoje da Rede D’Or, onde continua responsável pelo tratamento do presidente Jair Bolsonaro, costuma dar explicações simples e diretas a seus pacientes. Quando perguntado o que ele sugere para ter mais saúde e uma vida longa, responde que basta evitar três pós brancos. A saber: açúcar, farinha e cocaína. PODER JOYCE PASCOWITCH 17
Toda subida a um lugar incrível se dá por uma escada tortuosa. FRANCIS BACON
3 PERGUNTAS PARA...
LILIANE ROCHA, fundadora e CEO da Gestão Kairós, consultoria de sustentabilidade e diversidade para indivíduos, empresas e comunidades e autora de Como Ser um Líder Inclusivo (ed. Scortecci) VOCÊ CUNHOU A EXPRESSÃO “DIVERSITY WASHING”. O QUE SIGNIFICA?
Venho da área de sustentabilidade onde o termo “green washing” é comum e se refere a empresas que se apropriam do atributo de responsabilidade ambiental, mas não se preocupam em serem sustentáveis da porta para dentro. Um dia, vi um comercial de uma empresa de bebidas e pensei no “diversity washing”, uma lavagem da diversidade. Empresas que quando questionadas respondem com um comercial. Mas qual o percentual de negros na empresa? Não tem. E mulheres na liderança? Também não. E também não estão dentro da cota de pessoas com deficiência estabelecida pela lei de 1991.
QUAIS OS PASSOS PARA UMA EMPRESA SER DE FATO INCLUSIVA?
É preciso questionar se ela faz o que prega e alinhar para o que está no comercial e nos produtos – como é o caso de marcas que produzem bonecas negras ou trans – também faça parte da empresa na mesma proporção da sociedade. Se você coloca isso no seu posicionamento e essas pessoas não estão lá, talvez você esteja fazendo “diversity washing”. Afinal, o problema não é divulgar e não ter diversidade, mas divulgar e não ter nenhum plano para ter. QUEM GANHA COM A INCLUSÃO?
Todo mundo. Primeiro o indivíduo porque sabe que vai ter oportunidades iguais – considerando que 52% da população são mulheres, 56% negros, 7% de pessoas com deficiência e, no mínimo, 10%
LGBT+. Isso é insalubridade do tecido social: uma sociedade em que metade das pessoas está achando que não tem chance de entrar no mercado ou que vai sofrer discriminação não é saudável. Brinco que é também a oportunidade para os homens brancos e cisgêneros saberem se estão lá por mérito. Além disso, a empresa também ganha. Estudos de vantagens competitivas mostram isso – uma pesquisa da McKinsey aponta que empresas que têm mais equilíbrio de diversidade de etnias na alta liderança são até 33% mais propensas à lucratividade que aquelas que não têm. É clichê, mas é real: como a gente constrói um Brasil desenvolvido deixando uma parte da população para trás?
O designer MARCELO ROSENBAUM recebeu o Prêmio Montblanc de la Culture Arts Patronage pelo projeto A Gente Transforma, em Várzea Queimada, no município de Jaicós, Piauí. A premiação aconteceu na Pinacoteca do Estado de SP e contou com a presença do diretor-geral da Montblanc Brasil, Michel Cheval. Além do troféu, Rosenbaum recebeu uma caneta da série Patrono das Artes e a doação de 15 mil euros para serem revertidos no projeto em que artistas, designers e pesquisadores desenvolvem planos de preservação do artesanato ancestral da comunidade. A noite teve cocktail assinado pelo chef Rodrigo Oliveira, do Mocotó.
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ARTE E IMPACTO
EM OUTUBRO, A MULHER E O HOMEM DE PODER VÃO... CONHECER a trajetória do CEO da
Apple que foi apontado por Steve Jobs como seu sucessor ideal. Na biografia Tim Cook: O Gênio que Mudou o Futuro da Apple (ed. Intrínseca), escrita por Leander Kahney
ao longo de mais de 500 anos. Nesta edição, a Noruega é o país convidado de honra
ASSISTIR a Greta, drama LGBT+ CELEBRAR os 150 anos do
nascimento do líder pacifista Mahatma Gandhi REFLETIR sobre hábitos no Dia do
Consumo Consciente, data (15) instituída no Brasil em 2009 para alertar sobre os problemas socioambientais que os padrões atuais de produção e consumo têm causado
FOTOS GETTY IMAGES; DIVULGAÇÃO
VER um dos longas brasileiros em exibição no Theatro Municipal durante a 43ª Mostra Internacional de Cinema. Entre eles A Vida Invisível, de Karim Aïnouz, vencedor do prêmio máximo da mostra Um Certo Olhar no último Festival de Cannes. As sessões acontecerão nos dias 18, 19 e 20 de outubro
de Armando Praça e estrelado por Marco Nanini, que estreia nos cinemas inspirado livremente na peça de teatro Greta Garbo, Quem Diria, Acabou no Irajá, dos anos 1970 ACOMPANHAR o
Master 1000 de Paris, com Djokovic, Federer e Nadal brigando pelos últimos pontos antes do ATP Finals. A partir do dia 28 SE DELICIAR com a gastronomia sustentável do Corrutela, restaurante do chef Cesar Costa que aposta no aproveitamento total das matériasprimas, utiliza energia solar, usa composteira e ainda lava panelas numa máquina que não desperdiça litros e litros de água BAIXAR os últimos episódios do podcast Masters of Scale, apresentado por Reid Hoffman, cofundador do LinkedIn. A cada programa, Reid mostra como as empresas cresceram do zero para o bilhão, testando suas teorias com líderes globais PARTICIPAR da Feira do Livro
de Frankfurt, o maior encontro mundial do setor editorial, tendo uma tradição que se estende
TIRAR o atraso e assistir às séries que ainda não viu premiadas com o Emmy. Destaque para Fleabag, Succession, Chernobyl e The Marvelous Mrs. Maisel AUMENTAR o ritmo de treinos
visando a Maratona de Nova York, que acontece no primeiro domingo de novembro. Uma das mais tradicionais corridas de rua do mundo, a prova percorre Brooklyn, Queens, Bronx e Manhattan, com chegada no Central Park SE APROFUNDAR
na leitura da obra de J. M. Coetzee, prêmio Nobel em 2003, um dos grandes escritores vivos do planeta ESCAPAR da rotina e fazer coisas
em dias e horários diferentes do que está acostumado. Se você sempre vai ao cinema no fim de semana, experimente pegar uma sessão depois do trabalho, se frequenta academia após o escritório, vá um dia de manhã...
com reportagem de aline vessoni, dado abreu e fábio dutra PODER JOYCE PASCOWITCH 19
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BELEZA
RAZÃO E
SENSIBILIDADE Mesmo vendida à Natura, a Avon segue a tocar a vida como se houvesse amanhã. Na muito relevante operação brasileira, o presidente José Vicente Marino, ex-Natura e Flora, persegue com afinco a meta de fazer das mulheres – compradoras, consultoras, diretoras – ainda mais a razão de ser da centenária empresa por paulo vieira fotos roberto setton
O
dia de trabalho de José Vicente Marino, há um ano o presidente da operação brasileira da Avon, a centenária transnacional de beleza que popularizou o conceito da venda de porta em porta – o famoso “Avon chama” –, não é exatamente tranquilo. Até aí morreu neves: nenhum country manager como ele tem uma jornada tranquila. Mas não são as 12 horas, às vezes 14, de trabalho que contam. Com poucos meses de Avon, o executivo recebeu a notícia de que a empresa, que opera em quase 60 países e tem no Brasil seu grande mercado, acabava de ser vendida para a Natura, a corporação brasileira que, com a aquisição, deu um passo gigantesco para se tornar um dos grandes players globais do disputado e bilionário setor de beleza. Mas Marino, paulistano de 53 anos formado em administração de empresas na FGV, palmeirense, pai de dois filhos PODER JOYCE PASCOWITCH 21
“A Avon tem como propósito dar protagonismo à mulher. Ao dar a ela independência financeira, geramos uma autonomia que é decisiva” e surfista que ultimamente trocou o swell de Maresias pelos cavalos, preferiu seguir tocando a Avon como se houvesse amanhã – e esse amanhã não dissesse respeito à Natura. “Até a conclusão da avaliação do negócio pelo Cade [Conselho Administrativo de Defesa Econômica] e sua concretização, meu compromisso é aqui”, disse a PODER na sede da Avon, em Interlagos, em São Paulo. Curiosamente, Marino foi responsável pela expansão mundial da Natura, tendo ficado ali por mais de sete anos, de onde saiu como COO em 2015 porque, em suas palavras, “o prazo de validade” de seu relacionamento com a empresa havia expirado. A viagem para estudar fora do país, uma das razões alegadas para a saída, seria, contudo, adiada: súbito surgiu o convite da holding J&F, dos irmãos Joesley e Wesley Batista, para que ele encarasse na Flora, do sabão em pó Minuano e do condicionador Neutrox, o primeiro “turn around” – eufemismo para reestruturação – de sua carreira executiva, algo que ele reviveria na Avon em escala ampliada em 2018. No mundo das fusões & aquisições, liderar do lado do adquirido não é definitivamente a posição de maior prestígio. Tirante razões de autoestima, há a dificuldade de manter o time coeso, como diriam os velhos cronistas esportivos, quando tudo o que o se tem a oferecer aos comandados é um punhado de dúvidas. Para dar um toque ainda mais sinistro à cena, a Avon acaba de emergir desse downsizing do qual o chefe não expressa “qualquer orgulho” de ter levado a cabo. “Não é a coisa mais agradável de fazer.” Com tudo isso, o timing parece perfeito para tocar os negócios com a barriga, mas a Avon Brasil está noutra. Marino e seu board acabam de anunciar o que chamam de Coalizão Empresarial pelo Fim da Violência contra as Mulheres, um tema caríssimo à Avon, que tem na
22 PODER JOYCE PASCOWITCH
mulher seu principal público consumidor, no 1,5 milhão de consultoras em seu canal quase exclusivo de vendas e ainda notável maioria feminina nos cargos de comando. O objetivo da Coalizão é capacitar o maior número de empresas no acolhimento e cuidado com a mulher vítima de violência – e também ajudar a dar instrumentos para a prevenção dessa situação. No escopo também está o assédio sexual. “A Avon tem como propósito dar protagonismo à mulher. Temos aqui duas grandes frentes, o combate ao câncer de mama e à violência contra a mulher. Ao empoderar a mulher, ao dar a ela independência financeira, geramos liberdade, autonomia que é decisiva para a mulher.” Nos dois primeiros anos da Coalizão, o Instituto Avon, braço de investimento social da empresa, encara os custos dessa capacitação, ainda que Marino diga que o projeto é “de todos, tem de ser de todos”. Questões de equidade, que segundo o executivo já estão muito mais introjetadas no dia a dia empresarial, também podem surgir. “A discriminação também é uma forma de violência. A mulher não ser promovida apenas pelo fato de ser mulher é uma forma de discriminação. Mas esse tema já está bem mais presente nas conversas das empresas”, diz. Diante de iniciativas como essa é de se perguntar o que espera uma corporação essencialmente feminina como a Avon para contar com mulheres nos seus principais cargos executivos. Marino está à frente no Brasil e hoje o presidente global é o holandês Jan Zijderveld, mas, com efeito, por mais de uma década, de 1999 a 2012, a Avon foi liderada mundialmente pela canadense Andrea Jung. Marino se diz “confortável” no lugar onde está. “Todos os movimentos pelas mulheres reconhecem a importância de envolver os homens”, conta. “Faço meu trabalho pensando no 1,5 milhão de revendedoras, e faço isso não por bom-mocismo, mas
porque a Avon depende do trabalho dessas mulheres. Se eu não lutar por elas, vou lutar por quem?” Embora reconheça na liderança da mulher um “cuidado maior”, algo que segundo ele vem do lado maternal, de “gestar a vida”, e que o homem portanto não possui, Marino acha que ambos se igualam na hora de tomar atitudes drásticas, como quando precisam passar o facão e ceifar vagas em suas corporações. “Decisões dessa natureza são duras para homens e mulheres, nessa hora tanto uns como outros colocam o chapéu do profissional e separam as coisas.” Se a Avon caminha de mãos dadas com a mulher, a Natura e o rival O Boticário expressam há tempos preocupação com as questões ambientais – um tema
O executivo e a linha de produtos de maquiagem, carro-chefe da Avon
hoje bastante candente que a Avon passa ao largo. “A mulher é o principal foco, como empresa não dá para pensar em tudo”, justifica Marino. Mas haveria no segmento de beleza, muito mais do que em outros setores, a necessidade de carregar bandeiras? Para o analista sênior de pesquisa Elton Morimitsu, da Euromonitor, isso hoje já se tornou “pré-requisito”. “O consumidor está cada vez mais engajado, tem interesse na cadeia de valor, quer saber quais os ingredientes utilizados e de onde eles vêm, pergunta se a embalagem é reciclável ou não”, disse a PODER. Morimitsu ainda endossa a visão consensual de que as novas gerações têm mais engajamento em causas ligadas à preservação ambienPODER JOYCE PASCOWITCH 23
“Faço meu trabalho pensando no 1,5 milhão de revendedoras. Se eu não lutar por elas, vou lutar por quem?”
24 PODER JOYCE PASCOWITCH
tal, o que inclui também a ética animal. Curiosamente, a Natura com a compra da Avon ingressa na China, país em que os fabricantes têm de submeter seus produtos de beleza a testes em animais antes de colocá-los no mercado.
PERFUME Embora tenha surgido nos Estados Unidos, o porta a porta tão característico da Avon ganhou grande projeção no Brasil. Para Morimitsu, esse sistema faz sentido em países em que “é difícil acessar determinadas regiões onde ter lojas físicas não faz sentido” – casos, segundo o consultor, do Brasil e alguns países do Sudeste Asiático. Outra particularidade do consumidor brasileiro, enfatiza Morimitsu, é gostar muito de perfumes, o que demanda certo contato pessoal no ato de compra. “Ele precisa de alguém que o ajude a entender do que gosta”, diz. Sobre o futuro da Avon, outro consultor, Breno Salek, fundador da Varejeiros Creative Retail, vê grande sinergia a ser explorada pela Natura. “Muitas revendedoras já oferecem os produtos Avon e Natura, o que pode significar economias de escala e diminuição de sobreposição de linhas”, informa. Para Salek, os “maiores riscos” são culturais e de integração tecnológica. “A Natura sempre foi mais conceitual na construção de
MAQUIAGEM BILIONÁRIA
A Avon vive momento delicado em sua operação mundial, mas o Brasil, em que teve receita líquida em 2018 de R$ 4,6 bilhões na estimativa do anuário 1000 Maiores, segue relevante. Ano passado, segundo a consultoria Euromonitor International, o share da empresa no segmento de “colour cosmetics”, que contempla artigos de maquiagem, foi de 16,3%, atrás apenas de O Boticário, com 22,1%. Nessa categoria, a Natura vem em quarto lugar, com 9,3%, o que mostra quão estratégica é a aquisição da Avon não só para abrir mercados globais como para a consolidação em seu front interno. Num setor que é centrado no modelo de vendas porta a porta, todo ganho de produtividade no processo de entrega dos produtos às consultoras é crítico, e a Natura já conta com sua rede de lojas físicas em shoppings e quiosques para resolver a operação num único dia – a Avon utiliza a Rappi para acelerar o ciclo. Quando efetivamente assumir a Avon, a Natura irá ainda aumentar sua paleta de causas, e a mulher assumirá protagonismo. Além da Coalizão, outra ação divulgada pela Avon é o programa Equidade Racial 20/20, que visa dar até 2020 20% dos cargos de liderança às mulheres negras. Mas por ora apenas na agência da Avon, a Wunderman Thompson.
marcas. E a Avon, segundo se comenta, precisaria de muitos investimentos sistêmicos de digitalização.” Embora o porta a porta seja responsável por praticamente 100% das vendas da Avon, na conta de Marino, a empresa fez movimentos relevantes para diversificar suas estratégias comerciais. Em agosto, algumas centenas de produtos Avon já podiam ser encontrados na rede varejista Pernambucanas, tanto em 32 lojas físicas como no e-commerce da parceira. Bom para o consumidor final, mas não exatamente uma punhalada nas costas das consultoras, pois também por esses canais elas podem obter seus preços diferenciados. Além disso, elas agora já são capazes de oferecer a seus clientes a possibilidade de efetuar o pagamento por cartão de crédito e débito. Na questão da logística, outro avanço foi o acordo celebrado com a Rappi para fazer os produtos Avon chegarem rapidamente às mãos do consumidor. Em São Paulo, em até 50 minutos. Neste um ano à frente da operação brasileira, Marino elevou em 20% o valor médio do que a Avon comercializa, o que melhorou a receita da empresa, mas fez cair o volume de produção – aumentando a capacidade ociosa da única fábrica do país, contígua ao prédio de onde despacha. Deu certo: o segundo trimestre de 2019 marcou pela primeira uma vez uma discretíssima expansão de 0,2% do faturamento, após oito trimestres de retração. Ao ser chamado para liderar a Avon no Brasil, Marino sabia bem a bucha que tinha pela frente e diz que isso, aliás, valeu como estamina. Também conseguiu acertar uma velha conta com o passado e achou tempo para fazer o curso que abortou ao assumir a Flora. Suas aulas na Harvard Business School, em Boston, no curso OPM (de Owner/President Management), em que apenas presidentes, CEOs e sócios de empresas são admitidos, vêm lhe ajudando, segundo revelou à reportagem, a implantar ações na Avon. “Várias coisas desse curso usei aqui. Como a criação de um escritório de transformação e a publicação de uma estratégia em uma página para que todos aqui a entendam.” Marino diz nada saber sobre sua permanência à frente da Avon após a conclusão do acordo com a Natura, mas o executivo parece estar vivendo um muito produtivo aqui e agora. Um ditado sexista, e que assim vai se tornando anacrônico, diz que por trás de um grande homem sempre existe uma grande mulher. Na Avon, Marino está cercado por um punhado delas. n PODER JOYCE PASCOWITCH 25
AMBIENTE
TASSO AZEVEDO
Engenheiro florestal que estruturou o bilionário Fundo Amazônia – parte dele composto pelo dinheiro com que a Alemanha “compra em prestações” a região, nas palavras de Jair Bolsonaro –, o exdiretor do Serviço Florestal Brasileiro hoje coordena a MapBiomas, ONG que mapeia, a partir de imagens de satélites, todo o solo do país. Especialista das mudanças climáticas, ele sugere, a quem quiser ajudar a Terra tornando-se vegetariano, fazer um “churrascão” antes POR DADO ABREU E PAULO VIEIRA FOTOS JOÃO LEOCI
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o hit oitentista “Inútil”, do Ultraje a Rigor, um verso diz: “A gente faz carro / E não sabe guiar / A gente faz trilho / E não tem trem pra botar / A gente faz filho / E não consegue criar / A gente pede grana / E não consegue pagar”. Bastante coisa mudou desde então: a inflação praticamente acabou, a taxa Selic amainou e o Brasil se tornou, inclusive, bom pagador. Mas permaneceu uma certa vocação para jogar oportunidades fora. Avançando uma casa e retrocedendo duas, o país conseguiu o estranho prodígio de fazer uma letra de música banal ser capaz de captar o zeitgeist futuro – o espírito do tempo de exatos 35 anos depois. Shame on us. Para o engenheiro florestal Tasso Azevedo, da ONG MapBiomas, um dos brasileiros mais atuantes no estudo da floresta – ele ajudou a viabilizar o Fundo Amazônia, em 2008 –, o Brasil poderia assumir neste exato momento uma posição de liderança mundial. O problema é que o país, talvez para cumprir seu destino de tragédia grega, opte nessas horas por fazer cara de paisagem.
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“O Brasil não vai ser potência militar, nem cultural, não é potência econômica nem tecnológica, mas poderia ser potência ambiental. Essa é a agenda do mundo agora, e a gente a está jogando no lixo”, disse, numa semana de “business as usual” no país – a Amazônia ardia, o presidente perseguia inimigos do tempo da Cortina de Ferro, o Parlamento dava chilique com a enésima barbeiragem da Lava Jato. Para Tasso, convidado do Almoço de PODER, “ninguém tem o potencial de energias renováveis como o Brasil. Nem eólica, nem solar, nem hidroelétrica, nem de biomassa”. Mais: “Na agricultura fomos o primeiro país a realizar em escala a substituição do nitrogênio [que deixa grande pegada ambiental]. Na siderurgia, um pepino, usamos carvão vegetal; na produção do cimento temos a menor emissão de carbono.” Se o Brasil aspirou um dia a ser essa potência ambiental, certamente não foi em 2019, em que o desmatamento deu um salto e a política para o setor, se há alguma, parece ser a do desmonte. “Enquanto [cientistas e pesquisadores] falamos em desenvolver a conservação, em investir em pesquisa e ciência, [os governantes] cortam recursos da ciência e estrangulam mecanismos de contro-
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le e conservação da floresta”, diz. A Amazônia, que se tornou metonímia do Brasil do século 21 aos olhos de todos, e que ensejou discussões sobre soberania nacional, não é, como já ficou claro, o “pulmão do mundo”, nas palavras do presidente francês Emmanuel Macron, que se mostrou alarmado com os incêndios que viraram assunto global. Mas ela é vital para manter o regime hídrico de todo o Brasil e países vizinhos. “Você pre-
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cisa ter o influxo de umidade da Amazônia para poder alimentar os Andes. O que a gente faz com a Amazônia tem impacto, os países têm de se preocupar. Aí, quando oferecem ajuda, você pega o maior instrumento de financiamento, o Fundo Amazônia, e o destrói”, diz. O engenheiro florestal explica que, caso a Amazônia desaparecesse, uma das primeiras consequências seria a diminuição em 20% a 25% do regime de chuvas no Brasil.
ILUSTRAÇÕES GETTY IMAGES
“O Brasil poderia ser potência ambiental. Essa é a agenda do mundo agora”
Isso provocaria um colapso de energia, já que 80% da nossa matriz energética é hidroelétrica. Ademais, o crescente uso da irrigação na agricultura criaria um conflito ainda mais acentuado pela busca da água. Não há consenso sobre o quanto é possível ainda desmatar a região sem transformá-la em algo parecido a uma savana, na hipótese formulada pelo cientista Carlos Nobre nos anos 1990. Naquela época, a área desmatada era metade do que é hoje. Tasso diz que fogo espontâneo na Amazônia é evento raríssimo, acontece uma vez a cada 500 anos, mas que, com a savanização, eles seriam frequentes. Resta constatar então que as queimadas atuais são produzidas pelo homem, desmentindo em parte o que disse Bolsonaro na Assembleia Geral da ONU: “Nesta época do ano, o clima seco e os ventos favorecem queimadas espontâneas e criminosas”, falou o presidente.
Embora esteja à frente de uma ONG – financiada principalmente por fundos noruegueses –, o especialista não se sentiu particularmente atingido quando Bolsonaro insinuou que organizações não governamentais poderiam estar por trás das queimadas. Para ele, é muito mais
preocupante a violência no campo, incitada pelo próprio governo, como quando ataca fiscais do Ibama que destroem tratores de desmatadores, ato previsto em regulamentação específica. “Esse embate é ruim, as pessoas do campo acham que precisam reagir”, diz. “Com a mudança da regra da posse de armas no meio rural, pode-se até interpretar que trator é patrimônio, e o fiscal corre o risco de levar uma bala por fazer seu serviço.” O grande desmatador brasileiro, conta Tasso, é o sujeito que ocupa uma terra devoluta [sem dono, ou pública] para tentar ganhar com a área. E 75% da Amazônia é composta por áreas públicas. Depois, grande parte dessa terra é abandonada, virando, quando muito, pastagem de baixíssima produtividade. Sim, desmata-se para nada. Tasso informou recentemente em seu blog que o Brasil tem
40 milhões de hectares de vegetação natural em regeneração. Mas, como diz, “o que parece ser uma excelente notícia é, na verdade, uma constatação desoladora”, já que “mais de 95% disso são áreas degradadas que foram abandonadas”. Para visualizar, a área em questão corresponde à de dois estados do Paraná. “Uma análise dos últimos 30 anos mostra que a cada 10 hectares de florestas primárias desmatadas, 6 se tornaram pastagens de baixa produtividade, 3 são abandonadas e apenas 1 hectare se tornou terra agrícola produtiva ou de infraestrutura urbana.” Para o especialista, engana-se quem acredita que a conservação pode levar a uma perda potencial de recursos. E dá o exemplo do estado de São Paulo, que viu sua agricultura aumentar de produtividade a partir da destinação de terras à conservação da Mata Atlântica. A cana-de-açúcar, por exemplo, se desenvolveu em áreas antes ocupadas por pasto. O mesmo se deu, segundo Tasso, em Paragominas, no Pará, “exemplo de uma das agropecuárias mais evoluídas do Brasil”, e cuja produtividade cresceu a partir do controle do desmatamento. Apesar de o governo Bolsonaro ter uma base de apoio no agronegócio, e o senador Flávio Bolsonaro (PSL), o 01, ter este ano subscrito um projeto de lei que elimina a obrigatoriedade de o proprietário rural manter uma reserva florestal, Tasso não põe o setor do lado dos, digamos, “bad cops”. Para ele, “99% das propriedades rurais não estão envolvidas com desmatamento”. O problema é que o “agro” pode se tornar vítima de boicotes mundiais – e aí vai ser difícil dizer o que o agricultor fez ou deixou de fazer no verão passado. Mas criar sistemas de rastreabilidade não é difícil. Na pecuária, por conta do controle de vacinação, ele já existe. O que pode jogar contra, na opinião de Tasso, é um certo esforPODER JOYCE PASCOWITCH 29
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CONSUMO POR ANA ELISA MEYER
CARLY SIMON E JAMES TAYLOR
Quando se casaram, em 1972, os cantores e compositores americanos Carly Simon, 74 anos, e James Taylor, 71, tinham acabado de lançar seus respectivos primeiros álbuns e se tornaram o casal símbolo do soft rock da década de 1970. Mas o relacionamento de ambos não foi lá um mar de rosas por conta da infidelidade de James e seu sério problema com as drogas. Ficaram juntos por dez anos, tiveram dois filhos, e a conturbada relação foi exposta por ele de maneira belíssima na canção “Her Town Too”, do disco Dad Loves His Work, de 1981.
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ço para normalizar o discurso antiglobalista de Bolsonaro, como fez João Martins, presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil, a CNA, no caso da já famosa fala na ONU. “Ele deu um tom ruim, não reconheceu que temos problemas.” Na nota que emitiu, a CNA afirmou que “Bolsonaro esclareceu equívocos sobre a Amazônia e também afastou a tese de que o governo está colocando o mundo contra o agro brasileiro”. No restaurante La Tambouille, cenário desta entrevista, Tasso optou pelo risoto ao funghi e deu uma sugestão aos repórteres, um deles carnívoro. Em escala planetária, essa ideia teria o condão de ajudar a deter o aquecimento global. “Faz um churrascão no domingo e vira vegetariano na segunda”, brincou. A digestão do boi produz gás metano, por isso, em 2018, quando o brasileiro comeu menos carne, houve crescimento da emissão de metano – havia mais boi no pasto. Difícil vai ser sensibilizar os indianos a comerem seu gigantesco rebanho de vacas sagradas. Tasso acompanha as discussões do IPCC, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, e, como outros especialistas, achava que o Brasil iria dar conta mais rápido do problema do desmatamento, contribuindo assim para deter a elevação de temperatura que pode complicar bastante as condições de vida na Terra. Soluções como a eletrificação dos automóveis, que na década passada pareciam uma quimera, hoje são bem mais palpáveis. O tempo correu, e já há perdas que, ao que tudo indica, são irreversíveis. Caso da destruição de 25% dos corais da Grande Barreira de Corais da Austrália em apenas um ano. Ele teme também o degelo de glaciares, como os do Himalaia, que fornecem água para milhões de pessoas. “O ponto de ruptura dos ciclos de preservação da vida no planeta pode estar muito próximo e não podemos nos dar ao luxo de atravessá-lo”, escreveu em sua coluna no jornal O Globo. Com tudo isso, é difícil inserir aqui a definição que Tasso ofereceu de si próprio à reportagem, mas vai assim mesmo: “Sou um teimoso otimista”. n
Foto: Casa Leão
Arte: LINA Arte & Design
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ENSAIO
CÉU DE ESTRELAS Para o ex-modelo e ator Rômulo Estrela, a caracterização é o primeiro passo na boa construção de um personagem. Em Bom Sucesso, da TV Globo, e neste ensaio, ele opina sobre moda, escolha de looks e estilo de penteado por aline vessoni fotos maurício nahas styling cuca ellias
Tricô Ermenegildo Zegna, relógio Jaeger-LeCoultre
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om o frio em São Paulo beirando 15 graus, o ator Rômulo Estrela chegou ao estúdio para a sessão fotográfica que decora estas páginas com bem mais roupa do que costuma vestir para interpretar o bon-vivant Marcos, de Bom Sucesso, a atual novela das 7 da TV Globo. Em evidência apenas o que é comum entre realidade e ficção: o charme e a simpatia que Estrela empresta ao personagem. Maquiagem pronta, no camarim, opinou com propriedade sobre cada um dos looks de cena. “Eu sou apaixonado por moda, porque vai muito além de apenas vestir uma roupa que é tendência e que todo mundo usa: é uma ferramenta para que eu me posicione. A forma como você se apresenta diz muito sobre quem você é e o que você quer comunicar”, explica o ator, para quem o mundo fashion foi um marco zero, já que o start em sua carreira artística se deu em desfiles para marcas locais da sua São Luís, a capital do Maranhão. Talvez venha daí a participação efetiva do ator na caracterização de seus personagens. Depois da concepção ditada pelo figurinista, Estrela diz que gosta de dar seus pitacos durante as provas de roupas. “Se conseguir somar, ótimo. Todo mundo ganha, afinal, é um trabalho coletivo”, revela. Foi ele quem deu a ideia de que seu personagem Marcos tivesse sempre alguns
Camisa e calça Hugo Boss, gravata acervo, relógio Jaeger-LeCoultre. Na pág. seguinte, tricô e calça Ermenegildo Zegna, tênis New Balance
botões da camisa abertos. “Fico muito ligado no figurino, o que usar e até mesmo o corte de cabelo, bem como o quanto se tira ou não olheira, se é para usar ou não barba, tudo isso me ajuda muito a compor o personagem.” Outro item importante nesse aspecto é o preparo físico. Para os seus dois últimos personagens na televisão – Afonso de Deus Salve o Rei e o atual Marcos de Bom Sucesso – o ator foi de um extremo ao outro. Em 2018, a trama se passava na Europa medieval e os personagens encobertos dos pés à cabeça. Então ele aproveitou para fugir da academia e curtir o filho Theo. “Sorte que eu não precisava ter tônus muscular nenhum. Já para o Marcos, que mora na praia, quando li a descrição da primeira cena, ‘um cara que sai do mar carregando um arpão em uma mão e peixes na outra’, já soube que a rotina seria bem diferente”, conta ele, que encara a musculação três vezes por semana, quiropraxia e, recentemente, voltou aos treinos de jiu-jítsu. Corta para a primeira bateria de fotos. Vestindo um look clássico, camisa e gravata, Estrela, à vontade, dançou ao som dos Rolling Stones. A partir daí, já não se sabia mais quem emprestava charme a quem, se ele a Marcos ou, ao contrário, se Marcos a ele. n
“A forma como você se apresenta diz muito sobre quem você é e o que quer comunicar”
Camisa e calça Emporio Armani, com suspensórios acervo, relógio Jaeger-LeCoultre Beleza: Alê Fagundes (Capa MGT) Arte: David Nefussi Produção executiva: Ana Elisa Meyer Produção de moda: Jaqueline Cimadon Assistente de fotografia: Debora Freitas
SÃO PAULO | RIO DE JANEIRO | SALVADOR | CAMPINAS | SÃO JOSÉ DOS CAMPOS | PANAMÁ | BREVE EM BRASÍLIA | BRETON CORPORATIVO
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GIÁCOMO TOMA ZZI
REVÉS
NÃO FOI DESTA VEZ
Lidar com a frustração é o grande desafio quando o sucesso é altamente valorizado. Porém, como fenômeno humano mais que natural, é importante tentar entender as adversidades em outro âmbito: o do aprendizado
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ILUSTRAÇÃO DOODER/FREEPIK
POR VICTOR SANTOS
o “Poema em Linha Reta”, Fernando Pessoa disserta sobre nunca ter conhecido quem tenha “tomado porrada”. “Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo”, escreve na primeira estrofe. O “eu” da obra desafia os semideuses que existimos aos montes no Ocidente e clama por uma oportunidade para ser apresentado a alguém capaz de reportar uma mera infâmia ou covardia. “Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?”, questiona. Pessoa assinou o “Poema” sob um de seus mais prolíficos heterônimos, Álvaro de Campos, e a obra soa atualíssima um século depois, em que proliferam plataformas virtuais de autopropaganda. Nosso narcisismo contemporâneo persevera não só na cabeça de cada indivíduo, mas também é fomentado por uma cultura que tem na ideia de sucesso uma de suas pedras fundamentais, donde nem a história ou a versão dos perdedores é lembrada. Perder é motivo de vergonha e frequentemente induz à ocultação de circunstâncias e acontecimentos. Porém, essa valorização do êxito entra em choque com um ditado tão popular que é quase mandamento: “Errar é humano”. Além de ser episódio comuníssimo, passar por desventuras é um fenômeno que, como poucos, pode servir de mola propulsora ao aprendi-
zado e ao crescimento pessoal. De acordo com o psicoterapeuta Ivan Roberto Capelatto, a frustração é a expressão humana decorrente da quebra de um desejo ou expectativa que proporciona experimentar um sentimento de impotência sem o desenvolvimento de uma patologia. E há mais sentimentos envolvidos. “A frustração pode ser sentida de várias maneiras e formatos: reação aguda ou grave a perdas e decepções; reação aguda ou grave a projetos não realizados; reação depressiva ao contato interrompido com pessoas afetivamente ligadas. O problema maior é quando o paciente não consegue sentir a frustração e transforma a perda em depressão ou em ideias autodestrutivas. Às vezes até em agressividade hétero dirigida”, diz Capelatto. Frustração em si não é um problema, mas a dificuldade de muitos em lidar com ela, sim, e isso pode ter consequências graves. O psicoterapeuta pontua que associar frustração ao sofrimento é um engano, pois ela tem o potencial de gerar o bem. Lidar com a desilusão de forma saudável é um terreno fértil ao desenvolvimento do juízo crítico, auxilia a se conectar com o “eu” interior e é uma etapa crucial na construção da autoestima. O desafio está em transformar essa experiência, o que pode ser feito nos primeiros anos de vida, e os pais podem dar grande contribuição ao processo.
Capelatto diz: “Uma criança bem cuidada é aquela cujos cuidadores oferecem limites e suportam raiva, birras e gritos sem punições ou agressões verbais. Quando a criança percebe que a raiva passou e ela é a mesma, constrói uma estrutura psíquica forte capaz de fazê-la suportar alguma derrota escolar, alguma decepção amorosa, perdas, mortes e mudanças na vida”. No âmbito empresarial é claro que erros podem ter consequências extremamente graves a ponto de comprometer a relação do executivo não só com liderados, mas também com acionistas e parceiros. No entanto, a alta competitividade pede inventividade que se reflete até em afirmações de um dos CEOs que sempre marcam presença na lista dos mais ricos. Segundo Jeff Bezos, da Amazon, “o fracasso é o caminho para o sucesso”. Patrícia Molino, sócia-líder da área de People & Change da companhia de auditoria e consultoria KPMG, disse a PODER que o mercado vive um momento de transformação muito intenso, o que gera insegurança em profissionais de diferentes níveis hierárquicos e faz questionar a ideia de fracasso por remeter a uma falha ampla e generalizada que pode trazer consequências drásticas. No entanto, erros pontuais fazem parte do processo e é importante saber enfrenPODER JOYCE PASCOWITCH 39
“A frustração faz com que a pessoa se movimente. Assim, os erros devem servir como aprendizado e desenvolvimento pessoal” PATRÍCIA MOLINO, SÓCIA-LÍDER DA ÁREA DE PEOPLE & CHANGE DA KPMG
Você sabia que o Instagram e o Teflon são resultados de erros? Em Oportunidades Disfarçadas 2 (ed. Sextante) o escritor e publicitário Carlos Domingos conta essas e outras histórias de empresas que transformaram problemas em oportunidades. Olha só: Instagram Em 2012, a rede social foi adquirida pelo Facebook por US$ 1 bi, não antes de os criadores Mike Krieger, brasileiro, e Kevin Systrom quase desistirem do negócio. Lançada inicialmente como o nome de Burbn, era uma cópia malfeita do Foursquare e só não morreu porque os proprietários notaram algo interessante: as pessoas usavam mais um recurso secundário do app, a ferramenta de postar fotos. Teflon Em 1938, a DuPont tentava desenvolver um refrigerante para competir com a Coca-Cola e a Pepsi quando um processo químico resultou numa resina branca que se tornaria a substância mais antiaderente do mundo segundo o Guinness Book. Hoje, o Teflon está em panelas, fios elétricos, automóveis e até propulsores de foguetes e, por prosseguir no erro, o químico Roy Plunkett integra o Hall da Fama dos inventores.
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tá-los. “Sem saber lidar com o erro a gente vai premiar o comportamento de quem se sente inseguro e afetar o rendimento de quem toma risco”, comenta. A executiva explica que as experiências negativas não devem ser justificadas automaticamente pelo potencial de aprendizado que geram, nem tampouco ser tomadas como uma tempestade permanente, pois, podese dizer, o mundo dá voltas. Quem se encontra em posição de prestígio pode experimentar o amargor de uma frustração num próximo momento. “Há bons exemplos no mundo das startups, em que a primeira experiência não é de sucesso e depois vem o desenvolvimento do negócio”, diz. E como tirar o melhor de uma situação
que parece extremamente negativa? “Esses momentos trazem desenvolvimento individual e criam empatia. A frustração frequentemente faz com que a pessoa se movimente. Assim, os erros devem servir como aprendizado e desenvolvimento pessoal.” De fato, abrir o peito e receber as experiências frustrantes do dia a dia com otimismo não é uma tarefa nada fácil, mas um primeiro passo é ter a consciência de que ela é natural, universal e tem um potencial de fortalecer o sofredor. A sabedoria popular pode ajudar nesses momentos, pois como escreveu o compositor – e zoólogo – Paulo Vanzolini em uma de suas mais famosas canções: “Reconhece a queda e não desanima / levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima”. n
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OPS, DEU RUIM
PODER INDICA
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A GRANDE BELEZA
Referência em harmonização facial e pródigo desenhista, o médico DR. MATHEUS ARANTES costuma dizer que é um artista com formação médica – e não um médico com conhecimento artístico. Ele é o criador da Beleza Funcional, método de tratamento estético que associa arte ao conhecimento médico para equilibrar – e melhor – a proporção da face de acordo com as necessidades de cada indivíduo. “É a evolução do tratamento estético. Fazemos um estudo da arquitetura da face e do comportamento das estruturas do rosto na manifestação dos sentimentos e buscamos o equilíbrio, priorizando o movimento, a leveza e a expressão do paciente”, conta. Membro de organizações de renome como a International Academy of Cosmetic Dermatology (IACD) e a European Academy of Dermatology and Venereology (EADV), Dr. Matheus explica que a técnica da Beleza Funcional não é para erradicar defeitos, mas para equilibrar as proporções, “nem que
isso exija manter algumas rugas de expressão”. “Porque a expressão facial é a base de toda beleza.” Atualmente, Dr. Matheus Arantes tem se dedicado à nova sede da clínica e instituto que leva seu nome, inaugurada no mês passado no Itaim Bibi, em São Paulo. Com decoração renascentista, amparada em muito branco e dourado, o espaço possui amplas salas para tratamentos estéticos equipadas com tecnologia de última geração e um moderno auditório para cursos e palestras. “Agora o paciente não precisa mais sair da clínica para realizar nenhum tipo de tratamento, tudo pode ser feito na nova sede.” No local, Dr. Matheus também segue compartilhando o seu conhecimento e sua técnica com profissionais de todas as partes do mundo em três módulos de cursos – entre eles o fellow, com duração de oito meses – sobre técnicas minimamente invasivas de harmonização, rejuvenescimento e remodelação facial. +INSTITUTOMATHEUSARANTES.COM.BR
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TOGA
MERITÍSSIMA
Aos 86 anos, Ruth Bader Ginsburg, a segunda mulher a se tornar juíza da Suprema Corte americana, vira fenômeno midiático, ganha cinebiografia bem-sucedida e personifica o bom senso que a política dos Estados Unidos vem sentido falta
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por anderson antunes olítica é show business para gente feia, dizia o comediante e apresentador de TV Jay Leno, ecoando o que já falava Marilyn Monroe décadas antes. A autoria da frase é desconhecida, mas é difícil discordar. Justin Trudeau, primeiro-ministro do Canadá, talvez seja a exceção que confirma a regra. Assim, chama bastante a atenção o fato de uma discreta, elegante e provecta senhora ter se tornado uma das figuras públicas mais populares dos Estados Unidos, celebrada em inúmeros memes e em programas de TV. Sua biografia poderia ter sido escrita pelos melhores autores americanos. Aos 86 anos, Ruth Bader Ginsburg, ou RBG, como é conhecida, adora terninhos Saint Laurent e até chegou a cultivar um certo pudor por expor a própria beleza, a ponto de usar lentes de contato cinza para esconder os olhos verdes. Indicada à Suprema Corte americana por Bill Clinton, em 1993, RBG é uma das três juízas da composição atual do tribunal, a segunda mulher a integrá-lo na história da corte. Nascida e criada no Brooklyn, em Nova York, RBG é a segunda filha de um casal de imigrantes de Odessa, cidade da mesma Ucrânia do presidente e ex-comediante Volodymyr Zelenski, envolvido até a medula no rumoroso processo de impeachment de Donald Trump – algo que o Legislativo, e não o Judiciário, nos Estados Unidos tem competência para tratar. Nas palavras da famosa feminista Gloria Steinem, a juíza é “o mais próximo que temos de uma super-heroína da vida real”. Não é exagero. Lançado
em circuito comercial em 2018, o documentário A Juíza, sobre RBG, arrecadou US$ 14,4 milhões nas bilheterias americanas, receita próxima do remake de Superfly, o grande clássico da blaxploitation – o gênero que colocou em cena elencos e heróis negros nos anos 1970. Dirigido por Betsy West e Julie Cohen, A Juíza (no original, RBG) também concorreu ao Oscar de melhor documentário de 2019, mas perdeu para Free Solo, sobre Alex Honnold, o americano que escalou sem corda nem qualquer outro equipamento de segurança o paredão El Capitan, de 915 metros, no parque nacional de Yosemite, na Califórnia, uma façanha sem paralelo no mundo do montanhismo. A maneira como RBG tornou-se “viral” na internet é bastante explorada em A Juíza (veja alguns memes na próxima página), filme que também mostra os encontros da magistrada com a comediante Kate McKinnon, que é quem a interpreta frequentemente no Saturday Night Live, histórico programa de humor da televisão americana. Ser alvo de piadas e imitações no decano humorístico é a glória para muitos (exceto talvez para a ex-governadora do Alasca Sarah Palin), e o primeiro encontro das duas RBG rendeu manchetes em sites de celebridades. “Ela é maravilhosamente engraçada”, disse a juíza sobre sua doppelgänger televisiva, ciente de que ser parodiada é ótimo negócio. “Ruth é uma gigante”, retribuiu Kate, fazendo menção implícita ao mero 1,55 metro de altura da magistrada. Apesar de ter caído no gosto do grande público americano há não muito tempo, RBG chegou aonde chegou com muito esforço e depois de muitas batalhas contra diversos poderosos. Formada em Direito no fim dos anos
RBG e sua clone no programa Saturday Night Live
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“Durante muito tempo, nove
juízes foi um número aceitável por aqui. Por que não seria aceitável ter nove juízas?”
Notorious RBG: “viral” em memes na internet
1950 pela prestigiada universidade Columbia, de Nova York, de onde saiu como melhor aluna de sua turma, ela sofreu para conseguir um emprego: ninguém contratava advogadas naqueles tempos. Em 1963, foi finalmente admitida como professora na renomada Rutgers Law School. Mas havia um porém: seus chefes logo a avisaram que seu salário seria menor do que o dos colegas, todos homens. A questão tinha relação com (falta de) equidade, um tema que ainda não havia entrado em debate na sociedade americana, mas mais relação ainda com o fato de o marido de RBG, o advogado Martin Ginsburg, ser um homem rico. Como não tinha opções, a futura integrante da mais alta corte americana topou o desafio, e em pouco tempo
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mostrou que tinha muito jogo de cintura para trabalhar no negócio de fazer justiça. RBG começou então a construir seu nome como defensora de causas feministas, e seu grande momento viria em 1971, ao atuar como voluntária no histórico caso “Reed versus Reed”. Apesar da proibição constitucional da discriminação baseada em gênero, o entendimento legal era diametralmente oposto, e esse caso em que atuou acabou por formar jurisprudência pela equidade. Se aí ela cravou seu nome na história, os casos que se seguiram firmariam sua reputação. Temas como aborto e a dispensa da mulher da obrigação de participar de júri popular, dispositivo que considerava uma “discriminação invertida”, sucederam-se em seu portfólio. Nomeada pelo ex-presidente americano Jimmy Carter, em 1980, para ocupar um assento na seção do distrito de Columbia das cortes de apelações dos Estados Unidos, RBG permaneceu ali até agosto de 1993, quando veio a nomeação para a Suprema Corte. Aprovada por unanimidade pelo Senado, ela integra a chamada “ala liberal” do tribunal, e seus discursos são acompanhados com atenção até mesmo por aqueles que discordam de seus postulados. Viúva desde 2010, quando perdeu Martin para um câncer, RBG também já teve vários problemas de saúde e há alguns meses revelou ter se submetido a um tratamento para tratar um tumor no pâncreas. Sem dar sinais de que está cogitando a aposentadoria – nos Estados Unidos, a posição na Suprema Corte é vitalícia –, ela se divide entre o trabalho e as aparições públicas, que adora fazer. Nestes últimos tempos, RBG passou a advogar uma Suprema Corte exclusivamente feminina. Difícil não tomar isso como pouco mais do que uma provocação, mas, seja como for, que fiquem registradas aqui suas palavras: “Durante muito tempo, nove juízes foi um número aceitável por aqui. Por que então não seria aceitável ter nove juízas?”. n
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Elizabeth Holmes, falando a seus críticos
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CONSUMO
ERIKA PALOMINO Diretora do Centro Cultural São Paulo (CCSP), a jornalista e consultora criativa é referência no circuito de moda
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POR ALINE VESSONI
Headspace: Aplicativo de meditação guiada com centenas de motes para ajudar a ajustar o foco e combater estresse, ansiedade e insônia
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Sky Guide: Um app para astrônomos amadores e entusiastas das constelações. Dá para usar offline
Instagram de moda para seguir já: @dankartdirectormemes, @stressedstylists e @fashionweekfrog, que ironizam com leveza a indústria da moda. A primeira coisa que você faz ao acordar? Olho o WhatsApp, Instagram, Folha, O Estado de S. Paulo, UOL, The Guardian e El País. Mas, em geral, já vi tudo de madrugada, porque tenho insônia. O uso da tecnologia mudou desde que assumiu a direção do CCSP? Mudou porque tenho de ficar localizável. Também passei a olhar mais o Instagram, para ver coisas de arte, cultura, museus, instituições, exposições e artistas. Em quais momentos do dia você desconecta? No mindfulness aprendi a fazer uma coisa de cada vez e colocar atenção no que estou fazendo. Desconecto quando cozinho, à noite, e nos fins de semana, quando não fico pegando o celular. Tento relaxar para zerar a mente e recomeçar na segundafeira. Acho que tenho uma relação saudável com rede social, não fico postando tudo e não gosto que as pessoas saibam onde estou e o que estou fazendo. Você é do tipo que sai de casa sem o celular? No máximo para passear com meu cachorro. Sair
assim despojadona não consigo muito (risos)! Mas não tenho FOMO [Fear of Missing Out, ou, em português, “medo de estar perdendo algo”]. Uso celular e iPad para ler livros, ver filmes e pesquisar. Ah, e para fazer quebra-cabeças, minha nova mania. Usa algum app diferente? Relax Melodies para relaxar, Headspace para meditar. E amo o Sky Guide, o mapa do céu. Adoro quando viajo ver estrelas diferentes, constelações, acho emocionante. E para viajar? Descobri recentemente em Berlim o Maps.Me. Também sigo sites de viagem, perfis de lugares que eu gosto, como o Japão, e amo cultura de hotel. Sou maluca pela rede Aman. Você liga ou prefere o WhatsApp? Algumas pessoas a gente tem que ouvir a voz. Gosto de ver o rosto dos meus filhos quando falamos, os dois moram fora do Brasil. E acho esquisito falar por gravações de áudio, são mais monólogos. O que acha dos áudios longos? Fico desesperada, me dá a maior ansiedade (risos).
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PODER VIAJA POR ADRIANA NAZARIAN
PRIMEIRA VEZ
Uma típica fazenda do século 16 cercada por oliveiras é o cenário do primeiro hotel da Rocco Forte na região da Puglia. Batizada de Masseria Torre Maizza, a novidade fica na charmosa região de Savelletri di Fasano. Além das 40 suítes com vista para os campos da propriedade, o hotel inclui um pequeno beach club privado, piscina de 20 metros, bar no rooftop e campo de golfe com nove buracos. No restaurante Carosello, outro destaque, entram em cena as pastas artesanais, os vegetais colhidos na região, os queijos caseiros e os peixes do dia. +ROCCOFORTEHOTELS.COM
SENHORITA
O Louise é o novo restaurante para se colocar na lista de endereços obrigatórios em Hong Kong. André Fu, designer de interiores que ganhou reconhecimento mundo afora, foi o responsável por transformar o casarão colonial dos anos 1950 em endereço cool. Como inspiração, uma mademoiselle francesa – daí o nome, Louise. A cozinha é comandada pelo premiado chef Julien Royer, que aposta em clássicos franceses bastante casuais. +LOUISE.HK
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EPICENTRO
Localizado entre o rio Garonne e a estação de trem SaintJean, La Méca é o novo centro cultural de Bordeaux. Estão lá as principais instituições artísticas do destino: Frac, centro de arte contemporânea, Alca, dedicada a cinema, literatura e audiovisual, e Oara, de artes performáticas. O impressionante projeto, assinado por vários escritórios do eixo Europa-Nova York, ainda inclui uma praça central para espetáculos e galeria para esculturas. O terraço do Frac tem espaço para instalações gigantes e vista para a Basílica St. Michel. +LA-MECA.COM
DOS PÉS À CABEÇA
Imagine um clube privado dedicado ao tão falado wellness. Agora adicione ao cenário o vale montanhoso no norte de Atenas. Eis o Tatoï, cujos conceitos principais são nutrição, saúde, natureza e comunidade. Na prática: sessões de ioga às margens de um lago, piscina aquecida ao ar livre, fazenda orgânica, baristas e mixologistas com pegada saudável, fisioterapia, spa e quadras de tênis cobertas e ao ar livre onde costuma treinar o francês Gaël Monfils, um dos 15 melhores do mundo. +TATOICLUB.COM AMANDA CAPUCHO,
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CEO DO CAFÉ ORFEU
“Em Londres gosto de bater perna e explorar cada ruela, encontrando sempre gratas surpresas, como o pub The Holly Bush, escondido em Hampstead Village. Também adoro visitar os museus – meu predileto é o V&A. À noite, teatro – na última temporada assisti a The Book of Mormon e Evita no Open Air Theatre, no Regent’s Park – e, depois, algum restaurante gostoso como o Story ou o Hoppers, no Soho, que tem comida do Sri Lanka e cocktails deliciosos. Básico ir ao Covent Garden, que à noite tem bares hipermovimentados, e Camden Town, com todo tipo de gente. Já as casinhas vitorianas de Notting Hill servem de contraponto ao burburinho do centro, exceto no dia da feirinha de Portobello Road. Por fim, adoro comprar produtos para o corpo e o cabelo feitos com ingredientes naturais na Aesop e velas e fragrâncias maravilhosas na Penhaligon’s.”
BRISA
Nem só de Montauk foi feito o último verão dos nova-iorquinos. Nova Jersey, cidade que passa por uma importante revitalização, ganhou um hotel que tem feito a cabeça dos locais. Pé na areia, o Asbury Ocean Club faz jus à localização: envidraçada, a sala principal tem mesão comunitário, piano e lareira, tudo voltado para o terraço. No espaço ao ar livre, a vontade é passar o dia na piscina debruçada no mar e cercada por sofás, camas e almofadões. Para coroar, um carrinho charmoso passa com sucos, drinques e smoothies refrescantes. +HOTEL.ASBURYOCEANCLUB.COM
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MOTOR
PÉ NA ESTRADA A ideia é se aventurar. Pegar a estrada, sair por aí, descansar e acordar a cada dia numa paisagem diferente. E, melhor ainda, fazer isso com trailers luxuosos e sem perder o jeitinho de casa
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por aline vessoni
VINTAGE HOLIDAY HOUSE TRAILER
David Holmes, presidente da Harry & David, empresa que fabricava cestas de frutas e presentes, ficou famoso nos Estados Unidos com a produção dos trailers supercharmosos Holiday Houses, em Medford, no Estado de Oregon. Isso entre os anos de 1959 e 1961. Apesar de muito charmosos e cheios de estilo, o valor muito acima do mercado fez com que apenas 200 unidades fossem fabricadas na época e, em 1962, a produção terminou. Hoje, esses equipamentos vintage são as joias da coroa quando o assunto são trailers. Fácil entender o porquê. Se encontrar um deles por aí, faça uma oferta.
ELEGANCE GRANDE – BESSACARR
O interior é cheio de detalhes. O espaço permite uma janela central ampla e mais opções para estocagem. O sistema Accuride de montagem da cama tornou mais fácil a conversão dos bancos dianteiros em cama dupla – com a garantia de uma noite de sono tranquila com a tecnologia dos colchões Duvalay Duvalite. A cozinha tem estilo doméstico, o que inclui forno de alta performance, geladeira espaçosa e gavetas e portas que abrem e fecham suavemente. SWIFTGROUP.CO.UK PREÇO: US$ 41 MIL
NEST – AIRSTREAM
Com design elegante, o Nest é para os chegados em detalhes. O interior colorido e aconchegante é ideal para quem busca escapar nos fins de semana para relaxar confortavelmente. Disponível em duas plantas, com diferenças nas áreas de dormir e de comer: é possível escolher uma cama fixa ou uma cozinha em formato de “U” que se transforma em cama – o fabricante garante que ambos modelos entregam uma cozinha muito bem equipada. Aliás, você se surpreenderá com o tanto de bagagem que este trailer pode carregar.
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AIRSTREAM.COM PREÇO: US$ 43 MIL
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ESPELHO
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A DONA DOS BOXES
Para quem se acostumou com pilotos e escuderias formadas prioritariamente por homens, talvez se espante ao saber que o Grande Prêmio Brasil de Fórmula 1 é comandado por uma mulher. A CEO CLAUDIA ITO está há dez anos na função e foi a primeira mulher a assumir o maior cargo na principal categoria do automobilismo. De lá para cá, pouca coisa mudou no cenário e somente a etapa da Hungria, no tradicional circuito de Hungaroring, ganhou uma dama no paddock. “Estudei a vida inteira em colégio de madres e foi um choque quando resolvi cursar engenharia eletrônica, porque a adesão feminina era baixa”, conta Claudia que, apesar do contexto, nunca se sentiu intimidada. “Sempre soube que trabalharia com exatas, porque era muito boa em matemática”, revela a CEO da F-1 no Brasil. Ainda na faculdade, em 1992, Claudia Ito teve a oportunidade de começar na categoria como temporária. Assim como na engenharia, conta que foi bem acolhida no Autódromo de Interlagos. “Talvez a nossa empresa seja um pouco fora daquilo que as mulheres têm enfrentado, justamente porque o Tamas [Rohonyi – anti-
go CEO] acredita que ou você é competente ou não é, independentemente do gênero”. Atualmente, a equipe fixa liderada por Claudia Ito conta com 35 pessoas nas áreas principais como engenharia, venda e logística, número que na semana do Grande Prêmio Brasil salta para 10 mil pessoas – entre colaboradores e contratações temporárias. Liderar tanta gente e com tamanha precisão, só mesmo com vasta experiência no negócio e, segundo ela, com o auxílio de todos. “Cresci dentro do autódromo. Comecei fazendo secretariado, depois credenciamento, logística, fui para a área de boxes atender as equipes. Cada ano fui dando um passo à frente. Essa trajetória foi muito importante e isso me dá segurança para orientar os colaboradores”, finaliza ela que trouxe para a etapa brasileira o prêmio de melhor organização em 2013. A eleição feita pela Formula One Management acontece desde 1975, e, quando o GP Brasil levou o troféu pela primeira vez, em 2006, Claudia Ito já integrava a diretoria. n
por aline vessoni PODER JOYCE PASCOWITCH 51
SOB MEDIDA POR FERNANDA GRILO
Diretor artístico da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, a Osesp, o compositor, violonista, crítico literário e musical acaba de lançar o livro de ensaios Tudo Tem a Ver (ed. Todavia). Ele também trabalha na tradução da Ode à Alegria, famosa peça cantada no movimento final da Nona Sinfonia, de Beethoven, que a Osesp leva em dezembro, e finaliza um disco e dois livros para crianças SER BEM-SUCEDIDO É...
“Não se preocupar com o valor do reembolso do seguro de saúde”, como diz a Claudia Cavalcanti [mulher de Nestrovski]. ONDE E QUANDO É MAIS FELIZ?
Em casa, com Claudia e as meninas. ARTISTAS QUE MAIS GOSTA:
Três fotógrafos que exploram “naturezas”. Paulette Tavormina (natureza morta), Tacita Dean (natureza reinventada) e Cássio Vasconcellos (natureza brasileira). MÚSICO QUE TODO MUNDO DEVERIA CONHECER?
Luiz Tatit. TRÊS COMPOSIÇÕES PARA OUVIR JÁ:
O Concerto para Piano, de Thomas Adès, o Concerto para Violoncelo, de Esa-Pekka Salonen, e o Concerto para Viola, de Brett Dean. ARTISTAS BRASILEIROS PARA FICAR DE OLHO:
Citando apenas pianistas: Cristian Budu, Leonardo Hilsdorf e Lucas Thomazinho.
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MOMENTO DE MAU HUMOR:
Quando recebo textos mal escritos para revisar. FRASE PREFERIDA:
“É sobre-humano amar” (Zé Miguel Wisnik). MÚSICA QUE MARCOU SUA VIDA:
Sinfonia, de Luciano Berio. Longa história. Está na apresentação do meu livro Tudo Tem a Ver. GADGET PREFERIDO:
Peça de plástico para girar as cravelhas, quando se trocam as cordas do violão. UM MEDO:
Do que pode virar o Brasil. UMA PESSOA QUE O INSPIRA.
Quatro: Lívia, Sofia, Nina, Dora. QUEM GOSTARIA DE SER?
Às vezes Lunga [do filme Bacurau]; outras, Dorival Caymmi. FAZER E VIVER DE ARTE NO BRASIL É...
Muito mais difícil do que deveria. O QUE FARIA SE FICASSE INVISÍVEL POR UM MINUTO?
Concederia dupla cidadania para a família inteira. O QUE FALTA REALIZAR NA VIDA?
Reler Proust inteiro. DESEJO PARA O FUTURO:
O que o Brasil ainda pode ser. A GRANDE OBRA DA SUA VIDA:
Calma, a vida ainda não acabou.
FOTOS CLAUDIA CAVALCANTI/DIVULGAÇÃO; GETTY IMAGES; REPRODUÇÃO; DIVULGAÇÃO
Arthur Nestrovski
MESTRE DE TODOS OS TEMPOS:
João Gilberto.
LUGAR NO MUNDO:
Camarote 9, na Sala São Paulo.
UM HOBBY:
Fotografia.
O QUE NÃO PODE FALTAR NO CAFÉ DA MANHÃ?
A PRIMEIRA COISA QUE FAZ QUANDO CHEGA AO TRABALHO:
Café.
Converso com o maestro da semana.
MELHOR HORA DO DIA:
LIVRO:
Jantar.
O Balão Vermelho, de Albert Lamorisse.
PEÇA DE ROUPA FAVORITA:
Um terno bem cortado.
MÚSICA PREFERIDA:
Águas de Março. Escrevi sobre ela o ensaio “O Samba Mais Bonito do Mundo” no meu livro Tudo Tem a Ver
ÍDOLO:
Paulo Roberto Falcão – no time do Internacional, na década de 1970; e na seleção, na de 1980.
MELHOR FILME:
Deste ano, Dor e Glória (Almodóvar).
SONHO DE INFÂNCIA: VÍCIO:
Violão.
Ser tenista.
ESCRITOR:
O suíço Peter Bichsel, autor de O Homem que Não Queria Saber Mais Nada. PODER JOYCE PASCOWITCH 53
CULTURA INC. POR LUÍS COSTA
RIR PARA PENSAR Juca de Oliveira volta à comédia com crítica social e política do país e reafirma sua posição contra as leis de incentivo, como a Rouanet: “Vamos redescobrir o teatro”
“E
u escrevo sobre coisas que me apaixonam, mas sobre coisas que me indignam também”, diz Juca de Oliveira, 84 anos, em cartaz no Teatro Renaissance, em São Paulo, com Mãos Limpas, comédia inédita que assina com direção de Léo Stefanini. “A função social do teatro é melhorar o homem. É tornálo mais afetivo, generoso, solidário”, diz. No palco, Juca interpreta um traficante que, escapando de uma perseguição policial com seu comparsa MyFriend (Taumaturgo Ferreira), refugia-se na casa do senador corrupto Diocleciano (Fulvio Stefanini). O detalhe: a casa vazia era um presente às escondidas do senador à sua assessora e amante. “A comédia sempre suscita a inteligência, o raciocínio, a análise”, conta o autor e ator, que mais de 20 anos depois volta a trabalhar com Fulvio Stefanini, velho parceiro de teatro, com quem ficou por seis anos em cartaz na premiada Meno Male (de 1987), que também escreveu. “Aprendo muito com ele. Nós trocamos ideias sobre o que estamos fazendo, a técnica que estamos utilizando. Ele faz críticas sobre mim, e eu sobre ele.” Crítico mordaz da antiga Lei Rouanet, Juca de Oliveira acredita que, com as mudanças recentes na legislação de incentivos fiscais à cultura, o teatro brasileiro vai viver um recomeço. Em abril, o governo federal anunciou uma série de alterações no mais conhecido mecanismo de fomento à cultura no país. Entre as medidas, estava o novo limite de R$ 1 milhão por projeto – o
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teto anterior era de R$ 60 milhões. “A Lei Rouanet acabou com a bilheteria”, diz Juca, que afirma ter existido uma dependência das produções em relação ao montante previsto na renúncia fiscal. “Historicamente o ator vive da bilheteria. Não se deve dar dinheiro ao ator. Shakespeare escrevia com os dois olhos na bilheteria.” Como exemplo do que considera um fracasso da Lei Rouanet, Juca cita as curtas temporadas de peças que calculam sua duração não pela estimativa de público, mas no recurso obtido pelo incentivo fiscal. “Buenos Aires, que tem infinitamente mais pobres do que nós, é uma Broadway ululante, sete dias por semana”, revela. “Estamos em um momento bom porque a Lei Rouanet foi praticamente extinta. Nós vamos redescobrir o teatro.”
PODER É 1 - ACERTO COM O PASSADO Com direção de Andrucha Waddington e texto de Fernanda Torres, O Juízo ganhou seu primeiro trailer. O longa, previsto para estrear em dezembro, narra a história de Augusto (Felipe Camargo), que se muda com a família para uma fazenda assombrada por escravos traídos por seus antepassados. O elenco tem Criolo, Lima Duarte e Fernanda Montenegro.
FOTOS JOÃO CALDAS/DIVULGAÇÃO; SUZANNA TIERIE/DIVULGAÇÃO; DIVULGAÇÃO
2 - CONVERSA DE VÓ Autor com mais de 60 livros publicados e duas vezes vencedor do Prêmio Jabuti, Frei Betto lança Minha Avó e Seus Mistérios (ed. Rocco, R$ 29,90). São histórias retiradas das memórias de conversas com sua avó, dona Zina. Vem daí temas universais como o amor, o medo, a felicidade e também o passar dos anos tratados com lucidez e bom humor. “No amor é preciso desaprender. Entregar-se a ele como um pássaro a seu voo”, dizia dona Zina. 3 - MACHADO INÉDITO Crônicas inéditas em livro, escritas por Machado de Assis para o Semana Ilustrada, estão no volume Badaladas Dr. Semana (ed. Alameda, R$ 248), organizado pela professora Silvia Maria Azevedo, da Unesp. Em cuidadosa pesquisa, ela visitou os arquivos do periódico humorístico lançado no Rio durante os anos de 1860. A partir de 1869, Machado escreveu ali cerca de 300 crônicas, e pouquíssimas delas seriam depois editadas em antologias contemporâneas. 4 - HISTÓRIA DAS GENTES Vencedor do prêmio Jabuti em 2016, o historiador Luiz Antonio Simas dribla a historiografia
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oficial para falar do Rio de Janeiro sob o olhar de sua gente. Com influências de João do Rio e Walter Benjamin, O Corpo Encantado das Ruas (ed. Civilização Brasileira, R$ 34,90) desafia cânones e propõe leituras inspiradas pelos toques de tambor do candomblé e dos ritmos das feiras. O livro foi a obra de ficção mais vendida durante a (polêmica) Bienal do Rio no estande do Grupo Editorial Record. PODER JOYCE PASCOWITCH 55
CABECEIRA
A ORIGEM DAS ESPÉCIES – CHARLES DARWIN
Nos últimos anos, minha leitura estava mais voltada para ensaios do que para literatura. Queria ler coisas mais objetivas. Embora isso esteja mudando, Darwin é essencial, porque é com a Teoria da Evolução que podemos pretender entender quem somos e de onde viemos.
ESTANTE
POR ALINE VESSONI
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CÂNDIDO, OU O OTIMISMO – VOLTAIRE
A obra é um verdadeiro mergulho na alma humana e em seus conflitos, é sobre o bem e o mal.
OS MAIAS – EÇA DE QUEIROS
Retrato da sociedade portuguesa, sua moral e educação. E que são nossas matrizes.
DOM CASMURRO – MACHADO DE ASSIS
Dentro da obra vasta e genial de Machado de Assis, neste livro encontramos a ambiguidade, a ironia e o mistério num dos maiores romances já escritos. TIA JULIA E O ESCREVINHADOR – MARIO VARGAS LLOSA
Para mim, Llosa desenvolveu um dos mais interessantes personagens da literatura, o telenovelista Pedro Camacho.
MACUNAÍMA - MÁRIO DE ANDRADE
Um clássico, perfeita metáfora e alegoria sobre a identidade brasileira.
FOTOS DIVULGAÇÃO
O mercado editorial brasileiro raras vezes pareceu verdadeiramente promissor, mas isso jamais incomodou o livreiro RUI CAMPOS, dono da Travessa, rede de livrarias carioca que chegou a Lisboa e a São Paulo. Sobrinho do cardeal da UDN e ex-governador de Minas Gerais Milton Campos, Rui conviveu com a nata da intelectualidade mineira durante a infância e a adolescência. “Eu vivia na casa do meu tio, que era um lugar que sempre estava com as portas abertas, cheia de gente interessante, uma turma da política muito ligada à literatura”, conta. O fácil acesso a livros e ao mundo literário fez com que ele começasse a ler autores russos muito cedo – e muito antes do recomendado. “Eu tinha 14 anos quando li Crime e Castigo, do Dostoiévski. Fiquei impressionado e não recomendo a leitura para adolescentes”, diverte-se. O fato é que quem lê Dostoiévski tão jovem não titubeia quando recebe proposta para trabalhar em livraria. Aos 19 anos, Rui desembarcou no Rio de Janeiro para se ocupar da Muro, que era um espaço de encontro e resistência contra a ditadura. “Nós reuníamos os poetas marginais daquela época, foi algo muito espontâneo porque eram as pessoas com as quais convivíamos, colegas de praia, da vida cultural”, explica. Da Muro, em Ipanema, para a Livraria da Travessa, o empresário acredita que a fórmula para resistir às intempéries mercadológicas é sintonizar-se com o momento. “Ainda temos a meta de estar em sintonia com o que acontece na cidade, no país, e tentar ser intérprete disso. Quero que a livraria seja reconhecida por ser um lugar em que as pessoas possam se informar, se conectar, se atualizar.”
FERVE
REGINA MORAES WAIB
RHONDA WATTERS E MARLY PARRA
FOCO E DETERMINAÇÃO
fotos beatriz chicca; paulo freitas
Um grupo de mulheres inspiradoras se reuniu no mês passado em mais uma edição do Almoço de PODER, desta vez no A Figueira Rubaiyat, numa tarde de troca de experiências e integração. Joyce Pascowitch, anfitriã, comemorou o evento. “Eu me sinto feliz e realizada cada vez que estou perto de um grupo de mulheres como esse. Empreendedoras, talentosas, inteligentes e que fazem a diferença. É um grande prazer e isso é só o começo. Para nós crescermos e nos multiplicarmos.”
CLAUDIA PINHEIRO
LYDIA SAYEG
CLAUDIA COHN E FERNANDA FARES CLAUDIA BURMAIAN
PATRICIA ELLEN
MARTHA MEDEIROS
representado pela diretora executiva Claudia Cohn e a doutora Flora Finguerman, coordenadora médica da área de diagnóstico de mama. O laboratório premium ofereceu para cada uma das convidadas um delicado nécessaire recheado com produtos de luxo.
fotos beatriz chicca; paulo freitas
QUESTÃO DE SAÚDE O Alta Excelência Diagnóstica participou do evento CAROL SANDLER
ERICA SAITO
GRAZIELLE DIB
JULIANA LOUREIRO
MARIANGELA KLEIN
BRUNA REZENDE
JESSICA SAYEG NINA PANDOLFO
EDENISE GARCIA
LILIANE ROCHA
PARA TODAS AS HORAS
MONICA BANDEIRA DE MELLO
fotos beatriz chicca; paulo freitas
Além de poderosas, as convidadas do Almoço de PODER mostraram algo mais em comum: tênis estilosos. Isso porque a World Tennis presentou todas com um modelo tendência da Fila. Claudia Burmaian, responsável pela área de visual merchandising da rede, representou a companhia no A Figueira Rubaiyat.
GAL BARRADAS
RHONDA WATTERS
EDENISE GARCIA E GRAZIELLE DIB
fotos beatriz chicca; paulo freitas
ANA PIVA E MELISSA ERMIRIO DE MORAES
INSPIRAÇÃO
Presente nos principais eventos de PODER, a Casa Leão Joalheria levou sua delicadeza em forma de rosa. Dentro, as convidadas do almoço encontraram lindos anéis. E o melhor: com frases de empoderamento gravadas nas joias. CAROLINE ALBANESI
CLAUDIA COHN
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NINA MONTICELLI
FERNANDA FARES MARLY PARRA
MILENA SATYRO
EM CASA
No Almoço de PODER só para mulheres a Incorporadora Paes & Gregori aproveitou o momento para apresentar o seu mais novo empreendimento, o Lina, nos Jardins, uma homenagem ao estilo de viver do bairro com olhos para o conforto.
NINA SILVA
PATRICIA ELLEN
PAULA PASCHOAL
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FLORA FINGUERMAN
LUCIANA NASCIMENTO
CÍNTIA BANÚS
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MAIS EM GLAMURAMA.COM/FOTOS
ESPELHO
O SABOR DA GENTILEZA
A presença de CARLA BOLLA no salão do La Tambouille, em São Paulo, segue uma tradição da casa. Era assim que diuturnamente seu pai, o saudoso Giancarlo Bolla, recebia os clientes desde a inauguração do restaurante em 1971. Com a partida do patriarca, em 2014, coube à filha assumir o posto do restaurateur e manter ativo o legado do ícone da gastronomia. Com pequenas alterações, vá lá. “Tudo o que fazemos é pensando nele e naquilo que acharia”, conta Carla, que hoje dirige o estabelecimento ao lado da irmã Cláudia. “Mas sei que algumas coisas ele não aprovaria”, brinca. Carla se refere às recentes mudanças no cardápio, que não perdeu, porém, a sólida identidade franco-italiana. Atualmente, a ementa é dividida em clássicos e contemporâneos e ganhou também opções “low carb”, balanceadas e contendo pouco ou quase nada de carboidrato – “para quem busca algo a mais do que o frango com salada de todo dia”. A cozinha é pilotada pelo chef Anderson Laranjeira, discípulo de Giancarlo. A restauratrice até dá seus pitacos, prova, reprova, mas deixou o dólmã e tomou conta do salão depois da morte do pai. O primeiro ano, lembra, foi complicado. “Por ser um restaurante muito tradicional, as pessoas tinham dúvidas sobre o que seria da casa, se manteria os padrões. Mas eu só precisei colocar em prática o que aprendi a vida toda, porque eu nasci e cresci aqui.” E assim Carla Bolla rapidamente ganhou a confiança dos clientes mais fiéis, atraiu tantos outros e caiu nas graças da crítica especializada. E ganhou também algo muito mais saboroso. “Todos os dias ouço histórias sobre o meu pai, sempre diferentes. É muito gostoso. São pequenas lembranças, emocionantes, que fazem com que a presença dele seja ainda mais viva.” O bate-papo com PODER é rápido. É quase meio-dia e os clientes da casa começam a chegar. Carla pede licença, se levanta e parte em direção à porta de entrada com a lista de reservas nas mãos. Em poucos minutos o almoço vai começar a ser servido. É hora de dar boas-vindas e receber a clientela com a mesma elegância que Giancarlo Bolla tanto ostentou. n
por dado abreu foto joão leoci 62 PODER JOYCE PASCOWITCH
CARTAS cartas@glamurama.com
BAIÃO DE DOIS
FOTO PEDRO DIMITROW
Adoro os dois! [o chef de cozinha Claude Troisgros e seu assistente Batista] (Ensaio, PODER 131). @antoniaubarre Fotos lindas. @luisrenatolui Melhor dupla. @elbagvanzeli
O BOM COMBATE
Excelente a matéria com o médico Paulo Hoff. E se a cura não vier para minha família, já é muito gratificante ter esperança para outras no futuro (PODER 131). Arlete Batista, via e-mail Excelente reportagem! @camilla_hoff Leitura delícia. @rafaaveras
/poder.joycepascowitch
@revistapoder
COLUNA DA JOYCE
Amei a matéria, está demais! [3 perguntas para a instrutora de meditação Luiza Hummel] (PODER 131). @samanthadangot
AGENDA PODER
EMPORIO ARMANI + armani.com ERMENEGILDO ZEGNA + zegna.com HUGO BOSS + hugoboss.com JAEGER-LECOULTRE + jaeger-lecoultre.com NEW BALANCE + newbalance.com.br
@revistapoder
O conteúdo da PODER na versão digital está disponível no SITE +joycepascowitch.com
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Nem sempre, ou melhor, quase nunca, o número de prêmios Grammy que um artista ganha em vida dá conta do tamanho de sua carreira. No caso da soprano Jessye Norman, a americana que morreu aos 74 anos, os cinco que recebeu – um deles pelo conjunto da obra – podem, contudo, dar algumas pistas. Seu “opulento” timbre vocal, na expressão do jornal The New York Times, permitia que ela interpretasse papéis que sopranos normalmente não assumem. Mas era a presença de palco, com gestos, movimentos e olhares dignos de uma rainha – ou de alguém mais adiantado na escala ontológica – que fazia a diferença. Crescida no seio de uma família de músicos em Augusta (Geórgia), ela debutou na Europa, mas foi em Nova York, no palco da Metropolitan Opera House, levando os papéis de Aída ou Sieglinde, que ela, pode-se dizer, vicejou. Wagner era um dos compositores de eleição, mas Isolda só ganhou sua majestade em disco. Ela cantou em duas posses presidenciais e também na abertura dos Jogos Olímpicos de Atlanta, em 1996.
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FOTO REPRODUÇÃO
DIVA
É com muito orgulho que o Grupo Glamurama apresenta seu caçulinha, o berinjela.com, onde selecionamos produtos de várias marcas pra lá de especiais – e, viva!, para comprar na hora. Com esmero, tentamos separar o joio do trigo, e elegemos o que cremos ser a cara de nossas leitoras. E vamos além do estilo: aqui só entra o que é feito de forma ética e sustentável. Clique e fique à vontade!