Leiamos a BĂblia
Carlos José Hernández
Leiamos a Bíblia Guia para leitura meditativa
Tradução e adaptação: Enio R. Mueller
3ª Edição Revista e ampliada
Joinville, 2015
Copyright © Carlos José Hernández. Os direitos dessa edição estão reservados à Editora Grafar Ltda. 1ª Edição - Uma viagem ao coração de si mesmo (CPPC / Comunidade de Jesus de São Paulo), 1999. 2ª Edição - Leiamos a Bíblia: uma jornada interior (Carrenho), 2005. Capa: Claudio Kupka Diagramação: Editora Grafar Ltda
Ficha Catalográfica
H551
Hernández, Carlos José Leiamos a Bíblia: guia para leitura meditativa / Carlos José Hernández; tradução e adaptação de Enio R. Mueller - 3.ed. - Joinville: Grafar, 2015. 132p.; 21cm ISBN 978-85-63723-10-9 1. Bíblia - Introduções. 2. Bíblia - Guia de leitura. I. Título. CDD 220.61(22.ed) CDU 22.01
Elaborada por: Maria Isabel Schiavon Kinasz – CRB 9-626
Essa publicação contou com o serviço voluntário e apoio financeiro de pessoas que amam o Evangelho.
Editora Grafar Ltda. Rua XV de Outubro, 4792 – Rio Bonito 89239-700 – Joinville – SC www.editoragrafar.com.br vendas@editoragrafar.com.br
Sumário Prefácio
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Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . A liturgia pessoal . . . . . . . . . . . . . . . . .
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Leitura Devocional da Bíblia 17 A Bíblia em quatro anos . . . . . . . . . . . . . . . . 19 Toda a Bíblia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20 Sensíveis ao desejo da alma . . . . . . . . . . . . . . 20 Nossa verdadeira identidade, num encontro que transforma . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21 Uma tarefa mensal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21 Três elementos básicos da hora devocional . . . . . 22 Um compromisso escrito e firmado . . . . . . . . . . 23 Todos lendo as mesmas passagens durante quatro anos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23 Dois modos de compartilhar as experiências de transformação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24 Aprendendo a desenvolver os sentidos da alma . . . 24 A realidade invisível e inaudível . . . . . . . . . . . 25 O encontro diário com Jesus é transformador . . . . 25 Uma estrutura arquetípica: a imagem da relação com Deus gravada em nossa mente . . . . . . . 26 O trivial diário . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27 5
O Espírito Santo, uma presença atuante em nossas vidas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Tornando consciente o processo de transformação . O Tempo Devocional Entrega . . . . . . . Interioridade . . . . Corporalidade . . . Excedência . . . . . Esvaziamento . . . Sensibilidade . . . .
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A Biologia da Ressurreição A gramática do esvaziamento . . . . . . . . . . . . . A gramática da existência . . . . . . . . . . . . . . .
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Para a Leitura da Bíblia Uma história de salvação . . . . . . . . . . . . . . . . Criação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Queda . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Aliança . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Cristo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Consumação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Da instituição-idolatria à família-comunidade . . . O pecado e a biologia humana . . . . . . . . . . Família e comunidade como promessa divina . Instituição e idolatria como contrapartes da promessa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . A encarnação de Deus e a nova comunidade . . A Bíblia: o memorial da memória . . . . . . . . . . . Memorial da nossa biologia . . . . . . . . . . . Memorial da biologia da ressurreição . . . . . .
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A gramática da escuta . Prestando atenção nas formas Carta . . . . . . . . . . . Torá: Instrução . . . . . História . . . . . . . . . . Profetas . . . . . . . . . Salmos . . . . . . . . . . Sabedoria . . . . . . . . . Canção de Amor . . . . . Apocalipse . . . . . . . .
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O Guia de Leitura O guia e suas partes . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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Ano 1 – Primeiro Semestre Ano 1 – Resumo do primeiro semestre . . . . .
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Ano 1 – Segundo Semestre Ano 1 – Resumo do segundo semestre . . . . .
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Ano 2 – Primeiro Semestre Ano 2 – Resumo do primeiro semestre . . . . .
79 86
Ano 2 – Segundo Semestre Ano 2 – Resumo do segundo semestre . . . . .
87 94
Ano 3 – Primeiro Semestre 95 Ano 3 – Resumo do primeiro semestre . . . . . 102 Ano 3 – Segundo Semestre 103 Ano 3 – Resumo do segundo semestre . . . . . 110 Ano 4 – Primeiro Semestre 7
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Ano 4 – Resumo do primeiro semestre . . . . . 118 Ano 4 – Segundo Semestre 119 Ano 4 – Resumo do segundo semestre . . . . . 126 Depoimentos
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Anexos 129 1 - Lista das nações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 129 2 - Lista dos milagres de Jesus . . . . . . . . . . . . 129 3 - Lista das parábolas nos Evangelhos . . . . . . . 130
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Prefácio Tudo começou com um Natal... e não é assim que começa a história da salvação? Pois foi num Natal que recebemos de presente um exemplar espanhol deste livro do Dr. Carlos Hernández: um roteiro de leitura da Bíblia. Até aí nada de novo... Mas logo de cara já se via que esse livro era diferente: não seguia uma rota conhecida de leitura, pois mesclava trechos e livros. Interessante! Mas qual o motivo? Além disso, o plano do livro trazia perguntas a cada mês, também diferentes das usuais: não interpelava o conhecimento bíblico, nem manipulava forçando interpretações, mas queria que o próprio leitor se conhecesse à luz do que era lido. Ou seja, o livro deixava nossa alma reagir à leitura. Desafiador! Como era Natal, resolvemos traduzir o capítulo introdutório e enviar aos amigos o roteiro do primeiro mês, com o convite de que participassem conosco dessa jornada de conhecer-nos à luz da Palavra de Deus. O presente singelo mas também com certa dose de pretensão, foi assumido pelos amigos, desconstruindo roteiros, desconstruindo organizações e estereótipos, mas nos dispondo a ler a Palavra e sermos lidos por ela. Assim nasceu o movimento Leamos a Bíblia – um portunhol que mostra nossa origem hispano-brasileira. Foram
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encomendados livros da Argentina, e o grupo formado principalmente por casais e famílias jovens foi crescendo... O livrinho Leamos la Biblia1 de Hernández, tornou-se presente abençoado em nossa vida. Presente nos dois sentidos, pois este presente tornou-se presença obrigatória na vida de nossa família e na de nossos amigos. A proposta de Hernández, logo no início, é apresentada como meio para “prosseguimento pessoal do processo de transformação que se produz em nós pela ação do Espírito Santo”2 , e ainda, logo adiante, complementa: “Este programa enfatiza a importância da atitude que desenvolvemos em nosso encontro diário com a Palavra de Deus assim como o movimento interior que se produz em nós quando estamos em contato com a fonte da vida.”3 Cada página contém as passagens de leitura diária e a tarefa mensal. A questão mensal é importante para nossa informação, habitualidade, comparação anual e formação. É de formulação inteligente e de resposta subjetiva, estimulando a participação com anotações.4 Como cristão, médico e psiquiatra, Hernández preocupou-se com o olhar e o ouvir da alma, dando instrumentos para a revisão de falsas ideias, do soltar o antigo, e assim promover a abertura de espaço para a nova vida. 1
O guia de leitura de Hernández já teve três versões. São elas: a) 1996, a primeira, editada na Argentina, com 79 páginas, sob o nome “Leamos la Biblia”; b) 1999, a segunda, editada no Brasil pelo CPPC, em Curitiba, com 100 páginas, denominado “Uma Viagem ao Interior de Si Mesmo”; c) em 2005, a terceira, editada em São Paulo, com 104 paginas, denominada “Leiamos a Bíblia, Uma Jornada Interior.” 2 HERNÁNDEZ, 1996, p. 3. 3 HERNÁNDEZ, 1996, p. 3. 4 Sugere-se com ênfase a utilização de “agendas permanentes”. Estas servem aos quatro anos em que a leitura da Bíblia se completa. O crescimento na devoção e no relacional, é percebido nas anotações que registram sua evolução ao longo do tempo. Alguém do grupo resumiu que as devoções feitas conforme o guia de leitura são como “o espelho que nos lê”.
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Hernández nos convida ao aprendizado e ao desenvolvimento dos sentidos da alma, pois “pertencemos a um Reino invisível mas real”5 . Somos cidadãos do Reino de Deus e temos a nova identidade que “nos exige um processo de transformação... é fundamental aprender a ver e ouvir através da fé (considerados os sentidos da alma ou do coração)”. E enfatiza a leitura diária da Palavra como sendo a condição central para o desenvolvimento. Geralmente a ação profunda de Deus se apresenta como sendo muito devagar, e a impaciência costuma se manifestar. Atento a isso e com vistas à formação e ao amadurecimento, Hernández chama a atenção para o andamento do processo que será gradual e silencioso. Apesar de parecer lento, seu resultado não tarda a dar sinais visíveis, pois que essa transformação é... ... como o fermento que leveda toda a massa. Podemos saboreá-la quando descobrimos que estamos mais pacientes, mais tolerantes, mais perdoadores, mais abertos, mais humildes e, particularmente, quando nossa consciência de pecado se torna mais perceptível. Tudo isso só é possível quando nos abandonamos à Graça e nos tornamos sensíveis à ternura de nosso Criador.6 O Grupo de interessados cresceu e se tornou conhecido como Grupo Leamos. Na sequência aconteceram encontros esporádicos até que se decidiu promover um encontro anual com a presença do autor, o que segue acontecendo desde lá. A cada dia, muitas pessoas de diferentes tradições e confissões fazem sua devoção diária baseada nesse roteiro. 5
HERNÁNDEZ, 1996, p. 8. HERNÁNDEZ, C. J. Leiamos a Bíblia: uma jornada interior. 2. ed. São Paulo: Carrenho, 2005, p. 20. 6
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Nesse encontro, a Palavra nos visita e se torna carne, alimento, Vida. Esta ĂŠ a proposta, este ĂŠ o convite! Porto Alegre, novembro de 2013 Karin Hellen Kepler Wondracek e Merton Wondracek
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Apresentação A liturgia pessoal Uma das metas deste guia de leituras bíblicas é ajudar a desenvolver uma liturgia pessoal. A ideia de uma liturgia pode parecer muito estranha, até repugnante para alguns, especialmente aqueles quê estiveram em contato com um ritualismo morto, sem a graça do Espírito Santo. Mas se formos honestos conosco, teremos de admitir que a repetição sem vida e sem sentido faz parte de nós. Temos dificuldade de compreender e mais ainda de superar certas condutas do nosso cotidiano. Sentimos hoje como sentimos no passado, agimos hoje como agimos no passado. Não temos liberdade para o novo. Nossa compreensão da realidade pode estar viciada. Por via de conseqüência, nossa realidade também pode estar viciada e anacrônica. Podemos dizer que somos vítimas de nossa própria experiência e biografia. Quando se fala aqui em liturgia pessoal, o que se quer é, exatamente, superar a repetição mortífera, a repetição que funciona como prisão. Mas para superar a repetição na qual estamos metidos é preciso um poder exterior a nós. Precisamos ser visitados, precisamos experimentar o contato com um outro, no caso com o Outro, que é Deus. A liturgia viva e pessoal é um recurso disciplinado para que nossas vidas não sigam sendo vividas sem novidade, entregues às nossas próprias limitações. A disciplina litúrgica é um recurso para mitigar e, se possível, fazer desaparecer nossos movi13
mentos repetitivos, que impedem que tenhamos um contato mais íntimo com Deus e com nós mesmos. A liturgia verdadeira opõe-se aos nossos pensamentos, sentimentos e ações repetitivas, porque nos convida a pensamentos, sentimentos e ações que não são nossos, são diferentes. Há um elemento novo na liturgia, não projetivo, não ideológico, não nós mesmos. A liturgia ajuda a desmontar a máquina da repetição pessoal, abrindo espaço para que o Espírito Santo fale e cure. A liturgia põe em crise e impede nossa fala e pensamento repetitivos, trazendo para nossas simples vidas a sensação de, enfim, pertencermos a algo maior do que nós mesmos. A liturgia pessoal é esse espaço que se cria para que Deus fale, e fale como Ele quiser -isto é, fale algo que não pensamos nem imaginamos. Quando ficamos em silêncio, quando damos tempo para Deus, quando nos habituamos a ficar quietos para orar, montamos um dispositivo para ser transformados. Essa obediência criativa diária pode gerar sentido para um cotidiano que ficou viciado pelas mesmas coisas de sempre. Num grande centro urbano, são sempre as mesmas coisas que se repetem em nossas vidas, de modo veloz e exaustivo. A atitude inicial diante do texto bíblico é que nós não o compreendemos. Se quisermos compreender teremos que nos submeter. O estranhamento que as longas genealogias produzem servem para mostrar que pouco ou nada sabemos sobre Deus. Todos aqueles nomes difíceis de pronunciar fazem com que nossa boca se mexa de um modo diferente. E como nossas bocas fazem movimentos novos, o espírito é convidado também ao novo, para começar a compreender a Deus. Por que será que temos que passar quatro ou cinco dias deste roteiro bíblico lendo uma lista de nomes? Faz parte do processo de desconstrução, de desmontagem de nossas interpretações intelectualizadas; um recurso para nos 14
derrubar e nos colocar outra vez diante da palavra inédita de Deus. O texto nos derruba para poder falar conosco. Quando nos submetemos ao texto como ele é, reconhecemos que estamos diante de algo muito maior do que nós mesmos. Eu assumo o meu tamanho porque percebo que não sou o centro do universo. O centro é Cristo; eu apenas reconheço quem é o centro, juntamente com uma enorme multidão de fiéis que se unem a mim na história da fé. A devoção atinge um patamar transpessoal: não apenas eu oro a Deus e a seu Filho Jesus. Quando me submeto, faço-me simples. Quando me abro, cheio de fé, o Espírito Santo me vem visitar. Simples, fico rico diante de Deus. Em minha condição humana tão precária, sou intensamente visitado pelo amor do Deus Trino. No lugar da devoção, reconheço minha precariedade, apreendo-me como um ser complexo e contraditório. Descubro que sexualidade e espiritualidade andam juntas. Preciso de uma mulher, preciso de um homem e, de modo semelhante, preciso de Deus. Dizer isso talvez signifique dizer que não tive uma mulher, ou um homem, ou que senti falta de Deus. Então na devoção começo a falar de minha frustração, de meu conflito, de meu medo e até da traição da qual me sinto objeto. Na condição de ser do conflito e da contradição, apresento-me a Deus. Não de outro modo. Se me sinto traído, pouco amado, indeciso ou violentado, é assim mesmo que vou a Deus. E do lugar da falta de solução que levanto minha oração e leio o texto. Deus fala comigo nesse exato lugar. O Espírito Santo me ajuda a dizer as coisas que não posso dizer. Este é apenas o começo de seu trabalho. Na hora escura, sem sentido e sem esperança, brilha o raio de sua presença. O Senhor me visita na minha contradição. Meu desespero entra em contato com Deus. Os pólos que não têm 15
reconciliação aparecem juntos. Sou tomado pela fé. E fé é crer que é Deus quem resolve a minha dissociação, que a vida segue depois da morte, que a felicidade é posterior à dor, que o dia vem depois da noite. O corpo de Jesus partido na Cruz e o seu sangue vertido são alimento, quando me canso das derrotas e impasses pessoais. O efeito deste encontro com Deus é a coragem. A liturgia diária produz força para o cotidiano que parecia sem sentido. Surge a possibilidade de uma fala nova sobre a vida, uma fala poética. A leitura bíblica cumpriu o seu papel quando transformou, quando quebrou a repetição para criar o lugar do novo. Os gestos do corpo se transformam. Ajoelhados e de mãos postas sentimos que habitamos corpos novos, revitalizados. Não é uma experiência apenas racional, mas relacional, uma experiência entre eu e Deus. Amém. Pr. Sérgio de Gouvêa Franco em parceria com Carlos José Hernández Comunidade de Jesus / São Paulo
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Leitura Devocional da Bíblia Meu Senhor Deus, Eu não tenho ideia de para onde estou indo, Eu não vejo o caminho à minha frente, Eu não tenho certeza de onde ele termina, E tampouco me conheço. E o fato de pensar, ou achar, que estou seguindo A Tua vontade Não quer dizer que a esteja seguindo de fato. Mas eu creio, Senhor, Que o desejo de agradar-te realmente te agrada. E eu espero que em tudo o que eu faça, Esteja esse desejo presente. E que eu não faça nada Em que esse desejo não esteja presente. E se assim o fizer, Tu me guiarás pelo caminho certo e verdadeiro, Embora eu não saiba sobre ele. Em ti confiarei, portanto, Mesmo que me sinta perdido; e na sombra da morte Eu não temerei, pois estás sempre ao meu lado E jamais permitirás que eu enfrente sozinho os perigos E dificuldades dessa viagem. Thomas Merton
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É tarde Fecho a academia Acabou-se a energia Travaram-se as máquinas Os analgésicos perderam a sua eficácia E a manhã começa com dor Pura dor Sem sintomas que a acompanhem Uma dor limpa Que atravessa a pele E toca a alma Uma dor sã Que desperta o espírito E quebra a soberba Uma dor real Que desbota toda vaidade Uma dor que é luz Que revela à mulher e ao homem A saudável biologia da obediência. Carlos José Hernández
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Esta é uma proposta de acompanhamento pessoal do “processo de transformação” que acontece em nós pela ação do Espírito Santo. Enfatiza a importância da “atitude” que desenvolvemos em nosso encontro diário com a Palavra de Deus, assim como o movimento interior que tem início quando entramos em contato com a fonte da vida. Este programa devocional visa estimular o cristão a ler toda a Bíblia. As Sagradas Escrituras oferecem-se como uma totalidade coerente que revela o Plano de Salvação de Deus para os homens e que, por outro lado, dispõe de grande quantidade de situações “formativas” para o homem contemporâneo. Na Bíblia, encontramos praticamente todas as condutas humanas imagináveis e a descrição de suas relações com o Criador. Além disso, podemos perceber claramente nos relatos a graça da presença de Deus, aliada à Sua iniciativa de perdão. É por isto que a leitura bíblica diária é o mais sólido alimento espiritual de que dispomos.
A Bíblia em quatro anos A característica principal deste programa é completar-se em quatro anos. Em geral, os programas de leitura bíblica têm duração de um ano, o que dificulta o cumprimento diário das devocionais em virtude da extensa quantidade de textos. Foi pensando nisto que se reduziu a quantidade diária de leitura, para que o programa se adequasse à disponibilidade de tempo que temos hoje. O programa propõe que se destine uma média de 20 minutos diários entre leitura, reflexão e oração. Na leitura, os diferentes livros se vão alternando; porções do Antigo Testamento intercalam-se a porções dos Evangelhos e Epístolas. 19
De igual modo, o livro dos Salmos intercala-se a capítulos dos livros históricos ou proféticos.
Toda a Bíblia Insiste-se na leitura integral da Bíblia, inclusive as genealogias. Há distintos ritmos de leitura: o ritmo de um Salmo é um, o ritmo de um livro histórico é outro, o ritmo de uma epístola de Paulo é outro ainda. Sem dúvida, porém, todos os livros da Bíblia confluem no relato da história da Salvação. É importante perceber os diferentes ritmos, para captar os contextos das leituras. É possível que nossa alma se ligue à palavra do Senhor de modo particular nas diferentes passagens, necessitando de atenção especial quando a leitura não é suficientemente clara. Será muito útil conscientizar-se destes movimentos da alma. Na leitura de todos os livros, encontramos o sentido completo da iniciativa da Graça.
Sensíveis ao desejo da alma Os programas de leitura da Bíblia vêm, com frequência, acompanhados de notas explicativas, que favorecem a compreensão dos conteúdos lidos. Este programa, porém, enfatiza a importância da “atitude” que desenvolvemos em nosso encontro diário com a Palavra de Deus. Ele propõe-se a gerar uma disciplina, isto é, uma disposição que determine a criação de um hábito. Do mesmo modo como tomamos o café da manhã, tomaremos o alimento espiritual diário porque nos tornamos sensíveis a essa necessidade da alma. A disciplina espiritual permite que o anseio de nossa interioridade pela presença 20
de Deus possa expressar-se com maior espontaneidade, integrando-se de modo natural à nossa vida cotidiana.
Nossa verdadeira identidade, num encontro que transforma O encontro diário com Deus durante a leitura de sua Palavra, sob a atenta direção do Espírito Santo, transforma todo o nosso ser, muda a nossa maneira de pensar, agir e sentir, e gera novas imagens que, por sua vez, configuram novos ideais, desejos, orientações, bem como nossa capacidade reflexiva. Ao ser transformados pela ação do Espírito Santo, mais nós mesmos somos; temos reafirmada nossa verdadeira identidade, aquela para a qual fomos criados. Mas esse fascinante movimento interior requer atenção ágil: Como estamos mudando? Quais são os aspectos de nossa velha identidade que estamos abandonando? Como distinguimos o ouvir, o cheirar, o tocar, o saborear, o sentir e o ver do coração?
Uma tarefa mensal Propomos prosseguir neste processo através de anotações. diárias e de uma tarefa mensal que organiza as percepções desse “olhar para dentro. Assim, além da Bíblia e de um espaço e tempo determinados, precisaremos de caderno e lápis. Todos os dias, um lugar exclusivo e excludente.
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