Para Sempre Sua

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Juliane Costa

Pra sempre sua...



Juliane Costa

Pra sempre sua...

editora

s達o paulo - 2012


editora

© Editora Lexia Ltda, 2012. São Paulo, SP CNPJ 11.605.752/0001-00 www.editoralexia.com

Editores-responsáveis Fabio Aguiar Alexandra Aguiar Projeto gráfico Fabio Aguiar

Capa e diagramação Equipe Editora Lexia Revisão Bianca Briones

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP C834p Costa, Juliane Pra sempre sua / Juliane Costa -- São Paulo: Lexia, 2012.

218 p. ISBN: 978-85-8182-017-0

1. Literatura - Romance. I. Título CDU - B869 Ao adquirir um livro você está remunerando o trabalho de escritores, diagramadores, ilustradores, revisores, livreiros e mais uma série de profissionais responsáveis por transformar boas ideias em realidade e trazê-las até você. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro poderá ser copiada ou reproduzida por qualquer meio impresso, eletrônico ou que venha a ser criado, sem o prévio e expresso consentimento do autor. Impresso no Brasil. Printed in Brazil.


As Ăşltimas gotas de sangue derramadas por um Eterno Amor!



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Agradecimento g

Primeiramente quero agradecer a Deus, por estar comigo todos os dias, dando-me força e coragem. Aos meus pais, meu irmão e minha tia Regina, pelo amor que me conforta e me ajuda a cada momento de minha vida. Meus familiares e meus amigos, por estarem presentes. E a todos que colaboraram para a realização deste livro.



Foi nesse momento que eu descobri que todos nós temos um fim... É talvez nesse fim que encontramos as verdadeiras refutações da vida!



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Sumário g

Capítulo um .......................................................... 13 Capítulo dois ......................................................... 37 Capítulo três .......................................................... 59 Capítulo quatro ..................................................... 85 Capítulo cinco .................................................... 105 Capítulo seis ........................................................ 123 Capítulo sete ....................................................... 141 Capítulo oito ....................................................... 161 Capítulo nove ...................................................... 177 Capítulo dez ........................................................ 193 Capítulo onze ...................................................... 205



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Capítulo um g

Estava uma noite fria e escura aqui no interior da Inglaterra. Os dias eram sempre nublados e normalmente chovia um dia a cada três. Raramente saía o sol, isso porque estávamos no inverno. Uma ótima estação para nossa espécie! Existem diversas maneiras para denominar nossa espécie. Somos seres extremamente fortes, o período da noite é o melhor momento para nos deslocarmos, não que não possamos sair de dia, sim, podemos, o que não podemos é deixar que algum raio solar penetre em nossa pele, pois isso causa dor e destrói cada célula de nosso corpo. Porém, a luz do dia não nos afeta, desde que o tempo esteja nublado. Muitos dizem que somos monstros imortais, outros nos caracterizam por seres voadores. Na verdade, não temos asas para voar, mas sim garra e velocidade o bastante para subir o mais alto que seja. Não sei por que de fato tanto temem a nós, deve ser pela nossa pele tão distinta, fria e pálida ou pelo nosso diferente modo de sobrevivência. Na verdade, isso – 13 –


é o esperado por todos os seres que não são similares, por isso tentamos fazer o possível para manter nosso mundo distante do mundo dos mortais (humanos). Ninguém conhece realmente a verídica história. Uns acreditam que somos incapazes de criar algum tipo de sentimento, mas estão enganados. Somos capazes de sentir tudo aquilo, como qualquer outro ser, desde o amor até o ódio; outros contam como uma lenda; outros garantem que seja mentira; enquanto alguns preferem exalar em dúvidas. Essas criaturas, como a maioria chama, existem... Sim... Vampiros existem! Hoje a noite estava álgida e longa, noite que às vezes demorava séculos para passar, a tão elevada possuidora de lendas. Observei as folhas secas do lado de fora de minha casa, que estavam cobrindo o imenso chão cinza onde estava sentada, que moviam de um lado para o outro e meus pensamentos corriam sobre elas. O mundo ao meu redor era cercado entre as sombras, mas sou uma das que não faço parte delas. As árvores que nos rodeavam, pois morávamos perto de uma das florestas, estavam balançando firmemente conforme o vento soprava. Este vento que às vezes causava rumores estranhos. Nada mais ao meu redor, só eu e a lua nessa noite de solidão, a única luz que me iluminava era a luz do luar, que refletia entre as árvores e sobre a metade do chão. Era aqui que passava minha maior parte das noites, porém não havia muitas maneiras para se passar o tempo, mas na maioria delas passava com o Piter, meu melhor e único amigo, que morava na minha casa desde quando nasci. Meu pai o ajudava quando precisava, pois seus pais morreram quando ele ainda era muito pequeno e meus pais passaram a cuidar dele. Minha vida, se é que podia chamar de vida, era totalmente sem graça. Vida de vampiro não é fácil ou legal – 14 –


como todos pensam. Minha vida era bastante comum, não fazia nada... Na verdade, não havia nada a ser feito. Já estava começando a aceitar tudo o que a vida me oferecia, sem ter que procurar algo, ou até mesmo viver, pois realmente nunca me senti viva. Estava sem sentido nenhum. Apenas viver de sonhos, que pelo menos neles podemos encontrar o que há de melhor. Mesmo assim procurava sempre me ocupar de alguma forma, lia alguns livros, escrevia para passar o tempo, esse tempo que quanto menos o queremos, mais o temos. Ela apenas se resumia como um estado de depressão, porque para nós, vampiros, a tristeza é como um episódio depressivo mais forte e muito mais lento. Não que eu seja triste, a minha vida é que estava se tornando, pois sempre vivia escondida de tudo e de todos, como se fosse uma prisioneira. Nunca pude tomar minhas próprias decisões. Às vezes podia sair para caminhar ou cavalgar um pouco, era isso que me alegrava e só assim podia me sentir livre, pois quase nunca encarava a alegria, era custoso de vê-la nessas circunstâncias. Sentia-me inábil, definitivamente, para aguentar esse vácuo que existia dentro de mim. Tentava achar respostas ou soluções, mas tudo parecia não fazer sentido. E o que me sobrava era muito espaço... E ao mesmo tempo nada para esperar. Quando somos crianças a vida é totalmente diferente, não temos problemas, preocupações e tudo em volta está bom. Quando crescemos, percebemos que a vida precisa de algo mais e que o mundo não é sempre aquilo que esperamos. Havia dias que pensava em fugir. Pra onde? Eu não sei. Talvez para algum lugar em que eu me sentisse melhor, talvez para encontrar algo, ou quem sabe para perceber que a vida algum dia podia ser mudada e isso só dependia de mim. – 15 –


O difícil era ter que aprender a viver para sempre, sempre na mesma monotonia, sempre na mesma rotina. – Elisabete – escutei alguém gritar meu nome, uma voz suave, parecida com a de minha mãe. Fui imediatamente para dentro da casa. Era loucura, mas não gostava muito desse lugar, nunca senti realmente que fosse minha casa, mas foi aqui que eu nasci, e aqui que sempre iríamos morar. Trombei com Clarice, minha mãe. Estava com uma aparência não muito boa, parecia preocupada, como sempre. Ela era uma ótima mãe, apesar de sempre fazer as vontades de meu pai, Vam Kiper. Era bonita, parecia ser muito mais jovem do que era, inteligente e dedicada. Tinha um poder imenso, suas ideias e seus pensamentos eram tão rápidos, fora do comum e ela sempre pressentia quando algo de ruim iria acontecer, pra variar, sempre algo que para ela seria indesejável. – Elisabete, onde estava? – perguntou ela com seus olhos cravados em direção à janela. – Estava lá fora, mãe – respondi de imediato. – Piter estava à sua procura! – desviou seus olhos até mim. – Onde ele está? – Saiu com seu pai... Com o Leo e com os outros. Leonardo Kiper, Leo, era um ano mais novo que eu, era um grande aliado de Vam, ele o considerava como um filho, pois na verdade o grande sonho dele era ter um filho homem, para ser como ele e seguir seus passos, já que esse não era o meu desejo. Morava conosco e fazia sempre a vontade de meu pai e ele o bajulava muito. Sempre era contra tudo que eu fazia ou dizia e sempre queria me colocar contra a parede. Seu pior defeito? Era – 16 –


gostar de fazer tudo aquilo que era errado. Acho que por isso eles se davam tão bem. – Onde eles foram? – perguntei, mesmo sabendo onde eles poderiam estar. – Eu não sei filha... Eu não sei – respondeu Clarice meio confusa, revirando os olhos. Alguém estava descendo as escadas, o barulho do sapato era atormentador. Andy, minha irmã mais velha, só podia ser ela, reconheceria aqueles passos em qualquer lugar. Desceu as escadas com um sorriso suave, despediu-se com um beijo em Clarice e outro em mim. Seus cabelos castanhos ondulados deixaram um perfume imenso no ar e ela saiu imediatamente. Ela e seu marido, com o qual fora obrigada a casar, estavam passando alguns dias aqui conosco, mas hoje ela iria de volta para sua casa, em Londres. Eu suspirei sem pronunciar uma palavra e subi as escadas cinza com partes rachadas, lentamente. Fui para meu “quarto”. Apesar de não dormirmos, cada um tinha seu local de privacidade, onde, nem que fosse por alguns minutos, nos sentir um pouco ausentes, pois algumas vezes era exatamente isso que um vampiro precisava – solidão. Era a melhor maneira de se colocar os pensamentos no lugar, só que para mim solidão era sempre a última opção. Fiquei de olho na janela por alguns segundos, depois da resposta de Clarice sabia exatamente onde meu pai e seus súditos foram. Com certeza foram caçar! Desde quando nasci, todos eles fizeram um acordo. Decidiram que não beberiam mais sangue humano, só animais carnívoros. Era com que nos alimentávamos, mas algo me dizia que – 17 –


meu pai nunca cumpriu essa promessa. O sangue humano deixava o vampiro muito mais forte do que o sangue animal, um dos motivos pelo qual eles tendem a continuar. Tinha certeza que ele fazia coisas escondidas... Estava desconfiada dele há muito tempo, embora não tivesse provas, pois boa parte de sua vida era um grande mistério. Independente disso ele era meu pai. Era um dos Vampiros mais poderosos daqui, ele possuía o grande poder do Raikky, que era a manipulação da aura e da força vital e a psicocinésia, que era a mente sobre a matéria. Todos temiam diante dele, inclusive eu. Era esperto e muito cauteloso, principalmente para manter a sua existência escondida da sociedade humana. Existem alguns vampiros que têm outros tipos de poder. Um poder não muito comum é que aqueles que forem atacados por esses tipos de vampiros se erguerão do túmulo de novo, como novos vampiros. Para cada vampiro derrotado, vários outros seriam gerados. Até hoje não conseguia decifrar exatamente o tipo de poder que eu possuía, se é que eu possuía algum, era confuso, mas isso acontecia. Escutei um barulho... Parecia de cavalos, olhei por todos os lados, mas não conseguia ver onde estavam e de onde vinham... Quando o barulho foi se aproximando dos portões eu percebi, eram eles. Saí do meu quarto logo após ter a certeza de que eram eles, desci as escadas correndo, Clarice já estava ali embaixo esperando por eles. Quando cheguei à sala, estavam entrando diante da porta antiga da frente, meu pai, o Leo, Aurélio, que era um de seus súditos e Piter. Olhei para os olhos de Aurélio e Piter e estavam em sua forma comum. Leonardo, em uma forma obscura, foi diretamente para a sala de Vam. Quando virei para trás, lá estava meu pai com uma aparência séria e com uma roupa toda preta. Como sempre, – 18 –


seus olhos pareciam duas bolas de fogo, seu tom de pele que era pálida como de um cadáver, estava com um tom bastante rosado e quando o toquei, seu calor estava mais humano. Claro, estava tudo muito exagerado, era assim que ficava quando ingeria sangue. Sangue humano. Ele olhou para mim, pois eu sabia o que houve e ele sabia que eu era contra matar pessoas inocentes para saciar sua sede, para ficar mais forte, isso não era bem vindo em meus conceitos. Como sempre, Clarice não opinou, não disse nada. Por mais que ele não ligasse para o que eu achava, ele não gostava que eu soubesse o que fazia. Vam foi para outra sala que havia no final do corredor, do lado direito, acompanhado por Aurélio. Aquele local era especialmente dele e não gostava de ser incomodado por ninguém enquanto estivesse ali. Eu não conseguia disfarçar quando achava que alguma coisa estava errada, eu era a única naquela casa que enfrentaria qualquer coisa para permanecer com minha opinião até o fim. Balancei a cabeça e o sentimento inconformado foi o que senti naquele instante. Fui para o lado de fora da casa. Respirei fundo, só precisava de alguns minutos sozinha, só precisava encontrar palavras certas e tentar entender um pouco, que era meio impossível. – Lisa! – chamou-me Piter. Era assim que ele e alguns me chamavam. – O que foi? Você está bem? Sabia que Piter não iria demorar muito para vir à minha procura. Eu apenas respondi sacudindo a cabeça como um sim. Ele me abraçou e eu encostei meu rosto em seu peito. Ficamos horas e horas ali, conversando, nos distraindo, como de costume. O que eu mais admirava no Piter era seu jeito de solucionar os problemas. Era na verdade um amigo maravi– 19 –


lhoso. Passei toda minha infância ao seu lado. Cresci vendo-o crescer. Era sempre ele que estava comigo, nos dias bons e ruins, acompanhou os primeiros anos de minha vida. Era o único, naquele momento, em quem eu podia confiar. Seus olhos brilhavam intensamente sob a luz do luar, que logo estaria indo embora. Olhos azuis como o céu, me passavam uma enorme sensação de tranquilidade e ao mesmo tempo de emoção. Com Piter por perto sabia que nada de ruim iria acontecer, ele me confortava e o medo não me dominava. Sempre tive medo daquilo que me poderia acontecer. Por quê? Somos indestrutíveis! Mas me sentia insegura por não saber o que realmente estava à minha volta, pois de fato não somos totalmente indestrutíveis assim, existe algo que pode nos matar. Não só com lobisomens, mas com vampiros também, qualquer objeto e arma de prata inserida ou até mesmo ingerida, podem causar uma morte mais lenta e mais dolorosa. No caso dos lobisomens, o objeto deverá ser inserido em seu coração. No caso dos vampiros, no coração causará uma dor muito forte, mas não será capaz de matá-lo, pois o sangue não passa por esse órgão e sim ser inserido em seu pescoço, paralisando aos poucos todas as funções e morrendo lentamente. E claro, o poderoso sol, que seria uma morte mais rápida. Piter e eu resolvemos entrar. Piter foi para seu “quarto” e eu também fui para o meu. Subi a caminho do “quarto” e fechei a porta depois que passei. Do lado de uma cômoda que ficava perto da porta, havia alguns livros no chão, peguei-os, estavam cheios de pó, e aquela poeira toda me deu vontade de tossir. Entre eles havia um com a capa verde, estava velho e não conseguia ver se tinha algum título. Virando as páginas, percebi que estavam todas – 20 –


em branco, não exatamente branco, pois como aquele livro era antigo, as folhas já estavam amareladas. Achei estranho, pois não tinha nem sequer uma letra escrita. Virei todas as páginas rapidamente, e enfim olhei a última. Tinha uma mancha escura meio marrom sobre a folha, passei meu dedo por cima e senti-a meio dura, mas creio que isto não significava nada. Então peguei uma caneta preta que estava na gaveta da cômoda, senteime em minha “cama” e resolvi escrever. Bom, eu seria a primeira. Elisabete Kiper... Eu escrevi. Parada por uns segundos na letra “R” de Kiper, não tinha mais nada a escrever. Minha cabeça estava vazia e fiquei por alguns minutos tentando encontrar algo que eu pudesse escrever e por fim não encontrei nada. Pensando melhor... Fechei o livro. Talvez pudesse contar uma história, mas eu não tinha nem sequer alguma em meus pensamentos, queria contar uma história que fosse real ou talvez escrever minhas próprias conclusões, mas naquela hora estava sem vontade, estava sem nenhuma ideia na minha cabeça. Isso era muito difícil de acontecer, pois às vezes tinha cada ideia louca que até eu me espantava. Levantei-me e guardei o livro. Sentia algo tão longe que procurava há tempos, e era sempre aquele mesmo côncavo penoso, embora não pudesse decifrar essa dor que me invadia todos os dias. E cada dia me sufocava mais, por não saber como preencher esse espaço que me restava. Amanheceu, um novo dia retornava, estava um dia nublado, o céu não estava azul, estava cinzento. Algumas trovoadas invadiam o céu, com certeza iria chover. Ao abrir o vidro da janela, senti aquele vento tão frio quanto minha pele batendo em meu rosto, as folhas do chão estavam voando, as árvores se mexendo conforme o – 21 –


vento soprava, estava tudo tranquilo lá fora, que até me deu vontade de sair, respirar um pouco esse ar que pelo jeito era a única coisa que me restava. Coloquei minha calça preta favorita, minha blusa quadriculada, que eu tinha há anos, meu tênis, prendi meus cabelos compridos e escuros, coloquei a mão no pescoço, para ver se eu estava ainda com meu colar. Estava... Não saía de casa sem ele, que continha uma pedra não muito pequena, era uma pedra de prata, prata mesmo. Encontrei-o quando pequena, bem perto de um rio, não sei ao certo o porquê, mas aquele colar significava muito pra mim e eu não o tirava do pescoço. Saí imediatamente. Estava do lado de fora abrindo os portões, eram imensos e sua tranca estava ficando um pouco enferrujada, então emperrava sempre na hora de abri-la. – Vai sair Lisa? – gritou Piter fechando a porta de fora. Virei para trás e o vi correndo em minha direção. – Vou caminhar um pouco, estou cansada de ficar aqui respondi sorrindo. – Você sabe que seu pai não gosta que você fique saindo por aí. Quer que eu vá com você? Podemos ir juntos. – Obrigada Piter, mas eu quero caminhar sozinha, eu preciso... Quanto a meu pai, você diz que não me viu. Ele assentiu sem mais nenhuma palavra. Ajudou-me a abrir os portões e eu segui para a floresta. Avançava bem devagar, com passos leves, pelo caminho cheio de sombras gigantescas das árvores ao redor e leves pegadas no chão. Algumas folhas que havia no chão continuavam paradas, outras voavam de um lado para o outro. De repente me deu um “calafrio”. Um calafrio de que algo de ruim iria acontecer. Abracei-me com os dois braços e observei tudo em minha volta, até os mínimos detalhes. Conforme eu caminhava, tinha a impressão que algo estava me seguindo. – 22 –


– Que estranho – pensei comigo mesma. Mesmo assim continuei a caminho. Mas depois de um tempo deparei que algo corria muito rápido de um lado para o outro – estava em toda parte. Sobressaltei... Então corri o mais rápido que pude. Embora eu fosse rápida, aquilo conseguia ser mais rápido que eu... Não sei o que era, mas por precaução continuei correndo. Até que por um enorme infortúnio pisei em falso, torcendo o pé e caindo violentamente no chão. Com as mãos na areia e o rosto no chão foi o momento em que entrei em pânico, só escutei o barulho que vinha atrás de mim, passos fortes e rápidos... Passos de animais quando vão atacar. Virando-me para trás, ainda no chão, vi saindo diante de uma árvore em pedaços uma criatura enorme, possuidora de olhos aterrorizantes vermelhos, com orelhas e unhas enormes, coberta de pelos e dentes afiados, extremamente pavorosos. Depois saíram mais duas criaturas, uma de cada lado, eram lobos... Lobisomens – três enormes lobisomens furiosos vindo em minha direção. Assustada e totalmente ofegante era meu estado. Os dois lobisomens do canto ficaram parados fixamente olhando para mim, enquanto o lobisomem do meio estava chegando aos poucos mais perto e eu trêmula indo para trás, não sabia para onde olhar, arrastando-me pela areia, até que o do meio se transformou em sua forma normal “humana” e todos fizeram o mesmo – eram os Bronsons. Eram nossos inimigos. Na verdade isso já vinha de muitos e muitos séculos atrás, após uma vampira ter se casado com um lobisomem e engravidado sem a permissão. Os vampiros não aceitaram essa mistura das duas espécies e sem piedade a mataram e sacrificaram o lobisomem. Uma enorme reviravolta ocorreu, causando conflitos entre essas duas espécies. Daí por diante viraram grandes inimigos até hoje. – 23 –


Por algum momento me passou pela cabeça que nada aconteceria ali, mas foi só uma pequena impressão minha tentando ver o lado positivo de tudo isso. Na verdade era só um fato inexistente da minha cabeça. – Olha só quem está aqui, a filha dos Kiper – disse um deles com sua voz grossa se aproximando de mim. E os outros engajando. Eu virei meu rosto e continuei ofegante, não sabia para onde ir, não sabia o que fazer. Gritar? Não, ninguém me escutaria. Talvez fugir? Sim, era uma boa escolha, mas tinha certeza que não poderia com eles, eram três contra um, eram fortes e enormes o suficiente para apenas um deles acabar comigo. Então o que fazer? Desistir... Jamais. Levantei-me depressa, pronta para correr aceleradamente. Então ele segurou em um de meus braços com toda força. Poderia até tentar se fosse um vampiro, mas lobisomens? – lobisomens me davam medo, me causavam arrepios, não sabendo principalmente o que eles seriam capazes de fazer. – Onde pensa que vai? Agora poderei me vingar do maldito do seu pai – gritava com seus olhos cheios de ódio. Enquanto o escutava gritar, estava tentando arranjar uma maneira de sair dali. Meus olhos visavam em toda parte, não perdi tempo e logo quebrei um pedaço de galho que estava quase solto de uma árvore atrás de mim, com o meu braço que estava livre. Mesmo sabendo que o galho não iria machucá-lo o suficiente, enfieilhe o galho, com toda a força que me restava, em sua barriga... O sangue começou a jorrar. Na mesma hora ele me olhou enfurecido e agarrou com apenas uma mão em meu pescoço me enforcando, e a outra mão estava em cima de sua barriga onde foi ferido. – 24 –


Levantou-me para cima, senti meus pés longe do chão, estava me sufocando, não conseguia dizer uma palavra sequer, ele me apertava com muita força, que até meus olhos ficaram brancos. Nunca me senti tão fraca e ao mesmo tempo tão inútil por não conseguir fazer nada. Tentei soltar a mão dele, mas não conseguia, era muito difícil, tentei lutar contra, mas acho que era impossível. Por mais que fosse quase impossível ferir um vampiro, meu corpo não era forte o bastante, ele precisava daquilo que eu não poderia dar a ele: sangue humano. Isso era impossível de acontecer, pois eu somente me alimentava de sangue animal e nada mais. E o pescoço era a parte do corpo mais fraca de um vampiro. – Você não pode comigo, Elisabete – disse ele rindo. Como ele sabia meu nome? Ah sim... Ele conhecia minha família. Jogou-me para o lado com tanta força que meu corpo bateu em uma árvore e vários de seus galhos grandes e pesados caíram sobre minhas pernas e outros sobre minha cabeça. Naquele instante, senti um peso, mal podia me mexer, meus olhos avistaram de um jeito que nunca ocorreu antes, estava tudo embaçado... Tudo parecia distante. O que será isso? Estou incompreensível, então fechei meus olhos... Acho que perdi a consciência e não conseguia sentir mais nada. Apaguei por alguns minutos. Senti um toque frio envolvente, era como se tudo estivesse voltando, algo gélido tocava em minhas mãos e em meu rosto... Não queria abrir meus olhos, mas uma voz suavemente vinha surgindo. – Você está bem?

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Não me parecia conhecida, era voz de um homem. Aquela voz penetrou em meus ouvidos e me fez vagarosamente abrir os olhos. A primeira imagem que vi foram seus olhos. Olhos que veem tantas coisas! Como queria estar dentro deles! Olhavam para mim aflitos e me perguntava repetidamente. – Você está bem? Quem era? Pensei comigo. Estava em seus braços, sentindo-me fraca, muito fraca, sentindo sua pele, era tão fria, tão pálida quanto a minha, mas ao mesmo tempo tão suave. Sua beleza era uma eterna paisagem e tudo se encaixava com uma grande certeza- era um vampiro. O vampiro mais lindo que eu já vi. Seu rosto, seus olhos, enfim alucinaram meus sentidos. Todos os vampiros são bonitos, atraentes, mas este... Nunca tinha visto uma beleza assim antes, esses olhos pareciam ser tão inocentes que davam quietude ao vê-los! Não sabia bem ao certo se era um sonho ou realidade. Ao observá-lo, senti algo diferente, nunca senti aquela sensação antes. Meu corpo estremeceu e a vontade de continuar ali nos seus braços era incontrolável... Tentando dominar meus sentidos, senti desde minhas pernas até meu peito arderem. Perdi completamente o sentido... Mais uma vez. Ao abrir os olhos novamente, esperando vê-lo mais uma vez, vi um teto escuro, com uma marca cinza no canto. Eu conhecia esse lugar - era meu “quarto”. Via -me deitada em minha “cama” e outra voz sussurrava. – Lisa, como você está? Piter? Sim era ele. – Piter! – eu respondi com a voz quase falhando. – 26 –


Na verdade estava confusa, não sabia como vim parar aqui, não era Piter que tinha visto antes. Era outra imagem que meus olhos esperavam ver de novo. Minha cabeça estava rodando com meus pensamentos fora do lugar. Várias vozes surgiram, uma delas era de meu pai, embora ele não falasse, e sim gritasse. Mas tinha muitas pessoas falando ao mesmo tempo e não conseguia entender o que elas diziam. Até que Vam abriu a porta rapidamente, com estupidez. – O que aconteceu, Elisabete? – disse ele impetuoso. É claro que naquele momento não conseguiria dizer uma palavra sequer do fato ocorrido. Clarice segurava Vam com suas duas mãos dizendo que agora não era hora, que depois conversaríamos. – Por pouco você não estaria mais aqui – murmurou Leonardo. Fiquei em dúvida se ele falava para me provocar ou se fora um alerta. Em todo caso isso já não me importava mais. Todos saíram do meu quarto, Vam chamou Piter para conversarem. Ele largou minhas mãos e foi. Clarice entrou em seguida. – Como você está, minha filha? Machucaram você? Você está se sentindo bem? Como foi que isso aconteceu? – perguntou Clarice meio nervosa, passando a mão em minha cabeça. – Não... Eu estou bem, mãe – menti. – Só quero ficar sozinha. Ela havia feito tantas perguntas que embaralharam minha cabeça. Só precisava ficar sozinha, nem que fosse por alguns segundos, precisava respirar um pouco e pensar. – Ok – respondeu Clarice. – Mas se precisar de algo me chame – Deu-me um beijo na testa com um sorriso, eu retribui e ela se retirou. – 27 –


Eram tantas perguntas na minha cabeça, ainda havia tantas incertezas. Naquele momento a única pessoa que gostaria que estivesse comigo era Piter. Ele saberia me dizer tudo que eu precisava ouvir. Afinal, quem era aquele vampiro? Como fui parar em casa? O que aconteceu realmente? Eram tantas perguntas e nenhuma resposta. Aquela voz permanecia como se ainda ecoasse em meu ouvido, uma reminiscência perturbadora. Apenas queria saber quem era ele ! O tédio e a ansiedade passaram a tomar conta de mim nesse momento. Levantei-me, já estava bem melhor e fui até a janela. Não havia nada lá fora, apenas alguns dos súditos. Parecia que estavam treinando alguma coisa, talvez um golpe do qual nunca vi antes, pegava entre as pernas e enroscava nos braços – bem diferente de todos os outros. – Lisa? – disse Piter. Eu me virei para trás e ele estava entrando. Estava tão distraída com aquele treinamento dos súditos que nem ouvi o barulho da porta se abrir. Sentei-me de volta na “cama” e Piter sentouse ao meu lado. – Está melhor? – perguntou segurando em minha mão. Eu assenti, mordi meus lábios e passei a mão em meus cabelos. – Foi você que me trouxe até em casa, não é? Como soube onde eu estava? - perguntei. – Seu pai me perguntou onde você estava e eu, como você tinha me pedido, disse que não a tinha visto, mas para variar, sua mãe estava com um pressentimento ruim e seu pai me mandou ir atrás de você. Então eu fui procurá-la... Olhei fixamente bem no fundo de seus olhos. – 28 –


– Tudo bem, Lisa... – disse Piter tentando me mostrar que agora estava tudo bem. – Quando eu cheguei, ele estava lá com você nos braços, ele a salvou... se não fosse por ele... – Ele? – interrompi ansiosa. – Quem é ele? Você o conhece? Piter se levantou, andou de um lado para o outro, meio nervoso e respondeu: – Não conheço aquele vampiro, nunca tinha visto antes. Se eu não conhecesse Piter o bastante, poderia acreditar. Mas conhecia-o perfeitamente para saber que ele estava mentindo. Ele não queria me contar, ele ficava assim quando estava mentindo, andando de um lado para o outro e não olhava nos olhos. Mas por qual motivo ele não queria me contar? Por que Piter mentiria pra mim? Devia ser pelo meu pai, pois iria querer saber quem era, onde morava, até seria capaz de culpá-lo. Achei melhor não questionar mais, afinal não existia nada o que esconder. Piter sentou-se de volta na “cama” e desta vez eu levantei e fiquei de costas para ele. – Eu não sei realmente o que aconteceu – contei revirando os olhos. – Ouvi um barulho e percebi que algo estava me seguindo e então corri desesperadamente e eu pisei, não sei aonde... Só sei que me fez cair. Machuquei meu pé, mas na verdade não foi nada. Depois me deparei que eram os Bronsons... Então fui lançada com força em uma árvore, não sei se perdi o sentido... Só sei que ele estava lá. Ele que nem ao menos eu sabia quem era... De repente, uma incursão de silêncio. – Então me diga, o que meu pai queria falar com você? – perguntei virando de frente a ele. – Queria saber quem foi e o que aconteceu... – E você? – 29 –


– Eu disse a verdade – respondeu com toda afirmação. – Disse como a encontrei, contei que foram os Bronsons, eu tinha certeza que foram eles.

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