Curadoria
Tânia Mary Gomez Presidente do Instituto Humanista de Desenvolvimento Social - Humsol
Diretor Editorial Luís Fernando Carneiro Diretora Executiva Ellen Nogueira Produção de texto
Rubens Binder Angélica Mujahed Ana Luiza Souza Projeto Gráfico Goretti Carlos Revisão Luana Dal Prá Publicidade
Ariane G. Rodrigues Alexandra Gamarra Jaqueline Cancela Curadoria Tânia Mary Gomez
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O livro Pense em Você é uma publicação da Editora Ruah. Rua Casimiro José Marques de Abreu, 706 – Ahú – Curitiba, Paraná | CEP 82200-130 / (41) 3018-8805 / editoraruah.com.br Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução sem autorização prévia e por escrito. Todas as informações técnicas bem como anúncios e conteúdos assinados são de responsabilidade de seus respectivos autores.
Ăndice
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Introdução
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Prefácio
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Elas e o câncer
Furacão Rosa
Força, fé e foco
Filha e mãe, mãe e filha
Uma linda mulher
Sobre viver
Estou com câncer, e agora?
8 atitudes para quem está com câncer
Sim, você tem direitos!
Você não está sozinha
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Vitoriosas
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Pense em você
Prevenção do câncer de mama
10 dúvidas sobre câncer de mama
O valor do diagnóstico precoce no câncer de mama
Afinal, o que é a mamografia?
Mitos e verdades sobre a mamografia
Entenda a mastectomia
Câncer de mama e sua reconstrução
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introdução
Uma missão que se renova O câncer de mama é a doença que mais mata no Brasil, ainda que as chances de cura sejam de 90% quando detectado precocemente. Diante dessa realidade, nós, da Editora Ruah, entendemos que a comunicação pode ser uma grande aliada para virar esse jogo. Nosso envolvimento com a causa é uma consequência do contato que temos diariamente com as mulheres em todas as plataformas – impressa, digital e eventos – da Revista VIVER Curitiba. Se as mulheres são nossas companheiras de jornada e a razão de ser do nosso trabalho, nada mais natural que investir para que elas tenham as melhores informações e possam pensar na própria saúde. O livro Pense em Você, desenvolvido em parceria com o Instituto Humsol e impulsionado pela sua presidente Tânia Mary Gomez, faz parte de um projeto maior, que envolve uma série de ações que realizamos ao longo do ano para informar, inspirar e até desafiar as mulheres para que pensem em si mesmas, para que se cuidem e procurem fazer seus exames periodicamente. A meta é que a venda do livro viabilize a manutenção da sede do Instituto por um ano. Isso por si só já seria muito bom. Mas acreditamos que este projeto é uma missão que se renova a cada nova história como as que apresentamos nas próximas páginas. O desafio é grande, mas a fé de que podemos fazer a diferença na vida das mulheres é muito maior. Pense em você. Pense em quem você ama. E faça parte desse movimento conosco. Luís Fernando Carneiro Diretor da Editora Ruah
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prefácio Agradeço à amiga Tânia Gomes a honra de prefaciar sua criação e homenageio essa pessoa especial com uma poesia de Helena Kolody: Dom Deus dá a todos uma estrela. Uns fazem da estrela um sol.
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Outros nem conseguem vê-la.
Desde o começo, o meu trabalho político foi a
Assim, com a ajuda da Tânia Gomez conseguimos
favor da vida. E, especialmente, a favor da vida das
incluir nos calendários estadual e nacional um dia
mulheres brasileiras e paranaenses.
marcado por exames gratuitos e ações de informação e conscientização por todo o país.
Nessa trajetória, a prevenção e o combate ao câncer de mama ocupam grande espaço, talvez o principal,
Juntas, ao longo dessas duas décadas, também viajamos
na minha trajetória. As chances de cura são muito
por boa parte do Brasil para ministrar palestras e
maiores se a doença for descoberta e tratada ainda
participar de eventos com o objetivo de alertar diferentes
no início.
plateias sobre a importância da saúde preventiva.
A prevenção faz a diferença no combate a essa
A dedicação de pessoas como a Tânia e de instituições
cruel doença que atinge mulheres em plena vida
como o Humsol ajudou o Paraná a se tornar referência
produtiva, destrói famílias e exige a mobilização
nacional no assunto. Temos aqui quatro modernos
de recursos públicos, que nem sempre os governos
Centros de Diagnóstico e Tratamento do Câncer de
conseguem suprir.
Mama.
Conheci a Tânia Gomez nos inúmeros eventos e
Essa luta pela prevenção e contra o câncer de mama
ações de mobilização ao longo dos últimos 20 anos.
continua sendo a minha luta, a luta da Tânia e a luta de
Uma guerreira. Líder incansável de um grupo de
milhares de mulheres brasileiras.
voluntárias que se dedica com amor e paixão à causa.
Pessoas que se uniram para combater o bom combate e salvar milhares de mulheres no Paraná e no Brasil.
Dona de uma capacidade ímpar de articulação e com um grande conhecimento, ela me auxiliou,
A você leitor, conheça o trabalho da Tânia Gomez e se
quando eu era deputada estadual, na produção
encante!
de cartilhas informativas e no processo de criação da Lei do Dia Estadual de Luta contra o Câncer de Mama, celebrado no dia 27 de novembro. A lei foi aprovada por unanimidade na Assembleia e serviu de modelo para o Dia Nacional de Luta contra o Câncer de Mama, também no dia 27 de novembro.
Cida Borghetti Vice-Governadora do Estado do Paraná
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câncer
elas e o
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FuracĂŁo rosa
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Se o câncer pode bater na porta de qualquer pessoa? Pergunte à Tânia Mary Gomez, presidente do Instituto Humanista de Desenvolvimento Social (Humsol). Esposa de oncologista, ela recebeu o diagnóstico de câncer de mama em 2001.“Nunca imaginei que isso aconteceria comigo. Parecia que eu estava vivendo um pesadelo. Pelo fato de o meu marido ser oncologista, estávamos sempre preparados para ajudar os outros, mas não para sermos ajudados.” Sim, a doença que mais mata mulheres no Brasil havia se apresentado. Após a cirurgia, no momento da quimioterapia, ela só pensava nas perdas. O cabelo, a sobrancelha, a autoestima. “No dia em que eu estava indo para a minha primeira sessão, a sensação que eu tive era de que eu estava indo para o fim da minha vida”, lembra. Passado o trauma e as dificuldades naturais das primeiras sessões, Tânia descobriu que tinha muito mais força do que imaginava. No momento mais difícil – a perda dos cabelos –,Tânia procurou investir muito na beleza: “Comecei a me reinventar e me senti a mulher mais charmosa. Eu usava muito chapéu, puxava o cabelinho para a frente, sabendo que a
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grande chave é encarar a vida com otimismo”.
Toda dificuldade é uma oportunidade para aprender. Do medo de não poder curtir a formatura dos filhos, casamento e nascimento de netos, surgiu uma Tânia realizada por ter recebido uma oportunidade de fazer parte de todos esses momentos. “Aprendi a viver diferente. Tudo aquilo que me incomoda vai para um segundo plano e tudo o que é prazeroso eu procuro colocar em primeiro lugar”, explica. Após a vitória no tratamento e o contato direto com as pessoas e com a realidade assombrosa do câncer de mama, Tânia resolveu oferecer sua contribuição. “Do diagnóstico até o início do meu tratamento foram apenas cinco dias. No Brasil, esse tempo em média é de 188 dias. Em seis meses, num câncer agressivo, a pessoa muitas vezes não consegue resistir. Resolvi arregaçar as mangas e trabalhar pela prevenção, mas fundamentalmente para assumir uma postura diante das políticas públicas de mudar a realidade brasileira”, destaca. Com um grupo de amigas e a missão de fazer a diferença, fundou o Humsol, que atua em todas as áreas do câncer. “Depois de grandes movimentações junto ao Congresso Nacional e aos senadores, conseguimos diminuir o tempo entre diagnóstico e início de tratamento para 60 dias. Estamos satisfeitas? Não, porque temos que mudar ainda mais”, explica. A dura batalha contra o câncer é vencida passo a passo com muita união entre quem está em tratamento e quem já enfrentou a doença. As “vitoriosas”, como elas são chamadas, sabem que o envolvimento em atividades e o olhar para o próximo fazem toda a diferença. “Nós dançamos, desfilamos, somos fotografadas e para nossa autoestima isso é maravilhoso”, conta Tânia, lembrando que elas vivem o Outubro Rosa durante o ano inteiro em palestras que envolvem música, dança, interação e depoimentos que fazem com que as pessoas fiquem extremamente sensíveis à causa.
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No dia em que eu estava indo para a minha primeira sessão, a sensação que eu tive era de que eu estava indo para o fim da minha vida.
Segundo Tânia, o grande problema no Brasil é a falta de diagnóstico precoce, ou seja, quando a mulher descobre que está com a doença, está em um estágio bastante avançado e as possibilidades de cura acabam sendo muito menores. “Nós temos um dado que 50% das mulheres brasileiras dos 50 anos em diante nunca fizeram uma mamografia. Como detectar precocemente o câncer de mama se elas nunca fizeram o exame? Só vamos conseguir detectar câncer precocemente por meio da participação das mulheres. O governo tem suas responsabilidades, mas nós como mulheres temos de ter o compromisso de fazer e de buscar aquilo que nos é de direito, que são os nossos exames”, defende. Para quem pensa que o Outubro Rosa é só cor, festa e ações isoladas de auxílio a ONGs, Tânia destaca pelo menos três grandes conquistas como a liberação de medicamentos para o tratamento pelo SUS, a reconstrução mamária e a lei que disponibiliza mamografia para todas as mulheres com mais de 40 anos. Diante desses avanços, mas da grande distância a percorrer, é bom saber que essa causa conta com uma ativista com essa energia. Ela não para. Juntamente das vitoriosas, ela está sempre conduzindo projetos, colocando a mão na massa e mostrando que diante de um diagnóstico de câncer o caminho está apenas começando.
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Força, fé e foco
Michele Jamcoski é uma vitoriosa. Não apenas por ter feito seus exames preventivos e depois do diagnóstico precoce de câncer ter enfrentado uma cirurgia e sessões de quimioterapia. Ela é uma vencedora por descobrir no seu câncer de mama uma oportunidade para se reinventar e para sensibilizar muitas outras mulheres para a importância da prevenção. Aos 35 anos (isso aconteceu no ano de 2014) ela descobriu que a vida pode ser mais simples, saborosa e intensa.
A descoberta Eu sempre fui muito preocupada com a minha saúde e há algum tempo já estava me programando para fazer os exames, mas sempre aparecia alguma coisa e eu deixava para depois. Até que fui a uma consulta e o médico disse que eu não precisava fazer a mamografia, que era muito nova. Eu disse que já havia amamentado, que tenho dois filhos e, por ser filha adotiva, não tenho histórico de família, mas ele não me deu a requisição. Aí mudei de médico, fui a uma ginecologista. Ela também disse que não havia necessidade, mas como insisti me encaminhou para uma ecografia e uma mamografia. Eu fiz os exames e já na ecografia apareceram os nódulos, três na mama esquerda e dois na direita.
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O chão tremeu A médica pediu para que eu esperasse seis meses para repetir o exame, mas eu fiquei tão preocupada que quando peguei o resultado da mamografia já procurei direto um oncologista. Meu namorado foi junto e eu falei para ele que o máximo que poderia acontecer seria o médico olhar para mim e falar que eu sou uma exagerada e que não havia nada. Infelizmente não foi isso que aconteceu. O médico pediu uma biópsia e quando voltei para levar o resultado da consulta não deu outra, era maligno. Naquele momento só senti a mão do meu namorado me apertando, eu não queria chorar, mas não teve jeito, as lágrimas começaram a escorrer sem parar. Esse momento é o pior. Meu chão começou a tremer, o médico continuou a falar e eu já nem escutava mais. Ficava só pensando o que eu ia fazer dali para a frente.
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E as crianças? Decidimos contar tudo para os meninos. Contamos como seria o tratamento, mas o melhor das crianças é que por não entenderem muito bem o que está acontecendo elas não fazem muitas projeções e vão vivendo cada momento de uma vez. Essa foi uma grande lição que aprendi com eles.
É preciso ser forte O médico me encaminhou para cirurgia, fiz uma quadrantectomia, um procedimento em que tiram só um quadrante, como se fosse um quadrado onde está o tumor. Na hora da cirurgia tive medo de morrer, eu me despedi de todo mundo, disse que amava a todos, mas no momento em que deitei na maca eu entreguei minha vida a Deus. A maior dificuldade que encontrei é que você está fragilizada, mas precisa se mostrar forte porque você percebe que se cair todo mundo que está ao seu lado cai também. A cirurgia foi bem tranquila, perfeita, e a cicatriz ficou pequenininha.
Presente de grego Depois que recebemos o resultado da biópsia, o médico decidiu qual caminho iríamos seguir. O meu tumor era pequeno, mas bem agressivo, grau 3, e pela minha idade ele optou por fazer quatro sessões de quimioterapia. Eu faço aniversário 10 de junho e dia 9 eu recebi essa notícia. Realmente um presente daqueles! Tive muito medo dos efeitos colaterais, porque a gente sempre ouve as piores histórias dos cabelos caindo, dos enjoos. A primeira coisa que senti após a quimio foi um grande cansaço e a alteração na percepção dos sabores. Por isso tem muita gente que emagrece. Você não consegue comer!
Na hora do banho Eu tinha cabelo no ombro, mas quando soube que ia fazer quimio cortei bem curtinho, estilo joãozinho. No 13º dia, eu puxava e
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já saía um chumaço de cabelo. Era horrível na hora do banho
porque caía demais e eu levava mais tempo tirando o cabelo do corpo do que qualquer outra coisa. Por mais que eu tivesse o apoio da família, com todo mundo falando que o cabelo voltaria a crescer, esse foi um momento difícil.
Hora de raspar a cabeça Eu não queria de jeito nenhum cortar meu cabelo num salão porque não queria que ninguém tivesse pena de mim. Foi meu namorado que raspou meu cabelo. Naquele momento, ali no banheiro de casa, eu quis chorar. Mas não chorei e dei um basta e disse: “Chega! Chega de sentir pena de mim mesma”.
Quando ele chorou Para o meu namorado foi uma barra porque ele me acompanhou em todos os exames e é o meu grande companheiro, a pessoa que está comigo todos os dias. No dia que eu sentei para fazer a quimioterapia, na hora em que a enfermeira saiu para buscar o remédio, ele chorou. Foi a primeira vez na vida que eu o vi chorar. Ali pesou e eu tive que falar para ele: “Olha, está tudo bem, eu estou bem” e me segurei muito para não chorar.
Sempre em frente Houve um momento que eu quis dar uma relaxada e dizer que eu estava sofrendo então vi meu namorado e as crianças sofrerem muito. Todo mundo ficou ainda mais perdido e aí eu decidi que teria que ser forte para que eles tivessem força para me ajudar.
Renascer é preciso Eu tirei foto de tudo e depois quero montar um álbum porque foi o meu maior momento de superação, quando eu tive que transformar minha vida. Quando soube que estava com câncer eu deixei de me preocupar com os outros e decidi cuidar de mim, que era o meu momento. Deixei de me preocupar com fofoca, com trabalho e me voltei para minha saúde, para minha qualidade
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de vida e deixei de lado as pequenas coisas. Eu entendi que era o momento de eu me tornar uma pessoa melhor em todos os sentidos.
Faça hoje! Agora é o momento de eu dar atenção para as crianças, para o meu namorado, planejar as coisas daqui para a frente de uma maneira melhor. E é o que sempre digo para todo mundo, não espere para fazer as coisas amanhã. Quer viajar, vá viajar! A gente nunca sabe o dia de amanhã.
Olhar para os outros O que me levou a procurar o Instituto Humsol foi essa minha motivação a ser uma pessoa melhor. Eu queria contribuir de alguma forma e procurei uma instituição na qual pudesse me doar, mas também melhorar a vida de alguém. Eu queria repassar a minha experiência, dar minha palavra de carinho e fazer a diferença na vida de alguém. Na hora em que você começa a ver as outras realidades você percebe que tem gente que sofre muito mais e começa a dar graças a Deus que você tem uma família, que você está cercada de carinho.
As grandes coisas Conheci uma menina que o namorado acompanhou a cirurgia e, na quimio, quando começou a cair o cabelo dela, ele a largou porque não aguentou vê-la sem cabelo. E aí eu olhava para o meu namorado que me acompanhou desde o início. E passei a dar muito mais valor às pequenas coisas, que na verdade são as maiores, mas aquelas que a gente não enxerga todos os dias.
Mexa-se! Não deixe de fazer os exames, são eles que podem garantir maior chance de cura se você detectar no início. As mulheres não fazem porque têm o conceito de que a mamografia é um procedimento
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que dói. É claro que é incômodo, mas é muito melhor fazer esse
exame de cinco minutos e se proteger com um diagnóstico precoce ou a certeza de não ter nada.
Autoestima Quem tem câncer precisa ter fé, pois sem fé a gente não vai a lugar nenhum, e é preciso se redescobrir como mulher. Quando você se olha no espelho dá uma grande dúvida em saber qual roupa coloca porque o seu cabelo não está mais ali. E tem roupa que não fica legal sem cabelo! Aí é preciso saber como você vai combinar um brinco, um lenço, porque tudo chama mais atenção. Quando eu raspei o cabelo eu usei lenço umas duas ou três vezes, mas não me adaptei e resolvi assumir a carequinha. É difícil porque as pessoas ficam te olhando de forma diferente e ficam com receio até de sentar ao lado no ônibus.
Crânio torto?! O medo do câncer está ligado diretamente à quimioterapia e isso mexe direto com a autoestima. E mulher tem dessas coisas, não adianta. Quando eu descobri que ficaria sem cabelo, a minha grande preocupação era que eu achava que tinha o crânio torto e que ficaria muito feia. Quando eu falo todo mundo ri, mas a primeira coisa que eu perguntei para o meu namorado depois que ele raspou meu cabelo era se meu crânio era torto. Ele disse que não. “Não mesmo? Ufa!”
Amor para recomeçar O Ravel foi meu pilar de sustentação. Foi ele que me acompanhou em todos os momentos, todos os procedimentos, acreditando, sofrendo junto. Essa parceria dele, esse comprometimento foi muito importante porque quando você passa por uma situação como essa você precisa de alguém que te coloque para cima. Conto isso não para dizer que a minha história é incrível, mas para que as pessoas percebam a sua importância em apoiar alguém que passa por uma situação difícil.
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Filha e mãe, mãe e filha
Aos 22 anos, Lais Capriotti desenvolveu maturidade suficiente para encarar uma realidade cruel: a chance de desenvolver câncer de mama é alta. Alguns anos, a morte da avó em decorrência da doença, que se alastrou para outras partes do corpo, motivou a mãe Joana Darc Rahuan Capriotti a realizar o exame. “Tinha 12 anos quando minha avó materna descobriu o câncer de mama. Quando minha mãe, a mais nova das três irmãs, fez o exame ela também descobriu a doença. Mas não só ela, suas irmãs também estavam.” O choque de realidade para toda a família não era compreendido pela pequena Lais. Por ser tão nova, não entendia que a doença poderia matar. “Sempre achei que tudo se resolveria e iria ficar bem”. Apesar da morte da avó, a mãe Joana Darc e suas irmãs venceram a batalha e estão curadas. O que chama a atenção nesta história é uma menina no auge dos seus 22 anos ter que encarar a possibilidade de desenvolver a doença. “É a realidade que vivo e as pessoas não conseguem entender como eu convivo bem com isso. Acho que com prevenção e descobrindo a doença cedo é possível, como foi com a minha mãe.”
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QUE SENTIMENTOS CARREGA QUANDO PENSA QUE PODE TER CÂNCER? Sinceramente não levo sentimentos ruins. Eu vi todos os tratamentos de perto, minhas tias passando mal, cabelo caindo, tomando remédio por cinco anos. Se eu falar que não sinto medo é mentira. Mas convivo bem com isso, acho que tudo é questão de descobrir cedo e encarar.
VOCÊ TEM CERTEZA QUE TERÁ A DOENÇA? Eu ainda não fiz o exame de DNA para ter certeza absoluta, mas no fundo eu sei o resultado e eu sei que o "tratamento" será a retirada completa das mamas. Por isso só quero fazer quando estiver preparada psicologicamente e fisicamente para isso. Com a minha idade eu prefiro não retirar, acho que prefiro ter uma cabeça mais madura com relação ao meu corpo e o que isso mudaria para mim, se é que mudaria. Mas quando tiver meus 30 anos será esta a opção, a retirada.
COMO É ENCARAR ESSA REALIDADE? Acho que a parte mais difícil será mexer em algo que está quieto. Porque se eu fizer a cirurgia, ela será uma medida preventiva de uma doença que ainda não apareceu. Hoje falo tranquilamente sobre a doença porque ela parece estar longe, apesar de saber que um dia vai acontecer.
QUAIS SÃO OS SEUS CUIDADOS? Eu faço um exame por ano, por causa da minha idade. Depois dos 25 anos, será a cada seis meses, justamente por ter casos na família. A minha mãe só descobriu as células pré-cancerígenas porque ela fez um exame de ressonância magnética. Os médicos quase nunca pedem esse exame, mas no caso dela a mamografia e a ultrassonografia deram negativas. E este exame eu já faço há
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dois anos.
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Uma linda mulher
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Larissa Felipe Silva é linda por dentro e por fora. Poucas pessoas têm essa luz própria que irradia alegria, bom humor, força, coragem e hospitalidade. Poucas mulheres também têm a sorte de ficarem tão lindas com o cabelo curtinho, resquício do que a quimioterapia para tratar o câncer de mama deixou no exterior. Já no interior, as marcas da doença também foram fortes em uma menina de apenas 27 anos, que descobriu o nódulo em setembro do ano passado enquanto tomava banho. Um banho que foi um divisor de águas em sua vida. Aos 26 anos ela teve que retirar uma mama, antes mesmo de começar a quimioterapia, e no mesmo dia da mastectomia já colocou a prótese de silicone. “Só que teve um problema. Os médicos tiveram que fazer a raspagem para não ficar nenhum resíduo, e como eu sou muito magra, a pele ficou muito fina e em uma parte o sangue não fluiu, então ele começou a abrir e o silicone a aparecer. Após 40, 45 dias eu tive que retirar a prótese e fiquei os seis meses da quimioterapia sem prótese. Quando me olhava no
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espelho eu sofria.”
Apesar de ter superado o câncer, as cicatrizes não ficaram somente na mama. “Todo mundo fala que eu sou nova, só que para eu me relacionar com alguém agora já é um pouco mais difícil, tem a cicatriz”, fala emocionada. “Não é a mesma coisa, a gente fica com receio”.
Amor verdadeiro A força dela para superar a doença veio de Deus, das orações dos amigos e da família, que sempre esteve muito envolvida e se preocupava em todos os processos. “Meu afilhado me distraía muito, quando eu chegava do tratamento ele já vinha e dizia ‘deixa eu passar a mão na careca, dinda?’, e isso me ajudava”. Hoje ela afirma que o que mudou em sua vida foi a forma de pensar: “Não somos nada. Uma doença pode te matar e não aproveitamos a vida! Tantas pessoas querendo contar vantagens de coisas fúteis, coisas desnecessárias, e não dão valor às pessoas e aos momentos”, diz Larissa.
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Sobre viver
Quando descobriu que estava com câncer em estágio avançado, ela se viu em um filme. Não como espectadora, mas como protagonista. E a vida que a professora universitária Adriana Zadrozny conhecia deixou de existir em um estalar de dedos. Ela estava amamentando seu filho de apenas 10 meses e o adolescente de 13 anos teve que aprender a conviver com o sofrimento da mãe. Para piorar, Adriana estava sozinha, pois após 20 anos de casamento enfrentou o trauma de uma separação. Assim, a dualidade da vida se manifestou de uma maneira chocante. Fraca pelo tratamento, Adriana lembra que mesmo com crises de vômito tinha que tirar forças para cuidar de uma criança com uma fonte inesgotável de energia. Os cuidados a absorviam, mas traziam uma grande paz porque ainda assim conseguia fazer tudo aquilo. “Eu precisava fazer o máximo. Queria que, ainda que inconscientemente, meus filhos tivessem registros de terem sido amados e cuidados enquanto eu pude. Minha mucosa da boca estava tão ferida que por vezes não conseguia falar nem mesmo beijar o meu bebê. Isso era muito, muito sofrido.”
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Ao longo de todo esse processo, Adriana escreveu inúmeros relatos a respeito do que acontecia em sua vida e transformou em um livro. Sobre Viver é um relato de força e paixão pela vida.
QUANDO VOCÊ DESCOBRIU QUE ESTAVA COM CÂNCER? Foi em 2010, era um carcinoma ductal infiltrativo em estágio avançado, com quase dez centímetros. A mama densa da gravidez e da lactação impediram que eu observasse o crescimento. Devo ter apalpado o nódulo inúmeras vezes achando que era glandular ou leite ingurgitado. Quando meu filho começou a mamar menos, percebi que as duas mamas estavam muito diferentes e só então achei que algo pudesse estar errado. Infelizmente estava.
VOCÊ LEMBRA O QUE PASSOU PELA SUA CABEÇA? No primeiro momento, parece um filme. Deve ser algum mecanismo nervoso para que a gente não enlouqueça, porque a vida que conhecemos deixa de existir. Lembro-me de que voltei para casa pensando em como o bebê enfrentaria o fato de não mais mamar no peito. Era uma preocupação imensa e em minhas orações só pedia tempo.
SENTIU RAIVA OU ÓDIO, POR EXEMPLO, QUANDO DESCOBRIU A DOENÇA? Não. Nunca. Desde o começo parei para pensar no “para que”. O que a vida queria que eu aprendesse? O que eu deveria enxergar? Hoje, sei que estava no caminho certo de minha intuição. Era um aprendizado mesmo e eu o acolhi.
VOCÊ TEVE QUE RETIRAR A MAMA. COMO TRABALHOU COM ESSA QUESTÃO? Fiz mastectomia total da mama direita, seguida de reconstrução. Mas isso nunca teve importância para mim. Era a minha última preocupação. Lembro-me dos médicos insistindo na questão de
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uma boa prótese e eu só pensando que aquilo tudo não tinha
importância. Hoje, fico feliz que eles tenham insistido e feito um trabalho lindo.
COMO VOCÊ ENCARA SEU CORPO APÓS A RETIRADA DA MAMA? Muitas de minhas cicatrizes hoje são cobertas por tatuagens, inclusive as da própria mastectomia. Não para escondê-las, jamais! Morro de orgulho delas. Para celebrá-las. Elas são a prova de um corpo que usou de todos os recursos possíveis para se manter vivo a ponto de permitir a cicatrização de feridas do corpo e da alma.
E A ROTINA DO TRATAMENTO? A dualidade da vida se manifestou. Estava fraca, tendo náuseas e com a mucosa da boca tão ferida que por vezes não conseguia falar e nem beijar o meu bebê. Isso era muito, muito sofrido. Também tinha muita insônia e me sentia muito cansada durante o dia. E uma criança com um ano de idade é fonte inesgotável de energia. Por outro lado, esses cuidados me absorviam, me enterneciam, traziam-me uma grande paz porque eu ainda conseguia fazer tudo aquilo. E eu precisava fazer o máximo. Queria que, ainda que inconscientemente, ele tivesse registros de ter sido amado e cuidado enquanto eu pude.
VOCÊ TEVE QUE ENCARAR SOZINHA ESSA REALIDADE. A PARCERIA DE 20 ANOS ACABOU EM DECORRÊNCIA DA DOENÇA? Grandes traumas são sempre divisores de águas. Não há como se manter uma relação nos mesmos moldes. Tenho percebido dois fenômenos bem distintos em casos como o meu: ou o casal se une e vive partilhando do mesmo fôlego, ou há uma ruptura. A vida que havia deixou de existir, pois, de repente, éramos novas pessoas, buscando respostas diferentes e enxergando a vida um sem o outro. Não há culpados. Acontece com muita frequência e não se trata de algo inédito ou digno de maiores dramas.
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Minhas cicatrizes sĂŁo a prova de um corpo que usou de todos os recursos possĂveis para se manter vivo.
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Adriana Zadrozny
VOCÊ LANÇOU UM LIVRO SOBRE A SUA HISTÓRIA. COMO FOI? O livro é uma coletânea de textos que funcionavam como um “diário”. Neles, eu contava como era a vida de uma paciente tratando um câncer de mama, que eram enviados à família e aos amigos mais chegados, que assim sabiam por mim o que estava acontecendo. Porém, em pouco tempo os textos ficaram “famosos” e eu passei a ter centenas de destinatários. O apelo do livro nasceu daí. Após contar minha história a centenas de mulheres que me procuraram em busca de força e conselhos, eu pensei: e por que não? Assim nasceu o Sobre Viver uma obra que fala de alegria, de fé e esperança.
VOCÊ QUERIA QUE ESSAS CARTAS CHEGASSEM AOS SEUS FILHOS? Sempre tive horror dos comentários equivocados, das falsas informações. No entanto, havia um pedido expresso de que, caso eu não sobrevivesse, um dia fossem entregues aos meninos, para que eles conhecessem a história toda por mim e não por informações desencontradas.
QUE TIPO DE MENSAGENS VOCÊ ESCREVIA PARA ELES? Basicamente, minhas impressões sobre a vida e sobre viver uma doença que traz consigo uma sentença de morte. Narrava meus dias e meu imenso amor. Minha fé de que podia dar certo. Meus planos futuros. E do quanto eu tinha medo de partir deixando os dois.
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VOCÊ PENSAVA NA REAÇÃO DE SEUS FILHOS QUANDO LESSEM AS MENSAGENS? Não. Nunca pensei. Evitava imaginar que eles pudessem um dia ler aquilo. Seria sofrimento demais e eu evitava alimentar o sofrimento. Não visualizava um tempo em que eu não estivesse com eles. Não permitia ver a minha vida sem mim. Era um exercício de distanciamento e foi importante. Apesar de saber da possibilidade, eu escrevia sobre o tempo presente e eu estava nele, inteira e cheia de amor pelos meus filhos. Esse amor foi a minha cura. Por outro lado, hoje vejo que, caso tivesse sido assim, eles estariam em paz: ali estava uma mãe de bem com a vida, com a sua situação, lutando intensa e verdadeiramente para ficar com eles, mas cheia de fé no cumprimento de seu destino e desejosa de fazer sua história valer a pena. Acho que eles teriam
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orgulho de mim.
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e agora?
estou com câncer,
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Estou com câncer, e agora? Por Adriana Zadrozny A pergunta que não escolhe idade, gênero, cor ou padrão social, e invade a cabeça de todas nós assim que certo laudo (ou telefonema, ou olhar do médico, ou a quase infalível intuição) nos conta que, sim, há algo errado. Muito errado. E ela não vem sozinha: é acompanhada, invariavelmente, de “por quê?” ou “como isso aconteceu?” E, mais raramente, da única questão que merece nossa plena atenção: “para quê?” (responda a essa pergunta. Impressionante como sua resposta pode ser o norte e a razão para permanecer por aqui). Uma célula cuidada, nutrida e mantida da mesma forma que suas trilhões de irmãs, teve o seu íntimo modificado e gerou uma prole que cresceu de forma descontrolada dentro de mim, buscando abrigo em tecidos saudáveis, aniquilando-os em busca de espaço. Assim. Desse jeito. Foi assim com você também, e isso nos une de uma forma impossível de descrever. Chama-se câncer essa bagunça. Mas não dê importância ao nome. Não o trate como um superior. Ele pode, sim, ser nomeado. E não bata na
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madeira. Não dê a ele esse poder todo.
A célula-mãe do tumor que tive em 2010 gerou descendentes que ocuparam uma massa de nove centímetros em minha mama direita. A mesma mama que amamentava um bebê de dez meses em um dos momentos mais sublimes da minha vida. As modificações da lactação ajudaram a esconder o imenso nódulo, confundido inúmeras vezes com uma alteração glandular do processo de nutrir aquele serzinho lindo. O “e agora?” chegou para mim também. E hoje, passados seis anos de um diagnóstico sombrio, de um tratamento doloroso, de medos justificados, caminhos eleitos, ajustes para todas as direções e um recomeço que trouxe de presente os dias mais felizes que já imaginei viver, o que posso dizer é que não existe receita. Esqueça as fórmulas. Somos únicas em nossos temores, percepções, condutas e expectativas. No entanto, há algumas respostas que podem funcionar para essa pergunta. A primeira grande resposta é que, no “agora” da pergunta, a vida que conhecíamos deixou de existir. Cada dia trará a sua novidade e a sua conduta. Teremos bons e maus momentos e a possibilidade de escolher a qual deles convidaremos ao nosso sofá. Bons e maus sentimentos, e a possibilidade de definir a quem arrumaremos o quarto de hóspedes de nossa alma. Passaremos a entender que as relações mais próximas enfrentam uma encruzilhada e só um dos caminhos será possível: ou estamos juntos, ou não. Ou mergulhamos a um só fôlego, dividimos o oxigênio e saímos mais capazes na outra margem, ou buscamos nosso ar em outros reservatórios (e não se esqueça de agradecer por estarem disponíveis). A força para a sobrevivência, em meu caso, estava em um bebê amado, desejado, cheio de vida e que merecia ser criado pela sua mãe. Estava em um adolescente que começava a voar, mas precisava de um ninho para voltar. Descobri, mais surpresa do que
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triste, que não havia fôlego extra naquele casamento de dezoito anos e, se não havia esse sopro, não valia a pena respirar por ele. Não foi sem dor, mas com profunda aceitação que entendi a primeira lição que o câncer trouxe consigo. A segunda resposta tem a ver com disciplina. Temos que ser mais fortes do que a doença e a luta não é fácil. Há o tratamento, os horários, os medicamentos e todos os seus efeitos complementares e há o cansaço. Mas há também vida acontecendo em torno disso tudo. O planeta não para porque adoecemos. Então, organizar a rotina não apenas na dor, mas também no prazer, é uma poção muito poderosa. É hora de descansar criativamente. É hora de cuidados alimentares que produzam delícias a serem saboreadas enquanto modificam favoravelmente nossa bioquímica. É hora de aceitar carinhos, elogios, ajuda. É tempo de permitirmos uma vida mais colorida, mais intensa. É momento de sermos metódicas na esperança e esperar positivamente pelo que virá depois. A terceira resposta é comprovadamente eficaz: ocupe-se. Com o que for possível. Está cansada? Leia, converse, assista a um filme, ligue para sua mãe (acredite, ela também está sofrendo e conversar sobre algo que não a doença fará bem a ambas). Medite. Sente-se bem? Tome sol – nos horários corretos –, caminhe, passeie com o cãozinho, ande de bicicleta com as crianças, nade. Medite. Preocupada? Estude, converse, troque ideias, escute. Fale! Frequentemente é apenas disso que precisamos. Quer relaxar? Busque caminhos. Acupuntura, reiki, homeopatia, pilates, grupos de apoio, terapia. Entediada? Um hobbie é uma arma potente. Um trabalho novo, compatível com sua condição. Experimente o que chamo de “vivência controlada de suas funções”. Sou nutricionista e professora universitária e realizei atendimentos, ministrei cursos e palestras nos intervalos em que aprendi a me
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reconhecer estável e plena de minha competência. O canal do
medo, da dúvida e da incerteza se fechava sempre que meu foco se modificava em produzir. Escrevi textos nas noites insones narrando a vida às voltas com o tratamento, que hoje são um livro (Sobre Viver – Assim Aprendi com um Câncer de Mama) que objetiva contar de tudo um pouco, mas que há de se ter esperança. Vale a pena tentar! Palavra de quem o fez. E medite. Insisto nisso porque envolve autoconhecimento, aceitação, serenidade, bem-estar geral e, de quebra, uma turbinada e tanto no sistema imunológico. E tem validação científica. Mas tem mais. Agora é a oportunidade de rever várias certezas. Agora é hora de entender o que importa. Agora é hora de organizar as gavetas dos afetos. Agora é hora de ser feliz (antes também era, mas nos esquecemos disso no trânsito, nos prazos, nas contas e no amanhã que entendemos como certo). E agora? Agora encontramos a força que não sabíamos que tínhamos. Agora os beijos e abraços são muito mais gostosos, agora é momento de crer e de nos orgulhar do que podemos ser e fazer. Do que podemos sonhar. Foi assim comigo. Escolha ser assim com você. Dezenas de sessões de quimioterapia minaram meus cabelos e minha imunidade, mas nem tocaram em minha autoestima. A mastectomia radical com esvaziamento axilar permitiu uma linda reconstrução, hoje tatuada em flores azuis. O casulo do catéter de infusão de quimioterápicos metamorfoseou e cedeu espaço a uma linda borboleta. O casamento desfeito trouxe força, amanheceres, esperança, mudança, casa nova e um amor que não é só novo: é singular, inédito, inesperado e grandioso. O bebê daqueles tempos tem hoje quase sete anos e lembra muito pouco do que viveu em seu primeiro ano, mas “reza para Papai do Céu” cuidar de mim. O adolescente é um universitário responsável e afetuoso que dirige seu carro e sua vida. Cada alvorecer é repleto de gratidão. Cada exame de controle, uma prova em que
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tiro nota máxima. O trabalho hoje tem uma vertente contra o câncer, em ciência e aprendizado compartilhado. O coração bate em um orgulho incontido. Não apenas por ter conseguido vencer a briga e estar aqui. Antes, por ter respondido a cada uma dessas perguntas com reflexões que fossem úteis:
Por quê? Porque sim. É a luta que tenho que lutar. Como isso aconteceu? Acontecendo. O que me diz que tenho que prestar mais atenção ao meu corpo, aos meus hábitos, à minha vida.
Para quê? Para que eu pudesse ser forte, corajosa. Para que eu fosse capaz de enxergar o que a zona de conforto me escondia. Para ser melhor do que eu fui nos 40 anos antes daquilo tudo. Para estar aqui e poder contar que, sim, pode dar certo. E dá.
E agora? Agora é olhar para a frente. Como sempre devia ter sido. Agora é também comigo. Agora, é ser agente, e não paciente. Agora, é finalmente perceber que cada momento é só o que possuímos e ser feliz em cada um deles como se fosse o último (um dia será, mas não necessariamente no “agora” do câncer). Enfim, de tudo, resta a maior das lições. O aprendizado que perdoa todas as dores, todas as dúvidas, cada lágrima e cada dia nublado: o câncer é muito frágil perante a fome de viver. Então,
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viva. Isso é muito mais do que sobreviver.
8 atitudes para quem está com câncer Por Tânia Mary Gomez Gostaria de me dirigir a você que passa por um dos momentos mais difíceis da sua vida. Encarar um câncer é uma das missões mais árduas que alguém pode enfrentar. A doença é traiçoeira, implode nossa autoestima e nos debilita fisicamente. Mas, tendo enfrentado uma batalha duríssima para vencer um câncer de mama, posso dizer que esse é também um momento de oportunidades riquíssimas. É verdade, o câncer também pode ser uma oportunidade para descobertas pessoais, reencontros e aproximação com Deus. Não sou uma especialista, mas como alguém que viveu e que vive diariamente a dura realidade do câncer por meio das ações realizadas pelo Instituto Humsol, gostaria de me colocar à disposição e sugerir algumas atitudes que vão ajudar nesse momento.
EM BOA COMPANHIA Um dos melhores caminhos para superar o câncer é fazer parte de grupos, estar perto de pessoas, mas, é claro, de pessoas positivas, que estejam bem e que sejam capazes de fazer com que você veja a vida de forma positiva.
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RUATERAPIA O meu grande terapeuta se chamou “rua”. Quando alguma coisa me preocupava durante meu tratamento, a primeira coisa que eu fazia era sair. Eu dava uma volta na quadra, ia para o shopping, conversava com alguém. Parece simples, mas isso é fundamental porque faz com que você tire o foco do problema e se fortaleça.
COMEMORE CADA VITÓRIA Quando você recebe o diagnóstico, o médico já apresenta o plano de ação, ou seja, como a doença será enfrentada. Passou aquele início, do choque, da tristeza, é hora de levantar a cabeça e comemorar cada etapa vencida. Se você tem oito quimioterapias, a cada etapa vencida é preciso comemorar, afinal é uma a menos. Tudo isso te traz alívio e uma sensação de bem-estar que são combustíveis essenciais para vencer essa batalha.
AME E SE DEIXE AMAR É preciso viver um dia de cada vez e nos apoiar no amor dos amigos, da família e de quem está perto da gente. Essa é a hora que você precisa de colo, de ombro, é a hora que você precisa de família. Deixe as pessoas falarem sobre isso, oportunize esses momentos de troca, porque cada vez que você divide o que está sentindo, com certeza a sua preocupação e a sua dor serão menores.
FAÇA UM DIÁRIO Procure anotar seu dia a dia e registre todas as ações que levantam seu ânimo, faça tudo aquilo que lhe dá prazer. Em todas as
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quimioterapias que fiz, procurava realizar coisas diferentes antes
de retornar para casa e na última comemorei muito, saí de casa às 10 horas, fiz a quimio e fui passear com minhas amigas, almoçamos num restaurante que sempre tive vontade de conhecer e depois dedicamos o restante da tarde para conversar, passear e comemorar, retornando para casa às 18 horas. Você determina o que é bom para você.
ENCONTRE UM SENTIDO Você precisa saber o que faz a diferença na sua vida. Encontrar uma organização, como o Humsol, pode ser um bom caminho. Por meio de projetos como o Esquadrão da Autoestima vamos até a casa dos pacientes para contribuir na retomada da autoestima e definir um caminho que seja trilhado para superar o tratamento. Essa e outras ações podem modificar a sua maneira de enfrentar o câncer.
ESPERANÇA É a última que morre! E deve ser a grande aliada de todos os pacientes de câncer. Parece simples, mas uma das principais palavras nessa hora é a esperança. É preciso fortalecê-la, acreditando que, mais cedo ou mais tarde, tudo vai passar.
RESPIRE FUNDO E VÁ EM FRENTE! Reflita sobre as experiências positivas que você viveu, as férias, as viagens, os passeios. Se se sentir melancólico, mergulhe nas memórias positivas e deixe-se invadir pelos sentimentos e lembranças agradáveis e novamente foque na esperança.
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Sim, você tem direitos! Por Aline Caroline Pereira Vasconcelos* Quando falamos de câncer acabamos focando no bem-estar relacionado à saúde, carinho e lazer do paciente e esquecemos que essas pessoas têm diversos direitos sociais, previstos na Constituição Federal de 1988. Direitos que, sendo utilizados, podem contribuir diretamente para a melhoria da qualidade de vida do paciente. Sabemos que o diagnóstico do câncer provoca ao paciente uma série de sentimentos confusos, como o medo do desamparo afetivo e financeiro. É normal que a notícia traga impactos emocionais tanto no paciente como na família. Principalmente tendo em conta que muitos após a descoberta têm que realizar tratamentos oncológicos, que geralmente ocasionam mal-estar físico e psicológico. Mesmo dentro desse turbilhão de sentimentos, muitos pacientes, além de cuidar da saúde, precisam se preocupar com suas atividades corriqueiras como o trabalho. Por isso é importante destacar que existem várias leis que os amparam nesse momento difícil. O Estado fornece aos pacientes com câncer diversos direitos referentes à saúde, à moradia, a cirurgias, medicamentos, transporte, ou seja, itens fundamentais para que consigam ter melhor qualidade de vida e bem-estar. Apesar de ser papel do Estado fornecer essas informações, amigos e familiares também podem contribuir conversando com as pessoas que passam pelo câncer sobre os direitos que elas têm. Podendo trazer com essas informações tranquilidade para que
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realizem seu tratamento de maneira mais digna.
DIREITO AO SAQUE DO PIS E DO FGTS Fatores frequentemente questionados são, por exemplo, a possibilidade do trabalhador com câncer realizar os saques do PIS e do FGTS. Nesses casos, vale lembrar que o trabalhador tem direito a esses saques na fase sintomática da doença ou quando tenham dependentes que sejam portadores do câncer. Para o saque do PIS é necessário que o paciente ou responsável tenha cadastro antes de 1988, assim poderá sacar o valor total de suas quotas e rendimentos. Já no saque do FGTS o valor recebido será o saldo total das contas pertencentes ao trabalhador.
DIREITO AO AUXÍLIO-DOENÇA, APOSENTADORIA POR INVALIDEZ E O LOAS Muitos pacientes relatam a dificuldade de realizar suas funções no trabalho por conta da doença. O Estado, por sua vez, não deixa desamparados esses trabalhadores. Por isso, nesses casos o paciente segurado do INSS tem direito ao auxílio-doença. Esse é um benefício mensal que o segurado irá receber, caso comprove por meio de perícia médica sua incapacidade temporária. Para solicitar esse direito, o paciente deve comparecer à agência da previdência social ou ligar no 135 e solicitar o agendamento da perícia. É importante que a pessoa leve consigo documento que comprove suas contribuições e um exame médico que descreva seu atual quadro clínico. Já os pacientes que estão definitivamente impossibilitados de trabalhar, podem requisitar o direito à aposentadoria por invalidez. Esse benefício é concedido ao cidadão que seja considerado definitivamente pela perícia médica do INSS incapaz para continuar exercendo seu trabalho. É importante ressaltar que o paciente que contribui com o INSS não precisa ter 12 contribuições para ter direito ao benefício, como em outros casos.
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Outro benefício assistencial chamado LOAS (Lei Orgânica da Assistência Social) é fornecido às pessoas idosas ou deficientes que não exerçam atividades remuneradas e que a renda por pessoa do grupo familiar seja menor que ¼ do salário mínimo. Lembrando que o beneficiário receberá mensalmente um salário mínimo, sem precisar ter contribuído anteriormente ao INSS, caso se enquadre nos requisitos da lei.
DIREITO AO TRATAMENTO FORA DO DOMICÍLIO (TFD), ISENÇÃO DE IPI E IPVA Com relação à mobilidade urbana, quando não existe o tratamento adequado no local onde o paciente mora, existe a possibilidade que o Tratamento Fora do Domicílio (TFD) seja custeado pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Esse direito é fornecido aos pacientes que tenham indicação médica e sejam exclusivamente atendidos pela rede pública. O Estado tem o dever de fornecer transporte e hospedagem ao paciente e acompanhante que se enquadrem nos requisitos legais. Para pessoas que desejam comprar um automóvel adaptado, existe a isenção do Imposto Federal Sobre Produtos Industrializados (IPI). Para ter acesso a esse benefício é preciso que o paciente com câncer comprove dificuldade motora nos membros superiores ou inferiores que o impeça de dirigir veículos comuns. No entanto, existem alguns critérios para a compra desse veículo. Lembrando que os pacientes podem comprar automóveis de passageiros ou de uso misto, que tenham fabricação nacional e sejam movidos a combustível de origem renovável. Destacando que a adaptação do automóvel pode ser realizada na própria montadora ou mesmo em uma oficina especializada. Consequentemente, existe a possibilidade de isenção do Impos-
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to de Propriedade de Veículos Automotores (IPVA) para os veícu-
los adaptados. Contudo, não são todos os estados brasileiros que possuem essa regulamentação. Atualmente apenas os estados do Espírito Santo, Goiás, Minas Gerais, Distrito Federal, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e São Paulo possibilitam a isenção.
DIREITO À QUITAÇÃO DO FINANCIAMENTO DA CASA PRÓPRIA E ISENÇÃO DE IPTU Já sobre moradia, outro direito que dificilmente os cidadãos conhecem é sobre a possibilidade da quitação do financiamento da casa própria. Além de ser um sonho para muitos, esse benefício gera enorme tranquilidade para quem está incapacitado de trabalhar. Porém, é necessário que exista uma cláusula no contrato de financiamento prevendo esse direito e também que tal invalidez tenha sido adquirida após a assinatura do contrato de compra do imóvel. Vale destacar que alguns municípios também preveem a possibilidade da isenção de imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU) das pessoas com doença crônica. É importante conferir se seu município tem essa previsão em sua Lei Orgânica para conseguir a isenção. 55
TODA MULHER TEM DIREITO À CIRURGIA DE RECONSTRUÇÃO MAMÁRIA Com relação ao acesso à saúde, é importante destacar que mulheres que foram submetidas à mastectomia, sendo ela total ou parcial, em decorrência do tratamento de câncer, têm direito à realização da cirurgia plástica de reconstrução mamária. Quando devidamente prescritas pelo médico responsável. Lembrando que esse procedimento pode ser custeado pelos planos de saúde ou mesmo pelo SUS. *Aline Caroline Pereira Vasconcelos é advogada de saúde e trabalha com direito dos pacientes com câncer.
Você não está sozinha Aqui você encontra um guia de lugares especializados que vão
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ajudá-la com tudo que você precisa nesse momento
DIAGNÓSTICO Centro Diagnóstico Água Verde O Cedav realiza mais de 300 exames por dia e conta com a colaboração de aproximadamente 130 funcionários. O centro foi um dos pioneiros na aplicação do Sistema de Transferência de Dados entre as clínicas e na instalação da Radiologia Digital. Rua Goiás, 92 | Água Verde (41) 3074-9000 cedav.com.br CETAC - Centro de Diagnóstico por Imagem Disponibiliza uma variedade de equipamentos certificados e um corpo clínico altamente qualificado. São duas unidades de atendimento que aceitam mais de 80 convênios. Rua Padre Ildefonso, 105 | Batel (41) 3270-3270 Rua Jeremias Maciel Perreto, 300 | Campo Comprido (41) 3028-8565 cetac.com.br
Imax Digital A Imax conta com suporte tecnológico de equipamentos de última geração para realizar os exames de ultrassonografia em geral, radiologia digital, radiologia pediátrica, densitometria óssea, mamografia digital e biópsias de mama, entre elas a mamotomia. Rua Nunes Machado, 838 | Centro (41) 3224-4387 clinicaimax.com.br Instituto de Diagnósticos Especializado por Imagem As instalações do Idepi são modernas e atendem às necessidades de idosos, clientes com dificuldade ou limitação física e cadeirantes. Entre os exames realizados estão a mamografia digital, biópsia e a tomografia computadorizada helicoidal. Avenida Sete de Setembro, 4848 | Batel (41) 3302-7000 idepi.com.br
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CEDIP Sempre em busca de novas tecnologias para a realização de exames com maior precisão e rapidez, a Clínica de Diagnóstico por Imagem do Paraná trabalha com equipamentos de última geração. Suas duas unidades oferecem estrutura completa para realizar os mesmos exames com conforto e segurança. Rua Raphael Papa, 20 | Jardim Social (41) 3362-3111 Rua Izabel A Redentora, 1434 | São José dos Pinhais (41) 3362-3111 cedip.com.br
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DAPI A clínica presta serviços de diagnóstico há mais de 30 anos em Curitiba, sempre colocando à disposição dos médicos e de seus pacientes um atendimento de qualidade, com equipamentos modernos e corpo técnico certificado. Avenida Pres. Kennedy, 4121, G2, Setor D | Portão (41) 3250-3000 Rua Brigadeiro Franco, 122 | Mercês (41) 3250-3000 dapi.com.br
XLEME Com 60 anos de experiência, a clínica é pioneira na área de diagnóstico por imagem em Curitiba. Sempre em constante busca pelo aprimoramento de técnicas, oferece diversos exames entre eles mamografia digital, ressonância magnética e tomografia. Avenida Batel, 1541 | Centro (41) 3342-0666 xleme.com.br CLÍNICAS Clinirad A Unidade de Radioterapia e Quimioterapia do Hospital Angelina Caron é um centro de referência com mais de 13 anos de tradição no combate ao câncer. O paciente dispõe de uma equipe multiprofissional e toda a estrutura que necessita em um só lugar. Rodovia do Caqui, 1150 | Campina Grande do Sul (41) 3679-8130 clinirad.com.br
Centro de Oncologia do Paraná O COP realiza consultas médicas, procedimentos diagnósticos, tratamento com quimioterapia e com procedimentos cirúrgicos. A clínica se dedica ao tratamento do câncer, priorizando um atendimento exclusivo, sempre atualizado e com ênfase no relacionamento médico-paciente. Rua Saldanha Marinho, 2167 | Bigorrilho (41) 3083-0899 Rua Gal. Catão Mena Barreto Monclaro, 374 | São José dos Pinhais (41) 3283-5167 centrodeoncologia.com Centro Integrado de Oncologia de Curitiba Com especialistas nas três áreas fundamentais do tratamento do câncer, cirurgiões oncológicos, oncologistas clínicos e radioterapeutas, o Cionc possui uma estrutura voltada ao cuidado e respeito com os pacientes. Rua Desembargador Vieira Cavalcanti, 1152 | Mercês (41) 3024-2421 | (41) 3024-1068 cionc.com.br
Instituto de Radiologia Intervencionista do Paraná O objetivo do Inrad é transmitir ao paciente e ao seu médico a necessária segurança para um eficaz diagnóstico e tratamento. O local realiza diversos tipos de procedimentos diagnósticos e intervenções, sempre fornecendo as orientações necessárias para médico e paciente. Rua Padre Anchieta, 1691, Cj 802 | Bigorrilho (41) 3336-9527 inrad.com.br Instituto de Hematologia e Oncologia Curitiba O IHOC possui ambientes confortáveis e funcionais, que incluem consultórios, sala de quimioterapia, recepção e estacionamento. O Instituto dispõe de equipamentos apropriados para atendimento emergencial e serviço de remoção. Rua Fagundes Varela, 1785 | Jardim Social (41) 3026-5559 ihoc.com.br
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Instituto de Oncologia do Paraná Além de ser uma referência no diagnóstico e tratamento do câncer, dispondo das principais tecnologias em oncologia, o IOP oferece uma equipe multidisciplinar, que conta, inclusive, com nutricionista e psicóloga, para atender a todas as necessidades do paciente. Rua Mateus Leme, 2631 B e 2626 B | Centro Cívico (41) 3207-9797 Rua Saldanha Marinho, 1814 | Batel (41) 3207-9798 iop.com.br
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Instituto do Câncer e Transplante Curitiba Há mais de 15 anos o ICTr Curitiba oferece tratamento adequado para doenças hematológicas benignas e malignas, do câncer, transplante de medula óssea, realização de análises clínicas, entre outros serviços. Rua Myltho Anselmo Silva, 870 | Mercês (41) 3336 1110 ictrcuritiba.com.br
Instituto InterRad Essa clínica de tratamento multidisciplinar voltado para Oncologia, Hematologia e Quimioterapia oferece consultas e tratamentos especializados para o câncer em uma estrutura completa, profissionais experientes e os mais modernos recursos da medicina. Rua Gastão Câmara, 242 | Bigorrilho (41) 3024-7070 institutointerrad.com.br Neo Saúde Este centro de excelência em tratamento oncológico possui toda a estrutura para realização de diagnóstico e tratamento de câncer. Sua equipe é treinada para realizar um atendimento pessoal e humanizado visando o conforto e a segurança. Rua Desembargador Costa Carvalho, 90 | Batel (41) 3306-1500 neo.med.br
Oncocentro A clínica possui os equipamentos mais modernos e de alta tecnologia para amparar seus pacientes no tratamento do câncer, com uma equipe de profissionais altamente capacitados que proporcionam um tratamento humanizado visando sempre o bem-estar. Rua Nicolau Maeder, 910 | Juvevê (41) 3039-6940 Rua Barão de Guaraúna, 655 | Juvevê (41) 3252-8489 oncocentrocuritiba.com.br
Oncoville Criada a partir da união das duas principais clínicas de Oncologia da cidade de Curitiba, o Oncoville é um centro de excelência e alta tecnologia em Radioterapia, que oferece tratamentos nos padrões de qualidade das melhores referências mundiais. Marginal Rodovia BR-277, 1437 | Mossunguê (41) 3099-5800 oncoville.com.br
Oncopar Com mais de 20 anos de experiência, a clínica tornou-se uma referência em Oncologia. Seu foco é oferecer o melhor tratamento disponível para seus pacientes com uma equipe multidisciplinar de médicos, farmacêuticos, enfermeiras oncológicas e técnicos de enfermagem. Avenida Cândido Hartmann, 528, 3° andar | Mercês (41) 3336-3636 oncopar.com.br
Erasto Gaertner O principal centro de diagnóstico e tratamento da doença no Paraná realiza diversas iniciativas ligadas à doença, como a Rede Feminina de Combate ao Câncer (RFCC) e o Registro Hospitalar do Câncer. Além disso, a instituição oferece serviços de diagnóstico e tratamento para toda a comunidade. Rua Dr. Ovande do Amaral, 201 | Jardim das Américas (41) 3361-5000 erastogaertner.com.br
HOSPITAIS
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Hospital de Clínicas do Paraná O maior hospital público do estado é referência nacional no tratamento de câncer. Possui estrutura tecnológica e instrumental técnico para o atendimento de casos da alta complexidade e consultas especializadas. (41) 3360-1800 Rua General Carneiro, 181 | Alto da Glória hc.ufpr.br
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São Vicente Em 2009 o Hospital São Vicente inaugurou seu Serviço de Oncologia, voltado inicialmente para atendimento de pacientes do SUS – Sistema Único de Saúde. O hospital também recebeu o certificado de Unidade de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia. Avenida Vicente Machado, 401 | Centro (41) 3111-3000 funef.com.br
Nossa Senhora das Graças Com consultas médicas, pronto-atendimento 24h e centro avançado de diagnóstico e tratamento, o HNSG é um dos maiores centro de saúde do estado. Além de toda a infraestrutura, a instituição oferece apoio espiritual, hotelaria, assistência psicológica e atividades de entretenimento. Rua Alcides Munhoz, 433 | Mercês (41) 3240-6060 hnsg.org.br Angelina Caron O serviço de Oncologia do Hospital Angelina Caron atende nas áreas de Oncologia Cirúrgica, Clínica, Hematologia Oncológica, Radioterapia e Medicina Nuclear. Na Oncologia Cirúrgica atende tumores de todas as áreas. Rodovia do Caqui, 1150 | Campina Grande do Sul (41) 3679-8100 hospitalangelinacaron.com.br
Santa Casa de Curitiba Na Santa Casa, o oncologista se preocupa com a abordagem geral, com o cuidado humanizado e com o tratamento de quimioterapia, hormonioterapia e terapia biológica. O hospital possui parceria com o Instituto Brasileiro de Oncologia (ISBO), serviço que atende com foco em triagem, diagnóstico, cirurgia, quimioterapia e até acompanhamento. Praça Rui Barbosa, 694 | Centro (41) 3320-3500 santacasacuritiba.com.br Hospital Evangélico O Hospital Evangélico realiza cirurgias em pacientes com câncer e disponibiliza ao paciente tratamentos de quimioterapia, radioterapia, hormonioterapia, vacinas imunoterápicas e agentes biológicos. Outro destaque é o grupo multiprofissional de cuidados paliativos, que envolve diversas áreas. Alameda Augusto Stellfeld, 1908 | Bigorrilho (41) 3240-5000 evangelico.org.br
ONGS E GRUPOS DE APOIO Instituto Humanista de Desenvolvimento Social (HUMSOL) A causa do Humsol é o Combate ao Câncer, o apoio aos pacientes e o alerta a prevenção. O Instituto foca em disseminar informações sobre a doença, por meio de palestras, danças, oficinas entre outras ações que colabore para a prevenção e conscientização da importância do diagnóstico precoce. Rua Marechal Deodoro, 252, 7º andar | Centro (41) 4106-7072 humsol.com.br Rede Feminina de Combate ao Câncer (RFCC) Formada por um grupo de aproximadamente 400 voluntárias e voluntários que atuam em diversos setores dentro e fora do Hospital Erasto Gaertner. Entre suas finalidades está auxiliar e dar assistência ao doente em tratamento no hospital. Rua Dr. Ovande do Amaral, 201 | Jardim das Américas (41) 3361-5000 erastogaertner.com.br
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vitoriosas
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Apoiar uma causa é vivê-la intensamente Por Nelson Luiz Asinelli Hasselmann* Perceber o quanto pode influenciar, auxiliar e contribuir na harmonia entre o serviço de saúde e o usuário é essencial para quem tem o dever de prestar um serviço à população. O Cedav Social, núcleo do Centro Diagnóstico Água Verde (Cedav), foi criado para dar visibilidade, voz e forma a ações voluntárias e cidadãs ligadas a área da saúde. Em uma parceria com o Instituto Humanista de Desenvolvimento Social (Humsol) e a Revista Viver Curitiba, o Cedav realiza desde 2012 o projeto “Apaixonadas pela Vida”, que tem em sua essência o coroamento da força de vontade do ser humano em permanecer vivo após enfrentar o mais terrível mal da nossa humanidade: o câncer. A cada edição da revista, uma vitoriosa tem seu espaço para dividir sua história com tantas outras pessoas. Esse projeto é de suma importância para elas, no sentido de enaltecer e divulgar uma história de vida, contada em poucas palavras, mas vivida em muitos anos de dor, mal-estar, queda de cabelo, náuseas, mau humor, conflitos familiares, abandonos,
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descobertas e novamente a vida plena. Assim a importância da
vida, de estar vivo e de ter conseguido passar por esse desafio mostra para todos nós que é possível, sim, viver após o pesadelo. Contar essas histórias, tornar pública sua vida e dividir sua experiência com os demais demonstram um ato especial de desprendimento e amor ao próximo, às pessoas que hoje passam pelo mesmo problema, que precisarão da mesma força e desse mesmo sorriso amigo. Além de ser inspirador para que outras Vitoriosas possam mostrar suas experiências, contribuindo com o grande aprendizado da vida. O grau de satisfação de cada voluntária do projeto “Apaixonadas pela Vida“ mostra que doar amor reverte sempre em mais amor. Em depoimentos que fizeram após participarem do projeto, essas mulheres esclarecem que a mera publicação de suas histórias, mesmo que duras e difíceis de recordar, contribuíram para que suas próprias vidas fossem fortalecidas em família, com os amigos e com a comunidade. 67
Assim agradecemos a experiência de mais de quatro anos de projeto, coroado com este livro que muito nos orgulha de termos feito parte. *Nelson Luiz Asinelli Hasselmann é assessor de marketing do Centro Diagnóstico Água Verde.
SOU CRISTIANE HAMMES, mas pode me chamar de vitoriosa. Tinha acabado de completar 37 anos quando fui diagnosticada com câncer de mama, em 2010. Fazia sempre exames periódicos e o susto foi grande quando recebi o diagnóstico, pois não apresentava fator de risco, nem histórico familiar. Soube que o tumor era muito agressivo logo após a cirurgia de retirada da mama. Fiz quimio, rádio, tive rejeição das próteses e fiz várias cirurgias de reconstrução. Não foi fácil, mas a fé em Deus, o apoio e as orações da família e minha vontade de superar o câncer foram
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essenciais.
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SOU TEREZINHA POSSEBOM, mas pode me chamar de vitoriosa. Em 2006, ao realizar uma mamografia de rotina fui diagnosticada com câncer de mama. O susto foi substituído por uma força interior que eu nem sabia ter. Passei por cirurgia de retirada e reconstrução, quimioterapia e acompanhamento médico até hoje. Com o apoio da família, em nenhum momento tivemos dúvidas do sucesso do tratamento, devido à nossa fé e confiança. Meu marido foi maravilhoso, sempre presente com otimismo e bom humor. Aprendi muito e principalmente que amor, carinho e dedicação
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são ingredientes essenciais na receita de nossa felicidade.
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SOU ROSÂNGELA CRISTINA DE SOUZA, mas pode me chamar de vitoriosa. Tenho 55 anos e estou enfrentando o câncer pela segunda vez. Desde que recebi o diagnóstico tenho aproveitado ao máximo todos os dias, mas sempre respeitando os meus limites. Acredito que tudo na vida é uma escolha: ou você vive em depressão ou luta pelo que acredita. Eu acredito que Deus me deu a vida e eu tenho que lutar por ela. Eu não digo para Deus que eu tenho um problema, eu digo para o meu problema que eu tenho um Deus e a energia que eu recebo dos meus amigos e família
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são essenciais para a minha recuperação.
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SOU CRISTIANE PIETRUK, mas pode me chamar de vitoriosa. Tenho 48 anos e recebi o diagnóstico de câncer de mama quando tinha 39. O câncer ainda estava em fase inicial, mas o nódulo estava crescendo muito rapidamente. Foi chocante para todo mundo. O mais difícil foi contar para o meu pai, pois minha mãe morreu de câncer de mama com uma idade próxima à minha. Mas ele aguentou o tranco e se mantém firme e forte até hoje. Meus amigos e família, principalmente meu marido, estiveram comigo durante todos os momentos me colocando para cima e
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me dando forças.
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SOU FERNANDA GEHR ALONSO, mas pode me chamar de vitoriosa. Em abril de 2015 descobri um nódulo no seio enquanto tomava banho e alguns dias depois recebi o diagnóstico de câncer de mama. Com apenas 27 anos e nenhum histórico familiar, eu fui escolhida para ter essa doença e encarei de cabeça erguida. No dia 26 de dezembro fiz minha última sessão de radioterapia e, olhando para trás, vejo o quanto aprendi com essa experiência. Eu encontrei uma força que não sabia que existia em mim e aproveitei para fazer coisas que sempre quis e nunca coloquei
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em prática.
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SOU MICHELE JAMCOSKI, mas pode me chamar de vitoriosa. Eu descobri meu câncer de mama por meio de uma mamografia e consegui me curar graças ao diagnóstico precoce. Meus filhos Gabriel e Daniel foram minha maior fonte de força. No começo foi difícil para as crianças entenderem, mas o carinho deles e do meu namorado tornaram tudo mais fácil. Acredito que tudo na vida tenha seu lado bom, então enxerguei na doença uma oportunidade para ajudar outras mulheres que passaram pela
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mesma situação. Por isso hoje sou voluntária do Humsol.
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SOU RACHEL TEREZINHA TYSKI, mas pode me chamar de vitoriosa. Quando eu tinha 50 anos perdi meu marido para o câncer e achei que a vida não tinha mais sentido. Dois anos depois tive o diagnóstico de câncer de mama, o que me deixou com muito medo de não poder ver minhas filhas crescerem. Mas eu venci e hoje tenho a alegria de ser vovó de três netos lindos. Eu sou a prova viva de que o câncer tem cura e que nós podemos retornar muito mais fortes dele. Algumas pessoas dizem que a doença está relacionada à tristeza, mas para mim ela é uma oportunida-
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de de renovação.
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SOU JOYCE MARA ANGELO COSTAMILAN, mas pode me chamar de vitoriosa. Descobri o câncer de mama ao realizar exames anuais e, como o diagnóstico foi precoce, o tratamento foi rápido e eficiente. Precisei ter forças para superar, pois queria acompanhar a evolução da vida de meus filhos. Além da família e dos amigos, o exercício físico, principalmente a corrida, me ajudou a passar por esse período. A endorfina lançada no corpo faz milagres! Também tive a oportunidade de ser uma das condutoras da tocha olímpica, pois sempre estive envolvida com esportes. Foi
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uma honra muito grande!
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SOU REGINA KOHUT SATO, mas pode me chamar de vitoriosa. Fui diagnosticada com câncer de mama em 2007, fazia os exames preventivos anualmente por ter histórico na família. Como trabalhava no setor de Oncologia num hospital, eu estava preparada para atender os outros, mas muitas vezes desanimei durante o tratamento, por ser tão doloroso e por necessitar de tantas cirurgias. Fiz 17 no total. Depois dessa batalha, aprendi a amar mais, ter muita fé e persistência. A superação é a maior
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vitória que pode existir.
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Prevenção do câncer da mama Por José Clemente Linhares* O câncer de mama é a doença maligna mais comum entre as mulheres no mundo inteiro, e uma das principais causas de morte entre elas. Aproximadamente metade dos casos novos pode ser atribuída a fatores de risco conhecidos, como a idade da primeira menstruação, do primeiro filho nascido e da menopausa, além da história de doenças proliferativas da mama. Cerca de 10% dos casos estão associados à história familiar de câncer de mama. Embora não se possa estabelecer uma relação clara, os riscos parecem ser modificados por fatores ambientais, estilo de vida e fatores demográficos. Conhecer o perfil de risco das pacientes permite rastrear lesões pré-malignas, bem como
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modificar os fatores com o intuito de reduzir a chance de câncer.
Segundo dados americanos, uma em cada oito mulheres vai desenvolver câncer de mama durante toda sua vida e esse risco aumenta com a idade. A incidência também é maior entre as mulheres brancas, embora os casos em afrodescendentes tendam a ser mais graves, com doenças mais avançadas ao diagnóstico, bem como perfil biológico mais agressivo. A maior parte das diferenças de incidência é atribuída ao estilo de vida, como a obesidade e o acesso a cuidados de saúde adequados. Entre os fatores de risco passíveis de modificação estão o tabagismo, o abuso de álcool e a obesidade (índice de massa corporal maior ou igual a 30 kg/m²). Essa última, por exemplo, quando associada à menopausa, aumenta bastante o risco. Um estudo europeu mostrou que o ganho de peso após os 40 anos aumenta o risco de desenvolver câncer de mama, contudo a perda de peso após essa idade não se associa à diminuição do risco. Possivelmente o aumento do risco relacionado à obesidade se deve ao aumento da conversão de estrogênio na gordura periférica e aumento dos níveis de insulina no sangue. Curiosamente, na pré-menopausa o aumento do índice de massa corporal está associado ao menor risco de câncer de mama e não há uma explicação clara para esse fato. Também é curioso que a estatura esteja relacionada ao aumento de risco para o câncer de mama, a ponto de mulheres com mais e 1,75 m terem 20% mais chance de ter câncer de mama que mulheres com menos de 1,60 m. Algumas doenças benignas da mama associadas a uma alteração celular chamada de atipia estão ligadas ao aumento de risco de desenvolvimento do câncer de mama, mas essa condição só é descoberta quando se faz uma biópsia mamária por algum motivo.
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O uso de terapia de reposição hormonal na menopausa está associado ao aumento de risco para determinados tipos de câncer de mama, porém o uso por períodos curtos, de 3 a 5 anos, não parece influenciar demasiadamente o risco. A influência do uso de anticoncepcionais e de estimulantes para ovulação para técnicas de fertilização in vitro (bebê de proveta) é controversa, contudo não parece haver aumento de risco para o câncer de mama. A idade da primeira menstruação é um fator de risco conhecido. Mulheres que tiveram a primeira menstruação após os 15 anos têm menor chance de desenvolver câncer de mama do que aquelas que tiveram a primeira regra antes dos 13. Um estudo mostra que cada ano de atraso na primeira menstruação reduz em 10% o risco de câncer de mama. Dessa forma, alternativas que atrasem de maneira natural a primeira menstruação, como exercícios físicos, por exemplo, podem reduzir esse risco. A idade da menopausa também se correlaciona com o risco, havendo um aumento de 1,03% ao ano para cada ano a mais da menopausa e esse risco é comparável ao uso de terapia de reposição hormonal. A idade do nascimento do primeiro filho também influencia no risco e esse também é um fator que pode ser controlado e alterado. Ter o primeiro filho após os 35 anos ou não ter filhos têm o mesmo risco. Para as mulheres cujo primeiro filho nasce até os 20 anos a redução de risco relativo é da ordem de 20%, contra 10% de redução aos 25 anos e aumento de 5% para as que têm o primeiro filho após os 35 anos. A história familiar de câncer de mama em parentes de primeiro grau aumenta o risco e este é diretamente proporcional ao
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número de parentes afetados. Embora este seja um fator incon-
trolável, serve como importante alerta para o comprometimento pessoal com exames de rastreamento. No que diz respeito aos hábitos de vida, já comentei a influência do abuso de álcool e tabaco. Um fato pouco comentado é o aumento de risco relacionado ao trabalho no turno da noite, já reconhecido como carcinogênico, provavelmente pela supressão noturna da produção de melatonina. Um estudo realizado em enfermeiras que trabalhavam em turnos após a meia-noite mostrou risco quase dobrado quando comparado com enfermeiras que trabalhavam durante o dia ou faziam rodízio nos turnos da noite. Outro grupo de mulheres que tem que estar atento é o daquelas expostas à irradiação, como as tratadas por linfomas, sobreviventes de acidentes atômicos, principalmente se a exposição ocorreu entre 10 e 14 anos de idade. Por outro lado, existem fatores protetores, como a amamentação e a atividade física. Estima-se que para cada 12 meses de amamentação tem-se 4,3% de redução de risco, a provável explicação é o retardo no restabelecimento das ovulações. Não há nenhuma prova que a inatividade física aumente o risco de desenvolvimento de câncer de mama, contudo a realização de exercícios físicos está associada a uma modesta redução no risco, principalmente na menopausa, e essa redução é proporcional à intensidade da atividade. Fonte: Up To Date.
*José Clemente Linhares é oncologista e mastologista.
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10 dúvidas sobre câncer de mama Por Dr. Vinicius Milani Budel* CAUSAS O câncer de mama é uma doença crônica causada pela proliferação das células que compõem a glândula mamária, sobretudo pelas células que formam os ductos que conduzem o leite até o mamilo. Não temos um único fator causal para o câncer de mama. É uma doença que pode ter vários fatores de risco, entre eles o principal é a longevidade, seguida dos fatores de risco familiar, a idade tardia do primeiro filho, os fatores hormonais como reposição hormonal prolongada na menopausa e fatores ambientais.
OBESIDADE A obesidade e, sobretudo, o aumento da cintura abdominal têm relação não apenas com o câncer de mama, mas com todas as doenças crônico-degenerativas, como a hipertensão, o diabete, as doenças cardiovasculares e os tumores hormonodependentes (relacionadas a hormônios).
IDADE O câncer de mama é mais comum em idades mais avançadas e quanto maior for a idade da mulher ou do homem, maior será o fator de risco para todas as neoplasias (ou tumores). Ocorre que a maior parte da população é constituída de pessoas mais jovens, isto é, a base da nossa pirâmide populacional é de pacientes jovens e, por isso, o câncer de mama aparenta ser tão frequente
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em mulheres jovens.
SINTOMAS Além do caroço no seio, alterações da pele das mamas e do mamilo podem ser importantes, como retrações e feridas, edema e vermelhidões chamados de “pele de laranja”, acompanhados de aumento de volume assimétrico das mamas que podem ocorrer em fases mais avançadas da doença. Além disso, gânglios ou linfonodos na axila podem ser palpados e, nas fases mais avançadas, pode ocorrer também o edema no braço do mesmo lado da mama afetada. Esses sintomas todos são mais comuns em fases mais avançadas da doença, o que pode ser evitado quando fazemos diagnóstico precoce.
AUTOEXAME Nem sempre é possível detectar a doença no início pelo toque. Um nódulo de um centímetro é pouco perceptível em muitas mamas, sobretudo aquelas mais densas e as mais volumosas. E a partir de um centímetro a doença tem mais chances de alcançar os gânglios linfáticos e avançar mais rapidamente. A recomendação do Inca é que a mamografia seja o exame de diagnóstico precoce.
TRATAMENTO O tratamento do câncer de mama é multidisciplinar, envolve vários médicos e outros profissionais da saúde. É, de modo geral, conduzida pelo mastologista. Entretanto, o patologista, o oncologista clínico, o cirurgião plástico, o geneticista e o psicólogo são frequentemente consultados, dependendo de cada caso. Os melhores resultados cosméticos e a melhor chance de cura dependem do diagnóstico precoce, quando os tumores são geralmente pequenos e não palpáveis. Quando as lesões são maiores, geralmente começa-se com a quimioterapia ou hormonoterapia
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e aguarda-se a regressão do tumor para depois operar com maiores chances de conservar a mama. O tratamento de radioterapia complementar é amplamente utilizado e individualizado para cada situação clinica.
CHANCES DE CURA São sempre maiores quanto mais precoce for o diagnóstico.
AMAMENTAÇÃO É importante não apenas para prevenção do câncer, mas também para uma vida saudável do recém-nascido, ao proteger das infecções mais importantes e oferecer o alimento mais adequado para o crescimento e o desenvolvimento do bebê.
PÍLULA ANTICONCEPCIONAL E REPOSIÇÃO HORMONAL Não existe comprovação que o contraceptivo hormonal possa desenvolver o câncer de mama. Entretanto, quando a doença já está instalada, a pílula deve ser suspensa. Já a reposição hormonal, quando em pacientes em período da menopausa, deve ser utilizada somente naquelas com sintomas, na menor dose possível e no menor período de tempo. Essa é uma recomendação geral que existe de acordo com várias especialidades, entretanto cada caso deve ser tratado com orientação individual.
PRÓTESE DE SILICONE A prótese pode, sim, dificultar o diagnóstico precoce, mas não existe comprovação de que o uso de prótese possa causar câncer de mama, caso contrário nós não a utilizaríamos para tratamento da reconstrução após a cirurgia de ressecção total ou parcial da mama.
*Dr. Vinicius Milani Budel é presidente da Regional Paranaense da Sociedade Bra-
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sileira de Mastologia (SBM).
O valor do diagnóstico precoce no câncer de mama Por Dr. Sergio Bruno B. Hatschbach* Em meus 40 anos como médico e oncologista, pude perceber que a pergunta mais frequente da paciente ao receber a confirmação de um diagnóstico de câncer de mama é: “E agora, doutor?”. A inversão ao título proposto deste capítulo é justamente mostrar o que pode ser feito antes de se receber o diagnóstico, para depois se iniciar o tratamento e vencer a batalha. A detecção precoce do câncer de mama aumenta, e muito, a possibilidade de cura e expectativa de vida. As formas mais eficazes são o exame clínico das mamas e a mamografia. Merece aqui um parêntese: muitas mulheres ainda têm medo de fazer a mamografia, por ouvirem dizer que dói e/ou que machuca. Na verdade, esse é um exame que é feito de forma rápida e pode, claro, provocar algum tipo de dor e desconforto, dependendo da sensibilidade de cada pessoa. A recomendação é que seja feito por mulheres acima de 40 anos, mas, dependendo do caso, poderá ser realizado antes, de acordo com o médico.
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Outra forma de detecção precoce do câncer de mama pode ser feita por meio de outros exames de imagem, sendo primordial o emprego de aparelhagem de alta tecnologia, que inclui imagens em 3D e mapeamentos de alta resolução. A orientação para que se faça uma mamografia digital em 2D e em 3D é porque ainda é o único método considerado referência e adequado para descobrir lesões em mulheres que não apresentem sintomas. A chamada mamografia 3D, ou seja, tridimensional, é bastante eficaz e tem capacidade de detectar um maior número de tumores na mama, muito mais do que em um exame convencional (2D). Além disso, facilita a análise das mamas das mulheres mais jovens, que têm tecido mamário mais denso e heterogêneo. Há também os aparelhos de alta tecnologia que permitem a realização de punções biópsias com percentagem extremamente alta de acertos em lesões mínimas não detectáveis pelo exame clínico. “Mas, doutor, para que fazer ultrassonografia se já fiz a mamografia?” é outra pergunta recorrente. Nesse momento é preciso, com muito cuidado, explicar que o exame de ultrassonografia auxilia no estudo de pacientes com mamas densas e que o exame tem uma sensibilidade de até 90% e especificidade (ou acerto) de até 95%. Esse exame é uma ferramenta valiosa e complementar à mamografia, tanto para a análise das imagens como para a realização das punções biópsias de nódulos sólidos não palpáveis quando necessárias. “Ai, doutor, não me assuste, pra que fazer ressonância magnética?”. Novamente vem o tato e a explicação de que se trata de um exame que é cada vez mais utilizado, justamente por propi-
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ciar um adequado método para se empregar em mulheres jovens
com mamas muito densas, em mulheres que têm implante de próteses e que apresentaram diagnóstico indefinido com métodos de mamografia e ecografia. Vale salientar que outra indicação para o uso da ressonância magnética diz respeito a situações em que há proposição de um futuro tratamento conservador, em casos de dúvidas quanto a lesões multifocais (lesões em outras áreas que não são identificadas pelo exame das mamas ou ecografia). Ainda com relação ao diagnóstico precoce, é importante também conversar com a paciente para verificar o histórico, se houve casos de câncer na família, que tipo, etc. Estudo recente mostrou que 5% a 10% de todos os casos de câncer de mama estão relacionados à herança de mutações genéticas, com característica de aparecimento da doença em mulheres jovens abaixo dos 40 anos. Por isso, o aconselhamento genético é, sem dúvida, fundamental para o melhor entendimento dos riscos – se a pessoa terá ou não câncer de mama, quais possibilidades, etc. – assim como para a futura aceitação de eventuais medidas preventivas e terapêuticas. Sempre digo às pacientes que a prevenção é muito importante, por isso é necessário verificar periodicamente a saúde, com ida ao médico, fazendo os exames solicitados e procurando adotar um estilo de vida mais saudável, praticando exercícios físicos e evitando a obesidade. Mas, afinal, qual é o valor do diagnóstico precoce no câncer de mama? É justamente o alto índice de curabilidade. Evitar a retirada das mamas (mastectomia) sempre que possível, reduzindo a terapêutica muito agressiva. E o mais importante: o aumento da expectativa de vida com qualidade. *Dr. Sergio Bruno B. Hatschbach é cancerologista/mastologista.
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Afinal, o que é a mamografia? Por Dr. Lucas Gennaro* Antes de conversarmos propriamente sobre esse popular exame, é necessário dizer o porquê ele se tornou tão relevante nos dias atuais. Para isso, destaco algumas estatísticas alarmantes do Ministério da Saúde, mostrando que anualmente são diagnosticados mais de 55 mil novos casos de câncer de mama, com mais de 12 mil mortes em decorrência da doença. Isso coloca o câncer de mama como o segundo tumor maligno de maior incidência (atrás apenas do câncer de pele) e principal causa de mortes por câncer entre as mulheres no Brasil. Infelizmente, a maioria dessas mortes poderia ser evitada não fosse a completa falta de informação a respeito da importância da mamografia e até a presença de alguns mitos relacionados a
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esse exame que contribuem para alimentar essa triste estatística.
Ao contrário de outros tipos de tumor nos quais existe um fator de risco diretamente relacionado (cigarro x câncer de pulmão; exposição solar x câncer de pele), apenas uma em cada quatro mulheres com câncer de mama apresentam histórico familiar da doença ou eram consideradas como pacientes de alto risco. Grande parte dos demais casos não tem qualquer fator de risco claramente identificável e, justamente por esse motivo, o diagnóstico precoce é o principal instrumento de combate à doença. Assim, no decorrer dessa conversa, vamos explicar detalhadamente a importância que a mamografia tem como grande aliada nesse desafio. Uma das perguntas mais frequentes é “Afinal, o que é a mamografia?”. Trata-se, na verdade, de um exame radiográfico das mamas, assim como os demais exames de raios x, no entanto, é realizado por meio de um equipamento desenhado especificamente para esse fim: o mamógrafo. O técnico ou tecnólogo em radiologia é o profissional responsável pela execução do exame. As imagens obtidas serão analisadas então por um médico radiologista que emite o parecer (laudo) que contém, além dos achados em geral, algumas recomendações. Todos sabemos, ou pelo menos já ouvimos falar, sobre como esse exame pode ser angustiante à paciente, seja pela expectativa do resultado ou desconforto durante sua realização. Porém, para se obter um bom resultado, é necessário que todos os envolvidos nesse processo tenham o mais alto grau de comprometimento, inclusive a paciente. Dessa forma, o posicionamento e a compressão adequada das mamas são cruciais para uma mamografia de alta qualidade, impactando diretamente no resultado final do exame. A mamografia é o único método que, comprovadamente, é capaz de reduzir o número de mortes por câncer de mama, pois permi-
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te, na maioria das vezes, o diagnóstico precoce da doença (identificando lesões não palpáveis em fases iniciais), gerando uma alta chance de cura (em mais de 90% dos casos) quando detectado nesse momento. Por esse e alguns outros motivos, é considerado o método de escolha para o rastreamento na população feminina em geral, independentemente dos fatores de risco e das demais tecnologias existentes. De acordo com as recomendações das principais sociedades relacionadas ao tema (Colégio Brasileiro de Radiologia e Sociedade Brasileira de Mastologia), o exame mamográfico de rastreamento deve ser realizado anualmente em mulheres com idade a partir dos 40 anos. No entanto, com base em determinados fatores de risco específicos, a idade de início do rastreamento pode ser antecipada ou, eventualmente, a avaliação adicional com outros métodos de imagem (como a ultrassonografia e ressonância magnética) pode ser considerada de acordo com os achados mamográficos. O que vai nortear a utilização de métodos adicionais de imagem, ou outras formas de rastreamento, está essencialmente relacionado aos achados iniciais à mamografia e aos dados do exame clínico. Não permitam que a desinformação continue a nutrir essa estatística tão negativa que até hoje o câncer de mama nos traz. Lembrem-se: a mamografia salva vidas! Converse com seu médico, agende o exame e não deixe de compartilhar essas informações com as mulheres que você ama. *Dr. Lucas Gennaro é médico radiologista, membro titular do Colégio Brasileiro
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de Radiologia e Diagnóstico.
Mitos e verdades sobre a mamografia Por Lealiz Freitas* O exame da mamografia é o primeiro passo na luta contra o câncer de mama, porém, para muitas mulheres, esse procedimento ainda causa medo. Esse sentimento decorre geralmente do desconforto físico ocasionado pela compressão das mamas, que é necessária para a melhor visualização da imagem, possibilitando um diagnóstico preciso. Por ser um momento muito sensível, que depende de inúmeros fatores, como densidade mamária, estado emocional, período menstrual, reposição hormonal, procuramos sempre transmitir confiança e o máximo de informações necessárias para diminuir a preocupação da mulher. O tempo estimado para a realização da mamografia é de 10 minutos e para que todo o procedimento ocorra tranquilamente é recomendado que a paciente agende seu horário após o período menstrual, em que a sensibilidade das mamas é menor. Outro detalhe que se deve atentar é que a paciente não utilize desodorante nas axilas, pois este pode provocar alterações nas imagens e nesse caso o exame necessita ser refeito.
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Além do incômodo físico, é corriqueiro que algumas mulheres façam o exame temendo pelo resultado. Esse receio deve ser desmistificado, pois o diagnóstico precoce aumenta expressivamente as chances de cura.
Compressão Mito: A compressão provoca lesões internas, ocasionando dores nas mamas. Verdade: A compressão não machuca as mamas porque é feita de forma gradativa, sem impacto e por um período ínfimo, sendo fundamental para a realização do exame.
Nódulos Mito: A existência de nódulos sempre indica câncer de mama. Verdade: Nódulos benignos não se transformam em câncer de mama. Acontece que em determinados períodos da vida da mulher as oscilações hormonais interferem na aparição de nódulos e esses não são cancerígenos.
Próteses Mito: Mulheres com implante de silicone não podem fazer mamografia devido à compressão que pode estourar as próteses. Verdade: No exame de mamografia a compressão é fundamental. No caso das mulheres com prótese de silicone, o único inconveniente é ter que se sujeitar a fazer mais duas posições chamadas de Manobra de Ecklund, para que se possa avaliar o tecido mamário que fica escondido pela prótese. Não há chance de rompimento, pois as próteses são bem flexíveis e o trabalho é executado por profissionais competentes.
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*Lealiz Freitas é biomédica do Centro de Diagnóstico Água Verde.
Entenda a mastectomia Por Dr. Cícero Urban* Muitas mulheres têm dúvidas sobre a mastectomia, que é a cirurgia de remoção total da mama. Um dos questionamentos mais frequentes é se todas as mulheres diagnosticadas com câncer de mama vão precisar passar por esse procedimento. A resposta é não. Na verdade, a maioria delas pode ter suas mamas preservadas. Por isso, o rastreamento mamográfico é tão importante. Por meio dele podemos diagnosticar precocemente o câncer e tratá-lo com cirurgias menos agressivas. Porém, existem situações nas quais mesmo com tumores pequenos é preciso retirar toda a mama. Tudo depende do tamanho da mama e também de algumas características específicas do tumor, que precisam ser avaliados pelo mastologista.
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A cirurgia hoje está bem mais individualizada e menos agressiva do que há 30 ou 40 anos atrás. Procuramos obter o máximo da eficácia com o mínimo da radicalidade. Ou seja, é preciso realizar um tratamento proporcional ao tamanho e à agressividade biológica do tumor. É importante dizer que câncer de mama não é uma única doença, mas uma classe de doenças, que podem variar desde tumores pouco agressivos, até os que exigem que utilizemos todas as armas disponíveis. A cirurgia pode ser parcial ou uma mastectomia. Nos dois casos procuramos realizar a cirurgia reparadora – de reconstrução mamária – no mesmo momento da cirurgia do câncer. A reconstrução é, portanto, parte integrante do tratamento. O pós-operatório exige alguns cuidados que são dependentes do tipo de cirurgia que a paciente foi submetida. De maneira geral, é importante evitar atividades físicas mais intensas nas primeiras semanas, realizar fisioterapia precocemente e evitar o sol nas cicatrizes durante alguns meses. Algumas pacientes necessitam de drenos, que também exigem cuidados especiais. Mas, de maneira geral, o pós-operatório é tranquilo. Sempre digo para as pacientes que, na maioria das vezes, o pós-operatório e a cirurgia são mais tranquilos do que elas imaginam. Depois de realizado o procedimento, o ideal é que a paciente possa levar uma vida normal. É isto o que buscamos – a qualidade de vida –, não apenas a cura. Porém, sabemos que isso nem sempre é fácil. A mama é um órgão muito delicado para a autoestima feminina, para sua saúde física, sexual e psicológica. Assim, existem muitos aspectos envolvidos na superação dessa doença
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e isso exige uma equipe multidisciplinar e integrada.
Outra dúvida recorrente sobre o assunto é a mastectomia redutora de risco, que, como o nome já diz, tem o objetivo de reduzir o risco de câncer de mama. É importante salientar que mesmo fazendo uma mastectomia não é possível zerar esse risco. É a forma mais radical de prevenção, é irreversível e com riscos de complicações, arrependimento e interferências na qualidade de vida e na vida sexual da mulher. Quem realmente pode se beneficiar desse tipo de cirurgia são as mulheres portadoras de mutações, ou seja, câncer de mama hereditário. Então, não basta ter história familiar positiva, ou querer fazer a cirurgia. É preciso uma avaliação criteriosa de risco genético, clínico e dos impactos psicológicos desse tipo de decisão. Somos procurados com frequência por pacientes que querem fazer essa cirurgia, mesmo sem apresentarem alto risco. Assim, é importante destacar que são cirurgias de grande porte e com complicações que podem ocorrer entre 10% e 30% dos casos. Uma mama reconstruída, por melhor que seja o seu resultado, não será como a mama normal. E isso pode trazer um impacto negativo na vida dessa mulher. Em pacientes selecionadas, os benefícios da mastectomia redutora de risco são evidentes, mas em pacientes de risco moderado ou baixo, os riscos da cirurgia não se justificam. *Dr. Cícero Urban é mastologista do Hospital Nossa Senhora das Graças.
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Câncer de mama e sua reconstrução Por Dr. Renato da Silva Freitas e
Maria Cecília Closs Ono* A mama tem para as mulheres várias simbologias, como a beleza, sensualidade e maternidade. A cirurgia plástica mais realizada em nosso meio hoje é a de próteses mamárias, demonstrando a relação desse órgão com a melhora da autoimagem delas. Por outro lado, o diagnóstico de câncer de mama é muito impactante. As que se submeteram a mastectomia, ou serão submetidas, sofrem psicologicamente por sentirem-se mutiladas, com baixa da sua autoestima. Depressão é um estado muito frequente e deve ser abordado para que o tratamento transcorra da melhor maneira possível. O diagnóstico do câncer de mama traz para a mulher uma série de sentimentos estressantes, compatíveis com
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o enfrentamento de uma doença que ameaça sua integridade
física, que exige cuidados intensivos e traz repercussões emocionais relacionadas a um tratamento longo, invasivo e que pode estar associado a complicações e intercorrências. Sentimentos como angústia, insegurança e preocupações com o tratamento, efeitos colaterais e a sobrevida tornam o processo mais doloroso ainda para ser superado. Dessa forma, o câncer de mama precisa ser pensado em toda a sua complexidade. A mulher acometida pela doença tem não apenas mudanças físicas evidentes, mas também vivencia mudanças em sua vida social e afetiva. A feminilidade torna-se comprometida pela mutilação de parte do corpo feminino e as dores psíquicas tornam-se tão profundas quanto as dores físicas. Mulheres com câncer de mama são atendidas pelo mastologista ou oncologista e recebem informações sobre seu diagnóstico, a sequência do tratamento (há muitas etapas para se atingir a cura) e prognóstico. O cirurgião plástico que será responsável pela reconstrução da mama deve, nos momentos que antecedem o procedimento, apresentar as opções de reconstrução e as perspectivas estéticas da paciente em questão. Muitas delas desejam somente a retirada da mama, assustadas com o diagnóstico sombrio do câncer. Nós, cirurgiões plásticos, temos que mostrar a nossas pacientes que esse momento duro e sofrido da descoberta da doença e da retirada da mama é somente uma fase que passará mais rápido que ela possa imaginar. E que, daqui a seis meses, esse furacão deixará de existir, e que ela vai, sim, querer que sua mama seja bela. Nesse âmbito, torna-se imprescindível a tentativa de melhorar a qualidade de vida dessas pacientes. O tratamento adequado, associado ao diagnóstico cada vez mais precoce, tem levado à cura em muitos casos. Os procedimentos de reconstrução de mama, quando indicados, atuam como parte importante da reinserção
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da mulher com câncer de mama à sociedade, e mais do que isso, melhora da sua autoestima, trazendo esperança de dias menos dolorosos e volta à normalidade. Mas o que é a reconstrução da mama? Ela consiste em procedimentos cirúrgicos realizados não necessariamente no mesmo dia, que visam reconstituir a mama – ou a parte dela – que foi retirada para o tratamento do câncer, de forma a reestabelecer a aparência o mais próximo possível de seu aspecto antes do tratamento do câncer. Os resultados finais podem trazer para a paciente uma mama de aspecto bastante natural, logicamente dependendo do tipo de mastectomia, da extensão das cicatrizes necessárias para retirar o tumor e dos tratamentos associados que tenham sido necessários para o tratamento da doença (quimioterapia e radioterapia). São várias as opções de reconstrução e cada paciente deve optar levando em consideração aspectos que vão desde as indicações médicas, passando pelos seus próprios desejos até a análise de seu perfil socioeconômico-cultural. No planejamento da reconstrução, algumas respostas devem ser obtidas. A primeira questão diz respeito ao momento em que será realizada. A reconstrução imediata, realizada no mesmo tempo da mastectomia, permite à paciente não passar pelo chamado “luto da mama”. Dessa forma, é inegável seu benefício psicológico. Entretanto, é importante frisar que, mesmo estando disponível inclusive para as pacientes atendidas pelo SUS, a reconstrução imediata somente é indicada se não comprometer o tratamento do câncer de mama e se as condições clínicas das pacientes assim permitirem. A segunda resposta no planejamento da reconstrução é como ela será feita. Temos a opção pela utilização de implantes mamários ou a reconstrução com tecidos autólogos (oriundos da
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própria paciente). Aqui devem ser discutidos principalmente
aspectos como idade da mulher, desejo de forma e volume da mama reconstruída e principalmente se a paciente tem ou não áreas de flacidez e sobra de pele disponíveis para a confecção de um retalho (que virá a substituir a mama retirada). Aspectos como o estágio da doença, indicação de tratamentos auxiliares como radioterapia e quimioterapia precisam ser analisados em conjunto e também influenciam na escolha do melhor método a ser utilizado. Independentemente da opção feita pela mulher e seu cirurgião plástico, é importante que ela se sinta segura com a escolha e entenda todo o procedimento, a fim de participar de forma mais cooperativa e consciente possível, durante todo o processo. Expectativas realísticas devem ser sempre discutidas e esclarecidas, levando-se em consideração as particularidades de cada paciente. É absolutamente normal que as pacientes experimentem momentos de ansiedade e nervosismo diante da necessidade de mais tempos cirúrgicos, incertezas e possibilidades de complicações e intercorrências trazidas pelos procedimentos de reconstrução da mama, e a equipe que as recebe deve estar preparada para acolher e responder ao máximo de dúvidas possível. A reconstrução de mama tem-se mostrado um grande alento ao impacto sofrido pela perda da mama, associado ao medo diante de um longo e agressivo tratamento. Ela permite restaurar a sua imagem corporal, afetividade e autoestima, contribuindo de forma indiscutível para a melhora da sua qualidade de vida. *Dr. Renato da Silva Freitas é médico-chefe do Serviço de Cirurgia Plástica do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná. *Profª. Maria Cecília Closs Ono é responsável pelo Serviço de Reconstrução Mamária do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná.
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ANOS
Patrocínio
Apoio 111
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“Este é o nosso Deus, dele esperávamos que nos salvasse, este é o SENHOR, nele confiamos, vamos exultar de alegria porque ele nos salvou”. Is 25:9 113
Créditos Furacão Rosa Texto: Luís Fernando Carneiro Foto: Amanda Assumpção (Revista Viver Curitiba 125) Força, Fé e Foco Texto: Luís Fernando Carneiro Foto: Fer Cesar (Revista Viver Curitiba 125) Filha e mãe, mãe e filha Texto: Rubens Binder Foto: Patrícia Amancio (Revista Viver Curitiba 131) Uma linda mulher Texto: Angélica Mujahed Foto: Patrícia Amancio (Revista Viver Curitiba 131) Sobre viver Texto: Rubens Binder Foto: Mariana Barcellos (Revista Viver Curitiba 131) Projeto Vitoriosas Fotos Bruno Santos Mensagem ao coração Ilustração
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Carlos Chá
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Desenvolvido em parceria com o Instituto Humsol e com a curadoria da sua presidente, Tânia Mary Gomez, o livro Pense em Você faz parte de um projeto da Revista VIVER Curitiba que visa informar, inspirar e até desafiar mulheres para que pensem em si mesmas, para que se cuidem e façam seus exames periodicamente. Embarque com nossas vitoriosas nessa jornada de superação e descubra que a prevenção vai muito além do Outubro Rosa.