R E T R O S P E C T I VA C R ร T I C A SOBRE A PEDOLOGIA Um repasse bibliogrรกfico
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Universidade Estadual de Campinas Reitor José Tadeu Jorge Coordenador Geral da Universidade Fernando Ferreira Costa
Conselho Editorial Presidente Paulo Franchetti Alcir Pécora – Arley Ramos Moreno Eduardo Delgado Assad – José A. R. Gontijo José Roberto Zan – Marcelo Knobel Sedi Hirano – Yaro Burian Junior
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Carlos Roberto Espindola
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ficha catalográfica elaborada pelo sistema de bibliotecas da unicamp diretoria de tratamento da informação Es65r
Espindola, Carlos Roberto. Retrospectiva crítica sobre a pedologia: um repasse bibliográfico / Carlos Roberto Espindola. – Campinas, sp: Editora da Unicamp, 2008. 1. Pedologia (ciência do solo). 2. Morfogênese – Pedogênese. 3. Solos tropicais. 1. Título. cdd
isbn 978-85-268-0807-2
631.4 574.332 631.47
Índices para catálogo sistemático: 1. Pedologia (ciência do solo) 2. Morfogênese – Pedogênese 3. Solos tropicais
631.4 574.332 631.47
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A P R E S E N TA Ç Ã O
Desde há muito, tenho-me entretido com tentativas para determinar amplitudes, tanto de conceitos quanto de atributos (características, propriedades e parâmetros) dimensionados por medidas de avaliação. Cogito, ainda, sobre a amplitude de atributos de tantas coisas e idéias quantas se possam considerar. Penso na aceitação de uma idéia, de uma informação, de um princípio, de um dogma e percebo, como resultado da experiência de vida, que há graus de aceitação. Vêm à lembrança as opções oferecidas em testes e enquetes, variando de “discordo totalmente” a “concordo plenamente”. Essa observação permite afirmar que, havendo graus de aceitação, deverá haver uma amplitude de aceitação configurada como acreditar. E quais serão os limites dessa amplitude? Vamos postular que os graus de aceitação, de crença, se situam entre o ceticismo extremado e a credulidade plena. Os céticos adotam a atitude de não-aceitação até que haja prova, enquanto os crédulos aceitam sem exigir demonstração. Para estes, o gradual acúmulo de evidências resulta na manifestação de indagações e questionamentos que, se resolvidos, poderão conduzir à rejeição ou à completa aceitação. Sabemos, por definição, que a pedologia, entendida como estudo do solo (pedon = solo; logos = estudo), dispõe de considerável acervo de informações publicadas na forma de artigos, ensaios e livros, além de relatórios de pesquisa acessíveis por meio de bibliotecas e de instituições diversas. Acrescentem-se a esse volumoso cabedal as opiniões e comentários pronunciados em encontros, conferências e debates, que ficam incorporados ao conhecimento individual, sendo acessíveis em função da memória e da inteligência de cada um. Essas considerações são colocadas aqui como intróito para a apresentação do livro de autoria de Carlos Roberto Espindola, contendo uma resenha histórica da pedologia, pois o trabalho apresentado pelo autor pode ser percebido, por quem o conhece há muitos anos, como um reflexo de sua posição, atitude e grau de aceitação (na amplitude entre o ceticismo e a credulidade), da herança de conceitos, postulados e informações pedológicas
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que encontrou ao iniciar seus estudos do solo, somados ao contínuo acréscimo de novos dados e idéias vinculados em publicações (relatórios de pesquisa, livros e outros veículos). Esse somatório, não estático, configura um manancial que, aparentando uniformidade e concordância de conceitos básicos e princípios científicos, é, na realidade, uma coleção ainda não concluída, crivada de conflitos, contradições e incongruências. Espindola, ao colocar o assunto ao alcance do leitor compromissado a entender de que trata a pedologia e empenhado em examinar seus fundamentos, mostra ser nem cético nem crédulo. O texto de seu livro, composto de citações de um grande número de autores, encadeadas e interligadas pelos comentários que ele apresenta, mostra uma aparente neutralidade para poder utilizar, como elemento condutor da essência dos conhecimentos que constituem a pedologia, a história de sua evolução, desde os primórdios até o presente. Intelectualmente situado a meio caminho da amplitude do acreditar, Espindola, como escritor, utiliza a construção dos parágrafos para permitir ao leitor entrever, ao percorrer o intervalo da amplitude do acreditar, quando ele mesmo é crédulo e quando é cético, parecendo convidar o leitor a acompanhá-lo, tornando-se, também, um estudioso da diversidade de pedons que recobrem nosso planeta. É nessa conjuntura que a resenha bibliográfica comentada do “pedonlogo” Espindola consegue dar ao leitor a mesma oportunidade que teve: estudar e meditar para chegar a suas próprias conclusões e deslocar-se, eruditamente, para o centro da amplitude do acreditar. Permito-me concluir recomendando não apenas a leitura cuidadosa das páginas deste livro, mas também a consulta da literatura citada. Esse é o comportamento de quem busca respostas a suas indagações, lembrando que as respostas dão informações, mas é a compreensão das respostas que cria a sabedoria. As citações oferecem a malha que estimula a buscar, no contexto das obras, o pensamento dos autores. Quanto a mim, sigo tentando ser fiel a esta máxima: “Acredito naquilo que entendo, mas aceitarei, sem acreditar, se for convincente”. Zilmar Ziller Marcos ESALQ–USP
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DISTINÇÕES E HOMENAGENS
O ofício de tentar um resgate da evolução da pedologia impeliu o promotor dessa tarefa à sua própria inserção nesta história, conduzindo-o, inicialmente, ao retorno à graduação e à pós-graduação em Piracicaba, facultando-lhe a possibilidade de, neste momento, expressar o sentimento de gratidão a seus antigos mestres e colegas por aquela importante etapa de aprendizado, com especiais menções aos então professores da ESALQ: Ruy de Araújo Caldas, Geraldo Victorino de França e Antonio Carlos Teixeira Mendes. Na carreira universitária, a mesma atenção há que ser dirigida aos companheiros da UNESP de Botucatu, Ilha Solteira, Jaboticabal e Rio Claro, pela intensa troca de conhecimentos e vínculos de amizade estabelecidos, que vêm resistindo ao longo dos anos. A colaboração na implantação da Agronomia em Taubaté também possibilitou condições análogas, além do ensejo do envolvimento com atividades administrativas e o enfrentamento de compatibilizá-las com a docência, a pesquisa e a extensão, num processo que acabou sendo recorrente ao longo da carreira. O estimulante convívio com mestres e alunos da Geografia da USP foi singularmente definitivo para a sedimentação de conhecimentos, sobretudo para o melhor entendimento das relações pedogênese–morfogênese, que vieram a se ampliar com o treinamento na ORSTOM, em Bondy (França), com o doutor Pierre Ségalen. A intensificação nas relações decorrentes de sucessivos acordos CAPES/COFECUB — cursos, trabalhos de campo, discussões em grupos, missões de trabalho, orientações e aprimoramento de técnicas de pesquisa — constituiu fonte de inigualável aprendizado para todos os participantes do “Grupo Nós Tradamos”, do qual emergiram eminentes pesquisadores e professores de instituições de inquestionável prestígio científico. Expressar agradecimento para tamanha dimensão de aprimoramento poderia resultar num sonido redundante e altamente reducionista. Contudo, fica o lamento amargo pela abortada possibilidade de vínculo direto (empregatício) com a USP, devidamente compensada com a acolhida propiciada pela UNICAMP, com novos desafios aos rumos da carreira. A pesquisa assumiu, então, outras abrangências, a partir de aprimoramentos propiciados em Québec, pelos doutores Jean Caron (Université
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Laval) e Denis Angers (Agriculture Canada), bem como em Montpellier (França), pelo doutor Christian Feller (ORSTOM). A qualidade dos solos ensejou o envolvimento de diversos alunos de graduação e pós-graduação na Engenharia Agrícola; assim também a temática dos solos tropicais, estendida ao Curso de Ciências da Terra, do Instituto de Geociências. A direção de uma unidade de ensino do quilate da Faculdade de Engenharia Agrícola representou também um momento ímpar da carreira, com ensejo a um estreitamento de ricas relações com o corpo de servidores da Unidade. O desligamento propiciado pela aposentadoria (1999) foi apenas parcial, tendo em conta as atividades na pós-graduação, que têm tido continuidade, simultaneamente à nova experiência proporcionada pelo vínculo com a educação técnica/tecnológica, no Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza, em São Paulo, ensejando novas perspectivas de ação. A todos os envolvidos nesta história, o profundo reconhecimento e as homenagens, pelo que souberam proporcionar, com especial distinção ao emérito professor da USP — doutor José Pereira de Queiroz Neto —, no entender do autor, exemplo mais apropriado de alguém que pode ser designado pedólogo. *** Impossível, no momento, deixar de reverenciar o saudoso Lucedino Paixão Ribeiro, pedólogo querido por todos.
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SUMÁRIO
ÍNDICE DE QUADROS
.............................................................................................................................................
ÍNDICE DE ILUSTRAÇÕES
.....................................................................................................................................
PRÓLOGO — PROPÓSITOS DO TRABALHO
.........................................................................................
1 — ABRANGÊNCIA DA CIÊNCIA DO SOLO
........................................................................................
13 15
17 BIBLIOGRAFIA ................................................................................................................................................................... 24
BIBLIOGRAFIA
...................................................................................................................................................................
2 — SURGIMENTO DOS SOLOS NO PLANETA
27 35
39 BIBLIOGRAFIA ................................................................................................................................................................... 53 ...................................................................................
3 — OS PRIMÓRDIOS DE UMA CIÊNCIA PARA ESTUDO DOS SOLOS ............................ 57 3.1 Solo — Substrato de plantas e material geológico ............................................................. 57 3.2 Dokuchaev e a zonalidade dos solos ............................................................................................. 60 BIBLIOGRAFIA ................................................................................................................................................................... 66 4 — AVANÇOS INICIAIS NA PEDOLOGIA PÓS-DOKUCHAEV
69 BIBLIOGRAFIA ................................................................................................................................................................... 85 .................................................
5 — LEVANTAMENTOS DE SOLOS ............................................................................................................... 89 5.1 Ascensão e declínio dos levantamentos pedológicos ....................................................... 89 5.2 Levantamentos com classificações técnicas ........................................................................... 97 5.3 Técnicas auxiliares em levantamentos de solos ................................................................ 102 BIBLIOGRAFIA ................................................................................................................................................................ 107
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6 — CARACTERIZAÇÕES PEDOLÓGICAS DE ROTINA ................................................................. 117 6.1 Atributos morfológicos (campo) e análise mecânica (laboratório) .................... 117 6.2 As camadas genéticas — Horizontes ......................................................................................... 124 BIBLIOGRAFIA ................................................................................................................................................................ 133 7 — EVOLUÇÃO DAS CLASSIFICAÇÕES TAXONÔMICAS ......................................................... 139 7.1 Referencial taxonômico norte-americano e da FAO ...................................................... 139 7.2 Sistema brasileiro de classificação .............................................................................................. 144 7.3 Representatividade das classes de solos do mundo ........................................................ 151 7.4 Perspectivas de aprimoramento dos sistemas classificatórios ................................ 156 BIBLIOGRAFIA ................................................................................................................................................................ 164 8 — ALTERAÇÕES MINERALÓGICAS NAS FORMAÇÕES SUPERFICIAIS DOS TRÓPICOS ÚMIDOS ................................................................................. 169 8.1 Caracterização da Fração Mineral Coloidal — “As Argilas” .................................. 171 8.2 Caracterização da Fração Grosseira dos Solos — “As Areias” ............................. 185 BIBLIOGRAFIA ................................................................................................................................................................ 194 9 — TRANSFORMAÇÕES DA MATÉRIA ORGÂNICA NOS SOLOS TROPICAIS .................................................................................................................................... 203 BIBLIOGRAFIA ................................................................................................................................................................ 213 10 — OS SOLOS COMO UM SISTEMA CONTÍNUO BIBLIOGRAFIA
......................................................................
................................................................................................................................................................
11 — COBERTURAS PEDOLÓGICAS TROPICAIS: MANTOS SEDENTÁRIOS OU EM TRÂNSITO?
217 240
249 BIBLIOGRAFIA ................................................................................................................................................................ 269 ....................................................................
12 — PEDOLOGIA, PRÁTICAS AGRÍCOLAS E SUSTENTABILIDADE ................................ 277 12.1 Impactos negativos do uso agrícola dos solos .............................................................. 278 12.2 Organização interna do solo — Estrutura ........................................................................ 282 12.3 Indicadores da qualidade dos solos ....................................................................................... 289 12.4 Adição de resíduos aos solos agrícolas .............................................................................. 293 12.5 Degradação, recuperação de solos e dinâmica do carbono ................................. 297 BIBLIOGRAFIA ................................................................................................................................................................ 303 13 — ALTERAÇÕES VOLUMÉTRICAS DO SOLO PELO MANEJO AGRÍCOLA ............................................................................................................................. 313 BIBLIOGRAFIA ................................................................................................................................................................ 323 14 — AS INTERFACES DA PEDOLOGIA COM A BIOLOGIA DO SOLO ............................ 329 BIBLIOGRAFIA ................................................................................................................................................................ 337
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15 — AGROECOLOGIA, AGRICULTURA ORGÂNICA, AGRICULTURA BIODINÂMICA ...................................................................................................... 343 BIBLIOGRAFIA ................................................................................................................................................................ 354 16 — ENSINO E TREINAMENTO EM PEDOLOGIA ........................................................................ 359 16.1 O solo nas grades curriculares .................................................................................................. 360 16.2 Peculiaridades no ensino da ciência do solo .................................................................. 363 16.3 Formação e treinamento de pessoal em pedologia .................................................... 368 BIBLIOGRAFIA ................................................................................................................................................................ 378 EPÍLOGO — O FUTURO DA PEDOLOGIA ............................................................................................ 385 17.1 Os avanços e percalços da pedologia ................................................................................... 385 17.2 O futuro da ciência do solo .......................................................................................................... 389 BIBLIOGRAFIA ................................................................................................................................................................ 394 AGRADECIMENTOS
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ÍNDICE DE QUADROS
1.1 2.1 2.2 2.3 2.4 3.1 4.1
Definições de solo .................................................................................................................................................. Escala geológica do tempo ............................................................................................................................... Solos e superfícies de aplainamento do Nordeste brasileiro ...................................................... Condições climáticas nos Estados Unidos/Europa e Brasil no Cenozóico ....................... Correlações taxonômicas nas Ordens de solos do Canadá e dos Estados Unidos ........ Classificação de solos conforme Dokuchaev ....................................................................................... Classificação norte-americana de Baldwin, Kellogg e Thorp (1938), com menção aos Pedocals e Pedalfers, de Marbut (1927) ........................................................... 4.2 Solos das subordens dos Podzolizados e Lateríticos de Baldwin, Kellogg e Thorp (1938) e de Thorp e Smith (1949) ......................................................................... 4.3 Legenda dos solos do Estado de São Paulo (Brasil, 1960), com menção à natureza dos substratos ..................................................................................................... 4.4 Correspondência aproximada entre as classificações de Paiva Netto et al. (1951) e Brasil (1960) para o Estado de São Paulo .................................. 7.1 Designativos de solos da classificação norte-americana .............................................................. 7.2 Classes do Mapa Mundial de Solos ............................................................................................................ 7.3 Chave para os Grupos de Referências dos Solos ............................................................................... 7.4 Correlação entre os sistemas brasileiro, FAO (1974) e USA (1975) .................................... 7.5 Distribuição geográfica dos solos do mundo ........................................................................................ 8.1 Minerais da fração argila predominantes nas classes de solos do sistema norte-americano de classificação ............................................................................................... 8.2 Resistência crescente dos minerais à alteração ................................................................................. 8.3 Distribuição porcentual dos minerais pesados transparentes na areia de solos basálticos ................................................................................................................................................. 10.1 Aspectos e tendências da evolução em pedologia ............................................................................. 12.1 Indicadores físicos e biológicos de qualidade dos solos ...............................................................
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33 40 47 49 50 63 73 78 80 81 140 141 143 146 152 184 186 188 218 291
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ÍNDICE DE ILUSTRAÇÕES
1.1 2.1
Representação da pedosfera ........................................................................................................................... Glaciação continental na América do Norte durante o Quaternário — Pleistoceno ..................................................................................................... 2.2 Extensão das glaciações e de depósitos de loess na Grã-Bretanha ....................................... 2.3 Distribuição dos solos lateríticos no mundo ....................................................................................... 2.4 Mudanças climáticas e desenvolvimento de solos na Austrália ............................................. 2.5 Repartição das superfícies de aplainamento no Nordeste brasileiro ................................... 2.6 Cronologia relativa das coberturas pedológicas no Brasil ......................................................... 2.7 Modalidades de ambiente tropical ............................................................................................................. 4.1 Carta esquemática dos solos do mundo desenvolvida por Glinka, Marbut e Kellogg, segundo Demolon (1949) .................................................................... 4.2 Denominações antigas de solos brasileiros .......................................................................................... 4.3 Solos do Estado de São Paulo com as designações usadas por Paiva Netto et al. (1951), em fac-símile ....................................................................... 4.4 Coleta de amostras por profundidades preestabelecidas (Paiva Netto, 1947), em fac-símile ............................................................................................................. 5.1 Possibilidades e limitações de uso das terras em função da intensidade de uso .......... 8.1 Intensidade das alterações sob diferentes condições climáticas ............................................ 8.2 Foto do Morro de Rubião Júnior ................................................................................................................. 8.3 Aparelho de raios X Siemens, com demonstração da localização da ampola ............... 8.4 Detalhe do aparelho Siemens com os cilindros onde se colocavam os filmes a receber as radiações ......................................................................................... 8.5 Difratograma da crosta de basalto alterado .......................................................................................... 8.6 Principais coberturas de alteração no Brasil ....................................................................................... 8.7 “Desertificação” causada por podzolização na zona da mata da Paraíba .......................... 8.8 Representação das alterações minerais em seqüência topográfica ....................................... 8.9 Minerais pesados transparentes da fração areia de solos basálticos ..................................... 10.1 Instalação e distribuição de couraças ....................................................................................................... 10.2 Perfis de solos com diferentes cores, por influência das condições topográficas ........
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34 42 42 43 45 47 48 52 72 74 75 76 100 170 172 173 174 177 178 182 184 188 219 220
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10.3 10.4 10.5 10.6 10.7 10.8 10.9 10.10 12.1 12.2 12.3 12.4 12.5 12.6 12.7 13.1 16.1
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Retrospectiva crítica sobre a pedologia
Catena de solos em materiais de origem arenosos, em Israel ................................................ Representação dos fluxos hídricos em seqüência topográfica ............................................... Unidades de organização e hierarquia das estruturas pedológicas ..................................... Sucessão de solos em transformação, em Casamance (Senegal) ........................................ Simetrias possíveis das coberturas pedológicas ............................................................................. Fluxos hídricos preferenciais em toposseqüência de solos em transformação ........... Basalto alterado sujeito à ação de térmitas ........................................................................................ Seção delgada do horizonte B de solo de transição ...................................................................... Representação da queda de fertidade de uma “terra roxa” por 22 anos com cultura de café ................................................................................................................ Formação de pé-de-arado (plough pan) ............................................................................................... Alteração da estrutura por esforços superficiais ............................................................................. Espaço poroso e compactação de estruturas estáveis e instáveis ........................................ Experimento de recuperação de solos ................................................................................................... Diagrama esquemático do desenvolvimento de uma crosta superficial .......................... Representação do mecanismo “mulching vertical” ...................................................................... Fotografias da estrutura interna de torrão compactado e não-compactado ................... Fac-símile da publicação organizada pelo engenheiro agrônomo Ruy Ferreira da Silva ...............................................................................................................
220 221 226 227 230 231 236 238 280 285 285 286 292 299 302 318 375
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PRÓLOGO
PROPÓSITOS DO TRABALHO
A relativa juventude da pedologia, que se notabilizou como ciência por volta da segunda metade do século XIX, para estudo do solo como um verdadeiro e peculiar corpo vivo da natureza — não apenas um material de alteração superficial de rochas ou um mero suporte de plantas — possibilita traçar sua história com (aparentemente) mais facilidade do que seria fazê-lo com ciências mais antigas e tradicionais, a exemplo da própria geologia, da qual aquela emergiu. Para quem professa atividades cumulativas de ensino e pesquisa, como também de extensão e administrativas de órgãos ligados a estudos de solos, essa tarefa acaba assumindo especial deleite, talvez pela inerente natureza humana de querer organizar tais conhecimentos segundo a óptica pessoal e a partir das próprias experiências ou dificuldades encontradas, assim como de antever possíveis caminhos para o futuro. Dessa forma, por mais que este investigador tenha procurado isentar-se de suas visões próprias, em detrimento do que a comunidade científica deveria, prioritária e supostamente requerer (sob seu ponto de vista), foi difícil escapar das próprias experiências pessoais. É provável que muito desse processo reflexivo traga também componentes intuitivos e a pressuposição de que as dificuldades pessoais pelas quais passou tenham sido comuns a muitos outros profissionais, notadamente seus contemporâneos. Muitos questionamentos começaram a surgir, por certo, nos bancos escolares do curso de graduação, prosseguindo na pós-graduação e no desempenho das atividades profissionais com os solos, sobretudo das de docência e pesquisa. Revisões bibliográficas iam-se avolumando, para encontrar possíveis respostas, ou para melhor embasar as publicações científicas, como também para aprimorar o conteúdo das aulas, com atualização dos conhecimentos, ou, até mesmo, para enfrentar com mais desenvoltura a comunidade científica, sempre crítica, nos tradicionais eventos científicos pertinentes. Muitas dúvidas se foram desfazendo aos poucos (algumas permaneceram), mas outras foram surgindo, à medida que o conhecimento foi sendo incorporado, havendo
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Retrospectiva crítica sobre a pedologia
necessidade de recorrer a múltiplas fontes de consulta, de diferentes épocas e momentos em que os assuntos de interesse suscitaram maior atenção. Por essa razão, a seleção do conteúdo para uma revisão da bibliografia do que se quer produzir fica muito à mercê dessas mencionadas dificuldades pessoais. Citando a experiência pessoal do autor, seu ingresso na pedologia foi desprovido de um conhecimento particularizado a respeito das peculiaridades dos solos tropicais; igualmente, da existência de climas pretéritos e de seus reflexos sobre a natureza dos solos; das intrincadas relações solos–relevo (pedogênese–morfogênese); da dinâmica dos processos que governam a evolução dos solos; da existência de superfícies geomorfológicas e de suas relações com os solos associados, entre muitos outros. Com isso, ao se perceber que, embora o tempo de existência da pedologia seja, de fato, relativamente curto, a amplitude de assuntos a pesquisar acaba sendo muito extensa, ficando a delimitação do conteúdo muito por conta dessas deficiências iniciais apontadas, quase com a pressuposição de que todas as pessoas envolvidas com esse processo tivessem tido o mesmo grau de preocupações ou de deficiências. Para delimitar conteúdos do campo da pedogênese, por exemplo, foram selecionadas situações preferenciais admitidas como de maior complexidade, como é o caso das ocorrências simultâneas de solos bem desenvolvidos, com perfis B latossólico (Latossolos, Oxissolos, Ferralsolos) e solos com perfis B textural (Argissolos, Ultissolos, Alfissolos), com predomínio absoluto nas regiões tropicais úmidas, com a suposição de que a gênese de outros solos, sujeitos a uma nítida superimposição de determinados fatores (proximidade da rocha à superfície, drenagem deficiente, clima semi-árido), seja muito mais fácil de ser compreendida (Rendzinas, Vertissolos, Solos Halomórficos, Solos Hidromórficos, Litossolos etc.). As classificações taxonômicas sempre constituíram também matéria de muitas dúvidas, principalmente nas consultas a obras de diversos países, com denominações muito diversas, nem sempre com as devidas analogias apresentadas nas taxonomias dos sistemas classificatórios envolvidos. Pesquisar latossolos na década de 70, por exemplo, a partir de uma revisão efetuada no prestigioso Soil Science, desde o início de sua publicação (1916), consistia em motivos para freqüentes dúvidas — solos lateríticos estariam cobrindo totalmente, e unicamente, aquela categoria de solos? Ao procurar solos podzólicos, estes também freqüentemente eram referidos como lateríticos, mas seria a eles atribuído um certo grau de podzolização, atípica em condições tropicais generalizadas? Como proceder quando o artigo consultado mencionava apenas o nome da série de solos? Sem qualquer aprofundamento em assuntos taxonômicos, algumas correlações foram aqui apresentadas, visando facilitar a compreensão de alguns aspectos desenvolvidos. Tomou-se como mais apropriada à compreensão dos mecanismos de gênese a visão oferecida pela análise estrutural da cobertura pedológica (solos como sistemas em transformação), desenvolvida em escalas detalhadas, o que fez imprimir, obrigatoriamente, um especial destaque à descrição morfológica, sem preocupação com definição de horizontes diagnósticos, usualmente objeto de classificações taxonômicas. Para investigações ainda mais detalhadas em campo, voltadas a efeitos de práticas agrícolas sobre a qualidade dos
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Propósitos do trabalho
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solos, aquelas observações receberam também uma atenção adicional, com o recurso do perfil de manejo (perfil cultural). Por isso, o foco central procurou privilegiar aspectos ligados à estrutura do solo, sem entrar em considerações sobre outros atributos morfológicos, como a cor ou a consistência do solo, por exemplo. Com esse enfoque central na estrutura, foram automaticamente inseridas considerações sobre os agregados e sua estabilidade em face do uso e manejo agrícola, admitidas como de diagnóstico muito apropriado para estudos de qualidade dos solos e sustentabilidade dos sistemas de exploração, o que constituiu também um fio condutor para as diversas considerações e a inserção dos conteúdos tratados. Mesmo reconhecendo os efeitos de modificações da estrutura pela ação antrópica, com reflexos sobre a porosidade, a permeabilidade, a densidade, a condutividade hidráulica, a retenção de umidade e a circulação hídrica, entre outros aspectos, estes foram apenas considerados superficialmente, por constituírem parâmetros de estudo mais aprofundados na física do solo, com farta literatura a respeito, enquanto a estrutura não constitui, a rigor, atributo que possa ser medido ou quantificado. Sempre que possível, procurou-se imprimir também a devida relevância à “lateralidade” dos processos ao longo do relevo, em vez da tradicional e exclusiva representação de perfis isolados, de representação vertical A – B – C, pela visão mais adequada do solo como sistema, em que a intervenção num determinado ponto vai, certamente, afetar o vizinho, ou todo o conjunto. A importância conferida à estrutura (dos horizontes e da cobertura pedológica) requereu considerações sobre a matéria orgânica do solo, ainda que de maneira superficial, em face da complexidade de que esse assunto se reveste. Isso decorreu especialmente para facilitar discussões sobre os agregados, sobre a agricultura orgânica e a agricultura familiar, assuntos estes que vêm ganhando muito espaço e relevância, pela tendência crescente que essas formas de exploração vêm revelando, além do já consagrado sistema plantio direto, que veio valorizar ainda mais a importância da matéria orgânica. Certos assuntos, já há algum tempo relegados ao esquecimento, julgados importantes, procurou-se aqui resgatá-los. Tal é o caso da caracterização mineralógica da fração grosseira dos solos, por julgá-la apropriada ao aprofundamento das questões de pedogênese (principalmente na questão do material de origem dos solos: aloctonia x autoctonia), especialmente quando aliada a técnicas sedimentológicas. Procurou-se abordar também a questão do ensino sobre os solos nos diversos níveis de escolaridade, incluindo treinamentos a agricultores, o que pressupõe a importância da inserção da sociedade em todo esse processo nos dias atuais e a procura da demonstração da importância do pedólogo no desenvolvimento da agricultura. O desenvolvimento do trabalho procurou abarcar fontes de consultas as mais diversas, incluindo obras antigas, mas que revelaram, na sua época (ou ainda agora), importante contribuição para a evolução dos conhecimentos em pedologia, cujo resgate se afigura apropriado para a própria memória da pedologia. Um conveniente retrato desse processo foi obtido pelo manuseio dos principais periódicos científicos específicos da ciência do solo, em geral surgidos no século XX.
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Retrospectiva crítica sobre a pedologia
O Soil Science é um dos mais antigos, editado nos Estados Unidos (New Brunswick), circulando regularmente até os dias atuais, desde 1916; o primeiro número não dispunha ainda de seções específicas, ou comitês por assuntos. Também norte-americano, o Soil Science Society of America Proceedings, editado em Madison a partir de 1936, passou a denominar-se, desde 1977, Soil Science Society of America Journal, contando com Seções específicas; a de número V – Morfologia do Solo passou posteriormente para S – 5 – Gênese, Morfologia e Classificação do Solo e, em 1995, para Pedologia. Registre-se ainda o periódico Journal of Soil and Water Conservation. Ainda na América do Norte, desde 1921 já era editado o Scientific Agriculture, tratando de assuntos diversos, incluindo os solos. A partir de 1957, o Agricultural Institute of Canada passou a editar o Canadian Journal of Soil Science, dando seqüência à numeração em volumes da antiga publicação. A revista Soils and Fertilizers surgiu em 1938, editada na Inglaterra (Harpenden) pelo Imperial Bureau of Soil Science, inaugurando sua publicação com uma instigante chamada inicial: “What is the use of Pedology”? Editado pela British Society of Soil Science a partir de 1949, o Journal of Soil Science teve, desde seu início, a presença de D. A. Rose como seu editor chefe, mesmo após a mudança para European Journal of Soil Science, em 1994, quando passou a congregar a publicação oriunda de vários países europeus, anteriormente difundida em diversos periódicos, tal como Pédologie, da Societé Belge de Pédologie, que tivera início em 1951, com Van Straelen, Tavernier e Fripiat na administração científica. Na França, o Bulletin de l’Association Française pour l’Étude du Sol (AFES) teve seu início em outubro de 1935, tendo sido suprimido no início dos anos 70, para ampliação do número de artigos na revista Science du Sol, também editada pela AFES. O Office de la Recherche Scientifique et Technique Outre-Mer começou a editar, no início dos anos 60, os Cahiers ORSTOM, Série Pédologie, comportando inúmeros e valorosos trabalhos sobre os solos do domínio tropical. Na Holanda, em Amsterdã, outra publicação de reconhecido prestígio internacional é a Geoderma, que teve seu início em 1967, mantendo sua regularidade mensal; na Austrália, há que se reverenciar o consistente Australian Journal of Soil Research, que já edita seu volume 42, em 2005. Na Índia, a partir de 1953, entrou em circulação o Journal of Indian Society of Soil Science. A histórica Pochvovedenie, que remonta aos primórdios da pedologia criada por Dokuchaev, era traduzida para o inglês sob a denominação Soviet Soil Science — “A Journal of Theoretical, Experimental and Applied Soil Science” —, assim editada até 1992 (com edição original em russo, em 1991), passando, em seguida (volume 24), a denominar-se Eurasian Soil Science. Curiosamente, inaugura essa nova fase, abrindo o número, o artigo intitulado “Current problems in the study of tropical soils”, da autoria de Stolbovoy (1992), afirmando que ainda se requer muito trabalho para determinar o escopo do conceito de solos tropicais. A Revista Brasileira de Ciência do Solo surgiu em 1977, no ano do 30o aniversário da Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, sediada em Campinas (SP), com uma periodicida-
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