GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CULTO FALADO NO BRASIL
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Universidade Estadual de Campinas Reitor José Tadeu Jorge Coordenador Geral da Universidade Fernando Ferreira Costa
Conselho Editorial Presidente Paulo Franchetti Alcir Pécora – Arley Ramos Moreno Eduardo Delgado Assad – José A. R. Gontijo José Roberto Zan – Marcelo Knobel Sedi Hirano – Yaro Burian Junior
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ORGANIZAÇÃO
M ARIA
R ODOLFO I LARI H ELENA DE M OURA N EVES COORDENAÇÃO GERAL
A TALIBA T.
DE
C ASTILHO
GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS CULTO FALADO NO BRASIL VOLUME 2
CLASSES DE PALAVRAS E PROCESSOS DE CONSTRUÇÃO
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ficha catalográfica elaborada pelo sistema de bibliotecas da unicamp diretoria de tratamento da informação G761
Gramática do português culto falado no Brasil / coordenação geral: Ataliba T. de Castilho; organização: Rodolfo Ilari, Maria Helena de Moura Neves. – Campinas, sp: Editora da Unicamp, 2008. Conteúdo: vol. 2. Classes de palavras e processos de construção 1. Língua portuguesa – Português falado. 2. Língua portuguesa – Gramática. I. Castilho, Ataliba Teixeira de. II. Ilari, Rodolfo. III. Neves, Maria Helena de Moura. IV. Título.
isbn 978-85-268-0832-4
cdd
469.5
Índices para catálogo sistemático: 1. Língua portuguesa – Português falado
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2. Língua portuguesa – Gramática
469.5
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
Rodolfo Ilari .................................................................................................................................................................................. 7 1 O SUBSTANTIVO
Roberto Gomes Camacho, Marize Mattos Dall’Aglio-Hattnher e Sebastião Carlos Leite Gonçalves ....................................................................................................................... 21 2 OS ESPECIFICADORES
Ataliba T. de Castilho, Rodolfo Ilari, Maria Luiza Braga, Célia Maria Moraes de Castilho, Roberta Pires de Oliveira e Renato Miguel Basso ........................................................... 85 PARTE I – ARTIGO DEFINIDO
Maria Luiza Braga, Rodolfo Ilari, Roberta Pires de Oliveira e Renato Miguel Basso ................................................................................................................................................... 87 PARTE 2 – DEMONSTRATIVOS
Ataliba T. de Castilho ............................................................................................................................................... 117 PARTE 3 – QUANTIFICADORES INDEFINIDOS
Célia Maria Moraes de Castilho ....................................................................................................................... 137 3 O VERBO
Rodolfo Ilari e Renato Miguel Basso ........................................................................................................... 163 4 O ADJETIVO
Esmeralda Vailati Negrão, Ana Lúcia Müller, Gelza Nunes-Pemberton e Maria José Foltran ..................................................................................................................................................... 371 5 O ADVÉRBIO
Ataliba Teixeira de Castilho, Rodolfo Ilari, Maria Helena de Moura Neves e Renato Miguel Basso ............................................................................................................................................... 403
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PARTE 1– ADVÉRBIOS PREDICADORES
Ataliba T. de Castilho e Rodolfo Ilari ........................................................................................................... 413 PARTE 2 – ADVÉRBIOS VERIFICADORES
Rodolfo Ilari e Renato Miguel Basso ........................................................................................................... 457 PARTE 3 – CIRCUNSTANCIAIS
Maria Helena de Moura Neves ......................................................................................................................... 479 6 OS PRONOMES
Maria Helena de Moura Neves ......................................................................................................................... 507 7 A PREPOSIÇÃO
Rodolfo Ilari, Ataliba T. de Castilho, Maria Lúcia Leitão de Almeida, Lou-Ann Kleppa e Renato Miguel Basso .................................................................................................... 623 8 AS CONJUNÇÕES
Rodolfo Ilari .................................................................................................................................................................... 809 9 AS CONSTRUÇÕES COORDENADAS
Erotilde Goreti Pezatti e Sanderléia Roberta Longhin-Thomazi ............................................... 865 10 AS CONSTRUÇÕES HIPOTÁTICAS
Maria Helena de Moura Neves, Maria Luiza Braga e Marize Mattos Dall’Aglio-Hattnher ................................................................................................................ 937 11 AS CONSTRUÇÕES SUBORDINADAS SUBSTANTIVAS
Sebastião Carlos Leite Gonçalves, Gisele Cássia de Sousa e Vânia Cristina Casseb-Galvão .......................................................................................................................... 1021 12 AS CONSTRUÇÕES CORRELATAS
Marcelo Módolo ........................................................................................................................................................ 1089 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................................................................... 1103 ÍNDICE ONOMÁSTICO ..................................................................................................................................................... 1141 ÍNDICE REMISSIVO .......................................................................................................................................................... 1143
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INTRODUÇÃO Rodolfo Ilari
Na coleção da Gramática do Português Culto Falado no Brasil, este segundo volume foi dedicado às “classes de palavras”. Distinguir classes de palavras e estudá-las em capítulos separados é um dos mais antigos tópicos dos estudos lingüísticos, e um dos que mais fortemente resistiram ao embate do tempo e às inúmeras reorganizações por que passou a gramática como disciplina. Esse tópico está presente em Aristóteles e nos alexandrinos, nos gramáticos romanos e nos medievais, nas gramáticas gerais do século XVII e em todos os compêndios escritos nos séculos seguintes sobre a gramática das principais línguas do Ocidente. No que diz respeito à língua portuguesa, constitui o cerne das gramáticas escritas desde Fernão de Oliveira e João de Barros até hoje. Bastaria esse retrospecto histórico para justificar que um inteiro volume de nossa coleção seja dedicado às classes de palavras, mas de fato essa decisão é fruto de uma opção consciente, e não de uma aceitação passiva e inerte da tradição. Tanto quanto o primeiro, já publicado, este segundo volume da Gramática do Português Culto Falado no Brasil nasceu do Projeto da Gramática do Português Falado, que se desenvolveu nas décadas de 1980 e 1990 como projeto temático da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, sob a direção de Ataliba Teixeira de Castilho. Como já foi relatado em várias publicações,1 esse projeto começou pela formação de uma equipe bastante numerosa e altamente qualificada de lingüistas, e foi essa equipe que definiu as linhas de investigação a serem trilhadas, a partir do compromisso comum 1 A série Gramática do Português Falado consta de oito volumes, em sua maior parte financiados pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo: Castilho (org. 1990, 1993), Ilari (org. 1992), Castilho e Basílio (orgs. 1996), Kato (1996), Koch (org. 1996), Neves (org. 1999), Abaurre e Rodrigues (orgs. 2003).
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de analisar a amostra de língua falada culta previamente gravada pelo Projeto N, o Projeto de Estudo da Norma Urbana Lingüística Culta do Português Brasileiro. Como era de esperar, a descrição da gramática daquela variedade foi logo identificada como uma das principais tarefas a serem encaradas pelo projeto; mas o consenso sobre a necessidade dessa tarefa vinha acompanhado da percepção de que, no conjunto dos pesquisadores que poderiam realizá-la, havia diferenças de orientação bastante profundas; basta lembrar que, àquela altura, alguns dos participantes do projeto já eram referência nacional numa linha de análise gramatical do português inspirada pelo gerativismo, ao passo que outros já haviam ganho destaque no âmbito da lingüística brasileira, atuando numa orientação funcionalista. Nesse contexto, foi natural que se constituíssem duas equipes para trabalhar sobre a sintaxe da língua: uma dessas equipes acabou abrigando os pesquisadores de orientação gerativista e deu ênfase ao estudo das estruturas sintáticas; a outra abrigou pesquisadores de orientação funcionalista, e viu no velho tópico das classes de palavras um molde apropriado para organizar suas descrições. O presente volume é o produto do trabalho desta segunda equipe. Seus 12 capítulos têm lastro em vários trabalhos publicados no ínterim, sobretudo os que foram sendo publicados sobre os mesmos temas a partir de 1990, na série Gramática do Português Falado. Vinte anos de pesquisa é um período longo. Por volta de 1992, Maria Helena de Moura Neves assumiu a coordenação do grupo, pela qual eu vinha respondendo anteriormente, mantendo-se nesse papel de coordenadora da equipe até o presente momento. Além disso, a própria composição da equipe sofreu alterações: dos dez participantes do grupo inicial — Ataliba T. de Castilho, Célia Maria Moraes de Castilho, Erotilde Goreti Pezatti, Maria Helena de Moura Neves, Roberto Gomes Camacho, Rodolfo Ilari, Carlos Franchi, Marco Antônio de Oliveira, Margarethe Steinberg Elias e Sírio Possenti — apenas os seis primeiros assinam os trabalhos deste volume. Ao falecer, em 2002, Carlos Franchi deixou, além de uma série de idéias que influenciaram outros membros da equipe, uma versão digitalizada dos inquéritos pesquisados e alguns levantamentos de exemplos que se revelaram preciosos sobretudo no estudo das preposições, das conjunções, do verbo e do advérbio;2 outros participantes se afastaram por razões pessoais. Em momentos diferentes, novos 2 Esses materiais foram organizados com o auxílio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, e estão disponíveis a qualquer pesquisador, através do Centro de Documentação “Profes-
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INTRODUÇÃO
companheiros também se agregaram à equipe, às vezes, depois de um processo de formação acadêmica em que a língua falada do N foi seu grande laboratório de experiências. Chegamos assim à relação dos colaboradores deste volume, que é a seguinte: Ana Lúcia Muller, Ataliba Teixeira de Castilho, Célia Maria Moraes de Castilho, Erotilde Goreti Pezatti, Esmeralda Vailati Negrão, Gelza Nunes Pamberton, Gisele Cássia de Sousa, Lou-Ann Kleppa, Maria Helena de Moura Neves, Maria José Foltran, Maria Lúcia Leitão de Almeida, Maria Luiza Braga, Marise Dall’Aglio Hattner, Marcelo Módolo, Renato Miguel Basso, Roberta Pires de Oliveira, Roberto Gomes Camacho, Rodolfo Ilari, Sanderléia Longhin-Thomazi, Sebastião Carlos Leite Gonçalves e Vânia Cristina Casseb-Galvão. Seria, decerto, uma simplificação excessiva chamar de funcionalistas a todos os textos com que aqueles autores participaram neste livro. De fato, embora alguns dos textos deixem clara uma adesão bastante ortodoxa às teorias do lingüista holandês Simon Dik, muitas outras influências se fazem presentes. Alguns capítulos, por exemplo, mostram uma clara preocupação por submeter as hipóteses levantadas a um tratamento estatístico, bem ao gosto da sociolingüística variacionista; ainda mais freqüente é o uso dos conceitos-chave da teoria da gramaticalização e da teoria multissistêmica da linguagem de Ataliba T. de Castilho e, ao longo de todo o livro, faz-se um uso constante de conceitos importados da lógica elementar. Segundo a teoria da gramaticalização, há nas línguas um movimento constante que transforma itens lexicais em palavras gramaticais e, eventualmente, em morfemas. Num mesmo momento da história da língua, palavras que passam pelo mesmo processo podem encontrar-se em pontos diferentes desse percurso; assim, faz sentido falar de expressões mais ou menos gramaticalizadas, e uma das conseqüências disso é que a delimitação das classes de palavras (ou a inclusão de certas palavras e expressões numa dada classe) se torna problemática. Um bom exemplo disso pode ser encontrado no texto sobre conjunções: provavelmente muitos leitores acharão estranho que a locução só que tenha sido incluída entre as adversativas, mas é indiscutível que essa locução funciona de fato como uma conjunção adversativa em português do Brasil. sor Alexandre Eulálio Pimenta”, do Instituto de Estudos da Linguagem da Universidade Estadual de Campinas.
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Segundo a teoria multissistêmica de Ataliba T. de Castilho, qualquer sentença mobiliza simultaneamente três tipos de informações: sintáticas, semânticas e pragmáticas; o grande recurso de que a língua lança mão para integrar todas essas informações é o léxico, e entre os três componentes não cabe estabelecer uma prioridade lógica. A partir dessa perspectiva, falar em classes de palavras é, entre outras coisas, pensar em diferentes modos de articular informações de vários tipos. É corriqueira em todo o livro a aplicação às sentenças da língua de noções elementares de semântica lógica, como “predicado”, “operador” e “escopo”. Com a aplicação desses conceitos às línguas naturais, não se pretende sugerir que as línguas naturais têm a mesma natureza que as linguagens dos cálculos lógicos; pretende-se apenas conseguir recortes mais úteis para a descrição: por exemplo, o conceito lógico de predicado tem uma aplicação mais ampla do que o conceito gramatical que recebe o mesmo nome, e consegue designar uma função que os adjetivos e substantivos têm em comum com o verbo: a de atribuírem propriedades aos indivíduos a que são aplicados. Por sua vez, o conceito de escopo facilita a descrição de operações que se fazem sobre conteúdos determinados, e assim por diante. Pelo que acabamos de dizer, o leitor terá entendido que os textos do presente volume sofreram influências diversificadas, marca de um certo ecletismo. Esse ecletismo e diversidade não impedem de reconhecer que há entre eles uma unidade mais profunda que, com as devidas ressalvas, ainda pode ser chamada de funcionalista. Em oposição às perspectivas que concebem a sintaxe como a disciplina a quem cabe explicitar as regras que regem a combinatória das formas nas sentenças bem formadas, uma sintaxe funcionalista tem prioritariamente o compromisso de explicar toda sentença como o resultado de uma série de escolhas significativas, revelando por que, em um determinado contexto, foi utilizada uma forma lingüística e não outra. Assim, é compromisso comum de todos os textos deste volume explicar a contribuição que as palavras fazem para a interpretação da sentença em que aparecem, enquanto unidades lexicais e enquanto membros de uma classe morfossintática determinada. Essa perspectiva obriga a considerar as palavras não apenas como peças de uma montagem sintática (isto é, como unidades passíveis de ocupar uma certa posição na estrutura da sentença) mas também como unidades dotadas de propriedades semânticas e pragmáticas próprias. Todos os trabalhos reunidos neste volume dão ênfase às questões de sentido e às funções
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que as classes de palavras desempenham para o fluxo da informação, para a interação entre os falantes e para os atos verbais que os falantes realizam. É precisamente disso que se trata quando se explica que o artigo definido exprime uma hipótese de identificabilidade, e é usado para formular informações dadas, ou quando se mostra que os conectivos mas e embora, embora exprimam uma mesma relação de contrajunção, anunciam dois desenvolvimentos discursivos diferentes. Representar as diferentes maneiras de construir sentenças como opções significativas do falante é o grande princípio teórico do funcionalismo; seu grande princípio metodológico é conceber a língua como um mecanismo cognitivo, não como uma estrutura matemática. Quando se deixa de ver na língua uma estrutura matemática, admite-se, antes de mais nada, que ela não usa categorias perfeitamente disjuntas, e sim categorias baseadas em protótipos, tanto na organização que impõe ao mundo, quanto na maneira como se organiza a si própria. Trocando em miúdos, as propriedades de ser um substantivo, ser um verbo, ser uma preposição etc. passam a ser encaradas como propriedades graduais, que alguns itens realizam de maneira mais completa do que outros (da mesma maneira que um pardal realiza melhor nosso protótipo de pássaro que um avestruz, embora ambos os animais sejam pássaros). O leitor poderá verificar por si próprio que muitos dos escritos deste livro usam de maneira bastante livre essa forma de categorização prototípica: por exemplo, os verbos auxiliares são descritos como verbos não-prototípicos. Olhar para a língua em perspectiva cognitiva tem conseqüências ainda mais sérias sobre o modo de representar o objeto de estudo: cada unidade lingüística, cada classe ou construção gramatical torna-se, em princípio, um problema cognitivo e um desafio: o de identificar uma ou mais operações que as garantam e dêem conta de sua especificidade. Ao longo do livro, essa busca de operações cognitivas é constante. Às vezes, ela se exprime diretamente em termos cognitivos (por exemplo, os autores que estudaram as preposições procuraram associar a cada uma delas uma certa organização do espaço); outras vezes a busca de explicações cognitivas se confunde com explicações mais vagamente semânticas: há no livro vários textos que falam em predicação e predicadores: essa é à primeira vista uma qualificação semântica, mas quando se lembra que toda operação de predicação é simultaneamente uma operação de classificação, ou seja, uma operação de organização do mundo, vê-se que predicar é apenas uma face de uma moeda cuja outra face é cognitiva.
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A intuição de que as palavras têm características (distribucionais e semânticas, cognitivas, discursivas etc.) das quais podemos dar conta mais adequadamente distribuindo-as em classes não tem apenas uma presença histórica forte; é também uma das convicções mais fortes dos falantes das línguas em geral e do português em particular. Neste volume, tentou-se reconstituir essa intuição mediante a descrição exaustiva de um subconjunto dos inquéritos do N — o mesmo que na introdução à coleção foi definido como “corpus mínimo” ou “corpus compartilhado”. Chega-se assim a um total de oito capítulos, dedicados, na ordem, às seguintes classes: Cap. Cap. Cap. Cap. Cap. Cap. Cap. Cap.
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O substantivo Os especificadores O verbo O adjetivo O advérbio Os pronomes A preposição As conjunções
O livro comporta, além desses, mais quatro capítulos dedicados a diferentes formas de articular as sentenças, a saber: Cap. Cap. Cap. Cap.
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As construções coordenadas As construções hipotáticas As construções subordinadas substantivas As construções correlatas
Seria possível, evidentemente, adotar outras organizações, e a história da gramática (desde os gregos até hoje) está aí para nos lembrar que, ao longo do tempo, foi extremamente comum que um autor posterior reunisse numa mesma classe palavras e expressões que outro autor mais antigo tinha separado em classes diferentes (ou vice-versa). Como explicar que diferentes autores, diante de uma mesma realidade, tenham chegado a classificações que se contradizem? As explicações variam de caso para caso, e têm a ver com a adoção de diferentes pressupostos; por exemplo, alguns autores privilegiaram a morfologia da língua estudada, e reuniram numa
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INTRODUÇÃO
mesma classe as palavras que apresentavam o mesmo tipo de flexões, outros refletiram sobre o conteúdo nocional das palavras, outros ainda valorizaram sua compatibilidade (ou incompatibilidade) com certos contextos. O fato é que dentro das classes de palavras tradicionalmente reconhecidas há diferenças notáveis: há adjetivos que não formam superlativos, e outros que formam, há preposições que são regidas por verbos, e outras que não são, há verbos que aceitam uma conjugação reflexiva, e outros que não aceitam etc. O gramático que quisesse dar conta com precisão de tudo isso teria que lançar mão de um número muito grande de subcategorias e isso tornaria sua classificação quase impraticável. Isso nos alerta para o fato de que todas as classificações são em algum sentido falhas e precárias. Mas como sempre acontece nesses casos, existe a possibilidade de compensarmos esse caráter provisório mediante nossa capacidade crítica. Isso vale para todas as classificações já propostas, e vale em particular para o sumário deste livro: em nenhum momento quisemos afirmar que as classes de palavras do português falado são essas, num sentido ontológico; mas confiamos que dispor dessas classes é um ponto de partida válido para pensar a estrutura da língua. Ao leitor que acha a lista muito parecida com as listas tradicionais, precisamos também dizer que a semelhança só existe nesse nível de generalidade, e que a leitura vai fatalmente proporcionar surpresas, nem sempre óbvias e nem sempre fáceis de assimilar. Antecipemos algumas dessas surpresas: (i) ao contrário do que sugere a lição tradicional dos gramáticos, a maioria dos processos sintáticos e semânticos mais básicos (como a predicação ou a subordinação) envolve palavras de classes diferentes: a afirmação de que a maioria dos advérbios atua como predicados pode parecer chocante, à primeira vista; esperamos que seja menos chocante depois da leitura dos capítulos relevantes; (ii) veremos que não é pacífico enquadrar numa mesma classe os artigos definidos e os indefinidos, mas que também é problemático reconhecer os definidos como uma classe à parte, fazendo dos indefinidos apenas um caso a mais entre os especificadores que ocupam a esquerda do sintagma nominal. Em suma, as novidades deste livro estão mais na análise desenvolvida em cada capítulo e menos na lista de classes e capítulos que citamos parágrafos acima. Nosso esforço terá sido compensado se, no final da leitura deste livro, o leitor estiver disposto a conviver com este paradoxo: por um lado, dividir as palavras em classes é necessário, e é uma operação que fazemos o tempo todo ao construir e interpretar sentenças; por outro lado, qualquer classifi-
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cação adotada será sempre um instrumento grosseiro para entender o funcionamento da língua, e precisa necessariamente ser completada por subclassificações (ou subcategorizações) bastante minuciosas e, sobretudo, ser objeto de uma reflexão, de uma crítica e de uma revisão constantes. Encerro com algumas palavras sobre o papel que me coube como organizador e “editor” do volume, já que fui o único responsável por essa tarefa. Ao preparar o texto final deste livro, eu representei a mim mesmo sobretudo como uma espécie de porta-voz do leitor. Mas quem é esse leitor? A coleção da Gramática do Português Culto Falado no Brasil foi concebida como uma grande gramática de consulta. Esperamos que a consultem todos os profissionais que usam a linguagem no seu dia-a-dia, sejam eles advogados e jornalistas que redigem por profissão, ou ainda professores de língua materna e estrangeira, que observam a linguagem e a descrevem para seus alunos. Mas o leitor que se visou nestas páginas não é necessariamente um profissional da linguagem; é antes o indivíduo culto e dotado de disciplina intelectual, que, sem envolver-se em especulações e polêmicas de cunho acadêmico, se dispõe ao exercício intelectual de buscar respostas para suas curiosidades sobre linguagem. Na representação que se fez dele, esse leitor é alguém que está acostumado a procurar respostas sobre a língua nos compêndios escolares de gramática e que espera encontrar informações sobre as palavras em capítulos estanques, dispostos numa certa ordem. Esse não é necessariamente o melhor caminho, mas é o caminho mais “amigável”; e isso também recomendava que a estrutura do livro fosse a mais próxima possível da estrutura tradicional. O principal problema com que me defrontei como organizador do volume foi o de dar um caráter didático a alguns capítulos que haviam sido escritos como textos acadêmicos. Ao lidar com esses textos, fiz um grande esforço no sentido de tornar a redação mais leve e mais transparente. Isso exigiu às vezes a realização de tarefas mais ou menos automáticas (como a de passar para o final de cada texto todas as referências bibliográficas); outras vezes esse processo de didatização exigiu decisões mais delicadas, por exemplo, a de suprimir certos desdobramentos teóricos, ou certas passagens de resenha que só teriam sentido para leitores especializados. É preciso que fique claro que todo esse trabalho foi feito com um cuidado extremo, para não sacrificar informações e para não trair as idéias dos autores, concordando ou não com elas.
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INTRODUÇÃO
Deixo registrado aqui meu agradecimento a todos os autores que aceitaram revisar as versões modificadas de seus textos, num tempo bastante exíguo. Vai um agradecimento especial a dois co-autores do livro, Maria Lúcia Leitão de Almeida, que discutiu comigo as versões modificadas de alguns textos, e Renato Basso, que, praticamente, discutiu comigo todas as versões modificadas, ajudou na busca e na avaliação de um grande número de exemplos e garantiu um rígido controle das sucessivas versões. Além disso, agradeço à Editora da U que, na pessoa de Lúcia Helena Lahoz Morelli, muito se empenhou no trabalho de revisão deste livro, e agradeço à Universidade de Estocolmo o fato de ter garantido as condições materiais para a realização do trabalho. Campinas/Estocolmo, novembro de 2008.
Obs.: O leitor encontrará em cada capítulo duas séries de notas: notas de rodapé e notas de fim de capítulo. As notas de rodapé foram utilizadas para esclarecer o texto principal ou para remeter a outras passagens do livro. As notas de fim de capítulo, numeradas em negrito, remetem às obras listadas nas Referências bibliográficas.
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SUMÁRIO
0. Introdução ............................................................................................................................................................................ 21 1. Estatuto categorial do substantivo ................................................................................................................... 21 1.1. Propriedades morfossintáticas .................................................................................................................................... 22 1.1.1. Determinantes do substantivo ..................................................................................................................... 23 1.1.2. Modificadores do substantivo ....................................................................................................................... 24 1.1.3. Determinação do valor categorial do substantivo .............................................................................. 27 1.2. Propriedades semânticas ............................................................................................................................................... 32 1.3. Propriedades textuais ...................................................................................................................................................... 38
2. Subclassificações dos substantivos ................................................................................................................... 41 2.1. Subclassificações de base morfológica .................................................................................................................. 41 2.1.1. Substantivos primitivos ................................................................................................................................... 41 2.1.2. Substantivos derivados ................................................................................................................................... 42 2.2. Subclassificações de base semântica ...................................................................................................................... 46 2.2.1. As subcategorias comum e próprio dos substantivos ....................................................................... 46 2.2.1.1. O estatuto lexical dos substantivos comuns e próprios .............................................................. 46 2.2.1.2. O comportamento referencial dos substantivos comuns e próprios ...................................... 48 2.2.2. As subcategorias concreto e abstrato dos substantivos .................................................................. 49 2.2.2.1. O estatuto lexical dos substantivos concretos e abstratos ........................................................ 49 2.2.2.2. O comportamento referencial dos substantivos concretos e abstratos ............................... 51 2.3. As subcategorias contável e não-contável dos substantivos ........................................................................ 52 2.3.1. Estatuto lexical dos substantivos contáveis e não-contáveis ....................................................... 52 2.3.2. O comportamento referencial dos substantivos contáveis e não-contáveis .......................... 56
3. Estrutura argumental dos substantivos ........................................................................................................ 67
Notas ............................................................................................................................................................................................... 79
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