Falo no Jardim
universidade estadual de campinas Reitor José Tadeu Jorge Coordenador Geral da Universidade Fernando Ferreira Costa
conselho editorial Presidente Paulo Franchetti Alcir Pécora – Antônio Carlos Bannwart – Arley Ramos Moreno José A. R. Gontijo – Luis Fernando Ceribelli Madi Ricardo Anido – Sedi Hirano – Wilson Cano
Editor Plinio Martins Filho
Falo no Jardim Priapéia Grega, Priapéia Latina
t r a du ç ão d o grego e d o l atim, ensaios i n t rodu tórios, notas, ic ono grafia e índices
João Angelo Oliva Neto
Copyright © 2006 by João Angelo Oliva Neto Direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610 de 19.02.1998. É proibida a reprodução total ou parcial sem autorização, por escrito, das editoras e do autor. O tema do livro, a pesquisa bibliográfica e os capítulos 1, 2 e 5 provêm da Tese de Doutoramento homônima, orientada pelo Prof. Dr. Antônio Medina Rodrigues, defendida em 1999 no Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, onde o autor leciona. Os demais capítulos foram elaborados especialmente para esta publicação.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (cip) (Câmara Brasileira do Livro, sp, Brasil) Falo no Jardim: priapéia grega, priapéia latina / tradução do grego e do latim, ensaios introdutórios, notas e iconografia João Angelo Oliva Neto. – Cotia, sp: Ateliê Editorial; Campinas, sp: Editora da Unicamp, 2006. Bibliografia isbn 85-268-0705-6 (Editora da Unicamp) isbn 85-7480-300-6 (Ateliê Editorial) 1. Poesia grega 2. Poesia grega – História e crítica 3. Poesia latina 4. Poesia latina – História e crítica 5. Priapo (Divindade grega) 6. Priapo (Divindade grega) na literatura i. Oliva Neto, João Angelo. 05-3612 Índices para catálogo sistemático: 1. Poesia: Literatura grega clássica 2. Poesia: Literatura latina
ateliê editorial Estrada da Aldeia de Carapicuíba, 897 06709-300 – Cotia – sp – Brasil www.atelie.com.br atelie_editorial@uol.com.br Telefax: (11) 4612-9666
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Encantação pelo Riso* Ride, ridentes! Derride, derridentes! Risonhai aos risos, rimente risandai! Derride sorrimente! Risos sobrerrisos – risadas de sorrideiros risores! Hílare esrir, risos de sobrerridores riseiros! Sorrisonhos, risonhos, Sorride, ridiculai, risando, risantes, Hilariando, riando, Ride, ridentes! Derride, derridentes! Vielimir Khlébnikov, 1910.
* Tradução de Haroldo de Campos, em Poesia Russa Moderna, 2. ed. revista e ampliada, São Paulo, Brasiliense, 1985, p. 81. Vielimir Khlébnikov: 1885–1922.
a seu Urbano BĂŁ e dona Odette no destempo
a Silvana Si
a Guilherme Gui
nesse tempo
todo o tempo
Abreviaturas ae: Année Épigraphique. a.p.: Antologia Palatina. a.pl.: Antologia de Planudes. cig: Corpus Inscriptionum Graecarum. cil: Corpus Inscriptionum Latinarum. cle: Carmina Latina Epigraphica. delp: Dicionário Escolar Latino-Português, Ernesto Faria. dgf: Dictionnaire Grec-Français, A. Bailly. dlf: Dictionnaire Latin-Français, F. Gaffiot. fge: Further Greek Epigrams, D.L. Page. GPh: The Garland of Phillip, A.S.F. Gow; D.L. Page.
he: Hellenistic Epigrams, A.S.F. Gow; D.L. Page. ig: Inscriptiones Graecae. limc: Lexicon Iconographicon Mythologiae Classicae. lsj: A Greek-English Lexicon, H. G. Liddell, R. Scott e H. S. Jones. old: Oxford Latin Dictionary, P. G. W. Glare. rbph: Revue Belge de Philologie et Histoire. seg: Supplementum Epigraphicum Graecum. s. u.: sub uoce (“na palavra”); indica onde se localiza a entrada léxica de que se fala nos léxicos, dicionários, vocabulários, glossários, para que se possa remeter o leitor.
Sumário
Gratias Ago Maximas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10 Prólogo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11 1. Priapo, um Deus Menor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15 2. Breve Arqueologia do Gênero . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81 3. Os Subgêneros da Priapéia Grega e da Priapéia Latina . . . . . . . . . . . 121 4. Τὰ Ἑλληνικὰ Πριάπεια / Priapéia Grega . . . . . . . . . . . . . . . . . . 175 5. Priapea Latina / Priapéia Latina . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 207 6. Poemas Priapeus . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 275 7. Menções Poéticas a Priapo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 311 8. Um Priapo Brasileiro, uns Priapos Portugueses . . . . . . . . . . . . . . 333 9. Priapo Reaparece em Roma . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 359 10. Mínima Antologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 361 Esquemas Métricos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 368 Epítetos de Priapo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 369 Glossário . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 375 Bibliografia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 377 Versos Iniciais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 397 Índice por Autor das Menções Poéticas a Priapo . . . . . . . . . . . . . . 407 Índice Onomástico e Remissivo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 409 f a l o n o j a r d i m
Gratias Ago Maximas
À Capes, por conceder bolsa de estudos que me permitiu, em 1997, durante o Doutorado, consultar em Roma o acervo de várias bibliotecas da Unione Romana Biblioteche Scientifiche (URBS) – American Academy in Rome, Deutsches Archäelogisches Institut Rom, Institutum Romanum Finlandiae, Istituto Olandese, École Française de Rome – e da biblioteca do Departamento de Filologia da Faculdade de Letras da Universidade de Roma, “La Sapienza”; à Livraria Leonardo Da Vinci, Rio de Janeiro. A Adriano Aprigliano, Ísis Belchior Borges da Fonseca, Michele Coccia, Tomislav Deur, Celeste Consolin Dezzotti, José d’Encarnação, José Luis Fiorin, Raul Rocha Fiuza de Melo, Maria Beatriz Florenzano, Pedro Paulo Abreu Funari, Walter Garrote, João Adolfo Hansen, Alexandre Pinheiro Hasegawa, Alexandre José Sobrinho, Delfim Ferreira Leão, José Marcos Macedo, Luciano Marchiori, Luís Marques, Kathryn McDonnell, Antônio Medina Rodrigues, Érica Pereira Nunes, Laura Oliva, Ariovaldo Augusto Peterlini, Peter Stewart, Francesc Tarrats Bou, Ivan Teixeira, José Antônio Alves Torrano, Francisco Trentini Filho. A meus pais, Aracy Romaro Oliva e Ignacio Oliva. E a Roberto Bolzani Filho, Marcelo Musa Cavallari, Paula da Cunha Corrêa, Valter José Maria Filho, Paulo Martins, Adriano Machado Ribeiro, Marcos Martinho dos Santos, Mamede Mustafa Jarouche, Aristóteles Angheben Predebon, Paulo Licht dos Santos: comitibus, sociis, amicis.
Prólogo
Este é livro de poesia, para quem gosta de poesia antiga − grega e latina − composta num arco de tempo que se estende do século iii a.C. até o século vi d.C. Traz texto e tradução em verso de todos os 86 poemas anônimos da Priapéia Latina e dos 37 poemas da Priapéia Grega. O que é Priapéia o leitor não-especialista saberá ao ler os dois capítulos iniciais, mas saiba provisoriamente agora que são poemas breves, relativos a Priapo, que Priapo é deus da fecundidade, que esse Priapo é deus itifálico, vale dizer, nume representado ou presumido em estado permanente de ereção. O caráter fálico quase sempre determina o teor dos epigramas que lhe são adscritos, de modo que o corpus de poemas latinos e parte dos gregos − vá sabendo o incauto leitor e a leitora recatada − são jocosamente obscenos. A obscenidade jocosa, porém, não é a única conseqüência do falicismo, e vários poemas, principalmente os mais antigos, escritos em grego, apresentam a dimensão religiosa do falo, a saber, símbolo de plenitude e exuberância procriadora em todas as esferas da vida, a vegetal, a animal e a humana. A Priapéia Latina dissemos ser corpus, corpo coeso, e é correto, pois chegou-nos em coletânea anônima, escrita e compilada entre os séculos i a.C. e i d.C., muito provavelmente de autoria múltipla, enquanto a Priapéia Grega é designação que, por analogia à outra, aqui foi dada à artificial recolha de poemas priapeus já dispersos na chamada Antologia Grega, também conhecida por Antologia Palatina: os poemas priapeus gregos aqui reunidos, nem na Antiguidade nem na tradição manuscrita, jamais integraram coletânea temática, nunca tiveram compilador, e chamá-los, pois, Priapéia Grega a rigor é impróprio, embora conveniente. Sobre anonímia, autoria múltipla ou unitária, tradição manuscrita, Antologia Pafalo no jardim
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latina e quejandas histórias o leitor interessado, diletante ou especialista, será informado nos capítulos 2 e 3. Este livro, temos dito, é de poesia e mencionamos que pode destinar-se a quem não seja necessariamente especializado em letras gregas e romanas. É fato, e não é tudo, porque é dirigido também ao leitor que, versado nas letras antigas, tenha interesse aprofundado em questões específicas aqui tratadas − falicismo, religião, figuração torpe, o risível − e principalmente, nesse nível de profundidade, o estudo da composição dos poemas. Assim, é também livro de poética, que trata, no capítulo 3, dos vários critérios com que se definem na Antiguidade os gêneros poéticos e os principais problemas correlatos, em particular a imitação, a emulação, os lugares-comuns, os lugares específicos. Nesse capítulo teórico, evidenciamos a interpenetração de critérios das poéticas e retóricas antigas e procuramos com ela rastrear a primeira origem de lugares, temas e figuras do que passa a ser ali subgêneros dos epigramas priapeus. Por isso, as várias possibilidades de leitura relativas aos graus diferentes de interesse manifestam-se na organização do livro: os três capítulos iniciais são ensaios e tratam respectivamente do deus: Priapo; do recinto verbal do deus: o gênero temático da Priapéia; e dos gêneros poéticos: a subsunção deles como subgêneros dos epigramas priapeus. Os ensaios trazem parágrafos numerados para que se possam remeter-lhes notas de rodapé e é traduzida toda citação em língua estrangeira moderna. Possuem “Apêndice” em que, mais longas, transcrevemos e traduzimos passagens, que são sempre fontes primárias antigas, apenas indicadas na anotação. No leitor versado, o justificável desprezo pelos Apêndices equivalerá ao justo apreço por eles no leitor incipiente: queremos um e outro. Nos quatro capítulos seguintes, apresentamos a Priapéia Grega, a Priapéia Latina, os Poemas Priapeus e as “Menções Poéticas a Priapo”, todos com tradução em verso à frente e anotação no fim para que os queridos leitores, desfrutando nas páginas espelhadas a rigorosa equivalência numérica de versos originais e versos traduzidos, escolham o que desejem ver anotado. Poemas Priapeus, assim como Priapéia Grega, é designação que demos à artificiosa recolha e reunião de poemas latinos de autoria determinada − Catulo, Horácio, Virgílio, Ovídio etc. − não pertencentes ao corpo anônimo da Priapéia Latina. As “Menções Poéticas a Priapo”, por sua vez, não têm o mesmo estatuto das outras recolhas, não só porque reúnem meros excertos, senão porque os poe mas que apenas mencionam Priapo não perfazem as condições necessárias do gênero da Priapéia, estudadas no capítulo 2, e não são eles propriamente priapeus. As “Menções” visam a mostrar o prestígio do deus e a presença praticamente obrigatória, ainda que sem detença, da figura dele em toda a poesia, grega ou romana, que tenha matéria campestre. 12
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O pouco prestígio de um Priapo genuinamente lusófono, no ultramar e na metrópole, poderá ler-se em “Um Priapo brasileiro, uns Priapos portugueses”, capítulo em que pudemos transcrever e anotar pouquíssimos poemas, embora longos, compostos em vernáculo: reproduzimos integralmente o atribuído ao nome de Gregório de Matos Guerra e os dois de Manuel Maria Barbosa du Bocage, verdadeiros priapeus, e apresentamos excertos de um poema de Caetano José da Silva Souto-Maior e um de Homem-Pessoa, que mencionam Priapo e Priapéia. Crepuscular que seja Priapo, os poemas atestam que, em meio à grande influência dos textos latinos sobre a poesia portuguesa dos séculos xvii, xviii e xx, a Priapéia, anônima e discretamente, faz jus a um quinhão. Verti um poema novecentista de Giuseppe Gioacchino Belli, escrito em dialeto romanesco, em que Priapo é remate de um catálogo de nomes do membro masculino. Que este é também livro de poesia traduzida o leitor perspicaz já percebera, mas perceba de vez o lugar que a tradução aqui ocupa: mister duas vezes profissional, traduzir é profissão de ofício, que deveria remunerar o mesmo pão que as letras negam, mas traduzir é também profissão de fé, vocação que compensa e consola, nestes tempos, o outro malparado professor. Traduzimos em versos decassílabos e dodecassílabos, sós ou combinados, todos os poemas e menções poéticas, em que mantivemos o critério de grafar com letra maiúscula os substantivos e adjetivos pátrios. Como penhor da fidelidade inerente à tradução e como deferência aos tradutores precedentes, oferecemos ao leitor desconfiado, além das nossas, uma “Mínima Antologia” das versões de poemas priapeus feitas por alguns poetas tradutores portugueses e brasileiros do século xix e do século xx. A bem dizer, não é antologia, mas praticamente outra reunião, mercê da irrisória quantidade de poemas priapeus vertidos em nossa língua. Ao que pudemos saber, ao menos no Brasil e com toda a probabilidade em Portugal, esta é a única tradução completa e a única edição bilíngüe da Priapéia Latina e da Priapéia Grega. São funcionais os capítulos restantes, destinados a tornar fácil a consulta deste livro tão multifário quão multímodo, mas cabe aqui fazer menção ao capítulo “Glossário”, que ao leitor iniciante informará, e ao que se presume perito, talvez cansado e já esquecidiço, há de relembrar termos técnicos de Filologia e artes plásticas empregados. Uma palavra deve dizer-se acerca das imagens de Priapo. Todas as que constam deste livro são coetâneas dos poemas priapeus. Não apenas ilustram a figura da divindade, mas se integram à percepção, agora também visual, de seu nume. As imagens − afrescos, esculturas, mosaicos, gemas, relevos − concorrem para que se compreendam a torpeza da figura e a conseqüente risibilidade do deus. Ademais, quanto à adequada leitura dos epigramas priapeus, falo no jardim
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é imprescindível lembrar que, ao contrário do que ocorre ao leitor de hoje, ao ledor antigo era constante a presença de Priapo, que ele via em toda a parte, até mesmo figurado no volume que teria em mãos. Nestes poemas, quanto à forma, o caráter mesmo de epigrama, que, como veremos, na origem significa inscrição, pressupunha a contigüidade da efígie do deus a que essa inscrição estava aposta, e na própria narração contida nos epigramas havia sempre (e ainda há) uma personagem que, diante da imagem de Priapo, fala ao deus, ou dele ouve alguma fala ou fala com outrem a seu respeito. A figura de Priapo, pois, está sempre presente, de modo que, para ser decorosa, qualquer Priapéia deve conter imagens e efígies de Priapo, que ao carente leitor, rogamos, não sejam meras ilustrações, mas veras estátuas da divindade, de que os epigramas são como que a decorrente e decorosa fala. ***
Príapo não! Priápo! – A única pronúncia correta é “Priapo”, com acento tônico no -a. Em grego, ΠρίαποϚ tem de fato acento no -ι, mas o vocábulo, cujo -α é longo, antes de introduzir-se em nossa língua, penetrou o latim, idioma no qual a penúltima sílaba é acentuada se for de longa duração, como é o caso. Portanto, em latim se diz Priāpus, de que lusófonos e neolatinos acolhemos a forma “Priápo”. A pronúncia “Príapo” deve-se em grande parte a que em tempos recentes os helenistas, acometidos de monoglotismo monômano, descuidando nossa história lingüística, transpõem diretamente ao português os termos gregos, supondo que a deliberada desconsideração de latim e de latinistas corresponda ao maior amor e ao conhecimento melhor do grego. Com grande preocupação com a pureza de nosso idioma e enorme cuidado pela inteireza de nossos colegas, sobretudo os varões, advertidos de que um dia no mundo poderemos ser ainda ontologicamente interpelados pelos sempiternos Deuses, Olímpicos como Zeus, ou humildes como Priapo, reproduzimos por fim aqui a advertência do próprio deus1: E longo Priāpum qui me fecere Priǎpo efficiam, media sint quoque parte breues. Quem de Priāpo longo faz-me um curto Príǎpo, hei de encurtar também o que lhes pende ao meio.
1. A. G. Kaestner, apud Wernicke, Priapeia (Thorn, 1853), p. 33, apud Parker, p. 61.
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1. Priapo, um Deus Menor [Quid sint semones]. Semones [antiqui] dici uoluerunt deos quos nec caelo dignos ascriberent ob meriti paupertatem, sicut sunt Priapus, Epona, Vertumnus, nec terrenos eos deputare uellent pro gratiae ueneratione […] Fabius Planciades Fulgentius, Expositio sermonum antiquorum, 11 [O que são semões]. Por “semões” [os antigos] quiseram significar os deuses que, pela pobreza do mérito, eles não consideravam dignos do céu, como Priapo, Epona, Vertumno, nem, por respeito à graça, queriam reputar como terrenos […] Fábio Plancíades Fulgêncio, Exposição dos Discursos Antigos, 11, fim do século V d. C.
1. Priapo Vem do Egito e Chega à Grécia. – A Priapéia é um conjunto de poemas em grego e em latim a respeito de Priapo, divindade que tem como principal característica o falo ou o membro genital enorme. O culto provavelmente surgiu no século iv na Ásia Menor, na cidade de Lâmpsaco. Hoje chamada Lampsaki, situa-se às margens do Helesponto, estreito que fica no Quersoneso, região da Trácia, que corresponde ao atual estreito de Dardanelos, na Turquia. Ali Tucídides já documenta a existência de outra cidade, de nome Priapo, cuja fundação alguns historiadores mais tarde vinculam ao deus1. Da Trácia, o culto de Priapo passou ao mundo grego por meio das relações comerciais e culturais iniciadas a partir da helenização do Oriente por Alexandre, espalhando-se então por todo o Mediterrâneo. Uma inscrição2 da época dos primeiros Ptolomeus, encontrada na cidade de Tera, numa das ihas do mar Egeu, traz os seguintes dizeres: Ἥκω ΠρίαποϚ τῆιδε Θηραίωμ πόλει ὁ ΛαμψακηνὸϚ, πλοῦτον ἄφθιτομ φέρων. [Εὐεργέτη]Ϛ πάρειμι καὶ παραστάτηϚ [πᾶσ]ιν πολίταιϚ τοῖϚ τ’ ἐνοικοῦσιν ξένοιϚ. Eu, Priapo, chego a esta cidade de Tera; eu, o nascido em Lâmpsaco, que traz duradoura riqueza. Benfeitor eu vim e auxiliador de todos os cidadãos e os residentes estrangeiros. falo no jardim
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A figura de Priapo originou-se das imagens fálicas diante das quais se desenvolviam as orgias dionísíacas. Nas festividades de Dioniso, ocorria a falofória, procissão em que um enorme falo era transportado pelo falóforo, sacerdote “que porta o falo”3. No reinado do Ptolomeu ii Filadelfo, houve em Alexandria monumental procissão cívica4, composta de procissões menores em honra dos deuses, de mortais divinizados e de personalizações da natureza. Uma das procissões era de Dioniso, imensa ela mesma, da qual participavam Silenos, Sátiros, Hermes. Num dos carros havia as estátuas de Alexandre, Ptolomeu i Sóter, Arete (a Excelência), da cidade de Corinto personalizada e do deus Priapo, cuja mais antiga presença ali se atesta, seguidos de mulheres a personificar cidades gregas; em outro carro figurava-se Priapo em painel em homenagem a Réia (ver figs. 1 e 2). Conjectura-se que, em certo momento do culto de Dioniso, personificou-se o membro ereto, que, assim reconhecido, obteve certa autonomia em relação ao culto principal5. O falo recebera vários nomes: Tícon, Órtanes, Conísalo, Falo, Fales, Trifalo, Coniseio, Genetílide, Cineio, mas no período helenístico da história grega vingou o de Priapo: fenômeno helenístico e alexandrino, Priapo jamais é mencionado como divindade no período arcaico e no período dito clássico6 da história e das letras gregas. Testemunhos de historiadores, efabulações de poetas7 gregos e romanos, conservados e acrescidos por comentadores cristãos, guardam a lembrança da vinculação de Priapo ao culto de que se desprendeu ao relatar que era filho de Afrodite e Dioniso, que o membro enorme se devia à punição da promiscuidade da mãe por parte de Hera, protetora do matrimônio. Em outra vertente das fábulas, Priapo também era filho de Afrodite, e seu defeito resultava igualmente da punição de Hera, irada, entretanto, por ele ser produto do amor furtivo de Zeus e temerosa de que a criança, com a beleza da mãe e o poder do pai, pusesse em risco o equilíbrio entre todos os deuses olímpicos. Tocada no ventre pela mão maligna de Hera, Afrodite deu à luz uma criança disforme e, com receio da vergonha que tal filho lhe traria, abandonou-o nas montanhas (ver figs. 3 e 4). Priapo foi recolhido e criado por pastores, o que explica o caráter rústico e de certa forma humilde que o deus possui8. ***
2. Além de Divindade Rústica, Priapo caracteriza-se por outras marcas que os poemas da Priapéia Grega e da Priapéia Latina arrolam ou simplesmente mencionam por ser bem conhecidas do público antigo. Na linguagem das narrativas mitológicas, a relação de paternidade entre deuses significa que o filho participa do caráter divino que o pai e a mãe manifestam; significa também que o filho explicita pelo menos um dos vários atributos dos pais. Portanto, ser filho de Afrodite e de Dioniso, guardar semelhança com Sileno e 16
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os Sátiros – integrantes do cortejo deste deus –, ter papel em rituais orgiásticos, tudo mostra que Priapo é deus ligado à fecundidade e à abundância. Um testemunho de Diodoro da Sicília9, historiador do século i a.C., é explícito quanto ao falo e à simbolização da fecundidade: 1. Τὸν δὲ τράγον ἀπεθέωσαν, καθάπερ καὶ παρὰ τοῖϚ Ἕλλησι τετιμῆσθαι λέγουσι τὸν Πρίαπον, διὰ τὸ γεννητικὸν μόριον· τὸ μὲν γὰρ ζῷον εἶναι τοῦτο κατωφερέστατον πρὸϚ τὰϚ συνουσίαϚ, τὸ δὲ μόριον τοῦ σώματοϚ τὸ τῆϚ γενέσεωϚ αἴτιον τιμᾶσθαι προσηκόντωϚ, ὡϚ ἂν ὑπάρχον ἀρχέγονον τῆϚ τῶν ζῷων φύσεωϚ. 2. Καθόλου δὲ τὸ αἰδοῖον οὐκ ΑἰγυπτίουϚ μόνον, ἀλλὰ καὶ τῶν ἄλλων οὐκ ὀλίγουϚ καθιερωκέναι κατὰ τὰϚ τελετάϚ, ὡϚ αἴτιον τῆϚ τῶν ζῷων γενέσεωϚ· τούϚ τε ἱερεῖϚ τοὺϚ παραλαβόνταϚ τὰϚ πατρικὰϚ ἱερωσύναϚ κατ’ Αἴγυπτον τούτῳ τῷ θεῷ πρῶτον μυεῖσθαι. 3. Καὶ τοὺϚ ΠᾶναϚ δὲ καὶ τοὺϚ ΣατύρουϚ φασὶν ἕνεκα τῆϚ αὐτῆϚ αἰτίαϚ τιμᾶσθαι παρ’ ἀνθρώποιϚ· διὸ καὶ τὰϚ εἰκόναϚ αὐτῶν ἀνατιθέναι τοὺϚ πλείστουϚ ἐν τοῖϚ ἱεροῖϚ ἐντεταμέναϚ καὶ τῇ τοῦ τράγου φύσει παραπλησίαϚ· τὸ γὰρ ζῷον τοῦτο παραδεδόσθαι πρὸϚ τὰϚ συνουσίαϚ ὑπάρχειν ἐνεργέστατον· ἐκείνοιϚ οὖν διὰ ταύτηϚ τῆϚ ἐμφάσεωϚ χάριν ἀποδιδόναι περὶ τῆϚ πολυτεκνίαϚ τῆϚ ἑαυτῶν. 1. [Os egípcios] divinizaram o bode, assim como também entre os gregos, dizem, Priapo foi venerado por causa do membro genital, pois esse animal é muitíssimo propenso à cópula, e aquela parte do corpo é compreensivelmente venerada como a causa da geração, uma vez que é, por assim dizer, a primeira origem da vida animal. 2. E em geral, dizem eles, não apenas os egípcios mas também não poucos dentre outros povos consideraram sagradas, em seus ritos, as partes pudendas por ser a causa da geração dos seres vivos. No Egito, os sacerdotes que herdaram os sacerdócios paternos são iniciados primeiro nos mistérios desse deus. 3. Pela mesma razão, afirmam, tanto os Pãs quanto os Sátiros são venerados pelas pessoas, e é por isso que a maioria ergue, em locais sagrados, imagens deles com o membro ereto, semelhantes à natureza do bode, pois, segundo a tradição, esse animal é o mais eficiente na cópula: assim, por meio de tal aparência, as pessoas agradecem-lhes pelos muitos rebentos que eles produzem.
Arriano, historiador10 do século ii d.C., ratifica a proteção dada por Priapo à fecundidade: ὁ ΠρίηποϚ οὐ μόνον ἐν τῷ η λέγεται, ἀλλὰ καὶ διὰ τοῦ α ΠρίαποϚ, καὶ διὰ τοῦ ε δὲ ‘ΠρίεποϚ’ παρὰ Ἀρριανῷ ἐν ΒιθυνιακοῖϚ, παρ’ ᾧ καὶ εἰϚ ἥλιον ἀλληγορεῖται ὁ ΠρίεποϚ διὰ τὸ γόνιμον. ΠρίηποϚ pronuncia-se não só com -η, ΠρίηποϚ [Priepo], mas também com -α, ΠρίαποϚ [Priapo], e ainda com -ε, ΠρίεποϚ [Príepo], como faz Arriano na História da Bitínia, em que Priapo, por causa da fecundidade, é alegoria para o sol.
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3. Priapo é Deus Atuante no Poder procriador da Natureza, do qual são dotados todos os seres vivos, homens, animais, plantas (ver figs. 5 e 6). Por trazer fecundidade e abundância, a imagem de Priapo era colocada em locais diversos, conforme a atividade desenvolvida: nos portos, nas encostas e nas praias das cidades gregas, oferecia proteção e boa sorte a navegantes e pescadores; no espaço rural, nas encruzilhadas, Priapo protegia as plantações. É importante notar que Priapo, ainda no período helenístico, mais precisamente entre os séculos iii e ii a.C., nas representações gregas habitava o espaço público. Tem particular significância o fato de que, em nítido contraste com o caráter supermasculino de representações em que se destaca apenas o falo, o Priapo do espaço público, quando não era herma11 fálica (ver fig. 7), era muitas vezes intensamente efeminado ou mesmo bissexuado, hermafrodita12. Para significar a bissexualidade, os artífices representavam, somado à postura e aos traços femininos, o membro viril, exibido pelo arregaçamento da túnica. Quando não explicitavam a metade masculina pelo membro ou pelo falo, os artífices implicavam-na pelo volume que deixava entrever sob a túnica a enormidade do membro genital de homem; por reunir caracteres femininos e masculinos em um único ser, as imagens hermafroditas exibiam a totalidade cósmica do culto orgiástico dionisíaco de que Priapo teve origem e garantiam, assim, a mesma proteção à fecundidade. A bissexualidade de certas imagens do deus, pensamos, prende-se à deliberada escolha, por parte do artífice e, por certo, da respectiva comunidade, de apresentá-lo hermafrodita, caráter esse existente já em certas crenças, como a órfica, ou em práticas religiosas por ela influenciadas, o que não exclui que outros artífices, em outros lugares e outros tempos, o esculpissem só masculino. A androginia de Priapo não é produto de metamorfose em sua figuração, que de masculina ao longo do tempo veio a ser delicadamente bissexuada13; é, sim, a eventual preferência de apresentá-lo hermafrodita, tomando-se como prescrição formal o caráter andrógino que ele possuía em práticas e textos contemporâneos, como os órficos14, e em outros textos e práticas provavelmente por eles influenciados, dos quais são apenas reminiscências os testemunhos vistos. Postulamos, assim, na apresentação de Priapo, icônica ou textual que seja, a existência de dois princípios independentes, um fálico, outro hermafrodita, análogos respectivamente aos dois procedimentos de presentificar a totalidade, quer pela menção de um dos sexos indicando o movimento à união sexual, quer pela condição mágica da unidade deles num só ser. Portanto, no mito, nas imagens, nos poemas da Priapéia e nas menções a Priapo, a despeito do falicismo hegemônico, houve sempre a possibilidade de materializar também o princípio andrógino. Em virtude da delicada efeminação presente nas figurações hermafroditas e, quando era o caso, da delicadeza das figurações menos masculinas, a imagem de Priapo não era risível nem possuía 18
falo no jardim
nenhum atributo negativo correlato à risibilidade, mas, ao contrátrio, podia até conter formosura (ver figs. 3, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 14, 15, 16, 17). Confirmam-no um escólio e os poemas15 da Priapéia Grega em que o deus, com proteger num espaço ilimitado horteleiros, pescadores, marinheiros e hetairas, partilhando de sua humilde condição, é sujeito ou destinatário de uma fala cuja elevação, por efeito do patético, reside nos próprios signos de humildade. ***
4. Priapo Ingressa no Jardim. – Ainda no período helenístico, entre os séculos iii e ii a.C., a imagem de Priapo deixa de ser exclusividade do espaço público e ingressa no jardim. Tal ingresso, que, como se verá, altera radicalmente o caráter do deus, apóia-se em dois fatores que se superpõem: a valorização do jardim nas escolas filosóficas e a provável influência desse hábito no espaço doméstico das elites, nas suas propriedades agrárias e, por imitação, nas pequenas propriedades das classes inferiores. Os antigos gregos já pensavam a oposição natureza/cultura, apoiada em espaços específicos, respectivamente o campo – em que prepondera a força e a exuberância daquilo que nasce, daquilo que se vê criar, a phýsis16 – e a cidade, em que o acúmulo de pessoas faz preponderar necessária organização, civil e propriamente política, que, mercê da concomitância de interesses opostos, entroniza o conceito distributivo de lei, quintessência de civilidade17. Ora, o jardim, como espaço e como conceito, é intermédio entre Natureza e Cidade: é, de um lado, em termos chãos, um pouco de vegetação no espaço urbano e, de outro, em termos melhores, um critério aplicado à natureza: o jardim é a natureza organizada segundo um critério. A partir do século iv a.C., o jardim já se tornara o espaço da atividade filosófica. Se a Academia de Platão se situa nos jardins dedicados a Academo, o Liceu, já um tanto agreste por situar-se em local dedicado a Apolo Lício, não deixa de ser ele mesmo jardim, sem falar dos jardins de Epicuro18. No seio da filosofia, com a desagregação da pólis, a cidade-estado grega, no limiar do período helenístico da história da Grécia, o jardim atraiu as várias correntes filosóficas, que, repugnando o tumulto e a corrupção que entendiam próprios da cidade, não poderiam, todavia, prescindir da proximidade nem da sofisticação do lugar onde ocorriam os eventos importantes, aonde acorriam as pessoas interessantes. Os filósofos, buscando o necessário ócio19, queriam afastar-se do espaço urbano, mas não podiam distanciar-se da urbanidade que suas discussões demandavam; corriam então para esse jardim. O jardim filosófico, meio público por pertencer ainda ao espaço da cidade, meio particular por servir já a fins específicos, influi nos jardins indubitavelmente privados das classes elevadas. Ocorre que “jardim” em grego se diz kéfalo no jardim
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pos (κήποϚ), em latim hortus; quando em português se diz “jardim” para traduzir esses vocábulos antigos, nomeia-se apenas uma zona de significação dos termos. Os termos képos e hortus designam ainda “horta”, onde se criam legumes, e “pomar”, onde se criam frutas, atividades, negócios, decerto bem mais chãos do que a filosofia, efetivados, porém, num recinto inteiramente particular e privado. Mas, pelo prestígio dos jardins dos abastados ou pelo prestígio de Priapo, não é de admirar que pequenos proprietários pusessem em suas propriedades uma imagem do deus, que passou, assim, a integrar jardins, hortas e pomares, incluídos aí os vinhedos (ver fig. 18). Vinhas, jardins, hortas e pomares são agora a morada das imagens de Priapo, tão comum que ele se tornou, por antonomásia, o “deus dos jardins”. O ingresso determinou outra variante nas fábulas: a de não ser filho de Zeus ou Dioniso, mas de Adônis20, em cujas festividades, as Adônias, se ofertavam sementes plantadas em caixas e vasos, uma espécie de jardim em miniatura, o “jardim de Adônis”21. *** 5. Numa ou Noutra Variante da fábula, evidencia-se que Priapo, presente, por meio de sua imagem, num ambiente agrário, detentor ali de função religiosa, era modelo para as plantas que lá deveriam crescer. Do benefício, de cunho mágico, que exerce sobre o crescimento vegetal desenvolve-se, em sentido inverso, outro atributo característico do deus, que é o poder apotropaico, ou seja, o poder de afastar qualquer malefício que prejudicasse as colheitas, fosse ele religioso ou profano. A capacidade fecundante decorrente da saturação e do transbordamento das potências vitais era percebida pelos antigos como exuberância e, por isso mesmo, era assumida como capacidade positiva, que renega em si e repele tudo o que se supunha negativo. Segundo essa concepção, a própria capacidade de fecundar, que inclui, no caso dos seres humanos, a disposição para o ato sexual, implicava a percepção de um estado favorável, porque lhes comunicava que viviam consoantes com o ritmo cósmico e regenerativo da natureza inteira. Na figura de Priapo, a associação dos poderes fecundante e apotropaico materializa-se no caráter fálico. O falo, o membro em estado de ereção, exibe a imediata disponibilidade para o ato sexual, para o ato a partir do qual se engendra outra vida (ver fig. 19). Um segundo testemunho de Diodoro da Sicília22 atesta as honras prestadas ao falo: 1. Περὶ δὲ Πριάπου καὶ τῶν μυθολογουμένων περὶ αὐτοῦ νῦν διέξιμεν, οἰκεῖον ὁρῶντεϚ τὸν περὶ τούτου λόγον ταῖϚ ΔιονυσιακαῖϚ ἱστορίαιϚ. μυθολογοῦσιν οὖν οἱ παλαιοὶ τὸν Πρίαπον υἱὸν μὲν εἶναι Διονύσου καὶ ἈφροδίτηϚ, πιθανῶϚ τὴν γένεσιν ταύτην ἐξηγούμενοι· τοὺϚ γὰρ οἰνωθένταϚ φυσικῶϚ ἐντετάσθαι πρόϚ τὰϚ ἀφροδισιακὰϚ 20
falo no jardim