PAISAGISMO Brasileiro na Virada do século 1990 –2010
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
Reitor Coordenador geral da Universidade
EDITORA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
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COMISSÃO EDITORIAL Paulo Franchetti Alcir Pécora Christiano Lyra Filho José A. R. Gontijo José Roberto Zan Marcelo Knobel Marco Antonio Zago Sedi Hirano Silvia Hunold Lara
PAISAGISMO Brasileiro na Virada do sĂŠculo 1990-2010
Silvio Soares Macedo
Copyright © 2012 Silvio Soares Macedo
Autor
Ficha catalográfica elaborada pelo Departamento Técnico do Sistema Integrado de Bibliotecas da USP. Adaptada conforme normas da Edusp.
Projeto Gráfico
Macedo, Silvio Soares, 1949Paisagismo Brasileiro na Virada do Século: 1990-2010 / Silvio Soares Macedo. – São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo; Campinas: Editora da Unicamp, 2012. 344 p.; 27 cm. Inclui bibliografia. Inclui anexos. Inclui fotos. ISBN 978-85-314-1358-2 (Edusp) ISBN 978-85-268-0964-2 (Editora da Unicamp)
Silvio Soares Macedo
QUAPÁ
Andre Hiroyuki Yoshioka Estevão Sabatier Simões Ferreira Fellipe de Carvalho Silva Lais Regina Flores Renato Tadeu Belluomini Cardilli
Produção e Diagramação Andre Hiroyuki Yoshioka Estevão Sabatier Simões Ferreira Fellipe de Carvalho Silva Lais Regina Flores Renato Tadeu Belluomini Cardilli
1. Arquitetura paisagística – Brasil. 2. Espaços livres. I. Título. II. Série. CDD 712.0981
Revisão
Andre Hiroyuki Yoshioka Giovana D. G. Corrêa Liris Tribuzzi Maíra Cecília Roberto Victor da Mata Silva Pedimos desculpas por eventuais perdas de autoria em fotos e desenhos, esses casos foram nomeados como Acervo Quapá.
Desenhos à mão Silvio Soares Macedo
Edição de Textos Yolanda Barozzi
Tiragem
1500 exemplares
Papel
Cartão Supremo 350 g/m2 (capa) Couché fosco 115 g/m2 (miolo)
Capa
criação: Fellipe de Carvalho Silva produção: Andre Hiroyuki Yoshioka
CTP, Impressão e Acabamento
Imprensa Oficial do Estado de São Paulo
Direitos reservados à Edusp – Editora da Universidade de São Paulo Av. Corifeu de Azevedo Marques, 1975, térreo 05581-001 – Butatã – São Paulo – SP – Brasil Divisão Comercial: Tel. (11) 3091-4008 / 3091-4150 SAC (11) 3091-2911 – Fax (11) 3091-4151 www.edusp.com.br – e-mail: edusp@usp.br Editora da Unicamp Caixa Postal 6074 Cidade Universitária – Barão Geraldo Campinas – SP – Brasil CEP 13083-892 Tel./Fax: (19) 3788-7728 / 3788-7786 www.editora.unicamp.br vendas@editora.unicamp.br Printed in Brazil 2012 Foi feito depósito legal
Sumário 9
Introdução
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Paisagismo Contemporâneo no Brasil
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A Expansão da Arquitetura Paisagística no Brasil Os Novos Padrões de Projeto e as suas Influências Formalismo geometrizante
Neomodernismo Neoescletismo ou pós-modernismo – Da Irreverência à Colagem
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Ambientalismo As Novas Estruturas de Produção do Projeto Paisagístico – Dos Pequenos Escritórios às Grandes Empresas de Projeto Paisagem Urbana Brasileira Paisagem Paisagem Urbana Paisagem Urbana Contemporânea A Dispersão Urbana e as Novas Feições da Paisagem A Rua e a Calçada, Formas de Uso – Introdução Sobre as Calçadas
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O Poder Público e a Produção de Espaços Livres na Cidade
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O Sistema de Espaços Livres Públicos e sua Inter-relação com os Espaços Privados Sobre os Espaços Livres As Águas Urbanas e a Possibilidade de Criação de Espaços Públicos Os Grandes Projetos O caso brasileiro
Tipos Projetos isolados Programas e projetos articulados Programas semiarticulados
Áreas Centrais Espaços Simbólicos O Parque Contemporâneo, uma Figura Urbana em Consolidação e Expansão na Cidade Brasileira Contexto urbano Tipos e funções A Praça Pública: de Espaço Simbólico à Área de Jogos A Praça como Definição e outros Assuntos Mais
Projetos e programas Contexto Tipos e funções
Calçadões, do Passeio à Nova Promenade Calçadões de Praia e de Beira-rio, Espaços para Passear e Interação Social
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A Criação de Espaços Particulares: dos Jardins aos Espaços Condominiais
Introdução Paisagem, Lotes e Tecidos Urbanos O Jardim Residencial Características Loteamentos Fechados e Condomínios, Espaços de Diversidade Paisagística e Segregação Condomínios Horizontais: das Vilas aos Condomínios Suburbanos, a Geração de Novos Tipos de Espaços Livres Reflexões Verticalização Agentes... e mercado
Distribuição Produtos... espaciais... Fatos Usos e usos do espaço livre verticalizado Os cenários criados e os projetos de paisagismo Tipos de lote vertical e, portanto, de espaços livres Conjuntos Habitacionais Populares: uma Tipologia Especial de Tecido Urbano O tratamento dos espaços livres, uma postura tardia Espaços Corporativos e Comerciais Torre isolada e ajardinada Praça corporativa Complexos corporativos ajardinados
Referências Bibliográficas
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Paisagismo Contemporâneo Brasileiro
Este livro é dedicado a: Fanny Gallender pelo apoio intelectual e pela participação no processo de pesquisa. Edlayne Aquino por anos de amizade, apoio e tolerância no projeto Quapá. Yolanda Barozzi pelo trabalho cotidiano no Quapá, por dividir os nossos momentos de crise e alegrias, pelos conselhos sábios e pelo seu apoio irrestrito. A todos os membros da equipe Quapá de 1994 a 2010 que colaboraram na construção desse livro.
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Paisagismo Contemporâneo Brasileiro
introdução
Este texto é o resultado dos trabalhos desenvolvidos durante os anos de 1999 e 2008 dentro do Laboratório da Paisagem da FAUUSP – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo –, conhecido pela denominação de Quapá – Quadro do Paisagismo no Brasil –, e que se dedica desde 1994 à pesquisa do Paisagismo Brasileiro nas suas diversas escalas de abrangência. Naquele ano, finalizamos nosso primeiro livro, intitulado Quadro do Paisagismo no Brasil, no qual fizemos um relato histórico da evolução do paisagismo nacional do final do século XVIII até 2008. No texto foram identificadas três fases de paisagismo denominadas de eclética, moderna e contemporânea. Esta última corresponde a um processo de ruptura de cânones estabelecidos. Na oportunidade lançamos as bases para sua compreensão, entendimento dos fatos e ações de um passado recente e, portanto, altamente instigante em relação aos demais, pois explica o momento paisagístico no qual esse texto foi escrito, o ano de 2008. O texto se divide em três blocos, o primeiro é dedicado a exposição de conceitos, e os outros dois, dedicados ao entendimento dos fatos e ações nos âmbitos público e privado, respectivamente.
Originaram-se de dez anos de trabalhos de jovens colaboradores, a maioria bolsistas de iniciação cientifica, tanto aqueles envolvidos em projetos específicos como aqueles vinculados ao projeto temático, bem como dos pesquisadores Yolanda Barozzi, Francine Gramacho, Fabio Robba e Fanny Gallender, Vera Tangari, Sidney Carvalho, Bruna Maria Benvenga Medeiros, Alexandre Hepner, (sem a contribuição das pesquisas individuas desses dois pesquisadores alguns itens deste trabalho não seriam escritos), João Rett Lemos, Luciana Satiko, Ulisses Sardão e mais recentemente (2006 a 2008) dos doutores Eugênio Fernandes Queiroga, Vanderli Custódio, Rogério Akamine e Helena Degreas, colaborando em muito para que a pesquisa e o texto fossem concretizados. Foram anos de viagens de estudo, nos quais todos nós percorremos o país em busca do paisagismo brasileiro contemporâneo, de seus agentes e projetos executados, de documentação fotográfica e de levantamentos de campo, horas e horas de processamento gráfico, de entrevistas com os principais paisagistas em atividade, de busca de referências bibliográficas e, principalmente, de reflexão. Agradecemos ainda a colaboração financeira da Fapesp – Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo –, do CNPq – Conselho Nacional de Pesquisa –, e, principalmente da FAUUSP na figura do Departamento de Projeto, no qual o laboratório está inserido, e dos seus chefes no período: os doutores José Luis Caruso Ronca e Heliana Comin Vargas.
Silvio Soares Macedo 2011
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Paisagismo contemporâneo no brasil
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Paisagismo Contemporâneo no brasil Aquele da virada do século
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desenho: João L. Busko
Formal e programaticamente, existem no país ações de qualificação paisagística de espaços livres, que podem ser denominadas como contemporâneas e que tem iniciada sua formalização, ainda de um modo embrionário, no final da década de 1970 e nos anos 1980. Nessas décadas, percebe-se uma reação ao academicismo modernista vigente não só no paisagismo, como na arquitetura, o que dará origem, a partir da década de 1990, ao que se pode denominar Arquitetura Paisagística Contemporânea Brasileira. Adota-se a classificação “contemporânea” para atributos formais e funcionais impressos por projetos paisagísticos nos espaços livres, caracterizados por uma total
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Paisagismo brasileiro na virada do século
desvinculação com toda e qualquer regra ou princípio pré-determinados, admitindo as mais diversas formas compositivas que variam de uma releitura da obra dos paisagistas, que trabalharam em período imediatamente anterior a estes tempos, até a projetos claramente neoecléticos e pós-modernos, e ainda a criação de espaços extremamente funcionalistas ou de caráter densamente ecológico. São produzidas estruturas espaciais caracterizadas pela pluralidade de soluções, que ora tendem para um formalismo exacerbado – podendo remeter a estilos do passado até geometrismos sofisticados, nos quais as paginações de piso e elementos arquitetônicos são a tônica – ou até as citadas releituras modernistas nos quais a vegetação tropical é utilizada em larga escala. Tornam-se comuns soluções espaciais de forte apelo ecológico, tanto em espaços públicos como privados, alavancadas pela forte influência na cultura nacional dos preceitos ambientalistas, em voga desde os anos 1980. Estas, por sua vez, induzem na Constituição de 1988 à criação de um capítulo especifico sobre meio ambiente e à declaração como patrimônio nacional: a mata atlântica, a floresta Amazônica, a serra do Mar, o Pantanal mato-grossense e a zona costeira1. 1
Ver o capítulo referente ao meio ambiente em Constituição da República Federativa do Brasil.
Acima: Praça do Papa, Vitória – ES. Abaixo: Floresta Amazônica – AM.
Cinthia Behr 2009
O termo “contemporâneo” pode ser aplicado de um modo genérico a qualquer ação paisagística efetuada em um momento presente e em um tempo imediatamente anterior. As ações paisagísticas se dão em escalas e âmbitos diversos, podendo ser feitas pelos mais diferentes agentes, tanto o Estado, em suas diversas instâncias, como empresas e corporações privadas e, principalmente, a população em geral. No caso, serão enfocadas as ações de projeto paisagístico, em especial aquelas desenvolvidas no contexto urbano a partir dos anos 1990, por arquitetos, arquitetos-paisagistas ou paisagistas, pois é a partir desta década que o paisagismo nacional se consolida como campo de atividade profissional e como área de conhecimento.
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Silvio Macedo 2007
Abaixo: Village of Yorkville Park, Toronto – Canadá. Espaço cenográfico-temático em praça sobre linha de metrô.
No parque André Citröen, de autoria de Gilles Clement de 1992, em Paris, espaço público altamente elaborado, parte da sua área é destinada a espaços temáticos com forte alusão a natureza selvagem e recobertos de arbustos e herbáceas, que seriam entendidos por um observador brasileiro desavisado como “mato”. Na cidade de Nova York o projeto do High Line Park, antigo leito elevado de ferrovia urbana, inaugurado parcialmente em 2008, prevê o recobrimento de parte de
bruna benvenga 2009
Acima: tratamento paisagístico da orla do rio, Rio Branco – Acre. Objetivou a recuperação do casario antigo e criação de espaços de convivência.
A apropriação dos elementos nativos de um modo altamente simples, sem tratamento nenhum ou de um modo simbólico, é um fato comum no exterior, em especial nos Estados Unidos, Europa e Canadá. A partir dos anos 1980, são inúmeros os projetos de arquitetura paisagística que incorporam total ou parcialmente tal ideia, mesmo que o façam de um modo meramente simbólico.
Na praça Village of Yorkville Park de 1994, em Toronto, de autoria de Marta Schwartz, Ken Smith e David Meyer, por exemplo, as diversas regiões do Canadá são representadas por símbolos arquitetônico-paisagísticos, dispostos em faixas paralelas entre si, cada uma tratada de modo a lembrar esta ou aquela região, incluindo as regiões geladas do norte.
bruna benvenga 2009
Tais fatos levam a criação, em instâncias diversas, por todo o país, de secretarias de Verde e Meio Ambiente, de novos parques nacionais e estaduais, de reservas ecológicas, de áreas de proteção ambiental, e, naturalmente acabam induzindo a criação de projetos paisagísticos de forte apelo ecológico, nos quais são valorizados os aspectos rústicos da paisagem como brejos, trechos de mata nativa e manguezais, que gradativamente se tornam ícones de modernidade e consciência ecológica.
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silvio macedo 2009
silvio macedo 2005
À esquerda: Parque Andre Citröen, Paris – França Um do ícones dos parques contemporâneos franceses. Acima: High Line Park, Nova York – Estados Unidos Projeto paisagístico para o antigo leito elevado de uma ferrovia urbana.
um antigo leito ferroviário por arbustos e herbáceas, pelos quais o usuário nova-iorquino poderá passear, como se estivesse em um campo rústico no meio de Manhattan. Esses exemplos, e centenas de outros, acabam chegando ao Brasil, sugerindo diversas ações e reforçando conceitos já em voga entre muitos dos paisagistas nacionais, favorecendo projetos com caráter similar. Desde os anos de 1970, é comum no país o aproveitamento de remanescentes de matas nativas para a instalação de parques urbanos, produzidos, especialmente, na cidade de Curitiba, onde a maioria de seus parques, desta década e da seguinte, foram constituídos de tal forma. São exemplos emblemáticos os parques Barreirinha (1972), Barigui (1972), João Paulo II (1978) e São Lourenço (1972) que nos anos subsequentes
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Paisagismo brasileiro na virada do século
serviram de referência para muitos outros logradouros pelo país afora. Em São Paulo, na década de 1960, depois de anos sem a implantação de novos parques na cidade, é construído o primeiro parque brasileiro moderno (1966), instalado em meio a um bosque; o parque Alfredo Volpi no bairro do Morumbi, cujo projeto original da paisagista Rosa Kliass nunca foi implementado sua totalidade, mantendo-se apenas a ideia do aproveitamento da mata.2 A arquitetura paisagística brasileira contemporânea caracteriza-se por uma total diversidade formal e conceitual. Esta é expressa por ações paisagísticas derivadas das mais diversas correntes de pensamento. São aceitos pelo público desde espaços dotados de uma miscelânea estilística, no qual elementos de
épocas passadas, como colunas e gazebos, são imersos a jardins tropicais, (muitas vezes colocados a revelia de seus autores, ou em muitos casos especificados por profissionais desvinculados às tendências neomodernistas)3, até espaços onde os elementos arquitetônicos são preferidos ao uso da vegetação, com o abuso de paginações de pisos, do uso de pórticos coloridos e ainda, jardins de nítida inspiração na belle époque, com topiárias, bordaduras coloridas e parterres.
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“Em consonância com a proposta de áreas verdes para a cidade de São Paulo, foi desenvolvido [...] o projeto para o parque do Morumbi. Situado na zona sudoeste de São Paulo, sua criação visava aproveitar uma área com vegetação significativa, remanescente do loteamento que criou o bairro nos terrenos de uma antiga fazenda de chá.”Em: Rosa Grená Kliass, Ruth Verde Zein e Denise Yamashiro. Rosa Kliass: Desenhando Paisagens, Moldando uma Profissão, p. 104.
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“Estilo é uma coisa em que você não pode fugir demais senão faz bobagem.”diz Roberto Riscala, paisagista brasileiro em: Projetos dos Grandes Paisagistas Brasileiros, p. 87
demétrios Borges 2005
uma miscelânea formal inadmissível até poucos anos antes na própria cidade, um dos centros referenciais do paisagismo moderno nacional.
Como referência formal destas novas atitudes projetuais, que se estabelecem e consolidam durante os anos 1990, adotamos como marco inicial dois projetos públicos: o jardim botânico de Curitiba (1991) e a praça Itália em Porto Alegre (1992).
O projeto paisagístico de autoria de Domingos Bongestabs, Jair Couston, Mario Kuster, Tsuneta Nagashima, Maria Lúcia Rodrigues e Célia Bim, se constitui em uma decorrência natural de um processo, que vinha se esboçando na capital paranaense desde a década de 1970, onde para cada novo parque se buscou atribuir uma temática.
Ambos os espaços tem e tiveram alta visibilidade nacional, especialmente o primeiro, que se tornou um ícone urbano-paisagístico da capital curitibana, sendo divulgado como uma de suas principais atrações turísticas. Seu projeto rompe, escandalosamente, com todos os preceitos modernistas até então dominantes, com suas parterres eternamente floridas, como um eixo monumental, um jardim palaciano francês barroco, em cujo ápice é disposta uma falsa estufa, um falso Palácio de Cristal, em cujo fundo se encontra um bosque de mata nativa de araucárias. No entorno da parterre, caminhos, um lago sinuoso e até uma área esportiva, em
Parque Barigui, Curitiba – PR. De grande porte, torna-se desde sua inauguração um dos principais parques curitibanos. Parque João Paulo II, Curitiba – PR. Um dos primeiros parques temáticos do país. Parque São Lourenço, Curitiba – PR. Como praticamente todos os parques curitibanos, tem estruturas muito simples com água, bosques e gramados, mas de extrema atratividade para o usuário.
Renata parisoto 1995
Martin Daniel 1995
Tem-se como exemplo o bosque Alemão caracterizado por um espaço cenográfico constituído de casas de imigrantes desta nacionalidade, ou o bosque Gutierrez, que contém uma representação da casa de Chico Mendes, entre outros. Com o esgotamento às alusões a imigrantes e seringueiros, foi quase uma consequên-
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Cristina franco 2002 silvio macedo 2008
Laís flores 2008
Jardim botânico, Curitiba – PR. Um dosbmarcos da contemporaneidade paisagística, devido seu forte apelo cenográfico de inspiração nítida em figuras do passado.
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desenho: cesar a. e. assis 1997
cia chamar a atenção para este novo parque com um novo apelo cênico, bastante vinculado a ideais pós-modernistas, que chegavam ao conhecimento dos arquitetos da época e espelhavam as novidades “paisagísticas” internacionais em voga. A praça Itália, pequeno logradouro público em Porto Alegre, tem sua origem na construção de um shopping center vizinho, que patrocina sua concepção, implantação e manutenção. A praça tem um projeto de arquitetura paisagística extremamente cênico, tanto quanto o parque curitibano, que busca, de um modo alegórico e compacto, criar um espaço de inspiração italiana. As colunas representam imagens do Fórum Romano, as árvores lembram o campo italiano, tendo-se tem uma colagem de elementos arquitetônicos e vegetais, que criam um espaço de caráter contemplativo e simbólico,
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inusitado para a época e para a cidade, e que emoldura a fachada vizinha do shopping. O projeto de Carlos Fayet e equipe se constitui na primeira praça de fato tratada dentro de um novo estilo internacional vigente, representando uma ruptura formal, dentro dos padrões adotados nos projetos de praça atuais, extremamente vinculados a princípios modernistas, tanto em termos de forma como de função. Ambos os projetos não foram feitos por profissionais dedicados exclusivamente à arquitetura paisagística, mas sim por arquitetos que foram chamados a fazer uma intervenção em espaço livre, como muito frequentemente acontece no país e que são extremamente influenciados por novas tendências, em especial de vanguarda. As novas tendências paisagísticas, de um modo lento e gradual, são incorporadas, mesmo que parcialmente pelos paisagistas em atividade, que ficam em geral apegados aos padrões modernistas e acabam promovendo uma revisão dos mesmos, na década de 1990 e na seguinte. O trabalho sobre os espaços livres é, no Brasil, feito comumente por profissionais de formações variadas, como arquitetos, engenheiros agrônomos, ecólogos e até paisagistas. Somente uma pequena parte dos projetos é feita por profissionais que se dedicam exclusivamente ao paisagismo, devido ao fato de que no país simplesmente não existem cursos superiores de paisagismo ainda na primeira década do século XXI.
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desenho: cláudia borges shimabuku 1997
Demétrius Borges 2006
Praça Itália, Porto Alegre – RS.
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A expansão da arquitetura paisagística no Brasil
A arquitetura paisagística no Brasil é, no século XXI, uma realidade, fato este consolidado durante a ultima década do século anterior, devido a significativa expansão de demandas, tanto do setor público como do privado. Estas são derivadas do aumento da população urbana, para as quais o tratamento em escala dos espaços livres se torna uma necessidade. Até os anos de 1970 eram poucos os profissionais, arquitetos em sua maioria, que se dedicavam exclusivamente à arquitetura paisagística, dominada até então pela figura de Roberto Burle Marx, que com sua equipe praticamente monopolizava a atividade no país, encarregando-se, por décadas, dos principais projetos públicos e privados. Apesar deste fato, a partir dos anos de 1950, no eixo Rio - São Paulo, inicia-se uma atividade projetual consistente, em especial pelos discípulos de Roberto Burle Marx egressos de seu escritório, e por discípulos de Roberto Coelho Cardozo, paisagista norte-americano, que se radica na capital paulista na mesma época. Este se dedica, por vinte anos, tanto ao projeto como ao ensino de paisagismo na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP e desenvolve em São Paulo um modo de projetar alinhado com as novas tendências projetuais americanas, e com as tendências nacionalistas em voga na arquitetura e no paisagismo brasileiros. Utiliza com maestria a vegetação tropical e nativa, os pavimentos com desenhos em mosaico português, com ardósia e muitos outros materiais e introduz procedimentos de projeto aprendidos nos tempos de trabalho no escritório de Garret Eckbo, nos Estados Unidos, ao final dos anos 1940, (1947-1949), como o excessivo geometrismo no tratamento do piso e das águas e fortalece o papel da vegetação como elemento construtivo do espaço, princípio recorrente nos paisagistas da costa Oeste dos Estados Unidos de então e consolidado como
Jardins do clube de campo da Associação Paulista de Medicina e residência de Alfredo Rosenthal. Projetos de Roberto Coelho Cardozo acervo FAUUSP. Página anterior: praça Itália, Porto Alegre – RS. Foto: Demétrius Borges (2006).
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acervo Luciano fiaschi cintia behr 2000
um princípio fundamental da arquitetura paisagística, tanto moderna como contemporânea.
de seus parâmetros projetuais, em especial aqueles de caráter formal.
Nos originais de seus projetos, a maioria de residências, pode-se observar a qualidade de seu desenho, seja na forma elaborada de piso e canteiros, seja na disposição da vegetação, que, como nos trabalhos de Burle Marx rompia os cânones vigentes, mas de um modo pessoal.
Pode-se afirmar que os paisagistas que mais levaram adiante e refinaram os seus modos de projeto foram Luciano Fiaschi e Miranda Magnoli, como se pode observar em seus trabalhos desenvolvidos nos anos seguintes.
O trabalho de Cardozo perdura e evolui nos projetos dos inúmeros arquitetos que, de um modo direto ou indireto, têm contato com seu trabalho e dedicam-se ao paisagismo, em especial nas décadas seguintes a sua retirada do Brasil, em 19714. Nestes trabalhos, seus discípulos difundem e utilizam os seus modos de projeto, muitos lecionando em escolas de arquitetura, fato que colabora para a divulgação
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Paisagismo brasileiro na virada do século
A partir dos anos 1970, tem-se um crescimento lento, mas decisivo, da atuação paisagística nacional, em especial nesses dois centros, com o aumento das demandas do mercado imobiliário e do Poder Público. Paralelamente, este continua a atender a tradicional atividade de projetos de jardins e parques para as elites 4
O trabalho de Roberto Coelho Cardozo foi, até o ano de 2008, muito pouco estudado, sendo poucos os pesquisadores que se dedicaram ao estudo do significado de sua obra. Entre eles Demétrius Borges que estudou sua obra no período 2003-2004, dentro do laboratório da Paisagem/Projeto Quapá elaborando um primeiro texto síntese que foi publicado na revista Paisagem e Ambiente: Ensaios, n. 22, pp. 94-109.
Praça Rui Barbosa, Santo André – SP. Luciano Fiaschi, um dos mais fiéis discípulos de Cardozo, mostra em sua obra um traçado refinado.