uma editora italiana na amĂŠrica latina
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universidade estadual de campinas Reitor José Tadeu Jorge Coordenador Geral da Universidade Alvaro Penteado Crósta
Conselho Editorial Presidente Eduardo Guimarães Elinton Adami Chaim – Esdras Rodrigues Silva Guita Grin Debert – Julio Cesar Hadler Neto Luiz Francisco Dias – Marco Aurélio Cremasco Ricardo Antunes – Sedi Hirano Unicamp Ano 50 Comissão Editorial Itala M. Loffredo D’Ottaviano Eduardo Guimarães
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Eugenia Scarzanella
uma editora italiana na américa latina O Grupo Abril (décadas de 1940 a 1970)
Tradução Regina Silva
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Grafia atualizada segundo o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990. Em vigor no Brasil a partir de 2009.
ficha catalográfica elaborada pelo sistema de bibliotecas da unicamp diretoria de tratamento da informação Bibliotecária: Helena Joana Flipsen – crb-8ª / 5283 Sca78e
Eugenia Scarzanella. Uma editora italiana na América Latina: o Grupo Abril (décadas de 1940 a 1970) / Eugenia Scarzanella; tradução: Regina Silva – Campinas, sp: Editora da Unicamp, 2016. 1. Editora Abril – História. 2. Editores e edição – América Latina – História. 3. Política e cultura – América Latina – História. 4. Mulheres jornalistas – América Latina – História. I. Silva, Regina Célia de, 1969- II. Título.
cdd - 070.5098
e-isbn 978-85-268-1443-1
- 301.24098 - 070.48347098
Índices para catálogo sistemático:
1. Editora Abril – História 2. Editores e edição – América Latina – História 3. Política e cultura – América Latina – História 4. Mulheres jornalistas – América Latina – História
070.5098 070.5098 301.24098 070.48347098
Título Original: Abril – De Perón a Videla: un editore italiano a Buenos Aires Copyright © 2013 by Nova Delphi Libri S.r.l., All rights reserved Copyright © da tradução 2016 by Editora da Unicamp
Direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610 de 19.2.1998. É proibida a reprodução total ou parcial sem autorização, por escrito, dos detentores dos direitos. Printed in Brazil. Foi feito o depósito legal.
Direitos reservados à Editora da Unicamp Rua Caio Graco prado, 50 – Campus Unicamp cep 13083-892 – Campinas – sp – Brasil Tel./Fax: (19) 3521-7718/7728 www.editoraunicamp.com.br – vendas@editora.unicamp.br
De Gênova a Buenos Aires, as cidades são nossas. Mais uma vez ousamos pensar e imaginar o socialismo, uma sociedade de pessoas iguais e livres, contra esta barbárie sem sentido e sem piedade que é o mundo global do capital: essa é a mensagem que podemos ler neste novo vento do Sul. Adolfo Gilly
Partes deste volume foram publicadas anteriormente nas revistas: Hojas de Warmi, Tercera época, n. 14, 2009, pp. 1-23; Revista de Indias, v. LXIX, n. 245, 2009, pp. 65-94, Nuova Storia Contemporanea, a. XV, n. 5, 2011, pp. 115-132; RiMe – Rivista Dell’Istituto di Storia dell’Europa Mediterranea, n. 6, junho 2011, pp. 503-523, e nos volumes: PERASSI, E. & SCARABELLI L. (orgs.). Itinerari di cultura ispanoamericana. Novara, Utet, 2011, pp. 239-250; TOGNONATTO, C. (org.). Affari Nostri, Diritti umani rapporti tra Italia e Argentina 1976-1983. Roma, Fandango, 2012, pp. 236-257.
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sumário
prefácio: abril e a emigração antifascista para a argentina Torcuato S. Di Tella.............................................................................................
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apresentação....................................................................................................... 13 1. pato donald em buenos aires.........................................................
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De Milão para a América.............................................................................. 20 Editoria, política e cultura (1941-1946).................................................. 29 2. nos tempos de perón: amor, aventuras e ficção
científica....................................................................................................... Idilio, o cinema de papel................................................................................. Trinta centavos de aventuras........................................................................ Más Allá, ou, mais exatamente, “a mitologia do futuro”...................
59 63 78 96
3. claudia: não apenas moda.................................................................. 107
Jornalistas mulheres......................................................................................... 114 A moda................................................................................................................. 120
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A cultura jovem e o feminismo..................................................................... 128 4. revistas de atualidades: entre desenvolvimentismo
e ditadura...................................................................................................... 141 Panorama. La revista de nuestro tiempo................................................. 142 O fotojornalismo: Siete Días Ilustrados e Semana Gráfica.............. 157 5. abril torna-se multinacional...................................................... 173
As outras Abril: No Brasil e no México..................................................... A associação com a Rizzoli............................................................................ Abril Educativa y Cultural........................................................................... Os audiovisuais..................................................................................................
173 188 191 194
6. políticos, militares e lobistas na conquista
da abril............................................................................................................. O papel e seus donos: A história da Papel Prensa................................. Gelli, Rizzoli e Massera.................................................................................. O papel de Licio Gelli na venda da editorial Abril.............................. Gelli, a Rizzoli e o Crea: Um balanço......................................................
201 201 212 221 228
bibliografia......................................................................................................... 245 índice onomástico......................................................................................... 253 caderno de imagens....................................................................................... 267
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prefácio abril e a emigração antifascista para a argentina Torcuato S. Di Tella1
A Itália deu uma importante contribuição ao grande fluxo de transferência de intelectuais políticos e empreendedores europeus para as Américas. O que tornou isso possível foi a política persecutória e discriminatória dos regimes totalitários que, a partir dos anos 1920 até a Segunda Guerra Mundial, impuseram-se na Europa. A maior parte deles se refugiou nos Estados Unidos, mas muitos acabaram na Argentina, onde um outro número de compatriotas já residentes ali e a predisposição da população a acolhê-los os favoreceram. Entre os exilados estavam Cesare Civita, Paolo Terni e Alberto Levi, que criaram a editorial Abril, destinada a ser um grande sucesso no setor de livros e revistas, expandindo-se em seguida em direção ao Brasil e ao México. Entre os muitos exilados havia socialistas, como Sigfrido Ciccotti, filho do conhecido deputado Ettore, que, em se9
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prefácio
guida, se tornou também expoente socialista na corrente saragattiana*. Havia a filha de Giolitti com os filhos, entre os quais se destacava Curio Chiaraviglio, que se definia “herdeiro-liberal” por óbvias razões, mas que era bastante orientado para a esquerda. E havia também o jovem Gino Germani, enviado por muitos anos à fronteira da ilha de Ponza para meditar sobre a “necessidade funcional” da autoridade. Aquela ilha se tornou a sua pós-graduação em política, graças às longas conversas com os outros presos. Conheci muitos deles; vinham à casa de meu pai, Torcuato, que os acolhia e os mantinha, financiando ocasional mente suas atividades. Mais tarde conheci Gino Germani co mo colega e mestre nos meus trabalhos sociológicos e, em parte, de história, na Universidade de Buenos Aires. Durante muito tempo a editorial Abril foi para nós uma base permanente de referência. Lembro-me que Germani trabalhou nela muitos anos, em momentos em que as ativi dades culturais independentes do regime eram vistas desfa voravelmente. Por um certo período entre os antifascistas na Argentina estava também Arturo Labriola, proveniente da Bélgica, antes do seu desastroso retorno à Itália para solidarizar-se com a aventura fascista na Etiópia, aproveitando-se, suponho, do afeto de velhos amigos e colegas que vinham do sindicalismo revolucionário e, portanto, eram bem-vistos pelo regime. Mas em toda guerra há batalhas ganhas e perdidas, há mortos, feridos e alguns dispersos. E, ao final, a reação se fez ouvir, do lado dos Aliados, mas especialmente do lado dos partisans. Graças à sua coragem e aos seus sacrifícios, a honra * Adjetivo relativo a Giuseppe Saragat (1898-1988), primeiro socialista a assumir a Presi dência da República italiana, líder do Partido Socialista Democrático Italiano. [N. da T.]
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da Itália foi resgatada e o país pôde tomar o caminho da democracia republicana. Gostaria de lembrar que a plêiade de personalidades antifascistas brilhantes encontradas em Buenos Aires foi um aspecto essencial da minha formação cultural, política e moral e jamais poderei esquecê-la. Portanto, estou feliz de poder reler aquele passado nesta nova publicação de Eugenia Scarzanella, a quem desejo um grande e merecido sucesso.
Nota 1
Sociólogo e historiador, ensinou na Universidade de Buenos Aires e nas principais universidades estadunidenses, chilenas e inglesas. É autor de inúmeros ensaios, entre os quais, publicados na Itália, lembramos Tra caudillos e partiti politici. La mobilitazione in America latina (Milão, Feltrinelli, 1993) e Le forze popolari nella politica argentina. Una storia (Roma, Ediesse, 2012). Após ter assumido o cargo de ministro dos Bens Culturais (2003-2004) da Argentina, Torcuato S. Di Tella é, desde 2010, embaixador da República Argentina na Itália.
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apresentação Eugenia Scarzanella
O passado está diante de nós.
No verão de 2008, eu estava em Buenos Aires para começar uma nova pesquisa. Havia iniciado com a ideia de fazer entrevistas com mulheres judias italianas que tinham emigrado para a Argentina por causa das leis raciais. Queria aprofundar o tema da emigração feminina através de suas histórias de vida. Nos anos anteriores, eu havia trabalhado em um ensaio sobre o fascismo italiano na América do Sul e tinha lido um bom livro de testemunhos de judeus italianos organizado por Nora Smolensky e Vera Vigevani Jarach. Nora foi o meu primeiro contato. Relendo seu livro, “descobri” que ela e outras filhas de judeus, que haviam chegado meninas a Buenos Aires, tinham, na juventude, trabalhado para uma editora criada por compatriotas em 1941, a editorial Abril. À medida que eu encontrava as amigas de Nora, reconstruía pedaços de uma história fascinante. Abril era a editora que tinha publicado pela primeira vez na Argentina as histórias em quadrinhos de Disney, que haviam levado a 13
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apresentação
Buenos Aires Hugo Pratt, Alberto Ongano e todo o grupo dos autores venezianos de Asso de Picche; que tinha publicado tiras famosas, como Salgari, Misterix, Ravo Rojo, e fo tonovelas em centenas de milhares de cópias, como Idilio e Nocturno. Fragmento após fragmento, entrevista após entrevista, graças ao boca a boca e à multiplicação de números de telefone na minha agenda, aumentava meu interesse por tantas publicações da Abril: desde os livros para crianças vendidos nas bancas, como Gatito e Bolsillito, até a revista de ficção científica Mas Allá; da revista feminina Claudia até os títulos de atualidade, como Panorama, Siete Días e Semana Gráfica. A pesquisa nessas revistas populares, que as bibliotecas raramente conservam, foi difícil. Pude encontrar cópias delas nos sebos e em coleções privadas incompletas. A impossibilidade de consultar a documentação da empresa, em parte espalhada e em parte destruída por um incêndio, e a escassez dos estudos sobre o tema haviam me convencido a me concentrar em fotonovelas e revistas femininas; aquela já era então uma nova pesquisa, que havia substituído o projeto original sobre a emigração feminina. A reconstrução da história por meio dos chefes da editora em um ensaio sobre transnacionalidade e empreendedorismo étnico, por ocasião de um congresso internacional no Consejo Superior de Investigaciones (Csic) de Madri em no vembro de 2009, fez com que eu descobrisse as pistas de outras histórias relacionadas à editorial Abril e perfis de novos personagens. E o antifascismo e o antiperonismo de muitos dos colaboradores, como o sociólogo Gino Germani e o organizador cultural Boris Spivacow, levaram-me a explorar mais detalhadamente os primeiros anos de vida da editora. A curiosidade 14
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pela colaboração de certos intelectuais que empreenderam com a Abril e posteriormente se tornaram famosos (escritores, pintores, cientistas), nomes de redatores e jornalistas ligados ao radicalismo político dos anos 1970 (de Héctor German Oesterheld e Rodolfo Walsh a Tomás Eloy Martinez, apenas para citar alguns) me levaram a pesquisar cada vez mais em novas direções. Até que apareceu, entre os personagens da história, também aquele mais obscuro, Licio Gelli, chefe da Loja Maçônica P2, juntamente com o “bruxo” José López Rega e o famigerado almirante Eduardo Massera. Decidi então tentar reconstruir não mais apenas uma história de revistas femininas ou infantis, mas a história completa de uma editora cuja sorte está indissoluvelmente ligada à turbulenta história argentina, desde o peronismo à ascensão do general Jorge Rafael Videla com o golpe de 24 de março de 1976. Uma história que muitas vezes se entrelaçou com a italiana, confirmando a ligação entre os dois países. A pesquisa parecia não acabar nunca. Viagens seguidas à Argentina me convenceram de que era difícil conseguir oferecer uma reconstrução que não resultasse fragmentária, impressionista. Coloquei juntas muitas peças de um quebra-cabeça e, embora incompleta, agora me parece que a história da editora da árvore (o logo escolhido pelos fundadores) pode encontrar o seu público e sugerir a outros estudiosos indícios para novas pesquisas. Graças a um ano sabático, a fundos Ricerca Fondamentale e Orientata (RFO) da Universidade de Bolonha e a uma bolsa do Gemma Master Erasmus Mundus, em Women’s and Gender Studies, pude trabalhar em bibliotecas de diversos países: a Biblioteca Nacional, a Biblioteca del Congreso e de la Nación, a Biblioteca do Centro de Documentación e Investigación de la Cultura de Izquierda na Argentina (CeDInCI) e a Biblioteca do Ministério da Eco 15
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apresentação
nomia em Buenos Aires; a Biblioteca Nacional em Montevi déu; a Biblioteca da University of British Columbia em Vancouver; e a Biblioteca Hispânica para el Desarollo (Aecid) em Madri. As fontes de arquivos que utilizei foram as do Arquivo Histórico da Fundação Arnoldo e Alberto Mondadori, do Arquivo do Instituto Nacional para a História do Movimento de Libertação na Itália (Insmli) em Milão, do Arquivo do Estado de Pistoia, do Arquivo da Fundação Rizzoli-Corriere della Sera de Milão, do Arquivo da Escola de Jornalismo TEA de Buenos Aires, do Rockefeller Archive Center de No va York e de fundos ou arquivos ainda não abertos ao público: do Fundo Gino Germani, conservado na biblioteca da Fundação Ugo Spirito em Roma (agradeço a Ana Alejandra Germani), do Arquivo Histórico da Techint de Buenos Aires (agradeço a Stefano Cappelli e Lucia Rossi), do Arquivo Memória da Abril de São Paulo (agradeço a Roberto Civita). Durante a pesquisa, vi aumentarem progressivamente as fontes disponíveis via internet. Não apenas pude acessar ar tigos, livros e fontes de arquivos, mas, através de sites de coleção e venda de livros da época, pude recuperar imagens, materiais e informações preciosas. Este trabalho baseia-se muito em testemunhos dos protagonistas. Pela primeira vez na minha experiência de historiadora trabalhei com instrumentos da história oral. Tive que aprender a usar essas fontes e, simultaneamente, descobri a alegria de ligar meu trabalho profissional ao prazer de fazer novos conhecidos e estabelecer relações de amizade. Conver sei com pessoas disponíveis, muitas vezes felizes em contribuir com o meu trabalho e, ao mesmo tempo, recordar a própria juventude. Agradeço, esperando não ter me esquecido de ninguém, a Franca Beer Roux, Nelly Becerra Salaberry, 16
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Anna Bises, Marisa de Braud, Ricardo Camara, Mino Carta, Mario Enrico Ceretti, Haydée Codda, Sidi Edelstein, Mar co Fano, Beatriz Ferro, Norberto Firpo, Anna Fusoni, Mempo Giardinelli, Alicia Gironella, Alberto Goldberg, Daniel Goldstein, Susi Hochstimm, Linda Olivetti Kohen, Claudio Kornfeld, Jorge Lafforgue, Elda Lanza, Meri Lao, Onofrio Lovero, Vittorio Luzzati, Rosita e Guido Luzzati, Tomás Eloy Martínez, Sergio Morero, Alberto Ongaro, Arturo Pellet Lastra, Julia Pomier, Paola Ravenna, Marisa Rossi, Antonio Salonia, Edmundo Scattini, Claudio Scazzocchio, Ernesto Schoo, Malvina Segre, Nora Smolensky, Pedro Vargas Gallo, Ruth Varsavski, Vera Vigevani Jarach, Alvaro Zerboni e Héc tor Zimmerman. Um agradecimento especial aos membros da família Civita: Adriana, Barbara, Carlo e Roberto, que estiveram disponíveis para compartilhar comigo suas lembranças. Agradeço aos estudiosos que me ofereceram informações preciosas, sugestões e ocasiões de debate: na Argentina, Dora Barrancos, Luis Cortese, Maria Inés Barbero, Isabella Cosse, Fernando Devoto, Nora Domínguez, Noemí Girbal, Tulio Halp erín Donghi, Judith Gociol, Ignacio Klich, Francis Korn, Mirta Zaida Lobato, Andrea Lluch, Leticia Prislei, Karina Ramacciotti, Ana Lia Rey, Viviana Roman e Luis Alberto Romero; na Itália, Edoardo Balletta, Federica Bertagna, Gianni Brunoro, Pietro Rinaldo Fanesi, Zelda Fran ceschi, Luciano Gallinari, Ana Alejandra Germani, Emilia Perassi, Francesco Perfetti, Irene Theiner, Claudio Tognonato, Cecilia Toussonian, Angelo Trento, Chiara Vangelista e Sofia Venturoli; na Espanha, Lola Luna, Elda González, Ricardo González Leandri, Asunción Merino e aos colegas da “Red de Estudios Migratorios Transatláticos”; na França, Andrea Goldstein e Mônica Raisa Schpun; na Alemanha, Bar17
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apresentação
bara Potthast e Sandra Carreras; no Brasil, Leonardo Avritzer, Guita Green Debert, Joana Maria Pedro e Cristina Scheibe Wolff; no Uruguai, Clara Aldrighi, Juan Andrés Bres ciano, Marisa Ruiz, Graciela Sapriza e Dante Turcatti; no México, Carmen Ramos Escandón e Anna Susi; no Canadá, Graciela Ducatenzeiler e Anne Emanuelle Birn; na Colômbia, Gisela Cramer, Stefania Gallini e Nancy Rozo Montana. Os temas tratados no livro foram objeto de comunicações em congressos internacionais: XV Congresso da Asociación de Historiadores Latinoamericanistas Europeos, Ahila (Leden, 2008); Congresso Internacional America Latina: “Crisis e y cambio global”, Csic (Madri, 2008); IX Congresso “Fazendo gênero”, Universidade Federal de Santa Catarina (Florianópolis, 2010); Internazionalization in Education (18h-20h centuries); XXXII Congresso da International Standing Conference for the History of Education, Ische (Genebra, 2012). Um agradecimento especial à colega e amiga Camilla Cattarulla, a quem devo a leitura atenta e crítica do manuscrito e a ajuda na pesquisa de uma editora sensível à história e ao presente do sul do continente americano. Agradeço aos meus familiares, Bruna, que não está mais aqui, Sergio Salvatore e Federica. O livro é dedicado a Olimpia, que acabou de chegar a esta família para fazer-nos a todos felizes. Bolonha, 19 de março de 2013.
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pato donald em buenos aires Beautiful music Dangerous rhythm. The Continental
Ouço a voz calorosa e digna de Cesare Civita, gravada em uma fita: apresenta-me uma história singular e apaixonante, aquela que vou contar neste livro. Ouço as canções que acom panharam “uma vida diferente”. As músicas foram gravadas em Nova York em 1985, reproduzidas por discos ou em duetos entre Cesare Civita e seu irmão Vittorio; começa pela música italiana tocada nas festas de Mulberry Street em Nova York, onde os irmãos nasceram; ouvem-se canções de ragtime e musiquinhas e parlendas da infância. “Canti e musiche della mia vita”1 conta de uma infância e uma juventude felizes em Milão, e de uma maturidade e uma vida profissional que sofreram uma reviravolta dramática em 1938. A voz de Edith Piaf, com “La vie en rose” e “Hymne à L’amour”, é escolhida, quase com ironia amarga, para acom panhar a história da mudança de Cesare Civita para Paris para fugir das leis raciais de Mussolini. Já “The Continental”, 19
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eugenia scarzanella
de Frank Sinatra, é a trilha sonora da chegada, em 1939, nos Estados Unidos, em New Rochelle. Enfim, um tango de Juan de Díos Filisberto e Enrique Santos Discépolo, cantado pelo mítico Carlos Gardel, abre o capítulo mais longo da autobiografia musical, aquele sobre a emigração para a Argentina. Daqui, do dramático período, às vésperas da guerra, passado entre Europa e Estados Unidos, e da viagem a Buenos Aires em 1940, começo a contar a história de uma editora, a editorial Abril*, que interpretou com seus livros e suas re vistas todas as mudanças e os dramas da sociedade argentina dos anos 1940 aos anos 1970.
De Milão para a América Os judeus não pertencem à raça italiana [...] os judeus representam a única população que não foi nunca assimilada na Itália porque é constituída por elementos raciais não europeus, diferentes de forma absoluta dos elementos que têm dado origem aos italianos. Manifesto sobre a pureza da raça, 14 de julho de 1938.
Os milaneses Cesare Civita e Alberto Levi, como tantos outros judeus italianos, em julho de 1938, têm a confirmação de que o fascismo está definitivamente comprometido com uma política de discriminação direcionada a expulsá-los do corpo “ariano” da nação. As leis raciais os impedirão daí a pouco de trabalhar, de estudar, de ensinar, de compartilhar a vida de sempre com os amigos2. Apressam-se a deixar Milão. Cesare * A editora Abril da Argentina se chamava “editorial Abril”. [N. da T.] 20
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