A língua inglesa na África

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A lĂ­ngua inglesa na Ă frica


universidade estadual de campinas Reitor Fernando Ferreira Costa Coordenador Geral da Universidade Edgar Salvadori de Decca

Conselho Editorial Presidente Paulo Franchetti Alcir Pécora – Christiano Lyra Filho José A. R. Gontijo – José Roberto Zan Marcelo Knobel – Marco Antonio Zago Sedi Hirano – Silvia Hunold Lara

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Conselho Editorial Presidente Ruth Guinsburg Benjamin Kopelman – Cynthia A. Sarti – Durval Rosa Borges Erwin Doescher – Marcia Couto – Mauro Aquiles La Scalea Nildo Alves Batista – Plinio Martins Filho – Ruth Guinsburg


Ângela Lamas Rodrigues

a língua inglesa na áfrica

opressão, negociação, resistência


Grafia atualizada segundo o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990. Em vigor no Brasil a partir de 2009.

ficha catalográfica elaborada pelo sistema de bibliotecas da unicamp diretoria de tratamento da informação R618L

Rodrigues, Ângela Lamas. A língua inglesa na África: opressão, negociação, resistência / Ângela Lamas Rodrigues. – Campinas, sp: Editora da Unicamp; São Paulo, sp: editora Fap-Unifesp, 2011. 1. Língua inglesa – África. 2. Educação. 3. Imperialismo. I. Título.

cdd 427.96 isbn 978-85-268-0947-5 (Editora da Unicamp) 370 321.03 isbn 978-85-61673-28-4 (Editora Fap-Unifesp) Índices para catálogo sistemático:

1. Língua inglesa – África 2. Educação 3. Imperialismo

427.96 370 321.03

Copyright © by Ângela Lamas Rodrigues Copyright © 2011 by Editora da Unicamp

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Para meu mentor, com gratid達o



este livro foi escrito entre os anos de 2007 e 2009, quando realizava minha pesquisa de pós-doutorado, na Universidade de São Paulo, sobre os impactos da anglofonia no Quênia, na Tanzânia e no Uganda. As reflexões e os dados apresentados aqui são parte dessa pesquisa e dos estudos realizados durante meu doutoramento na Universidade Federal de Santa Catarina. Durante os anos de trabalho, fui constantemente encorajada pelo professor Ph.D. Sérgio Luiz Prado Bellei, a quem agradeço pela orientação valiosa e por buscar compartilhar, sem reservas, suas informações, seu conhecimento e sua sabedoria. Pela confiança em meu trabalho e pelo apoio sem medidas, agradeço à professora doutora Sandra Guardini Teixeira Vasconcelos. Sou grata à Fapesp, ao CNPq e à Capes pelo apoio financeiro, ao Programa de Pós-Graduação em Inglês e Literatura Correspondente da UFSC, ao Departamento de Letras Modernas e ao Centro de Estudos Africanos da Universidade de São Paulo por acolherem minha pesquisa. À minha família e aos meus amigos, obrigada pela presença reconfor­tante.



sumário

introdução.............................................................................................................................

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Parte 1 1

línguas africanas na era do inglês global................................................ A globalização e a língua inglesa: uma história mal contada.................................. Repensando as línguas africanas na era do inglês global........................................... Línguas europeias e línguas africanas nos domínios oficiais. ...................................

17 18 25 31

Parte 2 2

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a história da língua inglesa na áfrica e a questão da modernidade................................................................................................................... A língua inglesa como alavanca para a modernidade................................................ o inglês e as línguas africanas na educação............................................ Três estudos de caso: Tanzânia, Quênia e Uganda. ....................................................

39 48 57 63

Parte 3 4

política linguística e literatura na áfrica “anglófona”...............

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“the trauma of a diminished existence”: chinua achebe e a língua inglesa . .............................................................................................................. Num cruzamento de culturas. .......................................................................................... Negociando a culpa, ou o trauma revisitado................................................................. E os surdos? Achebe e a língua inglesa. ...........................................................................

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a política linguística de ngũgĩ wa thiong’o: história e crítica. ................................................................................................................................ 103 Primeiros críticos: a ruptura epistemológica................................................................. 105 A ilusão da ruptura epistemológica. ................................................................................ 107 A ilusão reconsiderada........................................................................................................ 111

considerações finais........................................................................................................ 119 referências ............................................................................................................................ 123 Bibliografia. .......................................................................................................................... 123 Entrevistas............................................................................................................................. 127 Fontes consultadas na Internet......................................................................................... 128 índice remissivo................................................................................................................... 131


introdução

History is what hurts. Fredric Jameson

“é ético estudar a áfrica?”, perguntou Amina Mama no Encontro

Anual da Associação de Estudos Africanos, na cidade de São Francisco, em novembro de 2006. O título de sua palestra reverbera em uma série de questionamentos sobre os efeitos e as contribuições efetivas dos estudos africanos para os contextos e povos estudados. A relevância de estudar e pesquisar a África é interrogada pela autora em termos de sua aplicação prática no que diz res­peito ao presente e ao futuro das nações e dos povos africanos. Pesquisamos para que e para quem? Ao estudarmos a África, aproximamo-nos ou distanciamo-nos daqueles que vivem cotidianamente os dilemas e contradições que tentamos resolver no plano teórico? Amina Mama opta por direcionar sua fala a pes­ quisadores e professores universitários africanos dentro e fora da África, e marca a responsabilidade social daqueles, enfatizando a história da intelectualidade africana em sua busca pela libertação do continente das forças colonialistas. A pergunta é importante, no entanto, para todos que se dedicam, de uma forma ou de outra, ao estudo do continente. No Brasil, muito embora a África tenha estado em foco por vários anos em centros de estudo específicos, os estudos africanos ganham força com a chegada da lei no 10.639. Portanto, esse é, talvez, um bom momento para perguntarmo-nos para que e para quem pesquisamos. Questionar o que entendemos hoje pelo termo “África” pode ser um começo produtivo para essa reflexão. É o que faz, por exemplo, V. Y. Mudimbe no livro The idea of Africa, em que denuncia a “violência epistemológica” implicada na produção do que ele denomina “biblioteca colonial”: “um corpo de conhecimento construído com o propósito específico de traduzir e decifrar fielmente o objeto africano” (1994, p. xii). Baseando-se em Michel Foucault, 11


a língua inglesa na áfrica

Mudimbe discute as formas pelas quais os discursos colonialistas transformaram-se em um regime de verdade, que criou, por sua vez, uma ideia mítica e distorcida da África, ideia que, em última instância, justificou a colonização do continente. Há muitas hipóteses para a origem do termo “África”, que foi cuidadosamente pesquisado por vários autores . Mas é ao final do século XVIII e início do XIX que o vocábulo será cristalizado por uma série de conotações negativas que servirão, eventualmente, às demandas do colonialismo (Mudimbe, 1994, p. 29). Em certo momento, o nome África passa a denotar uma vasta região do planeta caracterizada pela homogeneidade e selvageria de seus habitantes: negros sem cultura, civilização ou estrutura social e, portanto, inferiores aos europeus, populavam um continente atraente por seus recursos naturais e por sua mão de obra escrava. Evidentemente, ao negar a existência de culturas próprias e ricas em sua diversidade, nega-se também a existência de línguas autóctones, que são consideradas, na melhor das hipóteses, meios de comunicação rudimentares e subdesenvolvidos. A relação entre línguas europeias e línguas africanas estabeleceu-se, portanto, a partir de uma dicotomização que transformava as primeiras em ideais linguísticos, distantes, em sua superioridade, do que quer que fosse falado em solo africano. Há aqui um apagamento da história das civilizações do continente. Mais que isso, negando-se a língua, nega-se a própria humanidade: o “coração das trevas” descortina, aos olhos imperiais do europeu, o “horror” da bestialidade que deve ser domada a todo custo. Muito já foi feito para ressignificar a ideia de África projetada pela biblioteca colonial, mas cabe ao intelectual lembrar-se constantemente de que falar da África é, ao mesmo tempo, não falar, já que muito mais permanece desconhecido que sabido, ou seja, é preciso cuidado para que, de uma forma ou de outra, não se repita a violência epistemológica de que fala Mudimbe. Está claramente posto aqui um problema que envolve a crise da representação. Em termos gerais, a crise revela a impossibilidade de se re-apresentar ou de falar sobre o objeto ausente sem distorções. No entanto, longe de conduzir a um silêncio paralisante, a crise da representação, como lembra Peter Hulme (1992, p. 6), “tem muito a ensinar [...] sobre o rigor com que nossos próprios sistemas conceituais devem ser examinados”. Através da crise da representação, aprendese, por exemplo, que, ao se enunciar a palavra “África”, está se reproduzindo um discurso imperialista que mapeou o território, demarcou os países e deslocou Consultar, por exemplo, V. Y. Mudimbe, The idea of Africa. Londres, James Currey, 1994, pp. 26-30.

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introdução

os povos do continente. Falar da África é, portanto, tarefa perigosa, mas imperativa para que se desmistifique a noção de uma região pobre, adoecida e homogênea, e para que se entendam os efeitos do imperialismo e do colonialismo, que dizem respeito a processos de opressão e destituição, mas também a movimentos e práticas de resistência, de renovação, de busca de soluções, e da relação sempre dinâmica entre tradição e modernidade. Como pontua Fredric Jameson (1982, p. 102), não há como falar da história, que só pode ser entendida em seus efeitos. Todo discurso é, portanto, precário, insuficiente e, ainda assim, necessário. Partindo desse ponto de vista, este livro busca contribuir para os estudos africanos no Brasil, oferecendo um entendimento possível da presença da língua inglesa no continente africano. Ainda que não colaborem diretamente para os contextos e povos estudados, as reflexões aqui presentes são norteadas por uma ética, para voltar à pergunta de Amina Mama, ligada à subversão de discursos que inventaram uma África débil e servil, mais especificamente, de um discurso que infere a inevitável superioridade da língua inglesa em relação às línguas africanas autóctones.

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Parte 1



1 línguas africanas na era do inglês global

pode parecer estranho que um livro que se propõe a discutir a

presença histórica da língua inglesa na África chame a atenção, logo de saída, para as línguas africanas autóctones. Colocar as línguas africanas em relevo é, no entanto, tarefa essencial e desejável neste estudo, uma vez que falar da língua inglesa na África significa falar também, e necessariamente, da sua relação com as línguas africanas, que se estabeleceu, em grande parte, por meio de princípios imperialistas e colonialistas, e suscitou processos e práticas de opressão, negociação e resistência ao longo de mais de cem anos. É a partir dessa perspectiva relacional que se buscará entender os usos e efeitos da língua inglesa no continente africano, desde o período pré-colonial até os dias atuais. A opção por tal perspectiva é decorrente da urgência de se entender melhor, no contexto brasileiro, as relações de poder que configuraram os encontros entre línguas africanas e a língua inglesa, e que condicionaram sua coexistência. A esse respeito, lembra o escritor e crítico queniano, Ngũgĩ wa Thiong’o (Ngũgĩ wa Thiong’o e Rodrigues, 2004, p. 165), que a convivência assimétrica entre as diversas línguas mundiais deve ser tratada, essencialmente, “em termos de relações de poder” e a partir de uma perspec­tiva que leve em conta “a produção e a distribuição do conhecimento” no mundo contemporâneo. A sugestão de Ngũgĩ conduz a um tópico bastante discutido, mas que ainda carece de entendimento no que diz respeito ao papel desempenhado pelas línguas existentes no planeta, qual seja, a promoção e celebração do inglês como língua global. Filiada à maior força colonizadora de fins do século XIX e ao poderio econômico e cultural dos Estados Unidos no século XX, a língua inglesa apresenta-se, na atualidade, como ferramenta sociocultural predestinada a encurtar distâncias (políticas, culturais, econômicas e sociais) antes 17


a língua inglesa na áfrica

intransponíveis, facilitando a comunicação e o acesso à informação. Porém, quando se considera que metade das quase 7 mil línguas vivas no mundo está hoje em vias de extinção (Unesco, 2003, p. 12), parece produtivo questionar e problematizar a hegemonia do inglês. Em outras palavras, vale a pena construir uma crítica que permita entender, no devir histórico, as condições de produção do inglês enquanto língua globalizada e globalizante bem como as conse­quências de sua hegemonia. O lugar das línguas africanas no mundo do inglês global pode ser melhor entendido, portanto, a partir do exame de duas questões interligadas: a importância social e política das línguas africanas autóctones na África e a construção ideológica do inglês enquanto língua global. São questões que devem ser investigadas a partir de um ponto de vista que considere o prestígio ou o desprestígio das línguas africanas, no passado e no presente, mas também a divisão linguística que dita, no mundo contemporâneo, o valor, o alcance, a força e a fraqueza de certas línguas, dependendo de suas filiações culturais, políticas e, sobretudo, econômicas. Um passo importante para o estudo crítico da desvalorização das línguas africanas e, por outro lado, da difusão global do inglês consistiria, assim, no entendimento da ideia mesma de globalização e da produção e manutenção de uma separação sem precedentes entre línguas dominantes e línguas minoritárias .

A globalização e a língua inglesa: uma história mal contada O uso do termo globalização no início da década de 1980 em escolas estadunidenses de administração de empresas apontava, de forma geral, para a construção de uma economia e cultura globais, que privilegiaria a abertura de mercados nacionais, a flexibilização de políticas protecionistas, a intercomunicação em tempo real e a suposta prosperidade das diversas nações do planeta. Não demorou muito, no entanto, para que essa visão celebratória da globalização financeira, bem como a ideia de uma cultura globalizada, fosse questionada e a globalização entendida como processo criador e potencializador de formas de exclusão social e política, da dependência econômica dos países hoje ditos Os termos “minoritária” e “subalterna” serão usados ao longo do texto como sinônimos de línguas marginalizadas, ainda que tais línguas constituam uma maioria numérica nas sociedades a que pertencem.

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línguas africanas na era do inglês global

emergentes, do empobrecimento sem precedentes de certas regiões do planeta, como se observa hoje no continente africano, e da dominação cultural dos Estados Unidos sobre as ex-colônias europeias. Nesse segundo contexto, teóricos de diferentes áreas chamaram a atenção para a globalização em termos de uma continuidade em relação ao expansionismo europeu, ao colonialismo de fins do século XIX e à constante reinvenção e reorganização do capitalismo para superação de suas crises sistêmicas. Em Millenial dreams, Paul Smith (1997, pp. 14-8) define a globalização como ideo­ logia (“o sonho do milênio”) que propaga a ideia de um mundo integrado ao mesmo tempo em que esconde o acirramento das diferenças entre regiões pobres e ricas do planeta e os dilemas e contradições de uma sociedade mundial cada vez mais fragmentada. Segundo Smith (1997, p. 21), o capitalismo “globalizado” deve ser entendido historicamente a partir de um estudo das crises inerentes ao sistema capitalista a que se referia Karl Marx. Nesse sentido, “o processo de globalização não representa uma ruptura radical com a história do capitalismo, mas um resultado de preocupações familiares ao sistema”, ou seja, a globalização consiste em um fenômeno historicamente explicável a partir das crises provocadas pelo capitalismo “no processo contínuo de revolução dos meios de produção”. Para Smith, a ideologia (ou “mágica”) da globalização faz parte, portanto, de uma reestruturação do sistema capitalista que se torna ne­ ces­sária a partir do colapso do colonialismo europeu e da afirmação da hegemonia estadunidense sobre o sistema mundial em meados do século XX. “A forma contemporânea e ‘globalizada’ de acumulação do capital”, conclui o autor (Smith, 1997, p. 19), “deriva do momento de imperialismo e é em muitos sentidos a continuação do colonialismo e do imperialismo por outros meios”. Outra leitura da globalização como processo que dá continuidade às políticas colonialistas de fins do século XIX foi proposta pelo crítico mexicano Pablo González Casanova. Como pontua o autor em “Globalidade, neoliberalismo e democracia”, processos como a abertura das economias nacionais, a desregulamentação dos mercados, a privatização e a desnacionalização de riquezas naturais e de empresas públicas, os cortes nos gastos públicos para equilíbrio do orçamento e pagamento da dívida externa, a redução de salários, a flexibilização dos direitos trabalhistas, o crescente desemprego e o consequente empobrecimento da população já pobre e de classe média dos países do Terceiro Mundo fazem parte de um conjunto de medidas que surgem da reor­ ganização do poder no plano global e da combinação funcional do poder financeiro, político, militar e cultural, desde fins da década de 1970. Assim, explica­ 19


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Casanova, é preciso que se entenda a globalização neoliberal em termos de um continuísmo de políticas colonialistas, devidamente readaptadas aos novos tempos: O discurso da globalidade não obedece somente a uma realidade epistêmica legítima. Está sendo usado também para uma “reconversão da dependência”. Fre­ quentemente contribui para ocultar ou ocultar-se dos efeitos da política liberal neoconservadora nos países do Terceiro Mundo e dos problemas sociais cada vez mais graves dos quatro quintos da humanidade. Nas linhas essenciais do mundo atual é indispensável ver o novo da globalidade, mas também o velho, e no velho encontra-se o colonialismo da idade moderna, um colonialismo global que hoje é também neoliberal e pós-moderno. A reconversão é em grande parte uma recolonização (2001, p. 50).

É a dependência dos países pobres em relação aos centros de poder e o enfraquecimento acelerado do Estado de bem-estar que levam teóricos como Casanova a enfatizar os prejuízos da globalização financeira para os países do Terceiro Mundo na esteira de uma política imperialista camuflada por uma imagem unificada das diversas culturas e economias mundiais. Fredric Jameson (1998, p. 76) deu um tratamento diferenciado ao tema, chamando a atenção para a sua complexidade e para a improdutividade de se tentar mapear a globalização ou mesmo reduzi-la a julgamentos “totalizantes”. Para o autor, o conhecimento sobre a globalização avança, sem se resolver, pelo entendimento dialético de suas contradições internas. Em “Globalization and political strategy”, Jameson (2000, p. 49) propõe um entendimento da globalização ­tanto em termos das “fantasias e ansiedades” que produz, quanto do processo em si. Partindo de uma crítica a estudos que discutem menos o processo do que os seus efeitos ou, ainda, os seus componentes isolados, Jameson propõe uma análise da relação intrínseca entre os cinco “níveis” da globalização: o tecnológico, o político, o cultural, o econômico e o social. Nesse sentido, destaca o autor ( Jameson, 2000, p. 51), é preciso que se entenda, por exemplo, o entre­ laçamento entre cultura e economia (produzido em grande parte por inovações tecnológicas no campo da comunicação e da distribuição da informação) e a consequente ameaça à autonomia e às identidades nacionais (em si, categorias culturais). Dessa forma, a padronização da cultura mundial, caracterizada pela americanização dos meios de comunicação, das artes e do cotidiano das populações nos mais diversos países pode ser entendida como consequência, em certo nível, “de um processo de dominação econômica — de indústrias cultu20


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