Fa r s รก l i a
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universidade estadual de campinas Reitor Fernando Ferreira Costa Coordenador Geral da Universidade Edgard Salvadori de Decca
Conselho Editorial Presidente Paulo Franchetti Alcir Pécora – Christiano Lyra Filho José A. R. Gontijo – José Roberto Zan Marcelo Knobel – Marco Antonio Zago Sedi Hirano – Silvia Hunold Lara Comissão Editorial da coleção Lvmina Alcir Pécora – Antonio da Silveira Mendonça Flávio Ribeiro de Oliveira – Paulo Sérgio de Vasconcellos – Trajano Vieira
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L UC A N O
Fa r s á l i a C a ntos de i a v
B r u n n o V. G . V i e i r a Introdução, tradução e notas
Edição bilíngue
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ficha catalográfica elaborada pelo sistema de bibliotecas da unicamp diretoria de tratamento da informação
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Lucano. Farsália: cantos de I a V / Lucano; introdução, tradução e notas: Brunno V. G. Vieira. – Campinas, sp: Editora da Unicamp, 2015. 1. Poesia latina. 2. Literatura latina – Traduções e interpretações. I. Vieira, Brunno Vinicius Gonçalves. I. Título.
cdd 871
870 e-isbn 978-85-268-1215-4 Índices para catálogo sistemático:
1. Poesia latina 2. Literatura latina – Traduções e interpretações
Copyright © by Brunno V. G. Vieira Copyright © 2011 by Editora da Unicamp
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Editora da Unicamp Rua Caio Graco prado, 50 – Campus Unicamp cep 13083-892 – Campinas – sp – Brasil Tel./Fax: (19) 3521-7718/7728 www.editora.unicamp.br – vendas@editora.unicamp.br
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Su m á r io
Apresentação . ................................................................................................................ 7 Lista de abreviaturas . ............................................................................................... 11 Introdução . .................................................................................................................. 13 Liber Primus ................................................................................................................ 72 Canto Primeiro ........................................................................................................... 73 Liber Secundus ......................................................................................................... 146 Canto Segundo ......................................................................................................... 147 Liber Tertius .............................................................................................................. 214 Canto Terceiro .......................................................................................................... 215 Liber Quartus ........................................................................................................... 282 Canto Quarto . .......................................................................................................... 283 Liber Quintus ........................................................................................................... 350 Canto Quinto . .......................................................................................................... 351
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apr e s e n ta ç ã o
O desejo de tornar disponível a Farsália aos estudantes e professores de latim — e, de modo geral, aos aficionados por literatura — é a principal motivação deste livro. A obra de Lucano, depois de um longo período de ostracismo, vem merecendo a atenção de um número cada vez maior de leitores e pesquisadores brasileiros, passando de apenas mais um título entre as epopeias de Roma, para a classe de obra pertencente aos currículos mínimos dos cursos de literatura latina de representativas instituições nacionais. Reflexo da recente retomada do texto lucaniano, este livro apresenta a primeira parte de um projeto que pretende chegar à tradução completa desse poema. Estão aqui os primeiros cinco cantos da Farsália traduzidos em verso português e precedidos de uma introdução que contempla alguns dos principais aspectos hermenêuticos relativos à obra. Sendo a Farsália contemporânea do Satíricon e da tragédia senequiana, a crítica moderna entende que sua produção está situada em um período de contraposição às formas codificadas da literatura tradicional, o que leva sua forma épica a entrar em confronto com os estandartes do estilo clássico vigente no século I a.C. principalmente em relação a Virgílio, tanto no tema — uma epopeia predominantemente histórica tratando de um assunto recente sem intervenções mitológicas — quanto na forma — abole-se o distanciamento épico e o narrador se manifesta em relação aos eventos narrados. Nesse sentido, nossa tradução dodecassilábica da Farsália testemunha o percurso que trilhamos na tentativa de resgatar ao leitor de língua portuguesa a poética de Lucano. Na introdução, oferecemos uma síntese das antigas informações biográficas do autor, um resumo dos assuntos narrados, bem como um levantamento de questões relativas ao gênero, à forma épica e ao diálogo intranquilo com a obra
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virgiliana. Encerramos essa introdução com uma nota acerca de nosso projeto tradutório. A tradução, em formato bilíngue, apresenta notas tanto ao texto latino quanto ao texto português. Nas notas ao texto latino, nosso intento foi o de fornecer ao leitor alguns pontos de diálogo do texto lucaniano com os autores e comentadores antigos. As notas ao texto português comentam elementos particulares da cultura romana, ou mesmo sanam dificuldades com relação a aspectos históricos e geográficos que surgem no relato da guerra civil. Uma vez que a bibliografia estrangeira e os intertextos com autores da literatura latina foram largamente utilizados no nosso texto, optamos por oferecê-los em vernáculo, sendo que, no caso das citações em latim, transcrevemos, sempre que possível, também o texto de partida, de modo a garantir o cotejo dos leitores especialistas. Assim, quando não explicitado o tradutor, trata-se de nossa tradução. Com relação aos textos latinos, no tocante a passagens de poemas, tanto quanto nos foi possível, propusemos a versão vernácula em verso português (decassílabo ou dodecassílabo), como já dissera Lima, “não com a pretensão de traduzir poesia e sim de insistir na necessidade de que não se pratiquem cortes drásticos entre conhecimentos de poética e conhecimentos de língua no estudo de idiomas” . Em um projeto dessa extensão cabe agradecer o diálogo estabelecido com alguns latinistas e leitores desde a confecção da dissertação de mestrado “Épica em transe: uma proposta de leitura da Farsália de Lucano seguida da tradução do Canto I” (2002) até a tese de doutorado “Farsália, de Lucano, cantos I a IV: prefácio, tradução e notas” (2007), monografias defendidas como trabalhos de grau na Faculdade de Ciências e Letras da Unesp, campus de Araraquara, e que depois de um longo trabalho de maturação e revisão resultaram neste livro. Agradecemos a Alceu Dias Lima e a João Batista Toledo Prado, pela lúcida orientação — aquele no mestrado, este no doutorado. Os valiosos comentários e anotações de Aécio Flávio de Carvalho, João Angelo Oliva Neto, José Dejalma Dezotti, Marcos Martinho dos Santos, Paulo Sérgio de Vasconcellos e Rodrigo Tadeu Gonçalves. A escrupulosa revisão do texto português da tra dução e as inúmeras sugestões de emendas de Alessandro Rolim de Moura, que me apresentou Lucano e cuja generosidade nas discussões e no empréstimo de preciosas referências bibliográficas foi fundamental para a realização deste
Lima (1995, p. 13).
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livro. E, finalmente, à minha cúmplice no labor e no amor, Luciene Cerdas Vieira, uitā mihi dulcior. Satisfeitos por apresentar um Lucano brasileiro e por fornecer aos leitores lusófonos a possibilidade de confrontar, em português, uma obra que influenciou Zurara, Camões, Basílio da Gama, Cláudio Manuel da Costa, Bocage, Filinto Elísio, Álvares de Azevedo e Machado de Assis, esperamos que esta tradução possa de algum modo contribuir para a cotidiana reinvenção da Antiguidade, presente em nossos gestos, em nossa língua e nas bases de nossas manifestações literárias. Brunno V. G. Vieira
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L I S TA D E A B R EVI A T U R A S
Traduções, edições, comentários e obras de referência A. Arnaud; Adnotationes (Endt, 1909); Adn. B. Bourgery (Lucain, 1958); B. & D. Benoist & Dosson (César, 1906); B. & M. Bornecque & Mornet; C. Castresana; D. Duff (Lucan, 1988); Dic. de Mitologia (Grimal, 1966); DM. F. Fantham (Lucan, 1992); H. Housman (Lucani, 1970); Lej. Lejay (Lucani, 1894); Lem. Lemaire (Lucani, 1830); M. Mariner (Lucano, 1978); NDLP. Novíssimo Dicionário Latino-Português; N. & S. Nuño & Schmidt (Lucano, 2004); OCD Oxford Classical Dictionary; Oxford Latin Dictionary; OLD R. Redondo (Lucano, 1984); T. & B. Thompson & Bruere.
Autores gregos e latinos * Caes.: César (102-44 a.C.) — De Bellum Gallico (Gal.), Bellum Ciuile (Civ.);
* As datas de nascimento e morte dos autores têm por fonte o OLD, adotando nos casos omis sos as conjecturas de B. & M.
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Cic.: Cícero (106-43 a.C.) — de Lege Agraria (Agr.), Pro Archia (Arch.) Epistulae ad Atticum (Att.), Brutus (Brut.), Carmina fragmenta (Carm.), in Catilinam (Catil.), pro Cluentio (Clu.), de Diuinatione (Div.), Epistulae ad Familiares (Fam.), de Fato (Fat.), Pro Ligario (Lig.), Pro Lege Manilia (Man.), Lucullus (Luc.) Pro Milonem (Mil.), de Officiis (Off.), de Optimo Genere Oratorum (Opt. Gen), Orator (Orat.), de Oratore (de Orat.), Epistulae ad Quintum fratem (Q. fr.), Pro rege Deiotaro (Deiot.), Tusculanae Disputationes (Tusc.); Enn.: Ênio (239-169 a.C.): Annales (Ann.); Flor.: Floro (II d.C.): Epitome bellorum omnium annorum DCC (Epit.); Hdt.: Heródoto (V a.C.) — Historia; Hom.: Homero — Ilias (Il.), Odyssea (Od.); Hor.: Horácio (65-8 a.C.) — Ars Poetica (Ars), Epodi (Epod.), Epistolae (Ep.), Carmina (Carm.); Liv.: Tito Lívio (59? a.C.-17? d.C.) — Ab Urbe Condita; Luc.: Lucano (39-65 d.C.): Pharsalia (Phar.); Mart.: Marcial (40?-101? d.C.) — Epigrammata (Ep.), Spetacula (Sp.); Man.: Manílio (I d.C.): Astronomica; Ov.: Ovídio (43 a.C.-17? d.C.): Amores (Am.), Ars Amatoria (Ars), Epistulae Heroides (Ep.), Fasti (Fast.), Metamorphoses (Met.), Tristia (Tr.); Plin.: Plínio, o velho (23-70 d.C): Naturalis Historia (Nat.); Qui.: Quintiliano (35?-95 d.C.): Institutio Oratoria (Inst.); Sal.: Salústio (86-34? a.C.): Bellum Iugurthinum (Jug.), Catilina (Cat.), Historiae (Hist.); Sen.: Sêneca, o retor (55? a.C.-37? d.C.): Controuersiae (Con.), Suasoriae (Suas.); Sen.: Sêneca (5? a.C.-65 d.C.): Apolocyntosis (Apoc.), de Clementia (Cl.), Dialogi (Dial.), Epistolae (Ep.), Hercules Oetaeus (Her. O.), Hercules furens (Her. F.), Medea (Med.), Naturales Quaestiones (Nat.), Oedipus (Oed.), Phaedra (Phaed.), Phoenissae (Phoen.), Thyestes (Thy.), Troades (Tro.); Serv.: Sérvio (IV-V d.C.) — in Virgilii Aeneidos (in Virg. A.); Stat.: Estácio (40?-96? d.C.) — Siluae (Silv.), Thebais (Theb.); Suet.: Suetônio (70?-140? d.C.) — Diuus Iulius (Jul.), Vita Lucani (Luc.), Nero, Vita Persi (Pers.); Tac.: Tácito (55?-120? d.C.) — Annales (Ann.); Tib.: Tibulo (48?-19 a.C.) — Elegiae; Vac.: Vaca (VI? d.C.) — Vitae Lucani; V. Max.: Valério Máximo (10?-37? d.C.): Facta et dicta memorabilia; Virg.: Virgílio (70-19 a.C.): Aeneis (A.), Georgica (G.) e Eclogae (Ecl.); Voss.: Vossianus (século X) — Vitae Lucani.
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IN T R O D UÇÃ O
1. O autor Marco Aneu Lucano é natural de Córdoba , cidade ibérica dentro dos domínios da província romana da Bética , na região Sul da atual Espanha. Nas ceu em 3 de novembro de 39 (d.C.) em uma família ilustre: seu avô materno,
Três biografias ou vidas de Lucano foram transmitidas pela tradição manuscrita: uma que se julga tratar de um fragmento do De poetis de Suetônio (ca. 70?-140? d.C.); outra atribuída a Vaca, um antigo editor ou escoliasta da obra, que é mencionado como expositor Lucani; e uma terceira encontrada junto ao códice de Vossianus do século X , que parece ter sido um resumo daquela de Suetônio. O texto latino das biografias adotado aqui é aquele estabelecido por Bourgery (Lucain, 1958). Além desses testemunhos, para a constituição desta nota biográfica importam, sobretudo, as reminiscências encontradas em autores latinos da geração imediatamente seguinte, como Marcial (40?-104? d.C.), Estácio (40?-96? d.C.) e Tácito (55?-120? d.C.). Duosque Senecas unicumque Lucanum/facunda loquitur Corduba, “um único Lucano e uma dupla de Sênecas /declama Córdoba eloquente” (Mart., Ep. I, 61, 8). Cordubensis é a naturalidade explicitada pelas três biografias. Usa-se para as conjecturas de idade a cronologia feita por Lejay (Lucani, 1894, XXIII-XXIV ). Convém informar in limine que todas as traduções deste livro sem menção de tradutor são de nossa lavra. (Cf. Stat., Silv. II, 7, 29.) A expressividade de Lucano talvez tenha algum reflexo dessa origem hispânica, uma vez que Cícero descreve o estilo dos poetas de Córdoba como “de prosódia pesada e estrangeira” […] pingue quiddam sonantibus atque peregrinum […] (Cic., Arch. 26 ). Há quem faça uma subdivisão dentro da literatura romana denominada “hispano-latina” (Llorente, 1959). Natus est III Nonas Nouembris C. Caesare Germanico II Lucano Apronio Caesiano coss, “Nasceu no dia 3 de novembro, no consulado de C. César Germânico II e Lucano Aprônio Cesiano” (Vac., 3). As datas mencionadas nesta síntese biográfica se situam todas na Era Cristã. 13
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Acílio Lucano, de quem herda o cognomen, fora um orador famoso em sua região ; do lado paterno, trazia o sangue dos Aneus, patronímico de famosos literatos, como Sêneca, o Velho, seu avô, e Sêneca, o filósofo e poeta trágico, seu tio. Tinha por pai Aneu Mela, um riquíssimo cavaleiro romano da classe senatorial . Foi levado a Roma quando ainda era muito jovem e possivelmente seria ele o sobrinho que Sêneca descreve com entusiasmo e bajulação na sua Consolação a Hélvia , escrita entre os anos 42 e 43. Sua formação intelectual recebeu influência direta da filosofia estoica e da literatura praticada nas escolas de retórica. Além do convívio familiar com o tio e o avô, motivavam o contato com o estoicismo as aulas de Aneu Cornuto, um liberto da casa do
Matrem habuit et regionis eiusdem et urbis Aciliam nomine, Acilii Lucani filiam, oratoris operae apud proconsules frequentis et apud clarissimos uiros non nullius ingenii, adeo non inprobandus, ut in scriptis aliquibus hodieque perduret eius memoria, cuius cognomen huic [poetae] inditum apparet, “Sua mãe foi Acília, também daquela mesma região e cidade, filha de Acílio Lucano, um orador não sem talento, cuja atividade era assídua entre os pró-cônsules e entre os homens mais ilustres; este último tanto não deve ser desconsiderado que, por alguns de seus escritos, até hoje perdura a lembrança de quem deu o nome a este poeta” (Vac., 2). Mela et Crispinus equites Romani dignitate senatoria. […] Mela, quibus Gallio et Seneca parentibus natus, petitione honorum abstinuerat per ambitionem praeposteram ut eques Romanus consularibus potentia aequaretur; simul adquirendae pecuniae breuius iter credebat per procurationes administrandis principis negotiis. idem Annaeum Lucanum genuerat, grande adiumentum claritudinis, “Mela e Crispino eram cavaleiros da ordem senatorial. Mela, irmão de Sêneca e de Galião, abstivera-se de disputar as honrarias por contrária ambição e, como simples cavaleiro, gozou do poder dos consulares. Ao mesmo tempo, pensava que o meio mais fácil de ganhar dinheiro era administrar os bens do imperador. Era pai de Aneu Lucano, o que muito lhe aumentava a celebridade” (Tac., Ann. XVI, 16 [trad. Pereira]; Vac., 1). [4] Sed in patria sua non ualuit educari, fatorum credo decretis, ut id ingenium, quod orbem fama sui inpleturum cresceret, et in domina mundi aleretur urbe. [5] Octauum enim mensem agens Romam translatus est, “Mas na sua pátria não foi possível ser educado, creio que por decreto dos Fados, para que aquele engenho se engrandecesse a ponto de preencher o mundo com a fama dele e se nutrisse na Cidade senhora do mundo. [5] Assim aos oito meses de vida foi levado a Roma” (Vac., 4 -5). Ad nepotes quoque respice: Marcum blandissimum puerum, ad cuius conspectum nulla potest durare tristitia; nihil tam magnum, nihil tam recens in cuiusquam pectore furit quod non circumfusus ille permulceat, “Volta-te aos teus netos: para Marcos, um menino muito gracioso, em cuja presença nenhuma tristeza pode durar. Nada tão grande, nada tão recente magoa o peito de alguém, que ele, carinhoso, não alivie” (Sen., Dial. XII, 18, 4 [trad. Van Raij]; Castresana, 1956, p. 16 ). 14
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seu tio Sêneca, que professava retórica e filosofia à juventude romana abastada da época. O adolescente Lucano frequentou essas aulas junto com o poeta satírico Pérsio . Muito se diz sobre a precocidade de Lucano, que teria escrito sua primeira obra, Iliacon, possivelmente uma síntese da Ilíada homérica, com cerca de 14 anos, em 5310. Como todo romano abastado, foi completar os estudos em Atenas entre os anos de 57 e 58, de onde retorna a pedido de Nero11. Já de volta a Roma e frequentando o Círculo de Poetas sob a batuta do imperador-artista, Lucano assume o cargo de questor — uma espécie de contador do Estado, a primeira função do cursus honorum, “o currículo do cidadão romano” —12 antes da idade legal, que era 25 anos13, função em que teve oportunidade de oferecer jogos gladiatórios ao povo14. A vivência desses espetáculos sangrentos da arena, seja como questor, seja como espectador, te ria influenciado muito o poeta nas suas posteriores narrações de combates15. Há referência também à sua participação no colégio sacerdotal dos áugures, responsáveis pela interpretação do voo dos pássaros e dos relâmpagos, o que teria influenciado seu vasto conhecimento dos fenômenos sobrenaturais do augurato romano16. É por essa época, entre os anos 59 e 61, que o poeta passa a participar do grupo literário de Nero. Em 59, o imperador formou esse grupo
Cognouit per Cornutum etiam Annaeum Lucanum aequaeuum auditorem Cornuti, “[Pérsio] conheceu através de Cornuto Aneu Lucano, que era discípulo de Cornuto naquela mesma época” (Suet., Pers. 5). 10 Ac primum teneris adhuc in annis/ ludes Hectora Thessalosque currus/et supplex Priami potentis aurum,/ et sedes reserabis inferorum, “E já na tenra infância cantarás Heitor e os carros de guerra tessálios/ e o súplice ouro do poderoso Príamo./ E abrirás as paragens dos infernos” (Stat., Silv., II, 7, v. 29). 11 Reuocatus Athenis a Nerone, “Foi chamado de volta de Atenas por Nero” (Suet., Luc. 4). 12 Bornecque e Mornet (1976, p. 90). 13 quaestura honoratus, “honrado com o cargo de questor” (Suet., Luc. 4; Vac., 9 -10). 14 puerili mutato in senatorium cultum et in notitiam Caesaris Neronis facile peruenit et honore uixdum aetati debito dignus iudicatus est. Gessit autem quaesturam, in qua cum collegis more tunc usitato munus gladiatorium edidit secundo populi fauore, “tão logo saíra da infância (16 anos), chegou facilmente à reverência dos senadores e ao conhecimento de César Nero, de forma que nem bem completada a idade de receber cargos, foi declarado merecedor. [10] Exerceu a questura, na qual, com os colegas, conforme o costume de então, ofereceu jogos gladiatórios, com a favorável aclamação do povo” (Vac., 9 -10). 15 Cf. Ahl (1976, pp. 84 - 8). 16 sacerdotium etiam accepit auguratus, “também recebeu o sacerdócio de áugure” (Vac., 10). 15
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almejando sua glorificação também nas artes poéticas. Conta-se que nele se compunham poemas a partir dos insights do príncipe17. No ano 60, Nero instaura os jogos quinquenais, à moda helênica, que foram chamados de Neronia. Competia-se nas modalidades de música (canto, performance instrumental e recitação poética), ginástica e equitação18. Lucano é declarado vencedor nesse concurso, com seu poema Laudes Neronis, “Louvores de Nero”19. Os dois anos que se seguiram foram prósperos para Lucano, e é nesse período que começa a composição do Bellum Ciuile, “A guerra civil” (ou Pharsalia)20, sua derradeira obra e a única que nos chegou na íntegra. Ao que parece, essa epopeia foi sendo apresentada ao público por meio de declamações21. Ela narra os eventos relativos aos anos de 49 e 48 a.C., da guerra civil entre César e Pompeu, luta que culminou com a instituição do Principado em Roma. A publicação de uma edição de três cantos da Guerra civil 22 e a recitação do poema Orfeu, entre os anos de 63 e 64, parecem ter sido um divisor de 17
Ne tamen ludicrae tantum imperatoris artes notescerent, carminum quoque studium adfectauit, contractis quibus aliqua pangendi facultas necdum insignis erat. hi cenati considere simul et adlatos uel ibidem repertos uersus conectere atque ipsius uerba quoquo modo prolata supplere, quod species ipsa carminum docet, non impetu et instinctu nec ore uno fluens, “Não bastava a Nero que ficassem conhecidos seus talentos cênicos; ele ambicionava também a glória poética. Cercou-se de todos aqueles que tinham alguma habilidade de versejar, mas não conhecidos ainda. Estes se reuniam e consertavam os versos por ele fornecidos ou que então improvisava, aproveitando todas as palavras que a qualquer propósito proferia; e isso bem revela a forma de tais versos, sem inspiração nem naturalidade, como provindos de fontes diversas” (Tac., Ann. XVI, 16 [trad. Pereira]). 18 Nerone quartum Cornelio Cosso consulibus quinquennale ludicrum Romae institutum est ad morem Graeci certaminis, “Sendo Nero pela quarta vez cônsul juntamente com Cornélio Cosso, foram instituídos em Roma jogos quinquenais ao modo dos gregos” (Tac., Ann. XVI, 20 [trad. Pereira]). Também Suet., Nero XII, 3. 19 prima ingenii experimenta in Neronis laudibus dedit quinquennali certamine, “deu a primeira amostragem de seu talento com os Louvores de Nero, no concurso dos jogos quinquenais” (Suet., Luc. 1). Quippe et certamine pentaeterico acto in Pompei theatro laudibus recitatis in Neronem fuerat coronatus, “Com efeito, tendo ocorrido o concurso quinquenal no teatro de Pompeu, Lucano venceu recitando os Louvores a Nero” (Vac., 13). 20 Cf. nosso comentário à questão do título no item 2 .1 desta Introdução. 21 Dein ciuile bellum, quod cum Pompeio a Caesare gestum est, recitauit, “Logo depois, recitou a guerra civil que foi movida por César contra Pompeu” (Suet., Luc. 1). 22 ex tempore Orphea scriptum in experimentum aduersum complures ediderat poetas et tres libros quales uidemus, “a partir daquele tempo, publicara Orfeu, escrito como ensaio contra vários poetas e também os três livros [da Guerra civil] assim como vemos” (Vac., 13). Essa edição 16
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águas do destino de Lucano, pois, a partir daí, suas relações com o príncipe se esfacelaram. Seja por inveja de Nero23, por vaidade do poeta 24 ou por ambos os motivos, o imperador o proíbe de fazer a divulgação de seus versos25. Ocorre que o príncipe começava a demonstrar sinais de tirania e violência em relação à aristocracia senatorial, afastando-se do modelo do Principado de Augusto, adotado no início de seu governo26. Já em 62 , o próprio Sêneca, tutor e conselheiro de Nero, afasta-se do poder27. Em 63, banido por decreto anterior à ruptura está na base de toda a polêmica sobre a duplicidade ideológica da obra: os cantos I, II e III seriam favoráveis a César e o restante da obra assumiria uma postura contrária a ele. São partidários dessa duplicidade: Boissier (1913) e Plessis (1909; justifica-se com a tese da existência de dois inícios distintos posteriormente justapostos). Eles influenciaram grande parte da crítica posterior — Bayet (1950), Grimal (1960) e, mais recentemente, Cardoso (1989, p. 28) e Carvalho (1999, p. 59). 23 Quo ambitiosa uanitate non hominum tantum sed et artium sibi principatum uindicante, “Pela ambiciosa vaidade, de quem reivindicava o primeiro lugar não só entre os homens, mas também nas artes” (Vac., 14). 24 Quod Nero se recitante subito ac nulla nisi refrigerandi sui causa indicto senatu recessisset, neque uerbis aduersus principem neque factis uexantibus post haec temperauit, “Porque Nero, enquanto Lucano discursava e apenas para lhe arrefecer, havia-se retirado antes da votação do senado, depois disso não se conteve nem com palavras contra o príncipe, nem com fatos ofensivos” (Suet., Luc. 4). 25 Lucanum propriae causae accendebant, quod famam carminum eius premebat Nero prohibueratque ostentare, uanus adsimulatione, “Motivos particulares inflamavam Lucano, porque Nero, imbuído de baldada rivalidade, procurava sufocar sua glória poética, proibindo-lhe que mostrasse seus versos” (Tac., Ann. XV, 49 [trad. Pereira]). Vac., 14, refere que a proibição se estendia também a atividades advocatícias. 26 ex Augusti praescripto imperaturum se professus, “prometeu que ele haveria de governar a partir do modelo de Augusto” (Suet., Nero X , 1). Segundo Vizentin, o período conhecido por quinquenium Neronis (54 - 62), em que o imperador teria governado com justiça, coincide com uma orientação política voltada “para forma tradicional aristocrática”. No período seguinte, 62 - 68, Nero teria tomado atitudes populares que desagradaram à aristocracia (2005, p. 66 ), favorecendo a insatisfação que teria gerado a Conspiração de Pisão. 27 Ferebatur Seneca quo inuidiam sacrilegii a semet auerteret longinqui ruris secessum orauisse et, postquam non concedebatur, ficta ualetudine quasi aeger neruis cubiculum non egressus, “Sêneca, contam, para afastar de si a odiosidade daquele sacrilégio, pediu permissão para se retirar para longínquo sítio e, tendo-lhe sido recusada, pretextou moléstia dos nervos, a fim de não sair de seus aposentos” (Tac., Ann. XV, 45 [trad. Pereira]). Guarinello (1996 ), fundamentando-se no relato de Tácito, oferece um sucinto panorama da participação de Sêneca e da “nobreza estoica” no principado de Nero. O autor mostra como esse estoicismo acabou por influenciar a leitura que até hoje é feita desse momento histórico. 17
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imperial, Lucano se envolve com a conjuração de Pisão, uma tentativa de substituir o príncipe Nero pelo nobre romano Caio Pisão. Naquela época, ele era já um conhecido poeta, vindo a ocupar uma posição de destaque entre os conjurados28. É desse tempo sua obra De incendio urbis, “Sobre o incêndio de Roma”, hoje perdida 29. No ano de 64, num período bastante conturbado de sua vida pública, Lucano contrai matrimônio com Pola Argentária, mulher que demonstraria bastante zelo na manutenção de sua memória por meio da musa de Estácio e Marcial30. Descoberta a conjuração, Lucano é condenado à morte, e, em 30 de abril de 65, se suicida, cortando as veias31, tipo de morte bastante difundido entre os romanos do período. Conta-se que, na tentativa desesperada de ter perdoada a pena, teria denunciado a própria mãe, Acília, que era inocente. Ela, contudo, teria sido poupada pelo imperador32. Deixa sem a última revisão os sete cantos 28
paene signifer Pisonianae coniurationis extitit, multus in gloria tyrannicidarum palam praedicanda ac plenus minarum, “ele se sobressaiu quase como um porta-estandarte da conjuração de Pisão, insistente na aclamação da glória dos tiranicidas em público e pródigo em ameaças” (Suet, Luc. 6 ). 29 Dices culminibus Remi uagantis/ infandos domini nocentis ignes, “Dirás que nos telhados de Remo se espalha/ o incêndio infando de um nocivo senhor” (Stat., Silv. II, 7, 60 -1). 30 Estácio situa o casamento de Lucano com Pola Argentária como posterior a Orpheus e ao De incendio urbis, ou seja, depois de 63 (Silv. II, 7, 58 - 63). 31 Exin Annaei Lucani caedem [Nero] imperat. is profluente sanguine ubi frigescere pedes manusque et paulatim ab extremis cedere spiritum feruido adhuc et compote mentis pectore intellegit, recordatus carmen a se compositum quo uulneratum militem per eius modi mortis imaginem obisse tradiderat, uersus ipsos rettulit eaque illi suprema uox fuit, “Depois ele ordena a morte de Aneu Lucano. Este, em rios de sangue, quando lhe esfriaram os pés e mãos, foi percebendo, paulatinamente, a vida se retirar a partir das extremidades, até aí com ardente coração e senhor de si, tendo recordado o poema por ele composto, no ponto em que um soldado ferido tinha-se entregado à morte de um modo semelhante ao seu, tais versos recitou e foram essas as suas derradeiras palavras” (Tac., Ann. XV, 70). 32 Post promissa impunitate corrupti, quo tarditatem excusarent, Lucanus Aciliam matrem suam, Quintianus Glitium Gallum, Senecio Annium Pollionem, amicorum praecipuos, nominauere. […] Acilia mater Annaei Lucani sine absolutione, sine supplicio dissimulata, “Depois, corrompidos com a promessa de impunidade a fim de se desculparem da demora da confissão, Lucano acusou sua própria mãe Acília. […] A mãe de Lucano, Acília, não foi punida nem absolvida, nem ao menos julgada” (Tac., Ann. XV, 56, 71 [trad. Pereira]); Facile enim confessus et ad humillimas deuolutus preces matrem quoque innoxiam inter socios nominauit sperans impietatem sibi apud parricidam pricipem profuturam, “Facilmente confessou e, lançando-se aos mais humilhados pedidos, nomeou também a [própria] mãe inocente entre os cúmpli18
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restantes33 do seu poema maior, o Bellum Ciuile (ou Pharsalia). De sua produção literária 34 constam os seguintes títulos de poemas: Iliacon (“Poema ilíaco”), Laudes Neronis (“Louvores a Nero”), Catachtonion (“Descida aos infernos”) e/ou Orpheus (“Orfeu”)35, Allocutio ad Pollam (“Palavras à Pola, sua esposa”), Saturnalia (“Saturnais”), Siluarum X (“Poemas variados em dez livros”), uma tragédia inconclusa, Medea (“Medeia”), Salticae fabulae XIV (Fábulas variadas em 14 livros), um poema contra Nero, Famosum Carmen, “Famoso poema”36 e outros poemas incertos. Em prosa citam-se uma declamação Contra Otávio Sagita e uma A favor de Otávio Sagita, Cartas da Campânia e Sobre o incêndio da cidade. Logo depois da morte de Lucano, ainda no século I d.C., a fama de sua obra é testemunhada por Marcial e Estácio, poetas aos quais a esposa dele, Pola Argentária, parece ter solicitado alguns encômios. Trata-se de poemas que falam do reconhecimento da pessoa e da obra de Lucano, alguns deles comemorativos do aniversário de nascimento do poeta. Estácio dedica um longo poema (135 versos) em louvor à produção poética lucaniana, chegando a dizer, em evidente exagero encomiástico, que a própria Eneida se curvaria a ele quando cantasse aos latinos37.
ces [da conjuração] esperando que tal impiedade haveria de ser vantajosa para si, diante do príncipe parricida” (Suet., Luc. 8). 33 Reliqui enim VII belli ciuilis libri locum calumniantibus tanquam mendosi non darent. Qui tametsi sub uero crimine non egent patrocinio: in isdem dici quod in Ouidi libris praescribitur potest: “emendaturus, si licuisset, erat”, “Os sete livros da Guerra civil deixados por ele assim sem correção não dariam lugar a caluniadores. Embora esses livros não precisassem de justificativa diante do verdadeiro crime; deles pode-se dizer aquilo que está já escrito nos livros de Ovídio: ‘Seria corrigido, se se tivesse permitido’” (Vac., 18; Voss., 7). 34 Segue-se aqui a listagem presente em Plessis (1909, pp. 550 -2). 35 Plessis (1909, p. 551) e Narducci (1979, p. 18) chamam a atenção para o fato de Cathachtonion e Orfeus poderem se tratar de uma mesma obra, embora não aceitem o fato. 36 Sed et famoso carmine cum ipsum, tum potentissimos amicorum grauissime proscidit, “Mas também difamou de modo mais grave tanto o próprio Nero como os mais poderosos dentre os amigos desse, por meio de um famoso poema” (Suet., Luc. 5). Como não há, no texto latino dessa biografia, um pronome anafórico que relacione este carmen famosum ao Bellum Ciuile, há quem julgue que se trata de um outro poema, composto logo após o rompimento (62?), no qual Lucano difamava diretamente o imperador. 37 ipsa te Latinis,/Aeneis uenerabitur canentem, “a própria Eneida te venerará ao cantares aos Latinos” (Silv. VII, 79 - 80). 19
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Marcial, cheio de orgulho hispânico, exalta o conterrâneo, dizendo que ele juntou o rio Bétis à apolínea fonte de Castália, na Grécia 38. Em outros poe mas, condena a sentença de morte imposta por Nero39 e refere-se a Lucano como “glória do nosso Helicon”, cantor das “guerras piéricas (tessálicas)”40. Exercendo o seu característico sarcasmo, Marcial também atribui a Lucano um pentâmetro erótico41 e tece um comentário sobre a recepção primeira da Farsália testemunhando uma possível polêmica despertada pela forma da obra42.
2. A obra 2.1 Título Bellum Ciuile é o nome encontrado nos manuscritos mais antigos e referido por Suetônio (Luc. 1) e Vaca (18). Pelo menos desde Hosius (1892), esse título vem expresso nas principais edições do texto. De fato, o nome Pharsalia parece provir de uma interpretação errônea de uma passagem do canto IX em que o narrador se refere à guerra divulgada por ele e vencida por César nos termos Pharsalia nostra 43, “nossa Farsália”. Apesar disso, o emprego deste segundo 38
Vatis Apollinei magno memorabilis ortu/ lux redit: Aonidum turba, fauete sacris./ Haec meruit, cum te terris, Lucane, dedisset,/ mixtus Castaliae Baetis ut esset aquae, “O dia, memorável pelo ilustre nascimento do vate apolíneo,/ voltou. Ó Musas, sede favoráveis aos ritos sacros./ Este dia o mereceu, desde que te trouxe às terras, ó Lucano,/ para que o rio Bétis fosse misturado à fonte Castália” (Mart., Ep. VII, 22). 39 Heu! Nero crudelis nullaque inuisior umbra, /debuit hoc saltem non licuisse tibi, “Ai! Nero cruel e por nenhuma morte mais odioso,/ ao menos isto não devia ter sido permitido a ti” (Mart., Ep. VII, 21). 40 Ille tuus uates, Heliconis gloria nostri, /Pieria caneret cum fera bella tuba, “Aquele teu vate, glória de nosso Helicon,/ ainda que cantasse com fera tuba as guerras piéricas” (Mart., Ep. X, 64). 41 Si nec pedicor, Cotta, quid hic facio?, “Se não estou sendo enrabado, Cota, o que faço aqui?” (Mart., Ep. X , 64). 42 Sunt quidam, qui me dicant non esse poetam: /sed qui me uendit bybliopola putat, “Que poeta não sou,/ muita gente pensou,/ quem me vende, porém,/por poeta me tem” (Mart., Ep. XVI, 194). 43 o sacer et magnus uatum labor! omnia fato/ eripis et populis donas mortalibus aeuum./ inuidia sacrae, Caesar, ne tangere famae;/ nam, siquid Latiis fas est promittere Musis,/ quantum Zmyrnaei durabunt uatis honores,/ uenturi me teque legent; Pharsalia nostra/ uiuet, et a nullo tenebris damnabimur aeuo, “ó sacro e excelso ofício dos poetas! Tudo/ furtas ao Fado e cedes 20
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