Carnaval de Podence




É Carnaval!
Associação Grupo de Caretos de Podence
Ritual de Caretos de Podence
O diabo saiu à rua História O fato
Um Carnaval mais tenebroso do que o Halloween.
Numa longínqua aldeia de Trás-osMontes, nos últimos dias de inverno, o sol nasce ao som de urros e chocalhos: «- Escondam-se! Vêm aí os caretos!».
É Carnaval, e os rapazes solteiros saem à rua, mascarados de demónios, para assustar as pessoas e armar confusão. Aos gritos e aos saltos, com chocalhos de ovelha amarrados à cintura, correm atrás das raparigas para as «chocalhar» - abanar os chocalhos contra elas. Depois, entram nas casas das pessoas para lhes esvaziarem a despensa e lhes beberem o vinho. Satisfeitos, voltam para a rua, agitando o cajado no ar, à procura da próxima vítima das suas tropelias.
Esta festa desenfreada e barulhenta acontece um pouco por todas as aldeias transmontanas, por altura do Carnaval, para celebrar o fim do inverno e a entrada na primavera. Até aos anos 60 do século passado, a mudança de estação era uma altura muito importante para as pessoas destas terras, que aproveitavam para pedir os seus desejos e festejar com fartura. À medida que elas deixaram de trabalhar na terra, emigraram ou se mudaram para as cidades de litoral português, perderam-se também estes festejos.
Mas a tradição continua viva em algumas aldeias. Em Podence, por exemplo, os caretos ainda saem à rua! Os habitantes desta pequena localidade não deixaram cair no esquecimento a festa do Entrudo Chocalheiro, que herdaram dos tetravós. Crianças e adultos, raparigas e rapazes… já todos se mascaram e fazem a vida negra a quem se cruza no seu caminho. E os becos e largos da aldeia já são pequenos demais para receber turistas de todo o mundo.
Mogadouro, Serapicos, Lazarim, Alfaião… Cada aldeia, uma máscara diferente. Mas todas têm uma coisa em comum: metem muito, muito medo! Umas têm dentes afiados e línguas penduradas; outras, bigodes retorcidos e olhos rasgados; outras, ainda, enormes chifres a sair da testa. Imagina cruzares-te com uma figura destas, à noite!... Os chocalhos e os trajes, feitos de colchas velhas, tecidos garridos e franjas penduradas, completam o visual aterrador dos caretos – verdadeiros monstros diabólicos que semeiam o caos e a desordem!
João Berhan, in Revista Dois Pontos, Nº 1, p. 40, Janeiro de 2020.
Os Caretos de Podence, são uma tradição enraizada na aldeia mais colorida de Portugal - Podence , celebraram recentemente parcerias com várias entidades, a “Casa Jose Pedro “( Vinho dos Caretos} de Valpacos, a “Casa Aragão” (azeite dos Caretos ) de Alfândega da Fé, Ginjinha do Careto Vila Nova “Rainhas de Óbidos”,
Queijo do “Careto, Bornes- Macedo de Cavaleiros e o chocolate dos Caretos da “Avianense” de Viana do Castelo. Esta colaboração visa promover e valorizar o património cultural e gastronómico da região, unindo esforços para destacar as tradições e os produtos locais.
Esta iniciativa conjunta pretende não só celebrar as tradições enraizadas, mas também impulsionar o turismo e a economia local, destacando o que de melhor a região tem para oferecer.
Contribuindo para a dinamização e sustentabilidade da Marca Caretos de Podence.
No coração do Nordeste Transmontano, na aldeia de Podence, celebra-se na semana carnavalesca o tão aclamado Carnaval de Podence – Entrudo Chocalheiro, onde os Caretos de Podence (encenação pagã) dão cor com os seus trajes à aldeia e aos muitos turistas que por ali passam.
A festa da antiga Roma tinha por objetivo fecundar as mulheres. É num tom mais animado, que os Caretos de Podence, chocalham as mulheres novas e solteiras.
Os Caretos são a principal atração dos dias carnavalescos, e a sua imagem remonta, pela crença popular, a rituais diabólicos, ligados a Satanás e coisas sobrenaturais.
Os seus fatos coloridos, normalmente, de amarelo, verde e vermelho, são usados de geração em geração e são de fabrico da própria aldeia que se situa no coração transmontano. Os fatos, são constituídos por tecidos de colchas velhas de lã ou linho.
À cintura, um cinto de couro coberto de chocalhos e no peito duas fitas, também elas de couro, servem de adorno aos fatos, juntamente com o pau/vara que estas “criaturas” transportam nas mãos.
O ritual carnavalesco marca ainda a passagem do Inverno para a Primavera, e era também uma forma de pedir aos deuses uma boa colheita, sem qualquer tipo de pragas ou doenças que assolassem as plantações da aldeia.
No ano de 2019 a 12 de dezembro, na cidade de Bogotá na Colômbia, surge o reconhecimento máximo com a integração na Lista Representativa do Património Cultural Imaterial da Humanidade junto da UNECO. A tradição da pequena aldeia de Trás-os-Montes atingia agora novos palcos e novos sonhos para alcançar.
Na altura do entrudo as unidades hoteleiras enchem não só no distrito de Bragança, mas também em Vila Real.
O reconhecimento da UNESCO é um diamante precioso para todo o território de Trás os Montes que será necessário potencializar ainda mais.
Os caretos ganham assim ainda mais importância para a região transmontana, atraindo de ano para ano mais e mais visitantes. É assim que nasce o impacto na pequena aldeia de Podence. Os caretos aliados ao selo de Património Imaterial da Humanidade, caraterizam assim, uma nova forma de olhar para a tradição de uma região tendenciosa para o despovoamen to, mas que conse gue mover milhares quando, através do esforço e do empenho al cança feitos que são assim, re conhecidos em todo o mundo.
Na atualidade a aldeia de Podence teve que reinventar.
DA ALDEIA PARA O MUNDO ... um novo roteiro turístico!
Quando no “longiquo” Entrudo de 1975 a equipa da cineasta Noémia Delgado1 calcorreou as enlameadas ruas da aldeia de Podence filmando três adolescentes com a indumentária-fatos de careto- já bastante decrépitos,jamais alguém imaginaria o seu significado na comunidade e no revivalismo do carnaval mais genuíno do Nordeste transmontano. A tradição dos caretos nas Festividades de Inverno encontrava-se numa fase de regressão ou hibernação consequência do êxodo da emigração e da guerra colonial,mas qual fénix renascida foi catapultada na actualidade para os itinerários mundiais da cultura popular.
Com o apoio imensurável e permanente do Município de Macedo de Cavaleiros o ENTRUDO CHOCALHEIRO ano após ano e em crescendo atingiu um patamar de primeira grandeza nos eventos turísticos e culturais. Envergando com garbo e virilidade o seu singular e fantástico traje tricolor com as cores da bandeira nacional os caretos de Podence são imagem de marca e embaixadores inatos da cultura popular portuguesa «chocalhando a saudade» na diáspora, do Brasil a Macau.
Conquistada a universalidade em 2019 com o selo UNESCO,nas ruas da aldeia floriram murais alusivos à história e aos rituais dos caretos.Nos antigos currais agricolas,caves e adegas das casas rústicas multiplicaram-se as tasquinhas de comes-e-bebes onde milhares de visitantes saboreiam as delícias da gastronomia transmontana em que o tradicional fumeiro tem lugar rimordial.
Está consolidada a trilogia «PODENCE-CARETOS-AZIBO» mundivivência com história,presente e futuro.Ou seja, património religioso (Igreja NªSnr~ Purificação -imóvel classificado de interesse público} cultura popular (caretos e Casa do Careto) e turismo da natureza(paisagem protegida e praias fluviais do Azibo) incorporando de forma indelével um hodierno mas genuíno roteiro turístico-cultural no reino maravilhoso em pleno coração do Nordeste,um território de simbiose entre a magia da tradição e a beleza ambiental endógena.
Parabéns Associação de Caretos. Parabéns Podence. Parabéns Macedo de Cavaleiros
Obrigado Noémia Delgado.
Luís. M. Carneiro
1. Filme "Máscaras" - Instituto Português de Cinema (1976)
O carnaval é uma festa pagã que em Portugal se veste de diferentes formas. O carnaval mais brasileiro do país, o mais antigo, o mais tradicional e, agora, temos o reconhecido como Património Cultural Imaterial da Humanidade (UNESCO), os caretos de Podence, em Macedo de Cavaleiros. O reconhecimento chegou em dezembro de 2019, o que trouxe novos visitantes na edição de 2020, como nós. Pessoas de todo o país rumaram ao norte para conhecerem o entrudo chocalheiro, inundando as redes sociais de fotografias dos festejos. Este ano, até o Presidente da República marcou presença.
A tradição é masculina, apesar de já se verem “facanicos” (caretos mais novos) meninos e meninas. Os caretos tradicionais eram jovens rapazes que aguardavam pelo carnaval para poderem ir ter com as raparigas solteiras, chocalhando as jovens raparigas com algum atrevimento e aproximação. Sabemos que o Portugal dos nossos avós era muito tradicional e, numa altura em que se namorava à janela, era a oportunidade para, durante uns dias, poderem agarrar o inacessível. O fato e a máscara davam um ar anónimo e brincalhão, com a vantagem de não serem reconhecidos pelos pais das
Comecemos por relembrar que, embora os chocalhos não sejam uma tradição exclusiva de Pondence, é aqui que se tornaram famosos, merecendo o reconhecimento da UNESCO. Existem também os caretos de Lazarim, menos famosos, mas não menos tradicionais.
A origem desta tradição pode estar nos romanos, nas festas Lupercais. Os homens saíam às ruas meios nus, com peles de animais nas mãos. Sacudiamnas, acertando nas mulheres para as tornarem fecundas.
Os nossos caretos são, então, diabos encarnados que saem à rua para fazerem maldades e assaltarem garagens e caves para chegarem aos fumeiros e às garrafeiras. O careto é também viril, jovem e assanhado, por isso corre atrás das raparigas solteiras. Agarraas de lado, numa espécie de abraço “agressivo”, e salta freneticamente, girando a cintura para que os chocalhos lhes acertem nas nádegas. A isto chamase chocalhar.
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O careto veste-se de forma colorida, de amarelo, verde e vermelho.
O fato é feito a partir das colchas e tapetes tradicionais portugueses.
Estas colchas, que antigamente todas as nossas avós tinham, hoje já não são tão comuns. Na época, eram fabricadas em teares caseiros, na própria aldeia. A manta ou o tapete são costurados em forma de fato, com calças, casaco e gorro. À manta, já transformada em fato, prendem-se franjas de lã tingidas.
O capuz leva um prolongamento em lã colorida, uma espécie de cauda, que usarão para chicotear na rua quem lhes apetecer. O fato é guardado no final das festas para o ano seguinte, e é comum passar de pais para filhos.
À cintura, o careto usa um cinto de couro com os chocalhos de latão, 12 se for rico, 8 se for pobre. No peito usa as bandoleiras cruzadas, que podem ter campainhas. Na mão fica a bengala, para ajudar no equilíbrio quando salta. Há tradições que se vão perdendo, como bater com uma bexiga de porco ou uma pele de coelho cheia de ar. Na cara usa uma máscara que pode ser de latão, cabedal ou madeira, pintada de preto ou vermelho. O nariz é pontiagudo e tem aberturas para os olhos e boca. A tradição já não é o que era, e hoje já vêem homens mascarados que não condizem a 100% com esta descrição.
Manda a tradição introduzir as crianças ao ritual, vestindo-as de igual. Esta praxe começou por ser feita aos rapazes com idades entre os onze e os doze anos, perpetuando assim o hábito, incutindo-lhes o gosto de ser careto.
O careto sai à rua no carnaval, na transição do inverno para a primavera, porque tem poderes para limpar as terras e trazer fertilidade. Há também uma crença de que o careto não purifica só a terra, mas também a comunidade. O careto sai à rua do domingo à terça-feira de carnaval, saltando e gritando numa língua própria.
Na quarta feira de cinzas termina o ritual, quando todos vão à missa sem o fato, e só se ouvirão chocalhos no ano seguinte. O entrudo dura de sábado a terça-feira.
Da festa faz parte um pregão casamenteiro. Acontece no adro da igreja, na segunda-feira à noite. Com um funil usado ao contrário, gritam um pregão popular com nome de rapazes e raparigas da aldeia. A intenção é brincar, por isso, os casais que formam no seu pregão são inusitados, e juntam características reais dos visados, como ser preguiçoso, dorminhoco, boa cozinheira, etc. Quando estiverem a assistir, vão distinguir os habitantes locais dos visitantes pelas gargalhadas ao reconhecerem os nomes pregoados.
Este ano o festejo foi organizado pela Associação Grupo de Caretos de Poden ce, com o apoio de outros parceiros. Do entrudo chocalheiro fizeram parte os passeios e visitas ao Geopark Terras de Cavaleiros, os geocruzeiros na Albufeira do Azibo (inscrição prévia), a Ronda das Tabernas, o Pregão Casamenteiro, a Queima do Entrudo, o Desfile de Marafonas e o Festival do Grelo. 26 restaurantes também aderiram. A marafona é uma rapariga mascarada com uma renda a cobrir a cara e um lenço na cabeça, e são respeitadas pelos caretos.
O Museu Casa do Careto está aberto durante todo o dia, onde podem ver os manequins vestidos de marafonas, caretos e um vídeo que conta a história e tradição. Tem também uma loja de recordações no interior do museu.
Na segunda-feira à noite ritual dos Casamentos queima-se a Máscara e os caretos serviram aguardente aquecida a todos. Terça-feira houve novamente queima do entrudo, com uma assistência ainda maior do que na noite anterior.
Palhas, alhas leva-as o vento!
Oh, oh, oh…
Aqui se vai formar e ordenar um casamento.
Oh, oh, oh…
E quem é que nós havemos de casar?
Tu o dirás.
Há-de ser a Maria Pita que mora no bairro do Castelo.
Oh, oh, oh…
E quem é que nós havemos de dar para marido?
Tu o dirás.
Há-de ser o João da Rua que mora lá em baixo no Porto.
Oh, oh, oh…
E que nós havemos de dar de dote a ela?
Tu o dirás.
Há-de ser uma máquina de costura porque ela é uma boa costureira.
E que é que nós havemos de dar de dote a ele?
Tu o dirás.
Há-de ser uma terra ao Souto para que não saia um de cima do outro enquanto for Inverno.
Chegámos na segunda-feira, pousámos as coisas no alojamento e fomos para Podence. Decidimos beber licor tradicional numa taberna onde já estava um careto e onde se vendiam máscaras tradicionais. O taberneiro, descobriríamos depois, faz parte da tradição, aparecendo no vídeo de apresentação na Casa do Careto e sendo o pregoador do Pregão Casamenteiro. Metemos conversa com o Careto, um senhor na casa dos 50 anos.
Já o pai dele foi careto, e ele começou a vestir-se em memória do pai, apenas há poucos anos. Conta-nos que trabalha na câmara, é cantoneiro. Diz-nos também que quer manter a tradição, que o faz por gosto, e fica surpreendido quando o taberneiro lhe oferece o licor, dizendo que “Caretos não pagam”. Cruzar-nosemos várias vezes até terça-feira, inclusivamente, será dos primeiros a chocalhar a Raquel.
No dia 22 de janeiro de 2025, uma comitiva dos Caretos de Podence foi recebida pelo Papa Francisco no Vaticano, assinalando o quinto aniversário da sua inscrição como Património Cultural Imaterial da Humanidade pela UNESCO. A delegação, composta pelo presidente da Associação Grupo de Caretos de Podence, António Carneiro, o Presidente da Câmara Municipal de Macedo de Cavaleiros, Benjamim Rodrigues, o Presidente da Assembleia Municipal, Camilo Morais, e o padre Eduardo Novo, participou na audiência pública semanal no Auditório Paulo VI. Durante o encontro, ofereceram ao Papa uma peça do emblemático traje de Careto, simbolizando o orgulho desta tradição singular.
António Carneiro descreveu o encontro como “uma manhã muito feliz, que vai ficar na história dos Caretos de Podence, sermos recebidos por Sua Santidade. É um grande orgulho, uma grande honra para uma tradição que se tornou universal”. O Papa Francisco recebeu a oferta com agrado e entusiasmo, referindo que “a tradição é mais um estímulo para a cultura de Portugal”.
Esta audiência no Vaticano reforça a importância de preservar e valorizar tradições locais que ganharam projeção global, contribuindo para o diálogo entre culturas e a promoção da identidade de um povo.
Há restaurantes típicos, mas tradição é a população abrir as suas garagens, colocar umas mesas e bancos, e servir refeições.
É obrigatório experimentar as alheiras e os casulos, em sopa ou cozido.
Restaurante Moagem - 918700146
Taberna Sabores do Entrudo - 939902 355
Restaurante Casa do Careto - 968105473
Taberna Quinta da Amendoeira -91 885856
Taberna Curral do Careto - 967536008
Taberna Bela - 935957728
Taberna Facanito - 918700146
Taberna Casa dos Avós - 919059875
Taberna Ti Carolino - 934809698
Taberna dos Bombeiros - 912534303
Adega do Mineiro - 913432988
Taberna do Intrudo - 961669925
Taberna Morais - 937440214
Tasquinha Panorama – 917 343125
Taberna Quinta da Ribeira – 935080230
Taberna do Bicha Cobra- 934240892
Taberna Carne Mirandesa - 965086792
Taberna Zé da Floresta - 91 -2134409
Taberna Família Xavier - 936442043
Taberna do Castelo - 913166945
Taberna da Fonte - 939388027
Restaurante Azibo - 917290080
Apenas para as franjas do fato de careto são precisos dezenas de novelos de lã. Dizem que são necessários sessenta, o que encarece o fato.
Podence está decorada a rigor, vão encontrar várias paredes e muros pintados.
Nós reservámos em cima da hora, por isso sujeitámos-nos a ficar mais afastados da vila. Sugerimos a Quinta da Moagem, um alojamento com piscina em Podence, e o Monte do Azibo Glamping.
Quinta do Azibo
Casas de Campo
Monte Bela Vista
Hotel Azibo Quinta do Pomar Casa do Entrudo
365 dias no mundo estiveram em Podence de 24 a 25 de fevereiro
O museu do Careto, inaugurado a 22 de fevereiro de 2004, está localizado na rua central n.º 19, em Podence, Macedo de Cavaleiros.
Este espaço dedica-se à preservação e divulgação dos rituais dos Caretos de Podence, figuras emblemáticas do Entrudo Chocalheiro, reconhecido como Património Cultural Imaterial da Hu manidade pela UNESCO.
O museu oferece uma exposição perma nente que retrata a tradição carnavales ca da aldeia, exibindo fatos, chocalhos, máscaras e outras indumentárias dos Caretos.
Além disso, conta com um salão multiusos para eventos culturais e recreativos, bem como uma loja onde é possível adquirir merchandising relacionado e vivenciar a experiência de “Ser Careto”.
Horário, está aberto de terça a domingo, das 10h00 às 12h00 e das 14h30 às
Há projetos que marcam para sempre a nossa vida e o processo de candidatura do Carnaval de Podence à Lista Representativa do Património Cultural Imaterial da Humanidade UNESCO será sempre uma história com vários episódios marcantes na minha vida pessoal e profissional. Desses episódios tenho contado vários, às vezes em conferências outras vezes em conversas mais informais. Acabo invariavelmente a refletir em como tudo decorreu sempre numa relação tensa de circunstâncias, ora entre pessoas, instituições, vontades e recursos, ora numa oscilante certeza incerta persistente, que “de repente” num ato “administrativo”, mas para nós intimamente emotivo, no Comité Intergovernamental da UNESCO em Bogotá em 2019, se concretizou.
Foi um “de repente” preparado durante sete anos. Não sei explicar como não desisti, como não desistimos. Acredito que um equilíbrio, sustentado pelo trabalho que se foi desenvolvendo, foi ganhando forças, sobretudo com as conversas que ao longo do tempo fui mantendo, com várias pessoas determinantes em todo este processo, de Podence a Lisboa, das quais tenho de destacar Paulo Costa e Paulo Raposo, pelos quais tenho grande admiração e agradecimento, quer pelos nãos, quer pelos sins, que foram tão cruciais.
Mas, no centro deste perímetro de vários contactos, esteve sempre, em regime de permanência, António Carneiro, presidente da Associação do Grupo de Caretos de Podence, na realidade, o fervoroso crente na potência de um reconhecimento impensável para uma pequena aldeia do nordeste transmontano. Uma região que habita ainda um passado marcado pelo contexto de abandono político, social, demográfico e até histórico, cuja dimensão e impacto as sucessivas administrações locais, regionais e nacionais não têm sabido reconhecer.
Talvez de forma utópica, para mim, que sou transmontana e natural de Macedo de Cavaleiros, influenciada pela minha formação sociológica, tenha sido esse um dos propósitos desta candidatura, um combate que não podendo ser travado apenas por uma aldeia, foi certamente uma forma de pontuar levemente a capacidade de reação local, de afirmação e de reivindicar um projeto de desenvolvimento local, que seria aquilo a que aspiraríamos com a candidatura proposta.
Usarei uma frase cliché para encerrar estes parágrafos: Há ainda muito por sonhar e por fazer, para concretizar este projeto e passados quatro anos, há também novas reflexões a fazer. E como desistir parece não estar no caminho, quero aproveitar estas linhas finais para suscitar uma reflexão renovada do Plano de Salvaguarda da candidatura. Podence pode ser no futuro amanhã um laboratório de boas práticas de salvaguarda do património cultural imaterial, abrangendo a recuperação de outros patrimónios, a inovação, a economia circular. Podence pode ser um exemplo de investimento real em novas práticas de gestão do património cultural imaterial, de salvaguarda dos interesses da comunidade em primeiro lugar e de um turismo sustentável e regenerativo.
Podence, mostrou ser capaz de mobilizar, de inspirar, de atrair, mas o seu reconhecimento pela UNESCO é hoje uma responsabilidade não apenas sua, mas do município, da administração regional e do governo, e obrigatoriamente o seu projeto local, tem de ser considerado na sua dimensão e impacto concretos em todos estes níveis de administração para que possa efetivamente realizar-se.
Termino com um desejo pessoal, de que as palavras ultrapassem os discursos e se tornem construtoras.
E deixo para a despedida o maior dos agradecimentos pela amizade e carinho de todas as pessoas, emigrantes e residentes, que sempre aceitaram com paciência e simpatia a minha intromissão nas suas vidas.
Obrigada, Podence,
Patrícia Cordeiro
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