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Miguel Pavão

Editorial

Miguel Pavão Bastonário da Ordem dos Médicos Dentistas

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Qualidade e ambição na profissão

Há 18 meses fomos confrontados com uma situação crítica. Foram várias as fases por que passámos desde o início da pandemia – para alguns, perdas significativas, para muitos, tempos de angústia, sem igual. Em certos momentos, sentíamos paradoxalmente que estava tudo bem, de tal forma que alguns questionaram a necessidade das medidas de saúde pública impostas. Agora, é possível que sintamos que março de 2020 está longe e que a tranquilidade começa a emergir.

Neste momento, temos 70% dos portugueses com vacinação completa e um nível de confiança aumentado ao sabermos que destes, apenas 0,3% contraíram doença. Para além disto, Portugal ocupa a dianteira nos primeiros dez países do mundo a completar a vacinação à COVID-19. Isto deve-se a um processo que se desenrolou de forma encadeada, envolveu obom desempenho dos serviços e dos profissionais de saúde e que resultou da articulação e sinergias com autarquias, deixando bem patente que quando há organização na base de decisão as coisas funcionam. Se podemos colocar um rosto neste processo é o do Vice-Almirante Gouveia e Melo, que merece destaque pelo exemplo de liderança e entrega à causa pública, sobressaindo a sua dedicação, entrega e assertividade.

Com esta breve reflexão sobre a evolução da pandemia, pretendo dar um exemplo de um processo que foi ganhando contornos, levando a um caminho para a gestão de uma situação crítica. No contexto da medicina dentária, encontrámos várias situações críticas a carecer de um processo para a sua solução. No caso particular do ensino da medicina dentária observámos um crescimento de quase 50% nos últimos 10 anos. Segundo os dados recentes do estudo “Os Números da Ordem”, o rácio de número de habitantes para um médico dentista ativo em Portugal é de 884. A par dessa realidade, o número de estudantes inscritos nos cursos de medicina dentária no país tem aumentado anualmente de forma exponencial. No ano letivo 2009/2010, oprimeiro pós-Bolonha, existiam 2938 estudantes de medicina dentária, sendo que, ao dia de hoje, esse número ronda os 3771 (um aumento superior a 28%). Estará a garantia da qualidade assegurada, em detrimento da quantidade?

A Ordem, enquanto regulador da profissão, não procura outro caminho senão o da dedicação à busca da origem e solução dos problemas que colocam em causa a qualidade no exercício da profissão.

Para que se cumpra este desígnio, todos somos chamados a contribuir para que a qualidade sobressaia na profissão. Desde uma reforma curricular no ensino da medicina dentária, à recém-criada prova de comunicação para quem tenha obtido a sua formação no estrangeiro e que consubstancia a relação médico – doente. Aqui, sublinho que a avaliação de competências linguísticas jamais pode ser interpretada como um bloqueio de acesso à profissão, mas exclusivamente ogarante da qualidade do exercício da mesma. Também a definição de políticas que promovam mais e melhor saúde oral; a criação da carreira do médico dentista no SNS; o posicionamento da medicina dentária no turismo de saúde; a formalização de especialidades e a evolução das recém-aprovadas competências setoriais; a formação contínua da OMD, de caráter consuetudinária; a difusão de políticas ambientais para a profissão; entre outros, são processos em curso que visam a melhoria da qualidade e ambição na profissão.

Com os olhos nos bons exemplos, a OMD continuará o seu caminho e a sua ambição para mais qualidade na profissão.

“A Ordem, enquanto regulador da profissão, não procura outro caminho senão o da dedicação à busca da origem e solução dos problemas que colocam em causa a qualidade no exercício da profissão”

POSITIVO

O protocolo assinado com o Instituto Camões põe em prática o exame de comunicação da OMD.

NEGATIVO

A meta lançada pelo Governo de ter um médico dentista por centro de saúde até 2020 falhou, cumprindo apenas 40% da cobertura do território nacional.

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