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DESTAQUE
Diagnóstico à Empregabilidade 2018
Profissão enfrenta mudança de paradigma
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As novas gerações estão a deparar-se com uma nova realidade profissional. Apesar da medicina dentária continuar a ser uma atividade liberal, há cada vez mais médicos dentistas a exercer por conta de outrem.
Esta é uma das principais conclusões do estudo Diagnóstico à Empregabilidade 2018, realizado pela consultora independente QSP, que mostra uma mutação da profissão na última década. Metade dos médicos dentistas que responderam ao inquérito prestam serviços como colaboradores de clínicas e consultórios, enquanto 45% atuam por conta própria. Apenas 5% está a trabalhar em hospitais ou centros de saúde. Mas, a maior clivagem verifica-se a nível etário: 70% dos que se formaram há mais de 10 anos exercem em consultório próprio e 75% dos que se formaram há menos de 10 anos trabalham por conta de outrem.
A estes dados acresce o facto de a maioria (62%) exercer em um ou dois consultórios, sendo que, neste caso, os números diferem entre gerações. Os formados há menos de 10 anos trabalham maioritariamente em mais do que um consultório. São os médicos dentistas com mais de uma década de profissão que concentram a atividade num local, em particular os maiores de 50 anos, em que 55% exerce num único consultório.
Por outro lado, 78% dos inquiridos encontrou emprego em menos de seis meses, 56% através da entrega do currículo e 38% por recomendação de colegas. Também este processo foi mais célere para os inquiridos formados há mais de uma década (50% começou a trabalhar em menos de um mês). No início de carreira, os mais novos têm dificuldade em encontrar um equilíbrio entre o trabalho e a remuneração.
Para o bastonário da OMD, o estudo confirma a situação de precariedade e incerteza com que a profissão atualmente se depara. Um cenário para o qual a Ordem tem vindo sucessivamente a alertar. “As novas gerações de médicos dentistas enfrentam uma nova realidade chamada subemprego. Se, por um lado, entram rapidamente no mercado de trabalho, a curto e médio prazo têm dificuldade em encontrar um equilíbrio entre horas trabalhadas e a remuneração”, explica Orlando Monteiro da Silva. Segundo o estudo, os mais novos também recebem menos: 77% dos formados há menos de 2 anos têm uma remuneração inferior a 1500 euros brutos mensais e 28% dos que se formaram há mais de 6 anos aufere mais de 3000 euros mensais. Só 4% dos médicos dentistas contam com um salário acrescido de subsídios, sendo que a maioria (54%) aufere remuneração durante os 12 meses do ano e os restantes em 11 ou menos meses. O Diagnóstico à Empregabilidade 2018 revela ainda que 26% dos médicos dentistas auferem uma remuneração fixa, 63% tem uma remuneração variável e 11% recebe de ambas as formas. Entre os que têm remuneração variável, 69% aufere entre 30% a 49% do valor dos tratamentos. Concluindo, 45% tem um rendimento mensal bruto até 1500 euros, 33% recebe entre 1500 e 3000 euros e 20% ganha mais de 3000 euros.
INFORMAR É ESSENCIAL
Para o bastonário, “este estudo, até porque é respondido por médicos dentistas, mostra a realidade de quem exerce a profissão”. O responsável defende que “os médicos dentistas, os estudantes, os futuros candidatos ao curso, precisam de informação factual, atual e verdadeira, e de quem ajude a descodificá-la, para
serem conhecedores daquilo que os rodeia e assim poderem tomar decisões, decisões informadas de qualidade, sobre os temas que afetam a sua atividade e o seu futuro”.
Vocação ou aptidão e melhorar a saúde das pessoas são os principais motivos para quem escolhe a medicina dentária. A formação complementar é central ao exercício da profissão e a classe está consciente dessa necessidade: 80% dos médicos dentistas realizaram formação complementar e/ou contínua nos últimos dois anos. E destes, 28% optaram pelo estrangeiro para atualizar conhecimentos.
CONSULTÓRIOS RECRUTAM
Nos últimos 12 meses, 40% dos consultórios recrutaram médicos dentistas, sendo que 79% escolheram profissionais generalistas. Aliás, dos inquiridos, 25% indicam que não se dedicam a nenhuma área específica na sua prática clínica. As áreas da implantologia (63%) e ortodontia (62%) são as que merecem mais referenciação para outros médicos dentistas. Em termos de consultas, em média, realizam 41 por semana e o tempo de espera dos utentes é de dez dias.
Quase 80% dos médicos dentistas referem que o consultório onde trabalham tem todas as valências da medicina dentária: as mais citadas, com valores acima dos 70%, são implantologia, ortodontia, cirurgia oral, endodontia, dentisteria e reabilitação dentária. Dos inquiridos, 82% confirmam as consultas por telefone e 31% oferecem marcação online. Só 8% faz a confirmação das consultas por correio eletrónico ou mensagem.
Ainda no âmbito das clínicas e consultórios, os participantes no estudo apontam a limpeza e higiene (79% de ponderação) como os atributos mais relevantes no exercício da profissão. Seguem-se o profissionalismo, a competência técnica e o sucesso nos resultados. Já 40% afirmam que o consultório ou a clínica onde
trabalha oferece outras áreas da saúde, as mais citadas são medicina geral e familiar com 21% e análises clínicas com 20%. Mais de metade dos doentes pagam integralmente no ato da consulta, até 15% utilizam um seguro de saúde e até 12% recorrem ao subsistema público de saúde.
HÁ MAIS PACIENTES
No último ano, 47% dos médicos dentistas registaram um aumento de utentes e 40% afirmaram que se manteve o número de consultas. Entre os 13% que citaram uma redução de doentes, 86% atribuíram esta descida ao contexto económico. Entre as medidas tomadas para reverter a queda de utentes estão a aposta na formação, a mudança de horários e a facilidade de pagamento. Por outro lado, 19% referiram ter aumentado o preço dos procedimentos para os doentes, enquanto 60% mantiveram e 10% diminuíram.
Muitas das atividades complementares ao tratamento dentário, no âmbito da consulta, não são cobradas. Das atividades analisadas, os meios de diagnóstico (66%) e a emissão de receitas (55%) são os procedimentos que mais médicos dentistas referem cobrar. Nas restantes funções, mais de metade dos médicos dentistas não cobra qualquer valor. Apenas 60% dos médicos dentistas explicam aos doentes a forma como são construídos os honorários.
Estando a Ordem legalmente impedida de fixar uma tabela de valores referência para a prestação de serviços, quase 90% dos inquiridos consideram importante ou muito importante que o Governo o faça.
O Diagnóstico à Empregabilidade 2018 da Ordem dos Médicos Dentistas tem por objetivo mostrar os principais indicadores da atividade da medicina dentária em Portugal e contribuir para uma visão mais esclarecedora da profissão de médico dentista. O estudo pode ser consultado na página eletrónica da Ordem.