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Entrevista Regina Pinheiro Pag
Entrevista Regina Pinheiro
Regina Pinheiro é especialista em projetos de vitrinismo e visual merchandising. Com mais de 30 anos de experiência, é reconhecida pelas suas criações arrojadas e com personalidade, tendo como principais montras do seu trabalho algumas das mais prestigiadas marcas do setor da joalharia e relojoaria. Estará presente nesta edição da Portojoia para abordar as novas tendências de vitrinismo em joalharia: iluminação, expositores, composição e decoração.
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1 – O vitrinismo é uma forma de expressão?
Sendo uma das “ferramentas” do Marketing, o vitrinismo recorre à criatividade e arte para a criação de formas de expressão, aliadas a estratégias pensadas para conquistar novos clientes e criar laços com eles. No vitrinismo podem ser incorporados elementos decorativos e artísticos que fazem da montra uma “montra espetáculo “, mas existem formas igualmente artísticas de fazer uma boa composição utilizando unicamente o produto e os respetivos expositores. São precisos largos anos de experiência, muito estudo e formação regular para atingir bons resultados.
Sou licenciada em Artes Plásticas e é pelo vitrinismo que eu expresso a minha criatividade, ainda que existam outras áreas que me seduzem e que, em algumas situações, revisito. Quem é criativo encontra inspiração nos materiais, nas cores, nos volumes e na luz. Saber aproveitar os acasos e transformar uma dificuldade numa inovação, é o que mais me apaixona e é, também, o grande desafio do vitrinista.
2 – Com as novas tendências de consumo, o setor da joalharia e relojoaria sofreu uma rápida evolução. O vitrinismo é cada vez mais um fator crítico de diferenciação e afirmação das marcas num mercado cada vez mais concorrencial?
O vitrinismo é cada vez mais importante em todos os setores. Uma loja precisa de usar várias estratégias de marketing para se tornar memorável para o cliente: uma montra criativa, informativa ou com uma excelente exposição de produto
é uma das ferramentas mais fortes para cativar a atenção e angariar novos clientes. No mercado do luxo, o investimento deve ser ainda maior. A arte sempre esteve de mãos dadas com os grandes comerciantes.
3 – Qual é, na sua opinião, o estado da arte da ourivesaria/ joalharia portuguesa no que toca a esta área? As ourivesarias tradicionais estão a despertar para esta necessidade?
Ainda existe muito por fazer neste setor! O primeiro passo é reconhecer a importância de ser diferente e definir o posicionamento da loja no mercado nacional. É também necessário estar sempre a estudar o mercado e prestar
atenção às rápidas mudanças que as novas gerações trazem ao retalho. Não basta ter produto! É necessário valorizálo, pelo “storytelling”, que é feito no vitrinismo, no atendimento e em toda a comunicação da empresa. A nova geração de consumidores é exigente: a mobilidade profissional, a crescente facilidade nas deslocações e o mercado online, torna cada vez mais difícil a fidelização. As lojas não vão deixar nunca de existir, mas a tendência é para os centros urbanos comprimirem as suas zonas comerciais e só sobreviverem as que estão atentas aos novos hábitos de consumo.
4 – Tem vindo a desenvolver um trabalho importante de formação e sensibilização junto do comércio tradicional. Numa altura em que vivemos um boom do turismo, a revitalização das lojas tradicionais é essencial à sua sustentabilidade? E que impacto isso traz para a cidade?
O comércio é essencial para a atratividade das cidades. Sempre que visitamos uma cidade nova procuramos os centros urbanos e as suas ruas comerciais. Quando as lojas encerram para almoço e aos domingos, as cidades ficam tristes e sem energia. As montras com as suas luzes acesas e com uma correta e criativa exposição de produto, transformam a cidade numa urbe viva, dinâmica e fonte de inspiração para muitos outros negócios. O trabalho feito até agora tem sido uma experiência fantástica! E avaliar os resultados positivos após a consultoria é muito animador, pois vemos que pequenas mudanças que fazem muito diferença na faturação. Existe um crescente interesse das Câmaras Municipais em apoiar os comerciantes com planos de formação e consultoria. É um trabalho que está a ser feito em muitas cidades europeias e todos estamos interessados em compreender o futuro do comércio.
As grandes marcas internacionais têm laboratórios de investigação para compreender como poderão ir de encontro às necessidades dos consumidores. As Instituições que trabalham com o Retail têm também esse papel: estudar e apoiar os comerciantes, redefinindo novas estratégias inclusive na distribuição das lojas no tecido urbano.
5 – O que a inspira no desenvolvimento de um novo projeto?
Tudo o que me rodeia é fonte de inspiração, mas só depois de compreender o posicionamento da marca ou da loja e de filtrar a torrente de ideias é que o projeto começa a ganhar forma. Em seguida fazemos pesquisa, esboços e simulações, utilizando a informação sobre as tendências internacionais. Por vezes incorporamos essas tendências, outras vezes ignoramo-las para criar algo verdadeiramente novo, surpreendendo todos os que passeiam na cidade.
6 – Tem algum projeto-sonho que gostasse de concretizar?
O meu pai foi um comerciante dinâmico e inovador e cresci a ouvir que as montras são um dos melhores empregados. Sou apaixonada pela minha profissão e tenho tido oportunidade de ter clientes que confiam na vasta experiência da minha equipa e nos permitem desenvolver ideias novas, fazer parcerias com artistas plásticos ou com outros autores que acrescentam valor aos resultados. Tenho a convicção que os projectos do Regina Pinheiro Studio têm o propósito de criar memória da loja, aumentar as vendas e em alguns casos conseguem elevar a loja para um patamar de prestígio e referência, reconhecido pelos habitantes da cidade e do mundo.
Colaborar com uma equipa de uma marca internacional posicionada no mercado do luxo, como a Cartier, ou a Hermès, seria um projeto-sonho pela vertente artística.
Colaborar com uma equipa num projeto de investigação sobre o futuro do Retail, estudar possibilidades e implementar medidas que possam redefinir o centro comercial urbano, seria um sonho ainda maior, com uma grande responsabilidade social. Mas eu sou optimista e acredito que os sonhos se realizam.