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EDITORIAL

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EUROPA

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“A saúde tem uma componente económica, gera cerca de 10% de todo o emprego e produção na União Europeia. Mas, tem que ter regras próprias, específicas, para defesa da saúde pública, dos seus profissionais, da sociedade.”

Economia vs Saúde?

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Os tratados da União Europeia asseguram no essencial a livre circulação e estabelecimento de pessoas, bens, serviços e capitais. Há, no entanto, duas importantes exceções: A saúde e a proteção social.

Estas duas áreas estão, no essencial, excluídas das políticas europeias e estão referenciadas como responsabilidade de cada Estado-membro da União Europeia.

Nas iniciativas regulatórias da União Europeia, normalmente plasmadas em Diretivas, Regulamentos, Recomendações e Decisões das principais instituições europeias, Tribunal de Justiça Europeu, Comissão Europeia, Conselho e Parlamento Europeu.

Mais de 90% da legislação e regulação de cada Estado-membro da União Europeia advém, direta ou indiretamente, da adoção ou transposição para as legislações nacionais dessas iniciativas normativas regulatórias da UE.

Sucede que, sendo os Sistemas de Saúde e Segurança Social responsabilidade de cada país da UE, a regulação ao nível económico aplica-se sobre sistemas de saúde totalmente diversos de cada um dos países. Tentar impor modelos regulatórios e legislação com impacto económico que afeta todos os sistemas de saúde de cada país, independentemente da sua especificidade, é uma contradição de fundo. Já que estes são totalmente distintos.

As regras da concorrência não se podem aplicar à saúde exatamente da mesma forma que se aplicam a outros setores da economia, como a distribuição, energia ou transportes.

Muito menos se podem aplicar as mesmas regras quando os “jogadores”, os diferentes países, têm handicaps absolutamente diferenciados.

A realidade da Alemanha, França e Holanda, só para dar alguns exemplos, onde existe um sistema de saúde que assegura um seguro com cobertura de cuidados de medicina dentária a toda a população - convencionado com consultórios privados, com valores de honorários definidos pelo respetivos Estados -, é totalmente diferente de um sistema como o português, fundamentalmente privado ao nível da medicina dentária. Por isso, as regras aplicáveis não podem ser as mesmas.

Como demonstra o Barómetro da Saúde Oral 2017, recentemente divulgado pela Ordem com grande impacto na comunicação social, embora os portugueses tenham aumentado as visitas ao médico dentista no último ano, quase 42% não marca uma consulta há mais de um ano.

O barómetro mostra que Portugal, ao nível da saúde oral, é um país a duas velocidades, em que quem tem capacidade financeira tem acesso à medicina dentária e quem não tem capacidade financeira é excluído.

É, por isso, fundamental integrar mais médicos dentistas nos centros de saúde e estabelecer acordos adicionais entre o Estado e os consultórios e clínicas privadas para financiamento de consultas de saúde oral. O Ministério da Saúde tem dado alguns passos, mas é preciso reforçar substancialmente a oferta para abranger efetivamente toda a população.

A saúde não é um negócio, nem pode ser alvo de regras concorrenciais transversais a outros setores da sociedade.

A saúde tem uma componente económica, gera cerca de 10% de todo o emprego e produção na União Europeia. Mas, tem que ter regras próprias, específicas, para defesa da saúde pública, dos seus profissionais, da sociedade.

Foi precisamente isto que expressei no Parlamento Europeu, a 18 de outubro, em nome da Ordem dos Médicos Dentistas e do Conselho Nacional das Ordens Profissionais, num Fórum com profissionais de saúde e deputados europeus dos diversos países da União Europeia.

A propósito de iniciativas regulatórias em preparação que visam desregular ainda mais o setor da saúde, tratando-o como qualquer outro setor sujeito ao mecanismo da oferta/ procura.

O bastonário

Orlando Monteiro da Silva

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