ÁREAS P ro t e g i d a s Críticas na Amazônia no período de 2012 a 2014
Elis Araújo • Paulo Barreto • Heron Martins
ÁREAS P ro t e g i d a s C rít ica s na Amazônia no período de 2012 a 2014
Elis Araújo • Paulo Barreto • Heron Martins
Belém, junho de 2015
Copyright © 2015 by Imazon Autores Elis Araújo Paulo Barreto Heron Martins Fotos Paulo Barreto Design Editorial e Capa Luciano Silva www.rl2design.com.br Revisão de Texto Glaucia Barreto
DADOS INTERNACIONAIS PARA CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP) DO DEPARTAMENTO NACIONAL DO LIVRO A663a
Araújo, Elis Áreas protegidas críticas na Amazônia no período de 2012 a 2014 / Elis Araújo; Paulo Barreto; Heron Martins. – Belém, PA: Imazon, 2015. 20 p.: il. color.; 21,5 x 28 cm ISBN 978-85-86212-77-2 1. UNIDADES DE CONSERVAÇÃO CRÍTICAS. 2. DESMATAMENTO. 3. POLÍTICAS PÚBLICAS. 4. REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA. 5. PRESERVAÇÃO AMBIENTAL. 6. BRASIL. 7. AMAZÔNIA. I. Barreto, Paulo. II. Martins, Heron. III. Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon). IV. Título. CDD: 333.7509811
Os dados e opiniões expressas neste trabalho são de responsabilidade dos autores e não refletem necessariamente a opinião dos financiadores deste estudo.
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Sobre os autores Elis Araújo é pesquisadora assistente do Imazon, advogada, bacharel em direito e especialista em Bioestatística pela Universidade Federal do Pará (UFPA), em Belém – PA. Paulo Barreto é pesquisador sênior do Imazon, engenheiro florestal pela Faculdade de Ciências Agrárias do Pará (atual UFRA), em Belém – PA, e mestre em Ciências Florestais pela Universidade Yale, em New Haven (EUA). Heron Martins é pesquisador assistente do Imazon e engenheiro ambiental pela Universidade Estadual do Pará, em Belém – PA.
Agradecimentos Os autores agradecem a Carlos Souza Jr. e Adalberto Veríssimo por seus comentários durante a revisão do estudo; e a Glaucia Barreto pela revisão editorial. Também agradecem a Gordon e Betty Moore Foundation, que financiou o estudo.
RESUMO Em geral, as Unidades de Conservação (UCs) têm sido uma das medidas mais eficazes contra o desmatamento na Amazônia e, consequentemente, para a redução de emissões de gases de efeito estufa (GEE). Mas, algumas delas se encontram em situação crítica de desmatamento. Geralmente, essas áreas apresentam ocupações irregulares e estão em regiões de influência de grandes obras de infraestrutura, como rodovias e hidrelétricas, e estão vulneráveis por causa da fiscalização ineficiente. Cientes destes problemas, recentemente órgãos de fiscalização como o Tribunal de Contas da
União (TCU) e o Ministério Público Federal (MPF) demandaram a implementação das UCs no país e, especialmente, na Amazônia. Para contribuir com essas iniciativas, apresentamos as 50 UCs críticas em desmatamento que deveriam ser prioritárias para as ações de implementação, sobretudo de regularização fundiária – ou seja, a retirada de ocupantes irregulares e a indenização e reassentamento daqueles que tiverem esse direito. Essas áreas críticas concentraram 96% do desmatamento ocorrido em UCs da Amazônia no período de agosto de 2012 a julho
de 2014. Sete das dez áreas mais desmatadas e que respondem por 81% do desmatamento nas áreas críticas sofrem com o baixo grau de implementação de acordo com dados do TCU (ou seja, faltam planos de manejo, conselho gestor, recursos humanos e financeiros suficientes). O sucesso das UCs contra o desmatamento e como base para o desenvolvimento local (turismo, extração de madeira sustentável) depende de investimentos. O governo deve fazer um plano de longo prazo que considere os recursos necessários e as ações prio-
ritárias. O foco inicial dessas ações deve ser as áreas críticas de desmatamento, mais pressionadas (em torno de projetos que atraem imigrantes como hidrelétricas e o asfaltamento de estradas) e vulneráveis por causa de ocupações irregulares. Para garantir a integridade dessas áreas, recomendamos: punir todos os crimes associados ao desmatamento ilegal, que resultam em confisco de bens e penas maiores; retirar ocupantes não tradicionais das UCs em que sua permanência não é permitida; e retomar terras públicas fora das UCs para os reassentamentos necessários.
Sumário Introdução
8
As áreas críticas
10
Recomendações
16
Referências
18
Anexo
19
Áreas Protegidas Críticas na Amazônia no período de 2012 a 2014
Introdução
terior causa conflitos quanto ao uso de recursos, o que pode levar à degradação ambiental e à perda de sua finalidade. E a demora na retirada desses ocupantes gera a expectativa de que o governo revogue ou reduza UCs para permitir sua permanência ou que, no mínimo, pague indenização ou os inclua em assentamentos da reforma agrária (Araújo & Barreto, 2015). Essa situação estimula novas ocupações. Pesquisas indicam que as UCs com conflitos fundiários são menos eficazes no combate ao desmatamento (Nolte et al, 2013). Cientes destes problemas, recentemente órgãos de fiscalização como o Tribunal de Contas da União (TCU) e o Ministério Público Federal (MPF) demandaram a implementação das UCs no país e, especialmente, na Amazônia. No final de 2013, o TCU realizou um diagnóstico da gestão e da governança de UCs no bioma Amazônia e constatou que apenas 4% das UCs apresentavam alto grau de implementação (TCU, 2013). Isso porque poucas apresentavam plano de manejo, conselho gestor, recursos humanos e financeiros suficientes; e poucas tinham os usos definidos pela legislação implementados, como concessão florestal e turismo. Entre os fatores que impedem que as UCs atinjam seus objetivos está a falta de regularização fundiária. O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) informou ao TCU que existiriam 5,4 milhões de hectares de terras privadas dentro de UCs federais no Brasil para desapropriar a um custo
As Unidades de Conservação (UCs) têm sido uma das medidas mais eficazes contra o desmatamento na Amazônia e, consequentemente, para a redução de emissões de gases de efeito estufa (GEE). A criação de 485 mil quilômetros quadrados de Áreas Protegidas (Unidades de Conservação e Terras Indígenas) na região entre 2003 e 2006 ajudou a reduzir em 37% a taxa de desmatamento nesse período (Soares-Filho et al, 2010); e o Brasil reduziu em 38% as emissões de GEE entre 2005 e 2012 (SEEG/OC, 2014). Apesar dos benefícios dessas áreas, algumas se encontram em situação crítica de desmatamento (Martins et al, 2012). Em geral, as UCs críticas estão na área de influência de grandes obras de infraestrutura, como rodovias e hidrelétricas (Araújo et al, 2013). Tanto as obras em curso como as planejadas implicam em grande fluxo migratório para a região, melhoria ou expectativa de melhoria no escoamento da produção local e valorização das terras em seu entorno. Nesse contexto, o acesso facilitado às UCs e uma fiscalização ineficiente permitem a exploração ilegal de seus recursos e até mesmo a apropriação de suas terras. A existência de ocupantes com ou sem título dentro de UCs que não permitem imóveis privados em seu in-
8
de R$7,1 bilhões (TCU, 2013). Na Amazônia, seriam 3 milhões de hectares a um custo de desapropriação de R$2,3 bilhões. Com base nesses números, o TCU estimou que o governo federal demoraria 102 anos para concluir a regularização fundiária das UCs federais se mantivesse o ritmo insuficiente de investimento apresentado entre 2009 e 2012. Para garantir a conservação das UCs no bioma Amazônia, o TCU e os Tribunais de Conta dos Estados (TCEs) demandaram que os governos apresentassem planos de ação para sua implementação. Esses órgãos devem acompanhar a implementação das UCs a partir de 14 indicadores (Anexo). Em 2014, o MPF lançou uma campanha nacional em prol da regularização fundiária das UCs e um manual de atuação para orientar os procuradores da República a acompanhar a implementação
das UCs e a impulsionar seu processo de regularização fundiária (PGR, 2014). Para contribuir com essas iniciativas, apresentamos as UCs críticas em desmatamento que deveriam ser prioritárias para as ações de implementação, sobretudo de regularização fundiária.
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As áreas críticas Entre agosto de 2012 e julho de 2014, 1.531.000 hectares foram desmatados na Amazônia, sendo que 158.400 hectares ou 10% ocorreram em 160 UCs[1]. Destas, 50 UCs em oito estados concentraram 96% do desmatamento (Figuras 1 e 2), dos quais 87% ocorreram em apenas dois estados: Pará (48%) e Rondônia (39%). Segundo o TCU, a implementação foi baixa (46%) ou média (46%) na maioria das UCs críticas. O baixo grau de implementação predomina entre as dez UCs mais desmatadas (7/10), que respondem por 81% do desmatamento nas áreas críticas (Figura 2). Apenas 8% das 50 UCs críticas apresentaram um alto grau de implementação. Dentre as 50 UCs críticas, aquelas sob gestão estadual foram as mais desmatadas, com 101.611 hectares ou 67%. Contudo, no Pará, as UCs federais foram mais desmatadas que as estaduais, enquanto que em Rondônia observamos o contrário (Figura 3). O Estado de Rondônia destaca-se por reduzir e revogar UCs para legalizar e promover ocupações e permitir a construção de hidrelétricas (Araújo & Barreto, 2010). Estes dados indicam que tanto os órgãos estaduais quanto os federais devem melhorar a gestão das UCs, priorizando as mais desmatadas. [1] Projeto Prodes - Monitoramento da Floresta Amazônica por Satélite, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Disponível em: <http://www.dpi.inpe.br/prodesdigital/prodesuc.php>.
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Figura 1. As 50 Unidades de Conservação com maior desmatamento na Amazônia entre 2012 e 2014
Áreas Protegidas Críticas na Amazônia no período de 2012 a 2014
11
Desmatamento 2012/2014 (ha)
Figura 2. Distribuição do desmatamento entre 2012 e 2014 nas 50 Unidades de Conservação críticas da Amazônia Categoria de UC APA
PA
Grupo de proteção US
Ano de criação 2006
Triunfo do Xingu
Florex
Rio Preto-Jacundá
RO
US
1989
1.055.000
APA
Rio Pardo
RO
US
2010
Flona
Jamanxim
PA
US
144.417 17.683 1.301.120
Resex
Jaci Paraná
RO
Flona
Altamira
APA
Tapajós
Nome da UC
8.244 APA Leandro (Ilha do Bananal/Cantão) 4.018 Resex Chico Mendes 3.289 APA Lago de Tucuruí 2.731 PES Guajará-Mirim 2.655 Flota Antimary 2.079 Flota Mutum 1.774 APA Upaon-Açu/Miritiba/Alto Preguiças 1.745 APA Baixada Maranhense 1.599 Parna Mapinguari 1.555 Flona Itaituba II 1.505 Resex Verde para Sempre 1.338 Flota Paru 902 Parna Jamanxim 898 Flota Rio Madeira (B) 876 Resex Rio Ouro Preto 802 Rebio Gurupi 720 Flona Bom Futuro 697 Flota Amapá 606
Estado
PA 10.146 PA
2006 14.511 US 1996 14.063 US 1998
Área da UC Percentual da UC Grau de (ha) desmatado 2012/2014 implementação 1.679.281 1,65% Baixo
20.233
27.700 1,92% Baixo
12,24%
Baixo
1,12%
Baixo
197.364
7,13%
Baixo
689.012
1,47%
Médio
US
2006
2.039.580
0,40%
Baixo
TO
US
1997
1.678.000
0,24%
Baixo
AC
US
1990
970.570
0,34%
Médio
PA
US
2002
568.667
0,48%
Médio
RO
PI
1990
216.568
1,23%
Médio
AC
US
1997
65.965
3,15%
Alto
RO
US
1996
11.471
15,46%
Baixo
MA
US
1992
1.535.310
0,11%
Baixo
MA
US
1991
1.775.040
0,09%
Baixo
AM
PI
2008
1.744.852
0,09%
Médio
PA
US
1998
405.701
0,37%
Baixo
PA
US
2004
1.288.720
0,10%
Médio
PA
US
2006
3.612.914
0,02%
Médio
PA
PI
2006
859.722
0,10%
Baixo
RO
US
1996
51.856
1,69%
Baixo
RO
US
1990
204.583
0,39%
Baixo
MA
PI
1988
341.650
0,21%
Médio
RO
US
1988
97.357
0,72%
Médio
AP
US
2006
2.369.400
0,03%
Baixo
Sigla dos grupos e categorias de UCs: Grupos: US – Uso Sustentável/ PI – Proteção Integral Categorias: APA – Área de Proteção Ambiental/ Arie – Área de Relevante Interesse Ecológico/ Esec – Estação Ecológica / Flota – Floresta Estadual/ Flona – Floresta Nacional/ Florex – Floresta Extrativista/ Resex – Reserva Extrativista/ Rebio – Reserva Biológica/ Parna – Parque Nacional/ PES – Parque Estadual
Categoria de UC Flona 592 Esec 590 APA 508 Flota 503 Rebio 499 Resex 486 Resex 486
Desmatamento 2012/2014 (ha)
APA 468 Resex 448 Resex 443 Resex 441 APA 383 Resex 379 Flota 357 Flona 350 Parna 324 Resex 282 Resex 275 Arie 266 Flona 266 APA 251 Flona 244 Flota 242 Resex 236 Flona 233
Saracá-Taquera
PA
Grupo de proteção US
Terra do Meio
PA
PI
2005
3.373.110
0,02%
Baixo
Arquipélago do Marajó
PA
US
1989
5.998.570
0,01%
Baixo
Mogno
AC
US
2004
143.897
0,35%
Médio
Nascentes da Serra do Cachimbo
PA
PI
2005
342.478
0,15%
Médio
Cazumbá-Iracema
AC
US
2002
750.795
0,06%
Alto
Alto Juruá
AC
US
1990
506.186
0,10%
Médio
Caverna do Maroaga (Presidente Figueiredo)
AM
US
1990
374.700
0,12%
Médio
Ituxi
AM
US
2008
776.940
0,06%
Médio
Rio Cautário
RO
US
2001
73.818
0,60%
Médio
Renascer
PA
US
2009
211.741
0,21%
Médio
Margem Direita do Rio Negro
AM
US
1995
461.741
0,08%
Médio
Riozinho do Anfrísio
PA
US
2004
736.340
0,05%
Médio
Iriri
PA
US
2006
440.493
0,08%
Baixo
Amana
PA
US
2006
540.417
0,06%
Médio
Amazônia
PA/AM
PI
1974
1.070.737
0,03%
Médio
Rio Cajari
AP
US
1990
501.771
0,06%
Médio
Alto Tarauacá
AC
US
2000
151.200
0,18%
Médio
Seringal Nova Esperança
AC
US
1999
2.576
10,33%
Baixo
Carajás
PA
US
1998
411.949
0,06%
Alto
Igarapé São Francisco
AC
US
2005
30.000
0,84%
Baixo
Roraima
RR
US
1989
167.268
0,15%
Baixo
Araras
RO
US
1996
965
25,12%
Baixo
Rio Preto-Jacundá
RO
US
1996
95.300
0,25%
Baixo
Tapirapé-Aquiri
PA
US
1989
190.000
0,12%
Alto
Nome da UC
Estado
UCs Estaduais
Ano de criação 1989
Área da UC Percentual da UC Grau de (ha) desmatado 2012/2014 implementação 429.600 0,14% Médio
UCs Federais
Áreas Protegidas Críticas na Amazônia no período de 2012 a 2014
Figura 3. Área desmatada entre 2012 e 2014 nas 50 Unidades de Conservação críticas da Amazônia, por estado e esfera de gestão 32.198
Pará
57.761
Rondônia Acre Maranhão
2.833 3.344
Tocantins Amazonas
40.316 1.942
4.802 720 4.018
850
2.003
Amapá
606 282
Roraima
244
Estadual Federal Hectares
As UCs do grupo de uso sustentável apresentaram 95% do total desmatado entre as UCs críticas. A Área de Proteção Ambiental (APA) foi a categoria mais desmatada, com 43% do total (Figura 4). Essa categoria de UC permite a presença de imóveis privados, mas isso não significa que o desmatamento ocorrido nessas áreas tenha sido autorizado. Depois das APAs, as Florestas Nacionais (Flonas) e as Reservas Extrativistas (Resex) foram as mais desmatadas, com 19% e 15%, respectivamente. As Flonas e as Florestas Estaduais (Flota) permitem a exploração sustentável de florestas nativas. Contudo, segundo o TCU,
a maioria das Flonas e Flotas da Amazônia ainda não está sendo usada para tais fins por meio de concessões. As Resexs, por sua vez, têm como objetivos básicos proteger os meios de vida e a cultura de populações extrativistas tradicionais e assegurar o uso sustentável dos recursos naturais da unidade. Entretanto, o TCU constatou que as Resex da Amazônia apresentam baixa implementação dos Acordos de Gestão, instrumento estabelecido para possibilitar à população residente nas UCs o acesso e uso dos recursos naturais extrativistas. Apesar de essas categorias de UC permitirem apenas a ocupa-
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Áreas Protegidas Críticas na Amazônia no período de 2012 a 2014
ção por populações tradicionais[2], como ribeirinhos e caiçaras, elas sofrem com exploração madeireira e ocupações ilegais. A área desmatada de algumas UCs pode parecer pequena à primeira vista, com valores menores que 300 hectares. Porém, quando con-
sideramos o percentual desmatado em relação ao tamanho da UC, a perda pode ser bem significativa, como ocorreu na Flota Araras, que teve 25% de seu território desmatado no período analisado (Ver Figura 2). Nesses casos, o combate ao desmatamento é ainda mais urgente.
Figura 4. Área desmatada nas 50 Unidades de Conservação críticas, por categoria de proteção e por estado 80.000 70.000
Hectares
60.000 50.000 40.000 30.000 20.000 10.000 0
Pará
Rondônia
Acre
Maranhão
Tocantins
Amazonas
Amapá
Roraima
266
Arie Esec
590
Rebio
499
720 2.655
Pes Parna
1.222
Flota
1.259
2.892
1.555
Resex
2.158
15.544
Flona
27.603
697
APA
39.183
17.683
2.583
606
20.233
Florex
4.536
448
282 244
251
3.344
4.018
850
Povos e comunidades tradicionais são grupos culturalmente diferenciados e que se reconhecem como tais, que possuem formas próprias de organização social, que ocupam e usam territórios e recursos naturais como condição para sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica, utilizando conhecimentos, inovações e práticas gerados e transmitidos pela tradição. Definição do art. 3º do Decreto nº. 6.040/2007, que instituiu a Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais. [2]
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Áreas Protegidas Críticas na Amazônia no período de 2012 a 2014
Recomendações O sucesso das UCs contra o desmatamento e como base para o desenvolvimento local (turismo, extração de madeira sustentável) depende de investimentos. O governo deve fazer um plano de longo prazo que considere os recursos necessários e as ações prioritárias. Embora o governo federal tenha reduzido em 72% os gastos do Plano de Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAM) (Infoamazonia, 2015), existem várias fontes de recursos para investir nas UCs, como compensação ambiental, cobrança eficaz de multas e do Imposto Sobre a Propriedade Territorial Rural (ITR) e venda de terras públicas, conforme destacam Araújo e Barreto (2015). O governo deve focar as ações nas áreas críticas de desmatamento, que são as mais mais pressionadas (em torno de projetos que atraem imigrantes como hidrelétricas e o asfaltamento de estradas) e vulneráveis por causa de ocupações irregulares. Para garantir a integridade dessas áreas, recomendamos: Punir todos os crimes associados ao desmatamento ilegal. Além de melhorar a fiscalização ambiental (multas, embargos, confisco de bens), é necessário processar os desmatadores ilegais por outros crimes associados como ocupação de terras públicas, formação de quadrilha, sonegação fiscal e lavagem de dinheiro, como foi feito recentemente no oeste do Pará, na Operação Castanheira (MPF, 2014). As penas cumulativas destes crimes resultam em per-
das financeiras significativas e em prisões por vários anos com maior potencial de dissuasão do que as penas por crimes ambientais, que são mais brandas. Mas, a investigação de crimes associados ao desmatamento requer que o Ibama, Polícia Federal, Receita Federal e MPF trabalhem em cooperação. Retirar ocupantes não tradicionais das UCs em que sua permanência não é permitida, como Flona, Resex e Rebio. Segundo o Superior Tribunal de Justiça (STJ)[3], quem ocupa terra pública, ainda que de boa fé, não tem direito à indenização pelos investimentos que realizou nas áreas. A adoção desta interpretação pelos gestores das UCs pouparia recursos de indenizações indevidas. No caso de ocupantes que têm direito legítimo à indenização por benfeitorias, é preciso descontar desta as multas ambientais aplicadas por desmatamento e exploração de madeira ilegal, bem como os custos de recuperação de áreas degradadas. Retomar terras públicas fora das Unidades de Conservação. A retomada de terras griladas (com títulos falsos) fora das UCs, especialmente daquelas já desmatadas, aumentaria a disponibilidade de terras para o reassentamento de ocupantes não tradicionais das UCs com perfil de cliente da reforma agrária. Para agilizar, os órgãos fundiários devem cancelar os títulos falsos pela via administrativa, mais célere que a judicial (Araújo & Barreto, 2015).
Ver decisões de 2008 e 2009 em recurso especial (Resp): REsp 863.939 - RJ (DJe 24.11.2008) e REsp 945.055 - DF (DJe 20.08.2009). [3]
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Áreas Protegidas Críticas na Amazônia no período de 2012 a 2014
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Áreas Protegidas Críticas na Amazônia no período de 2012 a 2014
Referências mp.br/news/2014/operacao-desmonta-maior-quadrilha-de-desmatadores-da-regiao-amazonica>. Acesso em: 1º set. 2014.
Araújo, E. & Barreto, P. 2010. Anexo OEA 16 – Ameaças formais contra as Áreas Protegidas na Amazônia. O Estado da Amazônia nº 16. p. 4. Belém-PA: Imazon.
Nolte et al. 2013. Setting priorities to avoid deforestation in Amazon protected areas: are we choosing the right indicators? Environmental Research Letters.
Araújo, E. & Barreto, P. 2015. Estratégias e fontes de recursos para proteger as Unidades de Conservação da Amazônia (p. 40). Belém: Imazon. Disponível em: <http://imazon.org. br/publicacoes/estrategias-e-fontes-de-recursos-para-proteger-as-unidades-de-conservacao-da-amazonia/>. Acesso em: 6 mar. 2015.
PGR. Procuradoria Geral da República. 2014. Lançada estratégia nacional do MPF para defesa das unidades de conservação. Secretaria de Comunicação. Notícia de 5 de junho de 2014. Disponível em: <http://noticias.pgr.mpf.mp.br/ noticias/noticias-do-site/copy_of_meio-ambiente-e-patrimonio-cultural/lancada-estrategia-nacional-do-mpf-para-defesa-das-unidades-de-conservacao >. Acesso em: 6 jun. 2014.
Araújo, E.; Martins, H.; Barreto, P. & Lima, A. C. 2013. Áreas Protegidas da Amazônia Legal com mais Alertas de Desmatamento em 20122013. p. 32. Belém-PA: Imazon. Infoamazonia. 2015. A política do desmatamento. Disponível em: <http://desmatamento.infoamazonia.org/analise/>. Acesso em: 6 mar. 2015.
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Martins, H.; Vedoveto, M.; Araújo, E.; Barreto, P.; Baima, S.; Souza Jr., C. & Veríssimo, A. 2012. Áreas Protegidas Críticas na Amazônia Legal (p. 94). Belém-PA: Imazon. Disponível em: <http://imazon.org.br/publicacoes/areas-protegidas-criticas-na-amazonia-legal/>. Acesso em: 6 mar. 2015.
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Áreas Protegidas Críticas na Amazônia no período de 2012 a 2014
Anexo
Indicadores de implementação e gestão de Unidades de Conservação Quadro 1. Indicadores de implementação e gestão criados pelo Tribunal de Contas da União - TCU
Indicador
Tema
G
Plano de manejo
H
Recursos humanos
$
Recursos financeiros
E
Estrutura física, mobiliário e serviços
T
Consolidação territorial
F
Fiscalização e combate a emergências ambientais
P
Pesquisa
B
Monitoramento da biodiversidade
C
Conselho consultivo ou deliberativo
M
Manejo comunitário
A
Acesso das populações residentes às políticas públicas
U
Uso público
N
Concessões florestais onerosas
L
Articulação local
Fonte: TCU, 2013.
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Áreas Protegidas Críticas na Amazônia no período de 2012 a 2014
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