A moça que não sabia falar

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A moรงa que nรฃo sabia falar


É possível falar de amor? Pablo Neruda publicou poemas maravilhosos durante toda a sua carreira. Cantou e encantou sobre um sem número de assuntos, mas sua genialidade apareceu mesmo e de forma peculiar em suas canções de amor. Neruda escrevia bem porque entendeu o que era o amor? Ou por escrever tão bem, conseguiu expressar em palavras tal conceito tão fugidio e ao mesmo tempo tão profundo? A questão é complexa e, por isso, não quero me aventurar em seus meandros. Mas sem saber o que ele é, seria possível falar dele? É possível falar de um sentimento sem saber de sua natureza? A questão continua suspensa e nos coloca numa enrascada ingrata. Rainer Maria Hilke, o grande poeta alemão, talvez apresente uma solução interessante. Ele diz que se a expressão sai da alma de maneira que o poeta não consegue impedi-la, então está aí a verdadeira poesia. Não é o mesmo caso do amor? Se o amor sai naturalmente e mesmo que não quisesse ele continua se manifestando, então o amor está aí, puro, pulsante, real... Nesse sentido, é possível juntar uma coisa à outra: se o amor é esse sentimento incontrolável e a poesia só pode ser resultante de uma expressão maior do que o poeta, ouso então apresentar esse pequeno livro aos meus raros e benevolentes leitores para que compartilhem de uma vida construída e sonhada por dez anos. Desde quatorze de dezembro de 2007, tenho dividido a vida com a Andrezza, essa moça que conheci há quase três décadas atrás e que ainda me desperta curiosidades e desejos. Essa moça que, apesar de falar tão pouco, é eloquente em seus desejos e sonhos. Essa moça que aos poucos se descobre cada vez mais dona do seu destino e não se resigna em ser efetivamente o que é. Ao longo desses dez anos, tivemos imensas dificuldades, mas as alegrias preponderaram. Aprendemos a conversar e a partilhar nossos medos. Hoje não vivemos um para o outro, mas


escolhemos compartilhar nossas vivências para que um e outro se enriqueçam cada vez mais. O amor mora aí, longe de qualquer privação, mas no espaço da escolha. E se hoje, nos escolhemos, é porque há um sentimento muito forte que nos move: o amor!


A moça que não sabia falar

A moça tímida Tinha os braços cruzados Que fechava o peito e o corpo Nada dela se ouvia Mas de longe já vê via Um sorriso de beleza discreta Que em seu rosto se escondia.


Palavra

Um dia, de tanto insistir, Ouvi sua palavra Saiu leve, sorridente Marca peculiar Não disse muita coisa Mas sabia até onde poderia alcançar.


Beijo

Doce Terno Familiar Desperta um mundo E me faz sonhar.


SilĂŞncios

Aprendi cada tom dos seus silĂŞncios Eles me despertaram Me confundiram Me aliciaram Me desaquietaram Me fizeram ouvir sussurros estremecidos Que de tĂŁo doces Nunca poderiam ser ditos.


Afagos

Lembro-me dos primeiros afagos Indecisos Confusos TrĂŞmulos.

Aos poucos Desvelaram o desconhecido.

Tornaram-se tĂŁo confiantes Que quando em mim tocam Fazem soar uma melodia de paz.


Sonhos

Sonhei meus melhores sonhos Acordado ao seu lado.


Nem tudo vale a pena

Nem tudo vale a pena Minha alma é pequena E nem tudo que dela vem Vale a pena. Se algum dia valerá Sei lá! Nem tudo vale a pena...

O que vale mesmo Sãos as vidas pequenas Que juntos geramos. Essas valem a pena E se ainda são pequenas São infinitamente maiores Do que nossa capacidade de amar.



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