Floriano Martins e Viviane de Santana Paulo - Abismanto

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Viviane de Santana Paulo, Floriano Martins © Abismanto, 2012 Imagem da capa e vinheta interna: Floriano Martins Organização, design e editoração: Márcio Simões Sol Negro Edições – Natal – RN – Brasil solnegroeditora@blogspot.com.br edsolnegro@hotmail.com

2012


ABISMANTO VIVIANE DE SANTANA PAULO FLORIANO MARTINS



ABISMANTO


LUVNIS


argolas de espera nos arrastam ou somos nós que as arrastamos? criamos estes aros? me solto do não saber do abandono para cair no falso que invento todo esse tempo e as pequenas formas do cotidiano que a gente não percebe e que estão por aí tão leves vozes ao vento a noite amiúda os truques de nossa busca ou somos nós que nos despistamos? ao mastigar a engrenagem dos ecos deixamos que soletrem em nosso íntimo as imagens que reservamos às ilusões mais comuns a noite sussurra como uma lâmina em minha pele e me desvio do real para te encontrar iniciando as formas grifando os pronomes diante dos verbos não sou maiúscula me desfaço dos pontos e vírgulas

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e me atiro no poço que a paixão enche de querer de busca de sede de pressa de dor de cabeça de naipes de coisa indecifrável de inédito dito exorbitado demandamos a farsa da lua que mostra algo outro o perspectivo impostor das sombras o embuste de nossos corpos distantes trabalhamos árduos para sermos a antera desta ilusão e as pequenas formas do cotidiano que a gente não percebe e que estão por aí tão leves gota de suor de espera de indagação se derramando nas teclas do pensado e trago a tua voz para dentro da noite para o centro da trama em que tudo se esquece deixo tuas palavras crescerem no interior desse mundo perdido o corpo descarnado da memória a luz esmagada pelas sombras as janelas retorcidas impedindo que qualquer coisa entre ou saia trago a tua voz para que se revire toda como a pedra inflamada de suores negros e ouço o silêncio aflito dos móveis pela casa inteira deixo a voz silabar vultos nos espelhos |8


não quero escutar a distância de nossos corpos mas as raias da palma da mão coberta de palavras sublinhando seu peso nas fendas do que criamos colho a solidão de cada sala vazia para desenhá-la no vaso sobre a cômoda do que não se faz necessário ou para ruminá-la com os aros os ecos o silêncio a distância é preciso continuar dilatando os poros na pele das horas resgatar as pálpebras fechadas ante o sentir e deixar de flagrar no espelho a vida de um reflexo de lâmpada acesa na calçada que continuou indiferente minha pele se destaca assim abrindo um lírio dentro da noite e vou buscar um novo sítio para a mobília extraviada intuindo o cheiro com que se revelam as novas sobras do vivido essa miudeza com que por vezes esquecemos de celebrar o instante quantas vezes o verbo quer ir e vir de uma face a outra do abismo? quantas vezes dizemos às pequenas formas do cotidiano que não se ausentem de si? 9|


FALHADRAS


um a um os objetos foram desaprendendo suas formas compondo um esqueleto invisível em que novas sombras se traduzem o vento intimida a ideia que fazemos do tempo tudo dentro da casa se esgueira como se tateasse outro mapa de enredos nada mais se reconhece como a composição do lugar eu mesmo sou estrangeiro buscando entender esta nova cartografia e fugir deste interior limítrofe procurando minhas fronteiras minha falange no meio do dia das pessoas do trabalho da família descobrir as falhas que me acertam que me dirimem que me denegam que me refazem

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as falhas que carrego e as que colho no equívoco do jogo das cenas das quais faço parte e das outras que me apresentam em palcos improvisados na fímbria das tragédias íntimas as sobras do lar a memória desfolhada o baile de fantasmas louças esvoaçantes que atuam como bailarinas loucas o armário desabando em conflitos o instinto desfiando antigas visões por cômodos que se multiplicam trama de portas que sussurram ao ritmo convulsivo das luzes parentes mortos solidão destroçada por mais solidão meu corpo tropeçando na falta que sente de tudo este corpo estrangeiro que não reconhece o vazio de sua nova morada e desespera ao encontrar janelas fora de lugar com paisagens que nunca estiveram aqui

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ALMAVAGAVA


o teu olhar rascunhava um estranho destino na pele de meu sonho carvão aflito por repetidas noites incompreendido mensagem a expulsar-me do sítio em que me encontrava preso nas geometrias dos nossos soluços silenciosos dos sinônimos retorcidos nas linhas verticais do passado tu me entregaste as retas que nunca fizeram parte de mim e sim das grades do teu abandonar-me e quanto mais esboças a ausência de teus pequenos truques eu me deixo atrair por esses recursos famélicos do dia a linha falaz do horizonte por trás das ruínas urbanas a corredeira metálica das ansiedades a catedral do silêncio suspensa em pleno centro do nada

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e por mais que tente sair de ti ali te encontras uma vez mais como uma incógnita que não se esgota acidente a represar minha alegria de viver e por mais que eu não me entregue ao reverso do cotidiano à correnteza que desloca as demandas intrínsecas foram invertidos os nossos papéis somos um os traços do outro e criamos o outro dentro de nós com os meros rabiscos que os olhos extraem do amálgama da realidade o mercúrio que separa o ouro da areia separa a alma que vaga na sola dos pés sonâmbulos embora gasto o mecanismo não encerra sua jornada buscar as pegadas mais profundas e a riqueza do carvão sobre uma folha de dia claro

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NUDISFORME


eu quis te esquecer e não estavas dentro de nada que me lembrasse de mim a vida eu a fui levando para bem longe e por ali não retornavas a parte alguma quando me pus a minerar a memória destroçada descobri que há muito não significavas nada em minha vida não havia senão vazio em muitos lugares a que fui levado pensando em ti deixar-te foi um navegar sem âncora mar adentro que te desfez no interior dos encontros fortuitos nas calçadas nas filas dos supermercados dos bancos no meado dos sábados na velocidade dos ônibus das ruas e das cidades despojadas de tua imagem fragmentada silenciada pelos murmúrios dos passantes reclamando de pedregulhos e buracos dessa época e pombos cagando em cabeças inocentes e culpadas em pleno horário de almoço 19 |


não significavas nada nem a lembrança fugaz de uma ereção ou a surpresa da chuva imbecil molhando-me os sapatos meu rosto distorcido na água meus olhos alagados da secura trazida pelo outro lado das paredes que as pessoas carregam consigo esbarrando em mim desconfiança e disfarce a vitrine ensopada de estilhaços líquidos do que fomos em outros tempos a lembrança roçando em minha pele uns últimos conflitos e pronto o dia recomeçava como se jamais houvesse reconhecido uma sombra tua descorada na esquina até as letras por onde anteriormente se podia vislumbrar um nome se desfazem a cada olhar pousado nelas o que fica de um amor quando acaba cumpre o estranho desígnio de descompor o mundo que habitou já não sei quem és nem mesmo na silhueta errante do esquecimento

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SUSPIRANÇA


jamais soube que nome dar à vegetação do silêncio estendida diante de si permitindo que o caminho ao mar lhe oferecesse uma provável resposta por vezes rabiscava na areia umas primeiras tentativas de esquecer o tempo e o tempo se expandia sob suas pegadas acesas o nome que pretendia escrever não cabia na areia gotejava solidão das letras desencontradas como insetos que houvessem perdido as asas vaga-lumes sem rumo apagados como segredos no azinhavre das tentativas que vêm e vão segredos esquecidos na ferrugem dos pêndulos

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jamais soube lidar com a imensidão da folhagem que recolhia como uma relíquia e a transformava em imprevisível queda no salto do louva-a-deus no instante do perigo atingir o desconhecido repentino as ciladas que os anseios iminentes criam conforme o avanço incerto de cada um de nós jamais soube lidar com a linguagem da névoa nas primeiras palavras do amanhecer na qual o tempo lhe recalcava como um nome na areia breve mas por um momento infenso às línguas ininterruptas do silêncio e do efêmero nada poderia fazer pelas luzes queimadas em seu íntimo nem mesmo mudando o tempo dos verbos sangrando antes da ferida soluçando sem motivo aparente saltando da ponte antes de sua construção a memória queima em cima do telhado sem saber como descer um prato de lentilhas o beijo no rosto da filha o emprego na padaria não importa quem tenha sido um dia quem venha a ser ou quem nunca seja

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jamais soube dar nome a suas emoçþes caiadas no chumbo das horas expostas na epiderme dos gestos restava-me rabiscar no indumento das folhas o mapa que poderia desvendar os segredos de cada desencontro das letras

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PASSAGUADA


a imagem do homem inerte em cima da ponte aferrava-se ao fino esverdeado do rio constantemente passando percorrendo seu caminho prescrito seguindo sem arrependimento sem retorno sem carregรก-la consigo despedindose dela logo do outro lado da ponte a imagem continuava ali turva torta tรกcita o homem continuava ali estรกtico o rio continuava ali transitando a ponte continuava ali atravessando os pensamentos passavam percorriam seu caminho indefinido sem arrependimento retornando carregando vultos inominรกveis despedindo-se e resgatando

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um céu talvez impróprio não encontrava solução para tamanha inércia começam a surgir então as primeiras margens do vazio anotações em tecido quase invisível minúcias ainda de pouco crédito nas vértebras da tarde uma quebra de vozes que percebem naquela imagem um risco menor de desapego não não está ali como quem busca algum mecanismo de punição quer apenas silêncio povoar o esqueleto do silêncio com as figuras minúsculas das últimas descobertas que fez de si mesmo distinguir o transitório no crespo da correnteza a fala dos murmúrios brilhando nos reflexos o imanente da imagem fixa no deslocamento daquilo que passa saber dos pequenos rebuliços da água das transformações que o atravessam que o movimentam saber que é o rio que cria as raízes flutuantes na imagem do homem prendendo-o àquilo que o transpõe

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soletrar essa aprendizagem como quem recobra os mais insondáveis personagens em irreconhecível gaveta entulhada de fotos sem nome uma visão ondulante enredo em descompasso com o que ainda pode lhe significar a vida trama sagaz de ondulações quantos ainda ousará ser antes que o rio se converta em imagem do que teve diante de si e perdeu? quantos ainda restarão quando as margens forem tragadas por esse mistério e não houver mais ponte de onde possa contemplar seu naufrágio?

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TREVILOCUS


a casa está perdida dentro deles como um bosque naufragado vasculham a extensão da queda à procura de motivos escadaria de sombras que leva de uma dúvida a outra da última vez que se foram dali era outra a perspectiva da memória a infância lançava as propostas do futuro no assoalho reluzente as brincadeiras cresciam como as roupas que perdiam folhas secas caídas adubando a vivência o buraco na meia porque o dedão do pé era a lesma espiando do caracol a distância a ser percorrida e corriam em volta da casa o miolo as abelhas zunindo ao néctar das primeiras descobertas

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cada um carrega a sua casa dentro de si a casa construída de invento e vivido de medo e luz acendida de brincadeiras monstros embaixo da cama e leite fervido a casa por um tempo esquecida no álbum de fotografias revelada em cinzas ressurgida após o incêndio de 1970 pequenos vultos ainda percorriam seus vazios o conhecimento do fogo na própria pele calor de maravilhas sutilezas tremeluzindo era um era dois era três a magia pendida no varal a alegria florescendo um dia não se sabe como a casa foi esmaecendo até ser beijada pelo invisível tentam resgatá-la no meio do bosque labiríntico das incertezas crescidas que sempre invadem nossa vida vislumbram arbustos gigantescos engolindo o telhado as paredes as portas as janelas tentam encontrar novamente a casa no meio dos galhos grossos e finos que se alastram e emaranham no ar confundido visões

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tentam reconstruir a casa dos escombros das perdas dos equívocos e não conseguem senti-la dentro deles como a concha no fundo do aquário como o espectro que vagueia pelo vazio onde antes a tábua corrida conduzia de um cômodo a outro e agora as cinzas são recolhidas pelo vento em ângulos absurdos quase todas as cores se foram a luz é com um pranto cego algumas vozes ainda percorrem o íntimo de poucas fotografias os enormes tanques de criação de peixes no quintal o quarto escuro com seus guardados misteriosos o olhar ainda mais enigmático da Chica Gorda mascando fumo enquanto punha a queimar as castanhas talvez por ali a casa comece a ressuscitar pelas curvas dos afazeres domésticos o cheiro de milho cozinhando os insetos circundando risadas e frases talvez por ali pela fresta da porta fechada e as coisas dos adultos reservadas para o momento propício

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talvez por ali comece a ressuscitar a casa que cada um carrega dentro de si submersa no mar da memória ou no fundo do poço onde os fantasmas enjaulados aparecem com cara de palhaço e o eco de gargalhadas cínicas anula o canto das Sirenes elas que sempre chegam apertando a campainha vendendo cosméticos e distribuindo o mapa do paraíso a duas estações de metrô mais cedo ou mais tarde a casa emerge ou naufraga dentro dela ou simplesmente se entrega à corredeira dos próprios dilemas como um ofertório à obsessão desatada da ressurreição

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CIRKUS


eu não esqueci o teu nome quando estavas dentro da pedra o catálogo de vertigens encontrado à deriva com outros pertences anônimos truques rascunhados como se o mundo não passasse de um cenário a valise invisível de teus caprichos química de ilusões solfejo de ardis sinto ainda teu corpo passando pelo meu como uma alegoria extraviada uma febre plantada um bandido reinando no acaso de meus dias mais suspeitos roubando meu equilíbrio a recordação dos bem sucedidos malabarismos teu corpo como uma imprevisível oscilação no alto do trapézio inúmeras vezes ensaiamos a queda no meio da tormenta contorcida dos nossos anseios

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do salto da aventura que buscamos caímos nos braços firmes do ilusório teci a minha rede de segurança dos fios de palavra cuspidos pela tua expectativa mas foi desfeita pelas garras do rotineiro pela faca de sol lançada dos confins desta época e sempre que isso acontecia eu reacendia o teu anel de fogo para circundar o meu querer enrijecido roda da fortuna esfera de vertigens globo ocular do abismo por onde passas teu corpo estremece dentro do meu com suas contorções de despenhadeiros dentro de uma garrafa porém quando busco teu beijo ele já está na outra margem vislumbro as sombras que vão se multiplicando por todo o picadeiro quando refazes a máscara converto os lenços manchados nas mais inocentes pombas da noite teu corpo se enche de aplausos o meu desfia o silêncio como um novelo encontrado na jaula do tigre

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amanhã estaremos desfalecidos para a matinal desfalecidos para a urgência daquilo que seja o antônimo da libido ignoraremos tudo o que é infenso à excitação e mais uma vez o despertar recomeçar o espetáculo com os poros dilatados entraremos novamente em cena teu corpo me ensinará ainda mais os truques do instinto aperfeiçoará o ofício das minhas mãos sedentas ora vamos rir dos nossos tombos fulgor de farsas ora nos entregaremos à arriscada seriedade das manobras e penetrarei no profundo úmido quente estreito momento da tesura onde nossos corpos são as duas feras atravessando o círculo de fogo flutuando petrificadas na memória reaprendendo seus nomes desaparecendo no fundo falso da próxima cena

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CORTINAVIS


ela prepara o fio o óleo as sementes azuladas o afago da névoa os sinais de que seu corpo o deseja enquanto dure seu estoque de horizontes ele a reconhece em cada sombra suspende os véus no ponto mais alto instrui o vento a não deixar de ser brando rabisca os primeiros traços da nudez os contornos nítidos da entrega desenha as formas do ombro do dorso das pernas sem mencionar o intervalo das mãos que caem leves pela planície da epiderme o que antecipa a ventania quente de um verão entrando pela janela e alcança o voo breve das cortinas transparentes por onde a claridade atravessa e pousa na margem da descoberta sobre os lençóis

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ela tem um frasco de vertigens com aromas do próprio corpo ele sussurra palavras como serpentes deslizantes pelas ondulações da cama o calor que vem do exterior e abocanha o ambiente se confunde com a melodia da transpiração de ambos ela transcreve no espelho todo um mapa de excitações ele começa a decifrar-lhe o estojo de abismos antes que o furtivo tome conta das fronteiras e o vazio chegue falando de coisas banais despistando o final da página antes que o depois venha com a simples atitude de levantar-se e ir embora a porta entreaberta como uma boca sem palavras recuperar as roupas já doloridas jogadas no chão duro cães latem na vizinhança arruínam o eco dos gemidos ao tocar-lhe o corpo ela despista toda a nostalgia de outras noites e faz com que o quarto abrigue apenas um iluminado ramo de gozos

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quando ele a penetra um enxame de horizontes infesta aquelas paredes o esvoaçar das cortinas é como uma caligrafia das delícias ela desfia o enredo ele apura as tintas ela soletra as carícias ele enternece os pincéis a noite aprende a ler em seus corpos as sílabas tangíveis do êxtase

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MILACORUM


eu não esqueci o seu nome mas toda vez que ele me visita parece ser outro ao partir deixa sempre para trás duas ou três sombras sem que as mesmas se reconheçam lado a lado herdei ou cultivei já não cabe diferença uma multidão delas a cada aparição sua e com elas venho tecendo uma morada cujo endereço jamais se conclui e que me deixa enroscada nas estacas das palafitas de minhas recordações a água no pescoço o gosto de lama que me entra pela boca é então que me desfaço de paredes finas telhas rachadas madeiras fracas para me ver construindo logo em seguida a fortaleza algo que o vento dos enganos não derrube com três sopros de realidade

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forro as paredes com o lume silente das chegadas com o murmúrio das paragens nos cantos e no teto a cassiopeia sorri mostrando os dentes cintilantes é então que me desfaço da vaidade dos remansos desgastados e dos feixes de claridade e vou buscar outro lugar onde refazer o casulo do meu recomeço mito ou constelação as águas invadem cada uma das casas por onde passo procriam a ferrugem em um ninho de grilhões iludo o meu outro esquecido nas dobras do tempo vastidão de penumbras espelho meu corpo para que me possuas pangeia redimida que volta a formar-se à nossa volta ainda não esquecemos os nomes porém quanto mais nos repetimos mais nos desconhecemos avultamos uma geografia de degredos há muito não somos mais homem e mulher há muito não somos ninguém apenas a miragem de uma placa indicando continuação e nos encolhemos nas batidas do martelo cravando os liames das semanas

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um anfíbio assustado procurando proteção debaixo de enredos interrompidos com o eco dos refrões soando no alto das torres que se desfazem tão logo tocam o céu retalhos de asas utensílios cegos mobília descorada os nomes permanecem espalhados pelos abismos da casa mascando o salitre da espera

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LUNÍSSONO


quando a pusemos dentro da caixa estava envolta em silêncio e mistério o corpo delicado parecia uma miniatura de como a imagináramos a pele era como um rio em sua fluidez constante porque a levamos dali é algo que ainda hoje nos inquieta em seu lugar brotou a hera escalando as vigas da realidade virtual agora naquele canto a luz transborda imagens tortas o dia inteiro mescladas à umidade das salivas germinadas pelas imutáveis angústias onde definidamente nossos elos se incendeiam porque somos sempre uma cadeia de salmos uma corrente de conflitos laços perdidos em nosso íntimo trancafiados os temores e as coragens quebradiças sombra cintilante a da morte imprevisível que paira provisória distante da planície atordoando-nos o murmúrio da lua na pupila das montanhas enquanto um pesado fio de cabelo divide o espaço entre pronomes 49 |


como se fôssemos um brinquedo pequeno quase imperceptível sutilíssimo na reduzida colheita de desassombros o mistério ali permanece guardado como uma joia lacrado em soberbo sigilo sem que as tintas o deformem espelho refletindo a própria solidão e o caráter da ilusão que pusemos do lado de fora da caixa outro corpo talhado na delicada madeira do sonho e da memória o tempo naufragado no olho do pássaro a escada repleta de curvas para melhor uso de seus degraus o piano impossível nas dobras do lençol ela toda ela como um raio que nos levasse de um tempo a outro a branca pepita que ao tocar nos desafia a deixar de ser o que somos

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LAMPADARIUM


selva ateada por todo o corpo sibilante selva com seu lamento disfarçado de ardis visões deixadas para trás como vitrais esquecidos profetas com seus verbos esculpidos em sombras para onde vamos com tantas dores inquietas? quantas lâmpadas escutamos gemendo enquanto a escuridão se refaz? teus passos acendem as pegadas no jardim de cheiros úmidos de pele a que distância estás de mim? o candeeiro da madrugada acende o branco da lua um chumaço de seda cai da haste das horas maduras movem-se as pequenas labaredas no dorso dos cavalos de papel trazem boas mensagens de ti? o fumo esverdeado das promessas sobe os outubros e alumia o pó da noite nos estábulos dos sonhos desembesta o delirante cavalgar da ansiedade

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quantas vezes minhas asas hão de derreter? quantas vezes ainda terei de ser Ícaro ou a mariposa errante até pousar meu corpo na terra macia da tua vigília? a percussão dos gemidos em nossas vértebras celebra a paisagem que começa a tomar forma mundo visível do desejo corpos escrevendo-se no calor das luzes fábula recostada em tua silhueta lâminas que avançam no preparo das delícias quantas noites consumidas no despenhadeiro de tuas ancas? quantos estábulos construídos para o repouso de tua cavalgada? agita-se a selva dilatando o enigma das tempestades juntos tateamos a idade do fogo e a rota da seda impressa em teu ventre deixemos apagadas as lamparinas azuis da aurora que vem cobrar a rapidez do ir-se deixemos apenas sussurrando os relâmpagos e as viagens por eles traçadas em nosso olhar deixemos os ovos tateando a antiguidade do voo um povoado de casebres vislumbrados no íntimo das brasas uma orquestra de labirinto por onde passas com tuas mãos por onde passo com as minhas

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CASULANIMUS


descortinamos a sombra avulsa que mastiga o sol faminta por entre os monturos da tarde surge nas vértebras do tempo uma nuvem de abismos estática da agonia que não se comunica com seus vultos abandonados feixe de evasivas o pavor diante da pilha de cenários vazios a cidade regurgitando a própria memória como último recurso para evitar a asfixia mas o cansaço reveste os corpos de desamparo e as esculturas perambulam pelas galerias sem ninguém

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no chão o ruído de madeira reclama as tiras das frestas que atam as cenas germinando lentas diáfanas tendo que relutar contra o espaço desabitado dos cenários recolhem o movimento imperceptível dos sentimentos nos fios das travessias emaranhados como um casulo na curva da clavícula tecemos nossa ausência com as fibras das garoas finas caída nas costas do crepúsculo são corpos que mudam de lugar cruzam as artérias de um mundo desolado enlutam os cabides gastos pela melancolia escrevem os nomes trocados para confundir a dor há muito que reúnem as estações para pequenos tragos na madrugada quando revivem as imagens desfeitas e destacam passagens incongruentes da narrativa de suas vidas incomuns sedimentando desvios nos fósseis da ressonância urbana

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as pernas sonâmbulas dos sonhos no branco do teto deixam marcas longas e frágeis de nervos de folha desgastada de verão devoram as cicatrizes rudimentares de umas poucas utopias que rastejam por monturos cartazes aniquilados detritos surpresos orquestração de misérias fomos descortinando a pele dos desgastes tateavas um palimpsesto aqui eu mascava uma imagem putrefata ali a memória não alcançava o dia seguinte perdemos a história já não sabemos em que tempo conjugar os verbos

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MIRADEIRO


quando a noite desmaia sobre teu corpo com suas asas úmidas abrigando uma fonte vigilante de miragens os lençóis se dissolvem como bosques devorados por esfinges famintas a gravidade se liquefaz em murmúrios os ventos gritam como pernas pintando a paisagem nossos olhares abocanhando uma instalação de horizontes que se multiplicam quanto mais são caçados por tua língua as visões progridem como seios lambidos pela noite no ínfimo tremor das pálpebras abertas não nos arrisquemos ao outro lado da margem onde o horror do reverso da seda flutua sobre o campo suspenso dos trancos e as ondas esbranquiçadas de fadiga se quebram nas ancas do farol vesgo tu querias me mostrar a quietude das tempestades e o lume das distâncias cegas mas também o mar é cheio de vicissitudes e as demandas bolinam alhures

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na cadência e nos formatos das espumas noturnas a pele arde exposta sob a duvidança escura no limo das rochas de onde estamos podemos mirar a alienação nos anseios calados dentro das bocas afogadas de muito sal e tempo perdido rumamos à direção oposta em busca dos flamejantes tatos as margens suspiram ante o bailado de engalfinhadas sombras a vizinhança do abismo é um truque da linguagem que não quer revelar seus planos trafegamos pelo espinhaço da paisagem que se abre aos nossos passos como a visão de uma estação sem pausa beija-me antes que o lábio assuma outra forma toca-me antes que o corpo se converta em estátua soletre-me antes que o verbo se ocupe de outras correntes marítimas se ocupe do mármore da mudez talhado nos talantes ressequidos as sépalas da tua mão sustentam incólumes a rosa das carícias e os anéis dos lagos aquietados alargam-se nos dedos da vivência delineamos o longínquo derradeiro no olho do intervalo que medeia entre um e outro pouso da mão aberta no ventre da madrugada

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MUSICINTO


o sol negro guardado dentro da esquadria de janela nenhuma tire-o dali e é o sol posto gira e a agulha sobre os finos caminhos circulares de terra inexistente a andança da música percorre crepúsculos e orvalhos de jacintos e um sopro de pretérito fresco movimenta o ar no museu das antigas invenções os objetos se eternizam como tudo que fica preso na teia transparente do resgatável se fôssemos esticar e unir todas as faixas dos discos que existiam quantos mundos envolveríamos? quantos medos se afrouxariam? se me cingires com todas as músicas que amaste qual o tamanho do imago para me sustentar? quantas presilhas na pele do encanto? e o braseiro do imaginário a desafiar a anatomia de teu ventre as luas emocionadas com o pingente com que disfarças tuas vertigens a música que vem da gruta escavada sem que a noite percebesse a ventania com sua língua inspiradora 65 |


o dínamo que começa a cantar sem os moinhos das claves terias que mastigar os vidros quebrados de mensagens nunca lidas o sinete dos bons momentos estampa nos refrões das estações a correnteza das melodias inesquecíveis que preservaste dentro de teus calçados mais usados as melodias que reservaste para a hora do avanço sobre o ébano a luz entrecortada que se derrama em teu coração pequena fábula a retocar os lábios de sua moral entrevista silêncio antes que o sol negro se refaça ensino o teu lápis a compor novas frases enquanto soletras em meus seios os vultos que encarnam a melodia de teus sonhos escava o teu nome profundo eu saberei como jamais esquecê-lo meu hálito freme os pelos de orfeu no antebraço das calmarias dormem as sirenas guardei as orquestras dentro do caracol do meu ouvido e as cigarras carregam as guitarras guizalhadas na trompa de eustáquio

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por onde se vá nos refazemos a cada nova composição que nos colore e camufla deusa de escamas deus das migalhas música imersa em um labirinto de metamorfoses por onde passamos as ruas estão repletas de milagres

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MANHÃNÇAS


debaixo das unhas do dia há restos do ontem no bolso direito da camisa guardo o ruído das maçanetas das portas se abrindo faz bem ao coração um xale de hamádrias ajuda as flores a se sentirem sagradas e o esconderijo da cesta cheia de maçãs mordidas pelo pecado encontra-se no fundo de um armário de madeira maciça na casa de uma desconhecida ao lado do vidro de aplausos em conserva trazidos de uma antiga peça teatral foi abri-lo e um corpo de baile invadir a sala derramando-se pelas prateleiras cada um dos corpos como que saídos de uma árvore

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um bosque sendo montado a partir de seus fragmentos membros saltitantes silhuetas encorpadas a perfeição austera dos sexos o meu desejo contagiado pelos murmúrios que dialogavam entre si abismados com a realidade repentina diante dos olhos ainda se entregando à dramaturgia das mudanças no chão as peles descascadas são as farsas caídas que se refazem a cada papel ensaiado e nas letras dos títulos o ingresso à verossimilhança libélulas brilhantes sobrevoando os cabelos fartos do enredo como as manhãs dípteras que rondam a fruteira e os insetos coloridos dançantes debaixo das axilas das dafnes um coro de ninfas esvoaçando os ramos de teu mistério o capinzal guarda uma tigela de incontáveis vertentes renomeio os temperos para que o milagre não se perca enquanto vestes uma nudez que soletra todos os voos eu me aproximo sorrateiro de sombras que são túnicas de um espanto que se renova a cada movimento de tuas ancas

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FULVORECER


lá onde as almas das folhas caídas nos olhos abertos do outono se juntam e se transformam no murmúrio fulvo que as tardes de sol espalham com o vento macio na memória o tempo fragiliza demais a tua imagem quebradiça fina transparente tenho medo de me lembrar e espatifar não como terra não como pedra não como chama como te escreve o relógio de areia traçando os rastros da velocidade dos grãos amadurecidos lá onde a selva líquida floresce no interior de seus ramos ressequidos e se prepara para as perguntas flamejantes da fábula que começo a intuir

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na memória o espaço se retempera com ângulos insuspeitos e um oratório de vertigens anuncia o caminho no labirinto que deixaste desenhado em meu olhar escrevo teu nome em meu caderno de rasuras uma sílaba em cada página ouro de espelhos teatro de vísceras chave vulcânica tudo a teus pés como um colégio misterioso e a premonição de tuas vozes lá onde as nozes se quebram e os pensamentos se soltam das hastes a pele ferrugem dos espinhos enrola-se com a chegada da noite sem íris onde as promessas se esmaecem sob o poder da despedida que nasce em cada coisa nova não como pássaro não como névoa não como ruína de papilhos como te ameaça o grito das horas os ponteiros circulando os anéis dos algarismos o pretérito ruminando alvorecer e vestígios até a gosma de um filete de trilha brilhar no girar da fechadura

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abrindo outras respostas outros soslaios outros vislumbres silĂŞncio que estamos aprendendo a ser e o tempo nĂŁo sabe o que fazer com nosso segredo quando a madeira estala no meio da palavra

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HABITALMA


a minha casa começa dentro de teu ser quando a tua ausência de tudo anota uns versos e são como um pomar de desejos a maçã repleta de mitos o bosque de ouro com a sombra gasta dos inimigos o reino que ainda não se formou eu tenho o teu nome rascunhado em minha alma e sei não serás outra até que te deites sob meu corpo até que o calendário lunar decifre a ondulação de teu mistério enquanto isso me movo no meio do cardume de solidão no sussurro dolente da cidade que me recria na quina das novas tentativas nos andares frenéticos da busca inchada das fauces oscilam as falsas propagandas da felicidade mastigo a carne dura da espera

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somo as cascas queimadas da monotonia pita de cigarros pisoteados nas esquinas consumido sôfrego o fumo e te aguardo no umbral do gineceu nos carpelos dos lírios rosas da minha clara ânsia escavo tuas roupas à procura de um sinal um truque do instinto acervo secreto de miragens a minha casa começa no quarto escuro de tua ausência a palavra a repetir-se até que surjas em meio ao nada mantra lascivo que esculpe tua nudez em minerais inesperados o que ouvimos ao longe é o salto de um sítio a outro deslocamento de vertigens a tua imagem projetada em diversos precipícios como uma engrenagem de sílabas traquinas por onde passas espelhos refazem o cenário ardente do vidro teus lábios nunca estão onde os procuro não há espaço em branco na parede viva da minha letra de onde ecoa incessante o grito do meu caminhar da aventura para estar próxima de ti sigo colecionando as farpas das estações enfiadas na minha pele

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a caligrafia do absurdo percorre o dorso do amanhã entregando-me as páginas sem as tuas queixas com a indiferença das marcas tranquilas do caracol a minha casa começa no âmago da saudade para terminar na ponta dos meus pelos no limite do meu corpo lasso estendido nos teus rastros indeléveis dentro de mim bem ali onde o tempo aprimora suas agulhas beijo tua geografia visionária

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ANIMARES


eu beijo a febre da noite e teu nome resplende ali escrito há tempos não o vejo como agora detalho suas cores na paleta da memória já tivemos de tudo na pele da ilusão o mundo jamais evitou refazer-se em nosso abraço orgasmo florido ambição estradeira uma curiosa refeição de abismos saímos juntos a tomar aulas de metamorfose tu somos eu e somos o berro das águas caindo das montanhas o suor da manhã nas matas despertas a cascata de fogo na pele da memória ruminamos o tempo dentro do útero dos tijolos no pasto das nuvens vagamos em busca de escadas suculentas mascamos trilhas gordas na boca do geodo germina a saliva dos cristais e no quarto o elísio passa a língua seca na crina do assoalho encharcado de guias

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somos a cuia e a enchente do desejo os perfis que se acumulam como um bosque decidido a nos proteger das dores irreparáveis relva cósmica ânforas da alegria livros anímicos em que o amor pode ser relido eu beijo os teus pés em pleno voo e as sombras aladas se multiplicam até que a vastidão ecoe o que viemos saber tão encravado em nossos papéis avulsos desgarrado das soleiras preso na fita de mel palavras feito moscas no verão de ventilador ligado babando vento nas hélices nos papéis espalhados acrescidos das viagens oníricas do fogo do barco da corda do rastro de desejos adocicados dos laivos das chuvas nas veias dos muros no fofo do lodo no meio das páginas a lúcula luzida transpiração granulada das matizes dos cacos guardada no frasco de elixir derramamos brechas e frestas no corpo do existir na plumagem furtacor com que os tremores que sentimos se refazem no labirinto anotado nas ranhuras da pele

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eu beijo o santuário de vultos e sua saliva vulcânica a pedra que transpira e levita a tua casa suspensa repleta de sons que brotam de um baile agitado de espelhos o teu nome começa então a pressentir-se a qualquer momento um de nós o dirá

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MASCARALVO


a noite e o problema confinado jogo de despistar o solitário noite de sexo sem a coroa de estrelas não te conhecem as cigarras o bafo quente das sombras macias somente as silhuetas dirimidas no breu dissolvidas as cores do dia na saliva da boca para dizer que tudo se esvai mas permanece este delírio arrancar a ilusão do duro das paredes buscar as amarras o equilíbrio das gotas de chuva no limiar do arame na ponta dos espinhos minto carnavais e feriados noite de sexo sem a purpurina vermelha sem a pérola branca o estranho gosto do amor na boca amanhecida com atraso

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lençóis rachados como os lábios do deserto de teu olhar contrariar a roupa ao vesti-la gemidos entranhados entre a meia e o sapato não te vás não me sigas o sol se retrai indeciso sobre o disfarce que usará a janela se espreguiça com um gato decalcado em suas vértebras o mundo não vai a parte alguma nem sei ao certo quem és rumino as penumbras dos gestos e algo quebra a casca fina da manhã gelada onde as primeiras luzes surgem indiferentes inventam o cotidiano no gargalo dos recintos imperturbável na hora do despertar nascem os corredores de reflexos matizes promissoras e lembranças viajantes que vagueiam no vasto do dia que vem sem ti e precisamente onde não estás recupero o que houve de melhor entre nós e o faço entornando a jarra de felicidade com que sei que nada voltará a se dar

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AVELUME


seiva adentro o teu corpo desmatava a vertigem uma chuva de móbiles como lágrimas suspensas tu me apontavas as sacadas azuis onde víamos estranhos animais nossos corpos nus refletiam o cenário como um jogo de cristais embaralhando tempo e espaço neste momento eu me gabava de possuir todas as jornadas das luzes as revoluções das palavras na minha boca as reviravoltas das cores no olhar das paisagens pacíficas julgava a descoberta do negro e do branco em tudo o que eu via e regulava a intensidade do destino sonhava com os fios das horas caindo sobre os ombros do futuro

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as pinturas naïf da infância apareciam expostas no meio das minhas relíquias e os acidentes do silêncio não envolviam minhas mãos a liberdade tinha cheiro de terra e bronze e impregnava as minhas narinas como as de um cavalo noturno como a garoa temperando a madrugada antes que o dia reconhecesse sua marcha imperativa um sorriso afoito golpeava tua respiração tecia uma oração de sigilos no bosque de teu ventre relicário de uma fauna inimaginável a céu aberto sem que ainda soubéssemos o paradeiro de nossas inquietudes livres no interior dos ninhos nos espaços em branco da grafia nas distorções dos corpos como imagens de kertész dispostas em algum momento da nossa desfiguração desenrolamos quintais feito a língua das janelas de boca aberta escapamos sem querer das patas do onírico de repente como o derreter da cera na saliva da vela

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de repente sobre a noite emborcas o teu corpo repleto de pequenas astúcias sem saber por onde nasce a escrita afoita de sua pele eu te celebro não importa em que parte de mim estejas qual seja o voo que tomas a caminho de mitla pequena luz do mundo que se espatifa rindo contra tempo e espaço permaneces como uma pincelada única na tez da eternidade nos lábios do horizonte na têmpera abismada de meu olhar

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Poslúdio: NÓS em NÓS



FM | Eu faço as minhas melhores associações quando tomo uma cerveja e ponho música e me ausento do mundo. Na verdade, não tem a ver com a cerveja ou a música, e sim com a ausência do mundo. Música e cerveja entram como um estalo, um auxílio luxuoso que me permite fazer boas conexões entre os chamados ambientes dissociados. Melhor dizer ambientes cujos enlaces intrínsecos resultam imperceptíveis. A música cuida de uma orientação de tempo e espaço, me conduz a um cenário de aceleração dos sentidos. A cerveja me dá uma cadência letárgica mais vibrante que o vinho ou a maconha, e sem o desenfreio que se possa alcançar com o whisky ou a cocaína. Rimbaud queria desordenar os sentidos. Eu busco sua equalização. Ativar uma corrente em isolado nunca me pareceu fascinante. Uma overdose erótica, política, mística. Nada disto interessa à criação em separado. A minha memória é um caos. Tenho uma facilidade

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quase suicida de esquecer coisas. Ao mesmo tempo esses golpes de esquecimento são enriquecidos por uma sinfonia aparentemente sem sentido de verbetes do acaso objetivo, eloquências empíricas, suspeitas de um plano ideal ou seu revés etc. Recordo um poeta sem nome na minha adolescência que sofria muito ao parir cada poema. Eu não creio que uma mulher recorde o parto como um momento sofrido de sua vida. Aquela explosão de êxtase – sou naturalmente suspeito, por não haver parido em sentido literal – é um capítulo da alegria e não do sofrimento. Não me dói criar. Porém a cerveja e a música, com o tempo, foram me estimulando a buscar um insight distante delas. As sombras são um indicativo tanto de nossa aflição diante do que somos como uma sugestão de avançar nesse labirinto existencial. Quando escrevo um poema o que faço é pôr ali na mesa uma peça até então inexistente. Se eu me ponho a repetir o mesmo a cada minuto, logo a mesa não suportará a frequência do inexistente. Um dia chegaremos ao status do perfeitamente razoável, pela frequência de emissão e a satisfação da recepção. Nada pior pode acontecer na vida da criação artística. Os meus argumentos em defesa do indefensável que é a (minha) criação, me levam a começar este nosso diálogo expondo a alma bem abertinha, janela plena, para que sejamos o que verdadeiramente somos: seres criativos. | 96


VSP | Existe a brincadeira de criança: “eu vejo o que você não vê”, e a criança descreve a coisa e a outra precisa adivinhar sobre o que ela está falando. A poesia possui esta característica de revelar, àqueles que não possuem a capacidade de ver, um aspecto diferente da realidade, ou ela revela um mundo permeado de fantasia. E o leitor adivinha, isto é, interpreta o poema. A poesia define alguns estados de espírito ou simplesmente atribui imagem à realidade, ao pensamento, e mediante a imaginação e reflexão o poeta deforma a linguagem, a realidade, ou chama a atenção para uma visão singular da vida, subjacente ou não em nosso cotidiano e intelecto. O poeta possui o talento de ver o que muitos não veem. Mas qual o processo de criação para isso? No meu caso, possuo um cotidiano atarefado, quase não tenho tempo para escrever. Entretanto, as associações borbulham constantemente na minha mente. Carrego sempre papel e caneta, escrevo no que estiver ao alcance: guardanapo ou lenço de papel, em uma conta de telefone que está casualmente em minha bolsa, convite de concerto… Escrevo dentro do vagão do metrô, na lanchonete na hora do almoço, na cozinha esperando o arroz ficar pronto, à noite antes de dormir, nos cafés espalhados por Berlim (do que mais gosto, de simplesmente sentar em um café e ficar escrevendo)… As ideias advêm das reflexões sobre

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determinados temas ou lances cotidianos, e das intensas leituras. Em uma reportagem na televisão sobre agrotóxicos, por exemplo, surgiu uma rápida imagem daquilo que parecia ser um espantalho, e logo veio à mente o início de um poema sobre espantalhos. FM | Escrever em cafés é mesmo fascinante e já o fiz em cidades como São Paulo, Porto, Caracas, Tenerife e a capital panamenha. A existência de cafés silenciosos tornava possível este prazer. Recordo que Eric Satie compôs muitas de suas peças em cafés em Paris. Já escrevi em quartos de hotel, bares de aeroporto, até mesmo em um cinema – em plena projeção de um filme –, porém sempre essa escrita resultava na integridade do poema. Muito raramente em minha vida fiz anotações de versos. A memória tece sua fiação mágica, a rede elétrica de imagens, os truques da linguagem etc., até o ponto de explosão. Mesmo nos poemas extensos, algo comum em dado momento de minha poesia, as anotações inexistiam. O poema, por sua extensão em tais casos, exigia ser fracionado em diversas seções, que se sucediam até a sua finalização, porém sem anotações intermediárias. É como tenho feito em nossa parceria. Quando te envio um trecho que acrescento ao nosso poema eu o esqueço por completo. Até que me retornas e então eu o deixo abrir sua casa

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secreta de relâmpagos. Ali o retomo e logo segue de volta a teus braços. O que mais me encanta no que estamos fazendo é que damos passagem à ideia de uma criação coletiva. Sempre me fascinaram os cadáveres deliciosos do Surrealismo e recordo momentos em que os pratiquei com poetas em Portugal ou Panamá. A Internet mais recentemente propiciou um encontro meu com um poeta mexicano, com a curiosidade agregada de que estávamos um nos Estados Unidos e o outro na Austrália, e ali, naquela mesa virtual on-line, escrevemos uma série de poemas que resultou em um livro. O nosso caso tem sua distinção porque há uma variação de tempo, cada fragmento de poema vai se desdobrando com base no ritmo de vida de cada um, o que inclui o teu cotidiano atarefado. Porém uma coisa me alegra, acima de todas as demais, que é o fato de haver alcançado essa intimidade criativa com um poeta brasileiro. O Brasil me parece um dos países mais contraditórios do mundo. Os danos causados à nossa cultura pela matriz católica apostólica romana são imensos. Ao mesmo tempo, os cultos negros e índios, mesmo considerados periféricos, enriqueceram o ideário popular muito mais do que os preconceitos impostos pela religião oficial. Aníbal Machado abre seu impagável ABC das catástrofes dizendo que “as grandes catástrofes são, em geral, filhas da explosão,

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ou fruto da instantânea ruptura de equilíbrio das massas”. Teus anos de residência na Alemanha permitem avaliar bem o comportamento de uma sociedade que entende de catástrofes. A ausência delas na cultura brasileira foi moldando uma tipologia de circunstâncias, o que não deixa de ser aterrador, embora não passe de um desastre local. VSP | Há a cultura dos cafés na Europa. Como os jovens, e também alguns adultos moram sozinhos e não com a família, procuram um local longe do ambiente doméstico para espairecer ou trabalhar, ler, escrever. Os cafés são quase uma extensão da sala de estar. Há os jornais para ler, há quem traz um livro e permanece lendo enquanto toma um cappuccino e come um pedaço de bolo. Os cafés são muito aconchegantes. No Brasil possuímos uma natureza belíssima, exuberante, que poderia ser acoplada ao nosso cotidiano, mas infelizmente não é. Sou paulistana e em São Paulo existe uma correria desumana, as pessoas não conseguem parar para pensar, vivem no centro de uma voragem mecânica infalível. Sinto muita falta da natureza em São Paulo, de lugares aconchegantes, sem chiqueria, onde você possa sentar em um sofazinho, tomar um café e ler um livro observando os transeuntes na rua. Certamente, o Brasil é um país muito contraditório.

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Em alguns casos isto é criativo e em outros cansativo. Trata-se de um país que sempre teve um grande potencial, mas precisa desenvolver uma consciência política e cívica. Quais são os meus direitos e deveres na sociedade? Como posso contribuir para o progresso da sociedade? Questões que deveriam ser discutidas e integradas no cotidiano dos brasileiros. A Alemanha só se ergueu de duas guerras porque o pensamento é coletivo: “vamos organizar o país e se for necessário abrir mão de alguns privilégios em prol dos meus compatriotas, em prol da nação, eu abro mão”. A elite alemã, assim como seus políticos, se sentem responsáveis pelo progresso da nação e procuram ajudar a administrar o país de forma que todas as classes sejam incluídas. A pobreza é um sinônimo de má administração e, a longo prazo, possui efeitos maléficos para toda a sociedade, por esta razão é combatida antes que se alastre incontrolavelmente. Retornando ao processo de criação, também sou muito esquecida (talvez seja uma característica típica dos poetas: viver no mundo da lua), não consigo memorizar nenhum poema meu nem de ninguém. Acredito que isso também se deva ao fato de eu não ter aprendido na escola a arte de recitar. Para escrever os nossos poemas não é possível eu fazer anotações porque não sei quais serão os próximos versos. Tento me colocar no seu lugar e

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imaginar o que você por ventura poderia estar imaginando ou simplesmente dar outro rumo e a partir disso desenvolver os próximos versos. Quando sou eu que inicio um poema, procuro imaginar um tema ou uma imagem que possa ser interpretada através de metáforas. Mas cada poema foi um desafio porque escrever poesia é algo muito íntimo e não acreditava que poderia ser escrito por duas pessoas distintas, ainda mais duas pessoas que não se conhecem pessoalmente e vivem em dois continentes diferentes. E algumas vezes eu não sabia como continuar. Mas a criação significa dar continuação às coisas ou reconstruí-las através da invenção. Procurei enveredar os versos nas alamedas da realidade contemporânea, distorcendo-a, a fim de não me limitar somente ao enleio do surrealismo onírico. FM | Foram fundamentais à construção dessa voz comum que atingimos com nossos poemas o sentido de entrega e a afirmação de uma poética distinta da minha, segura de si e igualmente apaixonada pelo risco. Quando eu te convidei o que mais me atraía em tua poesia era exatamente o que faltava na minha. Eu vinha de uma metáfora mais abstrata, com uma sensualidade transbordante, enquanto que a tua intensidade – não menor do que a minha – vinha dessa mineração

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da vertigem do cotidiano, atenção aos vitrais e à ferrugem da paisagem urbana. Graças a essa busca de um equilíbrio a linguagem poética foi costurando uma voz muito especial e com um grau de intimidade tão fascinante que não há quebra na passagem dos versos de um para outro em nenhum poema. Eu considero este nosso encontro uma imensa felicidade que atesta nossa liberdade de criação, a maturidade da aventura de busca do outro, uma entrada naquele plano que Jung chamou de imaginação ativa onde o ego não representa conflito ou obstáculo. E note que no caso de Abismanto acrescentamos mais uma ousadia, pelo ambiente erótico, tomado de ardis que por um descuido mínimo nos levaria à reiteração ou a uma cafonice amatória. Creio que nos saímos bem, tanto que agora mesmo já avançamos para um outro capítulo. VSP| A criatividade ultrapassa fronteiras e os indivíduos criativos aceitam, até mesmo procuram os desafios que entremeiam o universo da invenção, estão sempre atentos às novas possibilidades, para tanto é preciso não ter medo do fracasso e aprender com ele, e se entregar à aventura. Para escrever poemas a quatro mãos não pode faltar o respeito mútuo e a admiração recíproca pelo trabalho um do outro, a ponto de se aceitar as críticas e sugestões de ambos. Não há

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aqui espaço para a vaidade. Entretanto, não é algo que se atinge facilmente. Às vezes, pode-se haver respeito e admiração mútuos e mesmo assim não se alcança a devida afinidade para escrever poemas a quatro mãos. Realmente, trata-se de um trabalho complexo que envolve a psicologia de cada um. Coincidimos em muitos casos com a mesma visão e julgamento de mundo, e possuímos formas diferentes de interpretá-los, o que levou um a incluir elementos distintos no poema do outro, alternativamente. Graças a você, Floriano, pude lidar com este tipo de experiência que contribui para aumentar os mecanismos da criação. [Fortaleza, Berlim, agosto de 2012]

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VIVIANE DE SANTANA PAULO (1966). Poeta, ensaísta e tradutora. Com formação acadêmica em Literatura Comparada e Filologia Germânica, reside em Berlim, Alemanha, há quase 20 anos. Neste país publicou Passeio ao longo do Reno (2002) e Estrangeiro de mim (2005). Já no Brasil, recentemente publicou Depois do canto do Gurinhatã (2011). Além disto, está presente em duas importantes antologias de poesia brasileira, respectivamente publicadas na Espanha (2007) e no Brasil (2009). Através de ensaios e entrevistas publicados na Agulha Revista de Cultura tem dado, ao conhecimento do leitor brasileiro, importantes nomes da cultura alemã. Juntamente com Floriano Martins tem em preparo, para uma editora mexicana, uma antologia de poetas vivos da Alemanha. Contato: vsantanapaulo@ yahoo.com.br. FLORIANO MARTINS (1957). Poeta, ensaísta, fotógrafo, tradutor e editor. Desde 1999 criou e dirige a Agulha Revista de Cultura (www.revista.agulha.nom.br). Sua poesia conta com títulos como Tumultúmulos (1993), Duas mentiras (2007), Fogo nas cartas/Fuego em las cartas (Espanha, 2009) e Autobiografia de um truque (2010). Pela Sol Negro Edições publicou O livro invisível de William Burroughs (2012), peça teatral. Tem traduzido livros de Carlos Pellicer, Federico García Lorca, Guillermo Cabrera Infante, Hans Arp, Jorge Luís Borges, Juan Calzadilla e Vicente Huidobro. Estudioso do Surrealismo, sobre o tema tem livros publicados no Brasil, na Costa Rica, na Venezuela e em Portugal. Juntamente com Viviane de Santana Paulo tem em preparo, para uma editora mexicana, uma antologia de poetas vivos da Alemanha. Contato: floriano. agulha@gmail.com.



ÍNDICE

08 Luvnis 12 Falhandras 16 Almavagava 20 Nudisforme 24 Suspirança 28 Passaguada 32 Trevilocus 38 Cirkus 42 Cortinavis 46 Milacorum 50 Luníssono 54 Lampadarium 58 Casulanimus 62 Miradeiro 66 Musicinto 70 Manhãnças 76 Fulvorecer 78 Habitalma 82 Animares 86 Mascaralvo 90 Avelume 95 Poslúdio: NÓS em NÓS



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