DA REALEZA DE HOLLYWOOD...
Aos vinte e um anos de idade, a estrela de cinema de terceira geração Cal Hammond está no topo do mundo. Ele tem mais dinheiro do que Deus e mais mulheres do que alguém poderia precisar. Mas quando uma noite de sexo termina em tragédia, ele troca uma vida de luxo por dez anos preso em La Rosa, a prisão mais violenta da Califórnia.
A FERA BRUTAL.
Oito anos mais tarde, um homem implacável lidera La Rosa internamente. Ele é conhecido simplesmente como Fera. Todos os guardas o temem. Todas as gangues o obedecem. Ele não fala com ninguém, somente com si mesmo. O que ele diz é lei.
SÓ ELA PODE SALVÁ-LO.
O padrasto de Annabelle Mitchell é o diretor de La Rosa. Ele negocia tão sujo quanto seus prisioneiros, e depois de anos de relações regulares com a Fera e as gangues que ele administra, Holt termina na lista de alvos do poderoso prisioneiro. Naquela mesma tarde, Annabelle faz uma visita surpresa ao
trabalho do seu pai, esperando usar sua nova licença de aconselhamento em um lugar onde ela acha que poderia fazer a diferença. Quando ela pega o olhar da Fera, ele libera o diretor e agarra a garota que ele reconhece da pior noite da sua vida. O preço da traição do diretor não é a morte. É a sua preciosa Belle.
m toda a minha vida,
eu nunca fiz nada louco. É verdade, eu tenho só dezessete anos, mas já tive algumas oportunidades. Como quando minha mãe trouxe para casa aquele cara desprezível chamado Joe, que tentou entrar na minha cama comigo. Ou quando minha mãe se esqueceu de pagar o aluguel por mais de um mês consecutivo e fomos expulsas do apartamento em Rhode Street, e nem sequer tínhamos dinheiro suficiente para ir a um motel. Dormimos na Trans Am1 por quatro dias, e eu tive que escovar os dentes sem água. E em seguida, logo depois disso, minha amiga Rita me deu um saquinho cheio de maconha e me disse que eu poderia começar a vender. Teve algumas vezes na minha vida em que eu poderia ter feito algumas coisas estúpidas e não fiz. Porque eu sou responsável. Porque eu sou Annabelle. Hoje à noite, isso vai mudar. Hoje à noite, eu não sou Annabelle. Minha identidade falsa diz que meu nome é Belle Hammond e que tenho vinte e um anos de idade. Eu sorrio para o 1
Um carro.
pedaço de plástico brilhante parado como uma joia na palma da minha mão. Essa identidade, feita pelo irmão mais velho do meu amigo Julian, custou-me cento e cinquenta dólares. Praticamente uma fortuna. Eu só fui capaz de comprá-la porque Holt, meu pai, colocou três notas de cem dólares no cinzeiro do meu novo VW Bug – junto com um post-it que dizia “Nunca use esse cinzeiro”. Sim, é isso mesmo. Ganhei um novo carro, super brilhante, sem um arranhão e bem cheiroso há três dias, no meu aniversário de dezessete anos. Porque meu pai é incrível. Mesmo que ele não more comigo e que nós só nos vejamos às vezes, ele me ama. Ele disse que eu mereci um carro legal. Por quê? Nenhuma razão. Só porque eu sou eu. Deslizo a identidade para dentro da minha bolsa-carteira jeans e ando até a janela do meu quarto, então posso olhar lá embaixo o estacionamento do condomínio e me certificar de que minha preciosa Baby Blue2 ainda está lá. Fico aliviada quando vejo que está, e um pouco tonta ao observar sua beleza a partir do ponto de vista de um pássaro. O pôr do sol alaranjado reflete no seu teto azul Royal, fazendo-a parecer como se fosse uma autoridade superior. Ela é, de certa forma. Essa noite, Baby Blue será a minha carruagem. Eu me atiro em minha cama, abraço meu travesseiro junto ao peito e puxo para fora a revista que mantenho dobrada sob os lençóis. Folheio até a página quinze, onde está a foto dele, e corro meus olhos sobre o rosto que eu conheço quase tão bem como o meu próprio. Deixo sair à respiração que estive segurando. Puxo outra. Eu espero que hoje à noite seja tudo perfeito.
2
Literalmente, “bebê azul”. Ela deu um nome próprio para o carro, como se fosse uma pessoa, por isso
se refere a ele em letras maiúsculas.
Sei que meu plano é mais do que um pouco louco, mas é disso que ser jovem se trata... certo?
*
Deixo o apartamento às 21h45min e pego Alexia primeiro. Ela vive em um condomínio que fica a poucos quarteirões do meu, junto com sua irmã mais velha, que, coincidentemente, está passando a noite com o namorado em Downey3. Alexia desce calmamente as escadas e anda pelo estacionamento pavimentado vestindo um jeans apertado no bumbum e um top branco, seu longo cabelo castanho balançando, reto, ao redor dos seus ombros. Ela olha disfarçadamente para a esquerda, depois para a direita, como se estivesse preocupada que um dos vizinhos vá vê-la, e em seguida desliza para o banco do passageiro e levanta as sobrancelhas. — Droga, garota. — ela bate os nós dos dedos no painel. — Eu não posso acreditar que esse é o seu carro. — Eu sei. — mordo os lábios para reprimir um sorriso. — Eu também não. — Baby Blue, nossa carruagem de abóbora a caminho do baile. Concordo com a cabeça, lutando para manter um olhar orgulhoso no meu rosto. Alexia não tem carro, e provavelmente não terá até ficar muito mais velha. Sua irmã é secretária, sua mãe morreu e seu pai está na prisão La Rosa - a prisão em que meu pai trabalha como guarda.
3
Cidade da Califórnia que fica próxima a Los Angeles.
A caminho da casa de Carolina, Alexia me conta sobre o mais recente desastre match.com4 da sua irmã, e nós ficamos tentando adivinhar o que Carolina vai usar. Carolina vive com sua mãe, o padrasto e a irmã menor, Danielle, na periferia de La Placita, em uma pequena casa bege com um bonito jardim cercado. Quando eu paro junto ao meio-fio em frente à porta de entrada, os faróis de Baby Blue brilham contra o plástico liso, amarelo e vermelho, de um carro Little Tikes5. O padrasto de Carolina administra o turno da noite de uma fábrica de eletrônicos nas proximidades, e sua mãe não consegue dormir sem Lunesta6, então quando Danni não está gritando, ela está segura se esgueirando por aí no brinquedo. Aproveitando a deixa, vejo uma sombra contra o lado esquerdo da casa. Em seguida, Carolina está correndo pelo pátio lateral, arrastando o que parece ser seda em um tom rosa pálido. Ela corre para a porta do lado do passageiro, e Alexia murmura um palavrão quando ela se atrapalha com a alavanca para puxar o banco para frente. Carolina abre a porta e praticamente flutua sobre a cabeça de Alexia para cair no banco de trás. Eu ouço um som de algo rasgando e então um “merda!”. Ela se balança no meu retrovisor enquanto eu volto para a estrada, seu cabelo loiro encaracolado e aqueles grandes olhos azuis. Ela estende o braço, confirmando que sim, ela está usando um vestido muito sensual rosa pálido. — Eu rasguei minha manga! Será que alguém tem um alfinete? — Eu não. — Talvez eu tenha. — diz Alexia. Com as duas focadas nisso, eu dirijo para o próximo bairro, onde vive Anya. Porém quando eu apago minhas luzes e paro em frente à sua casa de tijolos cinzentos, vejo a coisa de plástico vermelho da sua caixa de correio 4
Site de encontros.
5
Carrinho de brinquedos no qual crianças podem entrar e dirigir.
6
Remédio prescrito para casos de insônia.
apontada para cima. Esse é um sinal de que seu pai está acordado até tarde e bebendo, e ela não será capaz de escapar. Eu nos levo pela interestadual que nos levará em direção a Malibu e envio algumas boas vibrações para Anya. O pai dela é um idiota. Espero que ele a deixe em paz esta noite. Eu dirijo a 130 km/h, satisfeita com o arranjo, e ouço Alexia e Carolina falando de todos os VIPs que poderemos ver esta noite. — Carolina, espero que você dê um grande beijo no seu pai a próxima vez que vê-lo. Ela dá de ombros. — Já era hora de ele fazer algo legal. Sim... realmente muito legal. — Eu não acredito que estamos fazendo isso. Vocês têm certeza que nós não seremos... eu não sei... expulsas? Alexia sorri ironicamente, seu rosto redondo iluminado pelo brilho laranja das luzes no meu painel. — Eu acho que alguém está se acovardando. Essa é você, chica. — ela olha incisivamente para mim. — Você se depilou e raspou como eu disse? Eu sorrio e depois concordo com a cabeça. É meio estranho confessar detalhes como esse, mesmo que seja para as minhas melhores amigas. — Você é muito velha para ser virgem. — Carolina diz, colocando os pés entre o assento do motorista e do passageiro. — Eu só espero que ele pegue você. — Pegue-a7. — Alexia diz. — Como nos romances. Eu tenho os olhos na estrada, mas sinto minhas bochechas ficando quentes. Minha testa formiga com suor, e por um segundo, eu quero virar à direita e voltar para assistir Uma Babá Quase Perfeita com mamãe e seu namorado espertinho, Bobby.
7
Take her = usado também no sentido sexual, significando também, transar com ela.
— Eu acho que você deveria pegá-lo. — Carolina diz. Ela espanca uma bunda invisível e arqueia uma sobrancelha final. — Ele ficaria bem todo amarrado. — Ah sim. Safada. — Alexia diz. — Calem a boca. — eu digo a elas. Eu já falei do grande “Plano para Estourar a Cereja8”, mas a verdade é, eu não sei se consigo fazer isso. O pai de Carolina, Bruce McLeer, um produtor de TV, conseguiu nos colocar na lista de convidados da festa, e eu pareço muito bem no meu vestido preto justo, mas isso pode não ser o bastante. Ele é Cal Hammond. Eu sou só eu.
*
A festa é na casa de Perri Adams, uma loira bonita de dezenove anos que tem um papel em Shifting Sands, aquele seriado melodramático da televisão sobre estudantes do fim do Ensino Médio vivendo em Bel Air9. No programa, Perri vive na casa de seus pais, um lugar enorme de pedras cinza nas colinas, mas depois do sucesso de Shifting Sands ano passado, ela comprou uma casa para si própria em Malibu. Ela é gigante, pintada de branco nos dois andares, empoleirada em algumas rochas que se projetam para o mar, aninhada na parte de trás de um beco sem saída bem movimentado. Ando para frente bem lentamente, minha sandália pressionando suavemente no freio, e depois pisando de vez quando vejo uma vaga entre um SUV preto e um pequeno Porsche conversível. Ligo minha seta e vou até lá em marcha lenta por causa do tráfego que se esparrama ao meu redor. Então coloco a marcha ré e aponto o para-choque para a vaga. 8 9
Cherry popping - perder a virgindade. Bairro de Los Angeles.
Quando olho para trás para fazer meu caminho, sinto uma leve tontura. Entre todo aquele tráfego e o meu carro, pessoas - a maioria garotas - andam para a casa de praia de Perri. Seus vestidos flutuam e brilham quando elas se movem. As pontas de seus cigarros - ou maconhas - brilham na escuridão. Eu vejo cabelo claro sendo chicoteado pela brisa do mar, braços e pernas bronzeados que balançam quando se movem: um exército de formigas indo em direção ao pote de mel. Meu pai as chama de “fodedoras de estrelas”. Ele não sabe que eu sou uma delas. — Annabelle! Eu pulo, saindo do meu sonho para encontrar outro carro - algum tipo de carro esportivo muito amarelo - competindo pela vaga em que eu estava estacionando. Eu jogo meu carro para mais perto do espaço, e o carro amarelo buzina. Alexia dá uma olhada sobre seu ombro enquanto eu luto para colocar o meu carro no espaço. O carro amarelo está parado desconfortavelmente perto de mim, me punindo por ter pego a vaga que eu vi primeiro. Poucos segundos depois, ele sai correndo. Com mais alguma manobras, mais algumas gotas de suor escorrendo pela minha testa e um monte de orientações de Alexia e Carolina, eu consigo estacionar.
*
Será uma noite de merda. Posso dizer desde cedo. Minha publicitária, Nicci, me acorda com um telefonema no meio da tarde, dizendo que eu preciso ser fotografado com Uma. No caso, Uma Thornton, minha namorada de
mentira, uma modelo ruiva que não vai nem mesmo me chutar porque está namorando secretamente outro modelo desprezível. — Não me diga que você está de ressaca. Dê a ela um tapa10. Eu rolo meus olhos e me atiro de volta na bela cama king-size situada na proa do meu iate, ancorado no Windjammers11 na costa de Santa Monica. — Sim senhora, capitã. Quase tão logo eu consigo firmar meu corpo dolorido na cama, ouço um baque alto em uma das minhas janelas. — Mas que...? — alcanço a janela em tempo de ver uma gaivota indo em espiral na direção da água. — Estou ouvindo o oceano? — Nicci reclama. Ela parece falsamente interessada - como ela sempre parece, sobre tudo. — Você está naquele monstro que chama de iate? — Mistress of the Seas12, baby. Ela dá uma risada falsa. — Ancore e ligue para Uma. Alguma vadia está dizendo que você está saindo com uma groupie do set. É ruim para a sua imagem. Você sabe? Balanço minha cabeça, mas digo a ela. — Sim. — Você fará isso, então? Sem reclamar? Vista algo limpo dessa vez. Eu não quero você manchado, rasgado ou amassado. Tudo bem, amassado até poderia funcionar. — Ligarei para Uma. A que horas com os paparazzi? — Direi para Ronald às 20h no Viceroy. Eu aceno. — Às 20h então. — Tchau, babe. 10
Gíria para curar a ressaca com maconha.
11
Iate clube localizado em Santa Monica, Califórnia.
12
Senhora dos Mares.
Eu desligo e jogo meu telefone no sofá. Atiro-me de volta na cama e fecho os olhos. Depois de quatro anos, Nicci me conhece bem. Eu estou de ressaca. Noite passada, dei uma festa aqui no iate e exagerei um pouco no champanhe. A festa foi para o meu amigo, Guy, que estava todo ansioso por foder essa garota tipo princesa marroquina. Ela veio, então ela gozou, e todos estavam felizes, mas foi entediante pra caralho do meu ponto de vista. Eu me arrasto para tomar banho, depois disso eu juro que ligarei para Uma. Tenho uma toalha enrolada ao redor da minha cintura e estou esfregando minhas mãos pelo meu cabelo escuro e gotejante, quando meu telefone toca. Verifico a tela, rezando para que Nicci não esteja se sentindo louca o suficiente para ligar para a agente de Uma, Sarah, e Uma estar me ligando. Não. É Maria. Trago o aparelho ao meu ouvido e sorrio para o espelho. — E aí, coroa. Como vai? Maria foi minha babá quando eu era criança. Ela ainda trabalha para os meus pais, cuidando da minha irmã mais nova, Bea, e da casa de um modo geral. Ela é a coisa mais próxima que eu já tive de uma figura materna, e eu tenho que admitir que gosto quando ela me liga. O silêncio se estende; um segundo, dois - e posso sentir meu peito ficando apertado. — Maria? Tudo bem? — aí está: aquele pânico na minha voz. O som que eu odeio. Levo um pouco de ar até meus pulmões e tento parecer menos infantil. — Maria. Fale comigo. — Ricky, é o seu pai. — ela diz em espanhol. Seu sussurro é tão suave que eu mal posso ouvi-la. — Eu o encontrei no chuveiro... com uma agulha.
Merda. Ela quer dizer que ele está se drogando de novo. — Ele desmaiou? — Sim. Eu tentei ligar para a sua mãe, mas ela ainda está em Dubai, tirando fotos para o anúncio do perfume. Ela não atende. Certo. Isso não é uma surpresa. — Onde está Raymond? — o chefe de segurança do meu pai é praticamente um inútil, um apostador que meu pai sente que não pode demitir porque Raymond conhece todos os seus segredos. — Não consigo encontrá-lo. Já procurei por toda a casa. Liguei para o seu telefone duas vezes. Chamei o Dr. Fieldman, mas eu não tenho tempo para uma mensagem. Seu pai, ele não parece bem. Meu estômago se aperta. Claro que ele parece mal. Esse é o meu pai. Viciado por toda a vida. Desgraça geral. Sim, ele teve uma carreira decente, mas está sempre bêbado. — Vou ligar para o Promises13. Meu contato lá vai enviar uma ambulância. — Eu não sei. — Maria diz. Ela parece relutante. — Sua mãe me disse que não tem dinheiro. Ela disse que se isso acontecesse de novo, eles iriam perder a casa. — Você não precisa se preocupar com isso. Eu cuido disso. Esse é o meu trabalho. Pagar pela merda. — Sinto muito, Ricky. Você é um bom filho. Estou muito orgulhosa de você. — Obrigado, Maria. Ele está respirando bem? Seu pulso está bom? — Ele parece estável.
13
Hospital localizado em Los Angeles, Califórnia.
— Está bem, estou ligando agora. Faça com que Sam os deixe entrar pelo portão dos fundos. Eles estarão com as sirenes desligadas, como da última vez. Durante todo o jantar no hotel com Uma, eu fiquei enviando mensagens de texto para o meu contato no Promises, lhe dando instruções do que fazer com o meu pai. No momento em que Uma e eu levantamos e fomos até minha Lamborghini, tenho quatro milhões de dólares a menos, e meu pai tem um plano de tratamento preliminar. Uma está sentada no banco do passageiro do meu carro, reclamando da sua perpétua dor de estômago, quando Guy me liga. Dirijo para fora do estacionamento e coloco o telefone no meu ouvido. — Guy. — Ei, cara. Você está afim de uma festa? Hesito apenas por um segundo antes de responder. — Por que diabos não? Eu ainda não ancorei meu iate, então não posso ir para a minha casa nas colinas, ou para minha casa de praia no Coronado. Mas, por alguma razão, acho o iate solitário. Especialmente à noite, quando eu sou o único lá que não é um empregado. — Onde é a festa? — Hm... é na nova casa de praia da Perri Adams. Perri Adams. Guy sabe que eu não sou o seu maior fã. — Miss Marrocos vai, é isso? — Pode ser. — eu ouço o bastardo sorrir. — Royce não será o seu braço direito? — Sim, Brody está vindo. Mas não seria uma festa sem você.
Eu sorrio. Guy é um mofo emocional, nunca hesitando em partilhar seus pensamentos e sentimentos. Eu olho para Uma. Ela tem as mãos cruzadas sobre o ventre, olhando pela janela, como se preferisse estar em qualquer lugar, menos aqui. Talvez ela gostaria de ir para casa. Eu penso sobre aquela vez, ano passado, depois de uma festa. Perri, dançando no meu colo como uma prostituta do caralho, e depois falando aos seus amigos merda sobre mim quando eu não transei com ela. Realmente não quero vê-la novamente. Eu suspiro. — Dê-me duas horas. Eu desligo o telefone, e Uma levanta as sobrancelhas bem desenhadas. — Iremos para uma festa, Hal? — Você quer? — ela acena com a cabeça timidamente. — Você tem certeza que seu namorado não vai se importar? — Nós terminamos. — ela abre a bolsa e tira um saquinho plástico cheio de pó branco. Ela o segura. — Você e eu, nós nunca realmente... passamos algum tempo de qualidade juntos. Acho que hoje podemos ter muita diversão. Ela abre o saquinho, derrama um pouco do pó na sua mão e se inclina para baixo, sobre meu colo, para abrir o meu zíper.
u tenho uma queda
por Cal Hammond desde sempre. Eu tive uma porcaria de autoestima por quase o mesmo tempo. Não sei como isso aconteceu. Eu não sou demasiada gorda ou feia. Na verdade, eu sou alta e magra. Não sou provocadora ou qualquer coisa assim. Minha mãe é meio porto-riquenha e meu pai - ela acha - era negro, então eu tenho uma pele cor de cappuccino e cabelo encaracolado com aneizinhos, e se eu for completamente honesta, sei que meu rosto seria considerado bonito pela maioria das pessoas. Mas eu não sei... eu só... não gosto de mim mesma. Não gosto de ser tocada, porque isso me deixa nervosa. Beijar, meio que me assusta, porque me preocupa se eu faço isso errado. Alexia já teve relações sexuais com três rapazes diferentes, Carolina com quatro, Anya com dois e eu com nenhum. A medida que caminhamos do meu carro para casa, me preocupo com a possibilidade de desmaiar. Isso é o quão nervosa estou. Nós seguimos o fluxo da multidão, que pisa sobre a grama na altura do joelho salpicada com manchas de areia, rumo à casa de dois andares e ao mar azul pertencente a uma alma desafortunada, e quando vemos a mansão branca e iluminada de Perri, a realidade me atinge como um meteoro. Não acho que eu quero perder a minha virgindade. Eu não quero ter relações sexuais. Nem mesmo com Cal Hammond. O perfeito e inatingível Cal Hammond.
Ele tem 21 anos de idade e, nos últimos dois anos, esteve em onze filmes. Ele é uma celebridade de terceira geração e é perfeitamente belo, alto e imponente, com peito enorme e ombros largos, cabelo preto, grosso e ondulado, e olhos castanhos emoldurados por longos cílios exuberantes. Ele não se chama realmente Cal Hammond. Seu nome de nascimento é Ricardo Condor. Seu pai é peruano e sua mãe é do Egito. Sabe quantas fotos eu já vi dele? Eu tenho uma coleção delas em um fichário debaixo da minha cama. Setenta e nove imagens diferentes, recortadas de revistas e jornais e coladas em páginas de papelão branco. Eu já o vi deitado em uma cama, de pé sobre uma rocha, pulando de asa delta sobre penhascos. Eu já vi cada centímetro de sua garganta, do seu peito, suas coxas. Eu o vi em um anúncio de cueca para Ralph Lauren e numa armadura antiquada de espadachim para um filme. Eu vi a maneira como seus olhos se dobram quando ele ri. Um dia ele vai ter rugas de expressão. Já vi o seu sorriso. Quando me deito na cama, tarde da noite e fecho os olhos, alcanço embaixo dos lençóis e vejo o seu “V”. Você sabe, a versão sexy e masculina dos pneuzinhos: a forma como seus quadris se desenham naquelas linhas de músculo que eu acho que poderia agarrar. Eu sei como chamaria nossos bebês. Mas não quero ter relações sexuais com ele... porque não quero ter relações sexuais com ninguém. Pelo menos eu acho que não quero. Nós andamos junto à alta cerca de madeira ao redor da casa de Perri até o pátio iluminado por tochas, e eu posso sentir o sabor da Patty Pimentinha14 que eu havia incorporado. Eu não quero conhecer Cal Hammond. Isso foi apenas uma brincadeira. Uma piada boba que ficou fora de controle quando o pai de Carolina nos colocou na lista de convidados da festa. Eu só mencionei isso porque pensei que nunca iria acontecer. 14
Patricia Reichardt ou, no original, Peppermint Patty, é uma personagem da série Peanuts – conhecida
no Brasil como “Minduim” ou mais popularmente como “Snoopy e sua turma” – e desenhada pelo cartunista Charles Schulz. Patty tem uma paixão platônica por Charlie Brown, o protagonista da série, que nunca fica sabendo dos sentimentos dela em relação a ele.
Eu olho através do gramado, através de dezenas de corpos que conversam e se tocam e se balançam ao som da música. Olho para o alpendre e lá está ele. Corro de volta para o lado de fora do portão e vomito na areia.
*
Eu estava errado sobre Uma. Nos últimos três meses, pensei que ela fosse chata e tímida. Longo cabelo vermelho, pele pálida, lábios finos. Ela é alta e bem proporcional, mas ela é tipo uma planície15. Para ser honesto, eu não via como ela podia ser modelo. Agora eu vejo. É a intensidade. Ela queria me chupar enquanto eu dirigia até a casa de Perri. O pedaço de merda da Ferrari de Guy não queria funcionar, então ele e Royce precisavam de uma carona, o que significava que eu tinha que dizer não a ela. Ainda assim, ela espalhou um monte de coca ao redor da cabeça do meu pau e lambeu, e eu acabei gozando na sua boca. Talvez fingir namorá-la não seja tão ruim. Pegamos Guy e Brody, usamos um monte de cocaína só para apimentar as coisas, e eu levei todos nós até lá com o coração acelerado e as mãos trêmulas. Chegamos à praia e eu já posso dizer que estou muito drogado para algo tão lotado. Quem diabos Perri convidou? Todos os pré-adolescentes, adolescentes e pessoas na faixa dos vinte e poucos que ela encontrou nesse estado?
15
Ele quer dizer que ela não tem curvas.
Um dos idiotinhas rouba a vaga na qual eu estava manobrando, e eu tiro a Lambo16 de lá para lhe dar o dedo. Esse é um movimento idiota, mas eu estou chapado e me sinto como um idiota. Minha novinha em folha Lambo amarela é barulhenta e quente. Depois que passamos por aquele saquinho, temos energia derramando para fora de nós. Uma está falando a mil quilômetros por hora sobre uma marca de produtos para cabelo que a contratou. Guy está praticamente pulando quando eu puxo o assento para deixá-lo sair. E Royce - Jesus. O filho da puta não para de falar sobre o seu pau duro e em que tipo de garota ele quer colocá-lo. — Só não pode ser uma que se pareça com a minha irmã. — eu o escuto dizer ‘para si mesmo’ enquanto sai do carro. — Mas que porra? — Guy ri. Eu só balanço minha cabeça e estendo minha mão para Uma, que tateia minha virilha antes de enrolar seus dedos nos meus. Eu considero lhe dizer para não fazer essa merda em público, mas em vez disso só ando alguns centímetros à frente dela, nossas mãos unidas sacudindo entre nós. Uma está usando um vestido com uma estampa floral azul maluca e parece pertencer a uma mulher da década de 1930. Ele flutua ao redor de suas longas pernas quando ela anda. — Cal. — ela sussurra enquanto caminhamos em direção à cerca. Seus dedos apertam os meus. — Todo mundo com tetas neste lugar está olhando para você, mas você é meu. Ela usa uma voz sexy e sensual, e me dá um olhar sexy e sensual, e eu sei que deveria pensar que ela é gostosa. Seu rosto está em outdoors em todo o país, vendendo loções e todo o tipo de merda. Mas quando olho para ela, percebo que não gosto. Não é o meu tipo de rosto.
16
Lamborghini
Deus, há um monte de gente aqui. Um monte de luzes instaladas em cima da cerca, no gramado e na areia. Este lugar está um sucesso. Por que eu vim para cá? Eu me viro para olhar Guy. — Espero que você transe com alguém. — eu murmuro. Não que o novo Homem-Aranha tenha algum problema com isso. Ele só é exigente. Ele diz algo que não posso ouvir porque, de repente, a música estoura. Eu ouço o portão ranger quando ele se fecha atrás de nós, e estamos em um mar de corpos batendo, moendo, conversando, bebendo e rindo. Normalmente eu fico bem em festas, mas esta noite estou inquieto. Eu não gosto disso. Eu olho para Brody - baixo e troncudo Royce cuja aparência não tem importância porque tem o velho dinheiro da sua família e porque o filho da puta é o vocalista da banda Inez Irene. E ele ainda é engraçado. Olho para Guy, o deus do ouro, como Brody gosta de chamá-lo brincando. Ele é um ator de TV, mas ele não precisaria, porque seu pai é dono de um dos maiores estúdios de Hollywood.
Brody
ainda
está
cantarolando,
seus
olhos
brilhantes
e
semicerrados. E então eu olho para Uma. Seus enormes olhos verdes estão trabalhando como pequenos fodidos lasers, tentando ver através de mim. Eu só quero sentar. Deitar. Porra. Eu já estou falhando. Eu esfrego os olhos. Eu e a porra do meu metabolismo rápido. — Caramba. — murmuro. — Qual o problema? — Uma ronrona.
Eu suspiro. Gostaria de saber se a cadela tem mais coca nessa gigante bolsa de merda que ela carrega no ombro. No entanto, eu não uso cocaína. Eu não sou a porra do meu pai. Eu esfrego a cabeça de novo e tento limpar a irritação do meu rosto. — Não é nada. — Lá está ela. — eu ouço Guy dizer. E então ele está indo lá, um cowboy alto e magro usando jeans azuis rasgados, algum tipo de botas modernas e uma camiseta branca lisa. Eu vejo as meninas em volta dele se virarem para olhar, e posso dizer que esta festa está cheia de moradoras da cidade. Grudentas e sem amigos, que vivem seguindo os populares, fodedoras de estrelas, embora eu pense que esse termo seja um pouco indecente. — Quer entrar? — Uma me pergunta. Brody diz. — Eu preciso de uma cerveja, cara. E depois encontrar Britta. – a sua garota da semana. Poucos minutos depois o mundo está girando ainda mais lentamente, e Uma continua agarrando minha virilha. Estou suando e meu estômago dói. Por que ainda estamos no gramado? É tão úmido aqui. Essa brisa do mar do caralho. — Eu tenho que entrar. — eu digo, e Uma responde com aquela voz horrível e rouca. Ela agarra meu cotovelo, e nós nadamos por um mar de gente. Passamos por um deck de madeira, uma piscina iluminada, subimos alguns degraus e finalmente chegamos ao interior, onde é frio e mais alto e o chão de pedra vibra com as batidas da música.
— Eu quero cheirar mais uma carreira. — ela sussurra em meu ouvido. — E depois quero te chupar. Ela sorri como se estivesse dizendo algo que vai salvar minha alma e eu concordo com a cabeça. Não, espere. Eu balanço a cabeça em negativa. — Vá embora e me encontre mais tarde. — eu a olho de cima a baixo. — Isso é só pelas aparências. A menos que você queira beber a minha porra? Ela sorri, o tipo de sorriso que pertence a um outdoor e não a uma pessoa. Em seguida, ela morde o lábio. — Eu meio que gosto disso. É rico em proteínas, você sabe. Isso é tão doente, eu me viro e caminho para o outro lado. Deus, eu sou um idiota. Andando por aí com Uma. Associando-me com Uma de qualquer maneira que seja. Às vezes eu penso que a minha vida é tão estúpida. Acho que isso pode ser a minha depressão falando. Poucos minutos depois, no bar que ocupa a maior parte do primeiro andar, eu topo com Ted, o filho da minha agente que, ironicamente, me oferece mais coca. Eu recuso, embora eu saiba que isso me faria me sentir melhor. — O que é essa coisa com cocaína hoje à noite? Uma boa remessa veio de algum lugar? — Ah, a melhor. — ele me diz, balançando a cabeça como um fantoche. — Meu traficante diz que essa merda é classe A. Não sinto nada além do ar e da adrenalina. — ele enfia a mão no bolso e tira um saquinho igual ao de Uma. Oferece-o para mim. — Tem certeza que não quer cheirar uma carreira ou duas? Eu balanço minha cabeça. — Guarde para você, cara. Eu estou bem. Mas isso não é verdade. Eu sou estúpido. Eu não deveria ter vindo aqui. Não deveria ter usado tanto pó, porque agora estou me sentindo pesado e minha cabeça está pulsando, tudo está escuro e eu quero sentar.
Estou suando. Espero que nenhum paparazzo esteja aqui. Nicci ficará puta se eu for fotografado parecendo merda. Que mulherzinha. Mulherzinha. Quem se importa como eu pareço? Mas esse é o meu trabalho. Dificilmente estou melhor do que Uma. De atuar, eu gosto. As outras coisas que são uma merda. Vejo Uma acenando do outro lado da gigante sala que é bar e danceteria e rapidamente me viro. Ando até entrar em uma espécie de biblioteca com uma enorme e desnecessária lareira. Inclino-me contra algumas estantes e mando uma mensagem para Nicci.
“Desculpe, isso não vai funcionar com Uma. Me livre dela”.
Fecho meu telefone e em seguida o abro novamente. Minha irmã - Aerie. Merda. Eu escrevo:
“Ei, Aer. Como você está?”
Eu quero adicionar uma desculpa por não entrar em contato com ela mais cedo, por não expressar qualquer simpatia pelo fato de que o único dos nossos pais que está sempre em casa fez merda de novo. Mas qual é o ponto? Eu sou um idiota. Filho de dois idiotas. Não há utilidade em pedir desculpas. Falando em idiotas... verifico meu telefone para ver se há uma chamada perdida da minha mãe, e depois vou duas vezes até minha caixa de entrada de mensagens, mas não há nada. Minha mãe sabe sobre o pai - meu contato no Promises me disse que gostaria de falar com ela - mas ela não me procurou, ou
Aerie. Nunca fez isso, nunca fará. Se ela nos tratar como seus filhos, ela poderia sentir o desejo de ser mãe, e quem tem tempo para isso? Deslizo o telefone no bolso, e quando uma multidão de caras da minha idade entra no local, transportando várias garrafas de vodca junto com várias garotas gostosas, eu tento escapar. E falho. As garotas param como se tivessem acabado de ver o Pé Grande. Um dos caras levanta sua mão. Leva-me um segundo para perceber que ele quer um high five17. Mais um segundo antes dele pôr a mão para baixo. — Cara, eu amo seus filmes! — Eu também. — diz a morena em seu braço. Ela solta seu aperto sobre ele e desloca seu peso na minha direção, e essa é a minha deixa para sair. — Obrigado, pessoal. — eu tento aquele negócio de fazer um aceno frio com a cabeça e me afastar, mas o cara com camisa de gola V cinza me segue. — Ei, você quer ficar aqui com a gente? Eu franzo a testa. O convite é feito em um tom que sugere que eu talvez só estivesse aqui parado esperando por isso. Balanço minha cabeça. Mudo minha expressão de modo que a irritação que sinto não seja óbvia. — Não, obrigado, mas eu aprecio isso, cara. — Tudo bem, cara. Sem problemas. — ele diz. Ele fica todo estranho e gagueja, ainda me sombreamento enquanto vou até a porta de volta para o corredor. Eu tenho que voltar para o meu iate agora. Eu estou tão cansado, como se eu devesse ir dormir, e merda, não sei o que eu estava esperando, porque usar pó sempre faz isso comigo. Eu não fui feito para usar coca.
17
É um comprimento onde cada pessoa levanta uma das mãos bem aberta para o alto e bate na palma
da outra. “High five” significa algo como “cinco para o alto”, fazendo referência aos cinco dedos da mão.
Ocorre-me, quando faço meu caminho pelo corredor, de volta para a grande sala bar-danceteria envidraçada que fica na parte de trás da casa, que eu devo ter uma tolerância de merda. Ou talvez não. Tudo que eu sei é que não farei isso de novo tão cedo. Se eu puder manter meus olhos abertos por tempo suficiente, vou dirigir o Lambo até as docas e sair para navegar com o iate amanhã de manhã. Voltar para casa. Tenho três semanas antes que comecem as filmagens do filme indie Divining Rod, no Alabama. Eu entro na sala de vidro e me sinto meio enjoado. Se eu conseguir manter minha cabeça para baixo e me esquivar das pessoas, acho que vou pegar um refrigerante de gengibre antes de sair. A cada passo que dou, sinto o olhar das pessoas sobre mim. Quando chego ao bar, pego uma ginger ale18 com uma menina de peitos enormes. Poucos segundos depois, Guy se materializa do nada. — Ei, cara. Estava procurando por você. — ele dá um tapa em minhas costas e me olha como se soubesse que algo está errado. Nós íamos para a escola juntos todos os dias – o filho da puta me conhece. — O que foi? — ele me pergunta. Eu esfrego minha cabeça. — Provavelmente vou embora daqui a pouco. — Por quê? Sento em um dos bancos do bar e dou de ombros uma vez que ele está parado ao meu lado. — Só cansado. — E? — Entediado. — E?
18
É o referido refrigerante à base de gengibre bastante popular nos Estados Unidos. Canadá, Inglaterra
e Japão.
— Essa coisa com Uma acabou. Ele arqueia uma sobrancelha. — E? Eu posso muito bem lhe dizer. Ele vai descobrir em breve, porque o meu pai ama vazar sua versão ficcional dos acontecimentos para os paparazzi. — Pai. — Porra, o que foi agora? — H19. — eu murmuro. Seus olhos se arregalam. — Merda, cara. Ele está bem? — No Promises. — digo a ele. — Provavelmente irritado pra caralho, mas não que eu me importe. — tomo um gole do meu refrigerante, me escondendo atrás do copo como a porra de um viadinho. — Porra, cara. Sinto muito. Eu dou de ombros. — Obrigado. Sinto-me mal por Aerie. Devo soar tão miserável como eu estou, repentinamente, me sentindo, porque ele me pergunta: — Você está muito puto com ele, não é? Concordo com a cabeça. — Acho que sim. — Brody e eu vamos dar uma volta. Você vai deixar Uma aqui? Nós podemos dar uma carona para ela também, se você quiser. — Isso seria prostituição. Ele dá um tapa em minhas costas mais uma vez, e eu o vejo olhando para uma pequena menina de cabelos negros do outro lado da sala. Miss Marrocos. Certo. A razão pela qual estamos aqui. Eu gostaria de encontrar uma “cama” assim. Quer dizer, será que eu gostaria? Talvez eu não dê à mínima. Estou tão cansado. De tudo.
19
Heroína.
Estou esfregando os olhos, prestes a pegar minha carteira e dar uma gorjeta para a bartender, quando avisto a primeira coisa com duas pernas e uma boceta que penetrou minha neblina esta noite. Ela é alta - até mais alta do que Uma - e tem a pele mais bonita que eu já vi, suas pernas têm quilômetros de extensão e ela usa um vestido escuro que abraça aquela bunda gostosa. Não posso dizer muito mais porque as sombras piscam sobre ela enquanto ela se move. Mas a cada passo que ela dá o meu pau fica um pouco mais duro. Talvez boceta seja o que eu preciso. Não é. Eu sei. Qual é o ponto de merda? Todas são a mesma coisa. Mas caralho... Eu me viro e deslizo vinte dólares pelo balcão do bar. A garota de tetas grandes me oferece seu número, e eu tento rejeitá-la de um jeito legal. Quando me viro novamente para sair, a menina com a pele bonita está em pé bem na minha frente.
em, foda-se.
Eu olho em seus olhos, apesar do quanto quero olhar para aquele corpo firme. Estou surpreso ao ver suavidade ali. É diferente de algumas mulheres, que pensam que me possuem só porque estão dispostas a abrir suas pernas e me oferecer sua boceta. Ela olha para mim como se estivesse tentando ler minha mente. Cuidadosamente. Por isso, não me machuca. Seus olhos são grandes e castanhos, e eles me aquecem. Digo a mim mesmo que é apenas a baixa do efeito da droga. Então ela lambe os lábios, minha temperatura sobe alguns graus e eu solto a respiração. — Cal Hammond? — ela tem uma voz doce. — O primeiro e único. — eu digo. Eu deslizo para fora do banco e fico ali, a centímetros de distância dela. Ela inclina a cabeça, me dando uma bela vista do seu pescoço suave. — Você é mais alto do que eu pensava. — Você é pequena.
Ela levanta a mão até o seu rosto e ri por trás dela. — Oh, uau. Você é como uma... pessoa de verdade. — Sim, eu sou. — aperto meus lábios. — Troquei o último dos meus membros mecânicos por um biomecânico na semana passada. Ela me dá um sorriso que parece apenas um sorrisinho, e então floresce em um sorriso aberto. — Você é engraçado. — ela diz isso como se a agradasse, e eu estou chocado ao descobrir que eu sinto um pequeno chute de alegria. — Isso surpreende você? Ela encolhe os ombros. — Robert Allman era engraçado. Ted Bose era engraçado. Mas isso não significa que você, Ricardo Condor, seja engraçado. Mas você é. Eu olho para ela - realmente olho. Ela parece jovem pra caralho, com aqueles doces olhos castanhos e aquela deliciosa boquinha. Eu me pergunto quantos paus já estiveram ao redor dela, mas em seguida me digo que isso não tem importância para mim. Quem se importa se ela me chamou pelo meu nome real? Isso provavelmente significa que ela é mais uma das loucas. Ela move os olhos para a esquerda, depois para a direita, como se estivesse à procura de alguém, ou como se alguém a estivesse observando. Ela oscila um pouco em suas sandálias, o que torna difícil manter meus olhos longe dos seus peitos maravilhosos. Arrasto meus olhos até o seu rosto. Preciso andar ao redor dela; sair pela porta. Estou cansado de fãs aleatórias do caralho. Cansado de me sentir como se estivesse deixando para trás um rastro de vítimas. Ela olha de volta para mim, e lá está de novo: esse calor desconfortável no meu peito e pescoço. Isso é ridículo. Se eu não posso incitar meus próprios pés a começarem a se mexer, então preciso fazê-la ir embora. Eu esvazio todo meu rosto, colocando a expressão que uso quando os diretores querem que eu pareça
cruel ou desinteressado. Faço minha voz combinar com o rosto e volto a olhar nos olhos dela. — Olha, querida. Você está cometendo um erro. Talvez eu tenha meus momentos engraçados, mas eu não sou legal, ou sensível, ou disponível. Não sou Corey de The Supers ou o Hawk de The Sonic Waste ou mesmo Ted Bose de Florence Adams. Eu sou apenas um cara chapado em uma festa e pronto para ir para casa. Seus olhos se arregalam. Ela deixa cair seu olhar para o chão entre nós e dá um aceno de cabeça lento antes de olhar de volta para mim. Ela tem o lábio entre os dentes. Ela liberta-o e lambe os lábios. Quando ela fala de novo, sua voz é mais suave. — Eu sei que você não é nenhum daqueles personagens. Mas você é minha estrela de cinema favorita. — Você sabe por que eu sou uma estrela de cinema? — ela balança a cabeça. — Porque meu pai era uma estrela de cinema. Sabe por que ele era uma estrela de cinema? — Porque o pai dele era Lambert Hammond? Concordo com a cabeça, segurando minha expressão “desinteressada”. Quem quer que seja esta garota, ela sabe coisas triviais sobre Cal Hammond. — Nós não somos diferentes de você e seu pai, exceto que nós cheiramos muito mais cocaína. Venha aqui. — ela dá um passo para se aproximar um pouco mais e eu a puxo para o meu peito. Seus seios pressionam meu peitoral, fazendo meu pau latejar. — Você sente a minha camisa? Está molhada. Estou quente, cansado e chapado. Eu não sou seu cara essa noite. Eu nunca serei o seu cara. — dou-lhe um olhar duro e ela se afasta de mim. Boa menina.
— Eu... eu estava indo embora. Só queria falar com você. — sua voz cantarola melodicamente no “você”, como se ela estivesse me fazendo uma pergunta. Faz com que ela pareça ainda mais jovem do que já parece. Então, por que não você não fez isso? Em vez disso, eu pergunto: — Quantos anos você tem? Ela pisca. — Vinte e um. — Agora eu sei que você está mentindo. Seu rosto cai. Meu Deus, essa menina é óbvia. Ela poderia ser uma atriz, com toda essa emoção em seu rosto. Ela deixa escapar o fôlego. Meus olhos caem por um milésimo de segundo para seus seios, mas em seguida piscam de volta para os dela. — Eu estou. — diz ela. — Acabei de fazer dezenove. — Você deveria ir embora, Dezenove. Ela olha por cima do ombro. — Você pode me beijar? Por favor? Então eu vou embora. Eu prometo. Eu aperto meus olhos fechados. Eu tenho uma coisa por vozes, e a dela é positivamente sedosa. Pisco para ela e encontro-me estendendo a mão para acariciar seu pescoço com a ponta do polegar. Eu vou lhe dizer não. Ela coloca sua mão sobre a minha. Lentamente, com seu olhar nunca deixando o meu, ela arrasta a minha mão para baixo em direção a seu peito. Sua pele é macia. Tão quente. E então eu estou lá. Estou cobrindo o peito dela com a minha mão. Minha mão é grande. Seu peito é maior. Meu pau fica duro. É instantâneo.
*
Oh. Meu. Deus. Oh. Meu Deus. Ohmeudeus. Dentro e fora. Inspire e expire. A mão de Cal Hammond. Está no meu peito. A mão dele é pesada. Ela é grande. E está presa a ele. A todos os seus 1,93m. Seu peito. Seu pescoço. Seu rosto. Seu braço. Ele tem um cheiro tão masculino. Seu cabelo, a forma como ele cai sobre a sua testa. Seus olhos parecem cansados. Ele disse que está chapado.
Oh Deus. Eu inspiro profundamente, e ele move sua mão. Eu quase desmaio. Em algum lugar atrás de mim, eu ouço Carolina gritar. Mas tudo que eu posso ver são seus olhos. Os olhos de Cal Hammond. Frios, condenatórios, curiosos. — O que é isso? Um desafio? Balanço a cabeça. — Bem... mais ou menos. Eu sou virgem. — essas palavras são sussurradas. Eu não as digo. Elas caem dos meus lábios. Como se ele fosse um padre, e estar em sua presença fosse o suficiente para provocar uma confissão do meu corpo. — Ah. — ele pisca. Seu rosto se torna perspicaz. — Você quer transar comigo. Concordo com a cabeça. Mas em seguida, nego com cabeça. — Eu pensei que queria. Suas sobrancelhas se unem. É irritação? Sim. Merda. Ele está irritado comigo. — Será que eu a decepcionei, senhorita...? — Hammond. — eu digo. Minhas bochechas estão queimando, mas eu não consigo me conter. Alcanço minha bolsa e pego a minha identidade. Ele ri, e eu posso ver a sua magia dos filmes. Seu rosto se transforma. Alegre de novo, como se isto - minha obsessão por ele; o nosso pequeno e estranho encontro - tudo fosse uma grande piada. — Annabelle Hammond. Ah, minha jovem esposa. — ele toma minhas mãos e olha nos meus olhos. E quando ele faz isso, seu rosto muda de novo. Sua boca endurece. As maçãs do rosto parecem mais proeminentes. Seus olhos parecem quase marrons. E quando ele fala, sua voz é de veludo. — Você não quer transar comigo? Tem certeza? Eu balanço minha cabeça.
Suas mãos apertam em torno das minhas, e então estou sendo puxada por um mar de corpos, entre cotoveladas, passando por ombros dançantes, ao lado de rostos sorridentes, através de um véu invisível de aromas e uma sopa incognoscível de emoções. Então nós estamos caminhando sob um arco, abaixo de um corredor escuro e estreito. Ele pega o ritmo, puxando-me ao seu lado até virar uma esquina. Então ele pega meus ombros e me pressiona contra a parede. Seus olhos nos meus são tão atraentes. Eu venderia minha alma para ele. Sua mão acaricia meu pescoço e ombro. — O que você quer, senhorita Hammond? Quer ter uma história para contar aos seus amigos? Onde estão os seus limites? Você tem algum? Balanço minha cabeça. — Eu não tenho certeza. Quando é com você... — Você sabe quantos encontros de uma noite eu tive? Balanço minha cabeça, robótica. — Muitos para contar. Você sabe onde estavam os limites? Balanço a cabeça novamente. — Em lugar nenhum, senhorita Hammond. A maioria das pessoas não tem limites quando se trata de conseguir o que elas querem. Você tem. É o medo? Eu levanto os meus ombros. Tento. Ele acaricia minha garganta. — Você pode falar comigo. Eu pisco para ele, e em vez de fazer algo suave e sexy, eu digo a coisa mais estúpida possível. — Seu hálito cheira a cookies. Para minha surpresa, ele ri. E enfia o meu cabelo atrás da minha orelha. — É gengibre, senhorita Dezenove. — Você estava bebendo refrigerante de gengibre?
— Eu estava. Eu me viro para recuperar o fôlego. Seu corpo está pressionado contra o meu em alguns lugares. Ele é tão quente. Tão real. Parece que eu não consigo manter o equilíbrio. Olho para ele, um pouco relaxada devido à sensação extremamente surreal. — Você estava com dor no estômago20? — eu pergunto. — Vamos direto ao ponto. Porque você não quer transar comigo? Eu posso sentir um peso entre as pernas, um encontro de energia. Impaciente. Eu o quero. Claro que eu quero. — Eu apenas... eu não acho que estou pronta. — minha voz treme quando digo isso. — Quantos anos você tem, de verdade? — Dezoito. — eu sussurro. Eu não consigo falar em um volume mais alto. Suas mãos sobem para enquadrar meu rosto. Seus olhos em mim estão queimando. — Doce Dezoito. — uma mão se estende entre nós. Eu sinto o seu peso entre as minhas coxas. Ela se contorce entre elas, alcançando-as e, em seguida, a palma da sua mão está cobrindo minha boceta. — Ah... Ele enrola os dedos. Eu posso sentir um deles pressionando bem em cima da... minha... — Você está ofegante. — ele diz lentamente. — Você me quer. — Por muito tempo. — eu confesso. Minhas pernas tremem quando a ponta do seu dedo pressiona minha calcinha através do vestido. Oh, meu Deus, ele está empurrando na minha... entrada. Meus olhos se fecham. Minha respiração cresce irregular.
20
Em tese, refrigerante de gengibre ajuda pessoas que estão enjoadas e/ou com dor de estômago,
assim como nós fazemos com a Coca-Cola, no Brasil.
— Pequena Dezoito. Não vou transar com você. Você deveria esperar. Alguém que você conhece. Alguém cuidadoso. — ele desliza a mão, deixando meu núcleo gritando com luxúria, e meus olhos abrem apenas a tempo de ver o olhar de satisfação no seu rosto enquanto ele a desliza por baixo do meu vestido e empurra a minha calcinha. Com um movimento suave, ele está abrindo meus lábios. Ele está deslizando um dedo entre eles, escorregando facilmente para dentro. Seu dedo vai fundo. Eu gemo. Eu posso sentir seu outro braço ao meu redor, me pressionando contra ele, me segurando. — Você gosta de mim dentro de você? Faz você se sentir cheia? — concordo com a cabeça. Empurro contra a mão dele, tentando levantar meus quadris. — Acho que você quer gozar. Estou tão bêbada de luxúria que só posso gemer. — Vem comigo. E porque o meu corpo está imóvel e dormente, exceto onde eu sinto o dedo enterrado dentro de mim, Ricardo Condor me pega e me carrega. Seu dedo continua dentro. Ele bombeia para dentro e arrasta-o para fora, enquanto o outro braço me segura ao seu peito. O ar treme quando entra e sai pela minha boca, igual à vez em que hiperventilei em uma apresentação da escola. O interior das minhas coxas pressiona o seu antebraço duro. Gemo quando ele empurra um pouco mais fundo. Aperto quando ele desliza para fora. E depois volta para dentro. Eu acho que há escadas. Eu sei que há o seu rosto. Seu rosto concentrado. Depois uma porta se abre, vejo paredes amarelas e sinto algo macio sob minhas costas. E então ele está lá em cima da cama, ajoelhando-se entre meus
joelhos. Ele é Cal Hammond. Ricardo Condor. Ele está se inclinando para baixo, o rosto sobre meus quadris, seus olhos nos meus. — Vou fazer algo que eu acho que você vai gostar. — sua mão acaricia a minha coxa. — Mas você vai tem que confiar em mim. Seu dedo, na minha boceta, fica imóvel. Tenho que me impedir de apertar avidamente em torno dele. — Você confia em mim, Dezoito? Arrasto o ar em meus pulmões e me ouço dizer. — Sim. Ele sorri, parecendo o gato que comeu o canário. Então ele se inclina e me lambe, da boceta ao clitóris.
u nunca vi uma garota
como essa. Talvez em pornôs, mas nunca na realidade. Toda vez que eu a toco com a minha língua, ela bate os quadris na minha cara. Suas mãos estão no meu cabelo. Quando eu circundo a ponta da minha língua em torno de seu clitóris, ela puxa com tanta força que dói. Eu gosto disso. — Cal, Cal, Cal! Ricardo! Cal! Eu lambo em torno da base dos meus dois dedos, os empurro profundamente dentro de uma garota virgem. Eu posso dizer que ela não está mentindo, porque ela é apertada em torno de mim, se esticando. Se ela não estivesse tão excitada eu poderia machucá-la. Porém, ela está encharcada. — Continue, baby. Eu gosto de ouvir o meu nome. Na próxima vez que eu lambo seu clitóris, ela lança as pernas para o ar. Suas bochechas estão vermelho-cereja, sua boceta apertada. Eu vou suave em seu clitóris, achato a ponta da minha língua e a arrasto lentamente para baixo
até sua fenda, em direção a sua boceta. Ela está gemendo. Perdida. Perfeita. Mais um golpe sobre o clitóris, e... Ela grita, apertando minha cabeça com os joelhos, puxando meu cabelo como um animal no cio. Eu engulo uma risada presunçosa. Eu sei que eu sou bom, mas droga. Ela está rolando de lado, puxando seus joelhos até o peito. Merda. Eu me inclino para trás, apoiado em meus calcanhares. — Você está bem? Eu poderia fodê-la e deixá-la aqui, mas meu objetivo é agradar. Ouço o primeiro sufocamento de um soluço e me mexo para estar inclinado sobre ela. — Ei... — afundo minhas mãos nos cabelos dela. — O que eu fiz? Algo está doendo? Ela levanta o rosto e eu fico chocado ao vê-la rir. — Isso foi incrível! Oh meu Deus - incrível! — ela se senta, e seu cabelo encaracolado está apontando para todos os lugares. Seu vestido está pendurado fora de seus ombros, e seus seios estão balançando com cada golpe de riso. — Eu estava com medo disso? — ela sorri e então me choca jogando os braços em volta do meu pescoço e beijando minha boca. Seus lábios são quentes e suaves. Eu deslizo minha língua em sua boca, e ela de forma irresponsável aprofunda o beijo. Eu a puxo para mais perto. Estou tão duro que estou sentindo dor. Estou querendo saber como seria a sensação de estar dentro dela quando ela puxa de volta, radiante e totalmente alheia à minha ereção brutal. — Obrigada!
Eu sorrio de volta, apesar do meu pau dolorido. Como se eu não quisesse jogá-la na cama e entrar dentro dela. Como se essa não tivesse sido a nona milésima septuagésima quinta vez que dei uma chupada. Como se ela fosse a primeira. Puxo um de seus cachos escuros. — O prazer foi meu. — e estou surpreso de descobrir que foi realmente. Seus olhos passam sobre mim. Eu vejo o rosto dela se transformar, indo do prazer vertiginoso para o desejo e intenção. Ela se inclina e lentamente estende a mão, achatando a palma contra mim. Segurando-me através das minhas calças. Ela sorri, suave e conhecedora. — E você? Estou amando a palma da mão na minha protuberância. Também estou tentando decidir o que fazer. Não parece justo deixá-la chupar o meu pau. Como sempre, eu tenho a vantagem nesta situação, e é por isso que muitas vezes eu vou para as mulheres mais velhas. Mulheres que parecem mais capazes de escolher. Meninas como ela estão apenas seguindo suas bocetas. Eu sou Cal Hammond, modelo de pau e bolas feito pela mídia. Garotas da minha idade não podem evitar me querer. Olho para o rosto de olhos brilhantes e engulo a parte onde eu a peço para ficar de joelhos e chupar o meu pau. — Eu posso cuidar disso. — Mas eu não quero que você cuide. — sua voz é jovem e macia, o que só me faz querê-la mais. Estendo a mão e passo o polegar sobre um dos seus mamilos, que está demandando atenção através do tecido do vestido. — O que você quer fazer, baby? Ela sorri, apertando os lábios timidamente.
— Diga. — se ela não pode sequer dizer isso sem corar três tons de vermelho, vou ter que ir me masturbar em um dos banheiros. Isso, ou encontrar outra mulher. Inspire. Expire. Ela parece nervosa. Decepção se arrasta em mim. — Eu quero chupar seu pau. — seus olhos se arregalam. — Isso é sujo suficiente pra você? — ela ri de novo e meu pau lateja. Eu deslizo o braço em volta de sua cintura e a puxo para mais perto. Deito na cama, e ela se move entre as minhas pernas. Eu já me sinto bem, e ela nem sequer tocou meu pau ainda.
*
Tiro meu cabelo do rosto e o levo na minha boca. Eu sou capaz de começar com confiança porque minha amiga Alexia me disse que se a cabeça tem um gosto salgado, o cara já está bastante excitado - e esse é o caso de Hal. Ele é duro e quente, tão grosso e grande, e a pele é tão macia. E por baixo - as bolas. Eu costumava pensar que as bolas eram estranhas, mas estou descobrindo que, com ele, eu gosto delas. Gosto de cobri-las com a minha mão. Acima de tudo, gosto do olhar absorto em seu rosto. Eu chupo e chupo, e suas mãos agarram a roupa de cama. Lambo ao redor da cabeça, para cima e para baixo do seu eixo. Como em qualquer outra parte dele, ele é perfeito aqui. Tão grande. Tomo coragem para lamber suas bolas e ele geme. É um som realmente maravilhoso. Seus joelhos estão dobrados agora, os músculos das coxas apertados. Seu rosto está preguiçoso, seus olhos
espremidos apertados. Suas mãos correm para cima e para baixo pelos meus braços. Ele geme. Ele grunhe. — Isso mesmo. Ah sim. — ele esfrega o meu cabelo. Ele puxa meu cabelo. E então, quando meu maxilar está ficando cansado, ele empurra meus ombros levemente, puxa para fora da minha boca, e jorra em toda roupa de cama. Por um longo segundo, enquanto lambo meus lábios, ele só está ali de lado, sua boca um pouco aberta, os olhos vibrando. Quando ele os abre eu sorrio um pouco, me sentindo nervosa novamente. — Isso foi bom? — Porra, sim, foi melhor do que bom. Ele se levanta da cama e caminha para fora do quarto, e por um segundo doente eu acho que ele foi embora. É isso aí. Em seguida, ele retorna com um punhado de pano. Ele limpa a bagunça na cama e diz: — Deite-se e abra as pernas. Ele me limpa e depois limpa a si mesmo. Seu olhar pega o meu e segura. Há tanta coisa nele. Ele parece suave, presunçoso, divertido, encantado. Eu não posso acreditar que é real. — Há uma história para seus amigos. — ele pisca. Ele me ajuda a levantar e meus braços já estão o alcançando. Estou viciada. Eu só quero tocá-lo. Pego em seu ombro e ele acaricia minha bochecha. — Até mais, Dezoito. Cuide-se, está bem? — Está bem. — eu sussurro. Ele arqueia as sobrancelhas e, assim mesmo, passa pela porta.
Estou aqui sentada, tremendo, querendo saber sobre a próxima vez em que poderei vê-lo. Olho para o teto. Por favor, Deus, permita-me vê-lo em breve.
*
Eu penso nela pelo resto da noite. Uma me encontra quando estou tentando ir embora. Ela pega minha mão e me puxa para a pista de dança ao lado do bar, alguém tira uma foto, e assim eu fico e interpreto o papel. Quando terminamos de nos bater e nos triturar um contra o outro, vamos para um canto escuro da sala e ela me empurra. — Babaca. Acho que meio que eu sou. É engraçado. Engraçado como muitas pessoas são dentro de alguém. Para Uma, eu sou um babaca. Para a menina de mais cedo hoje à noite, aposto que não. Ainda estou meio pensando nela, meio duro quando deixamos a festa, pouco depois das duas da manhã. Guy usou mais cocaína, eu acho, porque ele não para de falar sobre a sua garota marroquina. Brody parece meio cansado, por isso eu suponho que como eu, ele está vindo para baixo21. Ou já está baixo. Uma senta ao meu lado no banco da frente com os braços cruzados sobre o peito.
21
É o efeito da droga: quando se usa, o efeito é de êxtase e euforia, e quando esse efeito passa, há uma
“queda”, uma baixa nas sensações e no humor. É uma fase também chamada de depressão e é essa sensação que faz com que muitos usuários voltem a usar a droga.
— Leve-me para casa primeiro. — diz ela. — Estou cansada. Guy começa uma história sobre como uma garota que sua namorada conhece trapaceou para ganhar milhões em um cassino. Eu olho para fora e observo a estrada. Estou naquela fase de mudança para a depressão. Não é terrível, mas é um contraste com a manhã de hoje, depois de fumar uns baseados. Nós dirigimos pela Rodovia 101, e eu coloco os olhos sobre Uma. Ela tem as mãos cruzadas sobre o estômago, como de costume. Por um momento eu me sinto mal por ela. Acho que ela vomita tudo que come. — Você ainda fica com a sua avó perto de Beaumont? — eu pergunto. Ela acena com a cabeça, mas não fala comigo. Tudo bem. O tempo passa. Eu continuo vendo a parte interna das coxas de Dezoito. Tão cremosas. Impecáveis. E entre elas. Deus, que boceta. Meu pau fica duro só com o pensamento de estar dentro dela. Brody e Guy estão discutindo sobre algo relacionado com a NFL. Eu realmente não acompanho futebol americano, então minha mente continua à deriva. Meus pensamentos são interrompidos apenas por olhares ocasionais para Uma. Eu quase me arrependo da minha mensagem para Nicci. Quase. Estamos na Rodovia 60 agora. Quanto mais nos afastamos de Los Angeles, mais a terra torna-se plana e escura. Posso ver inúmeras estrelas através do para-brisa. Estou dirigindo rápido demais para reparar em qualquer constelação, mas sei que elas estão lá. Estive trabalhando tanto nesses últimos dois anos que, às vezes, me esqueço de qualquer coisa que não esteja ao alcance da vista. Estou meio que feliz porque a avó de Uma vive longe pra cacete daqui. Diminuo um pouco a velocidade, quase na esperança de conseguir vê-las. Alguns segundos depois, Guy se inclina entre os dois acentos da frente. — Ei cara, quão rápido você consegue ir com essa coisa?
— 290 km/h da última vez que eu tentei, mas eu não estava realmente fazendo pra valer. — Tente agora. Balanço minha cabeça. — Muito cansado. — Faça. — Uma incita. Essa é a primeira palavra que ela falou em vinte minutos. Seus olhos estão brilhantes. Ela está chapada. — Quero me sentir como se estivesse voando. Olho pelo espelho retrovisor. Da última vez que tentei levar o Lambo à velocidade máxima, minha irmã estava no banco de trás. Ela ficou tão assustada que chegou a me bater depois de tudo. — Brody? — eu digo. — Você tem um voto? — Eu estou desanimado para qualquer coisa. — diz ele. — Mas depois disso, eu quero fumar um baseado. Você se importa se eu acender um aqui? — Não. Acho que não. Olho, de novo, pelo retrovisor. Nada atrás de mim, nada à frente. Nada além da solitária estrada no deserto. Uma abre sua janela. Seu cabelo ruivo chicoteia ao redor do seu rosto, como se ela fosse uma máquina de vento. Olho para trás, para os meus garotos. Brody já está rodando seu baseado ao redor dos dedos. Guy está olhando pelo para-brisa, como se ele estivesse planejando apertar o freio enquanto eu aperto o acelerador. Guy é um grande filho da puta fodido. — Três, dois, um, decolar! — Brody diz divertido, e eu enfio o pedal no chão. Tenho um Escalade em que você não consegue fazer isso, mas na Lambo, a merda é legal. Em meio segundo nós fomos de 150 para 185, e meio segundo depois, para 209. Uma estica seu braço magro para fora da janela. 257.
289. 305. Guy grita. Ouço Brody dizer. — Puta merda. Eu nunca tiro meu olhar da estrada, mas um segundo depois, quando eu alcanço os 354 km/h, fico ciente de luzes azuis - em algum lugar. Luzes azuis no retrovisor. PORRA! Aperto o freio. Uma bate no meu braço e guincha. — VAI! Eu nem olho para ela. Eu já fui algemado e arrastado até a delegacia duas vezes esse ano - uma por posse de um tijolo de maconha que outra “namorada” deixou no meu carro, e outra por dirigir para casa logo após uma festa de Ano Novo drogado e bêbado. Tive que falar com os chefes dos estúdios, fui xingado pela minha agente. Eu parei com essa merda. Leva poucos segundos para diminuir a velocidade com segurança, e nesses segundos, o carro da polícia acelera, pensando que estou fugindo. Ele não desiste nem quando paramos no asfalto, em um mar de pequenas pedras do deserto. Estou abrindo a janela quando derrapo na estrada, porque Uma guinchando e assobiando como um gato irritado. — Foda-se você, Cal! Tenho um monte de cocaína na minha bolsa! — ela agarra meu braço. — Hal, por favor, dirija! Dirija! — Droga, não. Você acha que eles não nos pegariam? — Então nós temos que acabar com essa coca! — ela enfia sua cara no saquinho quase cheio e começa a tomar respirações rápidas e profundas. Estou
olhando pelos meus espelhos quando ela começa a soluçar. Ela se vira no seu banco e joga o negócio para Guy. — Acabe com isso! Por favor, Guy! Por favor! Ele levanta o saquinho. — Tem muito. Brody pega o saco de Guy e o esconde entre as pernas. — Eu não dou a mínima para o porte de drogas. Isso vai me ajudar. — sua banda faz rock sulista, apesar de ele ser um californiano de segunda geração. Olho pelo espelho lateral de novo e tento acalmar meu ritmo cardíaco. Colocar minha expressão desinteressada. Uma ainda está guinchando sobre a coca. — Eles não vão nos revistar por drogas. — Brody está dizendo. — Quando você tem um carro como esse, é normal dirigir rápido. Drogas não precisam estar envolvidas. — Guy complementa. Uma do caralho. Eu olho para o céu. Posso ver melhor as estrelas agora. De repente desejo que eu estivesse sozinho - ou com uma garota que eu goste. Alguém doce, pela primeira vez. Posso usar um pouco de doce. Como sempre, o policial demora um tempo que parece para sempre. Sua lanterna aponta para mim. Somente quando ele alcança minha janela é que eu consigo ver que na verdade é uma mulher. Ela tem cabelo loiro na altura do ombro, um rosto legal, e isso é tudo que eu sei, porque um segundo depois sua lanterna aponta direto para os meus olhos. — Sr. Condor. Já anotei sua placa e puxei seus registros. Vou precisar da sua licença e registro, por favor. É meio estranho que tenha descoberto quem eu sou antes de eu ter lhe entregue minha identidade, mas eu acho que foi pela placa. Nem todo mundo tem um Lamborghini, de qualquer maneira. Ela provavelmente queria saber com que tipo de rico idiota estava lidando. Eu vasculho meu porta-luvas pelo meu registro e então tiro minha licença de motorista da carteira.
Mais alguns segundos com essa fodida luz na cara e ela, finalmente, se afasta. — Eu tenho uma unidade K-9 chegando, então fique parado. Fecho minha janela e Uma afunda suas unhas no meu braço. — Oh meu Deus! Eu vou perder meus contatos! Minha mãe vai me matar! — Pensei que ela estivesse na reabilitação. — Guy diz. — Esse é o ponto! — Cheire! Cheire! Cheire! — Brody canta. Ele parece estar brincando, mas não tenho certeza. Ele e Guy passam o saquinho de um lado para o outro uma vez ou das, e depois Uma o arrebata. Ela está arquejando enquanto tenta cheirar. — Tenha cuidado. — Guy diz. — Você está espalhando isso e os cães vão conseguir cheirar essa merda. — Eu não vejo por que... Cal não pode... dirigir. — ela diz entre as cheiradas. Sua voz soa fraca, como se ela estivesse tentando não chorar. Seus olhos, me espiando por cima do saco, estão enormes em seu rosto magro. Eu penso nesse jeito doente que meu coração bate quando eu já tive demais, e a imagino vomitando dez vezes por dia. Seu rosto vermelho, seus olhos arregalados. Merda. Eu agarro o saquinho. — Obrigada! — ela chora. — Faça isso rápido! Eu cheiro um pouco direto do saco, do mesmo jeito que os outros fizeram, antes de perceber que talvez eu possa comer isso. Se eu me lembro direito, isso não vai me deixar chapado. Logo depois das primeiras cheiradas, estou me sentindo na porra do meu limite. No limite o bastante para que engolir isso parece uma boa ideia. Eu seguro uma ponta do saquinho em minha boca aberta e jogo pra dentro. Me afogo um pouco, e os caras no banco de trás
começam a cantar alguma coisa. Minha cabeça está girando, então eu não tenho bem certeza do quê. Quando ouço uma porta fechar e eu sei que ela está voltando para o meu carro, luto para respirar. — Porra, cara. Você está bem? Deslizo o saco para baixo do assento e Uma joga seus braços ao meu redor. A próxima coisa que eu vejo é a policial de inclinando para minha janela. Não tenho ideia de como ela já estava aberta. Sua voz é metálica, surreal, quando ela diz: — Não há mandados pendentes. Eu conheço os seus rostos, garotos. Não quero vocês fora desta forma. A unidade de drogas ainda está vindo para cá, mas se vocês querem ir direto para casa - eu vou lidar com isso. Mas nada de dirigir tão rápido assim. — os olhos dela, espreitando todo o carro, encontram os meus. — Você vai acabar matando alguém. — ela me diz. Depois sorri. — Eu amei você em Fair Bachelor. Eu aceno. Mordo o interior das minhas bochechas e esfrego minhas mãos duramente contra o volante enquanto ela volta para o seu carro, e então, um minuto ou depois, dirige para longe. Antes que a luz do teto do carro dela saia de vista, Uma começa a guinchar de novo. — Vai! Vai, vai! Dê a volta, volte para a cidade e saia em algum lugar! Temos que ficar longe dos policias da unidade de drogas! — Acelere. — Guy diz. — Só voe. Nos tire daqui. Estou me sentindo meio estranho, mas ele está certo. Nós precisamos sair daqui antes que os outros policiais apareçam.
lgumas
pessoas
podem pensar que é estúpido dirigir sozinha de La Placita em direção a Yucca Valley tarde da noite, mas eu não me importo. Esta noite foi uma loucura perfeita, e eu quero revivê-la em total privacidade. Deixo minhas amigas em casa e saio zunindo pela solitária estrada no deserto entre o apartamento da minha mãe e a cabana do meu pai. Dessa forma, se me acontecer algo com o carro, estou em segurança em ambos os lados da estrada. Passo alguns minutos, logo depois de largar Alexia, pensando em como eu desejo que minha mãe e o homem que conheço como pai ainda estivessem casados. Holt foi o segundo e último casamento de mamãe, e desde que eles se divorciaram, quando eu tinha três anos, ele tem sido meu único pai. Eu não me importo que nós não tenhamos laços de sangue. Ele mais do merece o título. Eu ligo o rádio – Está tocando “Crazy”, do Gnarls Barkley - e bato minhas unhas verde-brilhante contra o volante enquanto passo por Sunnyslope e depois por Moreno Valley. Enquanto a dupla canta, mexo meus ombros e balanço meu cabelo.
Eu me sinto... flutuando. Atordoada. Tão afortunada. E ainda... faminta. Eu não tenho certeza de que irei descansar novamente, sabendo que Ricardo está lá fora e sua boca está em algum lugar que não é o meu corpo. Tudo que eu pensei que ele fosse - tudo que eu quis que ele fosse - esses pensamentos se foram, nocauteados por quem ele é na realidade. Passei algum tempo somente sorrindo, enquanto voava pela Rodovia 60. Em algum lugar à frente eu vejo luzes azuis, e aperto um pouco o freio por reflexo. Se as luzes não desaparecem em mais um quilômetro, eu vou dar a volta. Mas elas somem. A noite é escura, o meu carro está calmo e eu posso ouvir a voz dele dentro da minha cabeça. — Por que você não quer transar comigo? Oh, Deus. Eu aperto minhas coxas juntas, pensando no rosto dele entre elas, quando um carro amarelo passa por mim voando, indo em direção a Los Angeles. Ele se foi em um milissegundo, o que significa que está se movendo rápido - tipo, muito rápido. Por alguma razão, carros amarelos sempre me lembram de traficantes de drogas, por conta da minha amiga do Ensino Fundamental, Gabby, ter um irmão mais velho que negociava drogas e dirigia um Mustang amarelo. Por alguma razão, pensar no irmão de Gabby que vendia crack me deixa nervosa. Eu estou totalmente sozinha aqui. Provavelmente nem mesmo tenho sinal no celular. Por que esse carro está indo tão rápido? Provavelmente ele só está correndo por diversão, mas eu sou tomada por um nervosismo primal. Como se o carro amarelo estivesse fugindo de algo. Estou indo em direção a seja lá o que for. Indo em direção às luzes azuis.
Eu penso em deitar na minha cama, alcançar debaixo das cobertas, imaginando que minhas mãos são as dele, e me decido. Dou a volta um segundo depois, e aumento só um pouco a minha velocidade. Estou olhando a linha do horizonte, mal visível no brilho distante das luzes de Los Angeles. Estou pensando em minha mãe e Bobby, se eles estarão acordados. Se eles acreditariam em mim se eu dissesse que beijei o maldito Cal Hammond hoje à noite. Estou profundamente perdida na terra dos sonhos e possibilidades intangíveis quando vejo uma centelha de luz logo à frente. Começa pequena, mas em milissegundos ela explode em uma bola de fogo laranja. Medo corre por mim, e no tempo de uma respiração, estou inconsciente de mim mesma - meus braços, minhas pernas. Durante esse tempo... eu não sei. Eu acho que perco o controle do volante. No próximo segundo, estou rodando como jeans dentro de uma secadora de roupas. Abro meus olhos a tempo de ver a estrada de cabeça para baixo. E do lado certo. E de cabeça para baixo de novo. Eu escuto o rangido de algo quebrando quando o lado do passageiro se choca em algo, e minha cabeça bate na janela do lado do motorista quando o carro balança e então para na posição correta. Fumaça sai das aberturas. Espessa e negra - e está me sufocando. Eu não consigo me mexer. Não consigo respirar. Meu cérebro gira, tentando e falhando em compreender como eu fui de estar dirigindo em uma rodovia do deserto a destruir meu carro novo. Olho para baixo, para minhas mãos. Não consigo vê-las. Isso porque o airbag saiu. Minha adrenalina começa a baixar, e eu me preocupo que vou passar mal. Eu tateio pelo cinto de segurança e começo a chorar porque há fumaça em todos os lugares, e meu estofamento é de tecido. Está arruinado agora. Baby Blue está arruinada.
O carro amarelo! Por alguma razão, meu cérebro escolhe esse momento para sintetizar: o carro amarelo deve ter sofrido um acidente que causou a bola de fogo. Oh, Deus. Eu não sei como consigo abrir minha porta, mas eu faço. Abro a porta do lado do motorista e meio que caio para fora. Quando consigo por meus pés no chão inclinado, percebo que a umidade na minha testa é sangue. Olho para a estrada reta e plana e todo o ar deixa meus pulmões. O carro amarelo está de cabeça para baixo, não mais um carro em si, mas apenas uma carcaça em chamas. Um monte de coisas bagunça a estrada ao redor dele. Oh meu Deus, essas coisas são PESSOAS. Pessoas e pedaços do carro. Como se o som tivesse acabado de ser ligado, eu de repente ouço gemidos. Gritos. Eu olho ao redor, esperando por... o quê? Ajuda? É apenas eu e a noite, então começo a correr. Como em um pesadelo, não consigo me mover rápido o bastante. Minhas pernas não estão funcionando direito. Eu alcanço o primeiro corpo, e eu não posso dizer se é uma mulher ou um homem. Há sangue por todo o rosto, e a cabeça... Cabelo longo. Mulher. Eu me ajoelho. Minhas mãos alcançam as dela, porque eu não tenho certeza do que fazer. Ela está fazendo um horrível som borbulhante. Oh Deus. Merda. Porra. Eu devo pegá-la e tentar ajudá-la? Preciso ligar para a emergência! Corro de volta para o carro e é difícil me mexer porque estou tão, tão fria. O céu é tão grande ao meu redor, tão escuro. Está frio. Estou tremendo. Eu procuro entre os estilhaços, no chão, pelo meu telefone e ligo para o 911, ainda que não tenha certeza se isso funciona em celulares. Alguém atende!
— Oh meu Deus, houve um acidente realmente horrível na Rodovia 60 a oeste - quero dizer, a leste - de Moreno Valley! Envie alguém agora! Está realmente ruim! — Tente se acalmar. Você está ferida? — Eu estou bem! São as pessoas do outro carro! — Você estava envolvida no acidente? Fique na linha comigo. — Nós estamos na Rodovia 60. Precisamos de um helicóptero! Agora! Minha voz ecoa em minha cabeça quando largo o telefone e corro de volta para a garota. Posso dizer antes de chegar perto dela que isso não está bem. Ela está completamente silenciosa. Não posso ver o peito dela subindo e descendo, então movo minhas pernas dormentes até o próximo corpo na estrada. Ele é comprido e está esparramado com a cara para baixo. Seu rosto está pálido, mas isso é tudo que eu posso dizer, porque ele tem um péssimo sangramento na cabeça. — Você pode me ouvir? — me ajoelho no chão e alcanço seu braço, mas depois de um segundo ali eu posso dizer com certeza: seu peito não está se movendo. Nem um pouquinho. — Oh, não! Oh, Deus! Oh, Deus! Corro pela estrada, passo pelo carro e seus fragmentos e a alguns metros à frente, deitado sobre as rochas, encontro outro grande corpo masculino. Cabelo claro, peito ensanguentado e pernas. Este está tremendo violentamente, então ainda está vivo. Ajoelho-me ao lado dele. Meus braços se estendem para tocá-lo, mas não tenho certeza do que machucaria e do que ajudaria. — A ajuda está a caminho. — eu digo gritando. — Está tudo bem, eles estarão logo aqui! Ele encara o céu, seus olhos nunca deslizando para mim. Eu olho ao redor freneticamente. Esses são todos? Quantas pessoas poderiam caber em um carro daqueles?
Toco seu braço. — Você não está sozinho. Eu estou aqui. — ainda assim, ele não olha para mim. Eu acho que ele não pode. Algo sobre isso me assusta quase mais do que os corpos dos seus amigos. Eu deveria verificar o carro? Eu deveria verificar. Levanto-me e corro para a pilha retorcida de vidro e metal que é o carro agora. Olho ao redor, minhas sandálias esmagando o vidro. Quase todas as janelas estão quebradas. Há uma porta faltando. Espio ali dentro, e quando eu faço, ouço um gemido. — Oh, meu Deus! — isso está vindo do carro! Corro até o outro lado do carro, e é quando eu percebo: o outro lado praticamente se foi. A pessoa gemendo está meio que presa pelo seu cinto de segurança. Metade do seu assento está queimado. Ele está curvado sobre si mesmo, o queixo no peito, ombros para baixo, então eu não posso dizer nada além de que ele tem cabelo escuro e está usando calças escuras. Seus braços estão caídos moles dos seus lados. Seu rosto está muito, muito pálido. Gelo se infiltra no meu corpo. — Não esteja morto! Por favor, não esteja morto! Eu me ajoelho sobre a sujeira e ele levanta seu queixo uma fração de centímetro. Seus lábios se movem por poucos segundos antes que eu ouça um som rouco. Ele faz o som novamente e levanta a cabeça mais um pouco. Seus cílios longos vibram. — Maria. — ele diz asperamente. Esse é o nome da babá de Cal Hammond quando ele era criança. Que estúpido pensamento para se ter agora.
Ele se contorce, seus ombros levantando, sua cabeça se move um pouco. — Maria. — ele geme. Seu rosto tem tanto sangue, eu não consigo ver muito dele. Eu não consigo dizer de onde o sangue está vindo. Ele escorre pelo seu pescoço e peito, revestindo sua cintura e suas calças jeans. Estou com medo de tocá-lo, mas minha mão não parece se ajudar. Toco seu joelho direito, muito levemente. — Ei, você pode me ouvir? — Maria... por favor, me ajude! — suas mãos se levantam de repente, agarrando meu braço. Seu aperto é fraco, seus dedos pegajosos com o sangue. Seus olhos, nos meus, são selvagens e... Não. Não, não. Porra, não. Eu fico paralisada por dentro. Minha voz se quebra. — Cal? Seu olhar segura o meu, e meu coração para. É ele. Definitivamente é ele. Cal Hammond. — Oh, meu Deus. Oh, porra. Oh, merda. Cal. — não pode ser ele. Isso não faz sentido. Mas cada linha do seu rosto, cada curva de músculo volumoso me diz que faz. Ele está usando jeans preto e uma camisa rosa, assim como Cal estava na festa. Dobro-me em meus joelhos e toco seu cabelo, somente um tremor da minha palma sobre a sua cabeça quente e úmida. Ele não está focado o bastante para me reconhecer. Estou envergonhada por ter percebido isso. O peito dele sobe e desce, como se fosse uma luta apenas respirar. — Meu... ombro. — ele geme.
Olho para seus dois ombros, mas ele está tão mole que eu não posso dizer qual dos dois dói. — O que eu faço? Ele solta sua respiração. — O... esquerdo. Empurre... empurre... para cima. Eu noto tardiamente que seu braço esquerdo está dobrado, e o direito está embalando o esquerdo. — Não posso fazer isso! Eu não sei como! Ele balança um pouco a cabeça, estremecendo. — Só... empurre! Quando meus dedos seguram seu ombro, calor se espalha por mim. Estou hesitante no inicio, mas ele rosna. — Agora. — eu empurro duro. Ele arqueja. O arquejo é seguido por uma respiração ofegante. Seguida por uma espiada dos seus olhos escuros. — Porra, anjo. Você é má. Aperto meus dentes. — Desculpe! — minha voz treme. Acho que estou chorando. Eu toco suas costas. Seus olhos se apertam fechados. Sua respiração é sibilante. Eu juro pela Virgem Maria que posso sentir a dor nele nos meus próprios ossos. Ele começa a tremer tão abruptamente, que primeiro eu acho que estou imaginando isso, mas não. Os tremores o rasgam, e um segundo depois ele começa a arquejar. Eu chego até a sua frente. Ajoelhada, olhos para os seus olhos. — Você está bem? — Segure-me. Eu hesito. — Segure-me. — sua cabeça estala. — Uma... mão. Só... segure! Eu não posso me mover. — ele olha freneticamente da esquerda para direita, como se
tivesse acabado de perceber que sofreu um acidente e está preso no assento do motorista carbonizado. — Por favor... ajude-me a me mover! — Estou com medo de te machucar! — Puxe... o meu ombro. Ele se curva um pouco, deixando sair esse horrível meio grunhido, meio gemido, e eu enrolo minha mão ao redor do bíceps do seu braço que eu acabei de pôr no lugar. — Mais forte. — ele arfa. — Faça... doer. Horrorizada, eu o aperto com mais força. — Use suas unhas. Eu as enterro no braço dele. — Mais forte... ou... eu vou desmaiar. — sua voz soa ilegível, como se ele estivesse bêbado. Parece que isso seria algo ruim, então eu o aperto ainda mais forte, odiando que estou machucando-o. — Onde está... Guy? — seus olhos encontram os meus. — Onde está... — Ele está aqui. — eu interrompo. — Seus amigos estão aqui. Ele deve ter acabado de se lembrar deles. Eu vasculho ao redor, encontrando o pedaço da estrada onde eles estão deitados. Qual deles é Guy? Guy Jacobsen. Loiro. — Ele ainda está vivo! — da última vez que eu conferi, ele ainda estava vivo. Eu cubro meu rosto e começo a chorar. — Venha... segure minhas costas. Eu me apresso até ele, sentindo culpa pelo meu choro; sentindo-me frenética pela ambulância. Onde ela está? Cal ainda está afivelado e estou com muito medo de soltá-lo, então eu coloco minha mão entre o assento esfarrapado e as suas costas.
— Para cima. — ele murmura. — Não quero ir para cima. Me empurre para baixo. Por favor. — a última palavra mal é falada. — Qual o problema? — essa é uma pergunta estúpida. Eu sou tão estúpida. Eu estou tão assustada. Ele continua tremendo - incapaz, na sua dor, de responder. Sua camisa está rasgada, então posso sentir sua pele debaixo da minha palma. Está fria e pegajosa. Molhada em alguns lugares. — Mais forte. — ele range. — Unhas. — Eu não quero te machucar. — eu soluço. — Mais forte. — ele levanta a cabeça um pouco mais. Posso sentir seus olhos passando sobre mim. Sua boca afrouxa e seus dentes começam a bater. — V-você é um anjo? Lágrimas enchem meus olhos, borrando a imagem do rosto dele. Balanço minha cabeça e elas começam a rolar pelas minhas bochechas. — Eu vi o seu carro. Chamei ajuda. — com uma mão ainda em suas costas, eu me movo, ajoelhada, ao redor da sua frente. Eu quero tanto, tanto abraçá-lo, mas estou muito assustada. Seus olhos estão mais focados agora, ardendo no meu rosto. — Você... tem... certeza... que não é um anjo? Eu aceno com a cabeça. Ele joga a cabeça para trás, sua boca se movendo como se ele quisesse dizer mais, mas não consegue. Ele agarra com as duas mãos o assento no qual ainda está preso e faz um som baixo e dolorido. E pela primeira vez eu noto que sangue está gotejando do assento de couro arruinado. — Oh, merda, eu acho que você deveria ficar parado. Ele balança a cabeça. — Cinto.
Quando eu não me movo, ele me agarra. Ele me puxa um pouco, e estou tão perto do seu lado direito que meu corpo está tocando sua perna. — Meu cinto. — ele chia. Ele enrola suas mãos ao redor da sua coxa, que brilha a luz do luar. Ele deve ter se cortado feio ali, direto através da sua calça jeans. — Dezoito... por favor! O cinto... ao redor... minha perna. Minhas mãos se agitam sobre ele, insegura por onde começar, aterrorizada de machucá-lo. — Por favor. Eu odeio o cheiro de sangue. — Tudo bem, baby. Está tudo bem. Aguente um minuto. Eu me inclino para baixo e solto seu cinto de couro preto, então o deslizo para fora. Ele leva seu braço bom até o rosto e dá um gemido horrível, meio soluçado. — Desculpe! Eu sinto muito! Coloco o cinto ao redor da sua coxa, logo acima do joelho, e o deslizo até o nível da virilha. Então eu puxo apertado. Suas mãos agarram meu ombro, seus dedos apertando enquanto eu aperto o cinto ao redor da coxa dele. — Ah. — ele arqueja. — Desculpe! Eu aperto bem e pego a sua mão. Posso sentir seu corpo lutando. Posso senti-lo tremer. Seus olhos estão fechados. Olho para ele.
Ele não parece estar sangrando em nenhum lugar além do nariz e da boca. Seu rosto está começando a inchar, no entanto. Quando ele murmura “porra”, seu rosto parece tenso e a palavra soa com se estivesse sendo dita ao redor de um retentor. Dentro da minha mente, estou gritando, soluçando. Dizendo-lhe que ele está fazendo bem, pedindo a ele que aguente só mais um pouco. Mas estou sob uma nuvem de terror. Não posso me mexer. Não posso falar dos meus sentimentos mais selvagens. Eu mal consigo segurar a sua mão. — Você pode ficar sozinho só por um segundo? Preciso ir verificar seus amigos. — Guy. — ele sibila. — Sim. Só aguente aí, Ricardo. Aguente - eu vou voltar para você. Corro de volta para onde estão os outros corpos, alcançando primeiro aquele que agora eu posso dizer que é Brody Royce. Ele está morto. Ele está morto. O ângulo da sua cabeça... eu cubro minha boca. Começo a chorar de novo, mas não posso deixar que isso me atrase. Corro até a garota. Uma. A amiga de Cal, Uma Thornton. Ela está tão imóvel, tão quieta, tão delicada. Não há respirações. Minhas pernas se apressam. Eu tropeço até o terceiro. Loiro. Guy. Ele está deitado de costas, suas pernas espalhadas, seus braços descansando flácidos sobre a estrada, como se ele só tivesse decidido deitar ali. Seu rosto está maleável, seus olhos bem abertos ainda olhando para o céu negro. Ainda respirando. — Tudo bem. — eu digo a ele. — A ajuda já vai chegar! Olho para as estrelas, como se elas pudessem me ajudar, e então ouço um barulho na direção de Cal e corro até ele.
O encontro desafivelado do seu cinto de segurança e sobre o chão rochoso logo abaixo do carro, que eu percebo que ainda está queimando levemente na parte de trás. Ele está deitado de lado, empurrado em cima de um braço. Seus olhos estão arregalados. Sem foco. Exceto quando eles param sobre o meu rosto. — Anjo. — ele sussurra. Ele deita o torso sobre o chão. Sua garganta trabalha e, por um segundo, nós apenas ficamos ali olhando um nos olhos do outro. Palavras saem tremidas da sua boca, como se ele as estivesse forçando. — De-zoito. Você pode... me segurar? Eu estou... flutuando. Eu sento ao seu lado, e então me estico atrás dele. Suas costas parecem bem, então eu enrolo meus braços ao seu redor gentilmente. — Mais apertado. Eu aperto. — Não me deixe ir. — Eu não vou. Eu juro. Uma brisa fria sopra sobre a terra plana ao nosso redor. Eu estou tremendo agora... ou é ele? Ele bate os dentes. Empurro meu rosto em suas costas. — Você... acredita em destino? — a respiração dele é rápida. Estou com medo. Mas tento mantê-lo fora da minha voz. Manter meus braços ao redor dele aconchegantes e gentis. — Não tenho certeza. E você? Ele não responde. Minutos depois, muito depois de eu temer que ele estivesse desmaiado ou morto, ele murmura. — Eu... acredito em... punição. E... em você.
Demora muito tempo antes que eu aprenda a previsĂŁo das suas Ăşltimas palavras coerentes.
e você não se
sentar agora e parar de tocar na TV, eu vou tirar a Dora, Adrian. — Mas Anna... — Sente-se. Estendo minha mão em frente a pequena TV / DVD player na cômoda do pequeno quarto de Adrian: uma ameaça silenciosa. Ela afunda no pufe gigante e sopra a franja do rosto. Eu endireito a minha saia e pego seus grandes olhos castanhos me observando. — Quando você volta, Anna?
Eu expiro lentamente e tento me libertar das agarras afiadas da minha ansiedade. — Eu não sei ainda, Ad. Mas não devo demorar mais do que quatro ou cinco horas. Ela aponta para seu pequenino relógio digital, parado ao lado de um abajur da Bela e a Fera na cômoda. — Você vai estar de volta às cinco? — Sim. — eu puxo minha saia. — Por aí. Você gostaria de pizza hoje à noite? Ela acena. — Claro! Eu nem tento esconder o meu sorriso com o seu entusiasmo. Desde a manhã de agosto em que minha mãe deu à luz a Adrian, quatro anos atrás, eu estive completamente apaixonada. Desde que mamãe ficou doente há um ano e meio, Adrian tem sido minha. Ela é tudo que eu tenho. É tudo que eu quero. Me transferi do campus principal da UCLA para uma filial para terminar o doutorado em psicologia, e quando ficou claro que o câncer no cérebro da nossa mãe não iria ser curado, mudei para o programa de mestrado para poder encontrar um trabalho e cuidar delas. Infelizmente, essa parte do meu plano não tem ido tão bem. Essa é a razão da minha incumbência. — Que tipo de pizza você gostaria hoje? — eu pergunto enquanto caminho através do pequeno corredor até o meu quarto para pegar uma blusa. Volto para o paraíso de princesa de Adrian. — Pepperoni, presunto e abacaxi...? Ela pula do pufe. — Eu quero a supreme! — Você tem certeza? — Sim. Eu gosto de cebola! Eu rio. — Você gosta de respirar em mim com bafo de cebola. Puxo a blusa sobre a minha cabeça e de dentro do macio tecido vermelho, ouço sua voz suave dizer. — Mamãe tem bafo?
Empurro minha cabeça pela gola e tento adivinhar o que ela está perguntando, mesmo que meu interior tenha ficado um pouco frio. — Mamãe está no quarto dela com a enfermeira Casey. Lembra? Ela balança a cabeça. — Ela tem bafo? É uma batalha manter meu rosto neutro e meu tom agradável. — Você quer dizer, tipo, bafo de cebola? Ela acena rapidamente, como se estivesse pensando sobre isso e estivesse incomodada. — Não, querida. Mamãe não tem bafo de cebola. Ela não gosta de cebolas. — Como você sabe? — Adrian suspira. — Porque ela me disse. — Quando? — ela coça o pescoço. — Quando você era um bebezinho. — isso não é exatamente verdade, claro, mas eu quero que ela saiba que em algum momento quando ela estava viva nossa mãe não era como ela está agora. Eu vou até ela, a pego e sento na beira da cama para mimá-la no meu colo. — Às vezes é triste quando mamãe está dormindo muito, não é? Ela acena com a cabeça e enterra o rosto no meu pescoço. Eu acaricio seu cabelo. — Sinto muito, querida. Mamãe ama tanto você, e eu também. Esfrego suas costas por alguns minutos, odiando que isso é tudo que posso fazer. Tudo o que posso dizer. Eu sou muito mais velha do que Adrian sou sua dublê de mãe - e ainda assim, eu não tenho respostas. Enquanto eu a abraço, ela começa a soluçar e de alguma forma nós começamos a cantar “The
Ants Go Marching22” para nos livrarmos deles. Estamos no onze quando Holly chega. Holly vive no complexo do condomínio ao lado. Ela tem apenas dezessete anos, mas é ótima com Adrian e, além disso, as duas nunca estão sozinhas. Mamãe e uma das enfermeiras estão sempre aqui. Quando Adrian e Holly estão acomodadas, brincando com bonecas, eu escorrego para o meu quarto e fico na frente do espelho de corpo inteiro para poder me avaliar. Cabelo na altura dos ombros, cacheados, como sempre. Olhos castanhos. Nariz pequeno. Lábios carnudos, com batom vermelho. Eu tenho um metro e setenta e me sinto bem na minha saia preta e blusa vermelha. Estou usando saltos pretos bonitos que comprei algumas semanas atrás. Eu pareço bem, eu acho. Não que isso importe. Isso realmente não importa, Annabelle. Vou falar com a Casey, a enfermeira, que está lendo um livro enquanto minha mãe cochila na cama. — Volto por volta das cinco. — eu digo. — Vejo você em breve, mãe. Ela não levanta a cabeça, e tem sido assim por muito tempo agora, então eu não estou surpresa. Eu não sinto nada sobre o estado de saúde da minha mãe. Nada além da sensação de uma cobra de medo enrolada no meu intestino. Meus saltos tilintam na passagem de tijolos enquanto eu ando até as escadas e depois desço até meu Honda Accord vermelho. Como a maioria das coisas na minha vida, incluindo o dinheiro para babás, creche e enfermeiros, o Accord foi um presente do meu pai. Eu afundo lentamente no banco do motorista e tomo meu tempo saindo do estacionamento, porque a verdade é que eu não quero fazer o que estou
22
É uma canção americana para crianças do estilo de “um elefante incomoda muita gente”, onde vai se
recontando a mesma música um número após o outro.
prestes a fazer. Só que não tenho escolha. Estive procurando trabalho por quatro meses, e não encontrei nada a uma distância que dê para dirigir da casa da minha mãe que pagará mais do que o custo da creche de Adrian. Meu pai foi mais do que generoso. Ele não se importa que Adrian não seja sua mais do que ele se importa que eu não seja sua filha biológica. Ele se preocupa com Adrian porque eu me preocupo, e ele deve estar fazendo uma boa poupança como diretor do presídio, porque a fonte parece nunca secar. O que torna estranho que eu não tenha sido capaz de entrar em contato com ele recentemente. Sempre nos falamos por telefone, e a última vez que lhe mandei uma mensagem sobre um trabalho de aconselhamento em La Rosa, ele nem sequer me respondeu de volta. Isso foi há quase duas semanas. Enquanto eu dirijo, me preocupo se ele sequer estará lá. E se ele foi demitido? Não, certamente, não. Ele trabalha naquela prisão desde que me lembro. Eu não vou lá com muita frequência, mas ele fala tanto de mim que quando eu vou todos os funcionários sabem o meu nome. A viagem de carro da nossa casa em La Placita leva pouco mais de uma hora se você dirige como eu: rápido. E no caminho, eu passo pelo local. Aquele local. Não é a primeira vez. Nem é a segunda, terceira, ou quarta, ou quinta. Mas todas as vezes, é como se eu tivesse uma faca cravada no esterno. Eu sei exatamente onde o acidente aconteceu, porque parte da terapia que eu solicitei na faculdade envolveu a colocação de uma placa “In Memorian” na beira da estrada. Três vidas foram perdidas naquela noite. Quatro, se contarmos Ricardo. E eu conto. Eu definitivamente conto. Pela última metade da viagem, eu estou consumida com lembranças daquela noite. Pelos anos que eu vi Miranda, minha terapeuta no centro de saúde mental da UCLA, nós falamos sobre probabilidades. As probabilidades que eu teria um plano de perder minha virgindade com Cal Hammond - um plano
maluco de qualquer modo que você o veja. As probabilidades que eu teria de realmente encontrá-lo na festa. As probabilidades de que as coisas aconteceriam do jeito que aconteceram. E então, das probabilidades que levaria meu carro até lá, onde ele e seus amigos estavam levando Uma Thornton para casa. O que isso significava, eu costumava perguntar. Por que essas coisas acontecem? O universo conspira... e por quê? Eu não vejo nenhum propósito maior em nossa estranha noite do que meu próprio resultado: eu decidi fazer psicologia por causa das sessões de TEPT23 que tive com Miranda. Então o quê? Eu vou ajudar pessoas? Vou? Talvez com um PhD, mas eu não tenho isso, tenho? Como na maioria da minha vida até agora, estou à deriva. Estou me perguntando qual o meu propósito, outro além de amar Adrian. Coloco um pouco de hidratante sobre meus lábios e depois reaplico o batom. Passo por uma placa que me informa que há um presídio logo à frente e que eu não deveria dar caronas. Eu odeio vir aqui. Não por causa dos prisioneiros. Por causa dele. Ricardo. Cal. Eu fui com ele até o hospital naquela noite, usando minha identidade para passar por sua prima, e estava lá quando a polícia chegou. Ouvi de um banco no corredor seus sussurros sobre exames toxicológicos e homicídio culposo. Eu evitei ter que testemunhar no tribunal com a ajuda de Miranda, mas escrevi uma declaração que foi lida perante o juiz. Como Ricardo estava 23
Transtorno de Estresse Pós-Traumático: transtorno psicológico que ocorre em resposta a uma
situação ou evento estressante (de curta ou longa duração), de natureza excepcionalmente ameaçadora ou catastrófica. Caso persista por mais de 2 anos, passa a ser considerada uma modificação duradoura da personalidade
preocupado com seus amigos. Como tudo tinha sido claramente apenas um acidente. Ele percebeu no helicóptero que somente Guy estava sendo transportado, e Guy estava D.O.A24. Eu me inclinei impotente contra a grade da sua cama quando ele colocou o braço sobre o rosto e chorou. Não tenho certeza o que foi mais difícil no meu coração: deixá-lo ali no hospital aquela noite, sabendo que ele iria para cirurgia e eu provavelmente nunca mais o veria de novo, ou testemunhar a morte dos seus amigos. Miranda acha que eu deixá-lo aquela noite foi o mais difícil para mim. Eu era obcecada. Apaixonada e obcecada e chocada e magoada. Eu fui acordada naquela noite. Em todos os sentidos. Miranda costumava dizer que uma discussão sobre as probabilidades era irrelevante. — O que aconteceu, aconteceu, e você nunca saberá por quê. Mas as coisas não são tão curtas e grossas, para mim. Através dos anos, cada vez que eu visitei La Rosa, meu peito apertava. Meu couro cabeludo formigava. Se o universo nos colocou junto uma vez antes, qual seria a próxima?
*
24
Dead on Arrival: literalmente, “morto à chegada”, termo que indica que um paciente já estava apto a
ser declarado clinicamente morto quando a ajuda chegou para atendê-lo.
— Por que você fez isso? Eu ando um círculo em torno da cadeira do escritório de Holt, onde ele se senta para trás, suas pernas agachadas espalhadas ao redor da cadeira de rodinhas, a barriga gorda pressionando o estofamento do encosto. Seus braços curtos estão algemados atrás dele. Nunca, nos sete anos em que estive fazendo negócios aqui, eu tive problemas com o diretor. Nos primeiros anos, eu o paguei para olhar para o outro lado enquanto eu... reformulava o sistema. Depois que comecei a ter um lucro decente, o puxei para dentro, ensinei-o a como se mover discretamente através do mercado negro da internet, ensinei a ele a arte de investir, e até mesmo lhe permiti escolher a hora dos embarques nas cidades polo. Se eu sou o rei dessa operação, Holt é meu primeiro-ministro. Ele inclina seu rosto contra o áspero tecido azul da cadeira e fecha os olhos verde-claros. Quando os abre, eles estão vermelhos e molhados. Ele solta um grande suspiro e lágrimas começam a rolar pelo seu rosto. — Diga-me por que, Holt. — eu arrasto as palavras, como se estivesse falando com um imbecil. É tudo parte do show. Para o desfecho. Eu já sei que não importa o que ele disser. Meus tenentes sabem da sua traição. Toda gente sabe. Meu curso de ação já está marcado em pedra. Ainda assim, eu fico na frente dele e ouço enquanto ele explica sobre sua família. Como sua ex-esposa tem câncer no cérebro e sua filha tem apenas quatro anos de idade. Permito-me sentir simpatia quando ele diz como a menina está sob os cuidados de sua irmã mais velha, uma jovem mulher maravilhosa com mestrado - mas que não consegue encontrar um bom emprego perto da clínica do câncer de sua mãe.
— Isso foi estúpido. Tão estúpido. Eu precisava de dinheiro. — ele engasga. — Mais dinheiro. — eu corrijo. Nos últimos anos, durante o tempo que ele realmente esteve envolvido, fiz de Holt um homem rico. Ele olha para o chão de cimento. Eu me aproximo um pouco mais e pego o seu olhar. Meus olhos perfuraram os seus. Intimidando-o. Não é porque não há qualquer razão, mas porque depois de oito anos aqui, esse é o papel que eu interpreto. — Você precisava de dinheiro, então você roubou de mim. — Eu não quis dizer isso. — ele luta contra as algemas, travando seu maxilar e empurrando o queixo para cima. — Eu ia devolver! Eu me agacho, por isso estou ao nível dos seus olhos. — Quando? — Quando Annabelle encontrasse um bom trabalho. — diz ele com a voz áspera. — Quanto tempo você acha que levaria para Annabelle fazer oitocentos mil dólares? Ele balança a cabeça. — Eu sou um maldito idiota! Sinto muito, Ric! Eu me levanto. — Não me chame assim. Você não é meu amigo. Você não é nem sequer meu sócio. Você sabe o que você é, Holt? Sua boca treme. — Você é um homem morto. Ele luta contra as algemas, seu torso bate contra o encosto da cadeira, seu rosto uma máscara de indignação, seguida instantaneamente pelo medo. — Não! Perdoe-me, por favor! Todos esses anos, eu nunca te trai! Nenhuma vez...
— Até que você traiu. — eu olho para seus pequenos olhos verdes. — Você poderia ter me pedido um empréstimo. Poderia ter confiado em mim para cuidar de você. Mas não. Você decidiu que seria melhor tomar o que é meu. Sua voz falha. — Eu vou melhorar as coisas para você! Posso ter sua sentença reduzida! Posso te trazer mulheres! Posso conseguir... — Coisas que eu já consigo por mim mesmo? — eu balanço minha cabeça. — Eu não preciso de nada de você. Não preciso nem mesmo matá-lo. Se fosse do meu jeito, eu te colocaria para fora e te faria vender aquela grande casa que você construiu. Mas não é minha decisão. Há um sistema aqui, e você não me deixou escolha. — Não, Ricardo. Por favor. — sua voz falha na última palavra e eu escuto enquanto sua voz se desvanece até cair em silêncio. Então o silêncio é quebrado por um rugido. Viro-me lentamente, minhas mãos já levantadas - uma posição de combate de artes marciais que aprendi aqui. Eu ando até a porta do escritório do diretor, perguntando qual dos meus soldados falhou. Tenho homens em toda esta prisão, e cada um deles sabe o que estou fazendo neste escritório no momento. Eu olho para Holt e em seguida entro no corredor estreito com piso azul desbotado. Ao longo de toda parede, as mãos dos homens se projetam através das grades. O barulho é o som de dezenas de homens gritando “PEGUE!”. Eu fico cego na luz do sol entrando pelas portas de acrílico no final do corredor. Uma figura sombreada, alta e magra, anda suavemente sobre o azulejo azul poeirento. Dois passos, para; três passos, vira. Ela traz as mãos até seu rosto, e o coro fica mais alto. — JULIO! JULIO! Então ela é latino-americana.
O que Juarez faria se pusesse as mãos em nela... a gangue mexicana em La Rosa é especialmente brutal. Olho para as câmeras e Nose, um dos meus tenentes na sala de vídeo, fala pelo Bluetooth no meu ouvido. — Verifiquei com Lisa – a mulher na portaria — E ela é a filha de Holt. Annabelle Mitchell. Por um longo momento, meus músculos apertam. Annabelle Mitchell. Um nome comum, eu tenho certeza. Eu inalo profundamente. Expiro. Eu vejo quando os homens esticam as mãos sujas em direção a ela. Ela se encolhe no meio do corredor, parecendo um anjo em um banho de luz. Observo mais um momento, inflamado pela sua silhueta - pernas longas e busto generoso - antes de colocar dois dedos na boca e assoviar. Silêncio varre o corredor. Caminho lentamente, meu olhar sobre ela. Eu não perco minha energia verificando se todos os pares de olhos permanecem voltados para baixo. Eu tenho homens para isso. Soldados no chão. Eles me dizem quando eu sou desrespeitado; eles cuidam disso. Aproximo-me da mulher com calma, sabendo que, apesar do meu macacão preto com cheiro bom - uma cor que ninguém aqui além de mim usa eu provavelmente vou assustá-la. Graças ao meu regime diário na academia, eu sou ainda maior do que era lá fora, e oito anos aqui dentro me deixaram mais assustador e calejado. Eu sei disso, embora eu praticamente não sinta. Ela está usando uma saia preta e uma blusa vermelha. A pele das suas mãos e garganta é de um tom adorável de cappuccino. Seu cabelo é castanho e bem cacheado. Estou faminto pelo seu rosto, mas ela está virada de lado, me dando uma visão da maior parte do cabelo.
Seu cabelo... Ela está olhando para a cela de David Baynes, e eu sei o que o doente fodido está fazendo antes que eu me aproxime o bastante para ver. Ele está balançando seu pau para ela. Eu vejo os olhos dela aumentarem antes que ela levante a mão até o rosto e se vire em direção a mim. O ar deixa meus pulmões. Posso sentir o momento em que reconhecimento se torna mútuo. Seus ombros apertam. A mão sobre sua testa desliza para baixo até sua boca, e aquele perfeito pescoço de cisne se estica quando ela levanta a cabeça. Sua mão escorrega ainda mais da sua boca e baixa pelo seu corpo. Ela passa contra a saia apertada e os homens ao nosso redor mudam seu peso. Eles não ousam falar. Seu rosto está totalmente aberto, tão inocente que eu quero rir ou chorar. Seu rosto é impecável, da mais fina porcelana. Seu rosto é falso. Pelo menos eu acho que é falso. Estou imaginando coisas. Estou perdendo a cabeça. Exceto que seus lábios tremem e puxam para baixo. Seus olhos, eles me consomem. E eu não vejo nada além daquela noite. É ela. Meu anjo. Meu coração acelera, como se a presença dela provocasse uma interrupção nos impulsos elétricos. Minha garganta fica seca, porque eu sei que ela está aqui para mim. Eu posso sentir. A cicatriz grossa na minha coxa queima. Meu pau endurece.
Eu diminuo a distância entre nós com um passo e prendo minha mão ao redor do braço dela. Mergulho minha cabeça para baixo, próximo à dela, e murmuro. — Quieta e tranquila. Olho de um lado a outro cada uma das fileiras de barras de aço - para os latinos, os vagabundos, os bárbaros, os viciados. Arrasto meu olhar morto por sobre todos eles, deixando-os ver profundamente dentro de mim, onde eu guardo as sombras dos meus pecados. E em uma voz profunda e retumbante, eu digo. — Ela é minha. Isso ecoa pelas paredes e eu posso sentir os homens congelando quando as palavras afundam. Agora que eu a marquei, eles não irão tocá-la. Eu a salvei de assassinos, estupradores e serial killers com três palavras. Eu tenho que falar com ela. Preciso tocá-la. Pressiono a ponta dos meus dedos contra a parte baixa das suas costas e tento manter minha expressão uma tela em branco quando seu cotovelo roça no meu abdômen. O corredor está em silêncio sepulcral, interrompido apenas pelo salto agulha dos sapatos do meu anjo. Tudo no que eu consigo pensar é em chegar no meu bangalô de cimento. Puxar sua blusa sobre a cabeça. Arrancar fora o seu sutiã. Essa mulher é ela. Annabelle Mitchell. E eu cresci acostumado a pegar o que eu quero. Estamos passando pelo escritório do diretor, nossas longas pernas em perfeita sincronia, quando eu ouço um gemido. Holt. Porra! Se eu deixá-lo algemado aqui, não há rosto para servir como recepcionista se alguém do estado parar. Se eu o deixo algemado lá, Annabelle vai saber. Ela está prestes a descobrir. O que me importa? Eu posso fazê-la ver o meu lado.
Isso é ridículo! Eu a guio para o escritório, sentindo uma surpreendente onda de alívio quando ela passa pela porta. Eu possuo esse lugar, mas pela primeira vez em anos estou sendo relembrando de quão tênue o meu aperto é. Estarei fora daqui no próximo ano, se o conselho de liberdade condicional for simpático, e há aqueles pró-prisão perpétua que já estão afiando suas garras. Eu estico minha mão contra as costas dela, esperando nada mais do que tê-la atrás dessa porta e trancá-la. Como se em desacordo, Holt grita. A mulher à minha frente corre para ele e chora. — Papai? — Annabelle! — ele conseguiu sair da cadeira e está deitado no chão, seus braços esticados acima da cabeça, sua camisa de colarinho marrom empurrada para cima, revelando sua barriga gorda e pálida. — Annabelle! — seu rosto se torce quando ele olha para ela. — O que você está fazendo aqui? Eu paro entre os dois, olhando primeiro para Holt e depois para ela. Ela é deslumbrante - exatamente como eu me lembro dela. Por um momento minhas palavras ficam presas na garganta, mas então eu olho para Holt e meus sentimentos ficam mais sombrios. — Essa é a sua enteada? Holt estica o pescoço para cima, seu rosto suado parecendo mais pálido e velho do que eu já vi alguma vez. — Annabelle, o que você está fazendo aqui? — há um frenesi na sua voz. É claro que há. — Pai? — sua voz é rouca, um véu de fumaça sobre a escuridão decadente. Ela olha de mim para Holt, para mim de novo, para Holt. Franzindo a testa, suas sobrancelhas escuras se unem. — Pai, o que está acontecendo? Olho para ela mais uma vez, dos saltos aos seios e, finalmente, depois de um momento de hesitação, me permito olhar para seu rosto de novo. Ela está olhando para mim também. Seus olhos brilham. Curiosidade ou algo mais? — Annabelle, você precisa ir embora. — Holt luta para ficar em uma posição de engatinhar, como se fosse capaz de levantar e ajudá-la. Ele parece
ridículo, um hipopótamo caído. Eu bufo, ele grita: — Por favor! Não a machuque! Ela é inocente! Desapontamento corre pelo rosto dela, seguido por ceticismo. Seus olhos são reprovadores. — O que diabos está acontecendo aqui? — Seu pai roubou dinheiro de mim. Quase um milhão de dólares. Ele diz que fez isso por você. Por você, sua mãe e sua irmã menor. Sua boca cai aberta. Holt está curvado em uma bola, seu rosto atrás do antebraço. — Pai, por quê? Nós estávamos indo bem! Ele olha para ela. Pressiona seus lábios juntos. Soluça. — Eu sinto muito. — Seu pai me deve, Annabelle. Ele tem um débito muito grande para pagar. Ele vai morrer por isso. Seu rosto lindo empalidece. Ela olha de mim para ele, e de volta para mim. Então se afasta de mim. — Pai, por favor, me diga que ele está brincando. — Não é uma brincadeira. Eu me dobro sobre Holt e solto suas mãos das algemas. Puxo-o para ficar de pé e o arrasto para o armário atrás da sua mesa, abro a porta e o inclino sobre as prateleiras. Com a porta meio fechada atrás de mim, solto meu punho na cara dele, mirando nos lugares vulneráveis que irão sangrar muito sem necessariamente causar um dano duradouro. Eu bato expulsando minha frustração, minha ansiedade, meu medo, até que Anjo está gritando. Holt está chorando como uma cadela, e finalmente, as mãos dela estão em mim. Me segurando. Deixando meu pau faminto. Quando Holt parece meio morto e sua camisa está banhada em sangue, eu o agarro pelos ombros, o arrasto pela sala e o empurro para fora da porta. — Considere sua dívida paga.
*
— Oh meu Deus! O que diabos há de errado com você? Você quase o matou! Ele fica lá, em toda sua altura, na frente da mesa do meu pai. Suas mãos fechadas em punho escorrem sangue. Meu estômago se agita. Ele anda ao redor da mesa até alguns armários de metal e pega uma garrafa de desinfetante para as mãos. Ele utiliza tecido e o gel à base de álcool para se limpar e eu só fico ali, observando. Meu coração bate tão forte que dói. Mesmo assim, ele é lindo. Um monstro bonito. O tempo foi bom para o rosto e pesado para sua alma. Eu posso sentir a diferença nele. Ele caminha até a porta, vira a tranca e volta-se para mim. Ele é grande. Meu Deus, ele está rasgado. Sua psique de assassino está envolta em preto camisa preta, calça preta - o que deixa seus olhos mais escuros. Seu cabelo também escuro está cortado curto de forma bruta. Seus lábios - belos e exuberantes e sempre comentados pela imprensa de Hollywood - estão cruéis e duros. Sua garganta é grossa e forte, seus antebraços bem constituídos. Após um momento de hesitação, eu não consigo evitar que meus olhos deslizem para baixo pelo seu corpo. Eles são atraídos para a coxa, para o corte de 50 cm que eu vi os enfermeiros fechando com grampos naquela noite horrível, mas não é isso o que prende a minha atenção. O pau dele está duro. E enorme. Meu Deus, eu posso ver cada linha naquelas calças apertadas, e é tão perfeito quanto eu me recordo: um vibrador caro, tamanho extra grande.
Calor se espalha por mim, começando nas bochechas e no pescoço e correndo rápido para o sul. Eu recuo. Eu não quero, mas é ele quem está comandando. Compartilhar ar com ele me intimida. Me assusta. Me irrita. — Você realmente machucou Holt. Que porra você pensa que é? Você tem alguma moral? Vergonha? As palavras saem antes que eu tenha a chance de refreá-las. Meus olhos se arregalam. — Desculpe. Não, não me desculpe. Os olhos dele perfuram os meus. Pelo tempo de uma respiração hesitante, parece que eles estão me alcançando. Ele se recorda... Mas a suavidade rapidamente se transforma em aço. Ele se move com rapidez, como o super-herói que ele foi há algum tempo atrás, nos filmes. Ele me agarra pela cintura e me atira contra a parede. Ele se move como um ninja, toda vantagem esparsa e graça letal. Eu me preparo para o impacto contra o muro de tijolos, mas o braço atrás de mim me protege tanto quanto me prende. Ele empurra seus quadris contra os meus, seu peito contra os meus seios, até que o ar deixa meus pulmões e toda a inquietação morre na minha mente. Estou ofegante quando olho para o seu rosto. Olhos astutos; estrutura óssea de um tigre. Ele afunda a mão no meu cabelo e continua a me acariciar imóvel. Somente dois dedos se mexem, esfregando o cacho que ele capturou. — Eu poderia matá-lo. — ele sussurra. — Não! — Ou eu poderia permitir que você pague a dívida dele.
Estou tão perto que eu posso ver os seus dentes. Eles são brancos e brilhantes, os caninos afiados. — O que eu tenho que fazer? — minha voz treme, me fazendo sentir como a jovem garota que eu era quando ele me conheceu. — Você se dará para mim. De corpo e alma. — seu polegar acaricia minha bochecha, tão caloso que quase arranha. — Você vai estar aqui todos os dias. Pronta para me dar o que eu quero. Pronta para me agradar. — a respiração dele fica presa. — Eu vou te agradar também, Anjo. Suas mãos alcançam entre as minhas pernas, empurrando minhas coxas separadas para que ele possa cobrir minha boceta com a sua palma. Eu questiono se ele pode sentir o calor ali. Seu olhar, direcionado para baixo, sobe flamejante para o meu. Estou procurando pelo cara que eu conheci naquela noite. Vinte e um anos e famoso, um renomado ator que tinha acabado de matar três dos seus melhores amigos em um horrível acidente de carro. Não há nada restante dele. Esses olhos são duros e frios. Se eles são a janela da sua alma, eu não quero estar em qualquer lugar próximo a ele. É como se ele pudesse ouvir meus pensamentos. Ele permanece imóvel, apenas me olhando. Não consigo respirar. Um segundo depois, ele sobe a minha saia e empurra sua mão sob o elástico da minha calcinha. As pontas dos seus dedos roçam meus lábios quentes, em seguida se curvam e rasgam a calcinha ao meio. — Me deixe acariciar essa sua boceta quente. Eu posso sentir o cheiro dela. Doce como mel. Você está disposta a me dar isso? Eu vou ser bom para ela. Muito bom. — ele murmura. Ele desliza preguiçosamente um dedo entre meus lábios, me fazendo ofegar. Eu moo contra a parede. — Mas isso não muda o que isso é. Você vai ser a minha prostituta, Belle. Você vai ser a puta de um assassino. Você está disposta a fazer isso?
Ele encontra o meu clitóris e traça círculos lentos ao redor dele. Eu não posso pensar, somente olhar para o seu rosto deslumbrante. — Você... Realmente iria matá-lo? — não consigo compreender. Ele acena com a cabeça. — Hoje à noite. Já havia dado a ordem. — Doente. — eu sibilo. — Existem regras. Ele as conhecia, Anjo. — Eu não sou o seu anjo. Ele empurra um dedo dentro de mim, depois outro. Eu choramingo. Fecho meus olhos. O que está errado comigo? O que o fato de que estou deixando-o fazer isso diz sobre mim? — Eu não... quero você. Você é doente. — eu aperto ao redor dos seus dedos, querendo mais. Eu devo estar louca. Abro meus olhos e estou novamente atordoada por quem estou encarando. Cal Hammond - prisioneiro. Sem pensar, agarro seu ombro. — Você não parece um prisioneiro. Ele pega minha mão e a afasta dele, não áspero, mas não gentil. — Eu não sou. Eu sou um Don. Eu controlo as coisas aqui. Todos os negócios, todas as gangues. Eu vou controlar você também. Ele chicoteia os dedos dentro da minha boceta e eu cedo contra a parede. Quando meus joelhos vacilam, afundo para baixo, empurrando os dedos dele ainda mais fundo dentro de mim. — Ricardo. — eu murmuro. — Não é o meu nome. — Qual é? Ele se ajoelha, então posso sentir sua respiração na minha boceta. — Fera. Eu contorço minha bunda contra a parede, tentando me afastar dele. Ele segura as minhas coxas e balança a cabeça.
— Você tem certeza que quer fazer isso? Rejeitar a minha oferta? Se você fizer... Eu bato no seu rosto. Não é uma decisão. Eu só... reajo. Ele puxa os dedos para fora de mim, deixando-me fria e vazia. Eu mal consigo me manter de pé. Olho para o seu rosto. Eu estou tão confusa. — Quem é você? O que há de errado com você? O rosto dele endurece. — Você vai aceitar o acordo, Annabelle? Sim ou não? Meu coração bate rápido. — Por que você me chama de Anjo? — por favor, lembre-se. Por favor, lembre-se de mim. Ele se levanta, capturando meu pulso enquanto se movimenta. Ele está tão perto que eu posso sentir a sua respiração na minha testa. Ele acaricia minha bochecha. — Você parece um anjo. Então ele não se lembra. Ou caso ele se lembre, não vai me dizer. — Qual acordo? — eu sussurro. — Seu corpo. Esse é o meu preço. O formigamento começa em minhas coxas e sobe, passando pela minha boceta, pela minha barriga, onde se arrasta para o fundo e chega ao meu núcleo. Estou tão molhada, praticamente pingando. Estou tão fora de ordem. Muda, cega, perdida. — E se eu não aceitar? — eu sussurro. — E se eu disser não? — Nós já discutimos isso. Eu irei punir seu padrasto do único jeito que eu posso. — Você tem uma escolha! — minha voz ecoa, então se desvanece.
— Ele tinha uma escolha, e escolheu errado. Você acha que eu tenho pena dele? Acha que eu tenho pena de qualquer homem que escolhe algo imprudente? Eu olho para ele, e tudo que posso pensar é: Você foi imprudente. Dou um pequeno passo para mais perto dele. — Eu não entendo. Como você pode esperar perdão se não o dá? Todos merecem compaixão, Ric... Fera. Ele balança a cabeça, e estou atordoada ao ver a raiva ir embora. Ele parece desolado. Tão frio. — Ninguém merece compaixão. Não um homem como Holt, e não um homem como eu. — ele dá um longo passo para trás, abrindo um espaço entre nós. Ele cruza os braços sobre o peito e eu posso sentir minhas pernas começando a tremer porque eu sei que tenho que decidir. — O que vai ser, Anjo? Seu tempo acabou. Balanço minha cabeça. — Você se lembra de mim? — se ele não se lembrar, eu não sei como irei fazer isso. Ele franze o cenho, e está claro que ele não tem ideia do que eu estou falando. — Se nós tivéssemos nos conhecido antes, eu me lembraria de você. Coloco a mão sobre o meu peito. Isso machuca um pouco. Mais do que deveria, provavelmente. — Ricardo, eu não sei se eu consigo... — Ricardo não. — suas longas pernas fecham a distância entre nós. Dedos fortes prendem meu ombro, me pressionando contra a parede. Como você pode não se lembrar? Sua mão sobe a minha saia de novo. Ele separa meus lábios com dois dedos ágeis e desliza três dedos dentro de mim. Estou tão molhada que não dói. Eu simplesmente arqueio.
— Nunca me chame de Ricardo. — seu rosto, tão perto do meu. — Nunca me chame de nada além de Fera. — Isso não é um nome. — eu arquejo. — É o meu nome. — seus olhos cor de avelã queimam nos meus. — Se eu fizer isso... Ele balança a cabeça. — É melhor você aprender agora. Nunca me pergunte nada. Eu nunca vou te responder. Você me aceita como eu sou, Anjo. Apenas como eu sou. — Eu não sei quem você é. — eu sussurro. E isso é quando ele me pega nos seus braços. Meu coração sai voando. Até que ele me deita no chão e mergulha entre as minhas pernas. Ele se inclina para baixo, e por um momento eu acho que ele vai beijar minha boceta. Como da última vez. Me fazer ver estrelas. Em vez disso, ele se separa minhas pernas bem abertas e abaixa suas calças. Seu pau salta livre, e ele está tão duro, apontando para cima, a cabeça em um tom de vermelho furioso, suas bolas apertadas e impacientes. — Deixe-me te mostrar quem eu sou. Com uma mão ele segura as minhas acima da minha cabeça. Ele olha nos meus olhos. Os deles estão gritando: O quê? Ele separa minhas dobras escorregadias e depois se lança para dentro - com força! Com muita força. — Eu. — estocada. — Não sou ninguém. — estocada. — Que você conheça. Eu nunca vou ser. Eu vou te machucar. — estocada. — Para o meu prazer. — estocada. — Eu vou fazer você pagar. — estocada. — Cada vez que eu te foder, vou fazer você pagar. Suas estocadas são brutalmente duras, tão duras que o carpete queima minha bunda. Tão duras que eu posso senti-lo enterrado mais profundo do que qualquer um antes.
Eu gemo. — Sua escolha, Anjo. Você decide. Seus olhos, quando eu olho para ele, são sugestivos. Seus olhos estão me implorando para dizer “Não”. Mas eu estou faminta. Louca. Ousada. Imprudente. Estou dançando no olho da tempestade. Afogando-me em um conto de fadas. Vivendo em um sonho. Eu não posso dizer não. Nem se eu vivesse mil anos.