A RECONSTITUIÇÃO TRIDIMENSIONAL NO ÂMBITO DA CRIPTO-HISTÓRIA DA ARQUITECTURA Contributo para uma metodologia de (re)interpretação de património arquitectónico
Eduardo Francisco Durão Antunes
10 de Abril de 2019
O PATRIMÓNIO ARQUITECTÓNICO
(…) património é tanto a «obra-de-arte», a ruína, o objectoconstrução, a arquitectura de um edifício (o monumento clássico), como o lugar-ambiente, os núcleos urbanos a que (mal) chamamos “centros históricos”, ou seja, a cidade antiga e a cidade consolidada. Aguiar, 2008
Cavalheiros, acertemos as nossas prioridades. Não podemos permitir que os edifícios históricos se atravessem no caminho de acomodação dispendiosa para os turistas que vêm ver estes edifícios históricos Lancaster, 1976: 64
Av. da República, n.º 73 / 75 (Fonte: Google Maps, 2018)
Na actualidade, os critérios para atribuição de valor patrimonial na arquitectura estão sobretudo relacionados com a matéria da forma, negligenciando as questões de contexto que permitam entender o seu significado histórico.
(…) depósitos de memória visual atribuindo à arquitectura um estatuto que ela não deveria ter, o de cenografar novos modos de vida (pretensamente mais desenvolvidos) (…) Correia, 2018: 70
PROJECTO PARA REABILITAÇÃO DA ALA POENTE DO PALÁCIO DA AJUDA (João Carlos Santos, 2016)
Sendo o património um dos pilares de identidade cultural, a qual, por sua vez, se transforma em testemunho vivo para as gerações vindouras, reforçando laços de memória e encantações auráticas, é fundamental intervir em prol da sua preservação (…) Serrão, 2014: 39
VILLA SOUSA, NA ALAMEDA DAS LINHAS DE TORRES, SÉCULO XX. PRÉMIO VALMOR EM 1912 (Foto: Gastão Brito da Silva, 2014)
PALACETE CONHECIDO POR CASA DO PROFESSOR, OU QUINTA DO PARREIRA, EM OLIVEIRA DE AZEMÉIS, SÉCULO XX. (Foto: Gastão Brito da Silva, 2014)
TORRE DAS ÁGUIAS, EM BROTAS, SÉCULO XVI. (Foto: Gastão Brito da Silva, 2014)
GRAVURA DAS RUÍNAS DA ÓPERA DO TEJO (Jacques-Philippe Le Bas, 1757)
O património renova-se e enriquece-se, mas essa renovação (…) não tem de ser inevitavelmente marcada por ondas de destruição e por abandono sem critério. Serrão, 2014: 30
Por esta razão, considera-se que a valorização do actual património arquitectónico e consequente preservação integrada carece de um conhecimento evolutivo do seu processo de concepção, mesmo que em parte ou totalmente desaparecido.
A CRIPTO-HISTÓRIA DA ARQUITECTURA
FACTORES DE CONTEXTUALIZAÇÃO DE UMA OBRA ARQUITECTÓNICA (Pedro Januário, 2008)
Como objeto de estudo, a Cripto-História que, em arquitectura, também considera património as obras “mortas” ou fragmentárias, permitirá contextualizar a origem dos símbolos cuja base ideológica e conceptual não tem hoje o mesmo reconhecimento cultural.
É também património (intangível) o saber que permitiu projectar, construir, manter ou alterar! Aguiar, 2008
Propõe-se, como metodologia de investigação, a comparação de um conjunto de obras (umas destruídas e outras ainda existentes) edificadas por uma mesma equipa de construtores, no sentido de se reconhecerem semelhantes critérios de concepção.
A RECONSTITUIÇÃO TRIDIMENSIONAL NA CRIPTO-HISTÓRIA
(‌) a computer reconstruction demands specific decisions and forces one to deal with the contradictions. In search of an understanding of the cultural importance (‌), one is confronted (‌) with inconsistent and even unrealistic interpretations of later researchers. A computer model can help to reconcile the sources and to determine which interpretations are plausible. van Deinsen, De Paepe, 2017: 49
Neste âmbito, pretende-se apresentar uma proposta de doutoramento onde o desenho vectorial e a modelação tridimensional serão ferramentas (re)interpretação dessa informação (até agora contraditória ou inconsistente), para a tornar inteligível.
METODOLOGIA DE RECONSTITUIÇÃO DE UMA OBRA DESAPARECIDA (Pedro Januário, 2008)
COMPARAÇÃO ENTRE O CORTE DO TEATRO DE NANCY (1709) E O CORTE RECONSTRUÍDO DA ÓPERA DO TEJO (1755) (Eduardo Antunes, 2015)
RECONSTITUIÇÃO VECTORIAL DOS PLANOS DA ÓPERA DO TEJO (Eduardo Antunes, 2015)
RECONSTITUIÇÃO TRIDIMENSIONAL DA ÓPERA DO TEJO (Eduardo Antunes, 2015)
O resultado final constituir-se-á de um itinerário metodológico de (re)interpretação histórico-cultural do património arquitectónico capaz de identificar o significado das suas concepções estilísticas.
Aquilo é St. Paul, pois era! Lancaster, 1976: 73
BIBLIOGRAFIA Aguiar, José (2008). Património cultural e os paradigmas da conservação e da reabilitação: ontém! [Apresentação PowerPoint]. Disponível em: www.oasrn.org/3R/conteudos/areareservada/areareservada6/3R-S1-C1-Aguiar.pdf
Antunes, Eduardo (2015). Ópera do Tejo – Investigação e reconstituição tridimensional. Lisboa: FA-ULisboa. Tese de Mestrado. Carita, Alexandra; Costa, Filipe (2016). “Palácio da Ajuda vai ser concluído 222 anos depois do início das obras”. In Expresso. Disponível em: https://expresso.pt/sociedade/2016-09-19-Palacio-da-Ajuda-vai-ser-concluido-222-anos-depois-do-inicio-das-obras#gs.3z3v1x
Choay, Françoise (2010 [1992]). Alegoria do Património. Lisboa: Edições 70. Correia, Lucinda (2018). “Arquitectura: empreender ou cuidar? Princípios de uma cidade resistente”. In J—A · jornal arquitectos, 257. pp. 68-73. Lancaster, Osbert (1976). What should we preserve?. In Fawcett, Jane (ed.). The Future of the Past. Attitudes to Conservation,
1147–1974. Londres: Thames and Hudson. pp. 64-73. Januário, Pedro (2008). Teatro real de la Ópera del Tajo 1752-1755: Investigación sobre un teatro de ópera a la italiana, para una posible reconstitución conjectural, basada en elementos iconográficos y fuentes documentales. Madrid: ETSAM/UPM. 3 Vols. Tese de Doutoramento.
Melâneo, Paula (2018). “O fachadismo da reabilitação”. In J—A · jornal arquitectos, 255/256. pp. 74-77. Serrão, Vítor (2001). A Cripto-História de Arte. Análise de Obras de Arte Inexistentes. Lisboa: Livros Horizonte. Serrão, Vítor (2014). “Portugal em ruínas. Uma história cripto-artística do património construído”. In Silva, Gastão. Portugal em Ruínas. Lisboa: Fundação Francisco Manuel dos Santos. pp. 7-46. van Deinsen, Lieke; De Paepe, Timothy (2017). “Visualising literary heritage: A viable approach? The case of the Panpoëticon Batavûm
(1772–1780)”.
In
10.1016/j.daach.2016.11.003
Digital
Applications
in
Archaeology
and
Cultural
Heritage,
4.
pp.
49-58.
doi: