Ethos & Episteme Vol.10

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Sumário Sumário

EDITORIAL………………………………………………………………………………03 ARTIGOS…………………………………………………………………………………04 A SUPERVISÃO ESCOLAR EA PREVENÇÃOAO USO INDEVIDO DE DROGAS: REFLEXÕES SOBRE A PRÁTICA EDUCATIVA……………………………………05 Genival Nunes de Souza REPRESENTACIÓN, REPRESENTACIÓN COLECTIVA Y REPRESENTACIÓN SOCIAL: DIFERENCIAS CONCEPTUALES Y DIFICULTADES INVESTIGATIVAS…14 Antonio Lobato Jr. ESTRATEGIA DE CAPACITACION DE DIRECTIVOS EN EQUIPOS DE TRABAJO: COMPONENTES Y ETAPAS DEL PROCESO DE FORMACION DE EQUIPOS………………………………………………………………………………24 María de los Ángeles Linares Borrell, Alberto Medina León CONEXÕES OCULTAS NA TURMA TRÊS DE METODOLOGIA DO ENSINO SUPERIOR: UMA ANÁLISE EXPERIENCIAL……………………………………34 Denise Bezerra Rodrigues, Eliseanne Lima da Silva DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: ALGO VITAL NA PRESERVAÇÃO DO PLANETA TERRA………………………………………………………………………42 Raimunda Lemos Coelho, Maria Auxiliadora de Souza Ruiz O ENSINO DE CIÊNCIAS A PARTIR DE PRÁTICAS SIGNIFICATIVAS EM SALA DE AULA…………………………………………………………………………55 Dayse Peixoto Maia ATENDIMENTO AO CLIENTE E A QUALIDADE DOS SERVIÇOS CONTÁBEIS NA CIDADE DE MANAUS……………………………………………………………61 Gracicleide A. Assunção de Oliveira, Sandra Elaine Siqueira Corrêa A PRESENÇA DOS INSTRUMENTOS DA CONTABILIDADE GERENCIAL NAS ORGANIZAÇÕES DO TERCEIRO SETOR: UM ESTUDO DE CASO…………80 Raimundo Nonato de Oliveira, Afrânio Corrêa Lima Júnior RELATO DE EXPERIÊNCIAS…………………………………………………………96 EDUCAÇÃO ESCOLAR INDÍGENA E A BEBIDA ALCOÓLICA………………97 Justino Sarmento Rezende RESENHA………………………………………………………………………………115 O DISCURSO DA CIÊNCIA NO ENSINO DE CIÊNCIAS………………………116 Josiano Régis Caria


Revista de Ciências Humanas e Sociais da FSDB – ANO V, VOLUME X – JULHO – DEZEMBRO 2009

EDITORIAL

Chega até você o volume X da Revista Ethos & Episteme. O compromisso da Faculdade Salesiana Dom Bosco com a educação de qualidade passa necessariamente pela relevância dada à produção do conhecimento. A revista Ethos & Episteme é expressão desse compromisso. Acreditamos, de fato, que o estímulo à pesquisa como eixo formativo constitui um aspecto fundamental do trabalho de gestão nas Instituições de Ensino Superior. A finalidade é formar pessoas que disponham de ferramentas cognitivas, teóricas, metodológicas e comportamentais para conhecer, interpretar e intervir estrategicamente nos diferentes contextos sociais e profissionais. Neste tempo em que a forte tendência à mercantilização da Educação Superior, caracterizada pela forte vinculação entre processos formativos e processos produtivos da economia de mercado globalizada, parece legitimar certa mudança de horizonte quanto aos fins da educação, urge salvaguardar os elementos constitutivos e essenciais da Educação Superior, entre eles a pesquisa, a produção e a divulgação do conhecimento; essas, de fato, são a condição sine qua non para a emancipação dos sujeitos da academia, das instituições e da própria sociedade. Isso requer, sem dúvida, a revisão crítica de muitas práticas na universidade, mas, sobretudo, dos modos como a própria ciência é concebida e quais as suas finalidades. Superando o modelo de ciência positivista que se firmou na modernidade, o qual atrela a ciência ao poder e ao domínio, queremos afirmar a possibilidade de conjugar ou articular ao discurso científico os conceitos de democracia, cidadania, emancipação, solidariedade, qualidade de vida e ecologia. Será que esses elementos não podem constituirse em critérios de cientificidade? Afinal, qual é o objetivo último da ciência? Oxalá a revista Ethos & Episteme consiga disseminar ideias que nos levem, aos poucos, a vislumbrar uma nova epistemologia, a uma ciência que responda aos problemas da maioria. César Lobato Brito Diretor Executivo da FSDB

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Revista de Ciências Humanas e Sociais da FSDB – ANO V, VOLUME X – JULHO – DEZEMBRO 2009

ARTIGOS


Revista de Ciências Humanas e Sociais da FSDB – ANO V, VOLUME X – JULHO – DEZEMBRO 2009

A SUPERVISÃO ESCOLAR E A PREVENÇÃO AO USO INDEVIDO DE DROGAS: REFLEXÕES SOBRE A PRÁTICA EDUCATIVA Genival Nunes de Souza1

Recebido em 08/02/10; Aceito em 15/03/10

RESUMO Este artigo científico tem como intuito apresentar reflexões sobre as contribuições e desafios de se desenvolver um trabalho de supervisão escolar comprometido com o desenvolvimento integral do discente no contexto contemporâneo, a partir da prevenção escolar ao uso indevido das drogas. Apresentando propostas de superação e de transformação da realidade educacional e da comunidade em que a escola está inserida, a partir da inserção de habilidades, atitudes e valores que possibilitem ao sujeito a participação e preparação para a cidadania plena, tendo um conhecimento ampliado a cerca da temática, tornando-se histórico, ativo e consciente de seu papel frente as mudanças de paradigma do contexto sócio-econômico-político-histórico e cultural em que estamos inseridos no município de Coari. Desse modo, traz algumas reflexões e experiências práticas em relação a temática,que se iniciaram a partir de um projeto de pesquisa na Universidade Federal do Amazonas, e que fez parte de minha formação enquanto supervisor escolar, o qual teve vários frutos muito significativos durante a minha vida profissional.Nesse sentido, é que trazemos a proposta de modificar nossa forma de ver e atuar com essa problemática, a partir da pedagogia de projetos, porém, sem descuidar dos conteúdos programáticos, harmonizando teoria e prática, ensino e pesquisa dentro do contexto escolar, dinamizando as atividades em prol de uma educação emancipadora. Palavras-chave: Supervisão. Prevenção. Cidadania. Projeto. Paradigma.

Mestrando em Educação pela Universidade de Los Pueblos de Europa, Graduado em Pedagogia e Filosofia pela Universidade Federal do Amazonas-UFAM; Especialista em Tecnologia Educacional(UFAM); Especialista em Gestão Escolar pela UEA;Professor da rede pública Estadual, Supervisor Escolar da Rede pública Municipal. E-mail: genivalnunes@click21.com.br

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ABSTRACT This article scientific does have as a intuitive bring forward reflections on the subject of the contributions and challenges as of in case that develop um I work as of supervision the school engaged with the breeding entire from the students at the context contemporary break from the prevention the school to the I abuse of the drugs So, like introducing bids as of superation and as of conversion from the actuality educational and from the community wherein the school is inserted, from the insertion as of dexterities, attitudes and values than it is to makes it possible to the subject to participation and work up for the citizenship full, having um knowledge enlarged the enclosure from the thematic to be - in case that historic atuation and conscient as of your own paper forefront the changes as of paradigm from the context business associate economic-polític - historic and cultural wherein is inserted at the county as of Coari. In that way, he carries a few reflections and experiences practices in relation to have, in case that they started from one project as of research at the university of Federal from the Amazons, and that has made he breaks as of my formation while supervision school, that he had several fruit a lot considerable during the my life profission.This felt, is than it is to we carry the bid of modifying our form of observe and act along this difficult, from the pedagogic as of projects we shal, without overlook of the content program, attuning theory and handy, I school and research within the context school stimulating the activities well into support from a education emancipator. Keywords: Supervision. Prevention. Citizenship. Project. Paradigm.

INTRODUÇÃO O papel fundamental da educação no desenvolvimento do indivíduo e da sociedade amplia-se cada vez mais no despertar do novo milênio e indica a necessidade de se construir uma escola voltada para a formação de cidadãos. Vivemos numa era marcada pela competição, eficiência, eficácia em que os progressos científicos e avanços tecnológicos definem exigências novas para os jovens que ingressam no mundo do trabalho. Nessa perspectiva, faz-se presente uma concepção omnilateral do homem visto em todas as suas dimensões, visando novos conhecimentos e preparando-o para o exercício pleno da cidadania. Dessa forma, o Supervisor Escolar e Orientador Educacional têm função relevante diante da atual realidade, não podendo a prática pedagógica se reduzir ao cumprimento do papel repressivo e alienante que é atribuído ao educador. Para tanto, deve ser proporcionado ao discente situações concretas que promovam atitudes e habilidades necessárias para que cada aluno possa vir a participar plena e efetivamente da vida política, econômica e social da comunidade local e global. Segundo Libâneo, Os processos de gestão e administração da escola implicam uma ação coordenada da direção, coordenação pedagógica e professores, cada um cumprindo suas responsabilidades no conjunto da ação escolar. Os processos de participação democrática incluem não apenas um envolvimento coletivo na tomada de decisões, como também os meios de articulação da escola com órgãos da administração do sistema escolar e com as famílias (Libâneo, 1994, p.45).

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Partindo desse pressuposto, notamos a relevância do papel do supervisor escolar para a sensibilização da comunidade estudantil e ampliação de seus conhecimentos a respeito do uso indevido de drogas, possibilitando o resgate de valores e atitudes de vida que proporcionem uma melhor qualidade de vida.

1. EDUCAÇÃO E O USO INDEVIDO DE DROGAS A educação vem sendo nos últimos tempos um tema muito discutido, no sentido de avaliar o quanto ela tem influenciado na realidade histórica e até que ponto esta influência tem modificado ou não a realidade. Neste sentido Gramsci nos diz que: A educação é uma adaptação ao meio ambiente, sim, mas também e, sobretudo uma luta, para não permitir que este influa casualmente, mecanicamente, talvez mesmo através de seus aspectos menos evoluídos, e por isso mesmo como “autoridade” como “pressão”. (MANACORDA, 1980,81)

Desse modo, percebemos que a formação docente para o ensino nos vários níveis deixa muito a desejar. Consequentemente a maioria das escolas estão distantes do contexto em que o educando se insere e, ao considerá-los num mesmo nível, deixa de valorizar o que cada um traz consigo ao chegar nela, criando assim uma situação de exclusão e alienação. Conforme Gramsci: Muitos homens não conseguem se ver como sujeitos da história (individual e coletiva) não porque a história é feita por forças ocultas, mas sim porque vivem dentro de uma sociedade de classes que possui uma integralidade hegemônica burguesa idealista que favorece a manutenção da alienação. (ANGOTTI, 1996)

A partir dessa afirmação é perceptível que a não formação adequada docente, desqualificada e alienada está desvinculada da realidade sócio-econômica-político-histórica e cultural do educando, deixando de ser levado em conta temas transversais como:educação sexual, pluralidade cultural,ética, saúde, política, etc. E especialmente o problema relativo à prevenção ao uso indevido de drogas. Apesar de quase todos esses temas constarem nos Parâmetros Curriculares Nacionais, como temas transversais. Nos últimos anos, o Município de Coari vem passando por um acelerado crescimento demográfico, tornando-se evidente algumas alterações sócio-econômicas e culturais, que provocaram grandes transformações no que diz respeito ao aumento do consumo de drogas. Devido a essas mudanças, é necessário ter uma compreensão dos vários fatores que alteram a vida do homem em relação ao aspecto negativo do consumo de drogas e às perspectivas de prevenção escolar e social. Segundo definição adotada pela Organização das Nações Unidas (ONU), Prevenção significa adoção de medidas destinadas a impedir que traduzam deficiências físicas, mentais, sensoriais ou impedir que as deficiências quando já se produziram, tenham consequências físicas, psicológicas e sociais negativas (BRASIL, 1994).

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A prevenção primária é a primeira de todas, ou seja, é trabalhar para que o indivíduo não se envolva com as drogas antes do fato acontecer. É um trabalho antecipado ao fato, esse é o principal motivo de se buscar levar esta temática para as salas de aula.

2. CONTEXTO HISTÓRICO E PREVENÇÃO AO USO INDEVIDO DE DROGAS A droga não é um problema que surgiu agora. Ela tem sido em todas as épocas utilizada de maneira natural ou sintética, se bem que, primitivamente, apesar de sabidos os seus efeitos sobre a mente, eram desconhecidos os seus princípios ativos. Há muito tempo o problema tem preocupado médicos, psicólogos, políticos, prelados e juristas. O uso e o comércio dos tóxicos está enraizado desde as antiguidades, nos costumes e hábitos dos povos. Entretanto, estiveram sempre localizados, jamais se generalizaram de modo a constituir ameaça à humanidade ou, como hoje, espécie de calamidade pública. Para a Organização Mundial de Saúde, droga é toda substância natural ou sintética que introduzida no organismo vivo pode modificar uma ou mais de suas funções (BARRETO, 1995, p.08). É importante ressaltar que esse conceito engloba também as chamadas drogas lícitas, com: álcool, medicamentos (fármacos), e o fumo. Além do café, alguns refrigerantes, etc. Os quais por desinformação e pré-conceito do senso comum, não são considerados tóxicos. Sabemos que grande parte das drogas compromete o desenvolvimento do caráter, do sentido realístico da vida e subvertem o senso de responsabilidade, fragilizando as famílias, os laços comunitários e a própria força de trabalho, podendo levar ao óbito. Diante disso, percebemos a necessidade de uma efetiva prevenção, que a própria legislação brasileira enfatiza, dever-se-á também através da educação, pois o consumo de drogas é uma agressão à saúde pública, no presente, e um crime contra o futuro de nossas crianças e jovens. Arruda afima que a toxicomania se instala onde existe uma predisposição psíquica, a vítima sempre tem um passado de insucessos, frustrações e desajustamento social. (ARRUDA, 1997) A mesma, diz que: Uma das táticas dos moralistas policialescos consiste em apresentar o toxicômano como um criminoso ou tarado. Procuram convencer a opinião pública de que ele próprio escolheu o seu caminho, que não foi levado ao vício sob o impulso da malaise social de nosso tempo (idem,1997).

Diante desse contexto, é preciso refletir sobre a função da escola na sociedade contemporânea, direcionando no sentido de proporcionar ao corpo discente situações em que tenham a oportunidade de adquirir valores e conhecimentos básicos para sensibilização acerca da temática. Para que ele seja capaz de participar plena e efetivamente da vida política, econômica e social da comunidade local e global. 8


3. A ATUAÇÃO DO SUPERVISOR ESCOLAR Torna-se imprescindível ao supervisor escolar definir seu papel político e pedagógico dentro da escola, organizando a ação pedagógica, gerando uma ação coletiva dos indivíduos em favor da plena cidadania. Segundo Garcia, “a compreensão critica da relação escola-sociedade surge da capacitação do movimento que se dá internamente na escola concreta e na relação deste movimento interno com o movimento mais amplo da sociedade global, também concreta” (GARCIA, sd, p.57) Partindo deste contexto, vemos a relevância de se conceber a educação como uma atividade criadora, através da qual o homem se humaniza e produz sua própria existência, sendo uma ação voltada para a formação omnilateral, pensado numa dimensão de totalidade, onde se relacionam dialeticamente indivíduo/ambiente, promovendo a possibilidade do homem completo e não limitado às atividades predeterminadas e deterministas de seu caráter. Sabemos que a escola é um aparelho ideológico do Estado, onde se inculca a ideologia dominante. Dependendo do trabalho do supervisor, não como facilitador das relações pelas relações, mas um mediador de conflitos na relação transmissão-criação-transformação do saber, é que poderemos intervir na prática pedagógica de forma consciente e politizada. O educador consciente assume, como luta sua, a relação das possibilidades da escola servir aos interesses reais da coletividade. Ele se incorpora à luta coletiva para a construção da escola competente, partindo sempre do contexto sócio-econômico-político e cultural em que o educando está inserido. Se a escola é uma instituição que tem por finalidade ensinar bem a totalidade dos discentes que a procuram, o supervisor escolar tem por função fundamental mobilizar os diferentes saberes dos profissionais que atuam na escola, para que a mesma cumpra sua função: que os discentes aprendam. O supervisor escolar deve refletir as ações da escola como um todo, a partir de uma compreensão crítica de sua relação com a sociedade. Essa compreensão crítica deve ser feita através da constatação da realidade, sendo conhecedor dos acontecimentos gerais da escola e do contexto onde a instituição está inserida, responsável pela ligação escola-família-comunidade, recuperando o seu aspecto político e atuando na construção de uma nova sociedade. De forma concreta, esta ação se dá quando o supervisor escolar coloca em discussão o que se faz, porque se faz, como se faz e quem se beneficiam com a ação pedagógica. Atribuindo às práticas educativas realizadas no cotidiano escolar suas contribuições específicas nos altos índices de repetência, evasão e reprovação. Refletindo contínua e coletivamente, a organização da escola, metodologias e as relações de seus resultados sociais obtidos, criando, assim, alternativas técnico- pedagógicas mais adequadas a esta realidade compreendida. Nesta perspectiva Garcia afirma quanto ao supervisor escolar: Ou se mantém sobre as asas protetoras do Estado, garantido por lei, agindo corporativamente e preocupando-se com o que lhes é específico ou se junta com a coletividade procurando resolver os problemas que lhes são comuns. E nesse caso, sua ação será globalizadora dentro e fora da escola (GARCIA, sd. p.61)

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Toda a escola que se pretenda democrática é preciso que antes de tudo seja aberta à comunidade, favorecendo a participação nos processos administrativos, pedagógicos, que possibilite atividades que resgate a auto-estima do aluno como sujeito do processo ensino-aprendizagem. Nas escolas públicas, especialmente no ensino fundamental, pouco se vê o tratamento sobre a temática relativa à prevenção ao uso indevido de drogas, e quando aparece é rapidamente sem sistematicidade. Mesmo porque esse assunto não é posto no currículo e não tem uma disciplina específica em que possa ser trabalhado de forma sistemática. É preciso que o educador perceba a escola como espaço privilegiado para o tratamento do assunto, pois o discernimento no uso de drogas está diretamente relacionado com a formação e as vivências afetivas e sociais das crianças e jovens, inclusive no âmbito escolar. Além disso, a vulnerabilidade do adolescente e o fato de ser essa a fase da vida na qual os comportamentos grupais têm enorme poder sobre as escolhas individuais fazem da escola palco para o estabelecimento de muitos dos vínculos decisivos para a formação das condutas dos aprendentes frente aos riscos. Porém, não é possível trabalhar a questão do uso indevido de drogas na escola, apenas dentro de seus muros arquitetônicos, fechada ao contexto mais amplo. O reconhecimento dos fatos e mitos a respeito da temática, da situação real do uso e abuso indevido de drogas em diferentes realidades, assim como as ideias e sentimentos dos educandos, da comunidade escolar e dos pais a respeito do assunto precisam ser considerados. O nosso anseio, como educadores, é de construirmos uma sociedade baseada na dignidade da pessoa humana, uma sociedade livre, consciente, justa, pluralista, participativa, democrática, solidária e fraterna. Uma sociedade que tenha como meta a comunhão social. Dessa forma, cremos que a alternativa viável para romper a reprodução ideológica é a escola criando participativamente o seu projeto político-pedagógico e tendo como referencial de trabalho uma sociedade transformada. Buscar vivê-la em esforço metódico continuado, para que plantada em semente, vivida em antecipação, possa fazer acontecer, essa sociedade transformada em realidade.E a realidade criando uma nova sociedade gere também um nova escola.É nesse contexto que percebemos a educação como um instrumento de transformação gerador de um novo homem e por isso mesmo de uma nova ética.

4. MA EXPERIÊNCIA INTERDISCIPLINAR: RUMO AO CONHECIMENTO COMPLEXO A PARTIR DE UM TEMA TRANSVERSAL Elaboramos um projeto participativamente com os professores de uma escola Estadual no município de Coari no ano de 2008, onde ele era interdisciplinar por contexto, em que as disciplinas teriam como eixo-temático o tema da prevenção ao uso indevido de drogas. 10


No início, sentamos com os professores para elaborar o projeto, em que todos puderam dar a sua opinião na construção do mesmo, o qual foi exposto em um projetor multimídia que era visível a todos os professores, com a presença também dos presidentes de turma e dos funcionários da Instituição. Tinha como objetivo principal sensibilizar a comunidade estudantil do Ensino Fundamental e Médio, a fim de possibilitar uma visão ampliada acerca do uso indevido de drogas lícitas e ilícitas. Em seguida, partimos para a concretização do projeto que, em reunião com os professores e Conselho Escolar, ficou planejado que ele seria trabalhado durante um mês com maior ênfase e depois durante todo o ano letivo, ou seja, seria um projeto que seria executado durante todo o ano escolar devido à relevância do tema em questão. Os professores selecionaram, em reunião, os conteúdos que seriam trabalhados de acordo com o plano de curso anual e também a integração do tema. Desta forma, foram selecionados conteúdos como; na área de Ciências, efeitos das principais drogas no organismo humano. Na área de Matemática, por exemplo, foi trabalhado os dados estatísticos com relação as drogas no município e no país, onde os educandos puderam ter contato com gráficos e tabelas sobre a temática; Os professores de Artes utilizaram fantoches para fazer uma encenação teatral, a professora de Língua Portuguesa criou um rap junto com os discentes e fez um estudo da gramática em cima dele, e etc. É interessante ressaltar que este projeto envolveu os professores dos três turnos. As metodologias utilizadas foram as mais variadas possíveis, que foram da pesquisa de campo, entrevistas, mesa redonda com a presença de autoridades da saúde municipal e profissionais da Universidade Federal do Amazonas, como psicólogos, assistentes sociais, médicos, etc. A mesa redonda foi realizada no final do mês de outubro e aconteceu também nos três turnos, onde tivemos exposição de vídeos, exposição de temas com o foco no álcool, na maconha nos medicamentos e nas principais drogas utilizadas no município. Foram feitas exposições de painéis sobre o tema, apresentação de músicas, dramatização, e debates com os educandos logo após as palestras dos convidados. A avaliação se deu em todo o processo e ao final do projeto, com toda a comunidade escolar, onde foi visto os acertos e questões a serem melhoradas e redimensionadas, onde ouvimos as sugestões e recomendações da comunidade educativa. Vale ressaltar que a participação da comunidade escolar no projeto de prevenção às drogas foi muito positiva, visto que os educandos participaram ativamente do projeto e da sua culminância.

CONSIDERAÇÕES FINAIS A prática educativa não é algo imutável e acabado, é um processo em constante transformação que pode levar-nos a atuar de modo positivo ou negativo, dependendo da circunstância, onde e como a ação docente esteja inserida. Nesse sentido o projeto de prevenção ao uso indevido de drogas foi uma experiência significativa para a equipe pedagógica da Instituição escolar, tornando-os agentes transformadores da consciência individual e coletiva. Tratando da educação aqui exposta no desenvolvimento deste artigo, ressaltando especificamente a questão das drogas na escola, tendo a principal função contribuir para a formação consciente do alunado, tornando-os aptos a decidirem, protegereme, recuperarem-se e atuarem na realidade sócio-econômico-político e cultural de modo comprometido com a vida, o bem estar próprio, do outro e da sociedade local e global. 11


Para isso, é necessário que, mais do que informação e conceitos, a escola se proponha a trabalhar com atitudes, na formação de valores, ensino-aprendizagem de habilidades e procedimentos ligados à vida real. Preparar o discente para enfrentar as contradições do mundo de forma equilibrada, tornando-se sujeito do processo de transformação. Nesse sentido Penteado afirma que: A escola é o local, dentre outros (trabalho, família, igreja, etc.) onde professores e alunos exercem a sua cidadania, ou seja, comportam-se em relação aos seus direitos de alguma maneira. É preciso dar um passo transformador. Esse passo aponta na direção de se orientar os trabalhos escolares por uma lógica ambiental, a fim de que passemos da escola informativa para a escola formativa. É possível contribuir para a formação de pessoas, capazes de criar e ampliar espaços de participação nas tomadas de decisões de nossos problemas sócio-ambientais (Penteado,1994,p.55-56).

Esse é o grande desafio para a educação e dos supervisores escolares. Comportamentos novos devem ser aprendidos na prática do cotidiano da escola como: gestos de solidariedade, hábitos de vida saudável independente de drogas, hábitos de higiene pessoal e ambiental. Quanto à questão do envolvimento dos alunos com drogas, atribui-se em parte ao não direcionamento do ensino para a assimilação de conhecimentos resultante da reflexão, proporcionada pela percepção prático-sensorial e pelas ações mentais que caracterizam o pensamento, tendo como base os dados da realidade, para os conteúdos trabalhados numa organização lógica e psicológica das matérias de ensino. Diante dos impasses que o atual modelo de civilização acarreta e na convivência com crises diversas, conclui-se que uma das formas de trabalhar sistemática e organizada, para ampliação do campo de alternativas de solução de problemas existentes na realidade local, sugere-se que este projeto interdisciplinar faça parte do projeto político-pedagógico, que viabilize a construção de uma prática pedagógica voltada para uma sociedade mais justa e solidária.

REFERÊNCIAS ANGOTTI, José André; AURAS, Marli. (Orgs). Cenas e atores na Educação. Florianópolis: CED-UFSC, 1996. ARRUDA, Ana. Freitas, Cincinato Magalhães, et als. A droga: Quem toma o que toma e por que toma. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1980. BARBOSA, Walmir de Albuquerque; MIKI, Pérsida da Silva Ribeiro. Metodologia da Pesquisa. Manaus: Edições UEA, 2007. BARRETO, João de Deus Lacerda Menna, et als. Projeto Saúde: Drogas e Alcoolismo. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1980. BRASIL. Constituição (1998). Constituição Federativa do Brasil: promulgada em 05 de outubro de 1988, com as alterações adotadas pelas emendas constitucionais nº 1/92 12


e 28/2000 e Emendas Constitucionais de Revisão nº 1 a 6/94 Brasília: Senado Federal Subsecretaria de Edições Técnicas, 2000.p. 393. ______. Ministério da Saúde. Manual de Orientação à prevenção de deficiências. Brasília: Departamento de Assistência e promoção da saúde, 1994. ______. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Apresentação dos temas transversais. Brasília: MEC/SEF, 1998. CARNEIRO, Moacir Alves. Nova LDB: Leitura critica compreensiva de artigo a artigo. Rio de Janeiro: FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro; Paz e Terra, 2005. ______. Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários a prática educativa. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2002. FURASTÉ, Pedro Augusto. Normas técnicas para o trabalho científico. Porto Alegre: dáctilo plus, sn, 2007. GHEDIN, Evandro; GONZAGA, Amarildo Menezes; BORGES, Heloísa da Silva (Orgs). Currículo e Práticas Pedagógicas. Rio de Janeiro: MEMVAVMEM, 2006,280p. GARCIA, R. e ALVES, N.(Orgs). O fazer e o pensar dos Supervisores e Orientadores Educacionais. São Paulo:Loyola,sd.

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Revista de Ciências Humanas e Sociais da FSDB – ANO V, VOLUME X – JULHO – DEZEMBRO 2009

REPRESENTACIÓN, REPRESENTACIÓN COLECTIVA Y REPRESENTACIÓN SOCIAL: DIFERENCIAS CONCEPTUALES Y DIFICULTADES INVESTIGATIVAS Antonio Lobato Jr.1

Recebido em 10/02/10; Aceito em 15/03/10

RESUMEN La confusión conceptual encontrada en algunos trabajos académicos alrededor de términos como representación, representación colectiva y representación social, colaboran con la poca objetividad de las investigaciones en este campo y causan dificultades en el desarrollo de las varias etapas de dichos trabajos. Queremos aportar algunas diferencias conceptuales entre los términos y problematizar la necesidad de mejores miradas sobre el tema. Palabras clave: Representación. Representación colectiva. Representación social.

ABSTRACT The conceptual confusion found in some academic work around terms such as representation, collective representation, social representation, partners in the development of the brake and the objectivity of the research in this field. We want to make some differences between certain terms and question the need for better views on the subject. Keywords: Representation. Collective Representation. Social Representation.

Doctorando en Educación de la Universidad Distrital “Francisco José de Caldas” – Bogotá - Colombia. E-mail: alobatojr@ yahoo.com.br

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INTRODUCCIÓN En el camino de acercamiento constante a los conceptos relacionados con la teoría de las representaciones sociales (TRS), según la propuesta de Serge Moscovici2, se nos hace necesario buscar aclaraciones y diferenciaciones entre algunos términos en primer lugar en razón de los debates y discusiones que con frecuencia se presentan alrededor del tema. En segundo lugar por las razones obvias del rigor académico investigativo. En tercer lugar, para que la dinámica de los diálogos respecto al asunto pueda generar conocimientos objetivos, sin divagaciones y sin retornos frecuentes a conceptos básicos, ejercicio seguramente muy importante y necesario, pero muchas veces desgastador. En cuarto lugar porque en este proceso de conocimiento se pueden encontrar algunos trabajos que presentan una variedad tan grande de miradas sobre dicha teoría que, por esta amplitud, se ubican hasta por afuera de las posibilidades conceptuales de la misma, y le atribuyen equiparación con líneas de raciocinio distantes del debate desarrollado hasta el momento. Sería muy ingenuo intentar escapar de la amplitud conceptual del término representaciones sociales. Esta es una característica afirmada y confirmada por muchos autores. Por otro lado, no se puede perder la oportunidad de seguir debatiendo el trabajo de búsqueda de estas concepciones, evitando así que la diversidad de relación con otras áreas y la variedad de foco nos lleve a oscurecer las características principales de la TRS, sus objetivos primordiales, sus abordajes más difundidos. Con esta reflexión queremos colaborar en la tarea de establecer una separación entre ciertos conceptos e ideas en razón no solo de lo que dicen y señalan, sino también y, sobre todo, por las diferencias de sus fuentes y sus elementos causantes. Además y a partir de ello queremos reflexionar sobre algunas de las dificultades encontradas en el proceso de desarrollo de algunas investigaciones en RS y así proponer líneas de debate sobre posibles caminos que colaboren en la disminución de dichas dificultades. La tarea conceptual es una tarea de separación. Separar también sugiere el término apartar o apartheid, de donde o donde encontramos la palabra parto, que además de indicar la separación entre madre e hijo, revela la luz al nacido y el nacido a la luz. La separación conceptual solo tiene sentido si es para intensificar la identidad de las partes, traerlas a la luz, y para hacerlas más adherentes o adaptadas entre sí. En otras palabras, separar para unir mejor. Partiremos de la etimología de la palabra representación; nos acercaremos a algunos abordajes filosóficos del término, distinguiendo el concepto de “representación colectiva” a partir de su uso dentro del trabajo de la historia cultural; reuniremos las indicaciones de algunos problemas encontrados en los procesos investigativos en el uso del término “representación social”; por último propondremos nuevos temas de debate con la intención de evitar las confusiones conceptuales aquí indicadas.

Más que un concepto hermético y exhaustivo, Moscovici ha planteado un debate sobre la concepción y la definición de representaciones sociales. Con esta postura, lo que se ha constatado desde la publicación de sus primeros estudios sobre el tema (1961 y 1963) es que dicha discusión ha atraído los aportes de científicos de varias áreas del saber. Sintética y básicamente la idea de representaciones sociales oriunda de la escuela moscoviciana se puede comprender como el conocimiento del sentido común que permite la comunicación, las prácticas, el convivir de las personas en un grupo social. Además “produce y determina comportamientos, porque al mismo tiempo define la naturaleza de los estímulos que nos rodean y nos provocan, y el significado de las respuestas que debemos darles. En una palabra, así como sucede en mil, la representación social es una modalidad particular del conocimiento, cuya función es la elaboración de los comportamientos y la comunicación entre los individuos”(MOSCOVICI, 1979, p. 17).

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1. UN ACERCAMIENTO CONCEPTUAL BÁSICO A LA PALABRA REPRESENTACIÓN En Miguel (2000, p. 802) encontramos que el término repraesentatio(onis) se relaciona con “la acción de poner a la vista; hipotiposis”. Dice también que repraesento(a,s) es hacer presente, poner ante los ojos, representar, reproducir… Representar por la pintura o escultura; pagar de contado, saldar inmediatamente, satisfacer sin dilaciones, efectuar de presente, ejecutar, cumplir, realizar. Jimenez y Ezquerra (2007, p. 8419) afirma que el término se refiere ‘al que antes se hizo’. Así que tragoedi son los que representan los hechos y muy feas hazañas de los reyes. Rosal (1992, p. 256) dice que presente es palabra latina y así, presentar es ofrecer o hacer la cosa presente, pues prometer es ofrecer cosa ausente. Blanquez (2003, p. 1340) dice: Repraesento: poner ante los ojos, representar, reproducir. Citando Quintiliano (visiones) por las cuales las imágenes de los objetos ausentes representadas al espíritu con tal nitidez que uno creería estarlas viendo con sus ojos y tenerlas ante sí”. (Per quas [visiones] imagines rerum absentium ita repraesentantur animo, ut e as cernere oculis ac praesentes haber videamur).

Foulquié y Saint-Jean (1967, p. 894) conceptualizan representación como “todos los diversos modos en que los objetos de pensamiento vuelven a hacerse presentes al espíritu. (…) Las ideas son una perfecta representación de la naturaleza, porque representan las cosas tal como son”. En el campo filosófico, los dos textos consultados definen representación de las siguientes maneras: Mora (1994, p. 3076) dice que el término es usado como vocablo general que puede referirse a diversos tipos de aprehensión de un objeto (intencional). Así se habla de representación para referirse a la fantasía (intelectual o sensible) en el sentido de Aristóteles; a la impresión (directa o indirecta), en el sentido de los estoicos; a la presentación (sensible o intelectual, interna o externa) de un objeto intencional o repraesentatio en el sentido asimismo de los escolásticos; a la imaginación en el sentido de Descartes; a la aprehensión sensible, distinta de la conceptual, en el sentido de Spinoza; a la percepción en el sentido de Leibniz; a la idea en el sentido de Locke, de Hume, y de algunos ‘ideólogos’; a la aprehensión general, que puede ser, como en Kant, intuitiva o conceptual; a la forma del mundo de los objetos como manifestaciones de la Voluntad en el sentido de Schopenhauer, etc.” Este ùltimo decia que ‘ el mundo es mi representación’...

Comte-Sponville (2003, p. 455) dice que ‘representación’ es todo lo que se presenta al espíritu, o que el espíritu se representa: una imagen, un recuerdo, una idea, una fantasía, son representaciones. Por eso Schopenhauer decía que ’el mundo es mi representación’ porque de él no sé nada, excepto lo que percibo o pienso. Pero si sólo hubiera representaciones, ¿qué representarían?

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2. MUNDO, REPRESENTACIÓN Y REPRESENTACIÓN COLECTIVA Los comentarios de Comte-Sponville refiriéndose a la obra de Schopenhauer, “El mundo como voluntad y como representación”, nos ayudan a introducir el primer texto que vamos a mencionar dentro del tema de la conceptualización amplia y variada del término “representación”.Amplia y variada porque, como dice Chartier (2005, p. 02) en la introducción de “El mundo como representación”, sobre el tipo de trabajo que desarrollaría en seguida, “en las sociedades del Antiguo Régimen –como en nuestro mundo contemporáneo – el desciframiento de los textos y el manejo de los libros no constituyen más que una de las numerosas series de prácticas que modelan las diversas representaciones y experiencias.” Schopenhauer nació en 1788, próximo en el espacio y en el tiempo a la publicación de la “Crítica de la razón práctica” de Kant, obra que conocería a profundidad más tarde y que, junto con toda la obra kantiana, orientaría su trabajo. Barboza (2006, p. 34), comentando el pensamiento de Schopenhauer en conexión con la obra de Kant, afirma que Al decir que el mundo es representación del sujeto, Schopenhauer sigue los pasos dejados por Kant en la ‘Crítica de la razón pura’, en la cual es afirmado que sólo podemos conocer apariencias (fenómenos; Erscheinungen), no las cosas en sí mismas.Todo conocimiento se da cuando datos externos son suministrados a la sensibilidad, o receptividad del conocimiento, en sus formas a priori del espacio y del tiempo. Enseguida, la comprensión, o espontaneidad del conocimiento, con doce categorías radicadas en él a priori piensa los datos de la sensibilidad. De modo que, del concurso entre sensibilidad y comprensión se tiene el conocimiento de los fenómenos.

El campo en el cual Schopenhauer trabaja tiene su matriz, por ello, en el pensamiento kantiano. Intentar comprender el sentido y el significado que le atribuye al término “representación” sin relacionarlo con “voluntad” y desconociendo los presupuestos teóricos de esta corriente de pensamiento, es negar la posibilidad de acercarnos a la visión de Schopenhauer. Barboza (2008, p. 35) propone una diferencia de Schopenhauer con la estructura del pensamiento kantiano. Dice: Sensibilidad y comprensión no están nítidamente separados. La comprensión abriga en sí sólo una categoría, la de causalidad, y no doce, como en Kant. La economía ahora hecha encuentra justificación en el propio Kant, pues éste, todas las veces que suministra un ejemplo riguroso de operación de las categorías, recurre a la causalidad; por su parte, las formas de la sensibilidad, espacio y tiempo, son puestas en la propia comprensión, al lado de la causalidad, que los vincula. En este sentido, tiempo, espacio y causalidad, de ahora en adelante nombradas principio de razón del devenir, incautan los datos empíricos suministrados por la sensibilidad corpórea y constituyen la naturaleza. La comprensión intuye directamente, adquiere un carácter sensible y, cuando las sensaciones le son suministradas, las toma como un efecto, para, a través de la causalidad, remontar temporalmente hasta su origen, posicionándolas en el espacio como representación intuitiva, objeto empírico constituido, figura. La causalidad, al vincular espacio y tiempo en la comprensión, posibilita por lo tanto la percepción (intuición empírica) del mundo, ya que la propia materia no pasa de causalidad […] Por lo tanto, toda intuición es intelectual. 17


Pasemos a dos ejemplos de trabajos actuales realizados desde las representaciones colectivas, visiblemente basados en los pensamientos de Durkheim. Chartier (2005), en su trabajo “El mundo como representación”, reuniendo 9 textos de diferentes géneros e intenciones publicados a lo largo de 10 años, tiene la intención de analizarlos a partir de sus estructuras, motivos y objetivos; estudiarlos como objetos impresos con sus distribuciones, sus fabricaciones y sus formas; y estudiar la historia de las prácticas que, “al tomar contacto con lo escrito, le conceden una significación particular a los textos y a las imágenes que ellos llevan” (CHARTIER, 2005, p. 01). Así que, el recorrido multidisciplinar realizado en esta obra y situado en el cruce “de la crítica textual, la historia del libro y una sociología retrospectiva de las prácticas de lectura”, quiere indicar una de las definiciones posibles de la historia cultural. En el contexto de la intención alrededor de la historia de las prácticas de la lectura, Chartier reflexiona sobre la diferencia entre historia cultural “entendida como historia de las representaciones y de las prácticas, y la historia de las mentalidades en su acepción clásica”, oponiéndose a la perspectiva espontaneista presente en esta última, que considera las ideas o las mentalidades huéspedes de los textos; a la concepción del lenguaje como un simple instrumento más o menos disponible para expresar el pensamiento, y a la adecuación demasiado simplista entre divisiones sociales y diferencias culturales. En este punto de su argumento, sirviéndose del concepto de representaciones colectivas de Mauss y Durkheim, busca pensar de manera más compleja y dinámica las relaciones entre los sistemas de percepción y de juicio y las fronteras que atraviesan el mundo social. Incorporando las divisiones de la sociedad (que no son de ninguna manera reductibles a un principio único), los esquemas que generan las representaciones deben ser considerados, al mismo tiempo, como productores de lo social puesto que ellos enuncian los desgloses y clasificaciones posteriores (CHARTIER, 2005, p. 04).

Siguiendo la línea de argumentación establecida por el autor, se puede subrayar que para un debate alrededor de la categoría “mentalidad”, donde encontramos un cuestionamiento de las recientes generaciones hacia la escuela de los anales (CASTORINA, 2007, p. 01), las representaciones colectivas se constituyen en una de las herramientas importantes en el trabajo de articulación entre algunas modalidades de relación con el mundo social, como son las configuraciones intelectuales múltiples, las prácticas significantes de formas simbólicas de presencia en el mundo y/o las formas institucionalizadas que tornan presentes la existencia del grupo social (CHARTIER, 2005, p. 56). Otro trabajo relacionado directamente con las representaciones colectivas es el de Beriain (1990), donde se estudia la teoría durkheimiana, buscando reflexionar sobre el despliegue del concepto de representaciones colectivas y sus implicaciones hoy en la crisis de la modernidad, con el objeto de alcanzar mejor las metas que el concepto original se había propuesto. El autor intenta re-construir el concepto durkheimiano de Representación Colectiva, a la luz del debate sobre la modernidad. Es decir, intenta desmontarlo analíticamente y recomponerlo en forma nueva. Éste camino lo lleva a concluir: a) Las RC, que se manifiestan como “estructuras intersubjetivas de conciencia”, siguen conformando un “mundo instituido de significado” del que se toman los modelos de la reproducción simbólico-cultural. 18


b) Esas RC se han racionalizado, desvinculándose de la tutela “del sagrado”, generando una nueva cosmovisión y por lo tanto con nuevos estándares de verdad, de justicia, y de gusto y con nuevos paradigmas científicos y éticos. c) Esta racionalización hace avanzar una nueva semiología de la cultura de masas pero no resuelve el problema de la pérdida de significado en la modernidad tardía. Los signos-efectos que pretenden articular una “producción administrativa del sentido” no pueden suplantar a los símbolos que portaban las representaciones colectivas. Como se puede notar, las representaciones en Kant y Schopenhauer son leídas como proceso fenomenológico de la comprensión; en la obra de Chartier como historia de las mentalidades y de los relatos; en el texto de Beriain desde el pensamiento de Durkheim. En otras palabras, los autores trabajan el concepto de representaciones, pero cada quien de manera distinta y ninguno relacionándolo directamente a como Serge Moscovici lo propone. Las relaciones posiblemente construidas entre estos conceptos y la propuesta moscoviciana se pueden dar en un plan de distinción aclaradora o en un punto anterior e inicial del concepto como por ejemplo la idea de objeto del pensamiento. Las diferencias de estos conceptos con las representaciones sociales de Moscovici, se intensifican en la medida que nos acercamos a la forma como se construyen, cuales sus sujetos, sus expresiones y su relación con la práctica.

3. EL DEBATE CONCEPTUAL DE REPRESENTACIÓN SOCIAL E ALGUNAS DIFICULTADES INVESTIGATIVAS En Castorina y Barreiro (2006, p. 7) encontramos que la teoría de las representaciones sociales se ha conformado en una encrucijada de disciplinas que van desde la historia, pasando por la sociología, hasta la antropología y la psicología del desarrollo (Moscovici, 2001a). Este origen ha determinado el carácter algo borroso e impreciso del concepto, de modo tal que no se dispone de criterios consensuados para diferenciarlo de otros.

Dicha “encrucijada” en la cual la teoría de las representaciones sociales se ha conformado, puede tener varios motivos. Pero, lo que podemos constatar con cierta facilidad en el seguimiento de algunos trabajos académicos declaradamente fundamentados en las teoría de las representaciones sociales, es que muchas veces esta “encrucijada” teórica, en lugar de servir como alerta, apoyo y estímulo para una cuidadosa revisión de cada una de estas fuentes, mirando las posibilidades de variaciones y la variedad de corrientes, se torna espacio de fácil divagación y confusión, abriendo oportunidades para afirmaciones ambiguas o por lo menos poco rigurosas del punto de vista científico. A lo largo de los últimos 20 años, algunos investigadores han presentado a la comunidad académica sus estudios y observaciones sobre las investigaciones relacionadas a las representaciones sociales. Sabemos que los trabajos no son pocos. Muchos son los sujetos y objetos (estudiantes, enfermos, ancianos, docentes, mujeres, adolescentes, investigación, leyes, proyectos, actitudes, posturas, etc…). Justa también es la preocupación de dichos estudiosos que revelan las dificultades de sus estudiantes y, encontrando fra19


gilidades en el proceso de investigación, intentan indicar mejores caminos, procesos más rigurosos, articulaciones más coherentes3. En esta línea de atención y haciendo referencia al debate sobre el avance de los estudios en representaciones sociales, Sá (1998, p. 16) afirma que un excesivo entusiasmo por el nuevo abordaje, por lo que se le atribuye un casi ilimitado alcance fenomenal y una confianza extremada en su poder explicativo, sin reconocimiento de sus reales posibilidades y limitaciones, puede llevar al desarrollo precipitado de proyectos que de representaciones sociales tienen solamente el título.

Arruda (2005, p. 90) en el trabajo en que analiza los estudios en representaciones sociales del 2003, presenta su preocupación con la interpretación realizada de los datos obtenidos, poniendo en duda, de esta manera, la profundidad y el real conocimiento de la fundamentación teórica que cita a los clásicos de los grandes autores muchas veces, pero a ellos no regresa al finalizar del trabajo, y se quedan sin dar una articulación coherente al texto y sin indicar conclusiones más consistentes. La profesora Alda Judith Alvez-Mazzotti (2005, p. 142) hace referencia a las dificultades encontradas en las investigaciones desarrolladas desde la relación entre representaciones sociales y educación, y afirma que a pesar de la expansión cuantitativa de dichos trabajos esta producción no siempre presenta la calidad necesaria, sobre todo considerándose la complejidad de las cuestiones con las cuales tenemos que tratar. El origen del problema –sigue la autora– parece estar en una apropiación superficial de la teoría de las representaciones sociales por los investigadores que se inician en este estudio sin darse cuenta de las dificultades a él inherentes. De hecho, no todos los que se presentan como siendo del campo de las representaciones sociales dejan trasparecer, en la conducción de sus investigaciones, una comprensión adecuada de los conceptos básicos de esta teoría, lo que los lleva a usar metodologías no condecentes con ella y, en consecuencia, a presentar resultados irrelevantes para una educación que se pretenda transformadora.

En esa perspectiva, la autora destaca cinco equívocos recurrentes en las investigaciones en el campo de estudio de las representaciones sociales. Ellos son: a) La falta de claridad en la definición del objeto, dificultad ciertamente común en investigaciones de varias áreas del conocimiento y que en los estudios en representaciones sociales también encuentra “espacio”. El objetivo del estudio, por ejemplo, dice la autora, “indica que el objeto de la representación es ser profesor, pero las conclusiones son todas sobre el buen profesor o sobre la formación de profesores” (ALVEZ-MAZZOTTI, 2005, p. 144). Hay que poner atención para que, en el desarrollo de la investigación, no se pierda el objeto de la representación social que se está buscando. b) Creer que en los grupos siempre hay una representación social sobre el objeto focalizado. Para que los sujetos puedan formarse una representación social del objeto focalizado es necesario que éste tenga relevancia para ellos, Sá, (1998) y Menin y Shimizu (2005) son algunos de los trabajos que entre otros debates importantes presentan análisis en esta dirección.

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lo que significa que ya deben haber sido expuestos a aquel objeto de manera sistemática, sea por estar relacionado a sus prácticas, por ser asunto de sus conversaciones, o aún, por el grupo haber sido impactado por informaciones a él vinculadas transmitidas por los medios de comunicación (ALVEZ MAZZOTTI, 2005, p. 144).

c) Tomar la representación social como espejo de la realidad. El proceso de representación social de un grupo en relación con un objeto indica una reconstrucción simbólica de la realidad y no la “realidad misma”, como algunas veces se afirma en algunos trabajos. d) Hacer inferencias directas sobre la práctica con base en las representaciones sociales. Si por un lado las prácticas y las representaciones se engendran mutuamente y se relacionan desde una perspectiva de interdependencia, por otro lado, las prácticas descritas en los discursos, en las entrevistas, son prácticas representadas, “traducidas” a un campo simbólico, pasadas por una relectura influenciada por otros factores que no solamente son los presentes en aquella relación especialmente constituida. En este sentido, según la autora, gana relevancia e importancia la observación de las prácticas efectivas que nos pueden ayudar a confirmar o a comparar con las representaciones reveladas. e) Indicar errores en las representaciones sociales de los sujetos. Lo que se busca en las representaciones no son conceptos exactos, orientados por principios lógico-formales. Esta búsqueda caracteriza otra escuela de la psicología que no es aquella cercana a las teorías de las representaciones sociales. Lo que buscamos es: quiénes representan, por qué representan así, de dónde nace esa representación, hacia donde apunta, cómo se relaciona con otras representaciones sociales, con los comportamientos, etc.

CONCLUSIÓN Partimos de los aportes de la etimología, pasamos por el apoyo de una de las visiones filosóficas clásicas, en Schopenhauer, y nos acercamos al uso de las representaciones colectivas (Durckeim) por parte de los estudiosos de la historia cultural, específicamente Chartier. Luego verificamos algunas dificultades en el uso de las “representaciones sociales” propuestas por Moscovici en algunas investigaciones. A partir de este breve camino, ciertamente necesitado de ampliaciones, queremos proponer algunas conclusiones: a) Entre las varias representaciones de las representaciones sociales: Retomando y ampliando una idea anterior, podemos decir que hay trabajos académicos que se dicen fundamentados en la teoría de las RS pero que, a decir verdad, hacen una excelente investigación cercana a las representaciones colectivas. Hay otros trabajos que están en el plano de las representaciones puras, o sea, caracterizan y analizan objetos del pensar humano, relacionados entre sí y contextualizados. Hay un tercer grupo de trabajos que mencionan las RS, pero realizan ejercicios de análisis de discurso, sin darle a esta acción los debidos fundamentos teóricos.Y hay un grupo que también la menciona como base de su investigación, pero va en direcciones tan variadas y poco precisas que escapa a cualquier interpretación o nomenclatura. 21


Nos hemos encontrado con uno de los trabajos de la profesora Alda Alvez-Mazzotti, que profundiza la relación entre RS y educación y reflexiona sobre el “uso” de la TRS. Hay varias colaboraciones que aportan al avance de la teoría de las representaciones sociales a través de un dedicado trabajo de evaluación y observación, ayudando a ubicar mejor las intuiciones iniciales, los métodos y las conclusiones de las investigaciones ya realizadas y, de esta manera, aportando informaciones importantes para las investigaciones siguientes. b) La arqueología de un concepto: Moscovici, citado por Banchs (1994, p. 5), identifica cuatro influencias teóricas que lo indujeron a plantearse la Teoría de las Representaciones Sociales: Emile Durkheim y su concepto de representaciones colectivas; Lucien Lévy–Bruhl y sus estudios sobre las funciones mentales en sociedades ágrafas; Jean Piaget y sus estudios sobre la representación del mundo en los niños, y las teorías de Sigmund Freud sobre la sexualidad infantil. Por lo tanto, el autor fue influenciado por teorías sociológicas, antropológicas, psicoanalíticas y psicológicas y no únicamente por las primeras.

Esta variedad de influencias nos compromete a perseguir sus orígenes en la búsqueda de un cuadro amplio de comprensión y atención. El no buscar esta variedad de fundamentos puede abrir espacio para una compresión a medias y para afirmaciones carentes de sustento. c) La filosofía como problematizadora: a la filosofía el pensamiento humano le reconoció (y se reconoció en) la capacidad y la misión de problematizar, ampliando la visión y las preguntas, sin perder la profundidad y la objetividad. Negarle espacio a la tarea primigenia del pensar que es, en última instancia, la búsqueda del ser, significa también quitar a la ciencia la posibilidad de seguir acercándose a la realidad en sus más variadas expresiones. Los abordajes de contenido más filosófico pueden colaborar en el trabajo de profundización del concepto de representaciones sociales en la medida que camine hacia la especulación de algunos fundamentos, como son la idea, el pensar, la palabra, la comunicación, el objeto pensado, el sujeto pensante…

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los criterios de Parker y Shotter(1990). Papers on Social Representatons.V. 3, n. 1, 1994. Disponível en: <http://www.psr.jku.at/frameset.html>. Acceso en: 05/May/2009 a las 15h00 BARBOZA, J. Modo de conhecimento estético e mundo em Schopenhauer. Trans/ Form/Ação, Marília, v. 29, n. 2, 2006. Disponible en: <http://www.scielo.br/scielo. php?script=sci_arttext&pid=S0101-31732006000200004&lng=en&nrm=iso>. Acceso en 29/Mayo/2009 a las 14h30 BERIAIN, J. Representaciones Colectivas y Proyecto de Modernidad. Barcelona: Anthropos, 1990. BLANQUEZ, F. A. Diccionario Latino-Español. Español-Latino. V. 2. Barcelona: Ramón Sopema, 2003. CASTORINA, J. A. Las “configuraciones” de los procesos civilizatorios, la “mentalidad histórica” y las “representaciones sociales”. Algunas convergencias y diferencias. X Simpósio Internacional Processo Civilizador, Campinas, 2007. Disponible en: <http:// www.uel.br/grupo-estudo/processoscivilizadores/portugues/sitesanais/anais10/Artigos_ PDF/J_A_CASTORINA.pdf>. Acceso en: 30/ Mayo/2009 a las 22h50. CASTORINA, J. A., y BARREIRO, A. Las representaciones sociales y su horizonte ideológico. Una relación problemática. Boletín de psicología, n. 86, 2006. Disponible en: <http:// dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=2170516>. Acceso en: 31/May/2009 a las 14h30. CHARTIER, R. El mundo como representación. Barcelona: Gedisa, 2005. COMTE-SPONVILLE, A. Diccionario Filosófico. Barcelona: Paidós, 2003. FOULQUIÉ, P.; SAINT-JEAN, R. Diccionario del lenguaje filosófico . Barcelona: Labor, 1967. JIMENEZ, L. N.; ESQUERDA, M. Á. Nuevo tesoro lexicográfico del español. V. 9. Madrid: Arco Libros, 2007. MIGUEL, J. Nuevo Diccionario Latino-Español etimológico. Madrid:Visor Libros, 2000. MORA, J. F. Diccionario de filosofía.V. 4. Bacelona: Ariel S.A., 1994. MOSCOVICI, S. El psicoanálisis, su imagen y su público. Buenos Aires: Huemul S.A., 1979. ROSAL, F. Diccionario etimológico. Alfabeto primero de origen y etimología de todos los vocábulos originales de la lengua castellana. Madrid: Consejo Superior de Investigaciones Científicas, 1992. SAMAMÉ, D. A. Representaciones Sociales de estudiantes peruanos en la universidad española. Alternativa: cuadernos de trabajo social. N. 14, 2006. Disponible en: http:// dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=2755087. Acceso en: 31/May/2009 a las 22h30. 23


Revista de Ciências Humanas e Sociais da FSDB – ANO V, VOLUME X – JULHO – DEZEMBRO 2009

ESTRATEGIA DE CAPACITACION DE DIRECTIVOS EN EQUIPOS DE TRABAJO: COMPONENTES Y ETAPAS DEL PROCESO DE FORMACION DE EQUIPOS María de los Ángeles Linares Borrell1

Alberto Medina León2

Recebido em 30/10/08; Aceito em 18/03/10

RESUMEN La capacitación en equipos es una modalidad de gran impacto en las organizaciones, poco utilizada en las condiciones cubanas. La experiencia que se recoge en este artículo define su aplicación desde el proceso de diseño estratégico con requerimiento de elevada participación. Esto permitió desarrollar una estrategia de capacitación diseñando las acciones para la conformación y trabajo de equipo orientando a soluciones para cumplir los objetivos. Se describen los componentes del modelo y las cuatro etapas del proceso de formación de equipos mostrando las habilidades adquiridas, la utilización de experiencias y conocimientos a partir del reconocimiento de las fortalezas y debilidades para el desempeño, en el orden individual y grupal. Se aprecian incrementos en habilidades de comunicación, cooperación y la socialización de decisiones poco, o nada estructuradas, reforzando el papel de los directivos como formadores y el compromiso de los equipos. Palabras clave: Estrategia. Capacitación. Equipos de trabajo.

ABSTRACT The training in equipment is a form of great impact on organizations, little used in the cuban conditions. The experience that is reflected in this article defines its implementation since the process of strategic design with requirement of high participation. This helped develop a strategy of training designing the actions for de shape and team work María de los Ángeles Linares Borrell es Ingeniera Industrial. Además, es Maestra en Ciencias y Profesora Auxiliar. Se desempeña como Asesora de la Dirección de Capacitación de Cuadros y Estudios de Dirección del Ministerio de Educación Superior. Email: malincu@yahoo.com 2 Alberto Medina León es Doctor en Ciencias y Profesor Titular de la Universidad de Matanzas “Camilo Cienfuegos” 1

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directing to solutions to meet the objectives. Describes the components of the model and the four stages in the process of training teams showing the skill learned, the use of experiences and knowledge on the basis of the recognitions of the strengths and weaknesses in the performance, in the order individual and group. Appreciates increases in communications skill, cooperation and socialization of decisions little or nothing structured, reinforcing the role of managers and trainers and the commitment of the team. Keywords: Strategy. Training. Work team.

INTRODUÇÃO La capacitación y su elemento esencial, el aprendizaje, deben concebirse con la intencionalidad que requieren las organizaciones para lograr los cambios que su diseño estratégico se haya planteado. El envejecimiento de conocimientos, la necesidad de nuevas o mayores habilidades y destrezas que acompañan a la introducción o perfeccionamiento de tecnologías plantea la necesidad de definir estrategias de capacitación que respondan a tales situaciones, para lo cual se diseña la Estrategia de Capacitación en Equipos de Trabajo mediante un proceso de cuatro etapas basado en la formaciónacción y se enfatiza, por su valor práctico y aplicabilidad, el proceso de formación de equipos de trabajo. El reto mayor está en lograr la correspondencia entre la capacitación y el desempeño laboral que se ajuste al cumplimiento de los objetivos, responsabilidad de los directivos a todos los niveles de la organización. La experiencia que se presenta expone los resultados de aplicaciones realizadas en la formación y entrenamiento de equipos en organizaciones cubanas y venezolanas, que han reconocido la asimilación de las habilidades adquiridas y una mayor eficiencia en el trabajo directivo.

1. DESARROLLO Dadas las características del trabajo directivo que requiere un desempeño reconocido como positivo por sus colaboradores, y tiene como base en las condiciones cubanas su rol de formador, resulta imprescindible concebir la estrategia de capacitación con un cambio: de la formación estándar a la formación adaptada a las necesidades de la organización. El proceso de diseño estratégico –punto de partida de la estrategia de capacitaciónsustenta su éxito en la dirección participativa pero luego no mantiene un desarrollo consecuente con este requerimiento. Es para acortar esta brecha que se diseña una estrategia de capacitación que tiene como base el trabajo en equipo para el desempeño de todas las acciones y tiene en cuenta además de las capacidades como su saber y saber hacer, el saber estar mediante las relaciones armoniosas con los colaboradores y entorno general de trabajo. Una alta incidencia tiene en el trabajo de los directivos la toma de decisiones no estructuradas, lo que lo pone frente a un saber hacer no codificado que le hará imprescindible el saber estar con la cooperación de los colaboradores que deben llegar a conformar equipo. 25


Antes de describir cómo puede lograrse la articulación estrategia organizacional– capacitación, se estudiaron diferentes modelos de gestión que sentaron pautas en épocas concretas, en su relación con el contenido, conocimientos y habilidades de los trabajadores, que aparecen en la Tabla 1. Tabla 1. Modelos de gestión y su relación con la capacitación al trabajador. Autores - Modelo de Gestión. F. W. Taylor. Organización Científica del Trabajo. H. Fayol. Funciones.

Gantt. Organización como sistema

M. Weber. La burocracia. E. Mayo. El trabajador opina Herzberg-Maslow. La motivación

Fase actual Drucker, Peters, Porter, Deming, Haley, Goleman

Fiol Ingeniería de la formación

Relación con la capacitación. Instrucciones precisas al trabajador. Autoridad en los mandos superiores. El trabajador forma parte de grupos funcionales. Se requieren diferentes conocimientos y habilidades dentro del grupo. Enseñanza declarada como función esencial. Se requiere el conocimiento del sistema por todos sus miembros. Armonizar intereses administración-trabajadores. Necesidad de habilidades de relación. Énfasis en la necesidad de capacitar. Necesidad de alcanzar alto grado de coherencia en la gestión para lograr la eficacia. Papel fundamental de las reglas y procedimientos normalizados. Concepción mecanicista extrema. Se escuchan opiniones. Autoridad en mandos superiores. Se requieren conocimientos y habilidades y se considera la motivación como creadora de productividad. Importancia de los factores de motivación. Se delega autoridad a niveles más bajos. La formación ocupa el primer plano. La combinación de actitudes, habilidades y conocimientos son la base de la eficacia. Énfasis en el desempeño de personas. Del formador centro al formador tutor Utiliza conocimientos y habilidades de todos Definir la necesidad y evaluar individual y colectivamente

Fuente: Elaboración propia.

La ingeniería de formación desarrollada por Fiol y el énfasis en el desempeño, se avienen con la orientación a resultados colectivos, que combinados con las necesidades individuales sustentan en la base el cumplimiento de los objetivos. La definición de estrategia del Diccionario de la Real Academia Española plantea:Arte, traza para dirigir un asunto. En un proceso regulable conjunto de reglas que aseguran una decisión óptima en cada momento. Sobre la base de este concepto utilizaremos la Estra26


tegia de Capacitación de Equipos de Trabajo, que nos permita seguir la traza de dirección de ese proceso de aprendizaje, contando con la definición de objetivos y programas de acción específicos para equipos de alta dirección. La Estrategia de Capacitación de directivos en equipos requiere: yy Implicación de la alta dirección en la aplicación del trabajo en equipos. yy Crear espacios de capacitación en los ambientes de trabajo. yy Compromiso con la aplicación de los resultados del trabajo en equipo. Los pasos que componen esta estrategia son los siguientes. Paso 1. Definición del Método: Formación-Acción, basado en yy Instaurar un entorno pedagógico permanente en los espacios de trabajo colectivo. yy Definición de proyectos de acción a partir de los cambios planificados. yy Desarrollo de habilidades para el trabajo en equipo y desarrollo individual. Paso 2. Diagnóstico de fortalezas y debilidades para el trabajo en equipo. yy Aplicación de autoevaluación inicial para definir los conocimientos y habilidades individuales y colectivas que deben reforzarse en cada sesión Paso 3. Aplicación del Proceso de Formación de equipos. yy Desarrollo de Proyectos de acción individuales a partir de la actividad laboral y por objetivos de aprendizaje de las sesiones lectivas Los contenidos de los proyectos de acción contienen: Proyectos individuales y colectivos. Situaciones laborales reales. Definición de un resultado en tiempo. Talleres de intercambio con técnicas de trabajo grupal Defensa de proyectos por equipos, considerando el aporte individual. Paso 4. Comprobación de resultados e innovación. yy Aplicación de cuestionario de autoevaluación para el trabajo en equipo al finalizar las acciones de formación. Análisis de la variación en los juicios individuales y consideraciones de carácter colectivo. yy Cambios generados y beneficios para la organización en cuanto a a) Desarrollo de capacidades metodológicas. –– Análisis de problemas en común. –– Análisis de procesos y objetivos inter-áreas. b) Compartir nuevas experiencias. –– Análisis de resultados prácticos de los proyectos de acción. –– Resultados de aplicación de instrumentos técnicos de dirección. –– Análisis y extensión de experiencias compartidas. c) Transferencia y/o multiplicación del conocimiento producto del equipo de trabajo. 27


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Nuevos programas, procedimientos. (inmediato) Acciones de formación ofrecidas a otros colaboradores. (inmediato) Artículos publicados. Presentaciones en eventos sobre resultados obtenidos por el equipo de trabajo. En las aplicaciones realizadas se tomó como base el cumplimiento de la estrategia organizacional y sus objetivos, a través del trabajo colectivo propiciado por la estrategia de formación de equipos, en ambiente de capacitación permanente. Fue utilizado como elemento básico el diseño estratégico de la organización. La Misión, como razón de ser, es el referente para las misiones que enfrentarán los equipos en el cumplimiento de objetivos, procesos, proyectos o tareas, según proceda. La Visión, como estado deseado a futuro orienta hacia el desempeño requerido para los niveles de desarrollo esperados, que los equipos tienen que considerar, desarrollando a sus miembros. Los Valores: constituyen la creencia estable de que una determinada conducta es preferible a su modo opuesto, en su dimensión ética y la cualidad moral asociada a afrontar sin miedo los peligros, o sea, la valentía en su dimensión psicológica, que son las que nos ocupan en este estudio.Todo proceso de aprendizaje debe tenerlos presente y son el eje fundamental de la formación de equipos de trabajo en las organizaciones cubanas. Los valores reconocidos con la mayor frecuencia en la aplicación de la estrategia de capacitación en equipo son: disciplina, trabajo en equipo, compromiso, innovación, motivación. Las áreas de resultados clave son un elemento importante para concebir proyectos a desarrollar por equipos de trabajo, con carácter de resultados integrados. Los objetivos estratégicos y su derivación anual, definirán el alcance de los proyectos de acción asignados a los equipos de trabajo.

2. COMPONENTES Y ETAPAS DEL PROCESO DE FORMACION DE EQUIPOS. La práctica de la formación y el desempeño mediante equipos de trabajo no se encuentra generalizada en nuestro país. Suelen desarrollarse trabajos entre personas individuales, considerar la intervención de colaboradores, pero llegar a convertir los grupos de personas en equipos de trabajo lleva un proceso específico de aprendizaje3 y un conjunto de etapas a desarrollar, como se muestra en la Figura 1., razón por la cual se ha prestado especial atención al desarrollo del Paso 3 de la Estrategia.

En aproximación a Fiol, como modificación del saber, saber hacer y/o saber estar, mediante el compromiso colectivo por los resultados.

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Figura 1. Etapas del Proceso de formación de equipos. Adaptado de J. Malaret.

El contenido de cada una de estas etapas se expresa a continuación: ETAPA 1. COMUNICAR LA VISION Y MISION DEL EQUIPO, SUS OBJETIVOS Y EL ESTILO DE LIDERAZGO QUE SE EMPLEARA 1. Formular la visión del equipo a largo plazo, fundamentalmente para los equipos de alta dirección y los equipos de dirección de procesos o funciones. 2. Formular la misión del equipo. ¿Para qué se crea? Comunicarla permanentemente. 3. Definir los valores del equipo. Deben tener como base los de la organización u otros específicos para la misión del equipo. Es imprescindible definir los modos de actuación asociados a cada valor declarado. 4. Definir los objetivos del equipo. Se formularán de manera comprensible, con lenguaje sencillo y claro, especificando cantidades o cualidades que puedan alcanzarse, sean motivadoras y retadoras, para un periodo no superior a un año. 5. Declarar el estilo de liderazgo deseado sobre la base de los propios objetivos, la tendencia del líder o jefe inicial del grupo y de sus miembros y el escenario donde se desempeñará el equipo. Todos deben saber si se avanza hacia el estilo deseado, ya sea “enfocado a resultados” o a “socializar”. ETAPA 2. PROGRAMA DE ENTRENAMIENTOS INDIVIDUALES Y EN EQUIPO. EL ORGULLO Y COMPROMISO DE GANAR. 1. Negociar individualmente las necesidades de perfeccionamiento de competencias, a partir de las necesidades definidas por la organización. 2. Elaborar plan de formación individualizado para el programa de formación de equipos. Responsabilidad individual por la preparación y cumplimiento. 3. Definir nombre de cada equipo. 4. Declarar los parámetros para evaluar los resultados de desempeño de los equipos. 5. Autoevaluación del cumplimiento de los parámetros, por cada equipo, en todas las sesiones. 6. Estimular los pequeños logros y promover el espíritu de mejora. 29


ETAPA 3. IDENTIFICAR LIDERAZGO DE LOS COLABORADORES, LIDERES INTERMEDIOS O CON “l “ MINÚSCULA4. 1. Revise las fortalezas individuales y ofrezca oportunidades a todos los que tengan características de liderazgo. Puede y debe existir más de un líder con “l” minúscula. 2. Delegue, todos los miembros deben tener responsabilidades precisas, según las tareas. 3. Cree capacidades de aprendizaje y permita que los “l” desempeñen sus roles. 4. Facilite que todos desempeñen el rol de formador, de acuerdo a sus fortalezas, en los espacios de aprendizaje. 5. Analice los elementos del perfil del líder con “l” 5 ETAPA 4. PROCESOS DE ESCUCHA PERMANENTE. 1. Defina claramente los mensajes que quiera emitir. 2. Considere todo tipo de mensaje, verbal o de otra índole. 3. Compruebe la asimilación de los mensajes emitidos en todos los procesos de trabajo diario. 4. Promueva la concentración para la escucha activa. 5. Ofrezca técnicas y entrenamiento para la buena escucha. 6. Comunique y refuerce con entusiasmo todos los elementos de la estrategia, hasta los pequeños triunfos. 7. De a conocer oportunamente las decisiones en sentido vertical y horizontal. 8. Retroalimente para guiar a los miembros a corregir y clarificar mensajes. 9. Analice periódicamente la situación de la comunicación en las áreas. 10. Escuchar, escuchar, escuchar…hasta el lenguaje del silencio. ETAPA 5. ACEPTACION MUTUA DE LOS MIEMBROS Y COMPROMISO CON EL EQUIPO. 1. Identifique claramente los comportamientos admitidos por el equipo -teniendo en cuenta los valores-, para analizarlo respecto a la compatibilidad individual. 2. Analice individualmente las fortalezas y debilidades para el trabajo en equipo. 3. Identifique las fortalezas comunes para el desempeño de los roles requeridos en las diferentes acciones de trabajo. 4. Comprender el contenido de los procesos de negociación: empatía y análisis “sólo” del problema. 5. Maneje criterios de equidad cuando los miembros se involucren en conflictos. 6. Promueva el compromiso por los resultados del equipo y el aporte de cada integrante. La experiencia en la aplicación de este procedimiento6, en organizaciones cubanas y venezolanas, se ha desarrollado bajo las condiciones siguientes:

Definido por Juan Malaret en su Libro Liderazgo con “l” minúscula como personas que son reconocidas como tales por sus compañeros de trabajo y que ejercen influencia en sus conductas y decisiones. En ocasiones los líderes intermedios no ocupan cargos formales en la estructura pero lo habitual es que ejerzan mando en diversos y variados equipos. 5 Aparece en el anexo 1, definido mediante Proyecto de investigación de cuadros en entidades cubanas. 6 En artículo publicado por la autora “ De la formación de grupos a equipos de trabajo docente mediante procesos de comunicación personal. Apuntes sobre la concepción metodológica del proceso”. Revista Ingeniería Industrial Número 2-2008. Instituto Superior Politécnico “José A. Echeverría. La Habana, Cuba. 4

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Grupos de 5-7 personas. Profesores-entrenadores. Sesiones de trabajo conjunto de duración no menor de cuatro horas diarias. Realización de cinco sesiones como mínimo para la fase inicial de cambio de grupos a equipos. Auto preparación diaria y presentación de aplicaciones al desempeño. Elaboración de Proyectos de acción por áreas de desempeño. Autocontrol de la planificación y desarrollo de los cambios individuales y colectivos, en sesiones grupales y plenarias. Evaluación final colectiva sobre la base de parámetros definidos por el grupo general de trabajo. Cumplimiento estricto de las reglas de trabajo en grupo. Se potencian las habilidades de comunicación y negociación en los debates y se comparten expectativas.

Los programas y sesiones de clase-trabajo tienen un fuerte contenido de experiencias propias individuales y experiencia colectiva, que favorece compartir y multiplicar lo aprendido. De esta manera se obtienen los cambios en procesos, procedimientos que llevan a los equipos a resultados cada vez mas orientados a innovaciones7 incrementales. Los indicadores de evaluación de mayor frecuencia, fijados por los grupos iniciales fueron los siguientes, acuerdo al análisis individual de las debilidades para formar equipos: ORGANIZACIONES VENEZOLANAS Calidad del contenido Tributo al equipo Creatividad Ajuste al tiempo

ORGANIZACIONES CUBANAS Disciplina Participación Interpretación hacia la práctica Uso del tiempo Cohesión

A partir de la tercera sesión de trabajo se observa un cambio importante hacia el resultado colectivo, momento en que los grupos van reconociendo el tránsito de etapas. Al finalizar cada sesión se declaran las nuevas cualidades adquiridas por los grupos y la etapa de tránsito alcanzada. Las variaciones se comprueban mediante una encuesta de autoevaluación para el trabajo en equipo que muestra como resultado: Cambios de juicio de valor medio al alto o alto + muy alto en los grados de: 1. Flexibilidad en las ideas. 2. Aliento a la participación. 3. Escucha 4. Aliento al liderazgo compartido. Los elementos con niveles más bajos de cambio respecto al inicio, pero más rápidamente percibidos son: 1. Grado de confianza en otros. 2. Participación grupal. Es la novedad que se introduce en una cosa; modificación o cambio en productos, servicios, procesos

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3. Interés por otros. 4. Prioridad a las necesidades grupales. En la aplicación superior a los dos meses de trabajo se realiza como parte del proceso un control del cumplimiento del objetivo de mejora en el aprendizaje en grupos, aplicando un cuestionario comparativo al inicio y al final de la acción de capacitación grupal cuyo contenido mide los sentimientos respecto al trabajo en grupo. Constituyen resultados alentadores que un rango de 80 -96% de los participantes reconoce contar con fortalezas individuales útiles al equipo, que existe sentimiento de unidad, refieren sentirse parte del equipo, que su ausencia tendría una significación para el colectivo y al compararse con otros, consideran su equipo igual o mejor que la mayoría.

CONCLUSIONES 1. La Estrategia de capacitación para el trabajo en equipo, se basa en la Ingeniería de formación y la aplicación de Proyectos de acción colectivos. 2. Los grupos en que se ha aplicado el proceso llegan a convertirse en equipos de trabajo con habilidades superiores respecto a las condiciones iniciales. 3. Las evaluaciones finales han dado solución a problemas organizacionales de envergadura superior a las expectativas. 4. Los equipos de capacitación muestran habilidades para utilizar sus experiencias, conocimientos y proyectar nuevas necesidades, a partir de la definición de sus fortalezas y la detección de sus áreas críticas de desempeño grupal. 5. Se manifiesta una mejora sustancial de la comunicación y la cooperación y la asimilación de los objetivos socializados de los grupos.

BIBLIOGRAFÍA CODINA, A. 10 Habilidades Directivas ¿Por qué? ¿Para qué? Folletos Gerenciales No.2 Febrero. CCED, MES. Ciudad de La Habana Cuba. 2002. DEMING, E. Calidad, productividad y competitividad. España: Díaz de Santos, 1989. FIOL, M. El proceso de enseñanza-aprendizaje. Diploma Europeo en Administración y Dirección de Empresas. 1995. KATZENBACH, J. Equipos de Alta Dirección. Barcelona: Gestión 2000, 1999. LINARES-BORRELL, M. A. ¿Cómo funciona la Gestión de Recursos Humanos en los Cuadros? Año IV. No.2. Folletos Gerenciales. CCED, MES. Ciudad de La Habana. Cuba. 2000. LINARES, María de los A. De la formación de Grupos equipos de trabajo docente mediante procesos de comunicación personal. Apuntes sobre la concepción metodológica 32


del proceso. Revista Ingeniería Industrial Número 2-2008. Instituto Superior Politécnico “José A. Echeverría. La Habana, Cuba, 2008. MALARET. J. Liderazgo de equipos con entusiasmo estratégico. Madrid: Diaz de Santos, 2003. ______. Arte y Ciencia de dirigir personas con entusiasmo estratégico. Madrid: Colex, 2004. PORTUONDO, A.L Dos herramientas para organizar ideas. Centro Coordinador de Estudios de Dirección. MES. Ciudad de La Habana. Folletos Gerenciales Año II. Número 9 septiembre 1998. ROBBINS, S.; COULTER, M. Administración. 6. Ed. Madrid: Prentice Hall, 2000. ROMERO C. Decisiones multicriterio, Conceptos y Aplicaciones. España: Ed. Díaz de Santos, 1997. SAN MARTÍN, A. El método y las decisiones sobre los medios didácticos. En SANCHO, J. M (coord.). Para una Tecnología Educativa. Barcelona: Horsori, 1994. Anexo 1 Características del líder intermedio en entidades cubanas seleccionadas. Perfil del líder intermedio o con “l” minúscula yy Buen historial profesional, avalado por su competencia8 real demostrada; yy Asume responsabilidades en condiciones de riesgo e incertidumbre, utilizando sus fortalezas; yy Es referente para el equipo por sus fortalezas reconocidas; yy Enfrenta con tenacidad y energía las barreras de los procesos de cambio; yy Transmite entusiasmo y confianza a sus colaboradores; yy Se relaciona con las personas, lo que le permite conocer sus capacidades, habilidades, comportamientos y motivaciones; yy Preferencia por la innovación para mejorar procesos; yy Escucha activamente los temas de trabajo y personales; yy Comunica los objetivos y recibe retroalimentación continua, mediante el trabajo diario; yy Desarrolla el rol de formador de sus colaboradores, comparte sus conocimientos y habilidades en la práctica, en espacios de aprendizaje durante el trabajo; yy Persona íntegra y comprometida con sus compañeros y la organización; yy Reconocida aptitud para lograr cooperación interna; yy Constante interés por la superación profesional personal y de todo el equipo. Definidas en la NC: 3000:2007 del Sistema de Gestión Integrada de Gestión de Capital Humano como: Conjunto sinérgico de conocimientos, habilidades, experiencias, sentimientos, actitudes, motivaciones, características personales y valores, basado en la idoneidad demostrada.

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Revista de Ciências Humanas e Sociais da FSDB – ANO V, VOLUME X – JULHO – DEZEMBRO 2009

CONEXÕES OCULTAS NA TURMA TRÊS DE METODOLOGIA DO ENSINO SUPERIOR: UMA ANÁLISE EXPERIENCIAL Denise Bezerra Rodrigues1

Eliseanne Lima da Silva2

Recebido em 08/02/10; Aceito em 15/03/10

RESUMO Segundo Václav Havel, a educação consiste na capacidade de perceber as conexões ocultas entre os fenômenos. A presente pesquisa se desencadeou de maneira experiencial a partir do fundamento das redes existentes em um ambiente universitário, tendo como objetivo analisar criticamente a turma três de Metodologia do Ensino Superior, bem como as possibilidades de contribuição profissional para a sociedade Amazonense. Além disso, tentamos entrelaçar o pensamento de Fritjof Capra com a vivência acadêmica dos alunos desta turma, nas três dimensões da vida: biológica, cognitiva e social. Ainda na percepção de fenômenos ocultos, o número três é explorado como forma de explicitação para com as inquietações pessoais embasado em Peirce. Palavras-chave: Fenômenos. Três dimensões da vida. Relação triádica.

RESUMEN Según Václav Havel, la educación es la capacidad de percibir las conexiones ocultas entre los fenómenos. Esta investigación se ha disparado de modo de la base de la experiencia de las redes existentes en un entorno universitario, y analizar críticamente la clase tres Metodología de la enseñanza superior, y las posibilidades de contribución profesional a la sociedad Amazonas. Además, tratamos de tejer la idea de Fritjof Capra, con la experiencia académica de los estudiantes en esta clase, las tres dimensiones de la vida: biológico, Arte-educadora, formada pela Universidade Federal do Amazonas. Pós-graduanda em Metodologia do Ensino Superior pela Faculdade Salesiana Dom Bosco. Brasil. bezerra.denise@gmail.com 2 Professora Orientadora. Mestranda pelo Programa de Pós-Graduação em Educação pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM). Especialista em Psicopedagogia e Interdisciplinaridade pelo Centro Universitário Luterano de Manaus (CEULM/ ULBRA). Brasil. eliseanne@bol.com.br 1

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cognitivo y social. Aunque la percepción de los fenómenos ocultos, el número tres es explorado como un modo de explicación de las preocupaciones de personal basada en Peirce. Palabras claves: Fenómenos. Tres dimensiones de la vida. Relación triádica.

1. ABORDAGEM DOS ECOSSISTEMAS EXISTENTES NA TURMA TRÊS DE METODOLOGIA DO ENSINO SUPERIOR Na tentativa de analisar criticamente a vivência na turma três de especialização em Metodologia do Ensino Superior da Faculdade Salesiana Dom Bosco, composta por dezessete alunos, na qual estou inserida, objetivamos no presente artigo a pesquisa sobre as redes existentes em um ambiente universitário e apontar quais contribuições um especialista formado na área de metodologia do ensino superior é capaz de suprir na sociedade a qual está inserido. A ideia de escrever sobre tal tema surgiu devido a fatos particulares que ocorreram nos últimos meses de estudo. Fatos estes que precisavam ser externalizados por meio de linguagem ou de compreensões. Traçado o objetivo da pesquisa partimos para a execução de entrevistas com parte dos professores e alunos da turma três de Metodologia do Ensino Superior. A entrevista era composta por perguntas semi- estruturadas com a finalidade de coletar informações sobre em qual momento a turma foi inserida na instituição, as possíveis contribuições desta turma para com a sociedade Amazonense e o papel que um profissional formado neste curso pode atuar, segundo nossas expectativas. Na busca de resoluções sobre tais problemáticas, relacionamos a turma três de Metodologia do Ensino Superior com a tríade de Pierce e com as três dimensões da vida que Capra conceitua. De acordo com Capra (2005), o pensamento sistêmico e alguns dos conceitos chave de teoria da complexidade3 para desenvolver um arcabouço conceitual interagem em três dimensões da vida: a biológica, a cognitiva e a social. Proponho-me [...] a aplicar também ao domínio social a nova compreensão da vida que nasceu da teoria da complexidade. Para tanto, apresento uma estrutura conceitual que integra as dimensões biológica, cognitiva e social da vida. Meu objetivo não é somente o de oferecer uma visão unificada da vida, da mente e da sociedade, mas também o de desenvolver uma maneira coerente e sistêmica de encarar algumas das questões mais críticas da nossa época (2005, p. 4, 5).

Compreender o fato de que redes existem em qualquer ambiente e observar a variação das mesmas é tarefa complexa. Porém, isso faz parte da vida. No primeiro capítulo A Teoria da Complexidade engloba várias teorias recentes – Teoria do Caos, Fractais, Teoria das Catástrofes, Lógica/Conjuntos Fuzzy (difusos) e outras – procedentes das ciências exatas que se dirigem, explicita ou implicitamente, para uma visão cada vez mais aproximada da realidade, sem simplificação, sem reducionismo.

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do livro As conexões ocultas: ciência para uma vida sustentável Capra (2005) retoma a uma pergunta antiga: O que é a vida? Compreender o processo da mente e da sociedade é compreender a própria vida. Capra segue um pensamento através de teorias físicas que englobam fatores sociais, biológicos e cognitivos. Ao relacionar com a turma, objeto de estudo da pesquisa, observamos a variedade de estilos pessoais, aspectos profissionais e anseios individuais. Nas comunidades humanas, a diversidade étnica e cultural pode exercer o mesmo papel que a biodiversidade exerce num ecossistema [...] Quanto mais complexos forem os padrões de interconexão da rede, mais rapidamente eles poderão se recuperar [...] Todos os sistemas vivos se desenvolvem e todo desenvolvimento envolve aprendizagem (CAPRA, 2006, p. 53,55). As três dimensões da vida: a biológica, a cognitiva e a social que Capra faz referência estão implícitas na turma três de forma real. Pois o grupo formado traz a tona suas expectativas de desenvolvimento, de aprendizagem e contribuições para a sociedade. Talvez esse entrelaçamento das ideias de Capra para com a turma de Metodologia do Ensino Superior aconteça somente entre algumas mentes. Porém, uma vez que esta turma passa por um processo de autocriação é notório seu aspecto biossocial e consequentemente implicações significativas para com o meio em que cada um desses alunos está inserido e atuando. É essa a chave da definição sistêmica da vida: as redes vivas criam ou recriam a si mesmas continuamente mediante a transformação ou a substituição dos seus componentes. Dessa maneira, sofrem mudanças estruturais contínuas ao mesmo tempo que preservam seus padrões de organização, que sempre se assemelham a teias. A dinâmica da autogeração foi identificada como uma das características fundamentais da vida pelos biólogos Humberto Maturana e Francisco Varela, que lhe deram o nome de “autopoiese” (literalmente, “autocriação”). O conceito de autopoiese associa as duas características que definem a vida celular mencionadas anteriormente: o limite físico e a rede metabólica. Ao contrário das superfícies dos cristais ou das macromoléculas, o limite de um sistema autopoiético é quimicamente distinto do restante do sistema, e participa dos processos metabólicos por constituir a si mesmo e por filtrar seletivamente as moléculas que entram e saem do sistema. A definição do sistema vivo como uma rede autopoiética significa que o fenômeno da vida tem de ser compreendido como uma propriedade do sistema como um todo (CAPRA, 2005, p.13, grifo do autor).

O conjunto de alunos, e todos os seus aspectos, é que forma a turma três de Metodologia. Para melhor compreensão exemplifiquemos com situações reais, baseadas nesta turma. Em aproximadamente quatorze meses, dezessete pessoas estiveram em contato presencial uns com os outros. Como em todo grupo, há exposição de ideias, entendimentos, sentimentalismos e conflitos. Portanto, tornou-se a turma três especifica, singular, onde as resoluções para inquietações da turma tornaram-se visíveis. Talvez sejamos seres evoluídos4, ou apenas detentores de ideias atípicas das usuais. A turma ingressou na área educacional por livre escolha e por experiências colaterais. Continuando o processo de autocriação que segundo Capra (2005), a autopoiese5 De acordo com Jean Baptiste Lamarck, a evolução biológica consiste de mudanças em indivíduos de uma população as quais são transmitidas de uma geração a outra. Esse processo resulta, ao longo do tempo, no aparecimento de novas raças e novas espécies. O termo autopoiese, criado por Maturana e Varela, designa o processo pelo quais os seres vivos são considerados como

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nos fornece um critério claro e poderoso para estabelecermos a distinção entre sistemas vivos e sistemas não-vivos. Portanto, a turma se enquadra num sistema vivo, de pensar e agir que só é possível entre seres vivos. Maturana e Varela, que são anteriores a Capra, exemplificam: se uma célula interage com uma molécula X, incorporando-a a seus processos, o que ocorre como consequência dessa interação é determinado não pelas propriedades da molécula X, mas pelo modo com que essa molécula é “vista” ou tomada pela célula quando esta a incorpora em sua dinâmica autopoiética. As mudanças que ocorrem nela como consequência dessa interação serão determinadas por sua própria estrutura como unidade celular. Portanto, na medida em que a organização autopoiética determina a fenomenologia biológica ao conceber os seres vivos como unidades autônomas, um fenômeno biológico será qualquer fenômeno que envolva a autopoiese de pelo menos um ser vivo (Maturana e Varela, 1995,p.92, grifo do autor).

Em meados do curso6 ocorreram situações significativas para o processo de aprendizagem. Uma delas merece destaque maior, que foi a abordagem de um aluno com um professor sobre a validade de estudo específico para qual o curso oportunizara. A presente pesquisa não tem a pretensão de julgar quaisquer ideias e sim de apresentar concepções de um aluno para com o estudo em questão e de um professor, que na sua concepção, oportunizou um processo de aprendizagem. O fato é que houve concepções de emoções e de comportamentos. A percepção dessas conexões ocultas é que fazem o processo se tornar educativo. O pensar e agir são formas de vivências, nós somos seres humanos por isso pensamos e questionamos. A ideia central da teoria de Santiago é a identificação da cognição, o processo de conhecimento, com o processo do viver. Segundo Maturana e Varela, a cognição é a atividade que garante a autogeração e a autoperpetuação das redes vivas. Em outras palavras, é o próprio processo da vida. A atividade organizadora dos sistemas vivos, em todos os níveis de vida, é uma atividade mental (CAPRA, 2005, p.31).

Segundo Capra (2005), as emoções e comportamentos7 são parte do processo de cognição e, portanto intimamente ligada a autopoiese. E para Matura e Varela (1995) a cognição é a atividade que garante a autogeração de redes vivas. Pode-se concluir que a turma fez desse processo de conhecimento uma organização significativa, já que apontaram para o crescimento profissional nas áreas em que atuam. Sabe-se que parte da turma assume, hoje, cargos de chefia e de dedicação exclusiva no serviço público federal e dão continuidade aos estudos e pesquisas em áreas de nível maior que o de especialização. sistemas e se autoproduzem. Também conhecida como Teoria de Santiago. Especialização em Metodologia do Ensino Superior T3 da Faculdade Salesiana, na cidade de Manaus. 7 Quando você dá um pontapé numa pedra, por exemplo, ela reage ao pontapé de acordo com uma cadeia linear de causa e efeito. Seu comportamento pode ser calculado por uma simples aplicação das leis básicas da mecânica newtoniana. Quando você dá um pontapé num cachorro, a situação é totalmente diferente. Ele reage ao pontapé com mudanças estruturais que dependem da sua própria natureza e do seu padrão (não-linear) de organização. Em geral, o comportamento resultante é imprevisível. (CAPRA, 2005, p.32). 6

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A turma três, que forma uma rede viva, contribui assim para com o crescimento cognitivo coletivo. Já que, segundo Capra (2005) as redes vivas criam ou recriam a si mesmas continuamente mediante a transformação ou a substituição dos seus componentes. Essas transformações implicam em processo de viver e em uma atividade mental. De acordo com as entrevistas aplicadas para uma parte dos alunos da turma três, foi considerável o aproveitamento do curso. Uma vez que o profissional formado na área poderá atuar de forma segura, sem medo, no ensino de nível superior. Enfatizam a disciplina Avaliação do Ensino Superior8 como sendo parte satisfatória do processo, já que a disciplina norteou como o processo de avaliação é tão quanto importante para o processo de ensino como um todo. A maior parte dos alunos ainda vê a necessidade de caminhar em busca de novas perspectivas, mas ainda sim acredita que nos quatorzes meses constituíram uma turma dinâmica, participativa e que se estabeleceu uma relação de amizade além de profissional. O educar se constitui no processo em que a criança ou o adulto convive com o outro e, ao conviver com o outro, se transforma espontaneamente, de maneira que seu modo de viver se faz progressivamente mais congruente com o do outro no espaço de convivência (MATURANA, s/d).

De acordo com Matura a educação é um processo de convivência entre um e outro, isso faz com que nós nos transformemos. Com base na entrevista, observamos as expectativas de parte dos alunos da turma. Tanto no primeiro momento, antes de começar o curso. Quanto no segundo momento, ao começar, e no decorrer das aulas. E no ultimo momento que é ao final do processo, e exposição dos resultados. Em uma analogia entre a tríade pierciana,9 abordaremos a seguir esses momentos.

2. INQUIETAÇÕES DA TURMA TRÊS E O NÚMERO TRÊS NUMA ABORDAGEM TRIÁDICA A turma três tem essa numerologia pelo fato da mesma ser a terceira turma oferecida do curso de especialização em Metodologia do Ensino Superior. Esse número representa nos trabalhos de Peirce10 (1972) as tricotomias do signo11 e as categorias triádicas: Primeiridade, Secundidade e Terceiridade. Para Peirce (1972), todo pensamento é um signo, assim como o próprio homem. Santaella (2000) diz que precisamos ler os signos com a mesma naturalidade com que respiramos, com a mesma prontidão que reagimos ao perigo e com a mesma profundidade que meditamos. Ao pensar e relacionar a turma três com o número três que Pierce e Capra têm indicado observamos uma relação de representações. O antecipar do início das aulas Disciplina ministrada pela Professora Mestre em Educação Lúcia Maia. Relação com as categorias fenomenológicas proposta por Charles Sanders Peirce, a saber: primeiridade, secundidade e terceiridade. 10 Charles Sanders Peirce (1830-1914) nasceu em Cambridge. Foi o fundador do Pragmatismo e da ciência dos signos, a Semiótica. 11 Hipoteticamente, a palavra signo, através do latim “signum”, vem do étimo grego secnom, raiz do verbo “cortar”, “extrair uma parte de” (naquele idioma) e que deu, em português, por exemplo, secção, seccionar, sectário, seita e, possivelmente, século (em espanhol, “siglo”) e sigla. Do derivado latino são numerosas, e expressivas, as palavras que se compuseram em nossa língua: sinal, sina, sino, senha, sineta, insígnia, insigne, desígnio, desenho, aceno, significar etc. (PIGNATARI, 1977, p. 25) 8 9

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(primeiridade/biológico), o início e decorrer das aulas (secundidade/cognitivo) e o final do processo, talvez do resultado por escrito como, por exemplo, esta pesquisa (terceiridade/social). Mesmo que uma ou outra apareça de forma predominante, todas elas estão presentes no processo. Peirce chegou a três elementos gerais e indecomponíveis de todos os fenômenos: Qualidade, Relação e Representação. Deu-se aí o nascimento de suas categorias universais que iriam desempenhar o papel fundamental no desenvolvimento e na estruturação de seu pensamento lógico e filosófico (SANTAELLA, 2004, p. 29). Pierce (1990) convida-nos a refletir sobre suas categorias: A primeiridade seria algo que é aquilo, sem referência qualquer, uma impressão total não analisada. A secundidade define a instância das coisas, revelando ao mesmo tempo algo interior e exterior. Já na terceiridade, o signo é um objeto que se relaciona com o próprio objeto, pode-se dizer que as outras duas categorias são implícitas nesta última.

A turma relata que no primeiro momento, considerado como primeiridade, conhecer o desconhecido foi a primeira impressão/pergunta/dúvida, com sensações vagas sobre o quê ou como seria o curso. Já no segundo momento, ao iniciar as aulas e decorrer do curso, considerando como secundidade, o impacto com as aulas e novas relações interpessoais foram relatadas como significativas em todo o processo do curso. E ao final, considerado como terceiridade, os resultados alcançados e compreensão. A turma se mostra ainda em processo.Talvez alguns, ou todos, ainda estejam na secundidade em processo de conflito, de esforço. Tentando externalizar o interior. Retomando a entrevista realizada com parte da turma, parte dos alunos relata que na primeiridade as expectativas eram de como seriam as pessoas, as aulas e o decorrer do curso, e outra parte relata que se sentiram despreparados profissionalmente antes de todo o processo, remetidos pela intuição. Na secundidade, o desejo de realizar um bom trabalho fez com que a turma se destacasse significativamente, alcançando sensivelmente resultados positivos. Podemos exemplificar, mais uma vez, o fato de alguns alunos terem saído em meados do curso, por motivos de homologação em concursos federais. Já na terceiridade, a turma em processo de secundidade indo a terceiridade vê a necessidade de busca pessoal para o crescimento profissional. Assim obtendo um entendimento maior e consciente a cerca do que o curso oportuniza, ou oportunizará, para a turma três que concluiu o curso de especialização em Metodologia do Ensino Superior na instituição citada.

CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao iniciar a pesquisa me indaguei sobre os dois teóricos que abordaria. Qual a relação entre Capra e Pierce? Ainda movida por incertezas, busquei em Morin respostas para tais perguntas. Os conceitos viajam e vale a mais que viajem, sabendo que viajam. É melhor que não viajem clandestinamente. E também é bom que viajem sem serem detectados pelos fiscais da alfândega. Com efeito, a circulação clandestina dos conceitos tem, apesar de tudo, permitido às disciplinas evitarem a as-

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fixia e o engarrafamento. A ciência estaria totalmente engarrafada se os conceitos não migrassem clandestinamente (MORIN, 1995, p.169).

Como disse Morin, vivemos rodeados de conceitos e compartilhar um pouco de cada um é válido para a aprendizagem. Afinal, somos seres em constantes transformações e vivemos em um mundo assim. A pesquisa inicialmente foi um meio de desabafo pessoal, contudo o decorrer do estudo mostrou o quanto é significativo pensar sobre a vida, a sociedade, as coisas. O resultado dessa tentativa foi uma produtiva analogia entre a tríade conceitual peirceana e as emoções, conexões ocultas, do alunado para com professores e a si mesmo. Dividida em dois tópicos o artigo se estruturou de forma estética, perceptiva e não verbal, apesar da escrita ser uma forma verbal. Pois, no primeiro momento a expectativa era externalizar por meio de algo. Já no segundo momento era estruturar de forma entendível o artigo, e a levar o leitor a perceber um significado. E no terceiro momento é de refletir sobre a postura inicial do artigo e concluir, de forma crítica, a postura da turma para com o curso de Metodologia do Ensino Superior e quais as contribuições que a turma levará para a sociedade Amazonense, a partir do estudo no curso de especialização citado anteriormente. Para finalizar deixamos um poema de Fernando Pessoa (1888-1935) como forma de responder aos objetivos que traçamos inicialmente: Valeu a pena? Tudo vale a pena Se a alma não é pequena. Quem quer passar além do Bojador Tem que passar além da dor. O poema faz perceber, de forma estética, as emoções e momentos aos quais passamos. Antes de iniciar o curso (primeiridade/biológico), no decorrer dele (secundidade/ cognitivo) e ao seu final (terceiridade/social). Explicita, também, as particularidades da turma para com possíveis problemáticas que possam ter surgido ao longo do processo.

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Revista de Ciências Humanas e Sociais da FSDB – ANO V, VOLUME X – JULHO – DEZEMBRO 2009

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: ALGO VITAL NA PRESERVAÇÃO DO PLANETA TERRA Raimunda Lemos Coelho1

Maria Auxiliadora de Souza Ruiz 2

Recebido em 05/01/10; Aceito em 15/03/10

RESUMO O presente artigo é resultado de um estudo inicial sobre a problemática na relação do homem com o meio ambiente. Apresentamos uma análise histórica do desenvolvimento sustentável. Nós, enquanto cidadãos responsáveis pela preservação do planeta, afirmamos que este tipo de desenvolvimento é necessário, sob penalidade de legar às futuras gerações sérios problemas ambientais e socioeconômicos. Enfatizamos a história das civilizações e a sua capacidade de aprender com a natureza para a sua sobrevivência. A abordagem que propomos para a relação entre sociedade e meio ambiente tem os seguintes aspectos: culturas, técnicas, educação e ambiente e desenvolvimento sustentável. Objetivamos, convergirmos este estudo para uma melhor compreensão do paradigma atual do desenvolvimento sustentável. Palavras-chave: Desenvolvimento. Culturas. Técnicas. Educação e Meio Ambiente.

ABSTRACT The present article is resulted of an initial study on the problem in the man’s relationship with the environment. We presented a historical analysis of the maintainable development. Us while responsible citizens for the preservation of the planet affirmed that this development type is necessary, under penalty of delegating the future generations serious environmental problems and socioeconomics. It pays that the history of the civi 1 Académica do curso de Mestrado em Educação Stricto Sensu da Universidad de Los Pueblos de Europa. Consórcio Universitário Euroamericano - CESCON – Centro de Estudos Contemporâneos. Local de Trabalho. SEDUC. País.Brasil. E-mail. raimundalemos@hotmail.com 2 Doutora em Ciências da Educação pela “Université de Verssilles Saint – Quentin – em Yvelines – França”. Local de Trabalho Universidade do Amazonas. UEA.País Brasil. E-mail. auxiliaoraruiz@msn.com 1

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lizations and its capacity to learn with the nature for its survival. The approach that we propose for the relationship between society and environment, has the following aspects: cultures, techniques, education and atmosphere and maintainable development. We objectified, we converge this study for a better understanding of the current paradigm of the maintainable development. Keywords: Development. Cultures. Techniques. Education and environment.

INTRODUÇÃO O presente trabalho tem por objetivo apresentar as conclusões extraídas da pesquisa que tem como tema. “Desenvolvimento Sustentável: Algo Vital na Preservação do Planeta Terra”. Politicamente, o desenvolvimento sustentável deveria reforçar a ideia de uma união para com um objetivo comum de salvaguardar o planeta e promover equitativa e duradoura de um mesmo mundo. Argumentos esses que foram esclarecidos no relatório Brundtland e na conferência do Rio de Janeiro como um desejo de traçar os modos de uma distribuição mais equitativa das riquezas. O desenvolvimento sustentável tornou-se um referencial de mobilização cívica, no âmbito de um projeto comum para todos os países, em teoria. Na prática, é uma situação oposta que se reforça com o propósito de crescimento das desigualdades em detrimento dos países mais pobres e das classes sociais mais necessitadas. A globalização dos processos econômicos aumenta a competição econômica em situações muito diferentes, com benefícios de rentabilidade econômica em curto prazo e reforçando os empreendimentos das grandes empresas transnacionais. As políticas mundiais de desenvolvimento sustentável, pelo fato de serem apoiadas por instituições comprometidas em todos os aspectos da mundialização, são bastante limitada nos seus efeitos. Os cientistas continuam divididos sobre essa questão, estando eles mesmos dependentes de organizações que teceram o duplo processo de globalização econômica e científica. A nossa contribuição para as pesquisas sobre o desenvolvimento sustentável apresentada neste artigo é um pouco atípica: nós não projetaremos cenários de tendências futuras, mas faremos uma retrospectiva antropológica e histórica analisando como as sociedades humanas construíram as suas relações com o ambiente, mais exatamente a natureza. Em seguida, estudaremos o processo que possibilitou a diferenciação das culturas através das tecnologias, a ponto de algumas que priorizaram o desenvolvimento econômico baseado em um modelo tecnológico exacerbado, estarem em processo de destruição do nosso planeta, em detrimento de construção dos meios necessários a sua preservação. A história das civilizações e de sua capacidade de apreender a natureza para a sua sobrevivência indica-nos que certas relações tecnológicas têm orientado definitivamente as suas relações com o ambiente. Propomos que a educação e, em particular, as escolas formais ou informais, públicas ou privadas, representando o lugar privilegiado das aprendizagens coletivas, tenha um papel primordial na prevenção, na formação e na sensibilização das jovens gerações a interculturalidade e ao processo de desenvolvimento sustentável. 43


A educação diferenciada indígena na Amazônia pode constituir-se como base de um ensino que prepare e encontre-se ancorado nesta dialética entre culturas e conhecimentos. Por isto faz-se necessário o seu reconhecimento institucional para que se construam articulações concretas entre os povos indígenas e as elites intelectuais e científicas, desdobrando-se numa dialética entre biodiversidade, desenvolvimento sustentável, economia e política. Para nós o desenvolvimento sustentável é efetivamente um projeto de sociedade universal que tem por base uma multi-referencialidade sociocultural, e se a escola é efetivamente o lugar por excelência destas aprendizagens, é premente que se façam modificações estruturais nos programas escolares e disciplinares nas escolas e nas universidades de todos os países. Nesse contexto exposto supra mencionado abordaremos os aspectos: Culturas, técnicas, educação e ambiente. Numa abordagem histórica do desenvolvimento sustentável. Para realizar esta pesquisa estabelecemos os seguintes objetivos: Investigar a interação na relação homem e meio ambiente; a relação interpessoal entre civilização, sociedade e natureza e a importância do desenvolvimento sustentável para a preservação do planeta.

DESENVOLVIMENTO Culturas – o homem, assim como todos os animais, age sobre a natureza com o objetivo de obter alimento, abrigo e proteção para si e para o seu grupo, ou melhor, para satisfazer necessidades. A diferencia é que o homem pensa, reflete sobre sua ação: planeja, inventa, prevê resultados. Com isso, cria conhecimento e desenvolve a cultura. A marcha desenfreada das sociedades e civilizações em busca de progresso e desenvolvimento da ciência, da razão e da técnica, culminou nessa grande crise considerada como planetária. Podemos notar efeitos positivos que o desenvolvimento trouxe ao mundo moderno, entretanto, é preciso que se questionem também seus efeitos colaterais que fizeram com que o ser humano se tornasse, de certa forma, uma espécie automatizada, seres individualistas, egocêntricos se que, gradativamente, perdem a noção de solidariedade (SANTOS, 2008, P.17).

Nos primórdios da humanidade, o homem pouco modificava a natureza, pois vivia da coleta, do acaçá e da pesca. Era muito subordinado às condições naturais, a tal ponto que em geral era nômade, pois andava de um lugar para o outro à procura dos meios pares sua sobrevivência. Com o surgimento da agricultura e da pecuária, por ocasião da chamada revolução neolítica, o homem deixou de ser nômades, pois se fixou a terra e, assim, tornou-se sedentário. Com isso, apropriou-se da natureza, passando a utilizá-la de acordo com seus interesses. Deste então, a natureza tem sido cada vez mais modificada em suas condições originais. Em sua ação o homem derruba floresta e semeia lavouras, remove morros e abre túneis, aterra enseadas e constrói cidades. Ao se diversificar e intensificar, a ação humana exige um saber cada vez maior sobre a natureza, tanto em relação aos elementos que a constituem quanto aos mecanismos do seu funcionamento. 44


A crise ambiental do século XX é uma crise planetária, uma crise de conhecimento e de formas de conhecimento; um desafio à interpretação do mundo. O resultado dessa forma de conhecimento científico, e sua aplicação tecnológica, nesta ultima etapa da História da humanidade, tem feito com que a aceleração e a intensidade da pressão das ações antrópicas venha ser semelhante a depreciação por conhecer os efeitos globais de tais atuações (SANTOS, 2008, p.18).

Daí o avanço do conhecimento, que por sua vez, alimenta a ideia-plantada desde a apropriação-de domínio do homem sobre a natureza. Hoje em dia, essa ideia está consagrada pela maioria das pessoas, pois predomina entre nós uma concepção de mundo na qual homem e natureza estão desvinculados um do outro, absolutamente separados e contra-postos. O homem, dotado de inteligência, é capaz de dominar a natureza para dela retirar tudo o que necessita. Por sua vez, como simples fonte de recursos, a natureza oferece a todos os elementos necessários à sobrevivência do homem. Quanto mais complexo fica a economia, mais o trabalho individual torna-se insuficiente para responder às necessidades gerais do próprio indivíduo. A divisão social do trabalho faz com que a tarefa individual seja só uma pequena parcela do processo de reprodução geral da sociedade. Na tribo indígena, toda a divisão do trabalho é visivelmente percebida por todos, o que é impossível, por exemplo, na nossa sociedade, particularmente nas grandes cidades. Hoje não se fala mais somente em pastores e agricultores; existem pedreiros, motoristas, médicos, advogados, professores.Etc (MOREIRA, 2007, p.11).

Nesse sentido o homem cria seus costumes, seus hábitos, sua própria cultura, voltada para sua realidade, seja nos aspectos: moral, social, econômico, político, cultural etc. A cultura é a herança social de uma comunidade humana, representada pelo acervo coparticipado de modos padronizados de adaptação à natureza para provimento da subsistência, de normas e instituições reguladoras das relações sociais e de corpos de saber, de valores e de crenças com que seus membros explicam sua experiência, exprimem sua criatividade artística e a motivam para a ação. Assim concebida, a cultura é uma ordem particular de fenômenos que tem de característico sua natureza de réplica conceitual da realidade, transmissível simbolicamente de geração a geração, na forma de uma tradição que provê modos de existência, formas de organização e meios de expressão a uma comunidade humana. Nesse sentido, qualquer sociedade possui uma cultura, desde as de nível tribal, até as sociedades nacionais modernas. Para pensar as sociedades humanas, a antropologia preocupa-se em detalhar, tanto quanto possível, os humanos que as compõem e como elas se relacionam, seus aspectos físicos, na sua relação com a natureza e sua especificidade cultural. Para determinada sociedade antiga, ou mesmo para algumas culturas ainda existentes, a natureza é fonte de vida, mas não somente para fornecer recursos diretamente para a subsistência humana. Para elas, a natureza apresenta-se sacralizada, o que significa que tais povos moldaram sua cultura e sua ideia da religião a partir dos elementos naturais. Sem dúvida a natureza é um patrimônio comum da humanidade, pois é a fonte de vida para todos os homens (MOREIRA, 2007, p.10). 45


Para a Antropologia o conceito de cultura abrange as diversas dimensões: universo psíquico, os mitos, os costumes, rituais, suas histórias peculiares, a linguagem, valores, suas leis, relações de parentescos, etc. Embora o estudo das sociedades humanas remonta na antiguidade clássica, a antropologia nasceu, como efetivamente da grande revolução cultural, iniciada no Iluminismo. O objetivo da análise cultural consiste na interpretação das práticas sociais, introduzidas ou produzidas pelas estruturas, e na consideração do impacto das percepções e das representações culturais em diversos grupos de actores sociais e das suas diferentes possibilidades de intervenção. A expansão cultural ocidental teve um papel relevante no desenvolvimento dos processos agrícolas. Constituem exemplos deste empreendimento econômico: as pilhagens no período colonial; a exploração intensiva a custos aviltantes com a destruição dos recursos naturais (fósseis, minerais, florestais, recursos marinhos e o patrimônio genético) que continua a ameaçar a existência de várias populações dos países periféricos; as condições desiguais do comércio mundial que privilegia a exportação (FREITAS, 2003, p.16).

Assim, nesta perspectiva, importa analisar o lugar do sistema cultural no sistema social mais amplo e estudar o significado dos modelos e das competências culturais dos diversos actores sociais em relação às suas possibilidades de ação, ou seja, às possibilidades de certos grupos sociais dominarem ou não o seu próprio futuro. E de melhor compreender e dominarem o os elementos sociais, determinantes e reguladores da prática social e que definem os efeitos estruturais que se referem às condições as características e a compreensões do sistema social global, num determinado contexto social, econômico, tecnológico e político. Técnicas – as intervenções na natureza e as consequentes modificações nela introduzidas dependem das técnicas empregadas pelo homem. Por sua vez, a técnica, isto é, o modo de fazer algo, envolve os instrumentos de trabalho a serem usados na ação. Instrumentos simples, como o machado e o arado, propiciam alterações modestas na natureza. Instrumentos aperfeiçoados, como a motosserra e o trator, causam modificações mais expressivas no ambiente natural. Movidos por interesses ou impelido por alguma necessidade, o homem pode conceber novas técnicas e construir novos instrumentos, tendo em vista aumentar o rendimento do seu trabalho. A partir do século XI, o feudalismo começou a enfrentar crises de produção. Não conseguindo obter uma produção de alimentos que atendesse as suas necessidades, muitas servos e vilãs fugiram, em busca de garantir sua subsistência, instalando-se em áreas de terras desprezadas pelos senhores feudais (ADAS, 2000, p.15).

Assim na Europa, por exemplo, na Idade Média, diante da necessidade de aumentar a produtividade e das constantes crises advindas da falta de alimentos, foram promovidas importantes inovações técnicas: adoção de novo mecanismo de tracionar o arado, prática da rotação trienal de cultivos e difusão do moinho de água, conhecido desde a antiguidade. Geralmente as inovações técnicas trazem novos problemas ao homem, representando novos desafios e a necessidade de resolvê-lo. Disso resulta a evolução da técnica, ou seja, a sucessão de novas formulações do fazer humano. 46


Aos poucos, os instrumentos de trabalho tornam-se mais complexos e, em muitos casos, deixam de ser prolongamentos das mãos do homem para se constituírem em verdadeiras próteses impostas a natureza. Assim, por exemplo, para obter a força hidráulica necessária ao funcionamento das turbinas de uma usina hidrelétrica, o homem represa as águas de um rio, criando um lago e uma queda-d-água artificiais. Portanto, as inovações técnicas e o consequente aperfeiçoamento dos instrumentos de trabalho imprimem progresso aos mecanismos de apropriação da natureza, o que significa maiores modificações e domínios mais intensos sobre o mundo natural. O modo de produção feudal foi, então, gradativamente substituído pelo modo de produção capitalista e as relações servis de produção pelas relações assalariadas de produção.O mercantilismo tornou-se doutrina econômica dos Estados nacionais. A preocupação, agora, era ampliar cada vez mais o comércio (ADAS, 2000, p.16).

A tecnologia representa o conjunto de meios combinados para produzir os gêneros alimentícios, obter as matérias-primas para criar os instrumentos e os produtos manufaturados que nos cercam. Essas técnicas pré-industriais são mobilizadas por lógicas socioculturais, ancorados em sistemas de redes complexos, os interesses globais na economia moderna. A implantação de políticas energéticas e de tecnologias de desenvolvimento alternativas, auto-sustentadas, não têm sido efetivadas com a rapidez necessária para deter o quadro de degradação dos principais ecossistemas mundiais. Concebido e implantado tendo como fundamento o consumo exacerbado e o uso contínuo dos recursos naturais, o modelo de desenvolvimento industrial e tecnológico dos países hegemônicos resultou numa degradação ambiental que põe em risco a futura existência de vida na terra. A poluição rural e urbana, as chuvas ácidas e o efeito estufam, o inadequado uso das águas, solos e atmosfera, as desestabilizações dos ciclos de calor, hidrológico e biogeoquímicos próprios dos processos atmosféricos, são problemas com impactos sem âmbito regional e global e que afetam as sociedades e os processos econômicos de todos os povos. Tanto a quantidade como a qualidade das águas sofre alterações em decorrências de causas naturais ou antrópicas. Entre as causas naturais que alteram o clima e, consequentemente, a disponibilidade de água, destacam-se as flutuações sazonais com período de um ano e outras com ciclos de médio e longo prazo, tais como o El Niõ e os períodos glaciais, além de outras variações climáticas naturais (ALDO, 2006, p.39).

O crescimento da pobreza agrava esse quadro ecológico complexo, dificultando a projeção de cenários mais aproximados e ajustados às realidades futuras. As consequências dessas projeções no futuro da humanidade ainda são imprevisíveis. A despeito das atuais políticas de proteção da natureza, o processo de deterioração da biodiversidade mundial agrava-se em velocidade crescente. Destacam-se como as principais causas: o uso inadequado e as crescentes poluições dos solos, águas e atmosfera; a superexploração comercial de algumas espécies; a introdução de espécies predatórias em determinados ecossistemas; a intensificação da agricultura; o re-ordenamento dos territórios e as variações climáticas globais. 47


O inventário sobre a biodiversidade mundial projeta que já foram identificadas cerca de 1,75 milhão de espécies na Terra; do número de espécies existente no planeta, a maioria nos oceanos e nas regiões tropicais, com mais de 50% delas residindo na Amazônia pan-americana, na África central, no sudeste da Ásia e parte da Austrália. O planejamento e gestão de recursos hídricos dependem de informações confiáveis tanto no que diz respeito a demanda como à oferta de água. Essa ultima só poderá ser adequadamente estimada se existirem redes de monitoramento que gerem dados sobre variáveis que indiquem a quantidade disponível que indiquem a quantidade disponível e a respectiva qualidade de água (ALDO, 2006, p.46).

E com um agravante: a contínua ocupação desordenada e uso inadequado das regiões tropicais têm provocado uma perda de floresta numa taxa em torno de 0,8% a 2,0% ao ano. Para esta projeção os especialistas estimam uma perda de até 16 milhões de populações genéticas por ano, ou de outra forma, a perda de uma população em cada 2 segundos. Diversos outros fatores também contribuem para esse processo, dentre os quais: o acelerado crescimento demográfico; as políticas de desenvolvimento econômico nãoadaptadas e não integradas às realidades ambientais locais e regionais; a não-regulamentação dos direitos de acesso aos recursos naturais, e à insuficiência de conhecimentos científicos sobre as dinâmicas ecológicas regionais e planetárias. A exploração intensiva dos recursos da natureza, com o desenvolvimento da agricultura, desencadeou um conjunto de processos socioeconômicos, entrelaçados entre si, que põe a ecologia como um emblema dos cenários políticos que estavam por vir. O homem tem operado sobre os produtos orgânicos ou sobre as mátrias minerais, alterando-os por aplicações de uma energia mecânica ou impondo-lhes transformações químicas. As propriedades das matérias que o homem utiliza para fabricar instrumentos ou objetos são modificadas sob a ação do calor. A química como toda a ciência, não é nada mágico ou superior, reservado para mentes brilhantes. Nem tão pouco existe uma receita mirabolante para se aprender ou fazer ciência, algo como mito do fantástico “método cientifico”, que os cientistas seguem como uma maquininha de fazer leis e teorias (MATEUS, 2008, p.10).

Os metais derretem, as argilas se transformam em produtos cerâmicos; diversas reações químicas manifestam-se durante o processo de mistura de dois corpos: os minérios reduzidos dão origem a metais que ficam maleáveis e podem ser deformados, soldados ou modelados se forem aquecidos até a fusão. As possibilidades de operar e transformar o meio são alterados quando o homem dispõe de instrumentos que se tornam realmente eficientes, apenas quando são feitos a partir de materiais resistentes e mais duros que aqueles que vão ser trabalhados. Os progressos das técnicas do fogo pela passagem a temperaturas cada vez mais elevadas permitem passar da metalurgia do cobre ou do bronze a do ferro. O desenvolvimento de novos materiais passa, igualmente, pela invenção de compostos ou produtos de síntese, próprios de processos químicos. Enquanto o conhecimento transmitido localmente por imitação, acumulava-se, impulsionando e sofisticando o pro48


cesso de produção, a produção dos materiais necessários para a construção de diferentes instrumentos e máquinas. A concepção de domínio do homem sobre a natureza, bem como a aceleração e difusão das inovações técnicas, teve como marco fundamental o surgimento do capitalismo, nos séculos XV e XVI. “Os cientistas que trabalham com um determinado assunto desenvolvem uma linguagem específica, pois querem descrever aquilo que observam de maneira clara, para que outras pessoas interessadas compreendam” (MATEUS, 2008, p.15). Antes do capitalismo, a economia era basicamente de subsistência; as atividades de compra e venda eram pouco desenvolvidas. Os produtos, artesanalmente fabricados, destinava-se sobre tudo à utilização direta do homem. Na maior parte dos casos, não possuíam valor de troca, mas apenas valor de uso. Educação e Ambiente - a educação, começando pelo ensino primário ao superior, é talvez o lugar privilegiado para favorecer a mudança de mentalidades, de práticas e representações relativas ao desenvolvimento sustentável e a interculturalidade. A interculturalidade e o desenvolvimento sustentável estão fortemente entrelaçados: o respeito ao outro não pode ser separado do ambiente. Daí a relevância que a teoria cientifica adquire para o conhecimento do processo educacional e para sustentação técnica das práticas pedagógicas. E daí decorre também a tendência a se atribuir à filosofia da educação, como suas tarefas fundamentais, a justificação epistemológica do empreendimento educativo e a defesa da utilização dos recursos técnicos-cientifícos para a boa condução dos processos pedagógicos. Assim sendo, não é sem razão que as primeiras expressões culturais da filosofia da educação, após o longo predomínio das pressuposições da educação (SEVERINO, 2008, p. 289).

Para construir sociedade mais justa e mais acolhedora, onde o espírito de competição não seja exacerbado, é necessário assegurar que os nossos descendentes disporão de recursos suficientes. A escola representa o lugar privilegiado de aprendizagens coletivas. Assimetrias sociais e a grande inércia dos processos econômicos contribuem para que a educação mantenha-se refém de modelos de desenvolvimentos desnudados de historicidades, entretanto, as múltiplas possibilidades de interlocuções que esses mesmos processos de educação podem incorporar nesses modelos, contribuem para a transfiguração e ruptura de alguns de seus alicerces. Durante muito tempo, os elementos naturais foram predominantes no espaço e o ambiente de vida do homem era, então, o meio natural. A partir do século XVI, com o surgimento do capitalismo, as técnicas foram pouco a pouco se desenvolvendo e, com elas, a natureza apropriada ficava cada vez mais transformada. Nesta tradição de valorização da autonomia subjetiva, a educação é sempre encarada como um investimento feito pelos sujeitos, dos recursos da exterioridade, com vistas ao desenvolvimento de sua interioridade subjetiva. A educação identifica-se então como o próprio método do conhecimento, como o exercício da vivência da consciência, uma vez que se educar é aprender-se cada vez mais como tal (SEVERINO, 2008, p.29).

No século XIX, com a intensificação da revolução industrial, aceleraram-se as inovações técnicas, com as quais as transformações da natureza atingiriam tal intensidade que 49


o espaço produzido acabou sendo um meio técnico. No século XX, notadamente em sua segunda metade, o processo histórico-social assumiu características que deram nova conformação ao ambiente de vida dos homens. A ciência, particularmente a pesquisa, tanto pura quanto, sobretudo aplicada, é posta cada vez mais a serviço da descoberta de novas técnicas, quase exclusivamente voltadas para a produção: a tecnologia-ciência das técnica-floresce como nunca. Boa parte dos compostos que hoje são estudados pela química orgânica sempre teve presente nas histórias da humanidade: a queima da madeira (combustão orgânica) já era feita pelo homem pré-histórico; antes de Cristo, a humanidade já produzia bebidas alcoólicas, vinagre, corantes etc.; os alquimistas do século XVI, procurando o “elixir da longa vida”, obtiveram muitos extratos vegetais a partir dessa época, as técnicas de “extrair”, isto é, retirar compostos já prontos de vegetais e de animais, foram sendo aperfeiçoadas (FELTRE, 2004, p.25).

De modo geral, a ciência direciona-se para o setor produtivo: produção de agrotóxicos, armas, remédios, brinquedos e um sem-número de bens nem sempre necessários à vida humana. Em suma, ciência e técnica jamais estiveram tão interligadas como agora o pragmatismo cientifico dirigindo a inteligência humana. Fomentada por uma verdadeira corrida tecnológica e objetivando uma acumulação de riqueza, a produção diversifica-se extraordinariamente, e os bens produzidos, inclusive os instrumentos de trabalho, tornam-se obsoletos em prazo cada vez mais curto, impondo sua substituição por outros mais “modernos”. Isso ocasiona um consumo maior de recursos natural, reforçado pela visão cada vez mais profunda da natureza como manancial à disposição dos homens. O resultado desse modo de pensar, enraizado na cultura do lucro, na ideia de desenvolvimento a qualquer preço e no consumo de massa, tem sido a degradação das paisagens do planeta. Como efeitos da degradação ambiental, urge a desagregação dos ecossistemas naturais, somada ao consumo excessivo dos recursos naturais não-renováveis, à perda da biodiversidade e da diversidade cultural, aos conflitos advindos da má distribuição ecológica do patrimônio natural e material, produzindo riqueza e pobreza (FELTRE, 2004, p.12).

Quanto mais a natureza é usada às vezes, esgotada e, não raro, destruída em alguns lugares, mais artificializado torna-se o espaço produzido pelos homens, ou seja, a relação do homem com a natureza passa a ser medida pelas conquistas da técnica alimentada pela ciência.Isso acontece principalmente nas grandes cidades, que materializam no espaço o melhor modelo do atual estágio da civilização. Desenvolvimento sustentável – vivemos num mundo profundamente dividido e incerto. O conceito de desenvolvimento sustentável, em suas múltiplas fontes e origens, põe-se como uma maneira de superar essas divisões ou pelo menos um propenso a reduzir estas tensões. O desenvolvimento sustentável configura-se como uma vontade de reconciliar o local e o planetário, ele aprende a natureza como recurso e como sistema, incorpora-se. O tempo curto das necessidades imediatas e o tempo longo das gerações pode ter efeito amplo e variado porque nos obriga a articular entre si problemas isolados, e a instrumentalizar medidas socioeconômicas referentes a várias escalas e sociedades. 50


O cotidiano educativo deve privilegiar atividades em que o aluno possa exercitar habilidades de argumentação, participação, criatividade, liderança democrática, através de relações interativas na óptica de cooperação, respeito e solidariedade. É fundamental que o aluno aprenda a interagir no grupo, participando das atividades, socializando dúvidas, problematizando, democratizando informações, criticando e recriando o espaço de vivência, examinando, ponderando e duvidando dos conhecimentos instituídos, produzindo ideias e promovendo sua autonomia (MARTINI, 2005, p.17).

Ele também se apresenta como um modo heurístico político sobre o qual nós ainda não temos manejo. É um conceito ambíguo, no sentido que ele põe em causa o desenvolvimento e legítima o questiona a ciência e clama por mais tecnologia.Atualmente já existem bons programas de gestão sustentável, como é o caso da gestão das florestas na Europa. Ela é orientada para a reprodução em longo prazo de recurso renovável, mas também para uma exigência produtiva, econômica, além de propiciar uma certa rentabilidade na exploração. Graças a um sistema complexo de gestão que compartilha florestas privadas e públicas, tem-se o asseguramento de uma gestão diferenciada do espaço.Além disso, revelamse outras funções como a satisfação dos residentes, caminhantes, a conciliação da proteção da fauna e da caça. Nos tempos da floresta, destacam-se os tempos longos de reprodução das árvores. Esta gestão sustentável apresenta um custo que não pode ser negligenciado pelas nossas sociedades, por que a floresta representa pouco em termos econômicos e em empregos. Fazemos o sustentável, mas separando a floresta das forças socioeconômicas, limitando a sua produtividade e reservando-a a alguns. Plantar custa carro e envolve ricos de toda ordem; se não há diretrizes capazes de assegurar ao produtor uma rentabilidade que compense o trabalho e o investimento aplicados na terra, para ele é preferível deixá-la ociosa, valorizando-se com o tempo. A fragilidade das políticas disseminou essa preferência entre os proprietários rurais, e vastas áreas de florestas públicas e privadas cultiváveis transformaram-se em fontes de especulação financeira (SILVA, 2005, p.9).

Tempo curto de exploração para as necessidades imediatas. A floresta é então um mundo comum porque liga e compartilha a multiplicidade das naturezas e das culturas que coexistem. Como o fazer de uma floresta tropical. Um bem comum entre os que afirmam a sua proteção por razões locais de sobrevivência das comunidades locais ou globais, serviços ambientais tais como: Fixação de carbono e produção de oxigênio, estabilidade climática e os que se posicionam por razões analógicas a exploração imediata ou a valorização dos recursos naturais no mercado internacional. O conceito de desenvolvimento sustentável, objeto de reflexão no presente e, certamente no futuro, pode constituir-se não uma solução, mas em um método que banalizará a reflexão e a justificativa de escolhas. O modelo de desenvolvimento agrícola adotado atualmente em boa parte dos países do mundo tem levado a ocupação de áreas territoriais cada vez maiores com lavouras monoculturas e pastagens para a criação de gado. Como consequência desencadeou-se uma série de problemas ambientais

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ligados, sobretudo, à exaustão do solo, à proliferação de pragas e à poluição das águas e, mais recentemente, à introdução dos organismos geneticamente modificados em diversos ecossistemas (BOLIGIAN, 2007,p.223).

Esta capacidade de comunicar-se e aceder aos conhecimentos que se tornam ainda mais rapidamente universais nos conduzem pensar. O universal ou global ligando ao local ou ao nacional e, por conseguinte, refletir sobre conceitos também fundamentais como o desenvolvimento sustentável. O que se pode alterar com o desenvolvimento sustentável é, com efeito, a nossa relação com o tempo e o espaço, a nossa maneira de definir os parâmetros do mundo no qual vivemos. Na concepção prevalecente, o tempo é linear, vai do mínimo ao maxímo, num momento de progresso incontestável. A segurança, o homem moderno encontra na mudança a inovação e nas trocas sempre renovadas e intensificadas.O desenvolvimento sustentável re-introduz uma ambiguidade: O progresso pode ser ao mesmo tempo, origem de uma vida melhor e destruição irreversível.O conceito de desenvolvimento sustentável nos conduz a soldar o tempo do progresso, da inovação técnica e da troca comercial quase instantânea ao tempo da estabilidade, o tempo extrínseco ao que se deve conservar. Este conceito abrange o conjunto das forças produtivas (homem+instrumentos de trabalho) e das relações de produção existentes numa dada sociedade num certo período histórico. Pelo modo de produção de uma sociedade é possível conhecer sua totalidade social, ou seja, sua organização e estrutura. Ao longo da história das sociedades humanas, podem ser verificados vários modos de produção: o comunismo primitivo, o asiático, o escravista, o feudal, o capitalista e o socialista (ADAS, 2008, p.6).

A problemática do desenvolvimento sustentável nos remete, necessariamente, à produção científica e tecnológica e, portanto, ao papel e à responsabilidade dos pesquisadores e dos professores, porque a produção científica não é somente produção de um mundo através dos múltiplos objetos e representações que dele decorrem. O desenvolvimento sustentável poderá, por conseguinte, adquirir um real estatuto quando introduz uma real ambivalência na nossa maneira de considerar a produção de conhecimentos, quando possibilita o debate sobre as prioridades e os desafios do conhecimento.

CONSIDERAÇÕES Os estudiosos e especialistas em educação sempre estiveram preocupados com os métodos eficazes do processo ensino-aprendizagem.As políticas mundiais de desenvolvimento sustentável, pelo fato de serem apoiadas por instituições comprometidas em todos os aspectos da mundialização, são bastante limitadas nos seus efeitos. Os cientistas continuam divididos sobre esta questão, estando eles mesmos dependentes de organizações que teceram o duplo processo de globalização econômica e científica. Podemos perceber que as teorias da educação, não críticas e críticas, reprodutivistas colocavam o professor ora como centro do processo ora como facilitador do mesmo, sendo que em ambos sua prática influencia no desempenho do educando. 52


Daí, nota-se que o papel do professor é essencial no processo educativo, principalmente quando vai além, ultrapassando a simples transmissão do conhecimento e preparando-se para incorporar no processo educativo a experiência de vida e de conhecimento que o aluno traz a sala de aula no momento que o mestre realiza a prática da docência, contribuindo para que o mesmo possa progredir a partir da relação deste com sua própria realidade. Nesse contexto, cria as condições e os meios para que os alunos desenvolvam capacidades e habilidades intelectuais de modo que dominem métodos de estudos e de trabalho intelectual visando a sua autonomia no processo de aprendizagem e independência de pensamento. Consideramos que, nesse processo de reconhecimento do processo educativo, verifica-se que há um distanciamento do ideal da educação que é a formação moral e intelectual do indivíduo.

REFERÊNCIAS ARRUDA, Maria Lúcia. MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando. São Paulo: Moderna, 2002. BOLIGIAN, Levan. ALVES, Andresa. Geografia, Espaço e Vivência. São Paulo: Atual, 2007. BOFF, Leonardo. Desafios Ética-sociais da Ecologia. In: Ética da Vida. Brasília: Ed. Letrativa, 2000. BOFF, Leonardo. “Cuidado: O Ethos do Humano”. In: Saber Cuidar: Ética do Humana – Compaixão pela Terra. Petropólis: Ed.Vozes, 2001. FREITAS, Maurício. (Org.) Amazônia dos Problemas e o Problema da Amazônia. Manaus:Valer, 2003. FELTRE, Ricardo. Química Orgânica. São Paulo: Moderna, 2004. MARTINI, Alice. ANASTÁCIA, Carla Maria. FILHO, João Bernardo da Silva. GAUDIO. Ciências Humanas e suas Tecnologias. História e Geografia. São Paulo: IBEP, 2005. MATEUS, Aldo Luis. Química na Cabeça, Experiências Espetaculares para você fazer em casa ou na Escola. Belo Horizonte: UFMG, 2008. MELHEM, Adas, Sergio. Panorama Geográfico do Brasil. Contradições, Impasses e desafios sócios espaciais. São Paulo: Moderna, 2000. MOREIRA, Igo. Geografia, Geografia Geral e do Brasil. 1ª edição. São Paulo: Editora Ática, 2007.

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PELISSOLI, M.L. Corrente da ética ambiental. Petrópolis:Vozes, 2003. ROCHA, Aldo da C.BRAGA, Benedito.TUNDISI, José Galizia. Água Doce no Brasil. Capital Ecológica, Uso e Conservação. São Paulo: Estrituras, 2006. SANTOS, Elizabeth da Conceição. Transversalidade e Áreas. Convencionais. Manaus:Valer, 2008. SEVERINO, Antonio Joaquim. A filosofia da Educação no Brasil: Esboço de Uma Trajetória. São Paulo: UFMG, 2008. SILVA,Vagner Augusto. Geografia do Brasil e Geral – Povo e Territórios. São Paulo: Escola Educacional, 2005.

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Revista de Ciências Humanas e Sociais da FSDB – ANO V, VOLUME X – JULHO – DEZEMBRO 2009

O ENSINO DE CIÊNCIAS A PARTIR DE PRÁTICAS SIGNIFICATIVAS EM SALA DE AULA Dayse Peixoto Maia1 Recebido em 08/12/09; Aceito em 15/04/10

RESUMO É de aceitação geral o fato do ensino de ciências eficaz necessitar respaldar-se em atividades práticas, por essa disciplina ser marcadamente experimental, não podendo ser desenvolvida apenas de forma teórica, mas preferencialmente apoiada em um conjunto de atividades que induzem ou aprimorem os conhecimentos anteriormente já adquiridos pelos alunos; entretanto uma série de fatores fazem com que esse procedimento seja relegado a um segundo plano, quando não abolido em definitivo das atividades escolares. Este trabalho apresenta como proposta para o ensino de ciências algo que não é novo, mas que também não é de fácil execução: o ensino fundamentado em atividades práticas simples que dispensem a presença de laboratório e materiais dispendiosos, uma vez que estes não correspondem à realidade das escolas públicas em Manaus. O critério posto é o da motivação e da criatividade do professor que, a partir de um planejamento meticuloso e, fazendo uso de estratégias e metodologias embasadas na Aprendizagem Significativa, deve proporcionar o ensino de ciências, fazendo ciências; uma vez que a nova informação a ser “aprendida” será mais facilmente absorvida pela estrutura cognitiva do aluno se encontrar nesta um ponto de referência no qual se ancore, tornando-se mais facilmente assimilável e compreensível. Método: IDC. Palavras-chave: Ensino de ciências. Estratégias. Atividades práticas.

ABSTRACT It is general acceptance of the fact of the teaching of science require effective support themselves in practice activities, for that discipline be highly experimental, could not be Mestranda em Ensino de Ciências pela Universidade do Estado do Amazonas, licenciada em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Amazonas.Com experiência docente em Biologia no Ensino Médio e séries finais do Ensino Fundamental. (e-mail: daysepeixotomaia@gmail.com)

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developed only in a theoretical, but preferably supported in a range of activities that induce or enhance the knowledge previously already acquired by the students, however a number of factors are such that this will be relegated to a second tier, if not definitively abolished in school activities.This work presents as proposed for the teaching of science something that is not new but that is also not easy to implement: the teaching activities based on simple practices that provide the presence of laboratory and expensive materials, as they do not correspond to reality the public schools in Manaus. The criterion post is the motivation and creativity of the teacher that, from a planning and meticulous, making use of strategies and methodologies based on the Learning Significant, should provide the teaching of science, making science, since the new information be “learned” will be more easily absorbed by the structure of student learning is this a point of reference which supports, becoming more easily assimilated and understandable. Method: IDC. Keywords: Teaching of science. Strategies. Practice activities.

INTRODUÇÃO Das muitas dificuldades que perpassam o ensino de ciências, uma das mais apontadas por estudantes e professores é a quase inexistência de aulas práticas que viabilizem a elucidação e a fixação dos conteúdos propostos, muitas vezes até perfeitamente trabalhados em seus aspectos teóricos, porém carentes dessas atividades que possibilitem sua completa assimilação. Muitas justificativas são apontadas como explicação plausível a esta característica do ensino de ciências no Brasil; sabemos entretanto que, por mais que sejam procedentes, a motivação do professor pode fazer toda a diferença no processo de ensino aprendizagem, inclusive promovendo motivação para os alunos que, estando aptos a acompanhar uma atividade experimental, podem dela tirar suas próprias conclusões, resignificando-as e assimilando-as, já que o objetivo principal do ensino de ciências deve ser o de levá-los a pensar nas coisas que os envolvem em seu cotidiano, inter relacionando-o com o conteúdo aprendido. Este trabalho propõe uma atitude docente embasada no planejamento prévio e cuidadoso de uma estratégia e de uma metodologia correspondente que viabilizem práticas simples porém eficientes, que dispensem inclusive a existência de laboratório como único ambiente capaz de propiciar experimentações escolares, já que na realidade amazônica, a maior parte de nossas instituições de ensino, não o possuem. Como fundamentação teórica, nos respaldamos na Aprendizagem Significativa de David Ausubel, que pressupõe o ensino a partir do conhecimento prévio do aluno, sendo este critério, segundo o autor, o mais importante para que a aprendizagem ocorra de forma satisfatória (AUSUBEL, 1979). Esta proposta para a otimização do ensino de ciências não é algo desconhecido ou de tão difícil aplicabilidade no contexto educacional. Não se ensina ciências, fazendo ciências em sala de aula, pela ausência de princípios que norteiem a atuação pedagógica, como a não valorização de materiais e circunstâncias simples, mas capazes de induzir o conhecimento, a não inclusão ativa do aluno como sujeito da aprendizagem participativa e principalmente, a não diversidade de estratégias e metodologias de ensino que devem variar de acordo com as características de cada turma. A somatória desses fatores produz muitas vezes uma atuação pedagógica centrada no livro didático, desprovida da reflexão de outros autores, portanto sem uma 56


análise semântica mais ampla que possa minimizar erros contextuais ou teóricos, uma vez que o conhecimento é algo a ser construído e não apresentado pronto, sendo as verdades nas ciências, não absolutas ou imutáveis.

1. DESENVOLVIMENTO O presente trabalho propõe que o ensino de ciências dê-se a partir de uma estratégia pedagógica que sugira metodologias para atividades práticas, aplicadas a partir da teoria da aprendizagem significativa e articuladas por um planejamento que englobe a criatividade do professor e a motivação dos alunos. Analisando os elementos aqui propostos, observo que, segundo Kalhil (2003), estratégia pedagógica é aquela que engloba as estratégias de ensino, de aprendizagem e didática, perfazendo um conjunto completo de representações de atividades cognitivas, dentro do âmbito educacional que levam aos objetivos pré-estabelecidos, permitindo aos alunos aprender a aprender, portanto apresentamos como estratégia pedagógica: estimular a curiosidade dos alunos induzindo uma discussão a partir dos conhecimentos prévios destes, viabilizando condições que permitam a eles compreender o conteúdo apresentado, através de atividades práticas planejadas que possam promover ou reforçar conhecimentos trabalhados na teoria. Por ser uma conduta de origem psicocognitiva, a estratégia reflete todo o conhecimento didático-pedagógico do professor, sendo a origem organizacional de todo seu planejamento e subsequente execução docente. Quanto à metodologia a proposta é fundamentada no método de trabalho independente, pois partimos do principio de que a atuação direta, criativa e quase independente do aluno garante a aplicação de habilidades intrínsecas a ele, minimizando a interferência do professor, durante a execução da atividade proposta. A técnica mais apropriada e a da investigação e solução de problema por apresentar elementos que se coadunam com a experimentação científica e por, Não visar apenas à aplicação de conhecimentos a situações da vida prática, favorece o desenvolvimento das capacidades criadoras e incentiva a atitude de participação dos alunos na problemática que afeta a vida coletiva e estimula o comportamento crítico perante os fatos da realidade social. Libâneo (1994).

Quando se fizer necessário, é possível a complementação com o método de elaboração conjunta, através da conversação didática, para eliminar possíveis dúvidas ou distorções surgidas durante o processo. Este método também se aplica por sua característica pedagógica-didática de partir de um pré-suposto conhecimento anterior do aluno, exatamente como na aprendizagem significativa de Ausubel, que pressupõe o ensino a partir do conhecimento prévio do estudante, sendo o novo conteúdo ancorado na estrutura cognitiva dele, de forma a resignificar e ampliar o anterior. A aprendizagem significativa pode auxiliar consideravelmente o processo de ensino aprendizagem, se o professor proceder a estes critérios simples e anteriores a seu planejamento, obtendo resultados bastante satisfatórios: yy Organizar o conteúdo a ser ministrado apresentando-o de forma sequencial, partindo dos aspectos mais abrangentes e gerais até os mais específicos e restritos. 57


Essa organização dos conceitos a serem apresentados é importante, pois permitirá ao aluno associar o que está sendo apresentado com informações que já possui em sua estrutura cognitiva; yy Reconhecer quais subsunçores o estudante dispõe, “subsunçor é um conceito, uma ideia, uma proposição já existente na estrutura cognitiva , capaz de servir de “ancoradouro” a uma nova informação de modo que esta adquira significado para o indivíduo” (MOREIRA, 2006, p.15) ou seja, identificar sua estrutura cognitiva através de entrevistas, testes ou outros meios que facilitem diagnosticar o que ele já sabe; yy Promover a aprendizagem de forma que o aluno possa associar o que lhe é apresentado com informações que já possui, facilitando assim a aquisição de uma estrutura conceitual significante. Para se viabilizar boas aulas de ciências é necessário muito mais que elementos materiais (laboratório, vidrarias, reagentes e instrumentos) e o domínio de técnicas e recursos. A motivação aliada à criatividade do professor são os requisitos indispensáveis à diferenciação qualitativa do ensino. A partir dessas características intrínsecas, o docente pode ter, perante si, uma infinidade de possibilidades estratégicas e metodológicas que poderão implementar uma verdadeira aprendizagem desenvolvedora atingindo muito mais que aspectos cognitivos, perpassando à formação de sentimentos, atitudes e valores. A motivação é, portanto, o elemento primeiro de uma série que promove atitudes desejáveis e necessárias à otimização do processo de ensino aprendizagem. Ela é notória no professor que deseja mais que cumprir seu planejamento curricular, requerendo esforço, persistência e direção, necessitando, portanto, que se desprenda energia para alcançá-la. A criatividade entra nesse processo como suporte material à motivação, uma vez que, sendo ilimitada assim como o pensamento humano, possibilita a implementação de atividades práticas e recursos de ensino simples e eficientes, não dependentes de suporte financeiro ou aparatos materiais anteriormente já discutidos, e muitas vezes utilizados como desculpas para uma atividade docente bitolada na teoria livresca. O que estamos a defender é que não só muitos experimentos, mas também uma infinidade de propostas práticas podem e devem ser realizadas com segurança, economia e rapidez, em qualquer lugar, mesmo em uma sala de aula comum de uma escola com poucos recursos materiais, como são as que constituem a maioria da rede pública em Manaus. O diferencial que irá contar como significante para o aluno parte de sua atuação ao utilizar suas capacidades sensoriais e cognitivas, na percepção do que lhe está sendo proposto. O fazer – interação dos sentidos com a mente é primordial para o compreender. Outra atitude fundamental do docente é a da auto-confiança no processo como um todo. Alguns não utilizam sua criatividade, receosos de algo fugir a seu controle, em uma analogia ente a atuação do cientista e do professor, temos que: O cientista não age ao acaso: ele planeja seu trabalho, sabe o que procura e como deve proceder para encontrar o que almeja. É evidente que este planejamento não exclui, totalmente, o imprevisto ou o acaso; entretanto, prevendo sua possibilidade, o cientista trata de aproveitar a interferência do acaso, quando este ocorre ou é deliberadamente provocado, com a finalidade de submetê-lo a controle (LAKATOS, 2006, p.36)

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Devemos explicar aos alunos que muitas descobertas surgiram de desvios experimentais. A perseverança em insistir e a humildade para iniciar novamente são características básicas tanto de um cientista quanto de um professor. A utilização de materiais simples e em pouca quantidade permite aos alunos realizar inúmeras experiências e refazê-las quantas vezes forem necessárias, construindo assim sua aprendizagem não somente pelo acerto, mas pelo erro também. Quanto à formulação e utilização de recursos de ensino ou de atividades lúdicas, consideramos que a apresentação visual facilita na apreensão do conteúdo, e que sua escolha deve ser orientada a partir dos objetivos definidos e das características da matéria a ser estudada.

1.1 Proposta metodológica Consideramos importante propormos uma atividade prática que exemplifique uma postura pedagógica desejável para o ensino de ciências. Primeiramente, e partindo da estratégia pedagógica já descrita anteriormente, assim como dos demais pressupostos teóricos abordados, criamos um recurso visual a partir de materiais simples (revistas usadas, tesoura, cola e papel cartão), para ser aplicado em uma aula de ciências, da sétima série do ensino fundamental; o conteúdo abordado é a classificação dos mamíferos quanto às suas ordens. Foram confeccionados três conjuntos de fichas, o primeiro contendo fotografias de mamíferos de cada ordem, o segundo, um pequeno texto com características referentes a elas, e o terceiro com o nome científico e exemplos de cada uma. Para melhor aproveitamento do tempo disponível, pode-se preparar vários conjuntos de fotografias e de textos e organizar os estudantes em pequenos grupos. Como o conteúdo proposto finaliza o estudo dos mamíferos, os alunos já devem conhecem suas principais características além daquelas por eles identificadas anteriormente (conhecimento prévio). Esta coletânea de informações anteriores são os subsunçores onde o novo conteúdo (ordens dos mamíferos) será ancorado através da aprendizagem significativa. O professor distribui em cada grupo, as fichas com as fotografias e com os textos que descrevem as ordens, de forma aleatória e pede que individualmente os estudantes relacionem ambas, registrando por escrito suas elaborações pessoais. A técnica empregada é a da investigação e solução de problema. Quando todos concluírem suas observações e anotações, o professor passa do método do trabalho independente para o da elaboração conjunta, através da conversação didática, com a finalidade de permitir que os alunos argumentem sobre as associações feitas, justificando-as ou corrigindo-as quando necessário; então apresenta as fichas com os nomes científicos das ordens e outros exemplos além dos visualizados nas fotografias. Dessa forma espera-se que o aluno aprenda por associação significativa e não por memorização, o conteúdo proposto. Ao final do processo o professor avalia a aprendizagem através da formulação de perguntas sobre características de cada ordem. O que se busca é obter respostas pensadas sobre as relações estabelecidas. As fichas com as fotografias podem ser utilizadas em outras atividades e conteúdos como ecologia e meio ambiente e respondem com facilidade à inviabilidade de se levar para sala de aula, espécimes vivos ou mesmo empalhados.

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CONCLUSÃO A proposta apresentada é a que os conteúdos ministrados no ensino de ciências sejam, sempre que possível, trabalhados sob forma de atividades práticas em sala de aula, para que os alunos possam construir ou reconstruir seus próprios conceitos e conclusões a partir de suas elaborações e inferências mentais, já que, segundo Piletti (1990), as concretizações ou práticas conduzem a abstrações e consequente teorização. A aprendizagem assim adquirida é significante porque se respalda no conhecimento anterior articulado com aquilo que o aluno está produzindo e consequentemente abstraindo a partir de uma determinada atividade. A confecção de material concreto, assim como a aplicação de atividades lúdicas ou experimentais, no ensino de ciências, pode a princípio parecer trabalhosa para o professor, mas acreditamos que quando efetivamente adotada permitirá maior independência do livro didático e uma melhora qualitativa no processo de ensino aprendizagem, advindo da multiplicidade de estratégias e metodologias utilizadas em sala de aula, sendo a construção prática do conhecimento científico uma tendência mundial no ensino de ciências, que necessita ser implementada em nossas escolas, para a obtenção de melhores resultados que visem não a registros estatísticos, mas à interação social e do conhecimento, conduzindo o aluno a uma reconstrução pessoal, intelectual e consequentemente cidadã de sua atuação enquanto sujeito da aprendizagem, o que segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (MEC, 1988) deve ser o objetivo maior do ensino público brasileiro.

REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Educação (MEC), Secretaria da Educação Média e Tecnológica (Semtec). Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio. Brasília: MEC/ SEMTEC,1999. KALHIL, J. B. Estrategia pedagógica para el desarrollo de habilidades investigativas en la disciplina física de ciências técnicas. Havana, 2003. p. 34 LAKATOS, E. M., MARCONI, M. A. Metodologia científica. 5ª edição. São Paulo: Atlas, 2007. p. 36 LIBÂNEO, J. C. Didática. São Paulo: Cortez, 1994. p. 166 MOREIRA, M. A. A teoria da aprendizagem significativa e sua implementação em sala de aula. Brasília: Editora UnB, 2006. p. 15 PILETTI, C. Didática geral. 20ª edição. São Paulo: Ática, 1990.

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Revista de Ciências Humanas e Sociais da FSDB – ANO V, VOLUME X – JULHO – DEZEMBRO 2009

ATENDIMENTO AO CLIENTE E A QUALIDADE DOS SERVIÇOS CONTÁBEIS NA CIDADE DE MANAUS Gracicleide A. Assunção de Oliveira1

Sandra Elaine Siqueira Corrêa2

Recebido em 04/01/10; Aceito em 18/03/10

RESUMO O presente artigo tem como objeto de estudo o atendimento ao cliente e a avaliação da qualidade dos serviços contábeis. Em meio ao grande número de empresas prestadoras destes serviços, a qualidade dos mesmos torna-se essencial para que os escritórios contábeis continuem fortes no mercado competitivo e aumentem seu campo de atuação. Demonstra-se, ao longo deste artigo, diversas formas de se prestar um serviço com qualidade, que serão um diferencial para esses escritórios. Fundamenta-se o trabalho sob dois aspectos: o embasamento teórico e uma pesquisa de campo realizada nos Escritórios Contábeis com o intuito de avaliar a qualidade do atendimento e dos serviços oferecidos. Palavras-chave: Atendimento. Qualidade. Cliente. Satisfação e Serviços Contábeis.

ABSTRACT This article aims to study the Customer Care and evaluating the quality of accounting services. Among the large number of companies providing these services, their quality is essential for the accounting offices remain strong in the competitive market and increase their field. It is shown throughout this article, several ways to provide a quality service, which will be a plus for these offices. It is based on the work in two aspects: the theoretical and field research in the Accounting Office in order to assess the quality of care and services. Keywords: Customer. Quality. Customer. Satisfaction and Financial Services. Acadêmica de Ciências Contábeis da Faculdade Salesiana Dom Bosco – gracicleide_assuncao@hotmail.com Professora mestranda. Orientadora do TCC. Ministra aula na Faculdade Dom Bosco – sandra@fsdb.edu.br

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INTRODUÇÃO Do ponto de vista econômico, estamos vivendo num mundo globalizado onde a concorrência é acirrada e crescente, os produtos/serviços por sua vez estão cada vez mais parecidos, são fáceis de copiar, os preços estão cada dia mais competitivo e a qualidade tornou-se fator de sobrevivência do produto no mercado. Na era da informação, a busca dos clientes pela empresa está sendo decidida pela forma do atendimento percebido ou recebido por ela, evidente que de acordo com seu objetivo de desempenho (rapidez, credibilidade, confiabilidade, segurança, qualidade) deve estar sempre embutido na qualidade do atendimento. O serviço de qualidade não só é uma eficiente ferramenta de “venda”, mas também uma vantagem competitiva em longo prazo. De fato, numa economia de mercado em que muitas organizações fornecem essencialmente o mesmo serviço, muitas vezes ele é o único diferencial de vantagem competitiva disponível para a organização. Dentre os serviços prestados ao cliente, o atendimento destaca-se de modo especial, como um forte instrumento de diferenciação. Um fantástico atendimento ao cliente é uma forma de diferenciar-se da “mesmice” dos produtos e serviços, Almeida (2001, p.87). A partir dessa problemática, desenvolveu-se a presente pesquisa buscando respostas para a seguinte questão: Como o atendimento ao cliente pode agregar vantagem econômica e competitiva no mercado? Tendo como objetivos identificar o processo de atendimento ao cliente em escritórios contábeis e avaliar o atendimento de forma diferenciada dispensada aos clientes do escritório, realizou-se então este estudo, que teve por base o referencial teórico existente sobre o assunto usando como ferramenta o Marketing e uma pesquisa de campo através de um questionário nos escritórios, realizada com profissionais contábeis da cidade de Manaus.

1. ATENDIMENTO AO CLIENTE Atendimento ao cliente é um assunto que interessa a todos. Pode-se dizer que é um tema relevante, dada a sua abrangência e o seu significado. É um tema relevante porque interessa a alguém que vai em busca de atendimento como cliente, logo precisa ser visto com muito cuidado por quem pretende executar esse serviço. É abrangente porque diz respeito a todo procedimento que envolve compra e venda de produtos e de serviços, suas variantes de efetivação e de cancelamento de negócio. É significativo, porque, em virtude de ser o atendimento a grande chave na hora de negociar ou de manter os negócios já efetivados, acaba por determinar o sucesso ou o fracasso da pessoa ou organização que não soube manipular essa ferramenta. O que o cliente quer ou o que ele espera é um atendimento sério, respeitoso, esclarecedor. Em suma, o cliente quer um atendimento de qualidade, lógico, dentro dos limites e dos níveis do negócio que se propõe. Essa co-relação ATENDIMENTO – CLIENTE quando vista em seus variados aspectos leva a conclusão que se trata de um processo. Então, o que se tem a seguir é uma análise sobre alguns fatores que pode ser identificado dentro desse processo atendimento.

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1.1 Fatores que influenciam o atendimento ao cliente Quais seriam os fatores capazes de influenciar o atendimento ao cliente? Antes de apontá-los, torna-se necessário conceituar a palavra “atendimento” que segundo o Dicionário Aurélio (2005) o termo atender significa: dar ou prestar atenção, tomar em consideração; deferir. Atentar, observar. Acolher com atenção ou cortesia. Atender. Escutar atentamente. “Cliente – deve-se considerar o cliente como o destinatário dos produtos da organização. Pode ser uma pessoa física ou jurídica. É quem adquire (comprador) e/ou que utiliza o produto (usuário/consumidor)” [FPNQ, 2004: p.50]. Atender o cliente é: atender aos seus requisitos, exceder suas expectativas e antecipar suas necessidades. Compreender o cliente significa entender suas necessidades e a forma como ele se relaciona com o mundo. Para isso, as empresas devem obter informações preciosas de diversos tipos, como vontades, hábitos, possibilidades e, principalmente, expectativas do cliente em relação ao produto/serviço oferecido. As organizações buscam oferecer aos seus clientes atendimento diferenciado. Assim, dois fatores merecem destaque na qualidade do atendimento: a recepção que o funcionário oferece e a expectativa do cliente. O cliente ao chegar a um estabelecimento deseja que sua expectativa seja alcançada. Todavia, para que isso ocorra, a empresa precisa ter funcionários de prontidão, interessados e conscientes da importância de se “acolher com atenção”. As organizações dependem de seus clientes, convém que entendam as necessidades atuais e futuras do cliente e procurem exceder as suas expectativas. Para alcançar as expectativas dos clientes deve-se fazer uma pesquisa de satisfação, essa pesquisa deverá apresentar os pontos que devem ser melhorados, reduzindo os custos de retrabalho, e prevenindo erros ou falhas nos processos. Mas de acordo com Gianesi e Correa (1994, p.82):“Quatro fatores podem influenciar as expectativas do cliente: comunicação boca a boca, necessidades pessoais, experiência anterior e comunicação externa”.

Figura 1 – Fatores que podem influenciar nas expectativas dos clientes, Gianesi e Correa (1994).

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A Comunicação boca a boca torna-se um meio de atrair ou afastar o cliente, depende da experiência que o mesmo teve na prestação de serviços. Representa as recomendações que os clientes recebem de terceiros, outros clientes que já receberam o serviço do fornecedor considerado e/ou de outros. De acordo com Kotler (2003) citado por Tobias (2006) “A comunicação boca a boca está dentro do princípio do 90-10, ou seja, 90 por cento das pessoas são influenciadas por outras 10 por cento”. No entanto, é necessário saber que os meios de comunicação influenciam uns aos outros, sendo esse aspecto um processo grandioso, bonito e nobre. E por ser assim, considera-se de altíssima importância na hora de negociar. Experiência anterior pode influenciar as expectativas que o cliente tem a respeito deste serviço, se foi bom ele retornará. O principal fator formador de suas expectativas são as necessidades pessoais, já que é visando atender a essas necessidades que os clientes procuram um serviço. As expectativas ao cliente são criadas pela comunicação externa através da divulgação de revistas, folder e outros meios de comunicação. Segundo Gianesi e Correa (1994, p.82), para atender as expectativas dos clientes, precisamos: yy compreender as características que influenciam as decisões dos clientes em comprar um produto ou serviço específico, tendo em vista que os clientes não dizem todas as características que esperam por parte do produto ou serviço; yy utilizar o desdobramento da função da qualidade para colocar as necessidades do cliente final dentro dos processos internos para satisfazer a essas necessidades. Quanto às necessidades de acordo com os mesmos autores: yy Esclarecer – isto envolve ajudar o cliente a esclarecer as suas necessidades e os recursos que ele pode usar para satisfazê-las; yy Satisfazer – há dois modos possíveis de satisfazer as necessidades do cliente: fornecer os recursos ou indicar outras fontes que possa provê-las. yy Maximizar – é usar o melhor dos recursos que você tem. Para maximizar o valor de recurso para o cliente, indique: vantagens, características especiais e diferentes usos para o produto. Para obter melhores resultados na escolha e preferência do cliente, o mercado atual precisa lançar mão de toda sua capacidade de criatividade para atrair e conquistar o cliente. A criatividade torna o atendimento em uma ferramenta especial – a chave que irá abrir a porta que foi criada pelo marketing da organização. O atendimento e todo o processo que lhe diz respeito são mais do que importante, pois satisfaz o cliente e qualifica a organização. Assim sendo, é fundamental que se conheça e se compreenda o cliente, é a partir desse conhecimento que se podem desenvolver estratégias de negócios e consolidar a percepção de oportunidades. Em outras palavras, as informações que levantamos do mercado consumidor são tão importantes para organização que, afinal, orientarão a escolha de fornecedores, os tipos e as quantidades de produtos e serviços oferecidos. 64


Essa deve ser uma atividade incessante no âmbito da organização como um todo, além disso, mais do que obter informações e conhecimento sobre o gosto ou necessidade do cliente, é preciso refletir sobre elas para tomar decisões conscientes e coerentes com os aspectos percebidos. Gianesi e Correa ressaltam a importância de identificar as necessidades quando dizem: Sempre que possível, o fornecedor de serviços deverá procurar identificar tanto as expectativas como as necessidades de seus clientes. O sistema de operações de serviço deverá, no longo prazo, visar às reais necessidades dos clientes, capacitando-se para atendê-las (1994, p.81).

1.2 Definição de qualidade em serviços Tão importante quanto as empresas de outros setores, são as empresas prestadoras de serviços. Para este ramo de atividade, a avaliação da qualidade está ligada diretamente aos processos adotados pela organização e o atendimento é um dos mais importantes deles, pois é nele que ocorre o momento da verdade, que é o momento onde o cliente tem o primeiro contato com a empresa. Daí a importância de se conquistar, manter e adquirir a excelência na qualidade no atendimento. De acordo com Anthony (2000, p.84) “Qualidade é definida como atendimento às especificações. Qualidade é a diferença entre o que foi prometido ao cliente e o que ele recebeu”. O cliente externo é o objetivo principal da empresa prestadora de serviços e também o tipo de cliente que logo se vem à mente quando se fala em negócios. As organizações estão cada vez mais constatando que podem ser muito mais beneficiadas com a excelência na qualidade no atendimento do cliente interno, que são todos os colaboradores da empresa. Para isso, estão passando a investir no seu maior ativo de valor incalculável: o capital humano. Chiavenato concorda com esse conceito quando diz: O cliente interno está dentro da empresa. Observando o interior da empresa, notamos que ela representa uma cadeia de valores, em que cada funcionário é cliente do funcionário anterior e fornecedor para o funcionário posterior. Esse encadeamento de fornecedores internos e de clientes internos proporciona uma visão nova e revolucionária do processo produtivo: o processo produtivo voltado para a satisfação cada vez maior do cliente interno. Quem lucra com isso? Certamente, a empresa e, principalmente, o último elo da cadeia: o cliente externo (2007, p.205).

A qualidade no atendimento também está associada às expectativas dos clientes, pois todas as pessoas esperam alguma coisa, ou algo de alguém e superar estas expectativas com a excelência no atendimento resulta no encantamento. A respeito do assunto Anthony diz assim: A qualidade é importante para os clientes porque eles esperam obter por aquilo que pagaram. Expectativas determinam o que o cliente está disposto a pagar. Assim, a qualidade é julgada em relação às expectativas (2000, p. 85). 65


Portanto a qualidade é um assunto que deve estar na missão da empresa, e todos os seus colaboradores, da alta administração ao nível operacional, devem estar comprometidos em tornar atitudes com qualidades em atitudes rotineiras, para que se possa atingir a excelência no atendimento. Qualidade em serviços não significa somente o fato de o vendedor tratar bem ou não o cliente. Segundo Cobra (1997, p.221) “Serviço ao cliente é a execução de todos os meios possíveis de dar satisfação ao consumidor por algo que ele adquiriu”. Se perguntarmos a um cliente o que ele define como um serviço de qualidade, dificilmente ele saberá responder, assim, Gianesi e Correa diz: O cliente se baseia em suas expectativas para avaliar a qualidade de um serviço, levando, portanto, a idéia de que o fornecedor do serviço deve visar atender às expectativas do cliente e não a suas necessidades (1994, p.80).

Em outras palavras, serviço com qualidade é aquele que tem a capacidade de proporcionar satisfação e a satisfação do cliente é vital para o sucesso de uma organização, Kotler diz: Um serviço é qualquer ato ou desempenho que uma parte pode oferecer a outra e que seja essencialmente intangível e não resulta na propriedade de nada. Sua produção pode ou não estar vinculada a um produto físico (1995; 403).

Anthony concorda com Kotler quando diz: Serviço refere-se tantos aos aspectos tangíveis de um produto, tais como desempenho, gosto e funcionalidade, quanto a seus aspectos intangíveis, como os clientes foram tratados antes, durante, e após a compra. Resumindo, serviço é tudo o que é prometido sobre o produto que o cliente recebe e valoriza (2000, p.83).

Atender o cliente com qualidade ou satisfazê-lo é uma filosofia empresarial baseada na parceria. É fundamental compreender que atender o cliente com qualidade não se resume a tratá-lo bem, com cortesia. Mais do que isso, hoje significa acrescentar benefícios a produtos e serviços objetivando superar as expectativas dele. Além disso, estudos demonstram que, para a maioria das pessoas, a qualidade do serviço é mais importante do que seu preço, concluindo-se que os consumidores estão dispostos a pagar mais por serviços de qualidade. Assim, Anthony (2000, p. 83) confirma quando diz que “[...] os clientes pagam é pelo serviço. Por outro lado, a quantia que os clientes desejam pagar pelo produto reflete o serviço que eles esperam dele”. Para conseguir satisfazer o cliente é necessário ter qualidade, um conceito muito falado, mas nem sempre aplicado. A qualidade pode ser entendida como o conjunto de características que propicia atingir, ou até ultrapassar, a expectativa do cliente. Quando se fala em atendimento ao cliente, pode-se pensar em nossas próprias experiências em atender e ser atendido. Exercemos diferentes papéis em diferentes momentos. Então, já que esses papéis são desempenhados por nós mesmos, temos que 66


perceber e refletir sobre nossos comportamentos, experiências, valores e ideias tanto como clientes quanto como atendentes. Atender, antes de tudo, é relacionar-se com outras pessoas para satisfazer uma necessidade, mas não se deve pensar que existe somente a necessidade de um único produto ou serviço. Temos necessidades de relacionamento permanentes, somos seres sociais. Então, junto com o produto ou serviço está também o contato pessoal que, quando bem trabalhado, pode ser a grande diferença no atendimento. A melhoria no atendimento ao cliente não passa apenas por uma teoria, mas também por conhecimentos e habilidades de como praticar. É preciso desenvolver habilidades de comportamento e atitudes pessoais que serão práticas não só na frente do cliente, mas também no dia-a-dia da organização. Segundo Kotler (2000, p.380), são princípios básicos para o bom atendimento ao cliente: Conhecimento: É preciso ter conhecimento do que, como, onde, quem, por que se faz. Quanto à técnica, pode-se fazer a contínua preparação das pessoas através de treinamentos, balanceando aspectos comportamentais e informacionais. Complementando essa formação, todos devem conhecer a empresa onde trabalham, suas metas, serviços e produtos. Relacionamento: A relação entre quem atende e quem é atendido deve ser baseada no objetivo “ganha-ganha”, os dois devem sair ganhando. Através do relacionamento interpessoal pode-se criar as condições para uma boa percepção dos interesses de ambos os lados. Assim é possível respeitar o cliente e identificar melhor suas necessidades. Comprometimento: Através do engajamento, as pessoas podem assumir os objetivos propostos, planejando-se e realmente cumprindo prazos e metas. Confiabilidade: Atendimentos e serviços estão baseados na ética e responsabilidade. Assim é possível realizar um serviço confiável, de forma a preservar informações sigilosas e restritas do cliente. Além disso, a eficiência no serviço, por si só, já garante maior confiança por quem está sendo atendido. Postura: A apresentação e postura profissional adequada transparecem no comportamento e atitudes em situações corriqueiras e sempre presentes em todos os detalhes do atendimento. O atendimento e todos os princípios que lhe dizem respeito são importantíssimos, embora tratados de maneira diferente, precisam ser entendidos e praticados da forma mais apropriada e condizente com o negócio, pois satisfaz o cliente e qualifica a organização.

1.3 A busca da qualidade na prestação dos serviços Uma das características mais importantes em uma empresa, atualmente, é a qualidade no atendimento às pessoas. O motivo de tal característica é que o cliente, além de buscar qualidade nos produtos, ele busca atendimento que atenda aos seus requisitos, exceda suas expectativas e antecipe suas necessidades. A qualidade na prestação de serviço vem a ser a plena satisfação do cliente, isso significa dizer que a qualidade na prestação de serviços é essencial ao perfeito funcionamento de qualquer empresa. De acordo com Gianesi e Correa (1994, p.196) “Qualidade em serviços pode ser definida como o grau em que as expectativas do cliente são atendidas/excedidas por sua percepção do serviço prestado”. 67


Figura 2 – Qualidade em serviços, Gianesi e Correa (1994).

Segundo Albrecht e Zemke: A qualidade é um indicador. Não é meramente um sentimento, uma crença, um valor, um compromisso. [...] A qualidade é um indicador que reflete um julgamento definitivo sobre o valor recebido, abrangendo necessariamente critérios subjetivos e objetivos (2002, p.68).

Se a empresa busca a qualidade em seus serviços, consequentemente ela está buscando a satisfação do cliente. E esse é o segredo para o sucesso, concentrar-se nas necessidades e desejos do cliente e superar as suas expectativas. Considerando a qualidade dos serviços contábeis, existe a necessidade de adaptação para as mudanças que vem acontecendo na Contabilidade, onde os escritórios precisam estar preparados para oferecer os melhores serviços aos seus clientes. De acordo com Rosa e Marion: O escritório contábil acha-se na necessidade de mudar para anteciparse às novas regras que o ambiente irá impor. Isso quer dizer, principalmente, três coisas fundamentais: 1) fixar um novo conjunto de serviços a oferecer ao mercado; 2) buscar um novo patamar de produtividade e eficiência; 3) adotar uma nova forma de interagir com o mercado (2004, p. 10).

Atualmente, os escritórios necessitam estarem atentos às mudanças do mercado e preparados para enfrentá-los, no sentido de sobreviver e até mesmo antecipar-se aos seus concorrentes. Segundo Iudícibus (1997), “O conhecimento que a contabilidade proporciona a respeito do seu objetivo está em constante desenvolvimento, como, aliás, ocorrem nas demais ciências em relação aos seus respectivos objetivos”. A Lei Contábil 11.638/2007 trouxe muitas mudanças e exige-se que empresas e escritórios em geral passem a adotar um novo procedimento contábil, para que a linguagem dos negócios possa ser entendida da mesma forma em todos os lugares. Para Marion (2006, p.27), nos escritórios contábeis existem áreas tradicionalmente exploradas e outras que poderiam ser mais exploradas. Observamos este fato a partir do quadro 1.

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Quadro 1 – tipos de serviços que podem ser oferecidos pelos escritórios de contabilidade Base da atuação do profissional contábil

Áreas a serem exploradas

Tipos de serviços que poderá ser oferecido

Característica dos serviços a ser oferecido

Planejamento Tributário

Orientação a processos tributários em geral e em fusões, incorporações e cisões.

Análise Financeira

Análise de crédito, desempenho, mercado de capitais, investimentos e custos.

Auditor Interno

Auditoria de Sistemas, de Gestão e Controle Interno.

Custo de Prestadoras de Serviços, Custos Industriais, Análise de Custos e Orçamentos. Serviços em Avaliação de Empresas, Tributos, Comércio Exterior, Informática, SisteConsultoria mas, Controladoria, Custos, Qualidade Total, Planejamento Estratégico e Orçamento. Responsável pela Conta- Especialistas em atividades bilidade específicas Serviços de Perícia Contábil, Perícia Contábil Judicial, Fiscal e Extrajudicial. Gestão de Custos

Áreas já exploradas

Investigação de Fraude

Atender empresas nacionais e estrangeiras que solicitam investigações sigilosas.

Pareceres

Pareceres sobre: Laudo Pericial e causa judicial, envolvendo: empresas, avaliação de empresas e questões contábeis.

Fonte: Adaptado pelo o autor a partir de Marion (2006, p. 35).

As necessidades dos clientes mudam de maneira regular, diariamente, por isso devemos nos manter atualizados e atentos às novidades que a cada segundo são lançadas no mercado. Na busca pela qualidade é preciso atacar três pontos: a qualificação dos colaboradores; a otimização das rotinas administrativas e o envolvimento de todos no processo de excelência da organização. Os gerentes devem orientar os profissionais que trabalham direta ou indiretamente com o cliente de que forma procurar despertar a consciência, o respeito, o reconhecimento e o pronto atendimento ao cliente. Esta preocupação é de vital importância para a qualidade do serviço, pois, de acordo com Kotler (2003, p.157):

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Por que esse novo enfoque de manter os clientes? As empresas hoje estão diante das novas realidades de marketing. Uma demografia em mudança, uma economia de crescimento lento, concorrentes mais sofisticados e o excesso de produção de muitas indústrias são fatores que significam menos clientes novos. Muitas companhias lutam hoje por participações em mercados esgotados, portanto os custos para se atingir novos clientes estão subindo. Na verdade custa cinco vezes mais atrair um cliente novo do que manter um cliente antigo satisfeito.

O autor ressalta que estamos vivendo um momento onde a competitividade está em alta e, devido a isso, existe um aumento do grau de exigência do consumidor. O que acaba levando à necessidade de todos dentro da organização se aperfeiçoarem em qualidade de atendimento ao cliente, quer seja o mesmo, interno ou externo. Kotler, (2003, p.161), diz ainda que há fatores diferenciais nas empresas que trabalham voltadas para o cliente, as quais se preocupam intensamente com o atendimento dos mesmos, tal como: Cumprir a promessa de atendimento – Todas as declarações de intenção feitas pela organização como corporação ou por empregados em particular e, portanto, encaradas pelos clientes como promessas que devem ser cumpridas. O alcance da qualidade requer o trabalho de todos, pois todo mundo tem clientes, sejam internos ou externos. A responsabilidade pela produção e pelo controle da qualidade não pode ser delegada a uma única pessoa ou a um único órgão da empresa. Todo mundo tem que considerar a produção e a entrega de uma boa qualidade como sua própria responsabilidade. KOTLER (2000, p.56) indica cinco fatores determinantes da qualidade dos serviços, são eles: yy Confiabilidade: a habilidade de desempenhar o serviço exatamente como prometido; yy Capacidade de resposta: a disposição de ajudar os clientes e de fornecer o serviço dentro do prazo estipulado; yy Segurança: o conhecimento e a cortesia dos funcionários e sua habilidade de transmitir confiança e segurança; yy Empatia: a atenção individualizada dispensada aos clientes; yy Itens tangíveis: a aparência das instalações físicas, dos equipamentos, dos funcionários e do material de comunicação. Para Gronroos (2003, p. 89) “Qualidade é frequentemente considerada como uma das chaves do sucesso” e afirma: “a vantagem competitiva de uma empresa depende da qualidade, e o valor, de seus bens e serviços”. Com base nas informações apresentadas acima, verifica-se que quanto à qualidade, principalmente ao que se refere ao serviço e atendimento, existe um contato direto com o cliente, analisando que tais informações implicam seriamente na excelência do atendimento. Por isso, a excelência em serviços vem se mostrando uma grande preocupação para as organizações que buscam nela o diferencial na competitividade do mercado em que atuam. A fidelidade do cliente não é conquistada somente no quesito atendimento, mas também superando suas expectativas quanto à prestação de serviço. 70


1.4 Satisfação e fidelidade do cliente Clientes satisfeitos são a alma de qualquer negócio bem-sucedido e clientes fiéis são essenciais para a sustentação de liderança no negócio. A avaliação da satisfação do cliente em relação aos serviços prestados é uma forma de evitar clientes insatisfeitos, corrigindo antecipadamente eventuais falhas e uma das maneiras mais utilizadas para avaliar a satisfação de clientes tem sido a pesquisa de marketing. Segundo Kotler (1995, p.125), “Pesquisa de Marketing é o planejamento, coleta, análise e a apresentação sistemática de dados e descobertas relevantes sobre uma situação específica de marketing enfrentada por uma empresa”. A satisfação se mede através da relação entre o que o cliente recebeu ou percebeu e o que esperava ter ou ver (percepção x expectativa). Se a percepção é maior do que a expectativa, o cliente fica muito mais satisfeito do que esperava. Mas se for menor, frustra-se e não registra positivamente a experiência. Para Kotler (2000, p.58) satisfação consiste na sensação de prazer ou desapontamento resultante da comparação do desempenho (ou resultado) percebido de um produto em relação às expectativas do comprador. Fica claro por essa definição que a satisfação é função de desempenho e expectativas percebidos. Se o desempenho não alcançar as expectativas, o cliente ficará insatisfeito. Se o desempenho alcançar as expectativas, o cliente ficará satisfeito. Se o desempenho for além das expectativas, o cliente ficará altamente satisfeito ou encantado. Os consumidores ficaram mais exigentes e cobram das empresas mais qualidade, agilidade e melhores preços.Ao mesmo tempo, as preferências futuras dos consumidores estão cada vez mais difíceis de prever. Em resposta, as organizações começaram a procurar descobrir as verdadeiras necessidades do seu cliente para assim atendê-las, fazendo um trabalho direcionado à conquista da fidelização dos mesmos. Albrecht e Zemke (2002, p.102) diz: A fidelidade do cliente é definida por três características: é circunstancial, é frágil e é efêmera. A fidelidade começa a desaparecer no momento em que o nível dos serviços cai abaixo das expectativas.

A chave para a fidelidade em longo prazo é expandir valor para o cliente com base na sua definição individual de valor, essa definição pode variar muito de um cliente para outro. A satisfação pode ser obtida em uma única transação, mas a fidelidade só se conquista em longo prazo, pois nada garante que um cliente satisfeito recusará as ofertas da concorrência. Segundo Gianesi e Correa (1994, p.74) “o que mantém a fidelidade do cliente e sustenta o poder de competitividade no longo prazo é o atendimento ou superação consistente das expectativas do cliente”. Para se saber o grau de satisfação do cliente é imprescindível que se realize uma pesquisa. Porque é impossível criar um programa de relacionamento em busca da fidelidade se não se identificar, primeiro, o nível de satisfação dos clientes. Para Crocco e Gioia (2006, p.23), “A teoria de marketing é desenvolvida partindo-se de duas perspectivas básicas: a empresa e o consumidor. Ambas são essenciais para que uma relação de troca com satisfação aconteça”, como demonstrada na figura seguinte. 71


Figura 3 – Modelo básico de satisfação – Crocco e Gioia (2006)

De acordo com Freitas (2001, p.60), as empresas bem sucedidas em manter altos níveis de fidelização de clientes nos apresentam algumas lições importantes sobre a fidelização de clientes: yy Um bom produto ou serviço será sempre a base para o desenvolvimento da fidelidade do cliente. yy As empresas devem desenvolver produtos e serviços personalizados de acordo com o que os clientes individuais querem. yy Desenvolver a fidelidade do cliente deve ser compromisso de toda a empresa. yy Reunir informações sobre o cliente não é tudo. Por mais sofisticada que seja, a tecnologia da informação é simplesmente um instrumento para melhorar a qualidade do produto e do serviço para atender às necessidades individuais dos clientes. yy O impacto econômico do foco de uma empresa na fidelidade do cliente torna- se evidente apenas após um longo período de tempo. O bom atendimento da empresa levará à satisfação e a consequente fidelização do consumidor, o que, por sua vez, se traduzirá em maiores retornos financeiros para a empresa. E assim criar-se-á a base da vantagem competitiva sustentável, cada vez mais imprescindível a qualquer empresa no ambiente atual. Diante desse contexto é fundamental para as empresas conhecerem o nível de satisfação dos clientes, pois dessa maneira terão condições de melhorar e acertar os pontos que estão deficientes.

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2. ANÁLISE DOS RESULTADOS O estudo do questionário foi iniciado levando-se em conta o percentual de respostas em cada questão para apurar-se a incidência de cada uma delas. As notas representam os seguintes conceitos: 1 – Discordo totalmente; 2 – Discordo; 3 – Neutro; 4 – Concordo; 5 – Concordo totalmente. A seguir temos os resultados. Foi perguntado aos entrevistados os tipos de serviços oferecidos pelos escritórios, analisando todas as respostas obtidas, os escritórios pesquisados fornecem os serviços tradicionais de contabilidade que são: Digitação dos lançamentos contábeis, conciliação bancária, constituição e baixa de empresa, escrituração fiscal, cálculos de impostos, balancetes e balanço patrimonial, serviço contábil, fiscal e trabalhista, emissão de livros e relatórios, registro de empresas, regularização junto aos órgãos, cálculos das depreciações,rotinas contábeis mensais e anuais, rotinas de setor pessoal, rotinas do setor fiscal relacionado à Receita Federal, à Prefeitura e à Secretaria da Fazenda do Estado, Consultoria e assessoria, Declaração do Imposto de Renda, Declarações Jurídicas, DACON e DCTF. Tal fato confirmado por Marion (2006, p.26) quando afirma que a profissão contábil oferece amplo leque de oportunidades. Quando os entrevistados foram questionados em relação às necessidades dos clientes se são claras para os funcionários dos escritórios, todos responderam afirmativamente que as necessidades dos clientes são claras. Uma vez que os funcionários estão aptos para qualquer dúvida que venha a surgir. Entretanto, em alguns casos a falta de conhecimento do cliente faz com que algumas informações não cheguem de forma clara e objetiva por parte deste, mas os funcionários estão preparados a passarem as informações necessárias. Quanto ao índice de satisfação do cliente em relação ao escritório, percebe-se que a satisfação está acima de 70%. Chama a atenção que em um dos escritórios pesquisados, não há a preocupação de medir o índice de satisfação, já que o escritório presta serviço há algum tempo aos clientes. De acordo com Venzke e Cortez (2009) em seu artigo “Da comunicação boca a boca para o marketing viral”, o boca a boca é uma forma de comunicação interpessoal, em que usuários e não usuários de um produto ou serviço compartilham experiências e opiniões a respeito dos mesmos.

Gráfico 01: Atendimento ao cliente no tempo solicitado

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Analisando as respostas obtidas no gráfico sobre a questão atendimento ao cliente no tempo solicitado, verificou-se que 77% dos escritórios pesquisados afirmam que concordam totalmente e 23% apenas concordam que cumprir o prazo com o cliente é muito importante, pois consideram que a qualidade dos serviços e o tempo hábil mantêm seus clientes, sendo considerado também um diferencial para o mercado competitivo diante das necessidades de cada cliente.

Gráfico 02: Insatisfação com os serviços prestados

Conforme o resultado da pesquisa em relação à insatisfação com os serviços prestados, 69% dos escritórios responderam que discordam que o motivo da perda de um cliente seja insatisfação com os serviços prestados, alguns responderam que o cliente nem sempre tem condições de pagar os serviços ou estão com algumas dificuldades financeiras. Já para outros, o cliente não quer pagar o que é devido para o contador e até mesmo a concorrência faz com que o cliente mude de escritório, proporcionando-lhe um custo menor. Mas 23% dos pesquisados concordam que a má prestação dos serviços possibilita esse fato e 8% concordam totalmente, onde o cliente insatisfeito procura suas melhorias. Chama atenção que durante a pesquisa, um escritório mencionou em sua resposta que muitas vezes o prestador de serviços também fica insatisfeito com o cliente, mostrando que nem sempre só o cliente fica insatisfeito.

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Gráfico 03:Treinamento e capacitação para os funcionários

Pelas respostas obtidas no item treinamento e capacitação para os funcionários, os escritórios pesquisados concordam que treinar e capacitar são fatores importantes para manter o grau de atendimento esperado pelos clientes, sendo também uma exigência de mercado e das mudanças das leis. Um escritório posicionou-se neutro quanto a este quesito.

Gráfico 04: Atualização e mudanças conforme a lei.

De acordo com os resultados da pesquisa a respeito da atualização e mudanças conforme a lei, todos os escritórios concordam que é de extrema necessidade o escritório estar conforme as mudanças que ocorrem na lei, fazendo-se necessário o acompanhamento, evitando problemas e transtornos aos clientes, constituindo elemento fundamental para boa relação com o cliente.

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Gráfico 05: Qualidade e serviço do escritório

Analisando o quesito qualidade e serviço do escritório, todos os escritórios acreditam e concordam que a qualidade e os serviços prestados a sua clientela atende as suas exigências, pois eles sempre voltam em busca de novos serviços, fazendo com que o escritório procure sempre se qualificar para melhor atender.

Gráfico 06:Troca de informações pelos funcionários

No item troca de informações pelos funcionários, o conhecimento e a experiência contribuem para a melhoria no atendimento ao cliente. Verificou-se que 54% dos pesquisados responderam que é necessário que o fluxo de informações aconteça de forma clara e objetiva para o alcance de bons resultados, através do bom relacionamento dos funcionários e satisfação dos clientes. Um dos escritórios ficou neutro diante da questão, onde foi identificada a deficiência no relacionamento entre seus funcionários. 76


Gráfico 07: Os serviços oferecidos e a estrutura do escritório estão adequados aos clientes.

Segundo o resultado da pesquisa sobre os serviços oferecidos e se a estrutura do escritório está adequado aos clientes, as respostas foram claras e curtas onde 77% concordam que os serviços e estruturas estão adequados aos seus clientes, mesmo que a estrutura tenha que ir mudando de acordo com o aumento da carteira de clientes. Ainda assim, foi identificada a necessidade de melhoria nas dependências físicas e nas instalações, mas sem causar a perda de clientes. Um pesquisado posicionou-se neutro quanto à questão.

Gráfico 08: Fidelidade dos clientes

Na análise da fidelidade do cliente, alguns fatores como a qualidade, o atendimento e o prazo de entrega têm contribuído bastante para a fidelidade dos clientes, acrescidos de respeito e confiança mútua entre prestador de serviço e cliente. Chama atenção que um dos escritórios pesquisados discorda da questão, sem saber responder sobre a fidelidade de seus clientes. 77


CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste artigo, foi procurado enfatizar a aplicação do atendimento ao cliente e a qualidade dos serviços contábeis nos escritórios. No mercado atual, a oferta de produtos e serviços de todos os tipos é muito grande e as diferenças entre os mesmos são cada vez menores, fazendo com que o cliente opte pela prestação de serviço que melhor lhe oferecer bom atendimento, tecnologia, agilidade, qualidade e competência. O atendimento ao cliente precisa funcionar, fazendo a diferença no mercado contábil. É possível observar que o sucesso efetivo na prestação de serviços também enseja dos seus profissionais habilidades não restritas apenas no seu limite de atuação, mas que contemplem campos diversos do conhecimento contábil. A atualização dos escritórios e de seus funcionários deve ser constante, quanto mais instruído for o funcionário só quem tem a ganhar é o próprio escritório e com certeza os clientes serão beneficiados. Com a atual competitividade a qual os escritórios são expostos, o grande desafio dos prestadores de serviço é corresponder às necessidades e expectativas de seus clientes. Para tanto, faz-se necessário prestar um serviço de qualidade, em que a satisfação do contratante torna-se o principal objetivo. Por fim, conclui-se que os objetivos traçados foram alcançados, onde verificou-se que apesar dos escritórios de contabilidade estarem satisfazendo seus clientes, é notório o interesse demonstrado pelos contadores em melhorar ainda mais a qualidade dos seus serviços prestados. Assim, entende-se que o profissional contábil precisa estar lado a lado com seus clientes nas tomadas de decisões, conhecendo suas necessidades atuais e futuras, buscando alternativas, e assim resultando em benefícios para ambas às partes: maior rentabilidade ao cliente e maior satisfação dos serviços prestados.

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COMUNICAÇÃO BOCA A BOCA. Disponível em http://www.administradores. com.br/artigos/comunicacao_boca_a_boca/12075/. Acesso dia 13/09/09 às 23:10. (Citado por Rogério Tobias) CROCCO, Luciano e Ricardo, Gioia. Fundamentos de Marketing: conceitos básicos. São Paulo: Saraiva, 2006. (Coleção de marketing volume1). “Da comunicação boca a boca para o marketing viral” disponível no site: http://www. ead.fea.usp.br/semead/12semead/resultado/trabalhosPDF/638.pdf dia 03/11/2009 às 00:40. FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Miniaurélio: O dicionário da língua portuguesa. 6. Ed. rev. atual. Curitiba: Positivo, 2005. FREITAS, Beatriz Teixeira de. ABEMD, Marketing Direto no Varejo. São Paulo: Makron Books, 2001. GIANESI, Irineu G. N. e Correa, Henrique Luiz. Administração Estratégica de Serviços. 1. Ed. São Paulo: Atlas, 1994. GRONROOS, Christian. Marketing: gerenciamento e serviços; tradução de Arlete Simille Marques. 2. Ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2003. IUDÍCIBUS, S. Teoria da contabilidade. 5 ed. São Paulo, Ed. Atlas, 1997. KOTLER, Philip. Administração de Marketing. 4. ed. São Paulo: Atlas, 1995. ______. Administração de Marketing, 10. Ed. São Paulo: Prentice Hall, 2003. ______. Administração de Marketing: A edição do novo milênio. Tradução por Bazan Tecnologia e Lingüística. 10ª ed. São Paulo: Prentice Hall, 2000. LAKATOS, Eva Maria e Marconi, Mariana de Andrade. Metodologia do Trabalho Científico. 7. Ed. São Paulo: Atlas, 2007. Manual para apresentação de trabalhos acadêmicos da Universidade Católica de Brasília / coordenação Maria Carmen Romcy de Carvalho... [et al.], Universidade Católica de Brasília, Sistema de Bibliotecas. – 2. Ed. rev. ampl. – Brasília: [s.n.], 2008. MARION, J. C. Contabilidade empresarial. 12 ed. São Paulo: Atlas, 2006. ROSA, José Antonio e Marion, José Carlos. Marketing de escritório contábil. 1. Ed. São Paulo: IOB-Thomsom, 2004.

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Revista de Ciências Humanas e Sociais da FSDB – ANO V, VOLUME X – JULHO – DEZEMBRO 2009

A PRESENÇA DOS INSTRUMENTOS DA CONTABILIDADE GERENCIAL NAS ORGANIZAÇÕES DO TERCEIRO SETOR.: UM ESTUDO DE CASO Raimundo Nonato de Oliveira1

Afrânio Corrêa Lima Júnior2

Recebido em 08/12/09; Aceito em 15/04/10

RESUMO A adoção de determinados procedimentos na gestão das Organizações do Terceiro Setor (OTS), quando não embasados em elementos seguros para a tomada de decisão, podem provocar danos, talvez, irreparáveis ao patrimônio aziendal.Têm-se na Contabilidade, sob quaisquer de suas vertentes de estudo, elementos contributivos para a eficiente gestão organizacional. Seja nos conceitos fundamentais da ciência contábil, seja na definição e utilização das técnicas contábeis, a organização empresarial encontrará aqueles elementos auxiliadores (determinadores, até) do modo de gestão. Gestão essa ambientada na modernidade e dinamicidade da praxis contábil. Busca esse artigo identificar a presença de instrumentos da Contabilidade como base de apoio para os procedimentos administrativos, gerenciais e financeiros das Organizações do Terceiro Setor (OTS) da área de educação na cidade de Manaus, propondo uma forma de gestão contábil. Para tal, foram utilizados o método dedutivo e o instrumento de pesquisa tipo questionário, que serviram para levantamento e análise dos dados e das informações pesquisados nas fontes das instituições, dentre gestores e funcionários. Reveste-se de importância esse trabalho por pretender enxergar o ferramental contábil utilizado ou a ser utilizado pela gestão. Resultou a pesquisa na verificação e identificação dos instrumentos para tomada de decisão utilizados pelas instituições que, quando comparados ao ferramental contábil disponível, evidencia a versatilidade e amplitude destes em relação àqueles. Palavras-chave: Gestão contábil. Gestão. Terceiro Setor. Contabilidade.

Mestrando em Contabilidade e Controladoria / UFAM. Professor da Faculdade Salesiana Dom Bosco – FSDB. (092) 32386173 E-mail: raimundo@fsdb.edu.br Mestrando em Contabilidade e Controladoria / UFAM. Professor do Centro Universitário do Norte – UNINORTE. (092) 3212-5000 E-mail: afranioclj@yahoo.com.br

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ABSTRACT The adoption of certain procedures in the management of nonprofit organizations, while not based on evidence to secure a decision, may cause damage, perhaps irreparable damage to heritage aziendale. They are in Accounting, or any of its areas of study, elements contributing to the efficient organizational management. Be the fundamental concepts in accounting, is the definition and use of accounting techniques, the business organization helpers find those elements (determiners, even) of the administration. Management that set in modernity and dynamism of praxis book. Search this article identify the presence of instruments of accounting as a support for the administrative, managerial and financial organizations of the Third Sector in the area of education in the city of Manaus, an alternative form of management accounting. To this end, we used the deductive method and the research instrument type questionnaire, which were used to survey and analyze the data and information sources in the surveyed institutions, among managers and employees. It is of importance that work for you see the tools used book or for use by management. Research resulted in the identification and verification of instruments for decision making used by institutions, which, when compared to the available tooling book, shows the versatility and breadth of these in relation to those. Keywords: Management Accounting. Management. Tertiary Sector. Accounting.

INTRODUÇÃO Observam-se, no âmbito das empresas e Organizações variadas, procedimentos diversos de gestão: uns personificados na figura do gestor maior, o presidente, o diretor; outros dispersos em setores a quem são atribuídas responsabilidades e poder de decisão. Porém, qualquer que seja o procedimento, ele estará destinado a um objetivo comum: a maximização do resultado. A busca por tal objetivo deve abranger instrumentos seguros para tomadas de decisão, os quais podem ser encontrados na Contabilidade, particularmente na Gerencial. Seja nos conceitos fundamentais da ciência contábil, seja na definição e utilização das técnicas contábeis, os responsáveis pela gestão têm opções dentre esses elementos auxiliadores (determinadores, até) do modo de gestão. Objetiva esse artigo identificar a presença de instrumentos da Contabilidade como base de apoio para os procedimentos administrativos, gerenciais e financeiros das Organizações do Terceiro Setor (OTS), propondo uma forma de gestão contábil. Foram utilizados o método dedutivo e o instrumento de pesquisa tipo questionário, que serviram para levantamento e análise dos dados e das informações nas fontes das Organizações pesquisadas, dentre gestores e funcionários. A importância desse trabalho pode ser sentida no propósito de se tentar enxergar o ferramental contábil utilizado ou a ser utilizado no processo de gestão das Organizações do Terceiro Setor (OTS) na área de educação na cidade de Manaus. Como resultado da pesquisa na verificação e identificação dos instrumentos para tomada de decisão utilizados pelas organizações pesquisadas, observou-se que, quando tais instrumentos são comparados ao ferramental contábil disponível, evidencia a versatilidade e amplitude deste em relação àqueles. 81


O trabalho compõe-se de sete partes, iniciando com a presente introdução. A segunda vislumbra aspectos da gestão de empresas e das Organizações do Terceiro Setor (OTS); a terceira mostra as características de cada Organização pesquisada; a quarta evidencia aspectos do Sistema de Informação Contábil e da Contabilidade Gerencial; a quinta apresenta a metodologia utilizada na pesquisa; a sexta demonstra a análise dos resultados apurados; e, finalmente, a sétima traz a conclusão do trabalho.

1. GESTÃO DE EMPRESAS E AS ORGANIZAÇÕES DO TERCEIRO SETOR Etimologicamente, a palavra gestão deriva do latim “gestione”, significando “ato de gerir”, “gerência”, “administração”. Aplicada a organizações empresariais ou não, gestão resume o ato de administrar patrimônios, zelar pela correta aplicação e controle de recursos econômico-financeiros, coordenar e comandar atividades e processos na geração de riquezas e sua distribuição. As funções derivadas ou relacionadas à gestão dizem respeito à provisão, conservação e utilização de meios ou recursos necessários para a produção de bens e serviços. Os fatos derivados da gestão dirigem e encaminham todo o processo da dinâmica patrimonial, produzindo e promovendo o crescimento econômico e social. (SÁ, 1993) A gestão empresarial, consoante Mosimann e Fisch (1999, p. 29), subdivide-se “em três grandes vertentes”: operacional, financeira e econômica. Tais vertentes são assim definidas pelos autores (1999, pp. 29-30): A gestão operacional ou especializada está disseminada por todas as áreas de atividades da empresa, quer sejam de produção ou de logística, tais como: recursos humanos, produção, vendas, compras, finanças, manutenção etc. A ênfase da gestão operacional volta-se para a execução dos trabalhos, em busca de uma linha de produto/serviço de cada atividade, da forma mais eficiente e racional possível. A gestão financeira enfatiza os problemas de caixa e liquidez da empresa, de forma a permitir a tomada de decisões em termos de programação financeira. (...) tem um objetivo no qual a decisão deve basear-se, e esse objetivo não pode estar dissociado do objetivo da empresa como um todo. O dinheiro é eficientemente empregado quando melhor contribuir para o atingimento do objetivo da empresa. A gestão econômica é o conjunto de decisões e ações orientado por resultados, mensurados segundo conceitos econômicos. [Nela] procura-se avaliar a forma pela qual a empresa atinge seus resultados econômicos, e tem como ponto de sustentação o planejamento e o controle. A gestão econômica consolida as demais, tendo em vista que todas as atividades em uma empresa devem estar voltadas para o resultado econômico da mesma.

Dentre os conceitos econômicos, albergados pela gestão econômica das empresas, ressalta-se o goodwill (fundo de comércio; valor imaterial de um patrimônio), que possui características específicas como: qualidade dos produtos, tecnologia, responsabilidade social, credibilidade empresarial, clientela fiel, localização da empresa, conforme Mosimann e Fisch (1999, p. 34). 82


Os resultados econômicos alcançados pela gestão das empresas nas suas atividades econômico-financeiras pressupõem variações positivas da riqueza aziendal – compras, vendas, receitas, despesas, custos – que vão determinar a dimensão da eficácia empresarial, verificando o alcance de seus objetivos, o cumprimento de sua missão institucional e a manutenção de sua perenidade (continuidade). Segundo Mosimann e Fisch (1999, p. 35), relativamente ao tempo de vida e desempenho das empresas, a continuidade será mantida por meio da: • produtividade; • eficiência; • satisfação aos agentes com os quais ela se relaciona em seu ambiente interno e externo; • adaptabilidade às mudanças de cenário e modelo de gestão; e • desenvolvimento.

Aplicada ao Setor Público, gestão se consolida a partir das disposições da Constituição Federal do Brasil, especificamente no artigo 2º. (“São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.”). Essa base de Poder fornece a visão particular da dimensão sintética da gestão pública (administração pública, como comumente se ouve falar). (MAUSS; SOUZA, 2008, p.72) Compreendida sob aquelas “vertentes” de Mosimann e Fisch (1999, pp. 29-30), a administração ou gestão pública, consoante o olhar de Meireles (1999), abrange, operacionalmente, a execução de atividades diuturnas e sistemáticas, legais e técnicas, do Estado para com a coletividade, considerados seus anseios e suas demandas. Concluem Mauss e Souza (2008, p. 72): Por isso, as decisões dos gestores [públicos] devem estar voltadas para a prestação do melhor serviço público possível, considerando os recursos disponíveis para tal. E o seu sucesso é medido através da verificação da qualidade e do volume de serviços oferecido, o seu resultado econômico e a contribuição para a sociedade.

Conhecidas, também, como Organizações Não-Governamentais, Entidades Sem Fins Lucrativos, Voluntariado, as Organizações do Terceiro Setor (OTS) compreendem as organizações que não possuem finalidades lucrativas no desenvolvimento de suas atividades administrativas, operacionais, financeiras e econômicas. De outro modo, sinteticamente, as atividades não estatais. Caracterizam essas atividades, o objeto essencialmente social previsto em seus documentos constitutivos com valorização social de atos e procedimentos de gestão, destacando a prestação de serviços de interesse social. Uma visão primeira das atividades produtivas dos sistemas de produção econômica permite a classificação mais corrente dos três setores básicos na economia de um país, definida por Colin Clark (SANDRONI, 1989, p. 288): O setor primário [Primeiro Setor] reúne as atividades agropecuárias e extrativas (vegetais e minerais). O setor secundário [Segundo Setor] engloba a produção de bens físicos por meio da transformação de matérias-primas, realizada pelo trabalho humano com o auxílio das máquinas e ferramentas:

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inclui toda a produção fabril, a construção civil e a geração de energia. O setor terciário [Terceiro Setor] abrange os serviços em geral: comércio, armazenagem, transportes, sistema bancário, saúde, educação, telecomunicações, fornecimento de energia elétrica, serviços de água e esgoto e administração pública.

Historicamente, a origem do Terceiro Setor – e de suas organizações – vincula-se aos trabalhos e às atividades desenvolvidas pela Igreja Católica no século XIX junto a populações marginalizadas e carentes não atendidas pela manus do Estado. Mais tarde, outros tipos de organizações caritativas se iniciaram nesse campo de ação social com vistas ao mesmo objetivo da Igreja Católica. No decorrer do tempo, as relações Estado/Igreja foram se modificando em vista das transformações políticas, sociais e econômicas ocorridas, provocadas pela modernização da sociedade e de seus costumes, a urbanização das cidades, os movimentos sociais, políticos e revolucionários, o processo de industrialização. Todos esses fatos trouxeram junto grandes problemas sociais. Particularmente, no Brasil, os movimentos sociais inspiraram e atraíram os trabalhos das OTS. No período ditatorial vivido pelo Brasil (1964-1985), essas Organizações agiram fortemente em apoio àqueles movimentos e contavam com apoio de similares estrangeiras, o que atraiu a fúria tirana governamental, uma vez que elas desenvolviam atividades de conscientização e organização da sociedade, estimulando a cidadania de muitos segmentos sociais, não somente os assistidos por elas. Milani Filho (2004), em artigo sobre o tema, identifica características comuns nessas Organizações: • Não há proprietários; • São organizações não-governamentais dotadas de autonomia diretiva; • Suprem parcialmente o papel do Estado no atendimento a determinadas necessidades sociais; • Possuem estrutura e presença institucionais; • São constituídas pelo interesse social, portanto visam proporcionar benefícios sociais; • São unidades econômicas; • Precisam obter recursos para a própria sobrevivência e manutenção das atividades (esses recursos podem ser públicos e/ou privados); • Não deve haver qualquer distribuição de resultados aos seus membros ou colaboradores, reinvestindo os superávits obtidos; • Podem gozar de privilégios fiscais, conforme a legislação vigente.

Visualizando-se as vertentes da gestão empresarial - operacionais, econômicas e financeiras – antes citadas, e transportando-as para o Terceiro Setor, percebe-se que as atividades sociais das OTS são por aquelas lastreadas e delas exigem eficiência na condução da administração, na operacionalização das atividades e na geração e aplicação de recursos financeiros. As atividades desenvolvidas devem ser bastante eficientes, geradoras de resultados tanto sociais quanto econômicos eficientes, cuja maior beneficiária é a sociedade.

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2. CARACTERÍSTICAS DAS ORGANIZAÇÕES PESQUISADAS A FSDB – Faculdade Salesiana Dom Bosco é mantida pela Inspetoria Missionária da Amazônia, que integra a comunidade religiosa católica Congregação Salesiana, fundada por Dom Bosco em 1859. A Congregação Salesiana possui um Conselho Geral em Roma e mais de oitenta circunscrições jurídicas, denominadas Inspetorias, disseminadas por todos os continentes, em 123 países. A Faculdade Salesiana Dom Bosco de Manaus (FSDB), fundada em 2000 e credenciada pela portaria 1.166/ 2002/MEC é filial da ISMA - Inspetoria Salesiana Missionária da Amazônia (associação civil e religiosa, de caráter beneficente, promocional, educacional) que atua na área educacional desde 1921, especificamente no nível de Educação Infantil, Ensino Fundamental, Ensino Médio, Educação Profissionalizante e Missões Indígenas. A presença salesiana na Amazônia existe desde 1915, marcando como sua ação a formação educacional de várias gerações, tanto nas grandes cidades como Manaus, Belém e Porto Velho, como naquelas de pequeno e médio porte, como Manicoré (AM), Humaitá (AM), São Gabriel da Cachoeira (AM), Santa Isabel do Rio Negro (AM), Ananindeua (PA), Ji-Paraná(RO), entre outras. A FSDB, fundada nos princípios éticos, cristãos e salesianos, tem por missão promover o desenvolvimento integral da pessoa humana e do patrimônio cultural da sociedade através da produção e difusão do conhecimento e do compromisso ético e político com a Região Amazônica. A FSDB, observadas as finalidades da educação superior, definidas no art. 43 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB 9394/96), tem ainda por finalidade enriquecer a sociedade com um número crescente de cidadãos comprometidos com a sua transformação estrutural para que se: yy construa maior igualdade de partilha e de justiça dentro de uma dimensão cristã; yy busque uma sociedade livre, democrática e participativa; yy superem as discriminações na construção de uma convivência pluralista. Inserida nesse contexto a Faculdade Salesiana Dom Bosco tem como visão ser referência de ensino superior em ciências humanas e sociais aplicadas a partir da Pedagogia Salesiana. A UNILASALLE pertence à Rede de Organizações Educativas La Salle, Instituição de confissão católica, que nasceu em 1680, na França, com seu idealizador São João Batista de La Salle. Hoje, presente em 85 países e nos cinco continentes. No Brasil, desde 1907. No Estado do Amazonas, desde 1982. Iniciou com o Centro Educacional La Salle, que atende da educação infantil ao ensino fundamental e médio. Conta hoje com 2.362 alunos. O ideal inspirador de São João Batista de La Salle norteia as ações e atividades educativas e de promoção humana da organização educacional lassalista, como se depreende de manifestação constante no sítio da Organização na internet: Para nós, lassalistas, a identidade significa estar existencialmente satisfeitos, por pertencer a um grupo que, inspirado em São João Batista de La Salle, têm uma consciência clara das próprias raízes culturais e religiosas; assume a fé como princípio inspirador de vida e a fraternidade como ideal evan-

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gélico; se empenha, através da educação humana e cristã, para que todos cheguem ao conhecimento da verdade e sejam salvos; e procura viver uma dinâmica de integração através da participação, da construção de uma liberdade responsável e inserida na realidade atual.

A Escola Superior Batista do Amazonas (ESBAM), que foi instituída no ano 2000, é a primeira faculdade batista criada no Brasil para ensino secular. Os primeiros cursos oferecidos foram Letras, Pedagogia, Matemática e Ciências Biológicas. Atualmente a ESBAM está direcionada para as áreas de Educação, Serviços e Saúde, oferecendo graduações em Administração de Empresas (Mercados Internacionais), Ciências Contábeis, Ciências Biológicas, Direito, Letras (Língua e Literatura Portuguesa, Inglesa ou Espanhola), Matemática, Medicina Veterinária, Pedagogia (Supervisão Educacional, Magistério da Educação Infantil, Anos Iniciais do Ensino Fundamental e Orientação Educacional), Psicologia (Desenvolvimento Humano Organizacional e Clínica), Serviço Social e Sistema de Informação (Informática). A ESBAM possui como Missão promover a educação de qualidade com base cristã, desenvolvendo pessoas para se tornarem os melhores profissionais de nível superior do Estado do Amazonas.

3. O SISTEMA DE INFORMAÇÃO CONTÁBIL E A CONTABILIDADE GERENCIAL Um sistema de informações adequado precisa incluir informações que levem os executivos a questionar essa suposição [séria causa de fracassos empresariais]. Elas devem levá-los a fazer as perguntas certas, não apenas lhes fornecer as informações que eles esperam. Isto pressupõe que os executivos sabem de quais informações necessitam e também que as obtenham regularmente. Finalmente, é preciso que eles integrem sistematicamente as informações às suas tomadas de decisões. (Drucker, 1999, p.112)

Fundamentar decisões: é esse o identificador primordial de um Sistema de Informação. Em sendo assim, tal Sistema será sempre útil e essencial aos gestores. Constitui-se de uma “rede de informações cujos fluxos alimentam o processo de tomada de decisões, não apenas da empresa como um todo, mas também de cada área de responsabilidade.” (Mosimann e Fisch, 2004, p. 54) Deve ele abranger informações e dados diversos da empresa ou entidade, integrando-se a subsistemas existentes, aproveitando interligações com todas as áreas – contábil, administrativa, planejamento, controle, financeira – e proporcionando suficientes e precisas bases informativas aos responsáveis por tomadas de decisões. Um aspecto primordial a se ressaltar é o da utilidade da informação, qual a relação custo/beneficio inserto na busca e no fornecimento dessa informação. Situações há em que são produzidas excessivamente informações, gerando, por isso, confusões quanto ao aproveitamento que se possa ter delas. Muitas sequer são lidas, aproveitadas, em vista de sua inutilidade, seja pela qualidade do que se apresenta como informação, seja pela intempestividade da apresentação. 86


Segundo Mosimann e Fisch (1999, p. 24), a utilidade da informação se liga a três fatores conjuntos: “qual informação é necessária; temporaneidade; e linguagem acessível.” Em manifestação semelhante, Perez Jr. et al. (2009, p.76) nomeiam os atributos da informação contábil: “confiabilidade, tempestividade, compreensibilidade e comparabilidade.” Dentre os seis subsistemas analisados pelos autores retrocitados (1999, p. 20), sobressaem-se três pela relevância que têm numa estrutura empresarial (Fig. 1):

Fig. 1: Conexão dos subsistemas Fonte: Adaptado pelos autores

Um Sistema de Informação Contábil (SIC) deve abranger todas as informações possíveis relativas às práticas contábeis tradicionais ou convencionais proliferando-se indeterminadamente, em vista das necessidades da gestão, a fim de proporcionar satisfação aos gestores nas suas tomadas de decisões. Drucker (1999) revela as necessidades das grandes organizações quanto às informações demandadas por elas e as dificuldades de tais informações atenderem plenamente àquelas: Algumas multinacionais (...) têm se esforçado para construir sistemas que coletem e organizem informações externas. Mas a maioria das empresas ainda não iniciou essa tarefa. Até as grandes empresas, em sua maioria, precisarão contratar terceiros para ajudá-las. A determinação daquilo de que a empresa necessita requer alguém que conheça e compreenda o campo altamente especializado da informação. Há informações demais e somente os especialistas sabem diferenciá-las. (...) Outra razão pela qual há necessidade de auxílio externo é que as informações têm de ser organizadas de forma a questionar a estratégia da empresa. Não basta fornecer os dados. Estes devem ser integrados à estratégia, testar as hipóteses da empresa e questionar sua perspectiva atual. (Drucker, 1999, p.113)

Um Sistema de Informação Contábil, gerado para atender as necessidades de informações das Organizações, permitirá uma visão sistêmica e abrangerá um controle otimizado, favorecendo a tomada de decisão tempestiva e confiável, com qualidade e eficiência, e tendo sempre em vista o ótimo desempenho organizacional. Tal Sistema integra o Sistema de Informação Geral da organização, porque segrega as informações, já as tendo transformado do estado bruto em que foram coletadas (dados), lapidando-as para o gestor responsável pela tomada de decisão. Ele absorve todas as 87


atividades que geram valores, e é formatado para atender as necessidades da organização no curto e longo prazos, para acelerar o processo de tomada de decisão e objetiva cumprir as finalidades de planejamento e controle. (NOGAS et al., 2000, p.1) O objetivo primordial de uma informação é influenciar uma tomada de decisão. Os dados surgentes, então, da Contabilidade devem ser agrupados em informações que sejam úteis, oportunas, reduzam incertezas e sejam compreensíveis para uma boa tomada de decisão. Nesse instante, o profissional contábil tem alterado seu perfil, o Contador assume um papel mais influente na organização: o de consultor interno, espelhado no perfil do Controller. Portanto, em vista das necessidades urgentes das organizações e em resposta a isso, a Contabilidade Gerencial responde afirmativamente ofertando por meio de seu instrumental técnico possibilidades de atender as informações demandadas pelas Organizações. A Contabilidade Gerencial se manifesta pelo enfoque particular dado a técnicas e procedimentos de outras áreas da Ciência contábil como custos, finanças e análise de balanços de forma a auxiliar a gestão na tomada de decisões (IUDÍCIBUS, 2008). Iudícibus (2008, p. 21) enfatiza: A contabilidade gerencial, num sentido mais profundo, está voltada única e exclusivamente para a administração da empresa, procurando suprir informações que se “encaixem” de maneira válida e efetiva no modelo decisório do administrador.

No processo de tomada de decisões nas Organizações, o gestor não se vale somente das informações e dos relatórios fornecidos pela Contabilidade, mas de um leque de outras que o ajudam a decidir. A Contabilidade Gerencial colabora para isso, abrangendo em suas análises, também, um leque maior de informações de outros campos do conhecimento humano. Conforme Frezatti et al. (2009, p. 10) “a contabilidade gerencial pode contribuir substancialmente para a qualidade dos procedimentos contábeis exigidos pelos IFRSs [International Financial Report Standards] e também pode melhorar a sua eficiência e relevância.” Continuam os autores retrocitados (2009, p. 11) elencando aspectos que demonstram a colaboração à gestão pela Contabilidade Gerencial: • Elaboração e fornecimento de subsídios para o Relatório da Administração. • Na incorporação dos critérios utilizados internamente pelos executivos da firma na avaliação de desempenho das divisões (...) . • Melhoria da confiabilidade das mensurações do valor justo (fair value) através do estabelecimento de critérios formalmente utilizados pela contabilidade gerencial para esse fim (...). • A adoção de conceitos baseados na essência econômica da operação, tais como “lucro abrangente” (compreensive income), pode contribuir para maior aproximação entre conceitos de contabilidade gerencial e os de contabilidade financeira. • A contabilidade gerencial pode contribuir para o estabelecimento de critérios relevantes para cálculo de custos de produção e sua utilização na valoração de estoques.

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• Impacto na remuneração variável para empresas que adotam esse critério para compensação de executivos e participação nos lucros para os funcionários (...).

Frezatti et al. (2009, pp. 17-18) apresentam os estágios evolutivos da Contabilidade Gerencial com base no pronunciamento IMAP 1 (International Management Accounting Practice 1), conforme tabela 1. Tabela 1: Estágios evolutivos da Contabilidade Gerencial Referências/ Estágios

Características

Instrumentos

Estágio 1

Estágio 2

Estágio 3

Estágio 4

Foco na apuração dos custos e controle financeiro

Ênfase na análise do processo decisório e contabilidade por responsabilidade

Atenção aos projetos de redução de desperdício e gestão de custos

Foco na criação de valor

Orçamento

TI – Tecnologia da Informação

Estruturação dos projetos de qualidade, de normatização

Artefatos para monitoramento

Fonte: Adaptado pelos autores

Observados esses estágios evolutivos, apercebe-se a real importância da Contabilidade Gerencial para a gestão das Organizações. Quando bem utilizados, e de modo eficiente, os artefatos contábeis favorecem em muito a gestão organizacional, uma vez que permitem o acompanhamento das atividades tanto operacionais quanto financeiras, demonstrando a situação estática e dinâmica do patrimônio com elementos de análise mais amplos para auxiliar o gestor no processo de tomada de decisões.

4. A METODOLOGIA UTILIZADA Utilizou-se o método dedutivo que, como reza Marques (2009, p. 84), “pressupõe que só a razão é capaz de levar ao conhecimento verdadeiro. O raciocínio dedutivo tem o objetivo de explicar o conteúdo das premissas.”. Também foi utilizado o tipo de pesquisa descritiva, sob a forma de levantamento (survey), observando aspectos qualitativos dos dados a serem coletados. Conforme Beuren (2008, p. 85,) “os dados referentes a esse tipo de pesquisa podem ser coletados com base em uma amostra retirada de determinada população ou universo que se deseja conhecer.” 89


O estudo de campo envolveu a aplicação de um questionário com dezesseis questões fechadas, aplicado a dez gestores de três Organizações do Terceiro Setor (OTS) do ramo de Educação, selecionadas a partir de similaridades nas suas atividades educacionais em cursos do primeiro, segundo e terceiro graus (ensino fundamental, médio e superior), além de vínculo com atividade religiosa. Vergara (2009, p.52) define questionário como uma série de questões apresentadas ao respondente por escrito. (...). O questionário pode ser aberto, pouco ou não estruturado, ou fechado, estruturado. No questionário aberto, as respostas livres são dadas pelos respondentes; no fechado, o respondente faz escolhas, ou pondera, diante de alternativas apresentadas.

O questionário iniciava, observados os propósitos do trabalho da pesquisa, abordando objetivamente as questões relativas à função desempenhada pelo gestor, tempo de serviço e seu grau de instrução. Em seguida, foram abordadas questões acerca do planejamento, processo decisorial, desempenho, avaliação e utilização de instrumentos (artefatos) da Contabilidade Gerencial pelas OTS. Foram distribuídos dez questionários a cada Organização, dos quais sete foram devolvidos pela FSDB, três pela ESBAM e nenhum pela Unilasalle. Também foram identificados limitadores da pesquisa como o pouco interesse demonstrado de duas das OTS e de alguns gestores em participar, demora em responder e certo receio dos respondentes em expressar opiniões nas respostas ao questionário.

5. ANÁLISE DOS RESULTADOS ALCANÇADOS Na análise dos dados, lançou-se mão da abordagem qualitativa, na qual concebem-se análises mais profundas em relação ao fenômeno que está sendo estudado. A abordagem qualitativa visa destacar características não observadas por meio de um estudo quantitativo, haja vista a superficialidade deste último. (BEUREN, 2009, p.92)

São traçados os perfis dos respondentes e das OTS pesquisadas, a fim de serem conhecidas peculiaridades existentes em suas estruturas e atividades administrativas e operacionais.

5.1 Perfil dos respondentes Na Tabela 2 são apresentados os perfis dos respondentes quanto à função exercida na OTS, ao tempo de serviço e ao grau de escolaridade.

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Tabela 2 – Perfil dos respondentes Fatores / OTS

FSDB

ESBAM

UNILASALLE

Função

Diretor (2)

Secretária Executiva (1)

Não respondeu

Coordenador (3)

Contador (1)

Idem

Analista (1)

Chefe de Setor (1)

Id.

Pesquisador (1) Tempo de Serviço

Id.

Até 2 anos (1)

Até 2 anos (2)

Id.

De 2 a 5 anos (4)

---

Id.

De 5 a 10 anos (2)

De 5 a 10 anos (1)

Id.

Superior (1)

Especialização (3)

Id.

Escolaridade

Especialização (1)

Id.

Mestrado (5)

Id.

Fonte: dados da pesquisa.

A Tabela 2 evidencia a predominância dos mestres na FSDB (71%) dentre os respondentes quanto ao fator “Escolaridade”. Na ESBAM, os especialistas (100%). Observa-se que, embora tenham o mesmo tempo de criação (fundadas em 2000), as Organizações têm estruturas diversas, o que vem evidenciar, a priori, a determinação de cada uma em atingir seus objetivos organizacionais, quais sejam o de desenvolvimento institucional e maior participação no mercado da educação de primeiro, segundo e terceiro graus. O “Tempo de Serviço” reforça essa suposição na FSDB em vista de os respondentes possuírem entre 2 a 5 anos (57%) e de 5 a 10 anos (29%), perfazendo um total de 86 %.

5.2 Perfil das Organizações (OTS) Na Tabela 3 é apresentado o perfil de cada OTS pesquisada, onde se destacam os fatores “Missão”, “Planejamento”, “Tomada de decisão”, “Instrumentos da Contabilidade” e “Desempenho”, que agrupam questões análogas a cada fator, avaliados juntos aos gestores conforme a percepção de cada um deles. Tabela 3 - Perfil das Organizações (OTS) Fatores / OTS

FSDB

ESBAM

UNILASALLE

C (2) CP (5)

C (2) CP (1)

Não respondeu

(ver resultado final)

C (2) CP (5)

C (2) CP (1)

Idem

(participação)

C (2) CP (5)

C (2) CP (1)

Id.

(indicadores/gestores)

C (5) CP (2)

C (3) CP (-)

Id.

Missão (deve ser cumprida) Planejamento

(indicadores/planos)

C (3) CP (4)

C (3) CP (-)

Id.

(retroalimentação)

C (6) CP (1)

C (3) CP (-)

Id.

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Tomada de decisão (orientação gestor)

C (1) D (3) DP (3)

C (1) D (2)

Id.

(empírico, se não há)

C (5) CP (1) D (1)

C (- ) D (3)

Id.

Instrumentos da Contabilidade (colabora p/TD)

C (5) CP (2)

C (3) CP (-)

Id.

(custo/resultado)

C (2) CP (5)

C (3) CP (-)

Id.

* (Utilização ou

Fluxo de caixa (5)

Fluxo de caixa (3)

Id.

Potencial utilização)

Mapa de custos (5)

Mapa de custos (3)

Id.

Controle custos (3)

Controle custos (3)

Id.

Análise contábil (5)

Análise contábil (3)

Id.

Indicadores (3)

Indicadores (3)

Id.

BSC (1)

BSC (3)

Id.

Não sabe (1)

Id.

Desempenho (premiação gestor)

C (3) CP (2) D (1) DP (1)

C (3) D (-)

Id.

Legenda: C –Concordo CP –Concordo Plenamente D –Discordo DP –Discordo Plenamente (*) – Admitidas múltiplas respostas. Fonte: dados da pesquisa.

O cumprimento da “Missão” da Organização é vista mais fortemente na FSDB, onde 71% (5) dos respondentes concordam plenamente com esse fato, enquanto na ESBAM o são somente 33 %, embora na visão geral têm-se todos voltados para esse objetivo. A Missão fundamenta a real razão da existência das Organizações, conforme Ribeiro e Cruz (2005) a ressaltam ao distinguirem-na nos setores público e privado: Missão é a razão de ser da organização, como um princípio maior que norteia suas atividades (fins). Cada instituição governamental possui um fim diferente, mas sua missão sempre está relacionada a atender às necessidades da população. O primeiro passo em direção ao planejamento é conhecer bem a missão e disseminá-la entre os funcionários, para que estes também se sintam envolvidos no cumprimento da missão da empresa/ instituição. Nas organizações governamentais a missão é especialmente importante, pois é ela quem deve definir os principais esforços na direção do “bem comum”, que a princípio deve nortear todas as ações do setor público. Nas empresas privadas isso ocorre de forma diferente, pois a missão destas organizações envolve trazer retorno financeiro para o proprietário, afinal elas não sobrevivem se não forem lucrativas. Elas devem se preocupar em ser competitivas, atender ao mercado e gerar lucro. Para ser competitiva a empresa deve ter um diferencial em seu produto, que o destaque dos demais.

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O fator “Planejamento”, e seus desdobramentos em cinco questões, aborda o entendimento dos gestores quanto à sua participação no planejamento institucional, ao atingimento de resultados planejados, à utilização de indicadores para os planos gerenciais, avaliação dos gestores e retroalimentação do processo de planejamento em vista da concorrência. Dos respondentes da FSDB, a totalidade concorda com sua participação no planejamento (“é essencial a participação”), o que corrobora o fato de essa totalidade, também, avaliar o planejamento como necessário à busca de um resultado final positivo e se considerar, s.m.j., responsável por esse resultado. Idem, na ESBAM. A utilização de indicadores de desempenho dos gestores para o planejamento operacional e sua coerência com os planos gerenciais são concordantes para todos respondentes na FSDB e ESBAM. Da mesma forma, a retroalimentação do processo de planejamento, após aferidos e avaliados os indicadores de gestão, é vista como positiva pelos respondentes de ambas Organizações. O fator “Tomada de decisão”, em suas duas questões, permite visões díspares das Organizações: na FSDB, os respondentes (86%) discordam da “visão única” para a tomada de decisão originada do gestor maior da Organização; na ESBAM, 67%. Quanto à utilização de um modelo empírico de tomada de decisão, na ausência de um apropriado, indicado pela gestão, respondentes da FSDB (86%) concordam com o fato, enquanto 100% da ESBAM discordam. A divergência aqui apresentada pode ser entendida a partir da observação e assimilação dos dados da Tabela 1, fatores “Escolaridade”, “Função” e “Tempo de Servico”, s.m.j., onde a FSDB apresenta melhor formação acadêmica dos gestores (mestres são 71% dos respondentes), 71% exercem funções de chefias e 86% possuem entre 2 e 10 anos de serviço., fatos que impulsionam tais gestores a utilizarem seus conhecimentos para a tomada de decisões lastreada em experiências por eles vivenciadas. A ESBAM, 100% Especialistas e chefias inferiores com 67% possuindo até 2 anos de serviço. Em ambas Organizações, no fator “Desempenho”, os respondentes concordam quanto à influência (premiação) que devem sofrer suas remunerações a partir da avaliação de suas performances: FSDB, 71%; ESBAM, 100%. Curiosamente, poder-se-ia depreender que 29% (discordantes) da FSDB poderiam exercer funções superiores de chefia. Ledo engano! As chefias superiores estão entre os concordantes! Desse modo, são percebidas respostas díspares entre respondentes com chefias inferiores na FSDB (discordantes – 29%) e ESBAM (concordantes – 100%). A totalidade das respostas em ambas Organizações concordam que os instrumentos contábeis colaboram para a tomada de decisões e os serviços prestados devem ter seus custos aferidos para proporcionar retorno financeiro positivo. À exceção do EVA (Economic Value Added), os demais instrumentos foram citados como utilizados ou passíveis de utilização pelas organizações pesquisadas, assim: a) FSDB – Fluxo de caixa (71%), Mapa de custos (71%), Controle de custos (43%), Análise contábil (71%), Indicadores de desempenho (43%), BSC (14%); b) ESBAM - Fluxo de caixa, Mapa de custos, Controle de custos, Análise contábil, Indicadores de desempenho e BSC, todos 100% (citados por todos cumulativamente). A afinidade entre os fatores identificados e explorados nas questões da pesquisa tanto na FSDB quanto na ESBAM sugere a existência de um incipiente, talvez precário, 93


sistema de informações gerenciais, baseado em procedimentos empíricos, explicados pela presença de modelos práticos de gestão. Tal modelo poderia ser comprovado efetivamente caso não houvesse limitação ao trabalho de pesquisa desenvolvido nas Organizações. Aspecto relevante presente foi a aparente relação altamente positiva entre os fatores “Planejamento” e “Instrumentos da Contabilidade”, donde se verificam a concordância plena dos respondentes entre aquele e estes no que toca a suas participações no planejamento e à utilização ou potencial daqueles instrumentos.

CONCLUSÃO Percebe-se, pelos resultados apurados, a importância dos instrumentos contábeis na gestão operacional e administrativa das Organizações. As limitações que existiram na pesquisa inibem a possibilidade de serem generalizadas as análises realizadas até aqui, isto porque referem-se à pequena quantidade de amostras (impede a utilização de técnicas de Estatística Inferencial), à inclusão de gestores sem afinidade com a Contabilidade e não manifestação dos gestores afins a ela, não realização de entrevistas e verificação e análise dos registros e livros contábeis, além dos controles financeiros. Algo que pode justificar a possível “indiferença” das Organizações pesquisadas pode ser proveniente de informações gerenciais não disponíveis ou não publicáveis, i.e., informações confidenciais e estratégicas. Apesar dessas limitações, a pesquisa permite ter-se um retrato da gestão e dos instrumentos contábeis utilizados ou potencialmente utilizáveis por esse tipo de Organização. O uso de instrumental de cunho científico, particularmente contábil ou administrativo-contábil, traria melhor performance aos gestores e aos resultados pretendidos pela empresa. Pode-se entender que os objetivos propostos para este trabalho foram atendidos. Como sugestão, para futuros trabalhos semelhantes, pode-se ampliar a amostra ou realizá-la somente entre Organizações sem fito religioso.

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Revista de Ciências Humanas e Sociais da FSDB – ANO V, VOLUME X – JULHO – DEZEMBRO 2009

RELATO DE EXPERIÊNCIAS


Revista de Ciências Humanas e Sociais da FSDB – ANO V, VOLUME X – JULHO – DEZEMBRO 2009

EDUCAÇÃO ESCOLAR INDÍGENA E A BEBIDA ALCOÓLICA Justino Sarmento Rezende1 Recebido em 06/01/10; Aceito em 04/04/10

RESUMO O artigo é descritivo-interpretativo sobre bebida alcoólica na prática pedagógica de escolas indígenas e sua compatibilidade e incompatibilidade com as práticas educativas indígenas e práticas educativas escolares indígenas dos distritos de Pari-Cachoeira, Taracuá e Iauareté, município de São Gabriel da Cachoeira/AM. Palavras-chave: Educação indígena. Escola. Alcoolismo.

ABSTRACT The article is descriptive and interpretive alcohol on teaching practice of indigenous schools and their compatibility and incompatibility with indigenous educational practices and educational practices of indigenous school districts Pari-Cachoeira Taracuá and Iauareté, São Gabriel da Cachoeira / AM. Keywords: Indigenous Education. School. Alcoholism.

1. INICIANDO A CONVERSA A nossa vida humana é mesmo uma construção contínua. Hoje volto para os primeiros meses de vida quando eu vivia no mundo muito especial, mundo só meu e esse mundo foi o ventre de minha mãe. Lá eu fui sendo tecido pedaço por pedaço, dia após dia. Estava bem protegido. Eu gostava! justinosdb@yahoo.com.br

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Um dia tive que deixar esse mundo que era só meu. Como dizem os meus avôs deixei o Banco da Vida (útero materno; Banco de Leite: Õpekõ kumurõ (em tuyuka)) para os meus irmãos e irmãs que começaram viver depois de mim. Eu nasci para o mundo maior. Espantei-me vendo um mundo muito maior do que o ventre da minha mãe. Diversas pessoas cuidaram de mim. Envolvido pelos seus cuidados, carinhos e afetos, eu crescia e percebia que existiam muitas pessoas ao redor de mim que sorriam, elogiavam, admiravam, incentivavam. Fui crescendo e aprendendo a viver com os meus parentes, irmãos maiores e menores, tios e tias, avôs e avós, primos e primas. Com as crianças de minha idade brincávamos, chorávamos, brigávamos, corríamos, caíamos e levantávamos juntos! Tudo isso aconteceu num lugar chamado Onça-Igarapé, um lugar bonito. Por diversos anos, a minha vida foi vivida nesse lugar: casa-família, convivência com os meus parentes da aldeia, acompanhar a minha mãe na roça, acompanhar o meu pai na pescaria e caça e conviver com os meus colegas. Com colegas da mesma idade nos horários de brincadeiras transitávamos nos areais para correr, cair e rolar. Banhávamos nas águas frias e transparentes de Onça-igarapé, brincávamos juntos no pátio grande localizado no centro da aldeia e os nossos pais e parentes acompanhavam as nossas corridas, quedas, superação. Eles ficavam torcendo e achavam graça de nossas brincadeiras de crianças. Suávamos e ficávamos com os corpos cheios de terra. E os nossos pais nos diziam: agora vão ao banho! Corríamos juntos e disputávamos para ver quem chegaria primeiro ao porto e quem cairia primeiro na água. Nadávamos entre correntezas de nossas belas cachoeiras. Voltávamos para casa e tomávamos o chibé ou manicoera (líquido de mandioca bem cozido) antes de deitar na rede que nos esperava dia inteiro. E dormíamos! Belas e exuberantes árvores envolvem o nosso povoado. Nelas os pássaros cantam suas melodias: tucano, papagaios, bem-te-vi, japiim, rouxinol. Corujas, sapos da noite, grilos, inambus fazem ressoar suas melodias que nos ajudam a dormir e também nos assustam às vezes. Os vaga-lumes produzem suas pequenas luzes que se movimentam de um lugar para outro. Pouco a pouco fui conhecendo outros lugares, outros parentes, primos, primas. O mundo não era só nosso povoado. Existiam outras línguas, riquezas, práticas culturais. Aos nove anos conheci nova realidade: escola! Através dela conheci novas culturas humanas indígenas e não-indígenas. Comecei a aprender outros conhecimentos, tive contato com outras informações, outras técnicas, outros fatos, outras habilidades. Aprendi outros conteúdos, conheci outras realidades e outras pessoas. Em minha mente cada vez mais se fortalecia a ideia de tornar-se “outro” e essa mente fazia-me esquecer de mim mesmo e vivia me projetando para o futuro: “civilizado” (não-índio), especialista profissional, técnico, conhecedor das culturas ocidentais, com emprego (dinheiro), vivendo em cidades etc. Essa projeção futurista foi reforçada pela minha saída da aldeia para cidade. Passei por algumas cidades e frequentei algumas escolas e universidades2. Por alguns anos trabalhei no meio de meus parentes e conterrâneos indígenas do alto rio Negro. Conheci outras regiões geográficas e outros povos indígenas. Muitas riquezas existem nesse mundo! Muitas coisas boas continuam surgindo, outras desaparecendo e Centro Vocacional Salesiano (Manaus: 1980-1982), Noviciado (São Carlos/SP: 1983), Pós-noviciado (Manaus: 1984-1986), Tirocínio (Porto Velho (1987), Pari-Cachoeira (1988), Teologia (São Paulo (1989); Manaus (1990-1992), Guatemala (1993). Iauareté (1994-1996; 2004; 2007-2008), São Paulo (1997-1999), Manaus (2000-2003), Campo Grande/MS (2005-2006), Curitiba (2009) e Marauiá (2010).

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outras ressurgindo com novas formas. Eu vejo que existe dinamismo forte no processo da construção histórico de nossas identidades e diferenças indígenas. A vida indígena é dinâmica e complexa (rica, variada, desafiante, poderosa). As nossas culturas indígenas são os nossos espelhos! Elas são aquilo que nós somos! Nós estamos passando por rápidas mudanças. Hoje criamos dentro de nós novas mentalidades a respeito de nossa vida, trabalho, costume, religião, educação, escola, ritos, danças, dinheiro. As mudanças mexem com as nossas vidas. Os conhecimentos e valores recebidos de nossos pais (avôs; antepassados), dos primeiros professores (missionários) e conhecimentos religiosos que nos foram ensinados hoje passam pelo processo de desconstrução e ressignificação. Esse processo, porém não significa apagar nossa história. Nem devemos afirmar que tudo o que nos ensinaram no passado não pressa. Hoje nossas vidas, apesar de passarem por fortes mudanças, têm forte apego às nossas anteriores crenças, ideias, dogmas que os nossos avôs criaram. Elas se apresentam como estáticas, nem sempre acompanham o dinamismo do mundo, das histórias, das pessoas. Os nossos diversos estilos de vida estão exigindo novas abordagens para entender a vida humana. Nós, ao contrário, tentamos respondê-los com instrumentos estáticos, acumulados em nossas mentes (crenças, ideias, dogmas, tradições) e livros. As famílias, as comunidades, lideranças, os educadores, professores, alunos, pais, gestores de escolas, administradores (coordenadores, associações) procuram interagir em seus processos educativos (metodologias, pedagogias, conteúdos) com os bens das heranças culturais étnicas e os das heranças culturais ocidentais. O tema desse artigo faz uma reflexão sobre uma de nossas práticas culturais: bebida (em tukano: s•ri’sehe; em tuyuka: sinir†). Os povos indígenas do Triângulo Tukano utilizam a palavra bebida (em tukano: s•ri’sehe niapšto (tem bebida); em tuyuka: sinir† niaw£to (tem bebida)) para se referir à bebida caxiri e outras bebidas fermentadas, alucinógenas (caapi) e alcoólicas (cachaça). A sua origem está mesmo na origem humana, possui sentido mitológico, social. A bebida é compreendida a partir de Canoas e Casas de Transformações (casas de origens; de surgimento), nos rituais de cantos-danças na Casa de Canto-Dança (Basawi; Basariwi)3 o caxiri passa pelo benzimento como um dos elementos que facilitará a boa interação dos participantes da festa.

2. MEMÓRIAS DAS NARRATIVAS DE MEU AVÔ4 O estudo do assunto de bebida caxiri e seus derivados nos ajudam a entender o valor e a prática e trabalho indígena: para fazer caxiri a pessoa tem que ter roça, pois é na roça que se planta maniwa (mandioca) e outras frutas que servirão de misturas. O caxiri é um dos resultados dos trabalhos. Algumas memórias presentes em minha vida sobre os modos de beber caxiri são aquelas que meu avô5 me contava. Ele contava-me que os nossos avôs bebiam em diversos momentos da vida: dias de trabalho, festa com os irmãos da comunidade, festa Os não-indígenas denominavam de Maloca. Meu avô Tuyuka era chamado de Higino Barreto Rezende (nome de benzimento: Buá). Ele era Baya (mestre de cantosdanças), Kumu (pensador; entoador de mito; discursos cerimoniais), Basegu (benzedor). Meu avô faleceu no ano de 1983. 5 Utilizo o termo avôs seguindo a lógica do pensamento indígena do Triângulo que em língua tukana se diz: mar• ñekusumuã = nossos avôs, para se referir ao que em língua portuguesa se costuma dizer antepassados. 3 4

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de acolhida/despedida às visitas de parentes e primos, festas de ofertas (dabucuri) de frutas, animais (carne de caça), peixes, insetos. Dizia meu avô que, principalmente, bebiase nas cerimônias rituais de iniciação masculina e feminina, cerimônias de cantos-danças. Bebiam os homens e mulheres, rapazes e moças. Os adultos possuíam modos próprios de beber: algumas pessoas ofereciam o caxiri para que a pessoa bebesse quanto conseguisse; outras obrigavam a beber tudo; quem bebia, por sua vez, retribuía com a mesma quantidade obrigando outra pessoa a beber tudo o que tinha na cuia; outras pessoas ofereciam duas e até três cuias em seguida. Todas essas práticas eram realizadas entre risos e gargalhadas. O modo de oferecer o caxiri acontece de forma circular: todas as pessoas que têm caxiri oferecem às pessoas (homens e mulheres) sentadas de forma circular. Dessa maneira, o número de cuias que a pessoa sentada recebe depende de quantas famílias prepararam o caxiri. Em algumas comunidades, a primeira rodada é de duas cuias para cada pessoa. Eu já vi também que, em alguns momentos, oferece-se o caxiri na hora de cumprimentar. Existem muitas outras formas de oferecer o caxiri. Essas realidades faziam com que cada família preparasse o seu próprio caxiri. As mulheres continuamente buscavam aprimorar o grau de fermentação do caxiri. O caxiri bem forte dava uma boa conceituação (mulher do caxiri forte) para a mulher e caxiri fraco diminuía tal conceituação. Os exímios bebedores do caxiri procuravam o caxiri mais forte. Para eles o significado da festa boa era a festa onde as pessoas se embriagavam. As festas cerimoniais duravam até três dias (entre acolhida/chegada, festa e final). As bebidas (caxiri com diversas denominações: caxiri de cana, caxiri vivo, caxiri doce, caxiri de milho, caxiri de cará, caxiri de abacaxi, caxiri de batata, caxiri de cucura, caxiri de jambo) estavam bem presentes nesses dias (dia e noite). Bebiam à vontade e até vomitavam. Muitas pessoas ficavam embriagadas. Dormiam, acordavam e tornavam a beber. Os sábios, benzedores, cantores e dançarinos eram aqueles que aguentavam mais. Eles tinham que acompanhar cada momento da cerimônia. Os sábios benzedores pouco se levantam de seus lugares, permanecem sentados horas e horas. Sentar num mesmo lugar durante a festa é sinônimo de maturidade. Maduro é aquele que quando lhe dão um lugar ele permanece. Quem não é maduro fica mudando de lugar toda hora. Os mestres de cantos e danças estavam bem ornamentados (plumas de japu, garças, arara, braceletes, chocalhos), por isso, mantinham certo controle. Por outro lado, eram eles que bebiam a bebida alucinógena caapi (sabor amargo), consumida em pequenas quantidades, reservada para eles e aos outros já iniciados. O efeito da bebida caapi era de provocar visões (kapi bauare (em tuyuka) visão espiritual, inspiração, iluminação) sobre cantos, danças, benzimentos, discursos mitológicos e outros saberes aos consumidores. Para atingir tal nível, seguiam rituais de preparação: jejuns, abstinências de certos alimentos (betire (em tuyuka)), abluções com água (oko usotire (em tuyuka)) para purificação interior. Para que o caapi produzisse efeito esperado, um benzedor especializado (kapi doagu (em tuyuka)) preparava a bebida caapi. Ele era pessoa idônea para tal serviço. Os conhecedores afirmam que cada momento de preparação é benzido por ele: na hora de cortar o ramo (kapi-dari (em tuyuka)) de caapi, hora de buscar a água (benzimento da água), benzimento na hora de socar o caapi Assim é que o caapi traz consigo muitas forças imateriais (espirituais) capazes de levar o consumidor para outro patamar (nível das divindades de danças, entoadores de mitos) 100


ou que as realidades divinas (luzes, iluminações, inspirações) desçam para pousar em cima do indivíduo preparado (ele é como terreno bem fértil, onde é plantada a semente dos saberes de canto-dança, benzimento, mitos, cerimônias) e ele, através do seguimento da disciplina estabelecida, fará com que esses saberes recebidos cresçam. O benzedor do caapi é que determina, pela força dos benzimentos, os efeitos que aquele caapi e naquele tipo de canto-dança produza nos consumidores. É ele que, também conforme o andamento, pode cortar o efeito do caapi. Assim é que o meu avô dizia. É muito importante observar que nas festas rituais, todos os elementos utilizados, ambientes e pessoas são benzidas. O espaço da casa de canto-dança (Basawi; Basariwi ou vulgarmente denominado de Maloca) era benzido; o ipadu, breu, cigarro (são elementos mitológicos que dão origem à humanidade, vida humana), o caxiri (com suas diversidades) eram benzidos.Todas essas forças imateriais (benzimentos; forças espirituais) geravam um contexto muito profundo para os participantes. Após a participação de rituais, os homens passavam um tempo, determinado pelo benzedor, de abstinência e jejum de certos alimentos. Os homens casados, que participavam diretamente de rituais de cantos, danças e utilização de ornamentos sagrados, também seguiam um tempo de abstinência sexual. Essa disciplina favorecia a continuidade das revelações (divinas, espirituais, superiores sobre os cantos, danças, benzimentos, discursos mitológicos) recebidas durante rituais. Por outro lado, servia de prevenção de doenças que poderiam ser provocadas pelos espíritos de cantos-danças, ritmos, caapi, pinturas, cigarro, ipadu e que poderiam atingir fisicamente a pessoa (emagrecimento, dores de cabeça, tonturas, mordida de jararaca, ataque de onças) caso não obedecessem às normas rituais. Pelas memórias que eu tenho das narrativas de meu avô, as festas não aconteciam semanalmente. Porém, sei que as festas tinham relações estreitas aos calendários solares e lunares (rios enchentes, época de piracemas, caças, insetos, coleta de frutas); calendários do ciclo da vida: nascimento da pessoa (ritos de nominação, banho, alimentação), ritos de iniciação masculina e feminina, rito de alimentação, calendários de relacionamentos interétnicos: visitas, acolhidas, despedidas, ofertas. Conforme supracitadas, algumas festas duravam dois a três dias e com muita bebida. Depois das festas, eles tinham um tempo de descanso. Ficavam dormindo durante um dia para recobrar as forças. Tal descanso estava previsto pelas tradições tuyuka. Por isso, a comida também estava prevista para acontecer nesse dia. Durante as festas, eles/as só (adultos) bebiam e, depois, no dia de “dormir” (descanso) juntavam a comida para a alimentação comunitária.

3. AS FORÇAS POSITIVAS DAS FESTAS Essas são algumas observações feitas e não pretendem esgotar a temática abordada. O leitor indígena e aqueles não-índios que conhecem as culturas indígenas dessa região podem e devem ampliar os benefícios da bebida alcoólica. Os bons conhecedores das culturas indígenas podem recuperar o sentido da bebida alcoólica desde a narração do mito da origem do ser humano até aos dias de hoje. Eu aponto algumas forças, mas dependendo do tempo de vida, da sua posição na hierarquia étnica (líder, benzedor, mestre de dança, mestre de discursos mitológicos, 101


curador de doenças) a lista de benefícios será bem maior. Não quero fazer entender que só no momento de bebida e festas que se transmitiam os conhecimentos. Muitos conhecimentos são transmitidos no dia-a-dia, fora das festas e sem bebidas alcoólicas: durante a madrugada, no caminho de roça, durante a pescaria/caça, durante as viagens, no final do dia – comendo o ipadu etc. Veja alguns benefícios que se transmitiam durante as festas: 1. Transmissão de saberes étnicos: discursos de cumprimentos (acolhida, despedida), discursos mitológicos, discursos sobre os relacionamentos de parentesco; 2. Transmissão de benzimentos: sobre o ciclo da vida (gravidez, nascimento, banho, alimentação, bebida, iniciação), sobre apaziguamento das doenças do tempo (chuva, trovões), apaziguamento das forças das florestas, apaziguamento das forças de animais (jararaca, onças), insetos, sobre as doenças emergentes (gripes); sobre preventivos de acidentes de trabalho, convivência interetnica, sobre curativos; sobre às Casas de Canto-Dança; sobre às alma (nome; nominação); sobre o envio do espírito do falecido para casa dos mortos; 3. Transmissão e prática de cantos e danças: relacionados ao tempo de fazer a roça (começo e fim), para iniciação masculina e feminina, apaziguamento das doenças, apaziguamento das doenças do tempo; 4. Transmissão e prática de diversos ritmos de danças: diversos ritmos de danças mitológicos (popularmente: danças dos velhos), inúmeros ritmos de dança do cariço; dança do japurutu; dança da cabeça do veado, caracol, osso de onça, tocar o jabuti, flautinha; 5. Cantos de improvisação de cantos de agradecimentos, pedidos (hãde hãde); 6. Transmissão e aprendizagem das técnicas de fazer o caxiri; utilização de diversas misturas para a fermentação; 7. Fortalecimento da unidade étnica: o irmão maior pedia que as suas cunhadas fizessem caxiri, todos bebiam juntos para manter e fortalecer a consciência étnica; 8. Funcionamento do espírito organizativo: convidar e acolher as pessoas, preparar a farinha e beiju, organizar as caçadas e pescaria para alimentar as pessoas durante os dias de festas e pós-festa; 9. Prática e aprendizagem de práticas de pinturas corporais (jenipapo, urucum), utilização de ornamentações. A organização e o acontecimento dessas festas envolviam viagens (ida e volta), festas, bebidas, comidas (caça e pesca; roça: farinha, beiju, caxiri), descanso Intercalavam com o ritmo de vida do cotidiano e dias de festa.

4. AS FRAQUEZAS DAS FESTAS A observação de nossas práticas culturais relacionadas à bebida mostra a modificação de nossos comportamentos nas áreas de saúde física, mental, emocional (espiritual). Embora o nosso modo de ingerir bebida alcoólica pertença às nossas crenças culturais historicamente construídas, é importante observá-lo como algo que prejudica a nossa pessoa e nossa convivência social. 102


Nas últimas décadas a bebida alcoólica tornou-se um elemento insubstituível nos eventos programados pelos indígenas. Parece que nós, indígenas, não concebemos uma festa sem bebida, e muita bebida. Ter ou fazer bastante caxiri é sinônimo de poder, domínio sobre aquelas pessoas que não podem fazer bastante caxiri. As relações de poder funcionam muito bem aqui.Talvez, por isso, que todos querem fazer o caxiri para não demonstrar que são fracas (ou mais pobres) diante de outras pessoas. Diante dessa relação de poder é comum ouvir dizer: “aquela pessoa não tem nem roça para fazer beiju, fazer farinha, mas para fazer o caxiri tem!” Hoje estou cada vez convencido de que nós indígenas, somos desde a nossa infância, condicionados (até mesmo sofrer, passar mal) pelos nossos dogmas, crenças, teorias construídas pelos nossos avôs. Nós, que ingerimos exageradamente6 bebida alcoólica, sabemos que ela gera diversos prejuízos, como estes que anoto: 1. Embriagar-se; perder forças; ficar caído dentro e fora da casa; ficar vomitando É uma realidade bem antiga. Antigos viajantes (antropólogos não-índios; missionários) já faziam suas anotações sobre essas situações humanas (desumanas e degradáveis); 2. Desentendimento e briga por parte de algumas pessoas; relembrar os fatos passados; discussões, raiva, ressentimentos, vergonha, fuga; 3. Descuido das crianças durante as festas: as crianças ficam relegadas aos cuidados dos irmãos/irmãs (também crianças); as mães oferecendo caxiri nas Casas de Canto-Danças (hoje: centros comunitários) e embriagando-se; algumas crianças chorando em casa querendo se alimentar; bebezinhos precisando ser amamentados, mas a mãe, embriagada sem condição de cuidar da criancinha; 4. Roubos: enquanto a maioria está na Casa de Dança acontecem roubos nas casas (objetos de uso pessoal, alimentação); 5. “Roubo” de mulheres e homens: alguns rapazes que levam as meninas para a escuridão para a relação sexual ou vice-versa; surgimento da gravidez indesejada; abortos; desentendimento de pais da menina com o rapaz que “roubou” ou com os pais dele; 6. Surgimento de algumas doenças graves após festas: envenenamento por ervas e “sopros” venenosos; 7. Em muitas ocasiões: vergonha, medo, culpa por atos cometidos conscientemente (gritarias, grosserias, agressão); culpa por não saber o que se fez durante o “apagamento” (outros contam: você fez isso, não se lembra?); 8. Indisposição para o trabalho e para a alimentação durante e depois das festas: ressaca, ânsia de vômitos, diarréias.

5. AS INFLUÊNCIAS DAS PRÁTICAS CULTURAIS NÃOINDÍGENAS As culturas são construções históricas e se modificam ao longo do processo histórico de cada povo. As culturas dos povos que habitam o Triângulo Tukano passaram A preocupação não é com as pessoas que sabem se controlar.

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por diversas mudanças na medida em que se ampliaram contatos com outros povos, indígenas e não-indígenas. Algumas práticas culturais mantêm sua semelhança com as do passado. Algumas diferentes práticas culturais surgiram através de contatos com outras culturas não-indígenas. É importante entender que os homens e as mulheres são seres históricos, possuidores de riquezas e fraquezas. Quem trouxe as práticas culturais entre nós não é exceção.Vejamos: 1. As práticas evangelizadoras dos cristãos católicos entraram nas culturas indígenas e contribuíram para a modificação de algumas práticas culturais indígenas que foram ressignificadas, desconstruídas, reconstruídas;. 2. Hoje, a maioria dos povos dessa região é cristã. O contato com cultura cristã proporcionou a assimilação com outros dogmas, crenças, ideias, filosofias, teologias; 3. As práticas educativas escolares entraram nas culturas indígenas e contribuíram para transmitir conhecimentos ocidentais através de diversas disciplinas escolares: Português, Matemática, História, Ciências, Ensino Religioso, Geografia; 4. No início (1915) da prática evangelizadora (salesianos e salesianas) entre os povos do Triângulo Tukano, os não-indígenas eram agentes de evangelização e os indígenas éramos destinatários; 5. Com o passar dos anos e décadas nós, indígenas, fomos assumindo diversas tarefas de evangelizadores. Hoje somos evangelizadores de nossos parentes: catequistas (pregadores da Palavra de Deus, dirigentes de Cultos Dominicais), preparadores de Sacramentos (Batismo, 1ª Eucaristia (confissão), Crisma, Matrimônio), temos Ministros Extraordinários da Eucaristia (homens e mulheres), temos padres e irmãs (freiras). Em algumas situações levamos vantagens em relação aos missionários não-indígenas: conhecemos a Palavra de Deus através de seus ensinamentos; conhecemos nossas culturas e culturas não-indígenas; falamos a nossa própria língua e entendemos a língua portuguesa. Temos muitos instrumentos para utilizarmos nesse campo; 6. As práticas educativas escolares surgiram conjuntamente com as práticas evangelizadoras. Por isso, seguiram a mesma dinâmica da evangelização. Inicialmente, os próprios missionários (salesianos e salesianas) não-indígenas eram professores, educadores, administradores, gestores, diretores. Os ex-alunos mais antigos até hoje se orgulham de terem estudado com os missionários. Afirmam: “nós não estudamos com “gente” (gente aqui é indígena) como vocês estudantes de hoje”. Essa afirmação quer dizer: “nós estudamos com donos do saber” (fontes dos saberes escolares); ainda: “o verdadeiro saber escolar é transmitido pelos não-indígenas, pois a Escola é uma instituição ocidental (entendida como não-indígena)”; 7. Com o passar dos anos e décadas nós, indígenas, fomos aprendendo conhecimentos e técnicas ocidentais: conteúdos, didáticas, metodologias, pedagogias, filosofias. Fomos assumindo diversas tarefas no campo da educação escolar. Iniciamos como alunos, depois algumas pessoas passaram a ser professores para transmitir os saberes escolares (cultura escolar) aos nossos parentes. Hoje muitos parentes nossos estão assumindo funções de gestão escolar. Existem outros setores sendo assumidos pelos indígenas: Conselhos de Educação Escolar (estadual e federal) e Secretarias Municipais de Educação. Já percorremos um longo caminho e construímos nossas histórias no campo da educação escolar. Somos educadores de nos104


sos parentes. Em algumas realidades levamos vantagens aos não-índios: conhecemos (devemos ter domínio) os conteúdos das disciplinas (matérias); conhecemos (devemos ter domínio) nossas culturas e culturas não-indígenas; muitos falam a própria língua ou pelo menos se fala a língua tukana, porém, poucos professores manuseiam esse meio de comunicação na sala de aula, a língua preferida é a língua portuguesa. Temos muitos instrumentos das culturas indígenas para utilizarmos nesse campo, porém, não aproveitamos. E temos que utilizá-los, pois não temos mais como colocar culpa nos não-indígenas pela falta de qualidade de ensino em nossas escolas. Se os filhos de nossos parentes indígenas (e nossos filhos) não conseguem aprender os conteúdos escolares, vamos ensiná-los com as línguas que eles possam compreender melhor, se eles quiserem que lhes ensinemos em língua nacional, vamos ensiná-los com a língua portuguesa etc. Hoje, quantos mais línguas o professor tiver domínio será melhor, pois numa mesma sala existem alunos provindos de diferentes etnias. A filosofia intercultural de nossas escolas deve promover a utilização de instrumentos educativos interculturais.

6. PRÁTICAS EDUCATIVAS ESCOLARES E BEBIDA ALCOÓLICA O espaço escolar é um espaço novo em nossas culturas indígenas, embora constatemos que muitos programas educacionais “() estabelecem relações estreitas com projetos familiares e comunitários. (), entrelaçam, confundem, dificultando a percepção de onde começa e termina uma prática escolar etc. (). Algumas atividades se distinguem como atividades escolares, porém, a maioria é comunitário-escolar. Os projetos envolvem pessoas da comunidade e da escola. Há uma intensa negociação de espaços, tempos, agentes, líderes comunitários, pais, professores, anciãos, coordenador e alunos. Em outros momentos os professores e coordenador interferem com maior intensidade na vida comunitária do que lideranças comunitárias. As práticas individuais (familiares) parecem perder um pouco de sua autonomia, no sentido de que em alguns momentos as comunidades acabam se envolvendo mais com o projeto escolar, deixando de lado os trabalhos pessoais” (REZENDE, J. S., 2007, p.189-190). Nesses últimos anos, principalmente, quando nós, indígenas, assumimos os programas educacionais para recuperar e revitalizar os nossos saberes/conhecimentos e práticas culturais incluímos o nosso caxiri, nas nossas práticas educativas escolares. Como já acenei o caxiri não se resume apenas na bebida (beber), mas é um evento social com todas as suas riquezas e limitações. Mas o caxiri nas últimas décadas está provocando algumas preocupações e incômodos e disso os gestores, pais, alunos, professores, administradores, secretários, assessores escolares já devem ter percebido. Essa reflexão não é nova. Em nossa região já foram realizadas diversas assembleias para estabelecerem novos objetivos e estratégias para aumentar a qualidade da vida dos povos indígenas. Também sobre o alcoolismo, alguns pesquisadores já realizaram trabalhos em suas dissertações de mestrados e teses de doutorados, publicação de artigos em revistas científicas. Os resultados dessas dissertações e teses não são de domínio público (a maioria do povo não tem acesso, não conhece) e muito menos de conhecimento de nós, indígenas, mesmo que as pesquisas tenham sido realizadas em nosso meio. 105


Hoje, dentro da educação indígena e educação escolar indígena na região do Triângulo Tukano, é importante organizar programas educacionais que ensinem a viver e lidar com a vida. Esses e outros problemas estão bem presentes em nossa região: os sofrimentos da vida (falta de dinheiro, falta de emprego, falta de perspectivas melhor para a vida), solidão (os velhinhos vivendo sozinhos sem amparo familiar; os filhos crescem, casam e deixam só os pais), confusão perante os desafios da vida (insegurança, medo), sentimentos de fracasso, ansiedades (dependência do passado (do êxito e do fracasso)), medo do presente e futuro (não se arriscar, não apostar); viver no futuro (não ter os pés no chão; viver sonhando); desespero (suicídios, enforcamentos, beber veneno, beber timbó), violências (tornar-se agressivo; pensar e agir como se todos estivessem contra); criar brigas para se mostrar (ser visto, ser respeitado; auto-exclusão social), doença emocional (tristeza, frustração, não ser amado, ciúmes); lidar com a alegria, dinheiro, sucesso, conquistas (desequilíbrio após atingir vitórias, sucessos: desvio de dinheiro; não prestar contas; entregar-se a vícios), cargos, funções (poder mexe com as nossas cabeças; pensar que é dono do mundo; dono da verdade; não ouvir os conselhos) e dependências à bebida alcoólica (vontade louca para beber, todo dia e toda hora; tremedeiras, visões, alucinações (fantasmas, macacos; cirroses, diarréias, emagrecimentos, barriga da água). Essas novas realidades desafiam as nossas culturas indígenas atuais: Como lidar com elas? As sociedades não-indígenas possuem instituições para atender essas demandas humanas (hospitais, psicólogos, psiquiatra, grupos de auto-ajuda, centro de tratamentos, acompanhamentos profissionais personalizados e grupais). No entanto, nossas escolas não possuem essas oportunidades. Mas como poderiam ser pensadas essas realidades? Os educadores, professores, alunos, pais, gestores, administradores, assessores pedagógicos indígenas (APIs) das escolas dos distritos acima citados estão interagindo bem com os bens das heranças culturais étnicos e os das heranças culturais ocidentais. Estão construindo seus projetos político-pedagógicos. Temos algumas realidades que ultrapassam os nossos esforços e práticas. Nesse contexto é que a matéria da bebida alcoólica deve tornar-se um assunto a ser repensado com urgência, sobretudo sobre as forças negativas que estão surgindo e atingindo alguns educadores (as), professores (as), alunos (as) e pessoas em geral. Nessa região poucas pessoas (indígenas) podem se considerar não-bebedoras. Para falar desse elemento cultural baseio-me na minha própria experiência com a bebida (sofrimento, vergonha, medo, insegurança, falta de credibilidade) e no conhecimento que tenho sobre as realidades dos povos indígenas dessa região. Alguns de nós não queremos estar nessas situações degradantes, mas não temos forças suficientes para sair delas sozinhos. Algo superior a nós e até mesmo pessoas corajosas devem surgir para salvar as nossas vidas, tirar do fundo de poço, surgir como salva-vidas (temos que segurar nelas para não morrer afogados). Quando a bebida alcoólica toma conta de nossa vida, devemos desconfiar que algo bem grave está acontecendo. Quem bebe demais sabe que quando estamos bem mal (ressaca, bebendo água, querendo vomitar, sem vontade de comer, tremendo, com preguiça, endividados, com medo, vergonha) após as festas, nos comprometemos a não beber mais, a beber menos, não fazer mais caxiri e até mesmo não ir 106


mais para festas. Basta que passe as nossas malditas ressacas, tristezas e vergonhas, lá estamos de novo bebendo! Às vezes para superar a vergonha continuamos bebendo mais. Assim para muitos de nós vira uma rotina (beber-passar mal, recuperarbeber). Perdemos a credibilidade diante da família, filhos, alunos, povo, das instituições. Algumas pessoas nos menosprezam, exploram a nossa dependência e assim perdemos dinheiro, criamos dívidas, os comerciantes não querem mais nos atender (vender) porque devemos demais (ficamos com a fama de maus pagadores). Quem é casado leva xingamento da esposa porque o marido nada traz para casa, a não ser o porre. Não compra as coisas para as necessidades dos filhos. No início desse artigo eu recuperei algumas memórias presentes na minha vida/ história sobre o significado da bebida (caxiri, caapi). A herança histórica que herdamos nos leva a afirmar: “nós somos netos dos que beberam em diversos momentos da vida, história; beber faz parte de nossa cultura”. Falando assim, estamos decididos a continuar com esse modo de beber. A decisão menos adequada para nós, hoje, seria: saber que está nos prejudicando e continuar com aquilo e cada vez pior. Você já imaginou alguma vez parar de beber? Quantos ganhos você teria na sua vida se não bebesse e/ou bebesse normalmente? Muitos de nós temos medo de parar de beber por imaginarmos que se não bebermos os nossos amigos não vão mais gostar de nós, que não vai poder mais ir para festas e que se sentiria estranho no mundo São as nossas racionalizações, justificativas para continuar bebendo. Hoje em dia alguns sentidos vividos (dogmas, crenças, teorias) pelos nossos avôs permanecem e recebem as variações próprias que cada pessoa vai criando num contexto bem determinado (tempo, espaço, pessoas). Mas podemos criar outras crenças, ideias sobre a nossa vida e os nossos trabalhos. Algumas características se assemelham com as características apontadas no início, porém, surgem novas características (quem é da região irá se identificar): a) As forças positivas das festas atuais As inúmeras mudanças das realidades indígenas apontam características próprias. Algumas características culturais de nossos avôs estão acontecendo nos espaços escolares denominados “escolas indígenas” com a finalidade de revitalizar as práticas culturais atuais. Existem outras práticas culturais recentes relacionadas às práticas culturais ocidentais. Vejamos algumas características: 1. Transmissão de saberes étnicos: discursos de cumprimentos (acolhida, despedida), discursos mitológicos, discursos sobre os relacionamentos de parentesco, principalmente onde funcionam as escolas indígenas; 2. Transmissão de benzimentos do ciclo da vida: gravidez, nascimento, banho, alimentação, bebida, iniciação (masculina e feminina); benzimentos para apaziguamento das doenças do tempo; apaziguamento das forças das florestas; apaziguamento das forças de animais, insetos; benzimentos das doenças emergentes; benzimentos preventivos; benzimentos curativos; benzimentos das Casas de Dança; benzimentos da alma (nome; nominação); benzimento do envio do espírito do falecido para casa dos mortos, principalmente onde existem as escolas indígenas; 107


3. Transmissão de cantos e danças: cantos e danças relacionados ao tempo de fazer a roça (começo e fim); cantos e danças para iniciação masculina e feminina; cantos e danças de apaziguamento das doenças; cantos e danças de apaziguamento das doenças do tempo; 4. Transmissão de diversos ritmos de danças: diversos ritmos de danças mitológicos (popularmente: danças dos velhos); inúmeros ritmos da dança do cariço; dança da japurutu; dança da cabeça do veado; 5. Cantos de improvisação de cantos de agradecimentos, pedidos (hãde hãde); 6. Transmissão das técnicas de fazer o caxiri: utilização de diversas misturas para a fermentação; 7. Unidade dos moradores: o irmão maior (atualmente é o líder da comunidade com sua equipe de animadores) pedia que as suas cunhadas fizessem caxiri; todos bebiam juntos; manter e fortalecer a consciência étnica; 8. O espírito organizativo: convidar e acolher as pessoas; preparar a farinha e beiju; organizar as caçadas e pescaria para alimentar as pessoas durante os dias de festas e pós-festa; 9. Aprendizagem de práticas de pinturas corporais (jenipapo, urucum), utilização de ornamentações; 10. Organização das festas ligadas à cultura cristã (Batizados, 1ª Eucaristia, Crisma, Casamento, Aniversário, Casamento; festa de padroeiros): aprender a convidar e acolher os convidados; aprender a participar dos banquetes como convidados; levar presentes; participar dos bailes; contribuir com alimentos, caxiri e outras bebidas; 11. Festas conclusivas: assembleias de associações indígenas (dabucuri); finais de cursos: agradecimentos aos formadores; 12. Festas de tomadas de posses: agradecimento às lideranças que saem e posse aos novos líderes das comunidades e seus animadores. b) As fraquezas das festas atuais O consumo de bebida alcoólica nas últimas décadas atinge muitas pessoas, e também pessoas envolvidas com o processo de educação escolar. Em Iauareté, por exemplo, em diversas assembleias, reuniões das comunidades e reuniões de pais, se tratou de diminuir o caxiri e dias de festas para que os alunos não sejam prejudicados. Porém, poucas vezes, tais discussões se tornaram ações efetivas e positivas. Na mesma proporção de indiferença perante as propostas não assumidas para diminuir a bebida nas comunidades se viu o aumento de algumas características, como essas: 1. Aumento do caxiri: muitas famílias e comunidades fazem caxiri todos os finais de semana. Está havendo uma obsessão pela bebida (pensamento muito ligado pela bebida; um bom final de semana é quando tem caxiri); 2. É bem visível a dependência dos compulsivos (vontade incontrolada para beber) pela bebida. Com a aproximação do final de semana aumenta a ansiedade (falta de concentração no trabalho; só esperando que termine logo o trabalho; alguns até abandonam o trabalho, aulas) pela bebida: procurar quem tem a bebida para vender/comprar; quanto custa; 108


3. Há pessoas que vivem do comércio de caxiri: interesse é vender e lucrar, não pensa nos prejuízos; 4. Para fazer a bebida com mais rapidez, algumas pessoas até utilizam o fermento de pão para fermentar mais rápido; 5. Para que o caxiri fique mais forte (compradores comprem mais e ganhar mais), comenta-se que algumas pessoas colocam um pouco de líquido de timbó (raiz venenosa); 6. Em outros lugares servem caxiri misturando com cachaça (álcool). Hoje, o que interessa mesmo é atingir o mais rápido possível ao estado de embriaguez. Quanto mais a bebida se apresenta mais forte é mais procurada pelos consumidores; 7. Aumenta o número de consumidores (bebedores) adolescentes e jovens, meninos e meninas; 8. Quem prepara o caxiri, geralmente, não são os jovens, mas os adultos. Os adolescentes e jovens bebem em grupos. Passam nas casas de amigos para beber; bebem juntos meninos e meninas, a maioria deles quando chega aos Centros Comunitários já está embriagada; 9. O consumo de açúcar aumentou entre a população, mas não é para tomar com café (leite) ou suco e, sim para fazer o caxiri; 10. Antigamente completado aqueles dias de festa, o caxiri que sobrava era jogado fora. Hoje, as pessoas saem de casa em casa juntando o que sobrou, vão coando para aproveitar até as últimas gotas, nada se perde; 11. Devido ao exagero de bebida, muitos jovens e adultos criam problemas: perdem forças; ficam caídos; vomitam; geram brigas nos Centros Comunitários. As brigas são em grupos contra outros grupos de outras vilas (gangs, mascarados, encapuzados, carregando facas nas cinturas), o que acaba provocando ferimentos, esfaqueamentos e até mortes (assassinatos, afogamentos, enforcamentos); 12. É difícil ver uma festa que acaba bem. Geralmente, as lideranças acabam as festas antes do horário previsto devido às brigas; 13. Descuido das crianças durante as festas: as crianças ficam relegadas aos cuidados dos irmãos/irmãs (também crianças); as mães oferecendo caxiri nos centros comunitários e embriagando-se; algumas crianças chorando em casa querendo se alimentar; bebezinhos que precisam ser amamentados, mas a mãe embriagada sem condição de cuidar da criancinha; 14. Roubos nas residências, nos comércios, nos galinheiros, nos lagos de peixe, enquanto a família toda está nos Centros Comunitários; 15. “Roubo” de mulheres e homens: alguns rapazes que levam as meninas para a escuridão para a relação sexual; surgimento da gravidez indesejada; aumento de mães e pais solteiros; desentendimento de pais da menina o rapaz que “roubou” ou com os pais dele. Hoje surgem as doenças sexualmente transmissíveis. Aumenta quantidade de abortos entre as jovens; 16. Surgimento de algumas doenças graves após festas: envenenamento por ervas e “sopros” venenosos; 17. Mortes durante as viagens por excesso de consumo de bebidas.

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7. ATÉ QUE PONTO A BEBIDA ALCOÓLICA É COMPATÍVEL E INCOMPATÍVEL COM AS PRÁTICAS EDUCATIVAS ESCOLARES NA REGIÃO DO TRIÂNGULO TUKANO? Em Iauareté eu convivi com as pessoas de diversas comunidades, pessoas de diversas etnias e de diferentes idades. Quem mora nesse lugar já deve ter notado que o nosso modo de beber e a frequência com a qual fazemos festas desestabiliza o funcionamento normal das comunidades e escolas7: agressões físicas, arrombamentos de comércios, brigas, esfaqueamentos, enforcamentos, roubos de motores de popas, rabetas, voadeiras tiram a tranquilidade do povo, geram desconfianças, medos, inseguranças, revoltas, contrabando de bebidas Na escola São Miguel, por exemplo, era comum, na segunda-feira, muitos alunos chegarem atrasados à escola e serem dispensados (pode ser que já tenha mudado) das aulas. Os alunos saíam satisfeitos porque era o bom motivo para continuar bebendo (mais um dia). Da mesma forma alguns professores (homens). Assim para esses alunos e professores o dia letivo iniciava-se na terça-feira e acabava na quinta-feira, pois na sexta-feira alguns já escapavam para beber já no intervalo de aulas (já existiam pessoas vendendo o caxiri). A bebida atinge também outras programações: reuniões comunitárias, programações religiosas, programações esportivas (diversas vezes eu vi uma equipe inteira não comparecer durante o jogo marcado). Aquelas pessoas que já ingeriram a bebida alcoólica, principalmente, quem bebeu demais já sentiram na vida algumas dessas situações: a) Em nível físico: ressaca: indisposição para se alimentar, dores de cabeça, tonturas, tremedeiras, dores de estômago, diarreias, ânsia de vômitos, insônias ou sonolências, cansaço, fraqueza, olhos avermelhados, marcas de brigas (ferimentos), marcas das quedas; b) Em nível mental: diminuição da vontade de trabalhar e estudar, diminuição da motivação para fazer coisas boas, desatenção e desconcentração impedem o exercício de ensinar e de aprender, inquietação, ansiedade, não lembrar as coisas, não organizar as idéias; c) Em nível emocional (espiritual): vergonha, medo, raiva, culpa (culpar a si mesmo e aos outros), auto-piedade, auto-condenação; aguentar “gozação” dos outros, irritabilidade, hiper-sensibilidade, mentiras, acusações, arrependimentos, promessas, apagamentos (não lembrar-se do que fez e do que falou). A partir dessas características apresentadas por algumas pessoas de nossas comunidades poderíamos nos perguntar. Será que a nossa bebida, nosso caxiri já não está nos deixando doentes e dependentes? Os especialistas em alcoolismo afirmam que o alcoolismo é uma doença progressiva, incurável e fatal. O alcoolismo é uma doença física, mental e emocional (espiritual). Entre a população indígena do Triângulo Tukano, alguns têm predisposição para desenvolver o alcoolismo. É fácil encontrar pessoas em estágios avançados de alcoolismo, dependentes do álcool para viver, trabalhar. E muitas mortes já aconteceram e a causa da morte foi Essas minhas observações foram feitas nos anos de 2007-2008. Já estou fora a um ano dessa realidade, por isso, peço ao leitor que confira a atual realidade.

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o consumo da bebida alcoólica: cirrose hepática, assassinatos, enforcamentos, envenenamentos, afogamentos. Como aconteceu com muitas pessoas pode acontecer comigo e com outros, se continuarmos bebendo. No espaço escolar diminui a qualidade no processo (momento) de ensino-aprendizagem. Alguns professores em alguns dias não estão em condições para ensinar (física, mental e emocional). Muitos alunos não conseguem assimilar os conteúdos, o rendimento dos alunos é baixo. A bebida atrapalha a presença dos alunos e professores em salas de aula. Os professores não dedicam o tempo para preparar aulas, nem alunos para fazer as tarefas. O poder de concentração do aluno diminui à medida que se encaminha no caminho de bebedeiras. A sonolência impede a atenção e a aprendizagem. A ansiedade tira a concentração nos temas da aula, pois leva a pessoa estar presente mentalmente em outros espaços. É bem certo que no final de semana os estudantes (adolescentes, jovens, adultos) dificilmente dedicarão tempo para estudar, fazer tarefas. E o que dizer do professor? Será que ele dedica o tempo de final de semana para preparar suas aulas, corrigir tarefas dos alunos, concentrar-se para transmitir bem os conhecimentos? Nas semanas que não têm festas é visível o entusiasmo dos educadores, dos professores e dos alunos. A alegria está estampada em seus rostos, os sorrisos são diferentes, o interesse pelos temas de aulas aumenta (eles vêm perguntar, consultar). Também os professores ficam animados, sem aquela ressaca emocional (vergonha, desconfiança). Sabem que estão fazendo o seu melhor e sabem que está certo o que estão fazendo. Os gestores e administradores também ficam tranquilos, sem necessidade de ficar com medo de alguns alunos e professores que não estão seguindo o projeto de educação da instituição. Assim, é fácil perceber a capacidade indígena para educação escolar e a qualidade que isso gera. Basta ter bebida para estragar esse cenário bonito. Já aconteceram casos em algumas escolas de alunos levarem bebidas para a sala de aula e brigar. E o que dizer com os bafos de caxiri que se espalham e atrapalham os alunos que gostariam de ter um ambiente tranquilo para aprender? E o que dizer dos roubos de litros de álcool das escolas? Quem pode ser? Alunos e professores irritados circulam pelo espaço escolar. A agressividade e raiva são utilizadas como defesas diante do gestor ou coordenar. E muitas vezes nós, indígenas, temos medo um do outro. Chamar atenção de um professor e aluno é correr risco de ser agredido. Assim, aparecem as consequências de nossos consumos exagerados de bebidas. Por outro lado, há esforços de muitas pessoas para cumprir bem com os compromissos: liderar uma reunião, lecionar, estudar. Essas pessoas estão dentro da porcentagem de pessoas que sabem beber. Uma pessoa que tem predisposição para se tornar alcoólatra (ou alcoólico dependente) no início, é sempre mais forte, bebe mais, aguenta mais. E até leva os outros para casa e volta a beber. Ele se considera forte. E, no entanto, esse pode se tornar um alcoólatra. Até certo estágio de sua bebedeira, a tolerância de seu físico é grande, por isso, bebe mais, aguenta mais. Mas com o tempo da progressão de seu alcoolismo, a tolerância diminui, ele se torna fraco e vai sendo destruído progressivamente. Por isso, afirma-se que o alcoolismo é doença progressiva, incurável e fatal. De fato a Organização Mundial de Saúde classificou o alcoolismo como uma doença que causa um transtorno mental e comportamental. A doença do alcoolismo não tem cura, mas pode ser estacionada. Para isso, 111


não deve ingerir nenhum tipo de álcool, quantidade nenhuma e em nenhuma ocasião. É importante dizer que quando alguém para de beber (deixa de beber), caso venha a recair (voltar a beber) ele começa beber de onde parou (não vai começar do zero). Essa constatação com o progressivo agravamento de alcoolismo em algumas pessoas da nossa região serve como alerta para começarmos reflexão séria e comprometida. Porém, não significa acabar com a bebida alcoólica. Nem toda a população é alcoólica. Seria apenas pequena porcentagem (10%) da população. A maioria não tem predisposição para se tornar um alcoólatra. Entre nós, indígenas, do Triângulo Tukano, o caxiri, que é a bebida mais tradicional, está se tornando uma bebida cada vez mais intensa. Em alguns distritos, como disse acima, o caxiri tornou-se um produto de venda-compra-lucro. Quem faz o caxiri entra nessa dinâmica e não se preocupa tanto com os prejuízos que estão causando para os seus filhos e parentes. Sendo um elemento importante das culturas indígenas da nossa região, o caxiri tornase um elemento que move parte da educação indígena e educação escolar indígena. Afirmamos que durante a bebida são ensinadas algumas práticas culturais indígenas. É verdade. Por outra parte, os discursos de defesa do nosso caxiri e outras bebidas alcoólicas são mecanismos de defesa para continuar bebendo. Muitas vezes só paramos para refletir com mais profundidade sobre as consequências negativas diante das mortes: afogamento, suicídio (enforcamento, tomar timbó), assassinatos, brigas. Também são sentimentos de dor e de revolta, bem passageiros. No fundo de nossa alma perguntamos e buscamos alguma saída melhor. Se olharmos bem para as nossas histórias indígenas, elas nos mostrarão que nas épocas de nossos antepassados não existiam escolas. Hoje temos escolas com todas as suas exigências: disciplinas, presenças, pontualidade, participação, calendários, avaliação (provas). Estamos vivendo e construindo outras histórias. Elas são do jeito que nós somos e do jeito que fazemos. Já construímos muitas realidades bonitas desde os nossos avôs até aos dias de hoje. As escolas estão aí. Nós queremos e fazemos as escolas. Queremos continuar indígenas, mas também queremos aprender riquezas culturais de outros povos não-indígenas. Quais práticas culturais indígenas devem ajudar a construir nossas escolas? Será que as escolas são Escolas de Transformação (nas mitologias de nossa região: Casas de Transformação) Como vamos lidar com a bebida alcoólica e suas consequências nas pessoas com as quais trabalhamos? Falar dessa realidade é preocupar-se com a vida das pessoas em geral: pai, mãe, lideranças (políticas, religiosas, civis), filhos, netos; jovens e adultos. A bebida alcoólica gera para as pessoas, prejuízos financeiros. Poderíamos nos perguntar: quanto dinheiro eu gastei comprando caxiri e outras bebidas alcoólicas desde que comecei a beber? Quantas vezes eu fui roubado porque estava bem passado em bebida? Quais materiais de necessidade pessoal, familiar e comunitária eu deixei de comprar? Que prejuízos eu dei para minha comunidade, minha associação por essar bebendo? É bem verdade que não podemos lamentar pelo que já passou, mas não é proibido imaginar que se não fosse a bebida tirar o nosso dinheiro, muitas pessoas teriam adquirido muitas coisas para suas casas, famílias e comunidades. Na nossa região do Triângulo Tukano, muitas pessoas ganham dinheiro: funcionários públicos, professores, enfermeiros, militares aposentados recebem dinheiro dos programas de Governo; ganham dinheiro porque são pescadores, vendem cipó e são serra112


dores. Certa importância em dinheiro é gasta com a bebida (cerveja, cachaça, caxiri). É comum ver que quem não é controlado pela bebida, constrói casas melhores, compra móveis para casa, compra motor de popa, voadeira; monta comércio; compra roupas. Observando com mais atenção, a bebida alcoólica atrapalha a vida dos povos indígenas da nossa região. Destrói (divide, gera brigas, abandono) as comunidades. Destrói a sociedade (brigas, gangs, assassinatos, violência). Essas realidades repercutem nos espaços escolares. Devemos, de fato, refletir como comunidades comprometidas com o bem das nossas sociedades indígenas, com as nossas escolas, com os nossos alunos, professores, qualidade de ensino-aprendizagem. Enquanto ficar reduzido como um esforço de gestores de escolas e lideranças continuará sem a sua força necessária para modificar o estilo de vida. Quando assumirmos decisões mais práticas certamente as nossas vidas, comunidades e escolas vão respirar um novo ar. Em muitas assembleias e em muitas escolas muito se fala que a escola é da comunidade, a escola é comunitária; a escola age conforme o que a comunidade decide. Então como podemos fazer diante da realidade posta? Fica evidente, porém, que devemos fazer escolha e tomar decisões. No caso específico de escolas indígenas do alto rio Negro/AM, o consumo excessivo de bebida alcoólica deverá ser assumido como política pública (campanhas, conscientização, disciplinas, normas).

8. FECHANDO A CONVERSA! Esse tema de bebida (fermentada, alcoólica) e suas consequências há tempo provoca discussões frequentes em reuniões de comunidades e comunidades educativas. A previsão é de que tal realidade será modificada quando as comunidades e escolas decidirem dar um novo direcionamento para suas vidas, seus trabalhos, suas escolas. Nós, indígenas, somos inteligentes e aprendemos e ensinamos com facilidade o que aprendemos. A prova dessa constatação está ai: professores, professoras, gestores (as), militares, enfermeiros, profissionais, lideranças, comerciantes, ministérios eclesiais (padres, ministros extraordinários, catequistas), desportistas, músicos. Muitos professores formados em cursos superiores e outros tantos estudando nas cidades. E tantas realidades que nós, indígenas, assumimos e somos confiados pelas autoridades. Somos capazes de gerar comunidades criativas, alegres, entusiasmadas. Assumir com alegria, entusiasmo e capacidade nos nossos espaços escolares a tarefa de ensinar/educar consequentemente vai gerar muita qualidade do ensino-aprendizagem. As nossas crianças, adolescentes, jovens e adultos estudantes merecem receber ensino de qualidade pelos bons profissionais. Quando estamos sóbrios (física, mental e emocionalmente) nós fazemos muitas coisas maravilhosas. O que dificulta, para alguns profissionais, é a bebida. Que reduz o nosso entusiasmo, alegria, capacidade de ensinar, capacidade de motivar etc. A decisão de viver melhor a vida, antes de tudo, é uma decisão pessoal. A comunidade (educativa) pode nos ajudar, mas vai funcionar se a pessoa decidir e aceitar a ajuda. As nossas escolas são estruturas materiais, mas nós (professores, professoras, funcionários (as), gestores (as), alunos e alunas) somos pessoas humanas, precisamos cuidar de nós. Merecemos viver melhor.

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REFERÊNCIAS DE SOUSA, Maximiliano Loiola Fonte. Juventude, uso do álcool e violência em um contexto indígena em transformação. Rio de Janeiro, Fundação Oswaldo Cruz, Instituto Fernandes Figueira, (Tese de Doutorado – Pós-Graduação em Saúde da Criança e da Mulher), outubro/2009. REZENDE, J.S. Escola Indígena Municipal ¢tãpinopona-Tuyuka e a Construção da Identidade Tuyuka. Campo Grande/MS, Universidade Católica Dom Bosco (UCDB), (Dissertação de mestrado), 2007.

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Revista de Ciências Humanas e Sociais da FSDB – ANO V, VOLUME X – JULHO – DEZEMBRO 2009

RESENHA


Revista de Ciências Humanas e Sociais da FSDB – ANO V, VOLUME X – JULHO – DEZEMBRO 2009

O DISCURSO DA CIÊNCIA NO ENSINO DE CIÊNCIAS Josiano Régis Caria1 Recebido em 08/02/10; Aceito em 15/03/10 Maria José P. M. de Almeida é livre-docente em Metodologia de Ensino. Licenciada em Física Universidade de São Paulo, Doutora em Ciências. É docente da Faculdade de Educação da Unicamp é coordenadora de grupos de pesquisa em Ciência e Ensino (gepCE) e tem várias publicações nacionais e internacionais com temáticas da pesquisa em Educação em Ciências. Especificamente sobre linguagem, leitura e ensino da ciência. Esta obra é um livro que contextualiza o conhecimento e o discurso da ciência no ensino e está dividido em quatro capítulos que direcionam a leitura para a compreensão mais abrangente dos conceitos apresentados, contudo, os capítulos podem ser lidos independentemente da ordem sem prejuízo do entendimento. No primeiro capítulo, intitulado como CIÊNCIA, DISCURSO, LEITURA E IDEOLOGIA, a autora divide o texto em nove subitens e cria condições para caracterizar a necessidade de a ciência ser entendida como uma entidade social. Esse pensamento é desenvolvido por ela a partir da construção de um imaginário sobre o termo ciência, sugerindo ser mais adequado falar das ciências e não da ciência e restringindo-se às ciências da natureza. A autora, apoiada nas ideias de George Kneller, desmistifica a existência de um equivalente significado de ciência na Grécia Clássica, na China e na Europa Medieval. Segundo ela “[...] nós é que vemos características de ciência na obra, entre outros, de filósofos, matemáticos e astrônomos de então” (p.12). Logo em seguida tece alguns comentários sobre as contribuições da ciência e o poder adquirido por ela na sociedade ocidental, cujo resultado é o não controle sobre os conhecimentos produzidos em âmbitos científicos e tecnológicos, apontando, contudo, para a influência recíproca da cultura, da política e da educação com a ciência e a tecnologia. Baseada em Edgar Morin (1997), o qual afirma que os processos de unificação geram desmembramento, a autora garante que dificilmente podem-se centralizar em uma Aluno do Mestrado Profissional em Ensino de Ciências na Amazônia na UEA. E-mail: regis.info@uol.com.br.

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única entidade as características internas e os modos de produção da ciência ocidental, (p.17), contudo, em blocos elas são resultantes da influência das teorias cientificas e das tradições de pesquisa de cada época, a exemplo da newtoniana. Partindo da necessidade de responder a seguinte pergunta: o que é científico? A autora recorre ao conceito e importância do paradigma de Thomas Kuhn para responder que é todo conhecimento que a comunidade científica aceita e adere, gerando, consequentemente, “uma educação relativamente dogmática” (p.20). Enfatizando ainda mais o campo educacional através da formação do cientista, Almeida faz uma comparação da imagem do cientista e a imagem da ciência, a qual seria mais compreendida se fosse trabalhada a condição política nas negociações discursivas, posto que a mesma é uma resultante histórico-político-cultural, contudo, levanta a importância dos cientistas criarem suas próprias racionalidades para que se evite a formulação de um modelo científico ideal, como se a ciência não possuísse diversos paradigmas num mesmo momento histórico. Ressalta o estudo das produções científicas como criação de uma nova racionalidade científica e se pauta em Gaston Bachelard para apontar possibilidades para a leitura do discurso científico na escola, já que mesmo na ciência pós-moderna, vários autores se apoiam de alguma maneira nesse filósofo. Citando Bachelard em Marly Bulcão (1981) a autora faz comentários a respeito de conceito de ciência e da ruptura da continuidade do conhecimento comum para o científico, levantando a necessidade de estabelecer o “erro” como condição necessária para o caminho da verdade e tendo como ruptura entre o senso comum e o científico a constante transformação da linguagem científica. A partir da diferenciação entre conhecimento imediato e cientifico à luz de Bachelard, a autora, pautada na Análise do Discurso de linha francesa, apresenta pontos de vista para a compreensão de leituras escolares do discurso científico, dentre eles a de que se entenda a linguagem não só como transmissora de informações, mas também como “[...] essencialmente, produto do trabalho dos homens, num processo de interação social e, portanto, histórico” (p.33), não cabendo nessa abordagem a autoria e originalidade do discurso a um sujeito. Com base nesse contexto a autora faz um histórico da Análise de Discurso (AD) buscando uma compreensão do funcionamento da ideologia como condição necessária à formulação do discurso e da não- transparência da linguagem, caracterizando o discurso como objeto de estudo da AD e o silêncio como produtor de efeitos de sentido. Objetivando apresentar uma fundamentação sumária da Análise de Discurso, Almeida inicialmente modera Pêcheux (1999) para explicar a não-transparência da linguagem a qual é resultante da ambiguidade da linguagem, ou seja, das possibilidades interpretativas. Para isso ela utiliza o pensamento de Henry para costurar os fios ideológicos daquele autor com a análise marxista, a ruptura do fazer científico, a divisão do trabalho e a aproximação com o estruturalismo de um foco do pensamento sobre a linguagem: a exterioridade em relação ao falante. A autora observa que dentre os comentários de Pêcheux aquele que é mais relevante para a apropriação da AD é a associação da discursividade à ideologia, a qual “coloca a leitura do discurso no campo do político” (p. 39) e que aquele autor descaracteriza o positivismo bio-psico-social com dois universos discursivos: o dos discursos logicamente estabilizados e dos discursos não estabilizados logicamente, indo de encontro à filosofia positivista e aos comunistas que rejeitavam a psicanálise. 117


Tratando do equívoco e da noção de sentido, Almeida desmonta o conceito estrutural da língua como regras intrínsecas e levanta a necessidade de se compreender a relação entre ideologia e discurso no momento em que Pêcheux (1996) retoma o trabalho de Althusser: “não existe prática a não ser numa ideologia, nem ideologia exceto pelo sujeito e para sujeitos” (p. 147). Debruçando-se sobre os instrumentos teóricos e analíticos, a autora vislumbra seu funcionamento na leitura de discursos científicos, especialmente no que se refere à construção científica e apresenta a transformação ocorrida na noção de ideologia e o papel que possui na AD como memória discursiva “[...] conjunto de dizeres já ditos e esquecidos que determinam o que dizemos[...]” (M. Pêcheux, 1990, p.9), nos trabalhos de Orlandi(1998). Ainda comentando sobre as afirmações da mesma autora, ela expõe sobre o trabalho do analista de discurso “[...] que poderá ouvir, naquilo que o sujeito diz, aquilo que ela não diz, mas que constitui igualmente os sentidos de suas palavras” (op. cit, p. 10). Remetendo-se a M. Pêcheux, Almeida traça um paralelo entre formação discursiva e formação ideológica, comentando não ser possível compreender as relações entre estrutura e acontecimentos num discurso sem que se entenda a diferenciação e a relação de ambas e conclui que “[...] cada formação ideológica pode compreender várias formações discursivas interligadas” (BRANDÃO, 1991, p.90). Exatamente nessa relação/diferenciação que a autora faz referência ao sujeito da formação discursiva e o sujeito genérico, recuperado por Maingueneau (1989) como sujeito linguístico, o qual também fala em um ou em vários gêneros do discurso, como por exemplo: uma carta, um diário, um artigo científico, etc. e evidencia a questão da autoridade implicada em um dos gêneros como “legitimidade de quem fala e de para quem fala” (p.50). Em Orlandi, Almeida busca resposta nas convicções da própria autora para a afirmação sobre a ausência de aprendizagem por interação, apontando para um ideal de aprendizagem através de um movimento dos alunos das repetições empíricas à histórica, passando obrigatoriamente pela formal. A partir dessa análise, ela classifica os discursos em autoritário, polêmico e lúdico e destaca os dois primeiros apresentando as possibilidades de reversibilidade e de intercambialidade, ou seja, a troca entre pessoas na mesma posição-sujeito. Contudo, argumenta sobre o jogo da alteridade em que há a necessidade/possibilidade de reversibilidade, por exemplo, entre professor e aluno e a intercambialidade que deve ser evitada pelos mesmos, uma vez que “[...] não se pode falar no lugar do outro” (p.53), mas que é possível a partir de interlocutores na mesma posição-sujeito, a exemplo de mães conversando sobre assuntos de mães. No penúltimo subitem do primeiro capítulo, a autora, comentando Lopes, foca o currículo escolar e o conceitua como “uma forma institucionalizada de transmissão e reelaboração da cultura [...] entendido como conhecimentos, crenças, hábitos e valores selecionados na cultura de uma dada sociedade” (p.56), permeado, portanto, por fatores epistemológicos, ideológicos e históricos, passando, no entanto, por um processo de mediação didática, sendo, contudo, um dos muitos possíveis currículos. Ainda mediando Lopes, apresenta a equivalência do conhecimento comum com o escolar e conceitua como soma de conhecimentos que usamos na vida cotidiana, em oposição ao conhecimento científico que é o rompimento com o conhecimento cotidiano. A autora apresenta esses conceitos para poder caracterizar a relação entre conhecimento científico supondo um discurso científico e conhecimento escolar associado a um discurso escolar, objetivando investigar como o discurso científico é trabalhado na escola, mais especificamente o dis118


curso pedagógico relativo à ciência. Para isso, ela, apoiando sua tese em Orlandi, faz uma caracterização dos tipos de discurso, estabelecendo como critério para essa classificação o referente, isto é, “a relação entre os interlocutores e aquilo de que falam” (p.58). Tece comentários sobre o discurso autoritário, o qual remete a apropriação do cientista pelo professor e a metalinguagem. Em Bachelard, Almeida discute a importância do conhecimento para o ato de ensinar ressaltando a existência da natureza de diferentes conhecimentos, apontando o automatismo como sendo um dos fatores determinantes do discurso autoritário, devendo haver, portanto, um processo de continuidade para que haja o rompimento do conhecimento científico frente ao conhecimento cotidiano. A autora afirma também que não se deve esperar que o conhecimento científico trabalhado na escola seja o mesmo apresentado nos artigos científicos. Deve-se questionar então a especificidade do conhecimento cientifico e dissociar a ideia de que a cientificidade está associada a algo verdadeiro, mas o que caracteriza o trabalho científico é a “estruturação progressiva da linguagem, com a eliminação, também progressiva, do vivido [...]” (p. 65) A autora inicia o último subitem do primeiro capítulo contando uma história do livro de Fernando Gabeira e levantando, a partir dessa história, o funcionamento da linguagem como viabilizador do conhecimento ou obstáculo ao mesmo. Tratando especificamente do ensino de Física, ela aborda que a construção desse conhecimento é produzida em linguagem formal, com signos abstratos e correlacionada à linguagem matemática, admitindo a dominância do racionalismo clássico ainda vinculado à ideologia determinista. Comenta também que se deve “a partir da cotidianidade do estudante com ele, chegar a um saber escolar relativo ao conhecimento cientifico” (p. 69) e que segundo Snyders o único meio de não ficar no empirismo no aprendizado da ciência é através da abstração. No segundo capítulo, CIÊNCIA E LINGUAGEM: LENDO A LEITURA DE CIENTISTAS, a autora procura compreender as idéias de Werner Heisenberg e Albert Einstein sobre a linguagem comum e matemática na produção científica. Almeida inicia o capítulo abordando a imagem que os cientistas têm do seu próprio trabalho e a influência dessa imagem com o fazer científico, assim como apresenta leituras objetivando “determinar condições de produção e efeitos de sentido” (p. 73), aquele condizente à posição do sujeito responsável pela materialidade do discurso e esse ao sujeito que é destinatário. Uma das leituras apresentada pela autora é concernente a Werner Heisenberg na qual é abordado o trabalho de um físico teórico, as influências, os percursos, as dificuldades e, além disso, questões sobre linguagem. E é exatamente nesse ponto que Almeida se pauta para poder entender o funcionamento da mesma no imaginário de quântica sem que essa seja necessariamente tão distante da mecânica clássica Heisenberg. Esse físico faz referencia à necessidade de formulação de conceitos diferentes para a mecânica. Importante frisar que uso dessa linguagem diferenciada não se limita a conceitos simples, se direciona para a metalinguagem, trazendo à tona a importância do significado das palavras, a contraposição à passividade de tradução da linguagem comum para a linguagem matemática e o grau de compreensão da mesma. A autora também volta sua atenção para o imaginário de Einstein quando aborda a linguagem comum e matemática, mas em contexto específico. No caso a preocupação é com o endereçamento do conteúdo cientifico que utilize uma linguagem para um leitor 119


imaginário carente de conhecimentos específicos e aponta para a importância da linguagem matemática na construção da Física e vai, além disso, percebe que os trabalhos do físico são permeados de desenhos, os quais são sistemas de representação e, portanto, sujeitos a interpretação e a ambiguidade. É importante frisar que Almeida ao trabalhar o imaginário de Einstein faz com que percebamos a preocupação do mesmo com sua própria linguagem, pois mesmo através de linguagem comum, na teoria da relatividade, usa uma grande quantidade de conceitos de Física e, além disso, volta-se para as noções de conceito e de método, apontando limites para a linguagem matemática na Física, já que para ele há uma perda da noção de conjunto. O terceiro capítulo, denominado de LENDO UM FÍSICO NA ESCOLA, a autora visa compreender como os estudantes através das leituras apresentadas pela mesma, com base em Maxwell, constroem significados em suas leituras e as possibilidades dessas leituras no campo cultural e profissional. Inicialmente, Almeida resgata o conceito de linguagem e metalinguagem em Orlandi e a importância dessa última no que diz respeito a ser uma linguagem mais formal, transparecendo sua importância no ensino, mas que a linguagem comum deve tomar a dianteira nas disciplinas. A autora discute na mediação cultural, a as finalidades para se ensinar ciência e o emprego de aspectos da filosofia e da histórica da ciência no Ensino de Ciências, como exemplifica em Barros e Carvalho, o uso “[...] como instrumento auxiliar do professor na solução de dificuldades dos estudantes e, também, na reflexão sobre a natureza da ciência, uma programação voltada para a evolução das idéias em óptica” (p.97) A autora apresenta de maneira bem apropriada a importância do deslocamento, tanto no funcionamento da leitura quanto no conhecimento, dos saberes científicos pelos estudantes, pois a partir desse deslocamento o aluno “passa a mediar para os outros estudantes a sua nova opinião” (p.98). Em seguida Almeida apresenta as interpretações dos alunos sobre os textos de Maxwell. No último capítulo, O IDEÁRIO ESCOLAR: SOBRE MATEMÁTICA E LINGUAGEM COMUM, Almeida faz um levantamento do que foi trabalho nos outros capítulos e se posiciona, podemos chamar de considerações finais, informando que se pautou na Análise do Discurso da linha Francesa e do seu objetivo em ressaltar o papel da ideologia na construção do discurso e do sujeito, definido que “concluí que a partir de autores de diferentes áreas, que a interpretação de uma fórmula é uma questão de leitura, e que toda disciplina tem a sua linguagem, acarretando ao professor, quer ele queira ou não, iniciar seus alunos em algumas formas dessa linguagem [...] que a física é estruturada em termos matemáticos e que a linguagem comum como a matemática, são mediação, ação que modifica, que transforma” (p. 116).

CONSIDERAÇÕES FINAIS De acordo com nossa análise, a autora foi feliz em expor no início de cada capítulo a maneira como desenvolveria os assuntos, os autores abordados e com base em que teoria se fundamentaria, assim como quando faz um resgate do tema e das ideias do capítulo anterior ao exposto, fazendo com que o leitor se situe dentro do tema com o qual se deparará e possa assim fazer uma análise mais crítica da sua leitura e do posicionamento da autora da obra. 120


Importante ressaltarmos também que ela traça um caminho inovador ao relacionar Linguagem, Discurso, Ciência e Ensino da Física, perpassando por discursos de autores diversos em áreas diversas do conhecimento, conduzindo o imaginário do leitor ao imaginário da própria e de outros célebres personagens construtores das ciências, mas que de fato ainda está em construção. Embora utilize uma linguagem que facilite o entendimento por parte da grande maioria de leitores, a nosso ver, é importante que o leitor possua uma fundamentação teórica, principalmente conceitual, da Análise do Discurso Francesa, embora a autora se preocupe em explicá-los durante o transcorrer do texto. Portanto, é uma leitura obrigatória para professores de ciências, especialmente de Física, embora seja voltada para o Ensino de Física não impede que os assuntos abordados pela autora sejam (re)significados e aplicados em outras disciplinas/áreas do conhecimento. É indicada também para leitores e pesquisadores interessados no assunto.

REFERÊNCIAS ALMEIDA, Maria José P. M. de. Discursos da Ciência e da Escola: ideologia e leituras possíveis. Campinas: Mercado de Letras, 2004. 127 p.

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