Poema de Gustavo Lacerda Desenhos de Eduardo Sancinetti São Paulo | Brasil, 2ª edição 2015
VENDO-ME
Não vendo Cartas de amor, de distância Minha pena, minha caneta Minha perna, corpo e pasta
Mas vendo tudo ao redor Da minha caneta, da minha pasta Do meu corpo e da minha estrada
Que pena Que venda!
Nรฃo vendo nada Sem รณculos
Vendo as palavras na página do jornal Não vendo esse prédio dentro da janela (Mas quem vende? Imobiliária, prefeitura Anunciante, delinquente)
Vendo, nesta cidade, Tudo que me dĂŞ lucro Para ter tempo De ir vivendo Sem ver a Idade passar
Vendo meus prótons e nêutrons Para me manter Elétron livre Até o fim
NĂŁo vendo a dor que poupo em mim Mas quem vende sentimento? Quem me vĂŞ na rua correndo?
De passagem e de pressa Vendo todo mundo que me detesta
Vim, vi e vendi.
Só não vendo Meu cigarro Aceso Mas vendo Até a fumaça (Não vendo a chama, Me chama)
Vendo tudo Vendo até meus óculos Mas não vendo O que os outros Não veem.
vendo-me editora