P.16 / ENTREVISTA
Diretor do MEC fala sobre futuro do Enem
P.26 / GESTÃO UMA PUBLICAÇÃO DO SINEPE/RS ›› Nº 141 ›› ANO XXIII ›› ABRIL/MAIO/JUNHO 2021
Os desafios para a captação de alunos
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ITINERÁRIOS EM CONSTRUÇÃO Ao atualizar as perspectivas para a formação dos alunos, o Novo Ensino Médio traz a exigência de uma série de adaptações, especialmente pedagógicas, para as escolas
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Na 16ª edição do Congresso, você poderá acompanhar as palestras focadas na sua área de atuação. Serão 5 trilhas temáticas com conteúdo específico. Vamos direto ao ponto e trilharemos o caminho da excelência na Educação.
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››› Sumário
6 SINEPE EM AÇÃO Julho é a data do Congresso do Sinepe/RS
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Como planejar os itinerários formativos
16 COM A PALAVRA Helber Vieira, diretor de Educação Básica (MEC)
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20 ››› PEDAGÓGICO Metodologias ativas ajudam a tornar as aulas mais interessantes e a melhorar o aprendizado
RADAR A tramitação do homeschooling
30 PESQUISA Reflexão crítica sobre a inovação em educação
34 DIVERSIDADE Ensino remoto para alunos com surdez
36 INOVAÇÃO Comportamento: as mudanças pela Covid-19
26 ››› GESTÃO As estratégias de escolas e IES na captação de alunos durante as restrições da pandemia
Educação em Revista | Nº 141 | Abril/Maio/Junho 2021
‹‹‹ 8 Reportagem de capa Novo Ensino Médio e os itinerários formativos sinalizam autonomia de escolha aos estudantes
Editorial ›››
DIRETORIA: Presidente: Bruno Eizerik, 1º Vice-
Presidente: Osvino Toillier, 2º Vice-Presidente: Oswaldo Dalpiaz, 1ª Secretária: Marícia da Silva Ferri, 2º Secretário: Iron Augusto Müller, 1º Tesoureiro: João Olide Costenaro, 2º Tesoureiro: Hilário Bassotto. Suplentes: Maria Helena Rodrigues Lobato, Ruben Werner Goldmeyer, Nestor Raschen, Carlos Roberto Milioli, Antônio Roberto Lausmann Ternes, Celassi Bernardete Dalpiaz, Bárbara Perlin Nissola. CONSELHO FISCAL: Titulares: Ademar Joenck, Inacir Pederiva, Guilherme Kühne. Suplentes: Isaura Paviani, Maria Angelina Enzweiler, Elenar Luisa Berghahn. DELEGADOS REPRESENTANTES: Bruno Eizerik e Osvino Toillier. Suplentes: Hilário Bassotto e Oswaldo Dalpiaz.
EQUIPE: Direção: Milton Léo Gehrke. Assessoria pedagógica: Naime Pigatto e Claudete Chiarello. Centro de Desenvolvimento em Gestão (CDG): Vera Lúcia Corrêa. Assessoria de Comunicação e Marketing: Luciana Moriguchi Jeckel Lampugnani, Carine Fernandes, Eduardo Oliveira, Hermes Moura, Bruno Pinheiro e Alana Schneider. Financeiro: Matheus Philippi. Atendimento: Jaqueline Maria Rodrigues da Rosa e Suelen Schroeder Ferreira, Emília Pires e Ana Isabel Rodrigues. Serviços Gerais: Ereni Souza da Silva e Naira Elizabetti Real. REVISTA: Coordenação: Carine Fernandes
(MTB 15.449). Edição: Carlos Guilherme Ferreira (MTB 11.161). Reportagens: Pedro Henrique Pereira, Igor Morandi e Tatiana Py Dutra. Capa: Deposit Photos. Diagramação: Padrinho Agência de Conteúdo. Revisão: Milton Gehrke. Conselho Editorial: Prof. Osvino Toillier, Prof. Hilário Bassotto, Prof. Flávio D’Almeida Reis, Profª Mônica Timm de Carvalho, Profª Naime Pigatto, Profª Raquel Boechat, Prof. Ruy Carlos Ostermann, Profª Ângela Ravazzolo, Profª Rosângela Florczak e Prof. Gustavo Borba. Foto de capa: Deposit Photos. FALE CONOSCO – Redação: Cartas, comentários, sugestões, matérias – educacaoemrevista@sinepe-rs.org.br Comercial: Anúncios e assinaturas – comercial@sinepe-rs.org.br. Informações: Telefone (51) 3213.9090 e www.educacaoemrevista.com.br. ISSN: 1806-7123
A Educação em Revista não se responsabiliza por ideias e conceitos emitidos em artigos ou matérias assinadas, que expressam o pensamento dos respectivos autores.
UMA NOVA PERSPECTIVA PARA OS ESTUDANTES CARLOS GUILHERME FERREIRA Editor da Educação em Revista
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ovo Ensino Médio. Trata-se de uma expressão que, por si só, já denota mudança, uma forma diferente de se fazer algo consagrado. E essa é justamente a ideia: transformar a educação dos estudantes brasileiros. Se vai dar certo? Dependerá de uma série de fatores, e esta edição da Educação em Revista aborda o assunto para clarificá-lo e contribuir com o debate necessário para a implantação. Pela importância do tema, dedicamos nossa reportagem de capa e mais duas seções a pontos essenciais, como a construção dos itinerários formativos. São eles que, de fato, poderão tornar realidade a intenção de permitir aos estudantes construírem o próprio caminho de conhecimento, em busca de um objetivo que praticamente se tornou um mantra: protagonismo. Presidente do Conselho Nacional de Educação, Maria Helena Guimarães de Castro vê, no Novo Ensino Médio, uma adequação à realidade dos alunos: “estamos falando de um jovem que já nasce digital, tem outra cabeça, vive em outro mundo”. Entrevistado na seção Com a Palavra, o diretor de Políticas e Diretrizes da Educação Básica do Ministério da Educação, Helber Vieira, levanta outro viés. “(...) trata-se da possibilidade de endereçar melhor a formação integral do estudante com aquilo que a sociedade espera, seja para o cidadão, seja
para o mundo do trabalho.” Para ilustrar como se dá essa construção, conversamos com instituições de ensino que já deram a partida para a adaptação ao Novo Ensino Médio (leia à página 14). Nesse universo, ganharam força práticas a fim de facilitar a aprendizagem do aluno e tornar as dinâmicas em sala de aula (ou fora dela) mais interessantes. Caso das metodologias ativas, tema da seção Pedagógico. Seguimos. Em Gestão, tratamos das estratégias usadas por escolas e instituições de ensino superior para se adaptar às restrições impostas, pela pandemia, na captação de novos alunos. Os meios digitais, notadamente, ganharam muita força. “Os vídeos funcionaram muito bem para nós. Percebemos que as famílias se sentiram mais acolhidas com experiências verdadeiras da nossa comunidade”, explica a analista de comunicação e marketing do Colégio Marista Champagnat, Bianca Menti. Ainda assim, a propaganda tradicional continuou com força em determinadas praças do Interior. A pandemia, aliás, segue em pauta. É consenso de que o mundo será diferente após a vacinação avançar em massa e retornarmos ao convívio sem barreiras. Por isso, trouxemos tendências comentadas de forma crítica por especialistas. Eles acreditam na consolidação de grandes eventos no formato on-line e, também, na transformação da proteção dos dados pessoais em prioridade. Não é uma má ideia.
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››› Sinepe em ação DIVULGAÇÃO, COLÉGIO MARISTA SANTA MARIA
A SITUAÇÃO NO RS DO RETORNO PRESENCIAL Pesquisa realizada pelo Sinepe/RS com 169 associados mostrou que, no início de maio, 100% já haviam retomado os trabalhos
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evantamento realizado pelo Sinepe/RS na última semana de abril, momento do início da retomada das aulas presenciais no Rio Grande do Sul, ouviu 169 instituições de ensino privado. Os dados apontaram que 19% das escolas voltaram em 28 de abril, e a maioria, 63%, recomeçou no dia seguinte. Outros 3% dos respondentes retornariam no dia 30 e 10%, na segunda-feira seguinte (3 de maio). Os outros 5% informaram que recomeçariam nos dias 5 e 10 de maio. Na maioria das escolas (83%) o retorno ocorreu de forma gradual, começando pela Educação Infantil e Anos Iniciais. Outro dado levantado na pesquisa é com relação ao formato de atendimento aos alunos, considerando a limitação de estudantes por sala de aula: conforme as regras do governo do Estado, é preciso ter um distanciamento mínimo de 1,5 metro entre cada classe. Segundo
a pesquisa, 28% das instituições terão condições de receber todos os alunos na escola para as aulas presenciais e 36%, somente em algumas turmas. Já em 29% das instituições, teria de ser adotado o sistema de rodízio em todas as turmas, em função da limitação do espaço físico, ou seja, uma parte da turma vai à escola em um dia e a outra no outro. Os alunos que ficam em casa seguirão com o ensino remoto. No levantamento, 7% das instituições não responderam a essa questão. E, em menos de 15 dias do retorno às aulas presenciais, a rede privada registrou alta adesão dos estudantes, especialmente na Educação Infantil, na qual a maioria das escolas (73,4%) informou presença entre 80% e 100%. Nos anos iniciais do Ensino Fundamental (1º ao 5º ano), a faixa de retorno elevado coube a 60,2% das instituições, sendo de 46,6% nos anos finais e de 51,5% no Ensino Médio.
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Protocolos adotados para a volta às aulas Confira algumas regras que as escolas devem observar para prevenir o contágio pela Covid-19: l Orientar sobre os cuidados necessários em casa e no deslocamento para a instituição de ensino; l Organizar fluxos de sentido único para entrada, saída e circulação de pessoas; l Suspender excursões e passeios externos, além de atividades com aglomerações, como esportivas; l Disponibilizar máscaras para todos os trabalhadores, fiscalizando o uso; l Orientar a todos sobre a necessidade de higienização constante das mãos, em diversas situações; l Orientar alunos e trabalhadores sobre não compartilhar objetos; l Delimitar a capacidade máxima nos espaços, com cartazes informativos; l Higienizar a cada turno as superfícies de uso comuns, como maçanetas; l Garantir equipamentos de higiene, como dispensadores de álcool gel; l Manter abertas todas as portas e janelas, para ventilação; l Readequar os espaços físicos respeitando os limites de distanciamento obrigatório de 1,5m; l Demarcar o piso para distanciamento social; l Escalonar horários, como de intervalo, entrada e saída; l Assegurar que trabalhadores e alunos de grupo de risco permaneçam em casa; l Informar imediatamente casos suspeitos de gripe ou sintomas de Covid-19, estabelecendo uma sala de isolamento; l Substituir o autosserviço de buffet por porções individualizadas nas refeições.
Sinepe em ação
VIRTUAL E GRATUITO, CONGRESSO DO SINEPE/RS OCORRE DE 21 A 23 DE JULHO Nos dias 21, 22 e 23 de julho, ocorre o 16º Congresso do Ensino Privado. Nessa edição, a principal novidade será o formato: totalmente virtual e gratuito ao público. Promovido pelo Sinepe/RS a cada dois anos, desde 1996, o evento permitirá acesso às palestras e a visitação, pela plataforma online, à tradicional Expoeducação, feira de produtos e serviços voltados ao setor educacional. O Congresso 2021 conta com o patrocínio de International School, Sistema Etapa, Cloe Education, Grupo Santillana, FTD Educação e Bernoulli Sistema de Ensino. “Assim como os educadores tiveram de se reinventar frente aos desafios da pandemia, o Congresso também passou por transformações. ”, explica o coordenador do evento e vice-presidente do Sinepe/RS Oswaldo Dalpiaz. Outra novidade do 16º Congresso
está na programação: além das palestras principais, cada participante poderá, a partir de trilhas, escolher temas específicos, de acordo com seu interesse ou formação. Serão cinco trilhas: infâncias, adolescências, juventudes, maturidades e gestores, cada uma voltada às diferentes etapas de ensino, da Educação Básica ao Ensino Superior. Outras informações e inscrições em: www.congressodoensinoprivado. com.br.
RELATÓRIO PERSONALIZADO COM DESEMPENHO NO ENEM O Sinepe/RS oferece às instituições associadas, gratuitamente, um relatório personalizado de desempenho no Enem. O serviço busca oferecer detalhes sobre a performance dos estudantes na prova e, deste modo, auxiliar a instituição em seu planejamento pedagógico. Os associados do Sinepe/RS também poderão adquirir, após a divulgação dos dados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), o relatório do Enem 2020 pelo valor de R$ 600. Caso a escola tenha interesse em um prazo maior, deve entrar em contato com o Sinepe/RS pelo e-mail estatistica@sinepe-rs.org.br ou telefone (51) 3213-9090.
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››› Reportagem de capa
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Oportunidade de aprendizado
Reportagem de capa ›››
Itinerários formativos do Novo Ensino Médio são uma política educacional com o objetivo de colocar o aluno como protagonista, mas demandam planejamento e alguns cuidados para não haver surpresas
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››› Reportagem de capa PEDRO PEREIRA
pedro@padrinhoconteudo.com
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om ou sem pandemia, o início do ano letivo de 2022 será marcado pela presença dos itinerários formativos no currículo do Ensino Médio. A novidade consiste em trilhas formativas de aprofundamento a partir das quatro áreas de conhecimento (confira à página 11), complementares à Formação Geral Básica (FGB). O aluno poderá optar por um caminho de acordo com as aptidões que possui ou deseja desenvolver. Implementar essas atividades de pelo menos 1,2 mil horas previstas ao longo de três anos desafia as instituições de ensino a encontrarem soluções pedagógicas e administrativas. Ao mesmo tempo, no entanto, trata-se de uma oportunidade para tornar o ensino mais atraente a um público que encontra cada vez menos, nos prédios escolares, um ambiente tão instigante quanto as atividades realizadas fora da escola. Isso porque os percursos formativos devem estar alicerçados sobre quatro eixos estruturantes que preveem investigação científica e processos criativos, por exemplo. “Estamos falando de um jovem que já nasce digital, tem outra cabeça, vive em outro mundo. A escola precisa entender que esse jovem precisa ter um protagonismo cada vez maior. Portanto, o Novo Ensino Médio estimula o projeto de vida e o protagonismo do jovem desde o início”, fez questão de salientar a presidente do Conselho Nacional de Educação, Maria Helena Guimarães de Castro, durante o seminário on-line BNCC e Implantação do Novo Ensino Médio, promovido pela Federação Nacional das Escolas Particulares (Fenep), em março. Os itinerários formativos se aplicam a todos os cursos de nível médio, o que inclui também aqueles de formação técnica. Como cada percurso precisa atender a pelo menos um dos eixos estruturantes, durante o curso o aluno
MARIA ELISA MEDEIROS Coordenadora da Educação Básica da rede La Salle
“Quando estivermos realmente trazendo o aluno para ser pesquisador, conseguiremos fazer uma proposta diferente dentro dos itinerários.”
MARIA HELENA GUIMARÃES DE CASTRO Presidente do Conselho Nacional de Educação
“Estamos falando de um jovem que já nasce digital. A escola precisa entender que esse jovem precisa ter um protagonismo cada vez maior.”
poderá aprender, por exemplo, a desenvolver soluções (por meio de investigação científica) ou a empreender em área relacionada.
Mudança precisa ser metodológica Para a coordenadora da Educação Básica da Rede La Salle, Maria Elisa Medeiros, a oportunidade de revitalização do Ensino Médio só será aproveitada se, de fato, as instituições aplicarem uma metodologia diferenciada. “Quando estivermos realmente trazendo o aluno para ser pesquisador, com resolução de problemas, trabalhando por projeto, conseguiremos fazer uma proposta diferente dentro
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dos itinerários”, defende. Pensando nisso, a rede iniciou o planejamento dos itinerários formativos em 2019, com a criação de dois grupos de trabalho reunindo gestores das unidades de diferentes regiões do Brasil. O primeiro passo foi entender a proposta e pensar em como desvinculá-la da formação geral básica – caso contrário, o trabalho não faria sentido. “A tendência é querer contemplar 3 mil horas de FGB. Vemos muito material didático de editora que é complementação daquilo que foi retirado das horas (de formação geral para atender aos itinerários)”, alerta Maria Elisa. Ela entende que os períodos dedicados aos itinerários também podem servir para trabalhar alguns objetos de conhecimento obrigatórios, mas com outra proposta metodológica.
Como organizar a divisão das turmas A solução encontrada pela rede La Salle foi oferecer dois itinerários, reunindo duas áreas do conhecimento em cada. Linguagens e Ciências Humanas de um lado, Matemática e Ciências Exatas do outro. No meio de tudo, estão os conteúdos da FGB. É quando aparece outra questão que pode ser crucial, especialmente para escolas não tão grandes: a divisão das turmas para que cada grupo percorra seu itinerário. Quando houver apenas uma turma em determinada série, por exemplo, até mesmo o espaço físico precisará ser no mínimo duplicado durante as atividades complementares. Uma solução é estruturar os itinerários sem que uma série seja requisito para outra. Caso da rede La Salle: “quando tiver uma turma no segundo ano com poucos alunos, pode colocar a turma do primeiro junto”, exemplifica a coordenadora. Já as 1,8 mil horas de conteúdo clássico permanecem inalteradas, com a turma reunida normalmente.
Reportagem de capa ›››
Formação docente via diretrizes curriculares Reformas metodológicas como esta exigem comprometimento e capacitação dos educadores, especialmente quando o modelo de ensino passa do modo disciplinar para áreas do conhecimento. “É essencial que o processo de formação continuada capacite os docentes a trabalhar conforme a lógica interdisciplinar e transdisciplinar do Novo Ensino Médio”, ressalta o coordenador de Ensino Médio do Movimento Pela Base, Carlos Lordelo. Para isso, ele recomenda que sejam atendidas as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação Continuada de Professores, que devem ser implementadas em todas as modalidades de cursos e programas destinados à formação continuada de educadores no país. A presidente do Conselho Estadual de Educação do Rio Grande do Sul (CEEd/RS), Marcia Adriana de Carvalho, também defende que a formação continuada é chave para a implementação do Novo Ensino Médio. “O alinhamento e nivelamento de informações e conhecimentos entre os professores é ponto relevante, a fim de que a compreensão sobre as mudanças e as formas de operacionalização, especialmente na dimensão pedagógica, se concretizem em currículos, planos de trabalho e ações que garantam aos estudantes o seu desenvolvimento integral, em todas as dimensões do ser humano”, sustenta. Se as instituições de ensino precisam oferecer ciclos de estudo que contemplem as novas formas para desenvolver as competências e habilidades, por outro lado os educadores também devem mostrar engajamento. “Quem precisa aderir ao projeto é o professor. Se ele não estiver muito apropriado do projeto
Entenda como se estruturam os itinerários formativos
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áreas do conhecimento llinguagens e suas tecnologias lmatemática e suas tecnologias lciências da natureza e suas tecnologias lciências humanas e sociais aplicadas
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possível à sua proposta pedagógica. Apesar disso, a sugestão do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) seriado poderá funcionar como um balizador. O problema é que o Ministério da Educação ainda não divulgou quais matrizes curriculares serão exigidas em cada prova. Enquanto isso, as escolas se organizam para que as até 1,8 mil horas de Formação Geral Básica sejam bem aproveitadas e contemplem toda a formação clássica.
Legado da pandemia
eixos estruturantes linvestigação científica lprocessos criativos e mediação lintervenção sociocultural lempreendedorismo
1,8 mil horas
de FGB, no máximo, durante os três anos do Ensino Médio
1,2 mil
horas de itinerários formativos no mesmo período, no mínimo
do Novo Ensino Médio, não vai dar certo”, sentencia a coordenadora da rede La Salle, Maria Elisa. Portanto, para tornar o aluno o centro do processo, primeiro o professor precisa, ele mesmo, transformar-se em um dos pontos centrais.
Enem deverá funcionar como um balizador A flexibilização do Ensino Médio já tinha lugar na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que deixa a critério de cada instituição a divisão das competências e habilidades entre as séries. Isso permite que cada escola distribua da forma mais adequada
Com o ensino remoto emergencial aplicado durante a pandemia, os professores foram se acostumando a otimizar o tempo de atividades síncronas antes que os alunos perdessem a concentração. Isso pode ser bastante útil agora. “Muito se fala da concentração do aluno, sobre quanto tempo o professor fica pedindo para que prestem atenção. A aula ainda é muito expositiva. O professor precisa envolver mais o aluno para que seja atuante”, completa Maria Elisa. O desafio, afinal de contas, é reestruturar todo o Ensino Médio de forma que novas abordagens e lições sejam levadas aos alunos, sem abrir mão das aprendizagens essenciais para a formação acadêmica. A presidente do CEEd/RS acredita que nada será perdido. “De acordo com as possibilidades da instituição de ensino ou da rede, o ‘cardápio’ será mais ou menos diversificado, sem que isso limite ou impeça que as 10 competências gerais da BNCC se concretizem ao final da etapa, uma vez que são o ponto de chegada”, avalia. Segue ›››
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››› Reportagem de capa
Planejamento detalhado é indispensável para consolidar uma mudança significativa Oferta de itinerários formativos pode ter armadilhas se a estruturação não for muito bem definida. Confira algumas dicas: Consulta a alunos e responsáveis l Ter uma ideia das aspirações dos estudantes e suas famílias diminui a chance de descontentamento com os itinerários oferecidos. Cultura local também deve ser levada em conta (região com vocação para determinado setor da economia, por exemplo). Pensar na oferta da Formação Geral Básica e dos itinerários formativos l Definir se serão oferecidos por componentes curriculares, campos temáticos etc. Acertar itens como carga horária, projeto de vida, quais as unidades curriculares eletivas e a formação continuada para atuação em eletivas.
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Organizar um plano de implementação l Deve analisar recursos financeiros, físicos e humanos. Os pilares para a construção do projeto são: organização da oferta; ensino-aprendizagem; infraestrutura e suporte; comunicação e mobilização; normatização e articulação. Para oferecer o chamado quinto itinerário l Ou seja, a formação técnica: é preciso credenciar a instituição no Conselho Estadual de Educação. Atenção: parte do quadro docente pode ser reconhecido por notório saber, mas ainda não há pronunciamento do CEEd/RS sobre este ponto.
Entre Aspas ›››
Camila da Silva Fabis Supervisora Pedagógica dos Anos Finais e Ensino Médio dos colégios da Rede Marista; Mestra em Educação (PUCRS) e doutoranda em Educação (UFRGS).
Itinerários formativos no Novo Ensino Médio e educação integral
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Lei de nº 13.415/2017, do Novo Ensino Médio, alterou artigos importantes da Lei de Diretrizes e Bases (LDB) e, em consonância com as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNEM), reconfigurou a proposta dessa etapa de ensino em dois escopos curriculares: a formação geral básica e os itinerários formativos, estes últimos a serem escolhidos pelos estudantes – tendo seu prazo de vigência para implementação o ano de 2022. O ano de 2020 e o início de 2021 vêm sendo marcados por inúmeros desafios. Por entre telas e janelas, nos ambientes on-line, constituíram-se educadores e estudantes mediados pelas tecnologias digitais. Em cenários mais adversos, por meio de diferentes estratégias, criativas ou possíveis, as inúmeras realidades educacionais deste nosso país tão plural mobilizaram-se. Pesquisadores do campo dos estudos curriculares evidenciam a oportunidade de repactuar a educação com as juventudes em um momento em que a experiência e a profundidade podem ganhar espaços mais significativos do que “as quantidades”. Poderíamos ter, sob outra perspectiva, a oportunidade de nos aproximar ainda mais dos adolescentes e jovens e produzir um espaço curricular com eles. Além disso, assumir que, para além dos espaços escolares, as aprendizagens cotidianas, o contato com outras mídias, linguagens e outros espaços culturais,
também alargam as experiências formativas e a visão de mundo dos nossos estudantes; e que, em diálogo com seus professores, está a possibilidade de repactuar os princípios formativos do percurso escolar, gerando mais engajamento, sintonia e sentido para as demandas impostas neste início de século. A partir disso, poderíamos nos interrogar se não teríamos, nós, que ouvir e perguntar o que faria sentido para os adolescentes e jovens em um mundo pulverizado de tantas informações, se não a importância de investir na experiência e no vínculo em consonância com a profundidade a partir de algumas escolhas? Nos anos de 2018 e 2019, os Observatórios de Juventudes da PUCRS e da PUCPR, em articulação com a União Marista do Brasil (UMBRASIL), conduziram uma pesquisa intitulada “Vamos falar sobre Ensino Médio? Os/As jovens estudantes e suas percepções de currículo no Brasil Marista”. A escuta ocorreu na etapa do Ensino Médio nos mais de 50 colégios maristas no país. A participação de mais de 3 mil jovens a respeito de sua experiência no Ensino Médio e do que esperavam desta nova arquitetura curricular contribuiu para que os desenhos curriculares que, desde então, são pensados pela Rede Marista ocorressem por meio da escuta ativa das demandas e perspectivas de nossos jovens, afirmando a importância do protagonismo juvenil. Diante desse percurso, faz-se importante reiterar o compromisso que
assumimos com a formação integral de qualidade nas quatro áreas do conhecimento, demarcando a existência de itinerários para a ampliação e o aprofundamento da formação geral básica; e da oferta dos itinerários optativos, de livre escolha, apostando em diversificação metodológica, e experiências pedagógicas diferenciadas, articulando trabalho, cultura, ciência e tecnologia. A busca pela qualidade, necessariamente, passará pela escolha de conhecimentos socialmente relevantes e significativos aos projetos de vidas juvenis, bem como a vivência subjetiva social que consolida o nosso compromisso com a excelência acadêmica e com os desafios emergentes para o século XXI. Nossos itinerários formativos possibilitarão aos estudantes: a vivência de estratégias metodológicas diversificadas para impulsionar a curiosidade, a criatividade e o espírito crítico; a garantia de uma construção conceitual marcada pela intencionalidade pedagógica e pelo aprofundamento; além da promoção de espaços pedagógicos para responder às demandas subjetivas dos estudantes. O desafio posto é o contínuo compromisso com a educação integral das juventudes para um mundo em constante transformação, por meio de princípios inegociáveis, tais como: a promoção de uma educação evangelizadora de qualidade, pautada pela ética, pela escuta, pela solidariedade, aliada à excelência acadêmica e ao protagonismo.
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››› Inspire-se
COLÉGIO MADRE BÁRBARA, DIVULGAÇÃO
››› Reunião no Colégio Madre Bárbara, de Lajeado, que criou comissão para definir um ponto central no novo modelo
Planejamento nasce do diálogo Escolas apontam que entender anseios de estudantes e professores é passo fundamental para construir o projeto dos Itinerários Formativos PEDRO PEREIRA
pedro@padrinhoconteudo.com
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laborar o projeto pedagógico conta, a partir de agora, com o desafio de montar Itinerários Formativos. Os percursos de aprendizagem oferecidos aos alunos precisam aliar a Formação Geral Básica (FGB) com itinerários formativos que desenvolvam competências e habilidades para a vida em sociedade e o mundo do trabalho. Para entender o que a
comunidade escolar espera, as instituições de ensino apostam fortemente em pesquisas de opinião e na coleta de informações. Seja no começo ou durante o planejamento, é consenso que entender as aspirações de cada grupo é imprescindível. Caso contrário, todo o trabalho pode ser em vão (com itinerários pouco atraentes ou professores despreparados) ou ter efeito negativo (implicando em despesas desnecessárias, por exemplo). É preciso falar a mesma língua.
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O Instituto Laura Vicuña, de Uruguaiana, acompanha os estudos promovidos pela rede Salesiana, onde compartilha conhecimento sobre legislação e experiências que ajudam a construir a nova proposta pedagógica. A rede já vinha trabalhando com projeto de vida e conta com material de desenvolvimento do autoconhecimento, com projetos de transformação e responsabilidade. Por isso, a figura do aluno-protagonista não chega a ser novidade. “O projeto de vida implantado proporciona um espaço de fala e escuta entre os colegas e a professora, que contempla valores importantes em relação à família, aos amigos e às vivências sociais,
Inspire-se ›››
Perfis de professores e de alunos é considerado Entre as temáticas pensadas estão assuntos variados, como futuro do trabalho, gastronomia, produção textual, voluntariado, sustentabilidade e finanças. O planejamento leva em conta o perfil dos professores e dos alunos e que tipo de habilidades pretende mobilizar. Mas nada será definido antes de uma ampla consulta, que vai ditar o refinamento do projeto. “Vamos basear nossas escolhas e a organização do currículo a partir dessa fala dos alunos”, enfatiza Karla. Além do projeto de vida, os Itinerários Formativos vão contar com outra iniciativa consolidada no instituto: a elaboração de um trabalho de conclusão de curso (TCC). A coordenação pretende ampliar o projeto, implementado há seis anos, para desenvolver um itinerário que promova escrita argumentativa, estrutura de pesquisa e análise de dados. “Temos contato direto com um grupo de professores e pesquisadores da Universidade Federal do Pampa (Unipampa). Estamos provocando os professores a buscarem aprimoramento para incentivarem os alunos com au-
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assim como a espiritualidade e princípios básicos para a significação e construção da vida adulta”, observa a professora Mara Aparecida Batista, responsável pela iniciativa. Habilidades como estas devem aparecer cada vez mais fortes no Novo Ensino Médio – por isso, a aposta do instituto é lapidar os itinerários a partir do trabalho que vem sendo desenvolvido. “Estamos estudando com os professores desde o ano passado. Antes do último trimestre, vamos ouvir também os alunos para saber seus anseios: o que querem descobrir e fazer. E aí vamos conversar novamente com os professores para definir que itinerários serão oferecidos”, explica a coordenadora pedagógica do instituto, Karla Pereira Rutz.
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››› No Instituto Laura Vicuña, alunos apresentam TCCs (antes da pandemia) Em busca de respostas Consulta a alunos, professores e familiares pode antecipar encruzilhadas que seriam encontradas durante a implantação dos itinerários, tais como: l Percursos de aprendizagem preferidos; l Anseios em relação ao mercado de trabalho; l Dificuldade para adaptação ao novo modelo pedagógico; l Material didático desencontrado com a proposta de formação; l Metodologias mais (ou menos) atrativas tanto para alunos quanto professores;
las a partir de situações-problema que precisem de argumento e posicionamento”, projeta a coordenadora.
Ajuda na hora de escolher É por meio da conversa com professores, gestores, especialistas, alunos e familiares, que o Colégio Madre Bárbara, de Lajeado, busca assertividade na oferta dos itinerários. Ainda no ano passado os educadores foram desafiados a pensar em tecnologias e metodologias que colocassem o aluno no centro do processo de ensino e aprendizagem – “com a mão na massa”, como enfatiza a coordenadora do Ensino Médio da instituição,
Justine Thomas. “Um projeto em que o estudante seja realmente a pessoa mais importante e possa usufruir de vários eixos durante a caminhada”, defende. Sendo a possibilidade de escolha um ponto central nesse novo modelo, a escola criou uma comissão com membros de diretoria, coordenações pedagógicas e professores de diferentes áreas do conhecimento. Além disso, trouxe para o debate especialistas e instituições com informações do que o mercado de trabalho exige. Com base em todos esses dados, a instituição vai definir os quatro itinerários que devem ser oferecidos – um para cada área do conhecimento. A meta é contemplar os quatro eixos estruturantes em cada um deles. Mas tudo depende de uma boa conversa. “É um leque bem grande, mas também precisamos olhar para a questão estrutural e administrativa. Não podemos ter um itinerário com cinco alunos inscritos. A partir da pesquisa, os mais escolhidos serão contemplados”, diz Justine. Outro ponto que demanda bastante atenção e estudo é a definição dos materiais didáticos. A escola conta com um parceiro que fornece plataforma com recursos pedagógicos (que devem continuar servindo como apoio, especialmente na parte da Formação Geral Básica), mas não quer prescindir da personalização e do trabalho de valores próprios.
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››› Com a palavra MARY LEAL, ASCOM/SEEDF
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››› Para Vieira, será necessário alterar a cultura institucional das escolas, com o professor como um orientador
“O Enem vai ter de acompanhar essas mudanças” Diretor de Políticas e Diretrizes da Educação Básica no MEC, Helber Vieira avalia o Novo Ensino Médio PEDRO PEREIRA
pedro@padrinhoconteudo.com
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ferecer diferentes percursos e uma nova forma de aprendizagem desafia educadores a alcançarem, também, um modelo inédito de ensino. Em conversa com a Educação em Revista, o diretor de Políticas e Diretrizes da Educação
Básica do Ministério da Educação, Helber Vieira, fala sobre a ruptura que está prestes a acontecer no Ensino Médio. Entre os maiores desafios, estão a avaliação do ensino por competências e a ampliação dos espaços educativos. Enquanto o primeiro pode ser resolvido com exames que abandonem a múltipla escolha, o segundo tem nos convênios e parcerias uma possibilidade de solução.
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Qual o impacto da implantação dos itinerários formativos no Novo Ensino Médio? A implementação é a essência dos propósitos da reforma, em duplo sentido. No lado do estudante, é a tão desejada possibilidade de escolhas, ele cada vez mais protagonista. A materialização dos itinerários formativos conta com a escolha dos estudantes. Por outro lado, quando a gente contempla a complexidade dos arranjos produtivos locais, nacionais e globais, trata-se da possibilidade de endereçar melhor a formação integral do estudante com aquilo que a sociedade espera, seja para o cidadão, seja para o mundo do trabalho. Essa mudança deve ser vista como desafio ou oportunidade? De fato é uma oportunidade, até pelos pilotos que a gente já conseguiu acompanhar. Primeiro, engajar o estudante. É uma sala de aula diferente daquela
Com a palavra ››› em que o estudante se sente bem – e se sente bem por começar a protagonizar suas escolhas e atividades. A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) pede maior autonomia do estudante. Ao proporcionar isso, o Novo Ensino Médio atrai e mantém um estudante mais motivado e focado em ir até o final da sua jornada. É, também, a oportunidade do professor começar a atuar, de fato, de forma diferenciada: não como um despejador de conhecimento, mas orientador do processo educativo dos seus estudantes. Um designer de experiências de aprendizagem. Onde estão os maiores desafios para as escolas? O desafio mais profundo é o da mudança da cultura institucional. É mudar a forma de conceber o ensino e a aprendizagem. Do lado da aprendizagem, a gente começa a entender que o estudante não é um elemento único, uniforme – e as aulas, portanto, devem ser repensadas a partir dessa nova concepção. Isso também modifica enormemente o ensino. Faz com que o professor não mais dê uma aula para 30, 40 estudantes, mas mude seu papel para facilitador de trajetórias individualizadas. Existem outros desafios, como a logística e a preparação em geral, mas nenhum é maior do que a mudança de paradigma da escola. Qual a avaliação do MEC em relação ao cronograma de implantação? No início do ano letivo de 2022 o projeto estará a pleno? O MEC trabalha com o marco de início do Novo Ensino Médio no começo do ano letivo de 2022. Reforço que é do ano letivo porque não deve coincidir com o ano-calendário, por causa da pandemia. Acreditar que todas as escolas estarão na plenitude seria ingênuo. Temos que trabalhar para que o maior número seja alcançado, com profissionais bem formados, entendendo o conceito, propostas pedagógicas adaptadas à BNCC e Novo Ensino Médio, novos convênios
estabelecidos para as possibilidades nas redes de integração com sistema produtivo ou Sistema S. As escolas demonstram preocupação com o Enem, cujo detalhamento da divisão dos conteúdos em cada série vai balizar grande parte dos projetos pedagógicos. Como se preparar de forma que não se perca muito desse trabalho, assim que houver uma definição? O Ensino Médio guardava muito mais coerência nacional do que o Novo Ensino Médio fará, pois agora se permite uma diversificação muito grande de pontos de chegada do estudante. O Enem vai ter que acompanhar essas mudanças, junto com outros mecanismos de seleção. A preocupação do MEC é, em um desenho de exame nacional, que não limite as possibilidades requeridas pelo projeto do Novo Ensino Médio. É importante comunicar que essa gestão do MEC optou por recomendar a não realização do Enem seriado a partir deste ano, 2021, para amadurecer em conjunto com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) uma proposta que permita a harmonização entre a necessidade de avaliação nacional com um modelo de Ensino Médio que dá muita flexibilidade a contornos locais e regionais. Como exemplo: na proposta que estava sendo desenhada para o Enem seriado, haveria aplicação apenas de Português e Matemática nos dois primeiros anos, com os itinerários reunidos no terceiro. Mas o Novo Ensino Médio permite que você comece os itinerários a partir do primeiro ano e esse desenho de avaliação pode fazer com que todas as escolas formatem suas propostas pedagógicas a reboque da prova nacional. Que abrangência deve ter a formação técnico-profissional? O MEC estima que muitas escolas passem a oferecer essa modalidade? De maneira global, nosso grande desejo é que todo estudante brasileiro pudesse ter a condição de optar por
um quinto itinerário, mas nem todas as escolas têm capacidade de oferecer, em termos de infraestrutura e professores. Por isso, o MEC prepara alternativas para fortalecer a sintonia entre institutos federais, redes de escolas privadas e outros mecanismos de oferta, como o Sistema S, para que se associem às escolas de modo a permitir que mais estudantes acessem a educação técnica profissional durante o Ensino Médio. Como aproveitar a flexibilidade do Novo Ensino Médio sem permitir que isso torne desequilibrado o ensino? Até o momento, temos apenas cerca de oito Estados com currículos aprovados em seus conselhos de educação. O MEC irá fazer um estudo detalhado das propostas curriculares nacionais, estudos comparativos que permitam, dentro dessa flexibilidade, uma harmonização de proposta nacional para o Novo Ensino Médio. Entendemos que boa parte desses currículos homologados pelos Estados deve influenciar a oferta pedagógica também no setor privado. Exames como o Enem podem também sofrer mudanças conceituais? Para o presente, a gente já poderia dizer que a vida não é de marcar X. Os exames vão evoluir cada vez mais para questões abertas e que de alguma forma simulem habilidades mais usuais da performance necessária do cidadão e do mundo do trabalho. Em um primeiro momento, eu diria que os testes devem evoluir nesse sentido. No longo prazo, pensando na avaliação do Ensino Médio baseada em competências, o próprio exame de seleção talvez perca sentido quando você tem um processo avaliativo durante o percurso do Ensino Médio que permita a avaliação precisa do que se sabe e do que não se sabe. É o processo evolutivo de uma avaliação formativa durante o Ensino Médio: quanto mais preciso ele for, menor será a necessidade de exames de seleção para a entrada na universidade ou em seleções de empresas.
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A incerteza do homeschooling Sob críticas, projeto de lei que autoriza a prática tramita no Congresso Nacional TATIANA PY DUTRA
tatianapydutra@padrinhoconteudo.com
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ntes mesmo da sanção da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), em 1996, o Congresso Nacional já havia recebido um projeto de lei (PL) para regulamentar o homeschooling, a educação domiciliar. Nos últimos 25 anos, outras seis propostas foram apresentadas ao Parlamento, mas nunca como hoje o Brasil esteve tão perto de acabar com a obrigatoriedade da educação escolar. Assim como o Rio Grande do Sul: a Assembleia Legislativa apro-
vou, em 8 de junho, um projeto de lei proposto pelo deputado estadual Fábio Ostermann (Novo). Para entrar em vigor, o texto necessita da sanção do governador Eduardo Leite, o que não havia ocorrido até o fechamento desta edição. Como pauta de costumes, o homeschooling está entre as prioridades do governo Jair Bolsonaro. Em 2019, o presidente assinou a PL 2401 para formalizar a modalidade. Excessivamente vaga – o texto sequer citava se a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) serviria de baliza a modalidade –, a proposta começou a tramitar em março de 2021 e pode ser aprovada em junho. No meio educa-
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cional, a ideia é alvo de críticas. Coube à relatora, deputada Luísa Canziani (PTB/PR), construir um substitutivo à PL. Entre abril e maio, ela promoveu audiências com educadores, pesquisadores, parlamentares da bancada da educação, representantes da União Nacional de Dirigentes Municipais de Educação (Undime), fundações de apoio à infância e associações pró-educação domiciliar. Com isso, construiu um projeto de lei cuja intenção era agradar aos pais que se consideram no direito de prover a formação acadêmica dos filhos e, ao mesmo tempo, contemplar preocupações de especialistas com a qualidade de um mode-
Radar ››› lo pedagógico que dispensa a presença do professor. Descontentou a ambos. “Os pais, além de não terem capacidade técnica, não têm o tipo de relacionamento necessário (entre docente e aprendente). É claro que a família pode acessar o conteúdo com facilidade, na internet. Mas não basta ter o conteúdo, é preciso saber acessá-lo, fazer uma curadoria”, argumenta o presidente do Sinepe/RS, Bruno Eizerik. O projeto de Canziani foi apresentado à Câmara em 17 de maio, para avaliação das bancadas. O prazo para sugestões foi até 4 de junho, e a votação estava prevista para o dia 9. A deputada esperava que houvesse poucas alterações na proposta, já que seu texto visa a garantir a educação domiciliar e, ao mesmo tempo, busca na educação formal o antídoto para as principais críticas ao modelo. É o caso da exigência de Ensino Superior para os pais ou responsáveis dos alunos, o que desagrada a entidades pró-homeschooling, pois dificulta a prática. A Associação Nacional de Educação Domiciliar (Aned) afirmou que enviaria sugestões de alteração ao substitutivo de Canziani. Mas há outras propostas que ancoram o projeto de desescolarização à escola, como matrícula, avaliações e submissão de plano pedagógico. Os críticos denunciam a ação de um lobby conservador para impulsionar a pauta, sob alegações de que a escola não lida adequadamente com temas políticos, religiosos e mesmo com bullying, drogas e violência. Eles alertam para o risco de aumento do abuso infantil ou da violência doméstica – geralmente identificados pelos professores em sala de aula. Mas, sobretudo, os críticos apontam para a perda da socialização em ambiente escolar, fundamental no desenvolvimento de habilidades socioemocionais e cognitivas. O substitutivo de Canzian previu a atuação de conselheiros tutelares para monitorar os estudantes em seus locais de estudo, além de encontros presenciais semestrais com tutores da escola. A deputada afirma que a escola, “embo-
Os principais pontos do projeto de lei no Congresso Confira algumas das exigências para a adoção do homeschooling:
tras, mas os previstos na BNCC são obrigatórios.
1) Matrícula l Todos os estudantes precisarão ser matriculados em uma escola regular.
5) Ficha-limpa l Os pais ou responsáveis terão de apresentar certidões criminais das justiças Federal e Estadual.
2) Acompanhamento l Pais ou responsáveis terão de entregar relatórios bimestrais à escola, prestando contas de todas as atividades feitas no período. 3) Habilitação mínima l Pelo menos um dos responsáveis legais pelo estudante deve ter o Ensino Superior completo.
6) Vínculo l Os estudantes deverão comparecer a encontros presenciais com tutores da escola a cada seis meses. 7) Vistoria l O Conselho Tutelar poderá fazer inspeções no local onde o aluno aprende.
4) Currículo l A família pode definir conteúdos ex-
8) Socialização l A família deve garantir a convivência em sociedade dos estudantes.
ra seja um importante local de socialização, não é o único”. “Vamos criar, por meio do substitutivo, algum mecanismo que assegure que os pais ou responsáveis estejam, de fato, colocando o aluno em outros ambientes que não só o intrafamiliar. Estamos buscando soluções baseadas em legislações mundo afora”, afirma a deputada. Professor da Universidade de (USP), Romualdo Portela antecipa que igrejas ou clubes “escolhidos a dedo” não substituem a escola, clássico espaço de convivência e integração entre pessoas de diferentes universos, para o exercício da tolerância e da cooperação. “A tolerância só é possível de ser exercida com o diferente. A escola promove uma convivência mais plural, mais democrática, necessária na vida de uma sociedade cada vez mais diversa”, afirmou o professor, em live promovida pela Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (ANPEd). No mesmo evento, a professora Andréa Fetzner, da Unirio, afirmou que o discurso dos defensores do homescho-
oling é equivocado. Segundo ela, projeta uma suposta superioridade cultural elitista, ao mesmo tempo em que impede os filhos de terem acesso a determinados estudos científicos. “Tem também um discurso de ódio aos professores, apresentados como doutrinadores, pervertidos, esquerdistas que querem desviar as crianças de um bom caminho. Há um provérbio africano que diz que é preciso de uma aldeia inteira para educar uma criança. A sociedade educa. A quem interessa impedir que a escola participe?, indaga. Para Bruno Eizerik, do Sinepe/RS, a adoção de homeschooling é uma medida exagerada sob qualquer aspecto. “As famílias têm direitos mas, acima de tudo, está o direito da criança de se desenvolver. Se tem problema de doutrinação nas escolas, que se discuta e se resolva. E se essa escola tivesse os valores que a família acredita? Há tantas escolas, não precisaria impedir as crianças de frequentarem. A solução para a educação é investimento nas escolas e professores”, afirma.
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››› Pedagógico
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TATIANA PY DUTRA
tatiana@padrinhoconteudo.com
À luz das metodologias ativas Emprego de recursos como sala de aula invertida e gamificação trazem novas perspectivas de aprendizagem para os alunos da Educação Superior
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ma pesquisa realizada em 2014, junto a universidades norte-americanas, revelou uma grande discrepância. Enquanto a maioria dos reitores acreditava que as instituições preparavam bem os estudantes para o mercado de trabalho, os grandes empregadores se ressentiam com a falta de habilidade dos egressos. Boa parte precisava receber atualizações das empresas para ficar apto ao trabalho. “A ideia de ‘universidade corporativa’ surgiu para atualizar essa defasagem, que veio das instituições que ensinavam
de forma tradicional. Houve muita pressão para que as universidades atualizassem seus currículos e metodologias”, conta o professor da Universidade de São Paulo (USP) José Moran, que pesquisa mudanças na Educação. O diagnóstico feito à época era de que a educação tradicional estava em descompasso com uma sociedade na qual os conhecimentos são baseados em competências cognitivas, pessoais e sociais. Para preparar profissionais capazes de resolver problemas de forma proativa e empreendedora, seria necessário formar alunos protagonistas do próprio aprendizado. Segue ›››
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Pedagógico ›››
››› Pedagógico Foi neste momento em que as metodologias ativas começaram a se popularizar como recurso didático na formação crítica do estudante. Não que fossem novidade: o sistema fora utilizado por Aristóteles, na Grécia Antiga, e em cursos de algumas grandes universidades do Hemisfério Norte desde os anos 60. Só faltava virar tendência, o que ocorreu mais recentemente no Brasil. “Metodologia ativa é um termo novo para dar nome a algo que sempre existiu. Nada mais é do que fazer coisas na sala de aula que não deixem os alunos passivos. É não ficar preso ao modelo expositivo, em que o professor transmite o conhecimento e o aluno fica lá assistindo. Qualquer metodologia, qualquer forma de aula que privilegie mais o protagonismo do aluno que o do professor, podemos considerar como metodologia ativa”, explica o professor Rafael Korman, consultor pedagógico na Factum.
Como funciona, na prática Conforme o pró-reitor acadêmico da Universidade Católica de Brasília (UCB), Daniel Rey Carvalho, as metodologias ativas aplicam-se a qualquer área do conhecimento. Fazer o diagnóstico de um paciente, criar uma roupa inclusiva ou resolver uma situação real de distribuição de energia no bairro podem ser pontos de partida para as atividades de cursos de Medicina, Moda e Engenharia Elétrica, por exemplo. Para buscar soluções, o estudante fará pesquisas, trabalhos em equipe e discussões com colegas e, claro, com o professor. Mas, nesse modelo, o docente é mais um mediador/orientador do que uma fonte de informações. Cabe a ele despertar a curiosidade e estimular as tomadas de decisões individuais e coletivas, ajudando o aluno a aprender, refletir e se posicionar de forma crítica.
RAFAEL KORMAN Consultor pedagógico na Factum
“É não ficar preso ao modelo expositivo, em que o professor transmite o conhecimento e o aluno fica lá assistindo. (...) Qualquer forma de aula que privilegie mais o protagonismo do aluno que o do professor, podemos considerar como metodologia ativa.” “A metodologia pressupõe protagonismo do aluno, que vai desenvolver outras habilidades que não só a de escutar e memorizar. Vai ter de fazer um projeto, apresentá-lo, discuti-lo, pesquisá-lo. Vai ter de trabalhar outros verbos que não só escutar, decorar e repetir”, diz Korman. A literatura aponta a existência de mais de 30 métodos de aprendizagem ativa. E a dinâmica de alguns dos mais populares propõem que o aluno estude on-line, em casa. É o caso da Sala de Aula Invertida, na qual o estudante vai à classe para apresentar informações, tirar dúvidas ou confirmar entendimentos que teve sobre um tema escolhido pelo professor. O encontro é um momento de expandir o conhecimento por meio da interação. Bastante usada em disciplinas com carga horária reduzida, a Sala de Aula Invertida é, na avaliação de Korman, um modo inteligente de explorar a presencialidade. “Se for para o professor passar slides por 1h30min, porque ele não posta esses slides (em uma plataforma) para o aluno? Para quê tanta gente reunida em uma mesma sala para ver
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uma mesma pessoa só falar sozinha? Já que está todo mundo lá, quem sabe aproveitamos e fazemos essas pessoas conversarem entre si, fazerem coisas juntas que, se estivessem separadas, não fariam?”, explica.
Explorando possibilidades Além de selecionar ou elaborar materiais escritos, orais e audiovisuais para levar à classe, o professor também fará a curadoria de metodologias a serem aplicadas. Um mesmo conteúdo pode exigir várias estratégias. O desafio do docente será saber combinar as atividades e os desafios de acordo com o objetivo a alcançar. “Não é escolher um método e ir com ele até o fim. Tem que saber quando usar o quê. O conteúdo pode exigir uma explicação direta por 10 minutos, depois trabalho em grupo. Aí os alunos produzem algo, apresentam. Então o professor retoma, sistematiza o conhecimento. Faz um resumo, uma conexão com a aula anterior e propõe outra coisa para a aula seguinte”, exemplifica Korman. O professor José Moran afirma que aprender a fazer as combinações mais adequadas para cada objeto de conhecimento depende mais da prática do que do estudo. “Para aprender a dirigir um carro, não basta ler muito sobre esse tema; tem que experimentar, rodar com ele em diversas situações com supervisão, para depois assumir o comando do veículo sem riscos. Se queremos que os alunos sejam proativos, precisamos adotar metodologias que envolvam atividades cada vez mais complexas, em que tenham que tomar decisões e avaliar os resultados. Se queremos que sejam criativos, eles precisam experimentar inúmeras novas possibilidades de mostrar sua iniciativa”, ensina Moran.
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Quais são as metodologias ativas? Confira cinco modelos que podem ser aplicados:
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- Ensino híbrido l O nome desse sistema foi adaptado do inglês blended learning (ensino misto, misturado). Consiste em ofertar conteúdos on-line e presenciais. Há diversos modelos, mas os quatro mais usados são: l Flex: o conteúdo e as instruções para o trabalho estão à disposição do aluno, on-line. O que é flexível e adaptável é a intervenção do professor no momento presencial, que pode ser grande ou pequena, conforme a necessidade do aluno. lBlended misturado: quando o aluno pode fazer uma ou mais disciplinas de forma totalmente virtual, a fim de complementar as disciplinas presenciais. l Virtual enriquecido: quando o aluno faz a maior parte das disciplinas virtualmente e pode participar de algumas atividades presenciais (como visitas ao laboratório). lRodízio: a sala de aula é dividida em estações de aprendizagem (incluindo on-line), nas quais o estudante pode circular.
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- Sala de aula invertida lOutra forma de estilo híbrido. Os conteúdos são disponibilizados ao aluno num ambiente virtual. A ideia é que ele ab-
sorva as informações e leve suas dúvidas para a sala de aula. Na interação presencial, os estudantes serão engajados em atividades de aprendizado coletivo.
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- Instrução aos Pares (peer Instruction) lOs alunos estudam por conta própria e, depois, respondem às questões on-line. Ao avaliar os resultados, o professor percebe os pontos em que têm mais dificuldades e que serão trabalhados em sala de aula, em duplas.
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- Project Based Learning (PBL) l Em português, é trabalhado como Aprendizado Baseado em Projetos ou Aprendizado Baseado na Resolução de Problemas. No primeiro, o foco é o desenvolvimento de projetos e, no segundo, a solução de problemas. A proposta é que os alunos façam um trabalho de investigação a partir de um desafio ou pergunta complexa até chegarem ao produto final ou conclusão.
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- Gamificação lAplica conceitos e ferramentas do mundo dos videogames para motivar pessoas a resolverem problemas no mundo real. Um app ou plataforma de aprendizado apresenta um desafio, e o aluno é recompensado ao concluir cada nível.
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››› Pedagógico na prática
››› Universidade investiu nos laboratórios utilizados nos cursos da área da saúde
DIVULGAÇÃO UNIRITTER
UniRitter implantou mudanças profundas
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m um contexto em que estudantes já não aceitam um modelo vertical e uniforme de aprender, as metodologias ativas ganham destaque entre as instituições de Ensino Superior. A UniRitter trabalha neste modelo desde 2013 e, hoje, práticas como o ensino por projetos, híbrido e a sala de aula invertida são aplicadas em seus mais de 70 cursos. Conforme o coordenador de pós-graduação, Luiz Felipe Forgiarini, a medida exigiu mudanças na estrutura curricular de muitas graduações. “Aqui falamos em currículo em espiral, não vemos os conteúdos dissociados uns dos outros. O aluno vai do primeiro semestre ao último numa crescente de desenvolvimento de habilidades e competências, sejam elas gerais ou específicas, de sua profissão. E se muitos conceitos se integram, não faz sentido segregar disciplinas”, explica. Forgiarini exemplifica esse pensamento com o caso da disciplina de Estrutura e Função Humana, oferecida
aos cursos da área da saúde da Uniritter, mas inexistente em outras instituições. A ementa reúne sob o mesmo guarda-chuva conhecimentos de histologia, anatomia e fisiologia, geralmente ministradas separadamente. “Entendemos que o aluno precisa reconhecer desde uma estrutura celular do corpo humano até sua estrutura anatômica, e também como tudo funciona. Por isso, repensamos o currículo”, esclarece o professor.
Projetos desenvolvidos como na vida real A instituição também investiu na adequação de laboratórios e aquisição de materiais que permitissem aos alunos desenvolver projetos, pesquisas e práticas acadêmicas cada vez mais realistas. Na área da saúde, por exemplo, os alunos podem vivenciar situações práticas de alta complexidade em um laboratório-simulador.
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“Contamos com manequins que, comandados por um operador, ‘conversam’ com o estudante, ‘dizem’ o que estão sentindo. O aluno pode verificar seus sinais vitais ou mesmo lidar com complexidades de uma parada cardíaca, experimentando questões técnicas e emocionais daquelas situações”, diz Forgiarini. Na maioria das vezes a aplicação de desafios não depende tanto de aparatos tecnológicos. Os cursos de Direito e Veterinária, por exemplo, realizam em conjunto um julgamento de processo ético-disciplinar. Na encenação, os futuros advogados atuam como defensores e acusadores de veterinários denunciados ao conselho profissional. Assim, promovem suas defesas técnicas, com simulação de audiências e realização de sustentação oral, sob a supervisão de professores e profissionais da área. “As metodologias ativas trazem o aluno para o centro da aprendizagem, que se torna mais significativa, desde os níveis mais introdutórios. Usamos diferentes propostas pedagógicas para que ele chegue aos níveis mais altos de complexidade, para fazer a aplicação daquele conteúdo. Ele vai ser protagonista, autônomo, mas vai contar com os subsídios do professor e da instituição”, completa Forgiarini.
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››› Gestão
Criação de oportunidades
Para contornar as dificuldades da pandemia, escolas e instituições de ensino superior investiram em marketing digital como substituição a processos tradicionais para a captação de alunos. No Interior, publicidade na mídia e contato entre pais também fizeram a diferença
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CAETANNO FREITAS
caetanno@padrinhoconteudo.com
O
cenário de crise econômica fez surgir diversas barreiras a serem vencidas pelas instituições de ensino. Desde os desafios relacionados ao ensino remoto ou híbrido, passando pela gestão das escolas e universidades, os efeitos da pandemia impactaram na captação de alunos para 2021. O fechamento temporário das escolas e o distanciamento social fizeram com que muitos processos tradicionais de recrutamento e matrículas fossem readequados à nova realidade. As instituições que já possuíam setor de marketing digital consolidado saíram na frente para alcançar as metas previstas para o ano letivo. Inviabilizados, o contato presencial com as famílias e
a visitação aos locais de aprendizagem tiveram de migrar para o mundo virtual – inclusive depois da volta ao presencial, em 2021. Há um ano, quase todo o processo de relacionamento com possíveis clientes passou a ser realizado por WhatsApp e vídeochamadas. Mesmo aquelas instituições que não tinham a estrutura montada tiveram de antecipar esse processo. Entre os fatores de influência externa na captação estão a alta na taxa de desemprego e a insegurança relacionada ao retorno das aulas presenciais. Sendo assim, os gestores educacionais precisam não só atrair potenciais alunos virtualmente, mas também lidar com questões extraclasse, oferecendo empatia e compreensão. O Colégio Marista Champagnat, por exemplo, adotou estratégias diferentes
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para garantir resultados positivos nas matrículas e na retenção. Uma delas foi a produção de vídeos institucionais para cada nível de ensino (infantil, fundamental e médio), com depoimentos de professores e estudantes, em casa, e imagens da escola. Conforme a analista de comunicação e marketing Bianca Menti, a ideia foi gerar relatos reais da forma mais natural possível. “Os vídeos funcionaram muito bem para nós. Percebemos que as famílias se sentiram mais acolhidas com experiências verdadeiras da nossa comunidade. As pessoas gravaram de casa, às vezes com os próprios celulares. Conseguimos produzir um conteúdo bem orgânico e atrativo. Foi parte de uma ressignificação do processo, do alinhamento da equipe para o atendimento on-line”, comenta Bianca.
O Champagnat também investiu em um grande diferencial: SEO (Search Engine Optimization, na sigla em inglês). Trata-se de um conjunto de técnicas digitais que tem como objetivo posicionar páginas nos primeiros resultados de buscas na internet, tornando-as mais relevantes. O mecanismo funciona a partir de palavras-chave relacionadas ao negócio. Para atingir o público desejado, o Champagnat adotou esta estratégia digital. “Trabalhamos muito com uma landing page (veja glossário à pág. 28), por onde captamos leads (idem) para o processo. A página era basicamente um questionário que incluía informações do colégio. Então, as famílias chegavam até essa página pelo Google ou outros canais, se cadastravam e preenchiam as respostas. Era o fio condutor do proces-
so. A partir daí, começava todo o atendimento virtual. O contato foi bastante por e-mail, por onde as famílias recebiam vídeos, marcavam entrevistas, entre outros serviços.” Com um bom aproveitamento destas informações, haverá um estreitamento de relação, o que deve implicar mais confiança e, consequentemente, maior sucesso. Para os colégios e universidades, a palavra de conversão é matrícula. Conforme Bianca Menti, o Colégio Champagnat superou tanto as metas de captação como de fidelização de alunos. O objetivo era atrair 187 novos estudantes para 2021. O resultado foi de 230. Da mesma forma, a instituição esperava manter 1.069 matrículas já existentes, e conseguiu a permanência de 1.084. São 1.314 alunos matriculados. A Educação Superior também teve de
se adaptar na captação de alunos, já que a realização do vestibular não é garantia de matrícula. As Faculdades Integradas de Taquara (Faccat) usaram as redes sociais e o mundo digital com a mesma intensidade. No entanto, o objetivo era atingir o maior número de pessoas possível, conta o diretor-geral, Delmar Backes. “Fizemos muitas lives e campanhas de divulgação nas nossas redes sociais, mas também apostamos bastante na mídia tradicional com anúncios em jornais, rádio e televisão. E fortalecemos nossa rede de alunos parceiros, que fizeram contato com suas redes de amigos e familiares para nos ajudar nesse processo. O famoso corpo a corpo, o boca a boca que funciona muito bem no interior”, ressalta. Segue ›››
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››› Gestão A Faccat abrange 20 municípios do interior gaúcho, sendo a maioria do Vale do Paranhana e da Serra e parte do Vale do Sinos e Litoral. São 4.300 alunos em 23 cursos de graduação. Porém, quando o assunto é mensalidade, os esforços para atrair novos estudantes não exigiram realinhamentos por parte das instituições de ensino. Tanto na educação superior como na básica, os gestores entenderam que não haveria evasão significativa na rede particular, pela importância do ensino. Segundo Glauson Mendes, fundador e curador do SadeBR, evento nacional de marketing educacional, colégios e universidades particulares ofereceram outro tipo de compensação, em vez de descontos. “No ensino superior e nos colégios, teve um pouco de tudo. Houve insti-
tuições que baixaram um pouco suas margens, outras que mantiveram o padrão. O que mais aconteceu, a partir das conversas que temos com gestores educacionais, foi a oferta de benefícios. Exemplo: usar outros serviços, como pós-graduação”, afirma Glauson. O especialista afirma que um dos grandes motivos para o sucesso na captação de alunos durante a pandemia é o contexto histórico do ensino privado no Brasil, onde a educação é prioridade para as famílias. “A geração de pais de agora já vem com ensino superior, diferentemente da geração passada. E sabem da importância que a educação tem na formação dos filhos. Eles até discutem a questão financeira, mas não abrem mão da educação”, analisa.
Glossário para o marketing digital Entenda alguns princípios que ajudaram instituições na captação on-line: Leads l São as oportunidades de negócio a partir dos dados fornecidos por alguém, como nome, e-mail e telefone, gerando um perfil para um possível cliente. A partir daí, pode ocorrer contato, partindo-se do pressuposto de que foi demonstrado interesse por um produto ou serviço. Landing page l É a página de destino. Faz parte de uma técnica bastante conhecida de Inbound Marketing, que tem como objetivo atrair e converter clientes. São sites básicos na internet, de uma página, com poucos elementos, mas focados na experiência do usuário, ou seja, contendo exatamente o que a pessoa está procurando. Geralmente, podem exibir algum tipo de formulário a ser preenchido. É por meio das respostas que a empresa gera leads. Inbound Marketing l É um conjunto de ferramentas do marketing que usa conteúdo relevante para chegar ao cliente. Os materiais são relacionados ao produto que se quer oferecer – no caso das escolas, a educação.
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Saídas encontradas Confira algumas das medidas adotadas pelas instituições: Marketing digital l Relacionamento migrou para WhatsApp e videochamadas, com divulgação de conteúdos, como vídeos. Publicidade tradicional l Anúncios em jornal, rádio e televisão contribuíram para a captação, especialmente no interior do Estado. Propaganda “boca a boca” l Outra alternativa válida, principalmente, em comunidades menores. É quando os pais ou responsáveis trocam comentários entre si, elogiando a instituição.
579 mil inscrições a menos, em 2020 Conforme o Censo Escolar 2020 (antes da pandemia, portanto), foram registradas, no Brasil,
579 mil inscrições a menos, na
comparação com 2019, o que representa uma redução de
1,2% O levantamento indica que o Brasil teve
47,3 milhões de matrículas distribuídas por cerca de
180 mil instituições de ensino de educação básica. Sendo que
8,8 milhões correspondem à rede privada
Gestão na prática ›››
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Tour virtual 360º, drive-thru e fidelização são apostas do Rosário COLÉGIO MARISTA ROSÁRIO, DIVULGAÇÃO
Tradicional colégio de Porto Alegre adotou a tecnologia como parceira na captação de novos alunos e atingiu a meta prevista para 2021
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Colégio Marista Rosário, tradicional instituição de ensino de Porto Alegre, enfrentou a crise provocada pela pandemia fortalecendo algumas estratégias já existentes e adotando medidas adaptadas à realidade de distanciamento social. Atrair novos alunos para 2021 não foi uma tarefa fácil, pois métodos consagrados tiveram de ser alterados, como a visitação presencial, que era uma etapa crucial para a assinatura de contratos. Não havia alternativa a não ser migrar o processo para o mundo digital e reduzir a meta prevista diante da complexidade do momento. Mesmo assim, a escola afirma ter superado as expectativas. A gestora da Central de Relacionamento, Karen Osório Arnt, conta que o programa de captação de novos alunos era feito quase que totalmente de forma presencial até 2019, quando houve a criação de um departamento específico para matrículas. A partir daí, muitos processos foram otimizados. O WhatsApp passou a ser utilizado como ferramenta importante de comunicação com clientes em potencial. A chegada da pandemia, em março de 2020, forçou a adoção de novas estratégias internas. “Com essa mudança repentina, o discurso de apresentação da escola tinha de ser mais contundente, pois as famí-
››› Em dezembro, entrega dos contratos ocorreu com respeito aos protocolos lias passaram a comprar um produto sem ver ao vivo, digamos assim. Precisamos ser ainda mais convincentes. Foi um desafio muito grande”, relata Karen. “Tivemos de carregar os pais pelas mãos virtualmente e criamos novas etapas dentro de um processo que já estava consolidado”, acrescenta. Para substituir a visitação presencial, o Rosário aprimorou o tour virtual 360º, facilitando o acesso à ferramenta e fazendo com que mais áreas estivessem disponíveis nas imagens oferecidas no site da instituição. O colégio também fez diversas lives e roteiros guiados com interessados, enviou materiais institucionais por WhatsApp e organizou, inclusive, um drive-thru para a entrega de contratos assinados.
“Em dezembro de 2020, fizemos um drive-thru no estacionamento da escola para entregar os contratos com todos os cuidados e equipamentos de proteção. Foi uma ação muito bem aceita pelas famílias. Um sucesso”, celebra a gestora. Apesar da expectativa mais baixa de novas matrículas, Karen afirma que a meta foi superada para o ano letivo, mesmo com a incerteza econômica da pandemia. “O que mais pesou foi a confiança das famílias no projeto e em como os estudantes serão acolhidos no retorno ao formato presencial. Todos querem acompanhamento de reintegração. O suporte que a escola dará será fundamental, mesmo sem uma certeza sobre quando isso acontecerá”, salienta.
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››› Pesquisa
Flávia Eizerik
Gestora de Projetos e de Inovação Educacional. Mestre em Engenharia de Produção pela UFRGS, mestranda em Inovação da Educação pela Universidade de Lisboa, com sanduíche na Bayerische Julius-MaximiliansUniversität Würzburg, da Alemanha, MBA em Gestão Empresarial pela FGV. feizerik@gmail.com
Reflexão crítica sobre a inovação em educação e seus conceitos Resumo O presente ensaio versa sobre inovação na educação, permeando seus conceitos e aplicabilidades. É feita uma busca por conceitos ao longo do tempo, assim como sua adaptação à realidade das escolas. Por fim, há uma conclusão sobre a necessidade de inovar e melhorar a escola a fim de adaptá-la à sociedade e ao tempo em que ela está inserida. Palavras-chave: inovação, inovação na educação, escola.
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contexto da inovação suscita questões como, por exemplo, o que é inovação e para que ela serve. Do ponto de vista purista, a inovação tem sua origem na iniciativa humana de buscar novas soluções tanto para problemas comuns quanto para questões que não haviam sido feitas antes. A inovação está intimamente ligada à economia e às exigências sociais. Ou seja, está presente em todas as camadas sociais e econômicas (FREEMAN, 1984). Assim, não é surpresa imaginar que a escola também deva e queira passar por inovações e melhorias. Mas o que é inovação escolar? O conceito em si encontra muitas respos-
tas nas mais diversas vertentes. Cros (2001) apresenta o conceito de inovação como algo teoricamente novo, ou como sendo a releitura de algo antigo de uma nova forma, que culmina numa mudança intencional, voluntária e deliberada. Assim, trata-se de uma mudança em relação a valores antigos e anteriormente dominantes. Isso nada mais é do que a mudança daquilo que sempre foi feito, em busca de algo novo e melhorado, através de uma intenção clara de modificar algo. É, por exemplo, o professor que trabalha com paixão em aula, que ama o que faz e o faz com uma intensidade maior, tirando a educação de uma visão neutra e desapaixonada, e a tornando como uma relação íntima de troca de conhecimentos entre professor e aluno (HOOKS, 2013). Nestes termos, a inovação, pode ser, por exemplo, uma ruptura como a feita por José Pacheco, na criação da Escola da Ponte em meados do século passado, recheada de conceitos e ideias que, por alguns, poderiam até ser consideradas ultrajantes, mas que faziam parte de um contexto educacional de ensino e aprendizagem, no qual a inovação permeava o currículo, respondendo a uma necessidade social de adaptação (PESTANA e PACHECO, 2013). Neste ponto cabe salientar que a escola não pode simplesmente mu-
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dar por mudar, é preciso planejar e adaptar-se à realidade em que está inserida. Necessariamente, a solução de problemas encontrada por uma escola que utiliza da pedagogia Waldorf (PEREIRA HENRIQUES, 2017) e vista neste tipo de escola como uma inovação positiva, não vai, necessariamente, funcionar em uma instituição que adota a pedagogia Freinet, do Movimento Escola Moderna (PINTASSILGO e ANDRADE, 2019). A inovação só pode ser entendida e percebida em seu tempo e espaço, não analisada ao acaso e simplesmente replicada. Nos tempos atuais, é preciso que a escola não esteja apenas preocupada com o ensino mas, também, com sua sustentabilidade financeira (EIZERIK, 2004). Assim, não basta apenas se reinventar do ponto de vista educacional, mas também é preciso que esta reinvenção passe pelos contextos financeiro e social, entre outros. Mas todas as mudanças e inovações são endógenas e, por vezes, surgem a partir de contextos políticos, como, por exemplo, a Base Nacional Comum do Ensino Fundamental e sua clarificação e exigências em nível curricular (SAVIANI, 2016). Neste caso, mesmo que não sejam endógenas, estas mudanças precisam ser aplicadas nas escolas para que estas estejam legal-
Pesquisa ››› mente enquadradas. E, já que estas mudanças são obrigatórias, é melhor que ocorram com a participação efetiva de todos os atores, sejam eles os que concebem, decidem ou executam (CANÁRIO, 2005). Isso para que ocorra de forma planejada e articulada em relação à sociedade e ao meio em que estão inseridas. Não adianta nada, em uma comunidade sem recursos tecnológicos, como internet de banda larga, haver uma escola inovadora relacionada à área das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) (GONÇALVES e DE OLIVEIRA, 2016). Em suma, a inovação educacional está intimamente ligada ao papel da solução de problemas localmente identificados, num processo que de certo modo é primeiramente espontâneo e, então, planejado (CANÁRIO, 2005). A situação da pandemia de Covid-19 é um excelente exemplo de uma ruptura externa que força a uma adaptação intensa e traumática, mas que, ao mesmo tempo, serve para trazer uma inovação no ensino e o leva a novos patamares (KARMA, DARMA e SANTIANA, 2021). Primeiro o fechamento das escolas presenciais trouxe um contexto de incerteza, que exigiu que a escola se reinventasse e se tornasse a melhor versão possível num cenário desafiador, identificando-se assim o problema. Houve então a adaptação ao modelo híbrido, de forma primeiramente espontânea e então planejada, para o melhor funcionamento. Uma vez que a escola passou por esta mudança no ano de 2020, a força da hibridização do ensino passa a ser uma motora do ensino e este não mais será como antes (ZHAO, 2020), e nem mesmo a forma de ensinar ou o significado da função do professor. O professor passa de uma função primordial de ‘ensinador’ e migra para uma missão de condutor social e cultural do conhecimento (TRIVIÑO-CABRERA, CHAVES-GUERRERO e ALEJO-LOZANO, 2021), utilizando-se de plataformas virtuais de ensino que
vão desde um simples mural coletivo a complexos experimentos on-line (MOREIRA, 2020; PALANCIA ESPOSITO e SULLIVAN, 2020) Assim, independentemente de haver a força de uma inovação externa ou não, “Os bons professores reinventam o mundo todos os dias para as crianças das suas turmas” (TYACK e CUBAN, 1998, p.109).
Cabe ao professor, então, a adaptação quase que diária ao contexto em que está inserido. A inovação, afinal, deve sempre acontecer em função do aluno e seu aprendizado (VALENTE, 2005), com planejamentos de aulas que levem em conta a inovação e a melhoria, sem esquecer-se do contexto em que estão inseridos, fazendo assim com que a inovação ocorra, diariamente, em cada aula planejada (LEAL, 2005). Qualquer tipo de inovação que não ocorra em função do aluno e seu aprendizado, não seria, por definição uma inovação educacional. Assim, a escola pode efetuar mudanças e evoluções em todos os campos, como o financeiro ou administrativo, por exemplo. Mas se estas mudanças não impactarem o ensino e aprendizagem e/ou a forma como o estudante aprende e estuda, não se trata de inovação educacional, pertencendo então a qualquer campo de estudo diferente, como administração ou finanças. Para estar dentro do conceito de inovação defendido por diversos autores da educação, é preciso que seja planejada e adaptada à sociedade, à realidade em que está inserida e ao funcionamento da escola e seus alunos. Ora, se o próprio conceito de inovação escolar encontra diversas definições ao longo dos anos e em diferentes países, com diversos autores, que, muitas vezes colocam até questões contraditórias, como poderia a inovação educacional ser uma única coisa? Cada autor coloca o seu ponto-chave do que é o mais importante e necessá-
rio na inovação, não necessariamente partindo ou chegando ao mesmo ponto. Em comum, há a necessidade do planejamento da inovação e a ideia de que não apenas muda-se por mudar, além do foco no estudante e seus resultados (CROS, 2001; PERRENOUD et al., 2002; CANÁRIO, 2005; TYACK e CUBAN, 1998; PINTASSILGO, 2019). De resto, o próprio conceito de inovação educacional tem sofrido modificações e adaptações e, por si só, sido inovado através dos anos, nos mais diversos países. Em todo caso, segundo diversos autores, a inovação está intimamente ligada ao conceito de ruptura: é preciso buscar novas formas de fazer e ensinar, fazendo da sala de aula um laboratório ou sempre se encontrará o mesmo resultado (MATOS et al., 2010; PALMA e DOS SANTOS FORSTER, 2011; DE QUEIROZ SOUZA e DE PINHO, 2016; SILVA e DOS SANTOS FORSTER, 2016; DE OLIVEIRA TAVARES, 2019). Talvez nos dias atuais o conceito de simplesmente experimentar sem um plano ou objetivo claro não sejam aceitos, porém, é claro que numa realidade onde a atenção do aluno dura poucos segundos (RIBEIRO, 2013), é mais do que preciso inovar na forma como se ensina. Os números de abandono e reprovações escolares, que se mostram crescentes no Brasil (IBGE, 2021), são a prova de que a educação precisa mudar e inovar. Em resposta a isso, diversas escolas buscam a mudança da forma de ensinar. É o caso, por exemplo, de uma escola do sul do Brasil (EIZERIK, DANILEVICZ e DE PAULA, 2020), que buscou na ABP (aprendizagem baseada em projetos) sua forma de ensinar diferente e, com isso, melhorar índices de evasão e retenção escolar. A escola em questão levou cinco anos entre a proposta inicial de utilizar projetos transdisciplinares, primeiramente de forma esporádica, Segue ›››
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››› Pesquisa até que estes passassem a fazer parte do dia a dia, figurando no contexto de aprendizagem dos alunos e passando a serem percebidos como parte do DNA da instituição. Esta decisão foi totalmente baseada no perfil do aluno que frequenta esta escola: um aluno que não se adapta à escola tradicional e que, neste contexto, encontrou na satisfação dos estudos e da aprendizagem uma nova forma de aprender, com significação e relação com o dia a dia (AUSUBEL et al., 1968; MANCINI, 2005). Em suma, a inovação é algo não apenas necessário, mas muito bem-vindo no contexto da educação. Há tempo é necessário deixar para trás a educação bancária e procurar novas formas de ensinar (FREIRE, 1997). Os tempos mudaram e a escola, em parte, está parada e estagnada, com filhos sendo ensinados da mesma forma como seus pais foram, mesmo que a sociedade em que estão inseridos seja completamente diferente. Nos tempos atuais a escola parece, finalmente, estar pronta para uma ruptura mais radical. E é muito importante que ela venha, mesmo que lenta e gradual, desde que seja planejada. Ou que venha à força, como a necessidade de hibridização forçada do ensino, que a pandemia de Covid-19 trouxe à educação (MISHRA, GUPTA, e SHREE, 2020). A inovação na educação precisa ser mais do que apenas revisar aquilo que já foi feito: é preciso descobrir o novo e tratar o ensino como a ciência que realmente é. Afinal, se há na sociedade médicos, cientistas e tantos mais profissionais, é porque há escola e professores. O que precisamos agora é levar e elevar a escola ao patamar que ela merece. REFERÊNCIAS: AUSUBEL, David Paul et al. Educational psychology: A cognitive view. 1968. CANÁRIO, Rui. O que é a escola?: um” olhar” sociológico. Porto editora, 2005. CROS, Françoise; BÉNÉVENT, Raymond. L’innovation scolaire: synthèse et mise en débat. Institut national de recherche pédagogique, 2001.
DE OLIVEIRA TAVARES, Fernando Gomes. O conceito de inovação em educação: uma revisão necessária. Educação (UFSM), v. 44, p. 4-1-19, 2019. DE QUEIROZ SOUZA, Kênia Paulino; DE PINHO, Maria José. Criatividade e inovação na escola do século XXI: uma mudança de paradigmas. Revista Ibero-Americana de Estudos Em Educação, v. 11, n. 4, p. 1906-1923, 2016.
MOREIRA, Maria Eduarda Souza et al. Metodologias e tecnologias para educação em tempos de pandemia COVID-19. Brazilian Journal of Health Review, v. 3, n. 3, p. 62816290, 2020. PALANCIA ESPOSITO, Christa; SULLIVAN, Kelly. Maintaining clinical continuity through virtual simulation during the COVID-19 pandemic. Journal of Nursing Education, v. 59, n. 9, p. 522-525, 2020.
EIZERIK, Bruno. Proposta de sistemática apoiada no Custeio Baseado em Atividades para avaliação e controle de custos em instituições de ensino. 2004.
PALMA, Gisele; DOS SANTOS FORSTER, Mari Margarete. Inovação e Educação Superior– rupturas e continuidades. Educação Unisinos, v. 15, n. 2, p. 149-157, 2011.
EIZERIK, Flavia; DANILEVICZ, Ângela de Moura Ferreira; DE PAULA, Istefani Carísio. System of management indicators for multidisciplinary educational projects. education policy analysis archives, v. 28, p. 116, 2020.
PEREIRA HENRIQUES, Raquel. Ritmos com sentido: educar o corpo, a alma eo espírito em escolas Waldorf. Sarmiento: Anuario galego de historia da educación, v. 21, p. 173-189, 2017.
FREEMAN, Christopher. Inovação e ciclos longos de desenvolvimento econômico. Ensaios FEE, v. 5, n. 1, p. 5-20, 1984. FREIRE, Paulo. Educação “bancária” e educação libertadora. Introdução à psicologia escolar, v. 3, p. 61-78, 1997. GONÇALVES, Susana Maria Paulino; DE OLIVEIRA, Isolina Rosa Pereira. Mudança na Práxis-Estudo de uma Inovação Pedagógica Apoiada nas Tecnologias de Informação e Comunicação. EduSer-Revista de educação, v. 3, n. 1, 2016. HOOKS, Bell. Ensinando a transgredir: a educação como prática da liberdade. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2013. IBGE. Censo Escolar. IBGE, Disponível em <https://seriesestatisticas.ibge.gov.br/ lista_tema.aspx?op=2&no=9>, acesso em 01 de janeiro de 2021. KARMA, I.; DARMA, I. Ketut; SANTIANA, I. Blended Learning is an Educational Innovation and Solution During the COVID-19 Pandemic. International research journal of engineering, IT & scientific research, 2021. LEAL, Regina Barros. Planejamento de ensino: peculiaridades significativas. Revista Iberoamericana de Educación, v. 37, n. 3, p. 1-6, 2005. MANCINI, Aryta Alves. Aprendizagem significativa: a teoria de David Ausubel. São Paulo: Centauro, 2005. MATOS, Ilrema Pires Araújo et al. Inovação educacional e formação de professores: em busca da ruptura paradigmática. 2010. MISHRA, Lokanath; GUPTA, Tushar; SHREE, Abha. Online teaching-learning in higher education during lockdown period of COVID-19 pandemic. International Journal of Educational Research Open, v. 1, p. 100012, 2020.
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PERRENOUD, Phillippe et al. Aprender a negociar a mudança em educação: novas estratégias de inovação. 2002. PESTANA, Tânia; PACHECO, José Augusto. Currículo, tecnologias e inovação: para uma discussão da aprendizagem em contextos educacionais. 2013 PINTASSILGO, Joaquim; ANDRADE, Alda Namora de. Sérgio Niza e a “autoformação cooperada”: reflexões em torno do modelo pedagógico do MEM. 2019 RIBEIRO, Sidarta. Tempo de cérebro. Estudos avançados, v. 27, n. 77, p. 07-22, 2013 SAVIANI, Dermeval. Educação escolar, currículo e sociedade: o problema da Base Nacional Comum Curricular. Movimento-revista de educação, n. 4, 2016 ILVA, João Paulo Barros; DOS SANTOS FORSTER, Mari Margarete. Novas perspectivas para a inovação dentro do processo educacional: as experiências de professores como possibilidade. Revista Internacional de Evaluación y Medición de la Calidad Educativa, v. 1, n. 2, 2016 TRIVIÑO-CABRERA, Laura; CHAVESGUERRERO, Elisa Isabel; ALEJO-LOZANO, Laura. The Figure of the Teacher-Prosumer for the Development of an Innovative, Sustainable, and Committed Education in Times of COVID-19. Sustainability, v. 13, n. 3, p. 1128, 2021. TYACK, David B.; CUBAN, Larry. Tinkering toward utopia. Harvard University Press, 1995. VALENTE, José Armando et al. A Espiral da Espiral de Aprendizagem: o processo de compreensão do papel das tecnologias de informação e comunicação na educação. 2005. ZHAO, Yong. COVID-19 as a catalyst for educational change. Prospects, v. 49, n. 1, p. 29-33, 2020.
Por dentro da lei ›››
Jorge Lutz Müller Coordenador da assessoria jurídica do SINEPE/RS. OAB-RS 7.563.
Retorno à presencialidade: a querela das competências
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êm sido recorrentes, nestes tempos de pandemia, as disputas judiciais acerca da liberação ou proibição de atividades presenciais nas escolas do País. Há decisões num sentido e noutro. É verdade que nem sempre as situações são homogêneas, o que explica, em parte, a divergência de critérios judiciais. Mas também é verdade que situações similares, ou muito próximas disso, têm merecido apreciações díspares, que, por isso, aumentam a insegurança jurídica. No RS, recentemente, o Tribunal de Justiça do Estado cassou liminar que proibira a presencialidade em escolas municipais de Porto Alegre. Mas, na mesma época, o mesmo Tribunal, por outra Câmara julgadora, confirmou liminar que vedou a presencialidade nas escolas das redes pública e privada do Estado. A situação era idêntica. Os indicadores sanitários e educacionais eram os mesmos, mas o entendimento, neste segundo caso, foi o de que houvera ilegalidade e ilegitimidade na norma estadual que autorizava a abertura parcial das escolas (Educação Infantil e 1º e 2º anos do Ensino Fundamental). Criou-se uma situação esdrúxula: vigorava norma estadual que libera-
va a abertura de bares, restaurantes, lojas de shoppings e institutos de beleza (dentre outros segmentos), mas as crianças não podiam ir à escola. As mesmas crianças que podiam frequentar os shoppings e até receber ensinamentos e instruções em recintos eclesiais... Este tipo de divergência não contribui para o melhor enfrentamento das turbulências. Tenha-se presente, contudo, que tal divergência ocorreu em quase todo o país, não só no Rio Grande do Sul. Pois bem, a pergunta que não quer calar é a seguinte: afinal, qual é a orientação da Suprema Corte (STF) a respeito? De quem é a competência para definir os parâmetros normativos? Do Executivo ou do Judiciário? Em princípio, a competência é do Executivo. O Judiciário deve abster-se de intervir, salvo circunstâncias excepcionais. No julgamento da ADI nº 6.341, cujo relator foi o ministro Edson Fachin, reafirmou-se que toca ao Poder Executivo, no âmbito de suas respectivas competências (União, Estados, Distrito Federal e Municípios), dispor, mediante decreto, sobre serviços públicos e atividades essenciais. A intervenção judicial deve ater-se às hipóteses de (i) flagrante ilegalidade, (ii) abuso/
desvio de poder e (iii) teratologia (palavra de origem biomédica, mas adotada no cenário jurídico para referir-se ao que se revela, claramente, como desarrazoado, desmedido, beirando as raias do absurdo). Pois bem: é difícil vislumbrar abuso ou conduta teratológica, e até mesmo flagrante ilegalidade, quando a mesma situação, aos olhos de outro(s) magistrado(s), lhe(s) parece adequadamente regulada. Mormente quando a situação é visivelmente controversa, em que se digladiam posições estribadas em argumentação técnica razoável. Em suma: não cabe ao Judiciário substituir-se ao Executivo, no manejo da discricionaridade administrativa. Cabe-lhe, tão somente, obstar os excessos, seja no plano da legalidade, seja no plano da legitimidade, que possam ter ocorrido. O grande desafio do magistrado, portanto, é vislumbrar os limites entre a discricionariedade que o governante pode exercer para a escolha da melhor opção administrativa e a desmedida infratora que possa ser atribuída ao exercício dessa opção. Mais importante, porém, do ponto de vista sistêmico, é resguardar uma certa convergência decisória, em prol da segurança jurídica e do apaziguamento social.
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››› Diversidade
Superação de obstáculos Escola Especial para Surdos Frei Pacífico, de Porto Alegre, relata a experiência dos alunos com surdez ou deficiência auditiva durante o ensino remoto IGOR MORANDI
igor@padrinhoconteudo.com
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acesso de pessoas surdas à educação regular é um direito. Na prática, a sociedade, de uma forma geral, não está adaptada para os surdos. Motivo: a Língua Brasileira de Sinais (Libras), a única barreira entre pessoas ouvintes e não-ouvintes, é pouco ensinada. Instituições de ensino regular precisam dar um suporte específico ao aluno surdo. “Eles necessitam de uma estrutura que garanta o desenvolvimento do pensamento, da reflexão e que os conecte com sua própria língua (Libras)”, explica a professora do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), Maura Corcini Lopes, que é coordenadora do Grupo de Estudo e Pesquisa em Inclusão (GEPI/ Unisinos/CNPq). Mesmo com todo o suporte necessário, é difícil para um aluno surdo
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iniciar a vida letiva em uma escola regular ou ingressar em alguma em outro momento, porque foge da realidade étnico-cultural dele. Nessas instituições, a professora e os alunos ouvintes têm como língua oficial o português, não Libras, o que pode isolar o estudante surdo. Este é mais um motivo que faz com que as famílias matriculem os filhos em escolas específicas, como a Frei Pacífico, de Porto Alegre. Inaugurada em 1956, a instituição atende a estudantes surdos, deficientes auditivos e surdos com deficiências, a partir dos quatro anos. A partir de 2000, o colégio passou a acolher alunos até o 9º ano do ensino fundamental; as turmas têm nomes: Amor, Vida, Caridade, Cuidado, Confraterno, Compaixão, Paz e Bem e Dom. As aulas ocorrem à tarde, e, antes da pandemia, a professora Alessandra Ayres conta que eram bastante dinâmicas e com muita socialização. “A aula se iniciava às 13h, quando tínhamos um momento de conversa. Depois, eu colocava a rotina no quadro e passava o conteúdo em Powerpoint – sempre em português e escrita de sinais. Por fim, os alunos faziam alguma atividade referente ao conteúdo”, lembra. Além do ensino que atende a 59 estudantes, a escola conta com uma clínica especializada em comunicação, que oferece atendimento em otorrinolaringologia, serviço social, psicologia, fonoaudiologia, estimulação precoce e audiologia a 250 pessoas; e um ginásio e centro so-
Diversidade ››› cial, com curso de Libras que conta com 100 alunos e outras atividades e projetos que atendem a crianças e adolescentes com surdez e deficiência auditiva, além de seus familiares. A diretora Luciane Zaneti Santos explica que, para lecionar em instituições como esta, os professores precisam ter conhecimento em Libras, é claro, e preferencialmente formação em educação especial, além de serem graduados na área em que atuarão. Professora da Frei Pacífico há cinco anos, Alessandra Ayres é um exemplo disso. Formada em pedagogia, ela tem pós-graduação em educação inclusiva com atendimento especializado a pessoas surdas, além de cursos de Libras e de intérprete. Alessandra relata que o processo de aprendizagem do professor que pretende trabalhar com alunos surdos deve partir dele próprio. Enquanto estudante de pedagogia, ela teve somente o básico de Libras, e a quantidade de horas/aula era insuficiente para aprender a língua. “Fiz todos os meus estágios com alunos surdos, e, na faculdade, meus trabalhos eram sempre sobre este assunto, mas os professores não conseguiam me avaliar (de forma crítica) porque não tinham conhecimento na área”, conta.
Visibilidade é algo essencial para o ensino Quando a Covid-19 impediu as aulas presenciais, outra iniciativa teve de partir dos educadores de estudantes surdos: manter o ensino de qualidade levando em consideração a audição. Professora da Unisinos, Maura Corcini Lopes reforça a importância do contato visual, mesmo que remoto. “São pessoas visuais-gestuais e visuais-espaciais. A língua de sinais precisa que um enxergue o outro, e a língua portuguesa depende da leitura labial. A visibilidade é uma necessidade no ensino de surdos e deficientes auditivos”, diz. Nesse contexto, as escolas tiveram
de pensar em maneiras de tornar as aulas suficientes e integrativas. A diretora Luciane Zaneti Santos explica que a adaptação na Frei Pacífico foi difícil porque parte dos alunos tinha dificuldade em acessar a internet ou um celular. Por isso, a escola optou por atividades domiciliares. Mesmo assim, diz, “os professores contatavam os alunos por WhatsApp, em grupo e individualmente, e encaminhavam vídeos explicativos. Alguns encontros foram feitos pelo Google Meet”. Estudante da Frei Pacífico, Allyson Corrêa Neves ingressou na instituição aos seis anos. Hoje com 16, no 8º ano – grupo Compaixão –, ele se mostra alegre, comunicativo e motivado. “Preciso superar os obstáculos. Quero ter uma profissão e um trabalho”, enfatiza. Ele conta que o ensino remoto tem sido difícil pela distância física dos colegas e professores, mas também por outro motivo: a casa como único espaço de sua rotina. Com o início do ano letivo de 2021, além das atividades domiciliares e dos vídeos explicativos, o Ensino Fundamental I da Frei Pacífico passou a ter um período de aula por vídeochamada três vezes na semana, e o Fundamental II, dois períodos diariamente. As aulas continuam se iniciando às 13h, quando a professora responsável manda um vídeo explicando o assunto. Depois, os alunos fazem a atividade proposta – respondem por escrito ou em vídeo – e, por último, têm um encontro por vídeochamada. Quando o assunto é novo, esse é o primeiro passo da rotina. “Com a reformulação do nosso ensino remoto, temos bons resultados”, afirma a professora Alessandra. O aluno Allyson compartilha do mesmo desejo e compreende que talvez terá de evitar um contato mais próximo, dependendo de como estará o controle da Covid-19. “Quero colocar uma cola no pé e ficar lá, junto com meus colegas e professores. Quero abraçar a todos, porque estou com muita saudade”, desabafa.
ALESSANDRA AYRES Professora da Escola para Surdos Frei Pacífico
“Com a reformulação do nosso ensino remoto, estamos tendo bons resultados.” MAURA CORCINI LOPES Coordenadora do Grupo de Estudo e Pesquisa em Inclusão (GEPI/Unisinos/CNPq)
“São pessoas visuais-gestuais e visuais-espaciais. A língua de sinais precisa que um enxergue o outro, e a língua portuguesa depende da leitura labial. A visibilidade é uma necessidade no ensino de surdos e deficientes auditivos.”
Entenda as diferenças Surdo l Pessoa sem audição, usuária de Língua Brasileira de Sinais (Libras). Deficiente auditivo l Pessoa com audição parcial, usuária de língua portuguesa e que depende de leitura labial. l A pessoa surda pertence a uma comunidade específica, usuária de Libras, o que a inscreve no hall das diferenças étnico-culturais, não das deficiências. l Ou seja, a nor malidade desta pessoa é o convívio com a realidade da surdez. l Já o deficiente auditivo pertence à comunidade ouvinte e se adapta a ela, usando prótese e oralizando, como possível, em língua portuguesa.
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Espaço aberto para um futuro bem diferente Crise da Covid-19 transformou os modos de trabalho; alguns são tendências para o pós-pandemia
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Inovação ››› O que vem por aí
IGOR MORANDI
igor@padrinhoconteudo.com
Q
uando se fala em futuro, surge um mar de incertezas. Não há como saber o que ele realmente reserva, ainda mais após a surpresa desagradável que chegou em fevereiro de 2020 ao Brasil: a Covid-19. Mais de um ano depois, a vacinação sinaliza expectativa de normalidade. Mas de que forma? Desde o início da pandemia, as adaptações foram muitas e tiveram de acontecer inesperadamente: home office, telemedicina, tele-entrega como principal meio de trabalho do comércio e restaurantes, ensino remoto – não faltam exemplos. Ideias inovadoras surgiram com o tempo, porque em momentos de crise as oportunidades aparecem, comenta o diretor acadêmico do Colégio Anchieta, Dário Schneider. Professor da ESPM e especialista em análise de macroambiente, cenários e estratégias, Pedro Pezzi compara a crise da Covid-19 às guerras. Isso porque a adaptação se impõe e instiga novas ideias. Nesse sentido, em apenas um ano houve grande evolução – ou, ao menos, o início de uma – em diversos setores da sociedade. Na maior parte dos casos, com a tecnologia como fio condutor. Em um contexto sem a presença de meios tecnológicos, a educação e outras áreas não poderiam operar neste momento. A tecnologia já era uma realidade no dia a dia de instituições e empresas, mas dificilmente como principal meio de trabalho. “A vida humana e as novas tecnologias se cruzam. Não há mais volta”, diz Dário Schneider. Para ele, portanto, as expectativas pós-pandemia se concentram em melhorar o que tem dado certo. Pensando nisso, a revista The Economist lançou uma lista de tendências de comportamentos para um mundo depois da pandemia, feita por mais de 50 especialistas. Entre elas, está o avanço da telemedicina, que migra, à medida do
Tendências de comportamentos para um mundo pós-pandemia, conforme a revista The Economist: DÁRIO SCHNEIDER Diretor acadêmico do Colégio Anchieta:
lValorização e sensibilidade quanto às mudanças climáticas; l Empreendimentos sociais que solucionem problemas na educação, saúde, política, energia, distribuição de renda e segurança; lGrandes convenções e eventos passarão a ser on-line; l Proteção dos próprios dados como prioridade; lFim das fake news, a partir de informações por assinatura.
“Um aspecto (para reflexão) é a avaliação diagnóstica. Olhar até onde houve efetiva aprendizagem do conteúdo de cada etapa para retomar e aprofundar.” PEDRO PEZZI Professor da ESPM e especialista em análise de macroambiente:
“O mundo mudou. A interação é um elemento extremamente importante na educação. O ensino poderá ser um pouco remoto e um pouco presencial.” possível, o atendimento aos pacientes para o meio digital; o crescimento exponencial do e-commerce, o que também gera oportunidade para designers; a maior valorização da saúde mental, principalmente, pelas empresas; e os ensinos off e on-line. Esta é uma tendência, porque, diferentemente da educação estritamente presencial, a modalidade híbrida permite ultrapassar os muros da escola, por meio da internet. E, em contraste ao ensino somente remoto, garante proximidade física entre professor e estudante – algo muito importante no aprendizado e nas relações humanas. “A pandemia reafirmou a preocupação com a vida e com a saúde das pessoas – fez-se necessário um cuidado integral, na dimensão pessoal, familiar e profissional”, afirma Dário Schneider. Por isso, o diretor acadêmico entende este momento como revolucionário, também, para a educação. Schneider usa como exemplo as aulas de inglês: os alunos tiveram contato com pessoas de
outros países, como autores, pesquisadores e educadores. “Foi algo inimaginável antes. As atividades foram muito ricas por causa da tecnologia”, completa. Ao encontro disso, o professor da ESPM, Pedro Pezzi, diz que não enxerga a volta ao mundo de antes. “O mundo mudou. A interação é um elemento extremamente importante na educação. O ensino poderá ser um pouco remoto e um pouco presencial”, destaca. Para um ensino híbrido de qualidade, os professores precisarão de formação e as instituições, de acesso a boas tecnologias e ferramentas. “Daqui para frente, é preciso refletir e pensar em grandes alinhamentos. Um aspecto é a avaliação diagnóstica – para replanejamento. Ou seja, olhar até onde houve efetiva aprendizagem do conteúdo de cada etapa para retomar e aprofundar”, diz Schneider. Para ele, outro desafio do pós-pandemia é: que tipo de ser humano queremos formar? Pezzi acredita que solidariedade, adaptabilidade, humanidade e resiliência serão as bases do futuro. Mas, ao mesmo tempo, teme que ocorra um ciclo já visto outras vezes na história. “Depois da Segunda Guerra Mundial, tivemos uma onda enorme de humanismo, e podemos ver que passou”, lembra.
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Educação em Revista pergunta ›››
Janaína Sostisso Graduada em Arquitetura e Urbanismo, especialista em Formação para a Docência, cursa o MBA em Gestão Acadêmica e Universitária. É professora e diretora acadêmica da Faculdade Factum.
Qual é o impacto da cultura conteudista para o desenvolvimento de uma IES?
D
esenvolver o espírito crítico. Promover o pensamento reflexivo. Contribuir na formação de profissionais e especialistas. Fornecer condições para estudo, pesquisa e ensino. Transformar a vida das pessoas, da sociedade. Realizar sonhos. Esses são objetivos fundamentais de uma IES. Com o passar do tempo, as metodologias de ensino foram adaptando-se às necessidades do mundo do trabalho e quebrando paradigmas. Lembro-me da ansiedade do primeiro dia de aula, dos saberes inquestionáveis dos mestres, da escassez das fontes de pesquisa e restrição de acesso às informações. Essa é a transcrição do ensino tradicional, com aulas expositivas, de pouco diálogo, muitas vezes tido como arcaico. Tive uma experiência marcante durante meu ensino médio. Para discutir se o vírus era um ser vivo, a professora dividiu a turma em dois grupos. O primeiro defenderia a tese de que o vírus era um ser vivo. O segundo, que não. Eu não tinha a mínima ideia do que era metodologia ativa, aluno protagonista, análise reflexiva, pensamento crítico, mas estava exercitando isso e criando uma memória afetiva em relação ao processo de ensino e aprendizagem. O foco excessivo no ensino estritamente conteudista e pouco reflexivo impede que os sujeitos selecionem informações e adquiram competências e habilidades necessárias para o convívio social. Observando o comportamento dos alunos, notamos que a maioria espera chegar
na sala de aula e absorver o máximo de conteúdo, decorar o que for possível para atingir uma pontuação que o classifique em um ranking acadêmico. Já os professores esperam repetir continuamente o conteúdo transmitindo seus saberes incontestáveis. O ensino, nesse formato, independe da participação do aluno, pois este não deve contestar e nem opinar. A partir dessa observação da realidade, podemos determinar alguns pontos-chaves que podem estar associados ao problema: limitação imposta pela legislação brasileira; valorização da cultura acadêmica classificatória e falta de engajamento dos alunos. Segundo as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs), os cursos devem abranger uma série de requisitos para atender à legislação. Outro ponto-chave que pode levar ao ensino conteudista é a cultura classificatória: para ser o melhor, o aluno deve atingir uma nota específica. Pela lógica, quem fica com 10 sabe tudo que precisa para o desenvolvimento das atividades profissionais. Será que é assim mesmo? A informação está ao alcance de todos. Porém, como aplicar o que se aprende? Existe uma enorme dificuldade em conectar os saberes comuns e científicos às disciplinas do curso, tornando o ensino conteudista uma solução rápida e inquestionável. Pensando em hipóteses para uma solução, poderíamos citar a problematização. Os alunos precisam ser provocados, convidados a resolver problemas para que percebam suas capacidades, sintam-
-se agentes ativos no processo de aprendizagem. Para tanto, o professor deve ser capacitado para promover esse protagonismo discente. A maioria dos professores vem de um ensino conteudista clássico e tem grandes dificuldades em abrir espaço para os saberes e experiências alheias. Aprendemos de uma forma e precisamos ensinar de outra. Quebrar esse paradigma interno não é tão simples quanto parece. Isso não ocorre em um dia, mas durante um processo de autoconhecimento, de reconhecimento das nossas fraquezas e fortalezas. Para tanto, o professor deve planejar a aula observando estratégias que beneficiem o desenvolvimento cognitivo do aluno, desde a sondagem dos conhecimentos prévios até a compreensão dos conceitos (ZABALA, 2015). A IES precisa aproximar-se da realidade dos alunos, entender as suas expectativas e adequar melhor os projetos pedagógicos. A flexibilização dos currículos para atender às individualidades e valorizar os saberes prévios dos alunos gerará maior engajamento. O ensino conteudista sem a valorização da aplicabilidade desse conhecimento não prepara o aluno, pois não desenvolve autonomia e capacidade resolutiva. Permitir que os alunos apliquem o conhecimento a partir da experimentação e da problematização de maneira interdisciplinar motivará todos os envolvidos no ensino-aprendizagem. Isso dará sentido ao aprendizado e formará alunos reflexivos, agentes ativos com liberdade e autonomia para transformar sua realidade.
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INSTITUTO IVOTI PROMOVE CONGRESSO INTERNACIONAL Educação de uma vez por to-
19 PARTICIPAÇÕES CONSECUTIVAS NO MAIOR TORNEIO DE ROBÓTICA EDUCACIONAL Com uma trajetória de sucesso na
história da robótica educacional no Brasil, a equipe de Robótica do Marista Pio XII, Under Control, mais uma vez superou desafios e se reinventou para participar pelo 19º ano consecutivo da maior competição de robótica para Ensino Médio no mundo. Em virtude da pandemia, a FIRST Robotics Competition (FRC), que ocorre nos Estados Unidos, foi realizada de forma virtual. Seguindo todos os protocolos de prevenção à Covid-19, que incluem uso de máscara, higienização frequente das mãos e objetos, distanciamento, entre outros, os estudantes trabalharam desde janeiro no Corsair, robô construído para o desafio Infinite Recharge, um jogo futurista em que o protótipo precisa pegar e lançar cinco bolas.
“A temática do desafio se manteve a mesma do ano passado, já que as competições foram canceladas em virtude do início da pandemia. Porém, desde junho, os jovens estudaram todos os pontos que poderíamos melhorar no protótipo para qualificar o desempenho do robô”, explica Bruno Toso, mentor da equipe. Todo esse trabalho da Under Control, que vai além de construir e programar robôs, é apresentado na competição na categoria Chairman’s Award, que é a premiação que reconhece a equipe modelo para todas as outras, reconhecendo seus esforços e dedicação em inspirar e disseminar a Ciência e a Tecnologia para o maior número de pessoas. Esse prêmio já foi conquistado quatro vezes pela equipe do Marista Pio XII.
dos é o tema do 8º Congresso Nacional e 5º Congresso Internacional de Educação do Instituto Ivoti, que será realizado entre os dias 21 e 25 de junho, de forma virtual e gratuita. Com palestrantes nacionais e internacionais, o Instituto Ivoti coloca em pauta a educação a partir de diferentes olhares. Dentre as atrações, haverá a participação de Cláudia Costin (FGV) na conferência de abertura. E a programação segue com Márcia Carvalho (CEEd/RS), Naime Pigatto (Sinepe/RS) no painel BNCC e corresponsabilização: articulação eficiente entre todas as etapas de ensino, Isabel Parolim (PR) e Luís Beck Neto (RS) no painel Escola e Família de mãos dadas: elos do mesmo propósito, Susana Kakuta (Tecnosinos), Pedro Thompson (Revista Exame), Tiago Luiz Schmidt (Cooperativa Sicredi Pioneira) no painel Educação e desenvolvimento regional. Para encerrar a programação a convidada internacional, diretora de centro de formação de professores da Uni-Göttingen (Alemanha), Susanne Schneider, fará a conferência Pluridocência: uma experiência internacional.
INSCRIÇÕES www.institutoivoti.com.br/congresso
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REPRODUÇÃO
BIOEDUCAR-SE RECEBE TÍTULO ATITUDE CIDADÃ
IENH, DIVULGAÇÃO
A manhã do dia 26 de março foi
especial para a Escola de Educação Básica Educar-se, de Santa Cruz do Sul. Na ocasião, o projeto BioEducar-se, mantido pela instituição, recebeu o título Atitude Cidadã, do Instituto Lixo Zero Brasil (ILZB). A homenagem ocorreu por meio de cerimônia on-line e contou com a presença da diretora da Educar-se Valderez Maria Kern, que destacou as atividades realizadas ao longo dos anos letivos, e da coordenadora de projetos Márcia Murillo, além de demais homenageados. Durante o encontro, a embaixadora do ILZB em Santa Cruz do Sul, Débora Leonhardt da Silva, destacou o trabalho realizado pelo BioEducar-se. As ações em prol da sustentabilidade feitas pela Educar-se apresentaram crescimento ao longo dos 37 anos da instituição. O nome BioEducar-se surgiu em 2015. A continuidade do projeto, no entanto, faz com que a Escola esteja presente na vida das famílias e da comunidade, despertando cada um para a consciência ambiental. Para isso, ocorrem coletas seletivas, oficinas, recolhimento de óleo saturado, reutilização de materiais, sucatário, horta, composteira, dia da carona, entre outras ações.
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DRIVE THRU SOLIDÁRIO DA IENH ARRECADA MAIS DE UMA TONELADA DE ALIMENTOS Unindo solidariedade e reen-
contro, a Instituição Evangélica de Novo Hamburgo (IENH) promoveu Drive-Thrus nas Unidades Pindorama e Oswaldo Cruz. Na manhã de sábado, 17 de abril, os alunos da Educação Infantil e Ensino Fundamental bilíngue puderam rever os professores e a escola, além de fazer o bem ao próximo por meio de doação de alimentos! Com a iniciativa, foi arrecadado mais de uma tonelada de itens não-perecíveis entre as duas unidades de ensino. As doações foram destinadas ao
Banco de Alimentos de Novo Hamburgo. Entre os produtos entregues pelas famílias estão feijão, leite, massa, arroz, farinha, sal, entre outros. Em clima de saudosismo, estudantes e professores puderam se reencontrar, trocar acenos e muito carinho à distância. Durante a passagem pela escola, os estudantes receberam kits de objetos que serão utilizados e fizeram a entrega de materiais de reciclagem para as campanhas de recolhimento das unidades, como lacres, tampinhas, pilhas e baterias.
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UM MOMENTO DEDICADO AO SOCIOEMOCIONAL A formação de alunos íntegros
e criativos sempre foi uma preocupação da Escola Salvador Jesus Cristo, localizada na cidade de Alvorada. Durante a pandemia, a instituição vem oferecendo aos alunos, de todos os níveis de ensino, projetos com o foco no desenvolvimento socioemocional. Dentre as propostas criadas, duas merecem destaque OMG! É as gurias! (momento direcionado às meninas) e Papo aberto – date do TMJ (momento voltado aos meninos) - para os alunos do 7º, 8º e 9º ano do Ensino Fundamen-
ESCOLA SALVADOR JESUS CRISTO, DIVULGAÇÃO
tal. Desde o mês de março, os alunos estão tendo um encontro on-line com a Orientadora Educacional da instituição, Vanessa Susin, juntamente com dois professores da equipe, Sabrina Reis e Vagner Rossoni. Este espaço de conversa tem como objetivo criar um momento de troca de ideias sobre questões emocionais, família, amizade, pandemia e bullying; além de acolher os alunos, neste momento em que estamos distantes fisicamente há tantos meses. Os encontros acontecem quinzenalmente e os alunos devem se inscrever com a orientadora, através do app da escola e podem, também, sugerir um tema para ser discutido no encontro.
RODA DE LEITURA CES CRIA CONEXÕES LITERÁRIAS O ensino remoto levou os educa-
dores do Colégio Espírito Santo, em Canoas, a buscar novas formas de envolver os alunos com suas disciplinas. Foi neste contexto de atividades on-line, no ano passado, que as professoras de Língua Portuguesa, Literatura e Produção Textual Silvia Fontoura e Mariana Dias criaram o projeto Roda de Leitura CES. A proposta começou com o convite para que a comunidade escolar enviasse vídeos sobre os livros preferidos. A partir destas dicas literárias, publicadas no Instagram, as professoras se empenham para ampliar o repertório relacionado ao tema e ao escritor. “Nossa vontade é incentivar a lei-
tura. Além de apresentar a obra em si, o autor e as suas características, falamos sobre as diversas linguagens em que ela pode ter sido usada e incentivamos os alunos a trabalhar as múltiplas habilidades para interpretação e expressão”, explica Silvia. Ainda em 2020, o Roda de Leitura
logo ganhou uma dimensão maior, promovendo lives no YouTube para abordar assuntos literários com outras professoras, estudantes, escritores e influenciadores digitais. Aproveitando esta interação, o projeto abriu oportunidade para que autores independentes apresentassem suas obras e para que os alunos do CES escolhessem dois destes livros para integrar a lista das leituras obrigatórias do Ensino Médio em 2021. Pensando em novas conexões virtuais, o projeto lança, a partir de maio, os Encontros Literários da Roda de Leitura. “A ideia é marcar uma conversa on-line por mês, no Zoom, ou Google Meet, com estudantes, professoras e ex-alunos, formando uma espécie de clube de leitura”, diz Silvia.
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MARISTA ROSÁRIO LANÇA O PROJETO EDUCAÇÃO SOCIOEMOCIONAL
REPRODUÇÃO
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Baseado nas competências so-
cioemocionais presentes nas 10 competências gerais da Base Nacional Curricular Comum (BNCC), e considerando o contexto da pandemia, o Colégio Marista Rosário, da Capital, lançou o projeto Educação Socioemocional. A primeira atividade foi no dia 23 de fevereiro para os educadores, com a palestra (foto) da doutora em Educação e
professora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Telma Vinha. Em abril, os professores participaram de momentos formativos com a doutora em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano, mestre em Educação: Psicologia da Educação, Bióloga e Pe-
ESCOLA NOSSA SENHORA DO BRASIL, DIVULGAÇÃO
dagoga, Lilian Bacich. A proposta é que o corpo docente possa promover experiências psicoeducativas, que contemplem um trabalho permanente com aprendizagem socioemocional para o desenvolvimento de sujeitos socialmente competentes.
ALUNAS DO SINODAL TIRADENTES TÊM TRABALHO PUBLICADO POR UMA EDITORA Realizada em 2019, a pesquisa
PARCERIA: ESCOLA NOSSA SENHORA DO BRASIL E ESCOLA DA INTELIGÊNCIA Devido à pandemia, a Escola Nossa Senhora do Brasil fortaleceu ainda mais a sua parceria com a Escola da Inteligência. Com foco nas relações socioemocionais, a EI vem ao encontro da tradição de 72 anos da Escola em trabalhar a acolhida, empatia e as boas relações entre os educandos e famílias, em todos os níveis escolares. No dia 13 de abril ocorreu o
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Drive-Thru da Entrega Significativa dos materiais didáticos da EI. Mantendo a distância e todos os cuidados necessários, educadores e educandos puderam se encontrar e trocar um pouco de carinho, bem como, mensagens de esperança para os melhores momentos que nos aguardam tão logo possamos estar todos juntos presencialmente.
científica sobre o uso do xadrez aliado à matemática como uma ferramenta pedagógica trouxe importantes premiações à aluna Michelle Britto nos eventos MOPIC, PIOTEC e Mostra Tec. Agora foi a vez das alunas Ana Paula Schneider da Silva e Fernanda Viana Falkoski, que tiveram o projeto divulgado pela Editora Atena. Em 2020, a dupla desenvolveu, na disciplina de Iniciação Científica, o projeto intitulado “Análise da influência da participação política através do discurso de ódio e polarização da democracia”. O trabalho rendeu frutos e virou um capítulo de livro pela Editora Atena. A íntegra do trabalho pode ser conferida em: https://www.finersistemas.com/ atenaeditora/index.php/admin/ api/artigoPDF/47010.