Cadernos de Debate 2

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AS AÇÕES CULTURAIS E O ESPORTE COMO FERRAMENTAS PARA O DESENVOLVIMENTO INTEGRAL DAS PESSOAS NAS CIDADES EDUCADORAS



INDICE

PREFÁCIO Ing. Miguel Lifschitz Intendente Municipal Rosario | Argentina SOBRE ESTA PUBLICAÇÃO Equipe Editorial

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I: INCLUSÃO “Programa Escola Integrada: Práticas esportivas comprometidas com a inclusão social e a cidadania de crianças e jovens na cidade de Belo Horizonte” Autoría: Equipe da Secretaría Municipal do Educação, Prefeitura de Belo Horizonte Belo Horizonte | Brasil

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“Programa Atendimento a pessoas portadoras de deficiências” Autoría: Prof. Lic. Sebastián Fernández Chifflet [Integrante da Secretaría do Educação Física, Esporte e Recreação] Montevideo | Uruguay

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“Programa Faróis Comunitários. Projetos: Trabalhando com máscaras e Teatro de jogos em comunidade” Autoría: Integrantes da Unidade de Gestão Social, Departamento Municipal de Cultura Paysandú | Uruguay

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“Uma ponte em permanente construção” Autoría: Lic. Viviana Marchetti [Diretora Municipal de Inclusão para Pessoas Portadoras de Deficiências] Rosario | Argentina

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“Programa de acessibilidade à comunicação e à cultura para pessoas portadoras de deficiências na cidade de Rosário. Para que todos possamos ler. Livros em áudio, livros eletrônicos, livros em braille e livros magnificados” Autoría: Lic. Viviana Marchetti [Diretora Municipal de Inclusão para Pessoas Portadoras de Deficiências] Teresa Montero [Integrante do Serviço de Leitura Acessível da Biblioteca Municipal “Dr. Juan Alvarez”] Rosario | Argentina

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“Encontros para a integração” Autoría: María Elena Sorini [Presidente do Conselho Municipal da Mulher] Villa Constitución | Argentina

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II: CRIANÇAS E JOVENS 161

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“A integração do esporte e do lazer na promoção de atividades socioeducativas: cultura e cidadania” Autoría: Integrantes da Associação Municipal de Assistência Social - AMAS] Belo Horizonte | Brasil “Comissão interna de prevenção de acidentes e violência escolar” Autoría: Nelcy Rosa Casa [Integrante da Secretaria Municipal da Educação] Caixas do Sul | Brasil

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“Acampamento Municipal Punta Espinillo, uma experiência educadora” Autoría: Prof. Lourdes Bello [Integrante da Comissão Montevidéu Cidade Educadora, Secretaría Municipal da Infancia] Montevideo | Uruguay

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“Jovens vereadores da cidade del Pilar” Autoría: Equipe da Secretaria Municipal de Educação, Cultura e Integração Pilar | Argentina

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“Programa Uma Cidade Escola” Autoría: Margareth D'Onófrio Magalhães [Orientadora Pedagógica da Equipe Técnica da Secretaria Municipal de Educação e Cultura] São Bernardo do Campo | Brasil

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“Programa Escola Nossa” Autoría: Géria Maria Montanari Franco [Secretária Municipal de Educação e Cultura, Delegada Política AICE] São Carlos | Brasil

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“São Paulo e o esporte: Programa Clube Escola” Autoría: Integrantes do Programa Municipal Clube Escola São Paulo | Brasil


III: ADULTOS E ADULTOS IDOSOS "O Esporte nos bairros, perto dos vizinhos" Autoría: Prof. Gonzalo Halty y Lic. Antonio Araujo Mendoza [Integrantes do Departamento de Cultura, Secretaría Municipal de Esportes] Montevideo | Uruguay

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“Conta quem conta: Programa de alfabetização com a família” Autoría: Ms. María Noel Guidali y Mabel De Agostini Paysandú | Uruguay

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"Desafío do Oeste” Autoría: Néstor Parra [Salva-vidas de Montevidéu e competidor em “Esporte Aventura”] Rubén Bouza [Prof. de Educação Física, Secretaria Municipal de Recreação e Esportes] Lourdes Garrido [Licenciada em Educação Física] Montevideo | Uruguay

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"O adulto idoso em movimento e acompanhado" Autoría: Prof. Lic. Antonio Araújo Mendoza [Integrante do Programa Adultos Idosos, Secretaría Municipal de Educação Física, Esporte e Recreação] Montevideo | Uruguay

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PREFÁCIO

Durante os últimos anos, tem se registrado um aumento progressivo dos momentos de lazer das crianças, dos adolescentes, e dos jovens e adultos. O território sofre mudanças e as pessoas devem ser as protagonistas desta mudança. Neste sentido e com o propósito de dar resposta às novas demandas, faz-se necessário a implementação de políticas públicas em matéria de cultura e esporte que possibilitem processos de reflexão e de participação ativa da cidadania. O esporte e a atividade física se conformaram como um dos fenômenos sociais mais importantes da sociedade contemporânea, tanto como prática ativa quanto espetáculo de massas, passando a fazer parte essencial da vida do homem. A prática regular de uma atividade física apresenta inúmeros efeitos positivos sobre a saúde. Contribui para que se atinja uma melhor qualidade de vida, já que o seu desenvolvimento de forma sistematizada é fundamental para a prevenção de doenças e problemas de saúde. Em particular, a atividade física e esportiva implica educação, lazer, saúde e participação social, constituindo-se em um bem cultural e um verdadeiro direito da cidadania. Por este meio, as políticas culturais se referem ao desenvolvimento e ao acesso equitativo das pessoas quanto aos campos da criatividade e da difusão artística, do patrimônio cultural e das indústrias culturais. O Estado Municipal tem um papel fundamental na implementação de políticas culturais e esportivas que garantam a igualdade de oportunidades para todos. Por isso é que se faz necessário promover a recuperação de diferentes espaços da Cidade para o esporte e a recreação e para o desenvolvimento cultural, com o intuito de estabelecer um compromisso entre as pessoas, revalorizando e reconhecendo a importância de uma construção social comunitária. A igualdade de oportunidades nas cidades não é uma obra que possa ser realizada somente por um governo municipal, nem é um problema meramente administrativo. É um compromisso de participação que deve tomar a cidade em seu conjunto, suas organizações intermediárias, ou os simples cidadãos ao defenderem seus direitos. Desta maneira, a prática esportiva passa a ser uma ferramenta para atingir a mudança. Portanto, esta publicação nos propõe um espaço amplo onde debater e voltar a pensar nas políticas públicas que são aplicadas em diferentes Cidades Educadoras e que contribuem para a formação integral de todas as faixas etárias. As experiências que aqui se relatam, mostram o caráter inovador das propostas, e as diferentes formas de cooperação e de comunicação que se traduzem em instrumentos de verdadeira integração social e cultural.

Eng. Miguel Lifschitz Intendente Municipal Rosario | Argentina

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SOBRE ESTA PUBLICAÇÃO

Esta publicação denominada Cadernos de debate dá início a uma nova série de divulgações e é produto da convocatória realizada pela administração Regional da Associação Internacional de Cidades Educadoras para a América Latina, cuja sede está localizada no Departamento Geral de Relações Internacionais da Prefeitura de Rosário, Argentina. O objetivo fundamental de nossas atividades junto aos governos municipais da América Latina que fazem parte da Rede de Cidades Educadoras, é o de estabelecer vínculos multilaterais que propiciem a realização de projetos comuns e de intercâmbio de experiências entre as cidades. As novas problemáticas do mundo atual, assim como as diferentes realidades urbanas das cidades latino-americanas, requerem aprendizagens permanentes. Este é o motivo pelo qual consideramos importante haver desenvolvido este espaço de encontro cujo tema nessa ocasião se refere a “As Ações culturais e o esporte, como ferramentas para o desenvolvimento integral das pessoas nas Cidades Educadoras”, com a finalidade de propiciar um espaço de reflexão acerca das políticas e práticas educativas que se implementam nas cidades. Aproveitou-se também a ocasião para que se publicassem algumas experiências vinculadas com a área de esportes, tendo em vista a preparação para participarmos no XI Encontro Internacional de Cidades Educadoras que será desenvolvido na cidade de Guadalajara, México, em 2010. Dado que o referido encontro propõe um debate acerca das políticas públicas em questões relativas ao esporte e sua contribuição na construção de cidadania como um dos desafios das Cidades. Este é o momento adequado para difundir, contrastar e intercambiar experiências e boas práticas, constituindo-se ademais, em uma oportunidade para aprofundar na construção dos conceitos de Cidades Educadoras. Neste sentido, considera-se que os projetos culturais e/ou esportivos são algumas das ferramentas possíveis para que se atinjam a inclusão e a coesão social. Por este motivo, agrupamos os diferentes trabalhos por ordem alfabética das cidades e baseando-nos em três eixos temáticos, a saber: I: Inclusão II: Crianças e jovens III: Adultos e adultos idosos Sem lugar a dúvidas, todas estas experiências contribuem para a construção coletiva de um espaço de análise, de crítica e de reflexão sobre a atuação dos governos locais comprometidos com os princípios da Carta de Cidades Educadoras.

Equipe Editorial

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I: INCLUSテグ

- Belo Horizonte - Montevideo - Paysandテコ - Rosario - Villa Constituciテウn



“PROGRAMA ESCOLA INTEGRADA: PRÁTICAS ESPORTIVAS COMPROMETIDAS COM A INCLUSÃO SOCIAL E A CIDADANIA DE CRIANÇAS E JOVENS NA CIDADE DE BELO HORIZONTE” Responsável: Secretaría Municipal de Educação, Prefeitura de Belo Horizonte Belo Horizonte | Brasil

Nos últimos anos vários projetos sociais, em diferentes áreas de intervenção, vem sendo realizados no Brasil. O planejamento das atuais políticas públicas tem absorvido a noção de empoderamento [1], corroborando para a implementação e execução de políticas públicas nacionais de educação, esporte, cultura, meio ambiente, inclusão digital, inserção profissional, saúde e juventude. Tais políticas se delineiam em torno das novas necessidades formativas do sujeito e de suas múltiplas dimensões: afetiva, ética, estética, social e cultural. A concepção de educação como direito, requer a formação de sujeitos de vivências/sujeitos de aprendizagens. E as aprendizagens são fruto das condições de vida social e cultural em que estão inseridos esses sujeitos. Mas, o espaço escolar, sozinho, não comporta todas essas vivências. Cabe a educação formal reconhecer os potenciais educativos da comunidade tendo em vista que o ambiente social é espaço de aprendizagens por excelência. Somos todos aprendizes permanentes da vida (Educação para Todos, Tailândia, 2000). Ter como meta uma educação como exercício da vida implica reconhecer diferentes sujeitos de diálogo [2]. Essa nova cultura do educar nos convida a perceber, reconhecer e utilizar a noção de território: que implica no reconhecimento que a cidade é o lugar que estabelece sentidos a nossa existência, dos usos e hábitos de nosso tempo. Belo Horizonte tem revelado uma forte vocação educadora ao instituir políticas que reconhecem a cidade para além de suas dimensões: econômica e política. A Prefeitura de Belo Horizonte tem apostado na articulação entre cultura, esporte, assistência social, saúde, alimentação, segurança no trânsito e programas de transferência de renda, bem como questões relativas à habitação e condições de existência. O Programa Escola Integrada é fruto dessa nova cultura política, baseada numa lógica intersetorial que envolve todas as secretarias municipais, órgãos responsáveis pelo trânsito, pela limpeza, por obras e pelo meio ambiente, artistas, diversas instituições de ensino superior, ONGs, lideranças locais, comerciantes e empresários na formação integral dos cidadãos vistos como sujeitosaprendentes de uma cidade com potencialidades educadoras. Criado em 2006 pela Prefeitura Municipal de Belo Horizonte como uma experiência piloto em sete escolas, o Programa Escola Integrada tem buscado traduzir as idéias assumidas na carta de princípios das Cidades Educadoras (Barcelona, 2000). Atualmente, 50 escolas participam do programa, que pretende uma expansão progressiva para todas as escolas municipais de Belo

[1] O termo ‘empoderamento’ é uma tradução para o português da palavra inglesa empowerment. A palavra deriva do verbo empower que significa “dar poder” a alguém para realizar tarefas sem precisar da autorização de outras pessoas. Este termo é uma das inúmeras expressões ricamente definidas por Paulo Freire. Para ele, a pessoa, o grupo ou a instituição empoderada é aquela que realiza, por si mesma, mudanças e ações que a levam a evoluir e se fortalecer. Implica, portanto, conquista, avanço e superação por parte da pessoa empoderada e, não apenas, “doação”. No caso deste artigo, seguimos a definição dada pelo educador brasileiro. [2] ‘Sujeito de diálogos’ exprime a diversidade de saberes e oportunidades educativas que se dá a partir das interfaces entre esferas (pública e privada), espaços (escola, parques, praças, clubes, etc) e sujeitos (parceiros, voluntários, professores, educandos, agentes culturais, estudantes universitários, entre outros) que ocorrem no Programa Escola Integrada.

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Horizonte. Suas ações ocorrem tanto nas escolas quanto em espaços comunitários públicos e privados. Parques, igrejas, quadras, clubes e associações de bairro, dentre outros, transformam-se em espaços de formação. Os cursos e oficinas, que compõe um rico cardápio de atividades sócioeducativas, acontecem em espaços próximos da escola, sendo necessário o deslocamento dos estudantes. No percurso que fazem da escola até as oficinas pelas ruas da cidade, as crianças e jovens do programa se apropriam dos espaços e podem sentir e aprender a cidade onde moram, revendo e alterando algumas representações acerca do espaço urbano em que vivem. Um dos eixos norteadores do programa é reconhecer as potencialidades educadoras das comunidades. Neste sentido, as práticas esportivas e lúdicas emergem como fenômenos sócioculturais relevantes na implementação de ações comprometidas com a inclusão social. Cada escola é responsável por tecer o seu próprio projeto político-pedagógico territorializado a partir das possíveis redes sócio-educativas locais. Mediante essa lógica, novos fluxos de saber podem ser construídos a partir dos valores, conhecimentos, experiências e recursos disponíveis em cada comunidade, num intenso movimento de dentro para fora e de fora para dentro da escola. Reconhecer outros espaços de exercício da vida, do conhecer e do fazer tende a ampliar o repertório de crianças e jovens, bem como favorecer uma atuação muito mais cidadã. Os atores socializam-se através de diversas aprendizagens e constituem-se como sujeitos através da sua capacidade de dominar a sua experiência, de se tornarem, autores da sua própria educação. Neste sentido, qualquer educação é uma auto-educação, ela não é somente uma inculcação, ela é também um trabalho sobre si próprio. Ao se entrelaçar a escola à comunidade em suas múltiplas e complexas escalas territoriais de seu modo de existir, a educação torna-se instrumento de democracia e pode efetivar a construção de melhores condições para a cidadania. Educar para (com) a cidadania é possibilitar à criança, ao jovem e ao adulto entender e participar das decisões da sociedade, utilizando o lugar onde vive, sua escola, seu bairro, sua vizinhança como parceiros de seu desenvolvimento. O esporte tem um papel decisivo neste sentido, uma vez que tende a propiciar vivências de empoderamento e práticas cidadãs. No que diz respeito especificamente a área de cultura corporal do movimento humano, pode-se destacar muitas ações de inclusão social no âmbito do esporte, da cultura e da educação que estão ocorrendo em nosso país. O Ministério do Esporte do governo brasileiro propôs o Projeto Segundo Tempo (PST) que tem como finalidade o desenvolvimento de valores sociais, a melhoria das capacidades físicas e habilidades motoras, a melhoria da qualidade de vida, diminuição da exposição aos riscos sociais e conscientização da prática esportiva, assegurando o exercício da cidadania. O PST estabelece como estratégia operacional a formalização de parcerias e alianças institucionais, mediante a descentralização da execução orçamentária e financeira para entes públicos e privados sem fins lucrativos. Tais entidades, dessa forma, tornam-se responsáveis pela execução do programa através da celebração de convênios ou instrumentos congêneres com o Ministério do Esporte, visando a implementação de Núcleos de Esporte Educacional (NED). As atividades esportivas promovidas nos NED em escolas ou em outros espaços possuem um caráter educativo tendo como objetivo o desenvolvimento integral da criança e do adolescente, de forma a favorecer a consciência de seu próprio corpo, explorar seus limites, aumentar suas potencialidades, desenvolver seu espírito de solidariedade, de cooperação mútua e de respeito coletivo. Os NEDs desenvolvem atividades esportivas e complementares tendo a seguinte orientação: oferecer atividades esportivas no contra-turno escolar; oferecer atividades esportivas realizadas com freqüência mínima de três vezes por semana, e duas horas diárias; oferecer atividades complementares (apoio escolar, atividades culturais, etc). Sob esse aspecto o Programa Escola Integrada alia-se ao Programa Segundo tempo incorporando em suas oficinas os estagiários do PST. O Programa Escola Integrada parte do desafio de constituir um sentido educativo às múltiplas manifestações da corporalidade ao oferecer um cardápio variado de experiências esportivas e recreativas em sua matriz curricular: o esporte, a dança, o jogo, a ginástica, o teatro, o circo, as práticas laborais, as terapias corporais, etc. O programa não parte da noção de que haja expressão

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corporal e conseqüentemente esporte de sentido único; o que há são variados modos de representálo, praticá-lo, vivenciá-lo e interpretá-lo, uma vez que co-existem variadas alternativas, tipos de esporte (de rendimento, educacional, de lazer, de reabilitação e reeducação, etc) e sujeitos de diálogo (universitários, agentes culturais, parceiros e voluntários). Neste artigo procuramos apresentar algumas experiências proporcionadas no âmbito do Programa Escola Integrada a partir da articulação com o Programa Segundo Tempo, do Ministério do Esporte, mas, também, das ações de outros parceiros (Projeto Tênis Cidadão, Projeto Guanabara-UFMG, Grupo Corpo) e relatos de experiências esportivas que consideramos bem sucedidas. No bairro Taquaril encontramos Claudiney dos Santos que desde o programa começou na Escola Municipal Israel Pinheiro vem atuando como agente cultural e desenvolvendo oficinas de esporte e recreação. Diney, como costuma ser chamado pelas crianças da escola é estudante de Educação Física e relata que o grande desafio é conciliar aquilo que se aprende na faculdade com a prática cotidiana da escola. Em vários momentos ele discutiu com seus professores alternativas para motivar e fazer com que as crianças participem com mais entusiasmo das suas atividades. Quando ele propõe alguma atividade e esta não dá o resultado esperado ele registra e discute com o professororientador. Nosso objetivo é não excluir ninguém, menina jogando bola, menino brincando de queimada, não tem essa coisa de isso é coisa de menino, isso é coisa de menina, os mais gordinhos e até quem é portador de algum tipo de necessidade especial participa de todas atividades do seu jeito. Claudiney relata que, nas suas oficinas, procura relacionar os conhecimentos sobre as práticas esportivas que ele trás da faculdade com aquilo que as crianças trazem de casa e da sua vivência infantil. Outro dia, vi um menino com um chinelo amarrado num pedaço de barbante, cheguei pra ele e perguntei: o que é isso? Ele sorriu e respondeu: ué, tá vendo não? É um carrinho. Depois de algum tempo ele, se cansou do carrinho, pegou o chinelo, tirou o barbante e apontou para os colegas, fazendo barulho de tiros, o chinelo já tinha virado um revolver... As crianças conseguem dar um outro sentido para os objetos. Isso é muito legal... Cabe aos educadores em geral ter sensibilidade para perceber essa dimensão da infância. Além das atividades esportivas e lúdicas, os alunos que participam do programa fazem aula de natação num clube localizado localizados nas proximidades da escola. Claudiney, como outros oficineiros e monitores do Programa Escola Integrada, percebeu a importância das práticas esportivas, lúdicas e recreativas estarem atreladas a uma perspectiva democrática, uma vez que tais atividades ajudam a promover conhecimentos, hábitos, valores, comportamentos e atitudes cidadãs, como o respeito às diferenças e a solidariedade. Os agentes culturais e estudantes universitários que participam do Programa Escola Integrada realizam uma formação contínua intitulada Ampliando os Horizontes Culturais. Nessa formação são discutidos temas abrangentes de caráter sócio-educativo. Além dessa formação geral, são ministradas oficinas especificas de teatro, jogos e brincadeiras, dança, música, mídia, artes plásticas, artesanato e letramento. O objetivo é qualificar e incentivar os agentes a perseguir uma qualidade maior em seu trabalho e em suas vidas. Do contato que estabelecemos com as escolas que atualmente integram o programa podemos destacar as seguintes práticas esportivas cidadãs, que se aproximam das orientações estabelecidas no Material didático para o processo de capacitação do Programa Segundo Tempo (Segundo TempoManual, 2007) e que são: - A roda: formato de assembléia onde todos falam e são ouvidos. Um dos momentos mais significativos das oficinas por oportunizar uma horizontalidade, na roda ninguém é melhor que ninguém, todo mundo é igual. - A pauta ou agenda de atividades: o objetivo é organizar as atividades que serão realizadas diariamente, semanalmente, mensalmente e ao longo do ano. - Os combinados: estabelecimento de normas de trabalho e convivência. Cada um se responsabiliza por si e se compromete com o grupo.

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- Novas relações com o tempo, com o espaço e com os objetos: aprendizagem de atitudes que ajudem a melhor administrar o tempo, priorizar atividades e estabelecer seqüências, significa, também, ambientar-se, reconhecer o espaço, tomar consciência de suas dimensões e da movimentação que ele permite, além da possibilidade de intervir artisticamente no espaço onde as atividades físicas são realizadas, desenhando e pintando símbolos e elementos do esporte. Aprendese, também, a guardar e conservar o material. - A Convivência: consciência das relações que se estabelece consigo e com o outro, é o que dá sentido às ações. - O Registro: preservar a memória individual e coletiva das atividades vivenciadas. - A avaliação: ao final do dia, (ou) da semana, (ou) do semestre, encontra-se para avaliar o que foi feito, os resultados alcançados, os momentos felizes e as principais dificuldades enfrentadas. Em relação ao aspecto da memória, uma experiência interessante vem acontecendo na Escola M Hugo Werneck onde acontecem oficinas de capoeira ministradas pelo mestre Açaí (Wellington Carlos de Almeida). Além de ensinar a técnica e os movimentos da capoeira, Açaí, preocupa-se com o resgate da memória e a história da capoeira, no processo de formação de seus alunos. Para ele a capoeira, antes, uma diversão de escravos, hoje é uma arte que encanta enquanto educa, crianças e jovens, dentro e fora da escola. Na Escola M Gracy Vianna Lage as crianças que participam do Programa Escola Integrada estão desenvolvendo o Projeto Educação Física e Vida Saudável. O projeto visa apresentar alternativas esportivas para as crianças de 6 a 14 anos, afim de que estas troquem uma ociosidade negativa por práticas esportivas e recreativas de qualidade. Os principais objetivos do projeto são melhorar a participação das famílias com a escola; integrar as atividades esportivas com as outras atividades escolares; possibilitar a elevação da auto-estima das crianças e jovens do projeto; propor uma ação educacional através do esporte e do lazer como instrumentos de educação e de desenvolvimento social. Através do Programa Escola Integrada estabeleceu-se uma parceria entre a escola e a igreja do bairro que cede dois amplos salões onde são ministrados aulas de dança e artes plásticas. Nas outras salas do centro de catequese são desenvolvidas oficinas de Línguas (Português e Inglês) e Matemática. Uma das metas para o próximo ano é estabelecer um intercambio com academias e escolinhas de futebol do bairro para oportunizar as crianças e jovens que participam do programa o contato e a convivência com diferentes grupos sociais a fim de ampliar seu horizonte de aprendizagens. Depois do recesso escolar de julho, a equipe que compõe o projeto realizou uma auto-avaliação, uma avaliação geral projeto, também, foi feita com todos envolvidos no mesmo. Chegaram as seguintes considerações: - “A mudança mais visível foi no comportamento dos alunos, antes era muito difícil que eles nos ouvissem”; - “Diminuíram as agressões físicas e verbais”; - “Entre os alunos há mais respeito e cooperativismo”; - “Há mais interesse em realizar os deveres de casa”; - “Percebemos que alunos antes excessivamente tímidos estão mais autoconfiantes e participativos e partipativos2; - “Os alunos estão mais assíduos e menos resistentes às propostas de trabalho”. De uma reunião com os pais, mães e responsáveis a equipe organizadora obteve os seguintes depoimentos: - ”A rebeldia do meu filho diminuiu, ele está ficando mais em casa e me responde menos”. - ”O trabalho de vocês foi uma benção para o meu neto e para mim”. - “Em casa minha filha me ajuda mais e está mais calma”. - “Lá em casa era uma brigaiada que só vendo, agora vira e mexe os meninos organizam brincadeiras que aprenderam na Escola Integrada”.

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PARCEIROS DO PROGRAMA ESCOLA INTEGRADA Grupo Corpo é uma companhia de dança contemporânea brasileira criada em 1975 em Belo Horizonte, sendo conhecida por todo Brasil e em diversos países. Em 2000 foi criada a ONG Corpo Cidadão que atende a um total de 690 crianças e jovens em situação de vulnerabilidade pessoal e/ou social. A ONG tem como objetivo promover oportunidades educativas e de desenvolvimento humano através da arte-educação, respeitando os diferentes códigos culturais, ampliando o universo de conhecimento dos jovens, estimulando a sua autonomia e resgatando valores como ética, afeto, solidariedade, auto-estima e sensibilidade. Todo trabalho está direcionado principalmente para o crescimento físico, emocional, intelectual e para a transformação do potencial dos educandos em competências pessoais sociais, cognitivas e produtivas. Além disso, pretende-se formar também jovens multiplicadores deste processo educativo nas comunidades onde vivem. 50 crianças no turno da manhã e 50 crianças no turno da tarde, que participam do Programa Escola Integrada na E M Vila Fazendinha participam de oficinas nas modalidades de dança contemporânea e dança de rua. Projeto Guanabara é desenvolvido pelo Departamento de Esportes da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional da Universidade Federal de Minas Gerais e tem como parceiros o Instituto Ayrton Senna-AUDI iniciou suas atividades em 1996. O Projeto Guanabara se desenvolve priorizando a totalidade do indivíduo, possibilitando aos participantes, o seu desenvolvimento humano através do fortalecimento da auto-estima, autoconceito e identidade, tendo como referência o contexto social e cultural da comunidade, pautado nos pilares da educação. No aspecto do desenvolvimento social, o projeto visa favorecer as relações afetivas, promover ações de solidariedade, trabalhar a organização e democratização através de atividades em grupo, enfatizando os princípios da ética. A finalidade principal é a de criar, através do esporte, um meio facilitador e complementar para que os membros das comunidades, os participantes, possam vivenciar ativamente, a construção de sua cidadania, tornando-se então sujeitos de sua própria história. Todas as ações estão voltadas para a melhoria da qualidade de vida dos envolvidos, enfatizando a longevidade, a escolaridade e participação social, tendo como conseqüência direta a melhoria do Índice de Desenvolvimento Humano. Duas vezes por semana alunos que participam do Programa Escola Integrada na E M Aurélio Pires participam de atividades esportivas do Projeto Guanabara na UFMG. Projeto Tênis Cidadão é desenvolvido no Parque das Mangabeiras, desde dezembro de 2003 com o patrocínio da Associação Amigos do Esporte, sendo seu idealizador e mantenedor Paulo de Tarso Ribeiro (Oficina do Tenista). Em parceria com a Head Pen e a PBH transformaram-se 2 quadras de peteca do Parque das Mangabeiras em quadras de tênis. O projeto foi ampliado em 2007 com o Programa Escola Integrada e atualmente atende 60 crianças de 10 a 16 anos que estudam na Escola M Senador Levindo Coelho na Serra. Além da formação esportiva, o projeto tem o objetivo de criar um espaço de enriquecimento e vivências sócio-culturais que contribuam no processo de cidadania envolvendo os campos da arte, cultura, lazer e educação ambiental. As crianças e adolescentes que participam do projeto estão recebendo capacitação para atuarem como auxiliares de quadra. O objetivo é prepará-las para atuar nessa função durante o BH Tennis Open – International Cup.As crianças recebem gratuitamente todo o material do treino, incluindo roupa, tênis, raquetes e bolas. Em contrapartida elas se comprometem a ter compromisso com a escola, o esporte e a vida. O projeto já recebeu a visita de tenistas ilustres como Gustavo Kurten e Fernando Meligeni. Atualmente 4 crianças estão na equipe de competição do PIC. Um dos atletas do programa recebeu o convite para aparecer nas chamadas de uma emissora de televisão na época da Olimpíadas de Pequim. As avaliações de pais e professores são unânimes ao afirmar o projeto contribuiu na importante tarefa do cuidado de si, como organizar uma rotina diária com tempos específicos, dinâmica da formação de grupos, orientações de saúde e higiene, formação de hábitos e responsabilidade com eles próprios. alunos que antes apresentavam problemas como desinteresse, indisciplina, defasagem na leitura, escrita e matemática, agora desenvolvem-se num ritmo adequado. O Projeto Tênis Cidadão proporcionou nas crianças que participam do Programa Escola Integrada, o crescimento cultural, de conhecimentos gerais, ampliação do vocabulário, aceitação e relação de cada um com seu corpo, melhoria da autoestima, através da realização de competições e das entrevistas. Em termos de possibilidades futuras podemos destacar a parceria com a Caixa Econômica Federal, que é uma das principais patrocinadoras do esporte brasileiro ao repassar recursos oriundos das Loterias Federais ao Ministério do Esporte e aos Comitês Olímpico e Paraolímpico Brasileiros. Para o ano de 2009 está previsto a realização de um projeto que atenderá cerca de 1200 crianças que

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estudam nas escolas da Rede Municipal de Educação, priorizando as que participam do Programa Escola Integrada. O projeto atenderá crianças e jovens na modalidade educativa, sendo que os talentos revelados serão encaminhados para práticas de esporte de rendimento, nas suas diversas modalidades. CONSIDERAÇÕES FINAIS Acreditarmos que os caminhos da vida e da aprendizagem não têm fim, por isso é difícil apresentar, mesmo num artigo, conclusões definitivas e gerais, ainda mais quando se tem como ponto de partida, um universo tão diversificado de espaços e sujeitos de diálogo, como acontece no Programa Escola Integrada. Mesmo correndo o risco de produzir generalizações distorcidas, já que generalizações são sempre arriscadas, para efeito deste artigo, gostaríamos de estabelecer algumas considerações sobre o papel do esporte na construção de uma vivência cidadã no Programa Escola Integrada. Em relação às oficinas esportivas e atividades que envolvem a corporalidade, podemos destacar os seguintes resultados já observados nas crianças e jovens que participam do Programa Escola Integrada a partir do contato que mantivemos com as escolas: - Aptidão física melhorada - Desenvolvimento de habilidades motoras e esportivas - Promoção da saúde - Aquisição de valores e formação ética Para o Programa Escola Integrada o esporte, bem como todas as outras modalidades que compõe as múltiplas manifestações da corporalidade humana, tem um papel decisivo na consolidação do direito fundamental de circular e se apropriar da cidade para que possam todos tenham acesso a oportunidades, espaços e recursos existentes e possam ampliar seu repertório sócio-cultural, bem como o direito à expressão corporal autônoma e uma vivencia mais feliz e cidadã.

BIBLIOGRAFÍA Carta das Cidades Educadoras: http://www.cm.evora.pt/NR/rdonlyres/00004ead/awtuvhezgywlwffaxvjxllxizxmcnmct/Cartadascidadeseducadoras.pdf Declaração Mundial sobre Educação para Todos: http://www.acaoeducativa.org.br/downloads/Declaracao_Jomtien.pdf Manual de Diretrizes e Orientações do Programa Segundo Tempo: http://www.salesianosdobrasil.org.br/SegundoTempo/manual_diretrizes_orientacoes_segundotempo.pdf http://portal.esporte.gov.br/snee/segundotempo/modulosCapacitacao.jsp

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"PROGRAMA ATENDIMENTO A PESSOAS PORTADORAS DE DEFICIÊNCIAS” Responsável: Prof. Lic. Sebastián Fernández Chifflet [*] Montevideo | Uruguay

INTRODUÇÃO A Secretaria de Educação Física, Esporte e Recreação tem por objetivo trabalhar intensamente na promoção do processo de democratização do direito de todos os cidadãos ao acesso a serviços e programas de atividades físicas. O direito à prática de atividades físicas, a participar em atividades recreativas, a desenvolver propostas coletivas de interação e de encontro social constitui um elemento indispensável e estratégico no trabalho comunitário de uma sociedade integradora. Há mais de dezoito anos, nossa Secretaria desenvolve um programa que atende algumas das necessidades da população portadora de deficiências, desenvolvendo propostas de atividades físicas e recreativas Atendimento a pessoas portadoras de deficiências) Do mesmo modo, as tarefas e objetivos programáticos deste programa particular se coordenam com outros gerando, desta maneira, novas propostas de trabalho. Como exemplo, passamos a citar os seguintes programas: “Praias”, “Montevidéu Verde” e “Acampamentos de Primavera 2008”. Também se desenvolve uma intensa atividade de oficinas e de transmissão de conhecimentos em encontros e cursos. Desta maneira, se promove a socialização dos conhecimentos teóricos e dos conhecimentos práticos. No último ano, iniciou-se um processo de intercâmbio de experiências com equipes de docentes e de animadores de outros departamentos (localidades), com o objetivo de poder avançar em uma proposta metropolitana coordenada e complementar. Este trabalho apresenta uma síntese das propostas que se desenvolvem a partir do Programa para pessoas portadoras de deficiências e nas quais houve participação direta. APARTADO TEÓRICO-CONCEITUAL CONCEITO DE DEFICIÊNCIA: Em 1971, as Nações Unidas realiza a “Declaração dos Direitos do Retardado Mental” e, em 1975, a “Declaração dos Impedidos”. O ano de 1981 é declarado "Ano Internacional dos Deficientes" e, nesse marco, se inicia o Programa de Ação Mundial para as Pessoas Deficientes (P.A.M.P.D), proclamando a reivindicação dos direitos das pessoas portadoras de deficiências. Desta forma, se declara o decênio de 1983-1992 como a “Década das Pessoas Portadoras de Deficiências.” [*] Licenciado em Educação Física. Pós-graduação em Gestão. Integrante da equipe do Secretaria de Educação Física, Esporte e Recreação.

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No P. A. M. P. D. são traçados os seguintes eixos centrais da ação: - Promover medidas para a prevenção das deficiências e para a reabilitação. - Atingir a igualdade e a participação plena das pessoas portadoras de deficiências no desenvolvimento da vida social. Este programa vincula três níveis diferentes em torno do conceito de Deficiência: DeficiênciaIncapacidade-Minusvalia. O primeiro nível, a Deficiência: consiste em toda perda ou anormalidade de uma estrutura ou função psicológica, fisiológica ou anatômica. O segundo nível, a Incapacidade: consiste em toda restrição ou ausência, devido a uma deficiência, da capacidade de realizar uma atividade dentro dos parâmetros considerados normais para um ser humano. O terceiro, a Minusvalia: consiste em uma situação desvantajosa para um indivíduo determinado, conseqüência de uma deficiência ou incapacidade que impede ou limita seu desempenho em um papel que seja o normal. Trata-se de um fenômeno social que representa as conseqüências sociais e ambientais. Do mesmo modo, se definem os seguintes termos como básicos: Prevenção-ReabilitaçãoEquiparação de oportunidades. Prevenção: Adoção de medidas dirigidas a impedir que se produzam deficiências físicas, mentais ou sensoriais, ou impedir que, caso tenham sido produzidas, tenham conseqüências físicas, sensoriais ou psicológicas negativas. Reabilitação: Consiste em um processo de duração ilimitada e com um objetivo definido, que visa permitir que a pessoa portadora de deficiência atinja um bom nível físico, mental e/ou social, dandolhe assim os meios necessários para modificar a sua própria vida. Equiparação de oportunidades: Consiste no processo mediante o qual o sistema geral da sociedade, tal como o meio físico cultural, a habitação e o transporte, os serviços sociais e sanitários, as possibilidades de educação e de trabalho, a vida cultural e social, incluídas as instalações desportivas e de lazer, se tornam acessíveis para todos.

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Deficiencia

Incapacidade

Minusvalía

Linguagem

Para falar

De comunicação-orientação

Órgão ou funcionamento da audição

Para escutar

De orientação-comunicação

Órgão ou funcionamento da visão

Para ver

De orientação

Músculo esquelético

Para arrumar-se, alimentar-se, para a ambulação, etc.

De independência física, de mobilidade

Função Intelectual

Para a aprendizagem normal

Na integração social

Amputação M. I.

Para caminhar

Em atividades “comuns”

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A TERMINOLOGIA EM QUESTÃO: Aparecem diversas formulações terminológicas com relação ao tema das pessoas que, por algum motivo, adquirido ou congênito, a nível físico ou psicológico, apresentem características significativamente diferentes da maioria da população. Vejamos algumas: A] Pessoa portadora de uma deficiência. B] Pessoas com capacidades diferentes. C] Pessoas com necessidades educacionais especiais. A] Relacionada com o âmbito médico, é definida como a pessoa incapaz de assegurar por si mesma, total ou parcialmente, as necessidades de uma vida individual ou social normal. Causada por uma deficiência congênita ou adquirida, tanto a nível físico quanto mental. B] Que possuem outras capacidades. O conjunto das capacidades apresenta um valor qualitativo distinto (um com o outro, com os outros, com a sociedade). Neste ponto, o diferente se refere à diversidade do ponto de vista da heterogeneidade; responde a uma diferença na qualidade e não pressupõe nem define nenhuma falta, mas a questão é outra. C] Refere-se a todas as crianças e jovens cujas necessidades e modalidades de aprendizagem derivam de sua própria capacidade ou da dificuldade em dito processo. A primeira formulação, de pessoa portadora de uma deficiência, é relacionada com o paradigma médico clínico da reabilitação; os outros dois estão mais relacionados com o paradigma da autonomia pessoal ou cívico-social e política. No entanto, ao utilizar uma terminologia ou outra, às vezes ficamos com a dúvida de qual seria a forma mais indicada e, portanto, despojada de sentido de exclusão. Para poder ter uma idéia mais clara a respeito, é recomendável indagar sobre as origens dos termos, a que visão correspondem, que significados encerram e assim, poder decidir livremente e, sobretudo, argumentar sobre a razão do que fazemos. Também é interessante levar em conta que as pessoas em geral não são portadoras de estigmas por acaso; a vertente social adquire um papel fundamental para que o fenômeno seja estigmatizado. Somos nós que colocamos os estigmas, através dos termos, das atitudes, dos gestos, da falta de informação, dos MEDOS. CONCEITO DE INTEGRAÇÃO: Consiste, de alguma maneira, em permitir à pessoa portadora de deficiência normalizar suas experiências no núcleo da comunidade. Estar integrado significa, além de estar inserido fisicamente em um espaço comum, poder participar ativamente da vida coletiva dessa comunidade. Trata-se de um processo que incorpora, física e socialmente, as pessoas segregadas ou marginalizadas a uma dimensão social. Portanto, estar, mas principalmente, ser integrado significa participar ativamente da comunidade, habitando com os outros, compartilhando serviços, espaços e usufruindo de direitos e benefícios iguais. O processo de integração deve estar marcado pela dupla perspectiva, isto é, os que apresentam alguma deficiência e os que não a possuem. Este processo implica em um caminho de sensibilização e de aprendizagem, de tolerância e respeito, de cooperação em torno de um projeto comum, amplo, diverso, que considere as características e as necessidades de todos os seus membros. É importante também deter-se para refletir sobre os modelos e as perspectivas a partir das quais são tratadas as situações das pessoas que apresentam alguma deficiência. Podemos situar o surgimento destes modelos em diferentes momentos históricos e sua aplicação gera diversas conseqüências sociais. Por isto é importante salientá-los em qualquer proposta de trabalho que envolva o trabalho com pessoas portadoras de deficiências.

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PARADIGMAS OU MODELOS DE ABORDAGEM NO ÂMBITO DA DEFICIÊNCIA: Nas últimas 4 décadas do século XX, os modelos de abordagem no que se refere à situação das pessoas com algum tipo de deficiência foram se transformando. Modelo de Normalização: Nos anos 60 (Países Escandinavos) aparece com força a perspectiva da Normalização, fundamentalmente no que se refere às pessoas com deficiência intelectual (Retardo Mental). Esta normalização devia permitir que as pessoas com deficiências levassem uma existência o mais próxima à normal como fosse possível. A Integração deve então permitir à pessoa portadora de deficiência normalizar suas experiências no seio da comunidade. Isto implica que o indivíduo seja um membro ativo da sociedade e que possa usufruir dos mesmos direitos. Modelo de Reabilitação (enfoque médico-clínico): Com domínio na década dos 80, é a partir da intervenção médica, de profissionais da saúde e de técnicos relacionados com o âmbito educativo, que se consegue atingir um diagnóstico sobre a pessoa. Geraram-se métodos exaustivos de classificação que depois se transformaram no fenômeno social da estigmatização. A pessoa era colocada arbitrariamente dentro de determinados parâmetros técnicos que, em geral, condicionavam o desenvolvimento de suas potencialidades individuais reais a futuro. A orientação educativa e o desenvolvimento pessoal ficavam de certa forma, marcados pelo diagnóstico. Surge, com grande ênfase, a intervenção de especialistas e de grupos interdisciplinares. Este modelo foi revisado, já que promovia um elevado grau de dependência entre a pessoa e as instituições de intervenção. Este modelo também é denominado “Déficit". Modelo da Autonomia Pessoal (cívico-social e político): Por volta da década de 90, a partir da revisão formulada do modelo anterior (Reabilitação), passa a ser relativo o denominado problema médico e se focalizam as energias e ações para o campo educativo em função de um novo conceito: o de pessoas com necessidades educativas especiais (N.E.E.). Este conceito N.E.E. prevalece sobre o de Déficit subjacente ao modelo anterior. O novo paradigma está baseado nos direitos das pessoas com alguma deficiência de atingir um nível de independência adequado, de desenvolver sua capacidade para a autonomia pessoal, da participação ativa no processo de construção de um projeto de vida e de transformação social. A partir da perspectiva da Autonomia pessoal, o Núcleo do programa de integração já não se situa no Indivíduo, mas sim no Entorno. E é dentro deste entorno que se encontra o próprio processo de reabilitação. Três conceitos fundamentais do modelo da autonomia pessoal: 1] O papel Interativo da Deficiência (conceito relativo). 2] A incidência do Entorno: Em relação às exigências desmedidas ou o baixo impacto da aprendizagem mediada. 3] A importância do Apoio (necessário para acompanhar o processo de desenvolvimento pessoal).

Ativa

Sujeita a direitos

Pessoa

Criadora

Original

Única

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Com N.E.E.


Segundo a teoria social da deficiência, a pessoa deixa de ser um sujeito de passividade e de características estritamente médicas para se transformar em um sujeito ativo, com um importante papel no planejamento de seu próprio projeto de vida. Os conceitos de Educação Intercultural e de Educação na Diversidade assumem vital importância, posto que promovem um modelo inclusivo de sociedade. O diferente adquire um valor essencial como reconhecimento da identidade. Este modelo também é conhecido como o da Diferença. Os contextos social e educativo passam a assumir vital importância no conceito de Entorno.

Contexto educativo

Rigidez

Flexibilidade

Sistema competitivo

Sistema inclusivo

Quadro comparativo dos modelos dominantes:

Déficit

Diferencia

Deficiência em qualidade ou quantidade. Impedimento em capacidade funcional ou org. Uma desvantagem.

Qualidade de ser diferente. Diferença em qualidade, forma ou natureza. Característica que diferencia um do outro. Fator que separa situações contrastantes.

Intervenções que visam suprir ou complementar o que falta, o déficit.

Interv. que visam dar apoio à pessoa naquilo que necessitar para seu projeto de vida.

Escolas especiais, as instituições homogeneízam a população destinatária. Planejamento centrado no nivelamento e recuperação. Aprender o que não foi aprendido de acordo com os parâmetros normais. Fenômeno do Plafonamento.

Escolas inclusivas, consideram a diversidade (individualidade e identidade de c/u) Planejamento centrado na pessoa; os recursos institucionais são organizados em torno do Projeto de Vida. Autonomia -tomada de decisões- ter o leme.

Conseq.: Assistencialismo, estigmatização, alinhamento, isolamento, dependência relativa, infinidade de procedimentos (sempre falta alguma coisa).

Movimento de autogestão, independência, inclusão, participação, mudança na cultura, apoio necessário e/ou pontual, maior monitoramento, direito a projeto de vida próprio, não ser um peso social. (sempre se pode fazer alguma coisa).

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CONCEITO DE EDUCAÇÃO FÍSICA: Os diversos enfoques e as variadas definições que ao longo da história foram esboçados em torno do conceito de educação física mostram a complexidade de conceber unanimidade no momento de enunciá-la. No entanto, ao refletir sobre o presente trabalho, se realiza uma opção de definição que expressa o enfoque desta proposta. Educação Física: “Pedagogia das condutas motoras”. De acordo com a lógica de desenvolvimento do atual programa através das atividades físicas que são executadas por professores de educação física, convém realizar uma definição do conceito da disciplina a partir da qual se trabalha. Pedagogia das condutas motoras: “A educação física é uma prática de intervenção que influi nas condutas motoras dos participantes, em função de normas educativas implícitas ou explícitas. “O exercício desta influência normativa provoca, em geral, uma transformação das condutas motoras; um processo que coloca a questão da transferência de aprendizagem no centro das preocupações do prático ou especialista em motricidade.(motrizista )”. (Parlebas 2001, 172). Nesta definição, supera-se a discussão sobre um conceito abordado a partir da perspectiva do movimento seja esta uma educação do movimento, ou educação através do movimento. Pelo que se expõe, o conceito em relação com o “ser que se movimenta” é o que o autor citado define como conduta motora. Ele diz: “…o conceito de conduta motora coloca no centro da cena o indivíduo em ação e as modalidades motoras de expressão de sua personalidade." (...) “…O indivíduo em ação é uma pessoa que toma e armazena informação, que concebe e executa estratégias motoras. Tomando isto como base, a educação física pode se transformar em uma autêntica escola de tomada de decisões. Tal como observamos, estamos distante de uma simples noção de movimento. (…) (Parlebas 1996: 16,17). Este enfoque de educação física centrado no ser humano e em sua tomada de decisões se correlaciona de forma adequada com a perspectiva de modelo de abordagem da deficiência que tem por finalidade a autonomia da pessoa. O presente apartado teórico conceitual pretende ser um ponto de partida para a ação e propõe um diálogo constante entre a teoria e a prática. Uma relação dialética na qual se modificam ambos os aspectos no devenir da ação do docente, unificando-se em um único conceito: práxis. GENERALIDADES DO PROGRAMA DESCRIÇÃO: O programa “Atendimento a pessoas portadoras de deficiência” é desenvolvido especificamente com pessoas que apresentam diferentes deficiências. Ao redor de 450 pessoas assistem mensalmente de forma regular às diferentes atividades. Nas propostas de atividades físicas, esportivas e recreativas, participam ao mesmo tempo pessoas com deficiências sensoriais, motoras, intelectuais, múltiplas e com patologias psiquiátricas. As idades também variam de bebês, crianças, adolescentes e jovens até adultos e adultos maduros e idosos. Esta ampla e diversa gama de idades, de tipos e níveis de deficiências definem o programa como singular e com uma população meta muito heterogênea. Devido a esta situação, o pessoal municipal encarregado do trabalho deve possuir conhecimento técnico e profissional básico das particularidades dos usuários, além de características de personalidade que possam facilitar a intervenção em uma população como a que foi descrita. AS ATIVIDADES: As atividades são essencialmente realizadas na água e no solo. As primeiras estão constituídas por aulas de natação, atividades aquáticas com bebês, recreação na água e piscina livre. No caso das

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segundas, realizam-se exercícios em salões com aparelhos de ginástica, esportes e atividades recreativas. Uma vez por semana realiza-se uma reunião de trabalho na que participa todo o grupo de professores. No período compreendido entre março e dezembro, realizam-se seis a oito atividades especiais de tipo recreativa, organizadas e animadas pelo grupo de docentes. A EQUIPE DE TRABALHO: O grupo está formado por seis professores de educação física especializados na área, dos quais cinco se encarregam da articulação e do desenvolvimento das atividades que se realizam nos diferentes espaços e um, da tarefa de coordenação geral do programa. O pessoal da brigada municipal de salva-vidas também participa, colaborando intensamente na segurança e na co-realização das atividades. Recentemente, foi incorporada uma fisioterapeuta. Existe uma projeção que visa conformar uma equipe pluridisciplinar, com o propósito de abordar a realidade de trabalho de forma integral. ORGANIZAÇÃO SEMANAL DE ATIVIDADES: Atualmente, o programa de atividades físicas se desenvolve em três clubes da zona centro do departamento de Montevidéu. São eles: -Clube Hebraica e Macabi. -Clube Defensor Sporting. -Clube A.E.B.U. A grande maioria das horas de trabalho dos docentes se cumpre nas instituições citadas em atividades de docência direta. Complementa-se o total das horas com as reuniões semanais de coordenação na Secretaria de Educação Física, Esporte e Recreação e em atividades especiais. OBJETIVOS DO PROGRAMA 1.1] Promover e concretizar ações dirigidas à população específica que visem atingir igualdade de oportunidades para a participação plena na vida social. 1.2] Desenvolver atividades recreativas e esportivas a fim de melhorar a saúde integral da pessoa. 1.3] Gerar oportunidades que incrementem o adequado uso dos momentos de lazer. 2.1] Desenvolver propostas descentralizadas que atendam às características do contexto comunitário, especialmente para aqueles excluídos socialmente. 3.1] Estabelecer acordos normalizados com as instituições atendidas nos quais as modalidades de participação no programa estejam explicitadas de forma clara. TAREFAS ESPECÍFICAS DO PROGRAMA: 1.1.a] Desenvolver as habilidades e destrezas de cada pessoa, favorecendo sua auto-estima e autonomia. 1.1.b] Promover atividades físicas, esportivas e recreativas que visem o desenvolvimento do trabalho em equipe e a integração. 1.1.c] Promover atividades na comunidade que visem a sensibilização social. 1.1.d] Promover atividades nas quais os atores sociais mais próximos à pessoa (familiares, responsáveis institucionais, comunidade) sejam integrados ativamente. 1.2.a] Implementar programas de exercícios e de atividades lúdicas que visem melhorar de forma significativa as capacidades coordenativas e condicionais.

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1.2.b] Desenvolver propostas recreativas que promovam o reforço dos vínculos inter e extra-grupais, e a capacidade criativa e expressiva dos participantes. 1.2.c] Gerar vínculos com instituições do âmbito da saúde, buscando assessoramento técnicoprofissional, a fim de derivar situações de conflito ou crise. 1.2.d] Elaborar programas de exercícios que visem o melhoramento das capacidades psicomotoras. 1.3.a] Desenvolver propostas de atividades nas quais se alcance a transferência das habilidades psicomotoras que permita uma integração social. 1.3.b] Participar em atividades lúdicas e de encontros esportivos e outros tipos de eventos, em parceria com diferentes instituições municipais e extra-municipais. 1.3.c] Gerar estratégias para conseguir espaços comunitários e esportivos a fim de os usuários poderem sair e compartilhar um âmbito integrado. 2.1.a] Criar novos âmbitos de desenvolvimento do programa a nível dos diferentes bairros da cidade (propostas tanto estáveis quanto itinerantes). 2.1.b] Gerar redes de comunicação das diferentes zonas com os recursos e as organizações, tanto municipais quanto sociais. 2.1.c] Promover o desenvolvimento de atividades de rua, fomentando a participação social. 3.1.a] Padronizar as condições gerais de participação. ARTICULAÇÃO DOS OBJETIVOS E DAS TAREFAS COM AS ATIVIDADES ATUAIS: Dentre as tarefas citadas anteriormente, propõe-se como eixo de trabalho para o corrente ano, as que se detalham a seguir. Considera-se essencial para as diferentes propostas de sessões de trabalho: - Desenvolver as habilidades e destrezas psico e sociomotoras de cada pessoa através de atividades na água ou no solo, com a perspectiva de favorecer sua auto-estima e autonomia. - Promover atividades físicas, esportivas e recreativas que visem o desenvolvimento do trabalho em equipe e a integração, como fator importante para possibilitar a socialização. - Promover atividades nas quais os atores sociais mais próximos da pessoa se integrem ativamente. Isto está previsto em atividades como as de fim de mês, nas quais os familiares e/ou amigos podem compartilhar o espaço de jogo e brincadeiras e também, com a modificação das atividades dos sábados para as crianças. E ainda, através da articulação que está sendo realizada com outros programas e com a Secretaria da Infância, diante do programa piloto de acampamento, se busca a possibilidade de executar estratégias neste sentido. - Implementar programas de exercícios e de atividades lúdicas que visem melhorar de forma significativa as capacidades coordenativas e condicionais. Este aspecto é buscado de forma permanente em todas as atividades desenvolvidas. Mas talvez com maior vigor nos grupos adiantados de piscina, pois consideramos que a melhoria das condições físicas dos participantes são as que contribuem com elementos facilitadores de um possível egresso. - Transferência das aprendizagens. - Desenvolver propostas recreativas que promovam o reforço dos vínculos inter e extra-grupais, e a capacidade criativa e expressiva dos participantes. - Gerar estratégias para conseguir espaços comunitários e esportivos a fim de os usuários poderem sair e compartilhar um âmbito integrado. - Padronizar as normas das as condições gerais de participação, representadas através das recentes disposições regulamentares e de uso do crachá.

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PROPOSTAS E PROGRAMAS COORDENADOS COM OUTROS SETORES DA SECRETARIA 1] PROGRAMA DE ATIVIDADES FÍSICAS EM PRAIAS: Apresetação O programa de verão de atividades físicas para pessoas portadoras de deficiência atualmente é realizado em dois lugares abertos (praias) e em um fechado (piscina). Originalmente, foi desenvolvido na Praia Pocitos (Rambla República do Peru e Pagola) na zona centro do departamento. Há dois verões, a proposta foi incorporada na Praia do Cerro (Orla do bairro Cerro), ao oeste da zona urbana do departamento. A fim de facilitar a participação de bebês e de pessoas que não podem se expor ao sol, está prevista a realização de atividades em uma piscina na zona centro de Montevidéu. Desenvolvimento das atividades em praias Para o desenvolvimento destas atividades, estabeleceu-se um setor esportivo localizado na praia Pocitos, que conta com 1 quadra de futebol, 2 de vôlei e 1 de handebol. As mesmas estão sobre terreno de areia fofa. Para a entrada na zona onde se concentram os materiais (guarda-sóis, sacolas, etc.) e a fim de facilitar a entrada na zona costeira, habilitou-se um caminho de madeira que vai da orla até uns 5 metros da costa. Este caminho é a continuação de uma rampa de cimento armado que permite descer da orla até a areia. São estabelecidos módulos de 60 minutos durante os quais se atendem às diferentes instituições que participam do programa. Mediante coordenação e dependendo do número de participantes e de suas características, cada instituição realiza atividades em praias pelo menos com dupla freqüência semanal (2x/sem). As instituições que contam com poucos assistentes são colocadas junto de outras com a finalidade de promover a integração com outros participantes, buscando agrupá-los segundo idades e características semelhantes. Objetivos do Programa de praias - Promover a integração das pessoas portadoras de deficiências no meio social que freqüenta a praia e sua projeção no resto da comunidade. - Favorecer a participação integradora dos jovens das diferentes instituições e dos assistentes à praia através do esporte e da recreação. - Permitir, através do programa oferecido pela Prefeitura Municipal de Montevidéu, a possibilidade de desfrutar dos benefícios das atividades ao ar livre. - Promover os benefícios da prática esportiva e recreativa. - Difundir à população em geral, o Programa de atendimento a pessoas portadoras de deficiência da Prefeitura de Montevidéu, através da Secretaria de Esporte. Planejamento - perfil da atividade O programa de verão é planejado em uma instância prévia ao início da temporada de trabalho. Neste planejamento, se considera a perspectiva de alternância de semanas nas que predominarão as atividades recreativas e outras nas quais se enfatize o aspecto esportivo. Um critério importante que fica estabelecido desde o primeiro instante é que a proposta deve ser adaptável aos interesses e às necessidades dos seus destinatários. 2] PROGRAMA DE ATIVIDADES FÍSICAS EM PARQUES “MONTEVIDÉU VERDE”: Apresetação Esta proposta de trabalho constitui-se em uma ferramenta que permita a ação municipal através das atividades físicas com amplos setores da população nos parques do departamento. Considera a implementação de uma estrutura básica permanente que garanta o desenvolvimento da proposta e que possibilite a participação de adultos idosos, adultos, jovens, crianças, pessoas portadoras de deficiências e pessoas com alguma patologia particular, como obesos, diabéticos, hipertensos, etc. Portanto, as atividades que se planejarem deverão estar adaptadas às características particulares dos destinatários, com o propósito de assegurar a maior participação da população. Os objetivos gerais deste anteprojeto são os que esta Secretaria definiu como próprios e prioritários. Os objetivos

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específicos condensam e reúnem os que orientam a ação das diferentes áreas que a compõem. São estas: área saúde, área bairrial, área adultos idosos e área pessoas portadoras de deficiências. Esta proposta de trabalho considera o espaço verde dos parques do departamento como área específica de intervenção, promovendo a associação do empreendimento público e do privado. A incorporação de atores privados nesta proposta será essencialmente uma modalidade de apoio e complementação da esfera pública, como, por exemplo, através de atividades físicas alternativas (ioga), de supervisão médica (controle de peso, de pressão arterial), de hidratação (postos com água), de serviços higiênicos, de cartazes com informação nos circuitos aeróbicos, etc. Este projeto consiste em uma experiência original e inovadora capaz de aglutinar recursos públicos e privados, com o propósito de ampliar a oferta de atividades físicas possibilitando assim, uma alternativa pertinente para o uso do tempo de lazer e para melhorar a qualidade de vida. Objetivos gerais 1] Favorecer a elaboração de programas de desenvolvimento integral, nos quais se promovam a atividade física regular, a integração e a inclusão social. 2] Fortalecer o processo de descentralização impulsando a participação organizada de vizinhos, através da educação física, do esporte e da recreação, priorizando os setores mais desamparados. 3] Promover a criação e o desenvolvimento de uma política democratizante do acondicionamento, uso e gestão dos bens sócio-comunitários destinados à atividade física para o livre lazer. Objetivos específicos 1] Promover e concretizar ações em parques destinadas a toda a população que visem atingir igualdade de oportunidades para a participação plena na vida social. 2] Desenvolver atividades recreativas e esportivas para melhorar a saúde integral da pessoa, gerando oportunidades que incrementem o uso adequado do tempo de lazer. 3] Promover a realização de jornadas educativas e de conscientização acerca dos benefícios da realização de Atividade Física no espaço de parques. 4] Fortalecer o conceito de Atividade física como promotora de saúde, mas essencialmente de inclusão social em todas as idades. 5] Facilitar a associação estratégica com empreendimentos privados que visem apoiar e complementar as ações que a Secretaria define e desenvolve nos parques do departamento. Instituições intervenientes Esta proposta está inserida no marco da Política Municipal no âmbito da cultura física. Neste sentido, se entende que a Secretaria gerará uma estrutura básica permanente que possibilite o desenvolvimento sustentável do programa Montevidéu Verde. Também será tarefa desta Secretaria, através da equipe de docentes designada para tal fim, o planejamento e a supervisão das propostas a serem realizadas nos parques. É importante salientar que, dada esta primeira experiência e com a finalidade de assegurar uma primeira experiência piloto, os docentes também poderão desempenhar tarefas de docência direta e de animação, para que depois, em uma segunda etapa de implementação, ocupem um papel articulador das ações necessárias para a realização da proposta. Modalidade de articulação do funcionamento público-privado Em relação com a articulação das ações, a proposta tem previsto, por um lado, a estrutura básica permanente municipal e, por outro, uma estrutura implementada e executada por particulares que manifestaram interesse em unir-se e em dar apoio a um programa com as características do que aqui se apresenta. Para garantir os objetivos gerais traçados pela Secretaria como guia de sua política estratégica, o ator privado desenvolverá sua ação de maneira alinhada às prioridades definidas por esta. A modalidade de funcionamento poderá ser realizada dentro da estrutura básica e permanente ou de forma paralela e/ou itinerante.

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A fim de definir este item, é importante esclarecer as necessidades específicas do lugar relativas à infra-estrutura e materiais. E também, as da população em relação com seus interesses, a fim de atingir um apoio efetivo e a complementação dos recursos que se destinarem ao desenvolvimento das propostas. É importante salientar que programas públicos e privados serão coordenados e supervisados pela equipe responsável pelo Programa Montevidéu Verde da Secretaria. Estima-se que a participação de privados tem uma importância estratégica; porém, esta Secretaria, através da construção de uma estrutura básica permanente, garantirá a oferta de atividades físicas independentemente da presença de programas privados. 3] PROGRAMA PILOTO: “ACAMPAMENTO DE PRIMAVERA-2008”: Apresentação Este Anteprojeto surge a partir do interesse estratégico da Coordenação do Acampamento de Punta Espinillo, realizada pela Comissão Montevidéu Cidade Educadora, de incorporar à Secretaria de Educação Física, Esporte e Recreação (SEFDR) o uso deste espaço. Para materializar essa perspectiva de incorporação, o Coordenador Executivo da SEFDR realizou uma convocatória a docentes integrantes de todas as equipes de trabalho da Secretaria. A partir disto, formou-se um grupo de trabalho representante de ambos os âmbitos municipais e dos programas da SEFDR. Esta proposta é o resultado de um processo coletivo de trabalho que teve como objetivo fundamental a elaboração de um instrumento efetivo de articulação entre a oportunidade estratégica representada pelo Parque municipal de Punta Espinillo como entorno natural de trabalho e a adequada capacidade operativa das equipes da SEFDR. Objetivos 1] Incorporar à Secretaria de forma planejada a parte da administração do Acampamento. 2] Promover e fortalecer os vínculos intra-institucionais a fim de obter ações coordenadas em benefício da população. 3] Implementar novas e inovadoras experiências de acampamento nas perspectivas da integração e da inclusão social. Características e realização Está previsto que a Secretaria realize um programa piloto de acampamento denominado “Acampamento de Primavera 2008” a ser desenvolvido aproximadamente de setembro a dezembro de 2008. Este programa piloto será realizado através da formação de equipes de trabalho dos diferentes programas, que desenvolverão as estratégias e as modalidades para colocar o programa em funcionamento. Este trabalho apresenta quatro linhas temáticas que são propostas como sugestões a serem consideradas pelos participantes da montagem definitiva do programa piloto. Proposta genérica para a Secretaria de Educação Física, Esporte e Recreação - Atividades: Realização de quatro instâncias de acampamento organizadas pela Secretaria de Esporte no parque de Punta Espinillo. Cabe esclarecer que a quantidade de instâncias será definida claramente por aqueles que construírem parte do programa "Acampamento de Primavera 2008". - Os responsáveis: Formação de equipes de trabalho para planejar, desenvolver e avaliar as propostas de acampamento. As equipes poderão estar integradas por docentes das diferentes áreas, em função das propostas a serem realizadas e dos objetivos das mesmas. - Marco das atividades e participação dos vizinhos: É importante para ter acesso ao uso do acampamento, que os vizinhos ou usuários tenham desenvolvido processos de organização nas áreas nas quais as docentes da Secretaria trabalham. Isto é importante dado que se pretende fortalecer o processo da participação co-organizada das pessoas, das diversas comunidades e dos programas. Sugestões de instâncias e modalidades de trabalho 1] Acampamento organizado por vizinhos relacionados com trabalhos nas áreas de saúde, conselho vizindário, técnicos dos Centros Municipais Zonais, organizações impulsoras de processos de interesse comunitário, incluindo a perspectiva da integração social de todas as pessoas.

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Objetivos: - Facilitar o conhecimento do local e de suas potencialidades por meio das comunidades locais. - Promover o encontro com os diversos atores comunitários através de instâncias de uso do tempo para o lazer (descanso). - Contribuir com o processo de divulgação do espaço e com a co-construção de acampamentos comunitários. 2] Acampamento para crianças que tenham participado de programas e atividades recreativas, esportivas, passeios (praias-parques-outros). Inclui a perspectiva da integração de crianças portadoras de deficiências. Objetivos: - Promover a socialização entre crianças procedentes de diferentes entornos dos bairros do departamento. - Contribuir para a descoberta do entorno natural em uma experiência de acampamento e de convivência com outros. - Fortalecer os processos de participação organizada das crianças. 3] Realização de acampamento para adultos idosos. Coordenar a incorporação do respectivo programa na proposta piloto. 4] Realização de acampamento com pessoas portadoras de deficiências em diferentes modalidades a serem definidas pelo programa específico. As propostas 3 e 4 podem ser realizadas no marco dos próprios programas ou podem transcendê-los, realizando-se, desta maneira, acampamentos coordenados com os demais programas da Secretaria. Todas as propostas serão resolvidas a partir do diagnóstico de situação que realizarem cada um dos maiores.

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“PROGRAMA FARÓIS COMUNITÁRIOS. PROJETOS: TRABALHANDO COM MÁSCARAS E TEATRO DE JOGOS EM COMUNIDADE”[*] Autoría: Integrantes da Unidade de Gestão Social, Departamento Municipal de Cultura Paysandú | Uruguay

PROJECTO “TRABALHANDO COM MÁSCARAS” [**] A proposta está constituída por três áreas de trabalho integradas em uma só atividade com duração estimada de quarenta minutos: 1] Visionado das fotografias das máscaras realizadas pelas crianças e pelos jovens do Bairro Norte na cidade de Paysandu, um dos bairros destinatários do Projeto Faróis. 2] Palestra sobre as técnicas aplicadas para a realização das máscaras e narração da história do projeto. 3] Conseqüências da atividade: Inserção das crianças e de jovens no meio cultural sanducero [1], concretização de um sonho do neto de Solari (artista plástico fraybentino [2]), uma nova visão dos participantes sobre si próprios e estímulo para novas criações. Participação do grupo no Encontro de Artistas em Piedras Coloradas. O visionado consiste na projeção em Power Point de 16 slides com fotos de máscaras realizadas na oficina, fotos digitais de algumas máscaras de Solari e um artigo publicado pelo jornal El Telégrafo de Paysandu. À medida que for sendo realizado o visionado se irão dando as pautas sobre as técnicas e materiais utilizados para a concretização das obras que se apresentarem. Os comentários sobre as dimensões didático-pedagógicas vivenciadas a partir da participação deste grupo na vida cultural sanducera, repercussões dentro e fora do bairro, difusão pela imprensa e auto-valorização do próprio trabalho, considerando os materiais de resíduo como elementos viabilizadores de objetos de arte. A experiência tem início através de uma coordenação entre o Departamento de Cultura e os docentes vinculados ao mesmo, no qual se organiza a inauguração da exposição de Luis Alberto Solari. Foi quando nos propusemos levar a idéia artística de Solari relativa à construção de objetos de arte, especialmente máscaras, ao Bairro Norte. No mesmo lugar, também funciona um dos Faróis de

[*] A cidade de Paysandu implementa vários programas como “cidade educadora” através da Unidade de Gestão Social, que agrupa os departamentos de Cultura, de Promoção Social, de Esportes, a Secretaria de Juventude, de Família, de Gênero e de Descentralização. O Programa “Faróis Comunitários” é desenvolvido através desta Unidade em seis locais considerados como contextos críticos da cidade. São experiências de educação não formal visando à inclusão social e à cidadania cultural. Trata-se de uma proposta integradora onde os professores comunitários, docentes de teatro, de percussão, de canto coletivo, de educação física, de plástica e de marcenaria, de dança e de educação para a saúde, também trabalham de forma integrada. De forma complementar, cada departamento desenvolve atividades próprias de sua área específica. Na de Cultura, por exemplo, programas tais como: “A Banda em concerto para túnicas e laços” (La Banda en concierto para túnicas y moños) (concertos didáticos da Banda municipal); “Museus à escola”, "Os sons da Escola”, “Canções da cartola, “Divercine”, dentre outros. Todas estas são experiências de caráter didático. Os projetos presentados são desenvolvidos no marco do Programa Faróis [**] Autoria: Ester Mendizábal y Haydée Chocca Soubes. Docentes. [1] Natural ou habitante de Paysandu ou dessa região, no Uruguai. [2] Natural de Fray Bentos-Cidade capital do distrito de Rio Negro, no Uruguai.

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Paysandu que está sob responsabilidade de uma equipe de docentes e de auxiliares que, através de diversas oficinas, transmitem seus conhecimentos à comunidade, visando estimular a criatividade de diferentes grupos que vêm sendo formados. Atualmente estão em atividade um grupo de adultos idosos, um grupo de mulheres que utilizam jogos de dinâmicas teatrais, um grupo de crianças e de jovens que realizam artesanatos e trabalhos manuais exclusivamente com materiais descartados. Todos os assistentes das oficinas recebem uma merenda, compartilhando momentos muito especiais de bate-papo e de boa companhia. Esta foi a ocasião na qual se fez a proposta para a realização das máscaras “ao estilo Solari”. A tarefa deveria estar concretizada com um prazo de uma semana… e ficou pronta. Muito tempo, muita energia, alegria e prazer além de grandes expectativas. Porque, por primeira vez, assistiriam a uma inauguração de uma exposição. Nos preliminares da apresentação dos trabalhos dos garotos, o neto de Solari que assistiu ao evento, manifestou que, para a alegria de seu avô, ele propunha que Paysandu trabalhasse o estilo e a técnica de Solari e que para o próximo ano fossem apresentadas obras realizadas por artistas do lugar. Apenas alguns minutos depois, um grupo de crianças descia por uma das escadas da Casa da Cultura, cada uma com sua própria máscara, sua obra de arte. Algumas as tinham colocadas no rosto e outras as levavam nas mãos. A surpresa do público presente foi enorme. Olhares de surpresa e admiração, exclamações e aplausos... Diante de tudo isso, todas as máscaras foram colocadas sobre as mãos e os garotos começaram a observar maravilhados o afeto do público... eles, com seu próprio trabalho, conseguiram o respeito de todos os que ali estavam presentes. Neste momento, não havia bairros, nem classes sociais, nem poder aquisitivo. Só havia arte. A arte conseguiu a magia da descoberta de denominadores comuns. A arte demonstrou que a expressão artística é um direito de todos… nós somos os agentes viabilizadores, eles começam a ser donos de suas próprias histórias. PROYECTO “TEATRO DE JOGOS EM COMUNIDADE” [***] As diferentes formas de Expressão Artística se transformaram em uma fonte inesgotável de surpresas quando se entra nos bairros sanduceros ·. A partir do Projeto “Faróis”, todos nós que vibramos com as conquistas alcançadas, escutamos várias vezes: “Os faróis começaram a brilhar”. Esta informação, que é repetida dia-a-dia pelos próprios destinatários, nos permitiu reforçar nossa convicção de que todas as pessoas trazem consigo contribuições a serem realizadas pela comunidade. Segundo este lema, trabalhamos sobre a base dos emergentes de cada um dos grupos que vão sendo formados, destinando nossas capacidades a fim de habilitá-los a que manifestem as próprias. EIXO TEMÁTICO: EXPERIÊNCIAS CULTURAIS COM POPULAÇÕES VULNERÁVEIS Teatro de jogos em comunidade é a área criativa sobre a qual se trabalha nas comunidades. Para isso, aplicam-se metodologias sustentadas pela prática teatral num dos jogos mais básicos, o jogo de papéis. A partir daí, construímos o que as próprias pessoas querem: máscaras, encenações, estátuas viventes, quadros de palhaços e/ou clown, mímicos e outras brincadeiras cênicas. O processo começa gerando confiança, alegria e divertimento, mesmo quando se tratam alguns dos tantos temas críticos e irreverentes atuais. Criamos um ambiente favorável ao dinamizar jogos e brincadeiras que conduzem à desinibição, à solidariedade, à confiança, ao trabalho corporal e à espontaneidade. É comum escutar muito riso em nossas oficinas e ver corpos entrelaçados respeitosamente. Também se realizam planos para ganhar espaço de convivência e receber aplausos, muitos aplausos diante de cada conquista. [***] Autoría: Haydée Chocca Soubes. Docente/teatrista egressada da Escola Municipal de Arte Dramática. Docente no Bacharelado de Arte (5º e 6º) em Paysandu. Docente comunitária (autodidata) da Prefeitura de Paysandu. Participou como palestrante em fóruns sobre Educação e Pobreza, Educação e Deficiência, Educação não formal, além de participar no II Colóquio Internacional de Teatro, palestra que será publicada neste ano nas Memórias do respectivo evento. Selecionada como oficinista no 5º Fórum Latino-americano “Memória e Identidade” (outubro 2008) e coordenadora de Oficinas de Expressão Corporal e Teatro no Departamento de Soriano.

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Uma oficina de teatro a partir da Metodologia do Teatro Jogo é um desfrute de prazer porque está baseado na narração de anedotas dos integrantes. Essas anedotas são levadas ao cenário por um elenco constituído por pessoas escolhidas pelo narrador dentro de seu próprio entorno. A pessoa que narra é o Diretor/a da encenação e é quem distribui cada papel a cada "ator ou atriz”. Assim que estiverem distribuídos os papéis, a anedota é colocada imaginariamente em um tempo e em um espaço definido... E, a partir desse momento, a peça passa a ser dos atores e atrizes. O diretor já não pode participar mais até que a representação da peça finalize. s criadores da montagem ou encenação dispõem de um tempo de diálogo para decidir as ações a serem realizadas. Também têm a possibilidade de criar um contexto prévio ou posterior à anedota. Após o tempo dos ajustes, mas sem ensaio, começam a atuar! A magia do teatro começa a dar seus frutos. Quem narrou a anedota deve permanecer em silêncio, o que não é fácil; pois quando começa a ver as atuações dos artistas manifesta muita vontade de esclarecer, ajustar, modificar... Porque o elenco lhe está mostrando o que compreendeu de suas palavras... E isto nem sempre é o que ele ou ela tinham pensado ao fazer o relato. Portanto, o que é visto nesse hipotético cenário é diferente do que foi vivenciado pelo narrador; por isso dizemos que é uma recriação. Depois de finalizado o trabalho atoral e após os fortes aplausos, realizamos uma encenação em conjunto. Todos os participantes da oficina têm o direito de manifestar as sensações vivenciadas durante a experiência. Somente após todos sermos escutados, o dono da anedota pode fazer um comentário... Esse momento é maravilhoso porque é raro não escutar: “Nunca imaginei isso assim... para falar a verdade, não tinha pensado nessa saída. Ou ainda: “Não estou de acordo, porque na minha história tal ou qual personagem não tinha essa forma de pensar...”. As possibilidades são muitas e variadas, mas possuem um denominador comum que é a surpresa, o impacto e a descoberta de outras opções diante de uma mesma situação. EIXO TEMÁTICO: CULTURA COMO CONSOLIDAÇÃO DE VALORES DEMOCRÁTICOS Levando em conta a descrição anterior, propomos a realização de uma oficina vivencial que demonstre a metodologia de trabalho aplicada, podendo contribuir com mais dados a partir da experiência pessoal. Esta oficina terá uma duração máxima de duas horas através das quais se viverão três momentos bem diferenciados entre si: 1] Apresentação dos assistentes, jogos e brincadeiras de integração e desinibição. 2] O módulo central será destinado a detectar um tema emergente (comum à maioria dos assistentes) e, sobre esse assunto, serão solicitadas as anedotas. A idéia é tentar re-apresentar a maior quantidade possível de anedotas. Enquanto estiverem na oficina, os assistentes cumprirão três papéis básicos: narradores, atores e atrizes e público. 3] O último momento será destinado à encenação em conjunto através dos comentários e das sensações e percepções vivenciadas com a tarefa. No encerramento da oficina será feita uma roda formada por todos os participantes na qual serão solicitadas palavras que representem o encontro, vocalizadas com diferentes volumes e culminando com um grande aplauso. Esta proposta complementa a anterior já que há experiências que demandam a experimentação e a argumentação dos estados de ânimo e da vivência das discussões para que sejam realmente aproveitadas ao máximo. A tarefa será complementada fornecendo aos assistentes material escrito e bibliografia afim com a tarefa abrangedora tanto no aspecto teatral quanto no humano. Para o bom desenvolvimento do encontro, os assistentes deverão usar roupas confortáveis e contar com um equipamento de áudio com compactador. O restante do material, tais como papel de revistas, lápis de cera Crayon, massas modeláveis ou outros elementos serão fornecidos pela oficinista. As obras criadas na oficina ficarão com cada um dos artistas.

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BIBLIOGRAFÍA Matoso, Elina, “El cuerpo, territorio escénico”, Letra Viva, Instituto de la máscara, Buenos Aires, 2004. Ganduglia, Néstor, “15 años de Teatro Barrial y una canción desesperada”, MFAL-YOEA editorial S.R.L., Montevideo, 1996. Salas, Jo, “Improvisando la vida real”, Editorial Nordan Comunidad, Montevideo, Uruguay, 2004. Witckiewicz, S., “Teatro Juego”, Revista El Tonto del Pueblo, Nº 1, Marzo, España, 1996. Boal, Augusto, “Técnicas Latinoamericanas de teatro popular”, Editorial Nueva Imagen. “El teatro en la comunidad. Instrumento de descolonización cultural, de la acción a la reflexión”, Espacio Editorial, Argentina, 1993. Barba, Eugenio, “Un amuleto hecho de memoria. El significado de los ejercicios en la dramaturgia del actor”, Ediciones Trilce, Montevideo, Uruguay, 2004. “Teatro popular y cambio social en América Latina”, Educa Editorial, Universia Centro Americana, Costa Rica, 1979. Freire, Paulo, “Educación y cambio”, Galerna S.R.L., Buenos Aires, 2002. Freire, Paulo, “Pedagogía de la autonomía. Saberes necesarios para la práctica educativa”, Siglo XXI Editores, Argentina, 2002. Gumila, Olga y Pili Soriano, Mary, “El aula mágica. Una enseñanza compatible con el cerebro”, Editorial Fin de Siglo, Uruguay, 1999.

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“UMA PONTE EM PERMANENTE CONSTRUÇÃO” Autoría: Lic. Viviana Marchetti [*] Rosario | Argentina Marco Pólo descreve uma ponte pedra por pedra. Mas, qual é a pedra que sustenta a ponte? - pergunta Kublai Kan. -A ponte não está sustentada por pedras quaisquerResponde Marco - mas sim pela linha do marco que elas formam. Kublai permanece em silêncio, refletindo. Depois, acrescenta: - Por que é que você está me falando sobre as pedras? A única coisa importante para mim é o arco. Pólo responde: -Sem pedras não existe arco. Italo Calvino [fragmento do livro “Las ciudades invisibles” pag. 96]

A Prefeitura de Rosário, na busca da igualdade de oportunidades para as pessoas portadoras de deficiência, implementou políticas ativas que garantam a eqüidade, um dos seus alinhamentos políticos mais importantes. A forma ideal para se atingir a eqüidade implica no aprofundamento do trabalho em prol da acessibilidade, entendendo como tal, a remoção não só das barreiras físicas, mas também as de índole cultural ou ideológica. [*] Diretora Municipal de Inclusão para Pessoas Portadoras de Deficiências.

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O Departamento para a Inclusão de Pessoas Portadoras de Deficiência desenvolve suas ações dentro da Secretaria de Saúde Pública. Suas políticas estão baseadas em uma concepção de saúde que propõe um trabalho transversal e intersetorial que instale a temática da deficiência nas diferentes esferas do Estado. Isto implica ultrapassar necessariamente os limites setoriais e trabalhar com outros. Porque -a partir de um conceito amplo de saúde- a inclusão social, o desenvolvimento das atividades cotidianas das pessoas, a utilização dos espaços, fazem parte das necessidades das pessoas e se encontram no mesmo patamar da assistência. Portanto, para poder garantir os direitos das pessoas portadoras de deficiências, desenvolveu-se um trabalho ideológico em dois espaços: um, para dentro do Estado Municipal e outro, para a sociedade em seu conjunto, considerando um conceito amplo de saúde a partir do qual as políticas são definidas, como: “a capacidade de lutar contra as condições que limitam a vida e a saúde das pessoas”. Este processo trouxe como resultado o trabalho com as equipes de Governo, de Saúde, de Promoção Social, Cultura e Educação, de Obras Públicas e Planejamento, de Serviços Públicos, de Produção e com a Secretaria Geral, e também com a Universidade Nacional de Rosário, Universidades Privadas, o Estado Provincial e Nacional. A partir daí, surgiram oficinas de sensibilização para o pessoal municipal de diferentes áreas, assinaturas de convênios, criação de espaços de co-gestão com as ONGs, organização e participação em jornadas e congressos dentre outros, onde se puderam escutar os diferentes setores e juntos elaborar estratégias de trabalho.

A PARTICIPAÇÃO COMO POLÍTICA Para refletir acerca do esporte adaptado na cidade de Rosário, é necessário partir do trabalho que foi desenvolvido durante muitos anos pelas ONGs de pessoas portadoras de deficiências, ao que depois se acrescentou o do Estado, promovendo o esporte e a recreação como elos que acompanham e às

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vezes sucedem à reabilitação [1]. Desde 1994 e a partir da criação da Portaria Nº 3745/84 (t.o.7277) foram criadas diferentes instâncias de co-gestão no âmbito do município de Rosário, e também um Fundo especial para financiar as políticas em matéria de deficiência. Uma forma participativa de administrar esta verba pública foi a criação destas instâncias que permitiram aproximar as organizações ao Estado e juntos elaborar as políticas para levantar problemas e tramitar soluções. Uma destas instâncias de co-gestão é a Subcomissão de Esportes e Recreação surgida no marco do plenário de instituições vinculadas à temática [2]. Desde o começo, esta Subcomissão contou com uma ampla concorrência e participação de pessoas portadoras de deficiências, profissionais, referentes institucionais e do Departamento Municipal de Esportes e não demorou em se constituir como um lugar de consulta e de discussão que, em muitos casos, elaborou propostas que foram levadas a outros departamentos municipais, provinciais, associações, etc. Nem sempre estas propostas foram aceitas. Muitas vezes foi necessário reelaborá-las, insistir, buscar outros caminhos ou reprogramar atividades ou tempos de tramitação. Aprendeu-se dos erros, utilizando-os para armar estratégias que permitissem esquivá-los e que não nos desanimassem.

[1] Chufeni, Cinthia; Grande, Silvia y Sigslovski, Alejandra, “Palestra Jornadas 50° Aniversário de ILAR”. A reabilitação, num sentido ampliado, se aproxima mais à idéia de “habilitação”, favorecer as condições para que o sujeito possa habitar seu próprio espaço, incluindo as novas condições de vida. Para isso, é importante elaborar um projeto terapêutico que inclua a história do processo de aquisição da deficiência e que considere o “depois” como um horizonte que marque a direção das ações. [2] Estamos fazendo referência à Comissão Assessora Municipal de Entidades de Discapacitados.

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CRIAÇÃO DA ASSOCIAÇÃO ROSARINA DE ESPORTES ADAPTADOS Em 2005, no marco da Subcomissão de Esportes e Recreação, se constituiu a ARDAD (Associação Rosarina de Deportes Adaptados) que agrupa 12 instituições vinculadas ao esporte e à recreação na cidade de Rosário e que continua acrescentando organizações. Atualmente, a ARDAD oferece uma ampla variedade de práticas esportivas adaptadas: atletismo, futebol para pessoas com PC, amputadas, com surdez ou hipacusia; natação para pessoas com deficiências visuais, neuromotoras, mentais; golbol, torbol e ciclismo para cegos e deficientes visuais; basquete e tênis em cadeira de rodas, mergulho, equitação, bocha jogo de bolas, entre outros. Além disso, tanto a Subcomissão como a ARDAD se constituíram em referentes de consulta para os funcionários na hora de planejar torneios, competições, congressos, celebração de homenagens a esportistas, e também os planos de novas instalações esportivas ou reformas das já existentes. Como exemplo, podemos citar o plano do Centro de Alto Rendimento de Rosário (em vias de execução), a reforma de albergues esportivos como La Casona, e de instalações como o Complexo Belgrano Centro. Também houve participação na seleção dos desportistas destacados da cidade, foram acertados os critérios para outorgamento de bolsas desportivas a atletas, subsídios para instituições a fim de facilitar a prática esportiva – que incluíram a compra de ajudas técnicas, cadeiras de rodas e elementos esportivos – para facilitar a participação dos atletas portadores de deficiências em torneios nacionais e internacionais. Outra das atividades que se levou a cabo a partir da Subcomissão e da ARDAD foi a realização de congressos intersetoriais. Este é o caso do Congresso Regional de Esporte, Atividade Física, Saúde e Deficiência. “Da Escola ao Esporte”, em 2006, uma proposta que articulou o trabalho entre o Departamento Municipal de Esportes e Recreação e o Departamento Municipal para a Inclusão de Pessoas Portadoras de Deficiência junto com o Ministério de Educação da Província de Santa Fé, Região VI. Este trabalho permitiu visualizar por um lado, as dificuldades na inclusão de crianças e jovens portadores de deficiência nos espaços destinados para a atividade física na escola; e por outro, a carência informativa dos docentes relativa aos esportes adaptados, às instituições nas quais se praticam, ajudas técnicas, e também relacionada às possibilidades esportivas das pessoas portadoras de deficiência. Um dos objetivos da ARDAD e da Subcomissão de Esportes é a realização de um Poliesportivo que priorize, entre suas atividades, a prática dos esportes adaptados, já que são muitas as dificuldades que se apresentam na hora de encontrar um espaço físico adequado às necessidades dos atletas portadores de deficiência. E QUAL É O PAPEL DO ESTADO EM RELAÇÃO COM OS ESPORTES ADAPTADOS? A Prefeitura de Rosário estimula a prática dos esportes e da recreação adaptados, pois promovem o desenvolvimento e a preservação de capacidades, contribuem para a recuperação da saúde, melhoram a qualidade de vida das pessoas, possibilitam mudanças de atitudes a respeito da saúde e do vínculo com o próprio corpo e o do outro, e muitas vezes geram espaços de inclusão e socialização. Sabemos, por exemplo, que Clara e Verônica se conheceram durante uma caminhada organizada pelo Centro de Saúde e que hoje são amigas. Que Juan e Silvina, ambos portadores de deficiência visual, compartilharam um tandem de ciclismo e hoje formam um casal. E que Pedro conheceu a cidade de Córdoba graças ao Torneio de Futebol Silencioso. Também escutamos que Felipe, que se locomove em cadeira de rodas, aprendeu a amarrar os cordões do tênis quando viajou ao Torneio de Embalse de Rio III, sem que nenhum familiar o acompanhasse. Estela, com deficiência mental, fez novos amigos graças às suas práticas de atletismo no Estádio Municipal, e Alejandro conheceu a Grécia ao participar nos Jogos Paraolímpicos. Isto quer dizer que o esporte, a atividade física e a recreação adaptados, não só permitem conservar a saúde e os valores adquiridos durante a reabilitação, mas também geram autonomia, laços sociais e facilitam a construção de cidadania.

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Estamos convictos de que o Estado é o responsável pelo cuidado da saúde das pessoas e pelo direito de igualdade de oportunidades de todos os habitantes da sociedade. Portanto, é quem deve promover e sustentar os dispositivos de trabalho que possibilitem a participação cidadã, onde as vozes de todos possam ser escutadas: os trabalhadores da saúde, do esporte, da recreação, as ONGs, os docentes, os profissionais e os demais cidadãos, a fim de que estes espaços possam ser sentidos como próprios, sustentados no tempo e defendidos mais além das mudanças de administrações. Também deve gerar os recursos materiais, edilícios e econômicos que facilitem a prática do esporte adaptado. Sabemos que nosso trabalho é infinito, que se constrói dia-a-dia e que cada conquista obtida cria a ilusão de que já atingimos a meta; embora pareça que quanto mais próximos dela estamos, ela mais se distancia. No entanto, nos encontramos, andamos e desandamos, construímos e valorizamos o trabalho do grupo. Sozinhos não podemos; juntos sim.

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“PROGRAMA DE ACESSIBILIDADE À COMUNICAÇÃO E À CULTURA PARA PESSOAS PORTADORAS DE DEFICIÊNCIAS NA CIDADE DE ROSÁRIO. PARA QUE TODOS POSSAMOS LER. LIVROS EM ÁUDIO, LIVROS ELETRÔNICOS, LIVROS EM BRAILLE E LIVROS MAGNIFICADOS” Autoría: Lic. Viviana Marchetti [*] y Teresa Montero [**] Rosario | Argentina

A INCLUSÃO EDUCATIVA E CULTURAS DAS PCDS A cidade é um território complexo e mutante. Os espaços, âmbitos de formação e de geração de aprendizagem significativas, fazem parte da história de seus habitantes e os ajudam a entender qual é o lugar que se concede a cada um. “Olhar a cidade sob um ponto de vista pedagógico possibilita descobrir múltiplos cenários para a educação e também novos atores que assumam a tarefa de ensina [1]. Esta chave de leitura oferece a possibilidade de apropriar-se da cidade e de reconhecer novas aprendizagens urbanas a partir de uma perspectiva histórica que interprete o presente e se projete no tempo e no espaço. A cidade é um envoltório apertado de signos, de coisas que significam outras coisas. “Se um edifício não apresenta nenhuma insígnia ou figura, sua própria forma e o lugar que ocupa no ordenamento da cidade são suficientes para indicar qual é a sua função". “O olhar percorre as ruas assim como se fossem páginas escritas: A cidade diz tudo o que deve ser pensado... [2]. As cidades dão testemunho sobre o passado e o presente, narram histórias de presenças e de ausências, são portadoras de atitudes que incluem ou segregam. A cidade de Rosário está localizada no extremo sul da província de Santa Fé. Conta com uma população de cerca de um milhão de habitantes, cifra que representa um terço da população total da província de Santa Fé, e três por cento da do país. Rosário é uma cidade repleta de diversidades, heterogênea, multicultural, com intensos movimentos migratórios. Residir e trabalhar em Rosário significa contemplar toda esta riqueza... que a cidade acolhe. E é um desafio como profissionais integrantes de um governo municipal, pensá-la de forma acessível para seus habitantes em prol de uma melhor qualidade de vida para todos. Por isso, o Departamento para a Inclusão de Pessoas Portadoras de Deficiências da Secretaria de Saúde Pública, considerando os princípios de integralidade, universalidade e equidade cria as condições necessárias para que as pessoas portadoras de deficiências possam exercer seus direitos no marco de uma sociedade que respeite as diferenças. [*] Diretora Municipal de Inclusão para Pessoas Portadoras de Deficiências. Lic. em Comunicação Social, Docente e Pesquisadora da Universidad Nacional de Rosario, Escola de Comunicação Social Faculdade de Ciência Política e Relações Internacionais. [**] Integrante do Serviço de Leitura Acessível da Biblioteca Argentina “Dr. Juan Alvarez”, Prefeitura de Rosário. Coordenadora do Voluntariado Universitário de Leitura Acessível para Pessoas Portadoras de Deficiências y Bacharel Universitária em Direito, Universidad Nacional de Rosario. [1] Brarda, Analía y Ríos, Guillermo, “Los escenarios educativos de la Ciudad Educadora.” P. 5. Cuadernos Ciudades Educadoras América Latina. Municipalidad de Rosario. Argentina, 2000. [2] Calvino, Italo,. “Las ciudades y los signos”, pag. 29. Le cittá invisibili. Editorial Ciruela, S.A., 1994-1998.

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Isto conduz a que se articulem suas ações com outras Secretarias do município como Governo, Planejamento, Obras Públicas, Promoção Social, Produção e Desenvolvimento Local, Cultura e Educação, mas também com outros órgãos estaduais (Ministério de Educação, Ministério da Saúde, do Trabalho, etc.) e federais (ANSES , CONADIS , UNR , etc.). E no cotidiano, se trabalha em co-gestão com as ONGs vinculadas à deficiência para o acordo de ações que promovam a igualdade de oportunidades e a participação plena. Utilizando como fonte os dados do Recenseamento de 2001 e seu complemento ENDI - Enquete Nacional de Deficiência realizada entre Novembro de 2002 e Abril de 2003, surge que 7,1% da população apresenta alguma deficiência. Em Rosário e na Grande Rosário [3] esta cifra é de 106.500 pessoas, das quais 23.430 apresentam alguma deficiência visual. Com esta informação e articulando ações com as Bibliotecas Municipais da Secretaria de Cultura e Educação, que contam com um serviço de Leitura para pessoas portadoras de deficiência visual, não era suficiente para dar resposta à demanda crescente, especialmente a proveniente da Grande Rosário. A este dado, se acrescentava a informação dada pela Universidade, que revelava um alto índice de deserção de estudantes portadores de deficiências. Desta maneira foi que começamos a trabalhar em um projeto que permitisse produzir materiais de estudo e de literatura em geral, conteúdos em suportes não convencionais, acessíveis para as pessoas portadoras de deficiência visual e/ou com severos problemas de mobilidade. Ou ainda, que

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[3] A Grande Rosário inclui: Villa Gobernador Gálvez, San Lorenzo, Granadero Baigorria, Capitán Bermúdez, Pérez, Funes, Roldán, Fray Luis Beltrán, Puerto General San Martín y Soldini.

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tivessem que permanecer prostradas por tratamentos médicos, etc. O objetivo foi facilitar seu acesso autônomo à comunicação e à cultura com o intuito de desenvolver plenamente o potencial humano, o sentido da dignidade e da auto-estima, e, desta forma, reforçar o respeito pelos direitos humanos, pelas liberdades fundamentais e pela diversidade. PROGRAMA DE ACESSIBILIDADE À COMUNICAÇÃO E À CULTURA DE PCDS Os livros eletrônicos, ou livros digitais, produziram uma revolução na vida cotidiana das pessoas portadoras de deficiência visual (sem nos esquecer que a mesma coisa acontece com as PCDs auditivas e motoras): a partir da existência de desenvolvimentos tecnológicos e informáticos como os softwares leitores de tela. Deste modo, as pessoas portadoras de deficiência visual puderam ter acesso aos benefícios que a "sociedade da informação" oferece. Os indivíduos portadores de baixa visão ou cegueira podem escutar os livros eletrônicos por meio de uma voz sintética que, instalada em um computador comum, um notebook, um celular, palm ou qualquer elemento portátil similar, lê o que é focalizado na tela. O tradicional sistema braille, o macrotipo, as gravações em fitas-cassetes ou, atualmente em CDs ou DVDs, são sistemas alternativos de leitura que não são excludentes entre si. É freqüente que as pessoas portadoras de deficiência visual combinem estes sistemas de acordo com sua necessidade

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concreta, dependendo do destino a que se proponham, suas preferências e possibilidades. Nestes últimos anos, e particularmente entre a população mais jovem, o desenvolvimento e o crescimento dos usuários de TICs (Tecnologias da Comunicação e Informação) e de livros eletrônicos foram preponderantes. Entretanto, - quais são as vantagens que apresenta a informática e os conteúdos ou os livros eletrônicos? A ajuda técnica informática, como os leitores de tela, magnificadores, etc fornecida pelas TICs, permite ao usuário com deficiência navegar em Internet, comunicar-se por correio-eletrônico, entrar na sala de bate-papo, escrever textos, fazer cálculos, etc. utilizando a mesma “linguagem” e as mesmas ferramentas das pessoas videntes. O impacto que tiveram como conseqüência em relação com sua inclusão educativa, social e no âmbito do trabalho é enorme e muito importante. Outro dado relevante é que o formato do texto digital pode ser convertido em outros formatos acessíveis tais como: macrotipo, impressões em Braille ou livros em áudio (com motores DE voz sintéticas). Baseado na análise realizada e nas propostas apresentadas pelas ONGs locais, centros de reabilitação, escolas especiais, PCDs e seus familiares, o Departamento Municipal para a Inclusão de Pessoas Portadoras de Deficiência convocou para participar em uma mesa de trabalho. Assim foi como começou a funcionar a “Subcomissão de Acessibilidade à Comunicação e à Cultura”. Do trabalho desta comissão surgiu este projeto cujo financiamento foi outorgado pela CONADIS (Comissão Nacional Assessora para a Integração de Pessoas com Deficiências) e, desta forma e em um curto prazo, os Serviços de Leitura Acessíveis das Bibliotecas Municipais Argentina e Estrada serão equipados com tecnologia de última geração. Os objetivos do projeto visam produzir material de leitura acessível ante o pedido individual e concreto de cada usuário por um lado, e oferecer às instituições públicas e privadas de nossa cidade e da região a conversão em formatos acessíveis dos relatórios e comunicações, seus serviços aos cidadãos portadores de deficiências, etc. Além disso, e visando a inclusão de outros setores que percebem o seu acesso reduzido à informação e ao uso de tecnologia, as bibliotecas municipais contarão com ajuda técnica especial para manipular de maneira autônoma um computador (pessoas portadoras de deficiências para operar um teclado ou um mouse convencional). Deste modo, decidiu-se reconverter o nome original de “serviço de Leitura para Cegos” por “Serviço de Leitura Acessível” e já se começou a organizar um catálogo com o material produzido até agora. Isto significa o início de uma biblioteca mais amigável, o que permitirá o acesso aos livros em uma página web própria com possibilidade de fazer o download digital para os usuários registrados e autorizados. Será incorporada a produção de áudios-livro a partir de uma cabine própria, e livros impressos em Braille com uma impressora de grande tiragem que permita a impressão dupla-face de todo tipo de papelaria, inclusive papéis plastificados. Além disso, com os computadores de última geração com escâner e magnificadores de tela para pessoas com baixa visão, se começará a ministrar cursos de alfabetização digital (incluídos cursos de qualificação de trabalho) destinados para pessoas portadoras de deficiências, para docentes e para a comunidade em geral. Consideramos oportuno e justo reconhecer como uma obrigação permanente da Nação impulsionar a sociedade da informação “para todos”. Acreditamos que a articulação deste trabalho com a UNR, com as ONGs e com outros atores do município nos permite enquadrar as políticas relativas às deficiências entre as metas propostas por Rosário para o Bicentenário 2010 como, por exemplo: “Aumentar os níveis de acesso da população às novas tecnologias da informação e da comunicação.” Deste modo, Rosário poderá dar testemunho de presenças, de novos atores que narram novas histórias, histórias com traços que os incluem em um novo cenário aberto à comunicação e à cultura para todos.

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“ENCONTROS PARA A INTEGRAÇÃO” Autoría: María Elena Sorini [*] Villa Constitución | Argentina

FUNDAMENTAÇÃO A sociedade atual e os desafios para o futuro nos comprometem à participação e à transformação de realidades. Isto implica um comprometimento consensual e de respeito pelas prioridades a fim de alcançar uma convivência livre de violência, visando a saúde integral de crianças e adolescentes com cunho educador. Para atingir o objetivo, propomos estes encontros de integração e recreação para as famílias. Os menores de idade vítimas de violência ou conviventes em lares de alto risco geralmente apresentam dificuldades para se expressar através da palavra como força criadora. Por este motivo é que propomos estes encontros a partir da vertente do esporte e das atividades lúdico-expressivas para tecer tramas de solidariedade e de mútua contenção, criando espaços de crescimento pessoal. CONTEXTO URBANO E SOCIAL DE APLICAÇÃO Destinado a diferentes ambientes urbanos com características próprias em relação aos aspectos socioculturais e educativos de diferentes bairros da cidade. Setores de alto risco social entre os que se detectam episódios violentos, falta de integração e de normas de convivência. OBJETIVOS - Focar uma mudança social visando uma Cultura de Paz e de Não Violência Ativa. - Fortalecer as atitudes subjetivas dos participantes do projeto, a fim de alcançarem uma convivência pacífica dentro do grupo social ao qual pertencem. - Criar um espaço participativo de integração a partir da diversidade para prevenir, detectar, diagnosticar e registrar casos de possível resolução. - Promover a cooperação, a forma de saber expressar o que vemos, pensamos e sentimos. - Gerar valores de convivência e de respeito mútuo, sentido de pertença à cidade e o adequado aproveitamento do tempo de lazer em espaços esportivos participativos. - Valorizar as características do esporte e da expressão lúdica como caminho para a saúde integral das pessoas. METODOLOGÍA Participativa-vivencial-reflexiva. Baseada em um enfoque globalizador, partindo do corporal como instrumento de expressão. Serão desenvolvidas atividades simultâneas, esportivas e lúdico-expressivas como ações prévias às oficinas de reflexão-ação.

[*] Presidente do Conselho Municipal da Mulher.

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Os grupos heterogêneos serão coordenados por profissionais do Conselho Municipal da Mulher e por colaboradoras. Também contará com a participação de uma observadora, cuja finalidade estará dirigida a captar discursos diferenciais para a análise da problemática multicultural e para promover a inclusão social. AVALIAÇÃO Diagnóstico: Pesquisa prévia no campo de ação. Do processo: Monitoramento e registro das atividades. Final: Integração dos diferentes grupos, socialização de experiências. Da equipe coordenadora: Diagnóstico e registro das ações para encontros posteriores. TEMPO Encontros itinerários de uma jornada com datas e horários adequados aos espaços de intervenção. Data de início: Fevereiro de 2009.

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II: CRIANÇAS E JOVENS

- Belo Horizonte - Caixas do Sul - Montevideo - Pilar - São Bernardo do Campo - São Carlos - São Paulo



“A INTEGRAÇÃO DO ESPORTE E DO LAZER NA PROMOÇÃO DE ATIVIDADES SOCIOEDUCATIVAS: CULTURA E CIDADANIA” Autoría: Integrantes da Associação Municipal de Assistência Social - AMAS [*] Belo Horizonte | Brasil

APRESENTAÇÃO INSTITUCIONAL O presente trabalho relata a experiência de ações de esporte e lazer desenvolvidas pela Associação Municipal de Assistência Social (Amas) no município de Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil. A Amas é uma entidade civil sem fins lucrativos, fundada em 26 de junho de 1979 e tem como missão participar da construção de uma sociedade mais justa e igualitária para crianças, adolescentes e suas famílias que se encontram em situação de exclusão social, econômica, política, esportiva e cultural. Desde então, desenvolve ações e projetos voltados para promoção e garantia de direitos fundamentais, em parceria com o poder público, ONGs e empresas privadas, pautadas pelos princípios do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), da Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS) e do Sistema Único da Assistência Social (SUAS). Nessa perspectiva, a AMAS desenvolve suas ações, complementares a política pública do município de Belo Horizonte, por meio de Programas de Atendimento, tais como: Sócio-familiar, Jurídico, Geração de Trabalho Protegido (trabalhador aprendiz - contrato de trabalho especial), Formação Sócioeducativa, Esporte & Lazer, Arte Cultura, Primeira Infância e Vôo para a Cidadania, com acompanhamento psicossocial, valorizando a dimensão criadora e positiva dessas ações, possibilitando o exercício efetivo da cidadania e rompendo com o assistencialismo. Esses programas, desenvolvidos por gerências específicas que atuam em rede interna e externa, visam à defesa e a proteção dos direitos humanos, a conscientização pelos direitos e deveres como cidadãos, a promoção por meio do desenvolvimento social e pessoal, contribuído, ao longo dos anos, com a inclusão social do público atendido, principalmente de crianças, adolescentes e jovens adultos. AÇÕES DE ESPORTE & LAZER A gerência de Esporte & Lazer, está inserida na Gerência de Atividades Integradas de Cultura, Esportes e Ações da Primeira Infância, e tem como objetivo promover o acesso ao esporte e lazer para crianças, adolescentes e jovens adultos, contribuindo com a garantia aos direitos sociais e melhoria das condições de vida. A Amas, através desta gerência, possui critérios para a implantação de projetos e de equipamentos sociais que priorizam o público e as regiões mais vulneráveis de Belo Horizonte, envolvendo órgãos governamentais, não governamentais, lideranças comunitárias e entidades representativas. Tem como objeto a mútua cooperação entre as partes para a execução de programas sócio-assistenciais,

[*] Rosalva Alves Portella, Presidente. Alexandre Rocha Araújo, Coordenador Executivo de Programas Sociais. Silvana Célia de Campos, Gerente de Atividades Integradas de Cultura, Esporte e Ações da Primeira Infância. Edmice Áurea Rabelo de Oliveira, Gerente de Esporte e Lazer. Psicólogas Cérise Alvarenga, Fernanda Gaspar de Vasconcelos, Karen Menezes y Juliana Figueiredo Silva.

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esportivos, culturais e educacionais. A Gerência de Esporte e Lazer para consecução de seus objetivos tem como parceiros: 1] a Fundação Cultural de Belo Horizonte (Fundac-BH), mantenedora do Centro Universitário de Belo Horizonte (Uni-bh), através do projeto “Cidadania em Ação” esporte-arte-cultura. Parceira da Amas desde 2002, oferecendo, ao longo dos anos, atividades como: iniciação esportiva universal, vôlei, ginástica geral, atletismo, natação, taekwon-do, judô, jiu-jitsu, ginástica rítmica, basquete, dança de rua, dança contemporânea, capoeira, futsal, dança folclórica, inglês. 2] a Academia Passo Básico, através do projeto “Passo para o Futuro”. Parceira da Amas desde 2007, oferecendo atividades de dança de salão como: forró, zouk, samba, bolero, salsa, tango, soltinho. O ESPORTE E O LAZER COMO DIREITOS: Conforme preconiza a Lei Nº 8069, de 13 de Julho de 1990 (Estatuto da Criança e do adolescente – ECA), Art. 4º - “É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do Poder Público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária”. Com a promulgação do ECA crianças e adolescentes passam a ser compreendidas como sujeitos de direitos, pessoas em condição peculiar de desenvolvimento e que gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, com prioridade absoluta. O ECA estabelece a Doutrina de Proteção Integral alterando a cultura que vigia até então e a lógica de intervenção dos programas e projetos voltados para a infância. Segundo TELLES (2003), é preciso que mudemos o foco no modo de tratarmos os direitos sociais e o problema de igualdade. Muitos acreditam que para haver igualdade basta apenas garantir aos miseráveis “mínimos vitais de sobrevivência”. Esta visão, portanto não constrói a figura de cidadão, mas a figura do pobre, de forma negativa de acordo com sua carência e impotência. É preciso criar possibilidades para este público. Quando dizemos que “isto é direito”, buscamos fazer valer, existir o que antes não existia, damos relevância a fatos e circunstâncias que antes pareciam insignificantes. Nesta lógica de garantia de direitos e compreensão de crianças e adolescentes como sujeitos de direitos, o acesso ao esporte e lazer constitui-se como instrumentos facilitadores da inclusão social e participação cidadã. PORQUE PROMOVER ATIVIDADE FÍSICA PARA CRIANÇAS E JOVENS?: A atividade física que envolve esportes, exercícios físicos e lazer, tem sido procurada por famílias para contribuir na formação de seus filhos, como atividade complementar a Escola Formal, por serem atividades promotoras do resgate da identidade, da auto-estima e do exercício da cidadania, afastando-os cada vez mais de situações de risco. Conforme JABU (2003), o esporte é bom para a saúde, ocupa o tempo, possibilita o gasto de energia acumulada e é fundamental para a qualidade de vida das pessoas. Mas os jogos e as atividades físicas não devem apenas servir somente para ocupar o tempo ou mesmo tirar as crianças e jovens que se encontram em vulnerabilidade social das ruas. O esporte vai além, é capaz de levar a estas crianças e jovens informações sobre os riscos do sedentarismo que poderá se transformar em obesidade ou mesmo problemas cardíacos. É importante para o desenvolvimento humano, a exploração sensória motora, a movimentação física e a expressão corporal. É um momento valorizado de alegria e de confraternização, ocasião para se soltar, superar suas próprias marcas, errar e acertar, ganhar e perder. SOUZA (2004) ressalta as contribuições da atividade esportiva para a inclusão social no âmbito relacional, na medida em que possibilita uma maior interação do indivíduo com o grupo social e com a sociedade, facilitando o entendimento com relação à postura do outro e fomentando a tolerância. O esporte e a recreação

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também têm impactos positivos na educação do jovem: tendem a melhorar a habilidade de aprendizado, a aumentar a concentração e o desempenho em geral, associado ao fato de que os jovens aprendem melhor quando estão fisicamente ativos. A contribuição do esporte para estes jovens e crianças possibilita trabalhar as emoções, faz com que descubram limites, estabeleçam metas, discutam estratégias. Aprendem a compreender as regras, desenvolvem o espírito de solidariedade, de cooperação mútua e de respeito pelo coletivo. É um exercício de democracia. Nas grandes metrópoles a prática de esporte requer tempo e espaços físicos adequados. Estes espaços muitas vezes são clubes, academias, quadras esportivas para alugar, entre outros. Entretanto, nem todos podem ter acesso a estes espaços. Para SILVEIRA (2003), as ONG’s vêm tendo um papel fundamental no desenvolvimento de crianças e adolescentes das comunidades vulneráveis. Não servem apenas para ocupar o tempo deste público, procuram formar cidadãos críticos, autônomos e conscientes de seus processos interativos com o meio em que vivem buscando uma melhor qualidade de vida. Especialmente nos casos de famílias em situação de vulnerabilidade social, atendidas pela Amas, as atividades esportivas e de lazer assumem uma importância ainda maior, pois permitem o acesso a atividades mais diversificadas e qualificadas que contribuem para formação global destes sujeitos. Estas ações, complementares às políticas públicas municipais, têm contribuído significativamente para a melhoria das condições de vida das famílias atendidas pela gerência de Esporte & Lazer, auxiliando no desenvolvimento físico, motor, cognitivo, afetivo e sociocultural, através da formação global e específica de crianças, adolescentes e jovens adultos. As ações desenvolvidas pela gerência contribuem consideravelmente para a melhoria das relações de convivência familiar e comunitária. Pautados por estas idéias, os projetos “Cidadania em Ação” e “Passo para o Futuro”, contribuem para que crianças, adolescentes e jovens adultos tenham acesso ao esporte e ao lazer, como ferramentas de desenvolvimento e formação humana, global e específica. A prática esportiva pode também criar uma via alternativa de profissionalização e geração de renda, facilitando a inclusão social. AÇÕES EM REDE: GUARÁ (2003) coloca que “nenhuma entidade pode ou consegue hoje, isoladamente responder por toda formação da criança e do adolescente”.A importância da articulação entre ONGs, escolas, órgãos públicos, empresas, universidades, igrejas, comunidades entre outros, favorece ações que visam à formação integral de crianças e jovens que se encontram em situação de vulnerabilidade social. A articulação destes setores poderá compor uma rede articulada e integrada capaz de promover a inclusão deste público. Estas articulações devem levar em conta as condições existenciais e as novas necessidades da população. SOBRE OS PROJECTOS: Projeto Cidadania em Ação O projeto atende anualmente mais de 130 pessoas entre crianças, adolescentes, jovens adultos e suas famílias. As atividades esportivas são desenvolvidas de forma lúdica, educativa e formativa, podendo também, ter caráter competitivo. São realizadas através de oficinas de ensino-aprendizagem das modalidades: natação, judô, futsal, ginástica rítmica, dança de rua e basquete, para o público na faixa etária de 5 a 20 anos, de acordo com a definição etária de cada modalidade. Todas as oficinas são realizadas duas vezes por semana, nos espaços esportivos, laboratórios, salas de aula, e salão do projeto, dentro do Campus Estoril do Centro Universitário de Belo Horizonte Uni-bh, sendo ministradas por alunos graduandos que trabalham sob a supervisão dos professores do curso de Educação Física do Uni-bh, contribuindo também com a formação destes alunos. A equipe de profissionais é composta por uma coordenação acadêmico-pedagógica do Uni-bh (corpo docente e discente da universidade); uma coordenação sócio-pedagógica (equipe técnica da Amas), apoio administrativo (Amas) e serviços gerais do Uni-bh.

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Projeto Passo para o Futuro O projeto possui capacidade para atender 30 jovens, a partir de 14 anos de idade, e tem uma duração de dois anos de formação, subdivididos em quatro módulos. As atividades do projeto são desenvolvidas em forma de curso de Formação de Oficineiros em Dança de Salão e de monitores, com fins educativos de formação humana voltado para o trabalho alternativo, tendo em vista a geração de renda e o exercício da cidadania. As oficinas acontecem três vezes por semana e são ministradas por professores da Academia Passo Básico, na regional Pampulha. No decorrer do curso, de acordo com a evolução técnica, os alunos começam a desenvolver trabalhos (estágios) como monitores e oficineiros de dança, tanto nas aulas comerciais da Academia em que os alunos são formados quanto em outros espaços comunitários, como no programa Escola Aberta, nos serviços prestados pela Prefeitura de Belo Horizonte como o Núcleo de Apoio a Família – NAF, atuando como multiplicadores. A equipe de trabalho é composta por uma coordenação sócio-pedagógica da Amas, uma coordenação artística da Academia Passo Básico, por professores de dança da academia, uma equipe técnica de psicólogos da Amas, apoio administrativo e serviços em geral da academia. ESTRATÉGIAS DE AÇÃO: O processo de seleção das crianças e adolescentes participantes dos projetos ocorre dentro da perspectiva em rede. O público atendido é encaminhado pelo Serviço Social das regionais, abrigos, Conselhos Tutelares e também pela própria Amas, através de suas gerências. Esses serviços geralmente encaminham os jovens e crianças, por carta, contendo laudo sócio-familiar que comprova o perfil de vulnerabilidade das famílias atendidas pelas regionais. Os responsáveis (família) devem autorizar a participação dos jovens, por meio da assinatura do termo de responsabilidade, sendo constantemente convidados a tomar parte do processo pedagógico a fim de reforçar as ações educativas desenvolvidas. Os projetos são divididos em duas etapas que são desenvolvidas simultaneamente e de forma integrada, buscando potencializar os participantes valorizando o seu desenvolvimento físico, pessoal e social. As etapas compreendem atividades de esporte, dança de salão e oficinas de Cultura e Cidadania (realizadas pelas psicólogas do projeto). Nessas atividades busca-se a interdisciplinaridade entre as áreas do esporte, da cultura, da psicologia e do serviço social. Essas oficinas são desenvolvidas com base na técnica dos grupos operativos proposta por Enrique Pichon Rivière. Dentro dessa idéia, o grupo consiste numa técnica de trabalho cujo objetivo é contribuir com o processo de formação provocando mudanças nas premissas, nas narrativas e nos comportamentos dos participantes dentro do seu contexto social mais amplo. Desenvolvendo além do aprendizado esportivo, repertórios sociais e reflexivos sobre suas próprias vidas e sobre o exercício da cidadania. Aprender em grupo significa uma leitura crítica da realidade, uma apropriação ativa desta realidade. Uma atitude investigadora, na qual cada resposta obtida se transforma, imediatamente, numa nova pergunta. O trabalho em grupos envolve: leitura de textos, apreciação de vídeos, dramatização, role-play (exercícios de dramatização ou representação), dinâmicas de grupo, jogos de associação de idéias, representações gráficas ou iconográficas de conceito, debate de idéias, exercícios de aquecimento, pantomima, mímico e jogos de adivinhação e sessões avaliativas. Além desse trabalho em grupo, as psicólogas também realizam acompanhamentos individuais e/ou familiares e acionam a rede municipal de atendimento e proteção quando identificada a necessidade. Algumas atividades complementares das oficinas de Cultura e Cidadania ocorrem fora do local do projeto, sendo em forma de passeios recreativos, lazer, visitas culturais, apresentações em eventos, participações em campeonatos, e outras. Os projetos Cidadania em Ação e Passo para o Futuro constituem-se como estratégias de integração de uma rede interna (Amas) e rede externa (parceiros e serviços), com vistas à inclusão do público atendido. A rede interna é formada pelas gerências da Amas (Gerência de Profissionalização: cursos de informática, português, matemática, jardinagem, entre outros), Geração de Trabalho Protegido, Atendimento Sócio-Familiar, Assessoria e Atendimento Jurídico, que potencializam um fluxo de atendimento conforme a necessidade de cada participante.

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A rede externa é constituída por serviços da rede de proteção Social Básica e Especial do Município de Belo Horizonte, pelos diversos parceiros e pela sociedade civil. Esse trabalho constitui-se num processo dinâmico que envolve observações, avaliações, desenvolvimento e implantação de um plano de ação, utilizando-se de processos de monitoramento e avaliação e reavaliação com sistematização de todo o trabalho desenvolvido. ENCONTROS ESPORTIVOS COM OS TRABALHADORES APRENDIZES: As ações de esporte e lazer, além de ter parcerias externas, como acontecem nos projetos citados anteriormente, têm outro grande compromisso: o de promover encontros esportivos com os jovens trabalhadores aprendizes, garantindo direitos. Nesse sentido, vale citar aqui uma experiência na qual se realiza uma integração do esporte e lazer com os projetos das demais gerências de atendimento da Amas. As atividades (esportes e exercícios físicos), realizadas nestes encontros, buscam auxiliar no desenvolvimento das competências pessoais (aprender a ser), sociais (aprender a conviver), produtiva (aprender a fazer) e cognitiva (aprender a aprender). São utilizados variados jogos recreativos e competitivos, estafetas, danças e outros meios como filmes comentados, etc. Durante as atividades físicas, buscam-se analogias das situações experimentadas com o trabalho formal, para a sensibilização e reflexão sobre as posturas adotadas enquanto trabalhador aprendiz. RESULTADOS DAS INTERVENÇÕES ESPORTIVAS Avaliar os impactos de projetos no âmbito social configura-se um grande desafio. Sabe-se que, nesse contexto, a análise isolada dos dados quantitativos não traduz a complexidade da realidade. Considerando a proposta dos projetos mencionados, de provocar mudanças na forma do indivíduo se relacionar com o mundo, distinguem-se aqui alguns indícios das mudanças de comportamento dos participantes propiciadas pelas intervenções. Para exemplificar, conhecer tais indícios utilizou-se uma técnica onde foi proposto aos alunos que escrevessem uma carta para um amigo imaginário. Nela contariam sobre as experiências vividas nos projetos em questão. Tomando em consideração os depoimentos escritos dos participantes é possível perceber que há uma ampliação do olhar sobre si mesmo, o outro e o mundo; uma maior socialização, autoconfiança, auto-estima; conhecer e respeitar limites; aprendizado e prática esportiva, e; profissionalização e geração de renda através da dança de salão. DANDO VOZ AOS PARTICIPANTES (TRECHOS DAS CARTAS): “Nessas aulas de basquete tenho aprendido muitas coisas como conviver com mais amigos, compartilharem espaço”. “É como se a Amas fosse não só pra praticar esporte, mas também para você aprender a ter criatividade”. “Não vou me esquecer de falar que toda sexta-feira tem aula de psicologia, que conversamos sobre vários assuntos e tiramos nossas dúvidas”. “... esse projeto é muito bom pra mim, ele me tira das ruas porque onde nós moramos é muito perigoso. E esse projeto eu gosto muito porque eu aprendo muitas coisas novas e pessoas legais”. “Conheci pessoas novas, estou mais confiante, minha auto-estima aumentou, a timidez continua, mas consigo controlar...”. “... a dança de salão é que está acontecendo de melhor em minha vida. Ela permite nos autoconhecer, lidar com nossos limites, a respeitar o próximo e muitas outras coisas que só você fazendo

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para entender, é sem dúvida uma experiência fora do normal; os professores, nossos educadores nos fazem acreditar que somos capazes de sermos e termos o que quisermos, pois eles nos dão a rede, basta querermos pescar”. “Tenho aprendido com o bolero a ter elegância, com o zouk a ter sensualidade, com o samba a ter ginga, com o soltinho a ser leve, com a salsa a ser ágil, com o forró a ser simples e alegre e com o tango a ser persistente e com isso tenho aprendido uma lição diferente em cada aula que assisto...”. “A gente tem um encontro todas as sextas-feiras com uma psicóloga que é muito legal. Com ela nós fazemos varias atividades... nelas nós temos prazer de nos conhecermos melhor e também de conhecer as pessoas ao nosso redor”. “... nas apresentações tenho aprendido a ter segurança no que faço, dando aula no NAF (Núcleo de Apoio à Família) tive para mim a doação que é preciso ter, dando aula na Escola Aberta pude reconhecer que cada pessoa tem um ritmo e um limite”. “... o curso de dança de salão está me ajudando muito, porque o curso traz alegria e proporciona muitas coisas como saber ensinar a dançar quem entra no curso traz cada dia mais oportunidade de trabalho.” “Eu já apresentei seis vezes, e estou gostando tanto que penso ate dar aula um dia...”. CONSIDERAÇÕES FINAIS O projeto “Cidadania em Ação” se encontra na sua 7ª edição, adquirindo, ano após ano, conquistas de melhorias e crescimentos, tanto para os profissionais que compõe o projeto quanto para o público atendido, pois atuar com projetos sociais significa estar em constante aprendizado e busca de transformação social em prol de um futuro melhor para todos. O projeto “Passo para o Futuro” se encontra na sua 1ª edição, sendo um projeto piloto que vem também sendo construído com a participação ativa dos jovens participantes, auxiliando na construção da sua história de vida, tanto pessoal quanto profissional, traçando, sob a orientação dos profissionais do projeto, caminhos que irão possibilitar a sua atuação como futuros profissionais na área de dança de salão. Observa-se que o trabalho empreendido nas oficinas de esporte, dança e Cultura e Cidadania, tem contribuído com a melhoria da saúde física e psicossocial dos jovens. Percebe-se que o trabalho tem contribuído para fundamentar a visão do esporte e da cultura como um objeto difusor da identidade cultural local, colocando os participantes no centro de intercâmbio de idéias, opiniões e expressões culturais, potencializando as suas relações com a família, com a escola e com a comunidade. A experiência destas ações tem se constituído como “lugar” de promoção dos direitos previstos no Estatuto da Criança e do Adolescente, de promoção e formação humana, possibilitando a afirmação e desenvolvimento da potencialidade de seus participantes.

BIBLIOGRAFÍA Bulgarelli, R., “Direitos da criança e do adolescente”, In: Muitos lugares para aprender, Centro de Estudos e Pesquisas em Educação e Ação Comunitária, CENPEC/Fundação Itaú Social/Unicef, São Paulo, 2003. Brasil, Estatuto del niño y del adolescente, Ley Nº 8.069 de 13 de julio de 1990, Dispone sobre el Estatuto del Niño y del Adolescente y da otras directrices. Brasilia, DF, 1990. Guará, I. F. R., “Educação, proteção social e muitos espaços”, In: Muitos lugares para aprender. Centro de Estudos e Pesquisas em Educação e Ação Comunitária, CENPEC/Fundação Itaú Social/Unicef, São Paulo, 2003. Silva, M. J. B. (et al), “A importância da criatividade da atividade física”, In: ONG: e a criatividade física: a cidadania entrando em campo, São Paulo, CENPEC, 3ª ed. (Educação e Participação do CENPEC), 2003.

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Silveira, S. R., “Um projeto pedagógico de esporte”, In: ONG: e a criatividade física: a cidadania entrando em campo, São Paulo, CENPEC, 3ª ed. (Educação e Participação do CENPEC), 2003. Souza, G. C., “O esporte como fator de inclusão social”, Trabalho final do Curso de Altos Estudos Cenários, Perspectivas e Estratégias,BDMG, Fundação João Pinheiro, Belo Horizonte, 2004. Telles, V., “Direitos sociais: afinal do que se trata?”, In: Muitos lugares para aprender, Centro de Estudos e Pesquisas em Educação e Ação Comunitária, CENPEC/Fundação Itaú Social/Unicef, São Paulo, 2003.

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“COMISSÃO INTERNA DE PREVENÇÃO DE ACIDENTES E VIOLÊNCIA ESCOLAR” [*] Autoría: Nelcy Rosa Casa [**] Caixas do Sul | Brasil

A trajetória evolutiva da humanidade tem nos confirmado que o nosso bem maior é a vida, em todas as suas formas de manifestação. Por isso, a sua preservação e o respeito a ela se tornam um compromisso coletivo. As rápidas transformações sociais acrescentam uma siginificativa complexidade nas relações humanas e na interação do homem com o meio em que vive. Essa complexidade aponta para a necessidade do desenvolvimento de programas especiais, com ações contínuas e sistemáticas, que oportunizem a conscientização, a informação e a prática que aprimoram a vivência e a convivência humana. CONTEXTO SOCIAL E URBANO Caxias do Sul é a segunda maior cidade em população do Rio Grande do Sul e o segundo centro econômico financeiro. Conforme o Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2007, Caxias possui 412.053 habitantes, uma renda percapita de R$ 20.485,00 (que representa 150,4% da média do Estado) e um PIB (Produto Interno Bruto) de R$ 8,1 milhões, equivalente a 5,68% do PIB Estadual. O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), elaborado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNDU-ONU), aponta que Caxias do Sul é a 6ª colocada no ranking estadual, com IDHM de 0,857, e a 12ª em nível nacional, destacando-se pelo seu alto desenvolvimento humano (acima de 0,800). Entretanto, esses altos indicadores não garantem uma distribuição homogênea de renda. Com a industrialização e, conseqüentemente, uma aceleração do crescimento demográfico urbano, desencadeou-se o processo de despovoamento do campo e a formação de imensos núcleos de sub habitações, que resultaram em aumento da violência urbana e marginalização. O surgimento dos sérios problemas de violência, de problemas de ruptura e agressão à cultura acabam se refletindo no contexto escolar, diante disso, faz-se necessário esclarecer e propor ações de organização dos problemas resultantes da violência cotidiana para que todos os envolvidos (escola, entidades de classe e comunidade em geral) resolvam de forma pacífica, dialogada e democrática os seus conflitos. Diante desse contexto, a Prefeitura de Caxias do Sul, atendendo a uma política de segurança e combate à violência, deu início à instalação de CIPAVEs nas escolas da rede municipal de ensino. A Comissão Interna de Prevenção de Acidentes e Violência Escolar (CIPAVE) faz parte do Programa de Prevenção de Acidentes Escolares, conforme Lei nº 6.025, de junho de 2003. É resultado de uma ação conjunta das Secretarias Municipais da Educação (SMED) e da Segurança Pública e Proteção

[*] Instituição responsável: Prefeitura de Caxias do Sul, por meio das Secretarias Municipais da Educação, Saúde e Segurança Pública e Proteção Social. Ano de início: 2007. [**] Integrante da Secretaria Municipal da Educação.

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Social (SSPPS), com destacada atuação da Secretaria dos Transportes e Mobilidade Urbana (SMTM), que visa a oferecer à comunidade escolar uma nova alternativa para prevenção de situações que ocasionem riscos à sua segurança. O desenvolvimento do programa CIPAVE permite uma ação pedagógica mais realista e democrática, à medida em que atende tanto às especificidades da escola, quanto às demandas da comunidade local e da cidade como um todo. OBJETIVOS OBJETIVOS GERAIS: Desenvolver um trabalho de prevenção de acidentes e violência não só na escola, mas também no lar, no trânsito, na comunidade em geral, com o objetivo de estimular a mentalidade prevencionista na comunidade escolar. OBJETIVOS ESPECÍFICOS: - Observar as condições e situações de risco de acidentes e violência no ambiente escolar e entorno da escola; - Solicitar junto aos órgãos competentes medidas que reduzam e até eliminem os riscos existentes.

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METODOLOGÍA - Criação e instalação de comissões internas de prevenção de acidentes e violência escolar (formada por representantes dos diferentes segmentos). - Realizar pesquisas diárias para diagnosticar os locais onde existam situações de risco, contemplando os aspectos sociais, ambientais e físicos. - Elaborar o regimento interno de cada comissão. - Elaborar o plano de ação das comissões. - Promover programas de prevenção de acidentes e violência. - Treinamento e atualização dos componentes das CIPAVEs. - Colaborar com a fiscalização e observância dos regulamentos e instruções relativas à limpeza e conservação do prédio, das instalações e equipamentos. - Realizar, semestralmente, estudo estatístico dos acidentes e violência. - Divulgar esse estudo na comunidade e às autoridades competentes. - Promover oficinas, jogos pedagógicos, atividades de lazer, eventos comunitários, campanhas educativas e organização de ações em prol da valorização da vida.

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CIPAVE NAS ESCOLAS A Comissão Interna de Prevenção de Acidentes e Violência Escolar (CIPAVE) faz parte do programa permanente de prevenção de acidentes e violência escolar da Prefeitura de Caxias do Sul, por meio das secretarias municipais da Educação e da Segurança Pública e Proteção Social. Tem o objetivo de observar as situações que envolvem riscos de acidentes e de violência nas escolas e no seu entorno. A composição e a posse das comissões iniciou em março de 2007, com um projeto piloto nas escolas municipais Mário Quintana, bairro Diamantino, e Machado de Assis, no bairro Reolon. Atualmente, 89 escolas da rede municipal de ensino têm CIPAVEs instaladas. A CIPAVE está prevista na Lei nº 6.025/2003, regulamentada pelo do Decreto nº 13.097/2007, e é formada por representantes dos alunos, dos pais, professores e funcionários. As comissões de 70 escolas da sede participaram, em outubro de 2007, de um seminário de capacitação, que abordou os quatro eixos – prevenção de incêndios, primeiros socorros e prevenção de acidentes, com o Corpo de Bombeiros (5º GCI); prevenção de acidentes de trânsito, através da Secretaria Municipal dos Transportes e Mobilidade Urbana (SMTM); segurança pública e violência escolar, com a Brigada Militar (12º BPM); e o último eixo foi coordenado pela guarda municipal, que tratou sobre a conservação do patrimônio público. As 19 Comissões das escolas do meio rural, que foram instaladas no início do ano de 2008, participaram de um seminário de capacitação no mês de abril e, atualmente, as 89 escolas da rede municipal de ensino têm CIPAVE. As escolas contam com a assessoria das secretarias municipais da Educação (SMED), da Segurança Pública e Proteção Social (SSPPS) e de Transportes e Mobilidade Urbana (SMTM), no que se refere aos planos de ação, relatórios, avaliações e outras atividades que tiverem a aprovação da coordenação da CIPAVE. Os representantes das comissões permancem efetivos no cargo por um período de dois anos. Desde março de 2008, contando com a colaboração de importantes parceiros (Guarda Municipal, Brigada Militar, Corpo de Bombeiros, Polícia Federal e a Fiscalização de Trânsito) estão sendo implementadas ações de prevenção à violência e acidentes, de acordo com as especificidades locais. Em março de 2008, no anfiteatro da Câmara de Vereadores, foi organizado um painel de avaliação do desempenho das CIPAVEs, em que participaram as autoridades envolvidas com essa causa e após foram empossados os presidentes das CIPAVEs das escolas da sede. No dia 12 de junho, como parte das comemorações da semana de prevenção de acidentes e violência escolar, foi organizado um cronograma de atividades alusivas a essa data. Em várias escolas aconteceu a pintura de muros pelos alunos integrantes das comissões. Além disso, foi oferecido a mais de 1,5 mil alunos o espetáculo teatral Exército dos Sonhos da Fundação Thiago Moraes Gonzaga (foram duas edições em junho e outubro). Essa iniciativa objetiva orientar e conscientizar os jovens sobre as questões relacionadas aos acidentes de trânsito. Em outubro, ainda, foi exibida a peça teatral Curinguinha e Curingão no Trânsito dirigida aos alunos dos anos iniciais. O espetáculo abordou os problemas e as soluções que fazem parte da rotina do trânsito. O Programa CIPAVE também organiza e estimula todos os segmentos envolvidos a participarem de eventos culturais e de campanhas educativas, como o Lazer sem Embriaguez que conscientiza a população sobre bebida e direção. Essa atividade é realizada junto aos postos de combustível e em outros locais que reúnem jovens e consiste em uma simulação de um acidente de trânsito e, em seguida, a conscientização e distribuição de adesivos referentes a essa campanha.

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“ACAMPAMENTO MUNICIPAL PUNTA ESPINILLO, UMA EXPERIÊNCIA EDUCADORA” [*] Autora: Prof. Lourdes Bello [**] Montevideo | Uruguay

ANTECEDENTES, UMA BREVE REVISÃO UM FATO SIGNIFICATIVO: Em 2004, surge uma proposta inovadora denominada Acampamentos de La Paz, organizada pela Fundação Fórum de Barcelona. A partir desse ano e dentro deste marco, se realizam diferentes instâncias de acampamentos que contaram com a participação da Prefeitura de Montevidéu. Isto também levou a Prefeitura a organizar uma das edições do Acampamento de La Paz, em 2006, contando ademais com a necessária ação coordenada de distintos departamentos municipais. Cabe salientar que, como prova da boa coordenação interna nessas ocasiões, a Prefeitura Municipal de Montevidéu conseguiu ótimos resultados quando participou como anfitriã. Montevidéu se comprometeu em dotar a cidade de uma infra-estrutura permanente para acolher futuros acampamentos a nível nacional, regional e/ou continental ao assumir a co-organização do Acampamento de La Paz 2006. UM IMPORTANTE CAPITAL: Como capital das experiências destacadas, podem-se mencionar duas importantes dimensões como preâmbulo deste trabalho. A primeira dimensão é tangível e se constitui na própria instalação do Acampamento no Parque de Punta Espinillo, um legado material que ficou para a cidade de Montevidéu. A segunda e fundamental, está determinada pela cultura de trabalho articulado e coletivo dos diferentes atores municipais que participaram do acontecimento; um legado imaterial, intangível. EM RELAÇÃO COM O ESPAÇO DE INTERVENÇÃO O Parque Municipal de Punta Espinillo conta atualmente com uma infra-estrutura básica que lhe permite oferecer um serviço novo e diferencial que marca uma mudança em sua gestão. As melhorias realizadas na organização do local através de uma melhor iluminação e provisão de energia elétrica, da presença de água quente nos sanitários e da notável incorporação de cabanas, o situam como um potencial centro estratégico de implementação e de desenvolvimento para diversas propostas. Além disso, Punta Espinillo é um dos parques protegidos do departamento de Montevidéu e constitui um patrimônio natural único. As áreas verdes e as de praias são um convite para o lazer e o descanso do visitante. São totalmente gratuitos e, portanto, acessíveis a um grande público. [*] Este trabalho é um relato de experiências relacionadas com o Acampamento de Punta Espinillo. Contaremos uma breve história e o desenvolvimento de algumas das atividades que merecem destaque no período de dezembro 2007 a dezembro 2008. [**] Integrante da Comissão Montevidéu Cidade Educadora, Secretaría Municipal da Infancia.

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Atualmente a Coordenação do Parque recebe diariamente e de forma crescente, pedidos de uso para acampamento que provêm de diferentes organizações de vizinhos e de instituições, o que significa uma prova do interesse progressivo dos montevideanos em freqüentar este espaço. INFRA-ESTRUTURA: -10 cabanas equipadas para alojar 10 pessoas cada uma. - Uma cabana de dimensões maiores que funciona como escritório e como salão para oficinas práticas. - Sanitários e duchas. Cabe destacar que uma equipe técnica municipal realizou um estudo para definir a localização das cabanas a fim de atingir um equilíbrio no uso dos espaços do parque e das instalações, cuidando o entorno natural e respeitando a preservação ambiental como características próprias de um Parque Municipal protegido. COMISSÃO MONTEVIDÉU CIDADE EDUCADORA SECRETARIA DA INFÂNCIA IMM A Comissão Montevidéu Cidade Educadora, juntamente com a equipe técnica municipal, realizou o seguimento da instalação das cabanas no local. A partir desse momento, administra, supervisa, planeja, organiza e/ou apóia todas as atividades que se realizam neste novo espaço. A Comissão participa na Comissão de Eqüidade e Gênero da IMM e está integrada ao Plano de Igualdade de Oportunidades e Direitos, posto que desde sua instalação, o enfoque de gênero é considerado no planejamento dos acampamentos. CRONOGRAMA GERAL, BREVE DESCRIÇÃO DOS ACAMPAMENTOS REALIZADOS DESDE DEZEMBRO DE 2007 E O PLANEJAMENTO ATÉ DEZEMBRO DE 2008 1] ACAMPAMENTO DE MERCOCIDADES: “CIDADÃOS CRIANÇAS E ADOLESCENTES PELA INTEGRAÇÃO REGIONAL” Responsável Relações internacionais IMM, Secretaria de Infância IMM, Montevidéu Cidade Educadora, Secretaria de Esportes IMM. Organizadores Prefeitura Municipal de Montevidéu/Mercocidades. Lugar: Punta Espinillo, Montevidéu, Uruguai Datas: 13 de dezembro/19 de dezembro de 2007 Objetivos gerais A integração regional junto aos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio compõem os conteúdos a serem trabalhados durante a atividade. Integração: trabalhou-se sobre os aspectos relacionados com os diferentes processos de integração, enfatizando o Mercosul e Mercocidades. Objetivos específicos - Fazer com que os municípios se envolvam em uma atividade de construção de cidadania como agentes ativos da integração regional. - Contribuir para a construção de um sentido de identidade regional desde a infância visando proporcionar conteúdos sociais aos processos de integração regional. - Dar sentido e começar a trabalhar conceitos de integração nos setores mais diversos das sociedades das cidades do Mercosul. - Prover uma infra-estrutura compatível a estes objetivos que sirva de suporte para as atividades a serem realizadas.

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- Trabalhar os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, principalmente nesta faixa etária, já que em 2015 serão uma das gerações que começarão a tomar decisões sobre os destinos de suas comunidades. Programa Pedagógico Este programa foi trabalhado com dupla modalidade; Realizaram-se oficinas temáticas que promoverão o debate. Desenvolveram-se atividades lúdicas através das quais as temáticas propostas serão abordadas. Segundo o calendário de atividades, serão realizadas oficinas e palestras que tenham sempre o objetivo de promover a participação das crianças, sendo estas as verdadeiras protagonistas de todo o programa a ser desenvolvido. O esporte como linguagem universal. Queremos praticar o esporte que quebre as barreiras; que nos vincula emocionalmente, nos motiva fisicamente e que nos permita descobrir um lugar comum para dialogar brincando. Os jogos tradicionais serão também o ponto de encontro, de comunicação e de expressão das pessoas que os praticam. Os Objetivos do Milênio estiveram em forma permanente como conteúdos temáticos que atravessaram todo o programa de atividades. Realizaram-se oficinas temáticas utilizando diferentes metodologias e gerando a participação e o debate através da Arte, da imagem e da música. Contamos com a participação de crianças entre 11 e 12 anos do Uruguai, da Argentina e do Brasil, procedentes dos municípios de Paysandú, Canelones, Belo Horizonte, Santo André, La Matanza, Morón e Montevidéu. 2] ACAMPAMENTO FUNDAÇÃO CHAMANGÁ: O objetivo principal da Fundação Chamangá é promover os jovens uruguaios valorizando suas vocações e ajudando em sua formação mediante a concessão de bolsas. O Objetivo desta atividade foi integrar os jovens bolsistas e ex-bolsistas procedentes de todo o país, conhecer a capital e vincular-se com os integrantes da própria organização. Todos os participantes salientaram o cumprimento total de suas expectativas. 3] ACAMPAMENTO APEX-CERRO: O programa Apex - Cerro da Universidade da República é um projeto universitário multiprofissional e interdisciplinar de formação de profissionais em saúde que trabalha na zona oeste de Montevidéu, um nexo entre a Universidade da República e a comunidade. Data do acampamento: 28 e 29 de fevereiro Objetivos gerais O subprograma “Atividades recreativas de verão para estudantes escolares” trabalha com crianças e adolescentes entre 5 e 14 anos, provenientes de escolas públicas de contexto crítico e especial. Durante o verão 2008 as atividades foram propostas sob uma metodologia multi e transdisciplinar, onde a educação ambiental e a educação para a Paz foram os componentes mais fortes. O Acampamento foi planejado como encerramento do trabalho de verão onde se reforçaram os conteúdos. O espaço favoreceu o encontro e possibilitou que todos os participantes do subprograma desfrutassem da ocasião. 4] ACAMPAMENTO CECAP DEPARTAMENTO DE RIVERA-URUGUAI: A CECAP Rivera é uma instituição educativa que integra o Programa Nacional de Educação e Trabalho (PNET) do departamento de Educação do Ministério de Educação e Cultura (MEC). A proposta educativa social que se implementa está baseada no reconhecimento do direito à educação de todos os adolescentes e jovens e esta instituição se propõe a gerar as condições para: - Favorecer a participação em um âmbito misto de socialização que contribua à inclusão social. - Promover o desejo e as possibilidades de reinserção educativa tanto na Educação Média, UTU ou em algum outro espaço educativo. - Preparar-se para o mundo do trabalho desenvolvendo habilidades sociais, atitudinais e de ofícios a fim de gerar âmbitos de integração econômica e de trabalho.

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O objetivo desta atividade apresentou uma característica particular pela aproximação de muitos jovens ao mar por primeira vez. 5] ACAMPAMENTO DE “REENCONTRO ACAMPAMENTOS DE LA PAZ”: Objetivos Gerais O Reencontro entre as comitivas que participaram nos Acampamentos de La Paz Montevidéu 2006Monterrey 2007. Objetivos Específicos - Gerar um espaço de intercâmbio de experiências das diferentes edições do Acampamento de La Paz. - Cumprir com os compromissos assumidos pelos projetos pós-acampamento. - Promover a integração através de atividades com os Objetivos do Milênio e da Paz. Participantes: adolescentes de 14 a 17 anos. Local: Acampamento de Punta Espinillo. Modalidade de trabalho Será realizada pela equipe técnica encarregada, promovendo a participação dos adolescentes. Os jovens organizaram jogos onde a integração e a cooperação foram os principais objetivos; as diferentes experiências foram sendo compartilhadas em diferentes espaços, oficinas e atividades esportivas recreativas. A organização foi feita em conjunto com as Prefeituras de Canelones e de Montevidéu, através da Comissão Montevidéu Cidade Educadora e o departamento de Desenvolvimento Social de IMC. CRONOGRAMA DE ACAMPAMENTOS OUTUBRO-DEZEMBRO 2008: Elaborou-se um projeto de trabalho conjuntamente com a Secretaria de Esportes IMM e um dos resultados obtidos foi um “Programa piloto” de atividades para 2008. - Programa piloto “Acampamento de Primavera 2008” Atividades: Realização de quatro acampamentos organizados pela Secretaria de Esportes no parque de Punta Espinillo. Convém esclarecer que a quantidade de eventos será definida claramente pelos encarregados de construir parte do programa “Acampamento de Primavera 2008”. Marco das atividades e participação dos vizinhos: É importante que para poder utilizar o acampamento os vizinhos ou usuários desenvolvam processos de organização nas áreas nas quais trabalham os docentes da Secretaria. Essa importância se vincula ao fato de se pretender fortalecer o processo da participação co-organizada das pessoas, das diversas comunidades e dos programas. Objetivos: Facilitar às comunidades locais a possibilidade de conhecer as instalações e sua potencialidade. Promover o encontro com os diversos atores comunitários através de instâncias de uso do tempo para o lazer (descanso). Contribuir com o processo de divulgação do espaço e da coconstrução de acampamentos comunitários. - Sugestões de instâncias e modalidades de trabalho 1] Acampamento organizado por vizinhos em áreas de saúde, conselho vizindário, técnicos dos Centros Municipais Zonais, organizações impulsoras de processos de interesse comunitário, incluindo a perspectiva da integração social de todas as pessoas. 2] Acampamento para crianças que tenham participado de programas e atividades recreativas, esportivas, saídas (praias-parques-outros). Está incluída a perspectiva da integração de crianças excepcionais. 3] Realização de acampamento para adultos maduros. Coordenar a incorporação do respectivo programa na proposta piloto.

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4] Realização de acampamento com pessoas excepcionais de diferentes modalidades a ser definida pelo programa específico. Objetivos: Promover a socialização entre crianças procedentes de diferentes entornos bairristas do departamento. Contribuir para a descoberta do entorno natural em uma experiência de acampamento e de convivência com outros. Fortalecer os processos de participação organizada das crianças. No marco deste programa foram concretizadas as seguintes instâncias a serem realizadas nos meses de outubro e novembro 2008: 1] Acampamento “A tu Salú” ( À tua Saúde”), organizado com Vizinhos vinculados aos temas de saúde, da Secretaria de Esportes IMM. Com apoio do Min. de Saúde Pública e do Instituto de Educação Física. Data: 14,15 e 16 de novembro. 2] Acampamento integração de crianças programa barrial da Secretaria de Esportes IMM. Data: 14 e 15 de outubro. 3] Adultos maduros; será organizada uma jornada nas instalações com data a confirmar. 4] Está planejada uma atividade de dois dias com os usuários dos programas da área para excepcionais. Data: 14 e 15 de outubro. Acampamentos organizados e/ou coordenados com outras Instituições, com outros setores municipais e com as redes nacionais e regionais: - Acampamento Aulas Comunitárias, MIDES-2º Grau-CPP. Data: 31 de outubro e 1º de novembro. - Acampamento Promotores de Saúde, Coordenado com o departamento de Desenvolvimento Social IMM. Data: 23, 24 e 25 de outubro. - Acampamento PIAI-Esquinas, coordenação com o projeto PIAI e o programa Esquinas da Cultura, dependente do Departamento de Cultura IMM. Data: 5, 6 e 7 de dezembro. - Acampamento “Jovens do Milênio”, Organiza IMM, Departamento de Desenvolvimento Social, Secretaria da Infância, com Montevidéu Cidade Educadora, Objetivos do Milênio, Departamento de Cultura, Secretaria de Esportes. Com o apoio da UnaONU/Unicef. Conteúdos: Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, Integração regional. Metodologia: Oficinas, atividades lúdicas e esportivas. Em síntese, o Acampamento de Punta Espinillo conta atualmente, após seus primeiros meses de instalação, com uma rica e variada programação que o projeta como um espaço de referência para o Encontro a nível Departamental, Nacional e Regional.

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“JOVENS VEREADORES DA CIDADE DEL PILAR” Autoría: Equipe da Secretaria Municipal de Educação, Cultura e Integração Pilar | Argentina

O Modelo Jovens Vereadores da Cidade Del Pilar consiste em um jogo de papéis no qual os alunos dos primeiros anos da Educação Secundária (2º grau do Ensino Fundamental) de diversos colégios públicos ou privados, se colocam no papel de Vereadores, propondo e debatendo diferentes projetos que visam resolver ou melhorar problemáticas reais. Este modelo permite aos estudantes adquirir uma visão global que os insere em uma nova perspectiva frente à comunidade da qual fazem parte, tendo a oportunidade de exercer suas capacidades de forma positiva, responsável, criativa e participativa. Os alunos devem se qualificar em técnicas de oratória e persuasão, desenvolvendo habilidades para a negociação em um âmbito de tolerância e resolução pacífica das controvérsias. Para a realização deste Modelo, os jovens devem conhecer o significado do sistema Republicano, Representativo e Federal de governo, através de estabelecer diferenças entre as prerrogativas de cada um dos poderes, os direitos e os deveres dos cidadãos e a pirâmide normativa que rege nossa conduta social a partir da Constituição Nacional como lei fundamental. Logo depois, dedicar-se à busca e à análise de informação referente às problemáticas locais a fim de elaborar projetos, levando em consideração as necessidades reais da comunidade e a viabilidade para a resolução das mesmas. Estas atividades envolvem o trabalho áulico realizado por cada instituição nas diferentes áreas pedagógicas, para finalizar com a realização de jornadas de discussão, negociação e busca de consenso, através da abordagem dos assuntos em comissão, para depois chegar à última instância de apresentação e aprovação dos temas na Assembléia Geral. Antes de iniciar o desenvolvimento do Modelo, os alunos analisam resoluções reais do Honorífico Conselho Deliberante da Cidade, para só depois elaborar as propostas de regulamentos, decretos, resolução e comunicação que justificam a posição tomada por cada um dos grupos diante da problemática a ser debatida. Estas propostas pedagógicas constam de duas partes, uma geral e outra específica que também marcam as etapas da pesquisa. PRIMEIRO MOMENTO - Definem-se os conceitos básicos sobre o tema de debate proposto. - Enumeram-se alguns acontecimentos recentes relacionados com a problemática a ser tratada. - Levantam-se aqueles documentos que sustentarem o posicionamento da comitiva e que forem considerados importantes. SEGUNDO MOMENTO - Apresenta-se o posicionamento que cada grupo sustenta diante do tema em questão, propondo a solução dos problemas formulados. - Realizam-se as interpelações, debates e votação dos projetos apresentados.

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PROJETOS APRESENTADOS, DEBATIDOS E APROVADOS DESDE O ANO 2001 ATÉ HOJE ANO 2001: - Projeto jovens Vereadores. Declarado de interesse Municipal Decreto Nº 1999/2001 ANO 2002: - Censo em Saúde. Trabalho de Campo realizado nos Jardins de Infância públicos de Pilar cujos resultados foram entregues ao Município. ANO 2003: - Projeto Pilar Cidade Educadora. Caracterizar Pilar como um centro educacional e cultural de excelência. Expediente Nº 527/2003. - Granjas ecológicas auto-administradas com recursos monetários obtidos pela distribuição de material reciclado. Expediente Nº 528/2003. - Ampliação do horário de atendimento ao público nos consultórios externos do Hospital Municipal Dr. Sanguinetti. Expediente Nº 529/2003. ANO 2004: - Melhoramento e adequação da Reserva Natural del Pilar. Expediente Nº 709/04. ANO 2005: - Programas educativos para o trabalho na Reserva Natural del Pilar. ANO 2006: - Projeto de pesquisa de Biodigestores de resíduos orgânicos. ANO 2007: - Projetos sobre reatores de Biofilme Membranoso. Expediente Nº 253/07. ANO 2008: - Projeto de sinalização do núcleo urbano da Cidade del Pilar. - Projeto de criação de uma sala de Primeiros auxílios no Bairro El Bosque de nossa Cidade.

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Neste ano, durante a visita da Biblioteca Móvel do Congresso da Nação, os “Jovens Vereadores” foram convidados especialmente pelo Município da Cidade Del Pilar para participar da sessão na sede do Honorífico Conselho Deliberante. Nove blocos integrados por alunos do colégio North Hills, da escola de Educação Secundária Básica Nº 304 da Cidade Del Pilar e da Escola de Educação Média Nº 209 da localidade de Fátima, interagiram, debateram e propuseram soluções para as diferentes problemáticas urbanas. Os alunos se desenvolveram com desembaraço mostrando um profundo conhecimento dos temas tratados e comprometimento com esta atividade. A Mesa da Presidência foi integrada pelo Representante Legal do Colégio North Hills e por dois Vereadores, pelo Presidente da Comissão de Legislação, Interpretação e Regulamento e pelo Presidente da Comissão de Transporte e Ordenamento Urbano. Em todo momento, a dinâmica do Jogo de Papéis respeitou o diálogo triangular entre os blocos e a presidência. Salientamos a importância desta iniciativa, nascida no Colégio North Hills, que excede os limites do âmbito escolar e se estende a toda a Sociedade pilarense.

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“PROGRAMA UMA CIDADE ESCOLA” Autoría: Margareth D'Onófrio Magalhães [*] São Bernardo do Campo | Brasil

Atualmente, a escola não é capaz de assumir sozinha a educação integral e seus vários conceitos. Há que se tomar medidas ousadas para sanar as lacunas existentes nesse campo. Sendo assim, tem sido debatida, universalmente, a idéia de transformar as cidades em "campus" educativos, nos quais a participação coletiva gera resultados altamente positivos. Uma proposta é a Cidade Educadora, que desde 1990 conta com uma Carta de Princípios que aborda os principais aspectos que devem ser observados para que a cidade se torne, de fato, um território onde os habitantes usufruam das mesmas possibilidades de formação. Para uma cidade educadora, a responsabilidade de ensinar e aprender não é somente da escola formal, mas sim de toda a comunidade. As modalidades de educação formal, não-formal, bem como as várias manifestações culturais e fontes de informação, que compõem o município, devem ser incluídas nesse processo. Nessa abordagem, trabalha-se com a concepção de uma educação integral, cujo principal objetivo é o direito de todos desfrutarem igualitariamente das oportunidades de formação e de desenvolvimento pessoal oferecidas nos diversos espaços. Para o alcance desse objetivo pressupõe-se a participação individual dos habitantes da cidade, como também das associações por eles formadas, cabendo ao Poder Público cumprir o seu papel de apoio por meio de determinações legais e estabelecimento de políticas públicas que reforcem essas iniciativas. São Bernardo do Campo sente, neste momento, a necessidade extrema de criar novos mecanismos com vistas à melhoria da qualidade de vida de seus habitantes, sustentabilidade do município e perspectiva de um futuro com mais oportunidades para todos. A cidade, o meio urbano, dispõe por si só de inúmeras possibilidades de aprendizagem em seus espaços como ruas, parques, praças, shoppings, centros culturais e outros. Contudo, o objetivo da Prefeitura de São Bernardo do Campo como Cidade Educadora é que nosso município seja intencionalmente educador; que todas as ações das mais diversas áreas (saúde, educação, finanças, turismo, esportes, cultura, social, habitação e meio ambiente) quer sejam do poder público, da iniciativa privada ou de instituições não governamentais, tenham um viés educativo. É como transformar a cidade em uma escola a céu aberto, sem muros ou paredes, unindo a educação formal (que ocorre dentro da escola) e a não-formal (que ocorre fora do ambiente escolar). Com isso se pretende, como objetivo principal, formar cidadãos conhecedores de seus direitos e obrigações para com a sociedade que, a partir do conhecimento e identificação da sua própria cidade, iniciem uma ação participativa e transformadora, tornando-se também um agente intencionalmente educativo naquilo que faz. Para o alcance dessas propostas, temos que implementar políticas públicas eficientes, planejar ações e construir espaços que estejam integrados entre si e que garantam uma sinergia entre tudo e todos envolvidos no processo.

[*] Orientadora Pedagógica da Equipe Técnica da Secretaria Municipal de Educação e Cultura.

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Nesse aspecto, podemos citar como exemplo fundamental o Parque Cidade-Escola da Juventude Città Di Marostica, mais conhecido como Parque de Esportes Radicais, que está localizado em frente ao Paço Municipal e foi inaugurado em agosto de 2007. Para a Prefeitura de São Bernardo do Campo, a construção do Parque serve como um marco, uma referência de espaço agregador, tanto de diferentes públicos e faixas etárias, quanto de atividades diversificadas, contemplando os mais variados conteúdos de aprendizagem e entretenimento. No amplo rol de atividades oferecido pelo Parque, podemos citar oficinas esportivas de “skate”, “bike”, escalada, patins, danças circulares, nas quais são vivenciados o respeito às regras de convivência e segurança, os valores éticos com o próximo e com a cidade. Esse novo espaço contribui com o bemestar e qualidade de vida da população oferecendo ações culturais e esportivas. Outro atrativo é a pista de caminhada de 600 metros, que contorna todo o parque e uma área reservada para realização de atividades físicas com equipamentos para alongamento e um playground para_crianças. O Parque funciona de terça a domingo, das 9 às 22 horas e conta, também, com sanitários adaptados para deficientes, piso especial, placas de identificação em braile e um elevador que dá acesso à parte superior Atualmente, cerca de quatro mil pessoas freqüentam o local, diariamente. Devemos ter em mente que o jovem afasta-se de riscos e vulnerabilidades quando ocupa seu tempo ocioso com atividades, principalmente aquelas que o fazem aprender com prazer, com diversão. A Administração Municipal de São Bernardo instituiu o Parque Cidade-Escola da Juventude Città Di Marostica como o “marco zero” do Programa Cidade Escola, por considerá-lo o passo inicial para o estabelecimento de uma Cidade Educadora de fato e de direito. Dentre as atividades que ocorrem no Parque, destacamos: AS OFICINAS ESPORTIVAS DE SKATE Em São Bernardo as atividades com Skate já ocorrem desde a década de 80. Porém, a partir da inauguração do novo Parque, um formato diferente passou a orientar essa prática. Atualmente, existem alunos que são monitorados por instrutores especializados, com atendimento individualizado. Isso ocorre todas as terças-feiras. De quarta a domingo, o Parque abre para todos os públicos, quando as pistas de Skate estão disponíveis aos interessados, desde que utilizem os equipamentos de segurança necessários. A prática do Skate desenvolve a criatividade, o talento, a auto-disciplina, o respeito aos próprios limites, a paciência, a persistência, a satisfação pessoal, entre outras competências e habilidades. Além, de valores importantes para a convivência coletiva. São Bernardo do Campo é o berço de grandes skatistas e até de pentacampeões mundiais. AS DANÇAS CIRCULARES Em São Bernardo do Campo, o trabalho com as Danças Circulares acontece desde 2001 por iniciativa da Secretaria de Educação que já promoveu formação a professores, à comunidade em geral e a alunos tanto do ensino regular como especial, além de outras iniciativas particulares. Assim, hoje são realizadas em momentos de formação, desenvolvimento e integração nas escolas, parques e espaços comunitários. Desde a inauguração do Parque Cidade-Escola da Juventude Città Di Marostica, os momentos das Danças Circulares têm atraído um público variado. Compõem, com todas as outras atividades, um conjunto de ações que visam a fortalecer o espaço de aprendizagem e convivência do parque. As Danças Circulares são inspiradas nas danças folclóricas de várias etnias, sendo divulgadas a partir do trabalho de pesquisa de Bernhard Wosien, bailarino e coreógrafo alemão, na década de 70, através da comunidade de Findhorn, na Escócia. São realizadas em grupo, geralmente em roda, de mãos dadas. Suas coreografias com passos simples e a não exigência de técnica, permitem a participação de todos, independentemente de experiências anteriores.

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Constituem-se em atividades prazerosas que proporcionam interação, compartilhamento, expressão de afeto, respeito e aceitação, na qual o corpo é exigido não apenas no movimento, mas na percepção de si, consciência de limitações e possibilidades, num processo de experiências e descobertas individuais e grupais. Integrando movimento, expressão, pensamento e sentimento, desenvolvem o potencial criativo, a percepção corporal e a comunicação, promovendo modificação postural e psíquica contribuindo para o desenvolvimento físico, mental e emocional. Estimulam a coordenação motora e favorecem o ajustamento ao movimento do outro, dando referência de espaço e tempo. CONCLUÇÕES Podemos concluir destacando os princípios que orientam as ações desenvolvidas no Parque CidadeEscola da Juventude Città Di Marostica e que contribuem para fazer de São Bernardo do Campo uma Cidade Educadora: - Compromisso com a formação e bem-estar de todos os grupos etários habitantes no município; - Estimular o diálogo e a convivência entre as gerações; - Estimular a participação cidadã e a construção coletiva da identidade educativa da cidade; - Fornecer referenciais e valores éticos, como justiça, eqüidade, igualdade, solidariedade e bem coletivo; - Desenvolver atividades que contribuam com a qualidade de vida e promoção de seus habitantes; - Desenvolver de forma articulada, planejada e integrada o conjunto de processos educativos formais, não-formais e informais; - Auxiliar a formação de pais e apoiar as famílias na educação de seus filhos; - Empreender políticas afirmativas e inclusivas para grupos sociais marginalizados e excluídos; - Garantir a socialização e o acesso de informação para todos os cidadãos; - Articular ações que preservem a memória histórica da cidade, planejando seu crescimento. ANEXO SÃO BERNARDO DO CAMPO: UMA CIDADE DE DESENVOLVIMENTO E OPORTUNIDADES: São Bernardo do Campo é um município constituído por descendentes dos primeiros imigrantes italianos que chegaram ao Porto de Santos, aqui se estabeleceram e construíram suas vidas. A cidade abriga também milhares de pessoas que vieram de todas as partes do Brasil, atraídas pela indústria automobilística, que a tornou conhecida como a Capital do Automóvel no Brasil Outras características marcam São Bernardo no cenário nacional, como ser a Capital dos Móveis; ter a primeira companhia cinematográfica, a Vera Cruz; de circuito das águas, com a represa Billings, que tem 70% da área dentro de São Bernardo; e também da culinária, com a famosa Rota do Frango com Polenta. Localizada a sudoeste da Região Metropolitana de São Paulo, São Bernardo do Campo é uma das integrantes da região do Grande ABC. Limita-se com São Vicente, Cubatão, Santo André, São Caetano do Sul, Diadema e São Paulo. Possui um território de 407,10 km², sendo 118,74 km² em zona urbana, 212,54 km² em zona rural, além de ter 75,82 km² pertencentes à represa Billings. Em São Bernardo 52,3% da área é de proteção aos mananciais. O clima úmido temperado faz com que a cidade tenha médias de temperatura entre 15º e 24ºC e o índice pluviométrico anual médio de 1.575 mm. São Bernardo do Campo situa-se na Bacia Sedimentar de São Paulo, na porção chamada

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de Planalto Paulista, com relevo suavizado de morros e espigões de modestas alturas com máxima de 986,50 m e mínima de 60 m. Sua hidrografia é muito rica, formada pelas Bacias do Rio Tamanduateí (composta pelo Ribeirão dos Meninos e dos Couros e seus afluentes) e do Rio Pinheiros (composta pelo represamento do Rio Grande e seus afluentes). A proximidade com o Porto de Santos fez de São Bernardo uma das primeiras cidades brasileiras. Sendo a região local de passagem para aqueles que do Planalto se dirigiam ao Porto, em especial as “tropas”, carregando mercadorias e que aqui faziam pouso, a região começa a se desenvolver na fazenda dos Monges Beneditinos, às margens do Ribeirão dos Meninos. Em 1877 é instalado o Núcleo Colonial de São Bernardo, que vai dar nova vida à `Villa´. A presença do imigrante, majoritariamente italiano, e predominante nesse fim de século 19 e início do século 20, contribuiu para ampliar a miscigenação. Outros povos contribuíram para a formação da população, como os portugueses, os negros, alemães, austríacos, poloneses, espanhóis e japoneses. Ao final do século, por lei provincial de 12 de março de 1889, a Freguesia foi elevada a Município, cuja instalação ocorreu em maio de 1890. O Município compreendia, então, praticamente todo o território do atual Grande ABC. Com a exploração da madeira, as serrarias aparecem, registrando a tendência industrial da “Villa”. Desenvolve-se a indústria moveleira ao lado da têxtil. Na década de 20, foi construída a Represa Billings. Apesar do desenvolvimento da sede do município, São Bernardo passou a ser distrito de Santo André. Após muitas movimentações, em 1944 ocorre a emancipação político-administrativa de São Bernardo. O designativo “do Campo”, aplicado a São Bernardo, surge da instalação do atual município, em 1º de janeiro de 1945. Embora, 8 de abril de 1553 seja a data da instalação oficial da Vila de Santo André da Borda do Campo, a data convencional para a comemoração da fundação de São Bernardo do Campo é 20 de agosto, por ser o dia dedicado ao “Santo Bernardo”. Dados referentes ao ano de 2006 retirados do site oficial da Prefeitura www.saobernardo.sp.gov.br:

Demografía

População: 781.390 População urbana: 767.794 População rural: 13.596 Densidade Demográfica: 2.349 hab/km2 Taxa de natalidade: 14,41 por mil hab. Taxa de mortalidade: 4,71 por mil hab. Taxa de natimortalidade: 7,03 p/ mil nascidos vivos Taxa de Mortalidade infantil: 13,11 p/ mil nascidos vivos Eleitores: 522.303 Taxa de Urbanização: 98,26% IDHM: 0,834 IDI: 0,841

Finanças públicas

Arrecadação Municipal: R$1,3 bilhões Arrecadação Tributária: 32,7% Arrecadação ICMS: 36,9% Valor Adicionado (2005): 3,10%

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Economía

Indústrias: 1.203 Comércio: 9.924 Serviços: 45.719 População Economicamente Ativa: 403.705 Taxa de desemprego: 14,2% PIB Municipal (2004): 16.906 (milhões R$)

Infra-estrutura

Coleta de lixo: 100% da cidade Esgoto: 85,9% dos domicílios Água: 98% dos domicílios Telefones fixos por mil hab.: 309 Ligações de energia elétrica: 243.268


Educaçao e Cultura

Rede municipal de ensino: 308 unidades Rede estadual de ensino: 200 unidades Rede particular de ensino: 215 unidades Alunos: 253.320 População alfabetizada: 95,4% Teatros: 6 Centros Culturais: 7 Bibliotecas Públicas: 6 Bibliotecas Escolares Interativas: 72 Laboratórios de Informática: 65

Saúde

Hospitais Públicos: 2 Hospitais Particulares: 11 Prontos-socorros: 5 Unidades Básicas de Saúde: 26 Unidades Básicas de Saúde - 24hs.: 4 Leitos por mil habitantes: 2,4 Consultas médicas nos prontos-socorros: 600.359 Consultas médicas nas UBSs: 780.790 Procedimentos odontológicos: 210.706 Internações nas Unidades Públicas: 28.636 Banco de Leite Humano - crianças atendidas: 920 Banco de Leite Humano - Doadoras: 1298

Esporte e Lazer Transporte público Centros esportivos: 5 Ginásio Poliesportivo: 1 Ginásios de esportes: 18 Campos de Futebol: 44 Praças Públicas-lazer passivo: 166 Praças Públicas-lazer ativo: 123 Parques Municipais: 4

Linhas Municipais: 58 Linhas intermunicipais: 88 Passageiros/dia nas linhas municipais: 153.897 Passageiros/dia linhas intermunicipais: 229.113 Balsas: 2 Veículos por mil habitantes: 497

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“PROGRAMA ESCOLA NOSSA” Autoría: Géria Maria Montanari Franco [*] São Carlos | Brasil

INTRODUÇÃO Reza a Constituição Federal do Brasil (1988), em seu art. 205: "A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho." Partindo desta prerrogativa, o Estatuto da Educação da cidade de São Carlos, Lei Municipal nº. 13.889 de 18 de outubro de 2006, em seu Capítulo I, art. 3º, “Princípios Fundamentais”, diz que: I - garantia de universalização do ensino, com igualdade de condições de acesso, permanência e aprendizado nos níveis e modalidades de ensino sob sua responsabilidade, conforme estabelecido na Constituição Federal; II - a gestão democrática da educação, abrangendo a participação dos educandos, da família e de todos os envolvidos nas atividades de ensino; III - busca da integração da comunidade com as atividades educacionais; IV - o aprimoramento da qualidade do ensino público municipal; V - a valorização dos profissionais da educação; VI - o acesso amplo e democrático e o oferecimento de uma escola gratuita, de qualidade, com condições adequadas para a permanência do educando nas escolas mantidas pelo Município; VII - o preparo do educando para o exercício da cidadania e do trabalho; VIII - o respeito ao educando, que deve ser considerado agente do processo de construção do conhecimento; IX - a incorporação das informações disponíveis do saber socialmente acumulado nas experiências culturais do educando; X - a igualdade de tratamento, que respeite os direitos humanos, coibindo quaisquer formas de preconceito e segregação em razão de gênero, etnia, raça, cultura, religião, opção política e posição social; XI - a progressiva ampliação do tempo de permanência do educando na escola e o aumento gradativo do atendimento especializado aos alunos com necessidades especiais;

[*] Secretária Municipal de Educação e Cultura, Delegada Política AICE.

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XII - a garantia do direito de organização e de representação, tanto para os educandos quanto para os profissionais da educação, observado o direito de associação sindical, nos termos e limites fixados pela Constituição Federal; XIII - o oferecimento de oportunidades e meios para o contínuo aperfeiçoamento profissional dos integrantes do quadro da educação pública municipal; XIV - a atuação efetiva da família e da comunidade no desenvolvimento, avaliação e resultados do processo educacional; XV - a integração da educação com a cultura e os esportes, envolvendo educandos, educadores e toda a comunidade. A proposta de parceria entre o setor educacional e a comunidade para explorar e construir conhecimentos segundo as necessidades de seu desenvolvimento, deve acontecer numa dinâmica de articulação em que a instituição educacional assume um papel de mobilizadora de transformação e o professor de promotor da aprendizagem. A educação integradora tem na sua finalidade atingir a todos os alunos entre as séries iniciais até sua fase adulta, inclusive as que têm necessidades educativas especiais e os que estão em situações de risco e a margem da escola. Estas mudanças fundamentais de políticas educacionais são necessárias para favorecer o enfoque da educação integradora, capacitando as escolas e os profissionais no atendimento a todas as crianças, adolescentes e adultos. Quaisquer políticas públicas e de cidadania devem estar basicamente ligadas a vivência da comunidade local. "Se a iniciativa partir de decisões verticais do governo, estará fadada ao fracasso" O principal é diagnosticar as deficiências da população e verificar sua capacidade empreendedora. O segundo passo é capacitá-la, juntamente com os representantes do poder público e empresários, para criar redes de gestão participativa. "A idéia é que todos os atores sociais se articulem em um interesse comum", para que todos se insiram no processo de humanização e desenvolvimento social de sua comunidade. Neste sentido, a Secretaria Municipal de Educação e Cultura (SMEC) da cidade de São Carlos/SP tem várias ações das quais, destacamos três. PROGRAMA ESCOLA NOSSA O Programa Escola Nossa, previsto no referido Estatuto da Educação, visa integrar os agentes sociais e a comunidade num amplo espaço educativo [1]. Tem como meta o combate à exclusão social e a construção de uma nova escola para o século XXI. A estratégia adotada é a abertura das Unidades Escolares, para oferecer opções de lazer, cultura e esportes, aos finais de semana, aos jovens e à comunidade. A necessidade de promover a articulação entre a escola e a comunidade é fundamental, até porque a escola não é um segmento ou instituição isolada do contexto global. Deve estar presente no processo de organização social, de modo que as ações a serem desenvolvidas estejam voltadas para as necessidades comunitárias. Assim, o Programa Escola Nossa faz parte do Plano Municipal de Segurança como uma alternativa no combate à problemática da violência enfrentada pelas escolas e em seu entorno. É um projeto que vem sendo desenhado desde 2003 para ser efetivado na rede municipal de ensino em São Carlos. A natureza do trabalho com os jovens é preventiva e transformadora, buscando modificar a relação dos jovens com a escola, seus amigos, familiares e a comunidade onde vive. Apesar do público juvenil ser o foco principal, as unidades de ensino ficam abertas às crianças, adultos e idosos, resultando em um espaço voltado para o desenvolvimento da própria comunidade.

[1] Lei Municipal nº. 13.889 de 18 de outubro de 2006, art. 4º.

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Algumas experiências demonstram que a abertura da escola para a comunidade -proporcionando atividades educativas, culturais e esportivas à população em geral- diminuiu sobremaneira a depredação do patrimônio público e a violência entre os alunos. OBJETIVOS ESPECÍFICOS: - Abrir espaços de lazer, cultura, esportes e formação para jovens de comunidades com pouca ou nenhuma oferta de atividades sócio-culturais, proporcionando oficinas construtivas aos finais de semana; - Tornar a "escola na comunidade" em "escola da comunidade”; - Fortalecer a relação escola-jovem-comunidade; Incentivar a cultura popular local por meio de ações e estratégias artísticas; - Estimular e envolver segmentos representativos da comunidade, garantindo a filosofia do Projeto, de participação social, e a continuidade das ações; - Promover circuitos para troca de experiências e estimular a formação de novos agentes multiplicadores; - Incentivar a participação da comunidade. METODOLOGÍA: Vista a dimensão de tal projeto, que pretende o envolvimento da comunidade escolar e de seu entorno abordando a questão da redução da violência, pretende-se implementar atividades que fomentem uma Cultura de Paz e de garantia de cidadania. Para tanto, as atividades deverão acontecer de forma integrada e em interseção com todos os segmentos da escola. Serão implantados cinco núcleos de ações preventivas dentro do Programa Escola Nossa, que deverão funcionar baseados nos seguintes pilares: 1] Atividades motoras 2] Arte-educação 3] Atividades de Complementação escolar DIMENSÕES/IMPACTO DO PROGRAMA: Nas atividades, pretende-se atingir crianças, adolescentes e jovens. As famílias e demais adultos também serão atendidos porém, com um número reduzido de atividades ou em programações especiais. Espera-se criar uma cultura de protagonismo da própria população para que realizem nas Unidades atividades de interesse local, incentivando o voluntariado. Para a participação no Programa Escola Nossa serão realizadas inscrições também como meio de ampliar a visualização de público atendido e seu perfil. PROGRAMA DE EDUCAÇÃO FÍSICA ADAPTADA PARA CRIANÇAS, JOVENS E ADULTOS O Programa Educação Física Adaptada (PEFA) tem como objeto de estudo a cultura corporal de movimento voltada às pessoas que apresentam diferentes e peculiares condições para a prática das atividades físicas. Ela não se diferencia da Educação Física em conteúdos, mas em técnicas e métodos específicos. O PEFA, desenvolvido pela SMEC em parcerias com a Secretaria Municipal de Esportes e Lazer (SMEL), Serviço Social do Comércio (SESC) e o Serviço Social da Indústria (SESI) de São Carlos, tem como objetivo proporcionar o pleno desenvolvimento do indivíduo, visando assegurar sua

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participação em programas de atividades físicas e possibilitar a integração do aluno em atividades físicas comuns ou regulares. Atende crianças, jovens e adultos da rede municipal de ensino e também da comunidade, que apresentam necessidades educacionais especiais. Participam do Programa, atualmente, cerca de 50 alunos que apresentam deficiências: auditiva, visual, mental, física ou motora, deficiências múltiplas, autismo e síndromes. ESTRATÉGIAS DE ENSINO: Para atingirmos nosso objetivo são usados como estratégias: - Atividades de recreação (brincadeiras, jogos e atividades lúdicas); - Atividades motoras específicas (ginástica geral, alongamento e relaxamento); - Esportes (natação, atletismo, goalball e futebol de cinco); - Atividades de lazer (passeios em áreas comunitárias); - Eventos esportivos (jogos da primavera especial, jogos regionais do interior, jogos regionais especiais e jogos abertos do interior); - Eventos sociais (festas de confraternização); - Eventos comunitários (atividades oferecidas para a comunidade por entidades locais). A proposta do PEFA tem alcançado êxito com a observação do aumento do nível de desenvolvimento das habilidades motoras e sociais dos alunos, e com conseqüentes comportamentos sociais adequados em espaços comunitários e participação em atividades físicas antes não praticadas pelo grupo, como o ciclismo, a natação e esportes radicais. O PEFA tem a constante preocupação em utilizar, cada vez mais, estratégias de ensino e adaptações para possibilitar a vivência dos mais variados esportes e atividades físicas para as pessoas com deficiência garantindo, dessa maneira, oportunidades de experiências que promovam a autonomia, a confiança e as relações interpessoais, que vão contribuir para o processo de inclusão escolar e social, que, por sua vez, não deve ser resumido apenas na integração das pessoas com deficiência nos vários segmentos sociais, mas na reorganização da consciência comum onde ser diferente não signifique ser melhor ou pior, apenas diferente. PROJETO RECREAÇÃO No Brasil, como em outras áreas em desenvolvimento, a criança em idade escolar vem preocupando as autoridades de Saúde, Educação e Serviço Social, por razões justificadas ante um amplo conjunto de evidências. A falta de atendimento integral, prévio e precoce a escolares interfere negativamente no processo de maturação e na prontidão da criança, prejudicando sua capacidade funcional e de aprendizagem. Crianças que não receberam atenção suficiente e adequada na idade que antecede seu ingresso à escola chegam sem as habilidades indispensáveis para aprender e têm menores possibilidades de responder com êxito às exigências da vida escolar (MELO, 2003). O descuido com os escolares parece estar estreitamente ligado a problemas sérios com que se defrontam nossas autoridades de Educação: os altos índices de repetência e evasão escolares nas primeiras séries do sistema de ensino de 1° grau (POPPOVIC, 1995). Ante as evidências apresentadas, é inegável a necessidade prioritária de atendimento global à criança na idade escolar. Entre outras medidas, temos na recreação, no esporte e a prática regular de atividades físicas instrumentos de desenvolvimento humano e de melhoria da qualidade de vida de toda a sociedade. O Projeto Recreação tem como objetivo principal criar as condições necessárias para o desenvolvimento integral das pessoas, além de promover a participação de forma coletiva e

[2] Goalball: Deporte paralímpico creado para personas ciegas o deficientes visuales. Participan dos equipos de 3 jugadores cada uno. Se juega con una pelota con cascabeles en su interior.

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individual em ações que possam melhorar a qualidade de vida das pessoas. Possui, ainda, o caráter educacional, auxiliando na preservação da natureza humana e na afirmação dos valores imprescindíveis à convivência social e profissional, minimizando a exposição desta em ambiente de risco social (CAVALLARI, 2001, MARCELLINO, 2000). O Projeto Recreação desenvolve suas atividades no contra-turno escolar oferecendo atividades de iniciação esportivas, culturais, artísticas e reforço escolar visando a formação esportiva, educacional, a integração social, a valorização da cidadania e desenvolvimento integral de nossas crianças. As atividades desenvolvidas são: iniciação esportiva, festivais, competições, jogos recreativos, atividades de lazer e culturais executadas por professores de Educação Física.

BIBLIOGRAFÍA Cavallari, V. & Zacharias, V., “Trabalhando com recreação”, São Paulo, Ícone, 2001. Guedes, J.E.R.P. y GUEDES, D.P., “Características dos Programas de Educação Física Escolar”, Revista Paulista de Educação Física, São Paulo, Vol. 11, Nº. 1, pag. 49-62, jan./jun., 1997. Marcellino, N. C., “Estudos do lazer: uma introdução”, Campinas, Autores associados, 2000. Melo, V. A., “Lazer e minorias sociais”, São Paulo, Ibrasa, 2003. Mosqueira, C., “Educação Física para Deficientes Visuais”, Río de Janeiro, Editora Sprint, 199-?. Munster, M.A.V. y SouzaA, J.V., “ Educação Física e Deficiência: subsídios para a inclusão”, In: Curso de Capacitação, jul. 2006, Secretaria Municipal de Educação e Cultura, São Carlos, 2006. Poppovic, A.M., Espósito, Y.L. & Malta Campos, M.M., “Marginalização cultural: subsídios para um currículo escolar”, Cad. Pesq. Fund. Carlos Chagas, 14:7-23, 1995. Rosadas, S.C., “Educação Física Especial para Deficientes”, Río de Janeiro, Editora Atheneu, 1991. Tavare, M.C.G.F. et al., “Uma proposta de avaliação inicial para a inclusão de pessoas portadoras de deficiência em programa de atividade física adaptada”, SOBAMA Revista da Sociedade Brasileira de Atividade Motora Adaptada, Vol. 2, Nº. 2, pag. 5-9, nov. 1997.

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“SÃO PAULO E O ESPORTE: PROGRAMA CLUBE ESCOLA” Autoría: Integrantes do Programa Municipal Clube Escola [*] São Paulo | Brasil

São Paulo, com mais de 11 milhões de habitantes, é a quarta maior cidade do planeta. Pólo comercial e econômico mais relevante do país, o município tem como característica marcante a desigualdade social. Se, de um lado, uma pequena parcela da população concentra a maior parte da renda, outra grande fatia não tem acesso a direitos básicos, como educação, segurança e saúde. Com vistas a amenizar essas dificuldades, São Paulo vem passando por um processo de valorização do Esporte, considerado um meio eficaz de inclusão social em várias dimensões. Nesse contexto, surge o Clube Escola, uma proposta sócio-educativa cuja finalidade é oferecer ao paulistano, em especial crianças, adolescentes e familiares, a oportunidade de desenvolvimento integral a partir do acesso a diferentes atividades físicas, esportivas, artísticas, educativas, de lazer e recreação. O objetivo principal do Clube Escola é contribuir para a melhoria do Índice de Desenvolvimento Humano - IDH local , com a integração entre o clube, a escola, a família e a comunidade. Este índice parte do pressuposto de que para medir o avanço de uma população não se deve considerar apenas as questões econômicas, mas também outras características sociais, culturais e políticas que influenciam a qualidade da vida humana. A implantação do Clube Escola busca o fortalecimento das políticas públicas das áreas de esporte, lazer e recreação, saúde, educação, cultura, promoção social e inclusão digital. A IMPORTÂNCIA DE UM PROGRAMA COMO O CLUBE ESCOLA Esporte, Lazer e Recreação são direitos sociais de cada cidadão, garantidos por uma série de regulamentações, como a Constituição Federal e o Estatuto da Criança e do Adolescente, além da Lei de Criação da Secretaria Municipal de Esportes, Lazer e Recreação. Em outras palavras: é dever da Secretaria fazer a elaboração, implantação, implementação e avaliação das políticas públicas para a área. Os documentos legais, as pesquisas e estudos sobre projetos e programas sócio-educativos destacam a importância do esporte como instrumento de educação, melhoria da qualidade de vida e saúde, e sua contribuição para crianças e adolescentes em circunstâncias de vulnerabilidade social. Ainda que esse programa não seja exclusivo para a população que se encontra nessas circunstâncias, certamente trará mudanças benéficas aos indivíduos, auxiliando no combate à vulnerabilidade social. Mais do que isso, pretende contribuir para o desenvolvimento integral da população de São Paulo, com o desenvolvimento de competências que permitam às crianças e seus

[*] Sheila Aparecida Pereira Dos Santos Silva, Eder Dos Santos Brito y Rodrigo Furlan.

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familiares o acesso a diferentes atividades físicas, esportivas, artísticas, educativas, culturais, de lazer e recreação. Desse modo, é estimulada a criação de oportunidades de aprendizado através da convivência social, da ampliação do universo cultural, exploração de atividades lúdicas, artísticas e esportivas, aquisição de informação, acesso às tecnologias da informação e incentivo a vida comunitária. Diante de grandes desafios, os bons resultados são conseguidos quando se realiza ações como melhorar a educação por meio de uma formação integral de qualidade e fortalecemos, nas diferentes políticas sociais, o compromisso com a inclusão social aos que dela necessitam para poder acessar os recursos educativos disponíveis. Somente a educação é capaz de assegurar a aprendizagem em todas as áreas da vida e de propiciar o enriquecimento de todas as potencialidades da criança, seja na aprendizagem escolar, seja para seu crescimento pessoal e social. Assim sendo, para se atender à população em situação de vulnerabilidade social, é necessário promover a integração e articulação de diferentes áreas e políticas públicas específicas. O programa Clube Escola propõe uma ação pública local, que favorece a articulação entre as áreas sociais públicas, a escola e as organizações sócio-comunitárias. Cada uma delas agindo de maneira a ressaltar os seus pontos fortes. Além disso, o Clube Escola busca uma aliança entre diferentes atores sociais que aceitem compartilhar a responsabilidade social da educação com o poder público. CARACTERÍSTICAS DAS ATIVIDADES PROPOSTAS PELO CLUBE ESCOLA O Programa Clube Escola é pautado pela Declaração Mundial de Educação para Todos da UNESCO (1990), afirmando que a educação é indispensável para a diminuição das desigualdades sociais. Toda pessoa – criança, adolescente ou adulto – deve se beneficiar de uma formação voltada para atender às suas necessidades educativas fundamentais, como leitura, escrita, expressão oral, cálculo, resolução de problemas, conhecimentos, aptidões e valores Essas características são essenciais para que o ser humano consiga sobreviver, desenvolver todas as faculdades, viver e trabalhar com dignidade, participar plenamente do seu desenvolvimento, melhorar a qualidade de sua existência, tomar decisões esclarecidas e continuar a aprender. Tais princípios pedagógicos podem ser concretizados por meio dos conteúdos propostos no Clube Escola. A base do programa é a Cultura Corporal, que engloba jogos, brincadeiras, modalidades esportivas, lutas e artes marciais, danças e atividades expressivas, ginásticas, atividades circenses e/ou acrobáticas, técnicas de relaxamento e de consciência sobre o próprio corpo. Ao mesmo tempo, outras atividades culturais como a leitura e o domínio das tecnologias digitais serão integradas à Cultura Corporal para promover educação ao cidadão, atendendo à realidade social atual na qual a escola, a família e as instituições religiosas não são as únicas responsáveis por essa função. Para a concretização dessas idéias, foram organizadas parcerias intersecretariais, com a Coordenação das Subprefeituras, Verde e Meio Ambiente, Educação, Participação e Parceria, Cultura e Saúde, todas em âmbito municipal. Em termos estaduais, parceria com as Secretarias do Verde e Meio Ambiente e da Educação. Espera-se que a experiência proporcionada pela vivência desses conteúdos permita aos participantes adquirirem conhecimentos sobre si mesmos, sobre o relacionamento interpessoal e sobre os conteúdos abordados, para utilizar esses conhecimentos de modo produtivo no dia-a-dia. Em suma, o Clube Escola prepara jovem para analisar criticamente as diversas situações da vida e decidir por si

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mesmo nas diferentes ocasiões pelas quais ele passar. Por fim, características como diálogo, participação, autonomia, empatia, respeito, cooperação, significatividade e aprimoramento, são conceitos essenciais e que servirão de base para todas as atividades desenvolvidas pelo programa. Para que estas propostas saiam do papel, é necessário um perfil de profissionais alinhados aos conceitos apresentados nesse documento. Para isso, estão previstas ações de educação continuada, que acontecerão por meio de seminários, workshops, cursos e palestras. ALGUNS DOS OBJETIVOS DO CLUBE ESCOLA - Oferecer ao munícipe, em especial, crianças, adolescentes e jovens em situação de vulnerabilidade social, a oportunidade de acesso a diferentes atividades e manifestações da cultura corporal, arte, educação, lazer e recreação; - Favorecer a aquisição de competências e valores para o desenvolvimento integral; - Propiciar a integração entre família, clube, escola e comunidade, colaborando para o desenvolvimento integral do cidadão e contribuindo para a melhoria do IDH local. - Desenvolver habilidades de aprendizagem que promovam o desenvolvimento social, afetivo, cognitivo e psicomotor, por meio das atividades da cultura corporal, artísticas, de lazer, culturais e de inclusão digital; - Incentivar a prática esportiva, promovendo saúde e qualidade de vida; - Promover ações que estimulem a participação da família e comunidade nas atividades do Programa. GERENCIAR BEM É UMA NECESSIDADE Cabe à Secretaria de Esportes gerenciar o programa, promovendo o desenvolvimento das políticas públicas de atividades físicas, esportes e lazer, coordenando as ações inter-secretariais, utilizando como ferramenta a estrutura regional, através de suporte técnico pedagógico e operacional. Os locais nos quais serão desenvolvidas as práticas de aplicação das políticas públicas, através de dados reais, devem reportar as necessidades de conteúdos para educação continuada dos agentes e remodelação das atividades, de modo a aperfeiçoar os trabalhos. Quanto aos responsáveis por esse gerenciamento, a coordenação geral do Clube Escola, em suas subdivisões, tem o encargo de direcionar as ações realizadas nas unidades do programa. Outras figuras também possuem notável importância, como as dos gestores técnicos - fazer a intermediação entre a Secretaria Municipal de Esportes, Lazer e Recreação e o clube, dos coordenadores de equipamento - responder pela manutenção da unidade, dos supervisores de esporte - mobilizar e gerenciar a região na qual o clube está inserido, e dos TEF’s (Técnicos de Educação Física - responsáveis diretos pela execução das atividades propostas pelo programa. LOCAIS JÁ ATENDIDOS PELO PROGRAMA Desde 2007, quando foram organizados os primeiros projetos-piloto, o Clube Escola já inaugurou suas atividades em 84 equipamentos esportivos municipais. Dentre esses clubes, estão inseridos os Clubes da Cidade (administração direta da Prefeitura), Clubes da Comunidade (administração indireta) e parceiros do Terceiro Setor. O QUE UM CLUBE ESCOLA OFERECE À POPULAÇÃO? As atividades variam de unidade para unidade, devido à estrutura existente em cada clube. Dentre as modalidades mais praticadas, pode-se dividir em algumas categorias: - Modalidades Tradicionais: Futebol, Basquete, Handebol, Vôlei, Atletismo, Tênis, Ginástica Artística - Modalidades de Luta e Artes Marciais: Judô, Taekwondo, Boxe, Luta Olímpica, Karatê, Jiu-Jitsu

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- Modalidades Recreativas: Danças, Hidroginástica, Circo, Tai Chi, Yoga, Xadrez - Outras Modalidades: Capoeira, Peteca, Rúgbi, Golfe, Esportes Náuticos ESPECIALIZAÇÃO E ALTO RENDIMENTO Algumas modalidades já contam com Clubes Escola Temáticos, isto é, direcionados para uma única atividade. Um deles é o Clube Escola Temático de Tênis, situado no Estádio do Pacaembu e orientado pela ex-tenista Patrícia Medrado. Outro deles é o Clube Escola de Ciclismo, feito em parceria com a Federação Paulista da modalidade. Já está em funcionamento também o Clube Escola de Esportes Náuticos, o Projeto Revelar, organizado no Clube ADC Eletropaulo, às margens da Represa do Guarapiranga. PRÓXIMOS PASSOS DO CLUBE ESCOLA Já estabelecido em São Paulo, a expectativa é de que o Clube Escola seja estendido a um total de 300 clubes até o fim de 2009. Com isso, quase dois milhões de paulistanos estarão envolvidos diretamente com o programa, entre crianças, adolescentes, adultos e terceira idade.

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III: ADULTOS E ADULTOS IDOSOS

- Montevideo - Paysandú



“O ESPORTE NOS BAIRROS, PERTO DOS VIZINHOS” Autoría: Integrantes do Departamento de Cultura da Secretaria Municipal de Esportes [*] Montevideo | Uruguay

O trabalho comunitário relacionado com disciplinas e ciências é bastante recente. O mesmo acontece no âmbito do Esporte e do seu entorno. A primeira pergunta que devemos nos fazer é o porquê do termo “Esporte” e não outro. Este vocábulo é usado há muito tempo como conceito geral e abrangedor, onde está implícito o jogo, a ginástica, a recreação e o esporte no sentido mais amplo. No ano de 1990, quando Tabaré Vázquez assume a Prefeitura de Montevidéu, se produz uma reestruturação política profunda a nível de cidade, que envolve muitos aspectos, mas que salienta uma nova forma de organização que levava implícitas transformações na política social e cultural. Montevidéu muda de rumo e começa a ser pioneira no país, criando a sua própria história. Em 22 de outubro de 1990, nesta virada de rumo, surge a Comissão de Esportes, atualmente Secretaria de Educação Física, Esporte e Recreação (Fevereiro de 2005). Desta forma, por primeira vez, passa a existir na Prefeitura Municipal de Montevidéu um organismo organizador desta temática. Para desenvolver o assunto, devemos estabelecer alguns princípios: a construção de políticas esportivas municipais constitui uma novidade recente em nosso país. É por isso que a experiência montevideana foi e continua sendo objeto de observação e é tomada como referente, neste sentido, do processo de elaboração de estratégias a nível nacional. Desde o começo esteve presente, como objetivo prioritário, o lema de melhorar a qualidade de vida de todos os montevideanos, mediante desenhos de políticas culturais e sociais que priorizavam a inclusão social. Paralelamente, o papel do cidadão vem tomando um giro significativo neste processo histórico. Aliás, sabemos que através da história o conceito de “cidadão” não teve uma definição unívoca e imutável, mas que foi se modificando, acompanhando os processos histórico-sociais. Assim, por exemplo, num princípio o “cidadão” era visto apenas como um membro que pertencia a uma cidade, a uma comunidade. E como tal, tinha obrigações, deveres e também direitos. Nas conceitualizações, o papel daqueles direitos comuns a toda comunidade como a saúde, a educação e o bem-estar geral vão sendo salientados. Além disso, outro aspecto relevante que aparece vinculado à idéia de Cidadão é o direito ao voto, aspecto circundante da democracia atual em quase todo o mundo. Com relação aos deveres e obrigações, aparece como prioritário o respeito aos direitos dos outros e à contribuição ao bem comum (por exemplo, o pagamento de impostos); assim como o respeito aos valores onde se incluem a justiça e a igualdade. O conceito de cidadania se transformou com o passar do tempo. Acompanhou todos os acontecimentos da história desde a antiga Grécia, onde os cidadãos eram somente homens, e as mulheres não podiam participar da vida política. Hoje, esta imagem retórica não representa a intencionalidade de uma política amplamente participativa que é a que a nossa sociedade está

[*] Prof. Gonzalo Halty, Diretor. Lic. Antonio Araujo Mendoza, Professor de Educación Física.

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transitando, onde o respeito pelos direitos humanos faz com que cada cidadão seja portador dos mesmos, seja nas condições que forem, onde viva ou a que classe sociocultural pertença. CIDADÃO SUJEITADO-DESSUJEITADO: “A DESCENTRALIZAÇÃO" Não cabe a menor dúvida de que a nova estratégia política utilizada no caso de Montevidéu rendeu um resultado positivo que é indiscutível. O baluarte primordial de toda esta política foi a descentralização. Como em toda mudança, no começo houve dificuldades em resolver certas questões; mas este tem sido um processo que continua até hoje e agora a comunidade passou a entendê-lo, participando amplamente. Neste novo processo de gestão participativa proposto pelo governo desde aquela época foram-se derivando funções, que antes se encontravam centralizadas, a diferentes centros municipais. Desta forma, atualmente Montevidéu está dividida em 18 zonas administrativas chamadas de Centros Municipais Zonais (CCZ- Centros Comunales Zonales), que estão agrupados em 3 regiões que concentram 6 CCZ cada uma. Isto possibilitou conhecer mais de perto as distintas realidades da cidade. Através desta nova forma de organização, o conceito de cidadão e de cidadania foi se transformando. Como já vimos, o cidadão tem direito e obrigações; mas daqui por diante ele é convidado a participar das distintas políticas e das situações vividas em cada Centro Municipal. Antes o cidadão era passivo, era sujeitado pelas obrigações e não participava das políticas de seu município ou zona. Foi através destas mudanças que o cidadão foi se incorporando progressivamente na ação direta e conheceu o comprometimento da participação como uma opção válida para melhorar, elaborando as mudanças tão desejadas por todos. Com relação ao exposto, nossa Secretaria de Esportes foi acompanhando este processo de construção de cidadania e neste período começou a atuar num processo de aprofundamento político do que já tinha sido iniciado anos atrás. Em conjunto com os seus funcionários definiram como missão: “Criar uma Política Municipal nas áreas de sua especialização que desenhe, promova, administre, coordene e execute ações com todos os setores da população de Montevidéu, com o propósito de ampliar o direito à prática da atividade física, fortalecendo a participação cidadã organizada, a integração e a inclusão social, com a conseqüente melhoria na qualidade de vida das vizinhas e vizinhos”. A fim de atingir o propósito, apresentamos os seguintes objetivos gerais: 1] Favorecer a elaboração de programas de desenvolvimento integral onde se promova a atividade física regular, a integração e a inclusão social. 2] Fortalecer o processo de descentralização, dando impulso à participação organizada dos vizinhos através da Educação Física, do Esporte e da Recreação. 3] Promover a criação e o desenvolvimento de uma política democratizante do adequado acondicionamento, uso e gestão dos bens sociocomunitários destinados à atividade física e à livre recreação. Como sustentava Rousseau, para compreender o conceito de cidadão devemos mencionar a passagem do homem natural ao homem social. A partir dessa concepção se compreende que as mudanças são necessárias. Podemos estar de acordo ou discordar dos preceitos deste filósofo, mas o que se resgata é que “a arte da correção” que se dá na sociedade e que gera mudanças possibilita a aquisição de valores como o amor ao próximo, a virtude, a prevenção e também outros sentimentos tais como o egoísmo e a disputa. Através destes objetivos buscamos uma mudança de consciência no vizinho-cidadão onde tenha obrigações, mas também direitos essenciais de saúde, de educação e de bem-estar geral. São convidados e estimulados a serem ativos, atores de suas mudanças, promotores e sujeitos dessas mudanças, partícipes que transformem a realidade da qual procedemos. Desta forma, eles passaram

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a ser os atores responsáveis de muitas das mudanças que já foram realizadas e de outras ainda em processo. Nossa Secretaria pretende, por meio de nossa missão e de nossos objetivos, que o “esporte” não seja simplesmente uma experiência passageira onde se fale somente da atividade em si. Mas que possa ser sentido, vivenciado e que seja um instrumento que modifique o comportamento da vizinhança, para assim atingir uma melhor qualidade de vida da população. Para cumprirmos ou aproximarmos a tais propósitos, realizamos diferentes programas que mencionamos a seguir: - Atendimento a Pessoas com Deficiências - Atendimento a Adultos Maduros e Idosos - Programa Bairrial - Programa Praias - Administração e Gestão de Grandes Cenários Esportivos - Programa de Parques - Escolas Municipais A fim de desenvolver cada um destes programas, o planejamento e os recursos variam dependendo de cada história e das necessidades. Mesmo que os recursos materiais ou humanos não sejam os ideais e esperados, - já que nossa Prefeitura presta atendimento a diferentes Serviços, Departamentos e Secretarias – tentamos realizar estratégias específicas segundo o ponto de partida estabelecido em cada caso, a fim de atingir o que foi planejado. Cada um destes programas merece um desenvolvimento próprio. Gostaríamos de nos deter em um em particular, que por várias circunstâncias pode ter muitas conexões e aproximações com os outros programas mencionados, mas também uma relação direta com muitas experiências de outras cidades, municípios e/ou prefeituras. Este é o programa “Bairrial”, que como tal tem suas origens e história própria. Como já mencionamos, nossa cidade está dividida em áreas administrativas que chamamos de Centros Municipais Zonais (CCZ / Centros Comunales Zonales). Em cada um dos centros há um diretor, pessoal administrativo e equipe técnica. É importante salientar a existência de uma Equipe Social que tenha por objetivo a realização de um trabalho multidisciplinar e, quando é possível, interdisciplinar. Como já mencionamos, a integração de profissionais em cada CCZ varia, mas sempre estão presentes os Assistentes Sociais e um Professor de Educação Física, que é denominado Animador Bairrial devido à função que desempenha. O professor ou animador como funcionário da comunidade, à diferença do papel docente de outras instituições, se caracteriza por sua integração na mesma através do diálogo, vinculando-se diretamente com os diferentes atores, fazendo os diagnósticos e trabalhos desde a própria comunidade e em conjunto com esta, para depois realizar a sua intervenção. Ele é o responsável pela contribuição ao desenvolvimento das políticas culturais e sociais, através da promoção de atividades esportivas-recreativas de cada bairro, de cada zona, levando em conta as distintas variáveis que surgirem dos vizinhos e das instituições locais, além dos alinhamentos estratégicos da própria Secretaria de Esportes a nível departamental. Um dos mecanismos mais utilizados é o trabalho em redes. Esta ferramenta é essencial para todos os profissionais que trabalham na comunidade. Os animadores bairriais inseridos na comunidade, buscam criar diferentes redes de trabalho entre todos os atores. Temos exemplos claros de redes frente a certas propostas de vizinhos; redes entre profissionais de cada município e entre todos os animadores de nossa secretaria. Apresentam caráter móbil e adaptável a cada ocasião e representam uma ferramenta de trabalho imprescindível. É neste ponto que surge outro papel do animador esportivo, como sendo o receptor de todas as inquietudes e propostas de caráter individual ou coletivo, para coordenar e articular os diferentes interesses de todos os atores. As instituições esportivas geralmente são antigas e desconhecem os

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regulamentos municipais. Aqui o docente é assessor, mas deve orientar na boa utilização do equipamento e das instalações esportivas em geral. Deve favorecer e gerar o desenvolvimento e o uso dos novos espaços públicos e dos já existentes, cumprindo com todos os convênios celebrados e revendo outros. Como observamos, o trabalho do Animador Esportivo é complexo pela inovação, pela variedade e pela grande responsabilidade que tem a seu cargo. As ações realizadas variam dependendo da realidade, do contexto, de sua formação, da experiência, das demandas e das necessidades do município. Isto traz riqueza de experiências inquestionáveis e de grande valor que, por sua heterogeneidade, salienta mais ainda o seu desempenho. Entre muitas das ações executadas pelo docente, destacamos: - Gestão de espaços esportivos e recreativos municipais. - Trabalho com outros programas da própria Secretaria, oferecendo apoio informativo e facilitando a gestão. Oferece apoio a docentes em atividades pontuais. - Organização de ligas esportivas - Colaboração em grandes eventos. - Planejamento, organização de acontecimentos bairriais específicos (dia da criança, palestras de técnicos em datas especiais). - Apoio e assessoramento à vizinhança e às instituições de diversos tipos, para organizar eventos ou atividades esportivas-recreativas. - Passeios. - Oficinas de jogos. - Cursos e oficinas práticas. - Corridas e caminhadas. · - Cursos a referentes esportivos bairriais em recreação e futebol infantil. - Trabalho com a área de Saúde Municipal sobre diferentes temas (hipertensão, diabete, cardiovascular, etc.). Dentre as experiências a serem destacadas, merecem menção especial: A) OFICINA DE PIPAS OU PAPAGAIOS A brincadeira de empinar pipas ou papagaios na nossa cidade representa uma atividade tradicional durante a primavera. O vínculo intergeracional que isso gera pode ser destacado ante outras ações, devido a que facilita o relacionamento na família, entre adultos e crianças, entre o avô e o neto. Nossos docentes têm trabalhado na dinâmica de oficinas e de empinamento de pipas ou papagaios há quase 10 anos. Esta é uma das estratégias de intervenção social nos diferentes bairros onde realizam suas atividades. O começo destas propostas sempre surge da identificação de referentes locais que possam dar apoio no seu desenvolvimento. Uma comitiva de vizinhos, um clube esportivo, um grupo de adultos maduros e idosos, entre outros. A dinâmica promove a construção das pipas ou papagaios artesanalmente como uma forma de gerar o processo de diálogo e de transferência de conhecimentos entre várias gerações. Também foram realizados vários “eventos de empinamentos” (“colmeteadas”), onde se reuniram em um só lugar as diversas oficinas feitas na cidade, tendo em alguma destas atividades até 800 papagaios no ar.

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B) RUAS DE RECREIO A dinâmica das ruas de recreio se trata de jornadas de recreação, jogos e esportes nas ruas da cidade. Esta estratégia é definida em razão de levar a proposta onde o vizinho está e não ao revés, o vizinho ao lugar da atividade. Isto gera uma série de processos de apropriação das propostas que muitas vezes terminaram em processos de intervenção social, que em ocasiões fortaleceram lideranças comunitárias locais. Embora estejamos falando de atividades pontuais de uma vez por semana em alguns casos, ou de maior freqüência em outros, a verdade é que sempre procuramos decidir o local da atividade em conjunto com os vizinhos. O conteúdo da atividade está muito vinculado à questão lúdica (animação de jogos, brincadeiras e recreação, xadrez, tênis de mesa, esporte de rua, jogos infláveis, plástica, etc.). Entretanto, também se promove, durante a jornada, a apresentação de números artísticos ou musicais de propostas que existam no bairro, dando lugar a iniciativas locais para que tenham a oportunidade de mostrar aos seus vizinhos aquilo que fazem. A Secretaria dispõe de uma série de material que leva oportunamente como apoio, mas também, e em muitos casos, as propostas são elaboradas com os atores locais. Finalmente, este é um espaço onde muitos referentes da vizinhança surgem como líderes naturais, e é com eles que depois se realizam cursos de animadores em recreação. Desta maneira, seguimos fortalecendo a descentralização e promovemos a transferência dos conhecimentos para que sejam os próprios vizinhos que em seguida possam seguir desenvolvendo este tipo de atividades. CONCLUSÕES A experiência de todos estes anos no trabalho comunitário nos ensinou muito. Também nos obrigou a nos especializarmos e a valorizar na exata medida as estratégias a serem utilizadas, encontrando no esporte e na recreação uma ferramenta de intervenção social privilegiada que pode contribuir de maneira mais que substancial aos processos bairriais e ao empoderamento das comunidades. Em muitos casos, fomos partícipes da iniciação de processos comunitários onde a construção de cidadania foi o eixo transversal. Também contribuímos aos valores que entendemos como essenciais no processo de construção da participação cidadã, já que muitas das tarefas que se realizam surgem e se processam a partir das iniciativas locais. Não há dúvidas de que a identidade cultural comunitária gera determinados aspectos que o profissional deve respeitar, e é nesse processo que nossos docentes trabalham cotidianamente. Construir políticas públicas esportivas a nível municipal deve ser sempre em uma direção que consolide os processos participativos, pois de outra maneira os vizinhos nunca poderão apropriar-se das mesmas.

BIBLIOGRAFÍA Heater, Derek, “Ciudadanía. Una breve historia”, Alianza Editorial, Madrid, 2007. Mier Bueno, Leonardo, Doctorando de la Universidad Carlos III, España, “Una aproximación al concepto de ciudadano desde la idea de la igualdad", Revista de Educación y Cultura de la Sección 47 del SNTE.

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“CONTA QUEM CONTA: PROGRAMA DE ALFABETIZAÇÃO COM A FAMÍLIA” [*] Autoría: Ms. María Noel Guidali y Mabel De Agostini Montevideo | Uruguay

ANTECEDENTES Recentemente a UNICEF revelou uma dura realidade em Paysandu, onde a porcentagem de crianças e adolescentes pobres (entre 0 e 17 anos) ascende a 58,6%, enquanto que o nível geral de pobreza está na ordem de 39,7% da população sanducera. O sufocante peso da pobreza na infância, o fracasso escolar, o difícil acesso ao mercado de trabalho, a falta de horizontes para crianças e jovens são problemas tão gravitantes que não podem ser deixados de lado. No ano de 2004, alguns dos seguintes dados configuravam o cenário em que foi criado o Programa “Conta Quem Conta”: - A pobreza chegava a 56,5% das crianças uruguaias de 0 a 5 anos. - A porcentagem de crianças que repetiram o Primeiro ano de educação primária ou ensino fundamental nas escolas públicas de Paysandu foi de 25%. - Das crianças que ingressavam à 1ª série do ensino fundamental ou escola primária, somente 33% conseguia completar a educação secundária ou ensino médio. - Nas zonas de pobreza extrema de nosso país, 46% das mães não completavam a escola primária ou ensino fundamental. Diante desta impactante realidade de nosso Departamento é que a Prefeitura de Paysandu decidiu implementar, em 2006, - em caráter de experiência piloto - uma proposta educativa inovadora (Programa “CONTA QUEM CONTA”) planejada por docentes locais, e focada em envolver as famílias das crianças dos setores mais desfavorecidos no processo de aprendizagem de seus filhos, recuperando assim o valiosíssimo papel da família como primeiro agente alfabetizador. O Programa se desenvolve no marco da Prefeitura de Paysandu e graças ao apoio financeiro do Ayuntamiento de Fuenlabrada, Madri, durante os anos de 2007, 2008 e 2009. O impacto se dá na cidade de Paysandu, nos oito Centros Comunitários de Educação Infantil (CCEI), que dependem da Prefeitura de Paysandu nos bairros San Félix, Purificación 3, Norte, Don Bosco, Centro, Nuevo Paysandu, Artigas e na localidade de Pueblo Porvenir. O citado Programa está sob responsabilidade das Professoras que o criaram, Mabel De Agostini e Maria Noel Guidali. FUNDAMENTAÇÃO A partir das pesquisas realizadas pelas docentes criadoras do Programa [1], se constata que o problema do ensino e da aprendizagem da língua que atualmente atravessa a escola está enquadrado em um contexto amplo e complexo que determina, em grande medida, as dificuldades evidenciadas na apropriação do código escrito nas primeiras séries da educação primária, fator que condiciona o desenvolvimento de todo o processo educacional e determina sua formação cidadã. Pudemos identificar como problema, que a criança inicia o processo de aprendizagem da língua [*] A proposta é o resultado de uma pesquisa realizada pelas citadas docentes durante um ano sabático concedido pelo Conselho de Educação Primária. Responsável pela Coordenação do projeto: Dr. Mario Eduardo Córdoba Vita, Diretor de Promoção Social. [1] “Ler e escrever…é realmente uma questão de sentido?”,Pesquisa da ANEP, Guidali e De Agostini, 2005 .

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escrita em contextos que lhe oferecem escassas oportunidades de vivenciar a função social da leitura e da escrita como ferramentas de apropriação da cultura, desenvolvendo assim, uma atitude lingüística negativa que determina a qualidade do processo de sua aprendizagem e a exclui social e culturalmente. A família parece ter perdido o papel como primeiro agente alfabetizador, já que as mudanças sociais e culturais vividas nestas últimas décadas motivaram que as oportunidades de alfabetização das crianças comecem somente quando elas ingressam à educação formal. Portanto, a idéia de peso deste projeto pretende que as famílias de contextos menos alfabetizadores possam fortalecer o seu próprio processo de alfabetização e, desta maneira, poder atuar como agentes educativos no momento de aproximar a criança à cultura da escrita. Consideramos necessário explicitar a que nos referimos quando falamos de “Contextos menos alfabetizadores”: baixo nível de escolaridade materna, exclusão da criança da participação ativa na comunicação familiar, adultos que não são usuários da língua escrita nem dão valor cultural a esta atividade, bairros suburbanos, zonas rurais com ausência de cartazes, de nomenclatura de ruas em seu entorno, lares desprovidos de textos sociais e literários, baixa auto-estima e desconhecimento de seu potencial educativo, etc. A partir da citada pesquisa, nossa percepção sobre a situação do ensino e da aprendizagem da Língua nos permite estabelecer algumas conclusões gerais: - A alfabetização constitui um processo profundamente social que começa nas relações das crianças com os adultos mais próximos e se expressa e se elabora em comunidades cada vez mais amplas: em casa, na rua, no jardim, na escola, etc. - As atividades que promovam a leitura devem ser formuladas a partir das necessidades das comunidades que consideramos dentro dos contextos menos alfabetizados. - O desenvolvimento da alfabetização depende do meio no qual as crianças crescem, e nas formas em que o ambiente lhes oferece a possibilidade de rodear-se de cartazes, outdoors, livros, papel e utensílios para escrever. Compreendemos que este ambiente não se refere unicamente ao entorno físico da criança, mas também às relações humanas que determinam com que freqüência e em que situações a criança é colocada em contato com as ferramentas, os materiais, os usos e os significados da alfabetização. - Quando uma criança cresce em um ambiente alfabetizado, a língua escrita se converte naturalmente em um objeto de conhecimento que ela deseja incorporar. Através de sua experiência, a criança constrói o conhecimento sobre a língua, imita atos de leitura e de escrita, compreende a finalidade de ler e escrever. - Quanto maior o estímulo que receber, maior será a construção do conhecimento sobre a língua oral e a escrita. Em contrapartida, cada vez há mais crianças que crescem em contextos não alfabetizados e que, portanto, não oferecem possibilidade de presenciar os múltiplos atos da leitura e da escrita. - Na medida em que ler e escrever se convertam para a criança em ferramentas necessárias para resolver problemas de sua vida cotidiana, mais natural e exitoso passa a ser o processo de apropriação do código escrito. Nesses contextos “menos alfabetizadores” as crianças têm escassas ocasiões de prática da língua escrita e, portanto, poucas vezes experimentam a vivência de resolver problemas através desta forma de expressão. - Acreditamos que a alfabetização não deve estar restrita unicamente ao âmbito escolar, mas que devem ser implementadas ações para que a família recupere o papel alfabetizador perdido, e se potenciem ambas as instituições, para dessa forma impactar positivamente nas atitudes lingüísticas das crianças. - É preciso salvar uma potencialidade dupla: a das crianças e a das famílias. Esta estratégia bipolar nasce de um diagnóstico preciso dos pontos críticos que decidem o desenvolvimento do binômio criança-família. E também, a partir de formas de intervenção que se apóiem nesta dupla

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potencialidade. Portanto, insistimos em que o contexto familiar e comunitário, como primeiro agente alfabetizador, determina e condiciona a predisposição necessária a fim de abordar toda a aprendizagem de forma significativa. - A teoria dos afetos e das emoções profundas resulta menos complexa se identificarmos sua origem na forma particular da relação afetiva entre a criança e sua mãe ou com o adulto que tiver como referência. Cada vez fica mais evidente que tais situações de relacionamento são marcos privilegiados para a aquisição e para o desenvolvimento da linguagem, e propiciam a principal motivação para que a criança possa atingir a compreensão do mundo real. - Da experiência acumulada ao longo dos anos trabalhando com as famílias, constatamos que na proporção em que os adultos sentem que possuem um espaço de reencontro com a leitura através de atividades prazenteiras, também adquirem maior disposição para estimular o processo de apropriação da leitura de seus filhos. Paralelamente, evidencia-se que ao oferecer-lhes um espaço de encontro com seus filhos, podendo compartilhar e vivenciar experiências gratas, o vínculo afetivo é ativado e se fortalece, gerando então, situações de interação familiar com a leitura. Em função dos elementos expostos anteriormente, foi elaborado o Programa “Conta quem conta”, como uma alternativa de abordagem aos desafios propostos. “É mais útil ajudar à família a poder ajudar seus filhos, que substituí-la naquilo que ela mesma pode fazer”. [Alberto Viques] OBJETIVO GERAL: Contribuir para gerar processos de eqüidade e inclusão social e cultural, favorecendo a solidez da qualidade da educação das populações em situação de pobreza, através do envolvimento das famílias no processo de alfabetização de seus filhos. OBJETIVOS ESPECÍFICOS: Em relação com o educador 1] Facilitar a incorporação às práticas educativas de uma estratégia de ação dupla, que vise completar a alfabetização do adulto que a criança tiver como referente, a fim de que ele seja capaz de potencializar o processo de leitura na criança. 2] Integrar uma metodologia participativa que inclua a ação da família dentro do processo de ensino e de aprendizagem da leitura nas 1as. séries do Ensino Fundamental ou Educação Primária. 3] Promover e assegurar o vínculo entre as famílias e suas instituições educacionais de referência. Em relação com a criança 1] Promover na criança as atitudes lingüísticas necessárias para que avance na apropriação do significado do código escrito, através de vivenciar o uso social da leitura no seio de sua família. Em relação com a família 1] Sensibilizar acerca da importância de seu papel como primeiro agente alfabetizador, envolvendo-a ativamente no processo de apropriação do código oral e escrito de seus filhos. 2] Promover o avanço no processo de alfabetização dos adultos envolvidos. 3] Ampliar o universo cultural da comunidade ao entrar em contato com a literatura infantil de autores nacionais e latino-americanos. DESCRIÇÃO GERAL DO PROJETO O projeto que apresentamos enfatiza a alfabetização como processo fundamentalmente familiar e comunitário, e valoriza como conseqüência, o papel insubstituível da família no momento de aproximar a criança à leitura e à escrita como ferramentas de construção da cultura.

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ESTRUTURA DO PROGRAMA: O Programa está composto por dez Oficinas de trabalho com as famílias e/ou referentes familiares, e educadores dos Centros mencionados. Cada Oficina terá uma duração aproximada de duas horas, e serão realizadas semanalmente. A estrutura geral do Programa apresenta-se a seguir:

Nº de Encontro

1 Encuentro de Abertura

Atividade

Apresentação do Programa às famílias do centro educativo: - Valorização do papel da família na Alfabetização Precoce. - Objetivos, Metodologia de trabalho - Dinâmica dos encontros; Atividades a realizar - Duração - Aplicação de Tabelas de controle, etc.

2 al 9 Oficinas

- Dinâmica de encontro com o conto. Centrada na estratégia lúdica, promove a construção de vínculos de confiança entre as famílias e com os educadores. - Posta em andamento das estratégias de compreensão, cognitivas e inferenciais. - Leitura de um dos contos selecionados. Promoção de um espaço de reflexão acerca dos valores e das mensagens nele transmitidas. - Entrega de uma cópia do conto às mães e familiares. Leitura coletiva, individual, em duplas, silenciosa, em voz alta, etc. - Oficina de compaginação do livro. Elaboração da capa e contracapa do livro através de diversas técnicas plásticas. - Projeção ao lar. A mãe ou o parente se compromete a ler o conto para seus filhos durante a semana e antes do próximo encontro.

10 Encontro de Encerramento

Atividade de Encerramento: As famílias se organizam para celebrar uma maratona de contos nos CCEI na qual participam seus filhos, ou uma dramatização, uma mostra dos livros de contos elaborados, ou ainda qualquer atividade que implique expandir a aprendizagem alcançada às instituições educativas da zona, etc.

ALGUMAS APRENDIZAGENS SIGNIFICATIVAS - A proposta estimula o interesse das famílias, manifestado no elevado nível de participação e de permanência, no prazer e na alegria dos participantes. - Gera uma nova dinâmica familiar ao redor da leitura desenvolvendo-se uma crescente predisposição e criando um ambiente propício para a leitura, além da possibilidade de desenvolvimento da linguagem tanto do adulto quanto da criança. - Facilita o desenvolvimento das competências sociais e cognitivas.

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- Propicia a incorporação de novas estratégias e metodologias de promoção da leitura na comunidade através do trabalho dos docentes de cada Centro Comunitário de Educação infantil. RECONHEIMENTOS - Programa Declarado de “Interesse Departamental" pela Junta Departamental de Paysandu, em 27 de outubro de 2006. Nº Ofício 1311/6. - Programa selecionado para ser apresentado no VII Congresso das Américas de Leitura e Escrita na Universidade Galileu. Novembro 2006 Guatemala. - Programa selecionado pelo Plano Nacional de Leitura para ser apresentado durante as 5as. Jornadas de Educação da Feira Internacional do Livro. 9, 10 e 11 de outubro de 2008. Montevidéu. Www.plandelectura.mec.gub.uy.

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“DESAFÍO DO OESTE” Autoría: Néstor Parra [*], Rubén Bouza [**] y Lourdes Garrido [***] Montevideo | Uruguay

HISTÓRIA Em março de 2003 nasce o “Desafio do Oeste”, única corrida multidisciplinar de aventura realizada em Montevidéu, UruguaiI. A idéia de realizar este evento surge ao ver as excelentes possibilidades naturais que oferece a zona do Oeste de Montevidéu, entre as quais se destacam quilômetros de praias agrestes, montes naturais e plantações como as de Punta Yeguas que contam com 113 hectares, o parque de Punta Espinillo de 130 hectares na desembocadura do Rio Santa Lucía, a reserva de fauna no Parque Lecocq, os terrenos úmidos de Santa Lucía, a emblemática Fortaleza do Cerro, o parque Vaz Ferreira, a zona rural de Montevidéu, etc. Este evento realizou-se anualmente de 2003 a 2008 de forma ininterrupta, contando com a participação de mais de uma centena de esportistas em cada uma das edições. O Desafío do Oeste se transformou em um evento de participação social com o envolvimento de distintos atores locais que têm revalorizado e se identificado cada vez mais com a zona oeste da capital. INTRODUÇÃO Existe uma estreita relação entre a Atividade Física e o Meio Natural, a tal ponto que o entorno que nos rodeia determina em grande medida a nossa saúde e a nossa cultura física. As atividades esportivas não agressivas ao meio ambiente que se realizam em contato com a natureza são uma forma de conscientizar os participantes das contribuições que gratuitamente o meio natural nos oferece. Podem nos alertar acerca dos graves problemas ecológicos capazes de ameaçar este meio, e também contribuir para o comportamento responsável que devemos adotar para com o meio. Durante estes últimos anos, temos observado como o meio natural é procurado por “urbanistas” com a intenção de encontrar lugares não contaminados para a realização de atividades ao ar livre. Acreditamos que o que se busca é estar bem conosco mesmo em contato com a “Natureza”, tentando liberar o estresse mediante relaxantes ou emocionalmente fortes sensações. O Uruguai possui condições favoráveis para promover estas desafiantes e saudáveis práticas e também para nos informar sobre o uso sustentável dos ecossistemas e das normas que promovem a conservação de recursos básicos tais como o solo, a água, a fauna e a floresta nativa.

[*] Guardavidas de Montevideo y competidor en “Deporte Aventura”. [**] Profesor de Educación Física, Secretaría Municipal de Recreación y Deportes. ]***] Licenciada en Educación Física.

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Nossa proposta está dirigida a: - Realização de atividades físicas na natureza, no marco do desenvolvimento social e cultural da zona Oeste de nossa capital. - Promoção do Esporte Natural considerado como espaço de convivência, participação e expressão, visando o desenvolvimento do ser humano em suas diferentes dimensões. A participação das organizações do território e dos esportistas é um desafio e uma oportunidade para avançar na concretização de atividades que contribuam para o desenvolvimento local, fazendo com que se conheçam lugares que atualmente não estão considerados como atração turística. FUNDAMENTAÇÃO Através da realização do “VI DESAFIO DO OESTE”, pretende-se fortalecer e dinamizar a zona oeste de Montevidéu junto a organizações vizinhas como: Espaço de Gestão do Parque Punta Yeguas, habitantes do Balneário Pajas Blancas, do Bairro Santa Catalina, vizinhos do bairro Los Cilindros, as autoridades da zona e os interessados neste empreendimento, formalizando diferentes atividades que convoquem gente de todo lado de nossa capital, do interior do país e do estrangeiro. É um desafio para os que estamos envolvidos nesta proposta contribuir para o desenvolvim ento da zona. A partir de atividades esportivas podermos conseguir espaços de participação que se mantenham no tempo, o que já vem acontecendo durante as 5 últimas edições. DIAGNÓSTICO A] Antecedentes específicos, relacionados com práticas esportivas: Não há nenhum registro da realização de atividades como as propostas no projeto “DESAFIO DO OESTE” em toda a cidade de Montevidéu. Realizaram-se outros eventos esportivos como corridas de 10 km, travessias a nado, durante a “Festa do Rio” que se efetua todos os anos no mês de fevereiro na zona da “Barra de Santa Lucía”. De toda forma, nossa proposta não interfere com estas e possui características próprias que a diferencia. B] Antecedentes de atividades locais desenvolvidas na área por vizinhos e por organizações que integram o Espaço de Gestão do Parque Público Punta Yeguas no qual se centraliza o DESAFIO 2008: - Jornadas de Paz com o Meio Ambiente (2005). - Avistamento de aves na zona de Punta de Yeguas (1999 a 2008). - Acampamentos de organizações indígenas (2006); este ano parte de Punta Yegyas a Corrida pela Paz e Dignidade (2008). - Desafios Juvenis 2007 e 2008 organizados por Professores de verão da Secretaria de Recreação e Esportes da IMM. RECURSOS HUMANOS O diretor e programador do evento Néstor Parra e o coordenador Ruben Bouza são os membros designados do serviço do Centro Municipal Zonal 17. A fiscalização do evento estará a cargo da Licenciada em Educação Física Lourdes Garrido. No que diz respeito ao planejamento, difusão e realização da atividade: O evento recebe o apoio da equipe social do CCZ17. Esta equipe está integrada por assistente social, bolsista/s de comunicações e pelo aporte da área de arquitetura. Nesta edição, espera-se a colaboração e coordenação com diferentes atores: um grupo estável desde 2003 de 20 vizinhos voluntários, Acampamento Outro Mundo, ONGs territoriais, Brigada de

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Salva-Vidas da IMM, clubes esportivos e sociais da zona, guarda-parques, grupo Pró-Parque, Espaço de Gestão do Parque Público Punta Yeguas, Secretaria de Educação Física, Recreação e Esportes da Prefeitura Municipal de Montevidéu, Conselho Vizindário e Junta Local do CCZ17, Junta Departamental de Montevidéu com a qual já se coordenaram esforços em edições anteriores. DESTINATÁRIOS Todas as pessoas que quiserem participar da corrida devem ser maiores de idade e conformar equipes mistas ou do mesmo sexo, assinar um deslinde de responsabilidades e possuir o conhecimento geral do regulamento. Pretende-se contar no “Desafío do Oeste” com a participação de equipes de elite e amadores de todo o Uruguai, e também de equipes de países vizinhos como sucedeu em outras edições onde contamos com a presença de equipes argentinas e brasileiras. RECURSOS MATERIAIS NECESSÁRIOS - Folheteria para a difusão (cartazes, declaração jurada, deslinde, regulamento, etc.) -Meios de comunicação (imprensa falada, escrita, Internet, telefone) -Material de sinalização (indicadores, bandeiras) -Material para a corrida (botes infláveis, lanchas, caiaques, bóias) -Água para os competidores. -Comida. -Emergência móbil. -Combustível para os diferentes serviços (quadriciclo, zodíaco, cozinha e aquecimento de duchas) -Coletes para os competidores e para a equipe de trabalho. -Mapas. -Números para as bicicletas e decalques para bicicletas e capacetes. -Prêmios (medalhas para todos os participantes). -Premiação para os 3 primeiros postos de cada categoria: Equipes Mistas, Equipe de Homens ou de Mulheres e Masters. ÁREA DE INTERVENÇÃO As ações vão estar organizadas em 3 planos: a] Plano de difusão e promoção do evento: - Fichas de inscrição, planilhas, regulamento. - Distribuição de cartazes e folhetos em pontos estratégicos. - Centros de inscrição. - Coordenação com instituições da zona. - Reuniões preparatórias. b] Marcação e delimitação do espaço geográfico a ser utilizado para a corrida: - Confecção de um plano de rota para aos competidores de modo a conhecer a sinalização da área. - Indicações de posto de controle. - Lugares de hidratação. - Zona de atenção médica. - Sinalização do terreno. - Local de premiação. c] Designar e delimitar tarefas a cada integrante da competição: - Confecção de competições segundo o papel designado. - Reuniões prévias para coordenar as ações da equipe de trabalho, dos organizadores, vizinhos, patrocinadores, interessados no Desafio. - Registro em planilhas de atividades, requerimentos e demais. - Grupo de socorristas.

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TAREFAS DE COORDENAÇÃO Coordenar o plano de trabalho a fim de garantir que as tarefas sejam designadas e terminadas a tempo e segundo o estabelecido dentro do orçamento. - Planejar o programa e o conteúdo das atividades. - Supervisar a seqüência lógica: correlação e integração dos conteúdos das atividades. - Ajustar o planejamento em função das necessidades que surgirem. - Organizar e coordenar reuniões de pares e com instâncias superiores. - Cumprir com os horários. PROJETO Consideramos essencial a implementação deste projeto não só pela finalidade esportiva, mas também para aproveitar este acontecimento para descobrir e redescobrir lugares lindos que possam ser apreciados pela população local e visitados pelo público em geral. O lugar onde se centralizará a competição será ao longo da costa oeste de Montevidéu, tendo como epicentro mais exato a praia e monte de Punta Yeguas. Serão percorridos aproximadamente 65 quilômetros mediante prévia orientação, passando por diferentes disciplinas como bóia-cross, mountain bike, cross-country, coastering e provas especiais.

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“O ADULTO IDOSO EM MOVIMENTO E ACOMPANHADO” Autoría: Prof. Lic. Antonio Araújo Mendoza [*] Montevideo | Uruguay

INTRODUÇÃO Nos últimos tempos, a educação em geral e a política educativa têm enfrentado novos desafios. Os governos e, por conseguinte, os municípios tiveram que mudar de estratégias e implicar-se em busca de novos rumos, onde se destacam especialmente as Políticas Sociais. A partir desta realidade, cria-se no Uruguai, no último período, o Ministério de Desenvolvimento Social (MIDES). Até hoje, o único programa para adultos idosos existentes neste ministério é o denominado “Programa Assistência à Velhice” destinado a pessoas na faixa dos 65 a 70 anos. A expectativa de vida cresceu e com isso também aumentou a população de adultos idosos. No Uruguai, uma das características a ser levada em conta segundo esse dado, é a etapa da velhice. Este fato tem desafiado disciplinas e ciências e implica um comprometimento ao planejar e pensar novas formas de atendimento onde os idosos devem estar incluídos e serem considerados. Mas tudo isto produz um impacto na população de tal magnitude que, graças à melhoria da qualidade de vida do idoso, estima-se que para o ano 2050 nos países desenvolvidos o contingente de pessoas com idade superior a 60 anos representará 30% do total da população. Nestas estratégias, geralmente o idoso não é considerado nem sequer levado em conta. Muitas vezes são discriminados até pelos próprios políticos que, paradoxalmente, transitam por esta etapa e a negam. Como já vimos no resultado a nível nacional do novo Ministério de Desenvolvimento Social, um só programa é dedicado a esta faixa etária. Geralmente todos os avisos publicitários estão destinados aos jovens e adultos. A publicidade veiculada aos adultos idosos está relacionada com o consumo de remédios. A exceção se dá quando se aproxima o período de eleições ou quando há algum técnico ou profissional que se interesse pelo assunto por alguma razão especial. No entanto, muitos dos profissionais que trabalhamos nesta área temos dificuldade para nos posicionar e vemos a velhice como um período da vida muito distante. Podemos enxergar nos outros o que não vemos em nós mesmos, como se sempre fôssemos continuar a ser jovens. Cada vez que falamos da velhice parece ser algo que está num horizonte longínquo e como tal, vemos e observamos, mas é mágico e inalcançável, está “lá longe”. Hoje a velhice corresponde a uma etapa de peso em escala social. Como tal, as sociedades atuais transformam sua estrutura, já que cada vez há mais idosos. Diante desta situação, as Políticas Sociais e todas as disciplinas e ciências se encontram com grandes desafios a serem enfrentados. A educação não deve ser privilégio somente das crianças, jovens e adultos médios. Pelo contrário, compete a todo o ser humano em seu processo de vida, desde que nasce até que morre. Nos programas de educação tanto no âmbito de pré-escolares como

[*] Integrante do Programa Adultos Idosos, Secretaría Municipal de Educação Física, Esporte e Recreação.

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no de Ensino Fundamental, não se contemplam os adultos idosos. É a partir desta nova formulação do programa que está em plena revisão, onde se consideraria em algum ponto, a possibilidade de tratar este tema. Na América Latina, o Uruguai representa o país com o maior índice de população idosa. Não podemos ser indiferentes a estes dados percentuais. No entanto, diante desta realidade, muitas ciências e disciplinas disputam este resultado. Uma delas é a medicina. Mas não podemos ver o idoso apenas a partir de uma ciência isolada, já que a visão geral está dirigida a um trabalho em equipe multidisciplinar e interdisciplinar, ao considerá-lo como um ser bio-psico-social. É inegável a melhora em toda sua qualidade de vida, e não só a orgânica, mas também o que se relaciona com o social e o mental. São muitas as áreas que contribuem nesse sentido, e cada uma deve acrescentar algo a fim de colaborar no processo de vida. A visão deve ser ampla e não restrita. Seria importante coordenar esforços e propostas para não fazer muitas vezes as mesmas coisas e onde pudéssemos poupar recursos beneficiando-nos através do trabalho em equipe onde os únicos favorecidos seriam os próprios idosos. PROGRAMAS DA NOSSA SECRETARIA À COMUNIDADE-ADULTOS IDOSOS A partir do desenvolvimento destas Políticas Sociais, cria-se em 22 de outubro de 1990 a atual Secretaria, com a finalidade e propósito de gerar uma Política Municipal Esportiva, como é explicado a seguir. Depois de criada esta Secretaria, os programas iniciais trabalhados se realizaram em Praias, Bairros, Adultos Idosos, Pessoas com Diferentes Deficiências, Excepcionais. Tudo foi melhorando, aprofundando e adquirindo uma grande riqueza que se incorporou a todo o corpo docente, numa área na qual o Uruguai praticamente não existia: “Educação Física Comunitária”. Nosso município é o pioneiro neste tipo de práticas em nosso país e na região. PROGRAMA ADULTOS IDOSOS - A ORIGEM: Los adultos mayores tenían actividad física en algunos clubes deportivos privados y en pocas plazas de deportes. En estas plazas de deportes que estaban a cargo del organismo estatal competente de la Actividad Física, la Recreación y el Deporte, casi no atendían a los grupos de Adultos Mayores. El Programa de Adultos Mayores en nuestra Secretaría de Deportes, aparece con el empuje de unos docentes, y donde tiene su nacimiento, es en las playas. Es anecdótico como iban invitando a cada adulto mayor a participar de la propuesta. El resultado fue inmediato y el proceso de crecimiento tan grande que se extendió a casi la totalidad de las playas de Montevideo. En el presente es uno de los programas más exitosos de los veranos. La necesidad observada desde la práctica donde los docentes veían la necesidad de ampliar sus prácticas ya que el rápido crecimiento de su alumnado así lo requería. Surgía otra situación que había que resolver rápidamente: ¿qué pasaba con los “viejos” cuando terminaba el período de playas? Los profesores y los alumnos se fueron preguntando que hacer y desde ese trabajo surge el trabajar con grupos a lo largo de los barrios de Montevideo. El éxito del programa fue de tal magnitud que los docentes no alcanzaban para todos los grupos que buscaban organizarse y los que ya estaban organizados y pedían docentes. GRUPOS DE GINÁSTICA REFERENTES NOS BAIRROS: Com o desenrolar dos acontecimentos e a partir da interessante observação dos docentes e da demanda dos próprios alunos, o programa de ginástica passou a considerar que essa demanda merecia ser escutada e que, portanto, era necessário fazer uma mudança. Dadas as características da idade, por mais que se considere o fato de estar em movimento, o exercício físico junto com o diálogo são de grande importância. Havia necessidade de conversar e de intercambiar opiniões entre si, o que realmente foi feito. Ou seja, em muitos casos a ginástica era a desculpa para justificar as reuniões que se realizavam entre eles.

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O docente, como referente, não só deveria dar a aula, mas também promover os vínculos entre essas pessoas através de diferentes recursos e ter a capacidade de escutá-las. Deve também promover reuniões de grupos e entre grupos, festas de aniversário, praticar outras atividades como a participação em grupos de corais, de reflexão, etc. PEQUENOS, MÉDIOS E GRANDES EVENTOS: As reuniões, as festas de aniversário, as despedidas de fim de ano, os passeios, os bailes, etc., surgem pela necessidade dos alunos de se reunir. Embora os objetivos dos pequenos e grandes eventos sejam diferentes, o que mais determina este tipo de classificação é o número de adultos idosos que participa da atividade proposta. O sucesso dos eventos é determinado pelo grau de prazer apresentado nestas atividades, pela boa organização e pela adequada divulgação, sem deixar de levar em conta os custos no momento de programar a atividade. Consideramos pequenos aqueles eventos cuja participação de alunos não chega a cem. Temos muitos exemplos com resultados estimulantes entre os que podemos destacar as festas de aniversário realizadas uma vez ao mês, uma mateada contando anedotas, jogos de loteria, pequenos passeios, etc. A atividade deve ser divulgada com antecedência assim como a previsão do material a trabalhar. Este tipo de atividade, além de motivar, favorece o vínculo entre os alunos e dá solidez ao grupo. Apesar de que nas aulas já se vejam os líderes, aqui também afloram outros valores de importância. O fato de poderem ir progressivamente fazendo cada vez mais atividades por sua própria iniciativa, favorece a independência do grupo do docente e isto deve ser considerado pelo educador que deve incentivá-lo. Muitas vezes a onipotência do professor impede ver o importante que é dar este espaço de organização aos próprios alunos. Outras vezes, tendemos a super protegê-los e lhes damos tudo servido, de maneira que não podem resolver nada sem a presença do docente. Os eventos de porte médio apresentam quase as mesmas características que os anteriores, onde as incumbências quase sempre também se repetem. O número de alunos considerado gira em torno de 100 a 300. Este tipo de evento acontece quando realizamos uma atividade de integração entre dois ou três grupos, ou quando fazemos alguma festa com a participação de parentes ou parceiros. O objetivo é a integração entre os grupos e a possibilidade de convidar outras pessoas que não podem participar do programa. Os grandes eventos apresentam uma concorrência massiva, onde a característica que os reúne é a festa de algum acontecimento central como o “Dia dos Avós”, DIA DO ADULTO IDOSO, ou uma atividade de comemoração de fim de ano ou de encerramento da temporada de verão, onde geralmente são convidados todos os grupos de adultos idosos de Montevidéu. Para citar, temos os bailes de encerramento do Hotel Carrasco, o baile no Hotel Del Prado, o baile no Hall central da Prefeitura de Montevidéu, passeios de ônibus às Minas, passeio de ônibus ao balneário do Kiyú, passeios de Trem, etc. Geralmente comparecem mais de 800 alunos. O acontecimento é uma atividade de caráter amplo e para todos os amigos e parentes. PERFIL DO EDUCADOR PARA TRABALHAR COM ADULTOS IDOSOS O profissional que trabalha na área deve ser um excelente técnico tanto a nível didático como metodológico. Embora isto seja básico, não é o suficiente para nos conformarmos. Deve possuir conhecimento de outras áreas, musical, teatral, danças, mas também deve apresentar um perfil recreativo. Por mais que nenhum destes itens chegue a descartar o docente, quanto maior formação e aptidão puderem ter para oferecer, maior será a possibilidade de atingir o sucesso no ato educativo em si. Quando o educador trabalha com o adulto idoso, embora deva considerar certos aspectos metodológicos a fim de prevenir possíveis lesões, em cada encontro fluem movimentos de vínculos afetivos e outros aspectos atitudinais e de valores essenciais na vida de cada um deles. O docente deve manejar uma correta concepção acerca do ENVELHECIMENTO ATIVO. Isto é a base do Perfil do educador que trabalha com adultos idosos. É primordial poder apreciar como toma posição em relação com o processo de envelhecimento e o que entende por envelhecer.

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O educador deve funcionar como um amortecedor das diferentes problemáticas que surgirem nos grupos de adultos idosos. Deve manejar temáticas como luto e solidão, fricções de poder, distintas situações de liderança. Deve possuir conhecimento sobre dinâmicas grupais. Outro aspecto que deve ser levado em conta ao considerar a competência profissional é como ele toma posição diante dos problemas. É importante ver como resolvem as situações problemas. Temos que levar em conta que um dos objetivos que nós nos propomos é a auto-gestão. Por isto, é importante ver como o educador resolve a situação problema. Temos que ver se na resolução do conflito ele atua sozinho ou envolve os alunos como atores da situação. Seria conveniente que o docente envolvesse os alunos para ir projetando os mesmos nas resoluções das dificuldades. No caso do docente de Educação Física é pertinente saber qual é a sua concepção de corpo e se aceita-se tal como é. A pesquisadora não sabe exatamente a que se deve este benefício a nível de saúde, mas considera provável que os amigos reforcem a auto-estima e promovam o bem estar psicológico, estimulando o adulto idoso para cuidar e melhorar o estado de sua saúde. Outras pesquisas mostram que os amigos e as redes sociais promovem estratégias de resolução e de elaboração dos conflitos diante de diversas situações inerentes ao processo de envelhecimento. Por tanto, devemos fomentar que o Adulto Idoso esteja em atividade e que seja acompanhado.

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Traducción: Diana Kraimer Diseño y diagramación: Lic. Lorena Mossotti Impresión: Talleres Gráficos de Borsellino Impresos SRL Marzo de 2009 Rosario | SF | Argentina


AICE Delegación América Latina Dirección de Relaciones Internacionales Municipalidad de Rosario Buenos Aires 711 Piso 2º 2000 Rosario | SF | Argentina Tel.fax: + (54 341) 480 2275 – 420 8154 www.edcities.bcn.es ce_americalat@rosario.gov.ar


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