Sinestesia - Centro de Apoio à Pessoa com Deficiência Visual em Timon (TCC Arquitetura)

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ CENTRO DE TECNOLOGIA BACHARELADO EM ARQUITETURA E URBANISMO

LUIS EDUARDO CARVALHO DE MOURA

SINESTESIA – CENTRO DE APOIO À PESSOA COM DEFICIÊNCIA VISUAL EM TIMON: ARQUITETURA PARA ALÉM DOS OLHOS

TERESINA 2022



LUIS EDUARDO CARVALHO DE MOURA

SINESTESIA – CENTRO DE APOIO À PESSOA COM DEFICIÊNCIA VISUAL EM TIMON: ARQUITETURA PARA ALÉM DOS OLHOS Monografia apresentada à Universidade Federal do Piauí – UFPI – como requisito para a conclusão da disciplina de Trabalho Final de Graduação II, do curso de Arquitetura e Urbanismo. Orientadora: Prof.ª Dr. ª Nícia Bezerra Formiga Leite

TERESINA 2022


FICHA CATALOGRÁFICA Universidade Federal do Piauí Biblioteca Comunitária Jornalista Carlos Castello Branco Serviço de Processos Técnicos

M929s Moura, Luis Eduardo Carvalho de. Sinestesia – Centro de Apoio à Pessoa com Deficiência Visual em Timon : arquitetura para além dos olhos / Luis Eduardo Carvalho de Moura – 2022. 143 f. Monografia (Graduação) – Universidade Federal do Piauí, Bacharelado em Arquitetura e Urbanismo, Teresina, 2022. “Orientadora: Prof.ª Dr.ª Nícia Bezerra Formiga Leite” 1. Acessibilidade. 2. Arquitetura sensorial. 3. Projeto. I. Leite, Nícia Bezerra Formiga Leite. II. Título.

CDD 624

Francisca das Chagas Dias Leite – Bibliotecária – CRB-3/1004


LUIS EDUARDO CARVALHO DE MOURA

SINESTESIA – CENTRO DE APOIO À PESSOA COM DEFICIÊNCIA VISUAL EM TIMON: ARQUITETURA PARA ALÉM DOS OLHOS Monografia apresentada à Universidade Federal do Piauí – UFPI – como requisito para a conclusão da disciplina de Trabalho Final de Graduação II, do curso de Arquitetura e Urbanismo.

BANCA EXAMINADORA

_______________________________________________ Nícia Bezerra Formiga Leite – UFPI (Orientadora)

_______________________________________________ Silvia Maria Santana Andrade Lima – UFPI (Professora Convidada)

_______________________________________________ Sanderland Coelho Ribeiro (Arquiteto Convidado)

Teresina, 05 de maio de 2022



À minha mãe, quem confiou em mim mais que eu mesmo.



Agradeço

à minha família e amigos, especialmente minha mãe, minha irmã, meu pai, Vitória e Bianca, que não somente deram-me todo o apoio necessário, como também suportaram – e compreenderam – as inúmeras ausências que tive quando da realização do meu sonho;

a meus colegas de curso, futuros colegas de profissão, em especial Luana, Myrian, Isabel, Leticia, Tainah, Carla e Renato, que ao longo desses anos compartilharam comigo conhecimentos muito além da arquitetura;

ao corpo docente de minha alma mater, que me forneceu, conforme se viu possível, os instrumentos necessários ao pleno exercício de minha profissão, aqui representados na figura da professora Nícia, quem orientou este trabalho, e da professora Ana Rosa Negreiros, quem me sugeriu a leitura que serviu de pontapé ao desenvolvimento desse tema;

ao garoto de sete anos que um dia fui, que nas pontas dos pés tentava alcançar o peitoril da janela do terceiro andar do número 769 da Rua Félix Pacheco, onde, no escritório em que trabalhava seu pai, deslumbrado com a cidade que via crescer diante de seus olhos, proferiu “pai, um dia vou fazer essas casinhas uma em cima das outras, e organizar elas nessas ruas, mas não vou querer de asfalto, porque fica muito quente”

não tenho mais sete anos, nem preciso mais me esticar até a contraverga de uma janela, mas continuo achando aquele asfalto muito quente.



Fecho meus olhos para [sentir] a música que toca Às vezes, isso tem um gosto doce e quente

Ella Marija Lani Yelich-O’Connor [Lorde]



RESUMO

Muitos são os teóricos que defendem a arquitetura como a arte inevitável, sendo seu papel plástico ora criticado, ora tido como fundamental. De todo modo, nas palavras de Mahfuz, o resultado plástico é inerente à obra arquitetônica. Mas que fazer quando o usuário não dispõe do aparato para compreender a forma do edifício e das cidades? Entendidas anteriormente como castigo divino, pessoas com deficiências de todo tipo há muito são marginalizadas da sociedade, sendo os debates acerca de seus direitos ainda muito pertinentes. Estima-se que cerca de 20% dos brasileiros possuam algum tipo de deficiência visual. Na cidade de Timon (Maranhão), a população encontra-se desamparada de um espaço que confira a essas pessoas os instrumentos necessários a seu desenvolvimento pessoal e cidadão. Nesse âmbito, coube estudar como/se arquitetos e críticos ignoraram os demais sentidos humanos e propor nesta cidade um projeto voltado não só à população com deficiência, mas que servisse de modelo a ser adotado em outros locais oportunos. Palavras-chave: Acessibilidade. Arquitetura sensorial. Projeto.



ABSTRACT

Many researchers argue that Architecture is an inevitable art, with its plastic factor being sometimes criticized, sometimes taken as fundamental. Regardless, in the words of Mahfuz, the plastic form is inborn to the architectural work. But what to do When the user does not have the gadgets to comprehend a building’s form and the cities? Previously mistaken as divine punishment, people with disabilities have been marginalized over the course of History, with debates about their rights being relevant up to this day. It is esteemed that around 20% of Brazilians have some sort of visual deficiency. In the city of Timon (Maranhão), the population is impaired of a space that grant these people the instruments needed to their personal and civil development. In this field, it was necessary to study how/if architects and critics ignored the other human senses, and propose a design not just focused on the population with disabilities, but that would serve as a model to be taken in other propitious places. Keywords: Accessibility. Sensorial architecture. Design.



LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Localização da cidade de Timon no Brasil ................................................ 28 Figura 2 - Sede atual da ADVIT, na BR 316.............................................................. 29 Figura 3 - Porcentagem da população, por tipo e grau de dificuldade e deficiência . 32 Figura 4 – Comparativo entre a porcentagem da população Maranhense e Nacional de pessoas com deficiência visual, por grau de dificuldade ..................... 33 Figura 5 – Cartão Postal do Hôpital des Quinze-Vingt, Paris, 1567 .......................... 35 Figura 6 – Planta de trecho do 12º arrondissement de Paris no século XIII, com Hôpital des Quinze-Vingts (em vermelho) entre o Palácio de Tulliere (em verde) e o Chateau du Louvre (em azul) .................................................. 36 Figura 7 - Hôpital des Quinze-Vingt em 1809............................................................ 37 Figura 8 - Sede do Institut National des Jeune Aveugles, INJA ................................ 38 Figura 9 - Planta do Pavimento Térreo do INJA ........................................................ 39 Figura 10 - Planta do Primeiro Pavimento do INJA ................................................... 39 Figura 11 - Sala de música do INJA, com órgão ao fundo ........................................ 40 Figura 12 – Cartão Postal da Escola de Cegos de Yorkshire ................................... 41 Figura 13 - Aula de Fabricação de Colchões na Escola de Cegos de Yorkshire ...... 42 Figura 14 - Aula de datilografia na Escola de Cegos de York ................................... 42 Figura 15 - Sala de Música da Escola de Cegos de York ......................................... 43 Figura 16 - Dormitório da Escola de Cegos de York ................................................. 43 Figura 17 – Primeira sede do Instituto Perkins para os Cegos, em South Boston .... 44 Figura 18 - Primeira sede do Instituto de Nova Iorque para Educação Especial....... 44 Figura 19 - Primeira sede da Escola de Cegos de Ohio, atual sede do Departamento de Saúde da Cidade de Ohio ................................................................. 44 Figura 20 - Instituto Benjamin Constant, na Urca (Rio de Janeiro, RJ) ..................... 46 Figura 21 - Planta esquemática do IBC ..................................................................... 46 Figura 22 - Evolução do IBC ..................................................................................... 47 Figura 23 - Refeitório da Escola de Cegos de Yorkshire ........................................... 48 Figura 24 - Instituto Padre Chico, Ipiranga (São Paulo, SP) ..................................... 49 Figura 25 - Instituto de Cegos da Bahia – ICB (Salvador, BA) .................................. 49 Figura 26 - Sede da Fundação Dorina Nowill (São Paulo, SP) ................................. 50 Figura 27 - Fundação para o Livro do Cego no Brasil ............................................... 51 Figura 28 - Instituto Santa Luzia (Porto Alegre, RS) ................................................. 51


Figura 29 – Instituto dos Cegos do Brasil Central (ICBC, Uberaba, MG) ................. 52 Figura 30 - Planta do ICBC ....................................................................................... 52 Figura 31 - Escola de Cegos do Maranhão (São Luís, MA)...................................... 53 Figura 32 – Atual sede da Associação de Cegos do Piauí (ACEP) .......................... 54 Figura 33 – Deficiente visual utilizando academia da ACEP .................................... 54 Figura 34 – Linha do tempo de algumas entidades que assistem pessoas com deficiência visual no Brasil ..................................................................... 54 Figura 35 - Inscrição em braile ................................................................................. 59 Figura 36 - Piso podo tátil em calçada ...................................................................... 59 Figura 37 - Cabines de leitura da Biblioteca para Cegos da Cidade do México ....... 61 Figura 38 - Crianças não cegas em atividades no Jardim Sensorial da Escola João Paulo (Feira de Santana, Bahia) ............................................................ 62 Figura 39 – Guia de Balizamento, conforme NBR 9050:2020 .................................. 64 Figura 40 - Localização da ADVIT na cidade............................................................ 65 Figura 41 – ADVIT – Situação .................................................................................. 65 Figura 42 - Sede da ADVIT em novembro de 2011 .................................................. 66 Figura 43 - Sede da ADVIT em novembro de 2012 .................................................. 66 Figura 44 - Localização dos projetos semelhantes a serem estudos em comparação ao projeto proposto ................................................................................ 70 Figura 45 - Centro de Invidentes y Débiles Visuales ................................................ 71 Figura 46 – Localização do Centro de Invidentes na Cidade do México .................. 72 Figura 47 – Ocupação do Centro de Invidentes, com edificação em destaque ........ 72 Figura 48 – Estudo Solar do Centro de Invidentes em Planta .................................. 72 Figura 49 – Croqui do arquiteto para o muro do Centro de Invidentes ..................... 73 Figura 50 – Maquete do Centro de Invidentes .......................................................... 74 Figura 51 – Planta baixa do Centro de Invidentes .................................................... 74 Figura 52 - Setorização do Centro de Invidentes ...................................................... 75 Figura 53 – Indicação dos acessos do Centro de Invidentes.................................... 76 Figura 54 – Fluxograma do Centro de Invidentes ..................................................... 77 Figura 55 – Composição dos diferentes tipos de bloco do Centro de Invidentes ..... 77 Figura 56 – Bloco “Tipo 1” do Centro de Invidentes ................................................. 78 Figura 57 – Bloco “Tipo 2” do Centro de Invidentes ................................................. 78 Figura 58 – Axialidade no Centro de Invidentes ....................................................... 78 Figura 59 - Vista dos paineis de vidro da Tifloteca a partir da praça principal .......... 79


Figura 60 – Planta baixa do Centro de Invidentes..................................................... 79 Figura 61 – Planta baixa do Centro de Invidentes..................................................... 79 Figura 62 – Corte longitudinal do Centro de Invidentes ............................................ 80 Figura 63 – Piscina do Centro de Invidentes ............................................................. 80 Figura 64 – Quadra de Esportes do Centro de Invidentes ........................................ 81 Figura 65 – Escola para Cegos C. Mark Openshaw ................................................. 82 Figura 66 – Localização da Escola Mark Openshaw na cidade de Salt Lake City .... 84 Figura 67 – Contexto urbano imediato às Escola Mark Openshaw e Escola para Surdos Jean Massiau ............................................................................. 84 Figura 68 – Implantação da Escola Mark Openshaw, em destaque, e Escola para Surdos Jean Massiau, em segundo plano ............................................. 85 Figura 69 – Estudo Solar da Escola Mark Openshaw em Planta .............................. 85 Figura 70 – Estudo Solar da Escola Mark Openshaw em perspectiva ...................... 85 Figura 71 – Indicação dos Acessos à Escola Mark Openshaw ................................. 86 Figura 72 – Maquete da Escola Mark Openshaw...................................................... 86 Figura 73 – Fachadas Norte e Sul da Escola Mark Openshaw ................................. 87 Figura 74 – Planta baixa da Escola Mark Openshaw ................................................ 87 Figura 75 – Planta de Setorização da Escola Mark Openshaw................................. 88 Figura 76 – Fluxograma da Escola Mark Openshaw ................................................. 89 Figura 77 – Vista interna da Quadra de Esportes da Escola Mark Openshaw .......... 90 Figura 78 – Palco conversível ................................................................................... 90 Figura 79 – Croqui do Anfiteatro ............................................................................... 90 Figura 80 – Isométrica do Lobby da Escola Mark Openshaw ................................... 91 Figura 81 – Salas de fisioterapia da Escola Mark Openshaw ................................... 91 Figura 82 – Corredores Norte-Sul da Escola Mark Openshaw.................................. 92 Figura 83 – Sala de Aula da Escola Mark Openshaw ............................................... 92 Figura 84 – Jardim da Escola Mark Openshaw ......................................................... 93 Figura 85 – Macrolocalização e Situação do LARAMARA, com marcação dos lotes pertencentes à instituição ....................................................................... 94 Figura 86 – Fachada da Edificação Sede do LARAMARA ........................................ 94 Figura 87 – Fachada da Edificação Sede do LARAMARA ........................................ 94 Figura 88 – Faixa de pedestres que interliga os edifícios da Laramara à Rua Conselheiro Brotero ............................................................................... 95 Figura 89 – LARAMARA – planta baixa do pavimento térreo.................................... 97


Figura 90 – LARAMARA – fluxograma do pavimento térreo..................................... 98 Figura 91 – Trilha Sensorial ...................................................................................... 98 Figura 92 – LARAMARA – planta baixa do 1 º pavimento ........................................ 99 Figura 92 – Piscina do Laramara .............................................................................. 99 Figura 94 – LARAMARA – Fluxograma do primeiro andar ..................................... 100 Figura 95 – Salas de Atividades de Vida Autônoma ............................................... 100 Figura 96 – LARAMARA – planta baixa do 2º andar .............................................. 101 Figura 97 – Iluminação zenital no corredor superior ............................................... 102 Figura 98 – Brinquedoteca do LARAMARA ............................................................ 102 Figura 99 – Instituto de Cegos da Bahia (ICB) ....................................................... 102 Figura 100 – Macrolocalização e Situação do ICB ................................................. 103 Figura 101 – Estudo Solar do ICB, em planta baixa ............................................... 104 Figura 102 – Estudo Solar do ICB, em perspectiva ................................................ 104 Figura 103 – Área de convivência do Instituto de Cegos da Bahia ......................... 105 Figura 104 – Piscina do ICB ................................................................................... 105 Figura 105 – Quadra de esportes do ICB ............................................................... 105 Figura 106 – Sala de Intervenção Precoce ............................................................. 106 Figura 107 – Brinquedoteca do ICB ........................................................................ 106 Figura 108 – Consultório oftalmológico do ICB ....................................................... 106 Figura 109 – Refeitório do ICB ............................................................................... 106 Figura 110 – Localização do Terreno na Cidade .................................................... 107 Figura 111 – Divisão da cidade de Timon em bairros, com destaque para o bairro São Benedito, em vermelho, e os demais bairros mais populosos, em amarelo .............................................................................................. 108 Figura 112 – Principais vias da cidade de Timon, MA ............................................ 109 Figura 113 - Rotas de ônibus da cidade, com indicação do terreno proposto ........ 110 Figura 114 – Relação do Terreno com pontos de Interesse da Cidade .................. 111 Figura 115 – Distância do terreno proposto em relação à atual sede da ADVIT .... 112 Figura 116 – Planaltimetria do Terreno Proposto ................................................... 113 Figura 117 – Frente do terreno proposto para Avenida Presidente Médici ............. 113 Figura 118 - Frente do terreno proposto para Rua Justino de Oliveira ................... 114 Figura 119 - Frente do terreno proposto para Rua Flores ...................................... 114 Figura 120 - Cheios e Vazios do terreno proposto, destacado em vermelho ......... 115 Figura 121 – Mapa de usos do solo em torno do terreno proposto ........................ 115


Figura 122 – Mapa de Gabaritos em torno do terreno proposto.............................. 116 Figura 123 – Estudo de Ventilação do terreno proposto ......................................... 116 Figura 124 – Estudo de Insolação do terreno proposto, em planta ......................... 117 Figura 125 – Estudo de insolação do terreno proposto, em perspectiva ................. 117 Figura 126 – Estudo de implantação ....................................................................... 122 Figura 127 – Perspectiva Sudeste .......................................................................... 124 Figura 128 – Concepção volumétrica para o bloco principal ................................... 124 Figura 129 – Concepção volumétrica para a quadra de esportes ........................... 125 Figura 130 – Uso de vidro jateado na quadra de esportes ...................................... 126 Figura 131 – Uso de tela metálica nas fachadas norte e sul do bloco Sinestesia ... 126 Figura 132 – Esquema estrutural do Espaço Sinestesia ......................................... 126 Figura 133 – Concepção estrutural para o auditório ............................................... 127 Figura 134 – Setorização do Espaço Sinestesia ..................................................... 128 Figura 135 – Setorização – Pavimento Térreo ........................................................ 128 Figura 136 – Hall expositivo do Térreo .................................................................... 129 Figura 137 – Planta baixa do auditório .................................................................... 129 Figura 138 – Setorização – Primeiro Pavimento ..................................................... 130 Figura 139 – Setorização – Pavimento Térreo ........................................................ 131 Figura 140 – Esquema de abertura de portas para o corredor ............................... 131 Figura 141 – Banheiros coletivos ............................................................................ 132 Figura 139 – Setorização – Segundo Pavimento .................................................... 132 Figura 143 – Esquina da Av. Presidente Médici e Rua Justino de Oliveira Costa... 133 Figura 144 – Perspectiva do restaurante, no pavimento térreo ............................... 134 Figura 145 – Perspectiva da academia, no primeiro pavimento .............................. 134 Figura 146 – Módulo da Oficina de Braile ............................................................... 135



LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Estimativa de Pessoas com Deficiência Visual na Cidade de Timon ....... 33 Tabela 2 - Ficha Técnica do Centro de Invidentes y Débiles Visuales ...................... 71 Tabela 3 – Organograma do Centro de Invidentes ................................................... 75 Tabela 4 - Ficha Técnica dA ESCOLA PARA CEGOS C. MARK OPENSHAW ........ 82 Tabela 5 – Organograma da Escola Mark Openshaw ............................................... 88 Tabela 6 - Ficha Técnica do INSTITUTO LARAMARA ............................................. 95 Tabela 7 – Organograma do LARAMARA ................................................................. 96 Tabela 8 - Ficha Técnica do INSTITUTO DE CEGOS DA BAHIA........................... 103 Tabela 9 – Organograma do ICB ............................................................................ 104 Tabela 10 - Quantitativo populacional dos principais bairros de Timon, em valores absolutos e percentuais, conforme Censo de 2010 ............................. 108 Tabela 11 – Índices Urbanísticos do terreno proposto ............................................ 119 Tabela 12 - Programa de Necessidades do Projeto Proposto ................................ 121



LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABNT

Associação Brasileira de Normas Técnicas

ACEP

Associação de Cegos do Piauí

ADVIT

Associação dos Deficientes Visuais de Timon

IA

Índice de Aproveitamento

IBC

Instituto Benjamin Constant

IBGE

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

ICB

Instituto de Cegos da Bahia

ICBC

Instituto de Cegos do Brasil Central

INJA

Instituto Nacional de Jovens Cegos, Institut National des Jeunes Aveugles

NBR

Norma Brasileira Regulamentadora

OMS

Organização Mundial de saúde

PcD

Pessoa com Deficiência

PMT

Prefeitura Municipal de Timon

TO

Taxa de Ocupação



SUMÁRIO 1

INTRODUÇÃO ............................................................................................. 27

2

REFERENCIAL TEÓRICO E PANORAMA LOCAL .................................... 31

2.1

Deficiência visual no Brasil atual .............................................................. 31

2.2

Dos hospitais de guerra à educação e cultura: Institucionalidade e Deficiência Visual no Brasil e no Mundo .................................................. 34

2.3

Miopia progressiva: como a arquitetura fechou os olhos para os deficientes visuais (e os demais sentidos) ao longo da história ........... 55

2.4

NBR 9050 e a acessibilidade para pessoas com deficiência visual ....... 63

2.5

A Associação de Deficientes Visuais de Timon....................................... 65

3

ANÁLISE DE PROJETOS SEMELHANTES ............................................... 69

3.1

Centro de Invidentes y Débiles Visuales (Ciudad de Mexico, México) .. 70

3.2

Escola para Cegos C. Mark OpenShaw (Salt Lake City, EUA) ................ 82

3.3

Associação Brasileira de Assistência à Pessoa com Deficiência Visual – LARAMARA (São Paulo – SP, Brasil)........................................................ 93

3.4

Instituto de Cegos da Bahia (Salvador – BA, Brasil) ............................. 102

4

ANÁLISE DO TERRENO PARA INTERVENÇÃO ..................................... 107

5

PROGRAMA DE NECESSIDADES E ESTUDO DO TERRENO ............... 121

6

MEMORIAL JUSTIFICATIVO .................................................................... 123

6.1

Conceito .................................................................................................... 123

6.2

Composição volumétrica e implantação ................................................ 123

6.3

Aspectos construtivos e sustentabilidade ............................................. 126

6.4

Setorização ............................................................................................... 127

6.5

Experiências Sensoriais .......................................................................... 133

REFERÊNCIAS....................................................................................................... 137



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1 INTRODUÇÃO Segundo Roth (2017, p. 1), “a arquitetura é a arte inevitável. A todo momento, acordados ou dormindo, estamos em edifícios, perto de edifícios, em espaços definidos por edifícios, ou em paisagens formadas pelo artifício humano”. O autor apresenta alinhamento a uma corrente teórica bastante presente em arquitetura: a de que esta, por mais indulgente e livre que possa ser, tem como objetivo final a subserviência a seu criador (ZEVI, 2009). Apesar dos inúmeros estudos acerca das relações simbióticas entre humano e espaço, a máxima utilitária mantém-se presente de Vitruvius ao século XXI (MONTANER, 1993). Contudo, mesmo desde a antiguidade, um tema sempre presente em arquitetura tem sido sua função plástica (ZEVI, 2009). Objeto de grande debate, com extremos que pendulam do pleno uso da forma para concepção da obra arquitetônica àqueles que defendem sua subversão ao funcionalismo, o resultado plástico é sempre entendido como um produto inevitável (MAHFUZ, 2003). Segundo Mahfuz (2003), Mesmo não sendo o objetivo exclusivo da arquitetura, a forma é seu resultado inevitável. Livres das inibições dos pioneiros modernistas, podemos afirmar o formalismo da concepção arquitetônica, tanto porque a definição formal deve ser uma preocupação central de todo projeto como porque a qualidade essencial de um arquiteto é o sentido da forma. (MAHFUZ, 2003, n.p.)

Nesse âmbito, cabe questionar: e quando o usuário não dispõe do aparato para compreender a forma do edifício e das cidades? Em levantamento realizado em 2019, a Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que cerca 2,2 bilhões de pessoas no mundo vivem com deficiência visual ou cegueira no mundo (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 2019). Dados do Censo Brasileiro de 2010 apontam que 18,6% da população brasileira possui algum tipo

de

deficiência

física

(INSTITUTO

BRASILEIRO

DE

GEOGRAFIA

E

ESTATÍSTICA, 2012)1. Por deficiência visual, para os fins desta monografia, serão utilizadas as definições de GIL (2000), posteriormente mais bem trabalhadas na segunda seção deste trabalho. Em suma, “a expressão ‘deficiência visual’ se refere ao espectro que 1

Os dados demográficos encontram-se ligeiramente desatualizados, haja vista que o Censo 2020 não foi realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Algumas informações puderam ser extraídas de estimativas oficiais, porém estas são relativamente escassas para o objeto do presente trabalho.


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vai da cegueira até a visão subnormal” (GIL, 2000, p. 6), sendo a pessoa de visão subnormal aquela que conserva resíduos de visão. Entendidas anteriormente como castigo divino, pessoas com deficiências de todo tipo há muito são marginalizadas da sociedade (FRANCO e DIAS, 2017), sendo os debates acerca de seus direitos ainda muito pertinentes (ARAUJO e COSTA FILHO, 2015). No caso das pessoas com deficiência visual, as principais conquistas se desenrolam a partir da década de 1990 (SOUTO, LIMA, et al., 2014), mas ainda há inúmeros entraves ao pleno exercício da cidadania destes (MALAR, 2020). Localizada no Estado do Maranhão, a cidade de Timon (Figura 1) tem em 2021 uma população estimada em 171.317 habitantes, com uma densidade demográfica estimada de 89,18 habitantes/km² (IBGE, 2021); Figura 1 - Localização da cidade de Timon no Brasil

Fonte: adaptado de OpenStreetMap, 2021.

Apesar dos dados apresentados, a população timonense encontra-se atendida somente por uma única instituição não governamental, a Associação de Deficientes Visuais de Timon (ADVIT), que presta serviços diversos, do ensino do sistema braile ao amparo psicopedagógico de pessoas com deficiência visual (PREFEITURA MUNICIPAL DE TIMON, 2019). Localizada no bairro Mateusinho, a ADVIT divide espaço com uma escola gerenciada pela Prefeitura Municipal da Cidade (Escola 15 de Fevereiro, Figura 2). Com apenas cerca de 120 m², e com inúmeras falhas de acessibilidade, o município vê-se desprovido de uma edificação que satisfaça plenamente suas demandas: em 2019, a instituição tinha cerca de 50 atendimentos diários e 290 associados (PMT, 2019). Nesse mesmo ano, a Prefeitura Municipal realizou pequenas reformas nas estruturas existentes, como a construção de um anexo de 50 m² para reuniões cívicas (PMT, 2019), mas as instalações ainda não


29

condizem com o porte do município, sua população e demandas por equipamentos assistenciais voltados a pessoas com deficiência, sendo alguns dos serviços necessários prestados pela capital vizinha (Teresina, no Estado do Piauí) (MARQUES, 2020). Figura 2 - Sede atual da ADVIT, na BR 316

Fonte: GOOGLE STREET VIEW, 2021

Cabe, pois, sumarizar as justificativas ao projeto aqui proposto em três linhas de defesa principais: 1. As necessidades levantadas para o público-alvo imaginado, no momento não satisfeitas pelas instalações pré-existentes na cidade, conforme apresentado posteriormente; 2. O dever da estrutura pública de ofertar a todos os cidadãos, com deficiência ou não, os direitos previstos em lei, como pleno acesso à educação, cultura e associação política/não-governamental; 3. O próprio desafio de adequar a arquitetura a usuários que são há muito marginalizados do processo de concepção de edificações e cidades, assim como da própria sociedade. Conforme levantado por Bernardo (1970), [...] a definição de arquitetura dada pelo grande mestre Le Corbusier, de reduzir a arquitetura ao “mero jogo de volumes na luz”, significa absolutamente nada para um arquiteto projetando para o cego. Se ele quiser ser honesto consigo mesmo e com seu cliente, o arquiteto terá de redefinir arquitetura em termos não visuais. Isso é extremamente difícil, se não impossível, para alguém que não é cego. (BERNARDO, 1970, p. 262, tradução nossa, grifo nosso)


30

Não obstante, o primordial objetivo desta monografia é fundamentar a criação um projeto arquitetônico para um Centro de Apoio à Pessoa com Deficiência Visual na cidade de Timon, Maranhão, lançando luz sobre o paradigma da arquitetura enquanto arte de resultado plástico inevitável, porém que não pode ser apreendido por todos os usuários. Por meio da revisão de Literatura, traçou-se a história da deficiência visual e suas definições, preconceitos e conquistas das pessoas com deficiência ao decorrer da humanidade, em especial em como edificações de cunho institucional foram construídas em diferentes localidades para sanar as demandas levantadas pela sociedade, bem como dos processos de apropriação do espaço construído por parte dos usuários e as diferentes formas de incluir os demais sentidos nesses processos. Os aportes teóricos variaram entre estudos sobre a arquitetura e os edifícios de fato e trabalhos de áreas da filosofia e pedagogia, que serviram de suporte aos apontamentos não sanados pela teoria da arquitetura. Ressaltam-se os estudos de Bernardo (1970), Amorim (2013), Oliveira (2020), Kate (2008), Pallasmaa (2011) e Rasmussen (2015). Em posterior momento, a análise de edificações de cunho semelhante serviu para elucidar soluções práticas a questões arquitetônicas, como fluxos, dimensionamentos e programas de necessidades. Por fim, estudaram-se lotes possíveis para a implantação do empreendimento na cidade de Timon (MA), considerando condicionantes físicas, legislativas e urbanas, visando tanto uma localização que favorecesse acesso pleno dos habitantes de diferentes partes da cidade, como também a atuação em uma área relativamente carente de certos equipamentos, de modo que o projeto aqui previsto fomentasse sua posterior melhoria. A proposta final, intitulada “Espaço Sinestesia” é fruto dos estudos aqui levantados.


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2 REFERENCIAL TEÓRICO E PANORAMA LOCAL Nesta seção, o esforço de pesquisa concentra-se em primeiro momento no entendimento da realidade brasileira quanto ao número de pessoas com deficiência visual e as edificações que, de algum modo, suprem os anseios da população, com especial atenção à cidade de Timon, a fim de fundamentar a implantação do empreendimento sugerido. Posteriormente, na figura da pessoa com deficiência visual ao longo da história, sua participação (ou, como se provou regra, a exclusão) nos processos de construção da sociedade, arquitetura e cidades. Por fim, estudaram-se escritos acerca da teoria da arquitetura e sua constante negligência aos demais sentidos, e que parâmetros adotar ao projetar edificações para pessoas com deficiência visual. Neste ponto, muito se visitaram estudos de outras áreas do conhecimento, como a filosofia, a fenomenologia e a pedagogia, estudos esses que, com algum filtro, muito serviram às tomadas de decisões posteriormente rebatidas no projeto.

2.1

Deficiência visual no Brasil atual A visão pode ser classificada quanto à qualidade em diferentes graus de um

mesmo espectro, indo da cegueira total até a visão dita perfeita (GIL, 2000). Por deficiência visual, entende-se o “espectro que vai da cegueira até a visão subnormal” (GIL, 2000, p. 6). Chama-se visão subnormal (ou baixa visão, como preferem alguns especialistas) à alteração da capacidade funcional decorrente de fatores como rebaixamento significativo da acuidade visual, redução importante do campo visual e da sensibilidade aos contrastes e limitação de outras capacidades. (GIL, 2000, p. 6)

Elucidando a questão das pessoas com baixa visão, Gil (2000) afirma que Usando auxílios ópticos (como óculos, lupas etc.), a pessoa com baixa visão apenas distingue vultos, a claridade, ou objetos a pouca distância. A visão se apresenta embaçada, diminuída, restrita em seu campo visual ou prejudicada de algum modo. (GIL, 2000, p. 7)

Dados do Censo Brasileiro apontam que o número de pessoas com alto grau de deficiência visual corresponde a uma parcela considerável da população nacional (IBGE, 2018).


32

Considerando somente os que possuem grande ou total dificuldade para enxergar, ouvir, caminhar ou subir degraus (ou seja, pessoas com deficiência nessas habilidades), além dos que declararam ter deficiência mental ou intelectual, temos mais de 12,5 milhões de brasileiros com deficiência, o que corresponde a 6,7% da população. (IBGE, 2018)

Não obstante, o número de pessoas com deficiência visual é maior que o número de pessoas com outras deficiências, correspondendo a quase 20% da população brasileira, conforme ilustrado na Figura 3, onde se lê que, em 2010, o percentual de pessoas com deficiência motora, somando aqueles de pequena e grande dificuldade, correspondia a 7% do número de brasileiros à data do levantamento. Pessoas com deficiência auditiva representavam 5% dos brasileiros, e aquelas com dificuldade/deficiência mental/intelectual correspondiam a 1,5% (IBGE, 2012. Figura 3 - Porcentagem da população, por tipo e grau de dificuldade e deficiência

Fonte: IBGE, 2018

Observam-se que 0,15% dos brasileiros apresentam cegueira total, 3,10% têm grande dificuldade para enxergar e 14,75% com alguma dificuldade para ver (IBGE, 2018). A média maranhense de 2010 é ligeiramente superior a nacional, correspondendo a 20,33% dos residentes do estado (a nacional gira em torno de 18,4%) (IBGE, 2012). Na Figura 4 se estabelece o comparativo entre as médias estaduais e nacionais: em 2010, 0,21% dos maranhenses relataram não conseguir enxergar de modo algum, 4,07% relataram grande dificuldade e 16,04% apresentavam alguma dificuldade.


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Figura 4 – Comparativo entre a porcentagem da população Maranhense e Nacional de pessoas com deficiência visual, por grau de dificuldade

Fonte: Elaborado pelo autor conforme dados de IBGE, 2012

Considerando a população estimada de 171.317 de Timon (IBGE, 2021), e uma hipotética proporcionalidade entre os índices estaduais e os índices municipais2, pode-se estimar que Timon tenha algo em torno de 34.823 habitantes com algum tipo de deficiência visual, conforme explicitado na Tabela 1. Tabela 1 - Estimativa de Pessoas com Deficiência Visual na Cidade de Timon

População Estadual (IBGE, 2012)

6.574.789 habitantes

População Municipal Estimada (IBGE, 2021)

171.317 habitantes

Grau de Dificuldade

Média Estadual, em porcentagem (calculado com base em IBGE, 2012)

População Municipal com deficiência Estimada

Não consegue de modo algum

0,21

365

Grande dificuldade

4,07

6.980

Alguma dificuldade

16,04

27.478

Total de Habitantes com alguma deficiência

20,33%

34.823

Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados de IBGE, 2012 e 2021

2

A ausência de dados oficiais precisos ocasionaram em estimativas realizadas para os fins deste trabalho.


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2.2

Dos hospitais de guerra à educação e cultura: Institucionalidade e Deficiência Visual no Brasil e no Mundo Pessoas com deficiência tiveram sua inclusão e participação na sociedade

cerceada e/ou concebida de diferentes formas ao longo da história, com variações inerentes a diferentes localidades (FRANCO e DIAS, 2017).

A relação entre

arquitetura e deficiência visual estreitou-se, conforme se provará a seguir, através de instituições voltadas ao ensino e amparo médico a pessoas cegas, em primeiro momento, e com instituições de cunho sociocultural posteriormente. Nesta seção, o esforço de pesquisa é concentrado nos primeiros exemplos no mundo e, em sequência, às experiências no Brasil. Segundo Franco e Dias, “em grande parte das sociedades primitivas não havia cegos, pois os enfermos e as pessoas com deficiência eram mortos ou abandonados” (FRANCO e DIAS, 2017, p. 3). Durante a Antiguidade, sumarizam que Existiam dois tipos de tratamentos atribuídos às pessoas que, por alguma razão, se afastavam dos padrões desejados, aceitos e ditos normais, tais como velhos, doentes e as pessoas com deficiências - que, quando não correspondiam às exigências do meio, eram tratadas ou com tolerância e apoio, ou com menosprezo e eliminação. (FRANCO e DIAS, 2017, p. 4)

De acordo com Telford e Sawrey (1976, apud OLIVEIRA, 2020), datam do século IV e V as primeiras instituições de abrigo a cegos, construídas na Síria, Jerusalém, França, Itália e Alemanha. Apesar da assertiva encontrar reforço em Mendes (2010) e Costa, Picharillo e Paulino (2018), não se encontram registros documentais destas edificações. Outrossim, a Igreja Católica tomou para si a função de cuidar de pessoas com deficiência, inclusa a visual (OLIVEIRA, 2020); (MENDES, 2010). Contudo, segundo Oliveira (2020, p. 44) “o tratamento das pessoas que apresentassem corpos, condutas ou comportamentos com alguma diferença considerada anormal, variava entre o divino e demoníaco, levando a maus-tratos, torturas e até mortes em fogueiras”. Em contrapartida, Franco e Dias (2017), afirmam que Com o fortalecimento do Cristianismo, a situação das pessoas com deficiências se modificou. A pessoa humana elevou-se à categoria de valor absoluto e todos os homens, sem exceção, passaram a ser considerados filhos de Deus. O Evangelho dignifica o cego e deste modo, a cegueira deixa de ser um estigma de culpa, de indignidade e transforma-se num meio de ganhar o céu, tanto para a pessoa cega quanto para o homem que tem piedade dessa pessoa. (FRANCO e DIAS, 2017, p. 7)


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De todo modo, na segunda metade do século XIII3, Louis IX funda na cidade de Paris o Hôpital des Quinze-Vingts (Hospital das Quinze Vintenas, Figura 5) um asilo hospitalar destinado a abrigar trezentos cegos retornados das batalhas das cruzadas (WHEATLEY, 2002). Este seria o primeiro registro contundente de uma edificação construída especificamente para pessoas com alguma diversidade funcional (OLIVEIRA, 2020). Construída incialmente como um grande galpão, depois transferida para uma construção em estilo gótico, em um lote próximo à bastilha (Figura 7), mesmo que tenha buscado solucionar uma questão há muito negligenciada, a instituição causou certo desconforto à população parisiense (FRANCO e DIAS, 2017). Figura 5 – Cartão Postal do Hôpital des Quinze-Vingt, Paris, 1567

Fonte: OLIVEIRA, 2020

Conforme Wheatley (2002, p. 194, tradução nossa), para os residentes, a instalação “oferecia cuidados básicos e alguma proteção às ruas de Paris, mas também era destinado a mostrar que [os internos] haviam passado por disciplina institucional que reconstruiu o significado de sua deficiência em algo útil à instituição”. Por outro lado, ainda segundo o mesmo autor,

3

Wheatley (2002) e Oliveira (2020) afirmam que a data de fundação seja 1256, porém, cartões postais da cidade (Figura 5) sugerem sua fundação em 1264, enquanto Le CHNO (2020) e Franco e Dias (2017) apuram que a data seja 1260. Le Grand (1887) elucida que as datas de fundação e construção sejam imprecisas, portanto, adequou-se a redação para “segunda metade do século XIII”, haja vista que todas as referências apontam para datas posteriores a 1250.


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Para os demais parisienses, o hospício tornou-se objeto de considerável ansiedade social, parcialmente associada com os históricos estereótipos de pessoas cegas, e parcialmente dada a peculiar identidade institucional do hospício como totalmente separado da igreja que anteriormente havia clamado a si o cuidado institucional dos desamparados. (WHEATLEY, 2002, p. 193, tradução nossa)

Interessante também notar que, segundo Dall’Acqua (1977, apud FRANCO e DIAS, 2017), a intenção primordial tendia ao higienismo social, buscando retirar das ruas os cegos parisienses. No que tange à edificação e como esta abordava as adequações da arquitetura a pessoas com deficiência visual, a ausência de imagens das dependências internas dificulta o aprendizado com esta experiência. A edificação original (Figura 6), situada à rua Saint-Honoré, pouco serve de apoio ao estudo da adaptação da arquitetura a pessoas com deficiência. A planta retangular construída alinhada ao eixo norte-sul tem a aparência de um galpão convencional, com algumas adequações ao clima parisiense. Figura 6 – Planta de trecho do 12º arrondissement de Paris no século XIII, com Hôpital des QuinzeVingts (em vermelho) entre o Palácio de Tulliere (em verde) e o Chateau du Louvre (em azul)

Fonte: BIBLIOTHÉQUE NATIONALE DE FRANCE, 2021

Quando da sua mudança para o endereço atual, no século XVIII (LE GRAND, 1887), a instituição passa a ter um arrojo mais complexo, com tipologia de mosteiro (Figura 7) tendo a edificação principal formato de “U”, complementada por diversos anexos que se construíam ao alinhamento dos logradouros e uma entrada relativamente recuada. O pátio apresenta paisagismo simples, com canteiros entrecortados com passeios a estilo do barroco francês.


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Figura 7 - Hôpital des Quinze-Vingt em 1809

Fonte: LE CHNO DES QUINZE-VINGTS, 2020

O pátio facilita a conexão entre os braços opostos do “U”, mas, sendo descoberto e com vegetação muito baixa, não se poderia utilizar em dias chuvosos, quentes ou nevados. Não se encontraram dados sobre o uso desse jardim para atividades recreativas e/ou da exploração do potencial para a arquitetura dos sentidos, mas pode-se supor que fossem utilizados para banhos de sol e pequenas reuniões. Conforme se verifica na Figura 7, a edificação se desenvolve em três pavimentos principais, com algumas mansardas no telhado sugerindo a existência de um sótão. Chaminés complementam o conjunto arquitetônico, com o estabelecimento de um ritmo próprio do barroco francês, com um portal de entrada enfatizado e centralizado. Até esse momento, a abordagem das instituições de amparo a pessoas com deficiência corroborou para uma imagem popular de invalidez, que por sua vez fortaleceu o preconceito e a discriminação (FRANCO e DIAS, 2017). De acordo com Franco e Dias (2017, p. 4), “os séculos XVIII e XIX marcaram uma mudança e um avanço na história das pessoas com deficiência visual”. Segundo Weyand (2009, p. 72, tradução nossa), ensaios filosóficos iluministas desta época “colocam o cego no centro de debates acerca do estado de sensibilidade no desenvolvimento dos processos cognitivos”. Não obstante, data do fim do século XVIII, justamente na França, a primeira escola de destinada ao ensino de pessoas cegas, o Instituto Real de Meninos Cegos (ou l’Institut Royal des Garçons Aveugles, no original), atualmente denominado Instituo Nacional de Jovens Cegos (Institut National des Jeunes Aveugles – INJA).


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Fundado em 17844 por Valentin Haüy, a instituição muda-se para diversas outras edificações ao longo da história, inclusive às dependências do Les Quinze-Vingt, em 1800, até se fixar ao número 56 do Boulevard dos Inválidos, em Paris (INJA, 2017). Inaugurada em 1843, a sede do INJA permanece em atividade até os dias atuais, atendendo anualmente mais de 150 crianças e jovens. Foi justamente nesta instituição onde estudou Louis Braille, que posteriormente criou o sistema de escrita Braille (INJA, 2017). Projetada por Pierre-Nicolas-François Philippon5 e executada entre 1839 e 1843, a edificação de estilo neoclássico (Figura 8), o prédio desenvolvese em quatro pavimentos, com fortes simetrias e ritmos em sua fachada principal. Alocada em um terreno de pouco mais de um hectare em uma das áreas mais nobres de Paris ao tempo de sua inauguração, encontra-se rodeada por quatro logradouros muito bem arborizados, sendo o endereço postal registrado ao número 56 do Boulevard dos Inválidos6. Figura 8 - Sede do Institut National des Jeune Aveugles, INJA

Fonte: INJA, 20177

Em comparação aos exemplos anteriores, a sede do INJA apresenta uma ligeira preocupação à adequação da edificação à exploração dos demais sentidos ao tempo de sua concepção original, como da existência de jardins (Figura 9). Percebese a forte axialidade e noções de proporção e modulação, bastante característicos do período neoclássico. A disposição da cozinha ao centro da planta permite fácil

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As redações de INJA (2017) se confundem entre os anos 1784 e 1785. Definiu-se o ano 1784 por ser este o mesmo apresentado em Franco e Dias (2017) e Guadet (1851). 5 Informação fornecida por Robert Pradère, diretor dos arquivos do INJA, por e-mail, ao dia 15 de setembro de 2021. 6 Ibid. 7 Todos os documentos creditados a INJA/Robert Pradère, 2021, foram previamente autorizados, por e-mail, por Cristian Huchon, diretor do INJA, e Robert Pradère, responsável pelos arquivos.


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conexão aos demais espaços, havendo desde a fundação salas de música e o uso dos jardins enquanto espaços contemplativos8. Figura 9 - Planta do Pavimento Térreo do INJA

Dependências de serviço marcadas em vermelho. Em amarelo, área destinada à gráfica para livros em braile, readequada posteriormente a sua fundação. Em verde, áreas de jardim. Os demais ambientes concentravam galerias e salas destinadas a atividades educativas. Fonte: Robert Pradère, 2021

Ao segundo pavimento (Figura 10), isto é, aquele acima do pavimento do nível da rua, estão localizadas mais áreas do setor pedagógico e a capela de orações. Os dormitórios foram alocados no último pavimento, garantindo privacidade e mais conforto. Figura 10 - Planta do Primeiro Pavimento do INJA

Fonte: Robert Pradère, 2021

8

Segundo Robert Pradère, em setembro de 2021, os jardins passaram por reformas para criação de experiências sensoriais. Dada a fase ainda inicial do projeto, não foram disponibilizados dados mais assertivos acerca da implantação da proposta e suas estratégias.


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Sendo uma edificação já muito antiga, sofrendo diversas interferências ao longo do tempo, torna-se difícil compreender quais soluções da edificação foram idealizadas pelo arquiteto Philippon. Especial destaque se pode dar, contudo, ao rigor modular, característico do período, que muito pode favorecer a pessoa com deficiência visual em apreender melhor o espaço e as rotas dentro do edifício. A suntuosa sala de música (Figura 11) revela cuidados com o layout, como a alocação do órgão na parede oposta à entrada, e existência de luminárias9, revelando uma preocupação também com pessoas que conseguem enxergar. O ritmo das colunas de influência clássica e o uso de caixotões inspirados nos templos gregos reforçam a adoção do estilo neoclássico para a edificação, mas pela subsequente criação de recôncavos e redução de superfícies demasiado planas, podem contribuir de algum modo para a acústica do ambiente. Figura 11 - Sala de música do INJA, com órgão ao fundo

Fonte: INJA, 2017.

Com a virada da Revolução Industrial, a necessidade de uma mão de obra farta e barata escalonou a vulnerabilidade de pessoas improdutivas para o sistema (OLIVEIRA, 2020). Conforme Oliveira (2020), Neste período, para além de existir exclusão, ainda houve a ‘produção’ de pessoas com diversidade funcional, devido às condições de trabalho extremamente precárias, sem recursos de segurança, e obrigados a longos períodos de trabalho, ao qual sucederam-se muitos acidentes e feridos. (OLIVEIRA, 2020, p. 46)

9

A lâmpada foi inventada somente em 1879 (ARANIUS, 2020), mas pode ter sido acrescida ao projeto ainda no século XIX.


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Nesse sentido, surge a Escola para Cegos de Yorkshire (Figura 12). Fundada em 1833, em homenagem ao Primeiro-Ministro de Yorkshire, William Wilberforce, muda-se em 1835 para King’s Manor, atualmente parte das instalações da Universidade de York (LEWIS, 2014). É sobre esta edificação que se fazem as considerações desta seção. Figura 12 – Cartão Postal da Escola de Cegos de Yorkshire

Fonte: WELLCOME LIBRARY, 2019

Situada fora do campus principal da universidade, King‘s Manor é uma construção datada de meados do século XV, construída originalmente por uma das famílias mais abastadas da região, posteriormente servindo de residência oficial de membros da corte. Em 1570, apresentava ainda uma disposição linear, com telhados inclinados e campos verdes podados (INSTITUTE OF HISTORIC BUILDING CONSERVATION, 2012). Com o tempo, a construção de anexos gerou pátios internos mais enclausurados, mas que ainda permitiam pleno conforto climatológico, adaptados à realidade local. As soluções de volumetria e fachada condizem ao estilo arquitetônico vigente à época (CHING, 2016). Mesmo que a instituição tivesse como fim principal o amparo a pessoas com deficiência visual, as atividades eram majoritariamente voltadas à manufatura de pequenos itens posteriormente vendidos no comércio local (INSTITUTE OF HISTORIC BUILDING CONSERVATION, 2012). Aí se verificam as adaptações aos cegos. No caso das aulas de fabricação de colchões, estruturas em cavaletes permitiam que o ambiente de trabalho fosse elevado até a altura média dos cotovelos (Figura 13).


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Figura 13 - Aula de Fabricação de Colchões na Escola de Cegos de Yorkshire

Fonte: UNIVERSITY OF YORK, 2020

A imagem mostra grande contraste e áreas de sombra, sendo a iluminação trazida pela única janela do ambiente. Não se identificam estruturas de iluminação noturna, mesmo que a velas, que poderia ser justificado por duas hipóteses: (1) a não utilização desses ambientes à noite e/ou (2) que todas as atividades fossem desempenhadas por pessoas totalmente cegas, para quem a iluminação não faria diferença. Nas salas de aula de datilografia (Figura 14), os alunos eram dispostos em formato de “U”, o que poderia permitir a rápida assistência por parte dos professores aos alunos com deficiência visual, em contrapartida ao estilo de salas de aulas adotados após a Revolução Francesa, onde os alunos são dispostos em fileiras frente ao professor, como para ensiná-los noções de hierarquia, disciplina e obediência (FRAGA, 2013). Figura 14 - Aula de datilografia na Escola de Cegos de York

Fonte: UNIVERSITY OF YORK, 2020


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No caso da sala de música (Figura 15), a disposição do mobiliário foge à tipologia das salas de coro convencionais, onde as pessoas eram enfileiradas em esquema de assembleia, como em uma igreja. Tal disposição era comum pela necessidade de acompanhar visualmente o regente (CHING, 2016). Na Escola de Cegos de York, a assembleia é dissolvida ao longo das paredes longitudinais, como em salões de dança. O piano é movido mais para o centro, com os tubos do órgão fixados à parede por exigências do próprio instrumento, ainda existindo um pequeno tablado, provavelmente pensado para questões acústicas. O forro é tratado somente pela junção das ripas após as tesouras. A foto ilustra pendentes dispostos acima das fileiras de cadeiras. Figura 15 - Sala de Música da Escola de Cegos de York

Fonte: THE YORK PRESS, 2018

Nos dormitórios (Figura 16) a inexistência de barras ou pisos táteis que guiassem a pessoa com deficiência visual ao longo do ambiente é mitigada pela disposição do layout. O posicionamento das camas favorece o rápido entendimento do espaço. Figura 16 - Dormitório da Escola de Cegos de York

Fonte: THE YORK PRESS, 2018


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Entre 1820 e 1840 instalam-se as três primeiras instituições para cegos no continente americano: o Asilo para Cegos de New England, de 1829 (atual Instituto de Perkins para os Cegos, Estado de Massachussetts, Figura 17), o Instituto de Nova Iorque para Educação Especial (Figura 18) e 1831, e a Escola de Ohio para os Cegos em 1837 (Figura 19) (FRANCO e DIAS, 2017)10. Figura 17 – Primeira sede do Instituto Perkins para os Cegos, em South Boston

Figura 18 - Primeira sede do Instituto de Nova Iorque para Educação Especial

Fonte: PERKINS SCHOOL FOR THE BLIND, 2021

Fonte: THE NEW YORK INSTITUTE FOR SPECIAL EDUCATION, 2020

Figura 19 - Primeira sede da Escola de Cegos de Ohio, atual sede do Departamento de Saúde da Cidade de Ohio

Fonte: COLLUMBUS METROPOLITAN LIBRARY, 2016

Todas as três situam-se nos Estados Unidos e apresentam estilo característico da arquitetura do país no século XIX, sendo talvez a edificação de Massachussetts a de maior arrojo ornamental. Diferentemente das construções observadas na França,

10

Não se encontraram ilustrações precisas das dependências internas que servissem de amparo ao estudo das edificações e de suas adequações a pessoas com deficiência visual e/ou estímulos dos demais sentidos.


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o pé-direito dos pavimentos, ao que se percebe nas fachadas, era relativamente mais baixo. A de maior tamanho é sem dúvidas a anterior sede da Escola de Cegos de Ohio, projetada por William Tinsley11 ao estilo francês de segundo império (COLUMBUS METROPOLITAN LIBRARY, 2016). A adoção do estilo justifica a imponência da edificação, de diversas aberturas e volumetria aglutinada, com telhados diversos e pilastras que avançam por sobre a coberta para formar linhas verticais intensas, acentuadas pela adoção de torres de arremate cônico. A escolha parece ter sido bastante oportuna, pois, conforme ilustrado por Mazzotta (1996, apud FRANCO e DIAS, 2017), a instituição, totalmente subsidiada pela esfera governamental, despertou por parte da sociedade americana uma reflexão acerca da obrigatoriedade da estrutura estatal para amparo e educação de pessoas com deficiência. É nesse âmbito que surge no Brasil o Instituto dos Meninos Cegos, a primeira instituição de apoio à pessoa com deficiência visual, datada de 1854, dezessete anos após a experiência de Ohio e setenta anos após a fundação do INJA. Apontam Franco e Dias (2017) que O atendimento escolar a pessoas com deficiência teve início no Brasil em 1854, quando o então imperador D. Pedro II, inspirado no exemplo de José Álvares de Azevedo – jovem cego que estudara na França durante seis anos no Instituto Real dos Jovens Cegos de Paris -, inaugurou a primeira escola para cegos na cidade do Rio de Janeiro: o Imperial Instituto dos Meninos Cegos, hoje denominado Instituto Benjamin Constant. (FRANCO e DIAS, 2017, p. 15)

Assim como em todos os casos apresentados até o momento, a instituição funcionou em uma outra sede antes de ser transferido para a formosa edificação de traços neocoloniais, edificada ao cabo do século XIX e ao longo das primeiras décadas do século XX (GIRÃO, 2014), no bairro da Urca, Rio de Janeiro, funcionando atualmente sob o nome de Instituto Benjamin Constant (IBC, Figura 20). Há clara semelhança com outras instituições de ensino da época (BRUAND, 2018), o que pode ser justificado pela adoção de uma tipologia arquitetônica clara e pela própria intenção anterior de estabelecer nessa localidade a Cidade Universitária do Rio de Janeiro (GIRÃO, 2014).

11

Este é inclusive o primeiro registro formal e contundente de um arquiteto-projetista na concepção dos projetos das edificações voltadas às pessoas com deficiência. Apesar de fundada ainda no século XVIII, Philippon só realiza o projeto da sede final do INJA em 1839, dois anos após a inauguração da Escola de Cegos de Ohio.


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Figura 20 - Instituto Benjamin Constant, na Urca (Rio de Janeiro, RJ)

Fonte: GIRÃO, 2014, p. 82.

Situada neste terreno por muito pleiteado para a instalação do campus universitário, a sede do atual IBC desenvolve-se em uma edificação de quatro pavimentos, construída como um corpo monolítico de que se retirou o entremeio para a criação de dois átrios (Figura 21). A execução do prédio não se deu de uma única vez, sendo parte do terreno arrendada por algum tempo para arrecadar fundos à construção (GIRÃO, 2014). Figura 21 - Planta esquemática do IBC

Fonte: GIRÃO, 2014, p. 148.

Em similitude aos casos anteriores, o IBC objetivava não somente educar os alunos em matérias propedêuticas, mas também em aulas de música, artes e secretariado, tornando-os uma mão de obra a ser absorvida pelo mercado ou mesmo pela própria escola, cujas dependências e necessidades cresciam a cada ano (LEMOS e FERREIRA, 2017). Ademais,


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Era crescente o prestígio da instituição, e aumentava o número dos alunos profissionalizados como encadernadores, organistas, afinadores de piano e professores (de Português, francês, Música ou História Sagrada), alguns dos quais acabaram por empregar-se no próprio Instituto como auxiliares de ensino ou repetidores, enquanto outros iam para colégios particulares ou se dedicavam a atividades autônomas. (LEMOS e FERREIRA, 2017, p. 8)

Assim sendo, a atual sede da instituição não foi executada de uma única vez, com alterações e construções de anexos acontecendo até o ano de 2008 (GIRÃO, 2014), conforme observado na Figura 22. Figura 22 - Evolução do IBC

Fonte: GIRÃO, 2014, p. 368.

Quanto ao programa de necessidades, a escola apresenta dependências destinadas ao ensino de música, uma capela, dormitórios e ateliês, distribuídos ao longo dos pavimentos da edificação (GIRÃO, 2014). Verificam-se jardins nos vazios da construção, porém não se encontraram registros do uso desses espaços para fomento de experiência sensoriais. Interessante notar que, até esse momento, vigorava um forte entendimento de amparo a pessoas cegas em instituições totalmente separadas das demais, com internatos construídos especificamente ao ensino de crianças e jovens com deficiência visual, ademais, conforme apontam Franco e Dias (2017, p. 8) “no início do século XX, a escola segregada havia se expandido e se consolidado como modelo de atendimento à pessoa cega”. Isso se refletia na arquitetura das edificações pensadas a abrigar essas instituições, em grandiosos edifícios de incontáveis cômodos, conforme se percebe nas fachadas apresentadas. Provavelmente, tal número de ambientes se justifique pela necessidade de quartos para residentes e


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funcionários, que, dado o regime de internato, passavam também a residir permanentemente nestas instalações. Mesmo considerando o regime de residência constante, à exceção da experiência do IBC e do INJA, não se identificam nas imagens espaços de recreação e lazer, salvas talvez as salas de músicas da Escola de Cegos de Yorkshire, mas estas seriam ambientes de cunho pedagógico adaptadas para comportar tal uso. A socialização e o convívio, ao que parece, aconteciam majoritariamente nos ambientes de refeição, pensados como grandes salas de banquete (Figura 23). Figura 23 - Refeitório da Escola de Cegos de Yorkshire

Fonte: THE YORK PRESS, 2018

Contudo, após a Segunda Guerra Mundial, com o elevado número de pessoas feriadas deixadas com alguma deficiência pelos conflitos armados, e com a Declaração Universal dos Direitos Humanos, a possibilidade de ensino de pessoas cegas em escolas regulares passou a ser posta em debate (FRANCO e DIAS, 2017). No Brasil, a efetivação desse plano, contudo, deu-se lentamente, principalmente após os esforços protagonistas de Dorina Nowill (FRAGA, 2013). Em 1928, por intermédio do oftalmologista José Pereira Gomes, instalou-se na cidade de São Paulo o Instituto de Cegos Padre Chico (Figura 24). A construção foi realizada em lote cedido pelo Conde José Vicente de Azevedo, apresentando atualmente cerca de 25.000 metros quadrados, abrigando um projeto pedagógico que vai de aulas de braile a atividades físico-artísticas, como balé (COLÉGIO VICENTINO


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DE CEGOS PADRE CHICO, 2021). Em 2011, a instituição passa a abrir matrículas também para alunos sem deficiências, focando no modelo de educação inclusiva. Figura 24 - Instituto Padre Chico, Ipiranga (São Paulo, SP)

Fonte: COLÉGIO VICENTINO DE CEGOS PADRE CHICO, 2021

Na cidade de Salvador, inaugura-se em 1933 o Instituto de Cegos da Bahia, que funcionou em um casebre doado pelo prefeito Americano da Costa, servindo de abrigo aos cegos, que lá moravam com suas famílias e fabricavam vassouras para garantir seu sustento (INSTITUTO DE CEGOS DA BAHIA, 2020), em semelhança ao ocorrido na Escola de Cegos de Yorkshire. Em 1959, sob diretoria de Edla Lima, construiu-se a atual sede (Figura 25). localizada ao número 55 da Rua José de Baixo, no bairro Barbalho (o mesmo da instalação anterior) (ICB, 2020). Figura 25 - Instituto de Cegos da Bahia – ICB (Salvador, BA)

Fonte: INSTITUTO DE CEGOS DA BAHIA, 2020.


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Trata-se de uma das mais arrojadas edificações do Nordeste no atendimento à pessoa com deficiência visual (BLANCO, 2007). A Instituição desenvolve-se em dois prédios próprios interligados por passarelas, e ainda dois anexos voltados a oficinas, auditórios e estúdios. Estudos mais detalhados sobre essa edificação reservam-se para a seção posterior. Interessante, porém, ressaltar que na criação do novo plano pedagógico e consequente programa de necessidades da edificação participou a figura de Dorina Nowill (IBC, 2020). Em 1941 cria-se a atual Fundação Dorina Nowill (Figura 26), batizada em honra a sua idealizadora, primeira aluna cega a regulamente frequentar a Escola Normal Caetano de Campos, participando em 1956 da elaboração da Lei de Integração Escolar, que mudou os rumos da educação de pessoas com deficiência visual no Brasil (FRANCO e DIAS, 2017). Figura 26 - Sede da Fundação Dorina Nowill (São Paulo, SP)

Fonte: CLAUDINEY SALES/ESTADÃO, 2021

Teve sua sede edificada em 1946, instituída ainda como Fundação para o Livro do Cego no Brasil (Figura 27). A edificação de cunho modernista, sem grandes arrojos plásticos e ornamentais, partiu da necessidade observada por Dorina Nowill, que, ficando cega aos 17 anos de idade, percebeu a carência de livros para pessoas cegas no Brasil (FUNDAÇÃO DORINA NOWILL, 2021). A edificação passou por diversas interferências, principalmente para acomodar os serviços gráficos ali demandados.


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Figura 27 - Fundação para o Livro do Cego no Brasil

Fonte: FUNDAÇÃO DORINA NOWILL, 2021

Em 1941 funda-se o Instituto Santa Luzia, primeira escola voltada ao ensino de pessoas cegas no estado do Rio Grande do Sul. Em sua inauguração, atendia já 50 cegos. Com o crescimento das demandas, o imóvel onde fora implantado já não contemplava mais seus usos (INSTITUTO SANTA LUZIA, 2020). A construção da edificação de traços modernistas (Figura 28) efetuou-se somente quatorze anos depois. Em 1955, num terreno doado pela Prefeitura à Avenida Cavalhada, 3999, foi lançada a pedra fundamental do novo e grandioso edifício, para onde se mudou definitivamente o Instituto Santa Luzia, em 1959. Até anos anteriores, o Instituto Santa Luzia atendia alunos de visão normal no regime de externato e alunos deficientes visuais, em regime de internato, semi-internato e externato, provenientes do estado do Rio Grande do Sul e de outros estados do Brasil. (INSTITUTO SANTA LUZIA, 2020, n.p.) Figura 28 - Instituto Santa Luzia (Porto Alegre, RS)

Fonte: INSTITUTO SANTA LUZIA, 2020.


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Paralelamente, data de 1942 a constituição do Instituto dos Cegos do Brasil Central, localizada em Uberaba, estado de Minas Gerais. Sua residência final (Figura 29), porém, só foi executada em 1945 em terreno cedido pela Loja Maçônica Estrela Uberabense (INSTITUTO DOS CEGOS DO BRASIL CENTRAL, 2013). Com uma planta simples (Figura 29), a semelhança das demais escolas desenvolvidas ao longo do país no século XX (SEGAWA, 2014), não apresentando arrojos e ou soluções inovadoras, porém, tendo grandiosa relevância em seu contexto local (FRANCO e DIAS, 2017). Figura 29 – Instituto dos Cegos do Brasil Central (ICBC, Uberaba, MG)

Fonte: ICBC, 2019 Figura 30 - Planta do ICBC

Fonte: LEÃO JUNIOR e GATTI, 2016, p. 398


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No Maranhão, estado onde se estuda aplicar o projeto aqui justificado, foi reconhecida oficialmente em 1973 a Escola de Cegos da Maranhão (ESCEMA, Figura 31) situa-se desde sua fundação no bairro Outeiro da Cruz, cidade de São Luís, sendo a primeira instituição voltada ao ensino de pessoas cegas no Estado do Maranhão. Funcionando anteriormente em um casebre adaptado às necessidades levantadas, a instituição realiza atendimentos diários e serve de amparo à rede de ensino municipal (FRAGA, 2013). Figura 31 - Escola de Cegos do Maranhão (São Luís, MA)

Fonte: GOOGLE STREET VIEW, 2021

Fundada em 1967 por iniciativa de cinco pessoas com deficiência visual, a saber, Emanoel Veloso, Joel Loureiro (então vereador da cidade), Abdo Nunes, Geraldo Nogueira e Sebastião Soares, a Associação de Cegos do Piauí (ACEPI) teve, conforme Barroso (2014, p. 17), vários problemas quando da sua fundação, “principalmente estruturais, já que não tinham um espaço físico e mudavam de sede constantemente”. Situado ao número 537 da Rua Beneditinos (Figura 32), zona Sul da cidade de Teresina, a instituição também contempla o Centro de Habilitação e Reabilitação de Cegos (CHARCE) do Piauí, sendo a principal referência no Estado de apoio à pessoa com deficiência visual (MARQUES, 2020). As instalações internas, contudo, mostram a clara adaptação de uma edificação que não foi pensada para abrigar seu uso final (MARQUES, 2020). Em contrapartida, apresenta áreas de atividades físicas e exercícios (Figura 33), o que não se verificou na maioria das outras edificações estudadas.


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Figura 32 – Atual sede da Associação de Cegos do Piauí (ACEP)

Figura 33 – Deficiente visual utilizando academia da ACEP

Fonte: MOACIR NETO, 2020.

Fonte: MOACIR NETO, 2020

Como aconteceu após os períodos de guerras, a alteração dos dados demográficos da população mundial evidenciou a necessidade de projetar objetos e espaços para grupos que passavam a conquistar importância numérica cada vez mais presente. As pessoas estão vivendo mais e o avanço da tecnologia e da medicina tem permitido que pessoas com deficiência tenham melhor e mais longa qualidade de vida e, portanto, seu número seja cada vez mais considerável entre os dados censitários (STORY, MUELLER e MACE, 1998). A Figura 34 sumariza a linha temporal dessas principais edificações. Figura 34 – Linha do tempo de algumas entidades que assistem pessoas com deficiência visual no Brasil

Fonte: adaptado de MARQUES, 2020

Existe, portanto, um cenário bastante recorrente, tanto no Brasil quanto mundo afora, acerca das edificações para instituições de amparo a deficientes visuais: (1)


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elas surgem primordialmente com foco higienista e, posteriormente, de cunho educacional e (2) geralmente desenvolvem-se em instalações provisórias pouco ou nada projetadas para o fim arquitetônico, sendo transferidas posteriormente a novas edificações ou somente adaptando as instalações anteriores. Urge, pois, a construção de um repertório arquitetônico que trabalhe a pessoa com deficiência visual no centro da concepção projetual.

2.3

Miopia progressiva: como a arquitetura fechou os olhos para os deficientes visuais (e os demais sentidos) ao longo da história O entendimento de arquitetura perpassa o devir do ser fruidor (PINHEIRO,

2017). A maneira como o indivíduo entende o espaço que o rodeia é marcado e, em parte, moldado pelas experiências que este tivera ao longo de sua vida (AMORIM, 2013). Para Silva, Alencar e Ribeiro Filho (2013, n.p.), “é óbvio que as diferentes interpretações de percepções estão relacionadas com a forma como cada indivíduo percebe o mundo”. Nas culturas ocidentais, a visão desempenha um papel central na apreensão do espaço por parte dos indivíduos. Aponta Amorim (2013) que [...] desde os antigos gregos, os escritos de filosofia de todas as épocas têm metáforas oculares abundantes, a tal ponto que o conhecimento se tornou análogo à visão clara e a luz é considerada uma metáfora da verdade. (AMORIM, 2013, p. 54)

Há muito a fenomenologia e estudos de psicologia ambiental tem defendido a existência de uma relação simbiótica entre homem e espaço antropizado. Ao tempo em que o primeiro cria e modifica o segundo, ele também é moldado por este (AMORIM, 2013). Uma abordagem do corpo como um todo, e não somente a visão, enquanto objeto para apreensão do espaço arquitetônico prova-se, pois, bastante necessária. Ademais, Santos (2018, p. 47) afirma que “mais do que um objeto para a consciência, o corpo é a base da qual ela emerge. É por meio da história dessa base corporal que a amplitude das funções cognitivas disponíveis ao sujeito é delimitada”. A experiência de Pallasmaa (2011) é ainda mais categórica. Eu confronto a cidade; minhas pernas medem o comprimento da arcada e a largura da praça; meus olhos fixos inconscientemente projetam meu corpo na fachada da catedral, onde ele perambula sobre molduras e curvas, sentindo o tamanho de recuos e projeções; meu peso encontra a massa da porta da


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catedral e minha mão agarra maçaneta enquanto mergulho na escuridão do interior. Eu me experimento na cidade a cidade existe por meio de minha experiência corporal. A cidade e meu corpo se complementam e se definem. Eu moro na cidade, e a cidade mora em mim. (PALASMAA, 2011, p. 37-38, grifo nosso)

O autor também aponta que A falta de humanismo da arquitetura e das cidades contemporâneas pode ser entendida como consequência da negligência com o corpo e os sentidos e um desequilíbrio de nosso sistema sensorial. [...] O predomínio dos olhos e a supressão dos outros sentidos tende a nos forçar à alienação, ao isolamento e à exterioridade. (PALASMAA, 2011, p. 17)

Nesse sentido, cabe refletir: como poderiam arquitetos, há muito entendidos como artistas com algum grau técnico, construir espaços para além da plasticidade? Um excerto de Santos (2018), demonstra bem o referido panorama, principalmente sobre os prejuízos do processo aqui apresentado. Penso uma problemática de um ensino dos atributos visuais da forma centrado apenas em analogias visuais, negligenciando outros sentidos, e indago a possibilidade de deslocar esse ensino à totalidade de um corpo aberto a experimentações sensíveis. Vejo, ainda, que temos em nosso caminho educacional um abandono da riqueza que uma experiência vivida traz ao processo de aprendizagem. Ao se falar em educação estética, isso é notável. Assim, a reinvindicação por uma educação estética que traga vividos dentro de experimentações corporais adquire importância, já que ela se situa no campo do sensível. (SANTOS, 2018, p. 104, grifo nosso)

Mesmo que as reflexões de Santos (2018) sejam muito mais voltadas ao ensino e percepção de artes visuais, elas poderiam facilmente aplicar-se à arquitetura, principalmente se considerado o papel artístico e plástico desta. O autor aborda uma educação estética, e por que não, nesse trabalho, abordar uma educação espacial? Faz-se importante, portanto, refletir acerca dos demais sentidos para a inclusão do corpo enquanto protagonista da apreensão do espaço. Conforme Pallasmaa (2011, p. 39) “nosso senso de realidade é reforçado e articulado por essa interação constante, [pois] toda experiência comovente com a arquitetura é multissensorial”. Outrossim, conforme Rasmussen (2015, p. 13), “a arquitetura é produzida por pessoas comuns para pessoas comuns; portanto, deve ser facilmente compreensível a todas as pessoas”. Ao projetar espaços para pessoas que não conseguem apreendê-lo visualmente, “o arquiteto pode e deve modificar esses parâmetros não visuais que são raramente considerados pela maioria dos arquitetos” (BERNARDO, 1970, p. 263, tradução nossa). Segundo Kate (2008),


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Pesquisas concluíram que pessoas visualmente desamparadas têm a habilidade de se orientar e localizar-se confiando-se em informações espaciais não visuais. [...] uma pessoa cega poderia se beneficiar positivamente de um ambiente que complemente e assista sua mobilidade e seu processo de orientação usando informações espaciais não visuais (KATE, 2008, p. 32, tradução nossa).

Nesse estudo, muito além da mera busca pelo aproveitamento da capacidade dos demais sentidos, a ideia defendida é a mescla desses processos simultaneamente para uma experiência de fruição do espaço verdadeiramente única, surpreendente e eficaz. Pallasmaa (2011, p. 15) aponta que “na cultura ocidental, a visão tem sido historicamente considerada o mais nobre dos sentidos, e o próprio pensamento é igualado à visão”. Segundo o mesmo autor, “a invenção da representação em perspectiva tornou os olhos o ponto central do mundo perceptual” (PALASMAA, 2011, p. 16). Verifica-se, pois, o papel de protagonismo dado à visão, a negligência aos demais sentidos e a problemática em relação àqueles que não conseguem apreender o espaço visualmente. Ademais, conforme ilustra Bernardo (1970), Uma pessoa cega não pode ver a forma de uma sala, a cor das paredes, ou o padrão do piso. Ele pode, contudo, certamente ouvir o som do espaço; ele pode sentir a textura das paredes, a dureza do piso, a temperatura e umidade da sala, e ainda a velocidade e o aroma do ar. Ele sente o espaço diferentemente e será diferente o seu conceito de espaço em comparação à pessoa com visão. (BERNARDO, 1970, p. 263, tradução nossa)

Porém, conforme se prova a seguir, simplesmente inverter a pirâmide e negligenciar a visão no processo de apreensão do espaço poderia ser igualmente exclusivista e errôneo. Para Kate (2008), à exceção do paladar, as pessoas usam os sentidos em níveis variados e de certa forma inconsciente quando interagem com o ambiente. Em anuência ao defendido por Pallasmaa (2011), Kate (2008) afirma que A visão é o sentido em que mais se depende. Nossa visão nos permite compreender imagens que estão distantes e próximas. Nós podemos ver objetos naturais, mesmo que sejam suaves ou ásperos, macios ou duros. Nossa visão reflete o ambiente de volta a nós. Menos de 10% dos visualmente desamparados são totalmente cegos. É importante, portanto, não excluir a inclusão de elementos visuais como em fortes formas, contrastes tonais e cores. (KATE, 2008, p. 16, grifo nosso, tradução nossa)

A fala de Kate (2008) é fundamental por enfatizar não somente que há pessoas dentro do espectro da visão subnormal que conseguem sim enxergar, mesmo que


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pouco, e que devem ser inseridas nas considerações projetuais, mas também por dar o gatilho inicial para outro debate: edificações inseridas em contextos urbanos desempenham também papel semântico de importância local. Portanto, ao se projetar para visualmente desamparados, uma abordagem possível seria a de olvidar por completo o aspecto plástico, mas, como já visto, em arquitetura a forma é muito mais que mero devaneio, sendo resultado inescapável (MAHFUZ, 2003). Negligenciar a visão seria, em dada instância, negligenciar a arquitetura em si. Ademais, inserido em um contexto citadino, é importante buscar a comunicação e oportunidade da edificação proposta com a comunidade ali presente, haja vista que esta já se encontrava ali anteriormente e será a responsável por sua manutenção (MCGINTY, 1984). Retomando os estudos sobre os demais sentidos, segundo Silva (2011, p. 58) “ter em conta o sentido do tato ao longo do processo criativo que é o projeto de arquitetura pode ser determinante para a criação de espaços mais confortáveis e tatilmente atrativos”. O autor também elucida que há o chamado tato ativo e o tato passivo, sendo o primeiro relacionado às características inerentes ao material e a forma de objetos compostos por eles, como peso, forma global (arredonda, reta, irregular) e forma exata do objeto (a forma exata de uma escultura é indefinidamente diferente da forma de uma bola, por exemplo). Trabalhar as texturas, segundo o autor, seria de uma riqueza sensorial inigualável. Ademais, conforme Silva (2011), Quando o nosso olhar pousa nas superfícies que definem o espaço, pode-se sentir grande parte das qualidades táteis dos materiais. Estas caraterísticas tornam-se previsíveis devido às experiências táteis passadas. É natural saber antecipadamente qual a consistência, temperatura ou textura de determinados materiais usados em arquitetura, tal como a madeira, o vidro ou a pedra; logo, mesmo sem tocar concretamente, existe uma ideia acerca do quão agradável ao tato será determinada obra. (SILVA, 2011, p. 58)

Para as pessoas com deficiência visual, o tato também se prova extremamente importante para a leitura, desenvolvida através do sistema Braille (Figura 35), idealizado por um ex-aluno do INJA a partir de uma adequação do sistema de comunicação naval (L’INJA, 2020). Kate (2008), contudo, alerta que a textura só pode oferecer informações até o alcance dos braços. A pandemia de COVID-19 (BERNARDINI, CIOTTI, et al., 2020), também, infere um certo desafio à apreensão tátil por meio do toque proposto por Pallasma (2011). As superfícies devem ser resistentes e facilmente limpáveis, evitando-se poros e pontos de acumulação de


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sujeira e germes. A experiência tátil ao nível das mãos seria sempre intermediada pela constante limpeza das mãos (BERNARDINI, CIOTTI, et al., 2020). Figura 35 - Inscrição em braile

Fonte: CHRISTOPHE MOUSTIER, 2005.

Em termos de solução arquitetônica, contudo, o tato é a mais utilizada (AMORIM, 2013). Não atoa o direcionamento de pessoas com deficiência visual é feito por meio de pisos podo-táteis (Figura 36). Estes desempenham tanto papel tátil quanto visual, devendo ser claramente distinguíveis do piso onde se instalam (ABNT, 2020). Figura 36 - Piso podo tátil em calçada

Fonte: AECWEB, 2021;

Aranius (2020), por outro lado, recomenda o uso do tato para além do toque. sugerindo a existência de diferentes temperaturas e materiais de calor específico distintos, de modo que o transeunte perceba claramente onde está localizado. As


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juntas de dilatação do piso podem, por exemplo, ser acondicionadas de modo a indicar ao usuário quão longe ele está do ponto de partida. Por meio da sobreposição de placas é possível ao visitante saber se está andando para frente ou para trás. Similarmente, a dimensão serve para diferenciar largura de profundidade, tornando possível distinguir em que direção se está encarando uma sala sem usar a visão. (ARANIUS, 2020, p. 31, tradução nossa).

No Brasil, o sistema de referenciamento por pisos táteis é regulamentado tanto pela NBR 9050:2020 (ABNT, 2020), quanto pela NBR 16.537:2016 (ABNT, 2016). Experimentações sensoriais podem ser exploradas, desde que o disposto em norma seja atendido. Segundo Pallasma (2011, p. 47), “a audição estrutura e articula a experiência e o entendimento do espaço, [...] e o espaço analisado pelo ouvido se torna uma cavidade esculpida diretamente no interior da mente”. Nessa segunda sentença, a fala lírica do autor vela um aspecto precioso do uso da sonoridade em arquitetura: a capacidade de localização do indivíduo no espaço e a identificação deste mediante do som. De acordo com Kate (2008, p. 16, tradução nossa), Para uma pessoa que não enxerga, o sentido mais informativo e desenvolvido é a audição. Som é onidirecional, provendo informação acerca de atividades que estão por todos os lados, longe ou perto. Som dá avisos e oferece direções. Construções retornam sons para nós, estruturando e articulando nosso entendimento do espaço.

Em termos de arquitetura, Rasmussen (2015, p. 233) aponta que A maioria das pessoas diria provavelmente que, como a arquitetura não produz sons, não pode ser ouvida. Mas ela tampouco irradia luz e, no entanto, podemos vê-la. Vemos a luz que ela reflete e desse modo adquirimos uma impressão da forma de do material. Recintos de formatos e materiais diferentes reverberam de modo diverso.

Conforme alertados por Bernardo (1970), arquitetos podem induzir a experiência sensorial e a identificação de diferentes ambientes através da reverberação condicionada pelas dimensões de uma sala e seus revestimentos. Em um sentido mais amplo, pode-se imaginar algo para além do proposto por ambos os autores: o barulho enquanto objeto de referência. Pensar a área mais barulhenta, mais próximo à rua, como um ponto focal, ou a instalação de aparelhos de som nas áreas de convivência, de modo a guiar o usuário e causar em si a sensação de aproximação ou distanciamento destas áreas.


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Muito importante também é lembrar do eco e da reverberação, que podem causar demasiado incômodo ao usuário (ARANIUS, 2020). Sendo a audição o sentido mais utilizado por pessoas com deficiência visual, a acústica dos espaços deve ser bem trabalhada (AMORIM, 2013). Em áreas de leitura, por exemplo, deve-se imaginar áreas reservadas e que diminuam o eco para garantir a concentração de quem precise ler em braile (Figura 37). Figura 37 - Cabines de leitura da Biblioteca para Cegos da Cidade do México

Fonte: TALLER DE ARQUITECTURA, 2013.

Áreas de sociabilidade devem, portanto, ter especial cuidado, para evitar que o som atordoante das conversas desoriente o usuário ou mesmo impeça a conversação entre duas ou mais pessoas. Para além de placas acústicas de forro, podem também ser trabalhadas reentrâncias da edificação e de seu mobiliário, a fim de reduzir a plenitude de superfícies que reforcem a reverberação. Kate (2008, p. 17, tradução nossa) alerta que “o olfato é raramente usado como uma pista direcional. Contudo, pode ser usado como uma fonte de informação e orientação”. A autora cita o exemplo de uma cafeteria que pode revelar a um cego sua localização. Segundo Silva (2011, p. 36), “o fato de possuir um cheiro próprio dota o material de um enorme potencial expressivo bastante inexplorado na arquitetura”. Pallasma (2011), por outro lado, dedica-se ao repertório aromático desenvolvido pelo indivíduo, que pode usar de sua memória olfativa para desencadear sensações e memórias. Segundo o autor, “um cheiro específico nos faz reencontra de modo inconsciente um espaço totalmente esquecido pela memória da retina; as narinas


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despertam uma imagem esquecida e somos convidados a sonhar acordados” (PALASMAA, 2011, p. 52). A fala de Pallasma também elucida a experiência sensorial que pode ser provocada por diferentes aromas. Nesse sentido pode-se imaginar, portanto, que espaços de lazer e descanso podem por meio dos cheiros ali implantados facilitar o repouso e calmaria em meio ao caos do mundo contemporâneo. Uma intervenção paisagística poderia claramente prever certas espécies vegetais de aroma agradável. É justamente esse o caso do Jardim Sensorial da Escola João Paulo (Figura 38) sendo este um espaço que tem como objetivo possibilitar a percepção e valorização do mundo vegetal através do cheiro, do gosto e do toque. [...]. No passeio pelo jardim, os visitantes puderam contemplar uma coleção de plantas aromáticas, diversos tipos de folhas, flores coloridas, fonte de água, como também um caminho com diferentes texturas, para que pudessem pisar e perceber as variadas sensações. (ESCOLA JOÃO PAULO I, 2020, n.p)

Figura 38 - Crianças não cegas em atividades no Jardim Sensorial da Escola João Paulo (Feira de Santana, Bahia)

Fonte: Escola João Paulo I, 2020

Conforme apresentado anteriormente, o paladar seria, dos cinco sentidos, aquele menos relacionado à arquitetura e orientação do espaço (KATE, 2008). Reitera Silva (2011, p. 34) que A possibilidade da participação do gosto, enquanto sentido fisiológico, na apreciação estética da arquitetura é algo que não se pretende aqui defender. O que interessa neste estudo é a percepção fisiológica da obra arquitetônica, e uma vez que, o gosto enquanto sentido fisiológico não está, de facto, diretamente relacionado com a experiência espacial, não se aprofunda o seu estudo.


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A apreciação desse sentido, portanto, poderia ser alcançada somente a partir das experiências do usuário com a comida e aperitivos fornecidos no local, ou mesmo de frutas ofertadas em árvores utilizadas no projeto paisagístico, mas não poderiam, como bem apresentado por Silva (2011), relacionadas diretamente à arquitetura. Segundo Silva, Alencar e Ribeiro Filho (2013, p. 7), “para uma melhor compreensão da cidade é importante não se fundamentar apenas em conceitos préestabelecidos, é necessária uma longa sucessão de experiências, isto é, de vivência”. Nesse mesmo sentido, Pallasma (2011, p. 61) afirma que “contemplamos, tocamos, ouvimos e medimos o mundo com toda nossa existência corporal, e o mundo que experimentamos se torna organizado e articulado em torno do centro de nosso corpo”. Colocar o corpo enquanto protagonista da apreensão do espaço é, portanto, tarefa

fundamental de

quem

objetive projetar ambientes e

cidades que

verdadeiramente integrem o indivíduo a seu meio. No caso das pessoas com deficiência, a construção de um repertório sensorial facilita a apreensão do espaço, baseado em padrões e lógicas entendidos subjetivamente ao longo da vida (KATE, 2008). Porém, é importante lembrar que pessoas com deficiência visual recorrem a elementos extracorpóreos no auxílio de sua apreensão do espaço, como a bengala e o cão-guia (ABNT, 2020). Tais condicionantes, portanto, devem também ser consideradas em projeto.

2.4

NBR 9050 e a acessibilidade para pessoas com deficiência visual Tendo sua primeira edição datada de 1985, a NBR 9050 regulamenta os

padrões de acesso e uso das edificações, não só a pessoas com deficiência físicocognitiva, mas também a toda a população (MORAES, 2007). Chegando em 2020 à sua quinta edição, e com alterações em suas definições, a Norma, além de traçar as diretrizes de acessibilidade, também elucida o profissional acerca dos diferentes estímulos que pessoas com alguma deficiência de percepção do espaço podem ter. Segundo Moraes (2007, p. 70), seria importante que os profissionais soubessem, por exemplo, quais os principais problemas enfrentados por pessoas com deficiência visual no ambiente construído não acessível. Saber como essas se orientam e quais outros canais sensoriais utilizam. Assim, ao projetar o profissional poderia contribuir para realçar as habilidades dessas pessoas, reduzindo ou eliminando as barreiras identificadas.


64

Ainda segundo Moraes (2007), um dos pontos fortes da NBR 9050 é o foco na independência e autonomia das pessoas com deficiência. Em paralelo, França (2010, p. 965) elucida que Pode-se inferir que as barreiras atitudinais são representações dos julgamentos políticos, morais e estéticos que compõem o habitus de uma cultura dada [...]. Em se tratando das PCD, as barreiras arquitetônicas e atitudinais são representações da violência simbólica instituída, em parte, pela naturalização da ação dos atores sociais e das instituições e, em parte, pelo desconhecimento do ordenamento jurídico que ampara esses indivíduos.

As diretrizes determinadas pela NBR 9050 tangentes às pessoas com deficiência visual podem ser divididas em dois grupos principais: (1) àquelas voltadas ao direcionamento dentro de um percurso, indicando trechos onde o usuário deve ficar mais atento ou quando pode seguir tranquilamente, e (2) àquelas inerentes ao uso e georreferenciamento da edificação e seus bens. No primeiro grupo, podemos elencar o uso de piso podo-tátil, normatizado pela NBR 166537, também servindo a pessoas com baixa visão, as guias de balizamento (Figura 39), utilizadas para guiar usuários de bengala, bem como os dispositivos sonoros, utilizados nas travessias de pedestres, por exemplo. Figura 39 – Guia de Balizamento, conforme NBR 9050:2020

Fonte: ABNT, 2020, p. 59.

No segundo grupo constam as indicações em braile, obrigatórias nos corrimões de rampas e escadas que conectam diferentes pavimentos e facultativas em portas e instrumentos, e o uso de mapa tátil, definido como “representações visuais, táteis e/ou sonoras que servem para orientação e localização de lugares, rotas, fenômenos geográficos, cartográficos e espaciais” (ABNT, 2020, p. 46). No entanto, a Norma não determina como este deve ser elaborado, ou mesmo delega tal atribuição a outro instrumento regulamentador, uma deficiência existente desde as primeiras edições da norma (BRANDÃO, 2011).


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Também valem ressaltar três outros pontos: primeiro que a NBR 9050 também prevê o uso de cão-guia, estabelecendo que estes tenham seu espaço garantido em algumas localidades da edificação (ABNT, 2020), e segundo que, salvo o uso de alertas sonoros, a norma pouco depende de maquinário e ou elementos sofisticados para garantir o pleno uso de edificações e espaços públicos por pessoas com deficiência visual. Por fim, que muitas das estratégias adotadas são focadas no desenho universal (ABNT, 2020), isto é, não foram necessariamente pensadas para pessoas com deficiência visual, mas sim para garantir o usufruto de bens arquitetônicos e urbanísticos por todas as pessoas, independendo de suas faculdades físicas e mentais (FRANÇA, PAGLIUCA, et al., 2010).

2.5

A Associação de Deficientes Visuais de Timon Registrada oficialmente em abril de 2005, a Associação de Deficientes Visuais

de Timon (ADVIT) localiza-se no número 3029 da Avenida Presidente Médici, bairro Mateusinho, zona centro sul da cidade (Figuras 40 e 41). Funciona em uma edificação cedida pela Prefeitura da Cidade, outrora denominada Escola 15 de Fevereiro12. Figura 40 - Localização da ADVIT na cidade

Figura 41 – ADVIT – Situação

Fonte: Adaptado de GOOGLE MAPS, 2021.

Em vermelho, atual localidade da ADVIT; em azul, terreno proposto para o projeto. Fonte: Adaptado de GOOGLE MAPS, 2021.

12

Informação cedida via e-mail pela Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania ao dia 13 de setembro de 2021.


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Em 2011, a edificação apresentava um caráter ainda mais simplório, sendo suas salas conectadas por um corredor externo sem nenhuma proteção contra o mau tempo (Figura 42). Não havia calçada que circundasse o lote, sendo o acesso possível somente por meio de uma rampa que conectava a construção ao platô de uma parada de ônibus. Figura 42 - Sede da ADVIT em novembro de 2011

À esquerda, Avenida Presidente Médici (BR 316). À direita, Travessa São Marcos. Fonte: GOOGLE STREET VIEW, 2021.

Em 2012, constrói-se o muro nos limites do lote e derruba-se a árvore localizada à frente da Avenida Presidente Médici (Figura 43). Estando em uma área de expansão da cidade, no vetor condicionado pela BR-316, o local apresenta desde esse ano pontos de acúmulo de lixo, principalmente nos lotes ociosos ao seu redor e na Travessa São Marcos, ainda não pavimentada. Figura 43 - Sede da ADVIT em novembro de 2012

Fonte: GOOGLE STREET VIEW, 2021.


67

Mesmo com as reformas empreitadas pela Prefeitura e com a construção de anexos à construção, a ADVIT – e, por conseguinte, o Município de Timon – carece de uma edificação que satisfaça plenamente as atividades socioculturais e educacionais voltadas ao amparo de pessoas com deficiência visual no tangente a seus direitos civis e constitucionais13.

13

Dadas as impedâncias da pandemia de COVID-19 e a complexidade de gestão de certos órgãos da administração pública durante estes tempos desafiadores, não se conseguiram informações mais atualizadas acerca das atribuições da ADVIT e de suas instalações, sendo a visita ao local impossibilitada ao tempo de execução desta pesquisa. Utilizaram-se, portanto, as informações disponíveis nos canais oficiais da Prefeitura Municipal de Timon.



69

3 ANÁLISE DE PROJETOS SEMELHANTES De modo a garantir a maior compreensão dos programas arquitetônicos para o projeto aqui almejado, e das consequentes soluções aplicadas em diferentes localidades para as necessidades levantadas, nesta seção serão estudados quatro projetos semelhantes ao objetivo aqui defendido, dois internacionais, um nacional e um regional. A escolha desses projetos calcou-se em três parâmetros principais: (1) a concordância do projeto ao programa levantado para a cidade de Timon, (2) sua relevância em termos de solução arquitetônica e (3) terem sido primordialmente projetados para o fim de instituições de apoio a pessoas com deficiência. Este dois últimos foram inclusive os de maior complexidade para adequação, haja vista que, conforme apresentado anteriormente, a maioria das instituições desse cunho se alojam em edificações provisórias, muitas vezes meramente adaptadas com pequenas reformas, sem levar em consideração as necessidades específicas do uso e, muito menos, a arquitetura dos sentidos, aqui entendida como de suma importância para uma bem sucedida empreitada arquitetônica que pense em solucionar o espaço para pessoas que não podem apreende-lo visualmente (BERNARDO, 1970). Em segunda instância, a adoção de um estudo de caso internacional extra se deu pela escassez de dados sobre os projetos brasileiros encontrados que se alinhassem aos parâmetros previamente apresentados14. Entendida a necessidade de avaliar projetos que tenham a mínima semelhança com o contexto em que se pretende intervir, esses projetos nacionais, mesmo que de dados incipientes, foram mantidos. Os projetos a se apresentarem estão sumarizados na lista abaixo e demarcados na Figura 44, sendo eles: •

Internacional – Centro de Invidentes y Débeles Visuales (Cidade do México, México)

14

Internacional – Openshaw Center for the Blind (Salt Lake City, Estados Unidos)

Nacional – Instituto Laramara (São Paulo, São Paulo, Brasil)

Regional – Instituto de Cegos da Bahia (Salvador, Bahia, Brasil)

Os contatos com as instituições escolhidas se realizaram entre os meses de agosto e setembro de 2021, não havendo contrapartida dos responsáveis para fornecimento de mais dados acerca dos projetos. As tratativas se deram principalmente por telefone e e-mail.


70

Figura 44 - Localização dos projetos semelhantes a serem estudos em comparação ao projeto proposto

Fonte: Elaborado pelo autor a partir de Google Maps, 2021.

3.1

Centro de Invidentes y Débiles Visuales (Ciudad de Mexico, México) Inaugurado em 2001 na capital do México, com projeto assinado por Mauricio

Rocha, com crivo do escritório Taller de Arquitectura, o Centro de Invidentes y Débiles Visuales15 (Figura 45)) conceitua-se como um dos projetos de maior relevância mundial no tangente ao apoio e design voltado para pessoas com deficiência visual (PLATAFORMA ARQUITECTURA, 2011). De acordo com o arquiteto responsável, Mauricio Rocha, “foi criado como parte de um programa do governo do Distrito Federal para prover de serviços sociais e culturais uma das zonas periféricas mais pobres e povoadas

15

da

Cidade

do

México”

(ROCHA,

2000,

Doravante, o projeto será chamado somente por “Centro de Invidentes”.

apud

PLATAFORMA


71

ARQUITECTURA, 2011, tradução nossa). O empreendimento se desenvolve em doze blocos, majoritariamente térreos, a serem analisados com mais cautela adiante. Figura 45 - Centro de Invidentes y Débiles Visuales

Fonte: Luis Gordoa, 2011. TABELA 2 - FICHA TÉCNICA DO CENTRO DE INVIDENTES Y DÉBILES VISUALES ANO DO PROJETO

2001

ARQUITETO RESPONSÁVEL

Mauricio Rocha Av Telecomunicaciones & Plutarco Elías Calles, Chinam Pac de Juárez, 09208 Ciudad de México, D.F., México 14.000 m²

ENDEREÇO ÁREA DO TERRENO ÁREA CONSTRUÍDA TOTAL ÍNDICE DE APROVEITAMENTO (IA)

8.500 m² 16

0,61

TAXA DE OCUPAÇÃO (TO)

42,28%

NÚMERO DE PAVIMENTOS

Até 2 (térreo + superior)

Fonte: Elaborado pelo autor com base em Plataforma Arquitetctura, 2011

O

projeto

foi

implantado

no

cruzamento

dos

logradouros

Avenida

Telecomunicaiones e Plutarco Elías Calles, em uma das áreas mais adensadas da cidade, conforme se pode observar nas Figuras 46 e 47 A disposição do empreendimento contrasta ligeiramente com seu entorno extremamente ocupado, conforme se verifica com a escassez de espaços ociosos a seu redor. As edificações ao redor são majoritariamente térreas e de usos variados.

Para os fins deste trabalho, define-se Índice de Aproveitamento (IA) como o “valor obtido pela divisão da área construída pela área do terreno” (TIMON, 2015, n.p.).

16


72

Figura 46 – Localização do Centro de Invidentes na Cidade do México

Fonte: Adaptado pelo autor de Google Maps, 2021. Figura 47 – Ocupação do Centro de Invidentes, com edificação em destaque

Fonte: adaptado de Google Maps, 2021.

Considerando os dados apresentados, e o estudo solar da figura 48, a adoção de um partido volumétrico que isolasse a construção de seu entorno parece favorecer as questões de conforto térmico. Figura 48 – Estudo Solar do Centro de Invidentes em Planta

Fonte: Luis Eduardo Carvalho, 2022.


73

O projeto, contudo, nega qualquer contato com o exterior: involucrado por um muro em pedra de até três metros de altura (Figura 49), com aberturas somente nos acessos à edificação. A adoção desse muro parte de um conceito previamente estabelecido para o projeto, também operando como contenção a adequações topográficas do entorno (ROCHA, 2000, apud PLATAFORMA ARQUITECTURA, 2011). Segundo o arquiteto, Um muro cego cerca o complexo em seus quatro lados e age tanto como uma barreira acústica quanto como um muro de arrimo para amparar a terra movida dos terrenos baldios das áreas vizinhas. Em contraste com o exterior abstrato, a fachada interna [...] cria bancos que mudam de forma, altura e orientação, então criando diferentes pátios. (ROCHA, 2000, apud PLATAFORMA ARQUITECTURA, 2011, n.p, tradução nossa) Figura 49 – Croqui do arquiteto para o muro do Centro de Invidentes

Fonte: PLATAFORMA ARQUITECTURA, 2011.

Mesmo que parte de um conceito previamente elaborado pela equipe, e até mesmo

condicionado

pelas

alterações

topográficas

implicadas

ao

terreno

anteriormente à implantação do projeto, estando em um contexto urbano estruturado, o muro adotado pode se verificar como um empecilho tanto à apropriação da edificação por parte dos moradores da comunidade (ROTH, 2018; GEHL, 2013), quanto favorecer a criminalidade e a sensação de insegurança (JACOBS, 2011). Muro adentro, o espaçamento entre os blocos é relativamente pequeno, chegando a apenas cinco metros em alguns trechos, o que poderia privar alguns ambientes da devida iluminação e ventilação. Nesse ponto, o projeto aproveita-se das curvas de nível para garantir condições de conforto aos ambientes internos, escalonando os blocos independentes ao longo do terreno (Figura 10) e utilizando escadas e rampas para conexão dos espaços. As áreas externas, porém, carecem de proteção contra as intempéries, estando os usuários do espaço desprotegidos contra chuva e calor.


74

Figura 50 – Maquete do Centro de Invidentes Especial atenção pode ser dada às curvas de nível, mais evidentes à extremidade esquerda, próximo ao muro de divisa entre o lote e a calçada.

Fonte: PLATAFORMA ARQUITECTURA, 2011.

O complexo arquitetônico e desenvolve em onze volumes menores, compostos por edificações de diferentes tipologias, interligadas por pátios externos. Conforme apresentado pelo arquiteto, Os edifícios são simples formas retangulares, a base de marcos de concreto e tetos planos. Assim, cada grupo de edifícios explorar diferentes relações espaciais e estruturais, tornando cada espaço claramente identificável para o usuário, variando em tamanho e proporções, intensidades de luz, e peso dos materiais (ROCHA, 2000, apud PLATAFORMA ARQUITECTURA, 2011, n.p, tradução nossa).

A adoção do partido de diferentes blocos independentes permite uma ocupação mais confortável do perímetro edificável do lote, além de solucionar a questão topográfica sem demandar maiores trabalhos de corte e aterro. A Figura 11 apresenta a planta baixa do pavimento térreo, onde se conseguem perceber as fortes modulações do projeto. Figura 51 – Planta baixa do Centro de Invidentes

Fonte: PLATAFORMA ARQUITECTURA, 2011.


75

O Centro de Invidentes conta com as seguintes dependências, divididas por setor na Tabela 3 e apresentadas em planta na Figura 52. Tabela 3 – Organograma do Centro de Invidentes Convivência

Pedagógico

Administrativo

Restaurante (205 m²)

10x ateliês (52 m² cada)

Sala de Reuniões (30 m²)

Esporte e Lazer Ativo Quadra poliesportiva (546 m²)

2x Salas de Exposição (132 m²)

17x salas de aula (33 m² cada)

Recepção (67 m²)

Piscina (850 m²)

Tifloteca17 (630 m²)

7 Gerências (15 m² cada)

Vestiários (285 m²)

Copa (6 m²)

Auditório

Serviço e apoio

Auditório (348 m²)

Cozinha industrial (98 m²)

Plateia para 170 pessoas Urdimento (sem elevador) Backstage e camarins

Despensas e depósitos (52 m²) Casa de máquinas (95 m²)

Estacionamento Sala dos Salas de (56 vagas) professores áudio e (73 m²) projeção Fonte: Elaborado a partir de PLATAFORMA ARQUITETUCTURA, 2011. Figura 52 - Setorização do Centro de Invidentes

Esporte e Lazer Ativo Tifloteca Auditório

Serviços Restaurante

Salas de Aula/Oficinas Administrativo

Fonte: Adaptado de PLATAFORMA ARQUITECTURA, 2011

17

Biblioteca adaptada a pessoas com deficiência visual.


76

Os acessos principais se dão pelo estacionamento a sul, com entrada pela Avenida Telecomunicaciones, e um acesso secundário para o setor de esportes a norte, na Prol Plutarco Elías Calles. (Figura 53). Considerando que esses departamentos podem também ser usados pela comunidade (PLATAFORMA ARQUITECTURA, 2011), é interessante perceber a diversidade de acessos permitida pela proposta arquitetônica. Figura 53 – Indicação dos acessos do Centro de Invidentes

Fonte: adaptado de PLATAFORMA ARQUITECTURA, 2011

Conforme se verifica na Figura 54, as dependências administrativas encontramse mais próximas da área externa, o que facilita o controle de acesso. As salas de aula e oficinas se desenvolvem nos alinhamentos posteriores, ficando a lateral esquerda destinada às dependências de serviço, com acesso de carga e descarga permitido facilmente pelo mesmo estacionamento. As áreas de esporte e lazer ativo se desenvolvem nesse mesmo alinhamento lateral, aproveitando-se de um segundo acesso independente para a rua Plutarco Elías Calles, a norte. Tanto auditório como cozinha e setor de esportes contam também com acesso direto para o pátio de serviços. A tifloteca serve como ligação entre o setor pedagógico e o setor de atividades físicas, o que poderia indicar conflito de fluxos, mas o projeto se aproveita de um hall interno a tifloteca para sanar o problema.


77

Figura 54 – Fluxograma do Centro de Invidentes

Fonte: elaborado a partir de PLATAFORMA ARQUITECTURA, 2011.

Dos onze volumes presentes no projeto (Figura 55), verificam-se apenas dois tipos que se repetem mais corriqueiramente ao longo do empreendimento, sendo estes dedicados às maiores salas de ateliê. Todos podem facilmente ser compreendidos como prismas simples com pequenos recortes de vazio nas esquadrias de acesso encimados por uma laje de concreto robusta e plana. As salas do tipo 1 (Figura 56) se favorecem de grandes panos de vidro, com excelente relação com o espaço externo. O tipo 2 (Figura 57) já apresenta um volume mais robusto. Conforme defendido pelo arquiteto, [Estes] edifícios são mais sólidos [com] muros de tepetato18 sobre uma base de concreto, sendo os acessos as únicas aberturas junco com uma faixa horizontal de vidro entre a parede e a laje, circunstância que limita a relação visual ao exterior, mantendo uma boa iluminação e a funcionalidade das atividades que estes desenvolvem. Porém, na tifloteca, se substitui o tepetato por vidro, dando-lhe caráter ao edifício a partir da praça principal (ROCHA, 2000, apud PLATAFORMA ARQUITECTURA, 2011, n.p., tradução nossa). Figura 55 – Composição dos diferentes tipos de bloco do Centro de Invidentes

Fonte: Elaborado pelo autor a partir de Google Maps, 2021. 18

Designação comum no México para conformação geológica endurecida por compactação ou cimentação (PLATAFORMA ARQUITECTURA, 2011).


78

Figura 56 – Bloco “Tipo 1” do Centro de Invidentes

Figura 57 – Bloco “Tipo 2” do Centro de Invidentes

Fonte: Luis Gordoa, 2001

Fonte: Luis Gordoa, 2001.

O jogo apresentado pelo arquiteto pode ser verificado nas Figuras 58, 59 e 60, onde uma seta vermelha indica a conexão realizada entre a área esportiva e o restante do projeto através de um vazio virtual criado pelas esquadrias de vidro da tifloteca. Figura 58 – Axialidade no Centro de Invidentes

Fonte: Adaptado de ROCHA, 2001, apud PLATAFORMA ARQUITECTURA, 2011


79

Figura 59 - Vista dos paineis de vidro da Tifloteca a partir da praça principal

Fonte: Luis Gordoa, 2001.

O jogo volumétrico das demais dependências segue o mesmo padrão, com o uso de tepetato, vidro e concreto. Nas salas de aula mais a norte verifica-se um ligeiro arrojo formal, permitido por uma laje que encima uma das faixas de conexão entre os blocos de salas (Figura 60). Apesar disso, um rasgo em seu entremeio continua mantendo os usuários expostos às intempéries. Na fachada voltada para o limite norte do terreno, grandes panos de vidro favorecem a iluminação interior, estando ligeiramente protegidos da insolação pelo avanço das lajes de cobertura (Figura 61). Figura 60 – Planta baixa do Centro de Invidentes

Figura 61 – Planta baixa do Centro de Invidentes

Fonte: PLATAFORMA ARQUITECTURA, 2011.

Fonte: PLATAFORMA ARQUITECTURA, 20111


80

O corte longitudinal (Figura 62) evidencia também a adoção de diferentes alturas para o auditório, a tifloteca e o setor de esportes, evidenciados volumetricamente dos demais departamentos. Figura 62 – Corte longitudinal do Centro de Invidentes

Fonte: PLATAFORMA ARQUITECTURA, 2011.

O sistema construtivo utilizado na construção lança mão do concreto armado, tanto pelo seu papel plástico quanto pelo aproveitamento da rigorosa modulação apresentada. Nas áreas da piscina, provavelmente devido ao grande vão livre necessário, a cobertura adotada diverge do restante do projeto, valendo-se de uma estrutura plana de perfis metálicos encimados por uma telha leve e relativamente translúcida (Figura 63). Figura 63 – Piscina do Centro de Invidentes

Fonte: Luis Gordoa, 2001.

Uma outra variação também pode ser encontrada nas áreas dos auditórios e quadras de esportes (Figura 24) provavelmente também por conta dos vãos livres necessários. Nessas áreas, porém, o forro recebe um tratamento em placas amadeiradas de seção transversal retangular vertical, servindo como “baffles”, tanto solucionando a questão acústica desses espaços, onde a reverberação poderia ser demasiado presente, quanto elaborando uma proposta esteticamente agradável e condizente com o restante do empreendimento, que também se vale de materiais naturais expostos e em aspecto cromático semelhante.


81

Figura 64 – Quadra de Esportes do Centro de Invidentes

Fonte: Luis Gordoa, 2001.

Afora as eventuais luminárias que se verificam nas imagens apresentadas, a proposta arquitetônica não parece ser acompanhada de um arrojado projeto luminotécnico, sobremaneira nas áreas externas. Não obstante, os espaços externos à edificação são negligenciados e não contam com intervenção paisagística forte, o que poderia ser também uma solução ao sol do verão e aos ruídos provocados pelo contexto urbano. No que tange as adequações arquitetônicas ao uso da edificação por pessoas com deficiência visual, segundo o autor, Localizadas a altura da mão, as linhas horizontais e verticais formadas no concreto oferecem dicas táteis ao usuário para poder identificar cada edifício. [...] Como se mencionou, as qualidades olfativas da paisagem também são constantes sensores que podemos encontrar tanto na praça principal, com uma ampla gama de plantas de essências e flores, quanto nos jardins perimetrais. (ROCHA, 2001, apud PLATAFORMA ARQUITECTURA, 2011, n.p., tradução nossa)

Não se encontraram dados que embasem a assertiva do arquiteto acerca do potencial olfativo dos escassos espécimes vegetativos presentes no projeto. Quanto ao aspecto material-cromático, uma ressalva possível seria a monótona paleta escolhida. A adoção de uma proposta que não priorizasse o olhar, mesmo que aparentemente válida para um projeto de tal tipologia, renega o potencial das cores para pessoas com baixa visão, que seriam amplamente favorecidas por elementos de maior contraste visual, conforme sugerido na NBR 9050.


82

3.2

Escola para Cegos C. Mark OpenShaw (Salt Lake City, EUA) O projeto do escritório Jacoby Architects para a Escola de Cegos C. Mark

Openshaw (Figura 65) é uma das outras referências internacionais na execução de projetos institucionais voltados para pessoas com deficiência visual (LANDMARK DESIGN, 2021). Apesar de se tratar de uma escola de ensino especial, isto é, voltada ao ensino aprendizagem de todo o currículo do ensino para crianças e jovens cegos e parcialmente cegos, o que não se alinha totalmente ao escopo do projeto de arquitetura aqui pretendido, indo de encontro mesmo às diretrizes brasileiras de ensino19 (BRASIL, 1996), a riqueza de soluções, sobretudo de interiores, desenvolvida pelo escritório de arquitetura, justifica a escolha desse projeto para uma análise mais profunda. A ficha técnica do projeto é apresentada na Tabela 4 TABELA 4 - FICHA TÉCNICA DA ESCOLA PARA CEGOS C. MARK OPENSHAW ANO DO PROJETO

2017

ARQUITETO RESPONSÁVEL

Joe Jacoby / Jacoby Architects

ENDEREÇO

Boulevard Harrison, 742 Sul, Ogden, Utah, EUA

ÁREA DO TERRENO

20

24.976,91 m²

ÁREA CONSTRUÍDA TOTAL

4.645,15 m²

ÍNDICE DE APROVEITAMENTO (IA)

0,18

TAXA DE OCUPAÇÃO (TO)

15,35%

NÚMERO DE PAVIMENTOS Até 2 (térreo + 1) Fonte: elaborado a partir de LDI, 2021; JACOBY ARCHITECTS, 2018. Figura 65 – Escola para Cegos C. Mark Openshaw

Fonte: Jacoby Architects, 2018

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação pressupõe que “O dever do Estado com educação escolar pública deverá ser efetivado mediante a garantia de: I. ensino fundamental obrigatório e gratuito(...); II. progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade ao ensino médio; III. atendimento educacional especializado gratuito aos educandos com necessidade especiais, preferencialmente na rede regular de ensino” (BRASIL, 1996, p. 17, grifo nosso) 20 A Escola para Cegos C. Mark Openshaw divide terreno com a Escola para Surdos de Salt Lake City. 19


83

De acordo com os responsáveis pelo projeto, A ideia para esse prédio foi concebida muitos anos antes de ser realizada. O conceito de design sensorial original focado em criar salas de aula especificamente destinadas a estudantes surdos e cegos. Essa visão foi então expandida para não somente incluir o espaço para as crianças, mas também um muito necessário espaço de convivência para as comunidades cegas e surdas (JACOBY ARCHITECTS, 2018, n.p., tradução nossa).

Este excerto ressalta um elemento que será muito visto ao longo desta análise: a importância que o escritório deu não somente aos usuários finais, mas também à comunidade. Para os fins desse estudo, as soluções propostas para a Escola de Openshaw21 que sejam inteiramente voltadas ao ensino-aprendizagem da matriz curricular do ensino básico, conforme previso na Lei de Diretrizes Básicas da Educação (LDB), serão filtradas para apreender as soluções de arquitetura voltadas aos ambientes, internos e externos, focados na experiência sensorial de pessoas com deficiência visual. A Escola Openshaw implantou-se no mesmo terreno destinado à Escola de Surdos para Surdos Jean Massiau (Figura 66 e Figura 67), estando ambas sob gerência do mesmo ente responsável, a Utah Schools for the Deaf and Blind (USDB), sendo Utah o único estado que oferece financiamento educacional a cegos e surdos (USDB, 2020). Interessante perceber como, mesmo estando em uma via relativamente importante (a 3300 S, demarcada na imagem seguinte), o contexto urbano direto comporta-se como um típico subúrbio estadunidense, notadamente marcado por residências térreas, relativamente espaçadas, com comércio e serviços tendendo mais às vias de alto fluxo, sem muita miscigenação. Outro ponto também interessante é a proximidade do terreno ao Parque Memorial e Mortuário Washington.

21

Doravante, o projeto será intitulado Escola Mark Openshaw


84

Figura 66 – Localização da Escola Mark Openshaw na cidade de Salt Lake City

Fonte: adaptado de Google Maps, 2021. Figura 67 – Contexto urbano imediato às Escola Mark Openshaw e Escola para Surdos Jean Massiau

Fonte: adaptado de Google Maps, 2021.

A implantação da Escola Mark Openshaw no terreno (Figura 68) garante bons recuos com o contexto imediato. Tais recuos foram posteriormente aproveitados para abrigar as estruturas de estacionamento da escola. Estando mais a norte, e com uma ventilação predominantemente vindo do oeste e sul (CEDAR LAKE VENTURES, 2019), as maiores fachadas e consequentes aberturas se voltam justamente para sul, haja vista a necessidade de maior insolação durante os períodos mais frios do ano, conforme se verifica na Figura 69 e na Figura 70. O posicionamento das edificações no terreno não interfere em seus respectivos aproveitamentos de fachadas voltadas para o sol.


85

Figura 68 – Implantação da Escola Mark Openshaw, em destaque, e Escola para Surdos Jean Massiau, em segundo plano

Fonte: Adaptado de Google Maps, 2021 Figura 69 – Estudo Solar da Escola Mark Openshaw em Planta

Figura 70 – Estudo Solar da Escola Mark Openshaw em perspectiva

Fonte: Luis Eduardo Carvalho, 2021.

Fonte: Luis Eduardo Carvalho, 2021.

Estando em lote limitado por outras propriedades, os acessos são condicionados às vias que interceptam o terreno (Figura 71). Os que pretendem acessar a Escola Mark Openshaw devem fazê-lo preferencialmente pelas entradas leste e oeste, sendo possível também caminhar ao longo dos domínios da Escola de Surdos para chegar à edificação pretendida.


86

Figura 71 – Indicação dos Acessos à Escola Mark Openshaw

Fonte: adaptado de Google Maps, 2021.

A

composição

volumétrica

do

empreendimento

(Figura

72)

-

e

consequentemente suas fachadas (Figura 73) - parte de dois conjuntos principais: um mais à esquerda, onde se instalam a quadra de esportes e os setores administrativos e de apoio pedagógico, e um à direita, onde se situam as salas de aula e o pátio sensorial, conforme se verifica em planta (Figura 74). No primeiro caso, a composição se dá por prismas verticais e horizontais aglutinados conforme necessidades em planta, encimados por coberturas inclinadas e/ou platibandas que sugerem a existência de telhados que não se instalaram de fato, mas criando um jogo formal arrojado e com pontos de destaque nos prismas verticais, ainda realçados pela cor vermelha. O programa à direita constitui-se de um jogo subtrativo, onde se instala um vazio retangular que abriga o jardim sensorial, ficando as salas destinadas a alunos cegos a norte do átrio criado, e os alunos surdos, a sul. Figura 72 – Maquete da Escola Mark Openshaw

Fonte: Jacoby Architects, 2017.


87

Figura 73 – Fachadas Norte e Sul da Escola Mark Openshaw

Fonte: Jacoby Architects, 2017. Figura 74 – Planta baixa da Escola Mark Openshaw

Fonte: Jacoby Archtiects, 2017.

O programa de necessidades da Escola Mark Openshaw encontra-se descrito na Tabela 5 e apresentado em planta na Figura 75.


88

Tabela 5 – Organograma da Escola Mark Openshaw Convivência

Pedagógico

Administrativo

Refeitório (72 m²)

5 x Salas de Aula para Alunos Cegos (71 m² cada)

18 x Salas Administrativas (15 m² cada)

Lobby (335 m²)

5x Salas de Aula para Alunos Surdos (68 m² cada)

Esporte e Lazer Ativo Quadra de Esportes (820 m²)

Balcão de Recepção e almoxarifado (39 m²)

Vestiário (203 m²)

Anfiteatro

Serviço

Palco (132 m²)

Cozinha (37 m²)

Plateia externa (302 m²)

Depósitos (22 m²)

2x Salas para o programa de educação aos pais (89 m² cada) Fonte: Elaborado a partir de Jacoby Architects, 2017. Figura 75 – Planta de Setorização da Escola Mark Openshaw

Esporte e Lazer Ativo Tifloteca

Serviços Restaurante

Salas de Aula/Oficinas Administrativo

Fonte: adaptado de Jacoby Architects, 2018.

Alguns pontos interessam ressaltar acerca do programa. Sendo uma escola de ensino básico, atendendo a crianças em idade até 8 anos, as salas de aula são agrupadas em duplas conectadas por banheiros, o que diminui a quantidade de baterias sanitárias independentes ao longo do projeto. O refeitório é relativamente


89

pequeno, o que poderia indicar que as crianças geralmente se alimentam dentro das salas e/ou essas refeições aconteçam nos diversos espaços livres do projeto. O setor administrativo foi majoritariamente movido para o segundo pavimento, conectando-se aos espaços térreos por meio de um elevador e escadas. Não se identificaram bibliotecas/tifloteca ou salas multimeios. Há também salas destinadas para o “Programa de Educação aos Pais” (Parent Infant Program, no inglês), “desenvolvido pelo estado de Utah para famílias com crianças que sejam surdas, cegas, em qualquer grau” (USDB, 2020, n.p.). O fluxograma geral do projeto é apresentado na Figura 76. Figura 76 – Fluxograma da Escola Mark Openshaw

Fonte: elaborado pelo autor com base em Jacoby Architects, 2011.

A quadra de esportes (Figura 77) tem um elevado pé-direito que se conecta com as circulações do administrativo superior. As questões acústicas desse espaço são solucionadas por baffles em diferentes cores instalados na parte inferior da cobertura. A iluminação natural favorece-se das janelas tipo clerestório, instaladas acima das coberturas dos volumes próximos, e do grande pano de vidro voltado para sul, onde se instalou um palco que pode ser compartilhado com o anfiteatro externo


90

(Figura 78). A solução é oportuna, apesar dos problemas acústicos ocasionados internamente pelas grandes dimensões da quadra e externamente pela própria natureza de propagação do som, mas é um dos exemplos da tentativa dos arquitetos de melhorar as relações entre espaço interno e externo. O esquema do palco é apresentado em planta na Figura 79. Figura 77 – Vista interna da Quadra de Esportes da Escola Mark Openshaw

Fonte: Jacoby Architects, 2018. Figura 78 – Palco conversível

Figura 79 – Croqui do Anfiteatro

Fonte: Jacoby Architects, 2018.

Fonte: Luis Eduardo Carvalho, 2021; elaborado a partir de Jacoby Architects, 2018.


91

O lobby/recepção (Figura 80) que separa a quadra de esportes do pátio sensorial à direita é um dos exemplos de como cores e texturas podem ser utilizadas no trato de ambientes voltados para pessoas com baixa visão ou cegueira total. Os espaços de interesse são demarcados em cores vivas, como vermelho e verde, sendo o preto usado para disfarçar ambientes do apoio administrativo, como almoxarifados e depósitos, deixando o balcão de informações em destaque. Uma ligeira alteração na tonalidade do piso favorece a sensação de localização. Figura 80 – Isométrica do Lobby da Escola Mark Openshaw

Fonte: Jacoby Architects, 2018.

É justamente nesse lobby, e próximo ao setor esportivo, que se concentram as salas de fisioterapia (Figura 81), voltadas para ampliação das capacidades motoras de pessoas com algum tipo de deficiência física. Interessante perceber como esse setor foi alocado próximo à quadra de esportes, com esquadrais de vidro conectando os dois espaços. Assim, as crianças atendidas conseguem ouvir algumas das atividades desenvolvidas na quadra, além de garantir alguma iluminação natural para esses espaços, que estão totalmente afastados das fachadas principais. Figura 81 – Salas de fisioterapia da Escola Mark Openshaw

Fonte: Jacoby Architects, 2018.


92

Nos corredores que dão para as salas de aula (Figura 82), o direcionamento das pessoas com deficiência é facilitado pela paginação do piso e pelas diferentes texturas colocadas à altura das mãos das crianças. A sensação de calor mais próximo ao vidro pode balizar o caminho, também delimitado pelas estruturas de iluminação próximas às esquadrias externas. Nas salas de aula (Figura 83), o uso de pisos e forros com maior potencial de retenção acústica diminuem a reverberação e permitem melhor aproveitamento desses espaços por pessoas cegas. Figura 82 – Corredores NorteSul da Escola Mark Openshaw

Figura 83 – Sala de Aula da Escola Mark Openshaw

Fonte: Jacoby Architects, 2018. Fonte: Jacoby Architects, 2018.

Tais estratégias fazem partem de um preceito muito defendido pelos arquitetos, que afirmam que Textura e cores são usadas como elementos de wayfinding22 e exemplos de design sensorial ao longo do espaço, e a tecnologia é instalada dentro das paredes para melhorar a experiência do usuário e facilitar sua habilidade de se tornar membro independente e operativo da sociedade (JACOBY ARCHITECTS, 2018, tradução nossa).

De acordo com a equipe de arquitetos, “o pátio serve como um jardim sensorial, área de playground e uma oportunidade para alunos cegos interagirem” (JACOBY

A denominação wayfinding serve para designar “como organismos vivos fazem seu caminho de uma origem a um destino e vice-versa” (CARPMAN e GRANT, 2002, p. 427, tradução nossa).

22


93

ARCHITECTS, 2018, tradução nossa, n.p.). O espaço a que se referem (Figura 84) é servido de brinquedos e áreas de plantio, que fomentam a imersão do corpo no processo de apreensão não-visual do espaço. Conforme apontado pelos projetistas, [O] pátio enclausurado é o principal espaço externo dedicado aos jovens alunos. O desenho e as formas são distintos entre os corredores das salas para alunos surdos, a sul, e as salas para alunos cegos, a norte [...]. Os "Jardins de brincar dos cegos" e caminhos enfatizam fortes contrates visuais e o uso de uma variedade de materiais e texturas para encorajar a exploração e o aprendizado. Os materiais de pavimentação variam e mudam frequentemente, incorporando linhas fortes, padrões e pistas táteis para ajudar a ensinar os estudantes como se direcionar no mundo (LANDMARK DESIGN, 2021, n.p., tradução nossa). Figura 84 – Jardim da Escola Mark Openshaw

Fonte: Landmark Design, 2021.

3.3

Associação Brasileira de Assistência à Pessoa com Deficiência Visual – LARAMARA (São Paulo – SP, Brasil) Fundado em setembro de 1991, a Associação Brasileira de Assistência à

pessoa com Deficiência Visual, também denominado por Instituto Laramara, é uma organização não governamental (ONG) que tem por missão “promover o desenvolvimento integral da pessoa com deficiência visual, por meio de atendimento direto, ações de assessoramento e defesa e garantia de direitos, para a sua autonomia e inclusão social” (LARAMARA, 2020, n.p.). A instituição abriga-se atualmente ao bairro Barra Funda, cidade São Paulo, em um complexo edificável de cerca de 10 mil metros quadrados de área construída, compreendido por três prédios principais (Figura 85). Escolheu-se por estudo de caso a edificação situada aos números 338 da Rua Conselheiro Brotero (Figura 86), complementada pelo anexo construído ao


94

número 680 da Rua Brigadeiro Galvão (Figura 87), pois, sendo o programa de necessidades divididos entre as diferentes edificações do empreendimento, nessas encontram-se as dependências almejadas para o projeto arquitetônico aqui defendido. Figura 85 – Macrolocalização e Situação do LARAMARA, com marcação dos lotes pertencentes à instituição

Edificação Sede do Laramara

Anexo à Rua Brigadeiro Galvão

Edifício Sede da Laramara (administrativo)

Demais edificações do entorno

Fonte: adaptado de Google Maps, 2021. Figura 86 – Fachada da Edificação Sede do LARAMARA

Figura 87 – Fachada da Edificação Sede do LARAMARA

Fonte: Google Street View, 2021.

Fonte: Google Street View, 2021.


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TABELA 6 - FICHA TÉCNICA DO INSTITUTO LARAMARA ANO DO PROJETO

Desconhecido

ARQUITETO RESPONSÁVEL

ÁREA DO TERRENO

Desconhecido Rua Conselheiro Brotero, 353, Barra Funda – Sâo Paulo, SP 650 m²

ÁREA CONSTRUÍDA TOTAL

919,50 m²

ÍNDICE DE APROVEITAMENTO (IA)

1,41

TAXA DE OCUPAÇÃO (TO)

98%

NÚMERO DE PAVIMENTOS

Até 3 (térreo + 2)

ENDEREÇO

Fonte: elaborado a partir BLANCO, 2007.

A edificação principal desenvolve-se em três pavimentos. Um assobradado do século XX serve de anexo a algumas atribuições que não puderam ser alocados no projeto principal (BLANCO, 2007). As funções administrativas e de gerência geral foram designadas para o terceiro edifício, do outro lado da Rua Conselheiro Brotero, conectado aos demais por uma faixa de pedestres (Figura 88). Sendo estas dependências mais voltadas aos projetos de maior amplitude do Instituto Laramara (LARAMRA, 2020), não se faz prejudicial realocar os ambientes em lados opostos de uma via, pois não há necessidade de contato permanente entre as partes, sendo muitas questões solucionadas através da tecnologia e uso de aparelhos telefônicos (BLANCO, 2007). Figura 88 – Faixa de pedestres que interliga os edifícios da Laramara à Rua Conselheiro Brotero

Fonte: Google Street View, 2021.


96

A implantação em um local já bastante adensado condicionou o uso de pavimentos acima do solo, diferentemente dos dois outros estudos de caso desenvolvidos até o momento, que eram majoritariamente térreos. Os recuos laterais nulos, permitidos pela legislação urbana da cidade, garantem um maior índice de aproveitamento, porém comprometem a iluminação e ventilação natural dos ambientes mais adentro, estando o aproveitamento da insolação e ventilação resguardados à fachada principal, em todos os pavimentos, e ao fundo, somente nos pavimentos superiores, posto que a edificação ocupa praticamente todo o lote. A Tabela 7 apresenta a divisão do programa de necessidades por setores. A presença nesse projeto de um segmento voltado a atividades clínicas ocasionou a criação de um novo setor no organograma adotado, agora denominado “Setor Clínico”.

Convivência

Área de eventos Refeitório

-

Salão de atividades em grupo

-

Tabela 7 – Organograma do LARAMARA (continua) Esporte e Pedagógico Administrativo Clínico Lazer Ativo EDIFICAÇÃO PRINCIPAL – TÉRREO – 813,54 m² Recepção 2x Salas de Estimulação Sala de Precoce Espera -

Serviço

Arquivo

Pista sensorial

Auditório (15 pessoas) EDIFICAÇÃO PRINCIPAL – 1º ANDAR – 723,15 m² 3x salas de aula

Oftalmologia Atividades de Vida Autônoma EDIFICAÇÃO PRINCIPAL – 2º ANDAR – 615,64 m² Sala de Brinquedoteca orientação e Contabilidade mobilidade 1x sala de estimulação Atendimento precoce psicopedagógico EDIFICAÇÃO PRINCIPAL – 3º ANDAR 1x Sala de apoio

Depósitos

Depósitos

-


97

Tabela 7 - Organograma do LARAMARA (continuação) ANEXO – TÉRREO – 937,20 m² Sala de informática Espaço para Convivência do Jovem e Adulto

Acervo de Braille

Piscina Coordenação

Audioteca

-

-

-

-

Playground

Sala de instrumentos musicais ANEXO – 1º PAVIMETNO – 97,25 m² Sala de Expressão Corporal -

-

-

Sala de Dança Sala de Canto Fonte: elaborado a partir BLANCO, 200723.

Pelo caráter da instituição que visa principalmente atender a crianças e sua adaptação ao mundo externo (LARAMARA, 2020), das edificações estudadas até o momento, esta é uma das mais completas em termos de atendimento psicomotor e atividades pedagógicas voltadas especificamente a pessoas com deficiência visual. O pavimento térreo, apresentado na Figura 89 apresenta uma disposição condicionada pelo formato irregular do terreno, algo característico na cidade de São Paulo (BLANCO, 2007). Figura 89 – LARAMARA – planta baixa do pavimento térreo

Devem-se desconsiderar os números apresentados nas plantas, pois fazem parte da numeração utilizada pela autora do trabalho de onde foram extraídos. Fonte: BLANCO, 2007.

23

Eventualmente, algumas dependências podem não ser apresentadas nos fluxogramas, pois não foi possível determinar onde estão inseridas no pavimento.


98

Ressaltam-se o uso de elevadores, distribuídos nas duas partes do projeto e a existência de uma circulação de serviço, situada no recuo lateral contínuo oeste. Apesar de estreito, esse recuo consome metragem quadrada considerável se comparado às dependências internas, mas soluciona as questões de acesso do projeto. Para uma melhor compreensão do projeto, elaborou-se o fluxograma apresentado na Figura 90. Figura 90 – LARAMARA – fluxograma do pavimento térreo

Fonte: Elaborado a partir de BLANCO, 2007.

Especial destaque pode ser dado às salas de estimulação precoce 24, parte de um projeto pedagógico embasado pelas diretrizes nacionais de ensino a pessoas com atraso no desenvolvimento neuropsicomotor (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2016). Figura 91 – Trilha Sensorial

Fonte: BLANCO, 2007.

24

Não foram disponibilizados registros fotográficos do ambiente.


99

Acerca da trilha sensorial, aponta Blanco (2007, p. 110) que No piso térreo encontra-se também a pista sensorial, onde a criança deficiente visual é levada a experimentar variados tipos de textura e temperaturas, que são simuladas pelos materiais empregados no piso e nas paredes. Encontra-se revestimento tais como, argila, areia, madeira, cimentado liso, cimentado áspero, cerâmica, pedra rústica, xaxim e seixo rolado, plantas desidratadas e animais com pelos em miniatura colocados em pontos estratégicos da trilha que é bem acidentada com escadas e rampa.

No primeiro andar (Figura 92) importa ressaltar três pontos: (1) a ausência de iluminação e ventilação natural na maior parte do pavimento, (2) a existência de uma piscina (Figura 93) utilizada para atividades físicas e desenvolvimento motor, e as salas destinadas às Atividades de Vida Autônoma (AVA, anteriormente Adaptação à Vida Diária). Figura 92 – LARAMARA – planta baixa do 1 º pavimento

Fonte: BLANCO, 2007. Figura 93 – Piscina do Laramara

Fonte: BLANCO, 2007.


100

O fluxograma do pavimento é apresentado na Figura 94 Interessante perceber que os vestiários, totalmente equipados para a piscina, também servem como sanitários para todo o pavimento, uma solução interessante para um espaço tão restrito. Figura 94 – LARAMARA – Fluxograma do primeiro andar

Fonte: elaborado a partir de BLANCO, 2007.

Acerca das Atividades de Vida Autônoma, aponta SIAULYS (2014, apud LARAMARA, 2020): “As Atividades de Vida Autônoma estão ligadas à abordagem socioeducativa e referem-se às atividades de autocuidado, alimentação, afazeres e a condutas que promovem a aprendizagem referente ao ambiente em que se vive. Estão presentes nas rotinas diárias de todas as crianças e são aprendidas por elas de forma natural, pela imitação das ações dos adultos, na convivência com os hábitos comportamentais familiares, passados de geração em geração”.

Esses ambientes (Figura 95), portanto, buscam simular atividades cotidianas, para educar tanto a pessoa com deficiência visual quanto seus familiares mais próximos e/ou responsáveis no trato ao desenvolvimento cognitivo-sensorial, garantindo independência e autonomia (LARAMARA, 2020). Figura 95 – Salas de Atividades de Vida Autônoma

Fonte: BLANCO, 2007.


101

O 2º andar (Figura 96) apresenta mais dependências clínicas e pedagógicas, com praticamente todos os ambientes recebendo iluminação e ventilação natural, salvas algumas dependências como audioteca e brinquedoteca. Ressalva-se que, mesmo sendo uma edificação voltada para atendimento a pessoas com deficiência visual, a iluminação é necessária tanto para as pessoas que eventualmente possam enxergar, mesmo que pouco, e para manter a salubridade do local, haja vista que, o uso contínuo de refrigeração por ar-condicionado pode ser danoso à saúde, além de favorecer a proliferação de germes e microrganismos (COSTA e COSTA, 2006). Figura 96 – LARAMARA – planta baixa do 2º andar

Fonte: BLANCO, 2007.

Para reduzir o número de ambientes carentes de iluminação natural, o projeto lança mão de janelas do tipo clerestório nas circulações e substitui eventuais divisórias de drywall por divisórias em vidro incolor (Figura 97). Não se identificaram soluções notáveis em relação à acústica dos ambientes e, salva a pista sensorial localizada próximo à entrada, não se observaram artifícios para exploração dos demais sentidos. Cabe apontar, porém, que, segundo Blanco (2007), a edificação apresenta conformidade às diretrizes de acessibilidade prescritas na NBR 9050. O mobiliário e o layout são muito comumente adaptados à escala das crianças (Figura 98).


102

Figura 97 – Iluminação zenital no corredor superior

Figura 98 – Brinquedoteca do LARAMARA

Fonte: BLANCO, 2007.

Fonte: BLANCO, 2007.

3.4

Instituto de Cegos da Bahia (Salvador – BA, Brasil) O Instituto de Cegos da Bahia (ICB, Figura 59) é uma das maiores referências

do nordeste no atendimento à pessoa com deficiência visual (ICB, 2020). A atual sede do Centro de Educação Complementar (CEC) foi inaugurada em 1961 no bairro Barbalho, cidade de Salvador (Figura 60). Atende atualmente pessoas de todas as idades e se desenvolve em sete pavimentos, condição provavelmente impulsionada pela topografia irregular da localidade, como se pode verificar na imagem. A fachada simples apresenta janelas em fita e revela um pilotis, onde os pilares afastam-se da fachada, revelando um sistema construtivo arrojado, ao encontro dos preceitos modernistas. Figura 99 – Instituto de Cegos da Bahia (ICB)

Fonte: ICB, 2020.


103

TABELA 8 - FICHA TÉCNICA DO INSTITUTO DE CEGOS DA BAHIA ANO DO PROJETO 1961 ARQUITETO RESPONSÁVEL

Desconhecido

ENDEREÇO

Rua São José de Baixo, 55 – Barbalho, Salvador, BA

ÁREA DO TERRENO

1.335,00 m² (conforme imagem aérea)

ÁREA CONSTRUÍDA TOTAL

2.965,00 m² (conforme imagem aérea)

ÍNDICE DE APROVEITAMENTO (IA)

2,2

TAXA DE OCUPAÇÃO (TO)

42%

NÚMERO DE PAVIMENTOS

6 (térreo + 5)

Fonte: elaborado a partir de ICB, 2020; Google Maps, 2021. Figura 100 – Macrolocalização e Situação do ICB

Fonte: adaptado de Google Maps, 2021.

A geometria do terreno e sua inclinação no sentido norte-sul condiciona que, para maior aproveitamento da área edificável, as maiores fachadas sejam voltadas para o eixo Leste-Oeste (Figura 101 e Figura 102), ficando a fachada principal voltada para o poente, o que poderia justificar a adoção de esquadrias em fita alinhadas ao vigamento da laje superior de cada pavimento.


104

Figura 101 – Estudo Solar do ICB, em planta baixa

Figura 102 – Estudo Solar do ICB, em perspectiva

Fonte: Luis Eduardo Carvalho, 2021.

Fonte: Luis Eduardo Carvalho, 2021.

O programa de necessidades da edificação encontra-se descrito na Tabela 8. A inexistência de uma planta baixa e/ou trabalhos que abordassem a obra impossibilitou o dimensionamento das áreas. Elas encontram-se aqui listadas para fins de programação arquitetônica na etapa posterior.

Tabela 9 – Organograma do ICB Convivência

Pedagógico

Administrativo

Área de eventos

Sala

Coordenação

Oficina de bengala

Diretoria Geral

Refeitório

Esporte e Lazer Ativo Piscina

Auditório

Serviço

Auditório para 70 pessoas

Cozinha

Quadra de Esportes

Salas de apoio Sala de informática Oficina de Música Estúdio de Gravação Biblioteca Fonte: elaborado a partir de ICB, 2020.

A análise de imagens internas permite avaliar melhor o uso das instalações internas e possíveis adequações de layout e soluções projetuais. Conforme apresentado anteriormente, a topografia do terreno é relativamente acidentada, o que ocasionou no aproveitamento das áreas restantes dos cortes e aterros ao nível do térreo para instalação da área de eventos (Figura 63). A solução permite fácil acesso do espaço por parte de visitantes e usuários eventuais, resguardando os pavimentos


105

superiores para os espaços mais privativos. Contudo, conforme se pode observar na Figura 63, o pé-direito duplo e a ausência de proteções ao mau tempo reduzem seu uso a períodos em que o clima seja mais favorável. A proeminente topografia consiste inclusive em risco aparente de acúmulo de águas para esta área. A acústica não parece ser favorecida, e o piso, em cerâmica xadrez, pode tornar-se escorregadio tanto pela ação da água quanto pelo acúmulo de poeira. Figura 103 – Área de convivência do Instituto de Cegos da Bahia

Fonte: ICB, 2020.

A fachada e a conformação do projeto sugerem uma disposição de salas em esquema linear bilateral, isto é, dos dois lados de um mesmo corredor, com as escadas e elevadores posicionando-se ao centro, sendo essa a única área do pavimento térreo protegida por alvenarias. À cobertura foram instaladas a quadra de esportes e a piscina (Figuras 104 e 105). A piscina, mais especificamente, pode ter se tornado um desafio estrutural e técnico à edificação, imaginando-se a necessidade de bombeamento da água para garantir pressurização suficiente para a subida da água. Figura 104 – Piscina do ICB

Figura 105 – Quadra de esportes do ICB

Fonte: ICB, 2020.

Fonte: ICB, 2020.


106

Ao longo do 3º e 5º pavimentos instalam-se as dependências de ensino e clínica (Figura 106, Figura 107 e Figura 108), favorecendo-se da privacidade em relação à via e melhor iluminação natural, ficando cozinha e refeitório (Figura 69) juntos em um mesmo andar, próximos às circulações verticais25. Contudo, não se identificaram ao longo das imagens internas adaptações à arquitetura dos sentidos, ou mesmo ajustes de acessibilidade, como pisos táteis ou mesmo barras de apoio. Figura 106 – Sala de Intervenção Precoce

Figura 107 – Brinquedoteca do ICB

Fonte: ICB, 2020.

Fonte: ICB, 2020.

Figura 108 – Consultório oftalmológico do ICB

Figura 109 – Refeitório do ICB

Fonte: ICB, 2020. Fonte: ICB, 2020.

25

Informação cedida por telefonema por Andrea Fernandes, secretaria do ICB, ao dia 27 de setembro de 2021.


107

4 ANÁLISE DO TERRENO PARA INTERVENÇÃO Objetivando

fundamentar

a

área

escolhida

para

implantação

do

empreendimento proposto neste trabalho, as próximas páginas dedicam-se a avaliar (1) a conformidade urbana do município de Timon, com suas conformidades populacionais e de infraestrutura e mobilidade, (2) a existência de terrenos não ocupados com área útil adequadas à proposta e (3) a consolidação do entorno urbano imediatamente próximo à futura edificação, visando analisar as condicionantes legislativas e pré-ambientais a sua implantação. O processo investigativo calcou-se em observância de terrenos ociosos na cidade por meio de imagens de satélite e posterior avaliação das possibilidades, até a escolha final aqui apresentada. Por fim, o terreno escolhido situa-se na Avenida Presidente Médici (BR-316), também com frente para a Rua Justino de Oliveira Costa e Rua Flores, localidade do bairro São Benedito da cidade de Timon (Figura 110). Figura 110 – Localização do Terreno na Cidade

Fonte: Adaptado de Google Maps, 2021.

Sendo um equipamento de importância municipal, que deverá atender toda a população da cidade, a implantação do empreendimento deve considerar tanto a proximidade com as vizinhanças de maior percentual populacional quanto a facilidade de acesso dos bairros mais distantes a sua localidade. A Tabela 10 sumariza a


108

população urbana do município de Timon por bairro. A Figura 111 apresenta a divisão dos bairros da cidade, com destaque para os 10 bairros mais populosos. TABELA 10 - QUANTITATIVO POPULACIONAL DOS PRINCIPAIS BAIRROS DE TIMON, EM VALORES ABSOLUTOS E PERCENTUAIS, CONFORME CENSO DE 2010 # Nome Zona Número de Residentes 1 Parque Piauí Centro 21.293 2 São Francisco II Norte 14.823 3 Parque Alvorada Sul 11.174 4 Cidade Nova Sul 10.954 5 São Benedito Sul 9.979 6 Flores Oeste 6.923 7 Boa Vista Norte 4.721 8 Centro Centro 4.600 9 Vila Bandeirante Sul 4.479 10 Vila Angélica Sul 4.069 Fonte: elaborado pelo autor conforme os dados de IBGE, 2010. Figura 111 – Divisão da cidade de Timon em bairros, com destaque para o bairro São Benedito, em vermelho, e os demais bairros mais populosos, em amarelo

Fonte: elaborado pelo autor segundo informações de Google Maps, 2019 e IBGE, 2010

O terreno proposto encontra-se em uma das vias estruturais da cidade, a Avenida Presidente Médici, o que facilita sua conexão com as demais áreas da cidade (Figura 112), também permitida pela excelente localização em relação às rotas de transporte público da cidade (Figura 113).


109

Figura 112 – Principais vias da cidade de Timon, MA

Via Estrutural Via Arterial Via Coletora

Marcação do Terreno Pontes Acessos para outras cidades Fonte: adaptado de PACHECO JUNIOR, 2020.


110

Figura 113 - Rotas de ônibus da cidade, com indicação do terreno proposto

Fonte: Adaptado pelo autor de CERTARE, 2018.

Faz-se importante ressaltar a localização do terreno em relação a outras instituições que devem travar com ele alguma relação (Figura 74). Estando aproximadamente no centro geográfico da cidade, a localização também é favorecida pela proximidade com a Prefeitura Municipal de Teresina, dado o aspecto civil da ADVIT, e de centros de atendimento médico, que podem trabalhar em colaboração com o futuro projeto, além do próprio terminal rodoviário, haja vista que, sendo pensado como um projeto de referência para o Estado do Maranhão, poderia também atender ocasionalmente pessoas de outros municípios, que porventura careçam dos equipamentos ali fornecidos.


111

Figura 114 – Relação do Terreno com pontos de Interesse da Cidade

a

Terminal Rodoviário Governador Nunes Frerie

c

b

Prefeitura Municipal de Timon

d

Hospital Alarico Nunes Pacheco (maior hospital da cidade, segundo PACHECO JUNIOR, 2020) Atual sede da ADVIT

Fonte: adaptado de Google Maps, 2021.

Considerando o deslocamento da atual sede da ADVIT para o projeto proposto, frisa-se também o fato de ambos os terrenos, isto é, tanto o antigo quanto o atual, estarem na mesma via, e no mesmo bairro, o que também condicionou sua escolha. A distância entre as localidades pode ser vista na Figura 115. Usuários já habituados com a atual localização não passariam, portanto, por grandes contratempos quando de sua reeducação espacial para o novo terreno, distante apenas 1,40 kM da atual sede.


112

Figura 115 – Distância do terreno proposto em relação à atual sede da ADVIT

Fonte: adaptado de Google Maps, 2021.

As dimensões finais do terreno são apresentadas na Figura 76, que também indica as curvas de nível do terreno, pouco acentuadas. Um outro destaque se dá para existência de quatro frentes possíveis (a Avenida Presidente Médici, a Rua Justino de Oliveira Costa e a Rua Flores, respectivamente as Figuras 77, 78 e 79, além da Rua São José), permitindo ao futuro projeto diferentes acessos, em uma área total de 4.848,04 m². A escolha de um terreno com área mais vasta também permite, em um futuro mais distante, a construção de anexos para atividades que não possam ser antevistas neste trabalho, algo comum a construções institucionais no Brasil (SEGAWA, 2014).


113

Figura 116 – Planaltimetria do Terreno Proposto

Fonte: elaborado pelo autor a partir de Google Earth, 2021. Figura 117 – Frente do terreno proposto para Avenida Presidente Médici

Fonte: Google Street View, 2021.


114

Figura 118 - Frente do terreno proposto para Rua Justino de Oliveira

Fonte: Google Street View, 2021. Figura 119 - Frente do terreno proposto para Rua Flores

Fonte: Google Street View, 2021.

O entorno imediato ao terreno é relativamente pouco ocupado (Figura 80) sobremaneira a leste da Avenida Presidente Médici e a sul da Rua Justino de Oliveira Costa, devido à presença de um corpo d’água perene e da própria topografia no local. Mesmo que o corpo d’água não chegue aos limites do terreno, dada a barreira topográfica imposta pela Avenida Presidente Médici, o curso das águas deve ser considerado no projeto futuro, para evitar grandes impermeabilizações. A inexistência de lei urbana que aborde o uso de áreas próximas a cursos d’água deve ser sanada com cautela.


115

Figura 120 - Cheios e Vazios do terreno proposto, destacado em vermelho

Fonte: Desenvolvido pelo Autor a partir das imagens aéreas do Bing Maps, 2021.

Conforme mapa de usos do solo Figura 121, o entorno do terreno proposto é majoritariamente ocupado por edificações de uso residencial, a exceção dos terrenos situados à Avenida Presidente Médici (BR-316), onde se apresentam mais usos comerciais e serviços, com destaque à funerária que divide limite com o lote. O gabarito dessas edificações apresentado na Figura 122 acompanha o mesmo perfil do uso: geralmente as edificações residenciais são térreas, e as construções alinhadas à BR apresentam dois pavimentos. Figura 121 – Mapa de usos do solo em torno do terreno proposto

Terreno proposto Comercial Habitacional Serviços Fonte: elaborado a partir das imagens aéreas do Bing Maps, 2021.


116

Figura 122 – Mapa de Gabaritos em torno do terreno proposto

Terreno proposto

1 pavimento 2 pavimentos Fonte: elaborado a partir das imagens aéreas do Bing Maps, 2021.

Considerando os atuais usos do entorno, majoritariamente de comércio e serviços, o projeto não apresentaria conflitos que impedissem sua implantação no terreno proposto. Com base no padrão de ocupação do solo e o gabarito das edificações ao redor, e analisando a curva topográfica do terreno, e o perfil natural da ventilação predominante na região, que vem de sudeste e nordeste (MACIEL e MEDEIROS, 2010), é possível perceber que a ventilação (Figura 123) é bastante favorável no terreno. Figura 123 – Estudo de Ventilação do terreno proposto

Fonte: elaborado a partir de Bing Maps, 2021, com base em MACIEL e MEDEIROS, 2010.


117

A insolação no terreno (Figura 84 e Figura 85) aponta que as maiores testadas estão voltadas justamente para os sentidos de maior insolação, o que também deve ser previsto em projeto, mas não se comportaria como empecilho à ocupação do lote. Figura 124 – Estudo de Insolação do terreno proposto, em planta

Fonte: elaborado pelo autor a partir de Google Maps, 2021 e Autodesk Revit Database, 2021 Figura 125 – Estudo de insolação do terreno proposto, em perspectiva

Fonte: elaborado pelo autor a partir de Google Maps, 2021 e Autodesk Revit Database, 2021

Quanto à legislação urbana, a cidade de Timon tem seu Plano Diretor regido pela Lei municipal 1.384/2006 (TIMON, 2006), que prevê a existência de instrumentos como lei de parcelamento, uso e ocupação do solo. Estas duas últimas, contudo, não


118

se encontram consolidadas no município, estando em revisão para posterior debate junto à população (PMT, 2021). Nesse sentido, como não constam redações oficiais que amparem o projeto de edificações aqui pretendido, mas, considerando a importância da adequação dos parâmetros de ocupação do solo para projetos em meio urbano consolidado (BRASIL, 2001), serão utilizados os parâmetros prescritos no código civil brasileiro, regimentado pela Lei Federal 10.406/2002 (BRASIL, 2002) e no Código de Obras da Cidade, cuja redação se segue na Lei Municipal nº 033/2015 (TIMON, 2015). Nesse sentido, conforme disposto no Código de Obras (TIMON, 2015, p. 16), Art. 83. As edificações deverão atender ao seguinte: I - Quando afastados das divisas não poderão distar das mesmas menos de 1,50m. (um metro e cinquenta centímetros); II - Quando houver mais de uma edificação no lote, as mesmas atenderão ao seguinte: a) Distância mínima de 1,50m. (um metro e cinquenta centímetros) entre as edificações de até dois pavimentos, exceto subsolo; b) Distância mínima de 6,00m (seis metros) entre as edificações com mais de dois pavimentos, exceto subsolo; c) Quando no mesmo lote houver as duas tipologias de edificações citadas acima, prevalecerá o afastamento de 6,00m (seis metros).

A mesma lei também prevê que Art. 80. A aprovação de projetos de edificações em terrenos, sem definição de recuos adicionais, lindeiros às vias do sistema viário básico, está condicionada às diretrizes e parecer autorizativo da Secretaria Municipal de Planejamento, Gestão e Orçamento. (TIMON, 2015, p. 15)

Por estar na área de dominância de uma Rodovia Federal (a Avenida Presidente Médici, entendida como parte da BR-316), o terreno encaixa-se no escopo da lei 6.766/1979 (BRASIL, 1979). Portanto, Art. 4o: [...] III – ao longo das faixas de domínio público das rodovias, a reserva de faixa não edificável de, no mínimo, 15 (quinze) metros de cada lado poderá ser reduzida por lei municipal ou distrital que aprovar o instrumento do planejamento territorial, até o limite mínimo de 5 (cinco) metros de cada lado. (BRASIL, 1979, n.p.).


119

Inexistindo lei municipal que altere o disposto no Artigo 4º da lei supracitada, valendo somente o Artigo 80º do Código de Obras como referência26, vigoram os quinze metros de dominância a partir do eixo da via lindeira. Não existindo na legislação do município dispositivo acerca dos índices de aproveitamento e taxas de ocupação, mesmo que estes sejam citados no glossário do Código de Obras (TIMON, 2015), serão utilizados os parâmetros gerais do município vizinho, a capital do Estado do Piauí, Teresina, a saber, 60% para taxa de ocupação máxima, 1,5 para índice de aproveitamento e 15% de taxa de permeabilidade mínima (TERESINA, 2019). A Tabela 10 sumariza os índices urbanísticos e os quantitativos totais de áreas edificáveis. Tabela 11 – Índices Urbanísticos do terreno proposto Área do Terreno

4.846,04 m²

Taxa de Ocupação Máxima (TOmax)

60%

Área máxima de ocupação (Terreno x TOmax)

2.918,40 m²

Índice de Aproveitamento Máximo (IAmax)

1,5

Área máxima construída total (Terreno x IAmax)

7.296,06 m²

Taxa de Permeabilidade Mínima (TPmin)

15%

Área Permeável Mínima (Terreno x TPmin)

729,61 m²

Fonte: elaborado pelo autor.

A lei prevê “parecer aprovativo”, o que constituiria primeira aprovação do órgão regulador em relação a uma proposta já elaborada, sendo possível de apreciação, para os fins deste trabalho, somente quando da elaboração do projeto de arquitetura, não cabendo ao escopo da disciplina aqui seguida.

26



121

5 PROGRAMA DE NECESSIDADES E ESTUDO DO TERRENO Afirma Wade (1984, p. 196) que “a programação arquitetônica está ligada à informação. O arquiteto deve saber como é o cliente, do que ele precisa e quais os seus propósitos, que tipo e de que qualidade deve ser a construção do cliente”. Assim sendo, o programa proposto para o projeto aqui apresentado sumariza tanto as demandas levantadas pela atual comunidade de pessoas com deficiência visual da cidade de Timon27, quanto da observância de instalações de caráter similar. Em suma, o projeto pode ser entendido conforme na Tabela 12. Tabela 12 - Programa de Necessidades do Projeto Proposto (continua) SETOR ADMINSITRATIVO

CONVIVÊNCIA

AUDITÓRIO

ASSOCIAÇÃO DE DEFICIENTES VISUAIS DE TIMON

TIFLOTECA

SAÚDE

27

AMBIENTES • Secretaria • Arquivo • Almoxarifado • Sala de Reuniões • Copa • Diretoria Geral • Gerências • Halls sensoriais • Recepção geral • Lobby • Restaurante • Plateia para 100 pessoas • Sala de som e projeção • Depósito • Palco • Camarim, com lavabo acessível • Secretaria/Recepção • Gerências • Diretoria geral • Arquivo • Sala de Reuniões • Copa • Recepção • Cabines individuais • Acervo • Mesas de estudo • Academia, com vestiários • Fisioterapia Assistida, com lavabo e depósito • Clínico Geral, com lavabo e depósito • Oftalmologia, com lavabo e depósito • Ortodontia, com lavabo e depósito • Depósito • Copa

Conforme conversas com representantes da Secretaria Municipal


122

Tabela 12 - Programa de Necessidades do Projeto Proposto (continuação) SETOR PEDAGÓGICO

AMBIENTE • Duas oficinas de braile • Sala multiuso • Oficina de Música • Depósito de Instrumentos • Oficina de Artesanato • Oficina de Informática • Depósito Fonte: Luis Eduardo Carvalho, 2022.

Tomando por base a metodologia de McGinty (1984) o terreno foi estudado de modo a estudar as melhores área de para possível atuação. A Figura 126 ilustra o estudo realizado. Foram considerados os recuos previamente definidos, as áreas de maior declividade e a relação com edificações do entorno. Figura 126 – Estudo de implantação

Fonte: Luis Eduardo Carvalho, 2022.


123

6 MEMORIAL JUSTIFICATIVO 6.1

Conceito Em sua origem etimológica, a palavra sinestesia remete a percepção

simultânea de diferentes sensações (BASBAUM, 2002), atualmente utilizada para designar a relação impensada que um indivíduo tem entre sensações de caráter distinto, como a associação de um sabor a uma determinada cor (LEOTE, 2014). Por mais que a definição contemporânea remeta comumente à associação dos sentidos à visão, a ideia que norteia o seguinte projeto calca-se no estímulo simultâneo dos diferentes sentidos ao longo do projeto, objetivando tanto a inserção de experiências sensoriais há muito negligenciadas na arquitetura, conforme defendido anteriormente, quanto o uso desses estímulos para facilitar o uso da edificação por usuários que não podem apreendê-lo visualmente. A rigor, o projeto desenvolve multissensorialidade e Pseudo-sinestesia em oposição à sinestesia de fato (LEOTE, 2014), haja vista que esta última se trata de uma experiência espontânea. A palavra sinestesia é utilizada aqui como grifo estilístico.

6.2

Composição volumétrica e implantação Conforme defendido anteriormente, mesmo sendo uma edificação de apoio a

pessoas com deficiência visual, trata-se de um projeto pensado para o meio urbano e, portanto, seria um equívoco negá-lo (BROGDEN, 1984). Nesse âmbito, o partido volumétrico resulta da implantação de duas edificações distintas, uma destinada às dependências de prática de esportes e outra destinada às demais funções do empreendimento. A separação busca tanto reduzir a massa final do conjunto, evitando que a quadra de esportes resulte em uma difusão exacerbada da volumetria, quanto a possibilidade de usos independentes dos distintos setores. A preocupação com a massa final da proposta é inicialmente uma tentativa de adequação do projeto a seu entorno conforme em McGinty (1984), na busca pela então defendida “forma pertinente” de Mahfuz (2003). O bloco principal, doravante denominado “Espaço Sinestesia” será executado na porção leste do terreno, aproximando-se da conexão com a BR-316, dada a sua conectividade em relação à cidade. O projeto aproveita-se das grandes testadas norte e sul para favorecer múltiplas opções de acesso, ficando a principal situada a sul,


124

onde o fluxo de veículos é menor e a topografia do terreno permite bom escoamento das águas, além de um declive menos acentuado que a porção leste, tornando a caminhada do usuário mais confortável, ao passo que o acesso de serviço e uma segunda entrada localizam-se na testada norte do terreno. A quadra de esportes foi alocada mais a oeste, num trecho mais privativo do lote, também pelo impacto imaginado para sua volumetria, com considerável pé direito, a ser compensado pela própria declividade do terreno, conforme ilustrado na Figura 127. Figura 127 – Perspectiva Sudeste

Fonte: Luis Eduardo Carvalho, 2022.

O Espaço Sinestesia (Figura 128) resulta da justaposição de dois prismas construídos no eixo oeste-leste, visando favorecer as fachadas norte e sul, de menor insolação, e a melhor setorização do programa de necessidades proposto, além do conforto térmico para os usuários do espaço interno. Essa proposta, além de funcional, também permite que certas áreas de interesse tenham uma temperatura interna diferente: os corredores, não contemplados pelo projeto de refrigeração artificial para redução de custos, teriam sua parede externa ligeiramente mais quente que a interna, por onde o ar refrigerado das salas escaparia sutilmente com o abrir e fechar das portas, guiando o usuário cego. Figura 128 – Concepção volumétrica para o bloco principal

Fonte: elaborado pelo autor.


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Os referidos prismas são conectados por um terceiro volume, de caráter mais vertical, que encerra as dependências de banheiros, circulações verticais e armazenamento de água, criando também um hall comum aos diferentes setores de um mesmo andar. A norte, próximo à entrada secundária, um volume anexo contempla os espaços do auditório, também localizado em trecho onde a rua é menos movimentada, melhorando as condicionantes acústicas e aproveitando-se da declividade natural do terreno para a inclinação da plateia. Para a Centro de esportes, a volumetria resulta da extrusão de dois perfis trapezoidais que se apoiam um sobre o outro (Figura 129), ficando o trecho de maior pé direito para a quadra poliesportiva e o mais baixo para as dependências da piscina. Um volume anexo, justaposta ao primeiro, contempla os espaços de banheiros, vestiários, depósitos e controle de acesso. Desse modo, a quadra poliesportiva alinhase melhor ao eixo Norte-Sul, evitando que jogadores com visão sejam ofuscados pelas luzes do nascente e poente. A concepção volumétrica também reduz o espaço de reverberação, melhorando, assim, a acústica. Figura 129 – Concepção volumétrica para a quadra de esportes

Fonte: Luis Eduardo Carvalho, 2022.

A ideia de um elemento que remetesse à escrita braile foi descartada do projeto final, haja vista que o brilhantismo do braile reside em tornar tangível algo que só poderia somente compreendido por aqueles que enxergam (a escrita). Promover tal abordagem abstrata seria pouco oportuna e até mesmo vazia de significado, assim como defendido por Wisnik e Mariutti (2018). Em contrapartida, dois elementos remetem abstratamente à cegueira e à baixa visão: o uso de vidro jateado e vidro fantasia nas esquadrias da quadra de esportes (Figura 130) e o uso de telas metálicas nas fachadas norte e sul do bloco principal (Figura 131). Não se trata aqui da falsa transparência utilizada como crítica na


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arquitetura contemporânea (WISNIK, 2018), mas antes um recurso que traz privacidade a um espaço que não se encontra separado por muros de seu contexto imediato e, no segundo caso, utilizado também como instrumento de segurança aos equipamentos ali guardados. Figura 130 – Uso de vidro jateado na quadra de esportes

Figura 131 – Uso de tela metálica nas fachadas norte e sul do bloco Sinestesia

Fonte: Luis Eduardo Carvalho, 2022.

Fonte: Luis Eduardo Carvalho, 2022.

6.3

Aspectos construtivos e sustentabilidade Por solução estrutural para o Espaço Sinestesia, optou-se pela execução em

alvenaria de blocos cerâmicos e lajes nervuradas apoiadas sobre pilares de concreto armado com módulo de 5,45 x 7,5 metros (Figura 132), sendo estas encimadas por cobertura termoacústicas apoiada em pontaletes, envoltas por platibanda e com calhas dimensionadas conforme realidade climatológica da região. A opção por lajes nervuradas constitui a possibilidade de grandes vãos, sem incorrer em elevados custos quando comparada a estruturas de aço protendido (BOTELHO, 2019). Treliças estruturais são utilizadas somente acima do reservatório de água, tanto para tornar a estrutura mais leve, quanto por economia de recursos. O acesso de serviço e as entradas principais são guarnecidos por marquises em concreto. Figura 132 – Esquema estrutural do Espaço Sinestesia

Fonte: Luis Eduardo Carvalho, 2022


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No auditório (Figura 133), pórticos de concreto sustentam placas inclinadas no sentido sul, conferindo leveza e sutilidade à concepção formal ao mesmo passo que criam concavidades no espaço interior que, junto às placas refletoras de som adotadas no forro e nas paredes internas, garantem boa acústica ao espaço. Figura 133 – Concepção estrutural para o auditório

Fonte: Luis Eduardo Carvalho, 2022.

O esqueleto do centro esportivo será executado em pilares de concreto, complementados por telhas termoacústicas de distintas inclinações. A opção pelo concreto justifica-se pelos vãos possíveis a essa tecnologia, a liberdade plástica (EL DEBS, 2000) e o preço elevado do aço no período de concepção dessa proposta (PORTELLA, 2022).

6.4

Setorização Segundo Brodgen (1984, p. 155), “para um espaço ter um significado claro, a

estrutura perceptiva deve afirmar a função atividade do espaço”. Portanto, a disposição dos ambientes em planta busca atender três princípios fundamentais: (1) as demandas de proximidades entre os espaços, (2) a necessidade de maior ou menor contato com público mais ou menos restrito e (3) a acomodação às normativas brasileiras de acessibilidade e/ou rotas de fuga. A Figura 134 ilustra a divisão dos diferentes setores da edificação por pavimento.


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Figura 134 – Setorização do Espaço Sinestesia

Fonte: Luis Eduardo Carvalho, 2022.

A abordagem para a setorização é funcional, mas ainda assim muito oportuna: sendo um prédio voltado para pessoas que não conseguem enxergar, trajetos menores facilitam a locomoção e o referenciamento do usuário. As dependências da tifloteca, do restaurante, do auditório e quadra de esportes foram alocados ao térreo (Figura 135), para melhorar sua conexão com o espaço exterior e consequente uso da comunidade. Figura 135 – Setorização – Pavimento Térreo

Convivência Saúde Administração

Banheiros Auditório Pedagógico Fonte: Luis Eduardo Carvalho, 2022.

Serviço Tifloteca Coordenação Pedagógica


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As dependências de serviço foram situadas também ao térreo, para evitar a demanda por elevadores de carga. Desse modo, auditório e quadra contam com rotas de fuga que incidem diretamente no espaço externo. Os banheiros, caixas de elevadores e escadas ficam situados ao centro, repetindo-se igualmente em todos os pavimentos. No térreo, especialmente, junto ao salão do restaurante (Figura 136), foi acondicionada uma outra entrada, uma segunda bateria de banheiros e uma divisão por esquadria entre o restaurante e o hall do auditório, permitindo que esses espaços sejam utilizados de maneira independente, podendo ser arrendados e servir de fonte de renda à ADVIT. Figura 136 – Hall expositivo do Térreo

Fonte: Luis Eduardo Carvalho, 2022.

No auditório (Figura 137), as circulações são deslocadas para os lados, reduzindo gargalos de fluxo e os assentos são intercalados de modo a garantir em pelo menos uma das pontas o espaço necessário para cão-guia. O número aqui estabelecido é superior ao previsto na NBR 9050:2020 (ABNT, 2020), porém, considerando o foco do empreendimento, perfeitamente considerável. Há somente um camarim, pois o uso imaginado é voltado a palestras e pequenas apresentações. Figura 137 – Planta baixa do auditório

Fonte: Luis Eduardo Carvalho, 2022.


130

No primeiro pavimento (Figura 138) foram acondicionados o setor de saúde, a sul, e as salas inerentes à ADVIT, a norte, instalando-se as copas às extremidades leste de cada bloco, aproveitando-se dos shafts de descida das águas pluviais para compensação dos sistemas hidráulicos. Um esboço anterior imaginava o setor de saúde no último pavimento, mas, para evitar o uso de duas escadas enclausuradas a serem construídas para satisfazer um único departamento, esses ambientes foram movidos para o pavimento imediatamente acima do solo. Figura 138 – Setorização – Primeiro Pavimento

Convivência Saúde Administração

Banheiros Auditório Pedagógico

Serviço Tifloteca Coordenação Pedagógica

Fonte: Luis Eduardo Carvalho, 2022.

Em primeiro momento, o uso das copas ao fim dos corredores parece impedir futuras ampliações da edificação para as extremidades, mas o projeto já contempla um porte ligeiramente maior do que o demandado pela cidade28, além de estender-se tanto quanto possível para os limites edificáveis. O esquema de circulação, a ser repetido nos demais pavimentos, é lógico e simples, constituído pelos eixos demonstrados na Figura 139. Nessa oportunidade, as 28 O ICB (Salvador – BA), previamente trabalhado nesta monografia, tem área total de pouco mais de 2.000 m² e atende bem a uma metrópole de mais de 3 milhões de habitantes. O projeto aqui proposto totaliza mais de 4.000 m² de área construída, em uma cidade com pouco menos de 200 mil habitantes.


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salas ficam dispostas somente de um lado do corredor, diminuindo a possibilidade de acidentes e organizando melhor os fluxos. Figura 139 – Setorização – Pavimento Térreo

Fonte: Luis Eduardo Carvalho, 2022.

Buscando evitar acidentes e em sensibilidade aos usuários que não conseguem enxergar, sempre que possível, as portas ambientes são recuadas em relação à circulação principal (Figura 140). Isso tanto favorece a circulação de emergência quanto previne que pessoas auxiliadas por bengalas venham a colidir com portas que abrem para o corredor. Os recôncavos gerados por esses entrecortes também diminuem a plenitude das paredes internas, reduzindo os problemas de eco e reverberação. Figura 140 – Esquema de abertura de portas para o corredor

Fonte: Luis Eduardo Carvalho, 2022

O mesmo princípio também foi utilizado na adequação dos banheiros (Figura 139). Para atender a NBR 9050:2020 e ainda assim economizar espaço, alguns projetos tentem a abrir a porta dos boxes para fora, reduzindo o tamanho do ambiente, mas gerando um problema para aqueles que usam bengala ou mesmo não enxergam, principalmente porque, usualmente, portas de boxes coletivos ficam suspensas do chão, não sendo facilmente reconhecidas pela bengala. No projeto do Espaço Sinestesia, a circulação interna dos banheiros é ligeiramente maior que a mínima necessária (NEUFERT, 2022), e as portas abrem para dentro. Sendo ainda um projeto


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voltado a diferentes faixas etárias e pessoas de distintas estaturas, a adoção de ao menos um conjunto de lavatório e bacia sanitária em altura mais baixa é bastante oportuna. Figura 141 – Banheiros coletivos

Fonte: Luis Eduardo Carvalho, 2022.

O segundo e último pavimento (Figura 139) concentra o departamento educacional e as salas de apoio ao setor pedagógico, repetindo a solução do pavimento anterior e focando em espaços mais amplos. Figura 142 – Setorização – Segundo Pavimento

Convivência Saúde Administração

Banheiros Auditório Pedagógico Fonte: Luis Eduardo Carvalho, 2022.

Serviço Tifloteca Coordenação Pedagógica


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6.5

Experiências Sensoriais Conforme apresentado anteriormente, o uso de estratégias sensoriais pode

facilitar o uso de pessoas com deficiência visual quanto à sua localização e melhor aproveitamento do espaço arquitetônico (BERNARDO, 1970). No espaço externo, na testada para a Avenida Presidente Médici (Figura 143), espaço este de difícil ocupação, propõe-se a execução de uma intervenção paisagística à esquina com a Rua Justino de Oliveira Costa, com a instalação de um totem com alerta sonoro. Sendo a Avenida supracitada a principal via de conexão do lote com a cidade, uma pessoa cega poderia, uma vez identificado o som particular ao lugar, entender que chegou ao seu destino, seguindo pela calçada até a entrada principal do edifício. Pode-se também plantar um espécime vegetal de aroma característico, mas, sendo a floração sazonal, a proposta não teria efeito durante todo o ano. Ambas as soluções são adotadas, trabalhando em conjunto quando possível. Figura 143 – Esquina da Av. Presidente Médici e Rua Justino de Oliveira Costa

Fonte: Luis Eduardo Carvalho, 2022.

Internamente, a sensorialidade servirá mais para os fins de localização e diferenciação de uso. Próximo à escada, o projeto elétrico deve contemplar também a instalação de equipamento sonoro, cujo som seria característico para cada pavimento, servindo para que a pessoa com deficiência visual perceba se está mais longe ou mais perto da área central. Os diferentes sons serviriam para que a pessoa


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entenda rapidamente em que pavimento da edificação está. Novamente, a exploração do aroma pode também ser muito oportuna, porém de árdua manutenção, mas nem por isso sendo desconsiderada. Nos corredores dos andares acima do térreo, a proximidade às paredes externas e a consequente irradiação de calor pelas janelas servirá de balizador ao trajeto do usuário, que inconscientemente se afastará das paredes mais externas. As esquadrias não se estendem até o chão para evitar o ruído das batidas com a bengala, mas são prolongadas tanto quanto possível, para que instrutores e funcionários tenham bom alcance visual dos usuários. Os pisos dentro da edificação também deverão ser distintos, para que o usuário perceba, tanto pelo som do toque dos pés com o chão, quanto pela vibração do solo, que está passando de uma área para outra, como, por exemplo, entre o hall do pavimento térreo e a área do restaurante (Figura 144) e na área da academia (Figura 145). No segundo caso, assim como no auditório e nas salas de reuniões e oficinas, o uso do piso também cumpre um papel acústico. Figura 144 – Perspectiva do restaurante, no pavimento térreo

Figura 145 – Perspectiva da academia, no primeiro pavimento

Fonte: Luis Eduardo Carvalho, 2022. Fonte: Luis Eduardo Carvalho, 2022.

Nas salas de aula e oficinas, o layout não conta com a presença fixa de uma lousa, sendo esta utilizada somente em atividades cujos participantes conseguem enxergar. No caso da oficina de braile (Figura 146), a disposição das mesas contribui


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para o bom atendimento do professor aos alunos. Optam-se por duas salas, ao invés de uma única, considerando os ruídos provenientes das máquinas de digitar em braile. Figura 146 – Módulo da Oficina de Braile

Fonte: Luis Eduardo Carvalho, 2022.



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