Virtude em Platão: ciência ou opinião certa? Ayronne Santos Souza Cícero Josinaldo da Silva Oliveira
Introdução Se observarmos bem, o Mênon, já de início, convida-nos a indagar e procurar por algo que parece anteceder à própria obra. Nós, ao lermos esse diálogo, temos a percepção de que a personagem Mênon inicia sua conversa com a personagem Sócrates perpetrando, no que concerne à virtude (areté), algumas indagações - de jeito que as mesmas transcorram súbita e inesperadamente, bem como antes de qualquer exórdio. Menon pergunta a Sócrates se a virtude “é coisa que se ensina” (didaktòn); se a virtude pode ser adquirida pelo exercício ou se a virtude é incidida aos homens por natureza (physis) ou por qualquer outro meio (PLATÃO, 2001a, p.20). Não obstante essas perquirições, vemos que o interesse maior de Mênon está direcionado à primeira pergunta – ou seja, saber se a virtude é passível ou não de ensinamento. Sócrates o confronta, porém, alegando que nenhum de seus concidadãos jamais soube responder a essa questão, visto que os atenienses sequer sabem o que é a virtude. Posicionando-se como partícipe da ignorância de seus compatriotas, Sócrates também censura a si mesmo por estar ciente de que não sabe nada sobre a virtude, porquanto aquele que não sabe o que determinada coisa é, jamais poderá saber que tipo de coisa ela é. Não será possível a alguém, por exemplo, não conhecendo absolutamente quem é Mênon, saber se ele é belo, rico, nobre ou muito menos saber o contrário dessas coisas (ibid., p. 21). A partir desse argumento de Sócrates, notamos que Platão desvia o problema inquirido por Mênon para a questão da essência,