O dualismo matéria-espírito: entre Descartes e Bergson Iranildes Oliveira Delfino Geovana da Paz Monteiro
Introdução Trataremos aqui do dualismo matéria e espírito tal como aparece na obra Matéria e Memória, de Henri Bergson (1859-1941). Nesta obra o filósofo francês faz uma destemida crítica à psicologia experimental que, segundo ele, lida com a relação entre matéria e espírito de maneira reducionista. Bergson toma como ponto de partida as concepções do idealismo e do realismo, por se tratarem, na sua perspectiva, de concepções exageradas da matéria, tais que não garantiriam o seu conhecimento. Trazendo a tradicionalmente problemática relação entre matéria e espírito, ou alma e corpo, explícita já no subtítulo da obra (ensaio sobre a relação do corpo com o espírito), Matéria e memória apresenta uma distinção ontológica, mas também uma unidade. Assim, o objetivo do nosso texto será o de mostrar como Bergson aborda o clássico dualismo fugindo dos moldes da tradição, sobretudo aquela atrelada ao pensamento cartesiano. Pretendemos esclarecer como o nosso autor supera o dualismo tradicional escapando de resoluções “mágicas”, as quais ele tanto critica. Para tanto, será importante nos atermos por um momento a algumas concepções do filósofo francês René Descartes (1596-1650) acerca da relação entre a alma e o corpo descrita em sua obra Meditações concernentes à primeira filosofia.