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POEMAS DE TOCAR

ESTRADA

NARCIO RODRIGUES



POEMAS DE TOCAR ESTRADA



POEMAS DE TOCAR ESTRADA 6 O Autor 8 Introdução 10 Quase Biográfico 14 Galhos e Sombras 18 Flertando com as coisas 20 O Fruto e a Semente 24 Palavras à Irene 28 Dia Claro para Lembrar da Lua Branca 30 Paraísos Recuperados 32 De Como Chegamos Até Aqui 36 Um País a Plantar 38 Prece de Um Filho de Jorge 40 Plantão de Deus 42 Festa Caipira 44 Do Ventre da Mãe 46 Deserto da Alma


O AUTOR Narcio Rodrigues é natural de Frutal, Minas Gerais. Jornalista de formação, ele trabalhou com jornalismo e publicidade no Triângulo Mineiro. Eleito deputado federal pela quinta vez em 2010, Narcio Rodrigues se licenciou do cargo para ocupar a Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Sectes), empossado em 3/1/2011 pelo governador Antonio Anastasia. É membro efetivo do Conselho Integrado de Desenvolvimento (Coind). Na Câmara dos Deputados, Narcio Rodrigues ocupou diversos cargos, entre eles a primeira vice-presidência e consequentemente a vice-presidência do Congresso Nacional, onde por diversas vezes assumiu a presidência. Também no parlamento, foi vicelíder do PSDB; presidente da Comissão de Ciência, Tecnologia e Informática; e por mais de um mandato foi coordenador da bancada mineira no Congresso Nacional. Estabeleceu parcerias estratégicas com os ministérios da Educação; Cultura; Ciência e Tecnologia; e Meio Ambiente. Liderou grande projetos como Acorda Baixo Vale; Rede Nacional de Paleontologia; Oficinas de Artes; Estradas Ecoturísticas; Viva Neves; Rede de Centros Vocacionais Tecnológicos; e outros. Também em sua trajetória demonstrou especial interesse pelas questões ambientais realizando parcerias com diversas instituições e entidades, entre elas a Unesco, Green Cross, Fundação Carrefour e Fundação Cousteau; idealizou a Cidade das Águas e viabilizou junto aos governos estadual e federal, o Centro Internacional de Capacitação e Pesquisa Aplicada em Águas (Unesco-Hidroex), que trabalha para ser referência nacional e internacional na gestão de recursos hídricos e na capacitação de profissionais desse segmento. Foi mais além, ao construir a Universidade Aberta e Integrada de Minas Gerais – UAITEC, implantando revolucionário projeto que assegura aos mineiros o acesso gratuito ao ensino superior de qualidade; propor a organização de um Complexo Aeroespacial no Estado e a Cidade da Ciência e do Conhecimento em Belo Horizonte; além de conduzir o processo de estadualização de fundações ligadas à Universidade do Estado de Minas Gerais – UEMG. No campo político, Narcio Rodrigues presidiu o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), em Minas Gerais, por três mandatos consecutivos. Narcio é casado com Thaize Amparado, pai de Caio Narcio e Luana e avô de Ana Maria.

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O sentimento, como a poesia, são expressões e manifestações da Alma. Percepções, sensações, visões e ações são elementos que, silenciosamente, conspiram para construir a partir de sujeitos, verbos, predicados e adjetivos, a sublimação de nossas emoções. É a vida no seu estado mais latente. É a Poesia. Não poderia deixar de pontuar o que acho sobre a poesia para falar deste meu companheiro e cúmplice. Aprendi com Ele extrair da complexidade, a simplicidade da felicidade. As palavras ditas por Ele expressam as emoções e a verdade. E me conquista cada dia mais. Isto é a eficiência da Poesia. Não consigo conceber meu Amor Narcio sem a poesia. Foi ela que o acalentou no berço, ninou e o nutriu para enfrentar a vida com toda esta suavidade. PALMAS, PARA O MEU AMOR, MINHA VIDA...

THAIZE AMPARADO


QUASE BIOGRÁFICO Dados biográficos: Nasci fruto de uma mãe ampla, generosa em si, D. Sílvia de tudo, com uma fé que ainda hoje move montanhas Fui criado à margem de um pai Sebastião que me ensinou abrir estradas, e desbravar, com minhas próprias dúvidas (que é onde eu guardo minhas melhores certezas), as encruzilhadas que a caminhada apresenta. Anote aí também: O Rio Grande nasceu à minha margem, mas hoje corre dentro das minhas veias. Daí, esse sentimento de água que norteia meu destino Sou líquido nas minhas decisões, Facilito em mim que as coisas aconteçam (é como água escorrendo pelos dedos...) Basta abrir minha torneira de sonhos e me ponho a correr – enxurrada – atrás do que quero. Minhas referências históricas? Sou do tempo do boi de carro e do carro de boi E sei que, antes dos dois se juntarem, veio o homem com suas soluções nem sempre mágicas, nem sempre as melhores… Meu pai foi garimpeiro de diamantes e tirador de leite… Não aprendi exatamente os seus ofícios Mas vivo procurando diamantes em

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olhares turvos, Acendo clareiras dentro de mim para acomodar meus melhores silêncios. Silêncios que eu rumino em exercício de boi como quem precisa se reconhecer nesse cenário Minha alma é pobre de matéria Mas também me vago em pastos secos e áridos e me guardo em currais de cláusura.., Sei do amor o que o amor me ensina Mas essa sina – de amar – é assassina Me começa, me termina, e determina que não falte grama ao Luar nem música ao silêncio nem desculpas ao violão Do ofício de amar, aprendido na estrada, e apreendido na batalha, o melhor que sei vem do garimpo: Amor não é aquilo que se encontra quando você procura… Amor é pedra preciosa, diamante, que salta aos olhos do amante, mesmo quando a vida lhe parece escura… Sou garimpeiro dessa estalagem… Garimpo sonhos, diamantes e viagens Mas o que quero mesmo é poder parar. Voltar para casa e armar uma rede, descansar, matar a sede, criar paragem… Fazer da minha vida esse nó para desatar em voz, em versos, em ternura, em rios e rimas, em Luar… No sorriso da amante (diamante) feito com o seu próprio olha


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GALHOS E SOMBRAS É de manhã, e o sol que hoje não virá manda lembranças de uma ternura de gaveta Está frio, muito frio, e há árvores que nem te olham, preocupadas em galhos com as sementes que ainda não germinaram por pura falta de um sinal.

enquanto bebo o vinho do espírito, meu (desen)canto com a vida...

Sementes são como sonhos. É preciso que o esterco das vontades se estabeleça para que brotem novas realidades sob o sol. Muitas vezes, a bosta-de-vaca da nossa frieza tem que apodrecer para que as flores temporãs também vicejem entre homens, permitindo que as mulheres possam se perfumar do erro para inventar o acerto...

Há tempo hoje, e é tempo farto, para os que erram na sua procura, e se orgulham disso porque não páram de procurar... Eles sabem: a vida é só procura!

Somos cheios de invernos sombrios e sem pressa... Não nos importamos se as raízes da alma se expandam no pântano escuro da nossa solidão... Quanto maior o abismo entre nós, mais a perspectiva do encontro, de ampliar horizontes em garimpos íntimos porque nos reviramos dentro dos escombros... E somos muito mais o que procuramos no escuro de nós do que o tempo que nos devotamos às sombras... Teu olho, por exemplo, exerce esse fascínio de farol sobre mim E me recupera em noites em que entorno,

Não há salvação nem para os Judas e nem para os anjos. O tempo não é apenas para os bons e muito menos para os exclusivamente maus.

Há tempo hoje, e é tempo cego, para os que não vêem, apesar da luz. Há tempo hoje, e é tempo vão, para os que carregam sementes do bem dentro de si Talvez seus sentimentos tenham que apodrecer na decomposição de uma quimera inútil, para que o adubo forte de uma nova era faça florescer novos homens novos. Forjados na dúvida para carregar certezas, Ancorados no medo para inventar a coragem. Extraídos de sua própria podridão para escrever a História, Fincar raízes, Ampliar a esperança Aprender e ensinar os frutos Espalhar as sombras para proteger o mundo e as crianças. Porque a vida virá da reinvenção da morte e da recriação do homem, refeito em bem na solidão do mal...

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FLERTANDO

COM AS COISAS

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São de geografia torta as coisas do amor Você inventa sua trama, passa noites e noites em claro, desenhando a arquitetura de desvios para escapar - na verdade para escapulir desses sentimentos mais tórridos, (A gente finge que não é com a gente), Arranca o chip que vem por dentro das emoções, e tenta passar desapercebido pela fila de sofredores

esse trem que anda de bonde ou de ônibus, sempre na contramão da sua vontade. Ele te trai e você finge que não é com você! É como o celular tocando e você nem aí... Deixa morrer de tanto gritar... A indiferença não é indelicadeza proposital É fuga necessária, estratégica... substantiva

Mas tudo é vão.... Logo alguém grita, apontando o dedo na sua direção: - Aquele é um deles. Tenho certeza... Você se sente o próprio Pedro negando Cristo na multidão... E ainda ouve falarem sobre você: - Eu o vi saindo do salão, altaneiro e serelepe, com chapéu na mão e assoviando um tango, e era puro: “El dia em que me quieras...” Não. Não era eu - você retruca. - Eu mal entendo alemão, sou sofrível em japonês e mandarin... Como daria conta de catar no ar um verso de Gardel? Hyra, hyra... hyra... A vida gira sobre seus sapatos... São de linhas retas as incompreensões humanas. Elas - as incompreensões - não se pautam nos fatos, Mas talvez nos artefatos de sentimentos que guardamos Não te acusam por que têm certeza de nada. Ao contrário, os que lhe acusam vivem carregados de dúvidas sobre si mesmos Você é culpado apenas porque ele é ou ficou pior que você. E só há um remédio: condenar, esquartejar, demolir, destruir. Na vida você descontrola e descarrilha o destino,

Ah! Viver amores sem se planejar... É como tentar conter uma hecatombe, Um tufão, uma tragédia, um terremoto... Você no meio do furacão, e nenhum sinal para lhe obedecer O mundo desabando na sua frente... E você sem saber o que fazer Ah! Viver amores com todo método: Agenda, controle, emoções medidas, Beijos em doses homeopáticas - tudo na Lua certa, no relógio exato... Isso, sim, é uma catástrofe muito maior (Você numa central de controle, As emoções te obedecendo, e você sem compreender Porque isso não te satisfaz e nem tem sentido prático algum...) O amor que você domina não é amor e o pior: não lhe revoga a amargura... Você procura e não encontra A alma tonta, atrás da tragédia, querendo o barulho dentro do escuro, vem a lhe pedir que providencie um tremor de terra, uma tragédia... Um tsunami dentro do peito, de preferência no coração. O coração, em desespero, querendo amar, lhe pede para trazer o transtorno, a revolução, quem sabe uma guerra inteira para que você possa, enfim, sentir um pouco de paz...

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O FRUTO E A SEMENTE Repousa sobre a fruteira - em imagem de solidão - uma fruta que acende doces para os que a avistam daqui, no seu reluzente exercício de se oferecer. Ela guarda - como fruta ou como fruto a herança da semente e resguarda, nesse ato, a transferência de seu gen A fruta é o fruto do suor e do tempo, já nasce experimentando noites e silêncios, não sente falta do galho, nem ouve o galo cantar, não traduz ressentimentos... Nem se dá conta das manchetes de jornais, onde os homens apodrecem, como fruta... E se despejam na madrugada de sonhos perdidos, totalmente sem raiz e sem desculpas. O tempo do fruto não é o presente... Ele - fruto - está passageiro de si em aromas, em desperdícios, antecipando algum aviso, Preparando uma decomposição que é só sintoma... O fruto é mera consequência... Vem, depois do seu desate, toda semente... O fruto é inevitável... A semente é a espera. O tempo futuro. E não tem véspera... Há que se guardá-la, conscientemente... Há que se aguardá-la, paciente, Na casa, no vaso, na sala, no melhor recipiente Porque, se do fruto tiramos o caldo, a calda, a polpa, a carne doce de dentro, e até a semente, da semente só conseguimos a promessa, a perspectiva, o desejo de voltar a ser fruto novamente A vida é o fruto, a fruta... Viver é a grande semente... Uma oportunidade de fazer germinar tantas interrogações pela frente...

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PALAVRAS

À IRENE Viagem a Viçosa, Uberlândia, Tupaciguara, Ituiutaba e Uberaba, em 26 e 27 de agosto de 2011

Eu olhei para você, Irene, e seus braços pareciam galhos e nem assim eu tive medo porque aprendi com o tempo que a vida também se desfolha... E essa ternura de seus olhos vem de um ano entre anos passados, na memória de um século, talvez na década de 1930, em que as mulheres olhavam com sinceridade para as coisas, para os homens e para as avenidas Houve um tempo em que tudo isso valia a pena e ainda sobrava tempo para ler o jornal Mas foi com você, Irene, que eu aprendi esse negócio de acender a lua com as mãos e colocá-la, feito lampião, no céu, a serviço da noite, da vastidão do amor e dos territórios a serem conquistados. Não acredito nos sonhos que tenho, mas desato madrugadas em hinos de pássaros que se me amanhecem é para que eu possa catar conchas no mar de seus seios. Seus olhos sempre foram de fuga Não houve uma vez sequer em que você pudesse ajudar a decifrar a alma humana... Curiosamente, você nunca perdeu tempo com isso. Seis séculos de leituras e nem assim um conhecimento consistente sobre as coisas.

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E isso é estilo... Mas, e daí? Você não nasceu para ser uma biblioteca, muito menos uma pista de dança para a qual se desloquem, marotos, os jovens que nunca dormem porque nunca sentem necessidade dos sonhos. Às vezes, Irene, me é dado o direito de ficar calado E aí eu me irrito muito grito muito, brigo muito, atiro paus e pedras e solto cobras e largatos no palco Não me conformo nem me silencio porque essa é a forma que tenho de fazer as coisas virarem... Nem me benzo mais. As rezas são desculpas que invento. E penso que Deus poderia compreender o meu estado, mas falta tempo e paciência para Deus me ajudar a esculpir o animal dos meus sentimentos Fico, com ele, o animal, na jaula, e disputando e disparando olhares para moças que procuram riscos para tornar a vida mais atrativa. Eu olhei para você, Irene, e você parecia uma árvore. As folhas caindo do outono do seu olhar, as frutas maduras que saiam da sua boca... As raízes profundas que você fincou no meu peito Essa sombra santa e disponível, a meu uso.. E pensei que essa ternura vegetal, cheia de piedade com as crianças e de serenatas de meia-idade, tudo isso ainda vale esse sábado que mal começa... Hoje, não tenho destino, nem pressa. Mercador de amor, já vendi a alma ao tinhoso que me comprou muito mal que me usa muito pouco e que me escreve em seus rabiscos me narrando como um produto,

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e eu sou apenas coadjuvante de você, Irene Só você me salvou do inferno. Eu, Dante, resgatado pela sua ternura... Sou cavaleiro de estrada torta, poeta de fim de linha, ridículo na minha versaria, palavras que gasto com economia e comedimento, porque sigo um roteiro de guerra. Vivo no campo de batalha, que se chama dia-a-dia. As vezes me perguntam se sou feliz ou se já fui...(?) Olho com desprezo para as coisas que são coisas, Irene. porque o que eu gosto mesmo é daquilo que não se pega com as mãos Por exemplo: esse seu jeito de me olhar me acompanha por onde vou e eu o carrego como alegria de vida Outra coisa que guardo sempre é esse seu jeito de nunca dizer nada, mesmo quando é preciso, porque aprendi que esse é o jeito que você tem de povoar o meu mundo de imagens de amor... Uma vez tive muitas moedas de ouro com a esfíngie de um rei; Era dinheiro muito, mas, como diria Guimarães Rosa, eu nunca nasci direito com destino de riqueza e nem de “teres”... e amanheceu... Amanheceu E quando acordei pela manhã, na porta da igreja, meus sacos de ouro, em moedas bem cunhadas, tinham saído em viagem de ladroagem. Do meu alforje de pescador de palavras, sobrou apenas essa coleção de versos que fiz para me revelar para o mundo e para contar um pouco do que sou... E é essa a fortuna que guardo... e que mostro de vez em quando,

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mas só pra quem tem cofre no coração aprontado para receber versos de amor. Irene, Olhe com atenção para esses versos de ocasião. Eles são até pobrezinhos, mas agora andam bem vestidinhos. Passei todos a limpo, com caneta tinteiro e papel timbrado em azul clarinho. Precisa ver como tá lindo. Quando sai de casa, além do lenço para limpar o choro, eu separei uma renca de poemas novos que trouxe para gastar nessa estrada. Muitos não sabem porque rio tanto e tão fácil. Muitos não sabem, Irene, porque não sinto falta das moedas de ouro, embora, confesse, ainda tenha saudades daquele rei justo que um dia existiu entre os homens. Muitos não me compreendem... Fazer o que? Eu também não lhe decifro, Irene. Eu também não lhe compreendo. Mas nem por isso lhe amo menos, Irene. Vou passar a vida tentando lhe descobrir porque o que quero pra mim não é riqueza, nem dinheiro... Não quero do mundo o que se compra, mas aquilo que não se vende... O que quero de tudo é passar a vida desvendando esse mistério que me faz passar todo tempo pensando em você, Irene, sem nunca lhe entender, e sempre querendo viver ao seu lado, construindo, juntos, montanhas de silêncio e paz. Palavras que não se falam e que ninguém sabe escrever. Palavras que aprendi apenas a sentir com você... Não quero lhe saber, nem quero compreender o seu jeito. De que importa isso? Eu quero apenas lhe sentir...


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DIA CLARO PARA

LEMBRAR DA LUA BRANCA (ao GUTI e à nossa Viola de Rapina)

É feita de poesia branca a manhã de sol que se levanta clara para encorajar o dia... Estamos em Uberaba, e, ainda assim, o medo nos vigia e nos desaconselha. Já fomos melhores no passado e garças sobrevoavam o Rio Grande com ternura plena. Peixes visitavam nossas redes e as canoas nos levavam para dentro de nós onde se misturavam, na mesma paisagem, cascatas, cachoeiras, cipós e silêncios de mais de léguas de cumprimento... Dormíamos sobre o colchão desse silêncio... e víamos, no sonho, como em um filme,

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os espíritos de luz dos índios Kaiapós vagando livres, anjos da guarda da Mata fechada... E aqui, nessa Kaiapônia fértil e promissora, moças de quinze anos desabrochavam seus amores nas esquinas... Eu já fui desse tempo e havia viola caipira para nos salvar E havia promessas nos olhares e comprometimento nos gestos. O véu da Lua sobre a Lagoa da fazenda, estendido feito lençol de seda, padecia de bichos barulhentos que inventavam a noite... E não era uma rima qualquer Era puro atrevimento da Natureza nos visitando e nos trazendo ensinamento.


Quando fui jovem, e lá se vão meus melhores anos, a gente nem sofria por dentro Não havia tempo... Nadar no rio, andar descalço, caçar inhambu, pescar lambari, fazer uma trilha no mato adentro... Tudo isso inventava ocupação de sobra para não dar tempo ao medo e ao sofrimento. Éramos todos analfabetos completos, mas não era preciso escrever nada... A poesia brotava do chão, do pasto, pronta, no galope do cavalo, no cabelo da morena, nos olhos de fogo da menina, na estrela do céu, em movimento.

Depois veio o concreto e tudo virou cimento. Tudo virou cidade. Veículos, sinais, barulhos, fumaça... Fomos tomados por algum tipo de esquecimento... Não mais poesias nos gestos e nem mais incêndio nos olhares. Mas sobrou uma viola de verdade. E ainda temos uma Lua no firmamento. Dá bem para fazer poesia da saudade. Dá bem para fazer canções com o sofrimento...

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PARAÍSOS

RECUPERADOS

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Me deixe escrever em estrelas a ternura dessa mão que afaga cansaços para despertar flagrâncias na madrugada que foge Você, meu anjo da guarda, em travesseiros de Luas, Teus seios na geografia dos meus beijos, e nenhuma desculpa para dar e nenhum arrependimento por dentro A rua é cheia de disfarces E por ela passam meus movimentos em falso Porque o que em mim é certeza é esse crime de olhares desperdiçados na tragédia dos bares que são feitos para o desencontro dos seres e para o descanso da alma... na solidão do cigarro e no desperdício das conversas e dos silêncios... Eu, sempre, economizando palavras e idéias Nas tardes em que não te tinha, em tempos em que tua agenda era fugir de mim, meu labirinto maior era feito de cadeiras de balanço... Me punha ali, ao som de um charuto, no entretenimento das coisas inúteis, dos livros vazios de poesia... porque, naquele tempo - e olha que não faz tanto tempo assim... Pois, então... naquele tempo, a vida não valia... O relógio corria horas para eu colecionar perdas, o dia se gastava de futilidades para me invadir Nem a fumaça de frustrações tinha qualquer significado Mas, hoje, as aves que pousam no galho do meu silêncio me olham desconfiadas da minha falta de cegueira Depois que você chegou, passei a ver de novo em olhos que entendem lamparinas e faróis Por isso, meu amor, me deixe escrever estrelas para você ter o que ler quando chegar a noite e for preciso dormir novamente Quando dormir, eu quero acordar dentro de você... e fazer cócegas nos seus sonhos...zzzzzz

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DE COMO CHEGAMOS

ATÉ

AQUI

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Eu comecei a amar você quando a ponta dos seus dedos tocou minha testa franzida e moveu com sua ternura o meu suor de homem cansado e, ao mesmo tempo, ávido... Era uma tarde qualquer como qualquer tarde em que se acorda para a vida, com flores brotando lânguidas e luas se aprontando para a noite e eu vi seus olhos de amêndoas me revelarem um sorriso que passou a habitar minha alma, a apagar medos e a acender estradas... E era tarde demais para escolher não ser feliz Eu continuei te amando quando os dias chegaram e o que parecia passageiro foi ficando eterno e as pernas bambas, o toque de recolher, a mágica do caderno, o seu corpo em forma de formas, a me acolher, colher de doce e caviar, e esteiras de flores palpitando no jardim. Continuei amando você por que agora era necessário e a vida parecia exigir um pouco mais de carinho, uma atenção a mais comigo mesmo, um dar-se com vontade de reter a alma na intensa razão do encontro, porque amar passou a ser razão e tudo virou um novo desenho... Eu amei você um pouco mais quando era noite e havia frio E sem dizer nada, seu silêncio me aqueceu e a Lua no céu parecia inteira para nós e quando nós dormimos um para o outro foi o momento em que a vida nos despertou para a vida E a vida passou a ser melhor assim.. Mas amei um pouco mais quando chegou o dia e as minhas coisas em cacos distribuídas pela casa,

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essa minha falta de assunto sobre as coisas, o vaso chinês da minha ternura feito em frangalhos e eu fui a padaria buscar um sentido para tudo e quando voltei não havia mais pedaços tudo estava por inteiro Você catou cada parte do que era caco e juntou para fazer de nós mais do que inteiros, completos... Amei você quando percebi que não sou bom e que nunca serei nesse negócio de juntar os cacos... Na parte que cabe do meu reparte a parte melhor é a que vem de você, como um grande encarte dos sonhos que sempre eu quis ter Quero viver com você nesse mundo que me invade, sou de uma tribo de homens que ri e chora, que - poeta! - para sobreviver que - poesia!- para se alimentar e que - música! - para distrair seus medos Sou de uma tribo de homens que choram Que brigam, que bebem, que cantam. Que beijam homens e que também beijam mulheres... e que fazem versos para varar a madrugada Homens que amam sem medo como você me ensinou a lhe amar, sem segredo, sem me esconder, só para me revelar. Eu amei você quando descobri que era hora de também me amar. E aprendi que o seu amor me desperta - alerta! em viagens de noite e de luar em sonhos que contigo às vezes sonho só para poder me acordar... Ouro Preto, 05 de novembro de 2011

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UM PAÍS

A PLANTAR UM PAÍS A PLANTAR Eu sou apenas um cidadão comum Não sou Thor, nem descendo de Abrahão, E dissimulo o Moisés que rompe em meu coração. Terras a conquistar? Balela... Não me chamo Bartolomeu, nem tenho nome de Santo e nem tenho redenção... Sou feito de sofrimentos, mas não nasci para martírio algum Uso frutas no quintal para me proteger das dores do mundo Com elas, desinvento o sal das maldades. Não servi ao Exército E se um exército de libertadores me batesse à porta, não me encontraria à porta, e nem porta eu teria para recebê-lo. Pois meu canto é ermo. Sequer teria ouvidos para oferecer a essa causa... Quanto me levanto, em dias como hoje, O que eu quero é estradar... Caminhar por terras nunca dantes navegadas Em pegadas de feras em bandos, Apodrecendo palavras para fundir em ações... Tudo isso, sem sair de casa... Sem ter que sair de casa! Gosto de pescar sem iscas olhos de tempos claros Sento-me na porta de casa, na varanda que dá para a rua, numa viagem de grande espera... Invento uma viola na alma, toco versos sem heroísmo algum, Apenas para sobreviver... De uns dias para cá comecei a distribuir sorrisos, Mancos, covardes, banguelas... Mas sinceros Meus. Sorrisos verdadeiramente meus. Quero plantar um novo País... E acho que o melhor esterco é esse: Sorrir... Só rir. Rir e fazer rir... A minha revolução começa por aqui Quem quer vir comigo?

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PRECE DE UM FILHO DE JORGE

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Deus! Sei que ainda não compreendo o seu folhear das coisas E no meio das coisas, eu sei que posso ate - tronco, árvore ou apenas galho me desfolhar, Folha a folha, Ao Luar, Ao teu olhar cheio de tanto poder Mas, por favor... Se não sou digno da tua visão divina, nunca desolhe a atenção para mim Nunca deixe de remunerar em versos a minha miopia poética Nem deixe que me faltem sonhos quando a noite me quiser dormir em sua estratégia de sombras Nessa hora, deixe meus sonhos fora da gaiola dos homens E faça com que meus pensamentos tenham asas e garras E que saibam sobrevoar, sem medo, sobre os sobrados de Diamantina, onde ainda pulsa forte o sentimento de Minas, que é denso e de ferro, também em mim, nesse meu peito de aço que é o cofre das minhas melhores utopias... E faça com que meus inimigos - tendo cores - não me desinventem

E tendo armas não me envolvam em suas guerras vãs e inúteis, me deixando - filho de Jorge - por conta apenas desse Dragão de algodão doce que nos ensina a amar o Luar Meu Deus Hoje é domingo, Pé de Cachimbo, O Ano Novo está batendo à nossa porta, E minha alegria está que é só desperdício Estou feliz até nos poros da alma... Por isso, decrete que esse trem em movimento chamado Minas Gerais abrigue de novo novos ventos Que sirvam a outros inventos de liberdades iguais para construir o nosso Tempo em valores universais indivisíveis e soberbas Deus Deus de todo meu silêncio Sabedor de tudo que penso Por favor, me visitai... nas palavras que jamais serão ditas... e que falam a favor de nós em forma de doces sinais de amor e de fé...

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PLANTÃO

DE DEUS No sétimo andar do edifício-sede da empresa Todas as Dores do Mundo, são nove horas da manhã. Horário de Verão. Não é assim em toda Terra, Mas, no Brasil, Deus está de plantão! E os problemas do mundo o rodeiam Lá fora, a vida roda sua rotina pela Avenida São João São Paulo é imensa. Nossa dor também... Já na Avenida Brasil, as mortes da hora atestam que estamos mesmo no Rio de Janeiro Sobra, para todos, diante da crise mundial e da chuva do mal nas manchetes de jornais e no noticiário de TV, essa percepção do quanto o nosso mundo pessoal é pequeno E esta realidade de dimensão global Há problemas na Jamaica e na África do Sul As pessoas morreram há pouco no Metrô de Londres E – imagine você – Deus não teve tempo de socorrê-las Como é então que poderá, como Deus, cuidar também de mim? Fico pensando que a minha vida não vale um olhar de Deus. Nem de soslaio. Para que vale um homem cheio de solidão, medíocre – poeta, meus amigos, portanto ridículo – a não ser para incomodar Deus com seu próprio egoísmo... E o desprezo de Deus para meus problemas me faz sucumbir. Todos nos achamos mais importantes que os outros E não toleramos ser tratados com tanto descuido Minha solidão é maior que a invasão do

Iraque Que a queda das duas torres em Nova Iorque Morre mais gente dentro de mim Do que nessas tragédias humanas... E Deus continua sem tempo pra mim. Também é duro cuidar de um poeta tão descuidado A solidão amplia as dores E inventa problemas na alma de cada um E faz parecer que Deus está de férias de nós E, na verdade, não é assim. Deus – coitado – continua de plantão Só descansa mesmo esse moço em pleno Carnaval Também de que serve Deus na Folia do Rei Momo? Melhor descansar.. Deus dá despachos para o mundo melhorar. Ele sabe A vida fixa metas no relógio, mas não combina com as outras vidas e os outros relógios. E aí vem a safra de desencontros Safra ruim Não sabemos bater o ponto do destino E sobra a sensação de fim Fixo meus olhos no coração do mundo E há muitos espinhos em tanta rosa Sorrisos produzidos ao gosto de tragédias Somos todos assim E Deus não nos socorre porque nos conhece O seu plantão não é para nos salvar É apenas para denunciar o quanto somos ruins Londres, 16 de julho de 2005 (22:40 hs)

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FESTA

CAIPIRA

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Você se espreguiçando na cadeira de balanço. Seus sonhos feito balões de festa de São João subindo calmos pelo céu de inverno Em multicores e formatos redondos… Como se a vida fosse redonda. Na janela, a menina calma da sua esperança, Risonha, com olhos acesos, grandes, enormes… Olhos de inventar canções e luas… E eu medonho… pequeno, te olhando no vazio de mim Ah! como seria bom se fosses verdadeira… Se fosses verdadeiramente um sonho… Te recolher no peito, feito travesseiro, Reter, como perfume, teu cheiro…

Guardar para mim a memoria do teu beijo no meu rosto… Quente, morno, doce… como um dia foi o sol na minha cara… Que País estranho em que te ausentas para sempre Minha Não-Pasárgada, sempre em exílio, no abandono Você foge, fica só sua memoria numa dança de criança Podias ser, queria tanto que fosses, torço tanto para que seja, Por favor, se transforme em um verdadeiro sonho. Para eu poder te tomar inteiro para mim Você se espreguiçando na cadeira de balanço.

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DO VENTRE

DA Mテウ

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Estar na vida como no ventre da mãe... Se inventando em silêncio. Se movendo para dentro. Na ternura do tempo, esperar sempre... Da confusão do mundo, guardar seu signo... Somos concebidos para amar. Somos feitos para ter dúvidas e amar com dúvidas Só não somos feitos, meu bem, para duvidar do amor. É preciso pari-lo de dentro de nós... É preciso tirá-lo de dentro.

Expulsá-lo, removê-lo retirá-lo da prisão dos nossos contratempos. Colocá-lo nos desvãos dos sentimentos Livrá-lo de qualquer adiamento Amar sempre... Desde o ventre da mãe, o amor é o nosso melhor tempo. Amar é o melhor momento de ser De qualquer ser. De ser por fora o que somos por dentro BH, 12 de agosto de 2007

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DESERTO

DE ALMA

Me plantas a semente de teu olhar Em céus que cobrem o deserto. No Saara de teu corpo, seco amor Neutro amor... Tolo amor... Areia em penumbra de noite sem Lua Cana-de-açúcar do seu seio, licores de ti. Mel amargo de vida Tua alma despencando sobre mim... Sempre teu sal sobre minha carne O jeito de me seduzir pelo avesso... Me remetendo à batalha. Me entregar para te traduzir. Pedaço de carne na boca E eu a morder lábios em atalhos de carmim. Boca de mim Meu mal, Meu mel... Bem de te querer quando a vida se perdeu Vida que para Em pleno Saara Vida que se prepara e só passa perto Sem nunca se deter por inteiro.

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Longe do mar Distante do Oceano Um ano a seco, sem um olhar... Amar a seco. Poeira, areia, ventania, perdas... Galope de triste solidão. Aventureiro de perdas... Aluvião... Tuaregue refeito em ventos... A triste amplidão do meu medo A morte que habita em frestas.... em fendas, fundas de ti. na mais fecunda solidão no mais perfeito e árido deserto. Labirinto. Onde o homem se esconde de si O homem foge do homem Em fogo selvagem e viril. Homem morre de si... Sem nenhuma possibilidade outra Sem nenhum rabisco sequer... Sem nenhum registro... Como tudo que acontece nesse momento nesse mundo e no outro mundo.



POEMAS DE TOCAR ESTRADA


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