Elton Frias Zanoni
Leituras da cidade hist贸ria e mem贸ria de Salto
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Copyright By 2012 Elton Frias Zanoni. Todos os direitos reservados a Elton Frias Zanoni. www.eltonzanoni.com
Preparação de textos: Priscila Ramos de Oliveira. Revisores de textos: Jorge Cotrin e Alexandre Ricardo da Cunha. Diagramação: Sebastião Pereira Marques. Direção de arte: Antônio Victório. Entrevistas: Eraldo Miranda e Tiago Araújo. Fotografia panorâmica: Adriano Ávila. Fotografia de capa: Início da Rua Nove de Julho, antiga Rua de Campinas, 1940 (coleção Ettore Liberalesso). Catalogação: Rita Larroudé (crb-8/1993). Coordenação de Projeto: Patricia Ramos de Oliveira. Direção pedagógica: Eraldo Miranda. Chefia editorial: Mauricio Araújo Miranda. Obra em conformidade com o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (1990).
Este livro não é comercializado pela Editora Espaço Idea. A tiragem completa impressa é limitada a quantidade de professores e profissionais da Secretaria Municipal de Educação de Salto, envolvidas no Projeto Meu Primeiro Livro, “Salto, histórias de que posso me orgulhar”. A distribuição dos livros é de responsabilidade da Prefeitura da Estância Turística de Salto.
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Zanoni, Elton Frias, Leituras da cidade. História e memória de Salto – Guarulhos/SP: Editora Espaço Idea. 1a ed. 2012. p. -- (Projeto Meu Primeiro Livro: Salto, histórias de que posso me orgulhar) ISBN: 978-85-8107-007-0
1. Salto (SP) – história 2. Memórias. 3. Educação. Festas populares. 4. Saúde. 4. Cultura. Imigração. 5. Salto (SP) – (Cultura) I. Frias Zanoni, Elton. II. Título III. Série. CDD 981.61
Índice para catálogo sistemático:
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1. Salto (SP) – história 981.61 2. História – Salto (SP) 981.61 25
| Fevereiro/2012 | Editora Espaço Idea | www.projetomeuprimeirolivro.com.br | | www.editoraespacoidea.com.br |
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Projeto Meu Primeiro Livro
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ma lenda, um causo, uma história são para ser jogados aos ventos; soprados pela pluralidade inquieta das bocas que vêm e vão, pelos caminhos curtos e longos do dia a dia do homem. E neste cotidiano de labores, vitórias e derrotas, uma cidade e um povo se formam, valorizando seu maior tesouro, suas histórias. O povo que conta e compartilha suas histórias é o povo solidário com aqueles que estão além de suas fronteiras, pois se permite ser conhecido e marcado na história universal. Salto cidade formada em idas e vindas. Formada a partir da chegada de homens visionários, que plantaram seus sonhos nesta terra fértil e cultivaram aqui um povo sábio, trabalhador e solidário. O Projeto Meu Primeiro Livro terá por objetivo resgatar e registrar a história de Salto, pelos olhos dos educadores, seu presente, e das crianças, seu futuro. E quais histórias serão narradas? Quais fatos serão descritos? Quais passagens serão lembradas? Sim, serão recordadas as histórias dos antepassados, mas, também, a história do agora que caminha pela tradição oral do seu povo, que se movimenta no cotidiano da cidade. O tema “Salto, histórias de que posso me orgulhar” terá como foco de estudos e pesquisas a conservação das histórias trocadas, num processo de imortalização das memórias. O educador, o guardião da palavra escrita, será a bussola que guiará as crianças neste percurso precioso de resgate da memória local. E como o livro é o tombamento da palavra, o que se seguirá nos capítulos desta obra inicial do Projeto, cedida gentilmente pelo professor Elton Frias Zanoni, pesquisador e estudioso da história de Salto, é um nortear para as preciosidades de memórias e histórias que serão imortalizadas nos futuros livros que sairão da boca do povo e terminarão nas escritas de futuros escritores da cidade.
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Apresentação
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s textos reunidos nesta publicação não foram escritos para figurarem num livro. Eles são o resultado de escritos avulsos publicados em dois jornais saltenses. O primeiro deles, Voz da Cidade, que já não é mais editado. Foi nele que tive a primeira oportunidade de divulgar minhas pesquisas sobre a história de Salto, em fins de 2007. Passados dois anos, comecei a publicar no Taperá – tradicional jornal da cidade – o qual já tinha uma coluna sobre história local, chamada “Arquivo”, mantida pelo senhor Ettore Liberalesso, que encerrou sua sequência de 20 anos de artigos e me incumbiu de substituí-lo naquele espaço. Renomeada “História e Memória”, ainda hoje sigo publicando textos sobre o passado da gente de Salto, embora com frequência menor que a desejada por mim. É importante esclarecer que iniciei estudos e pesquisas históricas sobre Salto, com maior regularidade, quando passei a trabalhar como historiador do Museu da Cidade, no qual também fui coordenador. Entre 2006 e 2010, por motivações diversas, debrucei-me sobre o material do rico arquivo dessa instituição em busca de indícios para estabelecer narrativas que registrassem uma parte da história local. Simultaneamente, o que eu julgava interessante divulgar um pouco mais, tanto da parte dos artigos para os jornais quanto das pesquisas no âmbito do Museu, eu postava num blog, que acabou sendo o culpado por este livro, pois foi lá que os editores responsáveis pela publicação encontraram, em suas pesquisas na internet, o material que casava com os propósitos do Projeto Meu Primeiro Livro, realizado pela Secretaria Municipal da Educação de Salto, ao qual, agora, este livro está ligado. Assim, desejo que esta publicação seja útil aos interesses dos educadores de minha terra natal – na qual também atuei como professor de História – e que represente o fechamento do meu primeiro ciclo ligado à cidade de Salto que, por diversas razões e apesar da distância, continuará a merecer meu mais profundo respeito, interesse e consideração. Florianópolis, fevereiro de 2012. Elton Frias Zanoni
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Aos meus pais, João e Rose, que me ensinaram a valorizar a terra natal e são os grandes mestres da minha vida. E para Carolina, que além de me proporcionar o prazer do convívio cotidiano, entende meu interesse pelas coisas saltenses.
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SUMÁRIO Tavares e a fundação de Salto 9 A segunda imagem da Padroeira 10 A presença indígena em Salto 11 Brasital 14 Escola Anita Garibaldi 18 O caso Alfredo Rosa 20 Dr. Viscardi 22 Dr. Barros Júnior, o “pai dos saltenses” 24 Industriais pioneiros 27 Imigração italiana e o Buru 28 Memórias de um professor em Salto 32 Praça Archimedes Lammoglia 33 Maestro Castellari 35 O livro do dr. Randi 37 Estação Ferroviária de Salto 40 Sociedade Italiana 43 Usinas de Lavras e Porto Góes 45 Colégio Professor Paula Santos 48 As tradicionais Festas do Salto 50 Enchentes de 1929 e 1983 52 História dos cemitérios de Salto 55 Tancredo do Amaral, a escola e o patrono 58 Ponte Pênsil e Rua do Porto 60
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Armazém Popular, o Grande Bazar Saltense 65 A antiga Rua de Campinas 68 A presença japonesa em Salto 69 Epidemia de gripe, 1918 71 O saltense Anselmo Duarte 72 Pretti e Lubra, dois pintores saltenses 75 A vila da Barra e seus bonecões 77 Monsenhor Couto 78 Dr. Archimedes Lammoglia 79 O casal Segabinazzi 79 Saltense e Guarani 81 Origem da Igreja de São Benedito 82 Luiz Castellari 83 A antiga maternidade 84 Creche da Brasital 85 A lenda do tesouro do Salto de Ytu 87 Ilha dos Amores 88 Suplemento pedagógico 91 Referências bibliográficas 99 Sobre o autor 100
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Tavares e a fundação de Salto
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onsidera-se como a data da fundação de Salto o dia da bênção da capela dedicada a Nossa Senhora do Monte
Serrat, ocorrida em 16 de junho de 1698. E o fundador, o capitão Antonio Vieira Tavares – então proprietário do sítio Cachoeira, cujas terras correspondem hoje a parte da cidade de Salto. Antes de falecer, Tavares fez a doação do sítio Cachoeira à capela por ele construída. E na escritura de doação, datada de 1700, fez constar que era vontade dele e de sua mulher, Maria Leite, que a capela permanecesse para sempre naquele local, onde hoje está a Igreja Matriz. À época, quem observasse o horizonte a partir daquele ponto teria vista privilegiada para a cachoeira. O trabalho de recuperação da memória do fundador de Salto coube a Luiz Castellari [1901-1948], autodidata, autor de História de Salto, que empreendeu competente pesquisa decifrando manuscritos do final do século XVII e início do século XVIII. Antes disso, pouco se sabia sobre a ocupação pioneira das terras à direita do Ytu Guaçu, nome dado pelos índios ao salto no Rio Tietê. Nascido em meados do século XVII, Tavares vivia no sítio Cachoeira desde aproximadamente 1690, com sua mulher, alguns familiares e escravos. A propriedade fora obtida por duas escrituras de datas de cartas de sesmarias – uma forma existente no Brasil colonial para se tornar proprietário de terras. Para assistir à missa aos domingos, na vila de Itu, Tavares e seus familiares tinham de atravessar o Rio Tietê – e não há registro da existência de uma ponte ligando as duas margens nessa época. Além disso, nosso fundador alegava sofrer de grande moléstia – o que dificultava ainda mais seu deslocamento. Com base nesses argumentos, somados à sua devoção religiosa, solicitou formalmente às autoridades católicas que o autorizassem a construir em seu sítio uma capela dedicada à Senhora do Monte Serrat. Para tanto, pediu autorização também para usar os bens móveis de uma capela fundada por seu pai, Diogo da Costa Tavares, localizada em Cotia, hoje cidade da Grande São Paulo. A licença para construir a capela no sítio Cachoeira foi concedida em fins de 1696 e, em 16 de junho de 1698, o padre Felipe de Campos a benzeu. 100
Passados dois anos e meio da bênção da capela, Tavares e sua mulher, Maria Leite, firmaram uma escritura de doação do sítio Cachoeira à Capela de Nossa Senhora do Monte Serrat, recém-fundada, mas impunham algumas condições. Além
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da já mencionada localização da capela, que não poderia ser alterada, especificaram que a doação só seria consumada por
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falecimento de ambos, marido e mulher. Doariam ainda as peças de gentio da terra – como eram chamados os escravos índios – e demais escravos de origem africana. A casa na qual residiam também estaria entre os bens doados, excetuando-se 25
apenas dinheiro, ouro, prata, cavalos, armas e roupa branca. E é sobre a localização dessa casa que paira um grande mistério. Em que ponto do sítio Cachoeira ela estaria localizada? Possivelmente próxima de onde se construiu a capela, embora não
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exista hoje nenhum vestígio material, nem documento escrito que nos dê qualquer indicação. Maria Leite faleceu em 1704, não tendo nenhum filho com Tavares, que cerca de um ano depois do falecimento dessa primeira esposa se casaria novamente. A segunda esposa, Josepha de Almeida, lhe deu cinco filhos – dois dos quais se tornaram religiosos. Tavares faleceu em 4 de dezembro de 1712, sendo sepultado na capela-mor da Igreja dos Franciscanos, em Itu. Seus restos mortais foram transferidos para Salto em 1981, estando hoje depositados na capela do Monumento à Padroeira.
Assinatura de Antonio Vieira Tavares, retirada de documento do século XVII.
A segunda imagem da padroeira
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as últimas décadas do século XVIII, o açúcar constituía a base econômica da região de Itu. Grande parte da
população tinha suas atividades ligadas à produção e ao comércio desse produto. Nas ocasiões de grandes secas, que tantos prejuízos causavam com incêndios nos canaviais e demais lavouras, a imagem da Nossa Senhora do Monte Serrat era conduzida em procissão até a Igreja Matriz de Itu, onde ficava até que viessem as primeiras chuvas. Quando isso ocorria, a imagem era reconduzida à capela de onde havia saído, no povoado de Salto de Ytu. Em fins do século XVIII, o padre ituano João Leite Ferraz, senhor muito rico e devotado à Nossa Senhora do Monte Serrat, encarregou-se de restaurar a capela original a ela dedicada, construída em 1698. Achava ele que a imagem primitiva que ali se encontrava era “pequena e sem estética”, e por isso desejava substituí-la por outra “majestosa e digna de admiração”. Passava-se o ano de 1797, quando o moço de nome Francisco de Paula Leite de Barros se apresentou ao padre
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solicitando sua intercessão, já que era seu desejo casar-se com Maria Joaquina de Campos, da qual o padre era tutor e amigo 75
da família. Por esse favor, o padre Ferraz achou que o pretendente deveria pagar-lhe em penitências, e para isso disse ao jovem que fosse até a beira do tanque do Sítio Grande, no bairro do Piraí, e de lá trouxesse um tronco de cedro “de muito boas águas”. Assim o jovem pretendente fez, entregando o tronco no largo da Matriz de Itu, após enormes esforços.
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Não contente, o padre solicitou ao jovem que buscasse na vila de Parnaíba, atual cidade de Santana de Parnaíba, um santeiro de fama na época, o mulato cativo de nome Guilherme. Dias depois, o jovem Paula Leite trouxe o santeiro para que esculpisse a imagem de Nossa Senhora do Monte Serrat. Daquele tronco sairiam ainda, pelas mãos do mesmo artista, duas outras imagens: São Miguel Arcanjo e Nossa Senhora do Rosário, ambas ainda hoje existentes na Matriz da Candelária, em Itu. Essas três imagens eram conhecidas como “imagens irmãs”, já que foram esculpidas da mesma tora e pelo mesmo artista. Mais de um século depois, na noite de 18 de janeiro de 1935, um curto-circuito na instalação elétrica da igreja em reformas, na cidade de Salto, na parte que funcionou como matriz provisória, provocou o incêndio que destruiu a imagem de Nossa Senhora do Monte Serrat entronizada em 1797. Naquela trágica noite, as chamas já tomavam conta do altar-mor quando populares tentaram salvar a imagem, sem, contudo, obter sucesso. Na manhã seguinte, após exame pericial da polícia, foi encontrado entre os escombros um pedaço de madeira carbonizada: era a cabeça da imagem incendiada – que hoje se encontra exposta no Museu da Cidade.
A presença indígena em Salto
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área onde hoje se localiza a cidade de Salto abrigava, ao início da colonização brasileira, aldeamentos dos índios
guaianás (ou guaianazes), do grupo tupi-guarani. Consta que a aldeia aqui localizada chamava-se Paraná-Ytu. Foram esses índios que deram à cachoeira o nome de Ytu Guaçu, que significa Salto Grande. Assim, fica claro que essa cachoeira acabou dando nome a duas cidades: a Salto (em português) e à vizinha Itu (em tupi-guarani). Há registros que mencionam o ataque que, em 1532, os indígenas empreenderam contra Martim Afonso de Souza – primeiro donatário da Capitania de São Vicente. Dentre os líderes guerreiros, menciona-se o cacique de Ytu. Sendo essa ocorrência de época em que a vila de Itu (fundada em 1610) ainda não existia, acredita-se que seja uma referência ao chefe dos índios que viviam nas terras da atual Salto. O Museu da Cidade, inclusive, exibe duas igaçabas (urnas funerárias indígenas), pontas de flecha e outros fragmentos de cerâmica recolhidos nos arredores, que testemunham essa presença. Esses indígenas, assim como outros das margens do Tietê, foram repelidos ou aprisionados nas investidas das primeiras bandeiras paulistas,
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que os levaram para abastecer de mão-de-obra as roças nas vilas do planalto.
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Entre os séculos XVI e XVIII, em São Paulo, o número de índios e mamelucos (mestiços de branco e índio) era muito 75
maior que o de europeus. Inclusive, até meados do século XVIII, predominava entre a população paulista uma língua de base tupi-guarani, sendo essa língua mais falada que o próprio português. Era o nheengatu ou língua-geral, cujo ensino acabou sendo proibido pelo governo de Portugal. Ficou, porém, uma enorme herança indígena, nos hábitos de alimentação e higiene, artesanato e técnicas manuais diversas, conhecimento de plantas, crenças e nomenclatura, entre outros itens, cuja influência pode ser percebida na cultura brasileira até os dias atuais.
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Brasital
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or volta do ano de 1870, enquanto o café reinava no oeste paulista, na região ituana, as culturas que
predominavam eram a cana-de-açúcar e o algodão. Nessa época, o então povoado do Salto de Ytu tinha como seu grande atrativo a cachoeira. Assim sendo, para cá se dirigiam inúmeros visitantes. Em 1873 chegou a ferrovia, dando o impulso decisivo para que a cidade fabril surgisse. Nas proximidades da cachoeira, na margem direita do Rio Tietê, surgiram as duas tecelagens pioneiras, instaladas pelos industriais José Galvão (1875) e Barros Júnior (1882), que se aproveitavam do potencial do rio e empregavam turbinas hidráulicas para a geração de força motriz. Além de atrair trabalhadores para cá, as fábricas direcionavam a própria urbanização por meio dos melhoramentos executados em seus arredores. Vivia-se um despertar. Salto se transformou numa localidade voltada para o trabalho. Em geral, a mão de obra dessas primeiras fábricas era formada pelo trabalhador livre brasileiro, com numerosa presença de mulheres e crianças, como se pode ver nas fotos dos grupos de operários desse período. No final do século XIX, a composição desse quadro inicial se alterou com a chegada de imigrantes europeus, em sua maioria italianos. Esse grupo, presente em grande número em Salto, constituía a maioria dos operários empregados, que em muitos casos eram egressos de fazendas de café do interior paulista. Foram os descendentes desses primeiros italianos que formaram o contingente de trabalhadores das décadas seguintes. Por meio de sucessivas fusões que incorporaram as primeiras tecelagens e a Fábrica de Papel Paulista, a partir de 1904 a Sociedade Ítalo-Americana tornou-se única proprietária do conjunto fabril. Em 1919, com uma mudança de acionistas, passou a se chamar Brasital. A Brasital S/A, formada com capital brasileiro e italiano, marcou território e época, dominando parte da vida da cidade até aproximadamente os anos de 1950. Construiu vilas operárias, instalou armazém, açougue, creche e escola. Quase sempre em expansão, era o destino de muitos filhos de operários, já que a política de contratação privilegiava os familiares de funcionários. Isso se concretizava por volta dos 14 anos de idade, em especial para as mulheres. Era marcante a presença feminina, representando, por volta de 1940, 75% da mão de obra empregada. A elas invariavelmente cabia uma dupla jornada, tendo que conciliar os afazeres domésticos, nos períodos de folga, com o trabalho
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na fábrica. Os 25% restantes eram homens que trabalhavam na tinturaria, oficinas mecânica, elétrica e de carpintaria, nos escritórios, nas cardas e nos depósitos de algodão e de fios. As meninas ingressavam como auxiliares das maquinistas, tanto na fiação como na tecelagem. Os meninos
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ingressavam como ajudantes dos mecânicos, eletricistas e carpinteiros. Outros ingressavam no escritório da fábrica ou
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como escriturários nas seções da indústria – tais como tecelagem, fiação, tinturaria e oficinas.
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A denominação Brasital persistiu até 1981, quando o Grupo Santista a adquiriu. A fábrica existiu até 1995, momento em que a então Alpargatas Santista encerrou suas atividades em Salto. Atualmente, os prédios da antiga tecelagem abrigam um centro universitário. Fábrica e rio - A relação dos operários com o rio sempre foi muito estreita. Existiam lendas sobre uma canoa fantasma que era vista nas águas do Tietê através das janelas da fábrica, pelos funcionários do turno da noite. Outro exemplo é a cena comum, até a década de 1950, de operários que saíam do serviço às 16h e 30min. e atravessavam a ponte pênsil para ir pescar. Quase sempre havia um parente ou amigo esperando com as varas e as iscas. Ao escurecer, retornavam para suas casas com os peixes, que constituíam a mistura do almoço ou jantar do dia seguinte. Operários da Brasital com o prédio da fiação ao fundo, c.1920.
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“À tarde, os moços saíam das fábricas e iam nadar lá... O povo ficava na mureta olhando, era um divertimento. Antigamente, nos quintais das casas da Brasital havia fornos de assar pão e tanques para se lavar roupas. Lá as crianças também iam brincar.” Dona Maria Luiza Pavanelli nasceu em Salto, tem 72 anos de idade e é aposentada.
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Escola Anita Garibaldi
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esde a primeira década do século XX, Salto contou com escolas mantidas pela colônia italiana. A primeira
delas denominava-se Dante Alighieri. Nesse período, Francisco Salerno, Othelo Donato e Leone Camerra se destacaram como docentes. Na década de 1920, a Escola Dante Alighieri passou a se chamar Anita Garibaldi, em referência à companheira brasileira de Giuseppe Garibaldi, guerrilheiro italiano conhecido como “herói de dois mundos”, por conta de sua participação em revoluções tanto na América – caso da Farroupilha, no Rio Grande do Sul – quanto na Europa. Em sua origem, essa escola voltava-se para a difusão da língua e da cultura italiana, à luz da ideologia fascista, com o governo italiano, sob o comando de Benito Mussolini, enviando o material didático – como livros de história e geografia – dentro dos programas de propaganda patriótica para italianos residentes no exterior. Alguns desses livros encontram-se nos arquivos do Museu da Cidade de Salto – que desde 1991 funciona no espaço que abrigou por quase quatro décadas a Escola Anita Garibaldi.
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Alunos da Escola Anita Garibaldi, década de 1940.
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Mantida pela indústria têxtil Brasital S/A, a escola teve como diretor e professor, de 1931 a 1968, João Baptista Dalla Vecchia. Trajando terno jaquetão azul-marinho, camisa branca e gravata azul –, figura austera e apaixonada por seu ofício – podia-se dizer que “ele era a escola e a escola era ele”. De início, Dalla Vecchia centralizava todas as funções: era diretor, professor, secretário e bedel. Em 1934, a italiana Rosanna Turri [1913-2004] foi agregada à escola, permanecendo longo período ao lado do professor Dalla Vecchia. Tratando-se de um estabelecimento de ensino complementar, atendia normalmente aos egressos do curso primário do Grupo Escolar Tancredo do Amaral, que ainda não tinham idade suficiente para ingressar no mercado de trabalho. As vagas na Anita Garibaldi eram disputadíssimas, especialmente porque Salto não tinha estabelecimentos de ensino com classes que fossem além da antiga quarta série. Além do currículo normal, o professor Dalla Vecchia ministrava aulas de música, língua italiana, religião, ginástica e caligrafia. Esta, por sua vez, transformou-se na marca dos alunos que a frequentaram: era a caligrafia do Dalla Vecchia, a caligrafia da Escola Anita. Existe um vídeo de fins da década de 1930, produzido pelos proprietários da Brasital, que mostra durante alguns segundos alunos desfilando pela Rua José Galvão, e também se exercitando, orientados pelo professor Dalla Vecchia. Ao final da década de 1960, Salto já contava com novos estabelecimentos de ensino que ocupavam um espaço antes preenchido pela escola Anita Garibaldi. Então, com a última turma formada em 1968, aposentou-se o respeitado mestre Dalla Vecchia, aos 72 anos. Os velhos livros de matrícula da escola estão sob guarda do Museu da Cidade, o que nos permite empreender um levantamento minucioso de todos os ex-alunos.
Um professor que marcou gerações: João Baptista Dalla Vecchia nasceu em Itu, em 1896. Filho de italianos, aos 8 anos de idade mudou-se com a família para a Argentina e, dois anos mais tarde, para a Itália. No início de 1914, pouco antes da eclosão da Primeira Guerra Mundial, os Dalla Vecchia retornaram ao Brasil. Então, João Baptista ingressou na Brasital, ali trabalhando até 1931 – ano em que recebeu o convite para lecionar na escola mantida pela indústria em Salto. Além de professor, Dalla Vecchia foi assíduo colaborador da paróquia de Nossa Senhora do Monte Serrat e de seu
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vigário, o padre João da Silva Couto [1887-1970], ajudando-o em várias empreitadas. Ligado às práticas esportivas, foi um
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dos diretores do Ítalo Futebol Clube, na década de 1920.
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Por muitos anos foi também músico da Corporação Musical Giuseppe Verdi, sendo ainda um dos fundadores e regentes da União Musical Gomes-Verdi, surgida em 1939. Na política, foi vereador de 28 de maio de 1936 a 30 de janeiro de 1937 e de 1 de janeiro de 1948 a 31 de janeiro de 1951, data em que renunciou ao cargo. Também foi vice-prefeito na gestão
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de Vicente Scivittaro [1911-1968], entre os anos de 1960 e 1963. Faleceu em 1981.
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O caso Alfredo Rosa
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m 20 de julho de 1911 ocorreu em Salto um episódio que transformaria um lavrador em uma figura venerada
por muitos saltenses da primeira metade do século XX, que o tinham por milagreiro. Embora não se tenha segurança sobre sua verdadeira identidade, a memória popular acabou por nomear Alfredo Rosa o sujeito que foi assassinado na cidade na data mencionada. Nessa época, Salto contava com cerca de 5 mil habitantes, muitos deles vivendo na zona rural. Assim, era comum que muitos sitiantes viessem para o núcleo urbano realizar compras nos armazéns de secos e molhados existentes. Um deles, o de Marcos Milani, situava-se no Largo da Matriz, na esquina em que se instalou a Creche da Brasital, em 1948. Naqueles meses de 1911, as pessoas viviam atemorizada diante dos frequentes furtos de animais que vinham ocorrendo. Há certo tempo, Alfredo Rosa – que supostamente vivia em algum sítio na divisa entre Salto e Elias Fausto – não era visto na cidade. Embora fosse figura já conhecida de alguns saltenses que o viam regularmente fazendo pequenas compras e tomando cachaça, naquela quinta-feira ele pareceu, para muitos, um sujeito suspeito: estava por muito tempo parado ao lado do armazém-pensão de Marcos Milani. E isso, possivelmente, foi um indício para que os trabalhadores que saíam da Ítalo-Americana o estranhassem. Enquanto subia em seu cavalo, e notando ser vítima dos olhares desconfiados de várias pessoas, Alfredo Rosa, assustado, largou tudo e se pôs a correr. Isso bastou para que os homens que o observavam, muitos deles operários, saíssem no seu encalço, aos gritos de “pega ladrão”. Dava-se, naquele instante, a associação entre os recentes furtos de animais e a figura de Alfredo Rosa. A perseguição ocorreu por cerca de 2 quilômetros, em direção ao cemitério velho – a atual Praça XV de Novembro – e descendo rumo ao Córrego do Ajudante, onde havia uma ponte. Se conseguisse atravessá-la, provavelmente Alfredo Rosa não seria alcançado, pois se embrenharia no mato. Diante da iminência de ver o sujeito que tinham por ladrão fugir, os perseguidores de Alfredo Rosa começaram a disparar tiros. Assustado, Rosa parou diante de todos e se disse inocente. 100
Contudo, não houve perdão e Rosa foi morto a tiros. Em seguida, alguns populares arrastaram o corpo desde o local do assassinato até a casa que funcionava como delegacia e cadeia, na então Rua de Campinas, atual 9 de Julho. Tempos depois, restabelecida a calma, foram descobertos os verdadeiros ladrões de cavalos. Então a cidade viu que
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trucidara um inocente. Talvez na tentativa de compensar o erro, muitos saltenses passaram a venerar a memória de Alfredo Rosa. Inclusive uma capela foi erigida no local de sua morte – construção que existiu até 1973. Já os restos mortais de
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Alfredo Rosa constituem um capítulo à parte, pois foram transferidos de local por várias vezes, estando hoje numa sepultura comum no Cemitério da Saudade.
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Essa descrição do episódio é baseada em relatos de antigos moradores e cronistas de Salto. Existe documentação judicial referente ao caso e que pode ser consultada nos arquivos do Museu Republicano de Itu e possibilita outra leitura dos acontecimentos.
Alfredo Rosa em fotografia mortuária.
Outra versão para o caso Alfredo Rosa: O inquérito policial referente ao caso Alfredo Rosa soma mais de 70 páginas e está sob guarda do Museu Republicano de Itu. Consultando-o, descobrimos algumas informações inéditas em publicações locais. Inicialmente, lê-se que três testemunhas foram ouvidas no dia do assassinato: 19 de julho de 1911. O relato do escrivão da delegacia de Salto aponta para o recebimento de um telegrama remetido pelo delegado de polícia de Itu com o seguinte teor: “Roubaram em Porto Feliz um burro pampa, arreado com lombilho chapeado. O ladrão é um indivíduo moreno, baixo, usa cabeleira, tem falta de 100
um dedo médio em uma das mãos e chama-se José de Tal. Consta que o ladrão seguiu para aí. Saudações”. Ao receber o comunicado, imediatamente o delegado de Salto tomou providências para a captura do sujeito descrito,
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caso ele se encontrasse em território saltense. Para isso, incumbiu da tarefa duas praças de destacamento e mais dois
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paisanos, que se encarregaram da sindicância. Por volta das 5 horas da tarde, um dos paisanos informou ao delegado que recebera notícia que estava hospedado no Hotel Central um “desconhecido que desconfiava ser ladrão de animais”. Sabendo disso, o delegado, em companhia de mais três pessoas, foi ao Hotel Central – onde de fato encontrou duas pessoas desconhecidas. Perguntou então ao dono do hotel se aquelas duas pessoas tinham se hospedado juntas em seu
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estabelecimento, recebendo resposta negativa. E suspeitando que uma delas estivesse envolvida com os roubos de animais, convidou o indivíduo suspeito, “que tinha cor parda, estatura mediana, cheio de corpo, de 30 anos presumíveis, trajando roupa escura”, para ir até a delegacia para averiguações. O sujeito concordou em acompanhar o delegado, mas chegando à rua, repentinamente sacou uma arma e disparou dois tiros contra a autoridade policial, não atingindo ninguém. E como naquele momento havia na rua certa “aglomeração de populares, saíram diversos em perseguição ao criminoso, que, se evadindo pela Praça Quinze de Novembro, foi disparando sua arma contra seus perseguidores e, mesmo correndo, (...) carregava a arma, desfechando para mais de 15 tiros, [e] por fim tomou, depois de saltar uma cerca, a Rua Joaquim Nabuco (...)”. Em meio a essa perseguição, que se prolongou pela “estrada de rodagem de Capivari”, um dos populares foi atingido na coxa por um tiro disparado pelo fugitivo. A partir desse momento, vários perseguidores que estavam armados “também dispararam diversos tiros contra o fugitivo, que ao chegar ao Ribeirão do Ajudante recebeu um tiro de frente, disparado por um dos populares, que o prostrou por terra, falecendo momentos depois”. O delegado, embora estivesse no grupo daqueles que perseguiam o suspeito, não soube apontar o responsável pelo tiro fatal. Em seguida, o cadáver foi conduzido à delegacia de polícia, onde foi revistado. Com ele encontraram um revólver – imitação de Smith & Wesson, de calibre 9 milímetros –, uma faca, 20.400 e quatrocentos réis, e uma carta dirigida a Maria Vieira, à Rua Sete de Setembro, Itu – assinada “Arfredo Rosa”, com R. Outros bens do morto foram localizados no Hotel Central e listados, assim como dois cavalos com os quais chegou a Salto.
Dr. Viscardi
F
igura que desde 1930 dá nome a uma rua de Salto, o médico Enrico (Henrique) Viscardi nasceu em 1858, na
cidade de Milão, Itália. Sua biografia pode ser dividida em três momentos principais: vivência na terra natal, passagem pela África e permanência no Brasil, especificamente em Salto. Uma importante fonte de informação a respeito de sua trajetória se encontra numa publicação especial do jornal
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Fanfulla, editada em 1906 e intitulada Il Brasile e gli Italiani. Trata-se de uma compilação especial que aborda a participação de
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italianos no desenvolvimento do Brasil, com mais de 1.200 páginas, em grande formato. Na página 1.036 encontramos os
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dizeres sobre o doutor Viscardi e uma fotografia dele. Essa fonte menciona que Viscardi formou-se médico pela Universidade de Pavia, na região da Lombardia, em 1883. No ano seguinte, em virtude de um surto de cólera que se alastrou por toda a península itálica, principalmente Nápoles, ao sul, o jovem estudante se inscreveu na equipe de Felice Cavallotti, político e poeta italiano, e foi em socorro aos doentes
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daquela região. Em 1886, consta que já dirigia um lazareto destinado aos acometidos pelo mal da cólera. Esses seus primeiros trabalhos lhe renderam duas medalhas destinadas a beneméritos da saúde pública italiana. Por essa mesma época, na biografia de Costantino Lazzari [1857-1927], um socialista lombardo, encontramos menções ao envolvimento de Viscardi como um dos membros “mais ativos e dispostos” da Liga Socialista Milanesa. No contexto da política expansionista europeia do final do século XIX, a África representava um grande território além-mar a ser conquistado. O rei italiano Umberto I, já tendo feito um ensaio de colonização na Eritreia, lançou-se numa guerra contra a Abissínia (atual Etiópia), pleiteando o controle de novas áreas. Essa pretensão italiana culminou na Batalha de Adwa, em 1896, na qual os etíopes surpreenderam o mundo ao derrotarem a potência europeia e permanecerem independentes sob o reinado de Menelik II. Nesse conflito, Viscardi havia se engajado como capitão-médico. Ao final da mencionada batalha, foi ele quem chefiou a equipe de médicos que cuidou dos 300 prisioneiros que tiveram um pé ou uma mão amputados pelos etíopes, antes de serem libertados. Ao retornar à Itália, Viscardi foi condecorado com medalha alusiva aos serviços prestados no campo de batalha e passou os últimos anos do século XIX como médico no Ospedale Maggiore di Milano. Casado na Itália, sabemos que Viscardi deixou lá dois filhos. Há informação que, em 1906, Bruno, o mais velho, era oficial da Marinha; e Mario estudava agronomia em Bréscia. Na biografia de Lazzari, os filhos e esposa de Viscardi também são mencionados num trecho de documento do final do século XIX que atesta, ainda, a estreita relação entre o socialista e o médico. Viscardi chegou a Salto em 1902 com uma função predeterminada: chamado por José Weissohn – industrial italiano estabelecido com suas fábricas às margens do Rio Tietê – para assumir a “chefia do serviço sanitário” daquelas tecelagens. Na prática, Viscardi prestava toda a assistência médica necessária aos operários de Weissohn. Várias são as fotos do acervo do Museu da Cidade de Salto na qual estão presentes Viscardi, Weissohn e demais diretores das tecelagens existentes no início do século XX. O médico envolveu-se, ainda, no tratamento da ciática e do reumatismo, dando continuidade aos trabalhos pioneiros no combate a esses males a partir dos métodos introduzidos pelo casal Segabinazzi, italianos, também radicados em Salto. Logo que chegou, o médico viveu no Hotel Saturno. Tempos depois se mudou para um casarão de pedra, existente até hoje
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na Rua Monsenhor Couto. Bem quisto por toda a população saltense daqueles tempos, era chamado de “médico dos
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pobres” ou “médico das flores”.
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No referido casarão, Viscardi viveu com uma antiga empregada sua, com a qual teve dois filhos – falecidos com menos de 2 anos de idade. Antônio Virgílio e Antônia, que estão enterrados em túmulos de mármore branco, cercados por grades de ferro, ao lado do túmulo do pai. Em 1913, quando da morte de Viscardi, uma multidão acompanhou seu enterro, que se deu no então cemitério novo, na Vila Nova, atualmente denominado Cemitério da Saudade. Em seu túmulo, que
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ainda hoje recebe flores, lê-se um epitáfio em língua italiana, que traduzimos: “Nesta sepultura que é a expressão da dor e da admiração de todos, está mudo e frio o coração do dr. Henrique Viscardi, médico insigne, que era todo caridade e que cessou de palpitar no dia 13 de dezembro de 1913”.
Dr. Viscardi, médico italiano.
Dr. Barros Júnior, o “pai dos saltenses”
O
s dados biográficos de Francisco Fernando de Barros Júnior [1856-1918], um dos industriais pioneiros em
Salto nas últimas décadas do século XIX, foram levantados e sistematizados com minúcia por Luiz Castellari [1901-1948], autor de História de Salto. O texto que se segue é a sistematização de alguns dos dados apresentados por Castellari na segunda parte de seus escritos, especialmente dedicada à figura daquele que seria cognominado “pai dos saltenses”, por conta de seus diversos préstimos aos habitantes da cidade.
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Filho de Francisco Fernando de Barros – senhor de engenho e produtor de cana – e Angela Guilhermina Mesquita
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Barros, o dr. Barros Júnior nasceu na então vila de Capivari, em 17 de março de 1856. Ao concluir seus primeiros estudos no
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Brasil – passando pelo Colégio São Luiz, de Itu, e Kopke, no Rio de Janeiro – partiu para os Estados Unidos, ingressando na Syracuse University, em Nova York, com o propósito de se graduar engenheiro civil. Quando retornou ao Brasil, chegando a Itu em 1879, assumiu posição de destaque no Partido Republicano local. No mesmo ano se casou com sua prima-irmã, Maria Alexandrina de Barros, da qual se desquitaria antes de falecer.
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Em 1880, Barros Júnior iniciou seus investimentos em Salto com a construção de um edifício que funcionaria como tecelagem, que passou a operar em 1882. Barros se sobressaiu mais como político que como industrial, sendo representante de um modelo típico do final do século XIX: político, fazendeiro e industrial. Seu pai fora delegado de polícia em Capivari, sua terra natal. E um de seus irmãos mais velhos se elegera deputado provincial nos anos 1870 – ainda nos tempos do Império, portanto. A atuação política de Barros Júnior teve início nos anos 1882-1886, quando foi vereador em Itu – época em que pleiteou diversos melhoramentos para a então vila do Salto. Entre 1892 e 1896, já na República, foi deputado estadual pelo Partido Republicano Paulista. Barros Júnior deixava claro, desde seu retorno ao Brasil, quais eram seus objetivos: tornar-se um chefe político em Salto, aliando seus interesses como industrial e político do PRP. Em Salto, foi o responsável direto por algumas ações bastante significativas para a época: em 1880, reorganizou o Grêmio Musical Saltense. Em carta de 1940, o maestro Henrique Castellari [1880-1951] registra uma passagem sobre o grêmio e a participação decisiva do industrial: “A Banda Musical Saltense foi fundada no ano de 1878, por um grupo de pessoas de boa vontade e vocação musical, (...). Depois de 1880, mais ou menos, o benemérito saltense dr. Francisco de Barros Júnior (...) avocou-se a direção da referida Banda Musical. Assim, forneceu-lhe instrumental novo, músicas novas, mantendo o maestro João Narciso do Amaral (grande músico ituano), dando trabalho aos músicos em seu estabelecimento industrial e correndo todas as demais despesas da banda por sua conta. Mais tarde, [em] 1890, referido industrial, vendendo sua indústria, afastou-se da direção da banda, confiando todo o instrumental e pertences da mesma à guarda da Matriz local, (...)”. Em 1885, Barros Júnior criou o Gabinete de Leitura e Cultura Democrática; em 1887, fundou o Clube Republicano 14 de Julho; em 1888, passou a editar o primeiro jornal local, o Correio do Salto, juntamente com o professor Tancredo do Amaral [1866-1928]. Aqui também o capivariano exerceu os seguintes cargos: subdelegado de polícia, intendente, presidente da Câmara e juiz de paz. Mas foi durante a epidemia de varíola de 1887, que atingiu toda a Província de São Paulo, que Barros Júnior notabilizou-se em Salto. Com seu auxílio foram construídos três lazaretos (unidades de isolamento dos doentes, afastadas no núcleo central da vila). Auxiliou ainda na compra de medicamentos, víveres para alimentação dos doentes, roupas e leitos.
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Trouxe também médico e enfermeiras da capital. O historiador local Luiz Castellari assim descreveu a atuação do “pai dos
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saltenses” naqueles dias de surto epidêmico: “Nas horas em que não se ocupava com os enfermos, [Barros Júnior] saía na rua à frente de
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sua banda de música, soltando foguetes,como que afugentando o 'vírus' e assim alegorizar[sic]a população desolada”. Na biografia do “pai dos saltenses”. duas datas merecem destaque: 1890, venda de sua fábrica de tecidos em Salto; e 1893, com a apresentação do projeto ao Congresso Estadual que ampliava os limites de Salto, incorporando terras da margem esquerda do Rio Tietê, antes pertencentes a Itu. No ano do término de seu mandato como deputado estadual,
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segundo menciona Luiz Castellari, Barros Júnior teria “perdido seu cabedal”, ou seja, empobrecido: “De elevada posição social a um humilde carreio e arador de terra. Seguidamente vinha à vila [de Salto], guiando seu carro de boi. De uma feita, estacionando em frente a uma casa comercial, pede ao proprietário um par de sapatão a crédito. Negam-lhe o pedido”. Barros Júnior foi o primeiro presidente do Conselho de Intendência de Salto, em 1890 – cargo equivalente ao de prefeito. Entre 1896 e 1898 esteve ausente da 2ª Câmara de Salto, tendo retornado em 1899 e permanecido até 1907. Entre 1907 e 1918 não participou diretamente da política local. Quando faleceu, em 1918, vítima de gripe espanhola, contava com 62 anos. Deixou um único filho, Alexandre Luiz de Almeida Barros, e um terreno situado na Rua Joaquim Nabuco. Sua última ocupação foi a de coletor de rendas federais. Ainda hoje seu nome está ligado à ideia de devoção às causas locais em Salto.
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Dr. Barros Junior, o pai dos saltenses, com 23 anos, aproximadamente. Acervo do Museu Republicano Convenção de Itu.
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Industriais pioneiros
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osé Galvão: Nascido em Itu, em 19 de janeiro de 1834, José Galvão de França Pacheco Júnior foi o pioneiro da
indústria têxtil em Salto. Iniciou a construção de sua fábrica em 1873 – mesmo ano da chegada da ferrovia, com a instalação da Estação de Salto – inaugurando-a em 1875 e dando-lhe o nome de “Fortuna”. Instalado na margem direita do Rio Tietê, próximo à cachoeira, o empreendimento de Galvão tinha 1.240 metros quadrados de área construída. A localização nesse ponto não era casual: o potencial energético das águas foi aproveitado com a instalação de uma turbina a água, posteriormente convertida em elétrica. Na comunidade saltense que se avolumava no final do século XIX, muito em virtude dos braços trazidos para trabalharem em seu empreendimento, Galvão era figura de destaque. Faleceu em 30 de março de 1889 e seu nome, anos mais tarde, foi dado à rua que, até 1908, se chamava Rua da Estação, no centro de Salto. José Weissohn: Em 1898, o engenheiro José Weissohn, vindo da Itália, adquiriu os prédios das duas tecelagens pioneiras, instaladas por José Galvão e Barros Júnior, na margem direita do Rio Tietê, que desde 1890/91 já haviam sido incorporados por empresas de maior porte. Apesar de já em 1904 ter transferido todo esse patrimônio à Società per l'Esportazione e per l'Industria Italo-Americana, Weissohn continuou em Salto como um dos diretores na sociedade. Ele e sua família residiam no chalé da gerência, uma bela edificação à frente da antiga Júpiter. Entre os anos de 1911 e 1913, Weissohn esteve à frente das negociações entre os industriais e o povo, juntamente com o poder público da época. A iniciativa visava a resolver o problema de locomoção ao Porto das Canoas – local piscoso, cujo acesso fora impedido pelos industriais que incorporaram aos seus domínios uma via pública que cortava os prédios das tecelagens e ia até a margem do rio. A solução encontrada foi a construção de uma ponte pênsil, num abismo então existente na margem direita, entre a pedra grande e a pedra alta, ao lado dos prédios da antiga fábrica Fortuna. José Revel: Vindo da Itália como conselheiro-delegado da Sociedade Ítalo-Americana, em 1909, José Revel era o maior acionista da empresa, que além da fábrica de Salto tinha outras na Argentina e no Chile. Quando o domínio acionário passou às mãos de outro grupo, em 1º de novembro de 1919, dando origem à Brasital S/A, Revel foi o primeiro presidente da empresa, permanecendo nesse posto até 1923. Pode-se atribuir o crescimento vigoroso da Brasital em seus primeiros
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anos, especialmente em Salto, aos seus esforços. É de sua época a aquisição das quatro quadras de terreno nas quais seriam
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construídas as 244 casas da Vila Operária Brasital. Não é por acaso que uma das ruas que corta as referidas quadras recebeu o
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nome de José Revel, que viveu em Salto por quase 15 anos. 25
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Imigração italiana e o Buru
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ntes de 1860, a Itália estava dividida em vários pequenos Estados, em geral fracos e dominados por outras
potências europeias. Ideias de que a Itália devia formar um só país vinham de longe, mas foi somente no século XIX que ela ganhou força e se completou. A unificação não melhorou a vida do povo italiano. A crise agrícola de 1880 afetou profundamente as pequenas propriedades, que não suportavam a pesada carga de impostos do governo e não conseguiam competir com a produção agrícola de outros países. A injustiça social, acompanhada de um governo ineficiente, lançava muitos peninsulares ao desencanto. Para muitas famílias italianas, o sonho de superar as dificuldades vividas na terra natal passou a ser representado pela expressão “fazer a América”. E assim, muitos italianos atravessaram o Oceano Atlântico e aportaram no Brasil, cheios de esperança. Estima-se que, entre homens, mulheres e crianças, o total tenha ultrapassado 1 milhão e meio de pessoas. Diante da necessidade de mão de obra barata para a manutenção da lavoura do café, São Paulo foi o centro da imigração europeia para o Brasil. Dos 4 milhões de estrangeiros que entraram no Brasil entre 1886 e 1934, 56% se instalaram em terras paulistas. Enquanto os alemães preferiam ir para o Sul e os portugueses para o Rio de Janeiro, os italianos fizeram do Estado de São Paulo o seu lugar, sendo a maioria esmagadora deles dirigida aos cafezais. No final do século XIX, grande número de famílias italianas se instalou nas lavouras de café existentes nas proximidades do bairro rural denominado Buru, em Salto – uma região que, à época, se estendia desde a margem direita do Córrego do Ajudante e do Rio Tietê, até as divisas do município de Salto, tendo no meio o próprio Rio Buru, que nomeava essa vasta área. Atualmente, seus limites se estendem desde a divisa com os municípios de Indaiatuba e Elias Fausto, na altura do distrito de Cardeal (antigamente denominado Buru de Cima), passando pela região onde está a Capela de Nossa Senhora das Neves (Buru do Meio), até atingir a velha estrada de terra que vai para Capivari (Buru de Baixo). A vila de Salto de Ytu, situada entre as regiões cafeeiras de Itu, Campinas e Jundiaí, era um local bastante modesto em fins do século XIX. Contudo, tornou-se um exemplo significativo da força da presença italiana em solo brasileiro. Nos primeiros anos do século XX era grande o número de italianos que chegava à região de Salto. No ano de 1905, por exemplo,
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o contingente de naturais da Itália aqui instalados passava de 3 mil, quando a população saltense era de aproximadamente
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4.200 habitantes.
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As primeiras levas de italianos começaram a chegar a Salto por volta de 1890 – tempo em que ainda eram pouco numerosas as propriedades rurais e se encontravam vastas áreas cobertas pela mata virgem. Valendo-se dessas terras 25
inexploradas e de baixo custo, nelas se fixaram muitas famílias de imigrantes recém-chegadas da Itália ou saídas das fazendas de café dos municípios vizinhos e áreas próximas..
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Uma família de imigrantes trouxe da Itália a primeira imagem de Nossa Senhora das Neves, propagando o culto na região do Buru. Desde o final do século XIX se promoviam novenas, sempre no mês de agosto, que eram encerradas com a procissão da referida imagem. Desde esse tempo, festas populares eram realizadas com o intuito de se arrecadar fundos para a construção de uma capela. A capela hoje existente já é a segunda construção e data de 1938.
Capela de Nossa Senhora das Neves, c. 1970.
As famílias Zanoni, Stecca, Zambon, Rocchi, Di Siervo, Bethiol, Pauli, Pitorri, Bolognesi, Cortis, Ognibene, Gianotto, Vallini, Quaglino, Ferrari, Santinon, Matiuzzo, Bernardi, 100
Gilberti, Bergamo, Nicácio, Mosca, Fiori – dentre outras – estiveram ligadas à história de ocupação
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do bairro do Buru e adjacências, bem como aos
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trabalhos religiosos na capela de Nossa Senhora das Neves. 25
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João Ivo Stecca, esposa e filhos - uma família do Buru, c. 1940
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Um depoimento sobre o Buru: O Museu da Cidade de Salto preserva em seus arquivos uma coleção de depoimentos de antigos moradores, gravados em fitas cassete e hoje disponíveis em CDs e até mesmo na internet. Um deles é o de Palmira Merlin Santinon. Durante a gravação de quase 23 minutos, efetuada em abril de 1993, o principal tema presente na conversa entre Palmira e seus interlocutores é o bairro rural do Buru. A depoente: Palmira nasceu em 14 de junho de 1912 “num lugar [...] [chamado] Ribeiro”, próximo a Capivari. Em 1923, veio para a cidade de Salto, onde viveu até seus 18 anos, quando se casou com Guilherme Santinon e foi morar no bairro rural do Atuaú, onde seu marido já residia. Logo em seguida, o casal comprou terras no bairro do Buru, onde administraram por muito tempo a venda do Buru. Nessa área, que antes de pertencer à família Santinon denominava-se “Sítio do Turco” – e por consequência tinha-se o Armazém do Turco –. Palmira viveu por 55 anos. Assim sendo, o tempo a ser abordado pela depoente, ao falar do Buru, vai do início da década de 1930 até meados da década de 1980. Os três Burus: Território vasto e, até bem pouco tempo atrás, muito distante do núcleo urbano de Salto (era recorrente entre os saltenses a expressão “tão longe como daqui ao Buru...”), dividia-se em três partes: Buru de Baixo, Buru do Meio e Buru de Cima. Segundo a depoente, essa divisão era feita por meio de águas, com alguns córregos fazendo as vezes de divisa entre uma fração do bairro e outra. O Buru no qual se localizava a venda era o “do Meio”. Sabe-se que essa divisão era adotada há muito tempo, desde o final do século XVIII, pelo menos. O censo populacional de Itu de 1792 – cuja documentação, sob guarda do Arquivo do Estado de São Paulo, denomina-se “Maços de População de Itu” – alocou o “Boyri de Sima” e o “Boyri de Baixo” na 5ª Companhia. Pela circunscrição das demais Companhias nas quais o território ituano estava divido (incluindo os atuais territórios de Indaiatuba, Jundiaí e Piracicaba, por exemplo), nos parece óbvio ser o denominado Boyri o nosso Buru. Famílias e sítios: A depoente citou as famílias que residiam no Buru no tempo em que lá viveu: Stecca, Zambon, Mosca, Bracarense, Garcia, Ribeiro, Gianotto, Quaglino, Keiller e a família de José Eduardo. Solicitada a citar nomes de sítios do Buru, menciona que não era muito comum os sítios terem nome, tinha-se, sim, o nome do proprietário associado às terras. Assim sendo, lembra-se dos sítios Aleluia, do sítio dos Di Siervo, dos Bracarense, dos Mosca, dos Zanoni, do doutor
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Janjão e da fazenda dos Anastácios. Em um levantamento topográfico de Salto de 1931, é possível a localização de algumas
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outras propriedades então existentes, como os sítios Nova Trento e o de J. Bergamo.
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Memórias de um professor em Salto
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m seu livro Memórias de um Mestre Escola (1974), Felício Marmo – professor e inspetor escolar no início do século
XX – dedicou cerca de 20 páginas a sua passagem por Salto. Vindo de Cosmópolis (SP), chegou a terras saltenses em 20 de janeiro de 1908 e permaneceu até 13 de fevereiro de 1912. Numa época, portanto, em que nem sequer o Primeiro Grupo Escolar de Salto, hoje Escola Estadual Tancredo do Amaral, havia iniciado suas atividades – fato que ocorreria no ano seguinte. A cidade de Salto que Marmo encontrou, conforme ele mesmo relata, “contava com três fábricas de tecidos, sendo a mais importante a Società per l'Esportazione e per l'Industria Ítalo-Americana S. A.”, antecessora da Brasital. A respeito da educação, ele menciona que Salto possuía “duas escolas noturnas estaduais, regidas pelos professores senhores Mario Macedo e Kiel, além de uma escola mista, mantida pela fábrica de tecidos Ítalo-Americana, sob a regência do professor Donalísio”. A presença italiana, fosse pelos diversos imigrantes ou pelo capital da indústria que mantinha essa última escola mencionada – que inclusive ministrava “noções da língua italiana” –, motivou Marmo a se empenhar, na escola que ficaria sob sua responsabilidade, no sentido de “manter um ótimo padrão de ensino, máxime [sic] no que tangia aos conhecimentos de história pátria, geografia e educação moral e cívica”. E esse padrão, destaca o professor em seu livro, era atestado pelos “inspetores escolares senhores Antonio Morato de Carvalho e Boanova”, que por várias vezes “puderam apreciar (...) o andamento progressivo das aulas”. Interessantes são suas considerações sobre determinadas instituições e personalidades da cidade naqueles anos em que aqui esteve. Sobre música, Marmo menciona que Salto contava com duas bandas: a Musical Saltense, “criada e dirigida pelo maestro Henrique Castellari”, e a Giuseppe Verdi. O mestre escola associa ainda o gosto pela música à maciça presença italiana por aqui: “O italiano, amante das artes, qualquer que seja sua condição social, não deixa de render culto à deusa Euterpe”, deusa da música e da poesia lírica. Sobre o local e o que se ouvia, escreve: “Ao redor do pequeno coreto [do antigo Largo Paula Sousa] ou em suas 100
imediações, era belo ver-se aquela multidão atenta à batuta de Castellari a reger O Guarani, de Carlos Gomes; a Aida, de Verdi; a Cavalaria Rusticana, de Mascagni; a Boêmia, de Puccini; o Barbeiro de Sevilha, de Rossini”. Num longo parágrafo, Marmo arrola uma lista das pessoas das quais ainda recordava, passados 62 anos entre o
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momento que escrevia suas memórias e o que viveu em Salto: “Devo lembrar os [nomes] daqueles que ainda perduram na minha já supra-octogenária memória: o engenheiro agricultor e renomado político e patriota dr. José Francisco de Barros Junior; Luís Dias da Silva, um dos
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grandes prefeitos da cidade; dr. Gastão de Meirelles França, coletor de rendas federais; dr. Henrique Viscardi, clínico e cirurgião da fábrica ÍtaloAmericana e que atendia também a clientela particular, (...); João Capistrano Rodrigues de Alckmin: guarda-livros e gerente da fábrica de tecidos
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dos Pereira Mendes & Cia.; José Weissohn e Henrique Picchetti, diretores da fábrica de tecidos Ítalo-Americana; Bruno e Bruto Belli; irmãos Almeida Campos, conceituados comerciantes; irmãos Nabor e João Galvão de França Pacheco, farmacêuticos; as famílias Begossi Saturno [sic], grandes hoteleiros e proprietários; Henrique Angelini; Maffei, competente mestre de tecelagem; Trevisiolli, Nastari, Armando Silvério de Almeida; Brenha, Henrique Castellari; Regolo Salesiani; Pasquinelli; Leoni, Badra; Teixeira; Fragoso; irmãos Lopes; Amaral Gurgel; Kiel; Lammoglia; Bombana; Figueiredo; Fernandes da Silva; Milioni, Donalísio; Moura Campos; Rando; Gonella; Roncaratti; Alegro; Malimpensa; Simões; Pereira de Castro; Aguirre (...)”. Nesse tempo de pouco mais de quatro anos em que esteve em Salto, Marmo foi hóspede no Hotel Saturno, onde, diz, “tratavam-me como se fora da própria família”. E “por um quarto novo, no sobradinho, banho, café da manhã com farto acompanhamento, almoço e jantar, [pagava-se] apenas cento e trinta mil réis”. Há, nas Memórias, menção aos principais hóspedes: “Os mestres da malharia, fiação, tecelagem, cascame, química, tinturaria; – senhores: Visetti, Ottuzzi; Apendido Secondo, da contabilidade. Todos, moços de irrepreensível conduta e profissionais de reconhecida competência, diplomados nas escolas técnicas de Milão e Turim. À mesa, só falavam no idioma italiano ou, conforme os casos e as oportunidades, em puro dialeto milanês ou piemontês, (...)”.
Praça Archimedes Lammoglia
A
Praça Archimedes Lammoglia é o logradouro público que mais vezes teve seu nome alterado na história de
Salto. Muitas vezes dividida em duas partes, já se chamou Praça da Bandeira, Paula Souza, do Anhembi, 31 de Março e Getúlio Vargas. Unificada, passou a se chamar 16 de Junho, em referência ao dia de fundação da cidade. E finalmente, desde 27 de setembro de 1996, é denominada Praça dr. José Francisco Archimedes Lammoglia. Quem observa nos dias de hoje essa praça – que carrega o nome do emblemático político e médico saltense – não imagina que ela abrigou edificações até meados do século passado. A mais antiga da qual se tem notícia é a casa que pertenceu a José Bonifácio de Andrada e Silva [1827-1886], conhecido por José Bonifácio, “o Moço” – um poeta, jurista, professor e político brasileiro. Esse personagem do Império tinha o mesmo nome de seu tio-avô, o Patriarca da
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Independência. Numa das vezes em que D. Pedro II visitou Salto, em 1875, foi a casa que Bonifácio mantinha próxima à
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cabeceira da ponte Salto-Itu, na margem direita do Rio Tietê, que hospedou o imperador. Na condição de anfitrião,
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Bonifácio declamou a poesia “Sonhando”, escrita especialmente para aquele momento. Mais tarde, em 1889, a referida casa – que ali existiu até 1913 – foi ocupada pela família do engenheiro responsável pela construção da Fábrica de Papel. Em planta da então vila do Salto do Ytu, datada de 1889, vê-se que uma fração da atual Praça Archimedes Lammoglia – nas proximidades da atual Rua 23 de Maio, à época Rua Riachuelo – chamava-se Largo do Rocio. Delimitada por um casarão,
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de um dos lados, e pelos prédios das tecelagens, de outro – ainda apresentava as rochas tão comuns nas margens do Rio Tietê. Era área de trânsito dos que desejassem contemplar a cachoeira a partir da Pedra Alta, onde em 1912 seria instalado um mirante. Naqueles anos, gradativas e pontuais intervenções melhoravam o aspecto daquele espaço. A urbanização do Largo do Rocio ocorreu na gestão do prefeito-interventor ,major José Garrido, em 1931, que o transformou no Jardim Público. No local onde existia uma torre com um relógio foi instalado também um serviço de rádio. Em vista disso, muitas pessoas, à noite, para lá se dirigiam para ouvir música. Nas tardes de domingo, as atenções se voltavam para as transmissões dos jogos de futebol do campeonato paulista. Na praça também existiu, até 1958, um casarão construído no final do século XIX, em sua origem um hotel, e que abrigou a partir de 1936 uma instituição particular de ensino, o Externato Sagrada Família. Essa instituição iniciou suas atividades sob a designação Escola Paroquial, dada sua ligação com a Igreja Matriz de Nossa Senhora do Monte Serrat. Fundada por quatro religiosas da Congregação das Filhas de São José, vindas da Itália, a instituição contou desde o início com o apoio da indústria têxtil Brasital S/A, tendo sido o prédio que abrigava a escola doado pela senhora Aurelina Teixeira Campos. Existente até os dias de hoje, o Coleginho – como é popularmente conhecida a instituição – transferiu-se em 1958 para um novo prédio, situado à Av. D. Pedro II nº 804 (e lá se encontra até hoje). Isso foi possível a partir de uma permuta de terrenos entre a Mitra Diocesana de Jundiaí, proprietária do casarão de dona Aurelina, desde 1936, e a Prefeitura de Salto – trâmite ocorrido em 1954. Vista aérea da Concha Acústica e arredores, 1963.
Em fins da década de 1950, a
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pressa em demolir o antigo casarão não se aplicou às obras para um novo uso do espaço que se tornara público. Idas e vindas ocorreriam e por mais de três anos a obra – iniciada pela empresa Cunha Lima Carvalhosa – ficaria parada. Então, nova concorrência pública foi aberta, sendo vencida pelo grupo do arquiteto João Walter Toscano, o mesmo que fora responsável pela remodelação do Jardim Público existente ao lado. A promessa era de concluir a obra em até um ano.
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Contudo, a inauguração da Concha Acústica ocorreria apenas em 7 de abril de 1963, com a bênção do monsenhor João da Silva Couto – pároco da cidade desde 1926 –, discurso do prefeito Vicente Scivittaro, queima de fogos de artifício e apresentações de artistas do rádio e da televisão com algum destaque à época. Em 2010, a concha foi substituída por uma estrutura metálica com outro partido estético.
Maestro Castellari
F
igura de grande destaque na cidade de Salto na primeira metade do século XX, Henrique (ou Enrico) Castellari
nasceu em Parma, na Itália, em 27 de junho de 1880. Veio com seus pais para o Brasil a bordo do Aquitania, aportando no Rio de Janeiro em 14 de abril de 1891. Sua família, por breve período, fixou-se na cidade vizinha de Porto Feliz (SP). Em sua adolescência, já em Salto, Castellari era encarregado de acender e apagar os lampiões da incipiente cidade – uma das primeiras dentre tantas ocupações e ofícios que exerceu ao longo de sua vida em Salto. Henrique Castellari, no que se refere aos estudos musicais, iniciou-se com João Francisco das Chagas, pai de Luiza Isabel das Chagas – senhora com quem Henrique se casou em 2 de julho de 1900 e teve nove filhos: Luiz, João, José Maria, Benedita, Odália, Maria Inácia, Belmira, Henrique e Eduardo. Pouco tempo depois, Castellari ingressou na banda do maestro ituano João Narcizo do Amaral e com ele terminou seus estudos. Em Salto, no início de sua carreira musical, fez parte do Coro e Orquestra Nossa Senhora do Monte Serrat, da Igreja Matriz, capitaneada por um médico italiano radicado na cidade, o dr. Viscardi. Em 1902, Castellari já era regente da Banda Musical Saltense, fundada em 1878. Dirigindo-a por cerca de 50 anos, alcançou considerável destaque no cenário estadual. A sede dessa banda, à Rua Dr. Barros Júnior, foi construída por sua iniciativa entre os anos de 1919 e 1922. Também conhecida como “banda brasileira”, em oposição à “banda italiana”, por meio dela Castellari ensinou música a centenas de pessoas. Sendo também compositor, destaca-se entre suas peças uma que trata dos costumes regionais, intitulada Uma Festa de São João na Roça, apresentada pela primeira vez em 1923. Ao todo – 100
dentre marchas, dobrados, valsas, tangos, maxixes e sambas – compôs mais de 200 músicas. Além de seus trabalhos com música, Castellari foi um dos pioneiros da construção civil em Salto. Com registro junto
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ao Crea como agrimensor, é dele o primeiro levantamento topográfico do município, realizado em 1931, a pedido do
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prefeito interventor major José Garrido. Além disso, três plantas do perímetro urbano da cidade de Salto que integram o acervo do Museu da Cidade são de sua autoria: uma de 1935, com a rede de esgotos detalhada; outra de 1936, com a localização dos terrenos não-edificados; e uma de 1938, em escala 1:4000. Trabalhando também com marcenaria durante
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muito tempo, Castellari foi o responsável pelo madeiramento do telhado da nova Igreja Matriz, inaugurada em 1936.
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Falecido em 19 de dezembro de 1951, a memória do maestro Castellari se faz presente em nossa cidade de diversas formas. Durante muito tempo o maestro manteve uma chácara na região da cidade chamada Vila Nova. Mais tarde vendida e loteada, um logradouro dessa área – na qual hoje está o edifício Cidade Alta – recebeu seu nome: Travessa Maestro Castellari. Entretanto, a mais significativa homenagem foi a atribuição de seu nome ao Conservatório Musical, inaugurado em 1967, particular em sua origem, e que constituiu o embrião do que hoje é o Conservatório Municipal, com sede no prédio antes ocupado pelo Hotel Saturno, no início da Rua Monsenhor Couto. Existe uma longa carta do maestro Castellari, sob guarda do Museu da Cidade de Salto, destinada ao interventor do Estado de São Paulo, Adhemar de Barros. A carta data de 30 de abril de 1940 e, ao que parece, trata-se do rascunho da que muito provavelmente foi remetida. Registrou o maestro, no texto por ele chamado de “memorial”, que a finalidade daqueles escritos era “impetrar (...) uma proteção valiosa para a arte musical em Salto”. Nesse intuito de obter o amparo de uma autoridade, o maestro Castellari iniciava seu memorial pelo histórico da Banda Musical Saltense: “A Banda Musical Saltense foi fundada no ano de 1878, por um grupo de pessoas de boa vontade e vocação musical, quando Salto era ainda uma pequena povoação (...). Foram seus fundadores Joaquim Florindo, Romão Ribas, João Manquinho, João de Assis e outros, todos já falecidos. Depois de 1880, mais ou menos, o benemérito saltense, dr. Francisco de Barros Júnior, já falecido, ex-Deputado Estadual, (...), avocouse a direção da referida Banda Musical. Assim, forneceu-lhe instrumental novo, músicas novas, mantendo o maestro João Narciso do Amaral (...), dando trabalho aos músicos em seu estabelecimento industrial e correndo todas as demais despesas da Banda por sua conta. Mais tarde, [em] 1890, referido industrial, vendendo sua indústria, afastou-se da direção da Banda, confiando todo o instrumental e pertences da mesma à guarda da Matriz local, (...). Dessa época em diante, a Banda ficou sem regente, sem recursos financeiros, indo para a frente por dedicação dos músicos Romão Ribas e João Francisco das Chagas, (...). Em 1902, como músico que era dessa Corporação, assumi a regência e chefia, coadjuvado pelos meus companheiros e músicos, senhores Isaac de Moura Campos, Silvestre Leal Nunes, Joaquim Florindo – todos falecidos, e Antonio Pereira de Oliveira, ainda existente. A Banda, nessa época, achava-se em condições precárias (...) já por falta de instrumentos, etc. Afinal, com muito esforço e boa vontade, consegui reorganizá-la, (...). Hoje, ela é composta de mais de 50 músicos, possui boa sede, sita à Rua Dr. Barros Júnior, conta com mais de 70 instrumentos e pertences musicais, todos em bom estado de conservação, tem um grande repertório de músicas clássicas, um bom
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fardamento de brim branco (brim esse doado pela Fábrica Brasital, desta cidade) para 62 músicos, (...), possui Caixa Beneficente para socorrer os
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músicos necessitados, aula de música para formar novos elementos para a Corporação (medida essa de muito acerto, sem o que a Banda extinguir-
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se-ia). O terreno em que a sede foi construída foi adquirido por escritura pública, em nome da Banda, não podendo a sede ser vendida ou hipotecada e, em caso de dissolução da Sociedade, os músicos existentes no ato tomarão sob seu cuidado, de acordo com as autoridades locais, os bens existentes, sendo que os músicos remanescentes poderão formar outra Banda, sempre porém com o mesmo nome: 'Banda Musical Saltense'.”
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O livro do dr. Randi
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livro O Município de Salto, escrito em 1959 pelo médico sanitarista do Centro de Saúde de Salto dr. Adriano
Randi – paulistano nascido em 1921, que viveu muitos anos em Salto e passou seus últimos anos em Campinas, onde faleceu em 2010 – é um precioso levantamento sobre nossa cidade no final da década de 50. Suas 125 páginas, impressas no Rio de Janeiro pelo serviço gráfico do IBGE, trazem um levantamento amplo e minucioso sobre Salto. Talvez seja esse o primeiro livro impresso sobre a cidade, já que História de Salto, de Luiz Castellari, embora concluído em 1942, foi publicado somente muitos anos após a morte do autor, em 1971. Vale, portanto, registrar aqui algumas passagens dessa interessante publicação do dr. Randi – um tanto esquecida – e que se tornou, mais do que tudo, um interessante documento de época. Nas páginas iniciais, o autor traça um histórico de Salto, destacando a fundação da cidade “na fria e nevoenta manhã do dia 16 de junho do ano de 1698, da era cristã, no sítio denominado Cachoeira”; a instalação das primeiras fábricas e a conquista da autonomia local, que “coincidiu com o advento da Proclamação da República e o início da imigração italiana para o Brasil”, em 1889. Embora haja um esforço em tratar da história saltense, são os dados contemporâneos à publicação os mais interessantes. Em 1959, existia uma Salto com população estimada em 15 mil habitantes na zona urbana e 2.613 na zona rural – predominando os habitantes de nacionalidade brasileira, existindo ainda grupos de italianos, espanhóis, portugueses e japoneses. A comunicação da cidade com outras localidades, nessa época, foi dividida pelo autor em dois meios: por estrada de rodagem e por estrada de ferro – sendo este último o principal. Da capital do Estado, por estrada de rodagem, Salto distava “113 km, via Itu, sendo 62 km na via Anhanguera, em estrada totalmente asfaltada; via Cabreúva, 107 km, também em estrada totalmente asfaltada, porém estreita e muito acidentada, contando com vários precipícios, todavia com um belíssimo panorama, margeando em muitos quilômetros o Rio Tietê”. Por estrada de ferro, o saltense que desejasse ir à capital tinha duas opções: pela Sorocabana, “via Mairinque, com 129 km, ou via Jundiaí, com 121 km – parte pela Sorocabana e parte pela Estrada de Ferro Santos-Jundiaí”. Para ir a Indaiatuba, distante 17 km, ou Campinas, distante 47 km, 100
era necessário percorrer uma “estrada de terra batida, porém bem conservada”. No capítulo denominado “Progresso Relativo”, Randi destaca que na administração do prefeito Vicente Scivittaro
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“foi promulgada uma lei municipal de isenção de impostos por 20 anos às indústrias que aqui se estabelecessem”. E
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continua, sobre esse tema, a dizer que “graças a essa lei, ao potencial elétrico e à grande abundância de água, aqui se instalaram importantíssimas indústrias novas, destacando-se a Eucatex S. A., fábrica de chapas de fibra de eucalipto que
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abastece o país e ainda exporta para o exterior”. Outra indústria citada nesse contexto é a “Electro Metalúrgica Abrasivos Salto (EMAS), com fabricação de óxido de alumínio e carbureto de silício, matéria-prima empregada na indústria de
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abrasivos”. Cita ainda a “Sivat, com indústria de rebolos e outros abrasivos”. E conclui, sobre a questão, afirmando que “tais indústrias trouxeram grande desenvolvimento ao município, quer na parte econômica, quer no aumento da população”. Informes dos mais variados temas podem ser encontrados na publicação em questão, desde laudos técnicos sobre a qualidade da água que os cidadãos saltenses recebiam em seus lares até a descrição da rotina da creche mantida pela indústria têxtil Brasital: “Às mães é facultado sair do serviço por alguns minutos para se dirigirem ao lactário da creche a fim de darem de mamar aos seus filhos; outras crianças são alimentadas por mamadeiras preparadas pelas próprias freiras, (...) para crianças maiores é preparado o mingau e a sopa”. Outro detalhe interessante é a listagem das escolas rurais do município, que Randi elabora levantando uma a uma o número de alunos, a distância do centro da cidade e a professora responsável pela direção do estabelecimento. Esse levantamento é acompanhado de um mapa:
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Localização das escolas rurais de Salto e as respectivas vias de acesso, 1959. 0
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1) Escola Mista José de Paula Santos – Bairro Olaria. 2) Escola Mista Boa Esperança – Bairro Boa Esperança. 3) Escola Mista Ana Rita Felizola – Fazenda Santa Cruz. 4) Escola Mista João Batista Cezar – Bairro Catingueiro. 5) Escola Mista Buru – Bairro do Buru. 6) Escola Mista Claudio R. da Silva – Bairro Três Cruzes. 7) Escola Mista Maria Miranda Campos – Bairro Boa Vista. 8) Escola Mista Acylino Amaral Gurgel – Bairro Atuaú. 9) Escola Mista Getúlio Vargas – Bairro Campo Grande.
Como sanitarista que era, Randi acreditou ser relevante detalhar a origem e a qualidade dos alimentos consumidos pelos saltenses. Sobre o leite consumido na cidade, relatou ser “proveniente de pequenas fazendas localizadas na zona rural do próprio município”. Já o fornecimento era “feito por uma única leiteira estabelecida [em Salto]”, e a “distribuição na casa dos fregueses [ocorria] por meio de um carrinho adaptado, puxado a burro” – trabalho realizado “por cerca de dez leiteiros”. Não havia métodos de resfriamento e de pasteurização, vindo o leite diretamente das fazendas Guarujá, Barnabé, Monte Alto ou da Granja Santo Antônio para o núcleo urbano. O comércio de pão pelas padarias era feito “em balcão e em carrinhos para entrega domiciliar”. Os endereços de sete padarias constam na lista elaborada por Randi, sendo seus proprietários: Narciso João Conte, Cooperativa Operária
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Saltense, Irmãos Bergamo, Pittori & Filhos, Domingos A. Lammoglia, Luiz Piaia & Filhos e Ernesto Bethiol. Há ainda
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menção ao fornecimento de verduras por “hortas e chácaras nas imediações da cidade” como sendo pequeno, vindo a maior
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parte dos gêneros dos municípios vizinhos. A distribuição das verduras ficava a cargo das quitandas, cujos proprietários também são citados: João Navarro Filho, Celeste Trentin, Hideo Figita, Alcides Calefo, Expedito Thereza, Shogo Handa, José A. Fabri, José Plácido Ferraz do Amaral e Antonio Rossi. Randi observa ainda que alguns chacareiros vendiam “seus
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produtos diretamente ao consumidor por meio de carrinhos puxados a burro” que transitavam pela cidade.
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Estação ferroviária de Salto
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prédio que ainda hoje pode ser visto na Praça Álvaro Guião foi construído em 1898, sob a direção do mestre
de obras João Garcia, e serviu por muitos anos como estação ferroviária. Os trilhos da Companhia Ytuana de Estradas de Ferro chegaram a Salto em 26 de novembro de 1870, mas nessa ocasião apenas foi instalado um marco no local onde seria construída a estação. A instalação oficial da estação ferroviária de Salto ocorreu em 2 de abril de 1873. Curiosamente a estação de Itu foi inaugurada depois, no dia 17 do mesmo mês e ano. Quando a ferrovia chegou, Salto não era mais que uma povoação com 200 casas e menos de mil habitantes. Mas o crescimento não tardou a vir nos anos seguintes, já que a chegada da ferrovia foi um dos pontos decisivos para as primeiras tecelagens aqui se fixarem, nas imediações da cachoeira. E isso acabou atraindo grande quantidade de trabalhadores. As Festas do Salto – existentes desde os primeiros anos do século XVIII – motivaram, a partir de 1876, uma iniciativa que se tornou praxe das empresas que operavam a ferrovia: fazer correr trens entre Salto e Itu, nos dias 7 e 8 de setembro de cada ano, a curtos intervalos de tempo. Isso se mostrava interessante, já que havia um numeroso contingente de ituanos interessados em ir para Salto nesses dias, justamente para participar dos tradicionais festejos na data da padroeira do Salto. O aviso extraído do jornal Imprensa Ytuana, de 4 de setembro de 1881, dá o tom do movimento nesses dias: “No dia 8 de Setembro p. futuro correrão os trens extraordinarios como de costume. Na vespera 7 de Setembro haverá um trem especial que partindo de Ytu as 5 horas da tarde, regressando do Salto de noite, 15 minutos depois de um prolongado apito da machina”. Nos anos imediatamente após a instalação da estação de Salto, andar de trem – fosse para sair de Salto ou na chegada – significava também ter que atravessar o Rio Jundiaí, no trecho que hoje é o final da Rua Monsenhor Couto, a bordo de uma balsa. Apenas em agosto de 1888 foi instalada uma ponte de madeira sobre o rio – pouco acima da que existe hoje – projetada e custeada por um dos industriais pioneiros de Salto, o dr. Barros Júnior, que era engenheiro civil. Até a década de 1950, tanto para transporte de cargas como de passageiros, a ferrovia reinou absoluta na região. Nessa época, Salto chegou a ter seis ligações diárias com a capital paulista, sendo três via Jundiaí – com baldeação pela São 100
Paulo Railway (saindo daqui às 5h, 11h e 18h) – e outras três via Mairinque, que saíam 30 minutos após as primeiras, via Jundiaí, nos mesmos intervalos. Por essa época, a ferrovia em Salto atendia a uma demanda muito grande das indústrias,
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especialmente da Eucatex e da EMAS, aqui instaladas no início da década citada.
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Em 1959 a estação de Salto tinha cinco desvios particulares: da pedreira da Ponte, da pedreira de João Dias, da Brasital – com quase 2 km de extensão, da Eucatex e da EMAS, que consumia bauxita. Outras indústrias – tais como a Têxtil
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Assad Abdala e a fábrica Picchi, além do comércio em geral – se valiam das mercadorias e matérias-primas que chegavam à estação: celulose, fardos de algodão, cimento, madeira, soda cáustica, bobinas de aço, botijões de gás etc. Pela estação de
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Salto também se exportava. Na década de 1950, daqui saíam: café em grãos, pedra britada, paralelepípedos, areia dos rios Jundiaí e Tietê, vinho das vinícolas Milioni e Donalísio, óxido de alumínio da EMAS, em média dez vagões por dia de chapas da Eucatex, artigos de couro do Cortume Telesi, dentre outros. Em 1976 cessou o transporte de passageiros. As rodovias já haviam melhorado bastante e o número de linhas de ônibus já havia aumentado – fruto de uma política pública que não se interessava pela ampliação da rede ferroviária e direcionava os investimentos em outra direção. Ao longo de sua existência, a estação de Salto pertenceu às seguintes companhias, numa sucessão de vendas e fusões que ocorreram: Cia. Ytuana de Estradas de Ferro (1873-1892), Cia. União Sorocabana e Ytuana (1892-1907), The Sorocabana Railway Company (1907-1919), Estrada de Ferro Sorocabana (19191971) e, por último, Fepasa – Ferrovia Paulista S. A. (1971-1987). A estação saltense foi desativada em 1987, com a construção do novo traçado de linha e nova estação para além da Eucatex.
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Estação de Salto, 1920. 25
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“Meu nome é Valdira Alves Zacarias, tenho 63 anos e nasci em Salto na casa onde meu irmão reside. Tenho saudades dos vizinhos, que considerávamos como parte da nossa família. Vejo que muitas coisas melhoraram ao longo do tempo. Por exemplo: antigamente não havia ônibus aqui, além de outras coisas que nos auxiliam hoje. Gostaria de dizer o nome de todas as pessoas que fizeram parte da minha vida aqui em Salto, pois são muitas... Veja, hoje, que maravilha está a cidade... Nós somos os sonhos das pessoas que aqui um dia vieram, trabalharam e morreram.”
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Sociedade Italiana
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atual Sociedade Italiana Giuseppe Verdi, com sede no início da Rua Floriano Peixoto, em salas anexas ao Museu
da Cidade de Salto, é herdeira da sociedade de socorro mútuo formada pelos italianos que chegaram a Salto entre o final do século XIX e o início do XX, a Società Italiana di Mutua Assistenza Giuseppe Verdi. As sociedades de mútua assistência existentes no Brasil no início do século passado funcionavam de maneira semelhante: uma contribuição mensal de cada sócio possibilitava que qualquer participante, vítima de desemprego ou doença, não perecesse por falta de meios de subsistência. Isso ocorria numa época em que não existia previdência social, e não se trabalhando devido a uma enfermidade, por exemplo, não se recebia. Pela documentação existente, sabe-se que em 9 de abril de 1916 os associados da Giuseppe Verdi aprovaram o “estatuto social”. Mas a fundação dessa sociedade, embora não haja exatidão na data, teria ocorrido anos antes, entre 1902 e 1903. Infelizmente não existem registros de seu primeiro período de existência. Os acontecimentos de 1916 seriam referentes à reconstituição da sociedade, que ficara inativa por algum tempo, em virtude, principalmente, dos reflexos da Grande Guerra iniciada em 1914. O primeiro bloco do conjunto arquitetônico que abrigou as diversas atividades promovidas por essa sociedade ao longo do século XX foi concluído em 1903, para servir de local de ensaios e sede da Corporação Musical Giuseppe Verdi, também conhecida por Banda Italiana, cuja fundação é de 1901. Contudo, depois de pouco tempo, o uso do prédio não ficou mais restrito à banda. A Sociedade Italiana, que ao surgir já tinha a banda a ela vinculada, decidiu instalar no mesmo espaço o Cine Verdi, que passou a projetar filmes – ainda nos tempos do cinema mudo. Assim, não restava muito espaço, existindo apenas uma pequena sala de reuniões além do salão principal, que convivia com o arrastar de cadeiras constante, em virtude de, ora por ser espaço de ensaio da banda, ora por ser espaço de exibição de filmes. Nas tardes de domingo ocorriam bailes frequentados não apenas pelos membros da colônia italiana, mas também pela população brasileira identificada com os peninsulares. 100
As demais atividades da Sociedade Italiana eram desenvolvidas numa ampla casa ao lado da sede, na Rua José Galvão, atual número 134 – então alugada da família Roncoletta. Ali estavam sediadas a Escola Italiana, mantida pelo professor
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Francisco Salerno, que depois seria denominada Escola Anita Garibaldi e subsidiada pela indústria Brasital; a Sociedade dos
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Ex-Combatentes da Primeira Guerra Mundial; o Círculo de Leitura Dante Alighieri; e o Partido Fascista de Salto. Nos fundos, viviam os zeladores Pascoalina Gonela e Emílio Baldim. Portanto, faltava espaço à Sociedade. Em virtude disso, em
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maio de 1934, a diretoria decidiu contrair um empréstimo para edificar – no terreno de 1.700 m² que já dispunha, existente entre a referida casa alugada e a construção pioneira de 1903 – a Casa D'Italia. Para essa ampliação ocorrer foi necessária a
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remoção de uma grande quantidade de granito que existia no terreno, uma característica dessa região da cidade mais próxima ao Rio Tietê. As obras, iniciadas em 1934, se estenderam até fins de 1936. E em 15 de fevereiro de 1937, uma grande inauguração foi promovida, contando com a presença de um representante da Embaixada Italiana, do cônsul da Itália em Campinas e de dois representantes do Consulado de São Paulo. A seguir, a biblioteca do Círculo de Leitura e a Escola Anita Garibaldi saíram da casa alugada e foram ocupar o edifício antigo da Sociedade, ficando o recém-inaugurado salão destinado às atividades de projeção cinematográfica, peças teatrais e apresentações musicais. Pouco tempo depois, em 1939, a Banda Italiana, o Círculo de Leitura e o Partido Fascista deixariam de existir. E em 1941, com o rompimento de relações entre Brasil e Itália, em virtude da Segunda Guerra Mundial, a Sociedade Italiana cessou todas as suas atividades, ficando apenas o então presidente, Leone Camerra, encarregado de receber o aluguel do salão de cinema – cedido a uma empresa de Sorocaba desde 1938 – com o intuito de promover a manutenção do prédio. As atividades da Sociedade apenas seriam retomadas dez anos mais tarde, em abril de 1951. Sua sede, cedida à Sociedade Instrutiva e Recreativa Operária Saltense (Siros) desde 1945, foi devolvida em estado precário. O quadro social foi reestruturado e a mesma diretoria que encerrara as atividades em 1941 foi reempossada. A sede passou por reformas e, na prática, a Sociedade só retomou suas atividades em 1955. Nesse mesmo ano uma nova empresa foi autorizada a administrar o salão de cinema, desta vez originária da cidade de Itu.
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Fachada do Cine Verdi velho com a diretoria da Sociedade Italiana à frente, 1931. 0
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Apesar de seu quadro social estar cada vez mais reduzido e envelhecido, foi apenas no final da década de 1960 que a Sociedade Italiana admitiu a entrada de sócios não-italianos, sendo os primeiros brasileiros a fazer parte dela os senhores: Pedro Rudine Tonelo, Rubens Milioni, Vitório Isolani, Alberto Telesi, Adélio Milioni e Geraldo Sontag. Ao longo de sua história, estiveram à frente da Sociedade, como presidentes: João Scarano, Gino Biffi, João Vassali, Leone Camerra, Lino Tabarin, Vicenzo Bifano, Adélio Milioni, Rubens Milioni, Geraldo Hernandez, Ayr Galafassi, João Antonio da Rós e, no cargo desde 1994, José Odair Peron. Uma mudança no estatuto fez com que a Sociedade simplificasse seu nome para Sociedade Italiana Giuseppe Verdi, retirando a expressão “de Mútua Assistência” – já que não mais correspondia aos seus fins. Uma ação de desapropriação dos bens imóveis da Sociedade foi movida pela prefeitura em 1986, a qual não foi adiante e acabou encerrada com o acordo de 1994, que cedeu, em regime de comodato, por 30 anos, o conjunto situado numa das esquinas das ruas Floriano Peixoto e José Galvão à municipalidade. Esse comodato foi renovado por mais três décadas em 2006. Atualmente, a Sociedade tem como principal atividade o ensino da língua italiana.
Usinas de Lavras e Porto Góes
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rimeira usina hidrelétrica instalada em
Salto, a Usina de Lavras demorou cerca de dois anos para ser construída. A inscrição que se pode ver na entrada do prédio, ainda hoje, marca o ano de 1904. Contudo, ela foi inaugurada somente em 1906 pela Companhia Ituana de Força e Luz. Foi, portanto, a segunda usina hidrelétrica instalada às margens do Rio Tietê, sendo a primeira em Santana de Parnaíba, em
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1901. Nesses primeiros tempos, Lavras atendia ao
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núcleo urbano de Itu e alguns pontos de sua zona rural.
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Um ano e meio mais tarde foi a vez de Salto utilizar a eletricidade gerada por ela. 25
A usina de Lavras e o Rio Tietê, em vista aérea, 1930. 5
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Em 1929, Lavras foi vítima de uma grande inundação e ficou paralisada por sete anos, devido aos graves danos causados nos equipamentos. Talvez essa tenha sido uma das maiores cheias do Rio Tietê ocorridas no século XX. Quando Lavras voltou a operar, funcionou por 20 anos como unidade complementar da Usina de Porto Góes, localizada também em Salto, sobre a qual trataremos a seguir. Obsoleta, Lavras foi colocada à venda em 1956. Nenhum negócio foi concluído e a usina ficou abandonada. Em 1971, a Prefeitura de Salto adquiriu a propriedade no entorno da usina. Somente em 1992, com a criação do Parque de Lavras, o prédio da usina e a área circundante foram, de fato, encarados como patrimônio histórico e natural da cidade. Durante as primeiras décadas do século XX, várias empresas geradoras de eletricidade se instalaram no interior paulista. As usinas instaladas às margens Rio Tietê, nesse momento, serviam aos grandes empreendimentos fabris e às áreas urbanas próximas. A origem da denominação Lavras se perdeu, não havendo documentos que a expliquem, tratando-se de nome aplicado ao local há muito tempo. Uma possibilidade é que, nos arredores, tenha ocorrido atividade de garimpo, da chamada mineração de faisqueira, ou seja, a busca de ouro superficial no leito e nas margens de rios, como ocorreu em várias localidades paulistas. Outra hipótese é de que o nome venha do verbo lavrar, vinculado ao trabalho de corte de pedra – o granito que existe em grande quantidade na região. Já a construção da barragem e usina hidrelétrica de Porto Góes teve início em 1924, pela indústria Brasital S/A – que visava a abastecer seu complexo fabril instalado nas proximidades. A concessão estadual para a construção de uma usina próxima à cachoeira fora obtida pelo grupo industrial antecessor, a Società Italo-Americana, nos primeiros anos da década de 1910. Embora tenha iniciado, a Brasital não concluiu a obra. Em 1927, a concessão foi repassada para a Companhia Ituana de Força e Luz – que no mesmo ano teve seu controle acionário transferido para a The São Paulo Tramway Light & Power Co. Ltd. – conhecida simplesmente por Light. Nas obras, concluídas pela Light em 1928, cerca de 1.500 homens trabalharam. em 1928, cerca de 1.500 homens trabalharam. Todo o aparato necessário para que a usina de Porto Góes entrasse em funcionamento alterou significativamente a
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paisagem dos arredores da queda-d'água que dá nome a Salto. O volume de água que hoje se observa na cachoeira foi
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bastante reduzido em virtude da abertura do canal de descarga, que também resultou numa ilha artificial na margem
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esquerda, na qual a vegetação se preservou desde então. Ao lado dos prédios remanescentes da antiga Brasital formou-se um conjunto que é símbolo da arquitetura industrial paulista das primeiras décadas do século XX. Hoje, a usina de Porto Góes está sob o controle da Empresa Metropolitana de Águas e Energia S.A., a Emae, tendo sido a primeira usina dessa empresa a se tornar automatizada.
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Trabalhadores respons谩veis pela abertura do canal da usina de Porto G贸es, 1924.
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Colégio Professor Paula Santos
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já se realizaram em nossa cidade os exames de admissão ao curso Ginasial. Muitos alunos da 1ª série, que haviam iniciado o
curso na vizinha cidade de Itu, estão agora matriculados em sua própria casa, assim podemos dizer”. Era assim que começava o artigo, assinado por Joseano Costa Pinto, intitulado “Ginásio”, veiculado na primeira página do extinto jornal saltense O Liberal, edição de 4 de março de 1951. Em janeiro de 1948 se anunciou que seria criado em Salto um ginásio estadual. Diante disso, algumas comissões se formaram para apressar a sua construção. Mas foi somente no Diário Oficial do Estado de 2 de janeiro de 1950 que foi publicada a lei número 613, criando oficialmente o Ginásio Estadual de Salto. E em 30 de novembro seria emitida a autorização do Ministério da Educação para que o ginásio começasse a funcionar. A história da instalação de um ginásio em Salto – ou seja, a instituição do ensino escolar com classes para além da quarta série primária – é marcada por uma reunião realizada na noite de 25 de fevereiro de 1950. Essa reunião ocorreu na sede da Sociedade Instrutiva e Recreativa Operária Saltense (Siros), no espaço que hoje abriga o Museu da Cidade, mas não atraiu muitos participantes. A população em geral não se mobilizou, apesar do convite publicado na imprensa e do desfile de uma corporação musical pelas ruas da cidade, momentos antes, com o objetivo de chamar a atenção da população para o acontecimento. Mesmo assim, o grupo batizado “Comissão Provisória Pró-Ginásio” conseguiu reunir os líderes locais, dando início aos trabalhos. Nesse momento, os membros dessa comissão eram acusados pelo jornal O Liberal de desejarem fazer uso político da conquista de um ginásio para Salto, alegando que a atribuição de um único padrinho para a conquista seria algo injusto, sendo o nome do deputado Martinho Di Ciero, como responsável pela iniciativa, aclamado por uns e questionado por outros. Embora com reduzida participação do povo, a reunião foi bastante agitada, sendo que um dos membros de oposição ao governo municipal teve de ser contido pelo delegado de polícia para que “não subisse na mesa”. Ao final, uma comissão 100
definitiva para os trabalhos foi escolhida, com o professor Cláudio Ribeiro da Silva à frente, como presidente. Esses primeiros passos em torno da luta pela criação de um ginásio estadual em Salto movimentaram algumas semanas de
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discussões na imprensa e nos bastidores políticos.
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Em 11 de janeiro de 1951, o prefeito municipal de Salto, João Baptista Ferrari, abriu concorrência pública para as “obras de construção do Ginásio de Salto” – que deveriam ser executadas de acordo com o projeto e especificações
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fornecidas pela própria prefeitura – antes mesmo de se ter o terreno. Em 8 de fevereiro se anunciava que a proposta da Sociedade Construtura Celbe Ltda., única empresa que concorreu, fora a vencedora. Passado um ano da animada reunião de
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25 de fevereiro, que definiu a comissão definitiva pró-ginásio, o que se conseguiu foi apenas a instalação do ginásio de forma provisória em salas do Grupo Escolar Tancredo do Amaral, um prédio de 1913. Essa ideia teria partido do dr. Archimedes Lammoglia e fora lançada num encontro informal entre autoridades ocorrido no clube Ideal. Em dezembro de 1950 foram realizados os exames de admissão do primeiro grupo de alunos, que começou a frequentar as aulas no dia 1º de março de 1951, em duas salas do Grupo Escolar Tancredo do Amaral. Após algumas polêmicas em torno dessa forma de se iniciar o curso ginasial em Salto, em maio de 1952, a prefeitura doou ao Estado um terreno de 8 mil metros quadrados para a construção de um prédio próprio para o ginásio. A situação de improviso, apesar dos trâmites para a construção de um prédio próprio, perduraria por alguns anos. Sobre o ginásio estadual, em 1959, o dr. Adriano Randi dizia – em livro no qual traçou um panorama completo da cidade de Salto naqueles tempos – que “por falta de prédio próprio” o ginásio estava “funcionando provisoriamente há oito anos no prédio do G. E. Tancredo do Amaral, em condições precárias e com prejuízo do curso primário do mesmo”, com um total de 138 alunos matriculados naquela data. Nesse mesmo ano, o Tancredo do Amaral passou por uma reforma e o ginásio funcionou temporariamente em quatro salas do Externato Sagrada Família. Em 1960, por iniciativa do deputado dr. Archimedes Lammoglia, foram iniciadas as obras de construção do prédio do ginásio, concluídas em 1962. E no ano seguinte, as aulas começaram a ocorrer também no período noturno.
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O Colégio Paula Santos no início da década de 1960.
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O patrono – Grande educador, José de Paula Santos – escolhido para nomear o primeiro ginásio estadual de Salto – nasceu na cidade de Guaratinguetá (SP), em 22 de janeiro de 1893, fazendo seus primeiros estudos naquela cidade, onde se formou professor em 1911. Lecionou nas cidades paulistas de Lorena, São Carlos, Rio das Pedras e Guaratinguetá, antes de se radicar em Salto, em 12 de maio de 1915, passando desde logo a lecionar no único grupo escolar de Salto, que mais tarde viria a se chamar Tancredo do Amaral. Em 1917 casou-se com dona Maria de Almeida, de Itu, conhecida em Salto como dona Cotinha. Paula Santos saiu do Tancredo do Amaral em 1932 para lecionar matemática no Instituto Regente Feijó, em Itu, local onde se aposentou em 1941. Pequeno e franzino, foi apelidado “Baxixa”. Outros ainda o chamavam de “Anchieta de Salto”. Participou ativamente da vida social saltense, pertencendo à diretoria de algumas sociedades, como a Sociedade Instrutiva e Recreativa Ideal – Siri. Faleceu em 1949.
As tradicionais Festas do Salto
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Festa do Salto tem origem remota e confunde-se com a própria origem da cidade. Ocorreu pela primeira vez no
mesmo ano de instalação e bênção da capela de Nossa Senhora do Monte Serrat, em 1698. A iniciativa do fundador, o capitão Antonio Vieira Tavares, atraiu moradores da vizinha Itu e habitantes do Sítio Cachoeira, de sua propriedade, que hoje corresponde a parte do território de Salto. Mais que tricentenária, portanto, trata-se de uma prática ininterrupta que permanece viva ainda nos dias de hoje. A data da padroeira, Nossa Senhora do Monte Serrat, é o 8 de setembro. Em virtude disso, uma série de atividades religiosas sempre ocorre nos dias da Festa do Salto, que tradicionalmente começa um pouco antes. Embora surgida na igreja, ao menos desde meados do século XIX, a festa conta também com uma parte popular, ou profana, caracterizada por quermesses e feira com barracas de comestíveis, roupas e outras dedicadas a promover sorteios e jogos. A face lúdica da festa no final do século XIX se traduzia em brincadeiras como cabo de guerra, cabra-cega, pau de sebo, corrida de sacos e boizinho baiano. O jornal Imprensa Ytuana de 27 de agosto de 1882 trazia o programa completo da festa sob o título “Esplêndidas Festas do Salto”, o qual transcrevemos na grafia original:
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Desde o dia 7 de Setembro começarão as festas que serão feitas com toda a pompa, terminando no dia 10 com um lindo e variado fogo de
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arteficio do muito conhecido e apreciado artista pyrotechinico, o nosso Joaquim Corneta. Para intelligencia dos devotos, abaixo damos o programa
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das festas. Dia 7. Alem das demais festas costumadas na véspera haverá um trem de recreio que partirá de Ytu com uma banda de muzica as 5 horas da tarde conforme esta annunciado, e a noite haverá retreita e ladainha. Dia 8. Missa cantada, sermão e procissão a tarde.
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Dia 9. Este é o dia dos divertimentos para a rapaziada temos o Mastro Cocagne, corridas em saccos, jogo da cabra cega e o novo divertimento Tug of War da corda, cada um destes jogos dar-se-ha um premio ao vencedor. Dia 10. Alem dos muitos divertimentos reservados especialmente para este dia, a noite queimar-se-ha os fogos que por si só tornão-se recomendaveis - visto serem caprichosamente feitos para esta festa. Durante estes dias haverão trens especiaes - para conduzir a Rapaziada e a Estrada de ferro desta vez faz uma redução no preço da passagem, dando bilhetes de primeira classe de ida e volta por 3 patacas e dois vinténs. Chega Rapaziada o gammado la estará. O historiador saltense Luiz Castellari [1901-1948], em seu livro História de Salto, escreveu que durante as Festas do Salto no final do século XIX, as ruas eram especialmente capinadas e enfeitadas com arcos de bambus e palmas. Além disso, bandeirinhas multicores eram colocadas em zigue-zague pelas ruas, lanternas venezianas eram penduradas nos portais e fogueiras enormes iluminavam a povoação que ainda não conhecia a iluminação elétrica. José Maria Marques de Oliveira, o popular Zequinha Marques [1890-1981], em depoimento gravado em 1979, sobre as Festas do Salto, disse: “No [meu] tempo de criança formava festa dia 8 de setembro em louvor a Nossa Senhora do Monte Serrat e tinha muitas irmandades [que] faziam procissão no dia 8, Dia da Padroeira, até hoje. E as barracas eram feitas de pau-a-pique, de pita, de cambuí... onde vendiam pastéis, quentão, coisas de noite de São João usavam na Festa de Setembro. Cuscuz, etc. Doce de batata, de abóbora e... coisas mais, e a Festa... [ocorria na praça] Paula Souza. Ali eram feitas as festas profanas. [Tinha ainda] um cavalinho de pau que vinha de Tietê, de um homem; dois senhores tocavam realejo...” De fins do século XIX até meados do século XX, nos primeiros dias de setembro de cada ano, comerciantes vindos de outras localidades traziam a Salto produtos dos mais diversos, dos quais o comércio local era carente: sapatos, tecidos, louças e outras tantas bugigangas. Alguns saltenses montavam tais barracas e alugavam aos comerciantes forasteiros interessados. Um dos últimos a se dedicar a tal prática foi Alberico de Oliveira [1903-1974], na década de 1950.
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Barracas da Festa do Salto na Rua José Weissohn, 1930.
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Enchentes de 1929 e 1983
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mbora existam referências de meados do século XIX a respeito de uma grande enchente que destruiu a ponte
que ligava as margens do Rio Tietê, na altura do atual bairro da Barra, passando por uma ilha (conhecida antigamente por Ilha da Santa Feia, pouco acima da atual ponte Salto-Itu), os relatos de antigos moradores de Salto informavam que a enchente de 1929 havia sido realmente extraordinária. Uma das fotos que se tem desse episódio, de autoria de Biágio Ferraro, mostra as águas cobrindo a Ilha dos Amores, onde existia um coreto. Naquele instante captado pela câmera, as águas ainda não haviam atingido seu ponto máximo, já que, horas mais tarde, elas levariam o telhado do coreto mencionado, visto que chegaram até a calçada da Rua José Weissohn. A Usina de Lavras – inaugurada em 1906, junto à margem direita do Rio Tietê, à montante do salto – sofreu grandes danos com a enchente de 1929. A elevação do nível das águas atingiu a casa das máquinas e comprometeu os equipamentos. Após essa enchente, Lavras foi desativada. Quando voltou a operar, em 1935, algumas medidas foram tomadas com o intuito de se evitar estragos semelhantes: os geradores foram colocados sobre cavaletes e nas janelas ao lado do rio foram levantadas muretas. Lavras seria paralisada definitivamente em 1956, já estando, então, bastante obsoleta.
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Ao centro, a Ilha dos Amores submersa, 1929.
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Nos primeiros dias de fevereiro de 1983, a cidade de Salto foi assolada por aquela que, segundo muitos, foi a maior das enchentes já vista pelos saltenses. No dia 2 daquele mês, as notícias vindas da capital e de outras cidades rio acima anunciavam os estragos possíveis de ocorrerem em Salto com a chegada do grande volume de águas. As autoridades locais, empossadas no dia anterior, trataram de tomar providências para minorar os estragos e riscos. Cerca de 200 famílias, moradoras de áreas de baixada, como uma parte do Jardim Três Marias, foram transferidas às pressas. No dia 5, sábado, o jornal Taperá trazia o seguinte título em sua primeira página: “A cidade invadida pelas águas de 2 rios”. E detalhava o drama: “O nível das águas superou, na última 3ª feira, as marcas existentes na usina da Eletropaulo, no Porto Góes e numa das dependências da Brasital S.A., em cerca de um metro [comparação feita com a enchente de 1929]. Locais jamais atingidos anteriormente, nas proximidades dos rios Jundiaí e Tietê, desta feita foram invadidos pelas águas, como parte da avenida Vicente Scivittaro, Jardim das Nações, Largo S. João, Rua Marechal Deodoro, Rua Coelho Neto e outras do Jardim 3 Marias, final das ruas Rui Barbosa e Joaquim Nabuco. Diversas indústrias também sofreram grandes prejuízos, sendo que algumas chegaram a paralisar suas atividades. Dezenas de famílias ficaram desabrigadas, sendo amparadas por familiares, amigos, Poder Público, clubes de serviço e por outras pessoas (...).” A cobertura jornalística da enchente, no mesmo jornal, trazia ainda episódios notáveis ocorridos nos dias anteriores. Ao abordar o drama das famílias atingidas, em “ato de heroísmo”, contou-se como uma família foi salva: “A maioria dos saltenses deram mostras de seu espírito de solidariedade, mas houve alguns casos expressivos, (...). Foi o que aconteceu com Celso Andreotti e Euclides Rocco, que ao tomarem conhecimento que a família Arpis, com 8 pessoas, estava presa na casa em que residem no estádio 'Luiz Milanez', na Ilha Grande, imediatamente conseguiram um bote a motor, de propriedade de João Rocco e realizaram diversas viagens até o local, da meia-noite até as 4 e meia da manhã. Trouxeram todas as pessoas que se encontravam na casa, enfrentando o perigo da correnteza, salvando ainda diversos objetos de sua propriedade. Quando Celso e Euclides chegaram à casa, seus moradores já estavam com água pela cintura e desesperados com a possibilidade de serem levados pela correnteza, o que, felizmente, não ocorreu. Parte da casa, além do bar, vestiários, alambrado e arquibancada do estádio da A. A. Avenida foi destruída, mas não se verificou nenhuma vítima fatal”. Outro episódio memorável de 1983 refere-se ao salvamento dos animais do minizoológico que existia na Ilha dos Amores: “[A Ilha] foi quase inteiramente coberta pelas águas, fazendo com que diversos animais viessem a morrer afogados ou sendo levados pelas águas. Os que conseguiram sobreviver começaram a ser retirados ontem, pela Polícia Florestal, a partir das 9 horas da manhã. Foram utilizadas,
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inicialmente, escadas fornecidas pela Brasital, pois a ponte que dá acesso à ilha foi derrubada pela correnteza. Como não foi possível chegar à ilha
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através desse meio, foi solicitada a vinda de helicóptero da Votec, de Sorocaba, que transportou os componentes da Polícia Florestal e Militar até a
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ilha. Eles conseguiram retirar o veado, dois macacos, um quati, a onça e outros animais. Dois macacos e a capivara fugiram assustados com o barulho do helicóptero e caíram nas águas, não podendo ser salvos.” 25
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Vista da cachoeira durante a enchente de 1929.
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História dos cemitérios de Salto
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o serem abertos os alicerces para a construção da nova Igreja Matriz de Nossa Senhora do Monte Serrat, no ano de 1928, em substituição à capela edificada pelo fundador da cidade no final do século XVII, ossadas humanas foram encontradas naquele local: indício de que algumas pessoas ligadas ao culto católico tinham sido sepultadas junto às paredes de taipa da primitiva capela. Outras referências sobre cemitérios em Salto datam de 1887, quando a Província de São Paulo foi assolada por uma epidemia de varíola. Naquela ocasião, o industrial pioneiro dr. Barros Júnior, considerado um benemérito local, construiu três hospitais de isolamento – também conhecidos por lazaretos – localizados em pontos distantes do então centro da cidade. Sabe-se que as vítimas fatais do contagioso “mal das bexigas” eram enterradas próximas a esses locais de isolamento, dada a pressa em sepultá-las. Um desses lazaretos situava-se no Bairro da Estação, na margem esquerda do Rio Jundiaí, para além dos trilhos da Companhia Ytuana de Estradas de Ferro. Outro ficava no atual Jardim Três Marias, nas proximidades da sede da Guarda Municipal, na margem direita do Rio Tietê – que era uma região de mata densa e bastante afastada do núcleo urbano. O terceiro – existente até o início do século XX – estava no terreno hoje circundado pelas ruas 9 de Julho, Rio Branco, Benjamin Constant e Rodrigues Alves. Sendo o maior deles, nessa área também se encontrava a capela de Santa Cruz. Até o final do século XIX, quase todas as pessoas que faleciam em Salto eram enterradas em Itu. No ano de 1890, meses após Salto ser elevada à vila independente, teve início uma campanha junto à população para a construção de um cemitério no terreno doado por Antônio da Silva Teixeira. Esse terreno corresponde hoje à área ocupada pela Praça XV de Novembro e pela Escola Estadual Professor Cláudio Ribeiro da Silva. Tal cemitério (chamado de Velho ou da Vila Teixeira) existiu até 1958, embora os sepultamentos nele estivessem proibidos desde junho de 1952. Nesse intervalo de seis anos ocorreu o processo de trasladação de algumas das antigas sepulturas para o atual Cemitério da Saudade (então chamado de Novo ou da Vila Nova), existente desde 1903 e que, em 1954, foi ampliado com a incorporação de terrenos adjacentes. Alguns dos mais antigos túmulos vistos, situados próximos à capela central, são provenientes do cemitério da Vila Teixeira. Exemplo disso é o túmulo do dr. Barros Júnior: sepultado em 1918 no Cemitério Velho, sua sepultura foi trasladada na década de 1950 para o local em que hoje está, no Cemitério da Saudade. Portanto, durante quase 50 anos, Salto conviveu com dois locais de sepultamento de seus mortos: os cemitérios da
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Vila Teixeira e da Vila Nova. Extinto o primeiro, apenas a partir de 1990, com a instalação do cemitério denominado Jardim do Éden, no Jardim Celani, Salto voltaria a ter um segundo campo santo. Mais que centenário, o Cemitério da Saudade guarda sepulturas de personalidades cujas biografias ajudam a contar a história local dos últimos 120 anos, como antigos políticos, religiosos, médicos, artistas e professores. Outros elementos podem ainda ser observados numa visita a esse cemitério, como o apuro técnico dos trabalhos em granito de muitos túmulos.
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Tancredo do Amaral, a escola e o patrono
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mbora com passagem efêmera pela cidade, Tancredo do Amaral marcou por ser o primeiro professor
formalmente habilitado para tal ofício a lecionar em Salto, numa época em que a localidade ainda era politicamente ligada a Itu. Foi também, ao lado do dr. Barros Júnior, fundador do primeiro jornal local, o Correio do Salto, de 1888. A seguir, apresentamos alguns dados gerais sobre a história da unidade de ensino que tem Tancredo como patrono e, ao final, um resumo biográfico desse professor. Pioneirismo: A atual Escola Estadual Professor Tancredo do Amaral foi criada por meio de decreto estadual em 20 de outubro de 1913, sob a denominação Grupo Escolar de Salto de Ytu, e iniciou suas atividades no dia 28 do mesmo mês. Em sua origem, reuniu oito escolas espalhadas pelo município e criou mais duas classes, totalizando 407 matrículas em seu primeiro ano. Contudo, a inauguração oficial, com a presença da diretoria de ensino à qual Salto estava sujeita à época, deuse apenas em 13 de maio de 1914. A escola funcionou com apenas um período de aulas por dois anos. Em 29 de abril de 1915 passou ao regime de dois períodos, e de 21 de maio de 1934 em diante funcionou nos três períodos.
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Escola Tancredo do Amaral, 1932.
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O projeto: O terreno no qual a escola foi construída, entre 1911 e 1913, era de propriedade de Domingos Fernandes da Silva. A prefeitura o adquiriu e o doou ao governo estadual em 1910, que ficou responsável pela obra. A instalação do Grupo Escolar de Salto foi acompanhada de mais outras nove iniciativas pelo Estado de São Paulo afora, em projetos que ficaram conhecidos como “Tipo Faxina”, em referência à atual cidade de Itapeva. Tratava-se da implantação de escolas a partir da mesma planta, com fachadas reelaboradas por diversos arquitetos. Em Salto, o projeto foi assinado por José Van Humbeeck e Manuel Sabater. A construção foi iniciada sob o comando de Augusto do Amaral e concluída sob a supervisão de Lupércio Borges. As outras localidades contempladas foram: Faxina (atual Itapeva), Jardinópolis, Santa Cruz do Rio Pardo, Santa Rita do Passa Quatro, Dois Córregos, Serra Negra, Cruzeiro, Itararé e Bebedouro. História: Em 1918, durante a epidemia de gripe espanhola, o prédio da escola abrigou doentes, servindo como uma espécie de hospital de emergência. No ano seguinte, foi desinfetado e pintado. Até 1936, quando se instalou na cidade o Colégio Sagrada Família, o Tancredo era a única escola primária de Salto. Desde 1950 abrigou o Ginásio Estadual, que em 1962 passou a funcionar em prédio próprio. Em 1960, Salto ganhou sua segunda escola pública – o 2º Grupo Escolar – que hoje recebe o nome de Escola Estadual Professor Cláudio Ribeiro da Silva. Bem cultural: Sendo a mais antiga escola da cidade, a Escola Estadual Professor Tancredo do Amaral é vista hoje como um elo afetivo que une diversas gerações de saltenses que passaram por seus bancos. Em virtude disso, encarando-a como bem cultural, em 29 de julho de 2002 sua preservação foi legalmente assegurada por meio de tombamento pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado – Condephaat, em conjunto com outras 123 escolas paulistas construídas na Primeira República (1889-1930). O patrono: Tancredo Leite do Amaral Coutinho, ou simplesmente Tancredo do Amaral – como ficaria conhecido – nasceu na cidade de São Paulo, em 18 de fevereiro de 1866. Era filho do comendador Manuel Leite do Amaral e de dona Josefa Gaudie Leroy do Amaral. Um de seus tios, dr. Aquilino do Amaral, foi senador pelo Estado de Mato Grosso. Tancredo casou-se com dona Maria Luísa do Amaral, tendo com ela dois filhos: Floriano e Marina do Amaral Costa. Depois de fazer o “curso de humanidades”, Tancredo matriculou-se na Escola Normal da Capital, onde se diplomou. Logo depois, em 1887, foi nomeado professor primário em Salto – ainda nos tempos do Império. Aqui fundou,
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no mesmo ano, o Partido Republicano, juntamente com o dr. Francisco Fernando de Barros Júnior. E no ano seguinte, o
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jornal Correio do Salto – repetindo a parceria política, já que a publicação era uma folha de propaganda do partido. Foi
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redator-chefe do referido periódico e também fez parte da diretoria do Clube Republicano 14 de Julho, fundado em Salto também naqueles anos. Ao se transferir para São Paulo, Tancredo exerceu de início o cargo de oficial de gabinete do presidente Bernardino de Campos. Organizadas as quatro secretarias de governo, em 1891, foi nomeado 1º oficial da Secretaria do Interior.
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Quando o dr. Carlos de Campos assumiu a pasta da Justiça, na administração Campos Salles, foi escolhido para ser seu oficial de gabinete. E ao ser criado o Almoxarifado da Justiça, foi nomeado subdiretor dessa repartição. Por ocasião da cisão do Partido Republicano nos anos seguintes, Tancredo do Amaral acompanhou o general Francisco Glicério e assumiu o posto de redator de A Nação, órgão do Partido Republicano Federal. Isso lhe custou a demissão do cargo que então exercia, devido à luta política em que fortemente se empenhou. Afastado da política, não se acomodou. Escreveu diversos livros didáticos, entre os quais O Livro das Escolas, Geografia Elementar, História de São Paulo Ensinada pela Biografia de Seus Vultos Mais Notáveis e O Estado de São Paulo, todos aprovados oficialmente e adotados nas escolas públicas. Tancredo foi ainda nomeado inspetor escolar, chegando a ser interinamente diretor- geral da Instrução Pública do Estado. Deixando os cargos que exercia no magistério, Tancredo do Amaral, após se diplomar em 1906 pela Faculdade de Direito do Largo São Francisco, entrou para o Ministério Público, tendo sido promotor das cidades paulistas de Capão Bonito, Batatais e Capivari. Entrou para a magistratura; foi juiz de direito da Comarca de Santa Isabel, lugar em que se aposentou em 1923, indo residir em São Bernardo do Campo (SP). Tancredo foi por algum tempo redator, cronista teatral e secretário da redação do jornal Correio Paulistano. Também fazia parte de várias associações científicas e literárias, tendo sido membro do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo. Escritor, ele deixou várias obras esparsas, algumas inéditas, como uma coletânea dos melhores versos da língua portuguesa, várias conferências e discursos. Faleceu em 23 de julho de 1928, aos 62 anos.
Ponte pênsil e Rua do Porto
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uem hoje vê o portão principal do centro universitário que ocupa os prédios da antiga Brasital, ao lado de uma
das torres, não se dá conta que ele é o marco da apropriação de um espaço público por particulares. Isso ocorreu há mais de um século, à época em que a tecelagem instalada naquele espaço levava o nome de Societá per l'Esportazione e per l'Industria Italo-Americana, ou, simplesmente, Sociedade Ítalo Americana. Era ela a sucessora das duas tecelagens pioneiras
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instaladas no último quarto do século XIX, adquiridas pelo ítalo-judeu José Weissohn e por ele repassadas a essa
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multinacional que já contava com diversos investimentos na América do Sul. Estamos falando da mítica Rua do Porto e do
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seu trecho que deixou de ser público e foi incorporado ao patrimônio da Ítalo Americana. A rua em questão é a atual José Weissohn, que se inicia na Praça Antônio Vieira Tavares (Largo da Matriz) e termina na Rua 9 de Julho (antes denominada Rua de Campinas). O nome Rua do Porto, que vigorou na primeira década do século XX, foi dado porque a via pública se alongava até as margens do Rio Tietê, terminando num trecho conhecido por Porto das
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Canoas, nas imediações da Ilha Grande (onde hoje está o campo da A. A. Avenida), então chamada Ilha do Padre. Tratava-se de um caminho bastante utilizado pelos moradores de Salto – uma localidade que começava a crescer especialmente pela chegada de um grande contingente de italianos, atraídos pelo trabalho nas tecelagens locais, abandonando as fazendas das regiões de Itu e Campinas, após enfrentarem um primeiro momento de exploração por parte dos cafeicultores paulistas.
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Rua do Porto no final do século XIX. 95
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“Quando acabava o carnaval, meu pai, que ajudava a fazer os bonecões, nos dava e ficávamos meses brincando em volta das casas com os boizinhos e bonecões, era uma diversão só. Havia na viela aqui perto o filho do primeiro dono que fazia os bonecões, e como éramos crianças, ajudávamos a fazê-los. Íamos buscar bambus onde as garças dormem... Era uma grande diversão para nós.” O senhor Valdir Alves é aposentado, tem 62 anos de idade, é desquitado, tem dois filhos e quatro netos.
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A importância do referido trecho da Rua do Porto, que ia do Largo da Matriz até as margens do rio se dava por dois motivos principais: era o acesso a um local com fartura de peixes e também local de retirada de areia, necessária para as construções de uma cidade que via sua população e o número de novas edificações crescerem num ritmo acelerado. A colocação de um muro pelos industriais, impedindo o acesso, agravou um desentendimento que não era novo. Por cerca de três décadas, desde a época da instalação das fábricas pioneiras, uma série de conflitos foram travados entre as fábricas que se instalaram na margem direita do Rio Tietê e os pescadores de Salto. Há registros, inclusive, de tiroteios entre esses pescadores e os prepostos dos industriais, que encaravam as incursões dos pescadores como invasão de propriedade privada, mesmo que oficialmente não fosse. A paz ocorreu a partir de um acordo firmado entre a Câmara Municipal de Salto e a Sociedade Ítalo-Americana. Pelo acordo, que data de 1910, a Câmara cedeu à indústria o referido trecho da rua, que passou a fazer parte de seu patrimônio. E a indústria, em troca, se comprometeu a instalar uma ponte metálica que daria aos pescadores acesso ao Porto das Canoas – eis a ponte pênsil. Além disso, se comprometeu também a construir um mirante em local privilegiado, de onde se pudesse contemplar a cachoeira – o que de certa forma foi dificultado desde a instalação, junto à queda-d'água, da fábrica Fortuna, de José Galvão. Finalizada em 1913, a ponte de aço e madeira, com 75 metros de extensão, proibiu definitivamente o acesso ao Porto das Canoas por meio da Rua do Porto. Desse modo, pescadores, visitantes e demais moradores que desejassem ter acesso ao trecho do rio abaixo da cachoeira deveriam obrigatoriamente contornar os prédios das fábricas e passar pela ponte pênsil, balançando sobre a margem direita do Rio Tietê. Durante muitos anos a manutenção da ponte coube à Brasital – que desde 1919 se tornou a proprietária da Ítalo-Americana. Hoje, a ponte figura como atrativo turístico de Salto, prestes a completar seu centenário. Até bem pouco tempo atrás era possível ver uma placa, logo na entrada da ponte, que proibia a pesca a 200 metros, tanto abaixo como acima da cachoeira – e avisava sobre uma multa aos infratores. Os terrenos da Sociedade Ítalo-Americana se estendiam até a propriedade da família Arruda Castanho, que hoje constitui o Jardim Três Marias. Na época, boa parte dessa área era de mata virgem. E a divisão entre os terrenos era feita por meio de um valo profundo, por onde corria a enxurrada. Esse valo, encoberto e desapropriado aos Arruda Castanho pelo
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poder público municipal, corresponde à atual Rua 24 de Outubro – via pública que já se chamou Antônio Melchert, em 95
referência ao industrial que instalou a Fábrica de Papel do Salto, em 1889. Apenas perdeu esse nome em 1985. Popularmente, a via ficou conhecida como Rua dos Pescadores, ou ainda, Rua São Pedro – em virtude de ser um novo
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acesso ao Porto das Canoas. Essa nomenclatura se aplicava apenas ao trecho compreendido entre a Rua Joaquim Nabuco e a margem direita do Rio Tietê. Assim, a abertura desse novo caminho, somado à ponte pênsil, foi a maneira encontrada pela Câmara à época de resolver a questão e fazer cair no esquecimento, ou legalizar, a apropriação empreendida pelos
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industriais já instalados. 0
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Armazém Popular, o Grande Bazar Saltense
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atual Armazém Popular, situado numa das esquinas das ruas Monsenhor Couto e 9 de Julho, é um
estabelecimento mais que centenário. Esse armazém, que ainda hoje vende mais de 10 mil produtos diferentes, iniciou suas atividades em 1908. Nessa época, era seu proprietário Estevão de Almeida Campos, vulgo “Nhozinho Estevo”. Em 1926, Nhozinho Estevo vendeu o então Grande Bazar Saltense a Hilário Ferrari – italiano há tempos radicado no bairro rural do Buru, que chegara à cidade dois anos antes.
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Grande Bazar Saltense, 1926.
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O estabelecimento fazia jus ao nome de Grande Bazar, pois lá se encontrava de tudo. Anúncios pintados em sua fachada, entre uma porta e outra, indicavam a variada gama de produtos comercializados: secos e molhados, no atacado e no varejo; louças, porcelanas, camas de ferro, ferramentas para lavoura e artesanatos, óleos, tintas, cal, cimento, produtos de limpeza, querosene, conservas, bebidas, utensílios de alumínio... Até mesmo gasolina se vendia, visto que a casa era agente da Anglo-Mexican, vendendo a gasolina da marca Energina, como se constatava pela bomba a manivela instalada próxima ao meio-fio, na década de 1930. Em 1946, o armazém voltou às mãos da família Almeida Campos, sob a razão social Miranda Campos & Cia. Eram seus proprietários, nessa ocasião, os irmãos José Maria e Paulo Miranda Campos, e “Totó” Almeida Campos – que repassaria sua parte na sociedade a João Arlindo Vendramini, cunhado dos outros dois proprietários. Dez anos mais tarde, Roberto Ferrari readquiriu o armazém, mantendo-se à sua frente até 1969. Nesse ano passou o estabelecimento para o controle de seu filho, mais conhecido por Bertinho Ferrari, que desde os 13 anos trabalhava ao lado do pai. Além da longevidade, enquanto estabelecimento comercial, em um mesmo ponto, o Armazém Popular – em tempos passados, o Grande Bazar Saltense – mantém viva sua vocação eclética original, possuindo grande variedade de artigos. Alguns itens chamam especialmente a atenção, no tempo presente, pela dificuldade de encontrá-los em outros lugares, como os calçados Conga, Bamba e Kichute, da marca Alpargatas; fumo de corda, cachimbo de barro, isqueiro a gasolina, estilingue, lampião a querosene e palha para cigarro. Ali também sobrevive a antiga prática de marcar o valor das compras em cadernetas, para acerto posterior, no final do mês. Em seu interior, à vista de suas altas prateleiras de pinho de riga, sente-se a atmosfera de um típico comércio das primeiras décadas do século passado. Hoje, quando se vive, cada vez mais, uma pasteurização nas formas de se comprar e vender, visitar o Armazém Popular é um estímulo, aos de imaginação mais fértil, a uma viagem no tempo. Em 2008, o Armazém Popular fez uma reforma em sua fachada, com o intuito de recuperar um pouco das feições originais externas do prédio. Além disso, um painel, abordando sua história, foi instalado numa de suas paredes. Para comemorar os 100 anos de funcionamento ininterrupto, foi criado um cartão-postal alusivo ao estabelecimento que traz uma fotografia dos velhos tempos e algumas palavras sobre a sua longevidade.
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A antiga Rua de Campinas
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atual Rua 9 de Julho, num passado remoto, era popularmente chamada de Rua ou Estrada de Campinas, pois
cortava a então pequena vila de Salto de sul a norte, desembocando na estrada rumo a Campinas. Oficialmente, chamou-se Rua 15 de Novembro, desde a Proclamação da República até 1910, quando seu nome foi alterado para Rua Rui Barbosa, em referência a um dos políticos brasileiros de maior destaque no início do século XX. Em junho de 1935, um ato do prefeito de Salto, Lafayette Brasil de Almeida, trocando o nome de algumas ruas centrais da cidade, rebatizou a popular Rua de Campinas como Rua 9 de Julho, em alusão à Revolução Constitucionalista de 1932. Ao longo de sua história, a Rua 9 de Julho figurou sempre como uma das principais vias públicas de Salto. Comércios tradicionais situavam-se ao longo desta via, como bares, casas de secos e molhados, a primeira delegacia e cadeia e as primeiras farmácias da cidade. A Rua 9 era também o trajeto rotineiro dos cortejos fúnebres, que a subiam em direção ao Cemitério da Saudade, na Vila Nova.
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Festa em comemoração ao fim da II Guerra Mundial, no Largo Paula Souza, 1945.
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Já o espaço que marca o início da Rua 9, o Largo Paula Souza foi um dos primeiros logradouros públicos de Salto a ser batizado, em meados do século XIX. Trata-se de uma homenagem a Francisco de Paula Souza e Mello (1791-1851), político ituano durante o Império, com projeção no cenário nacional. De fins do século XIX até 1946, o largo abrigou um coreto. Foi ao redor dele que a população saltense se reuniu para comemorar o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945. Esse mesmo local abriga hoje, após a remodelação do Largo Paula Souza, o Monumento aos Taperás – marco que faz alusão a um dos símbolos de Salto – as aves denominadas taperás. Parentes próximos das andorinhas, essas aves de coloração pardo-acinzentada, de peito e abdome brancos, eram abundantes especialmente nas imediações da cachoeira que dá nome ao nosso município, e faziam das fendas das pedras existentes às margens do Rio Tietê seu local de repouso. Viajantes europeus do século XIX mencionaram em seus livros a existência de grande quantidade dessas aves, que foram gradativamente afastadas pela poluição no final do século XX. Sob um painel instalado no largo se encontram preservados exemplares dos ladrilhos que compunham a calçada dos primeiros quarteirões da Rua 9 de Julho (deste largo até a Avenida D. Pedro II), que foram fabricados pelo industrial italiano, radicado em Salto, Biággio Ferraro. Os ladrilhos são à base de cimento, cascalhos de granito vermelho de Salto e pedras de fundo de rio rachadas à força de marteladas. Datam de 1931, época em que era prefeito de Salto o major José Garrido, responsável também pelo calçamento dos primeiros quarteirões da Rua 9 de Julho com paralelepípedos.
A presença japonesa em Salto
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ara se escrever uma história da imigração japonesa em Salto é fundamental que sejam consultados os registros de
estrangeiros existentes no Museu da Cidade. O registro nacional dos estrangeiros residentes no Brasil surgiu durante o Estado Novo, com um decreto do presidente Getúlio Vargas, de 1938, obrigando todos os indivíduos maiores de 18 anos que não possuíssem a nacionalidade brasileira a se registrarem nos órgãos policiais do lugar em que residissem. Estavam isentos desse registro os estrangeiros com mais de 60 anos de idade à data do decreto. Dos quase 900 prontuários existentes no museu, 40 deles são de japoneses. Embora correspondam a menos de 5% da série documental, a análise desses prontuários propicia algumas conclusões.
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Os dois prontuários mais antigos datam de novembro de 1940. São do casal Choichi e Haruyo Kimura, ambos
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nascidos em Osaka. Choichi, o marido, contava, na ocasião em que compareceu à Delegacia de Polícia de Salto, com 48 anos de idade (nascido em 1892) e Haruyo, a mulher, com 44 (era de 1896). O casal chegou ao Brasil em 3 de março de 1930, a bordo do Montevideo. Viviam na Chácara do Rosário – ele como lavrador e ela como doméstica. Em 1940, tinham dois filhos menores de 18 anos: o jovem Kiyoyoshi, com 16, e a menina Satie, com 12. Em abril de 1942, Kiyoyoshi Kimura [foto 1], ao
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atingir a maioridade, compareceu à delegacia. Naquela data, ele ainda residia com os pais na Chácara do Rosário, “no bairro Canjica, deste município”, trabalhando como lavrador. Em 1945, sua irmã Satie [foto 2] segue o mesmo procedimento e também se registra – ela que tinha menos de 3 anos de idade quando a família desembarcou em Santos. Há os três prontuários dos irmãos Abe, dois homens e uma mulher, naturais do estado japonês de Fukushima. Filhos do casal Issamu Abe e Yoshimo Abe – Teruo [foto 3], Toshio [foto 4] e a jovem Eiko [foto 5] chegaram muito pequenos ao Brasil. Vieram a bordo do Arizona Maru e desembarcaram no Porto de Santos em 25 de março de 1935. A mais velha é Eiko, nascida em 1929. Teruo é de 1931 e o caçula Toshio é de 1934. Na ocasião do registro, em 1958, todos eram lavradores no Haras São Luiz. Datados de 1959, temos dois registros da família Nagata, que se faz presente por meio de duas mulheres. Uma delas é Umeko Nagata [foto 6], solteira, filha de Tohe e Chyo Nagata, que tinha 20 anos e era agricultora por “conta própria” no “bairro Monte Alegre – município de Salto”. Havia desembarcado no Porto de Santos há um ano e dez meses, precisamente em 9 de fevereiro de 1958. No mesmo dia, chegou Kinko Nagata [foto 7], casada com Shigemasa Yano e filha de Shinti Nagata e Hatuo Nagata. Trouxe consigo três crianças: Yoshiki, com 9 anos; Hiroshi, com 7; e Hiromitsu, com 4. Kinko, assim como Umeko, residia no bairro Monte Alegre, trabalhando como agricultora. Vivendo e trabalhando na Chácara Donalísio encontramos Take Hirashima [foto 8], com 63 anos de idade, natural de Fukuoka; e Chiyoka Hirashima [foto 9], com 33 anos, tendo um filho de 7 e outro de 3 anos. Ambas chegaram ao Porto de Santos em 14 de março de 1959, a bordo do Argentina Maru. Distribuindo-se quase sempre por bairros rurais, há diversos prontuários
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de japoneses residentes no então populoso bairro do Buru, trabalhando como lavradores: casos de Chieko Tsuji, casada com Shigeru Tsuji; Choko Zukeran, casado com Fumi Zukeran; e de Hyoji e Shosaku Yamada – respectivamente pai e filho, residentes no Brasil desde 1957. O único caso de japonês trabalhando fora
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do meio rural em Salto é o de Tomoharu Murakami [foto 10]. Em 1958, era morador da Rua Joaquim Nabuco e trabalhava “na firma EMAS”, tendo chegado ao Brasil cerca de um ano e meio antes.
Epidemia de gripe, 1918
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a contracapa do livro utilizado para registro do movimento dos internados em Salto durante a pandemia de
gripe de 1918, que ficou conhecida por gripe espanhola, vê-se um panfleto nela colado. Intitulado “Ao público”, informa que “a Comissão de Socorros, tendo em vista o franco declínio da gripe nesta cidade, avisa ao povo que o Hospital, instalado no Grupo Escolar, será fechado no próximo domingo, 8 do corrente”. Datado de 6 de dezembro, o panfleto, que provavelmente foi distribuído por toda a cidade, informava que “os doentes, todos em convalescença” teriam alta no dia seguinte – um sábado. Por fim, assegurava que os médicos continuariam “a receitar às pessoas indigentes, de acordo com a lista em poder dos mesmos”, os “medicamentos [que] se encontram no Hospital”. Além disso, garantia-se que a comissão continuaria “a distribuir gêneros alimentícios aos necessitados”. A gripe espanhola apareceu em duas ondas diferentes. Na primeira, em fevereiro de 1918, embora bastante contagiosa, era uma doença branda, não causando mais do que três dias de febre e mal-estar. Já na segunda, em agosto, tornou-se mortal. Se a primeira onda de gripe atingiu em especial os Estados Unidos e a Europa, a segunda devastou o mundo inteiro. No Brasil, ela chegou no final de setembro de 1918: marinheiros que prestaram serviço militar em Dacar, na costa da África, desembarcaram doentes no porto de Recife. Em duas semanas, surgiram casos de gripe em outras cidades do Nordeste, em São Paulo e no Rio de Janeiro. Nos jornais da época, multiplicavam-se as receitas, como pitadas de tabaco e queima de alfazema ou incenso para evitar o contágio e desinfetar o ar. Com o avanço da pandemia, sal de quinino, remédio usado no tratamento da malária e muito popular na época, passou a ser distribuído à população, mesmo sem nenhuma comprovação científica de sua eficiência contra o vírus da gripe. Diante do desconhecimento de medidas terapêuticas para evitar o contágio ou curar os doentes, as autoridades aconselhavam apenas que se evitassem as aglomerações. A partir desse raciocínio, criaram-se os hospitais de isolamento.
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Em Salto, o total de pessoas internadas no hospital de isolamento improvisado no Grupo Escolar – atual Escola
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Estadual Tancredo do Amaral – foi de 61. O primeiro a ser internado, em 19 de novembro, foi o jovem Eduardo Carlos, de 14 anos de idade, “morador no Morro Vermelho” e “empregado do sr. Manoel da Silva Ladeira, residente na Vila Nova”. A última internada, em 6 de dezembro, foi Julia Ribeiro, jovem de 17 anos “natural de Santa Bárbara” e “moradora à Rua
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Paysandu, nº 119” (atual Rua Rui Barbosa) – conforme registrou o diretor dos trabalhos, Silvino Silveira.
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Os registros são minuciosos. Há o detalhamento dos objetos pertencentes ao hospital, que por sua vez foram colocados à disposição da Câmara de Salto após o encerramento dos trabalhos. Na listagem, figuram itens como camas de ferro, camisolas, colchões de capim, lenços, cobertores de lã, pares de chinelos, urinóis, pratos de louça, saca-rolha, fogareiro, vassoura – dentre outros. Na relação das pessoas envolvidas com os trabalhos, na qual a maior parte delas aparece descrita como “enfermeira” ou “servente”, notamos a presença de pessoas vinculadas às antigas tecelagens de nossa cidade, como a Ítalo-Americana – caso do vigilante noturno João Leme – e a Monte Serrat – casos da enfermeira Margarida de Pádua e da cozinheira Emilia de Oliveira. Uma nota triste aparece na tabela do “movimento geral” de dezembro de 1918: “No dia 4 (...), a internada Augusta Carlos deu a luz a uma criança do sexo masculino, que recebeu o nome de Benedicto. A parturiente é esposa de Tiburcio de Arruda Campos, também internado. A criança nasceu às 10.25 do dia 4, e faleceu às 16.15 do mesmo dia, vítima de gastro-enterite”. Numa rápida observação dos registros, observam-se casos como os de Maria Benedicta, de 30 anos de idade, Maria de Lourdes, de 6 anos de idade, José, de 10 anos de idade e Agenor da Silva, de 8 anos de idade – respectivamente mãe e seus três filhos, internados todos no dia 21 de novembro. Há, ainda, situações como a da família Tardelli, que, no espaço de poucos dias, vários de seus membros foram internados. O balancete final dos 19 dias de funcionamento mostra que, do total de 61 pessoas que passaram pelo hospital improvisado, com um número máximo de 26 concomitantes em três desses dias, houve dois falecimentos: Fernando Tardelli, de 44 anos, e Aurélio Biaggi, de 49 – ambos italianos.
O saltense Anselmo Duarte
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tor e diretor cinematográfico de grande fama, Anselmo Duarte nasceu em Salto, em 21 de abril de 1920, numa
casa da esquina da atual Rua Monsenhor Couto, em frente à Igreja Matriz de Nossa Senhora do Monte Serrat. Lá, seu pai tinha um comércio, conhecido por Venda da Capivara. De origem humilde, era o oitavo filho de Olympia Duarte, senhora que, abandonada pelo marido poucos meses após dar à luz o caçula Anselmo, muito se esforçou no ofício de costureira para sustentar toda a família.
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Em Salto, Anselmo estudou no Primeiro Grupo Escolar, hoje Escola Estadual Tancredo do Amaral, na mesma classe de outros dois saltenses que alcançaram grande projeção: Archimedes Lammoglia [1920-1996] e Jota Silvestre [1922-2000].
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Ainda criança, trabalhou como engraxate, aprendiz de barbeiro e molhador de tela no antigo Cine Pavilhão, onde seu irmão Alfredo era projecionista. Sua infância, segundo algumas fontes, pode ter inspirado o enredo de Cinema Paradiso (Nuovo
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Cinema Paradiso, no original), filme italiano de 1988, escrito e dirigido por Giuseppe Tornatore. As semelhanças, de fato, são
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Em sua cidade natal, Anselmo viveu até os 14 anos, e depois foi para a capital, São Paulo, onde trabalhou como datilógrafo, contabilista e dançarino. Mudou-se após alguns anos para a cidade do Rio de Janeiro, e lá atuou como figurante em filmes, redator e repórter de uma revista. Seu primeiro trabalho como ator foi no filme inacabado do diretor norte-americano Orson Welles, It's All True, em 1942. Maior galã do cinema brasileiro nos anos 1940 e 1950, participou de produções dos estúdios Cinédia, Atlântida e Vera Cruz. Estreou como ator principal no filme Querida Suzana, de 1946, e seu primeiro trabalho como diretor, coroado de muito sucesso, foi em Absolutamente Certo, de 1957. De suas atuações como ator na Cinédia, destaca-se Pinguinho de Gente, de 1949. Na Atlântida, Anselmo Duarte atuou, dentre outros, em Carnaval no Fogo e Aviso aos Navegantes, ambos do diretor Watson Macedo. Uma das mais destacadas atuações de Anselmo foi em Sinhá Moça, do diretor Tom Payne, que ganhou o Prêmio Especial do Júri, em Veneza. No papel do compositor Zequinha de Abreu, em Tico-Tico no Fubá, também foi muito elogiado pela crítica. Foram essas produções da Vera Cruz que fizeram crescer a imagem de Anselmo como galã do cinema nacional. O ápice de sua carreira deu-se em 1962, quando dirigiu O Pagador de Promessas – único filme brasileiro a receber o maior prêmio mundial do cinema, a Palma de Ouro, no Festival de Cannes, na França. O então jovem diretor venceu concorrentes que pertencem à história cinematográfica mundial, como Luis Buñuel, Michelangelo Antonioni e Robert Bresson. Com a premiação, Anselmo Duarte ganhou uma série de desafetos, principalmente entre os jovens diretores do Cinema Novo. A carreira de Anselmo Duarte como diretor seguiu até o final da década de 1970. Outros de seus filmes ainda esperam uma reavaliação, tais como Vereda da Salvação, Quelé do Pajeú, Um Certo Capitão Rodrigo e O Crime do Zé Bigorna. É, portanto, impossível pensar o cinema brasileiro omitindo a contribuição do ator e diretor saltense Anselmo Duarte. Sua carreira confunde-se com a própria história da arte cinematográfica nacional. Somando-se suas atuações como ator e diretor, são mais de 40 filmes. Seu trabalho ao longo de várias décadas, reconhecido internacionalmente, permite afirmarmos se tratar de um dos mais ilustres filhos da cidade de Salto. Em 31 de julho de 2009, na inauguração do Centro de Educação e Cultura (CEC), que leva seu nome, Anselmo foi homenageado pela administração pública de sua cidade natal. A sala de espetáculos desse Centro, a Sala Palma de Ouro, é uma alusão ao prêmio mais importante recebido pelo cineasta. Nessa ocasião, Anselmo leu seu último discurso público, do qual
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seguem algumas linhas:
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“Era uma vez, um menino de pés descalços, lá nos tempos idos da década de 20, no século que já se foi. Não estavam descalços por não possuir
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sandálias ou sapatos. Estavam descalços por livre arbítrio. Melhor falando, por amor. Aquele menino, saltense, amava correr pelas ruas da sua cidade natal, descalço, querendo acalorar, a cada passo e a cada salto, o mais profundo e genuíno conforto de identificação com as raízes da terra que lhe trouxe à vida. Ao caminhar e a saltar descalço, pelas ruas de terra batida, o “Russo Louco”, como era conhecido, feriu, muitas vezes, seus pés com as pedras
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dos caminhos. Mesmo ferido, com calos, o “Russo Louco”, preferiu continuar descalço, topando as pedras do caminho.
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Por que tal desatino? A luz divina da sabedoria que o abençoou vida afora lhe fez divisar que as pedras dos caminhos no chão de terra batida
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da sua Salto não eram terríveis obstáculos aos seus folguedos nem às suas esperanças. Ele vislumbrou que aquelas pedras que topava eram nada mais que corriqueiros acidentes de percurso, absolutamente necessários para a compreensão mais profunda do curso natural da vida. Foi assim que o “Russo Louco”, o menino Anselmo Duarte, lá nos idos da década de 20, quando Salto era um desconhecido lugarejo fabril habitado por um punhado de homens e mulheres de bem, cujos exemplos singelos no tratar das coisas humanas também lhe ensinaram outros não menos sábios caminhos pelas pedras no caminho da vida. Feliz e confortado, decidiu continuar descalço vida afora. Que venham as pedras...” Falecido em 7 de novembro de 2009, em São Paulo, foi sepultado em Salto, no Cemitério da Saudade. Em frente ao seu jazigo foi instalada uma placa do Circuito da Memória. E como era desejo do cineasta, expresso muito antes de falecer, em seu túmulo foi gravada, no granito, a seguinte frase: “Eis aqui a última história de um contador de histórias”.
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Anselmo Duarte exibindo a Palma de Ouro, 1962. 25
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Pretti e Lubra, dois pintores saltenses
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m 2009 completou-se o centenário de nascimento de dois pintores saltenses que obtiveram certo destaque
para além das fronteiras locais. Trata-se de José “Lubra” Roncoleta [1909-1973] e Flávio Pretti [1909-1996]. Ambos, apesar de terem saído de Salto precocemente, tematizaram nossa cidade em várias de suas produções. Os dois, por exemplo, pintaram a cachoeira no Rio Tietê – obras que estão em posse do Museu da Cidade de Salto. Lubra ainda nos deixou uma belíssima pintura do dr. Barros Júnior, o famoso “Pai dos Saltenses”. Dentre os trabalhos de Pretti encontramos, inclusive, esboços de tipos populares de Salto das primeiras décadas do século passado.
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Dr. Barros Júnior, de Lubra.
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Lubra era o pseudônimo artístico adotado por José Roncoleta, formado a partir das primeiras sílabas dos nomes de seus pais, Luiz e Brasília Roncoleta, um dos casais responsáveis pela fama adquirida por Salto no começo do século XX, no que tange ao tratamento da dor ciática e doenças reumáticas. Nascido em Salto, Lubra fez parte das primeiras classes formadas no Grupo Escolar de Salto. Foi aluno do professor José de Paula Santos desde 1916, com notável rendimento, e teve aulas de violino com o maestro Zequinha Marques. Contudo, optou por se aperfeiçoar em pintura com o professor Demétrio Blackman, residente em Itu, onde lecionou no Colégio Cesário Mota, por um ano. Na capital paulista montou uma escola de desenho e pintura, tendo 17 anos na ocasião. Ao se casar com Lídia Novelli, mudou-se para Santos, onde também montou uma escola de artes. Com os apoios oferecidos pelo jornal santista A Tribuna, realizou diversas exposições nessa cidade do litoral. Entusiasta da Associação Santista de Belas Artes, da qual era sócio-fundador, esteve à frente da presidência por muitos anos. Em 1969, ao adoecer, retornou a São Paulo, abrindo um ateliê. Voltou para Salto, sua terra natal, pouco tempo depois, vindo a falecer em janeiro de 1973 num hospital da capital. O saltense Flávio Pretti desde cedo trabalhou na Brasital S/A, como era típico entre os jovens de Salto, cidade que deixou aos 20 anos, quando foi para São Paulo trabalhar como desenhista das Indústrias Matarazzo. Quatro anos mais tarde, mudou-se para o Rio de Janeiro, empregando-se na Companhia América Fabril, onde desenvolveu padronagens para tecido. Foi na então capital da República que completou seus estudos, no seio da Sociedade Brasileira de Belas Artes. Trabalhou também no periódico carioca Diário de Notícias, produzindo caricaturas. Em 1940 retornou a São Paulo, onde instalou seu ateliê denominado Publicidades Flavis, na Avenida Celso Garcia. Em meio aos temas de sua obra, Pretti possui algumas criações sobre sua cidade natal. Os azulejos de Homens que Construíram Esta Cidade, criados em 1968, existentes no Complexo Turístico da Cachoeira, constituem um exemplo. Neles estão representadas as figuras do indígena, do negro, do bandeirante, do padre, do trabalhador rural e do operário fabril – num discurso que pretende integrar e nivelar a importância de grupos sociais e momentos históricos distintos na constituição de sua cidade natal. Pretti esteve em Salto pela última vez em 1994, falecendo dois anos depois. 100
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A vila da Barra e seus bonecões
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vila da Barra – um conjunto de 30 casas para operários construídas pela antecessora da indústria têxtil Brasital,
a Ítalo-Americana, entre os anos de 1911 e 1912, é o mais antigo dos conjuntos de casas para operários construídos em Salto na primeira metade do século XX. As casas estão localizadas às margens dos rios Jundiaí e Tietê, mais especificamente no cotovelo formado pela confluência das águas. O nome barra é sinonímia de margem (do rio). Costuma-se dizer que há duas barras: a do Jundiaí e a do Tietê. O conjunto mais antigo e significativo foi construído com as fachadas voltadas, em sua maior parte, para a barra do Rio Jundiaí. As casas da barra do Tietê, num total de oito, mas em outro padrão, são posteriores, construídas entre 1945 e 1946.
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As primeiras casas da vila da Barra e seus moradores, 1911.
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Desde 1960, com curtos momentos de interrupção nos últimos 20 anos, os bonecões do Bloco da Barra constituem a principal marca do Carnaval saltense de todos os tempos. A ideia de fazer um grupo de grandes bonecos para desfilar junto ao bloco partiu de membros de uma antiga família saltense, os Jorge. Contudo, foi posta em prática por Álvaro Ribeiro, proprietário de uma carpintaria que funcionava num galpão nos fundos do antigo Hotel Brasil. Álvaro, que faleceu em meados de 1990, durante 30 anos, de maneira ininterrupta, dedicou-se a criar bonecões nos meses que antecediam o Carnaval. No início, Álvaro teve como auxiliares os vizinhos Vicente Girardi, Wilson Cazzamatta e Pedro Alves – conhecido como “Cascudo”. Conforme a tradição foi se consolidando, outras pessoas se tornaram incentivadoras desse trabalho: Manoel Dantas, Mário Effori e os ex-prefeitos Jesuíno Ruy, Josias Costa Pinto e Pilzio Di Lelli. No Carnaval de 1991, o primeiro após a morte de Álvaro Ribeiro, seu filho Francisco – popularmente conhecido por “Tico Boca”, também já falecido – teve a iniciativa de continuar a criar os bonecões para o desfile de rua, o que perdurou por algum tempo. Era intenção do descendente do precursor dos bonecões manter a prática, iniciada por seu pai, senão na família, ao menos no bairro. Hoje, a tradição é mantida por iniciativa da Prefeitura de Salto, que contrata artistas especialmente para criar os bonecões, desde 2005, e realiza um baile popular nas imediações da Barra.
Monsenhor Couto
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oão da Silva Couto nasceu na Fazenda da Graça, em Itu, em 8 de dezembro de 1887. Estudou no Colégio São
Luiz, também naquela cidade, e no Seminário Menor de Pirapora do Bom Jesus. Em seguida, cursou teologia e filosofia no Seminário Provincial de São Paulo, ordenando-se sacerdote em dezembro de 1916. Foi nomeado coadjutor em Bragança Paulista (SP) e lá permaneceu até 1919. Em janeiro de 1920 foi para Cabreúva (SP), como pároco. Chegou a Salto em 31 de janeiro de 1926, tomando posse como vigário da paróquia de Nossa Senhora do Monte Serrat, na qual permaneceu por mais de 44 anos, até a sua morte. Em Salto, João Couto estimulou as atividades da Sociedade São Vicente de Paulo e do Círculo Católico. Em 1928,
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sob sua liderança, deu início à construção da nova Igreja Matriz, inaugurada em 1936. Nesse mesmo ano trouxe para Salto a
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Congregação das Filhas de São José para dirigirem o Externato Sagrada Família, o hoje tradicional Coleginho.
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Com seu apoio concluíram-se as capelas de Nossa Senhora das Neves, no bairro rural do Buru, em 1938, e de Nossa Senhora da Oropa, no mesmo bairro, em 1946. Também nesse ano fundou o Círculo Operário de Salto e incentivou a criação do jornal a ele ligado, O Trabalhador, que existiu por várias décadas. A Capela de Santo Antônio, no bairro Guaraú, e a Igreja de São Benedito, na Vila Nova, foram também iniciativas do padre na década de 1950. Quando completou 50 anos de
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ordenação, o religioso recebeu o título de cidadão saltense, juntamente com o de monsenhor. Sacerdote muito estimado por toda a população, sua presença junto à Paróquia de Nossa Senhora do Monte Serrat marcou época. No ano seguinte à sua morte, ocorrida em 1970, foi instalado um busto em sua homenagem defronte à igreja que ajudara a construir décadas antes. Em 1973, seu túmulo foi reelaborado pela prefeitura. Quando do centenário de seu nascimento, em frente a ele, foi realizada uma missa em sua homenagem, com grande presença de fiéis.
Dr. Archimedes Lammoglia
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rchimedes Lammoglia nasceu em Salto, em 1920. Em 1942 ingressou na Escola Paulista de Medicina,
diplomando-se em 1947. Proctologista, residiu durante muitos anos no Hospital Matarazzo, em São Paulo, onde ingressou em 1938, como faxineiro, e chegou à chefia do departamento de sua especialidade anos mais tarde. Trabalhou ainda, desde sua formatura, na Santa Casa de Itu – onde atendia gratuitamente aos finais de semana. Em 1954, o dr. Lammoglia ingressou na política, sendo eleito vereador da cidade de São Paulo no ano seguinte. Em 1958 foi eleito deputado estadual, reelegendo-se várias vezes, num total de sete eleições consecutivas. Cursou também a Escola de Direito de Niterói, diplomando-se em 1960. Em 1964 foi secretário estadual da Saúde. Com sua atuação política ao longo de quatro décadas, foi reconhecido publicamente por conseguir diversos melhoramentos para sua cidade natal, da qual era notável defensor, bem como para outras cidades da região, nas quais era igualmente estimado. Archimedes Lammoglia faleceu em Salto, em 1996. A letra de “Salto Canção”, o hino oficial da cidade, é de sua autoria.
O casal Segabinazzi
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cidade de Salto foi palco de uma forma específica de tratamento da ciática durante mais de 80 anos. Giuseppe
Segabinazzi e Doralice são considerados os pioneiros nessa prática. Ao chegar aqui no início do século XX, os Segabinazzi montaram uma pensão, na atual Rua José Galvão, próxima da antiga estação ferroviária. Poucos anos após a chegada,
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Giuseppe, o marido, passou a sofrer de contínuas dores, que inclusive impediam-no de andar. Tratava-se de dor ciática. Essa
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dor geralmente sente-se desde a parte posterior da coxa até a parte posterior da panturrilha, e pode se estender aos quadris e
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aos pés. Embora tentassem, os médicos de Salto não conseguiram aliviar o sofrimento do marido de Doralice. Ela, então, decidiu recorrer a uma forma de tratamento com a qual tivera contato na Itália, em sua cidade natal, quando auxiliou um
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médico que combatia a dor ciática utilizando determinada erva. Doralice, assim, incumbiu um amigo, seu conterrâneo, de
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buscar algumas mudas de tal erva na Itália. Após algum tempo, o amigo trouxe, a bordo de um navio, três caixas com uma
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dúzia de mudas da erva cada uma. Replantadas, aqui se aclimataram bem. De posse da erva que combatia a dor ciática, Doralice pôde preparar o unguento para aliviar a dor do marido. E sob a supervisão do dr. Henrique Viscardi, médico italiano radicado em Salto desde 1902, curou outras pessoas afetadas pelo mesmo mal. Depois disso, muita gente se dirigia a Salto para se submeter ao tratamento milagroso daquele casal de italianos, que hospedava seus pacientes no hotel de sua propriedade e em outras pensões da cidade. Ao final da década de 1920, estando Giuseppe e Doralice já falecidos, o tratamento da ciática teve continuidade com uma das filhas do casal, Palmira, que se casou com João Milanez. A prática foi perpetuada por um dos filhos do casal João e Palmira – Luiz Milanez – que desde os 12 anos já auxiliava no trato dos pacientes, estendendo esse trabalho até o início da década de 1990. Nesse período, para Salto se dirigiam, a fim de tratar do mal da ciática, pessoas de diversas regiões do Brasil, de alguns países do continente americano e até mesmo do Oriente Médio.
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Grupo de pacientes em tratamento, ao tempo de João Milanez, 1938.
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Saltense e Guarani Saltense: A Associação Atlética Saltense, apelidada Gloriosa, foi fundada em 29 de março de 1936, sendo fruto da fusão de três outras agremiações existentes na cidade: Ypiranga Futebol Clube (fundado em 1927), Atlético Clube Corinthians (1928) e São Paulo Futebol Clube (1934). Essas três equipes passavam dificuldades técnicas e financeiras, o que motivou a união de forças. Do Corinthians, por exemplo, a Saltense herdou o campo da Rua Itapiru, que pertencia ao italiano Hilário Ferrari, sendo adquirido pelo clube apenas em 1951. A primeira diretoria da Saltense era composta por Benedito Silveira, João Baptista Ferrari, Vicente Scivittaro, Luiz Milanez, Emílio Chierighini e Rodolpho Nardelli. Seu quadro inicial de jogadores foi: Quenca, Américo, Rei, Aníbal, Nelo Mugnai, Mazetto, Gominho, Joãozinho Garcia, Taragim, Sebastião Fiúza e Silvino Correa de Moraes. As primeiras conquistas da Saltense se deram em âmbito local e regional, como clube amador, nos anos de 1943, 1944, 1945, 1948, 1950 e 1951 particularmente recheados de conquistas. Em 1953, o clube ingressou no profissionalismo e conquistou em 1958 o vice-campeonato da Terceira Divisão da Federação Paulista de Futebol, obtendo a promoção à Segunda Divisão. Nessa primeira fase de 11 anos no futebol profissional, a Saltense esteve por seis anos na Segunda Divisão e cinco na Terceira. Em 1965, a Gloriosa abandonou o profissionalismo, participando apenas de competições amadoras durante nove anos seguidos. Isso ocorreu em virtude da prioridade dada, em termos administrativos, ao aumento do patrimônio do clube. As piscinas e arquibancadas cobertas são obras dessa época. O retorno ao profissionalismo ocorreu em 1976. Nele, a Saltense permaneceu até 1993, embora licenciada em 1989 e 1991. Em 1994 afastou-se novamente.
Guarani: O Guarani Saltense Atlético Clube tem sua origem numa reunião de uns poucos rapazes em frente à casa que hoje leva o número 499, situada à Rua José Revel, na Vila Operária Brasital. Eles decidiram levar adiante a ideia de reunir outros 100
rapazes que vinham jogando em campos improvisados dispersos pela cidade. Os cinco idealistas eram os irmãos Mozart e Esmael de Carvalho, José Ribeiro (Zito), Luiz Zuim (Chita) e Benedito Pereira Garcia. De improviso, imediatamente
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listaram os nomes dos possíveis 22 jogadores a serem convidados a fazer parte daquela nova agremiação. No dia seguinte,
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Mozart trouxe ao conhecimento do grupo inicial a sua ideia de se batizar o clube de Guarani, dada a intenção que tinha em homenagear o compositor natural da cidade de Campinas (SP), Carlos Gomes, cuja principal obra leva esse nome.
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Os nomes de José Merlin – comerciante na Vila Teixeira –, Ernesto Perazzo e Eloy Rigolin estão ligados aos primeiros anos de administração do clube. Seguidas transferências de sede marcaram as três primeiras décadas após a
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fundação. A fixação da sede no local onde hoje se encontra, ao lado do que era sua praça esportiva, vendida e transformada em supermercado, ocorreu apenas em 1966. Essa mesma praça, como estádio improvisado – batizado como Juquiá, foi palco de diversas conquistas dos anos 1940. Ao final dessa década, foi inaugurado, equipado e nomeado o Estádio Luiz Dias da Silva, rebatizado posteriormente como Estádio João de Arruda. Em termos futebolísticos, o primeiro feito significativo do Guarani foi a conquista de uma competição estadual em 1947, após ter sido oficializado perante a Federação Paulista. Dois anos depois se sagrou campeão da cidade de Salto, em cujo âmbito obteve considerável destaque nos anos 1970, conquistando seis títulos locais.
Origem da Igreja de São Benedito
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a planta do perímetro urbano de Salto, elaborada em 1936, pode-se observar alguns aspectos da região da
cidade conhecida por Vila Nova, justamente por se tratar de uma das áreas pioneiras do avanço urbano para além dos arredores daquilo que hoje chamamos de centro velho, ou seja, o quadrilátero que tem como arestas parte do Rio Tietê, da Avenida Dom Pedro II, do Rio Jundiaí e a Rua 24 de Outubro. A Vila Nova da década de 1930 tinha na sua área mais baixa – às margens do Rio Jundiaí – um curtume e as chácaras de Domingos Lammoglia e Alexandre Silvestre. O Matadouro Municipal ocupava o espaço onde hoje se encontra a garagem da prefeitura, delimitando também a porção baixa do bairro. A própria Rua Quintino Bocaiúva se chamava Rua do Matadouro. Na parte alta da Vila Nova estava o Cemitério Municipal, ao lado da Estrada de Rodagem para Indaiatuba, agora trecho inicial da Avenida 9 de Julho. Onde hoje está localizado o prédio da prefeitura havia a caixa d'água, apenas. E a área na qual está hoje instalada a Igreja de São Benedito era denominada na referida planta como Largo São Benedito. A expansão da cidade naquela direção deve-se à construção, numa área intermediária entre o centro velho e a Vila Nova, da Vila Operária Brasital: um conjunto de 244 casas destinadas aos funcionários da tecelagem instalada às margens do Rio Tietê, construído entre 1920 e 1925. Diante da fixação desse contingente populacional nessa área da cidade, tencionava-se edificar um novo templo católico nas imediações. Tributários dessa ideia, Manoel José Ferraz de Carvalho e
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Dona Julieta Duarte, conhecidos por “casal Manduca”, tomaram a iniciativa de doar uma área de sua propriedade, na Vila
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Nova, que justamente corresponde ao Largo São Benedito – doação esta feita em fevereiro de 1924 à Irmandade do
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referido santo, existente em Salto desde as últimas décadas do século XIX. À época da doação, era pároco em Salto Arthur Leite de Souza, substituído em 1926 por João da Silva Couto. Naquele tempo, o apelo maior era em torno da construção de uma nova Igreja Matriz de Nossa Senhora do Monte Serrat, em substituição à capela que datava de fins do século XVII, já bastante acanhada frente à demanda dos fiéis, que crescia
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junto com a cidade. Assim, apesar da existência da intenção e do terreno, a edificação de uma igreja na Vila Nova ficara num segundo plano. Mais de 20 anos se passariam até o lançamento da pedra fundamental, fato que se deu em 19 de dezembro de 1948. Desse dia até a celebração da primeira missa, passariam quase nove anos. Numa época de forte apelo do catolicismo na cidade, diversas foram as campanhas e festas em prol da aquisição de material de construção para se erguer o novo templo, projetado por João Scarano, somado ao trabalho voluntário de centenas de fiéis levantando paredes e colaborando nos mais diversos serviços.
Luiz Castellari
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ascido em Salto, em 17 de abril de 1901, Luiz Castellari era filho do maestro Henrique Castellari e Luiza das
Chagas Castellari. Foi casado com Santina Castellari, com quem teve quatro filhos. Ao longo da vida, Luiz esteve atento aos problemas de sua cidade natal, tendo destacada vivência social e artística. Muito ligado às atividades musicais, militou na Corporação Musical Saltense por longo tempo. Em 1927, sendo integrante da Orquestra Itaguassu, participou da fundação da Sociedade Instrutiva e Recreativa Ideal. Foi nessa mesma década que começou a se interessar pela história de Salto. Iniciou então um apaixonado trabalho de garimpagem de fontes históricas das mais diversas. Sempre em busca de fragmentos que tratassem do passado de Salto, entrevistou antigos moradores locais ou seus descendentes diretos e vasculhou vasta bibliografia sobre o período colonial e imperial. Visitou diversos arquivos em busca de referências históricas relacionadas a Salto – como o Museu Paulista, o Museu Republicano de Itu, o Instituto Histórico e Geográfico e a Cúria Metropolitana de São Paulo. Luiz foi, reconhecidamente, o maior responsável pela descoberta e divulgação de muitos documentos importantes para a história local – especialmente os do final do século XVII e do início século XVIII, envolvendo a figura do fundador, o capitão Antonio Vieira Tavares. O historiador saltense assim justificava seu intento: “Um povo sem história é um povo morto”. E ia além: “Tomei a deliberação de compor este modesto livro, e não é meu intento apresentar uma obra histórico-literária, mas a verdadeira história de Salto, para que o povo da minha terra ressurgisse dentre aqueles que a filosofia considerava mortos”. Luiz Castellari concluiu seus escritos
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em 1942, contudo, sua obra História de Salto apenas foi publicada postumamente, em 1971.
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A antiga maternidade
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o prédio hoje ocupado pelo Atende Fácil, por cerca de 30 anos funcionou a primeira maternidade de Salto. As
salas, hoje ocupadas pelos mais diversos segmentos da administração pública municipal, eram quartos, nos quais nasceram milhares de saltenses. Em meados da década de 1940, era assunto corrente entre a população de Salto a necessidade de o município possuir uma maternidade. Em 1946, organizou-se uma comissão encarregada de realizar os primeiros estudos com o fim de se construir o prédio. Assim, a comissão criada passou a receber as primeiras doações em dinheiro. Discutia-se, naquele momento, qual seria a localização ideal para o estabelecimento. Dentre as diversas propostas, vingou aquela que situava a maternidade atrás do Grupo Escolar Tancredo do Amaral, em área adjacente ao então Posto de Puericultura, existente desde 1950 na esquina da Rua Prudente de Moraes com a Rua José Revel. Outra entidade, a Associação de Proteção e Assistência à Maternidade e Infância de Salto, criada em 1953, deu novo fôlego à iniciativa e, em 1º de maio desse ano, lançou a primeira pedra fundamental do prédio. Para isso, o presidente da Associação e então prefeito de Salto Vicente Scivittaro alienou vários bens do município, como terrenos e um veículo, para que as obras não sofressem interrupções.
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Fachada da antiga maternidade quando de sua inauguração, 1955.
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A maternidade foi inaugurada em 4 de setembro de 1955, com 24 leitos. E a população saltense lotou suas dependências, abertas para visitação nesse dia. Batizada de Maternidade Nossa Senhora do Monte Serrat, em homenagem à padroeira da cidade, era considerada, à época de sua criação, “orgulho da mulher saltense”. A associação ficou à frente da maternidade até 1967, quando sua administração passou para as mãos da prefeitura. O custo total da obra foi de 2 milhões de cruzeiros, gastando-se com a manutenção da maternidade cerca de 40 mil mensais. Boa parte do mobiliário foi obtido por meio de doações. Existia, inclusive, sobre a porta de cada quarto, o respectivo nome do doador. Foram eles: Luiz Biffi, José R. Escanho, Octávio da Rós, Alberico de Oliveira, José Frantini, José M. Servilha, D. Alzira Leal Nunes e as famílias Donalísio e Milioni.
Creche da Brasital
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prédio no qual hoje está a Secretaria da Cultura e Turismo, na esquina da Praça Antônio Vieira Tavares, com a
Rua José Weissohn, foi originalmente concebido para abrigar a creche da Brasital S/A, indústria têxtil, situada a sua frente.
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Fachada do prédio da creche da Brasital por volta de 1950.
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Alguns anos depois, a Brasital instalou uma creche, cujo prédio serviu de agência ao INSS. O padrão de tratamento dado para as crianças era excepcional. Os meus dois filhos foram cuidados nessa creche até a idade de 7 anos. A Brasital, enquanto existiu, foi chamada de mãe do Salto, e em grande parte foi mesmo. Genézio Migliori, em seu livro “Memórias de um saltense”.
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Fundada em 26 de fevereiro de 1948, por iniciativa do engenheiro Giuseppe Bianchi – procurador da Brasital naquela época –, a creche destinava-se exclusivamente aos filhos dos operários da empresa. As atividades iniciaram-se em 21 de abril do mesmo ano. Por muito tempo a creche foi dirigida por freiras vindas de São Paulo e pertencentes à ordem das Filhas de São José – que está em Salto desde a instalação do colégio Sagrada Família, em 1936. Eram elas as responsáveis por cuidar das crianças enquanto as mães trabalhavam. É costume dizer que a creche funcionou como um jardim da infância da cidade, numa época em que essa modalidade escolar ainda não existia em Salto. De início, frequentavam o espaço crianças entre 2 meses e 7 anos. Por volta de 1950, cerca de 120 crianças filhas dos operários da mantenedora eram assistidas naquele prédio. Às mães era permitido sair do serviço por alguns minutos, durante o expediente, para se dirigirem ao lactário da creche, a fim de amamentar seus filhos. Outras crianças eram alimentadas por mamadeiras preparadas pelas próprias freiras. Às maiores eram preparados mingau e sopa. E um pediatra consultava três vezes por semana as crianças que estivessem doentes. A partir de 1969, com a reorganização de seu sistema de assistência social, a Brasital limitou o atendimento a crianças com até 3 anos de idade. Em 1975, deslocou em definitivo a assistência para um de seus chalés, o que durou até quando foi vendida, em 1981, ao Grupo Santista. Em dezembro de 1986, o prédio que serviu como creche da Brasital durante 27 anos foi desapropriado pela municipalidade e, em 1991, foi cedido ao INSS, que lá permaneceu por alguns anos.
A lenda do tesouro do Salto de Ytu
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té algumas décadas atrás, na área compreendida entre o porto Góes e o antigo traçado da linha de trem da
Fepasa, eram nítidos os sinais de escavações em busca do tesouro do Salto de Ytu. Com o passar dos anos, tanto esses vestígios como o conhecimento da lenda das novas gerações se apagaram. Em Salto, a partir da cachoeira, o Rio Tietê corre por entre muitas pedras até as imediações da Ilha Grande, onde se apresenta calmo. Nesse remanso, ao sopé da colina na qual está a Rocha Moutonnée, estaria o porto Góes (ou porto do
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Góes). Existem indícios de que tal porto foi ponto de partida alternativo de algumas expedições rumo a Cuiabá – as
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monções. Alternativo porque tinham como local de partida preferencial o porto de Araritaguaba, a cidade de Porto Feliz dos
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dias de hoje. O mesmo raciocínio se aplica quando do retorno de Cuiabá, tendo-se o porto Góes como local de desembarque. Percorrer a distância entre porto Góes e Araritaguaba por água – em que pese a existência de pequenos trechos encachoeirados – teria suas vantagens, em especial o menor tempo gasto para se chegar a vilas como Itu, Parnaíba
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ou São Paulo.
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As monções eram expedições de transporte de pessoas e mercadorias diversas – como mantimentos, ferramentas, tecidos, armas e munição –, além do ouro extraído das minas descobertas nas primeiras décadas do século XVIII. E era esse ouro o carregamento principal das viagens de retorno. Em algumas ocasiões, tocaias foram armadas com o intuito de subtrair o ouro carregado por monçoeiros. E foi em torno de uma situação dessas que se constituiu a lenda do tesouro do Salto de Ytu. Tendo a informação de que um grupo de batelões subia o Rio Tietê com o intuito de alcançar o último remanso antes da cachoeira, um numeroso grupo de homens se pôs a esperar por eles na região em que o Ribeirão Guaraú, afluente da margem esquerda, deságua no Rio Tietê. Apesar do ataque surpresa, o enfrentamento teria durado dias – tempo suficiente para que o carregamento de ouro fosse enterrado entre uma pedreira e outra, dentre as tantas existentes naquele terreno. Contudo, passados alguns dias, os expedicionários recém-chegados foram derrotados, sendo dizimados por completo, acredita-se. A lenda do tesouro constituiu-se a partir desses elementos, embora não se saiba se o grupo vencedor localizou ou não o ouro enterrado; ou mesmo se alguns expedicionários do grupo derrotado teriam escapado e retornado tempos depois para recolher o produto da viagem a Cuiabá, estrategicamente escondido. O que persiste é que o tesouro, uma vez enterrado, ainda possa estar em algum local nas imediações do porto Góes...
Ilha dos Amores
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s três pequenas ilhas: Em meados de 1913, a Câmara Municipal de Salto, atendendo a uma solicitação da
Sociedade Ítalo-Americana, tecelagem instalada na margem direita do Rio Tietê, trocou três pequenas ilhas situadas logo abaixo da ponte Salto-Itu por um terreno com fundos para o rio. Dessas três ilhas, aquela situada mais próxima à cachoeira ficaria conhecida por Ilha dos Amores. Antes, em 1911, a Ítalo-Americana obtivera concessão estadual para instalar uma usina hidrelétrica nas proximidades das ilhas. Tal tecelagem foi adquirida por outro grupo industrial em 1919, a Brasital S/A. Em 1923, as ilhas cedidas dez anos antes também foram incorporadas ao patrimônio do novo grupo. Com a construção da barragem e usina de Porto Góes, as
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ilhas passaram ao controle da Companhia Ituana de Força e Luz – que assumiu, em 1927, as obras iniciadas pela própria Brasital, em 1924.
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Uma paisagem romântica: Nos anos em que esteve nas mãos da Sociedade Ítalo-Americana e da Brasital, o afloramento granítico que constituía a Ilha dos Amores – com uma configuração distinta da atual – recebeu coreto, chafariz e iluminação elétrica. Uma estreita e leve ponte de madeira foi construída, fazendo a ligação com a praça. No coreto, bem
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próximo à cachoeira, conjuntos musicais se apresentavam aos domingos, entretendo saltenses e visitantes que para cá se dirigiam. A grande enchente de 1929 destruiu a ponte que dava acesso à ilha, sendo recuperada pouco depois pelo prefeito Major José Garrido, no início dos anos 1930, utilizando-se de trilhos ferroviários como pilares. Essa ponte resistiu até 1983, quando uma nova enchente de grandes proporções a carregou. Nessa época, no espaço antes ocupado pelo chafariz, existia um minizoológico. Quando da subida das águas, na enchente de 1983, os animais que ali estavam foram resgatados às pressas. Em 1988, a Ilha dos Amores sofreu uma remodelação, assumindo os contornos externos vistos ainda hoje. Nessa mesma ocasião, uma nova ponte de acesso foi instalada – mais robusta e resistente à força das águas.
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Vista do coreto e parte da Ilha dos Amores, tendo ao fundo a barragem de Porto Góes, c.1930. 5
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Educação patrimonial Como conhecer e respeitar a história da cidade A sugestão pedagógica neste livro é composta de várias intervenções escritas, lúdicas e vivenciais para proporcionar reflexões envolvendo educação patrimonial. Realizadas em sala de aula e em espaços externos de relevância para o aprendizado em questão, a proposta consiste construir um registro dessa descoberta feita pelas crianças e adolescentes em formato de impressões e de fotografias que ajudem a contar a memória dos alunos, das famílias, do bairro e da cidade. O principal objetivo pretende que os alunos “vejam” os espaços já conhecidos com olhos de pertencimento e respeito, preservando toda a memória ali contida, compreendendo, assim, que o patrimônio é o conjunto de bens que se deixa de herança para as gerações futuras.
Os patrimônios da cidade Memória é tudo aquilo que lembramos. É tudo o que faz com que lembremos: os papéis, os instrumentos, os objetos, as músicas, os lugares... Os lugares de memória, que nos fazem lembrar a história, são patrimônios. O passado é algo que pode ser reconstruído apenas parcialmente, em pedacinhos. Um 'bem' material, um objeto ou um lugar que nos remete à memória da cidade não reconstrói o passado, pois faltam as sensações e os conflitos que ali existiram. Então para que servem os lugares e os patrimônios? Para preservar a nossa memória. A memória de uma sociedade é tudo o que podemos preservar: os testemunhos materiais e a cultura, expressa nas “formas de fazer”, como a festa tradicional da cidade ou os costumes religiosos de uma comunidade. A memória é viva, e acontece o tempo todo, como por exemplo, quando fazemos um macarrão igual ao que a nossa avó fazia. História e memória se complementam, porque a história é o conhecimento e a organização dessa memória. Mas, ter memória nem sempre é ter consciência da história. Uma pessoa que não tenha consciência da história achará uma “casinha” tombada como patrimônio histórico e cultural “bonitinha”, apenas. Ter consciência histórica é olhar para um lugar de memória, como essa “casinha,” e ver os silêncios e os conflitos que ocorreram naquele local. Os patrimônios de uma cidade não são simples pontos turísticos e precisam ser estudados como um lugar vivo de memória da sociedade. Devemos lembrar de que parte pequena do passado ficou registrada em objetos de cultura. Grande parte da memória corresponde a ausências de informações, perdas, exclusões, a tudo que não foi registrado, por não fazer parte da história que interessava a quem estava no poder, no passado. Trabalhar a história da cidade, seus patrimônios materiais e imateriais, individuais e coletivos, é uma proposta de construção de conhecimentos que será determinante na formação de crianças e adolescentes, impactando diretamente a identidade e a preservação desses locais de memória, que passam a ter significado e sentido para os alunos.
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A história da escola Ao conhecer melhor a história da escola, professores e alunos têm condições de valorizar ainda mais seu papel neste espaço social. A partir do valor que diferentes épocas associaram à escola e o conhecimento quanto à forma como seus espaços foram concebidos, há um favorecimento do reconhecimento de seu papel e do seu valor. Dessa forma, aprendemos a dar importância a escola como espaço de promoção da cidadania para todos os alunos que a frequentam. Para desenvolver um projeto de memórias e patrimônios que se inicie pela história da escola, o professor deverá reunir o maior número de informações sobre ela: biografia de patronos, depoimentos de pais, ex-alunos e profissionais, fotos antigas e documentos, por exemplo. A leitura desse material ocorrerá em sala de aula, oferecido para os alunos em pequenos grupos de trabalho. Além da leitura, o professor também solicitará que os alunos coloquem sua vivência pessoal e a importância da escola na história da sua família. O debate buscará reconstruir a história da escola, identificando sua relevância para a comunidade onde está inserida, além de considerar os principais problemas que encontra no cumprimento de seu papel. Tanto as versões individuais, aquelas produzidas em pequenos grupos, como a versão coletiva, podem ser guardadas numa pasta única, onde iremos registrar a “história redescoberta” da escola. Após a leitura, pode-se propor uma conversa sobre os seguintes assuntos: quais espaços promovem uma convivência saudável entre alunos, professores e demais educadores? O que poderia ser feito nos diferentes espaços, para que essa convivência seja mais agradável? É possível pensar em questões relacionadas à construção (luminosidade, área etc.) e também em suas condições atuais, como higiene ou conservação? A partir dessa discussão já é possível pensar em alguns projetos de recuperação de espaços de convivência, buscando soluções simples que, no entanto, contribuiriam para a percepção da escola como lugar mais humano e generoso. Os dados da pesquisa da memória da escola podem ser confrontados com a versão oficial da história da escola. Um novo texto coletivo pode ser produzido pelo grupo, dessa vez com dados amparados em documentos oficiais. É interessante comparar as ideias que o grupo tinha e o que foi descoberto na pesquisa, por exemplo: pessoas importantes na história da escola que ficaram esquecidas nos relatos; dados sobre reformas e outras mudanças ocorridas no prédio e que não haviam sido citadas; eventos importantes que aconteceram na escola ou que a mesma tenha participado e que não foram lembrados. Também é interessante perceber o silêncio dos documentos oficiais sobre alguns eventos ou pessoas que o grupo reconhece como importantes. Na produção, não se trata de dar voz unicamente àquilo que está documentado, mas de compor uma nova versão aonde as informações veiculadas nos documentos sejam complementadas por outras, que o grupo reconhece como importantes. O professor pode solicitar que alguns alunos fotografem diferentes espaços da escola que são ou que poderiam ser espaços de encontro e convivência, para incluí-lo na pasta de registro. Pode-se fotografar as pessoas interagindo nesses espaços, como também captar pontos problemáticos, que poderiam ser melhorados pela iniciativa de todos.
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Após uma boa conversa sobre os espaços da escola e as suas condições para o encontro e a convivência democrática, e a partir das fotos trazidas é possível diagnosticar a maior ou a menor capacidade desses locais de favorecer as pessoas. Uma boa conversa pode provocar os alunos: “fazemos a história dessa escola todos os dias, pensando e agindo para que ela melhore sempre, construindo nossas relações boas ou ruins e deixando nossos registros para os que virão depois de nós, para estudar e trabalhar aqui.” Para finalizar, pode-se organizar um seminário ou uma exposição com textos e imagens, destinados à comunidade para contar não só a história da escola, mas também quais formas de aprendizagens podem ser conquistadas nesse processo.
A memória dos alunos Entregue aos alunos um questionário com questões investigativas sobre a memória individual deles. Quando todos devolverem, faça uma síntese das respostas, revelando os locais de memória coletiva dos alunos (aquilo que foi citado por todos e que compreende a história do grupo). Exemplo: 1- Há quanto tempo você mora no bairro? 2- Você sempre estudou nessa escola? 3- Quais os lugares de diversão e lazer do bairro que ficarão para sempre na sua memória? 4- Qual o local do bairro mais importante no dia-a-dia de sua família? 5- Qual o local do bairro que, na sua opinião, é tão bonito que nunca deveria ser reformado ou destruído? 6- Conte uma história importante da sua memória, ocorrido na infância, em algum lugar do seu bairro. 7- Existe algum local do bairro que foi destruído ou reformado e que você tem saudades de como era antes? Explique.
A construção de mapas mentais Solicite aos alunos que desenhem um mapa, o mais detalhado possível, marcando o maior número de edifícios e locais que possam lembrar, mostrando o caminho diário entre a casa e a escola, ou do centro e o bairro, ou da cidade. Essa atividade será o instrumento provocador de reflexões sobre o olhar dos moradores da cidade: - Muito olhamos e pouco registramos na memória? - Por que não registramos tudo o que olhamos? - Alguns edifícios e locais são lembrados por todos. - Alguns edifícios são lembrados por poucos. - Por quê? Não importa o tipo de registro que os alunos tenham feito, pois isso dependerá muito da idade. As crianças da
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educação infantil, simplesmente desenharão da maneira delas aquilo que lembram no caminho. Isso também será importante. Analise todos os mapas mentais e faça uma lista dos edifícios e locais mais lembrados por todos. Esses locais são o patrimônio dessa turma. Converse com eles sobre a memória coletiva e a preservação dessa memória.
A memória das famílias Produza um pequeno texto com a história do bairro ou da cidade e envie como pretexto para a família dos alunos, juntamente com um questionário de memórias. Quando todos os questionários tiverem sido devolvidos, realize uma síntese das memórias das famílias, compartilhando com os alunos tudo o que for memória coletiva, além da tabulação com o perfil geral dos entrevistados.
Algumas sugestões: 1- Há quanto tempo a família mora no bairro ou na cidade? 2- Qual a origem da família antes de morarem no bairro ou na cidade? 3- Qual era o local utilizado para diversão e lazer no bairro ou na cidade, quando os familiares eram crianças ou adolescentes? 4- Como eram os brinquedos e as brincadeiras? 5- Quais músicas fazem a família lembrar do bairro ou da cidade no passado? 6- Quais locais do bairro ou da cidade que não existem mais, mas deixaram muitas saudades na família? 7- Quais locais do bairro ou da cidade nunca deveriam ser destruídos ou modificados, devido a sua beleza ou importância para os moradores?
(Re)conhecendo o bairro Com a lista de patrimônios do bairro nas mãos, fruto das sínteses dos alunos e das famílias, além dos mapas mentais desenhados, promova uma caminhada pelo entorno escolar, com o objetivo de “ver” melhor esta memória coletiva, além de fotografá-la. Divulgue as fotos desses patrimônios, tiradas pelos alunos, com legendas produzidas por eles contando a importância dessa memória dos moradores do bairro.
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Pesquisando as histórias Solicite que os alunos façam entrevistas com moradores do bairro ou da cidade, os mais antigos que encontrarem, de maneira a construir dados sobre a história do bairro por meio das memórias deles. Os alunos deverão solicitar aos entrevistados que emprestem documentos, fotografias e objetos que recontem as memórias compartilhadas. No caso de utilizar fotografias de pessoas, deverão solicitar autorização, por escrito, para uso da imagem em um projeto escolar e de publicação. Após a aquisição de fotografias antigas do bairro e da cidade, apreciadas pelos alunos, solicite que tentem fazer uma segunda fotografia do mesmo local da antiga, para fazerem em conjunto uma análise das mudanças e permanências. Peça que construam textos, coletivamente, a partir das histórias dos moradores entrevistados, citando as fontes de informação. Digitalize, com um scanner, as fotografias e os documentos que os entrevistados emprestaram e as que eles tiraram. Essas imagens serão inseridas no textos produzidos pelos alunos. A criação de um blog é uma maneira eficiente para socializar as memórias dos moradores do bairro, publicar os textos diversos dos alunos, expressos em opiniões, poesias, narrativas, relatórios sobre o projeto, além da publicação de fotos e vídeos.
Descobrindo os patrimônios da cidade O professor tem nas fotografias um instrumento precioso para conversar e contar histórias sobre a cidade. Essa atividade visual poderá ser realizada antes da visita ao centro histórico da cidade, preparando os alunos para realizar observações com maior qualidade. As visitas para reconhecimento dos patrimônios da cidade deverá ser realizada sob o auxílio de um roteiro definido pelo professor, de acordo com os objetivos específicos de seu trabalho. No retorno, toda a turma poderá realizar reflexões sobre as observações e anotações realizadas. Uma segunda aula com as fotografias tiradas pelos alunos. 100
Instruções para a visita ao centro histórico da cidade - Usar roupa confortável com tênis. - Levar lanche e água. - Levar caderno ou bloco com caneta para preenchimento das observações. - Levar câmera fotográfica, se possível, para registrar imagens de acordo com o roteiro sugerido. - Manter-se junto ao seu grupo e atento às instruções do professor.
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- Esclarecer as dúvidas durante o percurso ou registrá-las no bloco de observações. Percurso: os locais que serão visitados e observados serão informados pelo professor.
Roteiro para a observação - Quais os prédios que chamam mais a atenção e por quê? - Qual o prédio mais antigo da cidade? - Procurar mudanças feitas nos prédios que não combinem com eles, como janelas e portas substituídas, novos andares e novos telhados. Por que será que essas modificações foram feitas? - Observar detalhes nos prédios que dêem dicas dos seus moradores e seu uso. São ricos ou pobres? Jovens ou velhos? Quais tipos de interesses essas pessoas têm? O que o nome dos escritórios ou lojas podem revelar sobre os seus donos? - Observar os materiais de construção. Como são? Os usados nos prédios novos são os mesmos que nos prédios antigos? - Existem prédios mal conservados? O que fazer? Por que conservar? - As ruas e as praças estão bem cuidadas, tem lixo? Pichações? - Identificar os sons das ruas e dos espaços visitados. - Identificar os cheiros sentidos. - Identificar as sensações e emoções vividas durante a caminhada. - Imaginar como era a vida neste local no século XIX ou início do século XX?
Sugestões para a fotografia - Prédios antigos que necessitem de conservação. - Prédios modernos que mereçam ser protegidos no futuro. - Relações entre as pessoas no centro (registrar o que as pessoas fazem lá). - Imagens de arte, de história, dos patrimônios, das emoções vividas pelo grupo.
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Trabalhando com os hinos e as bandeiras Para promover o reconhecimento e a compreensão dos símbolos que identificam a pátria, o estado ou a cidade, o professor trabalhará os símbolos nacionais fundamentando a apropriação e o pertencimento das crianças com a história e a identidade do lugar onde mora.
O Hino Nacional, o Hino da Bandeira, o Hino do Estado e o Hino de Salto: 1- Escute com os alunos, para realizar o primeiro contato, apenas sonoro. 2- Pergunte quem conhece a música ou a letra do hino. 3- Escute novamente, com a letra do hino disponível para os alunos acompanharem a música. 4- Discuta as ideias do hino, explique sobre a época em que foi criado, sobre o autor e se ainda possui o mesmo significado. 5- Peça que os alunos procurem as palavras desconhecidas do hino, no dicionário, e explore profundamente uma estrofe por semana. 6- Proponha que os alunos ilustrem o hino e montem um painel. 7- Se tiver disponível um hino ilustrado, utilize com as crianças ainda não alfabetizadas. 8- Organize uma rotina para escutar o hino e cantá-lo. Em fase de aprendizado, diariamente, e depois de aprendido, semanalmente em algum dia estipulado para a escola toda. 9- Ensine as regras básicas de respeito aos símbolos nacionais: postura corporal adequada, silêncio durante a execução dos hinos, nem palmas ao final, a não ser que a apresentação tenha sido ao vivo com artistas. 10- Na organização do projeto, inclua o hino dos times de futebol dos alunos, que deverá ser pesquisado e compreendido tanto quanto os hinos pátrios, incluindo motivação, para compreender o aspecto de pertencimento. 11- Organize um coral para se apresentar nas datas cívicas comemorativas. 12- Organize um teatro com a história do hino. 13- Explore os conceitos e ideologias ambientais presentes no hino nacional e no hino da cidade.
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As bandeiras: 1- Para fixar os desenhos e seus significados, associe brasão, cores e símbolos com a história da bandeira. 2- Faça com os alunos a bandeira nacional e da cidade, com mosaicos de materiais recicláveis, como tampinhas, pedacinhos de todo tipo de papel e outros materiais que a criatividade inventar. 3- Desenvolva métodos de desenhos, pinturas e colagens com a bandeira. 4- Na educação infantil, use o significado das cores, as formas geométricas e crie bandeiras com massinha de modelar.
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Referências bibliográficas BOMBANA, J. M. “A origem da Brasital S/A e seu desenvolvimento”, O Trabalhador, 06/11/1974 a 15/01/1977. CASTELLARI, Luiz. História de Salto. Salto: Gráfica Taperá, 1971 [1942]. DOTTA, Mário. “Escola Anita Garibaldi (1909-1968)”, [s/d], mimeo. LIBERALESSO, Ettore. Salto - história, vida e tradição. 2ª. ed. São Paulo: Imprensa Oficial, 2000. _____________. Salto: história de suas ruas e praças. São Paulo: Imprensa Oficial, 1998. _____________. “Histórico da capela e irmandade de Nossa Senhora das Neves - Bairro do Buru” [1992], mimeo. _____________. “Arquivo”, Taperá, coluna mantida de 1990 a 2010. MERLIN, José Roberto. Salto: indústria, rio e espaço na visão de um arquiteto. Dissertação de mestrado, USP, São Carlos, 1986 (3 vol.). MIGLIORI, Genézio. Memórias de um saltense. Itu: Ottoni Editora, 2007. SINGH JR., Oséas. Adeus cinema. São Paulo: Massao Ohno, 1993. ZEQUINI, Anicleide. O quintal da fábrica. São Paulo: Annablume/FAPESP, 2004.
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Elton Frias Zanoni é licenciado em História pela Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP. Em Salto, atuou como historiador e coordenador do Museu da Cidade entre 2006 e 2010. Nesse tempo, esteve envolvido de perto com ações que resultaram na criação do Memorial do Rio Tietê, Complexo Turístico da Cachoeira, Circuito da Memória, recuperação do Museu de Rua – dentre outras. Ministrou também cursos de formação de monitores turísticos e oficinas relacionadas aos espaços de aprendizagem que ajudou a criar, voltadas a professores. Em 2010 dirigiu o vídeo-documentário O homem e a cidade, que aborda a trajetória do historiador Ettore Liberalesso. Atualmente reside no Estado de Santa Catarina, onde atua como professor de História da rede particular de Florianópolis e São José. E ainda, pela internet, administra um grupo de compartilhamento de fotos antigas da cidade de Salto, congregando centenas de saltenses num esforço contínuo de preservação da memória da cidade e de sua gente.
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