Jornal AEAMESP - edição 01

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OPINIÃO DA DIRETORIA DA AEAMESP

O QUE ESTÁ ACONTECENDO NO METRÔ ? Companhia do Metropolitano de São Paulo passa por uma fase que coloca interrogações sobre o seu futuro. Problemas financeiros, se existem, se resolvem com criatividade, cumplicidade e união. No momento em que o Governo de Estado anuncia a ampliação da malha metroviária com a construção da Linha 4 – Amarela e a iminente retomada do empreendimento Linha 2 – Verde, e o Metrô é eleito o melhor serviço prestado na RMSP, a CMSP decide diminuir seu quadro de funcionários, através de um corte linear. Todos sabem que o Metrô de SP acumulou nos seus 35 anos de existência conhecimentos que o transformaram em um dos melhores serviços públicos, porém sua política de recursos humanos enquanto desenvolvia continuamente os seus funcionários, inclusive através de planos de excelência gerencial, impediu que as áreas técnicas contratassem novos técnicos por um período de 15 anos. Como resultado, possuímos o melhor corpo técnico da área de transporte e infra-estrutura metro-ferroviária do País, porém que não teve a possibilidade de repassar seus conhecimentos de forma desejável. Uma das características de nossa Companhia é o envolvimento e a dedicação de seus funcionários, que sempre procuraram melhorar o desempenho e literalmente brigam pelo aperfeiçoamento e o crescimento da empresa. A experiência do PDV, há

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quatro anos, foi frustrante; ao final do ano seguinte tínhamos o mesmo quadro de funcionários e grandes vazios em setores técnicos. O corte indiscriminado ora proposto, sem critérios de competência, despreza os investimentos feitos em treinamento, pode desestruturar áreas altamente especializadas e compromete a autoestima de todos os metroviários. As decisões tomadas que provocaram o desequilíbrio econômicofinanceiro ainda não foram perfeitamente esclarecidas. São as demissões fundamentais? Foram esgotadas as outras possibilidades? Nós ainda não conseguimos estas respostas. empre defendemos posturas administrativas adequadas, a garantia da preservação da qualidade dos empreendimentos, a preservação do domínio e do desenvolvimento tecnológico e ambiental, a renovação dos quadros técnicos, a expansão do sistema, a manutenção dos conhecimentos adquiridos, os nossos técnicos, o Metrô e a STM. Lamentamos que, no momento em que temos uma diretoria de metroviários altamente qualificada, a qual, por meio de posicionamentos corajosos, propiciou o início de um novo ciclo de expansão, sejamos lançados neste paradoxo de expansão e demissão em momento de recessão. De uma coisa temos certeza, nem o Metrô nem o Governo do Estado ganharão com isto.

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(RE)NASCE O NOSSO JORNAL Com esta primeira edição do JORNAL AEAMESP, inaugura-se uma nova etapa do processo de comunicação com associados e organizações externas. Em momentos anteriores, tivemos 29 edições da REVISTA AEAMESP e, em seguida, cinco edições do boletim INFO AEAMESP. A proposta é retomar, com regularidade, esse trabalho de informação. E, para tanto, optou-se por definir uma trajetória bem objetiva: uma publicação com recursos gráficos mais simples e, portanto, menos onerosos, com periodicidade trimestral – patamar que deve ser aprimorado com o passar das edições, num processo que deverá envolver a participação de parceiros e anunciantes. Desde já, o JORNAL AEAMESP está aberto à participação de todos os associados. JORNAL AEAMESP No 1 PRIMAVERA DE 2003

PUBLICAÇÃO TRIMESTRAL DA ASSOCIAÇÃO DOS ENGENHEIROS E ARQUITETOS DO METRÔ DE SÃO PAULO

NÚMERO 1, PRIMAVERA DE 2003

Na sessão de abertura da 9 a Semana,Luiz Carlos David, presidente do Metrô-SP; Emiliano Affonso, presidente daAEAMESP,o secretário de Transportes Metropolitanos, Jurandir Fernandes, e o secretário nacionalde Transporte e Mobildiade Urbana, José Carlos Xavier

LUTAR POR RECURSOS PARA O TRANSPORTE PÚBLICO o analisar os resultados da 9a Semana de Tecnologia Metroviária, realizada de 2 a 5 de setembro de 2003, o presidente da AEAMESP, Emiliano Affonso, disse acreditar que o evento teve amplo êxito, não só em razão do esforço da AEAMESP, mas também em razão do apoio de todos que contribuíram para sua concretização. “Foi um sucesso, mas saímos com grande missão e responsabilidades”, disse, referindo-se aos dados sobre exclusão social relacionados com o elevado custo das tarifas, a insuficiência de transporte público e a falta de investimentos no setor. Para Emiliano, é obrigação do setor buscar a eficiência e convencer governantes e representantes no Congresso de que a alocação de recursos em transporte público não é uma despesa e sim investimento em eficiência e na inclusão social. “É o caminho para manter nossas cidades vivas, dando aos seus cidadãos e às suas economias a possibilidade de crescer e diminuir as desigualdades sociais”.

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MOMENTO. Referindo-se ao momento crítico do segmento metro-ferroviário,

assinalou que as obras praticamente pararam, a busca de recursos através do BOT (Building Operation Transfer) não deslancharam e as experiências realizadas nos últimos anos se mostraram ineficientes ou regrediram. “Estamos atrasando o pagamento de fornecedores e temos dificuldade em manter nossas equipes ou obter os recursos mínimos necessários para operarmos eficientemente e recuperarmos nossos sistemas; não há prioridade real ao transporte coletivo e nossas cidades e suas economias perdem renda, empregos e competitividade”. De todo modo, não deixou de registrar aspectos positivos, como o fato de o Metrô-SP e a CPTM evidenciarem união de propósitos, com a reunião de seus processos de planejamento em uma mesma diretoria. Disse que o esforço de recuperação da CPTM vem sendo reconhecido e sublinhou que a atuação do Metrô-SP foi considerada pela população – em pesquisa de opinião — como o melhor serviço público. A Linha 4 – Amarela deve ser iniciada ainda este ano e a continuação da Linha 2 – Verde tem aval do BNDES e deverá ter as obras retomadas em 2004. PÁGINA 1


AEAMESP PASSA A INTEGRAR CONSELHO DIRETOR DA ANTP epresentada por seu presidente, Emiliano Affonso, a AEAMESP passou a integrar o Conselho Diretor da ANTP na gestão referente ao biênio 2003-2005. A eleição do Conselho Diretor e da Diretoria da ANTP ocorreu em assembléia realizada em 15 de outubro de 2003, durante o o 14 Congresso Brasileiro de Transporte e Trânsito, em Vitória. Ao lado de outras lideranças do Movimento Nacional pelo Direito ao Transporte Público de Qualidade para Todos (MDT) e do deputado Devanir Ribeiro, da Frente Parlamentar do Transporte Público, Emiliano Affonso foi um dos debatedores na mesaredonda Conquistando a qualidade no transporte o público, em sessão do 14 Congresso da ANTP presidida pelo secretário nacional de Transporte e da Mobilidade, do Ministério das Cidades, José Carlos Xavier.

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ONZE PARCERIAS ENTRE ESTADO E PREFEITURA m 25 de setembro de 2003, houve encontro do governador Geraldo Alckmin com a prefeita Marta Suplicy, acompanhados de alguns secretários, quando anunciaram um conjunto de 11 parcerias. Os jornais informaram que, entre as medidas acordadas, está o compromisso do governador de alterar o sistema de catracas do Metrô-SP, o que permitirá que o bilhete único municipal possa ser usado nesse transporte. O Estado deverá contribuir com a extensão das avenidas JacuPêssego e Radial Leste, repassando terrenos aos municípios. A Prefeitura, por sua vez, deverá promover uma operação urbana, cujos recursos serão destinados às estações Faria Lima e Vila Sônia, da futura Linha 4 – Amarela do Metrô-SP.

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EXPANSÃO

DEPOIS DE 15 ANOS, METRÔ-SP CONTRATA UMA NOVA LINHA m 1o de outubro de 2003, o governador Geraldo Alckmin assinou os contratos para construção da Linha 4 -Amarela do Metrô-SP, anunciando que as obras serão iniciadas em janeiro de 2004. A Linha 4-Amarela vai ligar a Vila Sônia, na Zona Oeste, à Estação Luz, no Centro. A primeira etapa prevê a construção do túnel da linha inteira, com 12,8 quilômetros de extensão, e cinco estações: Butantã, Pinheiros, Paulista, República e Luz, além do pátio de manobras da Vila Sônia. A demanda prevista para o trecho, que deve ser concluído em 2007, é de cerca de 900 mil passageiros por dia. O consórcio Via Amarela, formado por CBPO, OAS, Queiróz Galvão e Alstom, é responsável pela construção dos 12,8 quilômetros de vias e estações. As obras do pátio de manutenção de Vila Sônia estarão a cargo de outro consórcio, integrado pelas empresas Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez e Siemens. A segunda etapa da Linha 4 prevê a construção das outras seis estações: Morumbi, Três Poderes, Faria Lima, Fradique Coutinho, Oscar Freire e Higienópolis, que devem ser entregues em

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2010. Para a segunda etapa, haverá um novo processo licitatório e o governo do Estado espera contar com a participação da iniciativa privada. ESTRATÉGICA. A nova linha maximizará o aproveitamento de investimentos realizados na Linha C – Celeste da CPTM e na Linha 5 – Lilás, incrementando a demanda de passageiros. Isso porque a Linha 4 – Amarela tem a estratégica função de aprimorar a interconexão do sistema metro-ferroviário na RMSP, encontrando-se com cinco linhas ferroviárias da CPTM e com as outras três linhas do Metrô. Com a Linha 4, o sistema metroviário de São Paulo vai assumir efetivamente a forma de uma rede, fazendo com que setores da cidade de São Paulo estejam cercados por linhas de metrô pelos quatro lados, com melhoria da acessibilidade a esses pontos. A futura linha balanceará a demanda, absorvendo e ajudando a distribuir os passageiros que chegarem ao complexo de estações do bairro da Luz e que desejarem seguir em direção às porções noroeste e sudoeste da cidade.

RECURSOS DO BNDES PARA METRÔ-SP E CPTM governo do Estado de São Paulo divulgou recentemente nota dando conta de que foi assegurada para o Metrô de São Paulo e para a Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) verba de R$ 154,1 milhões, para novos investimentos em suas linhas. Esse montante deve ser acrescido de contrapartida do Tesouro do Estado. Do total do financiamento, R$ 99,4 milhões mais contrapartidas serão destinados ao Metrô-SP, para

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complementação do sistema de ventilação da Linha 2 Verde (Paulista) e conclusão da impermeabilização da Estação Vila Madalena. A CPTM deverá empregar a verba no aprimoramento dos sistemas de sinalização, controle e telecomunicação em duas linhas. As melhorias deverão permitir a redução do intervalo dos trens do Expresso Leste, entre as estações Brás e Guaianazes, numa extensão de 21,8 quilômetros, aumentando a capacidade de transporte nos horários de maior movimento.

ENCONTRO DEBATE ACESSIBILIDADE NOS TRANSPORTES Secretaria Estadual dos Transportes Metropolitanos de São Paulo e as empresas a ela vinculadas – Metrô-SP, CPTM e EMTU – se unem ao Grupo de Trabalho de Acessibilidade da ANTP para realizar, nos dias 10 e 11 de novembro de 2003, no Hotel Crowne Plaza, em São Paulo, o 2 o Encontro Nacional sobre Acessibilidade nos Transportes Públicos.

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CONCEITO. O programa do evento tem como referência o conceito ampliado de acessibilidade que contempla o desenho universal para o meio urbano, envolvendo a adequação das edificações, calçadas e dos transportes. Dessa forma, qualquer cidadão com restrição de mobilidade estará incluído na cidade: idosos, gestantes, pessoas portadoras de deficiência, acidentados e outros. PAINÉIS. O encontro está organizado em grandes painéis: As Cidades Acessíveis , A Legislação e a Inclusão Social , Os Sistemas de Transporte e As Experiências Nacionais e Internacionais de Sucesso . Em cada um desses painéis haverá a participação de instituição que congrega ou atende pessoas portadoras de deficiência e com mobilidade reduzida, para estimular os debates. A intenção é discutir as principais questões relativas à acessibilidade, nos municípios e regiões metropolitanas, de pessoas com restrição de mobilidade e encaminhar possíveis ações para enfrentamento dos problemas. MAIS INFORMAÇÕES. informações mais detalhadas sobre o seminário podem ser obtidas no site da ANTP, no endereço www.antp.org.br JORNAL AEAMESP No1 PRIMAVERA DE 2003


MOMENTO

PONTO DE VISTA

TRÊS MOTIVOS PARA MANTER INTACTA A EQUIPE

RESULTADOS SUPERIORES AOS ESPERADOS

pós 15 anos sem licitações, o MetrôSP recomeça sua expansão por meio da Linha 4 e da Linha 2 . Dentro dessa perspectiva, esperamos que seja bem pensada a necessidade de demissões de técnicos da Companhia. No mínimo, por três fortes motivos, apresentados a seguir.

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1) KNOW-HOW. Se para a Companhia do Metrô é complexo reter tecnologias, muito mais tem sido para as consultoras, que sofrem muito mais cedo e mais fortemente os impactos financeiros da ausência de projetos. O know-

how metroviário está, ainda, em grande medida, no Metrô-SP. Não é sem razão que temos visto problemas de projeto, construção, manutenção e operação em linhas de metrô construídas no País. 2) OPORTUNIDADES. Se olharmos o PITU-2020 e pensarmos apenas na RMSP, desconsiderando todas as outras regiões do Estado, ainda assim veremos que há muito trabalho e por muitos anos para o Metrô-SP. 3) MELHOR RELAÇÃO CUSTO-BENEFÍCIO. Esquecendo propositalmente o novo balanço social (com

economia de R$2,4 bilhões para a RMSP), lembramos que a nossa condição, única, de estarmos, há anos, projetando e incorporando os feed-backs, negativos e positivos – nos custos, nos projetos, nas obras, na operação e na manutenção – tem trazido vantagens na implementação de novas linhas, o que compensa, de longe, o custo de manter nossa equipe de Expansão. CONFIANÇA. Temos certeza de que isto será equacionado e que 2004 e os anos posteriores serão de muito trabalho para toda a nossa equipe.

COMPANHIA

NOVOS ENGENHEIROS TRAZEM OXIGÊNIO m novembro de 2003, um grupo de 25 jovens engenheiros completa um ano de atuação no MetrôSP. Contratados para atuar em diferentes áreas da Companhia, eles provam, com seu desempenho, que a renovação é salutar e oxigena qualquer organização. Um dos engenheiros integrantes desse grupo, Nelson Lúcio Nunes, participou da 9a Semana de Tecnologia Metroviária, apresentando, ao lado de outros colegas, o trabalho Avaliação de método para estudo preliminar de impacto de vibrações oriundo de linhas metro-ferroviárias. "Gostei muito, pois foi uma oportunidade de integrar e trocar experiências", disse, ressaltando que o evento anual da AEAMESP é o que tem o foco mais concentrado nas questões metro-ferroviárias, embora se abra para o exame de temas sócio-econômicos. Sobre sua experiência pessoal como engenheiro do Metrô-SP, Nelson Lúcio Nunes disse que o processo seletivo, nos seis meses que antecederam sua contratação, foi marcado por uma natural ansiedade, mas também por muita expectativa de trabalhar na companhia. Sua relação com o Metrô era de usuário,

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embora tivesse interesse especial nessa modalidade de transporte, evidenciada em pesquisas freqüentes sobre o tema na biblioteca da faculdade. Ele afirma que, uma vez contratado e em atividade, foi grande o aprendizado, em todos os aspectos. "Entendi que o Metrô-SP não é só um projeto técnico, mas também um projeto de interesse de toda a sociedade". Ele elogia o projeto de integração elaborado pela GRH, que mostrou globalmente a companhia, fato que o auxiliou muito, inclusive no desenvolvimento de trabalhos pontuais do seu departamento. VALOR. Outro engenheiro do grupo, Marco Aurélio Abreu Peixoto, concorda que este primeiro ano de trabalho foi de um rico aprendizado sobre a realidade. Disse que todos

entraram na companhia com a visão de que era o melhor lugar do mundo para se trabalhar, mas viram que, como em outros lugares, também há dificuldades. De todo modo, acredita que o período foi gratificante e que puderam contribuir com a companhia. "Estimulados pelo trabalho necessário à Linha 4, discutimos idéias e fizemos sugestões, que, acredito, agregaram algum valor à companhia". Nelson confirma que todos realmente viveram este ano com a motivação de quem é novo, ou seja, com muita vontade de aprender, de buscar coisas novas e contribuir. "Lembro que uma das primeiras coisas que fiz foi programar uma planilha para ajudar no cálculo de gabarito. Naquele momento, eu não tinha idéia do quanto aquele esforço seria útil para a companhia", conclui.

é uma publicação da Associação dos Engenheiros e Arquitetos do Metrô de São Paulo – AEAMESP, Rua do JORNAL AEAMESP Paraíso, 67, 2 andar, 04103-000, São Paulo-SP, telefone (11)287-4565, fax (11)3285o

4509. www.aeamesp.org.br, aeamesp@aeamesp.org.br. Diretoria Executiva: Presidente: Emiliano S. Affonso Neto. 1o Vice-Presidente: José Geraldo Baião. 2o Vice-Presidente: Ivan L. Piccoli. 1o Diretor Tesoureiro: Ayres R. Gonçalves. 2o Diretor Tesoureiro: Mário De Mieri. 1o Diretor Secretário: Manoel S. Ferreira Filho. 2o Diretor Secretário: Manoel S.S. Leite. Conselho Deliberativo: Eduardo Curiati, Eduardo Maggi, José Nicodemos P. Barretos, Carlos A. Rossi, Nestor S. Tupinambá, Odécio Braga Loureiro Filho, Iria A. Hissnauer Assef, Antônio Márcio B. da Silva, Arnaldo Luiz Borges, Ivan Finimundi, Marcos Figueiredo Vicentini e Milton Carlos de Campos Vergani. Conselho Fiscal: Paulo Donini, Antônio L. Videria Costa e Jelson Antônio S. Siqueira (titulares). Conselho Consultivo: Laerte Conceição, José R. Fazzole, Luiz Felipe P. Araújo e Luiz C. Alcântara. Jornalista Responsável: Alexandre Asquini (MTb 28.624).

Eduardo Pacheco

9a Semana de Tecnologia Metroviária apresentou resultados superiores aos esperados. Nos últimos anos, o temário e participantes vêm abrindo um espaço de discussão acima das questões internas dos metroviários e ampliando sua presença na vida cultural da cidade. Este evento, em especial, torna-se marcante por duas questões principais. A primeira, um consenso de que a tecnologia não se restringe a métodos e equipamentos para bens ou serviços produzidos, mas, também, à gestão da empresa e do transporte público.

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segunda questão e também decorrente desse processo foi o lançamento do MDT – Movimento Nacional pelo Direito ao Transporte de Qualidade para Todos. A participação de metroviários nessa discussão, apesar do pouco tempo de existência da empresa, é um fato marcante no cenário nacional. Há muitos anos nosso corpo técnico tem contribuído para o desenvolvimento do parque produtivo nacional e para o desenvolvimento de órgãos, gestores e operadores, do sistema de transporte. Esse acúmulo foi de grande sustentação na defesa dos interesses maiores do transporte, como no caso da CIDE, e nunca de forma isolada e corporativa. Isso tem garantido o respeito dos usuários do sistema e o apoio cada vez maior dos diversos órgãos e instituições que pensam o transporte no Brasil.

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Eduardo Pacheco é metroviário e atua na CNTT/CUT PÁGINA 3


9a SEMANA DE TECNOLOGIA METROVIÁRIA

COM 717 PARTICIPANTES, 9a SEMANA DEBATE TECNOLOGIAS, EXPANSÃO E INCLUSÃO SOCIAL m quatro dias de atividades, 717 técnicos e autoridades do setor participaram da 9a Semana de Tecnologia Metroviária, que a AEAMESP realizou, de 2 a 5 de setembro de 2003, em São Paulo, com o tema geral Ações para a Expansão do Sistema MetroFerroviário nas Regiões Metropolitanas. Houve painéis sobre Administração da eficiência nos sistemas metro-ferroviários, Tecnologia Metro-Ferroviária – conquistas técnicas para a sociedade brasileira e Recursos

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Acima, a mesa da sessão de encerramento da 9a Semana. Ao lado, o presidente da AEAMESP concede entrevista à Rede Globo

HOMENAGEM AO AMIGO ANTÔNIO CARLOS CECHI ntecedendo à sessão de encerramento da 9a Semana, houve uma solenidade em homenagem ao amigo e colega Antônio Carlos Cechi, engenheiro, chefe de canteiro da Gerência de Construção Civil da Companhia do MetrôSP, associado e conselheiro da AEAMESP desde 1990, falecido em maio de 2003. O ato foi conduzido pelo expresidente da AEAMESP, Luiz Felipe Pacheco de Araújo. “Cechi foi uma pessoa de caráter e bondade como poucos”, disse o orador, assinalando, com um traço de carinho: “Tudo lá em cima deve estar mais bonito, porque, sem dúvida, o Cecchi arrumou um jeito de cuidar dos detalhes de acabamento do Céu”. Coube ao presidente da AEAMESP, Emiliano Affonso, entregar uma lembrança à esposa de tantos anos, Olga, e aos filhos Luiz Carlos e Daniela.

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e fontes alternativas para o transporte público sobre trilhos. Houve também oito palestras com especialistas de alto nível, alguns procedentes do Exterior; um fórum internacional, envolvendo operadoras brasileiras, do Chile, de Espanha e Portugal, além de um fórum técnico, com 24 trabalhos apresentados por equipes do Metrô-SP, de outras operadoras e empresas. Participaram da 9a Semana o secretário nacional de Transporte e Mobilidade Urbana, do Ministério das Cidades, José Carlos Xavier, o secretário dos Transportes Metropolitanos do Estado de São Paulo, Jurandir Fernandes, e o representante do Fórum Nacional dos Secretários e Dirigentes de Transporte, Francisco Macena. Na sessão de encerramento, houve o prélançamento do Movimento Nacional pelo Direito ao Transporte Público com Qualidade para Todos (MDT), que seria oficialmente lançado em 25 de setembro de 2003, em Brasília.

PRESENÇA DE OPERADORAS BRASILEIRAS ACENTUA CARÁTER NACIONAL DAS SEMANAS TECNOLÓGICAS processo de debate buscado com a realização da 9a Semana de Tecnologia Metroviária não poderia prescindir da experiência de outras operadoras atuantes no País, justamente para enriquecer os trabalhos e acentuar o caráter nacional que a AEAMESP vem imprimindo ao seu principal evento anual. Em uma das sessões da 9a Semana, o fórum internacional Realizações e Realidade do Sistema Metroferroviário Ibero-Americano apresentaram-se três operadoras brasileiras. Alexandre José Farah mostrou os planos da Rio

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Trilhos para a expansão do Metrô do Rio de Janeiro, Pedro Benvenuto fez explanação sobre o programa de modernização do trem metropolitano, empreendido pela Companhia Paulista de Trens Metropolitanos – CPTM, e Manoel Marinho expôs os planos de expansão do Metrô de Recife, o Metrorec. CONVERGÊNCIA. O diretor de Planejamento do Metrô-SP, Renato Viegas, que responde pelo planejamento do Metrô-SP e da CPTM, abordou o tema do transporte sobre trilhos na RMSP, deixando claro o caráter de

convergência e cooperação entre as duas empresas no sentido de responder aos desafios do transporte estrutural na região. PRESENÇAS. Também estiveram presentes em diferentes sessões da 9 a Semana de Tecnologia Metroviária representantes das superintendências da CBTU, responsáveis pelos sistemas em operação em João Pessoa e em Maceió; da companhia federal Trensurb, de Porto Alegre, e da companhia estadual cearense Metrofor, de Fortaleza, e, ainda, das companhias cariocas Central e Opportrans. JORNAL AEAMESP No1 PRIMAVERA DE 2003


AS EXPERIÊNCIAS DOS METRÔS DE SANTIAGO, MADRI E PORTO desenvolvimento técnico e gerencial no setor metroviário passa pelo intercâmbio com metrôs de outros países, e foi justamente por essa razão que a 9 a Semana trouxe dirigentes dos metrôs de cidades do Chile, da Espanha e de Portugal. Na sessão de instalação, o gerente-geral Rodrigo Azócar Hidalgo fez uma explanação sobre a expansão do Metrô de Santiago, um sistema que conta hoje com três linhas, totalizando 34,9 km, e é responsável pelo transporte de 800 mil

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passageiros diariamente. Falou também sobre como sua companhia conseguiu equilíbrio econômico na operação. O secretário-geral da Associação Latino-Americana de Metrôs e Subterrâneos (Alamys) e dirigente do Metrô de Madri, Aurelio Rojo Garrido, referiu-se à importância da engenharia institucional que articula governo central, comunidade de Madri e municípios em torno da capital para a sustentação de um consórcio encarregado de planificar e definir a estrutura do transporte naquela área do país.

Também participou do fórum internacional o professor doutor Manuel de Oliveira Marques, presidente da Comissão Executiva e

integrante do Conselho de Administração do Metrô do Porto, falando sobre investimentos e realizações de sua companhia.

Acima, Manuel de Oliveira Marques. Ao lado, Rodrigo Azócar e Aurelio Rojo Garrido

O QUE APRENDER NO EXTERIOR SOBRE INCLUSÃO SOCIAL? m dos pontos de realce nas exposições dos representantes de outros países nesta 9a Semana foi a possibilidade de comprovar, uma vez mais, a importância da participação de todas as esferas de governo no financiamento do transporte público. “O que verificamos como tendência mundial é o fato de a mobilidade ser mantida por investimentos a fundo perdido nas malhas estruturadoras – basicamente trens, metrôs e VLTs”, disse Emiliano Affonso, presidente da AEAMESP. Há subsídios também para a operação. Aurelio Rojo Garrido informou que o Metrô de Madri recebe uma quantia em euro por passageiro transportado. E o representante do Fórum Nacional de Dirigentes de Transporte Urbano e Trânsito, Ricardo Mendanha, mostrou que, na Europa, há subsídios de governos nacionais e locais para o barateamento das passagens. Os usuários do transporte público de Roma, por exemplo, pagam apenas 10% do custo da tarifa, sendo os restante 90% cobertos com recursos públicos. Para o conselheiro da AEAMESP, Nestor Tupinambá, a disposição dos governos de muitos países em subsidiar o transporte público reflete, naturalmente, sensibilidade social, mas também significa um entendimento claro do papel da mobilidade para o funcionamento da economia, algo que os indicadores do

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Balanço Social do Metrô-SP mostram nitidamente. TRILHOS E MOBILIDADE. a Informações trazidas à 9 Semana revelam que a exclusão social se acentua com a queda da atividade econômica e com a perda de renda, o que reduz a possibilidade de amplas camadas da população terem acesso ao transporte público. O diretor de Planejamento do Metrô-SP, Renato Viegas, contou que a série de pesquisas origemdestino decenais conduzidas pelo Metrô-SP na Região Metropolitana de São Paulo mostra crescimento da renda média da população entre 1977 e 1997, mas, na correção dos dados da última pesquisa, realizada em 2002, evidenciouse uma dramática queda na renda familiar para os mesmos níveis observados em 1977. O estudo realça a importância dos investimentos em transporte público, sobretudo em sistemas estruturadores. Contrariando o que se poderia esperar a partir da queda de renda da população, pela primeira vez na história das pesquisas origem-destino cresceu a mobilidade na RMSP. As pesquisas anteriores apresentavam como constante e crescente a perda de mobilidade e o aumento do uso do transporte individual. Na correção de 2002, voltou-se a presenciar o incremento do transporte individual, mas houve aumento da mobilidade da

população, e isso devido a investimentos feitos nos últimos anos na melhoria da malha e na qualidade dos serviços da CPTM, e à integração gratuita com o Metrô. EXCLUSÃO. Em sua exposição, Alexandre Gomide, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), assinalou que as classes D e E têm poucas condições econômicas de utilizar constantemente o transporte público urbano. No Brasil todo, isso significa mais de 50 milhões de pessoas. Na RMSP, mesmo com a melhora indicada na correção da pesquisa origemdestino, 5,3 milhões de pessoas têm dificuldades para utilizar regularmente o metrô, trem ou ônibus para trabalhar, ir à escola ou usufruir de serviços e oportunidades urbanas. Recente pesquisa do Instituto de Desenvolvimento e Informação em Transporte (Itrans), cobrindo dez regiões metropolitanas, confirmou que os deslocamentos para o trabalho ou para procurar emprego figuram entre os principais problemas de mobilidade para a população de baixa-renda. E revelou, entre muitos outros obstáculos na relação entre mobilidade e pobreza, a impossibilidade de um grande número de mães deslocarem-se com seus filhos para atividades de lazer, por falta de dinheiro e pela precariedade do atendimento de transporte.

Nas periferias do Rio de Janeiro, conforme reportagens recentemente divulgadas, um percentual dos moradores de rua tem trabalho e moradia, mas não tem recursos para voltar para casa, a não ser nos finais de semana. DESALENTO. Outro estudo detectou uma nova categoria de desempregado, referente àqueles que entram em estado de desalento, por não terem mais condições financeiras de gastar o dinheiro para os deslocamentos urbanos necessários para pleitear a re-inserção em sua área de trabalho. Esse desempregado começa gastando uma certa quantia por dia e, como não tem êxito de imediato, vai limitando as viagens à quantia disponível, até chegar o momento em que a única opção é ir a pé até os locais de possíveis empregos, o que significa não sair do próprio bairro ou imediações, reduzindo ainda mais suas oportunidades. Dessa forma, sem condições de ter acesso ao transporte, ele vê desmanchadas suas relações profissionais, as condições para exercício da cidadania e os laços familiares, sem falar que está sujeito a pagar preços mais elevados por gêneros de primeira necessidade, já que tem que se abastecer nos mercadinhos da periferia, com preços naturalmente mais elevados. PÁGINA 5


9a SEMANA DE TECNOLOGIA METROVIÁRIA

PARCEIROS VIABILIZARAM A 9a SEMANA a sessão de encerramento, o vice-presidente da AEAMESP, Ivan Piccoli, agradeceu o apoio recebido para a realização da 9a Semana de Tecnologia Metroviária. Ele mostrou os 25 logotipos que se aliaram à AEMAESP para que o evento

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pudesse se tornar uma realidade. “Uso o logotipo como uma referência simbólica, já que ele representa as diversas instituições e empresas que sempre nos apoiaram e muitas delas que a partir de agora, com certeza, passarão a nos apoiar na efetiva

No espaço de exposição da 9a Semana, painéis sobre a Linha 4 – Amarela

realização dos próximos eventos”, afirmou. APOIO. Apoiaram o evento a Secretaria de Transportes Metropolitanos, Companhia do Metropolitano de São Paulo – Metrô e a Universidade Corporativa do Metrô – UNIMETRO, Associação Brasileira da Indústria Ferroviária – ABIFER, Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia de São Paulo –CREA-SP, Sindicato Interestadual da Indústria de Materiais e Equipamentos Ferroviários e Rodoviários – SIMEFRE, Sindicato dos Engenheiros no Estado e São Paulo – SEESP. PARCEIROS. As empresas parceiras da AEAMESP na concretização da 9a Semana de Tecnologia Metroviária foram:

Alstom, Amorim, Andrade Gutierrez, Baulfour Beatty, Bombardier Transportation, Camargo Corrêa, OdebrechtCBPO Engenharia, CDM, Chauvin Armoux, Ezalpha, IER SIS Geo, IEME Brasil, MC Bauchemie Brasil, Pandrol, Siemens, OAS, Queiroz Galvão, Socicam, Teknites, Thyssen Krupp Elevadores e Trends Engenharia. EQUIPE. A Diretoria da AEAMESP agradece aos funcionários, associados e diretores diretamente envolvidos na organização da 9a Semana, incluindo os diretores de mesa, que, apesar de seu interesse pessoal em outras palestras, se dispuseram a dar o material humano à realização do evento.

TRABALHOS SOBRE TECNOLOGIA ESTARÃO DISPONÍVEIS NO SITE DA AEAMESP uando do encerramento da 9 a Semana de Tecnologia Metroviária, um considerável número de participantes destacava o conjunto de 24 trabalhos tecnológicos levados por especialistas do Metrô-SP, de outras operadoras e de empresas fornecedoras de produtos e serviços para o setor. Esses trabalhos foram apresentados, sobretudo, durante o Fórum Técnico, em sessões simultâneas das tardes dos dias 3 e 4 de setembro de 2003. José Alberto Pimenta, diretor adjunto da AEAMESP, assinala que todos esses trabalhos técnicos, bem como outras apresentações e discussões de natureza sócioeconômica, que integraram o temário da 9a Semana, estarão disponíveis a partir de novembro no endereço www.aeamesp.org.br.

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SESSÕES DO DIA 3. Na primeira sessão do dia 3, os participantes puderam optar PÁGINA 6

entre um estudo sobre a problemática de interoperação na base de comunicação do controle de trens em Nova Iorque, uma exposição sobre o novo modelo de atuação da Gerência de Construção Civil do Metrô na fiscalização de obras, um trabalho sobre manutenção centrada em confiabilidade em operadoras de metrô e uma apresentação da Alstom a respeito do conceito de “estação inteligente”. Na sessão seguinte, a escolha foi entre um trabalho sobre o sistema de medição da Linha 4 do Metrô-SP, o conceito de “estação do futuro” e uma nova solução para modernização de acionamento em corrente contínua e economia de energia. Uma das salas nessa faixa de horário teve apresentação do presidente da AEAMESP, Emiliano Affonso, sobre um tema político-institucional: as conquistas e expectativas quanto à Cide/Combustíveis. Na última sessão do dia,

houve a apresentação de uma avaliação de método para estudo preliminar do impacto de vibrações oriundo de linhas metroferroviárias e, paralelamente, em outras salas, a discussão do tema de diminuição de headway na região de PSE1, o impacto da tarifa de tração nos custos do sistema metroferroviário e a aplicação de tecnologia Gi2 para diagnóstico de rodovias, sistemas metro-ferroviários e sítios urbanos. FECHAMENTO. Em 4 de setembro, houve outras três sessões com quatro apresentações simultâneas. Inicialmente, as opções foram entre um estudo sobre qualidade e regulamento da prestação de serviço em trens da CPTM, o desenvolvimento do tema da gestão de risco em sistema de transporte de massa, novas tecnologias de injeção para tratamento de trincas e um trabalho sobre recomposição do sistema massa-mola em via

permanente, sem interrupção da operação comercial. Na segunda sessão, uma discussão sobre os destinos da Engenharia no País, um trabalho a respeito da evolução da acessibilidade no Metrô-SP, um estudo sobre o tema da nova fonte de recursos para expansão, aberta pelo Plano Diretor Estratégico da capital paulista, e um trabalho a cargo da empresa IEME Brasil sobre investigações teórico-experimentais para previsão de impactos vibroacústicos em vizinhanças de linhas metro-ferroviárias A sessão final incluiu uma apresentação sobre sistemas de transporte de média capacidade no Japão e na Espanha, uma exposição sobre a manutenção de trens no Metrô-SP, a apresentação do Metropass, um cartão “inteligente”, e uma exposição a cargo da Siemens sobre o novo sistema de sinalização CBTC, de comunicação entre o trem e equipamentos fixos de estação e a margem da via. JORNAL AEAMESP No1 PRIMAVERA DE 2003


REFLEXÕES

QUEDA NA DEMANDA DE PASSAGEIROS Rogerio Belda as cidades européias, cresce a demanda por viagens atendidas por transportes coletivos. Mesmo nos Estados Unidos, paraíso do automobilismo, começa a reversão da queda de passageiros, ocorrida durante décadas. No entanto, na metrópole de São Paulo, de 1995 a 1999, os transportes públicos perderam 37% da demanda e até o metrô sofreu uma redução de 6,6% de passageiros neste período. Nos anos posteriores, a demanda pelo metrô, junto com o trem, voltou a apresentar um crescimento superior à quase estagnação da demanda nos transportes coletivos em geral.

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rede de metrô tem se diferenciado neste quadro de redução de viagens graças a características próprias de velocidade, segurança e capacidade de transporte com impactos reduzidos sobre o ambiente, qualidades que compensam largamente as eventuais reduções de conforto nos horários de pico.

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Parte importante da perda de usuários sofrida pelos demais meios de transporte pode ser atribuída a dificuldades da situação econômica e à eclosão recente do transporte clandestino. Porém a mais duradoura influência na queda da demanda por viagens via transporte coletivo é devida ao uso de automóveis nas viagens urbanas, reforçado pelas deficiências dos serviços regulares e pelo valor elevado e crescente das tarifas nos transportes coletivos. Atualmente, metade dos deslocamentos motorizados em São Paulo é feita em automóveis. Além disso, o congestionamento crescente contribuiu também para a redução geral do número de viagens motorizadas realizadas por pessoa. queda de mobilidade sofre também influência das mudanças profundas que estão ocorrendo na sociedade. O grande progresso técnico nas comunicações reduz a

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O QUE PROPÕE O MDT MDT quer a destinação para o transporte público urbano de 25% dos recursos da CIDE/Combustíveis, administrados pelo Ministério das Cidades, com a exigência de que Estados e Municípios ofereçam contrapartidas para os investimentos e promovam a efetiva integração entre os modos de transporte. Quer uma política permanente de incentivo ao uso de combustíveis e tecnologias menos poluentes na frota de transporte público de passageiros. E, também, a desoneração dos principais insumos do setor e a instituição de tarifa específica para os sistemas sobre trilhos que utilizem energia elétrica, com a eliminação de sobre-taxação decorrente da tarifa horo-sazonal, que, num

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contra-senso, penaliza as operadoras pelo excesso de consumo de eletricidade, justamente no horário de pico do fim da tarde, quando a população volta para casa, usando os trens e metrôs. Para o movimento, é necessária a criação de fundos estaduais e municipais de transporte coletivo e isentar do ICMS todos os veículos destinados ao transporte público coletivo de passageiros. ESSENCIAL. O transporte público é essencial para a população mais pobre e, por isso, o MDT advoga tratamento tributário diferenciado para esse serviço, com a adoção das seguintes medidas: equiparação do transporte público aos gêneros alimentícios de primeira

necessidade de viagens, ainda que venha a favorecer o surgimento de outras. Muitas compras já são feitas por telefone ou internet. Hoje em dia, há mais diversões no ambiente familiar, como a televisão a cabo, internet e vídeos. Nos últimos anos, ocorreu também uma grande descentralização do comércio e serviços, que já havia sido antecedida de uma redistribuição das vagas escolares. O comércio agrupado em shoppings e supermercados, por sua vez, propicia a racionalização de viagens. Aumentará também a incipiente realização de trabalhos no próprio domicílio. stes inúmeros fatores provavelmente já contribuíam para a diminuição do número de viagens per-capita nas duas últimas décadas. Em 1977 eram feitas 1,5 viagens motorizadas por habitante. Este índice baixou para 1,32 em 1987, caindo ainda mais em 1997, para 1,23. É, cada vez mais, caro e penoso viajar na grande São Paulo.

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necessidade para fins de tributação; desoneração dos custos da folha de pagamentos das empresas de transporte público urbano (tributo sobre faturamento e não sobre os salários), e equiparação das operadoras às empresas de utilidade pública com alíquotas especiais para o setor. NA VIA. O movimento quer que os espaços viários urbanos sejam em boa medida novamente ocupados pelo transporte público, por meio da implantação de vias e faixas exclusivas. Pleiteia repartição dos custos das gratuidades com toda a sociedade, com a criação de fontes extratarifárias para essa finalidade e eliminação de gratuidades sem caráter de inclusão social. Propõe também o

ace a este quadro de redução de viagens nos transportes coletivos, é possível prever um acirramento da disputa entre empresas para conquistar passageiros em detrimento das demais, seja pela melhoria da freqüência ou conforto, seja por artifícios legais e comerciais. Esta fase, para a qual prevejo resultados limitados, deverá ser substituída por outra, caracterizada pela cooperação entre as empresas e por ações com foco nas necessidades e aspirações de deslocamento da população. Entretanto, no caso do metrô, a necessária integração em novos moldes com os outros meios de transporte necessita que seja antes solucionado o grave problema de saturação espantosamente crescente na sua única linha na região leste da cidade.

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Rogerio Belda é metroviário e vice-presidente da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP).

fortalecimento, a fiscalização e a ampliação do valetransporte, para favorecer categorias não formais da sociedade. OUTRAS. As demais propostas apresentadas pelo MDT – todas consideradas prioritárias e urgentes – são no sentido de que se garanta prioridade para o transporte público no trânsito das cidades e que os sistemas de transporte público sobre pneus e sobre trilhos recebam investimentos e programas que aumentem sua eficiência tecnológica e ambiental, propiciem maior conforto e segurança para os usuários, melhorem as condições de trabalho dos operadores e aprimorem o desempenho da gestão. Para conhecer o Manifesto e o Documento Base do MDT: www.aeamesp.org.br PÁGINA 7


RECURSOS DA CIDE NÃO ESTÃO GARANTIDOS a sessão de prélançamento do MDT, durante a 9a Semana de Tecnologia Metroviária, o secretário de Transportes Metropolitanos do Estado de São Paulo, Jurandir Fernandes, recomendou que o setor se mantenha alerta, mesmo após uma vitória preliminar obtida no processo da reforma tributária, com o acordo na Câmara Federal para que uma parcela da Cide/Combustíveis seja destinada a Estado e Municípios. “Isso foi bom, mas é preciso que tenhamos plena consciência de que esse dinheiro não vai com destinação certa para o transporte público, nem seu recebimento implica a obrigatoriedade de contrapartida de Estados e Municípios”. Disse ter o temor de que os valores dirigidos a Estados e Municípios possam, gradativamente, substituir recursos do orçamento. Afirmando que a capacidade orçamentária está sempre aquém das necessidades da administração, afirmou ser perfeitamente possível que as áreas de finanças busquem alguma substituição. Ele mencionou como exemplo as multas de trânsito, “que tinham um sentido único de aplicação e que hoje acabam cobrindo até décimo terceiro salário de municípios”.

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MOBILIZAÇÃO. Comentando as colocações de Jurandir Fernandes, Emiliano Affonso afirmou que só a mobilização do setor pode impedir que os recursos entrem por uma porta e saiam por outra. “Se mantivermos essa união, tenho a certeza de que nós vamos conseguir aumentar esses recursos e impedir que se transformem numa nova CPFM”, e complementou: “Temos que brigar, temos que estar presentes, temos que arregaçar as mangas e partir para frente. O que não podemos é esperar que os outros façam por nós o que devemos fazer”. PÁGINA 8

TRANSPORTE E INCLUSÃO SOCIAL

AEAMESP NO HISTÓRICO LANÇAMENTO DO MDT E DA FRENTE PARLAMENTAR DO TRANSPORTE PÚBLICO epresentando a AEAMESP, o presidente Emiliano Affonso integrou comitiva de 36 lideranças do setor que, no dia 25 de setembro de 2003, entregou ao vice-presidente da República, José Alencar, um conjunto de propostas para redução das tarifas e para a melhoria dos transportes coletivos. O vice-presidente recebeu também o Documento Base e o Manifesto do Movimento Nacional pelo Direito ao Transporte Público de Qualidade para Todos (MDT), e um manifesto da Frente Nacional de Prefeitos em favor de redução das tarifas. O lançamento do MDT aconteceu no próprio dia 25, na

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Câmara dos Deputados, em Brasília, numa solenidade em que também se lançou a Frente Parlamentar do Transporte Público. O MDT congrega 200 entidades, entre organizações não governamentais, empresas operadoras, associações, órgãos públicos e sindicatos. A Frente Parlamentar conta com 112 deputados e 14 senadores. COROAMENTO. O surgimento do MDT e da Frente Parlamentar coroa os esforços de mobilização do setor, iniciados em 2001 pela AEAMESP junto com a Associação Brasileira da Indústria Ferroviária (ABIFER), Sindicato dos Engenheiros do Estado de São Paulo (SEESP) e

Sindicato Interestadual da Indústria de Materiais e Equipamentos Ferroviários e Rodoviários (SIMEFRE). Essas entidades, com o apoio da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP) e outras entidades, constituíram o Grupo de Ação Pró-Transporte (GAT), lançado em 2002. Uma das conquistas do GAT foi a aprovação do projeto de lei de regulamentação da CIDE/ Combustíveis na Câmara dos Deputados e no Senado, o que garantia 75% dos recursos dessa contribuição para o Fundo Nacional de Infra-estrutura de Transportes, dos quais 25% seriam para transportes públicos – item vetado pelo governo anterior com anuência do atual.

CERIMÔNIA DE PRÉ-LANÇAMENTO NA 9a SEMANA social, refletida no trabalho multifuncional da Companhia do Metrô, por intermédio do Grupo de Mobilidade da Pessoa Portadora de Deficiência. “Trata-se de um trabalho que, por sua dedicação, pelo resultado que temos alcançado, trouxe avanços significativos”, assinalou.

No pré-lançamento, Nazareno Affonso apresenta as teses do MDT

xposição do diretorexecutivo da ANTP, Nazareno Affonso, marcou o pré-lançamento do Movimento Nacional pelo Direito ao Transporte Público de Qualidade para Todos (MDT), em 5 de setembro de 2003, na sessão de encerramento da 9a Semana. Ele fez questão de ressaltar a que foi no encerramento da 8 Semana, em 2002, que se lançou o Grupo de Ações PróTransporte (GAT), embrião do que viria a ser o MDT. O presidente da AEAMESP, Emiliano Affonso, pregou o engajamento de técnicos e trabalhadores do setor metroferroviário no MDT. “Quanto mais eu vejo os dados da crise de mobilidade e da exclusão social, inclusive com a

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impossibilidade para milhões de pessoas terem acesso ao transporte coletivo, mais acredito que nós, técnicos e trabalhadores da área, temos a obrigação de arregaçar as mangas e participar dessa mobilização”, disse. E acentuou que se trata de uma atitude fundamental para todo o País: “Longe de ser corporativista, esta é uma ação que busca corrigir o caminho que trilha a nossa economia, beneficiando toda a nossa sociedade”. Representando o presidente do Metrô-SP, Luiz Carlos David, o diretor de Operações da Companhia, Décio Tambelli, saudou a criação do MDT e aproveitou a oportunidade para ressaltar outra ação visando à inclusão

MESA. Compuseram a mesa da solenidade de prélançamento do MDT as seguintes personalidades: Décio Tambelli, Luís Cesário Amaro da Silveira, presidente da ABIFER; Valeska Peres Pinto, presidente do Sindicato dos Arquitetos do Estado de São Paulo; Murilo Celso de Campos Pinheiro, presidente do Sindicato dos Engenheiros; Luís Carlos de Alcântara, vice-presidente do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia do Estado de São Paulo (CREA-SP); Fabio Mazzeo, presidente do Metrus – Instituto de Seguridade Social; Flávio Godói, presidente do Sindicato dos Metroviários de São Paulo; Ronaldo da Rocha, diretor do Departamento Metro-ferroviário do SIMEFRE e Eduardo Pacheco, da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transporte. JORNAL AEAMESP No1 PRIMAVERA DE 2003


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