ponto de vista
Entrevista de Rogério Belda
AN P
dada a arquiteta-urbanista Heloisa Proença para o livro Visões da metrópole editado pela Secretaria de Transportes Metropolitanos de São Paulo, em 2006
Como o planejamento e a modelagem se relacionam? Rogério Belda: O problema é que nos encantamos tanto com os modelos, que eles deixam de ser um instrumento para ajudar a raciocinar e passam a se constituir no próprio objetivo do planejamento. É preciso ter sempre presente que um modelo, para ser operacional, é uma simplificação da realidade. O raciocínio humano é bem mais complexo do que as lógicas introduzidas no modelo, porém este tem vantagens, pois permite identificar inúmeras alternativas e examinar hipóteses diferentes, o que não seria possível com as limitações do raciocínio humano. Não conseguimos, por exemplo, imaginar cinco variáveis mudando ao mesmo tempo. A técnica de planejamento estratégico consiste em imaginar futuros diferentes, que servirão como pano de fundo para formular estratégias. Na linguagem técnica, seria uma estratégia robusta, aquela que sobrevive em situações diferentes, em cenários favoráveis ou desfavoráveis, esperados ou inesperados. A modelagem, então, apresenta limites? Belda: Ao aperfeiçoar o modelo, podemos ter a falsa impressão de que estamos construindo o futuro e que, a partir daí, aquele futuro estará garantido. Cheguei a ver textos que tratavam de um futuro previsto para 10 anos à frente como se aquilo já tivesse acontecido, quando se trata simplesmente de uma hipótese. Isso representa uma espécie de ilusão, pois se define um futuro maravilhoso e se fazem simulações para alcançar aquele futuro, que resultam numa rede de transporte que sempre será a mais “adequada”. Quanto mais essa rede for “estrutural” e mais exigir investimento de capital, maior é a garantia de que se vai chegar àquele futuro maravilhoso. E passase a acreditar que planejando o metrô, melhorando a ferrovia, fazendo terminais pesados de ônibus, chegaremos automaticamente à cidade saudável, equilibrada, harmoniosa, perfumada. As coisas, de fato, não têm essa ligação tão direta. Porque a mobilidade na cidade é desequilibrada. Existem 115