Ebook grandes literarios brasileiros final

Page 1

Os Grandes Literários Brasileiros

2017 Vida e obra

2º Período de letras da Universidade de Minas Gerais Ibirite Julho de 2017

0


Os Grandes Literรกrios Brasileiros

Os Grandes Literรกrios Brasileiros Por:

Elaine Fernandes, Emilly Carvalho, Fabiana Lemos, Marcelo Ferreira, Paula Pereira, Sergio Miranda, Talitha Aredes, Priscila Xavier, Wanderson Alvarenga

GRANDES LITERร RIOS BRASILEIROS Biografia e principais obras de grandes escritores brasileiros


Os Grandes Literários Brasileiros

Sumário .......................................................................................................................................................... 1 Os Grandes Literários Brasileiros .................................................................................................. 1 MACHADO DE ASSIS .................................................................................................................... 4 Introdução ........................................................................................................................................ 4 Biografia ........................................................................................................................................... 2 Bibliografia ....................................................................................................................................... 3 Machado de Assis e o Realismo .................................................................................................... 4 Machado de Assis e o Romantismo .............................................................................................. 6 JOSÉ DE ALENCAR ....................................................................................................................... 8 Introdução ........................................................................................................................................ 8 Biografia ......................................................................................................................................... 10 Bibliografia ..................................................................................................................................... 12 Movimento Literário ....................................................................................................................... 13 Características das Obras ............................................................................................................ 13 MÁRIO DE ANDRADE.................................................................................................................. 14 Introdução ...................................................................................................................................... 14 Biografia ......................................................................................................................................... 15 Bibliografia ..................................................................................................................................... 18 Romances ...................................................................................................................................... 21 Erudição musical ........................................................................................................................... 22 Principais obras publicadas .......................................................................................................... 22 ÉRICO VERÍSSIMO ...................................................................................................................... 24 Introdução ...................................................................................................................................... 24 A vida do autor .............................................................................................................................. 25 Principais obras ............................................................................................................................. 26 CECÍLIA MEIRELES ..................................................................................................................... 33


Os Grandes Literários Brasileiros

Introdução ...................................................................................................................................... 33 O início ........................................................................................................................................... 34 Cecília Meireles por ela mesma ................................................................................................... 35 CASTRO ALVES ........................................................................................................................... 38 Introdução ...................................................................................................................................... 39 Bibliografia ..................................................................................................................................... 39 Principais obras ............................................................................................................................. 42 Castro Alves e o Romantismo ...................................................................................................... 44 Castro Alves e o lirismo ................................................................................................................ 45 CLARICE LISPECTOR ................................................................................................................. 46 Introdução ...................................................................................................................................... 46 Prefácio .......................................................................................................................................... 47 Breve Biografia .............................................................................................................................. 48 Obras de Clarice Lispector ........................................................................................................... 49 MONTEIRO LOBATO ................................................................................................................... 61 Introdução ...................................................................................................................................... 61 Biografia de Monteiro Lobato ....................................................................................................... 62 Vida ................................................................................................................................................ 62 Obras.............................................................................................................................................. 63 Literatura Infantil ............................................................................................................................ 63 Outras obras - temática adulta ..................................................................................................... 64 Personagens principais ................................................................................................................ 65 CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE ...................................................................................... 66 Introdução ...................................................................................................................................... 66 Prefácio .......................................................................................................................................... 67 Biografia ......................................................................................................................................... 68 Obra Literária ................................................................................................................................. 70 Poesia/Crônica .......................................................................................................................... 70 Antologia poética ....................................................................................................................... 70 Infantis ........................................................................................................................................ 70


Os Grandes Literários Brasileiros

Prosa .......................................................................................................................................... 70 Referências .................................................................................................................................... 81

MACHADO DE ASSIS Por: Fabiana Lemos

“Trata de saborear a vida; e fica sabendo, que a pior filosofia é a do choramingas que se deita à margem do rio para o fim de lastimar o curso incessante das águas. O ofício delas é não parar nunca; acomoda-te com a lei, e trata de aproveitá-la.”

Machado de Assis

Introdução Os primeiros registros de escrita no Brasil ocorrem no ano de 1500, em meio ao processo de “descobrimento” do Brasil. Conforme afirma Alfredo Bosi, são informações colhidas pelos viajantes e missionários europeus sobre a natureza e o homem brasileiro e compartilhadas com aquela que viria a ser nossa nação colonizadora, Portugal. Ainda segundo Bosi, por apresentarem caráter informativo, há uma divergência na aceitação desses registros como textos literários. Sem pretensão de nos determos a tais divergências, exploraremos a rica produção literária brasileira, que teve aí seu início.


Os Grandes Literários Brasileiros

No desenrolar da história, ao longo dos nossos 517 anos, muitos escritores se destacaram nos mais variados Gêneros e Escolas Literárias, despontando como verdadeiros gênios literários. Dentre tantos está Joaquim Maria Machado de Assis, cronista, contista, dramaturgo, jornalista, poeta, novelista, romancista, crítico e ensaísta. Este livro tem por objetivo trazer uma breve biografia do autor, uma bibliografia destacando suas obras mais importantes e traçar um paralelo sobre suas obras e as Escolas Literárias do Realismo e Romantismo.

Biografia Joaquim Maria Machado de Assis.

Nascido em 21 de Junho de 1839, no Rio de Janeiro, mais conhecido como Machado de Assis. Filho de um descendente de escravos e de uma portuguesa, pode-se dizer que ele venceu alguns obstáculos: uma saúde frágil (era epilético), a gagueira, a falta 2


Os Grandes Literários Brasileiros

da mãe que morreu quando ele ainda era bem jovem, e aos 12 anos, fica órfão também de pai, sendo amparado por sua madrinha, Dona Maria José de Mendonça Barroso Pereira. Seus pais eram alfabetizados, fato que era incomum para a época, diante das condições financeiras nas quais viviam. Começou a trabalhar muito cedo. Em 1856 começa a trabalhar como tipógrafo, na Tipografia Nacional. Em 1858 começa a ter aulas de francês e latim, tornando-se fluente em francês. Falava também alemão e inglês. Em 1860, trabalha como redator do Diário Oficial do Rio de Janeiro. Em 1862 torna-se sócio do Conservatório Dramático Brasileiro exercendo a função não-remunerada de auxiliar de censura. É bibliotecário da Sociedade Arcádia Brasileira e colabora com o periódico quinzenal “O Futuro”, sob s supervisão de Faustino Xavier de Novais. Em 1864 publica seu primeiro livro de poesias, Crisálidas. Em 1867 começa a trabalhar como funcionário público e em 1869 casa-se com Carolina Xavier de Novais. Em 1880, após várias obras já publicadas, é designado Oficial de Gabinete do Ministério da Agricultura, iniciando o exercício do cargo em 1881. Em 1892 é promovido a DiretorGeral da Viação da Secretaria da Indústria, Viação e Obras Públicas. Em 1897 é eleito como primeiro Presidente da recém-fundada Academia Brasileira de Letras, permanecendo no cargo por mais de 10 anos. Em 1904, após 35 anos de casamento, sua esposa Carolina falece. Dedica, mais tarde, em 1906, seu mais famoso soneto “A Carolina” à ela. Em 1908, publica seu último romance “Memorial de Aires” e em 1° de junho desse mesmo ano solicita licença de suas funções para tratamento médico, falecendo em 29 de Setembro, aos 69 anos.

Bibliografia

3


Os Grandes Literários Brasileiros

Machado de Assis teve sua primeira publicação por volta dos 16 anos de idade e, a partir daí, torna-se cronista, contista, dramaturgo, jornalista, poeta, novelista, romancista, crítico e ensaísta. Principais Obras: o 1872 – Ressurreição (Romance) o 1873 – Histórias da meia-noite (Contos) o 1873 – Notícia da atual literatura brasileira: instinto de nacionalidade (Ensaiocrítico) o 1874 – A mão e a luva (Romance) o 1875 – Americanas (Poesias) o 1878 – Iaiá Garcia (Romance) o 1881 - Memórias Póstumas de Brás Cubas (Romance) o 1882 – Papéis Avulsos (Contos) o 1884 – Histórias sem data (Contos) o 1886 – Terras (Compilação para Estudo da Secretaria da Agricultura) o 1891 – Quincas Borba (Romance) o 1896 – Várias Histórias (Contos) o 1899 – Dom Casmurro (Romance) e Páginas Recolhidas (Contos) o 1901 – Poesias Completas (Coletânea de Crisálidas, Falenas e Americanas e Ocidentais) o 1904 – Esaú e Jacó (Romance) o 1908 – Memorial de Aires (Romance)

Machado de Assis e o Realismo O conto “O Caso da Vara” e o Realismo [...]Sinhá Rita tinha quarenta anos na certidão de batismo, e vinte e sete nos olhos. Era apessoada, viva, patusca, amiga de rir; mas, quando convinha, brava como diabo. Quis alegrar o rapaz, e, apesar da situação, não lhe custou muito. Dentro de pouco, ambos eles riam, ela contava-lhe anedotas, e pedia-lhe outras, que ele referia com singular graça. Uma destas, estúrdia, obrigada a

4


Os Grandes Literários Brasileiros

trejeitos, fez rir a uma das crias de Sinhá Rita, que esquecera o trabalho, para mirar e escutar o moço. Sinhá Rita pegou de uma vara que estava ao pé da marquesa, e ameaçou-a: - Lucrécia, olha a vara! A pequena abaixou a cabeça, aparando o golpe, mas o golpe não veio. Era uma advertência; se à noitinha a tarefa não estivesse pronta, Lucrécia receberia o castigo do costume. Damião olhou para a pequena; era uma negrinha, magricela, um frangalho de nada, com uma cicatriz na testa e uma queimadura na mão esquerda. Contava onze anos. Damião reparou que tossia, mas para dentro, surdamente, a fim de não interromper a conversação. Teve pena da negrinha, e resolveu apadrinhá-la, se não acabasse a tarefa. Sinhá Rita não lhe negaria o perdão... Demais, ela rira por achar-lhe graça; a culpa era sua, se há culpa em ter chiste. [...] O pior era a batina; se Sinhá Rita lhe pudesse arranjar um rodaque, uma sobrecasaca velha... Sinhá Rita dispunha justamente de um rodaque, lembrança ou esquecimento de João Carneiro. - Tenho um rodaque do meu defunto, disse ela, rindo; mas para que está com esses sustos? Tudo se há de arranjar, descanse.[...] Damião acabou de ler a carta e olhou para Sinhá Rita. Não tenho outra tábua de salvação, pensou ele. Sinhá Rita mandou vir um tinteiro de chifre, e na meia folha da própria carta escreveu esta resposta: "Joãozinho, ou você salva o moço, ou nunca mais nos vemos". Fechou a carta com obreia, e deu-a ao escravo, para que a levasse depressa. Voltou a reanimar o seminarista, que estava outra vez no capuz da humildade e da consternação. Disse-lhe que sossegasse, que aquele negócio era agora dela. - Hão de ver para quanto presto! Não, que eu não sou de brincadeiras! [...] (Machado de Assis, 1994, p. 3)

O conto chama a atenção pela detalhada descrição dos personagens ao longo da narrativa, levando o leitor a “materializar” não apenas as características físicas das personagens, mas também suas personalidades, suas fraquezas, seus defeitos. Tal caracterização física e psicológica das personagens é típica do Realismo. A descrição da menina Lucrécia, por exemplo, revela ao leitor a idade aproximada da personagem e sua condição física, descrevendo marcas de prováveis surras e apontando até mesmo para o fato de que ela não estaria bem de saúde. Sinhá Rita é descrita como uma jovem viúva, bela, de espírito alegre e personalidade forte. Com o desenrolar da história, o leitor fica na expectativa de que Damião poderia ser o “herói” que ajudaria Lucrécia a livrar-se de uma surra que levaria por motivo banal. Mas, surpreendentemente, Damião, no intento de não desagradar Sinhá Rita, e assim, não 5


Os Grandes Literários Brasileiros

gerar nenhum empecilho para que a mesma deixasse de ajudá-lo na sua questão da não volta ao seminário, o mesmo aborta sua intervenção, entregando Lucrécia à sua própria sorte. Isso demonstra claramente o Realismo, onde personagens são bem próximas às pessoas reais,

com seus defeitos e limitações. Os personagens não têm valores

idealizados, de altruísmo extremo, de caráter imaculado.

Machado de Assis e o Romantismo O conto “MISS DOLLAR” e o Romantismo [...] Mendonça desde esse momento tratou de cortejar assiduamente a viúva; Margarida recebeu os primeiros olhares de Mendonça com um ar de tão supremo desdém, que o rapaz esteve quase a abandonar a empresa; mas, a viúva, ao mesmo tempo que parecia recusar amor, não lhe recusava estima, e tratava-o com a maior meiguice deste mundo sempre que ele a olhava como toda a gente. Amor repelido é amor multiplicado. Cada repulsa de Margarida aumentava a paixão de Mendonça. [...] Correram assim três meses. A corte de Mendonça não adiantava um passo; mas a viúva nunca deixou de ser amável com ele. Era isto o que principalmente retinha o médico aos pés da insensível viúva; não o abandonava a esperança de vencê-la. [...] A viúva rompeu a capa de papel que embrulhava o volume, e pôs o livro sobre a mesa da sala; meia hora depois voltou e pegou no livro para ler. Apenas o abriu, caiu-lhe a carta aos pés. Abriu-a e leu o seguinte: Qualquer que seja a causa da sua esquivança, respeito-a, não me insurjo contra ela. Mas, se não me é dado insurgir-me, não me será lícito queixar-me? Há de ter compreendido o meu amor, do mesmo modo que tenho compreendido a sua indiferença; mas, por maior que seja essa indiferença está longe de ombrear com o amor profundo e imperioso que se apossou de meu coração quando eu mais longe me cuidava destas paixões dos primeiros anos. Não lhe contarei as insônias e as lágrimas, as esperanças e os desencantos, páginas tristes deste livro que o destino põe nas mãos do homem para que duas almas o leiam. É-lhe indiferente isso. Não ouso interrogá-la sobre a esquivança que tem mostrado em relação a mim; mas por que motivo se estende essa esquivança a tantos mais? Na idade das paixões férvidas, ornada pelo céu com uma beleza rara, por que motivo quer esconder-se ao mundo e defraudar a natureza e o coração de seus incontestáveis direitos? Perdoe-me a audácia da pergunta; acho-me diante de um enigma que o meu coração desejaria decifrar. Penso às vezes que alguma grande dor a atormenta, e quisera ser o médico do seu coração; ambicionava,

6


Os Grandes Literários Brasileiros

confesso, restaurar-lhe alguma ilusão perdida. Parece que não há ofensa nesta ambição. Se, porém, essa esquivança denota simplesmente um sentimento de orgulho legítimo, perdoe-me se ousei escrever-lhe quando seus olhos expressamente mo proibiram. Rasgue a carta que não pode valer-lhe uma recordação, nem representar uma arma. [...] Encontrou na sala Andrade e D. Antônia, que o receberam com aleluias. Mendonça parecia com efeito ressurgir de um túmulo; tinha emagrecido e empalidecido. A melancolia dava-lhe ao rosto maior expressão de abatimento. Alegou trabalhos extraordinários, e entrou a conversar alegremente como dantes. Mas essa alegria, como se compreende, era toda forçada.[...] (Machado de Assis, 1994, p. 10)

Nesse conto, Machado de Assis narra a história de um jovem e belo médico apaixonado por uma jovem e bela viúva. Pode-se notar os traços do Romantismo em vários trechos do conto. O autor trata de um amor crescente por parte do sr. Mendonça para com a jovem Margarida, que, inicialmente, demonstra-se indiferente para com ele. Tal indiferença nutre e faz crescer o sentimento do médico pela viúva, infringindo-lhe agudo sofrimento pela não-correspondência ao seu amor. O personagem também alimenta a ideia de que pudesse “curar” o coração da amada, que, porventura, tivesse experimentado desilusões, tornando-a, dessa maneira, “fechada” para o amor. Em contrapartida, a jovem Margarida, também apaixonada pelo doutor, tentava encobrir esse amor, motivada pela desilusão que sofrera ao longo de seu primeiro casamento, uma vez que o falecido marido se casara com ela por interesse em suas posses materiais e os pretendentes que apareceram após sua viuvez, se aproximaram dela pelas mesmas motivações financeiras. Percebe-se, portanto, a construção de um personagem masculino extremamente romântico, com valores e ideais honrosos e idôneos, que sofre por amor, chegando até a experimentar desfalecimento físico. Sua musa, uma jovem praticamente inatingível, o repele, por medo de corresponder ao sentimento e ser novamente ferida.

7


Os Grandes Literários Brasileiros

São traços do Romantismo, portanto, a idealização do ser amado e do sentimento de amor, o sofrimento físico gerado pela dor de alma, os personagens principais muito idôneos, sempre com condutas impecáveis e de notável beleza física.

JOSÉ DE ALENCAR Por: Wanderson Fernandes Alvarenga Silva

José de Alencar, 1870. Foto: Alberto Henschel

Introdução No Brasil, até o início dos anos de 1960, a leitura de textos literários era considerada uma obrigação natural por parte de professores e de alunos, não havendo quem questionasse o sentido do ato de ler. A Literatura no Brasil está intrinsecamente 8


Os Grandes Literários Brasileiros

ligada à Literatura portuguesa. Durante muito tempo, toda produção literária esteve subjugada ao pensamento português. A partir do Romantismo, nossa Literatura emancipou-se, alcançou sua autonomia e criou manifestações literárias próprias. Cada uma das escolas literárias apresenta características temáticas peculiares, cujos textos e autores aproximam-se em estilo e ideologia. O presente trabalho tem por finalidade destacar alguns dos grandes literários brasileiros, que promoveram a cultura de sua época e que ainda são as grandes influências no que diz respeito à literatura nacional. Nessa perspectiva, será destacado aqui um pouco da bibliografia, principais obras e o movimento literário no qual se destacou o escritor brasileiro José de Alencar, considerado o precursor do romantismo no Brasil, criador de obras com estilos variados, escreveu romances que abordam o cotidiano, sendo que uma característica marcante de sua obra é o nacionalismo, tanto nos temas quanto nas inovações no uso da língua portuguesa. Dessa forma, procuramos aqui desenvolver sobre um pouco da vida e obra do autor, não aprofundando tanto no que diz respeito à sua contribuição intelectual e cultural para a época, portanto o conteúdo aqui disposto não dispensa a leitura das obras do escritor nem o estudo de artigos e livros já conceituados que tratem da perspectiva literária da época seu contexto histórico. José de Alencar (1829-1877) foi um romancista, dramaturgo, jornalista, advogado e político brasileiro. Foi um dos maiores representantes da corrente literária indianista. Destacou-se na carreira literária com a publicação do romance "O Guarani", em forma de folhetim, no Diário do Rio de Janeiro, onde alcançou enorme sucesso. Seu romance "O Guarani" serviu de inspiração ao músico Carlos Gomes que compôs a ópera O Guarani. Foi escolhido por Machado de Assis para patrono da Cadeira nº23 da Academia Brasileira de Letras. O escritor consolidou o romance brasileiro ao escrever movido por sentimento de missão patriótica. O regionalismo presente em suas obras abriu caminho para outros sertanistas preocupados em mostrar o Brasil rural. José de Alencar criou uma literatura nacionalista onde se evidencia uma maneira de sentir e pensar tipicamente brasileiras. Suas obras são especialmente bem sucedidas quando o autor transporta a tradição indígena para a ficção. Tão grande foi a 9


Os Grandes Literários Brasileiros

preocupação de José de Alencar em retratar sua terra e seu povo que muitas das páginas de seus romances relatam mitos, lendas, tradições, festas religiosas, usos e costumes observados pessoalmente por ele com o intuito de cada vez mais abrasileirar seus textos.

Biografia José

de

Alencar

(1829-1877)

nasceu

no

sítio

Alagadiço

Novo, Messejana, Fortaleza, Ceará, no dia 1 de maio de 1829. Filho de José Martiniano de Alencar, senador do império e de Ana Josefina, em 1838 mudou-se com a família para o Rio de Janeiro. Com 10 anos de idade ingressou no Colégio de Instrução Elementar. Com 14 anos foi para São Paulo, onde terminou o curso secundário e ingressou na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco. Em 1847 escreveu seu primeiro romance "Os Contrabandistas" (obra inacabada). Em 1850 concluiu o curso de Direito, mas pouco exerceu a profissão. Ingressou no Correio Mercantil em 1854, na seção "Ao Correr da Pena", onde escreveu os acontecimentos sociais, as estreias de peças teatrais, os novos livros e as questões políticas. Em 1856 passou a ser o redator chefe do "Diário do Rio", onde publicou seu primeiro romance "Cinco Minutos". No 1 de janeiro de 1857 começou a publicar o romance "O Guarani", em forma de folhetim, que alcançou enorme sucesso e logo foi editado em livro. Em 1858 abandonou o jornalismo para ser Chefe da Secretaria do Ministério da Justiça, onde chegou a Consultor. Recebeu o título de Conselheiro. Nessa mesma época passa a lecionar Direito Mercantil. Foi eleito deputado pelo Estado do Ceará em 1861, pelo partido Conservador, sendo reeleito em quatro legislaturas. Na visita a sua terra Natal se encanta com a lenda de "Iracema" e a transforma em livro. Nas suas obras, Alencar demonstra uma preocupação com a cultura nacional. Buscando retratar o Brasil através de diferentes temáticas: indianistas, regionalistas, históricas e urbanas. Nas narrativas urbanas, costuma fazer críticas à sociedade da época, em especial à desigualdade social, um exemplo pode ser visto no livro “Senhora” As obras indianistas apresentam o índio de forma idealizada. Nas histórias de Alencar, o branco é tido como 10


Os Grandes Literários Brasileiros

o vilão e o índio como homem bom e puro. “Iracema”, de 1865, e “Ubirajara”, de 1874, continuam a temática indianista iniciada em “O Guarani”. Famoso, a ponto de ser aclamado por Machado de Assis como "o chefe da literatura nacional". José de Alencar morreu aos 48 anos no Rio de Janeiro vítima da tuberculose, deixando seis filhos, inclusive Mário de Alencar, que seguiria a carreira de letras do pai. José de Alencar faleceu no Rio de Janeiro, no dia 12 de dezembro de 1877. Academia Brasileira de Letras Grande expoente da literatura brasileira do século XIX, não alcançou a fundação do Silogeu Brasileiro. Coube-lhe, entretanto, a homenagem de ser patrono da cadeira 23 da academia. Nas discussões que antecederam a fundação da academia, seu nome foi defendido por Machado de Assis para ser o primeiro patrono, ou seja, nominar a cadeira 1. Mas não poderia haver hierarquia nessa escolha, e resultou que Adelino Fontoura, um autor quase desconhecido, veio a ser o patrono efetivo. Sobre esta escolha, registrou Afrânio Peixoto: "Novidade de nossa Academia foi, em falta de antecedentes, criarem-nos, espiritualmente, nos patronos. Machado de Assis, o primeiro da companhia, por vários títulos, quis dar a José de Alencar a primazia que tem, e deve ter, na literatura nacional. A justiça não guiou a vários dos seus companheiros. Luís Murat, por sentimento exclusivamente, entendeu honrar um amigo morto, infeliz poeta, menos poeta que infeliz, Adelino Fontoura." Machado de Assis sempre teve José de Alencar na mais alta conta e, ao fundarse a Academia Brasileira de Letras, em 1897, escolheu-o como patrono de sua cadeira. Sua obra é da mais alta significação nas letras brasileiras, não só pela seriedade, ciência e consciência técnica e artesanal com que a escreveu, mas também pelas sugestões e soluções que ofereceu, facilitando a tarefa da nacionalização da literatura 11


Os Grandes Literários Brasileiros

no Brasil e da consolidação do romance brasileiro, do qual foi o verdadeiro criador. Sendo a primeira figura das nossas letras, foi chamado “o patriarca da literatura brasileira”. Sua imensa obra causa admiração não só pela qualidade, como pelo volume, se considerarmos o pouco tempo que José de Alencar pôde dedicar-lhe numa vida curta. Faleceu no Rio de Janeiro, de tuberculose, aos 48 anos

Bibliografia Romances: 1856 – Cinco Minutos 1857 – O Guarani, A Viuvinha 1862 – Lucíola 1864 – Diva 1865 – Iracema, As Minas de Prata (1o Volume) 1866 – As Minas de Prata (2o Volume) 1870 – O Gaúcho, A Pata da Gazela 1871 – O Tronco do Ipê, A Guerra dos Mascates (1o Volume) 1872 – Sonhos d’Ouro, Til 1873 – Alfarrábios (O Garatuja, O Ermitão da Glória, Alma de Lázaro), A Guerra dos Mascates (2o Volume) 1874 – Ubirajara 1875 – Senhora, O Sertanejo 1893 – Encarnação Teatro: 1857 – O Crédito, Verso e Reverso, Demônio Familiar 1858 – As Asas de um Anjo 1860 – Mãe 1867 – A Expiação 1875 – O Jesuíta Não-ficção: 1856 – Cartas sobre a Confederação dos Tamoios 1865 – Ao Imperador: Cartas Políticas de Erasmo, Novas Cartas Políticas de Erasmo 1866 – Sistema Representativo 1874 – Ao Correr da Pena 1893 – Como e porque sou Romancista

12


Os Grandes Literários Brasileiros

Movimento Literário José de Alencar é tradicionalmente classificado como um escritor do romantismo, mais especificamente da primeira fase do movimento literário. Mas suas obras chegam a apresentar características do movimento seguinte, o realismo. As obras do autor podem ser indianistas, históricas ou urbanas. A literatura brasileira foi baseada por um longo período na literatura portuguesa, dos colonizadores. José de Alencar buscou, através de seus escritos, ressaltar uma linguagem mais nacional. Foi muito criticado pela atitude, mas a inovação ajudou a estabelecer um estilo literário com características brasileiras. Escritor de obras com estilos variados, este escritor cearense criou romances que abordam o cotidiano. Deste estilo literário, também conhecido como romance de costumes, destacam-se os livros: Diva, Lucíola e A Viuvinha. Foram também de sua autoria os romances regionalistas: O Sertanejo, O Tronco do Ipê, O Gaúcho e Til. Dos romances históricos fazem parte: As Minas de Prata e A Guerra dos Mascates. No romance indianista de José de Alencar, o índio é visto em três etapas diferentes: antes de ter contato com o branco, em Ubirajara; um branco convivendo no meio indígena, em Iracema e o índio no cotidiano do homem branco, em O Guarani. É dentro do estilo indianista do escritor José de Alencar que está sua obra mais importante: Iracema. Outra obra também considerada de grande valor literário é O Guarani, pois aborda os aspectos da formação nacional brasileira.

Características das Obras Quanto ao espaço geográfico: o sertão do Nordeste - O Sertanejo o litoral cearense - Iracema 13


Os Grandes Literários Brasileiros

o pampa gaúcho - O Gaúcho a zona rural - Til [interior paulista], O Tronco do Ipê [zona da mata fluminense] a cidade, a sociedade burguesa do Segundo Reinado - Diva, Lucíola, Senhora e os demais romances urbanos. Quanto à evolução histórica: o período pré-cabraliano - Ubirajara. a fase de formação da nacionalidade - Iracema e O Guarani. a ocupação do território, a colonização e o sentimento nativista - As Minas de Prata [o bandeirantismo] e A Guerra dos Mascates [rebelião colonial]. o presente, a vida urbana de seu tempo, a burguesia fluminense do século XIX - os romances urbanos Diva, Lucíola, Senhora e outros.

MÁRIO DE ANDRADE Por: Paula Pereira

” Escrevo sem pensar, tudo o que o meu inconsciente grita. Penso depois: não só para corrigir, mas para justificar o que escrevi.” Mário de Andrade

Introdução Convido você caro leitor a viajar comigo no universo do grande autor Mário de Andrade. Escritor, poeta e músico que teve papel importante na semana de arte moderna, evento ocorrido em 1922 que reformulou a literatura e as artes visuais no Brasil e esteve ao lado 14


Os Grandes Literários Brasileiros

de grandes personalidades do modernismo, como Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral, Anita Malfatti e Menotti del Picchia. Entre as obras mais importantes do autor, vale destacar “Amar, verbo intransitivo”, “Macunaíma” e “Paulicéia Desvairada”. O último livro, inclusive, marca o começo do modernismo literário brasileiro. O autor foi inspirado pelos movimentos que aconteciam na Europa na época, em especial o futurismo e o expressionismo. É importante perceber a importância no nacionalismo para o autor, a cultura nacional era muito presente nas obras de Andrade, apesar da inspiração europeia do princípio.

Biografia Mario Raul Morais de Andrade

Nasceu em São Paulo, cidade onde morou durante quase toda a vida no número 320 da Rua Aurora, onde seus pais, Carlos Augusto de Andrade e Maria Luísa de Almeida Leite Moraes de Andrade também haviam morado. Durante sua infância foi considerado um pianista prodígio, tendo sido matriculado no Conservatório Dramático e Musical de São Paulo em 1911. Recebeu educação formal apenas em música, mas foi autodidata em história, arte, e especialmente poesia. Dominava a língua francesa, tendo lido Rimbaud e os principais poetas simbolistas franceses durante a infância. Embora escrevesse poesia durante todo o período em que esteve no Conservatório, Andrade não pensava em fazê-lo profissionalmente até que a carreira de pianista profissional deixou de ser uma opção viável. Em 1913, seu irmão Renato, então com quatorze anos de idade, morreu de um golpe recebido enquanto jogava futebol, o que causou um profundo choque em Andrade. Ele abandonou o conservatório e se retirou com a família para uma fazenda que possuíam em Araraquara. Ao retornar, sua habilidade de tocar piano havia sido afetada por um tremor nas mãos. Embora ele houvesse se formado no Conservatório, ele não se apresentou mais e começou a estudar canto e teoria musical com a intenção de se tornar um professor de música. Ao mesmo tempo, começou a ter um interesse mais sério pela literatura. Em 1917, ano de sua formatura, publicou seu primeiro livro de poemas, Há uma Gota de Sangue em Cada Poema, sob o pseudônimo de Mário Sobral. O livro parece não ter tido um impacto significativo, e Andrade decidiu ampliar o âmbito de sua escrita. Deixou São Paulo e viajou para o campo. Iniciou uma atividade que continuaria pelo resto da vida: o meticuloso trabalho de documentação sobre a história, o povo, a 15


Os Grandes Literários Brasileiros

cultura e especialmente a música do interior do Brasil, tanto em São Paulo quanto no Nordeste Andrade também publicou ensaios em jornais de São Paulo, algumas vezes ilustrados por suas próprias fotografias, e foi, acima de tudo, acumulando informações sobre a vida e o folclore brasileiro. Entre as viagens, Andrade lecionava piano no Conservatório, havendo sido também, conforme relato de Oneyda Alvarenga, aluno de estética do poeta Venceslau de Queirós, sucedendo-o como professor no Conservatório após sua morte em 1921. Mário de Andrade compôs uma única canção, intitulada "Viola Quebrada". A composição é uma parceria de Mário com Ary Kerner. Andrade foi a figura central do movimento de vanguarda de São Paulo por vinte anos. Músico treinado e mais conhecido como poeta e romancista, Andrade esteve pessoalmente envolvido em praticamente todas as disciplinas que estiveram relacionadas com o modernismo em São Paulo, tornando-se o polímata nacional do Brasil. Suas fotografias e seus ensaios, que cobriam uma ampla variedade de assuntos, da história à literatura e à música, foram amplamente divulgados na imprensa da época. Andrade foi a força motriz por trás da Semana de Arte Moderna, evento ocorrido em 1922 que reformulou a literatura e as artes visuais no Brasil, tendo sido um dos integrantes do "Grupo dos Cinco". As ideias por trás da Semana seriam melhor delineadas no prefácio de seu livro de poesia Pauliceia Desvairada e nos próprios poemas. Depois de trabalhar como professor de música e colunista de jornal ele publicou seu maior romance, Macunaíma, em 1928. Andrade continuou a publicar obras sobre música popular brasileira, poesia e outros temas de forma desigual, sendo interrompido várias vezes devido a seu relacionamento instável com o governo brasileiro. No fim de sua vida, tornou-se o diretor-fundador do Departamento Municipal de Cultura de São Paulo formalizando o papel que ele havia desempenhado durante muito tempo como catalisador da modernidade artística na cidade e no país. Semana de Arte Moderna Ao mesmo tempo que Andrade efetuava seu trabalho como pesquisador do folclore brasileiro, fez amizade com um grupo de jovens artistas e escritores de São Paulo que, como ele, estavam interessados no modernismo europeu. Alguns deles mais tarde integrariam o chamado "Grupo dos Cinco", composto por ele próprio, os poetas Oswald de Andrade (sem relação de parentesco com Mário de Andrade, apesar da coincidência de nomes) e Menotti del Picchia, além das pintoras Tarsila do Amaral e Anita Malfatti. Malfatti havia visitado a Europa nos anos anteriores à Primeira Guerra Mundial, e introduziu o expressionismo em São Paulo.

16


Os Grandes Literários Brasileiros

Em 1922, ao mesmo tempo que preparava a publicação de Pauliceia desvairada, Andrade trabalhou com Malfatti e Oswald de Andrade na organização de um evento que se destinava a divulgar as obras deles a uma público mais vasta: a Semana de Arte Moderna, que ocorreu no Teatro Municipal de São Paulo entre os dias 11 e 18 de fevereiro. Além de uma exposição de pinturas de Malfatti e de outros artistas associados ao modernismo, durante esses dias foram realizadas leituras literárias e palestras sobre arte, música e literatura. Andrade foi o principal organizador e um dos mais ativos participantes do evento, que, apesar de ser recebido com ceticismo, atraiu uma grande audiência. Andrade, na ocasião, apresentou o esboço do ensaio que viria a publicar em 1925, a A Escrava que não É Isaura. Os membros do Grupo dos Cinco continuaram trabalhando juntos durante a década de 1920, período durante o qual a reputação deles cresceram e as hostilidade às suas inovações estéticas foram gradualmente diminuindo. Mário de Andrade trabalhou, por exemplo, na "Revista de Antropofagia", fundada por Oswald de Andrade, em 1928. Mario e Oswald de Andrade foram os principais impulsionadores do movimento modernista brasileiro, de acordo com Paulo Mendes de Almeida, que era um amigo de ambos. Missão de pesquisas folclóricas Em 1935, durante uma era de instabilidade do governo Vargas, organizou, juntamente com o escritor e arqueólogo Paulo Duarte, um Departamento de Cultura para a unificação da cidade de São Paulo (Departamento de Cultura e Recreação da Prefeitura Municipal de São Paulo), onde Andrade se tornou diretor. Em 1938 Mário de Andrade reuniu uma equipe com o objetivo de catalogar músicas do Norte e Nordeste brasileiros. Tinha como objetivo declarado, de acordo com a ata da sua fundação, "conquistar e divulgar a todo país, a cultura brasileira". O âmbito de aplicação do recém-criado Departamento de Cultura foi bastante amplo: a investigação cultural e demográfica, como construção de parques e recriações, além de importantes publicações culturais. Exerceu seu cargo com a ambição que o caracterizava: ampliar seu trabalho sobre música e folclore popular, ao mesmo tempo organizar exposições e conferências. As missões resultaram um vasto acervo registrados em vídeo, áudio, imagens, anotações musicais, dos lugares percorridos pela Missão de Pesquisas Folclóricas, o que pode ser considerado como um dos primeiros projetos multimédia da cultura brasileira. O material foi dividido de acordo com o caráter funcional das manifestações: músicas de dançar, cantar, trabalhar e rezar. Trouxe sua coleção fonográfica-cultural para o Departamento, formando uma Discoteca Municipal, que era possivelmente as melhores e maiores reunidas no hemisfério.

17


Os Grandes Literários Brasileiros

Mário em 12 de junho de 1927. Num marco do Departamento de Cultura, Claude Lévi-Strauss, então professor visitante da Universidade de São Paulo, realizou pesquisas. Outro grande evento foi a Missão de Pesquisas Folclóricas, que 1938, visitou mais de trinta localidades em seis estados brasileiros à procura de material etnográfico, especialmente na música. A missão foi interrompida, no entanto, quando, em 1938, pouco depois de instaurado o Estado Novo, por Getúlio Vargas, Mário demitiu-se do departamento. Mário de Andrade também foi um dos mentores e fundadores do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, junto com o advogado Rodrigo Melo Franco. Limitações de ordem política e financeira impediram a realização desse projeto (que seria caracterizado por uma radical investida no inventário artístico e cultural de todo o país), restringindo as atribuições do instituto, fundado em 1937, à preservação de sítios e objetos históricos relacionados a fatos políticos históricos e ao legado religioso no país. Mudou-se para o Rio de Janeiro para tomar posse de um novo posto na UFRJ, onde dirigiu o Congresso da Língua Nacional Cantada, um importante evento folclórico e musical. Em 1941 voltou para São Paulo e ao antigo posto do Departamento de Cultura, apesar de não trabalhar com a mesma intensidade que antes. Andrade morreu em sua residência em São Paulo devido a um enfarte, em 25 de fevereiro de 1945, quando tinha 52 anos. Dadas as suas divergências com o regime, não houve qualquer reação oficial significativa antes de sua morte. Foi sepultado no Cemitério da Consolação em São Paulo. Dez anos mais tarde, porém, quando foram publicadas em 1955, Poesias completas, quando já havia falecido o presidente Vargas, começou a consagração de Andrade como um dos principais valores culturais no Brasil. Em 1960 foi dado o seu nome à Biblioteca Municipal de São Paulo.

Bibliografia Obra Sua segunda obra, Pauliceia desvairada, o colocou entre os pioneiros do movimento modernista no Brasil, culminando, em 1922, como uma das figuras mais proeminentes da histórica Semana de Arte Moderna. Alguns dos seus livros de poesia mais conhecidos são: Losango cáqui, Clã do jabuti, Remate de males, Poesias e Lira paulistana. Mário de 18


Os Grandes Literários Brasileiros

Andrade foi também um excelente escritor de contos em livros como Primeiro andar (1926) e Contos Novos (1946), bem como crônicas (Os Filhos da Candinha, 1945). Poesia O "prefácio interessantíssimo" é o prefácio de Mário de Andrade ao seu próprio livro Pauliceia Desvairada, considerado a base do modernismo brasileiro. É uma espécie de manifesto poético, em versos livres .Repare-se ainda que é um texto muito assertivo, provocativo e polêmico no que é característico o Modernismo.Num estilo rápido e solto, com ideias truncadas, e que atinge um efeito de grande dinamismo. Mário de Andrade luta por uma expressão nova, por uma expressão que não esteja agarrada a formas do passado: "escrever arte moderna não significa jamais para mim representar a vida atual no que tem de exterior: automóveis, cinema, asfalto." Losango cáqui (publicado em 1926, mas escrito em 1922), continua na mesma linha do trabalho anterior. Em Clã do jabuti (1927) e Remate de males (1930), faz amplo uso da sua pesquisa etnográfica. Desde 1930, coincidindo com a Revolução de 1930, a sua poesia sofre mudanças. Parte do seu trabalho posterior, como Poesia (1942), é resvala para um tom mais íntimo e sereno, embora mantenha uma outra linha de acusação e de política social, com obras como O Carro da miséria e Lira paulistana(1946). Ode ao Burguês Eu insulto o burguês! O burguês-níquel o burguês-burguês! A digestão bem-feita de São Paulo! O homem-curva! O homem-nádegas! O homem que sendo francês, brasileiro, italiano, é sempre um cauteloso pouco-a-pouco! Eu insulto as aristocracias cautelosas! Os barões lampiões! Os condes Joões! Os duques zurros! Que vivem dentro de muros sem pulos, e gemem sangue de alguns mil-réis fracos 19


Os Grandes Literários Brasileiros

para dizerem que as filhas da senhora falam o francês e tocam os “Printemps” com as unhas! Eu insulto o burguês-funesto! O indigesto feijão com toucinho, dono das tradições! Fora os que algarismam os amanhãs! Olha a vida dos nossos setembros! Fará Sol? Choverá? Arlequinal! Mas à chuva dos rosais o êxtase fará sempre Sol! Morte à gordura! Morte às adiposidades cerebrais! Morte ao burguês-mensal! Ao burguês-cinema! Ao burguês-tiburi! Padaria Suíssa! Morte viva ao Adriano! “— Ai, filha, que te darei pelos teus anos? — Um colar… — Conto e quinhentos!!! Más nós morremos de fome!” Come! Come-te a ti mesmo, oh! gelatina pasma! Oh! purée de batatas morais! Oh! cabelos nas ventas! Oh! carecas! Ódio aos temperamentos regulares! Ódio aos relógios musculares! Morte à infâmia! Ódio à soma! Ódio aos secos e molhados Ódio aos sem desfalecimentos nem arrependimentos, 20


Os Grandes Literários Brasileiros

sempiternamente as mesmices convencionais! De mãos nas costas! Marco eu o compasso! Eia! Dois a dois! Primeira posição! Marcha! Todos para a Central do meu rancor inebriante! Ódio e insulto! Ódio e raiva! Ódio e mais ódio! Morte ao burguês de giolhos, cheirando religião e que não crê em Deus! Ódio vermelho! Ódio fecundo! Ódio cíclico! Ódio fundamento, sem perdão! Fora! Fu! Fora o bom burguês!… De Paulicéia desvairada (1922) Mário de Andrade

Romances Ele foi o autor de dois romances: Amar, verbo intransitivo (1927) e Macunaíma (1928). O primeiro causou um escândalo na época, uma vez que reconta a iniciação sexual de um adolescente com uma mulher madura, uma alemã contratada pelo pai do jovem. O segundo, desde sua primeira edição, é apresentado pelo autor como uma rapsódia, e não como romance, é considerado um dos romances capitais da literatura brasileira. O protagonista, Macunaíma, é chamado de "o herói sem nenhum caráter". “Macunaíma Macunaíma nasce e já manifesta sua principal característica: a preguiça. O herói vive às margens do mítico rio Uraricoera com sua mãe e seus irmãos, Maanape e Jiguê, numa tribo amazônica. Após a morte da mãe, os três irmãos partem em busca de aventuras. Macunaíma encontra Ci, Mãe do Mato, rainha das Icamiabas. Depois de dominá-la, com a ajuda dos irmãos, faz dela sua mulher, tonando-se assim imperador do Mato Virgem. O herói tem um filho com Ci e esse morre, ela morre também e é transformada em estrela. Antes de morrer dá a Macunaíma um amuleto, a muiraquitã (pedra verde em forma de sáurio), que ele perde e que vai parar nas mãos do mascate peruano Venceslau Pietro 21


Os Grandes Literários Brasileiros

Pietra, o gigante Piaimã, comedor de gente. Como o gigante mora em São Paulo, Macunaíma e seus irmãos vão para lá, na tentativa de recuperar a muiraquitã. Após falhar com o plano de se vestir de francesa para seduzir o gigante e recuperar a pedra, Macunaíma foge para o Rio de janeiro. Lá encontra Vei, a deusa sol, e promete casamento a uma de suas filhas, mas namora uma portuguesa e enfurece a deusa. Depois de muitas aventuras por todo o Brasil na tentativa de reaver a sua pedra, o herói a resgata e regressa para a sua tribo. Ao fim da narrativa, vem a vingança de Vei: ela manda um forte calor, que estimula a sensualidade do herói e o lança nos braços de uma uiara traiçoeira, que o mutila e faz com que ele perca de novo – dessa vez irremediavelmente – a muiraquitã. Cansado de tudo, Macunaíma vai para o céu transformado na Constelação da Ursa Maior.”

Erudição musical Em 1928 publicou Ensaio sobre a Música Brasileira. Dois anos após, seus poemas "Mulher" e "Noturno de Belo Horizonte" são lidos, pelo professor da Cadeira de Estudos Brasileiros da Faculdade de Letras de Coimbra, Manoel de Souza Pinto, na conferência Poesia Moderníssima do Brasil. Em 1938 transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde exerceu o cargo de diretor do Instituto de Artes na antiga Universidade do Distrito Federal (hoje Universidade Estadual do Rio de Janeiro). Regressando a São Paulo em 1942, regeu durante muitos anos a cadeira de História da Música no Conservatório Dramático e Musical. Possuidor de uma cultura ampla e profunda erudição, foi o fundador e primeiro diretor do Departamento de Cultura de São Paulo da Prefeitura Municipal de São Paulo, onde implantou a Sociedade de Etnologia e Folclore, o Coral Paulistano e a Discoteca Pública Municipal - a "Discoteca Oneyda Alvarenga".

Principais obras publicadas •

Há uma Gota de Sangue em Cada Poema, 1917

22


Os Grandes Literários Brasileiros

Pauliceia Desvairada, 1922

A Escrava que não É Isaura, 1925

Losango Cáqui, 1926

Primeiro Andar, 1926

O clã do Jabuti, 1927

Amar, Verbo Intransitivo, 1927

Ensaios Sobra a Música Brasileira, 1928

Macunaíma, 1928

• Compêndio Da História Da Música, 1929 (Reescrito Como Pequena História Da Música Brasileira, 1942) •

Modinhas Imperiais, 1930

Remate De Males, 1930

Música, Doce Música, 1933

Os Contos de Belasarte, 1934

O Aleijadinho de Álvares De Azevedo, 1935

Lasar Segall, 1935

Música do Brasil, 1941

Poesias, 1941

O Movimento Modernista, 1942

O Baile das Quatro Artes, 1943

Os Filhos da Candinha, 1943

Aspectos da Literatura Brasileira 1943

O Empalhador de Passarinhos, 1944

Lira Paulistana, 1945

O Carro da Miséria, 1947 23


Os Grandes Literários Brasileiros

Contos Novos, 1947

O Banquete, 1978

Dicionário Musical Brasileiro, 1989

Será o Benedito!, 1992

Introdução à estética musical, 1995

ÉRICO VERÍSSIMO Por: Emilly Carvalho

Introdução Érico Veríssimo é um dos grandes nomes da literatura brasileira e um dos maiores representantes do sul do país no modernismo. Natural do Rio Grande do Sul, o autor costumava colocar o estado nos contos, crônicas e romances que escrevia. Diferentemente de outros escritores do movimento literário, no entanto, não utilizava uma linguagem caracterizada pelo regionalismo. A obra mais importante de Veríssimo é “O Tempo e o Vento”, uma trilogia histórica que chegou a ser adaptada para a televisão. “Incidente em Antares” e “Olhai os Lírios do Campo” também receberam versões televisivas. Veríssimo era de família rica e tradicional, mas que perdeu tudo no começo do século. Diante das dificuldades que sua família viveu, Érico concluiu o 1° grau em Porto Alegre e então voltou a sua cidade, onde começou a trabalhar como bancário, e em seguida, aceitando uma proposta de um amigo de seu pai, como sócio de uma farmácia. Na mesma época, dava aulas de literatura e inglês, e começou a namorar sua futura esposa, Mafalda. Começou a trabalhar como desenhista e, após um período, ingressou na Editora Globo no cargo de Secretário do Departamento Editorial. Percorreu uma trajetória literária significativa e marcante para o Brasil recebendo diversos prêmios. A casa onde nasceu foi transformada em museu no ano de 1969. O autor faleceu em 1975, vítima de enfarte, deixando sua autobiografia incompleta e o filho Luis Fernando Veríssimo que

24


Os Grandes Literários Brasileiros

seguiu a carreira do pai e se estabeleceu como escritor, assim, não deixando que a história iniciada pelo pai morresse junto com ele.

A vida do autor “Em geral quando termino um livro encontro-me numa confusão de sentimentos, um misto de alegria, alívio e vaga tristeza. Relendo a obra mais tarde, quase sempre penso ‘Não era bem isto o que queria dizer’.” (O escritor diante do espelho)

Érico Lopes Veríssimo nasceu no interior do Rio Grande do Sul, no município de Cruz Alta, no dia 17 de dezembro de 1905. Seus pais, Sebastião Veríssimo da Fonseca e Abegahy Lopes, provinham de família abastada e tradicional, contudo, perderam grande parte dos bens, motivo pelo qual Érico começou a trabalhar na juventude para ajudar sua família.

Desde cedo já era claro seu interesse pela literatura, de maneira que chegou a ler diversos clássicos brasileiros e estrangeiros. Estudou no Colégio Elementar Venâncio Aires e, em 1920, muda-se para a capital, Porto Alegre donde esteve matriculado no Colégio Interno Protestante Cruzeiro do Sul.

A separação de seus pais, em 1922, o leva a trabalhar desde cedo como balconista, numa seguradora e mais tarde, no Banco Nacional do Comércio. De volta à sua cidade natal, torna-se sócio, junto a um amigo da família, da Pharmacia Central, em 1926. Entretanto, o negócio local chega a falir em 1930, momento crucial para alavancar sua carreira literária, uma vez que decide voltar à Porto Alegre e viver de seus escritos. Nessa época, chegou a se envolver com escritores renomados, sendo contratado para ocupar o cargo de secretário de redação da “Revista do Globo” e mais tarde, foi 25


Os Grandes Literários Brasileiros

promovido diretor da revista e indicado para gerente do departamento editorial da “Livraria do Globo”.

Além disso, colaborou com os jornais “Diário de Notícias” e “Correio do Povo” e foi eleito presidente da Associação Rio-Grandense de Imprensa. Em 1931 casou-se com Mafalda Halfen Volpe com quem teve dois filhos, Clarissa e Luís Fernando. Diante da censura imposta pelo Estado Novo, no início da década de 40, muda-se para os Estado Unidos e começa lecionar Literatura e História do Brasil (19431945), no Mills College, de Oakland, Califórnia. Dessa instituição, recebeu o Título Doutor Honoris Causa, em 1944. Em 1953, ocupou o cargo de Diretor do Departamento de Assuntos Culturais da União Pan-Americana em Washington, donde permanece até 1956. Falece 29 de novembro de 1975, com 69 anos, em Porto Alegre, vítima de infarto.

Principais obras O autor em questão possui uma vasta obra dentre contos, romances, novelas, ensaios, literatura infanto-juvenil, biografias, autobiografias, traduções. Alguns pesquisadores afirmam que a obra de Érico Veríssimo pode ser dividida em três fases, a saber: romance urbano, romance histórico e romance político.

Acompanhe a seguir uma seleção de suas principais obras acompanhadas de um breve resumo.

CLARISSA Clarissa é o grande clássico de Érico Veríssimo. Sua segunda obra e primeiro romance de nome “Clarissa”, 1933, pertence a segunda fase modernista literária do Brasil. Ele faz um retrato real e sem muito drama da passagem da adolescente Clarissa para a vida adulta.

26


Os Grandes Literários Brasileiros

Aos 13 anos Clarissa se muda de uma cidade do interior para a capital, onde vai estudar para ser professora. Ela se muda para a pensão de sua tia Eufrasina. O livro mostra através do olhar otimista da jovem o cotidiano em que ela vive, e como enxerga as pessoas que moram ali. A obra faz um retrato do Brasil na década de 1930 e tenta mostrar as mudanças que aconteciam naquele período. Acredita-se que a cidade para qual Clarissa se muda é Porto Alegre devido a algumas descrições, no livro o autor não especifica a localidade. Na pequena pensão ela conhece a infiel Ondina e seu marido Barata; Tonico um menino com deficiência física e sua mãe Dona Tatá; Levinsky, um judeu comunista e; o músico Amaro que é apaixonado por Clarissa. Amaro é um personagem que chama atenção, ele é um bancário que sonha em ser pianista e está sempre compondo. Ele possui uma paixão secreta e platônica por Clarissa. A personagem principal se torna amiga de Tonico, um menino deficiente que tem apenas a mãe, uma pessoa simples que precisa trabalhar de costureira para sustentar o filho. Clarissa chega a ter contato com o Dr. Maia que mora na casa rica ao lado da pensão. Quando o menino Tonico morre, ela passa a fantasiar um romance com ele. Não há grandes reviravoltas ou emblemas dramáticos nesta obra. A menina relata com naturalidade e certa inocência o que acontece a sua volta, a única grande revelação da obra é quando ela descobre que dona Ondina é casada com um caixeiro viajante, Barata, e possui um caso com Nestor, um solteirão de boa vida. A maneira como Veríssimo narra a história prende o leitor, assim como a riqueza de detalhes, é possível ter uma ideia de como eram as coisas no Brasil durante esse período. CAMINHOS CRUZADOS Caminhos Cruzados foi o segundo romance de Érico Veríssimo a ser publicado, embora, segundo Moisés Vellinho, não tenha sido o segundo a ser escrito (Música ao longe, embora tenha sido publicado posteriormente, teria sido escrito antes). Veio a público em 1935, tendo ganho o prêmio literário da Fundação Graça Aranha neste mesmo ano. Romance urbano de introspecção psicológica, Caminhos Cruzados é um interessante painel das diversas camadas que compunham a sociedade brasileira à época do governo de Getúlio Vargas (1930-1945), que subiu ao poder no bojo da chamada Revolução de 30. No prefácio que escreveu em 1964, o autor o considerou Caminhos Cruzados “um livro de protesto que marca a inconformidade do romancista ante as desigualdades, injustiças e absurdos da sociedade burguesa”, a uma época em que a grande noite do terror descia sobre a Nação brasileira mais uma vez com a volta dos militares ao poder. 27


Os Grandes Literários Brasileiros

MUSICA AO LONGE Publicado em 1936, Música ao Longe é um romance que faz parte da série de romances onde vemos Clarissa, Caminhos Cruzados e Um Lugar ao Sol. Música ao Longe ocupa um lugar definitivo na literatura brasileira e é uma dessas obras inteiramente realizadas, que tanto são lidas pelo seu valor intrínseco como pelo justo renome que possuem. Descrito pelo ângulo da personagem, a jovem Clarissa caminha para a maturidade. Ela, antes uma menina descrita no romance homônimo, agora é uma jovem professora primária em sua cidadezinha do interior e lá retrata sua vida, olhada com seus olhos ingênuos, mas muitas vezes críticos. As páginas do diário de Clarissa revelam seu mundo interior, muitas vezes inquieto, principalmente pelo amor que seu primo, Vasco, desperta nela e que ela muitas vezes não entende. Nas palavras de seu poeta preferido, Clarissa assim define seu amor por Vasco: “O amor que ainda não se definiu é como uma melodia de desenho incerto. Deixa o coração a um tempo alegre e perturbado e tem o encanto fugido e misterioso de uma música ao longe”. Vasco é um rapaz arredio, agressivo e misterioso, que não concorda com muitas coisas que acontecem com sua família e se rebela contra eles. A história retrata também a decadência da tradicional oligarquia Alburquerque, como um relato da decadência das antigas oligarquias que dominaram o país e que se viam em uma situação de falência com o novo estado econômico que o Brasil se encontrava na década de 30. Mesmo focado na ingenuidade da personagem, Érico não deixa de criticar a realidade da sociedade brasileira em franca mudança com o governo estabelecido por Vargas. Neste romance, que mereceu em 1935 o "Prêmio Machado de Assis", através de suas impressões vamos conhecendo as outras personagens: João de Deus, estancieiro arruinado; Jovino e Amâncio, ambos em dificuldades financeiras, dominados pelo vício; D. Zezé, uma velhinha que vive voltada para o passado; Cleonice e Pio, noivos há doze anos; Seu Leocádio, o velhote dos mistérios, dono do único telescópio que existe em Jacarecanga, charadista, poeta, músico e entendido em almanaques. O que vemos nessas páginas é a vida duma cidade do interior do Rio Grande desfilar em câmera lenta diante de nossos olhos. A história é escrita com simplicidade de linguagem e de construção. 28


Os Grandes Literários Brasileiros

LUGAR AO SOL A história se passa em Jacarecanga e em Porto Alegre. Depois que João de Deus é as¬sas¬si¬nado por estar in¬se¬rido na vida po¬lí¬tica e ser li¬gado à opo¬sição; a família perde seu casarão, o que obriga Clarissa (a filha) a se mudar para Porto Alegre com sua mãe, Clemência, e seu primo, Vasco. Antes de partir para Porto Alegre, Clarissa havia recebido uma carta de recomendação do Dr. Pen¬teado. Ao sair em busca de emprego levando esta recomendação, Clarissa co¬nhece Fer¬nanda, uma per¬so¬nagem com¬plexa de Érico Ve¬rís¬simo. Fernando é considerada por alguns como uma mãe, pois cuida de todos, e representa a solidariedade. É também comparada com Ana Terra, da obra O Tempo e o Vento, a qual representa o princípio. Já em Porto Alegre, hospedam-se na pensão da tia Eufrasina. Em seguida, a família se muda para o andar superior da casa de Fernanda. Enquanto isso, enfrentam uma árdua luta para sobreviverem em uma cidade grande, completamente diferente da realidade em que viviam anteriormente. Muitas tramas acontecem paralelamente, e diversos personagens aparecem, como por exemplo o conde austríaco que lê Dom Quixote, um ex-banqueiro que aprecia Chopin, um imigrante espanhol que discorre a respeito da política brasileira, entre outros. Em geral, os personagens são indivíduos comuns, mas sem perder a complexidade psicológica, já que travam uma luta diária pela sobrevivência, diante de inúmeras dificuldades, porém conseguem manter a solidariedade e buscar um sentido para as suas vidas. LIRIOS DO CAMPO Escrito em 1938, a obra Olhai os lírios do campo torna-se um marco na obra do gaúcho. É um romance urbano e narra a história de Eugênio, um rapaz de origem humilde que sente vergonha de sua família por ser pobre, mas mesmo com muito esforço dá ao rapaz a oportunidade de estudar em ótimos colégios, levando o jovem a formar-se em Medicina. No dia de sua formatura, conhece Olívia, uma jovem simples, de extrema sensibilidade, bom-senso, equilíbrio e de um excelente coração que se aproxima de Eugênio e tornase para ele um porto seguro em seus conflitos e juntos vão trabalhar no Hospital do Coração. Olívia tenta mostrar a Eugênio que a felicidade não depende do dinheiro ou do sucesso, mas da paz que advém da boa consciência, de fazer as coisas certas e de servir o próximo. 29


Os Grandes Literários Brasileiros

Os jovens se envolvem amorosamente, mas Eugênio nunca a assume verdadeiramente. Olívia vai trabalhar numa cidade do interior, e depois da partida da moça, Eugênio noiva com Eunice, uma jovem rica filha de um empresário, apenas por interesse e casa-se com ela. A história é dividida em duas partes, sendo a primeira narrada em estilo flash-back, onde as memórias de Eugênio vem à tona durante uma viagem que ele faz de uma cidadezinha no interior até Porto Alegre. Eugênio vai à Porto Alegre a pedido de Olívia que está doente em um hospital. Neste caminho, lembra-se dos dias de casamento infeliz com Eunice, como agora trabalha para o sogro e não dedicava-se mais à Medicina. E sobretudo, lembra da filha que tivera com Olívia, Anamaria, que estava sendo criada pela mãe desde que esta fora embora de Porto Alegre. Ao chegar ao hospital, Olívia morre e Eugênio decide abandonar Eunice e dedicar-se à criação de Anamaria. Ele volta a ser médico, trabalhando com os pobres junto com o dr. Seixas, e em meio a esta mudança de Eugênio, ele encontra verdadeiramente a paz interior. O título da obra é retirado do Sermão da Montanha, onde Cristo fala aos seus apóstolos, em uma analogia, que a verdadeira felicidade está em cuidarmos das coisas simples e não nos preocuparmos com as coisas complexas. Nas palavras de Olívia: "Estive pensando muito na fúria com que os homens se atiram à caça do dinheiro. É essa a causa principal dos dramas, das injustiças, da incompreensão da nossa época. Eles esquecem o que têm de mais humano e sacrificam o que a vida lhes oferece de melhor: as relações de criatura para criatura. De que serve construir arranha-céus se não há mais almas humanas para morar neles? Quero que abras os olhos, Eugênio, que acordes enquanto é tempo. Peço-te que pegues a minha Bíblia que está na estante de livros, perto do rádio, leias apenas o Sermão da Montanha. Não te será difícil achar, pois a página está marcada com urna tira de papel. Os homens deviam ler e meditar esse trecho, principalmente no ponto em que Jesus nos fala dos lírios do campo, que não trabalham nem fiam, e no entanto nem Salomão em toda a sua glória jamais se vestiu como um deles. Está claro que não devemos tomar as parábolas de Cristo ao pé da letra e ficar deitados à espera de que tudo nos caia do céu. É indispensável trabalhar, pois um mundo de criaturas passivas seria também triste e sem beleza. Precisamos, entretanto, dar um sentido humano às nossas construções. E quando o amor ao dinheiro, ao sucesso, nos 30


Os Grandes Literários Brasileiros

estiver deixando cegos, saibamos fazer pausas para olhar os lírios do campo e as aves do céu.” O autor mostra os processos de transformação de Eugênio: da condição de indivíduo guiado mais pela expectativa dos outros do que por si mesmo, para a condição de indivíduo autônomo e consciente de si, sujeito de suas próprias decisões. O TEMPO E O VENTO O livro é composto por três novelas, A Fonte, Ana Terra e Um Certo Capitão Rodrigo, que aparecem intercaladas por fragmentos de uma outra narrativa, “O sobrado”. Embora independentes, as narrativas possuem traços que as unem, fazendo com que o romance apresente certa unidade. A primeira novela, A Fonte, narra episódios ocorridos no território conhecido como Sete Povos das Missões no século XVIII. Um dos principais personagens, o padre Alonzo, um jesuíta que trabalha nesse local com indígenas, encontra uma mulher prestes a dar a luz. A mulher morre no parto, mas o bebê, um mestiço que recebe o nome Pedro, sobrevive e se torna objeto de grande atenção do padre. Com o tempo, Pedro cresce e se torna um jovem inteligente e fortemente ligado a religião, narrando com freqüência a ocorrência de visões identificadas com a simbologia católica. Esse capítulo tem fim com a narração da disputa da região por portugueses e espanhóis. Na novela Ana Terra, a personagem principal dá nome ao capítulo. Ana Terra é filha de um homem que escolheu se estabelecer no Rio Grande do Sul como agricultor. Pedro, personagem apresentado no capítulo anterior, é encontrado por ela ferido na mata e acaba se tornando empregado de seu pai. Ana Terra desenvolve então um forte sentimento de desejo pelo mestiço, que acaba ocasionando sua gravidez. A reação de seu pai ao descobrir o ocorrido é muito violenta, ele ordena aos filhos que levem Pedro para longe da fazenda, mas Ana sente que na verdade eles o mataram. Anos depois, a fazenda é atacada por castelhanos, todos os homens da família são mortos e Ana Terra estuprada. A protagonista sobrevive com a cunhada e o filho, o grupo consegue ajuda para escapar da região. Elas se estabelecem na região de Santa Fé. A narrativa de Um Certo Capitão Rodrigo tem início com a chegada do capitão Rodrigo a Santa Fé. O protagonista se apaixona por Bibiana Terra, neta de Ana Terra, apresentada no capítulo anterior. Porém, a moça tem como pretendente o filho do homem mais importante da cidade. Além disso, o pai da jovem não simpatiza com o capitão. No entanto, Rodrigo faz tudo o que está ao seu alcance para permanecer na cidade e se casar com Bibiana, entrando inclusive em um duelo com seu rival, que covardemente o atinge com uma bala. Recuperado do ferimento, Rodrigo consegue o 31


Os Grandes Literários Brasileiros

consentimento para se casar com Bibiana e abre um armazém com o irmão da moça. O casamento ia bastante bem até que com o tempo e a chegada dos filhos, Rodrigo perde parte do interesse pela mulher, começa a beber muito, a jogar em excesso e a manter amantes. O protagonista morre no fim da narrativa envolvido com outro conflito bélico: a Guerra dos Farrapos.

MORTE Em 1961, Érico sofreu seu primeiro infarto do miocárdio. Após um repouso absoluto, volta a trabalhar na obra O Arquipélago. Quando decide viajar à Grécia com a esposa em 1962, Érico entrega O Arquipélago pronto para ser publicado. No dia 12 de outubro de 1963, vítima de câncer de pulmão, faleceu a mãe de Érico, aos setenta e oito anos. No ano seguinte, Luis Fernando Verissimo, inesperadamente, casa-se com Lúcia Helena Massa, e eles também deram três netos a Veríssimo. Em 1965, Érico publicou o romance O Senhor Embaixador, no qual refletia sobre os descaminhos da América Latina. Ganhou então o Prêmio Jabuti, na categoria romance, da Câmara Brasileira de Livros. Publica sua autobiografia em 1966, O Escritor diante do Espelho, que é ampliada mais tarde. No romance Incidente em Antares, de 1971, Érico traçou um apanhado da história do Brasil desde os primeiros tempos e enveredou pelo fantástico, com uma rebelião de cadáveres durante uma greve de coveiros na fictícia cidade de Antares. Em 1972, na comemoração dos quarenta anos de lançamento de seu primeiro livro, Érico relançou Fantoches, com desenhos e notas de sua autoria. Em 1973, publica o primeiro volume de Solo de Clarineta, sua segunda e ampliada autobiografia. Em 28 de novembro de 1975, morre vítima de um infarto. A morte impediuo de completar o segundo volume de sua autobiografia, programada para ser uma trilogia, além de um romance que se chamaria A Hora do Sétimo Anjo. No ano seguinte, foi publicado postumamente o segundo volume de Solo de Clarineta, organizado por Flávio Loureiro Chaves. Por ocasião do falecimento de Érico, Carlos Drummond de Andrade publicou o poema A falta de Érico Veríssimo. Está sepultado no Cemitério São Miguel e Almas. A falta de Erico Verissimo Falta alguma coisa no Brasil depois da noite de sexta-feira. Falta aquele homem no escritório 32


Os Grandes Literários Brasileiros

a tirar da máquina elétrica o destino dos seres, a explicação antiga da terra. Falta uma tristeza de menino bom caminhando entre adultos na esperança da justiça que tarda - como tarda! a clarear o mundo. Falta um boné, aquele jeito manso, aquela ternura contida, óleo a derramar-se lentamente. Falta o casal passeando no trigal. Falta um solo de clarineta. Carlos Drummond de Andrade em homenagem a Erico Verissimo

CECÍLIA MEIRELES Por: Priscila Amaro

Introdução

A literatura brasileira é composta de autores fantásticos, esse E-book foi produzido com o intuito de reavivar a importância desses autores na nossa literatura. Um desses escritores imortais se trata de Cecília Meireles, ela é a primeira referência de mulher escritora da literatura brasileira. Nasceu no Rio de Janeiro em 1901, era jornalista, pintora, escritora e professora, seu primeiro livro publicado foi Espectro, escrito em 1919. O objetivo desse e-book é destacar a atemporalidade das suas obras, a poesia cheia de questões e a busca pelo sentido da vida. Em suas obras temos a nítida visão de sua veia filosófica. Uma das obras mais importantes da escritora foi a Viagem, com esta obra ela ganhou o prêmio da Academia Brasileira de Letras. Deixou um vazio no mundo da literatura com seu falecimento em 1964, partiu com a sua escrita cativante e magnífica, deixando-nos com a sua inigualável obra. 33


Os Grandes Literários Brasileiros

O início Cecília Benevides de Carvalho Meireles, nasceu no Rio de Janeiro em 7 de novembro de 1901. Órfã de pai e mãe, aos três anos de idade é criada pela avó materna, Jacinta Garcia Benevides. Foi poetisa, professora, jornalista e pintora brasileira. Foi a primeira voz feminina de grande expressão na literatura brasileira, com mais de 50 obras publicadas. Com 18 anos estréia na literatura com o livro "Espectros". A maioria de suas obras expressa estados de ânimo, predominando os sentimentos de perda amorosa e solidão. Uma das marcas do lirismo de Cecília Meireles é a musicalidade de seus versos. Em 1939 publicou "Viagem" livro que lhe deu o prêmio de poesia da Academia Brasileira de Letras.

Curiosidades sobre Cecília Meireles 

Numa das viagens a Portugal, Cecília Meireles marcou um encontro com o poeta Fernando Pessoa no café A Brasileira, em Lisboa. Sentou-se ao meio-dia e esperou em vão até as duas horas da tarde. Decepcionada, voltou para o hotel, onde recebeu um livro autografado pelo autor lusitano. Junto com o exemplar, a explicação para o "furo": Fernando Pessoa tinha lido seu horóspoco pela manhã e concluído que não era um bom dia para o encontro.

A Mãe de Cecília Meireles, Matilde Benevides Meireles, foi a primeira professora a formar-se no Brasil.

Cecília também foi autora de um livro infanto-juvenil baseado na sua vida! A obra Olhinhos de Gato é bastante peculiar, mas pouco conhecida. Nela a autora brasileira conta a sua infância depois de ter perdido a sua mãe, Matilde Benevides Meireles.

Depoimento sobre Cecília Meireles

34


Os Grandes Literários Brasileiros

“Considero o lirismo de Cecília Meireles o mais elevado da moderna poesia de língua portuguesa. Nenhum outro poeta iguala o seu desprendimento, a sua fluidez, o seu poder transfigurador, a sua simplicidade e seu preciosismo, porque Cecília, só ela, se acerca da nossa poesia primitiva e do nosso lirismo espontâneo… A poesia de Cecília Meireles é uma das mais puras, belas e válidas manifestações da literatura contemporânea.” Paulo Rónai, crítico literário

Cecília Meireles por ela mesma

Cecília Meireles: Vivo constantemente com fome de acertar. Sempre quase digo o que quero. Para transmitir, preciso saber. Não posso arrancar tudo de mim mesma sempre. Por isso leio, estudo. Cultura, para mim, é emoção sempre nova. Posso passar anos sem pisar num cinema, mas não posso deixar de ler, deixar de ouvir minha música (prefiro a medieval), deixar de estudar, hindi ou o hebraico, compreende? “Sei que canto. E a canção é tudo. Tem sangue eterno a asa ritmada. E um dia sei que estarei mudo: — mais nada.” 35


Os Grandes Literários Brasileiros

Cecília Meireles: Uma das coisas que mais me encantavam em minha vida de infância era o eco que vivia em casa de minha avó. Eu vivia procurando o meu eco. Mas tinha vergonha de perguntar. Recolhida, tímida, deslumbrada, me debruçava no mistério das palavras e do mundo. Queria saber, mas tinha imenso pudor de confessar minha ignorância. ”Eu canto porque o instante existe e a minha vida está completa. Não sou alegre nem sou triste: sou poeta.” Cecília Meireles: Tenho amigos em toda parte. Mas sou feito o Drummond que é tão amigo quase sem a presença física. Esse meu jeito esquivo é porque eu acho que cada ser humano é sagrado, compreende? Eu sou uma criatura de longe. Não sei se me querem, mas eu quero bem a tanta gente! “Se desmorono ou se edifico, se permaneço ou me desfaço, — não sei, não sei. Não sei se fico ou passo.”

Cecília Meireles: Educação, para mim; é botar, dentro do indivíduo, além do esqueleto de ossos que já possui uma estrutura de sentimentos, um esqueleto emocional. O entendimento na base do amor. Morte Cecília Benevides de Carvalho Meireles foi a primeira mulher a ter um livro premiado pela Academia Brasileira de Letras. Ela morreu de câncer, aos 63 anos, no entardecer do dia 9 de novembro de 1964. Seu corpo foi velado no Ministério da Educação e Cultura. Cecília Meireles foi homenageada pelo Banco Central, em 1989, com sua efígie na cédula de cem cruzados novos.

Canção Póstuma

Fiz uma canção para dar-te; porém tu já estavas morrendo. A Morte é um poderoso vento. E é um suspiro tão tímido, a Arte... 36


Os Grandes Literários Brasileiros

É um suspiro tímido e breve como o da respiração diária. Choro de pomba. E a Morte é uma águia cujo grito ninguém descreve. Vim cantar-te a canção do mundo, mas estás de ouvidos fechados para os meus lábios inexatos, — atento a um canto mais profundo. E estou como alguém que chegasse ao centro do mar, comparando

aquele universo de pranto com a lágrima da sua face. E agora fecho grandes portas sobre a canção que chegou tarde. E sofro sem saber de que Arte se ocupam as pessoas mortas. Por isso é tão desesperada a pequena, humana cantiga. Talvez dure mais do que a vida. Mas à Morte não diz mais nada.

Retrato Eu não tinha este rosto de hoje, assim calmo, assim triste, assim magro, nem estes olhos tão vazios, nem o lábio amargo. Eu não tinha estas mãos sem força, tão paradas e frias e mortas; 37


Os Grandes Literários Brasileiros

eu não tinha este coração que nem se mostra. Eu não dei por esta mudança, tão simples, tão certa, tão fácil: - Em que espelho ficou perdida a minha face?

CASTRO ALVES Por :Marcelo Ferreira da Silva

Oh! Bendito o que semeia Livros à mão cheia E manda o povo pensar! O livro, caindo n’alma É germe - que faz a palma, É chuva – que faz o mar!

(Castro Alves)

38


Os Grandes Literários Brasileiros

Introdução

Castro Alves é considerado um dos maiores poetas brasileiros. Seus poemas estão entre os mais lidos no país. Grande parte deles se caracterizam pelo espírito humanista e pelo ideal de liberdade. Por sua luta abolicionista, tornou-se conhecido como “Poeta dos Escravos” e “Poeta da Abolição”

Bibliografia

Castro Alves; (Antônio Frederico), Seu pai Antônio José Alves era médico, e sua mãe Clélia Brasília da Silva Castro. Estudou no colégio de Abílio César Borges, futuro Barão de Macaúbas. Já nesta época lhe aflora a paixão pela poesia. Nasceu em Muritiba, BA, em 14 de março de 1847, e faleceu em Salvador, BA, em 6 de julho de 1871. É o patrono da cadeira n. 7, por escolha do fundador. Em 1862 em Recife, conclui os estudos para entrá-lo no curso superior, ingressando posteriormente na Faculdade de Direto. Integrado na caminhada literária acadêmica e venerado graças aos seus versos, deu mais ênfase a eles e sua boemia do que os estudos. Quando tinha 12 anos perdera a mãe e agora no ano de 1866, perdeu também o pai. Nesta época começa um relacionamento amoroso com atriz portuguesa Eugênia Câmara, Que desempenhara um papel muito importante na sua vida. Neste mesmo tempo Alves tomando consciência do seu papel de poeta na sociedade, e tomado por esta fase de grandes inspirações, escreve o “drama Gonzáles” uma peça teatral de gênero dramático “Gonzaga ou a Revolução de Minas”, pela qual ficou reconhecido publicamente pela crítica e pelo público. Mudando-se para Recife em 1868, partido para São Paulo, o poeta, da continuidade em seus estudos de Direito, matriculando-se no 39


Os Grandes Literários Brasileiros

3ºano, turma esta em que também, estava matriculado seu amigo Rui Barbosa. Seu relacionamento com Eugênia Câmara, esvai-se, ficando o poeta com a alma imensamente abatida. Pela primeira vez Castro Alves declama seu poema abolicionista mais conhecido: “O navio negreiro”, na comemoração da independência. Este poeta romântico, não foi o primeiro tratar do tema da escravidão. Todavia, Alves foi o mais engajado à causa social e humanitária do abolicionismo, procurou aprofundar as implicações humanas da escravatura adequando a sua eloquência condoreira à luta abolicionista. Retrata o escravo de modo romanticamente trágico para despertar a sociedade, habituada a três séculos de escravidão, para o que há de mais desumano neste regime. O maior exemplo deste retrato está em A Cachoeira de Paulo Afonso, longo poema narrativo, que conta a história de amor de dois escravos, Lucas e Maria, pintada com fortes cores dramáticas. Em 1869, acidentalmente feriu o pé esquerdo durante uma caçada ,sob ameaça de gangrena, foi, afinal, amputado, em meados de 1869. Sua saúde, que. já não era boa desde os dezessete anos, quando escreveu “Mocidade e Morte”, ficou totalmente comprometida. De volta à Bahia, preocupado em reestabelecer sua saúde, uma vez acometido de tuberculose, passa quase todo o ano de 1870, em fazendas de parentes. Em novembro deste mesmo ano, fica pronto seu primeiro livro, Espumas flutuantes, que também foi o único publicado em vida. Mesmo com suas impossibilidades físicas, Castro Alves, em sua imensa genialidade escreveu sem a menos duvida os seus mais entusiasmantes e magníficos versos. Tomado por um abismal amor pelo que sempre fez. Em 1871, aos 24 anos morre numa tarde ensolarada, este poeta que nos deixou indeléveis marcas, aos amantes de uma boa literatura. Á uma forte dicotomia na poesia de Castro Alves: a feição lírico-amorosa, mesclada de forte sensualidade, e a feição social e humanitária, em que alcança momentos de fulgurante eloquência épica. Como poeta lírico, caracteriza-se pelo vigor da paixão, a 40


Os Grandes Literários Brasileiros

intensidade com que exprime o amor, como desejo, frêmito, encantamento da alma e do corpo, superando o negaceio de Casimiro de Abreu, a esquivança de Álvares de Azevedo, o desespero acuado de Junqueira Freire. A grande e fecundante paixão por Eugênia Câmara percorreu-o como corrente elétrica, reorganizando lhe a personalidade, inspirando alguns dos seus mais belos poemas de esperança, euforia, desespero, saudade. Outros A obra de Castro Alves não se restringiu apenas no egocentrismo das primeiras gerações românticas, pelo contrário, os horizontes literários do poeta são mais amplos: falava não só do amor voltado ao lirismo, mas do amor carnal, da luta de classes, dos marginalizados e oprimidos, do abolicionismo. O poeta tinha uma visão universal da realidade, os assuntos de seus poemas não se voltam para um universo limitado do eu, mas para o mundo que o cercava. Contudo, se quanto à temática Castro Alves já exibe uma tendência da escola literária vindoura (Realismo), a respeito de forma, o poeta mostra-se totalmente romântico. Seus versos são abarrotados de figuras de linguagem, como: metáforas, hipérboles, antíteses. O poeta ainda é individualizado por seu trato poético com o ritmo e sonoridade perfeitos em suas poesias. Amores e encantamentos constituem o ponto de partida igualmente concreto de outros poemas. Enquanto poeta social, extremamente sensível às inspirações revolucionárias e liberais do século XIX, Castro Alves, na linhagem de Victor Hugo, um dos seus mestres, viveu com intensidade os grandes episódios históricos do seu tempo e foi, no Brasil, o anunciador da Abolição e da República, devotando-se apaixonadamente à causa abolicionista, o que lhe valeu a antonomásia de “Cantor dos escravos”. A sua poesia se aproxima da retórica, incorporando a ênfase oratória à sua magia. No seu tempo, mais do que hoje, o orador exprimia o gosto ambiente, cujas necessidades estéticas e

41


Os Grandes Literários Brasileiros

espirituais se encontram na eloquência dos poetas. Em Castro Alves, a embriaguez verbal encontra o apogeu, dando à sua poesia poder excepcional de comunicabilidade. Dele ressalta a figura do bardo que fulmina a escravidão e a injustiça, de cabeleira ao vento. A dialética da sua poesia implica menos a visão do escravo como realidade presente do que como episódio de um drama mais amplo e abstrato: o do próprio destino humano, presa dos desajustamentos da História. Encarna as tendências messiânicas do Romantismo e a utopia libertária do século. O negro, escravizado, misturado à vida cotidiana em posição de inferioridade, dificilmente se podia elevar a objeto estético, o que ele alcançou, no entanto, numerosas vezes. Surgiu primeiro à consciência literária como problema social, e o abolicionismo era visto apenas como sentimento humanitário pela maioria dos escritores que até então trataram desse tema. Só Castro Alves estenderia sobre o negro o manto redentor da poesia, tratando-o como herói, como ser integralmente humano.

Principais obras        

A Canção do Africano, 1863. Gonzaga ou a Revolução de Minas, 1866. O Navio Negreiro, 1869. Espumas Flutuantes, 1870. A Cachoeira de Paulo Afonso, 1873. Os escravos, 1883. Hinos do Equador, edição de Obras Completas, 1921. A Canção do Africano.

A canção do Africano

42


Os Grandes Literários Brasileiros

Este poema mostra o contrate da África livre e o Brasil da escravidão. Trata da vida do africano em terras desconhecidas, ainda pior, como escravo. Neste poema castro Alves da voz ao escravo. Foi escrito em 1863.

A Cachoeira de Paulo Afonso Localizada na Bahia, a Cachoeira de Paulo Afonso é um conjunto de imensas quedas d’água do Rio São Francisco. Com quedas de até 80 metros de altura, o tamanho monstruoso da natureza serviu de inspiração ao poeta, que retrata a fuga desesperada de um casal de negros perseguidos. Ao mesmo tempo trágico e lírico, Cachoeira de Paulo Afonso é uma linda adaptação que irá, com certeza, encantar cada um dos

Adormecida "Adormecida": poema no qual Castro Alves cria a imagem da mulher amada. Constituída de sensualidade, detalha o cenário como se fosse uma obra de arte e sugere a proximidade dele com a virgem. Utiliza elementos da natureza para insinuar o seu encantamento com esta mulher.

Amar e Ser Amado Esse poema diz da ânsia que o poeta tinha por amar e ser amado plenamente. Canta o seu desejo de conseguir se unir com perfeição à sua amada, os dois se tornando um só ser, uma só carne, uma só alma, desejo talvez de todo amante.

43


Os Grandes Literários Brasileiros

Gonzaga ou a Revolução de Minas é uma peça de teatro dramática escrita por Castro Alves em 1867, em homenagem à atriz portuguesa Eugênia Câmara, dez anos mais velha do que ele, e por quem o poeta se apaixonara.

Navio Negreiro O Navio Negreiro um poema épico dramático dividido em seis partes. Nessa obra, Castro Alves relata as condições dos navios negreiros, os quais traziam escravos africanos para o Brasil. Sentimento de liberdade, nacionalismo ufanista, denúncia social e busca de uma identidade nacional, são algumas das principais caraterísticas da poesia abolicionista de Castro Alves.

Espumas Flutuantes “Espumas Flutuantes” foi a primeira obra do poeta brasileiro Castro Alves, publicada no ano de 1870. Embora tenha falecido prematuramente e possua o referido livro como a única obra lançada em vida

Os Escravos Os Escravos é uma coleção de poesias publicadas 12 anos a morte do poeta. Poesia social em sua forma mais pura, Os Escravos centra-se sempre no mesmo tema: a liberdade dos escravos. Apesar de certa idealização em alguns momentos, a poesia lírico-amorosa é menos idealizada que a dos contemporâneos do autor. Mas sempre, sempre, as poesias falam do negro escravo, cativo e maltratado pelos senhores.

Castro Alves e o Romantismo 44


Os Grandes Literários Brasileiros

Vozes d’África Deus! ó Deus! onde estás que não respondes? Em que mundo, em qu'estrela tu t'escondes Embuçado nos céus? Há dois mil anos te mandei meu grito, Que embalde desde então corre o infinito... Onde estás, Senhor Deus?... [...] Cristo! embalde morreste sobre um monte Teu sangue não lavou de minha fronte A mancha original.

Ainda hoje são, por fado adverso, Meus filhos - alimária do universo, Eu - pasto universal... Hoje em meu sangue a América se nutre Condor que transformara-se em abutre, Ave da escravidão, Ela juntou-se às mais... irmã traidora Qual de José os vis irmãos outrora Venderam seu irmão. Basta, Senhor! De teu potente braço Role através dos astros e do espaço Perdão p'ra os crimes meus! Há dois mil anos eu soluço um grito... escuta o brado meu lá no infinito, Meu Deus! Senhor, meu Deus!!...

Castro Alves e o lirismo

O Navio Negreiro A vez primeira que eu fitei Teresa, Como as plantas que arrasta a correnteza, A valsa nos levou nos giros seus... E amamos juntos... E depois na sala "Adeus" eu disse-lhe a tremer co'a fala... E ela, corando, murmurou-me: "adeus." Uma noite... entreabriu-se um reposteiro... E da alcova saía um cavaleiro Inda beijando uma mulher sem véus... Era eu... Era a pálida Teresa! "Adeus" lhe disse conservando-a presa... E ela entre beijos murmurou-me: "adeus!" 45


Os Grandes Literários Brasileiros

Passaram tempos... sec'los de delírio Prazeres divinais... gozos do Empíreo... ... Mas um dia volvi aos lares meus. Partindo eu disse — "Voltarei!... descansa!... Ela, chorando mais que uma criança, Ela em soluços murmurou-me: "adeus!" Quando voltei... era o palácio em festa!... E a voz d'Ela e de um homem lá na orquesta Preenchiam de amor o azul dos céus. Entrei!... Ela me olhou branca... surpresa! Foi a última vez que eu vi Teresa!... E ela arquejando murmurou-me: "adeus!"

CLARICE LISPECTOR Por: Talitha Aredes

Introdução

‘’Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento.’’ - Clarice Lispector Assim como me rendi e mergulhei no imenso universo que Clarice representa em nossa literatura, quero convidar você caro amigo(a) e leitor a se render, para que juntos possamos conhecer um pouco mais sobre esta mulher de personalidade marcante e inspiradora, que foi, e ainda é, uma das escritoras mais aclamadas da literatura modernista brasileira. O estilo de Clarice foi marcado pela inovação, sua representação não é feita de forma linear, sua forma é sempre livre e desordenada, revelando assim muita expressividade em seus escritos. Clarice dedicou-se a análise do mundo interior de seus personagens, segundo a autora "O importante é a repercussão do fato no indivíduo" e não apenas o fato em si.

46


Os Grandes Literários Brasileiros

Clarice baseava sua obra em epifania, seus textos frequentemente levam a uma revelação, a uma descoberta que só é feita através da entrega aos sentidos, nunca pela racionalização. A indiscutível originalidade na obra de Clarice a torna única dentro da literatura brasileira, pois a força de sua linguagem e a intensidade das emoções de seus personagens tem a capacidade de atingir o leitor. Enfim, espero que assim como eu, vocês possam vir a se apaixonar e querer mergulhar cada vez mais fundo nas obras de Clarice Lispector. Boa leitura!

Prefácio "Já que sou, o jeito é ser." Clarice Lispector - A hora da estrela

Clarice por Clarice, Clarice era uma mulher fascinante, que vivia para escrever, em uma de suas entrevistas ela afirma "Eu escrevia desde sempre, antes dos sete anos eu já fabulava, já inventava histórias, por exemplo eu inventei uma história que não acabava nunca, mas é muito complicado explicar esta história (...)" {Panorama especial, 1977, Tv Cultura} Clarice afirma nunca ter assumido uma carreira de escritora, ela não se sentia uma profissional, ela escrevia por prazer, escrevia quando tinha vontade, ela se considerava uma amadora, em uma de suas entrevistas a autora afirma, "Faço questão de não ser uma profissional, para manter a minha liberdade (...) Eu acho que enquanto eu não escrevo, eu estou morta."{ Panorama especial, 1977, Tv Cultura}

47


Os Grandes Literários Brasileiros

No decorrer dos meus escritos quero apresentar-lhes um pouco mais sobre as obras e vida de Clarice, para que assim como eu vocês venham a conhecer e a se apaixonar cada dia mais por esta mulher estonteante. Ouso a dizer que ela é uma das melhores da literatura brasileira, simplesmente fabulosa! "Quem eu sou, você só vai perceber quando olhar nos meus olhos, ou melhor, além deles." - Clarice Lispector A partir desta citação convido você caro amigo(a), para que juntos possamos divagar e ficar cada vez mais envolvidos pelas obras e pela pessoa de Clarice.

Breve Biografia Clarice Lispector – Escritora e jornalista (1920-1977) Clarice Lispector nasceu no dia 10 de Dezembro de 1920 em Tchetchelnik, na Ucrânia. Mas mudou-se para Maceió com seus pais e duas irmãs com apenas dois meses de idade. Aos oito anos de idade Clarice perdeu sua mãe. Três anos depois mudou-se para o Rio de Janeiro com o pai e com as irmãs. Em 1939 Clarice entrou para a faculdade de direito e formou-se em 1943, o mesmo ano em que se casou com o diplomata Maury Gurgel Valente com quem Clarice viveu por muitos anos. Clarice Lispector acompanhava seu marido em viagens, na carreira de Diplomata do Ministério das Relações Exteriores. Em sua primeira viagem para Nápoles, Clarice trabalha como voluntária de assistente de enfermagem no hospital da Força Expedicionária Brasileira. Também morou na Inglaterra, Estados Unidos e Suíça, 48


Os Grandes Literários Brasileiros

sempre acompanhando seu marido. Em 1949 nasce na Suíça seu primeiro filho, Pedro e em 1953 nasce nos Estados Unidos o segundo filho, Paulo. Em 1977 Clarice Lispector escreveu "Hora da Estrela" onde conta a história de Macabéa, uma moça do interior em busca de sobreviver na cidade grande. A versão cinematográfica desse romance, dirigida por Suzana Amaral em 1985, conquistou os maiores prêmios do festival de cinema de Brasília e deu à atriz Marcélia Cartaxo, que fez o papel principal, o troféu Urso de Prata em Berlim em 1986. Clarice Lispector morreu no Rio de Janeiro, no dia 9 de dezembro de 1977. Seu corpo foi sepultado no cemitério Israelita do Caju.

Obras de Clarice Lispector Perto do Coração Selvagem, romance, 1944 O Lustre, romance, 1946 A Cidade Sitiada, romance, 1949 Alguns Contos, conto, 1952 Laços de Família, conto, 1960 A Maçã no Escuro, romance, 1961 A Paixão Segundo G.H., romance, 1961 A Legião Estrangeira, conto, 1964 O Mistério do Coelho Pensante, literatura infantil, 1967 A Mulher Que Matou os Peixes, literatura infantil, 1969 Uma Aprendizagem ou Livro dos Prazeres, romance, 1969 Felicidade de Clandestina, conto, 1971 Água Viva, romance, 1973 Imitação da Rosa, conto, 1973 A Via Crucis do Corpo, conto, 1974 A Vida Íntima de Laura, literatura infantil, 1974 A Hora da Estrela, romance, 1977

Querido amigo e leitor, Agora que já conhecemos um pouco sobre a vida de Clarice, vamos juntos conhecer um pouco mais sobre as obras, frases, contos, entre outros desta escritora extraordinária. 49


Os Grandes Literários Brasileiros

''A palavra é meu domínio sobre o mundo.'' - Clarice Lispector

Vamos começar com um dos contos mais intrigantes de Clarice, intrigante até para a própria autora como ela afirma em uma entrevista concedida para a Tv Cultura.

O ovo e a galinha De manhã na cozinha sobre a mesa vejo o ovo. Olho o ovo com um só olhar. Imediatamente percebo que não se pode estar vendo um ovo. Ver o ovo nunca se mantêm no presente: mal vejo um ovo e já se torna ter visto o ovo há três milênios. – No próprio instante de se ver o ovo ele é a lembrança de um ovo. – Só vê o ovo quem já o tiver visto. – Ao ver o ovo é tarde demais: ovo visto, ovo perdido. – Ver o ovo é a promessa de um dia chegar a ver o ovo. – Olhar curto e indivisível; se é que há pensamento; não há; há o ovo. – Olhar é o necessário instrumento que, depois de usado, jogarei fora. Ficarei com o ovo. – O ovo não tem um si-mesmo. Individualmente ele não existe. Ver o ovo é impossível: o ovo é supervisível como há sons supersônicos. Ninguém é capaz de ver o ovo. O cão vê o ovo? Só as máquinas vêem o ovo. O guindaste vê o ovo. – Quando eu era antiga um ovo pousou no meu ombro. – O amor pelo ovo também não se sente. O amor pelo ovo é supersensível. A gente não sabe que ama o ovo. – Quando eu era antiga fui depositária do ovo e caminhei de leve para não entornar o silêncio do ovo. Quando morri, tiraram de mim o ovo com cuidado. Ainda estava vivo. – Só quem visse o mundo veria o ovo. Como o mundo o ovo é óbvio. O ovo não existe mais. Como a luz de uma estrela já morta, o ovo propriamente dito não existe mais. – Você é perfeito, ovo. Você é branco. – A você dedico o começo. A você dedico a primeira vez. Ao ovo dedico a nação chinesa. O ovo é uma coisa suspensa. Nunca pousou. Quando pousa, não foi ele quem 50


Os Grandes Literários Brasileiros

pousou. Foi uma coisa que ficou embaixo do ovo. – Olho o ovo na cozinha com atenção superficial para não quebrá-lo. Tomo o maior cuidado de não entendê-lo. Sendo impossível entendê-lo, sei que se eu o entender é porque estou errando. Entender é a prova do erro. Entendê-lo não é o modo de vê-lo. – Jamais pensar no ovo é um modo de tê-lo visto. – Será que sei do ovo? É quase certo que sei. Assim: existo, logo sei. – O que eu não sei do ovo é o que realmente importa. O que eu não sei do ovo me dá o ovo propriamente dito. – A Lua é habitada por ovos. O ovo é uma exteriorização. Ter uma casca é dar-se.- O ovo desnuda a cozinha. Faz da mesa um plano inclinado. O ovo expõe. – Quem se aprofunda num ovo, quem vê mais do que a superfície do ovo, está querendo outra coisa: está com fome. O ovo é a alma da galinha. A galinha desajeitada. O ovo certo. A galinha assustada. O ovo certo. Como um projétil parado. Pois ovo é ovo no espaço. Ovo sobre azul. – Eu te amo, ovo. Eu te amo como uma coisa nem sequer sabe que ama outra coisa. – Não toco nele. A aura de meus dedos é que vê o ovo. Não toco nele – Mas dedicar-me à visão do ovo seria morrer para a vida mundana, e eu preciso da gema e da clara. – O ovo me vê. O ovo me idealiza? O ovo me medita? Não, o ovo apenas me vê. É isento da compreensão que fere. – O ovo nunca lutou. Ele é um dom. – O ovo é invisível a olho nu. De ovo a ovo chega-se a Deus, que é invisível a olho nu. – O ovo terá sido talvez um triângulo que tanto rolou no espaço que foi se ovalando. – O ovo é basicamente um jarro? Terá sido o primeiro jarro moldado pelos etruscos ? Não. O ovo é originário da Macedônia. Lá foi calculado, fruto da mais penosa espontaneidade. Nas areias da Macedônia um homem com uma vara na mão desenhou-o. E depois apagou-o com o pé nu. O ovo é coisa que precisa tomar cuidado. Por isso a galinha é o disfarce do ovo. Para que o ovo atravesse os tempos a galinha existe. Mãe é para isso. – O ovo vive foragido por estar sempre adiantado demais para a sua época. – O ovo por enquanto será sempre revolucionário. – Ele vive dentro da galinha para que não o chamem de branco. O ovo é branco mesmo. Mas não pode ser chamado de branco. Não porque isso faça mal a ele, mas as pessoas que chamam ovo de branco, essas pessoas morrem para a vida. Chamar de branco aquilo que é branco pode destruir a humanidade. Uma vez um homem foi acusado de ser o que ele era, e foi chamado de Aquele Homem. Não tinham mentido: Ele era. Mas até hoje ainda não nos recuperamos, uns após outros. A lei geral para continuarmos vivos: pode-se dizer “um rosto bonito”, mas quem disser “O rosto”, morre; por ter esgotado o assunto. Com o tempo, o ovo se tornou um ovo de galinha. Não o é. Mas, adotado, usa-lhe o sobrenome. – Deve-se dizer “o ovo da galinha”. Se eu disser apenas “o ovo”, esgota-se o assunto, e o mundo fica nu. – Em relação ao ovo, o perigo é que se 51


Os Grandes Literários Brasileiros

descubra o que se poderia chamar de beleza, isto é, sua veracidade. A veracidade do ovo não é verossímil. Se descobrirem, podem querer obrigá-lo a se tornar retangular. O perigo não é para o ovo, ele não se tornaria retangular. (Nossa garantia é que ele não pode: não poder é a grande força do ovo: sua grandiosidade vem da grandeza de não poder, que se irradia como um não querer.) Mas quem lutasse por torná-lo retangular estaria perdendo a própria vida. O ovo nos expõe, portanto, em perigo. Nossa vantagem é que o ovo é invisível. E quanto aos iniciados, os iniciados disfarçam o ovo. Quanto ao corpo da galinha, o corpo da galinha é a maior prova de que o ovo não existe. Basta olhar para a galinha para se tornar óbvio que o ovo é impossível de existir. E a galinha? O ovo é o grande sacrifício da galinha. O ovo é a cruz que a galinha carrega na vida. O ovo é o sonho inatingível da galinha. A galinha ama o ovo. Ela não sabe que existe o ovo. Se soubesse que tem em si mesma o ovo, perderia o estado de galinha. Ser galinha é a sobrevivência da galinha. Sobreviver é a salvação. Pois parece que viver não existe. Viver leva a morte. Então o que a galinha faz é estar permanentemente sobrevivendo. Sobreviver chama-se manter luta contra a vida que é mortal. Ser galinha é isso. A galinha tem o ar constrangido. É necessário que a galinha não saiba que tem um ovo. Senão ela se salvaria como galinha, o que também não é garantido, mas perderia o ovo. Então ela não sabe. Para que o ovo use a galinha é que a galinha existe. Ela era só para se cumprir, mas gostou. O desarvoramento da galinha vem disso: gostar não fazia parte de nascer. Gostar de estar vivo dói. – Quanto a quem veio antes, foi o ovo que achou a galinha. A galinha não foi sequer chamada. A galinha é diretamente uma escolhida. – A galinha vive como em sonho. Não tem senso de realidade. Todo o susto da galinha é porque estão sempre interrompendo o seu devaneio. A galinha é um grande sono. – A galinha sofre de um mal desconhecido. O mal desconhecido é o ovo. – Ela não sabe se explicar: “ sei que o erro está em mim mesma”, ela chama de erro a vida, “não sei mais o que sinto”, etc. “Etc., etc., etc.,” é o que cacareja o dia inteiro a galinha. A galinha tem muita vida interior. Para falar a verdade a galinha só tem mesmo é vida interior. A nossa visão de sua vida interior é o que chamamos de “galinha”. A vida interior na galinha consiste em agir como se entendesse. Qualquer ameaça e ela grita em escândalo feito uma doida. Tudo isso para que o ovo não se quebre dentro dela. Ovo que se quebra dentro de galinha é como sangue. A galinha olha o horizonte. Como se da linha do horizonte é que viesse vindo um ovo. Fora de ser um meio de transporte para o ovo, a galinha é tonta, desocupada e míope. Como poderia a galinha se entender se ela é a contradição de um ovo? O ovo ainda é o mesmo que se originou na Macedônia. A galinha é sempre 52


Os Grandes Literários Brasileiros

tragédia mais moderna. Está sempre inutilmente a par. E continua sendo redesenhada. Ainda não se achou a forma mais adequada para uma galinha. Enquanto meu vizinho atende ao telefone ele redesenha com lápis distraído a galinha. Mas para a galinha não há jeito: está na sua condição não servir a si própria. Sendo, porém, o seu destino mais importante que ela, e sendo o seu destino o ovo, a sua vida pessoal não nos interessa. Dentro de si a galinha não reconhece o ovo, mas fora de si também não o reconhece. Quando a galinha vê o ovo pensa que está lidando com uma coisa impossível. É com o coração batendo, com o coração batendo tanto, ela não o reconhece. De repente olho o ovo na cozinha e vejo nele a comida. Não o reconheço, e meu coração bate. A metamorfose está se fazendo em mim: começo a não poder mais enxergar o ovo. Fora de cada ovo particular, fora de cada ovo que se come, o ovo não existe. Já não consigo mais crer num ovo. Estou cada vez mais sem força de acreditar, estou morrendo, adeus, olhei demais um ovo e ele me foi adormecendo. A galinha não queria sacrificar a sua vida. A que optou por querer ser “feliz”. A que não percebia que, se passasse a vida desenhando dentro de si como numa iluminura o ovo, ela estaria servindo. A que não sabia perder-se a si mesma. A que pensou que tinha penas de galinha para se cobrir por possuir pele preciosa, sem entender que as penas eram exclusivamente para suavizar, a travessia ao carregar o ovo, porque o sofrimento intenso poderia prejudicar o ovo. A que pensou que o prazer lhe era um dom, sem perceber que era para que ela se distraísse totalmente enquanto o ovo se faria. A que não sabia que “eu” é apenas uma das palavras que se desenham enquanto se atende ao telefone, mera tentativa de buscar forma mais adequada. A que pensou que “eu” significa ter um si-mesmo. As galinhas prejudiciais ao ovo são aquelas que são um “eu” sem trégua. Nelas o “eu” é tão constante que elas já não podem mais pronunciar a palavra “ovo”. Mas, quem sabe, era disso mesmo que o ovo precisava. Pois se elas não estivessem tão distraídas, se prestassem atenção à grande vida que se faz dentro delas, atrapalhariam o ovo. Comecei a falar da galinha e há muito já não estou falando mais da galinha. Mas ainda estou falando do ovo. E eis que não entendo o ovo. Só entendo o ovo quebrado: quebro-o na frigideira. É deste modo indireto que me ofereço à existência do ovo: meu sacrifício é reduzirme à minha própria vida pessoal. Fiz do meu prazer e da minha dor o meu destino disfarçado. E ter apenas a própria vida é, para quem viu o ovo, um sacrifício. Como aqueles que, no convento, varrem o chão e lavam a roupa, servindo sem a glória de função maior, meu trabalho é o de viver os meus prazeres e as minhas dores. É necessário que eu tenha a modéstia de viver. 53


Os Grandes Literários Brasileiros

Pego mais um ovo na cozinha, quebro-lhe a casca e forma. E a partir deste instante exato nunca existiu um ovo. É absolutamente indispensável que eu seja uma ocupada e uma distraída. Sou indispensavelmente um dos que renegam. Faço parte da maçonaria dos que viram uma vez o ovo e o renegam como forma de protegê-lo. Somos os que se abstêm de destruir, e nisso se consomem. Nós, agentes disfarçados e distribuídos pelas funções menos reveladoras, nós às vezes nos reconhecemos. A um certo modo de olhar, há um jeito de dar a mão, nós nos reconhecemos e a isto chamamos de amor. E então, não é necessário o disfarce: embora não se fale, também não se mente, embora não se diga a verdade, também não é necessário dissimular. Amor é quando é concedido participar um pouco mais. Poucos querem o amor, porque o amor é a grande desilusão de tudo o mais. E poucos suportam perder todas as outras ilusões. Há os que voluntariam para o amor, pensando que o amor enriquecerá a vida pessoal. É o contrário: amor é finalmente a pobreza. Amor é não ter. Inclusive amor é a desilusão do que se pensava que era amor. E não é prêmio, por isso não envaidece, amor não é prêmio, é uma condição concedida exclusivamente para aqueles que, sem ele, corromperiam o ovo com a dor pessoal. Isso não faz do amor uma exceção honrosa; ele é exatamente concedido aos maus agentes, àqueles que atrapalhariam tudo se não lhes fosse permitido adivinhar vagamente. A todos os agentes são dadas muitas vantagens para que o ovo se faça. Não é o caso de se ter inveja pois, inclusive algumas das condições, piores do que as dos outros, são apenas as condições ideais para o ovo. Quanto ao prazer dos agentes, eles também o recebem sem orgulho. Austeramente vivem todos os prazeres: inclusive é o nosso sacrifício para que o ovo se faça. Já nos foi imposta, inclusive uma natureza adequada a muito prazer. O que facilita. Pelo menos torna menos penoso o prazer. Há casos de agentes que se suicidam: acham insuficientes as pouquíssimas instruções recebidas e se sentem sem apoio. Houve o caso do agente que revelou publicamente ser agente porque lhe foi intolerável não ser compreendido, e ele não suportava mais não ter o respeito alheio: morreu atropelado quando saía de um restaurante. Houve um outro que nem precisou ser eliminado: ele próprio se consumiu lentamente na sua revolta, sua revolta veio quando ele descobriu que as duas ou três instruções recebidas não incluíam nenhuma explicação. Houve outro também eliminado, porque achava que “a verdade deve ser corajosamente dita”, e começou em primeiro lugar a procurá-la; dele se disse que morreu em nome da verdade com sua inocência; sua aparente coragem era tolice, e era ingênuo o seu desejo de lealdade, ele compreendera que ser leal não é coisa limpa, ser leal é ser desleal para com todo o resto. Esses casos extremos de morte não são por crueldade. É que há um trabalho, digamos cósmico, a ser feito, e os 54


Os Grandes Literários Brasileiros

casos individuais infelizmente não podem ser levados em consideração. Para os que sucumbem e se tornam individuais é que existem as instituições, a caridade, a compreensão que não discrimina motivos, a nossa vida humana enfim. Os ovos estalam na frigideira, e mergulhada no sonho preparo o café da manhã. Sem nenhum senso da realidade, grito pelas crianças que brotam de várias camas, arrastam cadeiras e comem, e o trabalho do dia amanhecido começa, gritado e rido e comido, clara e gema, alegria entre brigas, dia que é o nosso sal e nós somos o sal do dia, viver é extremamente tolerável, viver ocupa e distrai, viver faz rir. E me faz sorrir no meu mistério. O meu mistério é que eu ser apenas um meio, e não um fim, tem-me dado a mais maliciosa das liberdades: não sou boba e aproveito. Inclusive, faço um mal aos outros que, francamente. O falso emprego que me deram para disfarçar a minha verdadeira função, pois aproveito o falso emprego e dele faço o meu verdadeiro; inclusive o dinheiro que me dão como diária para facilitar a minha vida de modo a que o ovo se faça, pois esse dinheiro eu tenho usado para outros fins, desvio de verba, ultimamente comprei ações na Brahma e estou rica. A isso tudo ainda chamo de ter a necessária modéstia de viver. E também o tempo que me deram, e que nos dão apenas para que no ócio honrado o ovo se faça, pois tenho usado esse tempo para prazeres ilícitos e dores ilícitas, inteiramente esquecida do ovo. Esta é a minha simplicidade. Ou é isso mesmo que eles querem que me aconteça, exatamente para que o ovo se cumpra? É liberdade ou estou sendo mandada? Pois venho notando que tudo que é erro meu tem sido aproveitado. Minha revolta é que para eles eu não sou nada, eu sou apenas preciosa: eles cuidam de mim segundo por segundo, com a mais absoluta falta de amor; sou apenas preciosa. Com o dinheiro que me dão, ando ultimamente bebendo. Abuso de confiança? Mas é que ninguém sabe como se sente por dentro aquele cujo emprego consiste em fingir que está traindo, e que termina acreditando na própria traição. Cujo emprego consiste em diariamente esquecer. Aquele de quem é exigida a aparente desonra. Nem meu espelho reflete mais um rosto que seja meu. Ou sou um agente, ou é a traição mesmo. Mas durmo o sono dos justos por saber que minha vida fútil não atrapalha a marcha do grande tempo. Pelo contrário: parece que é exigido de mim que eu seja extremamente fútil, é exigido de mim inclusive que eu durma como justo. Eles me querem preocupada e distraída, e não lhes importa como. Pois, com minha atenção errada e minha tolice grave, eu poderia atrapalhar o que se está fazendo através de mim. É que eu própria, eu propriamente dita, só tenho mesmo servido para atrapalhar. O que me revela que talvez eu seja um agente é a idéia de que meu destino me ultrapassa: pelo menos isso eles tiveram mesmo que me deixar 55


Os Grandes Literários Brasileiros

adivinhar, eu era daqueles que fariam mal o trabalho se ao menos não adivinhassem um pouco; fizeram-me esquecer o que me deixaram adivinhar, mas vagamente ficou-me a noção de que meu destino me ultrapassa, e de que sou instrumento do trabalho deles. Mas de qualquer modo era só instrumento que eu poderia ser, pois o trabalho não poderia ser mesmo meu. Já experimentei me estabelecer por conta própria e não deu certo; ficou-me até hoje essa mão trêmula. Tivesse eu insistido um pouco mais e teria perdido para sempre a saúde. Desde então, desde essa malograda experiência, procuro raciocinar desse modo: que já me foi dado muito, que eles já me concederam tudo o que pode ser concedido; e que os outros agentes, muito superiores a mim, também trabalharam apenas para o que não sabiam. E com as mesmas pouquíssimas instruções. Já me foi dado muito; isto, por exemplo: uma vez ou outra, com o coração batendo pelo privilégio, eu pelo menos sei que não estou reconhecendo! Com o coração batendo de emoção, eu pelo menos não compreendo! Com o coração batendo de confiança, eu pelo menos não sei. Mas e o ovo? Este é um dos subterfúgios deles: enquanto eu falava sobre o ovo, eu tinha esquecido do ovo. “Falai, falai”, instruíram-me eles. E o ovo fica inteiramente protegido por tantas palavras. Falai muito, é uma das instruções, estou tão cansada. Por devoção ao ovo, eu o esqueci. Meu necessário esquecimento. Meu interesseiro esquecimento. Pois o ovo é um esquivo. Diante de minha adoração possessiva ele poderia retrair-se e nunca mais voltar. Mas se ele for esquecido. Se eu fizer o sacrifício de esquecê-lo. Se o ovo for impossível. Então – livre, delicado, sem mensagem alguma para mim – talvez uma vez ainda ele se locomova do espaço até esta janela que desde sempre deixei aberta. E de madrugada baixe no nosso edifício. Sereno até a cozinha. Iluminando-a de minha palidez.

''Suponho que me entender não é uma questão de inteligência e sim de sentir, de entrar em contato... Ou toca, ou não toca.'' - Clarice Lispector.

A paixão segundo G.H, romance escrito em 1964 é uma obra de Clarice completamente inquietante e intrigante. Esta inquietação é marca da personagem e pode ser percebida logo no início da narração. Em entrevista à Tv Cultura Clarice afirma que não é preciso inteligência para compreender a obra, e sim sensibilidade e alma formada. 56


Os Grandes Literários Brasileiros

A paixão segundo G.H {...}Essa mulher calma que eu sempre fora, ela enlouquecera de prazer? Com os olhos ainda fechados eu tremia de júbilo. Ter matado - era tão maior que eu, era da altura daquele quarto indelimitado. Ter matado abria a secura das areias do quarto até a umidade, enfim, enfim, como se eu tivesse cavado e cavado com dedos duros e ávidos até encontrar em mim um fio bebível de vida que era o de uma morte. Abri devagar os olhos, em doçura agora, em gratidão, timidez, num pudor de glória. Do mundo enfim úmido de onde eu emergia, abri os olhos e reencontrei a grande e dura luz aberta, vi a porta agora fechada do guarda-roupa. E vi a metade do corpo da barata para fora da porta. Projetada para a frente, ereta no ar, uma cariátide. Mas uma cariátide viva. Hesitei em compreender, olhava surpreendida. Foi aos poucos que percebi o que sucedera: eu não havia empurrado a porta com bastante força. Havia prendido, sim, a barata que já não poderia mais avançar. Mas deixara-a viva. Viva e olhando para mim. Desviei rapidamente os olhos, em repulsa violenta. Ainda faltava, então, um golpe final. Um golpe a mais? Eu não a olhava, mas me repetia que um golpe ainda me era necessário - repetia-o lentamente como se cada repetição tivesse por finalidade dar uma ordem de comando às batidas de meu coração, às batidas que eram espaçadas demais como uma dor da qual eu não sentisse o sofrimento. Até que enfim conseguindo me ouvir, enfim conseguindo me comandar - ergui a mão bem alto como se meu corpo todo, junto com o golpe do braço, também fosse cair em peso sobre a porta do guarda-roupa.Mas foi então que vi a cara da barata. Ela estava de frente, à altura de minha cabeça e de meus olhos. Por um instante fiquei com a mão parada no alto. Depois gradualmente abaixei-a. 38 Um instante antes talvez eu ainda tivesse podido não ter visto na cara da barata o seu rosto. Mas eis que por um átimo de segundo ficara tarde demais: eu via. Minha mão, que se abaixara ao desistir do golpe, foi aos poucos subindo de novo lentamente até o estômago: se eu mesma não me movera do lugar, o estômago recuara para dentro de meu corpo. A boca secara demais, passei uma língua também seca pelos lábios ásperos. Era uma cara sem contorno. As antenas saíam em bigodes dos lados da boca. A boca marrom era bem delineada. Os finos e longos bigodes mexiam-se lentos e secos. Seus olhos pretos facetados olhavam. Era uma barata tão velha como um peixe fossilizado. Era uma barata tão velha como salamandras e quimeras e grifos e leviatãs. Ela era antiga como uma lenda. Olhei a boca: lá estava a boca real. Eu nunca tinha visto a boca de uma barata. Eu na verdade eu nunca tinha mesmo visto uma barata. Só tivera repugnância pela sua antiga e sempre presente existência - mas nunca a defrontara, nem mesmo em pensamento. E eis que eu descobria que, apesar de compacta, ela é formada de cascas e cascas pardas, finas como as de uma cebola, como se cada uma 57


Os Grandes Literários Brasileiros

pudesse ser levantada pela unha e no entanto sempre aparecer mais uma casca, e mais uma. Talvez as cascas fossem as asas, mas então ela devia ser feita de camadas e camadas finas de asas comprimidas até formar aquele corpo compacto. Ela era arruivada. E toda cheia de cílios. Os cílios seriam talvez as múltiplas pernas. Os fios de antena estavam agora quietos, fiapos secos e empoeirados. A barata não tem nariz. Olhei-a, com aquela sua boca e seus olhos: parecia uma mulata à morte. Mas os olhos eram radiosos e negros. Olhos de noiva. Cada olho em si mesmo parecia uma barata. O olho franjado, escuro, vivo e desempoeirado. E o outro olho igual. Duas baratas incrustadas na barata, e cada olho reproduzia a barata inteira. Cada olho reproduzia a barata inteira.{...} ''Ainda bem que sempre existe outro dia. E outros sonhos. E outros risos. E outras pessoas. E outras coisas.'' - Clarice Lispector

A hora da estrela foi a última obra de Clarice Lispector publicada em 1977 pouco antes da sua morte. A obra é sobre uma nordestina , Macabéa, que tenta sobreviver na cidade grande. É uma obra bastante complexa, marcada por muitos conflitos existenciais.

A hora da estrela Tudo no mundo começou com um sim. Uma molécula disse sim a outra molécula e nasceu a vida. Mas antes da pré-história havia a pré-história da pré-história e havia o nunca e havia o sim. Sempre houve. Não sei o quê, mas sei que o universo jamais começou. Que ninguém se engane, só consigo a simplicidade através de muito trabalho. Enquanto eu tiver perguntas e não houver resposta continuarei a escrever. Como começar pelo início, se as coisas acontecem antes de acontecer? Se antes da pré-pré-história já havia os monstros apocalípticos? Se esta história não existe passará a existir. Pensar é um ato. Sentir é um fato. Os dois juntos – sou eu que escrevo o que estou escrevendo. Deus é o mundo. A verdade é sempre um contato interior inexplicável. A minha vida a mais verdadeira é irreconhecível, extremamente interior e não tem uma só palavra que a signifique. 58


Os Grandes Literários Brasileiros

Meu coração se esvaziou de todo desejo e reduz-se ao próprio último ou primeiro pulsar. A dor de dentes que perpassa esta história deu uma fisgada funda em plena boca nossa. Então eu canto alto agudo uma melodia sincopada e estridente – é a minha própria dor, eu que carrego o mundo e há falta de felicidade. Felicidade? Nunca vi palavra mais doida, inventada pelas nordestinas que andam por aí aos montes. Como eu irei dizer agora, esta história será o resultado de uma visão gradual – há dois anos e meio venho aos poucos descobrindo os porquês. É visão da iminência de. De quê? Quem sabe se mais tarde saberei. Como que estou escrevendo na hora mesma em que sou lido. Só não inicio pelo fim que justificaria o começo – como a morte parece dizer sobre a vida – porque preciso registrar os fatos antecedentes. Escrevo neste instante com algum prévio pudor por vos estar invadindo com tal narrativa tão exterior e explícita. De onde no entanto até sangue arfante de tão vivo de vida poderá quem sabe escorrer e logo se coagular em cubos de geléia trêmula. Será essa história um dia meu coágulo? Que sei eu. Se há veracidade nela – é claro que a história é verdadeira embora inventada – que cada um a reconheça em si mesmo porque todos nós somos um e quem não tem pobreza de dinheiro tem pobreza de espírito ou saudade por lhe faltar coisa mais preciosa que ouro – existe a quem falte o delicado essencial. Como é que sei tudo o que vai se seguir e que ainda o desconheço, já que nunca o vivi? É que numa rua do Rio de Janeiro peguei no ar de relance o sentimento de perdição no rosto de uma moça nordestina. Sem falar que eu em menino me criei no Nordeste. Também sei das coisas por estar vivendo. Quem vive sabe, mesmo sem saber que sabe. Assim é que os senhores sabem mais do que imaginam e estão fingindo de sonsos. Proponho-me a que não seja complexo o que escreverei, embora obrigado a usar palavras que vos sustentam. A história – determino com falso livre-arbítrio – vai ter uns sete personagens e eu sou um dos mais importantes deles, é claro. Eu, Rodrigo S. M. Relato antigo, este, pois não quero ser mordenoso e inventar modismos à guisa de originalidade. Assim é que experimentarei contra os meus hábitos uma história com começo, meio e “gran finale” seguido de silêncio e de chuva caindo. História exterior e explícita, sim, mas que contém segredos – a começar por um dos títulos. “Quanto ao futuro”, que é precedido por um ponto final e seguido de outro ponto final. Não se trata de capricho meu – no fim talvez se entenda a necessidade do delimitado. (Mal e mal vislumbro o final que, se minha pobreza permitir, quero que seja grandioso.) Se em vez de ponto fosse seguido por reticências o título ficaria aberto a possíveis imaginações vossas, porventura até malsãs e sem piedade. Bem, é verdade que também eu não tenho piedade do meu personagem principal, a nordestina: é um relato que desejo frio. Mas tenho o direito de ser dolorosamente frio, e não vós. Por tudo isto é que não vos dou a vez. Não se trata apenas de narrativa, é antes 59


Os Grandes Literários Brasileiros

de tudo vida primária que respira, respira, respira. Material poroso, um dia viverei aqui a vida de uma molécula com seu estrondo possível de átomos. O que é mais do que invenção, é minha obrigação contar sobre essa moça entre milhares delas. E dever meu, nem que seja de pouca arte, o de revelar-lhe a vida. Porque há o direito ao grito. Então eu grito. Grito puro e sem pedir esmola. Sei que há moças que vendem o corpo, única posse real, em troca de um bom jantar em vez de um sanduíche de mortadela. Mas a pessoa de quem falarei mal tem corpo para vender, ninguém a quer, ela é virgem e inócua, não faz falta a ninguém. Aliás – descubro eu agora – eu também não faço a menor falta, e até o que escrevo um outro escreveria. Um outro escritor, sim, mas teria que ser homem porque escritora mulher pode lacrimejar piegas. Como a nordestina, há milhares de moças espalhadas por cortiços, vagas de cama num quarto, atrás de balcões trabalhando até a estafa. Não notam sequer que são facilmente substituíveis e que tanto existiram como não existiriam. Poucas se queixam e ao que eu saiba nenhuma reclama por não saber a quem. Esse quem será que existe? Estou esquentando o corpo para iniciar, esfregando as mãos uma na outra para ter coragem. Agora me lembrei de que houve um tempo em que para me esquentar o espírito eu rezava: o movimento é espírito. A reza era um meio de mudamente e escondido de todos atingir-me a mim mesmo. Quando rezava conseguia um oco de alma – e esse oco é o tudo que posso eu jamais ter. Mais do que isso, nada. Mas o vazio tem o valor e a semelhança do pleno. Um meio de obter é não procurar, um meio de ter é o de não pedir e somente acreditar que o silêncio que eu creio em mim é resposta a meu – meu mistério.{...}

''O caminho que eu escolhi é o do amor. Não importam as dores, as angústias, nem as decepções que eu vou ter que encarar. Escolhi ser verdadeira. No meu caminho, o abraço é apertado, o aperto de mão é sincero, por isso não estranhe a minha maneira de sorrir, de te desejar o bem. É só assim que eu enxergo a vida, e é só assim que eu acredito que valha a pena viver.'' - Clarice Lispector.

Vou despedindo-me por aqui na esperança de ter alimentado a alma de cada um de vocês através dessas obras de valor inestimável que tivemos o prazer inenarrável de ler juntos. E que vocês jamais se bastem de obter conhecimento, que vocês venham a querer sempre mais. Grande Abraço!

60


Os Grandes Literários Brasileiros

MONTEIRO LOBATO Por: Elaine Raquel Fernandes

Quem já ouviu falar em “O Sitio do Pica-Pau Amarelo? Se já ouviu, leu ou já escutou alguém falar, com certeza lembrará de sua tenra infância. O autor desta obra é o grande escritor Monteiro Lobato, que marcou a infância de muitas gerações, com contos que permitiam a criança entrar e se imaginar dentro do “Sítio do Pica –pau Amarelo”.

Introdução Quem já ouviu falar em “O Sitio do Pica-Pau Amarelo? Se já ouviu, leu ou já escutou alguém falar, com certeza lembrará de tenra sua infância. O autor desta obra é o grande escritor Monteiro Lobato, que marcou a infância de muitas gerações, com contos que permitiam a criança entrar e se imaginar dentro do “Sítio do Pica –pau Amarelo”. O Autor que escreveu suas obras no período pré - modernista, um período literário que é marcado pela transição do Realismo/Naturalismo para o Modernismo. O Pré-Modernismo foi um período literário caracterizado por inovações como o uso de linguagem mais próxima da falada e a focalização nos problemas reais do Brasil da época, mas com características conservadoras que provinham do Realismo e do Naturalismo. Alguns escritores desta época não são considerados modernistas, devido não terem vivido tempo suficiente para criticarem o movimento, ou tiveram aversão ao Movimento Modernista, como descreveu Monteiro Lobato em um artigo intitulado “Paranoia ou mistificação?”, referindo a exposição de Anita Malfatti na semana de Arte moderna em 1917.

61


Os Grandes Literários Brasileiros

Biografia de Monteiro Lobato José Bento Monteiro Lobato nasceu em 18 de abril de 1882 como José Renato Monteiro Lobato e mais tarde mudou seu nome para poder usar uma bengala com as iniciais JBML, que fora herdada do pai. Se formou em bacharel em Direito contra a vontade, expunha sempre o que pensava e defendia a verdade.

Vida Sua mãe foi que o alfabetizou e por isso a literatura esteve tão presente em sua infância e que lhe possibilitou o gosto e a paixão por Literatura. Quando adolescente, foi para São Paulo estudar no Instituto de Ciências e Letras. Em 1900, matricula-se na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, onde se formou no ano de 1904. Após formar, ingressa no ministério público com o cargo de promotor em uma cidade do Vale do Paraíba, interior do estado de São Paulo. No mesmo período, publicava seus primeiros contos em jornais e revistas. Casou-se com Maria Pureza da Natividade e teve quatro filhos, Marta, Edgar, Guilherme e Rute. Em 1911 mudou-se para a fazenda Buquira. No dia 12 de novembro de 1912, o jornal O Estado de São Paulo publicou uma carta sua enviada à redação, intitulada "Velha Praga", onde destaca a ignorância do caboclo, criticando as queimadas e que a miséria tornava incapaz o desenvolvimento da agricultura na região. Sua carta foi publicada e causou grande polêmica. ". Mais tarde, Monteiro Lobato começa a escrever no Jornal Folha de São Paulo e publica novo artigo "Urupês", onde aparece pela primeira vez o personagem "Jeca Tatu. Após sua experiência jornalística, funda a Editora Monteiro Lobato e Cia e torna-se um pioneiro deste tipo de comércio no Brasil.Pouco tempo depois o autor vende a fazenda e muda-se para Nova York por quatro anos, entre 1927 a 1931, onde se surpreende com a exploração dos recursos minerais. Ao retornar para o Brasil funda o Sindicato do Ferro e a Cia. Petróleos do Brasil e passa a apoiar a extração do petróleo do subsolo brasileiro. Diante da sua revolta quanto à monopolização do petróleo por empresas privadas, escreve o livro O escândalo do petróleo. Contudo, Lobato foi preso por seis meses no governo de Getúlio Vargas por debater os interesses nacionais e pela exposição a respeito da cultura nacional. Ele foi um dos grandes nomes da literatura infantil brasileira, sendo autor de obras clássicas como "O Sítio do Pica-pau Amarelo". Foi membro da Academia Paulista da Letras e também foi eleito para a Academia Brasileira de Letras (mas recusou a cadeira) José Renato Monteiro Lobato morreu no dia 5 de julho de 1948, de problemas cardíacos. 62


Os Grandes Literários Brasileiros

Obras A primeira obra publicada foi o livro “Urupês”, Monteiro Lobato retrata a imagem do caipira brasileiro, destacando sua pobreza e ignorância que o tornava incapaz de auxiliar na agricultura. Este personagem tornou-se símbolo nacionalista e foi usado por Rui Barbosa em sua campanha presidencial em 1918.

Literatura Infantil 1920 - A menina do narizinho arrebitado

1930 - A pena de papagaio

1921 - Fábulas de Narizinho

1931 - Reinações de Narizinho

1921 - Narizinho arrebitado

1931 - O pó de pirlimpimpim

1921 - O Saci

1932 - Viagem ao céu

1922 - O marquês de Rabicó

1933 - Caçadas de Pedrinho

1922 - Fábulas

1933 - Novas reinações de Narizinho

1924 - A caçada da onça

1933 - História do mundo para as crianças

1924 - Jeca Tatuzinho 1924 - O noivado de Narizinho 1927 - As aventuras de Hans Staden 1928 - Aventuras do príncipe 1928 - O Gato Félix 1928 - A cara de coruja 1929 - O irmão de Pinóquio 1929 - O circo de escavalinho 1930 - Peter Pan

1934 - Emília no país da gramática 1935 - Aritmética da Emília 1935 - Geografia de Dona Benta 1935 - História das invenções 1936 - Dom Quixote das crianças 1936 - Memórias da Emília 1937 - Serões de Dona Benta 1937 - O poço do Visconde

63


Os Grandes Literários Brasileiros 1937 - Histórias de Tia Nastácia

1942 - A chave do tamanho

1938 - O museu da Emília

1944 - Os doze trabalhos de Hércules

1939 - O Picapau Amarelo

1947 - Histórias diversas

1939 - O minotauro 1941 - A reforma da natureza

Outras obras - temática adulta O Saci Pererê: resultado de um inquérito (1918) Urupês (1918) Problema vital (1918) Cidades mortas (1919) Ideias de Jeca Tatu (1919)

A onda verde (1921) O macaco que se fez homem (1923) Mundo da lua (1923) Contos escolhidos (1923) O garimpeiro do Rio das Garças (1924) O choque (1926)

Negrinha (1920) Mr. Slang e o Brasil (1927)

Na antevéspera (1933)

Ferro (1931)

Contos leves (1935)

América (1932)

O escândalo do petróleo (1936)

Contos pesados (1940)

Literatura do minarete (1948)

O espanto das gentes (1941)

Conferências, artigos e crônicas (1948)

Urupês, outros contos e coisas (1943)

Cartas escolhidas (1948)

A barca de Gleyre (1944)

Críticas e Outras notas (1948)

Zé Brasil (1947)

Cartas de amor (1948)

Prefácios e entrevistas (1947)

64


Os Grandes Literários Brasileiros A produção de Monteiro Lobato é bem extensa. Podemos destacar, dentre outras obras, as seguintes: O Marquês de Rabicó (1922), Reinações de Narizinho (1931), Memórias de Emília (1936), Histórias da Tia Anastácia (1937), O Sítio do Pica-pau Amarelo (1939).

Personagens principais Tabela 1 - Principais Personagens LIVRO PERSONAGEM “Urupês” Jeca Tatu “O Sítio do Pica-pau Amarelo” Emília “O Sítio do Pica-pau Amarelo” “O Sítio do Pica-pau Amarelo” “O Sítio do Pica-pau Amarelo” “O Sítio do Pica-pau Amarelo” “O Sítio do Pica-pau Amarelo”

CARACTERÌSTICA Caipira brasileiro A boneca de pano que ganha vida Cuca Que era a vilã da narrativa Saci Pererê Personagem folclórico de uma perna só Visconde de Sabugosa Uma espiga de milho falante Pedrinho A figura da criança Dona Benta A vovó

Fonte: Monteiro Lobato: biografia resumida e principais obras1

Além deles, outro personagem que se destacou foi o Jeca Tatu (do livro Urupês), personagem pobre que representava a figura do caipira brasileiro.

Crítico

Monteiro Lobato escreveu ainda muitas críticas, entre elas “Jeca Tatu” e “Negrinha”, que retratam a visão que o autor tinha do país. Os contos falam sobre o trabalho do menor, parasitismo da burocracia, a violência contra os negros, imigrantes e mulheres, da empáfia dos que mandam, do crescimento desordenado das cidades e outros assuntos da crise de 30.

Descreve-se alguns personagens principais do Livro “Urupês e do Livro “O sítio do Pica –Pau Amarelo. Disponível em: http://www.resumosdeliteratura.com/2015/04/monteiro-lobato-biografia-resumida-e.html 1

65


Os Grandes Literários Brasileiros

Considerações Finais Monteiro Lobato foi um autor que marcou a infância de muitas gerações de crianças e jovens.Ele criou as histórias bem brasileiras, explorando as personagens de nosso folclore, criou criaturas com o jeito bem brasileiro, recuperando as tradições e costumes da roça e da época. Suas histórias chamavam a atenção do leitor, pela provocação de realidade e mitologia, costumes e fantasias, sonhos e realidade. Foi considerado o pai da literatura infantil.

CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE Por: Sergio A. Miranda

Introdução Quando se lê o nome Carlos Drummond de Andrade, existe um encontro direto com muitas referências a pessoa e seu legado, não só para a literatura, mas também para o contexto social. Drummond, é um ícone da literatura, desde sempre determinado a fugir dos conceitos formais, reconhecido por inúmeros poemas, citava os costumes da sociedade com certa ironia, escrevia com requinte e sofisticação. Mineiro, com formação em Farmácia, da ala Modernista, escreveu para o Jornal Diário de Minas, fundou “A Revista”, foi funcionário público, cronista de vários jornais, sempre dedicado a poesia, mas tendo em seu “curriculum” também livros infantis e contos, indicando a maturidade do ser poeta. O objetivo deste é trazer ao leitor um histórico não só de um Drummond escritor, mas também de uma biografia que transcende os limites da literatura, mas claro, expondo a beleza e qualidade do que escrevia. Para os amantes de Drummond, apenas mais uma maneira de citar aquilo que pode parecer comum, e para os que que superficialmente sabem algo deste que era alvo de admiração irrestrita, um momento para despertar a curiosidade, de deixar a imaginação criar imagens através da leitura de suas obras.

66


Os Grandes Literários Brasileiros Escrever algo sobre Drummond, é de extrema responsabilidade, mas ficará a cargo de cada leitor os exímios conhecedores, ou os que se deixarão levar por suas poesias, a continuidade deste trabalho, que marca apenas a tentativa de acender a chama da escrita de um dos maiores literários brasileiros.

Prefácio “Aprendi novas palavras e fiz outras mais bonitas" Carlos Drummond de Andrade

Drummond era homem do mundo, desde cedo inserido no mundo das palavras, na criatividade de escrever sem regras, o verso livre, o estilo poético permeado por traços de ironia, observações do cotidiano de pessimismo diante da vida e de humor. Drummond, conquistou seu espaço, foi reconhecido pela sua maneira direta e sempre criativa de escrever com facilidade sobre tudo. Muito ainda tem a ser falado e lido sobre este grande autor, que levou uma vida modesta e avessa aos holofotes, diante de uma obra tão vasta e rigorosa. As informações contidas neste trabalho de pesquisa, reúnem pouco, quase nada do que ainda pode ser falado e lido sobre este grande autor e grande pessoa, que foi Carlos Drummond de Andrade. E esse é o intuito, trazer a você leitor, a vontade de aumentar ainda mais este mundo de sabedoria, onde cada um compartilhara sempre uma nova visão sobre este Grande Literário Brasileiro.

67


Os Grandes Literários Brasileiros

Biografia Carlos Drummond de Andrade Nascido em 1902, na cidade de Itabira de Mato Dentro (hoje Itabira), interior de MG, filho de uma família de fazendeiros, estudou em Belo Horizonte, no Colégio Arnaldo, seguindo para Nova Friburgo no estado do RJ, onde estudou no Colégio Anchieta, de onde foi expulso segundo relatos por “insubordinação mental”. Retornando a capital mineira em 1921, iniciou sua carreira como escritor, no Diário de Minas, que reunia simpatizantes do movimento modernista mineiro. Já em 1922, ganha um prêmio de 50 mil réis, no Concurso da Novela Mineira, com o conto “Joaquim do Telhado”. Por pressão familiar, ingressou no curso de farmácia em 1923, na Escola de Odontologia e Farmácia de Belo Horizonte, concluindo em 1925, ano também de seu casamento com Dolores Dutra de Morais. Fundou junto a outros amigos escritores “A Revista”, definido como importante veículo de afirmação do Modernismo em Minas, apesar do pouco tempo de existência. Esteve presente no serviço público como Chefe do Gabinete do Ministério da Educação, e também funcionário do Serviço Histórico e Artístico Nacional, onde se aposentou em 1962.Escrevia crônicas para o Correio da Manhã e também para o jornal do Brasil. Os anos 60 e 70 são tidos como os mais produtivos. Segundo alguns autores, o modernismo não chega a ser dominante nem mesmo nos primeiros livros de Drummond, mas sim defendem traços de individualidade, descontração sintática, enfim era reconhecido pela 68


Os Grandes Literários Brasileiros maturidade. Conquistou admiração irrestrita, tanto pela obra quanto pelo seu comportamento como escritor. Várias foram as obras traduzidas para o espanhol, inglês, francês, italiano, alemão, sueco, tcheco e outras línguas. Além das crônicas Drummond deixou marcas na poesia, livros infantis, contos. Carlos Drummond de Andrade, morreu no Rio de Janeiro RJ, no dia 17 de agosto de 1987.

Como comecei a escrever Aí por volta de 1910 não havia rádio nem televisão, e o cinema chegava ao interior do Brasil uma vez por semana, aos domingos. As notícias do mundo vinham pelo jornal, três dias depois de publicadas no Rio de Janeiro. Se chovia a potes, a mala do correio aparecia ensopada, uns sete dias mais tarde. Não dava para ler o papel transformado em mingau. Papai era assinante da "Gazeta de Notícias", e antes de aprender a ler eu me sentia fascinado pelas gravuras coloridas do suplemento de domingo. Tentava decifrar o mistério das letras em redor das figuras, e mamãe me ajudava nisso. Quando fui para a escola pública, já tinha a noção vaga de um universo de palavras que era preciso conquistar. Durante o curso, minhas professoras costumavam passar exercícios de redação. Cada um de nós tinha de escrever uma carta, narrar um passeio, coisas assim. Criei gosto por esse dever, que me permitia aplicar para determinado fim o conhecimento que ia adquirindo do poder de expressão contido nos sinais reunidos em palavras. Daí por diante as experiências foram-se acumulando, sem que eu percebesse que estava descobrindo a literatura. Alguns elogios da professora me animavam a continuar. Ninguém falava em conto ou poesia, mas a semente dessas coisas estava germinando. Meu irmão, estudante na Capital, mandava-me revistas e livros, e me habituei a viver entre eles. Depois, já rapaz, tive a sorte de conhecer outros rapazes que também gostavam de ler e escrever.

69


Os Grandes Literários Brasileiros Então, começou uma fase muito boa de troca de experiências e impressões. Na mesa do café-sentado (pois tomava-se café sentado nos bares, e podia-se conversar horas e horas sem incomodar nem ser incomodado) eu tirava do bolso o que escrevera durante o dia, e meus colegas criticavam. Eles também sacavam seus escritos, e eu tomava parte nos comentários. Tudo com aturalidade e franqueza. Aprendi muito com os amigos, e tenho pena dos jovens de hoje que não desfrutam desse tipo de amizade crítica. Carlos Drummond de Andrade

Obra Literária

Poesia/Crônica                           

Antologia poética

Alguma Poesia (1930)  Poesia até Agora (1948) Brejo das Almas (1934)  A Última Pedra no meu Caminho (1950) Sentimento do Mundo (1940)  50 Poemas Escolhidos pelo Autor (1956) José (1942)  Antologia Poética (1962) A Rosa do Povo (1945)  Seleta em Prosa e Verso (1971) Novos Poemas (1948)  Amor, Amores (1975) Claro Enigma (1951)  Carmina Drummondiana (1982) Fazendeiro do Ar (1954)  Boitempo I e Boitempo II (1987) Viola de Bolso (1955)  Minha Morte (1987) A Vida Passada a Limpo (1959) Infantis Lição de Coisas (1962) Versiprosa (1967)  O Elefante (1983) Boitempo (1968)  História de Dois Amores (1985) A Falta que Ama (1968)  O Pintinho (1988) Nudez (1968)  Rick e a Girafa [13] As Impurezas do Branco (1973) Prosa Menino Antigo (Boitempo II) (1973) A Visita (1977)  Confissões de Minas (1944) Discurso de Primavera e Algumas  Contos de Aprendiz (1951) Sombras (1977)  Passeios na Ilha (1952) O marginal Clorindo Gato (1978)  Fala, Amendoeira (1957) Esquecer para Lembrar (Boitempo III)  A Bolsa & a Vida (1962) (1979)  A Minha Vida (1964) A Paixão Medida (1980)  Cadeira de Balanço (1966) Caso do Vestido (1983)  Caminhos de João Brandão (1970) Corpo (1984)  O Poder Ultrajovem e mais 79 Textos em Eu, Etiqueta (1984) Prosa e Verso (1972) Amar se Aprende Amando (1985)  De Notícias & Não-notícias Faz-se a Poesia Errante (1988) Crônica (1974) 70


Os Grandes Literários Brasileiros       

O Amor Natural (1992) Farewell (1996) Os Ombros Suportam o Mundo (1935) Futebol a Arte (1970) Naróta do Coxordão (1971) Da Utilidade dos Animais Elegia (1938)

JOSÉ E agora, José? A festa acabou, a luz apagou, o povo sumiu, a noite esfriou, e agora, José? e agora, você? Você que é sem nome, que zomba dos outros, Você que faz versos, que ama, protesta? e agora, José? Está sem mulher, está sem discurso, está sem carinho, já não pode beber, já não pode fumar, cuspir já não pode, a noite esfriou, o dia não veio, o bonde não veio,

        

70 Historinhas (1978) Contos Plausíveis (1981) Boca de Luar (1984) O Observador no Escritório (1985) Tempo Vida Poesia (1986) Moça Deitada na Grama (1987) O Avesso das Coisas (1988) Auto-retrato e Outras Crônicas (1989) As Histórias das Muralhas (1989)

o riso não veio, não veio a utopia e tudo acabou e tudo fugiu e tudo mofou, e agora, José? E agora, José? Sua doce palavra, seu instante de febre, sua gula e jejum, sua biblioteca, sua lavra de ouro, seu terno de vidro, sua incoerência, seu ódio, - e agora? Com a chave na mão quer abrir a porta, não existe porta; quer morrer no mar, mas o mar secou; quer ir para Minas,

Minas não há mais! José, e agora? Se você gritasse, se você gemesse, se você tocasse, a valsa vienense, se você dormisse, se você cansasse, se você morresse... Mas você não morre, você é duro, José! Sozinho no escuro qual bicho-do-mato, sem teogonia, sem parede nua para se encostar, sem cavalo preto que fuja do galope, você marcha, José! José, para onde?

71


Os Grandes Literários Brasileiros

Representação na Cultura

72


Os Grandes Literários Brasileiros A

temática

das

cédulas do

sistema monetário brasileiro do Cruzado Novo é voltada para as grandes expressões

da

cultura nacional. A cédula de cinquenta cruzados novos é dedicada ao poeta e cronista Carlos Drummond de Andrade (1902/1987)

Drummond, cidade

mineira

tornou-se século

nascido

no

uma

de

na

Itabira,

Brasil presença

deste tão

vigorosa quanto a de Machado de Assim em relação a seu tempo. Suas crônicas são testemunho época,

de

toda

revelando

interpretando

uma e

angústias,

alegrias e perplexidades do homem contemporâneo.A extraordinária sensibilidade, o fino humor, a perfeição com que manipula as palavras, tão característicos de sua prosa, são qualidades que se extremam em sua poesia, na aprofundada interpretação do mundo e de si mesmo. 73


Os Grandes Literários Brasileiros No fundo de segurança da cédula temos o desenho característico do calçamento de Copacabana - Rio de Janeiro, onde o poeta viveu muitos anos e produziu a maior parte de sua obra. Uma gravura representando o poeta em sua mesa de trabalho, domina a parte frontal da cédula. À direita da gravura estão reproduzidos os versos poema "Canção Amiga". Eu preparo uma canção em que minha mãe se reconheça, todas as mães se reconheçam, e que fale como dois olhos. Caminho por uma rua que passa em muitos países. Se não me vêem, eu vejo e saúdo velhos amigos. Eu distribuo um segredo como quem ama ou sorri. No jeito mais natural dois carinhos se procuram. Minha vida, nossas vidas formam um só diamante. Aprendi novas palavras e tornei outras mais belas. Eu preparo uma canção ue faça acordar os homens e adormecer as crianças.

74


Os Grandes Literários Brasileiros Quem passa todo os dias pelo calçadão de Copacabana, nas imediações do Posto 6, no Rio de Janeiro, já se acostumou com a silhueta de um velhinho que desde que ali chegou, nos idos de 30 de outubro de 2002, nunca mais

abandonou

a

postura

circunspecta e contemplativa. Carlos Drummond de Andrade, ali imortalizado pelas mãos do mineiro Leo Santana, foi lavrado em bronze com tal maestria que hoje é um verdadeiro chamariz de turistas e curiosos. É comum ver filas de pessoas que ao lado dela se sentam para tirar fotos, conversar, ou simplesmente olhar a paisagem fazendo companhia ao taciturno poeta. A estátua pesa cerca de 150 quilos, foi feita para retratar um momento rotineiro da vida de Drummond, a partir de registro fotográfico feito por Rogério Reis. Sua inauguração se deu em meio às homenagens ao do poeta que, embora mineiro, passou parte significativa de sua vida no Rio de Janeiro.

75


Os Grandes Literários Brasileiros

O Centro Cultural Carlos Drummond de Andrade foi inaugurado em 22 de maio de 1982 com o objetivo de preservar e desenvolver a cultura em todo município. O Centro Cultural é sede da Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade. Essa autarquia é responsável pela administração dos maiores espaços de cultura da cidade como a Casa do Brás, espaço de educação e cultura; o Museu de Itabira; a Tv Cultura; o Memorial Carlos Drummond de Andrade e o Núcleo de Estudos Drummondianos. Organiza também o Festival de Inverno de Itabira, maior evento cultural do município que acontece há 32 anos consecutivos e leva cultura a todos os cantos da cidade. Em sua sede, o Centro Cultural Carlos Drummond de Andrade também abriga a Biblioteca Pública Municipal Luiz Camillo de Oliveira Netto, um renomado teatro e um foyer para exposições. O teatro encontra-se entre os mais modernos do interior de Minas Gerais podendo receber diversos espetáculos, desde representações de peças teatrais a

76


Os Grandes Literários Brasileiros apresentações circenses e musicais.

Foto do "Memorial Carlos Drummond de Andrade", em Itabira.

.

77


Os Grandes Literários Brasileiros

Poema Papel, de Drummond, pintado numa parede da cidade de Leida, nos Países Baixos

Troféu Carlos Drummond Andrade, uma láurea da coluna social itabirana para personalidades de destaque 78


Os Grandes Literรกrios Brasileiros

Estรกtua de Drummond e Quintana. Praรงa da Alfandega, Porto Alegre RS

79


Os Grandes Literรกrios Brasileiros

Selo Comemorativo pelos Centenรกrio de Nascimento de Drummond

80


Os Grandes Literários Brasileiros

Referências ASSIS, Machado de. Obra Completa de Machado de Assis, vol. II, Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994. Assoc. Amigos do Museu Banco Central -http://aamuseuvalores.blogspot.com.br Acesso em 07 de Maio de 2017 AUTOR DESCONHECIDO. Caminhos Cruzados, de Érico Veríssimo. 2007 – 2017. Disponível em:< http://www.passeiweb.com/estudos/livros/caminhos_cruzados > AUTOR DESCONHECIDO. Clarissa de Erico Verissimo. 2000 - 2017Disponível em: < http://www.coladaweb.com/resumos/clarissa-erico-verissimo > Carlos Drummond de Andrade - http://www.carlosdrummond.com.br Centro Cultural Carlos Drummond de Andrade - http://vivaitabira.com.br Clarisse Lispector - http://www.poesiaspoemaseversos.com.br/clarice-lispector-textos/ Clarisse Lispector - https://educacao.uol.com.br/biografias/clarice-lispector.htm Clarisse Lispector - https://www.ebiografia.com/clarice_lispector/ DE ARAUJO, Ana Paula. Musica ao Longe. 2006-2017 Disponível em: < http://www.infoescola.com/livros/musica-ao-longe/ > DE ARAUJO, Ana Paula. O tempo e o Vento. 2006-2017 Disponível em: < http://educacao.globo.com/literatura/assunto/resumos-de-livros/o-tempo-e-o-vento-ocontinente.html > DE ARAUJO, Ana Paula. Olhai os Lírios do Campo. 2006-2017 Disponível em: < http://www.infoescola.com/livros/olhai-os-lirios-do-campo/ > DE ARAUJO, Ana Paula. Um Lugar ao Sol. 2006-2017 Disponível em: < http://www.infoescola.com/livros/um-lugar-ao-sol/ > E Biografia - https://www.ebiografia.com/ Entrevista com Clarice Lispector, televisionado originalmente na TV Cultura, filmado em fevereiro de 1977. (Youtube) FRAZÃO, D. (21 de junho de 2017). Biografia de José de Alencar. Disponível em ebiografia: https://www.ebiografia.com/jose_alencar/ Acesso em 03 de julho de 2017 Fund. Cultural Carlos Drummond de Andrade - http://www.fccda.mg.gov.br GRINBERG, Lúcia; ALMEIDA, Anita; GRINBERG, Keila. Para Conhecer Machado de Assis. Rio de Janeiro: Zahar, 2005 81


Os Grandes Literários Brasileiros http://chc.org.br/a-casa-de-joaquim-maria/ http://claricelispector.blogspot.com.br/2007/11/o-ovo-e-galinha.html http://educacao.globo.com/literatura/assunto/autores/mario-de-andrade.html http://machado.mec.gov.br/cronologia-mainmenu-121 http://www.academia.org.br/academicos/machado-de-assis/biografia http://www.infoescola.com/literatura/mario-de-andrade/ https://pt.wikipedia.org/wiki/M%C3%A1rio_de_Andrade https://www.ebiografia.com/mario_andrade/ José de Alencar Biografia. (s.d.). Disponível em Academia Brasileira de Letras: http://www.academia.org.br/academicos/jose-de-alencar/biografia Acesso em 30 de maio de 2017 JOSÉ DE ALENCAR O 'CAZUZA'. (20 de setembro de 2007). Disponível em Portal Catalao: http://www.portalcatalao.com.br/portal/noticias/bjose-de-alencar-ocazuzab,NTV,NDAwMw.rb José de Alencar. (s.d.). Disponível em <Wikipédia: https://pt.wikipedia.org/wiki/Jos%C3%A9_de_Alencar >Acesso em 20 de maio de 2017 José de Alencar. (s.d.). Disponível em Sua Pesquisa.com: http://www.suapesquisa.com/josedealencar/ Acesso em 21 de maio de 2017 Livro - A paixão segundo GH, 1964 - Clarice Lispector Livro- A hora da estrela, 1977 - Clarice Lispector Monteiro Lobato: biografia resumida e principais obras Disponível em http://www.resumosdeliteratura.com/2015/04/monteiro-lobato-biografia-resumidae.html?m=1>. Acesso em 08 de maio de 2017.

<

PETRIN, Natália. Biografia de Monteiro Lobato Disponível em < http://www.estudopratico.com.br/biografia-de-monteiro-lobato/>. Acesso em 08 de maio de 2017. Portal Brasil Escola.Disponível em <http://brasilescola.uol.com.br/literatura/castroalves.htm>Acesso em:08 de Julho de 2017. Portal SOS Estudante. Disponível em <http://www.sosestudante.com/resumos-o/osescravos-castro-alves-2.html> Acesso em: 08 de Julho de 2017. Pré-Modernismo e Algumas de suas Obras Disponível <https://www.algosobre.com.br/literatura/pre-modernismo-e-algumas-de-suasobras.html#menu2 >. Acesso em 08 de maio de 2017. VILARINHO, Sabrina. Erico Verissimo; Brasil Escola. http://brasilescola.uol.com.br/literatura/erico-verissimo.htm >

Disponível

em

em:

<

82


Os Grandes LiterĂĄrios Brasileiros VILARINHO, Sabrina. "Monteiro Lobato "; Brasil Escola. DisponĂ­vel em <http://brasilescola.uol.com.br/literatura/monteiro-lobato.htm>. Acesso em 08 de maio de 2017.

83


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.