Os concílios

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OS CONCÍLIOS

O termo Concílio vem do latim concilium, e significa reunião, assembléia (de conciere, reunir, juntar, chamar).Eclesiasticamente, é uma assembléia de bispos, de prelados. De acordo com o catolicismo, é uma Assembléia de bispos ou prelados reunidos para deliberar e decidir acerca de questões que interessam à doutrina ou à vida da Igreja. Durante a história da Igreja cristã, houve vários concílios provinciais, regionais, nacionais, plenários, ecumênicos, etc. O primeiro concílio ocorreu em Jerusalém em 49 d.C. ( At 15 ), quando os apóstolos reuniram-se com os presbíteros e deliberaram sobre o que os gentios convertidos deveriam fazer após abraçar a nova fé.Findo o primeiro século da era cristã, os bispos, autônomos em suas Igrejas, comunicavam-se uns com os outros por meio de cartas exortatórias ou doutrinais. No 2º século, os bispos mais antigos ( Jerusalém, Cesaréia, Antioquia, Alexandria e Constantinopla ), sentiram a necessidade de atingir toda cristandade com as decisões tomadas, e realizaram concílios provinciais ou regionais. Firmou-se o poder colegial dos bispos e seu consenso unânime, baseado no sentimento de fé dos fiéis, passou a ser norma válida para todos. Ocorreram Sínodos na Ásia Menor cujo objetivo era avaliar as idéias de alguns homens considerados hereges, como Marcião, Montano, Basilides, etc. O papa Vítor, em 197, reuniu em Roma um Sínodo para examinar a questão da data da Páscoa, celebrada em dias diferentes, no Oriente e no Ocidente.Os Concílios regionais, no século III, já são instituição 1


permanente.No ano 256 d.C., Cipriano, então bispo de Cártago, reuniu 87 bispos africanos. Cerca de 306 d.C., em Elvira ( antiga cidade perto de Granada, Espanha), 19 bispos e 24 presbíteros da península Ibérica, decretaram o celibato do clero. Já em 314, o imperador Constantino, convoca em Arles, na Gália, um Concílio de 33 bispos de todas as partes do império ocidental. Pouco depois, em 325 , a pedido dos bispos do oriente, Constantino convocou o 1º Concílio oficialmente tido como ecumênico, em Nicéia, cidade da Bitínia. Os Concílios ecumênicos são aqueles cujas resoluções foram reconhecidas por todas as Igrejas e por Roma, como normas de fé para a Igreja universal. Em Nicéia, condenaram as opiniões de Ário, sacerdote de Alexandria, proclamaram igualdade de natureza entre o Pai e o Filho, promulgaram uma fórmula de fé conhecida como símbolo de Nicéia, fixaram a data da Páscoa a ser celebrada no 1º domingo após a 1ª lua cheia da primavera ( hemisfério norte ), e estabeleceram a ordem de dignidade dos Patriarcados: Roma, Alexandria, Antioquia e Jerusalém. Todos os outros sete Concílios seguintes também ocorreram na Ásia, sendo solicitado pelos bispos, mas convocados pelos imperadores de Bizâncio e efetuados sob proteção imperial. Os papas romanos não compareceram a nenhum desses Concílios, mas enviaram representantes, reservando-se ainda, ao direito de aprovar ou não as suas conclusões. Vejamos uma síntese dos Concílios e daquilo de mais importante que ocorreu em cada um deles:

CONCÍLIO CONSTANTINOPLA I – Ocorreu em 381, e Dâmaso I ( 366-384 ), era o papa. Neste encontro condenaram: o Macedonismo de Macedônio, patriarca de Constantinopla, os defensores do arianismo, de Ário, sob quaisquer das suas modalidades; confessaram a divindade do Espírito Santo e a sede de Constantinopla ou Bizâncio ( “segunda Roma” ), recebeu uma preeminência sobre as sedes de Jerusalém, Alexandria e Antioquia.

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Condenaram, ainda, Apolinário, terminaram a questão trinitária e cristológica sobre Jesus e reafirmaram o resultado de Nicéia.

CONCÍLIO DE ÉFESO - Presidido por Cirilo, bispo de Alexandria, ocorrido em 431. Teodósio II, era então imperador, Celestino I ( 422-432 ), era o papa. Nele foram condenadas as opiniões de Nestório, bispo de Constantinopla, que dizia haver o Logos habitado em Jesus, tornando-o portador de Deus, não Deus-homem; a união era moral e não orgânica. Também negava à “virgem” Maria a denominação de Mãe de Deus, admitindo somente o título de mãe de Cristo. Nestório foi condenado como herege, a cristologia alexandrina sobre o nascimento humano e divino de Jesus – uma só pessoa, duas naturezas - foi firmada, e, Maria foi reconhecida como theotokos – genitora de Deus. Ainda, condenou o pelagianismo, de Pelágio, que negava os efeitos do pecado original e o messalianismo, que apregoava uma total apatia ou uma Moral indiferentista.

CONCÍLIO DE CALCEDÔNIA - Ocorreu em 451, contando com a presença de 500 bispos. O papa Leão I, o Grande ( 440-461 ), teve um papel importante nele, por meio de sua carta dogmática, denominada Tomo a Flaviano. Nesse Concílio, condenaram o monofisismo, doutrina professada pelo monge Êutiques, de Constantinopla. Foi definido haver duas naturezas ( humana e divina ) na única pessoa do Cristo. Condenaram ainda, a simonia, os casamentos mistos e ordenações absolutas ( realizada sem que o novo clérigo tivesse determinada função pastoral ).

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CONCÍLIO CONSTANTINOPLA II – Ocorreu em 553 d.C. Virgílio ( 537555 ), era então o papa.Teve como principal decisão: condenação dos nestorianos Teodoro de Mopsuéstia, Teodoro de Ciro e Ibas de Edessa; discutiram-se questões sobre Jesus, a Trindade, etc.

CONCÍLIO DE CONSTANTINOPLA III - Ocorreu em 680/81, condenou a doutrina do monotelismo, que dizia haver no Cristo uma única vontade ( a divina, absorvendo a humana ). O Concílio ensinou que Cristo possui duas vontades e duas operações naturais, divina e humana, não opostas, mas cooperantes, a vontade humana de Cristo segue a vontade divina, sem estar em resistência nem em oposição em relação a ela.

CONCÍLIO DE NICÉIA II - Aconteceu em 787. Adriano I ( 772-795 ), era o papa. Foi contra os iconoclastas, e fixou o sentido da veneração das imagens. “Nós definimos com todo o rigor e cuidado que, à semelhança da representação da cruz preciosa e vivificante, assim as venerantes e sagradas imagens pintadas quer em mosaico, quer em qualquer outro material adaptado, devem ser expostas nas Santas Igrejas de Deus, ...” ( DS, 600-601).

CONCÍLIO DE CONSTANTINOPLA IV - Deu-se em 870. Nele condenaram o patriarca Fócio e temporariamente encerraram o primeiro cisma oriental. Foi confirmado também o culto das imagens. Depois de um intervalo de 250 anos, os Concílios passaram a ocorrer no ocidente, dos quais 4 aconteceram na basílica de Latrão, reformada e acrescida de grandes salas de reunião. Estes Concílios foram disciplinares, para esclarecer e determinar certos pontos da legislação eclesiástica: Latrão I – 1123. Calixto II, era o papa ( 1119-1124 ), encerrou a Questão das 4


Investiduras, confirmando a Concordata de Worms; fortaleceu a disciplina eclesiástica e confirmou o celibato sacerdotal; Latrão II – 1139. Inocêncio II, era o papa ( 1130-1143 ). Teve como decisões principais: o cisma do antipapa Anacleto II, vetou o exercício da medicina e da advocacia pelo clero e rejeitou a usura e o lucro; Latrão III – 1179. Alexandre III, era o papa ( 1159-1181 ), e foi quem presidiu. Alexandre III, que, antes de ser papa, fora insigne canonista, determinou leis acerca da eleição papal ( necessidade de uma maioria de dois terços ) e da nomeação dos bispos ( idade mínima de 30 anos ); rejeitaram o acúmulo de benefícios ou funções dentro da igreja por parte de uma mesma pessoa, recomendaram a disciplina da Regra aos monges e cavaleiros regulares, que interferiam indevidamente no governo da igreja; condenaram heresias da época, de fundo dualista ( catarismo ) ou da pobreza mal entendida ( a Pattária, o movimento dos Pobres de Lião ou Valdenses ); Latrão IV – 1215. Inocêncio III, era o papa ( 1198-1216 ). Determinou que todo cristão, chegado ao uso da razão, seria obrigado à confissão e à páscoa anuais, e condenou os albigenses e valdenses, os erros de Joaquim de Fiore, que pregava o fim do mundo para breve, apoiando-se em falsa exegese bíblica; declararam que os demônios eram anjos bons que abusaram do seu livre arbítrio pecando; decidiram realizar outra cruzada para libertar o Santo Sepulcro de Cristo, em Jerusalém, que se achava nas mãos dos muçulmanos; declararam a profissão de fé na eucaristia, tendo sido usada

a palavra

“transubstanciação”; e ainda, fixaram normas sobre a disciplina e a Liturgia da Igreja.

CONCÍLIO DE LYON I – 1245. Inocêncio IV, era o papa ( 1243-1254 ). Foi deposto o imperador romano-germânico Frederico II, perseguidor da Igreja e do papa. CONCÍLIO DE LYON II – 1274; cujo papa era Gregório X ( 1271-1276 ), foi uma tentativa de reconciliação com Bizâncio e a Igreja ortodoxa; apesar da boa vontade do

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imperador Miguel e do patriarca de Constantinopla, esse Concílio não conseguiu a união desejada. Decidiram procedimentos referentes ao conclave, eleição do Papa em recinto fechado.

CONCÍLIO DE VIENNE ( França ), reunido em 1311/12, o papa Clemente V ( 1305-1314 ), pressionado por Filipe o Belo, estabeleceu o processo contra a ordem militar dos templários, decretando a sua supressão; foram também contra o modo de viver a pobreza dos Franciscanos, chamados “Espirituais”, que adotavam idéias heréticas sobre a pobreza, e, condenaram o franciscano Pedro Olivi, que admitia no ser humano elementos intermediários entre a alma e o corpo.

CONCÍLIO DE CONSTANÇA – 1414. Teve duração de 4 anos. Nele deu-se a extinção do grande cisma do Ocidente, a condenação de Jan (João) Hus, João Wiclef e Jerônimo de Praga, precursores de Lutero; e, um decreto declarou a supremacia do Concílio sobre o papa – conciliarismo- ( posteriormente ab-rogado ). Ocorreu ainda, a resignação do papa romano, Gregório XII ( 1405-1415 ), deposição dos anti-papas, João XXIII ( 1410-1415 ) e Benedito XIII ( 1394-1415 ) e a eleição de Martinho V, em 11/11/1417. Em 1431, o papa Eugênio IV ( 1431-1447 ), tentou reunir um Concílio para tratar de uma nova aproximação com os ortodoxos.O Concílio, iniciado em Basiléia, transferiuse, depois, para Ferrara, realizou suas sessões principais em Florença e terminou em Roma, em 1442.Ocorreram reuniões com os gregos, os armênios e com os jacobitas; foram também discutidas questões doutrinárias sobre a Santíssima Trindade. O Concílio de Latrão V – 15121517; foi realizado por dois papas famosos, grandes humanistas da Renascença, Júlio II ( 15031513 ) e Leão X ( 1513-1521 ); teve como principal objetivo desarmar o anticoncílio de Pisa, contrário aos papas. Decretaram a reforma da formação do clero, sobre pregação, etc. 6


Condenaram a Sanção de Bourges, declaração que favorecia a criação de uma Igreja Nacional da França; assinaram uma Concordata que regulamentava as relações entre a Santa Sé e a França, condenaram a tese de que a alma humana é mortal e uma só para toda a humanidade, de Pietro Pomponazzi; houve a exigência de Imprimatur para os livros que versassem sobre a fé ou teologia.

O CONCÍLIO DE TRENTO - ( 1545-1563 ). Papas Paulo II ( 1534-1549 ), Júlio III ( 1550-1555 ) e Pio IV ( 1559-1565 ). Foi o mais longo da história da Igreja: é chamado Concílio da Contra-Reforma. Pronunciou-se sobre a doutrina dos grandes reformadores do séc. XVI. Emitiu numerosos decretos disciplinares. Reafirmaram o Cânon das Sagradas Escrituras e declararam a Vulgata isenta de erros teológicos; discutiram ainda sobre: pecado original, justificação, os sacramentos e a missa, a veneração e invocação dos santos, eucaristia, purgatório, indulgências, etc.

CONCÍLIO VATICANO I - ( 1869/70 ). Pio IX ( 1846-1878 ), era o papa. Condenou o racionalismo, o naturalismo, o modernismo e proclamou o primado do papa e sua infalibilidade pessoal, quando define expressamente doutrinas de fé e de costumes. Ocorreu a Constituição dogmática Dei filius, sobre a fé católica e discutiam-se questões doutrinárias sobre Deus, o mundo, a Santa Igreja, etc.

CONCÍLIO VATICANO II - ( 1962-1965 ). Papas João XXIII ( 1958-1963 ) e Paulo VI ( 1963-1978 ). Foi um grande Concílio de renovação e de atualização da Igreja. Declarou-se nele, a ordem dos bispos, que sucede ao colégio apostólico do magistério e, no regime pastoral, é também detentora do poder supremo e pleno sobre toda Igreja. Vários 7


documentos foram promulgados, entre eles: Constituição Dogmática sobre a Igreja, sobre a Revelação Divina, sobre a Sagrada Liturgia, Constituição Pastoral sobre a Igreja e o mundo de hoje, Decretos sobre: o Ecumenismo, as Igrejas Orientais Católicas, sobre a Atividade Missionária da Igreja, sobre o Munus Pastoral dos Bispos na Igreja, sobre o Ministério e a Vida dos Presbíteros, Atualização dos Religiosos, Formação Sacerdotal, Meios de Comunicação Social, Educação Cristã, Liberdade Religiosa, sobre as Relações da Igreja com as Religiões nãoCristãs, etc. No séc. XVI, em correspondência com o Concílio de Trento, realizou-se o Concílio de Lima; e em 1899, como decorrência do Concílio Vaticano I, reuniu-se em Roma o Concílio Latino-Americano. No Brasil, em 1939, ocorreu o primeiro Concílio nacional da Igreja Católica – o Concílio Plenário Brasileiro, com a presença de 104 prelados no Rio de Janeiro. No Anglicanismo, a Igreja da Inglaterra realiza concílios aproximadamente de 10 em 10 anos. A primeira Conferência, de 1867, reuniu 76 bispos de vários países, e a última, de 1967, congregou perto de 350 bispos. No Protestantismo, alguns ( congregacionalismo, batistas ), adotam a forma conciliar na própria estrutura local. As Igrejas Luteranas, Presbiterianas e Metodistas possuem estruturas continentais permanentes, reunindo periodicamente representantes de todas as partes do mundo em assembléias de estudo e de recomendações, tais como a Aliança Mundial das Igrejas Reformadas, Concílio Metodista Mundial, Concílio Congregacional Internacional. A tendência para reunir as várias confissões protestantes ampliou-se com o movimento ecumênico, do qual surgiram vários órgãos permanentes, destacando-se, no plano internacional, o Conselho Mundial de Igrejas, com sede em Genebra, fundado em 1948. No Judaísmo, a vida judaica foi reorganizada com o Concílio de Usha. Em 1150 e 1160, na França, novos concílios debateram os problemas provenientes das Cruzadas, que afetavam a religião judaica. Em Valladolid (1432), foram discutidos problemas de organização e de educação. Em 1554, houve o Concílio de 8


Ferrara, devido a ameaça católica de estabelecer a censura prévia dos livros judaicos. E em 1889, em Pittsburgh (E.U.A.), estabeleceram-se os princípios do Judaísmo reformista. Alguns concílios católicos ocuparam-se da relação com o Judaísmo, destacando-se o de Elvira em 312, que procurou estabelecer as formas de impedir quaisquer relações entre cristãos e judeus. O Concílio de Nicéia , em 325, proibiu a celebração do sabath. O Vaticano II, criou uma comissão para estudar novo relacionamento dos católicos com os judeus, medida também adotada pelo Conselho Mundial de Igrejas. No Budismo, depois da morte de Buda (483 a.C.), monges budistas realizaram um Concílio em Rãjagriha, com a finalidade de estabelecer a doutrina budista. Em 337 a.C., um segundo Concílio é realizado em Vaiçãli, e o terceiro em Patãliputra, quando se discutiu a cisão entre Mahãsãnghika e os Sthavira. O 4º Concílio se deu em 249 a.C., em Patãliputra, para debater questões relativas aos dogmas. Em 89 a.C., no Ceilão, adotou-se em Concílio o uso da língua Páli nos textos budistas. O cânon sânscrito dos Sarvãstivãdin foi decidido no século II, também num Concílio.

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