e e bu N°23 maio de 2007
oito anos
Kiss Kiss Boa bagunça direto de Nova York
The Orders Banda finlandesa que veio para espantar o frio
Julieta Venegas Conheça a cantora que conquistou a América Latina e a Europa. Agora só falta o Brasil. E mais: Math and Physics Club, Ricardo Koctus e Moveis Coloniais de Acajú
Parece que o tempo nem passou direito, mas lá vão oito anos que criei o Elebu ainda caloura na Universidade Católica de Brasília. Começou bem simplório, passou por trocentas fases distintas (zine impresso, página na internet, blog com outro nome), e não é que o bicho foi ganhando força? Acho que essa edição de aniversário é bem a prova disso. Para comemorar a data, tinha uma idéia meio megalomaníaca de só mostrar entrevistas e matérias de bandas internacionais. E não é que deu certo? A capa dos sonhos seria com a Julieta Venegas, que felizmente se tornou realidade. Aliás, falar com essa incrível cantora mexicana era um vislumbre que tive desde o início do ano, quando fiz a entrevista por impulso com o Paddy Milner (que acabou se tornando um marco pessoal). Oras, se era possível trazer entrevistas internacionais num fanzine como o Elebu, e se o trabalho por aqui é sério e sincero, que não deixa a dever a ninguém, então porque não tentar com alguém realmente grande (e que não fosse o Pato Fu)? E a Julieta Venegas, sem querer, é um dos nomes mais assíduos por aqui. Só perde mesmo para o próprio Pato Fu. Ela esteve “presente” em nada menos que seis edições (essa é a sétima) nas resenhas dos discos dela, sendo mencionada por outros artistas, na trilha sonora da edição e até em editoriais. Se os integrantes do Pato Fu são os nossos “musos” nacionais e da casa, a Julieta é a nossa musa internacional. Por isso, o fato dela ter nos prestigiado, e logo na edição comemorativa, foi uma felicidade muito grande. Também tem as outras bandas estrangeiras: duas estadunidenses (Kiss Kiss e Math And Physics Club) e uma da terra do Kimi Haikkonem (The Orders). Todas as três são muito boas dentro de suas propostas. A Kiss Kiss merece destaque pela originalidade do som que mescla circo, vocal berrado e muito barulho. A The Orders já puxa para o lado do rock gótico, já MAPC preza por um som tranqüilo e temática quase adolescente. Claro que estaríamos fazendo bonito da mesma forma com as bandas nacionais. Cactus Cream, Lafayete e os Tremendões, Ronei Jorge e os Ladrões de Bicicleta são apenas algumas na lista de “gente que estamos doidos para falar a respeito”. Isso sem mencionar os desenhistas, escritores, fotógrafos e jornalistas que adoraríamos ver por aqui. Mas tudo no seu devido tempo, não é mesmo? Por último, gostaria de agradecer a todas as pessoas que fazem e já fizeram parte da história do Elebu (a lista de nomes está ficando grande, mas elas sabem quem são). Essa edição de aniversário é dedicada a todas elas.
8anos
editorial & expediente
ELEFANTE BU N° 23 EDIÇÃO, DIAGRAMAÇÃO, TEXTOS NÃO ASSINADOS:
PRODUÇÃO
E
DISTRIBUIÇÃO: Por e-mail
Djenane Arraes PARA DOWNLOAD: DIAGRAMAÇÃO “PORÃO WEB”: http://elefantebu.poraki.com.br Washington Ribeiro CONTATO: CAPA: elefantebu@yahoo.com.br Agência AP CANÇÕES E AFINS: COLABORADORES: Washington Ribeiro, Georgiana Leonardo de Moura e Rúbia Cunha.
Calimeris,
AGRADECIMENTOS: Um obrigado especial a Julieta Venegas, Verónica Ramirez, Ethan Jones, Josh Benash, Jared Karns e Lauri Koski. Fábio Carbone, Pedro Luís, Fernanda Takai, Ricardo Koctus e Érika Martins. Rita Maria e Rodolfo Sikora.
A discografia de Julieta Venegas, em especial as músicas Lento, Andar Conmigo, Fé, Como Se e Canciones de Amor. Todas as bandas resenhadas e entrevistas nessa edição. Manhã de Carnaval, na voz de Nara Leão (é uma interpretação tão linda que ela fez para esse poema). APOIO:
Capa/ Ziniando:
Julieta Venegas Pato Fu:
Projeto solo de Ricardo Koctus Ziniando:
Móveis Coloniais de Acajú Math and Physics Club The Orders Kiss Kiss Para escutar e ver:
Tudo de Novo Repolho The Shins A Viagem de Chihiro outros... PorãoWeb:
Mojo Books Colunista da edição:
Rodolfo Sikora O Guia:
Georgiana Calimeris Rita Maria Félix da Silva Mundo Geek:
Buffy Nerdcast Lostinho
sumário
Intrépido Ricardo
pato fu
Foto: Marcelo Dante Um dos questionamentos meus mais recorrentes a respeito do Pato Fu era qual a razão do Ricardo Koctus participar tão pouco dos vocais nos últimos discos? Ele não é um grande cantor, mas suas habilidades nesse ofício não comprometem em nada o desempenho da banda. Muito pelo contrário. Outro ponto é: por que haviam poucas músicas do baixista? Oras, canções como Arte e Azar, Não Mais ou mesmo a jovem guarda meio avacalhada Tchau Tô Indo Já Fui são ótimas e só acrescentam um brilho a mais no repertório. Depois de conferir as quatro músicas do trabalho solo de Ricardo Koctus gravadas na abertura do show de Zeca Baleiro em Belo Horizonte, aí que as coisas ficaram confusas. Por que algo tão bacana não está registrado nos discos? Seria por
alguma recusa, porque não deu p a ra i n c l u i r, o u R i c a r d o escondeu o jogo? Há coisas dentro de uma banda que um fã nunca vai entender mesmo. De qualquer forma, o trabalho dele, acompanhado de Gerson Barra (baixo), André Lima (teclados) e Robinson Matos (bateria), é algo que merece ser noticiado. Acesse a página do músico e fotógrafo (www.myspace.com/ricardokoc tus) e repare, por exemplo em Samba Bossa Rock and Roll. Eis aí um samba gostoso de se ouvir por ser para frente, ensolarado e bem romântico. “vou levar margaridas/ será que ela gosta?/ vou fazer serenata/ será que ela gosta?/ vou levar uns discos/ será que ela gosta?”
(isso gruda). E Ricardo ainda fez o favor de incluir um trecho do clássico Essa Moça Tá Diferente, de Chico Buarque. Faz ganhar o dia! Eu vejo um vídeo-clipe maneiro de Amores Perdidos, uma levada pop simples e apaixonante. Vejo Se Sorri ou Se Chorei virando um hit nas rádios. Aliás, essa música tem todos os ingredientes para tal. E por último tem a bacana Recado, que, assim como a outra canção samba/pop, é ensolarada, para cima. “Vou cantar uma canção para você dançar/ será um belo recado para o seu coração”. Ricardo Koctus construiu um pequeno repertório de uma leveza e simplicidade que não são comuns no Pato Fu e que também é diferente das próprias composições do baixista no repertório da banda. Vale muito à pena conhecer!
Obs.: O plano era também falar do DVD de clipes do disco Toda Cura Para Todo Mal, mas é que o preço do frete estava salgado e o produto ainda não havia chegado nas lojas brasilienses até o fechamento dessa edição. Peço desculpas a quem gostaria de ler a respeito, mas vai ter que ficar para a próxima.
Móveis no Porão 2007 A Móveis Coloniais de Acaju, banda mais importante do cenário brasiliense da atualidade, vai marcar presença na edição que celebra os dez anos do festival Porão do Rock. Isso é mais que justo, uma vez que esse “time de futebol” (são onze integrantes contando com o assessor Fabrício Ofuji) nascido há sete anos foi a única atração revelada no Porão que conseguiu status e repercussão expressiva no resto do país. E tudo graças a um trabalho bem-feito e contínuo. A Móveis aposta, principalmente, na força dos shows, e quem já foi sabe que é impossível ficar parado. A banda se apresentou no Humaitá Pra Peixe (RJ) e em diversos outros festivais pelo país afora, sempre arrancando elogios de todos os lados. Em Brasília, eles realizam o projeto “Móveis Convida” que já trouxe a cidade bandas como a (extinta?) Los Hermanos e Ludov. E os garotos não param por aí. Eles foram escalados como uma das atrações principais do festival MADA (RN) deste ano e tem tudo para encher o Canecão no Rio de Janeiro num show marcado para junho. Quem acompanha a Móveis no Porão 2007 são as bandas estadunidenses Mudhoney e BellRays, a portuguesa Born a Lion, além das nacionais Sepultura, Nação Zumbi e Angra. O festival Porão do Rock será realizado nos dias 1, 2 e 3 de junho no já tradicional estacionamento do Mané Garrincha. Veja as atrações confirmadas até o fechamento da edição. ATRAÇÕES CONFIRMADAS Headliners internacionais BellRays (EUA) Born a Lion (Portugal) Mudhoney (EUA)
SELETIVA BRASÍLIA (disputam quatro vagas no festival)
Bandas nacionais (selecionadas pela ONG) Allface (RN) Dance of Days (SP) Macaco Bong (MT) Mechanics (GO) Moptop (RJ) Rock Rocket (SP) Superguidis (RS) Vamoz! (PE)
Indie/rock/outros estilos (concorrendo a duas vagas) Cromonato Fibra Janicedoll Lafusa Rafael Cury Resistores Rocan Superquadra
Bandas de Brasília (convidadas ou formadoras do Porão) Galinha Preta Móveis Coloniais de Acaju Supergalo Zamaster
ziniando
Headliners nacionais Angra (SP) Garotos Podres (SP) Inocentes (SP) Nação Zumbi (PE) Sepultura (MG) Tuatha de Danann (MG)
Punk/Hardcore/Metal (concorrendo a duas vagas) Dissonicos Firstations From Hell Harllequin Lesto! Linha de Frente Moretools Vougan
Musa Internacional
Cantora de voz marcante, compositora que busca simplicidade e a fácil comunicação, instrumentista diferenciada. Essas são apenas algumas boas características que se atribui a mexicana Julieta Venegas, artista que conquistou diversos países com um pop único e primoroso. Texto: Djenane Arraes - Fotos: divulgação. Falar de artistas da América Latina no Brasil é tarefa complicada. A gente mal considera fazer parte dela. É como se existissem duas Américas Latinas distintas: nós brasileiros que falamos e temos orgulho da língua portuguesa, e o resto. Essa exclusão e/ou negação se manifesta das mais diversas formas e preconceitos. Na música, isso se reflete num mercado fechado onde as pessoas podem até conhecer algumas bandas “latinas”, mas que dificilmente se converte em vendas significativas ou mídia. É preciso primeiro fazer sucesso em escala global para conseguir colocar uma música em espanhol em nossas rádios comerciais, como é o caso da Shakira na atualidade, e do Julio Iglesias há alguns anos. Em geral, para ter visibilidade e, quem sabe, virar moda, o caminho mais fácil é ter a música vinculada a algum programa de TV. Foi o que possibilitou o fenômeno Menudo nos anos 80 e é o que sustenta a RBD agora. Comentar qualquer coisa a respeito de Julieta Venegas é fogo. A maioria absoluta das pessoas te olha com cara de interrogação ao mencionar o seu nome. E mesmo depois de você “rezar a missa”, elas continuam com cara de interrogação. Mas isso tem melhorado nos últimos meses. Agora quando você fala nela, alguns poucos já dizem: “é aquela moça que cantou com o Lenine no acústico?”. Que venham os fogos de artifício e quem sabe esse não seja um ponto de partida para a entrada de Julieta em nosso mercado. Não seria difícil e só traria coisas boas porque se trata de um trabalho de muita qualidade. Boa parte dos brasileiros já a ouviu de algum modo. O programa Fantástico, da Rede Globo, coloca com freqüência pequenos trechos de sua música para servir de trilha das reportagens, em especial as de comportamento. Sei que isso não é muito elucidativo, mas é um exemplo concreto de que, ao mesmo tempo em que seu nome é ainda desconhecido para a grande massa, há sim pequenos grupos que a conhece e se tornaram fãs. Alguns deles ainda se dispõem a fazer um trabalho de divulgação a passos de formiga usando os meios que lhes cabem. Daí vem as vinhetinhas na TV, as rádios comunitárias, a divulgação boca a boca, e as matérias nos fanzines. Sem mais delongas, vamos partir para a missa. Isso aqui é um texto de apresentação que, espero, possa despertar o interesse para o trabalho dessa cantora fantástica. O título a trata como musa internacional, o que de fato ela é em vários sentidos. Julieta nasceu em solo estadunidense, mas é mexicana que cresceu e foi criada em Tijuana. Estudou piano e sabe tocar diversos outros
instrumentos, inclusive acordeom, que tem presença marcante em sua música. Antes de partir para a carreira solo, teve passagens no teatro e foi integrante de duas bandas: Tijuana No e Lula. A primeira era de ska/reggae que ficou conhecida pelo cunho político em suas canções. Julieta participou da primeira formação, mas já estava de fora quando o primeiro disco foi lançado. Depois de fazer parte de dezenas de projetos, em 1996 ela assinou contrato com a BMG e no ano seguinte lançou o seu primeiro solo, Aquí. O tempo que trabalhou o disco foi importante para a sua entrada no mercado europeu, na América Latina que fala espanhol e Estados Unidos. Ela também abocanhou seus primeiros prêmios de artista revelação e de interpretação feminina. Na verdade, o que eles viram, e nós não, foi o desenvolvimento de uma cantora pop diferenciada e não descartável, cuja música prima muito pela melodia e que gosta de brincar com sonoridades diferentes. É possível identificar inclusive alguma brasilidade em certas faixas do disco. É só ouvir a música Como Se para sentir um cheirinho de MPB. Ao passo que segundo disco, Bueninvento, consolidou a carreira de Julieta, foi com o Sí que ela foi alçada ao “primeiro time” de artistas latinos, embalada pela boa venda de discos, elogios da crítica, e seu primeiro Grammy Latino de Rock Vocal (!). E vale destacar nesse terceiro trabalho os megahits Lento, Andar Conmigo e Algo está Cambiando. As duas primeiras são mesmo especiais e, de certo, já eternizadas como parte da história da música pop latina. É bom acrescentar que boa parte dos brasileiros conheceu Julieta a partir desse disco. Na atualidade, Julieta Venegas está em turnê do seu quarto trabalho, Limón y Sal, outro sucesso que é disco de ouro e platina em alguns países como Estados Unidos, Espanha e Argentina. É também responsável pelo segundo Grammy Latino da cantora, mas dessa vez na categoria de melhor álbum pop. Há vários hits nesse disco, sendo que o maior deles é a adorável Me Voy. Julieta Venegas, em suas canções, roupas e nas cores fortes presentes em boa parte dos projetos visuais que envolve o nome dela, passa um clima, uma sensação que remete a obra de Frida Kahlo (mas sem bigode e monocelha). Frida é um dos maiores ícones da cultura mexicana por causa de uma história de vida incrível, mas, sobretudo, por uma obra artística singular, forte e vibrante. A música de Julieta Venegas também é singular, forte, vibrante e cheia de cores. É algo que fazendo o seu gosto ou não, vai te marcar de alguma forma. Não é isso que distingue os grandes dos demais?
a entrevista Elefante Bu - Você fez algumas participações especiais em discos de artistas brasileiros. Uma foi com a Érika Martins e Telecats onde você cantou o seu próprio hit Lento, e a outra com Lenine na canção Miedo do disco acústico MTV dele. Qual a história dessas participações? E você curtiu cantar com os brasileiros? Julieta Venegas - Conheci a Érika por meio de amigos meus. Ela tinha ouvido a canção e a gravado. E como estava visitando o Rio, nós pudemos cantar juntas. Eu amo essa versão. Sobre o Lenine, eu o conheço e sou admiradora dele há muitos anos. Pude encontrar com ele em 2000. Nós tocamos em Madri com Pedro Guerra, com quem ele compôs Miedo. Então, quando ele estava por fazer o acústico, me convidou para cantar, e eu fiquei, muito, mas muito feliz.
Elebu - E tem alguma outra banda ou artista brasileiro que você gostaria de cantar ou trabalhar junto? Julieta - Tem muitos artistas brasileiros que amo. Fiquei muito feliz por ter trabalhado com o Lenine. Na Pressão é um dos meus discos favoritos. E eu também amo o Caetano Veloso. Ele tem sido sempre uma grande influência. Los Hermanos, Marisa Monte, Pedro Luis e a Parede, etc. Elebu - Sei que você toca diversos instrumentos musicais, mas o acordeom é aquele que é relacionado a sua imagem. Isso é por algum propósito, o acordeom é o seu instrumento favorito?
Julieta - O Instrumento que mais gosto é o piano e é com ele que mais componho. Mas adoro usar o acordeom em shows. Comecei a tocá-lo mais por curiosidade, e com o tempo esse foi um instrumento que sempre recorria. Acho que as pessoas vêem mais o acordeom por ser estranho ver uma cantora com um na música pop. A combinação é estranha, eu suponho, mas eu amo. Elebu - É admirável o modo de como você casa a música pop com experimentos de diferentes sons, timbres e arranjos. O que você procura exatamente quando está compondo e gravando? Julieta - Para mim o mais importante em escrever uma música é gostar de uma melodia que possa contar a história liricamente. E a partir daí deixo me levar, seja lá o que possa considerar um bom som, qualquer combinação ou estilo. Apenar deixo rolar e isso é divertido. Elebu - Os últimos três discos foram lançados em espaços de três anos. Alguma razão especial? Julieta - Sempre prefiro pegar o tempo que precisar. Com a turnê, e às vezes preparando as canções, procurando alguém para trabalhar comigo, então acho que preciso de tempo extra. Mas mal é o suficiente. Elebu - Você é sucesso na América Latina (que fala espanhol), parte da Europa, em especial na Espanha, e até no Japão. Ainda tem um lugar que você queira conquistar? Julieta - No Japão? Não tinha idéia! Eu não acho. Eu não penso assim. Mas se tivesse, numa fantasia ousada, Brasil!
eles também gostam de
Julieta Venegas Fernanda Takai (Pato Fu) - Quem me mostrou o trabalho da Julieta pela primeira vez foi um peruano amigo do meu irmão. Ele me deu uma cópia pirata de “Si” assim que saiu e fiquei completamente fã dela. Tanto que um amigo jornalista foi ao México algum tempo depois e teve uma encomenda minha do mesmo disco, só que original (que vinha com um bônus de clipes excelentes!). Acho que ela é uma compositora muito eficiente e canta de forma simples e extremamente agradável. Espero que ela conheça e goste de nossa música tanto quanto eu gostei dela! Fábio Carbone - Conversando sobre música latina, recebi a dica de que o novo (na época) álbum da Julieta, “Si”, era muito bom. Baixei da intenet e foi como um abraço apaixonado, não me soltei mais dele. A voz suave aliada às letras que, como um tango, ora esnobavam,ora se agarravam a sua paixão, fizeram com que buscasse tudo que fosse possível dessa belíssima mexicana de Tijuana. É uma pena que aqui no Brasil não se encontre nada dela à venda ou mesmo nas rádios. Mas já encontrei bastante gente que lotaria uma casa de shows de pequeno porte diferente do que acontece nos nossos integrados hermanos argentinos, onde ela é um sucesso e já tocou em festivais com 50 mil pessoas de sorte. Na Argentina, aliás, ela acabou passando bons dias durante a gravação do seu mais novo álbum, “Limón y Sal”. Atenta ao mercado, relançou “Si” com um DVD numa edição especial, assim como o “Limón y Sal”, que também preza pelo cuidado e abocanha seus fãs e críticos com extras, que retribuem com os prêmios que vai colecionando na carreira. Perdi a oportunidade de conhece-la na Argentina chegando logo depois dela ir embora (e com amigos em comum). Há pouco tempo completei sua discografia no México, enquanto ela fazia uma turnê pela Europa. Pero hay que caminar a paso lento, olvidando el tiempo y su velocidad. Diferente do que diz a música, não estou cansado das canções de amor que sempre falam de finais felizes e ainda acredito que a vida pode funcionar assim. Pedro Luis (Pedro Luis e a Parede) - A obra dela guarda a melhor intensidade do manacial “Paralâmico”. Tem delicadeza em meio à velocidade da mensagem pop. Érika Martins (Érika Martins e os Telecats) - Conheci a Julieta Venegas através do Tom Capone. Como já estávamos começando a pensar no repertório do meu disco, ele me mostrou “Lento” e disse que era a minha cara e que eu deveria fazer uma versão e gravar. Com certeza foi amor a primeira vista, achei uma blada incrível e na hora comecei a pensar na versão. Tempos depois a Julieta esteve no Brasil e nos conhecemos. Ela Gravou junto comigo e considero a “cereja no bolo” do disco. O Trabalho dela é incrível, ela tem um timbre super próprio e especial, muito lindo. E é uma puta compositora.
? e l t t a e S e d s o c i s í F Certa vez estava navegando na internet quando me deparei com uma banda de Seattle chamada Math and Physics Club (MAPC). Achei aquilo a coisa mais nerd do mundo. Depois escutei o disco de estréia homônimo lançado no início deste ano e o ar meio Belle & Sebastian me fez acreditar que estava diante de uma das bandas mais geeks também. E o interessante disso tudo é que, apesar de não haver físicos ou matemáticos na banda, alguns deles atuam em áreas onde tipos considerados meio malucos predominam. Vamos começar pelo baixista Ethan Jones, que trabalha no museu de História Natural da cidade. “O museu é perto do meu apartamento, então posso ir trabalhar andando, o que é bom porque não tenho carro”, disse. Tratase de um lugar tranqüilo, próximo a um lago onde nos dias de sol, o baixista vai até a doca para tocar violão. E Ethan, o entrevistado, foi revelando mais sobre o pessoal de sua banda. James, o guitarrista, trabalha em algo criativo com computadores na Universidade de Washington.
“Não lembro realmente em quê, mas ele tem um escritório muito legal”. O vocalista, Charles, é de uma empresa de preservação ambiental, Kevin (bateria) escreve histórias infantis e Saundrah (violino) está numa companhia de navegação, pelo menos é o que Ethan acha a respeito de sua amiga. “Nunca me lembro porque eu e ela nunca falamos de trabalho afinal, mas sim de outras coisas”, completou. Ethan concorda que os integrantes da banda são geeks, mas dos seus próprios modos. “Nós gostamos de pop, uns dos outros, e de nos divertir juntos”. O que é interessante na MAPC são as referências indies muito próprias. Ou talvez isso seja algo bem particular de Ethan. De qualquer forma isso faz apenas as coisas ficarem mais atraentes e torna-se possível abrir os olhos para um lado desconhecido para os brasileiros do mercado americano. Confira agora a entrevista com o baixista da MAPC.
Na foto maior, da esquerda para a direita: James, Kevin, Charles, Ethan e Saundrah
Elefante Bu - MAPC surgiu numa cidade que se tornou icônica para o rock, em especial nos anos 90. Mas a cidade atualmente continua sendo uma forte referência na música dentro dos EUA? Ethan Jones - As coisas estão bem diferentes do que eram nos anos 90, mas existem várias grandes bandas em todos os lugares, desde Bellingham e descendo até Portland. No entanto, não sei como o resto do país ou do mundo vê Seattle. Muitos tem se mudado para Seattle por causa da beleza natural. Mas muitos músicos de Seattle tem se mudado para Portland porque é mais barato. Mas nós ainda temos Tullycraft que é só o que importa. Elebu - A banda tem um estilo calmo e não consigo me recordar de algumas similares nos EUA. Talvez SayHi To Your Mom ou Yo La Tengo. Então? Quais são suas influências? Ethan - Diria que as maiores influências para a Math And Physics Club, em termos criativos, são Beat Happening, a Poises e a Softies. Apesar da gente não soar como nenhuma delas, elas nos inspiraram, o que é de longe o mais importante. Beat Happening nos mostrou que melhor do que receber a música que os outros fizeram, é inventar a nossa própria. Eles nos deram coragem para fazer isso. E essa é uma mensagem muito poderosa. Sei que alguns de nós sentimos um parentesco com a Poises e do que eles tem feito. Mas eles nos deram uma esperança que também
podemos ser bem sucedidos. A Softies teve um grande impacto na nossa estética. É talvez a conexão mais fácil de se fazer. A calma que você citou provavelmente vem da Softies. A Housemartins e a Stone Roses também tem muita influência no nosso som. E, é claro, R.E.M e The Smiths. Somos cinco pessoas e poderíamos dar a nossa longa lista de influências, mas isso seria chato. Elebu - Se o mercado indie brasileiro é dificílimo de se conquistar, imagino que o americano deve ser ainda mais. Qual é a melhor forma de se mostrar num mercado tão competitivo? Ethan - Não existem muitas bandas que tocam o mesmo som que nós em Seattle. E não somos muito barulhentos, não usamos distorções e temos uma violinista. Não seríamos sucesso (se é que somos um) se não fosse a internet. Kevin e Saundrah acharam Charles e James pela Craigslist. Em geral fomos afortunados por trabalhar com Jimmy e a Matinee Records. A Matinee tem sido um instrumento que nos ajuda a achar novos amigos em lugares como o Brasil e em outros cantos do nosso próprio país. Matinee é uma gravadora pequena, mas Jimmy é um cara muito legal, generoso, atencioso e totalmente confiável, o que parece ser uma raridade nos negócios da música. Ele abriu meus ouvidos para Style Council e Oranje Juice, e estou vidrado desde então. Nós realmente não poderíamos estar mais felizes. Elebu - E quais são suas maiores dificuldades no mercado indie americano?
Ethan - América é muito grande e viajar pode ser caro. Gastamos nosso próprio dinheiro quando estamos numa turnê. Mas isso é nobre porque é o que gostamos de fazer. Tivemos a chance de fazer uma turnê na costa oeste com o Lucksmiths - como poderíamos dizer “não” para isso? Adoro viajar com meus colegas de banda e acho até que deveríamos sair de nossos empregos e cair na estrada se quisermos fazer isso funcionar. Shows é uma das minhas coisas favoritas e desejaria que pudéssemos fazer isso mais vezes. Nós não tocamos fora do país ainda, mas se alguém que está lendo aqui tiver alguma idéia, adoraríamos ouví-las. Elebu - Li a agenda de vocês e achei algo curioso... por que a banda parou de fazer shows até o verão? Ethan - James e sua esposa, Christa, tiveram uma filha no último outono (n.e.: não se esqueça que estamos falando de hemisfério norte), e Lisa, esposa de Charlie, teve gêmeos há duas semanas (n.e.: a entrevista foi realizada no início de abril). Charlie, em especial, está ocupadíssimo até o verão, e isso pesou também. Kevin tem uma filha. Eu e Saundrah conversamos sobre ter um filho juntos, então todo mundo da banda teria filhos, mas não estamos certos de quem poderia cuidar dele enquanto estivéssemos tocando. E também o namorado de Saundrah pode não gostar da idéia. Mas nós estamos planejando um novo EP para este ano. Já gravamos In This Together e Nothing Really Happened no estúdio. Estou mesmo empolgado é com a nossa nova canção synth-pop chamada Do You Keep a Diary? que venho trabalhando em casa. Ficou forte, melodia Byrds-y com uma batida dance simples. Amei isso. Mas estamos ainda decidindo pela quarta música para gravá-la.
Terra Gelada Melodia Quente Texto: Djenane Arraes Fotos: Juha Lakaniemi A terra é gelada, os pilotos de corrida são eficientes, apesar de calculistas, burocráticos e semgraça, mas a música produzida nela está muito longe de criar estalactites de gelo. Muito pelo contrário. “Acho que a melancolia finlandesa única. Ela pode soar triste e desesperada no início, mas há sempre esperança. É luz na escuridão”, disse Lauri Koski, vocalista e guitarrista da The Orders. A banda vem da capital Helsinque e também traz Heikki Karjalainen na guitarra, Janne Nissilä no baixo, e Joel Holopainen na bateria. O som tem forte influência dos anos 80, em especial de bandas como Joy Division, The Smiths, The Cure e Depeche Mode.
E há ainda a inspiração literária de escritores como Kafka, Hesse, Lynch e Camus, que, segundo Lairi, tiveram grande efeito sobre o quarteto. Some tudo isso a um forte estímulo visual da própria música dos caras. Parte disso é traduzido pelo fotógrafo Juhi Lakaniemi que tem trabalhado junto com o quarteto há anos. “Ele realmente nos conhece bem e tem sempre idéias maravilhosas. O lado visual é muito importante para nós e há várias coisas que gostaríamos de fazer no futuro. Temos uma grande possibilidade de misturar música com visualização e trabalhamos junto com pessoas muito boas para faze-lo”. E como já não fosse suficiente, então misture tristeza e discobeats e embarque nesse grande contraste da The Orders. “É música para chorar e dançar”, completou Lauri. A história da origem da
banda parece até um trecho de um romance noir. Olha só: “Tudo começou em 2003, quando Lauri e Joel dirigiam pelas ruas da zona leste da cidade Helsinque a caminho de um estúdio abandonado que conheciam. Estava escurecendo e as luzes da cidade se acendiam. Foi quando eles ouviram a música Shadowplay, do Joy Division. Não tocaram nenhuma palavra, mas ambos sabiam que aquilo era exatamente o que queriam”. Você pode até achar que isso é brincadeira com a história dos caras, mas essa narrativa é uma tradução ligeiramente modificada da biografia do site oficial. O quarteto começou como Dive pronto para encarar um mercado indie pequeno, porém movimentado da Finlândia. “Nós temos alguns clubes indie/new wave que estão indo na direção certa. Temos feito muitos shows e
as pessoas começaram a falar bastante ao nosso respeito”. Ainda como Dive, eles lançaram dois EPs, Confessions of the Night e Unfortunately Dead que se esgotaram e tornaram-se artigos cult, para a graça de Lauri. “Tenho ouvido que há uma loja nos Estados Unidos que ainda tem alguns desses EPs, mas não estou certo. Pode ser apenas um rumor. Mas nós amamos um rumor”. A primeira boa inserção nas rádios aconteceu em 2005 com a música Stars, que integrou a trilha-sonora do filme finlandês Koti-ikävä. A mudança de Dive para The Orders aconteceu no ano seguinte com o advento do terceiro EP homônimo. “Nós tivemos algumas mudanças em nossa música e estilo, então pensamos que seria correto deixar o Dive para trás e começar a The Orders. A gente sabia que iria mudar de nome e queríamos que isso acontecesse naquele EP. Então apenas o nomeamos The Orders, simples
assim. Além disso, devem existir muitas bandas com o nome Dive e não queríamos que as pessoas comprassem alguns discos de merda por causa do mesmo nome”. E pode-se dizer que o EP homônimo foi mais que bem sucedido, afinal, das quatro canções presentes, três viraram hits e tocaram bem nas rádios locais. Além da já conhecida Stars, eles emplacaram Where It Always Rains, que foi por algumas semanas a música mais tocada na rádio Helsinki, além de Apart, que teve grande execução na estação de rádio nacional Ylex. “Neste ano, a The Orders participou de um grande filme finlandês com duas músicas e isso tem sido ótimo”, completou lauri. De acordo com vocalista, o primeiro CD, Guilt & Confusion, que foi lançado no início do ano, tem recebido boas críticas. Uma delas veio daqui mesmo do Elebu na edição de março. E só para constar, as duas últimas músicas citadas
acima também integram o disco e de fato são muito boas, assim como o disco quase todo. Ele corre em pouco mais de meia hora investindo em guitarras que não negam as influências com os vocais incisivos de Lauri. Não é por nada, mas o cara manda muito bem e sua voz é determinante para que o som da The Orders soe quente. Ainda nesse ano, Guilt & Confusion será lançado no mercado chinês e a banda deve seguir numa turnê pelo norte da Europa nos próximos meses, passando pela Alemanha, Rússia e Suécia. “Temos sido contatados por esses países que parecem possuir um grande mercado para a dark-disco. Temos ouvintes por lá e é por isso que estamos viajando em turnê. E para se divertir também. Nós amamos viajar e essa é a melhor maneira para tal. Espero que surjam mais locais no futuro”, finalizou Lauri. Se continuar nessa linha, a The Orders não vai demorar para conquistar públicos maiores.
Zoeira da Boa
Kiss Kiss direto de nova york numa entrevista exclusiva para o elebu
“Kiss Kiss” pode se referir a muitas coisas: uma rádio italiana, um livro, um filme. Se tirar um beijo, vira uma banda lendária do rock ou um clássico do Prince. Acrescente Bang Bang e terá um seriado. Mas o Kiss Kiss em questão é um quinteto do estado de Nova York formado por Josh Benash (sintetizador, guitarra e voz), Michael Abiuso (guitarra e sintetizador), Rebecca Schlappich (violino elétrico e vocal), Pat Lamothe (baixo) e Jared Karns (bateria e percussão). Trata-se de uma banda ainda nova, mas que vem crescendo no cenário indie com apresentações arrebatadoras. O que ela traz de diferente é colocar um violino à frente de um instrumental pesado e cheio de distorções. A discografia conta apenas com dois itens: um EP homônimo e o disco Reality vs. the Optimist lançado no início desse ano pela Eyeball Records (resenha mais adiante). O Elefante Bu fez uma entrevista por e-mail por um método que acabou se revelando interessante. Dois dos integrantes, Josh e Jared, responderam as perguntas de forma independente e acabaram revelando pontos de vistas um tanto quanto distintos. Elefante Bu - Como a banda começou? Qual é a história? Josh Benash - A banda começou na faculdade. Nós todos estávamos indo para a escola pública de Nova York para música e nos encontramos lá. Começamos como banda em 2003. Jared Karns - Josh e eu estivemos em algumas bandas juntos alguns anos antes. Passamos um verão fazendo nossas próprias coisas - ele com um projeto solo e eu numa outra banda - e nos encontramos de novo com o nosso amigo Bob, que é um escritor brilhante, arranjador e também sabe tocar violino. Então decidimos experimentar com aquele som. Também tínhamos um segundo guitarrista e baixista, logo decidimos fazer uma banda de rock com um violino fazendo o papel da guitarra solo. Não tínhamos um nome nos primeiros meses até que chegou o tempo de fazer um show e precisávamos optar por um. Josh se lembrou de um livro que gostava que se chamava Kiss Kiss, de Roald Dahl, porque era o que estava sobre a cama dele. Ele colocou essa opção entre tantos nomes estúpidos que sugerimos e foi a única que ninguém odiou, então ficou. Elebu - Uma coisa que chamou a atenção é que a banda está longe de soar “mais do mesmo” como é costume dizer no Brasil. E eu sempre penso que as pessoas, infelizmente, adoram clores e repetições. É complicado se inserir no mercado, que de certa forma estimula todas essas repetições, fazendo um som bem diferente? Josh - Eu penso o contrário. Soar diferente foi o que nos revelou tão rápido, em primeiro lugar. Talvez para o ponto de vista comercial, o mais do mesmo seja bom, mas nós não estamos preocupados com isso. Temos mais é que fazer bem os nossos shows e, pessoalmente, acho o mais do mesmo chato. Por que uma banda do
noroeste deveria soar exatamente como uma banda do sudeste? Na nossa última turnê nacional, viajamos dois meses pelos estados e a maior parte das bandas soavam exatamente a mesma coisa. Pessoalmente, acho que era um respiro de ar fresco quando fazíamos um show com uma banda que se destacava musicalmente. Existem várias boas bandas tentando fazer algo novo, e os fãs de música rapidamente descobrem e se envolvem. É uma vergonha que a indústria da música fica martelando num gênero até a morte e sugam até o último centavo do que era uma poderosa forma de arte antes deles conhecerem outra coisa ou gênero. Jared - Sim e não. É porque a maior parte dos produtores e patrocinadores querem continuar a t ra b a l h a r c o m b a n d a s q u e proliferam um certo estilo que é supostamente grande e que vai atrair pessoas. Mas o que você faz quando um estilo satura por completo e perde todo o significado? Diria o mesmo sobre as gravadoras, mas é que tivemos sorte com a Eyeball apostando em nós e não tive um conhecimento em primeira mão do que as outras gravadoras acham sobre isso. Por outro lado, não é difícil porque nos destacamos como um “polegar ferido”. É o princípio de GG Allin: mesmo que você seja totalmente repulsivo para algumas ou a maioria das pessoas, você vai
continuar chamando a atenção delas. E ainda se fala dele até hoje. Não que sejamos terríveis ou repulsivos como GG Allin, mas a idéia é a mesma. Você intriga as pessoas fazendo algo diferente e assim vai pegar a atenção de ouvintes, e com otimismo, um pouco de sorte, trabalho duro e a l g u n s t r u q u e s , o s negócios/marketing da coisa entram no lugar. Elebu - Quais são as principais dificuldades em estar no mercado indie estadunidense, que é um dos maiores do planeta? Josh - Eu diria que a maior dificuldade é que quase ninguém compra mais CDs por aqui. Com downloads e a circulação de mp3 tem sido difícil para nós financiarmos as turnês. Mas por outro lado mais garotos têm a oportunidade de ouvir a nossa música e mais gente vem aos nossos shows. Então isso é uma faca de dois gumes. Sério! É ótimo tocar para mais gente, mas é difícil dirigir um ônibus que consome um galão a cada sete milhas (n.e.: um galão equivale a 3,8 litros e uma milha equivale a 1,6 km) quando suas vendas mal cobrem essa despesa. Continuo pensando que se você gosta de uma banda, especialmente uma indie que luta na estrada, você deve apoiá-la, porque se eles não puderem viajar e fazer turnê, vão demorar a ir na sua cidade.
Jared - Caminhamos numa linha fina e estranha entre ser muito esquisito para mundo indie mainstream de Victory/Fueled pela Ramen/Alternative Press, e ser muito mainstream para o mundo underground de hipsters, noise music e o hardcore. A Alternative Press hesita e resenhar o nosso disco, provavelmente porque é muito “alternativo” ou sei lá, mas ao mesmo tempo temos problemas em reservar locais com capacidade para 150 pessoas em cidade que nunca visitamos porque eles dizem que somos “muito grandes”. Pessoas nos dizem que deveríamos tocar em lugares grandes com capacidade para 2,5 mil, pensando que somos uma grande banda. A única maneira que teríamos de tocar em locais desse tamanho agora seria se estivéssemos numa grande turnê, o que não aconteceu ainda. A imprensa urbana indie como a Vice and Pitchfork não nos leva à sério também. Nesse ponto, é muito mais sobre os ouvintes. Essa garotada está lotando todos os dias a nossa página no myspace com comentários e pedidos de inclusão como amigo. E alguns deles parecem maníacos sobre o amor pela música. Tocamos em cidades do Alabama onde haviam algumas pessoas que já sabiam todas as letras, e outras que não foram completamente carregadas, entendo o que os amigos tinham falado a respeito. A garotada pegou, agora é hora de todo o resto também.
Elebu - Falando mais do estilo, o violino ás vezes cria uma atmosfera circense dramática ou cigana. De onde a banda pegou essas referências? Aliás, o que faz a cabeça de vocês? Josh - O violino na nossa banda foi um acidente. Tivemos um amigo na faculdade que tocou conosco que era violinista. Depois que ele saiu, ficamos arrasados porque naquela altura, depois de escrever tantas músicas arranjadas para o violino, não podíamos mais imaginar a nossa música sem isso. Então foi como ficar preso. As melodias que escrevemos não poderiam ser tocadas por outro instrumento. A vibração de circo veio pelo nosso amor por escalas orientais e compasso de valsa. Sempre amamos bandas que dobram gêneros como o adolescente Mr. Bungle foi uma grande influência. A alguns de nós ouvimos world music por um tempo, logo um pouco disso deve ter passado. Jared - O circo cigano aconteceu quase que por acidente. Há a mistura do violino, obviamente, mas também a escolha de Josh pelo sintetizador que lembra circo para as pessoas por alguma razão. E pelo desejo de tocar mais rápido, mais pela influência do punk do que as coisas no nosso EP. E quanto mais longe vão as influências, mas elas se espalham pelo mapa, mas isso
não influencia a escrita tanto quanto o som. A teoria por trás de nossas letras é: pegue estruturas típicas do pop e as foda, mas não tanto a ponto das pessoas não poderem cantar depois. Por sorte, Mike, Pat e eu crescemos tocando em bandas de fast punk que requer velocidade e pensamento rápido e isso caiu perfeitamente nessa banda. Eu não acho que seria capaz de aprender uma canção como Dress Up tão rápido se não tivesse crescido batucando os discos do Slayer. Acho que sou a única pessoa na banda que já ouviu um disco do Slayer até o final e a influência ainda continua na cabeça. Junte isso ao fato de que muitos de nós estudamos um pouco de música na universidade, então temos habilidade técnica suficiente pra sacar algumas dessas merdas loucas. Elebu - E Nova York é a cidade de algumas bandas que a imprensa qualificou como “Hype”. Talvez o The Strokes foi uma das primeiras. O que você acha do “Hype” e das bandas “Hypes”? Josh - Acho que Hype é o que é. Hype. Tem alguma coisa a ser dita de bandas que constroem sua base de fãs do chão. Gastando grandes somas de dinheiro por mídia duas semanas depois do primeiro show realmente não tem o mesmo valor quanto da banda que gasta cinco anos na estrada lutando por isso.
Mas, de novo, se estivéssemos do outro lado da moeda, não estaríamos reclamando tanto. Na realidade, estou bem certo que não estaríamos. Jared - Eu meio que disse algo sobre isso nas questões acima, mas para entrar ainda mais nisso, muito do “Hype” é apenas política. Pelo que sei o The Strokes fizeram talvez dois shows quando eles estouraram? Aconteceu deles apenas conhecerem alguém. Está tudo bem tocar no jogo político e tentar fazer um bom proveito disso para a sua banda, porque depois de tudo, não é o que qualquer um faria em qualquer prática ou campo? Você tem o seu nome conhecido, associado com um trabalho de boa reputação, é claro que você vai querer fazer um ganho. É a mesma coisa na música. Apesar do som ser horrível, The Strokes jogaram o jogo e venceram. Mas acho que se você vai fazer isso, deve ter substância para se apoiar. Muitas das melhores bandas não ligam para o “Hype” ou “Buzz”, mas é só o que importa para muitas das piores. Basicamente, não acho que seja uma má coisa das boas bandas terem um faro para negócios e poder fazer grandes vendas. Tem um monte de grandes músicas por aí que só precisam ser melhores vendidas. E acima disso tudo, quando não é bem vendido, as pessoas precisam ser mais espertas para achar um meio.
Reality vs. The Optimist Tudo começa no silêncio, até que um ruído muito sutil o rompe e assim vai até o baixo soar depois de quase um minuto da faixa de abertura Janet. O disco de estréia da Kiss Kiss começa devagar até que os vocais berrados de Josh começam a tomar conta e o som torna-se progressivamente mais pesado e mais rápido, até descer de novo o tom e o ritmo numa baladinha que aproveita a voz doce de Rebecca em Stay The Day. A escolha pelo solo com o violino tornou as canções mais densas e com ar mais dramático e esse é o ponto que faz a banda ganhar pontos. A música Machines é o auge disso, que ainda acrescenta à sonoridade compassos de valsa e climão circense. É a mais espirituosa e marcante do disco. Preste atenção nas boas também em Sixth Sense e Satellite. Das doze faixas, três são vinhetas cuja única função é acrescentar um ruído a mais. E esse é o ponto descartável. No geral, o disco de estréia da Kiss Kiss é muito bom e acrescenta uma opção para fugir da mesmice.
Vários - Tudo de Novo Quando se tem a idéia de fazer um tributo, em geral o homenageado merece. E no caso do Ronnie Von, ter suas músicas redescobertas pela geração mais nova é uma questão de justiça, afinal é um trabalho extraordinário que certos grandes teimam em querer esquecer ou distorcer. Mas fazer um tributo de um trabalho de grande qualidade não é garantia de um bom disco. Aliás, não são muitos os bons discos tributo. No caso do Ronnie Von, os organizadores chamaram um monte de bandas novas (algumas nem tanto) e montaram um disco duplo que pode ser baixado. O problema é que só a metade delas fez uma verdadeira homenagem, e há grandes diferenças na qualidade de gravação entre uma faixa e outra. Então pra quê disco duplo? Um só com a boa metade seria algo fantástico. Destaco o trabalho d'A Banda de Um Amigo Meu em De Como Meu Herói Flash Gordon, Rádio de Outono com Espelhos Quebrados, Continental Combo em Pare de Sonhar com Estrelas Distantes, Os Insertos em Meu Bem, e Ecos Falsos em Viva o Chope Escuro, entre mais alguns outros.
para escutar (ou não)
Repolho - Vol. 3 Que sarro! Se fosse resumir esse disco da Repolho em uma única expressão, ela seria “que sarro!”. Outras como “PQP”, “caramba” ou “putz, não acredito que estou escutando isso” também serviriam muito bem. A banda tornou-se famosa pelo escracho nas letras e o rock mais cretino que se possa imaginar. E o terceiro disco da Repolho em pouco mais de 15 anos de carreira é uma das melhores coisas produzidas no Sul do país. Eles não perdoaram nada e nem ninguém, até o Roberto Carlos, Pelé e a Xuxa foram lidamente sacaneados em Rainha dos Baixinhos, uma música quase emblemática. Há histórias inacreditáveis como Josiclé e Não Fui Eu. Depois da Repolho, canções de amor ganharam outro significado. “Eu tenho um amor carioca para comer depois de um x-salada/ tenho um chaveiro escrito 'engov' que eu ganhei da minha namorada/ Eu fiz uma canção de amor num dia que estava revoltado/ meu amor não quis ouvir/ disse que eu canto desafinado/ os desafinados também amam meu amor”. Agora vai dormir com essa!
The Shins - Wincing the Night Away Taí uma das bandas indies estadunidenses mais legais que surgiu nos anos 90, mas que nunca tinha um grande disco. The Shins se valia de algumas coisas razoáveis intercalados por grandes canções como New Slang e So Says I. Mas Wincing the Night Away veio para redimir a banda. Ainda não é o memorável, mas com certeza é o melhor da carreira deles, mesmo ser tem a canção que você diga “nossa, esse é o pop perfeito”. Sim, há belas canções pop (A Comet Appears), músicas para tocar bastante em rádio (Phantom Limb), e você reconhece o estilo da banda fácil, só que não é essa a questão. O que faz esse disco ser o melhor é que a The Shins conseguiu manter uma linha de qualidade onde não há muita oscilação entre as faixas. A pior canção não está tão distante da melhor. Já é um grande avanço quando falamos de The Shins.
Peter Bjorn Writer's Block
John
Apartment - The Dreamer Evasive
Amy Winehouse - Back To Black
A banda sueca da vez ficou famosa depois que a música Young Folks (aquela do assobio) e o seu clipe viraram febre na internet. Mas Writer's Block é muito mais que o hit. Na verdade acho que Young Folks está “muito bem acompanhada” no disco com outras música muito boas, como Objects of My Affection e Up Against The Wall. E só uma observação: a voz de Peter lembra a do John Lennon. Legal!
Essa banda indie inglesa tem tudo que você pode encontrar em qualquer outra do mesmo país. Não leve a mal, não estou dizendo que é ruim. Pelo contrário, é até bacana você escolher uma banda dessas que fez um disco até legalzinho calcado na moda que é trazer os anos 80 com uma roupagem não tão brega assim. Ouça o apartment e nem vai precisar ouvir o resto... é tudo igual!
Fazia tempo que não aparecia uma cantora de fato interessante com influências no jazz, blues e R&B. E Amy Winehouse chegou para dar um cala boca nessas cantoras que gemem e gritam. Sua voz é estranha e emocionante ao mesmo tempo, o som é viciante (e isso não é uma referência à vida junkie da cantora). O segundo disco, Back to Black, beira a perfeição. É desbocado, agressivo e sensacional.
Acute Stranger
a
Joss Stone - Introducing Joss Stone
Thief - Sunchild
O trio californiano chama atenção por fazer um pop diferente daquilo que se está habituado a escutar daquela terra. O disco Arms Around a Stranger é um bom exemplo de um trabalho que não é brilhante, mas é agradável e conquista, ao menos, a sua simpatia. A faixa de abertura You Want it? Take it! It's Yours! faz o seu papel em convidar o ouvinte a se deliciar com o som, e ainda tem direito a detalhes muito charmosos. Vale a pena.
Esse título passa a impressão de um disco de estréia. Mas a inglesinha Joss Stone está longe de ser iniciante. Talvez a introdução em questão seria a virada do som, que antes era calcado nos anos 70 e agora ganhou ares bem “mudernos”. Ficou um resultado até bacana graças ao produtor Raphael Saadiq. O problema é agüentar até o fim a gritaria da senhorita Stone. De qualquer forma, a faixa que ela faz dueto com a Lauryn Hill, Music, é bem interessante.
Arms
and
Around
Vem da Alemanha, mas se alguém dissesse que era inglês, todo mundo acreditaria. Trata-se de um projeto paralelo do cantor Sascha Gottschalk e dos músicos Stefan Leisering e Axel Reinemer, do Jazznova. Sunchild é de uma delicadeza assustadora nos arranjos, na sonoridade tranquila, e na voz macia de Sascha. Ouvir as músicas Atlantic e Hold On, Hold On e não se apaixonar por esse projeto é praticamente impossível. O disco todo é bom e um dos meus candidatos a integrar a lista de melhores do ano.
10 anos de Porão do Rock Coforme anunciado por Marcos Pinheiro, assessor de imprensa e vice-presidente da ONG Porão do Rock, na edição 21 e 22 deste zine, o Porão volta a suas origens e prepara uma grande festa independente para o início de junho. - Cadastro de bandas está reaberto - Promoção "Que banda é essa?" encerrada - Definidas as bandas da seletiva Brasília - Atrações já confirmadas para o Porão 2007 Saiba mais em: www.poraoweb.com.br e www.poraodorock.com.br
Um disco em palavras Fotos e Comentários: Washington Ribeiro (wr/bk)
Imagine um disco contado por palavras. Essa é a proposta da Mojo Books, editora on-line que publica e-books em seu site. Os e-books são lançados semanalmente e para baixar, basta preencher o cadastro, que é super-simples, que o site enviará o link para baixar o volume. Existe incluse algumas edições que já estão esgotadas. Os editores do site, Ricardo Giassetti e Danilo Corci, também dão oportunidades para você enviar seu livro. Acesse o site e saiba como. http://www.mojobooks.com.br/ Foto: Divulgação
Capas das edições do mundo livre S.A, Cartola e Tim Maia
Ricardo Giassetti e Danilo Corci
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Sombras Caracas!!! Ou está realmente muito díficil de acertar quem é o cara da sombra ou ninguém quer ganhar o CD do Violeta Pop ou ninguém lê esta coluna? Quero acreditar que é a primeira opção, então vou dar a última chance e a maior das dicas: é um integrante do Sepultura. Agora só precisa mandar o nome para poraoweb@terra.com.br
Foto: Planet of Sound FONZIE - Paradise Garage, Lisboa 20.04.2007 http://www.olhares.com/music
Foto: Washington Ribeiro Apresentação da cantora Pitty no Porão do Rock 2005. http://www.olhares.com/babaloo
Foto: Mónica Bastos DIESEL-HUMM! Live in Hard Club:19-02-06 http://www.olhares.com/Rockmoon
Entre um show e outro tive a oportunidade de fotografar a apresentação circense na edição 2005 do Porão do Rock Foto: Washington Ribeiro
colunista da edição: rodolfo sikora
Papo de Louco Não pule esta leitura. Ao menos leia o primeiro parágrafo. Pensei muito em como colaborar com algo novo que pudesse contribuir culturalmente com os leitores e que não fosse diretamente relacionado com música. Pois bem, vou escrever um pouco sobre o niilismo de Nietzsche de uma forma que todos consigam compreender inclusive eu que estou longe de ser um profundo conhecedor de filosofia. Portanto, não se assuste com o tema. Tenho certeza que você vai se identificar e vai refletir sobre o assunto. Não fuja a menos que você tenha uma mente conturbada e esteja passando por alguma crise existencial, nestes casos recomendo ficar longe de Nietzsche e deste artigo, pois você pode perturbar-se mais ainda. Alguma vez você parou para pensar sobre Deus, seus ensinamentos, sua bondade, generosidade e todas as coisas boas intrinsecamente atreladas a sua figura? Daí você ligou a televisão e viu que mataram brutalmente um garoto deficiente, que uma garota levou um tiro de bala perdida e está paraplégica e questionou: “Onde está Deus? Como ele deixa seu povo sofrer desta maneira?” Existem várias maneiras de se pensar e de responder estas indagações, a maioria delas apelando para o sobrenatural, o divino, ao karma ou ao fatalismo. É a idéia do aqui se faz aqui se paga. Do conforto de pensar que estes criminosos vão ser julgados no fim dos tempos e que, apesar de tudo, você deve praticar o bem e amar ao próximo para conseguir entrar no céu. “O niilismo (ou nihilismo), do latim nihil (nada), é uma corrente filosófica que, em princípio, concebe a existência humana como desprovida de qualquer sentido.” - Alexandre Berkman Forçando mais a sua mente, qual o sentido da vida para você? Por que você faz o que faz? Qual o grande objetivo de tudo isto? O por quê da nossa existência. Lembra do final do filme MiB (Homens de Preto), onde no final mostra que nossas galáxias são peças de um jogo sendo jogadas por seres superiores? Será que tudo isto aqui tem algum sentido? Onde vamos chegar? Eu mesmo já me perguntei diversas vezes essas coisas e num devaneio compilei a minha suprema indagação: “Mesmo se eu fosse Deus, gostaria de saber de onde vim e por que tenho que cuidar de tanta gente e manter tantas coisas”. O niilismo propõe que você deixe de pensar no julgamento final e nas idéias pré-concebidas da “realidade mundana”. Que tente pensar no próximo passo não por que o divino ou a coletividade o exigem, mas por que você é um indivíduo único que precisa dar
combustível para sua máquina-corpo continuar vivendo e para uma auto-realização que no final é uma forma de prazer. O niilismo não deve ser uma prática, pois isto o levaria a esperar a morte ou até mesmo à sua indução. Acreditar que não existe um sentido deve servir como uma forma de te fazer questionar os valores impostos. Você deve agir bem não por que quer ir para o céu ou por que será punido pela positivação das leis, mas por que fazer o bem te dá prazer. E, não obstante, o mesmo é válido para quem faz “o mal”, que é válido se lhe dá prazer. O bem e o mal são conceitos tão relativos tanto quanto sua definição é influenciada pelos detentores da vontade de potência (em outras palavras, quem tem poder). Você sente e sentirá o que vem a ser o niilismo quando depois de muita luta e esforço chegará à conclusão de que sua empreitada foi em vão. Experimenta o niilismo toda vez que em nome de uma coletividade ou um bem maior você abre mão de algo já que perdeu a crença no seu valor individual. O ápice do niilismo seria alcançado quando, consciente da falta de sentido e vendo-se como apenas mais uma peça da engrenagem social, você descobre que o mundo foi moldado de forma a atender nossas n e c e s s i d a d e s p s i c o l ó g i c a s q u e f o ra m construídas partindo do princípio que precisamos de um sentido para viver. Posto isto, qual o sentido da sua vida? “… a vida é desprovida de qualquer sentido, reina o absurdo e o niilista não pode ver alternativa senão esperar pela morte (ou provocá-la). No entanto, esse final não é, para Nietzsche, o fim último do niilismo: no momento em que o homem nega os valores de Deus, deve aprender a ver-se como criador de valores e no momento em que entende que não há nada de eterno após a vida, deve aprender a ver a vida como um eterno retorno…” - Friedrich Wilhelm Nietzsche
Rodolfo Sikora é co-criador do site iJigg. Visite também o seu blog http://sikora.poraki.com.br
A Viagem de Chihiro seu redor e que estava preparada para aceitar o mundo de forma menos egoísta. Uma história com um tema tão adulto quanto esse, tornou-se cativante pelos seus traços e pela forma suave que Hayo Miyazaki apresentou-nos essa animação. Vendo de uma forma menos analítica e menos crítica, A Viagem de Chihiro nos mostra a história de uma criança de dez anos, que junto com seus pais, encontra um local, e em uma experiência quase onírica vivencia aventuras em um mundo encantado, habitado por criaturas fantásticas, sendo protegida por Haku, enquanto torna-se mais humilde, ganhando determinação e coragem para salvar os seus pais e voltar ao mundo real. (Rúbia Cunha)
para ver
A maioria das pessoas está acostumada com os traços fofinhos, histórias e personagens cativantes da Disney. Mas, poucos estão com as animações japonesas, chegando a passar batido por essas produções quando vão alugar algo nas locadoras da cidade. A Viagem de Chihiro foi uma das que aumentou o público para tal área. Com sua história cativante, essa animação mostra uma personagem que passa por situações adversas. Dentre elas, a mais comum é a mudança de uma cidade para a outra, mostrando-nos a reação negativa da personagem principal que estava perdendo os seus amigos e indo para um local desconhecido. A animação, também pode nos mostrar a difícil comunicação que pode haver entre pais e filhos quando os valores pessoais entram em pauta. Mas, Chihiro vem a ter um enredo muito mais complexo do que uma simples história para crianças. A verdadeira viagem que ela faz, não é de um local para outro, mas sim a busca dos reais valores que precisa encontrar para ganhar um pouco mais de maturidade e compreender as pessoas que estão ao seu redor. Essa animação também mostra o quão cruel o mundo dos negócios pode vir a ser. Um mundo em que o capitalismo selvagem comanda, tornando as pessoas mesquinhas e ambiciosas, Chihiro nos mostra a possível perda de identidade quando nos sujeitamos a trabalhar de forma submissa, deixando de lado os nossos anseios e os nossos sonhos. Até aqui mostrei um lado adulto que costumamos enfrentar no dia-a-dia de nossas vidas, mas esta animação tem muito mais a ofertar em seus traços feitos à mão. No desenrolar da história, podemos notar quando a personagem começa a descobrir o valor da amizade, da confiança e da importância de aceitar a ajuda das pessoas que estão ao redor. Dessa forma, Chihiro começa a dar mais importância às pessoas e descobre o verdadeiro valor do amor ao próximo. Deixando de lado o mundo que girava centrado apenas nela, a personagem depois da maturidade recémdescoberta, começa a aceitar as realidades da vida e inicia sua batalha pessoal para provar que se importava com as pessoas ao
Perdi a Bossa
o guia
Georgiana Calimeris Isso mesmo, perdi a bossa, ou melhor, o jeito lépido das letras saírem dos dedos para os teclados, ou de modo ainda mais simples: perdi o jeito! Ainda leio muito, mais notas internauticas que qualquer outra coisa. Me divirto com algumas, mas, acho que estou passando por alguma crise de maioridade. Afinal, tem uns 21 anos que invoquei em escrever. Comecei com aqueles poemas bestas sobre a vida. Deve ser isso mesmo, uma crise de identidade do alter ego escritora, querendo amadurecer o que havia de adolescente. Infantil, não, porque criança ainda tem graça. Adolescer tem aquela coisa da vida ser um eterno desgaste e do mundo desabar diante de qualquer notícia sobre pequenas coisas. O mundo se torna vasto e amplo depois de um tempo e a gente aprende que virou gente, ou melhor, adulto quando o mundo não desaba diante de um “não”, quando a vida toma um certo ritmo. Engraçado foi que encontrei o ritmo da vida, mas, perdi o ritmo das palavras, que eu tanto prezava e amava, achando que, um dia, seria a grande descoberta de alguma editora. Não desgosto de escrever, mas, também já não tenho aquele desespero infernal de ficar até às 4h porque tinha que terminar um livro. Terminar para quê? Para acrescentar kbites à infinita lista de arquivos do computador? Deu a louca outro dia, como
estou deletando o que não me serve da vida, apaguei também os velhos textos, emaranhados em personagens dramáticas e sofredoras, que tinham lá seus finais felizes, mas pobres criaturas que passavam por uma vida de profunda dor até se descobrirem capazes, felizes e, bem, adultas! Se dei um basta disso na vida, sim, porque quero ser feliz, quem não quer? Dei um basta também nessa avenida de choros e lágrimas, de um desespero constante sem poesia ou alegria. Afinal, sofrer e chorar faz parte, por que senão para que lágrimas? Ou para que sentir? O lance é que se faz parte, a gente precisa é saber passar por isso com dignidade absoluta, que nem dar aquela escorregada de salto alto e continuar andando. Minha mãe tem uma história simpática a esse respeito. Sei lá quando (não vou ligar para ela para perguntar) em um determinado aeroporto norte-americando, o salto do sapato quebrou. Para uns, o fim do mundo! Para ela, bom, nem tanto, com classe, retirou o sapato do pé e ergueu a coluna e a cabeça e andou pelo aeroporto com a classe de uma milady e parece que ninguém percebeu a falta do sapato! Nesse caso, é impossível não recordar Naomi Campbell despencando em uma passarela em salto plataforma e pra lá de alto (15 cm) de Vivianne Westwood, se muito não me engano. Lépida e faceira, riu e continuou sua caminhada com o salto e o orgulho intactos, ainda tornando a queda um charme! Comecei falando da perda da bossa, do meu jeito de escrever e defender o que havia escrito. Não há nada a ser defendido. Caí igual Naomi, só que no meu caso, foi uma queda de palavras, onde o silêncio impera. Estou sorrindo, levantando e partindo para novas aventuras. Sim, ando a bater fotos da cidade onde nasci. Gosto mais do olhar fotográfico desenvolvido também ao longo de 18 anos e também celebro maioridade, não completa, mas, maioridade. Fiz uma pausa breve e momentânea na ânsia de colocar uma palavra depois da outra, mas, isso não quer dizer, que abandonarei meus fiéis leitores, quanto sejam, apenas que penso em fazer livros diferentes, personagens que sabem aceitar o mundo que as aflige sem baratinar ou gritar ou perder as estribeiras em penosas lágrimas. Todo mundo sofre. Todo mundo tem seu inferno. Cada um sabe a hora de sair e a minha penúria ficou lá para trás... há muito tempo. Acho que vou fazer como a minha mãe: quebrou o salto? Tiro o sapato do pé, ergo a cabeça e sigo adiante sem fazer drama ou chorar. Talvez, reclamar um pouco, mas, seguir adiante sem as preocupações da adolescência, sabendo que haja tempestade ou bom tempo, o jeito é enfrentar, certo?
O Blues do Piano Metafórico Rascunho de um poema de Alice: Afastada de você, sou ausência de vida. Exilada de você, sou uma ferida de sentimentos. Subtraída de você, sou penúria noturna. Distante de você, sou agonia pungente. Roubada de esperança, roubada de ânimo, roubada de perspectiva. Se abençoada pelo dom da música, sentaria em algum metafórico piano, para compor um blues.
Pintura de Susan Stewart
Lição de Etiqueta Enquanto a nave descia do espaço normal para o hiper-espaço (em curso para uma colônia de férias no planeta Xysnova-XV), Lottar Gan Amon, um gentil anfíbio siluriano, disse, telepaticamente, para o humano que capturara: — Cavalheiro, por que os gritos? Assim vai me constranger. Para meu povo, nada é mais importante do que bons modos. Principalmente, na hora das refeições. Em seu mundo, não ensinam isso? Por favor, comporte-se. Não há motivo para esse desespero todo: afinal, estou apenas devorando você. Dedicado a Giorgio Cappelli
Dr. Douglas Demarante Desabafa - Sou responsável pelo maior benefício e mais lamentável crime de todos. - Verdadeiro, embora paradoxal. - Quem diabos é você? Nem mesmo posso vê-lo! - É desnecessário. Existo porque alguns precisam ser escutados. Por favor, Continue. - Estava em meu laboratório de Química. Gastei a vida estudando essa disciplina. Imaginava encontrar a essência definitiva do universo. - Uma suposição correta. O que houve depois? - O que? Desastre! Ao alcançar a essência, tudo explodiu. - E o resultado é uma Realidade superior a tudo que foi imaginado pelo ser humano. Devia se orgulhar. - aconselhou a voz. - De que?! - indagou amargamente o fantasma do Dr. Douglas - Criei um maravilhoso novo universo sacrificando o meu...
Contos e poema de Rita Maria Félix da Silva
A volta triunfal de Buffy
mundo geek
Por essa nem o próprio Joss Whedon esperava. A migração para os quadrinhos da caçadora e sua gangue não poderia ter sido melhor. O primeiro número da chamada oitava temporada de Buffy, a Caça-Vampiros (BTVS) esgotou em apenas duas semanas com a venda de mais de 100 mil exemplares nos Estados Unidos. Por causa disso, a editora Dark Horse foi obrigada a providenciar uma segunda edição urgente. É claro que o trabalho extra deixou os diretores eufóricos, uma vez que os números, mesmo que normais para o mercado de quadrinhos, são considerados excepcionais para a editora. BTVS #1 ficou em 9° na lista das 10 HQs mais vendidas em março e foi o único título da Dark Horse a figurar nela, num mercado dominado pela Marvel e DC. São, pelo menos, três elementos responsáveis pelo sucesso: o envolvimento direto de Joss Whedon nos roteiros, a qualidade gráfica e os desenhos de Georges Jeanty, e a própria mitologia da caçadora e seus personagens que não perdeu força mesmo quatro anos após o fim do seriado de TV. Esse último ponto, aliás, mostra outro grande feito. Em geral os quadrinhos migram das páginas para as telas de cinema ou TV com muito sucesso, mas o caminho inverso é recheado de fiascos. Se BTVS conseguir manter a
média de 100 mil exemplares vendidos nos próximos meses será, de longe, o caso mais bem sucedido. A oitava temporada de BTVS começa num tempo indeterminado após o último episódio da TV. Agora existem centenas de caçadoras ao redor do mundo, sendo que pelo menos 500 delas trabalham para o Novo Conselho de Observadores administrado por Buffy Summers e sua gangue. Eles dispõem de unidades espalhadas pelo globo, todas bem equipadas com centros de treinamento, computadores, profissionais e veículos. A gangue passou a morar na sede do Conselho montada num castelo imponente no interior da Escócia. Embora Buffy desempenhasse com perfeição o seu papel de líder, ela continuava a enfrentar os problemas de sempre na família. Sua relação com a irmã caçula é tensa devido às confusões que a menina se mete. Dessa vez Dawn se transformou numa gigante após fazer sexo pela primeira vez com o namorado, que na verdade era um demônio. Xander aconselha as duas a terem uma conversa franca, mas Dawn se recusa e prefere esperar para se abrir com a bruxinha Willow Rosenberg, que estava incomunicável por alguma razão. A caçadora procura administrar seus problemas alheia da maior ameaça ao planeta que começa a se movimentar contra ela: o exército norte-americano. Os generais querem acabar com Buffy e o Novo Conselho porque eles têm recursos, um exército e, principalmente, uma forte ideologia que não condiz com os interesses estadunidenses. Apesar de ter o objetivo de re-introduzir a saga e os personagens, o “primeiro episódio”, The Long Way Home (dividido em quatro partes a ser concluído em junho), promete continuar a mesma linha que consagrou o seriado: a dinâmica tensa e delicada entre Buffy e Willow, com Dawn aprontando as suas e Xander como ponderador, Giles mais inglês que nunca, muitas referências à cultura pop, críticas diretas ou não à política norte-americana, e muita ação.
Podcast? Não.
Nerdcast!
A cada dia, mais e mais internautas tomam contato com os podcasts. Para quem ainda não sabe do que se trata, basta dizer que este é um novo modo de receber conteúdo em áudio e vídeo pela internet. O usuário assina gratuitamente os canais desejados e passa a receber periodicamente suas atualizações. O conteúdo dos podcasts pode variar entre músicas, vídeos e programas variados, desde jornalísticos até esportivos, que são baixados diretamente para o computador ou dispositivos como os celulares, PSPs ou iPods dos assinantes. É nessa proposta que o site O Jovem Nerd, desde março de 2006, oferece a seu público o Nerdcast, que nada mais é, nas palavras dos criadores do site Alexandre Ottoni e Deive Pazos, que “o primeiro podcast totalmente nerd do Brasil”. Os temas são dos mais variados, passando por televisão, História, cinema, entrevistas, games, internet, literatura, Lost (sim, Lost!), quadrinhos, nostalgia e RPG. Ou seja, tudo aquilo que nerds e geeks do mundo inteiro adoram! O bate-papo é conduzido por Ottoni e Pazos, e conta com a participação especial de convidados, que podem variar de acordo com o tema tratado. Para quem ainda não conhece o Nerdcast, basta acessar o site http://jovemnerd.ig.com.br/ para ouvir edições antigas e novas. Toda sexta-feira uma nova edição é disponibilizada na rede, sempre com seu característico bom humor. E, como o próprio site esclarece, o grande desafio é fazer com que apresentadores e convidados mantenham-se fiéis à pauta tratada, mesmo com as gargalhadas que inevitavelmente acabam tomando conta de todos. Vale a pena conferir! (Leonardo de Moura)
“Esquadrão Classe Z” é publicado no site Jovem Nerd com roteiro de Azhagal e Bruno, e desenhos de Bruno Sathler.
Até tu Mônica? Homenagens e brincadeiras com filmes e programas de TV fazem parte da história da Turma da Mônica, mas em geral elas são inseridas dentro dos próprios títulos regulares. Mês passado foi lançado o primeiro gibi especial da turminha inspirado num seriado de TV: Lostinho Perdido nos Quadrinhos. A historinha é genial e passeia com muita graça pelos acontecimentos mais marcantes da primeira temporada de Lost: como o contato com a francesa Rousseau, o mistério da escotilha, a construção da jaganda e os Outros. Cebolinha é Jack, Mônica incorporou Kate, Cascão é Charlie, e Magali tem todo o jeitão da Clarie. Para quem curte o seriado, é um prazer especial, mas para quem não o acompanha, tudo bem porque quando falamos de uma aventura da Turma, a diversão é garantida.