Revista Extra Classe | ano IV | número 6

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Editorial

“O Sinte-RN ampliou a potência do seu megafone.”

O maior Sindicato é também o mais influente O Sinte-RN sempre foi um Sindicato de força. Mas hoje o Sindicato dos trabalhadores em educação pública do RN consolida-se como uma potência de luta da classe trabalhadora que vem se tornando uma referência nacional de poder político e organização. Ao reeleger a atual diretoria, a categoria investiu na continuidade de uma linha política que está reinventando a luta a cada gestão. Uma aliança entre a experiência e a inovação dos seus diretores. Assim, hoje o Sinte-RN é uma das instituições mais influentes na sociedade potiguar. Aliás, essa união com a sociedade também faz parte da estratégia de ação do Sindicato que investe em confiabilidade e respeito diante da população. Quem tem o poder pode, óbvio! Mas já não dá mais para massacrar os trabalhadores em educação e sair impune. O Sinte-RN ampliou a potência do seu megafone. Está em sintonia com a categoria e com a sociedade através de um sistema integrado de comunicação. (Veja na pág. 6) A Assessoria Jurídica tem colecionado vitórias históricas no processos judiciais. Organicamente, o Sindicato se espalha pelo Interior como um coral marinho levando vida política aonde havia deserto de justiça social. Assim, se bater de frente com os trabalhadores em educação sempre foi um erro estratégico, hoje é cavar o buraco para se enterrar politicamente. Isso representa uma ampliação de força de classe que não está mais dependente unicamente da greve; em que pese esse ainda ser um instrumento muito eficaz, nem sempre é preciso fazer uso dele. Muitas vezes, basta lançar mão do respeito conquistado e da mobilização social para que o direito aconteça. A diferença de tratamento já conquistada pela categoria nas negociações com os governantes é prova disso e um exemplo que deverá ser seguido por todo o movimento sindical, com o pleno apoio do Sinte-RN.

Av. Rio Branco, 790 - Centro - Natal/RN - Fones:(84)3211-4434 ou (84)3211-4432 I E-mail: sinte_rn@hotmail.com www.sintern.org.br

Coordenação Geral José Teixeira da Silva , José Rômulo Arnaud Amâncio e Maria de Fátima Oliveira Cardoso Diretoria de Organização Maria Vicência A. dos Santos e Francisco de Assis Silva Diretoria de Administração e Finanças Maria Luzinete Leite de O. Pinto e Cristiane Medeiros Dantas Diretoria de Assuntos Jurídicos Vera Lúcia Alves Messias e Milton Urbano Aires Diretoria de Comunicação Ionaldo Tomaz da Silva e Francisco Leopoldo Nunes Diretoria de Relações Sindicais Marcondes Alexandre da Silva e Francisco Alves Fernandes Filho Diretoria de Formação Sindical e Educacional Eliane Bandeira e Silva e Alcivan Medeiros da Silva Diretoria de Cultura e Lazer Maria Beatriz de Lima e Joildo Lobato Bezerra Diretoria de Organização da Capital Enoque Gonçalves Vieira e Sérgio Ricardo de C. de Oliveira Diretoria de Relações de Gênero Maria Inês de Almeida Morais e Maria Gorete dos Santos Diretoria de Aposentados Marlene Sousa de Moura e José Arimateia França Lima Diretoria de Org. dos Funcionários da Educação Raimunda Nadja de V. Costa João Willams da Silva Diretoria de Admi. da Casa do Trabalhador em Educação Simonete Carvalho de Almeida Diretoria de Org. da Educação Infantil Sandra Regina de Moura e Gidália Ferreira de Andrade Suplentes do Conselho Diretor José Emerson E. da Silva Francelino, Marilanes França de Souza, Maria de Fátima Costa, Inalda Teixeira de Lira, Edvar Nunes Duarte, Jucyana Myrna Teixeira da Silva

Av. Cel. Estevam, 1139 - Cond. CECOM - Sala 09 - Alecrim Natal/RN - Fone/fax: (84)3212-2388 E-mail: elequatro@uol.com.br Jornalistas responsáveis: Diagramação: Marknilson Barbosa Leilton Lima DRT/RN 579 Revisão: Silvaneide Dantas Gisélia Galvão DRT/RN 672 Gilberto Oliveira DRT/RN 1641

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ESTRATÉGIA DE LUTA

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Quem tem o povo como patrão tem que lutar diferente A direção do SINTE-RN tem colocado em prática um jeito novo de fazer greve

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REDAÇÃO

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luta da classe trabalhadora só tem eficácia quando afeta os interesses do patrão opressor. A melhor forma de fazer isso é golpeando aquilo que é mais vital para o capitalista: o lucro. Paralisar a produção de indústrias ou a venda no comércio funciona porque produz um prejuízo maior em relação ao que a classe patronal perde, cedendo os direitos aos trabalhadores. Trata-se, portanto, do instrumento mais forte de luta. Sabendo disso, a greve faz parte do arsenal de


luta de todas as categorias, inclusive daquelas que atuam no setor público. Na educação não é diferente. Aliás, o grito de greve é rotina nas assembleias do Sinte-RN, proferido exaustivamente por grupos mais agressivos e intempestivos. A ponderação da diretoria do Sindicato sobre a estratégia, a forma e o momento de entrar e sair são vistos por esses grupos, no mínimo, como complacência pelos governantes. Pela visão apressada desses segmentos, a greve é uma espécie de bálsamo milagroso responsável pela cura de todos os problemas enfrentados pelos trabalhadores. Não é bem assim, sobretudo no que diz respeito aos trabalhadores do setor público. As diferenças de segmento ditam as diferenças de estratégias. De forma direta o operário ou comerciário prestam serviço ao patrão. No caso do servidor público, esse patrão é a sociedade, incluindo ele próprio. Diferentemente da iniciativa privada, o poder de decisão administrativa da coisa pública está nas mãos de um governante que, em tese, deveria representar os interesses da coletividade, o que obviamente não ocorre. Como a greve sempre prejudica o patrão e, no caso do serviço público, esse patrão somos nós mesmos, a paralisação acaba se voltando contra a parte mais frágil. É fácil entender isso quando observamos os prejuízos que sofremos com movimentos grevistas de

outros setores de prestação de serviços públicos, como é o caso dos transportes coletivos, médicos, policiais etc. Dito isso, parece que o instrumento da greve não se aplicaria ao serviço público. Nada disso! As conquistas acumuladas através de greves na educação comandadas pelo Sinte-RN estão aí para provar que é um instrumento eficaz de luta também para os servidores. Consideração É crucial levar em consideração as características que são específicas para cada setor. No caso dos serviços públicos, a greve funciona de maneira diferente. Em vez de causar prejuízos financeiros, a interrupção dos trabalhos até ajuda o governo a economizar. A saída, portanto, é esquecer os métodos que funcionam apenas quando o foco é o prejuízo financeiro e priorizar o desgaste em outro capital: o político. Para desgastar o capital político do Governante, é preciso convencer a sociedade a ficar do lado dos seus prestadores de serviço e contra os desmandos. Isso acontece quando é ressaltada a justeza da luta e o merecimento dos servidores. A sociedade pode ficar a favor do movimento, mas pode, ainda, integrar-se a ele, o que o

tornaria praticamente invencível! O foco do Sinte-RN é nesse último ponto. Por isso, a diretoria tem investido em todos os instrumentos que possibilitem o vínculo com a sociedade, sobretudo pais e alunos. Em primeiro lugar, é preciso ter responsabilidade na hora de entrar no movimento grevista e de sair dele. Greves em momentos errados, sem apoio social ou do conjunto da categoria, causam prejuízos de ordem financeira e política para todos. É preciso cuidado para não vulgarizar o instrumento da greve, nem fazê-lo voltar-se contra os interesses da própria categoria. Para a direção do Sinte-RN greve é realmente o recurso derradeiro. Antes da sua deflagração, é preciso esgotar todas as possibilidades de negociação. Outra parte fundamental é a comunicação. A direção do Sinte-RN entende que a sociedade precisa estar sempre inteirada dos problemas enfrentados pela categoria, bem como do seu esforço e competência. E isso não pode ocorrer apenas durante as greves. Pensando assim, o Sinte-RN mantém uma assessoria de comunicação e há mais de 10 anos criou o Extraclasse TV, que hoje é líder de audiência no horário (ver matéria na pág. 6) Nosso

“No caso dos serviços públicos, a greve até ajuda o governo a economizar. A saída, portanto, é esquecer os métodos que funcionam apenas quando o foco é o prejuízo financeiro e priorizar o desgaste em outro capital: o político.”

sindicato é o único no Norte/ Nordeste, e um dos poucos do Brasil, a possuir um sistema integrado de comunicação envolvendo programas de TV e de rádio, site, redes sociais, revista e boletins. É também é o Sindicato que mais usa anúncios pagos em televisão e com maior presença nos noticiários da imprensa. É claro que tudo isso também é imprescindível para alcançar e mobilizar a maior categoria de trabalhadores do Estado, espalhada por todos os recantos do Rio Grande do Norte. Sem a participação da categoria, toda a estrutura e a estratégia de luta desenvolvida pela diretoria do Sindicato, teria muito pouca valia. A força da luta e o tamanho da vitória estão diretamente ligados a participação de cada um dos trabalhadores em educação. Essa participação, juntamente com a união de pais e alunos, forma a equação necessária também na hora de encerrar um movimento grevista. Nos momentos de greve, a direção está sempre disposta a se manter no enfrentamento, mas tem a consciência de que sem o apoio da grande maioria da categoria e a aliança com a sociedade, a continuidade do movimento provoca o descrédito da categoria, diante da sociedade e da própria categoria nas lutas vindouras. Conquistas Esse entendimento tem produzido grandes conquistas para os trabalhadores em educação. Também tem valido a confiança da sociedade e da categoria na atual direção do seu Sindicato. A greve continua sendo o maior instrumento de luta da classe trabalhadora, mas o Sinte-RN tem dado lições do que se deve e o que não se deve fazer para que continue assim . Julho I Extra Classe - 5


COM UNICAÇÃO

Ibope aponta programa do SINTE-RN como líder de audiência

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Extraclasse TV supera programa veiculado na TV Globo DA

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REDAÇÃO

esquisa do Ibope aponta que a TV potiguar tem um líder de audiência nos domingos, das 9h às 9:10h, o Extraclasse TV. A notícia surpreendeu a todos, já que a audiência do programa do Sinte-RN supera um programa nacional veiculado pela todo poderosa Rede Globo de Televisão. São mais de 200 mil telespectadores acompanhando semanalmente as notícias e opiniões da luta em defesa da escola pública e dos seus profissionais. Os dados são da audiência individual, que mede quantas pessoas estão em frente ao aparelho de TV ligado no programa. A pesquisa foi realizada em Natal, no final do ano passado.

Há treze anos, o programa faz parte da estratégia de luta do SinteRN. Segundo o diretor de comunicação do Sindicato, Ionaldo Tomaz, o Extraclasse TV é um dos principais trunfos da luta da categoria e uma ousadia do Sindicato da educação. “Somos pioneiros no Norte/ Nordeste e o único Sindicato do Brasil a manter um programa com essas características”, comemora. Entusiasmo A coordenadora geral do Sinte-RN recebeu a pesquisa do Ibope com entusiasmo: “Isso só mostra que estamos no caminho

certo. No entanto, amplia ainda mais a responsabilidade deste Sindicato. Temos que trabalhar para atender a maior categoria de servidores do Estado e agora temos a prova de que nossa responsabilidade também se estende a toda a sociedade”, avalia. O conteúdo do programa é determinado por um Conselho Editorial que se reúne todas as terças-feiras. A prioridade é a luta da educação, mas a mensagem é dirigida a toda a sociedade. Depois de determinado o seu conteúdo, o trabalho fica a cargo da Assessoria de Comunicação do Sindicato, que atua em conjunto com a produtora Mais Video.


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Milhares de pessoas acessam a luta do SINTE-RN através da Internet O surgimento das redes sociais mudou definitivamente a maneira de interação entre os indivíduos e as instituições. A estratégia de dar total visibilidade social à luta dos trabalhadores em educação não poderia deixar de lado esse instrumento. A categoria, além de ficar muito bem informada,

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pode participar ativamente comentando e sugerindo melhorias e estratégias para a luta em defesa da educação pública. De 1º de janeiro a 31 de maio de 2013, o portal do SINTE/RN foi visitado mais de 222 mil vezes por 57 mil pessoas.

A cada visita, foram visitadas quase três páginas. Assim, essas visitas produziram mais de 630 mil visualizações de páginas do site. É importante ressaltar que o Google Analytics contabiliza esses dados a partir dos aparelhos usados

para acessar o site (computadores, tablets e smartphones), e não necessariamente as pessoas. O número de acesso está sempre crescendo. Do total de visitantes, 23,07% foram de novos acessos, enquanto 76,9% foram de pessoas que retornaram ao site .


TWITTER e YOUTUBE O perfil do SINTE/ RN no microblog Twitter tem 800 seguidores. Os seguidores podem acompanhar em poucos caracteres as notícias mais

recentes com link para o site e informações de interesse da categoria e relacionados à atuação do Sindicato. No Youtube, o canal do SINTE/RN disponibiliza

todos os programas Extra Classe TV, além de outros vídeos relacionados aos trabalhadores em educação pública. Além de ser sucesso

nas manhãs de domingo na TV Ponta Negra, o programa é visto geralmente por mais de 300 pessoas por semana na internet .

FACEBOOK A página do SINTE/RN foi criada no dia 15 de maio de 2012, para mobilizar e participar das discussões da categoria na rede. Apesar do sucesso do site, a entidade ganhou mais visibilidade e abriu espaço para participação direta dos filiados. O número de curtidas e compartilhamentos é crescente. Em junho de 2013, ultrapassamos a casa das mil “curtidas” na Página. Desse total, 65,7% do público é feminino e 34,1%, masculino. Com relação à faixa etária, 39,5% têm de 25 a 34 anos e 26,3% têm entre 35 e 44 anos. Os municípios que mais têm pessoas curtindo a página são Natal, Mossoró e Parnamirim, seguindo a lógica da população. Entretanto os demais municípios também estão representados. A repercussão do conteúdo da fanpage também é muito abrangente. Em 100 dias, de 7 de março a 15 de junho, as publicações chegaram a alcançar quase 50 mil interações em apenas um dia. É o chamado efeito viral – número total de pessoas únicas que viram as publicações da página. O interesse varia de acordo com os acontecimentos. Assuntos relacionados a conquistas salariais invariavelmente causam mais interesse .

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ANÁLISE

Poder da luta na educação se amplia além da greve Na Capital e no Estado, ação do Sinte-RN produz conquistas ou rejeição popular aos Governantes DA

REDAÇÃO

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o Estado o governo Rosalba vai entrar para a história como um dos mais negligentes com o serviço público e mais devastador para os salários dos seus servidores. Já no município de Natal, a gestão do prefeito Carlos Eduardo ainda está patinando, sob o argumento do caos administrativo herdado da era Micarla de Sousa. A educação, liderada pelo Sinte-RN, pode anotar alguns fatores que mostram uma diferença de tratamento tanto na questão municipal como na estadual. O governo Rosalba foi um dos poucos do País a pagar o Piso Nacional dos Salários para os educadores. Mas parou por aí. Massacrou os demais funcionários, negando-lhes direitos fundamentais, e congelou direitos dos

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profissionais da educação, além de pagar o pior salário do País. O Sinte-RN caiu em campo, pressionou, exigiu, denunciou. A reação negativa da Governadora a essas ações certamente é um dos principais fatores do seu recorde de rejeição popular. (veja quadro) Na Capital, a primeira luta na atual gestão foi protagonizada pelos trabalhadores da urbana. Conquistaram apenas 6% de reajuste, depois de enfrentar a prefeitura na Justiça. A exemplo do que ensaiou o governo Rosalba, o tratamento dado pela Prefeitura à greve da educação foi diferente. Não sem conflito interno. Informes de bastidores mostram que setores fortes da prefeitura queriam detonar a greve da educação. A ideia era negar tudo e partir para a

Justiça, onde a tendência é sempre contra a greve. Mas o prefeito e as secretárias Virginia Ferreira e Justina Iva, cederam à ideia de negociação exigida pela categoria e também pela deputada Fátima Bezerra, que atuou diretamente na busca de solução para o conflito. A última proposta apresentada era pegar ou largar. Para os setores contrários, uma negativa da assembleia seria a desculpa perfeita para se retirar da mesa de negociação e ir para a queda de braço judicial. Para a categoria era a oportunidade de garantir o que já havia avançado ou arriscar tudo e correr o risco de repetir o erro da greve passada. Incentivada pela diretoria do Sindicato, a categoria parou.

A greve foi suspensa com uma série de conquistas. Foi a menor greve da história do Sinte-RN, apenas 13 dias. Acertou a categoria, através do Sinte-RN, que garantiu as conquistas e abriu a possibilidade de buscar o que não foi conquistado. Acertaram os setores da Prefeitura, que buscaram a negociação e com isso impediram o desgaste público da gestão que se inicia. Mas é aconselhável para a prefeitura de Natal não parar por aí, como fez o governo Rosalba com o pagamento do Piso. Respeitar a educação é hoje o básico do básico para qualquer gestão que não queira os mesmos números de popularidade dos Governos Rosalba e Micarla de Sousa .


CAMPANHAS SALARIAIS

“O que fundamenta cada campanha salarial são princípios e fundamentos sociológicos, devendo ter em vista a leitura política, econômica, educacional e ética do que queremos.”

Somos fortes porque enxergamos além DA

REDAÇÃO

A

s campanhas salariais fazem deste Sindicato um gigante na sua atuação e representatividade. Apesar da existência de legislação, um campo que poderia ser favorável a nossa luta, não tem sido fácil fazer valer direitos e assegurar conquistas. Ao longo dos anos, sucessivas lutas foram feitas. De acordo com o momento, usamos o confronto direto ou a pressão política e social como estratégias. Temos, com isso, contado sempre com a participação da comunidade escolar, pais e alunos nas passeatas, marchas, assembleias e em visita ao Sinte-RN nas sedes estadual, regionais e nos núcleos municipais. Em cada campanha, temos novas reivindicações. Apesar das recorrentes pautas, não existe exaustão na luta. Nada faz esse Sindicato desistir ou capitular frente aos desafios. Somos fortes porque enxergamos além das necessidades imediatas. Somos os anseios de muitos e a esperança que não se frustra. Mesmo que a noite caia sem luz, não existirão trevas nas lutas, porque temos o direcionamento, a clareza do eixo e da centralização de cada

campanha educacional e salarial. O que fundamenta cada campanha salarial são princípios e fundamentos sociológicos, devendo ter em vista a leitura política, econômica, educacional e ética do que queremos. As campanhas não são espontâneas. Se assim fossem, não saberíamos o que fazer quando a correlação de forcas não é favorável ao projeto em disputa, quando é necessário dialogar com a sociedade e fundamentalmente com setores da categoria, quando falta a leitura correta do momento histórico. Nas campanhas, geralmente saem frases de efeito: “Foi uma vitória!”, “Foi uma derrota!” Uma leitura que poderá ser feita sob diferentes ângulos e por diferentes óticas, considerando as diferentes concepções que permeiam no movimento sindical. Assim as campanhas salariais são fundamentais para provocar os diferentes contextos. Para buscarmos respostas e obtermos conquistas. Para avaliarmos os avanços da nossa luta, (re)fundarmos as relações e enxergarmos os antagonismos existentes numa sociedade de classe. Ufanismos, arroubos, melodramas não constituem elementos fortalecedores para

a vida sindical de cada trabalhador(a). É preciso ter direcionamento para cada campanha salarial. Como devemos nos comportar com o póscampanha salarial? Esse discernimento precisa ser feito para que a nossa luta e organização de classe não se limitem aos pontos de pauta de uma campanha salarial. O papel do Sindicato é adentrar nas concepções, tratar as situações de forma ideológica, fazer uma leitura de classe e agir dentro de um processo de construção de novas situações sociais. É um equívoco defender abordagens que possam levar a categoria ao desânimo e à apatia. Isso reflete diretamente na possibilidade de intervir nos processos sociais e só serve para referendar um estado de direito que não serve à maioria da população . Julho I Extra Classe - 11 Julho I Extra Classe - 11


CONSCIÊNCIA DE CLASSE

A Educa Para

É

muito comum, no cotidiano das relações de trabalho na educação, ouvir-mos observações de paixão ou de desencanto acerca do exercício da profissão. Páginas e mais páginas poderiam dar conta de diferentes linguagens para diferentes contextos. Por trás de toda essa linguagem, estaria uma ideologia. Estariam também os que se apoiam na ideologia para encontrar respostas à escatologia catastrófica que permeia no horizonte das relações de trabalho e de produção. As formas nas relações de trabalho estão aperfeiçoadas. Os tempos mudaram. Mas o novo tempo carrega consigo a mesma necessidade: desnudar a sua ideologia. Na escola, muitas

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vezes, a linguagem é de indiferença aos fatores de ordem política, social, cultural, religiosa etc. Parece ser mais fácil não mexer no tecido social, embora a ferida sangre sempre. Deixar o aluno ser um inocente e inofensivo leitor pode trazer comodidade para aquele momento. É como se não existissem as relações sociais de produção. A assimilação e a crítica são condições indispensáveis para darmos o sentido ideológico à nossa prática e tirar a face oculta das relações de trabalho. Uma campanha salarial de qualquer categoria profissional não é suficiente para a obtenção de respostas gerais e transformadoras. Ela consegue responder pontualmente, porém não mexe com a estrutura social. O

arcabouço continua o mesmo. À margem de muitas outras formulações, anda a prática pedagógica nas escolas. A leitura que muitos fazem da educação é simplificada. Assumir uma postura neutra em relação a política, cultura, economia é muito mais fácil, dá menos trabalho e acaba reduzindo a prática de educar ao ensino. Marx usou a base da argumentação para fundar uma teoria. Deu sustentação à teoria porque apresentou concretamente algo novo para se contrapor. Com muita sabedoria usou o existente, não rasgou, fez a leitura por diferentes vetores, deixando o legado à humanidade. Esse papel não cabe unicamente à educação. Também não será suficiente fazer a crítica a qualquer que seja o modelo educacional, se agirmos de forma neutra ou rasgarmos tudo como se esse “tudo” não fosse a referência para o novo A produção sociológica na escola fica muito abaixo do desejado. Tomar partido parece oferecer riscos aos profissionais. A


ação e a ideologia. que e por quê?

Profa. Fátima Cardoso Coordenadora Geral do Sinte

perspectiva do reclamar parece ser muito mais simples do que problematizar a nossa prática. É urgente e imprescindível tirar da nossa cabeça a concepção parcial da educação. Quanto mais fazemos educação nessa perspectiva, mais nos ausentamos de práticas revolucionárias. Assim, paralelamente corre a vida material. Julgamos desenvolver o mundo das ideias, onde lutam cientistas e supersticiosos, progressistas e conservadores, ateístas e religiosos de esquerda e de direita. Se assim vemos, é preciso compreender os diferentes modos de produção que têm se sucedido, a interpretação da sociedade e seus conflitos, a análise da sociedade e a problematização entre consciência e existência. Há um aspecto importante na literatura de Marx orienta os fenômenos sociais. A conceitua de alienação do trabalho em relação ao produto do seu trabalho. É esse conceito que queremos trabalhar, para estabelecermos em sala de aula uma relação ideológica. Parece-nos extremamente importante problematizar essa prática. O futuro

e o presente precisam de mulheres e homens que sejam sujeitos de sua história. Na escola temos possibilidade de tratar da existência humana sem o lado bucólico ou palaciano da vida. Temos a oportunidade de lidar com conceitos de classe de forma concreta. Nos nossos encontros de campanhas salariais, de estudos e discussões temos a possibilidade de pensar e construir novos paradigmas, estabelecer novos conceitos para novas relações de produção e de trabalho. A busca da ideologização na educação permitirá que a produção seja do próprio ser humano. Sua existência é real. Como é real no capitalismo que o trabalho social se contrapõe a si mesmo. O nosso trabalho é

social. Nossa remuneração é individual. Não somos tão rentáveis, mas somos a possibilidade de inverter a história. A nossa história e de toda a humanidade. Mas EU somos NÓS na escola e fora dela. Profissionais e alunos são sujeitos sociais. A educação deve ser ideologizada. A ideologia deve ser a de classe. Contamos com vocês para a construção de outro mundo, que nele seja possível a equidade social, a solidariedade como principio humano .

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POLÍTICA

É na política partidária que se decide quem sai ganhando e quem sai perdendo na sociedade DA

REDAÇÃO

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chuva tardou a chegar no nosso Estado. Até que o céu despejasse os primeiros pingos, a população padeceu. Reportagens mostraram as carcaças se decompondo sobre o pasto esturricado pelo sol incle- ExtraClasse ClasseI IJulho Julho 14 14- Extra

mente. Alheio a tudo isso, o Governo Rosalba mostrou-se indiferente ao clamor do povo. Nenhuma ação preventiva foi feita para enfrentar um problema que se repete há séculos. Mas este ano tivemos um fator novo: não houve

saques a supermercados e caminhões. A fome que atingiu o gado não chegou aos seres humanos. A angústia foi atenuada por programas do Governo Federal, como o BolsaFamília.


Os grandes "heróis da honestidade" vendidos pela mídia se revelaram ainda mais corruptos. Então a ideia é dizer que todo político é igual. Assim, os desonestos ficam "invisiveis" e os honestos, sem força. Desencantado com a política partidária, o povo se afasta do debate. Essa é a estratégia das elites para que os desonestos e incompetentes se perpetuem no poder.

Temos aí um exemplo de como ações governamentais são fundamentais para problemas crônicos, como a convivência com a seca. Sua presença ou ausência mudam o ponteiro da realidade social para a miséria ou produção cidadã. Por trás de tudo isso, está um fator repudiado pela população brasileira: a política. Não é para menos. A classe política é uma das mais desacreditadas do País. Escândalos de corrupção, incompetência e descaso fazem parte da rotina das notícias.

“Não adianta nada se distanciar do debate partidário e depois cobrar de um empresário uma posição a favor dos trabalhadores.” No entanto, queiramos ou não, é essa a classe que hoje define se teremos alimento para as pessoas e animais nos períodos de seca, escola para os nossos filhos e direitos para os trabalhadores. Na verdade, se nós somos os donos das nossas escolhas, eles são os donos do poder de facilitar ou dificultar a realização dessas escolhas.

É por esse motivo que o Sinte-RN, a CUT, CNTE e todos as entidades de luta da classe trabalhadora devem se posicionar politicamente. Sem medo. Não adianta nada se distanciar do debate partidário e depois cobrar uma posição a favor dos trabalhadores de um empresário que se elegeu para dar sustentação à classe dele.

Os trabalhadores em educação não são uma ilha. Suas famílias, alunos, colegas são afetados pelas decisões dos que comandam os destinos do município, do estado e do país. O aumento dos preços dos alimentos e o sofrimento do sertanejo são exemplos disso. A luta que acontece nas ruas e nas escolas deve se estender também às Câmaras, Assembleia e Palácios Governamentais. Precisamos ocupar esses espaços e o primeiro passo para isso é vencer o preconceito contra a política partidária . Julho I Extra Classe - 15 Julho I Extra Classe - 15


ESCOLA PÚBLICA - Extra Classe I Julho - Extra Classe I Julho 1616

“O Conselho de Escola serve para fiscalizar, mobilizar, deliberar e ser consultivo.”


Os Conselhos Escolares são pilares para a gestão democrática DA

REDAÇÃO

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urante a ditadura m i l i t a r, quando estávamos nas ruas, ocupando praças, era objetivamente para conquistar a democracia ampla e irrestrita. Associávamos a essa luta a democratização na escola. Uma das bandeiras fortes de nossa luta foi a eleição direta para diretor e a eleição do Conselho Escolar como uma instância privilegiada de representação de toda a comunidade escolar. As funções do Conselho determinam o seu perfil. Uma possibilidade de transformar as relações, redundar conceitos, transformar a escola num espaço de reflexão e ação. Muitos referenciais são esquecidos quando as relações são de poder e extremamente autoritárias. O jogo de interesses passa a prevalecer. Terá sempre o vilão, aquele que deve ser julgado e sen-

tenciado. As reuniões são, via de regra, para fazer atas de condenação. Para que serve o Conselho de Escola? Se verificarmos a lei municipal e a estadual, serve para fiscalizar, mobilizar, deliberar e ser consultivo. Parece-nos que essa última função não funciona. Temos assistido a cenas que merecem análise profunda, senão o Conselho de Escola servirá apenas para ser um delator dos conflitos não tratados e não refletidos pelos conselheiros. Eleições Este ano teremos eleições nas duas redes de ensino. Obviamente a grande disputa será a eleição do diretor e vice-diretor, e os Conselhos de Escola ficarão em segundo plano. É bom lembrar que foi uma conquista nossa, tanto as eleições quanto os Conselhos Escolares. Mas estamos deixando à margem o projeto original e criando um paralelo que reduz o Con-

selho à condição de um mero instrumento do momento, pontual e pouco original. A sua composição permite agregar a representatividade da sociedade civil e a participação efetiva dos eleitos/as como sujeitos sociais e históricos. Um conceito que vai muito mais além das rotinas apresentadas nas reuniões dos Conselhos Escolares. Direitos sociais e cidadania: um binômio pouco falado nas reuniões dos Conselhos Escolares. Imagina que estamos numa democracia representativa e queremos outra democracia. É isso que falamos sempre: do autoritarismo do outro, da falta de solidariedade nas relações de grupos e pessoais. A busca da democratização passa por recriar os ambientes e os espaços dentro das escolas, com a perspectiva de humanizar as diferentes formas de relação. Contudo não existe neutralidade para uma ação política como é o ato de agir .

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Governo Rosalba arrecada uma montanha de dinheiro, esquece servidores e insiste em que está no limite da Lei de Responsabilidade Fiscal Estudo do DIEESE gera o questionamento: para onde está indo o nosso dinheiro? DA

REDAÇÃO

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Governo Rosalba insiste em dizer que não negocia com os grevistas porque não tem dinheiro. O argumento é a velha lengalenga da Lei de Responsabilidade Fiscal que impede que o Governo ultrapasse o limite com pagamento de pessoal. Um estudo do DIEESE prova que os argumentos do Governo estão bem longe da verdade. O fato é que, a cada ano, cresce a quantidade de dinheiro arrecadado pelo Estado. Enquanto isso cai o investimento no Estado, e a

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quantidade de dinheiro usada para pagar os salários dos servidores está congelada há 10 anos. O DIEESE comparou o gasto de pessoal com a riqueza acumulada no estado (PIB). Praticamente não houve variação. Em 2002 era 10,94%; em 2012 foi 10,01%. Em relação à despesa total do Estado, o dinheiro investido para pagamento dos servidores também vem caindo. Em 2002, representava aproximadamente 62%. Em 2012, esse percentual era de pouco mais de 53%.

Mas ao mesmo tempo em que fechava a torneira de saída para o salário dos servidores, o Governo abria o encanamento para a entrada de dinheiro. A fonte de recursos de onde sai o pagamento do funcionalismo só cresceu. Ainda segundo o DIEESE, a Receita Corrente Líquida por habitante passou de R$ 1 mil e 600 , para mais de R$ 2 mil e 800. Alguém poderia dizer que o Governo abandonou os servidores para investir em outras áreas do Estado. Ledo engano. Ao mesmo tempo em que se apropria dos reajustes

salariais e direitos que deveriam ser destinados aos servidores, o investimento público no Governo Rosalba é vergonhoso. Em 2011, os investimentos ficaram na casa de míseros 3,7%. Em 2012, cambaleou para 4,8%. Comparando com o investimento dos governos anteriores, o Governo Rosalba consegue a façanha de ser ainda pior. De 2000 pra cá, apenas o ano de 2003 teve menos investimento público (3,5%) do que nos anos Rosalba.


A contabilidade fica ainda mais vergonhosa se considerarmos o cálculo por biênios. No biênio 2011/2012, o investimento caiu para 4,32%. O pior desde 2001/2002, algo muito estranho se considerarmos que a tendência é haver alguma melhora depois do primeiro ano dos governos. O DIEESE também analisou a proporção de investimentos sobre o PIB. Assim dá pra saber a dimensão do quanto é investido em relação ao potencial econômico estadual e também qual o impacto dos investimentos públicos sobre a economia. O resultado é outra vergonha. Os dados mostram que 2011 e 2012 apresentaram taxas de investimentos em relação ao PIB de 0,80% e 1,08%, respectivamente. Essas taxas estão entre as mais baixas do período 2000-2012. Não precisa ser economista para ver que entrou muito dinheiro nos cofres do Governo Rosalba e que isso não significou nada para o serviço público e seus servidores ou para obras de infraestrutura. As contas não batem. A grande pergunta é: para onde está indo essa montanha de dinheiro? Os números estão aí para provar que a desculpa de não pagar os direitos por causa da Lei de Responsabilidade Fiscal é pura balela .

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IDEOLOGIA

O esquerdista e o direitista

N

ada mais parecido com um esquerdista fanático, desses que descobrem a nefasta presença do pensamento neoliberal até em mulheres que o repudiam, do que um direitista visceral, que identifica presença comunista inclusive em Chapeuzinho Vermelho. Os dois padecem da síndrome de pânico conspiratório. O direitista, aquinhoado por uma conjuntura que lhe é favorável, envaidece-se com a claque endinheirada que o adula como um

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dono a seu cão farejador. O esquerdista, cercado de adversários por todos os lados, julga que a história resulta de sua vontade. O direitista jamais defende os pobres e, se eventualmente o faz, é para que não percebam quão insensível ele é. Mas nem pensar em vê-lo amigo de desempregados, agricultores sem terra ou crianças de rua. Ele olha os deserdados pelo binóculo do seu preconceito, enquanto o esquerdista prefere evitar o contato com o pobre e mergulhar na retórica contida nos livros de análises sociais. O esquerdista enche a boca de categorias teóricas e prefere o aconchego de sua biblioteca a misturar-se com esse pobretariado que nunca chegará a ser vanguarda da história. O direitista adora desfilar suas ideias nos salões, brindado a vinho da melhor safra e cercado por gente fina que enxerga a sua auréola de gênio.

O esquerdista coopta adeptos, pois não suporta viver sem que um punhado de incautos o encarem como líder. O direitista escreve, de preferência, para atacar aqueles que não reconhecem que ele e a verdade são duas entidades numa só natureza. O esquerdista não se preocupa apenas em combater o sistema, também se desgasta em tentar minar políticos e empresários que, a seu ver, são a encarnação do mal. O direitista posa de intelectual, empina o nariz ao ornar seus discursos com citações, como a buscar, na autoridade alheia, a muleta para as suas secretas inseguranças. O esquerdista crê na palavra imutável dos mentores do marxismo e não admite outra hermenêutica que não a dele. O direitista considera que, apesar da miséria circundante, o sistema tem melhorado. O esquerdista vê, no progresso, avanço imperialista e não admite que seu vizinho possa sorrir enquanto uma criança chora de fome na África.


fanático visceral O direitista é de uma subserviência abjeta diante dos áulicos do sistema, políticos poderosos e empresários de vulto, como se em sua cabeça residisse a teoria que sustenta todo o edifício de empreendimentos práticos que asseguram a supremacia do capital sobre a felicidade geral. O esquerdista não suporta autoridade, exceto a própria, e quando abre a boca plagia a si mesmo, já que suas minguadas ideias o obrigam a ser repetitivo. O direitista é emotivo, prepotente, envaidecido. O esquerdista é frio, calculista e soberbo. O direitista irrita-se aos berros se encontra no armário a gola da camisa mal passada. Dedicado às grandes causas, as pequenas coisas são o seu tendão de Aquiles. O direitista detesta falar em direitos humanos, e é condescendente com a tortura. O esquerdista admite que, uma vez no poder, os torturados de hoje serão os torturadores de amanhã. O direitista esbraveja por ver tantos esquer-

Por Frei Betto

distas sobreviverem a tudo que se fez para exterminá-los: ditaduras militares, fascismo, nazismo, queda do Muro de Berlim, dificuldade de acesso à mídia etc. O esquerdista considera o direitista um candidato ao fuzilamento. Direitista e esquerdista – os dois são perfeitos idiotas. O direitista padece da doença senil do capitalismo e o esquerdista, como afirmou Lênin, da doença infantil do comunismo. Embora mineiro, não fico em cima do muro. Sou de esquerda, mas não esquerdista. Quero todos com acesso a pão, paz e prazer, sem que os direitistas queiram reservar tais direitos a uma minoria, e sem que os esquerdistas queiram impedir os direitistas de acesso a todos os direitos – inclusive o de expressar suas delirantes fobias .

“O direitista padece da doença senil do capitalismo, e o esquerdista, como afirmou Lênin, da doença infantil do comunismo. Sou de esquerda, mas não esquerdista.”

Frei Betto é escritor, autor do romance “Minas do Ouro” (Rocco), entre outros livros. http://www.freibetto.org

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MÍDIA

Rasgando o véu do Big Brother Judicial DA

REDAÇÃO

N

o passado, os enforcamentos eram feitos em praça pública. Os réus eram levados ao cadafalso sob o olhar de centenas de pessoas que se aglomeravam para ver o espetáculo. Havia a leitura da sentença. O carrasco se encarregava de colocar a corda no pescoço do condenado e abrir o alçapão que o faria despencar da plataforma e agonizar até morrer. O público delirava! O fato de o condenado ser inocente ou culpado pouco importava. O show de horror era o mais importante. Havia um doce sabor de vingança para aqueles que foram vítimas ou temiam os crimes em geral. O povo sofrido transferia para aquele condenado todo o seu ódio pelos criminosos. Voltavam para casa mais leves. Vingados. No geral,

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não havia reflexão, questionamento, avaliação. O tempo passou, mudou a forma de julgar, mudou a forma de executar a sentença. Mas a plateia continua com características muito próximas. Recentemente, o Brasil acompanhou o julgamento do caso do mensalão. Os olhares não eram mais de algumas centenas, mas de milhões. Eles não precisaram ir à praça. Puderam acompanhar o caso através da televisão, revistas e jornais. Não mais a visão total da cena ao vivo, mas a fração filtrada de acordo com o interesse do proprietário do veículo de mídia. O julgamento do mensalão foi alardeado como o maior da história do Brasil. A condenação dos réus é praticamente uma unanimidade nacional. O ministro Joaquim Barbosa foi alçado à condição de herói incontestável. O ministro Ricardo Lewandovski, o vilão a serviço dos bandidos. Um verdadeiro Big Brother Judicial. O interesse pelo julgamento é compreensível. Ninguém aguenta mais a corrupção e a impunidade no Brasil. Ninguém aguenta mais a farra feita pelos poderosos com o dinheiro público. Era hora de dar um basta à bagaceira generalizada que tomou conta da política nacional. Finalmente alguém fez alguma coisa para dar um basta nisso tudo! Mas será que foi isso mesmo? Os chamados “mensaleiros” podem ser realmente culpados, mas o que a Globo e a Veja não dizem é não houve provas para a condenação. Em seu livro, “O outro lado do mensalão: as contradições de um julgamento político”, o jornalista Paulo Moreira Leite atua como o desmanchaprazeres que tira de nós a curtição do show da condenação dos corruptos, obrigando-nos a uma reflexão. Ele ressalta que as investigações da Políticia Federal acabaram frustrando as expectativas políticas dos interessados na condenação. Não encontraram provas, portanto a condenação dos réus ocorreu porque os ministros,

liderados por Joaquim Barbosa, entenderam que não podia ser diferente. Em um país em que a Lei afirma que “Todos são inocentes até que se prove o contrário”, o STF determinou que todos são culpados até que se prove a sua inocência. Pode ser que tenha dado certo, afinal. Quem sabe o Supremo atirou no que adivinhou e acertou no que não viu? Se assim foi, podemos por instantes esquecer o perigo de um dia também sermos condenados sem provas e comemorar. Podemos celebrar a possibilidade de que, daqui pra frente, os corruptos vão ter que pensar duas vezes antes de meter a mão no dinheiro do povo. Mas não é bem assim. A mão pesada da Justiça Brasileira, antes usada preferencialmente para punir os pobres, agora parece abarcar também os políticos que têm origem na luta dos trabalhadores e que não fazem parte do esquema tradicional da política. No julgamento do mensalão, os verdadeiros ricaços do Brasil não foram tocados. Três exemplos relatados no livro de Paulo Moreira Leite:

1 - As empresas e grupos econômicos que fizeram contribuição ao suposto esquema foram estrategicamente esquecidos; 2) - A CPMI dos Correios apontou sete empresas privadas que contribuíram com R$ 200 milhões para as empresas de Marcos Valério. Nenhum de seus executivos foi indiciado; 3) - O deputado Roberto Brant (DEM-MG) recebeu R$ 100mil do esquema Valério para sua campanha eleitoral. Foi julgado e absolvido por seus colegas parlamentares, e a empresa que deu a contribuição não foi indiciada. “As autoridades acusadas de corrupção foram julgadas e condenadas, mas se manteve a velha tolerância em relação aos possíveis corruptores, que têm poder para tentar dobrar o Estados aos seus interesses”, denuncia Paulo Moreira Leite. Os políticos do velho esquema também têm sido poupados. Os chamados “mensalões” do DEM e do PSDB, por exemplo, continuam em banhomaria. Desobedecendo às determinações da mídia golpista brasileira, podemos usar nossa capacidade de reflexão para a seguinte análise: se o Ministro

Joaquim Barbosa errou no seu julgamento, teremos a condenação de inocentes ou, pelo menos, a aplicação de uma pena injusta em relação ao delito cometido. Se acertou, apenas triscou a superfície da bandidagem política, já que esqueceu os principais tubarões que aparecem na listagem de políticos cassados por corrupção, divulgada pelo TSE. Segundo essa lista, as medalhas de ouro, prata e bronze da corrupção ficam com o DEM, o PMDB e PSDB, nesta ordem. O PT aparece na rabeira, em nono lugar (Veja tabela abaixo). Independentemente de a Justiça ter sido feita ou não, a mídia saboreia sua vitória: conseguiu baixas signi-ficativas em seus desafetos políticos e ainda criou a figura de um pretenso herói defensor da ética, que lhe serve aos propósitos de dominação. Alheia a tudo isso, grande parte da sociedade continua hipnotizada pelo show, enquanto os antigos corruptos, aqueles que sempre dominaram a economia do País, armam seus esquemas às escuras para voltar ao poder .

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BRASIL

A educação e DA

REDAÇÃO

O

programa BolsaFamília tem sido vorazmente criticado pela elite financeira do Brasil. “Bolsa-vagabundo”, “bolsaesmola”, “bolsa-voto” são alguns dos adjetivos por vezes replicados apressadamente por pessoas de boa fé. O fato é que os resultados atestados provam que Bolsa-Família vai muito além do assistencialismo. O principal motivo disso é que se trata de um Programa de Transferência Condicional. Ou seja, a transferência de renda está condicionada a uma atitude do beneficiado. No caso do Brasil, a condição é a manutenção das crianças na escola. Dados do Programa, cruzados com dados da Pnad e do censo escolar, atestam um substancial aumento da frequência escolar depois do Programa, além da ampliação de vários indicadores educacionais. Especialistas têm afirmado que, se as escolas conseguirem reter os estudantes fazendo com que concluam o ensino fundamental, teremos outro País. E é exatamente isso que vem acontecendo.

Hoje a população brasileira estuda, em média, apenas sete anos. No ritmo do Bolsa-Família, esse tempo aumentará sensivelmente. Os usuários do Bolsa-Família têm conseguido terminar o ensino fundamental e prosseguem no ensino médio. São cerca de 16 milhões de crianças, adolescentes e jovens. Quase 40% do total dos alunos do ensino fundamental. Aqui, no Nordeste, esse índice chega a alcançar quase metade das matrículas. Outro progresso notável refere-se às taxas de aprovação. Dados do censo da educação básica indicam que os beneficiários do BolsaFamília têm aprovação semelhante à média brasileira no ensino fundamental e bem superior no ensino médio. Melhor ainda: no Nordeste, ela é maior nos dois níveis de ensino. Os dados mostram que a evasão escolar é menor entre os beneficiários do Bolsa-Família, tanto no ensino fundamental quanto no médio. Em resumo, eles estão frequentando mais, abandonando menos e melhorando os índices de aprovação.

“Se quiser ter prosperidade por um ano, cultive grãos. Por dez, cultive árvores. 24 - Extra Classe I Julho


“A educação, venha como vier, será sempre uma ameaça a quem quiser se perpetuar no poder a todo custo.”

a “bolsa-vagabundo” É razoável supor que, uma vez na escola, eles aproveitam a oportunidade para seguir uma trajetória escolar da qual estavam excluídos. Para os trabalhadores em educação é importante a reflexão crítica sobre tais dados. Quem acha que o Bolsa-Família é uma criação do PT para se perpetuar no poder à custa do assistencialismo, precisa refletir em um princípio básico: a educação, venha como vier, será sempre uma ameaça a quem quiser se perpetuar no poder a todo custo. Se o PT queria manipular a população, fez exatamente o contrário do que indica a cartilha da canalhice política. É claro que a realidade educacional brasileira está a anos luz de distância do ideal. No entanto, o Programa está transformando crianças de rua em futuros adultos diferentes. Serão pessoas que aprenderam a conviver com as regras próprias do ambiente escolar: adquiriram hábitos de disciplina, de compartilhamento de aprendizagem com os colegas, acessando novos

conhecimentos, ampliando os horizontes culturais. Portanto, não é fantasia dizer que os usuários do Bolsa-Família de hoje serão, amanhã, pessoas com outro conceito de educação. Imagine milhões de adultos mais escolarizados e por isso mes-

Mas para ter sucesso por 100 anos, cultive gente”

mo aspirando para seus filhos a uma trajetória educacional maior, exigindo, também, como direito, melhor qualidade de ensino e de oportunidades. Mas a vida acontece hoje! Por isso, cabe a nós exigir dos gestores estaduais

e municipais políticas intersetoriais – educação, saúde, desenvolvimento social, entre outras – criando uma rede de proteção às famílias. Passos fundamentais para garantir o direito de aprender e de construir esse novo futuro .

Confúcio Julho I Extra Classe - 25


DENÚNCIA

Sinte-RN denuncia medida em parceria

M

inistério Público do Estado do Rio Grande do Norte (MPE) recomendou que a titular da secretaria de Estado da Educação e da Cultura (SEEC), Betânia Ramalho, a convocação dos 17 servidores e professores – de um total de 20 – atualmente afastados para o exercício de funções junto ao SINTE/RN. A recomendação que partiu da promotora da

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educação Carla Amico e foi assinada pelo promotor Paulo Batista Lopes Neto define ainda que apenas três funcionários podem continuar afastados da SEEC para exercer funções no Sindicato. Apesar de o déficit de vagas no magistério estadual passar dos 2 mil profissionais, os promotores viram justamente nos profissionais que atuam no Sinte-RN um foco do problema.

Enquanto presta um serviço à intenção do Governo de minar as forças do SINTE-RN o Ministério Público Estadual não parece muito preocupado com as centenas de professores cedidos a órgãos alheios à educação e até mesmo aos que precisam atuar como técnicos na Secretaria de Educação pela falta de concurso para preenchimento de vagas no setor.


perseguidora do Ministério Público com Governo Rosalba Dirigir o olhar para 17 pessoas em meio ao vazio de mais de 2 mil vagas, traz a lembrança a proibição pela Promotoria da Educação de que os professores merendassem com os alunos. Para a direção do Sindicato a pequenez das preocupações diante das muralhas dos problemas mostra claramente no mínimo uma perigosa antipatia aos trabalhadores em educação e suas lideranças.

Caso esse tipo de manobra legal se mantenha, o Sindicato deverá encontrar alternativas para se manter firme na luta em defesa da educação e dos seus trabalhadores: a transformação do sindicato em federação. Assim, cada uma das 17 diretorias regionais do SINTE/RN viraria um sindicato e, conforme reza a mesma lei usada agora pelo MP, as novas entidades deverão contar, no mínimo,

com três diretores liberados cada uma. A manobra jurídica pode até incomodar, mas no final pode representar ainda mais força na organização da luta dos trabalhadores em educação. Caso a proposta seja aprovada, pelo Congresso, o número de professores liberados para a luta sindical passaria dos atuais 17 para 51 liberados. No Rio Grande do Norte a postura do Ministério

Público vem sendo contrária ao que se espera de uma instituição que tem como objetivo advogar em defesa da sociedade. O irônico é que o ataque do MPE ao Sinte-RN ocorreu na mesma época em que o Sindicato saiu às ruas para pressionar o Congresso Nacional a rejeitar a PEC 37, que restringia o poder de investigação de promotores e procuradores do país. Julho I Extra Classe - 27


MELHOR IDADE 28 - Extra Classe I Julho 28 - Extra Classe I Julho


“Cientificamente, sabe-se que o processo de envelhecimento não pode ser detido. Mas pode ser retardado.”

Cuide do amanhã

A

população que mais cresce no Brasil é a de idosos. Para 2025, o IBGE estima que o Brasil tenha uma população de cerca de 32 milhões de pessoas nessa faixa etária. Com a pirâmide demográfica em transformação, a sociedade não pode deixar de refletir sobre esse novo grupo, até porque os jovens de hoje serão os idosos de amanhã. “Compreender o processo de envelhecimento é importante para que as pessoas possam avaliar a necessidade de se adotar certos hábitos de vida, a fim de interferir positivamente nesse processo”, afirma o geriatra Mauro Piovisan, do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná. São idosas as pessoas com mais de 65 anos nos países desenvolvidos, e com mais de 60 nos em desenvolvimento,

Soraya Utsumi

de acordo com padronização da Organização Mundial de Saúde. Cientificamente, sabe-se que o processo de envelhecimento não pode ser detido. Mas pode ser retardado. Alguns vivem mais, mantêm-se muito jovens para a sua idade cronológica e têm uma qualidade de vida melhor do que outros por diversos fatores. Entre eles, as condições socioeconômicas, culturais, de personalidade, da maneira como veem o mundo, de espiritualidade, dos estímulos que recebem. Além disso, há as características de comportamentos e predisposições que são herdadas geneticamente. As pessoas são diferentes entre si. Seja pela idade, peso, altura, sexo, cor da pele, força seja pela inteligência. Um conjunto de fatores genéticos interage

com o meio e com as variações do estilo de vida, desenvolvendo comportamentos singulares e particularizando as diferenças individuais. Mas como a longevidade não pode ser diagnosticada geneticamente, é aconselhável a prevenção durante toda a vida. Por meio de mudanças comportamentais, as pessoas que morreriam mais cedo acabam vivendo mais que a média do tempo de vida humana, ao corrigir maus hábitos, como tabagismo, obesidade, álcool em excesso, isolamento social, inatividade física. Educadores de olho no coração e na pressão As doenças que mais causam óbitos entre idosos, segundo a geriatra Nélia Osório, professora da Universidade Federal de Tocantins, são a cardiopatia

e a hipertensão. No caso dos(das) aposentados(as) da educação, de acordo com pesquisa do DIEESE, o problema de saúde que ocorre com maior frequência é a pressão alta, causada em grande parte por falta de exercícios físicos, alimentação inadequada e estresse. O estado com maior incidência da doença é Goiás, com 60,9% das ocorrências, e o de menor índice é o Paraná, alcançando 34,6%. A atividade física, recomendada por um profissional de educação física, é uma das alternativas mais eficazes para esse tipo de doença, desde que bem orientada e de acordo com as necessidades de cada um. “Já vi casos de idosos que começaram a correr e, depois de seis meses, tiveram que fazer operação no joelho por causa da falta de Julho I Extra Classe - 29


orientação profissional. É preciso ter cuidado”, afirma Piovesan. Depois da pressão alta, os problemas de coluna estão entre as principais dificuldades encontradas pelos profissionais da educação aposentados, causados pelo grande número de horas passadas em posições incômodas. Outras doenças recorrentes segundo o estudo, são varizes, devido ao longo tempo em que os docentes permanecem em pé, além da osteoporose e artrose. A perda muscular é também fator de preocupação com o decorrer da idade, como lembra Piovesan.

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Destacam-se, em menor incidência, as doenças respiratórias, muitas vezes provenientes de alergias provocadas pelo pó de giz, e os problemas de voz, pelo excesso de tempo em que o professor permanece falando. O estado em que o problema é mais recorrente é o Maranhão, totalizando 25% das ocorrências entre as doenças analisadas. Uma questão de estilo de vida Para Piovesan, cuidados médicos são essenciais para envelhecer bem. No dia a dia, um bom sono também ajuda na prevenção de doenças. Já a alimentação deve ser algo observado

desde o nascimento. “Recomenda-se uma alimentação saudável, não só na velhice, pobre em gorduras e em carboidratos, e rica em fibras”. A geriatra Nélia Osório recomenda, antes de tudo, que o idoso entenda a velhice: suas perdas, relacionadas a fatores biológicos, e ganhos, ligados à experiência de vida. “O idoso não pode ser vítima nem herói, ele deve compreender que participa de um processo natural da vida”, enfatiza. “Deve haver prazer mesmo com as dificuldades anatômicas, de perda de visão e de audição”. Ela também destaca a importância de ter projetos de vida. “A pessoa

que não tem projetos de vida já está morta”. Usar os medicamentos corretamente, equilibrar os ambientes emocionais, ampliar a rede de suporte social. É importante, além disso, reduzir situações de ansiedade e estresse, para evitar a depressão, segundo Piovesan, além de otimizar o tempo livre, fazendo atividades que dão prazer. Para que sejam baixos os riscos de desenvolverem doenças (e as dificuldades a elas relacionadas), assim como para que sejam altos os níveis de função física e mental na velhice, é importante atentarse para hábitos adequados.


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