Corrente Contínua 224

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corrente contínua Ano XXXI - Nº 224 - Janeiro/Fevereiro - 2009

A REVISTA DA ELETRONORTE

Sistema Eletrobrás, o voo da transformação

Eletronorte


sumário

AMAZÔNIA E NÓS

Maranhão, terra das palmeiras de cantos e encantos, cultura, magia, cores e sabores Página 48

TECNOLOGIA

ENERGIA ATIVA

Nova Eletrobrás: integração, rentabilidade e competitividade no Brasil e no mundo - Página 3

Contra crises, sempre ela: a inovação

GERAÇÃO

Página 54

Nas águas turvas do Curuá-Una, renasce a primeira hidrelétrica da Amazônia - Página 40

TRANSMISSÃO

Treze anos depois do linhão, norte de Mato Grosso vive o fenômeno do crescimento econômico - Página 33

Página 44

CORREIO CONTÍNUO FOTOLEGENDA Página 55

MEIO AMBIENTE

Usina-plataforma, novo conceito em hidrelétricas Página 14

CORRENTE ALTERNADA

Fórum Social Mundial: pluralidade de ideias em Belém - Página 22

CIRCUITO INTERNO

Equipes do Maranhão recuperam linha em tempo recorde - Página 19

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SCN - Quadra 06 - Conjunto A Bloco B - Sala 305 - Entrada Norte 2 CEP: 70.716-901 Asa Norte - Brasília - DF. Fones: (61) 3429 6146/ 6164 e-mail: imprensa@eletronorte.gov.br site: www.eletronorte.gov.br

Prêmios 1998/2001/2003

Diretoria Executiva: Diretor-Presidente - Jorge Palmeira - Diretor de Planejamento e Engenharia - Adhemar Palocci - Diretor de Produção e Comercialização - Wady Charone - Diretor Econômico-Financeiro - Antonio Barra - Diretor de Gestão Corporativa – Tito Cardoso - Coordenação de Comunicação Empresarial: Isabel Cristina Moraes Ferreira Gerência de Imprensa: Alexandre Accioly - Equipe de Jornalismo: Alexandre Accioly (DRT 1342-DF) - Arthur Quirino (DRT 778- MA) - Bruna Maria Netto (DRT 8997-DF) - Byron de Quevedo (DRT 7566-DF) - César Fechine (DRT 9838-DF) - Érica Neiva (DRT 2347BA) - Márcia Oliveira – DRT: 1116/MT. - Michele Silveira (DRT 11298-RS) - Assessorias de comunicação das unidades regionais - Fotografia: Alexandre Mourão - Roberto Francisco - Rony Ramos - Assessorias de comunicação das unidades regionais - Revisão: Cleide Passos - Arte gráfica: Jorge Ribeiro - Foto da capa: Rony Ramos - Arte da contracapa: Alexandre Velloso - Tiragem: 10 mil exemplares - Periodicidade: bimestral.


Bruna Maria Netto To hold: n 1 ação de segurar, pegar ou agarrar. 2 forte influência. 3 fortificação, fortaleza.• vt+vi 1 pegar, agarrar, segurar. 2 reter. 3 manter. 4 defender. 5 manter sob controle. 6 aderir. 7 suportar, apoiar. 8 presidir. 9 reunir. 10 continuar, permanecer, manter-se a firme. 11 ser válido, vigorar.

Após a sanção da Lei 11.651, de 7 de abril de 2008, o Sistema Eletrobrás - formado por 12 empresas geradoras, distribuidoras e transmissoras de energia, 27 mil empregados e patrimônio em torno de R$ 82 bilhões – encaixa-se mais do que nunca em todas as denominações acima citadas, com o papel de superestatal e consolidando-se como uma holding de fato, já traçando o caminho de suas ações com a Bolsa de Valores de Nova York. Não por menos: as 30 usinas hidrelétricas, 15 termelétricas e duas usinas nucleares pertencentes às empresas do Sistema têm capacidade instalada para produção de 39.753 MW, (incluindo metade da potência da usina de Itaipu, de sete mil MW) totalizando 39,6% do potencial em operação no

País, que são escoados pelos 56.789 km de linhas de transmissão, representando mais de 60% do total nacional. Atualmente, há quase meio século da sua fundação, o Sistema Eletrobrás se prepara para conseguir não só a maior integração entre suas subsidiárias (deixando de competirem entre si) como a integração do Brasil a outros países no campo energético. Para ilustrar essa integração, nada melhor do que saber como cada empresa está se preparando para se integrar ao Sistema. Com a revista Corrente Contínua não é diferente: nesta matéria, escrita a 14 mãos – por conta da contribuição dos jornalistas e assessores de imprensa de Furnas, Chesf, CGTEE, Eletrosul, Eletronuclear, e Eletrobrás – cada uma delas mostra como a transformação está mudando o nosso cotidiano de trabalho. “O que a Eletrobrás pretende é ser holding, de forma bem clara: uma empresa voltada para integrar, coordenar e orientar. O papel dela é este hoje e amanhã”, enfatiza Luiz Augusto Figueira, coordenador-geral da Presidência e do Comitê de Gestão da Transformação da Eletrobrás - CGTE.

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ENERGIA ATIVA

Nova Eletrobrás: integração, rentabilidade e competitividade no Brasil e no mundo

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Nasce a transformação – Figueira (foto abaixo), relata que o primeiro diagnóstico sobre as mudanças necessárias para a sobrevivência da Eletrobrás começou a ser feito em 2006, por profissionais da própria empresa. “Constatamos, por meio de análises dos negócios de todas as empresas que compõem o Sistema, que estávamos perdendo a nossa geração de valor, medida pelo Valor Econômico Agregado (EVA). Foi aí que nasceram as bases do Plano de Transformação. No início do ano passado, quando a nova Diretoria tomou posse, recebeu do Governo Federal as diretrizes para transformar a Eletrobrás na ‘Petrobras do Setor Elétrico’. Desde então, estão sendo planejadas e colocadas em prática medidas que fortalecerão o conjunto de nossas empresas e nos permitirão crescer com mais lucratividade”. Com a Lei 11.651, todas as empresas da Eletrobrás, alinhadas aos preceitos de rentabilidade e competitividade, ganharam poderes de atuar além das fronteiras brasileiras e participar como sócias em consórcios empresariais. Por conta disso, a holding produziu o Plano de Transformação do Sistema Eletrobrás, cuja base é formada pelo tripé integração, rentabilidade e competitividade. Composto por quatro vetores de atuação – aperfeiçoamento da governança corporativa, reorientação dos negócios de distribuição, reformulação institucional e reorganização do modelo de gestão empresarial -, o Plano tem 41 diretrizes específicas, algumas delas já concluídas.

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As mudanças vêm sendo colocadas em prática de forma gradativa, fundamentadas, planejadas e orientadas pelo CGTE, que é formado por representantes de cada uma das empresas do Sistema e de cada uma das diretorias da holding. A ele cabe a definição dos grupos de trabalho, bem como a aprovação dos planos propostos, o acompanhamento das atividades, as recomendações de correção de rumo, a aprovação dos resultados apresentados e o encaminhamento para a diretoria das medidas necessárias para o bom andamento e conclusão do Plano. São mudanças que vão desde a ideia de formar um Sistema que terá como um dos marcos simbólicos um único crachá - ou seja, a possibilidade de que empregados de qualquer coligada da holding possam ter acesso às empresas-irmãs utilizando somente um documento de identificação funcional – até obter os requisitos para concorrer na Bolsa de Valores de Nova York. Em relação às mudanças já ocorridas, Luiz Augusto enumera a criação da Diretoria de Distribuição, cujo diretor, Flavio Decat, é presidente de todas as seis empresas de distribuição do Sistema, numa gestão centralizada; e a Superintendência de Operações no Exterior. “A Eletrobrás agora pode, efetivamente, analisar, aprovar e decidir por parcerias e participações estratégicas. As mudanças são sempre no sentido de reduzir despesas operacionais, eliminando gastos desnecessários e, por fim, melhorando o resultado das empresas”, conta. Luiz Augusto reforça que “os empregados do Sistema Eletrobrás podem esperar um conjunto de empresas integrado, competitivo e rentável, que possa contribuir ainda mais para o crescimento da oferta de energia e o desenvolvimento social e econômico do Brasil. Trabalhar em uma empresa assim dá orgulho, tanto pela importância que ela tem para o País, quanto pela perspectiva de um futuro seguro, já que continuará a crescer de forma sustentável. Somos todos parte de um mesmo Sistema e vamos passar a vivenciar isso, no cotidiano, e cada vez mais”. Para que o Plano fosse colocado em prática e as empresas tivessem essa integração de fato, o diretor-presidente da Eletrobrás, José Antonio Muniz Lopes (ver box) realizou palestras em cada uma delas. O objetivo foi ampliar o envolvimento dos empregados e incentivar cada vez


Eletronorte - Na Eletronorte, a apresentação do Presidente da Eletrobrás ocorreu no dia 17 de fevereiro de 2009 (foto maior, abaixo). Centenas de empregados lotaram o auditório da Sede, em Brasília, e outros tantos acompanharam a apresentação por meio de videoconferência. A sessão de perguntas durou mais de três horas. O diretor-presidente da Empresa, Jorge Nassar Palmeira (foto ao lado), enxerga no Plano de Transformação a possibilidade de a Empresa expandir o seu mercado, seja de geração ou transmissão, não apenas no Brasil, mas também no exterior: “Abrimos uma janela de oportunidades muito grande no sentido de poder equacionar o perfil econômico e financeiro da Empresa, que tem um histórico de prejuízos. Uma série de medidas nesse sentido está sendo tomada no Plano

de Transformação, como é o caso do marco regulatório dos sistemas isolados. Além disso, as interligações dos sistemas isolados, as passagens dos ativos inferiores a 230 kv para as distribuidoras, o equacionamento da dívida, a venda das subsidiárias integrais, entre outras medidas de impacto. Com isso poderemos, de forma estrutural, garantir o lucro nos próximos anos”. Angelo do Carmo (ao lado), assessor de Planejamento Empresarial e representante da Eletronorte no CGTE, conta que as primeiras medidas tomadas pela diretoria foi uma análise sobre as premissas do planeja-

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mais a contribuição de todos para a construção do sistema integrado. São quatro as empresas de geração e transmissão (Furnas, Chesf, Eletrosul e Eletronorte); a Companhia de Geração Térmica de Energia Elétrica CGTEE e Eletronuclear, de geração térmica; o centro de pesquisas, Cepel; a empresa de participação, Eletropar; e as concessionárias de distribuição (Cepisa, Ceal, Eletroacre, Ceron, Boa Vista Energia e Manaus Energia).

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mento e estrutura organizacional: “Já fizemos algumas mudanças de modo a buscar efetivamente uma metodologia de trabalho no contexto do Sistema Eletrobrás. O planejamento estratégico 2009-2011, por exemplo, foi elaborado de maneira alinhada com o Plano de Transformação da Eletrobrás”. Jorge Palmeira relembra que à medida que a Empresa se fortalece, obviamente haverá mais disponibilidade para desenvolver outro viés muito importante, que são os projetos sociais. “A Eletronorte já vem desenvolvendo e intensificando esses projetos ao longo da sua história. Eu posso citar projetos de sucesso com o Pirtuc, Pirjus, Proset, os indígenas Parakanã e Waimiri Atroari, e a questão da reestruturação que promovemos internamente, fortalecendo a área social com um planejamento adequado à identificação das necessidades”. Na área operacional os frutos já estão sendo colhidos, como o arremate em leilão de três lotes da maior linha de transmissão do mundo, a do Complexo Hidrelétrico do Madeira (ver Corrente Contínua ed. 223). Para Palmeira, isso é prova de que os empregados da Eletronorte são muito comprometidos com os resultados. “Nós estamos alinhando processos e fazendo uma avaliação criteriosa de cada um deles para melhorar ainda mais a eficiência da Empresa, o que vai ao encontro do Plano de Transformação da Eletrobrás, que é bom para as empresas, empregados e, principalmente, para o País”.

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Eletrosul - A Eletrosul recebeu a primeira apresentação do Plano. Na sede da empresa, em Florianópolis (SC), e nos auditórios das regionais, os empregados assistiram à apresentação e fizeram perguntas. O presidente, Eurides Mescolotto, relembra que a mudança, além de estar de acordo com o modelo atual do Setor Elétrico, aprofundado a partir das diretrizes emanadas pela então ministra de Minas e Energia, Dilma Roussef, em 2003, transforma a Eletrobrás numa das maiores empresas de energia do mundo. “Isso tem um significado importante para o País, tanto interna quanto externamente. Ademais, traz para a Eletrosul um caminho antes inexistente, porque assim como as demais empresas do Sistema,

a nossa tinha sua área de atuação restrita à Região Sul. Hoje estamos em todo o Brasil. A Eletrosul está em Rondônia e, junto com a Eletronorte, no linhão do Madeira”, afirma Mescolotto (foto acima). Segundo ele, “as conseqüências são importantes também para os empregados, que têm de olhar a empresa de outra maneira, participando de uma holding e tendo compromissos muito maiores com o Brasil. Minhas expectativas são as melhores possíveis, pois será um grande trabalho para os dirigentes e técnicos de todas as empresas do Sistema Eletrobrás”. Marcos Edward (foto abaixo, à esquerda) é gerente da Assessoria de Gestão Empresarial da Eletrosul e um de seus representantes no CGTE. Ele explica que a Eletrosul tem um aspecto bastante atípico em relação às outras empresas, porque em 1997 foi cindida, restando-lhe apenas ativos de transmissão à época. “Agora começamos a participar dos leilões da Aneel para retornar o segmento de geração, e hoje temos vários empreendimentos em construção, tanto isoladamente - como é o caso da Usina Parque São João -, quanto em parcerias, e uma delas resultou no arremate do leilão de Jirau com outros parceiros, sendo a Chesf uma delas. O linhão do Madeira, que inclusive entramos no consórcio juntamente com a Eletronorte, ilustra o volume de investimentos, que praticamente dobrou. Vamos estabelecer estratégias para atuar daqui para frente, coincidindo com o Plano de Transformação da Eletrobrás”. Chesf - Quando a Chesf recebeu a visita da equipe da Eletrobrás, cerca de 300 emprega-


dos ocuparam o auditório da sede, em Recife (PE), onde havia um link de videoconferência para as unidades regionais (foto acima). O diretor-presidente, Dilton da Conti, não lembrou apenas de quando as concessões eram feitas de acordo com a área de atuação, mas também da época em que o Brasil teve de aprender a racionalizar energia elétrica: “Conviver com a situação adversa de racionamento exi-

giu do País uma profunda reflexão, no sentido de encontrar alternativa para garantia do suprimento de energia elétrica com modicidade tarifária”. Dilton lembra que em 2004, com a instituição do modelo atual, as concessões passaram a ser fruto de leilões públicos, cujo cenário fez com que a Chesf gerasse energia para outros estados fora do Nordeste: 20% para o Esta-

Esta é a principal função do Portal da Transformação do Sistema Eletrobrás, lançado no dia 19 de dezembro de 2008, na ocasião da apresentação do Plano de Transformação para empregados da Eletrobrás, Eletropar e Cepel. O Portal objetiva ser uma das principais ferramentas de comunicação e de interação entre todos os 27 mil empregados do Sistema acerca das mudanças. Pensando na disseminação de informações sobre o Plano de Transformação nas empresas como fator determinante para o seu sucesso, o Portal torna disponível o acesso do empregado às informações sobre os projetos que constituem o Plano, seus objetivos e metas, andamentos dos trabalhos e prazos associados. As informações sobre o

andamento de cada projeto ficam disponíveis na seção Os Projetos, no menu principal do Portal. Também podem ser acessados documentos para consultas, notícias e a seção de perguntas mais freqüentes. Na segunda fase, o Portal da Transformação contará, também, com um fórum de discussões e o Jornal da Transformação. Para quem não quiser esperar, já está disponível um canal para dirimir quaisquer dúvidas ou enviar críticas e sugestões pelo endereço transformacao@eletrobras.com, que pode ser acessado pela página principal da intranet de todas as empresas do Sistema. Para outras informações mantenha-se sempre atualizado, acesse: http://www.eletrobras.com.br/transformacao/.

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Um canal aberto aos empregados da nova holding

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do de São Paulo e 10% para o Paraná e Rio de Janeiro. “Continuar nossa trajetória de vigoroso crescimento, escrevendo novos capítulos de uma história de sucesso, é o grande desafio que se apresenta, e o Plano de Transformação do Sistema Eletrobrás é o movimento tempestivo de reposicionamento nesse novo ambiente do Setor, suportado na assertiva holística e sinérgica de que as partes compõem o todo e o todo é maior que a soma das partes. Alcançar a maior e necessária integração, ser mais competitivo e rentável, definir uma estratégia de atuação convergente, tudo isso trará expressivo ganho de eficiência empresarial, com consequente benefício às partes e, por conseguinte, ao todo”, destaca. Para Conti (acima), considerando que a holding detém 60% de toda a malha de transmissão da rede básica nacional e 40% da capacidade instalada e, ainda, tendo em

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vista o seu potencial de ampliação de negócios em âmbito nacional e internacional, é evidente que o seu fortalecimento constituirá um polo decisivo para o Brasil. “A Chesf, absolutamente sintonizada e engajada nesse processo, encontra no pensamento visionário de Dom Hélder o ensinamento conceitual que deve nortear esse momento histórico: ‘quando sonhamos sozinhos é só um sonho; mas quando sonhamos juntos é o início de uma nova realidade’”. Furnas - Em Furnas o assunto não foi diferente. Duzentos trabalhadores na sede, no Rio de Janeiro, e mais 40 unidades regionais conheceram o Plano de Transformação (abaixo). Pa­ra justificar a necessidade premente da mudança, foram apontados como motivos básicos a mudança da natureza do mercado, que passou de cooperativo para competitivo; e as exigências de alta eficiência econômica e desempenho. Carlos Nadalutti Filho (à direita), diretorpresidente de Furnas, destaca que “o Plano de Transformação faz com que Furnas, e todas as outras integrantes do Sistema, reúnam suas forças e competências para trabalhar em sinergia e em total sintonia, potenciali-


um momento decisivo para definir o futuro dessa Empresa. Além da transformação do Sistema Eletrobrás, também precisamos transformar Furnas, sob vários outros aspectos, e é fundamental perceber que essa transformação já começou e exige o empenho de todos nós”. E as transformações em Furnas estão a todo vapor. Já foram implementados os projetos do Sistema Integrado de Gestão, a adequação à SOX e o planejamento estratégico, o que significa rever estratégias, aprimorar a gestão e a governança corporativa e ajustar os processos. “Estamos transformando para os novos tempos de mercado competitivo, no qual só irão sobreviver aqueles que souberem administrar seus custos com eficiência e eficácia. Não será uma tarefa simples, mas se empregarmos a mesma coragem, competência, determinação e, sobretudo, o comprometimento que faz parte das nossas tradições, com certeza seremos vitoriosos. Mãos à obra, o desafio a ser vencido é enorme e cabe a nós superá-lo e transformálo em mais uma conquista”. Eletronuclear - Os empregados da Eletronuclear conheceram o Plano de Transformação em Angra dos Reis (RJ) (abaixo).

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zando o resultado das ações. A nossa trajetória e a de todo o Sistema Eletrobrás é motivo de orgulho, pois de Norte a Sul do Brasil temos empreendimentos que são prova viva da capacidade dessas instituições e da contribuição fundamental que elas deram para a estruturação do Setor Elétrico brasileiro, viabilizando a industrialização e o desenvolvimento do nosso País nas últimas cinco décadas”. Nadalutti ressalta: “Todos aqueles que desejarem permanecer vivos e progredir nesse mercado, que se renovem, se modernizem e ofereçam soluções cada vez mais eficazes, competitivas e capazes de serem propulsoras do desenvolvimento sustentável. A transformação é necessária e urgente e, quando digo isso, falo de transformação sob uma forma abrangente. Vivemos

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integração da política e operação da própria empresa só tem a melhorar. Por exemplo, a presença do José Antonio Muniz é muito importante, porque nunca houve algo assim, de ter um alto dirigente predisposto a responder as perguntas dos empregados. Isso certamente dá mais credibilidade ao processo”.

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O diretor-presidente, Othon Luiz Pinheiro (acima), comenta: “O processo está sendo conduzido com muita clareza e o objetivo é tornar o Sistema Eletrobrás mais competitivo, contribuindo para a sustentabilidade de cada uma das empresas. O Plano de Transformação gerará um time, com unidade de linguagem e otimização de recursos. A proposta de implantar um novo modelo que estimule a competição entre os agentes setoriais vai incentivar todo o Sistema a operar com mais eficiência na gestão dos custos operacionais”. Os planos da Eletronuclear já tiveram o primeiro passo: “Será montada uma engenharia financeira articulada com as oportunidades do mercado, a exemplo das melhores empresas do setor no âmbito nacional e mundial. É um desafio que a Eletronuclear está pronta para enfrentar, com garra e determinação, eliminando barreiras e colaborando para criar um novo ambiente institucional. Certamente, será uma prática que dará a todo o Sistema Eletrobrás uma nova visão de futuro e resultará na obtenção de melhores resultados para os diversos parceiros e públicos estratégicos das empresas”, acredita Othon. Com foco diferente das demais empresas do Sistema, a Eletronuclear não participa de leilões, mas será beneficiada na área operacional. De acordo com Manuel Magarinos Torres (acima), superintendente de Planejamento e representante da Eletronuclear no CGTE, “essa parte da

Cepel - No Centro de Pesquisas de Energia Elétrica – Cepel, Albert Cordeiro Geber de Melo (abaixo), diretor-geral, relata que no dia da apresentação do Plano de Transformação, teve a oportunidade de participar de um evento ímpar: “Cerca de 1.600 colegas da Eletrobrás, da Eletropar e do Cepel, reunidos para discutir o projeto. O presidente José Antonio Muniz anunciou que somente findaria quando a última pergunta fosse colocada e respondida. E isso, de fato, aconteceu”. Albert relata que a diretoria do Cepel e todo o seu corpo de empregados veem com muita satisfação e entusiasmo o processo de transformação da Eletrobrás. “O Cepel considera que o fortalecimento do Sistema Eletrobrás como um todo permitirá a otimização dos recursos, maior competitividade e rentabilidade para as suas empresas, maximizando ainda a contribuição para o desenvolvimento sustentável do Brasil”. Desde 2003, com o apoio da Eletrobrás e do Ministério de Minas e Energia, o Cepel vem passando por um processo continuado de revitalização, inclusive da sua infraestrutura laboratorial, dando-lhe condições para que continue apto a enfrentar os novos desafios demandados pelo Setor Elétrico brasileiro e, em especial, pelas empresas do Sistema. “Entendemos que o processo de transformação em curso culminará na integração do planejamento estratégico, da gestão, da capacitação de recursos humanos e do avanço tecnológico continuado. Portanto, o Cepel também se sente compromissado nesse processo, com a pesquisa, o desenvolvimento e a inovação. O Sistema Eletrobrás forte é a Eletrobrás forte, é o Cepel forte, são todas as empresas fortes, é o País melhor”, encerra Albert.


CGTEE - Sereno Chaise (acima, à direita), diretor-presidente da Companhia de Geração

Térmica de Energia Elétrica – CGTEE, com sede em Porto Alegre (RS), relata que, com uma história de quase meio século apostando em tecnologia, trabalho e experiência, a criação do Sistema Eletrobrás é o salto de qualidade no momento certo, para continuar am-

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“Como nós somos o centro de pesquisa, tudo aquilo que puder ser feito de forma estruturada e que atenda a todas as empresas do Sistema será importante”, afirma Eduardo Serra (ao lado), assistente da Diretoria-Geral e representante do Cepel no CGTE. E continua: “É melhor termos grandes projetos que atendam a todas as empresas do que ter uma atuação no varejo. Não que eles inexistirão, porque cada empresa tem suas necessidades específicas, mas os grandes projetos, que atendam ao Sistema como um todo, são extremamente interessantes e benéficos. Se a Eletrobrás se fortalece, então todas as empresas do Sistema se fortalecerão. Nós seremos mais fortes juntos do que divididos”.

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pliando e contribuindo cada vez mais para o desenvolvimento sustentável e a melhoria da qualidade de vida da população. “É preciso ter um compromisso permanente com o futuro. E em um País como o nosso não temos outra opção senão garantir o futuro desta e das próximas gerações. Por isso, representa muito a iniciativa do Governo Federal e da direção da Eletrobrás em estimular cada vez mais o desenvolvimento da nossa cadeia produtiva, que é a produção e a geração de energia em todas as suas mais diferentes formas. O desenvolvimento e a consolidação do Sistema Eletrobrás dependem da capacidade de investimentos, da visão estratégica, do planejamento, da sua gestão, mas principalmente da vontade e de muita determinação de cada um de nós”. Halikan Daniel Dias (abaixo), assessor de Gestão da CGTEE, acredita que o Sistema Eletrobrás “será uma potência energética no Brasil e no mundo”. Ele conta que a empresa já está trabalhando com o planejamento estratégico e as macroorientações com as áreas de tecnologia da informação, logística de suprimentos, eficiência energética e outras. “Vejo que alguns processos que estão sendo reestruturados com a transformação do Sistema Eletrobrás, a CGTEE já havia implantado e agora passa por um processo de aperfeiçoamento dos métodos de trabalho. Conforme orientação da Eletrobrás, iremos produzir nosso relatório de sustentabilidade deste ano por meio do GRI, que é um modelo internacional, assim como todas as demais empresas”. Para Halikan, eficiência é a ferramenta para concorrer no mercado. “As empresas por si só precisam se desburocratizar, porque o mercado cresce muito rapidamente e nós concorremos com a iniciativa privada, por isso devemos ser cada vez mais eficientes. A CGTEE tem 460 MW instalados e está praticamente dobrando sua produção com a inauguração da fase C da Usina Termelétrica Presidente Médici, que entrará em operação em 2010. Pelo nosso planejamento estratégico, até 2015 queremos triplicar nossa produção e ser referência térmica no grupo Eletrobrás”. Retirado de http://michaelis.uol.com.br/ moderno/ingles/index.php?lingua=inglesportugues&palavra=hold

“As empresas do Sistema A afirmação é do presidente da Eletrobrás, José Antonio Muniz Lopes, que, nesta entrevista à Corrente Contínua, fala das principais mudanças e perspectivas de agora em diante. Pode-se dizer que todos nós agora trabalhamos na Eletrobrás? Ou cada empresa manterá seu nome? Não há expectativa de fusão entre as empresas. Cada uma manterá seu nome e independência financeira. O que estamos fazendo é organizando a gestão conjunta de todas as empresas que compõem o Sistema Eletrobrás. A Eletrobrás está se tornando uma holding de fato. Quanto às marcas, estamos finalizando a contratação de uma consultoria profissional para avaliação de todas as marcas do Sistema, que são muitas, mas que precisam ter unidade, formar uma mesma identidade. O que essa transformação irá modificar na prática e em curto e médio prazos o cotidiano dos empregados? Em curto prazo, falando de projetos já concluídos, podemos citar a criação da Diretoria de Distribuição, que está fazendo uma gestão centralizada das seis empresas de distribuição do Sistema e já consegue reverter a trajetória de prejuízos que tínhamos antes. Podemos citar também, para o fim deste ano, o início da implementação do Plano Unificado de Carreira e Remuneração, que terá regras claras de avaliação de desempenho e valerá para os 27 mil empregados do Sistema. Temos muitos desafios pela frente, mas os grupos de trabalho estão empenhados em vencê-los para tornar o Sistema mais unido e forte. O que as empresas podem esperar com essa transformação? Integração. Vamos fortalecer todas as empresas e o conjunto delas, tornando-as mais competitivas no mercado nacional e internacional. Não vamos mais disputar o espaço no mercado entre nós. Vamos nos unir para poder comprar mais barato, reduzir despesas operacionais e aumentar a receita, com o objetivo de melhorar nossos resultados. Com melhores resultados, teremos mais lucros e poderemos garantir o crescimento de nossas empresas de forma sustentável. Qual será a principal ferramenta para que a Eletrobrás se torne a ‘Petrobras’ do Setor Elétrico? O Plano de Transformação em seus 41 projetos é a principal ferramenta para que cheguemos lá. Mas


o pontapé inicial foi a sanção, pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, da Lei 11.651, em abril, um marco da guinada na governança corporativa do Sistema Eletrobrás. Além disso, recebemos as diretrizes do Ministério de Minas e Energia para essa transformação, que foram traduzidas no Plano. Quais os benefícios que serão desfrutados pela população brasileira? Um Sistema Eletrobrás integrado, competitivo e rentável poderá contribuir muito mais para o desenvolvimento do País, podendo oferecer a energia necessária ao crescimento, com sustentabilidade e modicidade tarifária. O fortalecimento do Sistema é bom para o Brasil, para as empresas e para os empregados. Todo mundo ganha. Seremos mais fortes para atuar no Brasil e no exterior. De que forma a Eletrobrás e as empresas da holding estão se preparando para se tornar mais competitivas? Todas as diretrizes e ações do Plano de Transformação visam a reduzir as despesas operacionais, eliminando gastos desnecessários, e a aumentar a receita, para, no final, melhorarmos o resultado de nossas empresas. E isto está descrito de várias formas no Plano, em todas as frentes de negócio do Sistema, na flexibilização dos nossos processos de compras, na centralização da administração das empresas distribuidoras, na adoção das melhores práticas de governança corporativa, e também na gestão de pessoas. Entre as ações estabelecidas para atender às diretrizes fixadas pelo Ministério de Minas e Energia, acerca dos projetos sobre governança corporativa, como será feita a captação de recursos no Sistema Eletrobrás? Normalmente, quando se dá início a um processo de captação, o que se espera é a obtenção das menores taxas, a fim de potencializar os retornos dos investimentos. Tradicionalmente, a Eletrobrás tem conseguido taxas competitivas não só no Brasil, mas também no exterior. Portanto, é razoável que ela conduza os processos de captação do Sistema. No entanto, nada impede que as empresas captem diretamente de bancos com linhas de crédito regionais, com taxas muito atrativas. De todo modo, de acordo com o estatuto das empresas, a aprova-

ção da captação passa pela aprovação final do Conselho de Administração da Eletrobrás. De que forma a criação de diretoria única para as distribuidoras, assim como os demais processos que envolvem a unicidade das equipes, irá melhorar o andamento dos trabalhos? As distribuidoras têm, agora, uma gestão centralizada e profissional, levada à frente por um técnico conhecido no setor, que é o Flávio Decat. Contamos com um presidente e uma diretoria única para essas empresas. Assim, temos o controle de tudo o que se passa e podemos corrigir os desvios que as levavam ao prejuízo, que se refletia em todo o Sistema. Nesse caso, a melhor opção foi a centralização, o que não quer dizer que seja a melhor solução em todos os casos. Vamos trabalhar juntos, sempre com o objetivo de fortalecer o Sistema. Com essa nova estruturação, as empresas não irão mais competir entre si? Como será feita a concorrência? As empresas do Sistema Eletrobrás não vão mais competir entre si. Isto é autofagia e nos enfraquecia. Brigávamos para saber quem ia levar menos. Hoje já agimos de forma mais integrada: vamos formar consórcios entre nossas empresas e com a iniciativa privada para incentivar a competição inteligente. Vamos oferecer energia limpa com modicidade tarifária e obter resultados cada vez mais positivos. Como cada empregado poderá ajudar a Eletrobrás a se fortalecer ainda mais? Participando ativamente da transformação, contribuindo com sugestões, trabalhando e incentivando a mudança. Esse não é um processo que envolve só a Eletrobrás: envolve todas as empresas e, principalmente, todos os empregados do Sistema. As pessoas são o Sistema. Só com a mudança nas pessoas teremos a mudança verdadeira. Uma mensagem a todos. O Sistema Eletrobrás nunca viu um processo como este que estamos vivendo. A transformação é urgente e fundamental para a sobrevivência das empresas. E ela já está acontecendo, basta olhar com mais atenção. Por isso, quis estar com todos os empregados pessoalmente, para demonstrar a importância dessa mudança para todos. Somos nós que estamos construindo um novo futuro para o conjunto das nossas empresas e a participação de cada um nesse processo é imprescindível.

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Eletrobrás não vão mais competir entre si”

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meio ambiente

Usina-plataforma, o novo conceito em hidrelétricas

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César Fechine

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Usinas hidrelétricas há de várias categorias – minicentrais, pequenas e grandes centrais – e de diferentes tipos de concepções. Agora, um novo conceito surge com o objetivo principal de diminuir os impactos ambientais: o de usina-plataforma. Esse conceito tem como propósito a construção e operação de uma hidrelétrica com o mínimo impacto socioambiental e se inspira nas plataformas de exploração de petróleo em alto mar. A preparação da obra começa com a intervenção na natureza praticamente reduzida à área da usina e com pequenos canteiros de obra. Durante a construção, a permanência dos trabalhadores no local é de curto prazo, o que ajuda a reduzir o impacto ambiental, e evita a atração de contingentes populacionais e a construção de cidades no entorno do empreendimento. “Não haverá vilas permanentes para os empregados, como aconteceu até hoje. Os

trabalhadores poderão ir de helicóptero para o local das usinas, trabalhando por turnos, como acontece nas plataformas de petróleo”, explica o presidente da Eletrobrás, José Antonio Muniz Lopes. Por essa concepção, os operadores e técnicos vão trabalhar e dormir na usina plataforma. Após o período de alguns dias (cerca de três), eles retornarão à cidade onde moram, sendo substituídos por outros trabalhadores. O conceito prevê a instalação da hidrelétrica sem a infraestrutura tradicional, como estradas e canteiros de obras com alojamentos, que atraem numerosa população para o entorno do empreendimento. “Dessa forma, além de não se criar um polo de atração de pessoas próximo às unidades de preservação, os impactos se restringirão ao desmatamento ‘cirúrgico’ necessário à implantação do canteiro de obras e da usina, com as áreas reparadas após o fim da


Tapajós - O Complexo do Rio Tapajós, que terá potência total de 10.682 MW, deverá ser o primeiro empreendimento construído no País segundo esse novo conceito. São números gigantescos que envolvem os cinco aproveitamentos hidrelétricos previstos no projeto, com investimentos que alcançam R$ 30 bilhões. O maior aproveitamento é o de São Luiz do Tapajós, cujo reservatório ocupará uma área de 722,25 km², cota de 50 metros e potência instalada de 6.133 MW. O empreendimento utilizará 31 turbinas kaplan com potência de 198 MW e duas de 109,2 MW. O segundo maior aproveitamento é o de Jatobá, com um reservatório de 646,30 km² de área e potência de 2.338 MW. Os outros aproveitamentos são: Cachoeira do Caí, com reservatório de 420 km² e potência de 802 MW; Jamanxim, com área de reservatório de 74,45 km² e potência de 881 MW; e Cachoeira dos Patos, com 116,5 km² de área de reservatório e 528 MW de potência. A área total dos reservatórios será de 1.979 km², frente a uma área ambiental protegida de 200.480 km², equivalente à soma dos territó-

rios de Pernambuco, Paraíba, Alagoas e Sergipe juntos. “O espelho d’água é praticamente o espelho dos rios nas grandes cheias”, informa Muniz Lopes. Além disso, negociações com o Ministério do Meio Ambiente estão em curso para garantir a recuperação de áreas muito pequenas de parques nacionais e reservas florestais situadas no entorno do empreendimento, e a futura conservação por parte de quem construir as usinas. “Não vamos deixar vila, canteiro, nem área degradada. A usina e o reservatório terão acesso só para chegar e sair. A área desmatada será apenas a necessária e vai ser totalmente recuperada depois da construção”, declara Rufato (acima). O aproveitamento de São Luiz do Tapajós, por exemplo, está localizado a pouco mais de 40 km da cidade paraense de Itaituba, podendo ter o rio como apoio para as operações. “A ideia é tirar o homem dali. O empregado vai, cumpre o turno de trabalho e volta para a base que deve ser a cidade mais próxima. Esse conceito é inovador e foi bem recebido pelo Ibama”, reforça Humberto Gama, gerente de Obras de Geração.

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construção”, afirma Luiz Fernando Rufato, superintendente de Expansão da Geração da Eletronorte.

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Reflorestamento – De acordo com o projeto, assim que iniciadas as obras, será feito um canteiro de produção de mudas para o reflorestamento da área impactada. É o que está acontecendo, por exemplo, no Aproveitamento Hidrelétrico Dardanelos, em Aripuanã, no Mato Grosso, uma região de mata fechada. “Apesar de a usina estar próxima à cidade, o canteiro será desativado com o término da obra e a área degradada, recuperada. Esse tipo de projeto é muito importante para quebrar a resistência ambiental”, diz Rufato. E o empreendedor que vencer a licitação

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deverá auxiliar os agentes ambientais no monitoramento e manutenção das áreas de preservação e dar apoio na operação, por exemplo, do Parque Nacional da Amazônia. Rufato defende que “poderá ser posto como condicionante, por exemplo, que o vencedor faça a vigilância por satélite das áreas, que constituam brigadas contra incêndio e construa um centro de recepção de visitantes. O parque tem que ser usado como parque de fato”. Após o final de cada etapa das obras dos aproveitamentos do Complexo Tapajós, serão retirados completamente o pessoal, as edifi-

Área natural

Implantação canteiro de obras

Construção

Obra finalizada


cações e o maquinário que forem indispensáveis à operação da usina. Estudos - A Eletronorte e a Camargo Corrêa desenvolveram os estudos de inventário do Complexo Tapajós, que foram entregues à Agência Nacional de Energia Elétrica – Aneel em junho de 2008 (ver box). A previsão é de que esses estudos serão aprovados ainda no primeiro trimestre deste ano. As duas empresas também já firmaram um acordo de cooperação técnica para desenvolver os estudos de viabilidade do aproveitamento.

Na primeira semana de fevereiro, uma série de reuniões ocorreu na Sede da Eletronorte, em Brasília, como consequência do acordo de cooperação assinado pelos presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e da França, Nicolas Sarkozy, no início do ano. O acordo envolve ações na área de energia. A empresa francesa Électricité de France – EDF e a Eletrobrás manifestaram interesse em participar da parceria dos estudos de viabilidade. Essas reuniões visam a ajustar o termo de compromisso assinado entre a Eletronorte e a Camargo Corrêa para incluir a EDF e a Eletrobrás, bem como o planejamento da inclusão dos parceiros e a divisão do escopo dos serviços e das responsabilidades de cada empresa. A Eletrobrás trabalha para que o projeto da primeira usina do Complexo Tapajós esteja pronto para licitação em junho de 2010. E os números referentes ao empreendimento não param de crescer. O Complexo vai gerar 50.948.160 MWh/ano, o que equivale à economia anual de R$ 7 bilhões com a queima de 30.568.896 barris de petróleo. O que vai também ao encontro das necessidades prementes da sociedade de reduzir a emissão de poluentes na atmosfera e de controlar o aquecimento global.

Preparação área de intervenção

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Usina em operação com recuperação de áreas naturais

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Unidades de conservação e terras indígenas são aspectos fundamentais dos estudos

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O Rio Tapajós, desde sua formação, na junção dos rios Juruena e Teles Pires, até sua foz na margem direita do Amazonas, possui uma extensão de 825 km. A bacia do Tapajós tem uma extensão no sentido sul-norte de cerca de 1.500 km e drena uma área de 492.481 km², abrangendo os estados de Mato Grosso, Pará, Amazonas e uma pequena parcela em Rondônia. Os estudos de inventário hidrelétrico das bacias dos rios Tapajós e Jamanxim foram elaborados em conjunto pela Eletronorte e a Construções e Comércio Camargo Corrêa S/A, com respaldo em termo de compromisso firmado em 24 de janeiro de 2006. O desenvolvimento desses estudos objetivou avaliar o potencial hidrelétrico dessas bacias, incorporando um trecho com significativa capacidade energética, incluindo áreas dos estados do Pará, Amazonas, Mato Grosso e em menor escala em Rondônia, num total de 492.481 km². Os critérios socioeconômicos e ambientais, sobretudo aqueles ligados a áreas legalmente protegidas – unidades de conservação e terras indígenas – são aspectos fundamentais desses estudos. Hoje, sob a mesma ótica encontram-se em desenvolvimento pela Empresa de Pesquisa Energética – EPE, os estudos de inventário das bacias dos rios Jurue-

na, Trombetas, Jari, Branco, Aripuanã e Sucunduri, apenas para citar as mais importantes situadas em área amazônica. Os primeiros estudos da bacia do Rio Tapajós, com foco no potencial hidrelétrico, foram realizados pela Eletronorte entre 1986 e 1991. Para o desenvolvimento e continuidade dos atuais estudos foi incorporado o conhecimento então adquirido, incluindo, sobretudo, a localização e descrição dos eixos prováveis, os levantamentos topográficos e as investigações geológico-geotécnicas. Na fase recente, os estudos demandaram três anos, definindo-se um potencial inventariado de 14.245 MW, realizável com um conjunto de sete aproveitamentos em cascata, sendo três no Rio Tapajós e quatro no Rio Jamanxim. A presença de importantes limitadores ambientais levou as instituições intervenientes – Aneel, Ministério de Minas e Energia, Eletrobrás, Ministério do Meio Ambiente, Ibama, Funai, ANA, Cepel e Eletronorte a optarem por cinco aproveitamentos. São eles: São Luiz do Tapajós e Jatobá, no rio Tapajós; e Cachoeira do Caí, Jamanxim e Cachoeira dos Patos, no rio Jamanxim, considerando-se em conjunto os fatores técnicos, econômicos e socioambientais.


No Maranhão, a equipe de linha de transmissão, ou de linha viva, como é mais conhecida, bateu o recorde nacional em tempo de montagem de uma torre. Os ‘guerreiros’ das divisões de Transmissão de São Luís II, Presidente Dutra e Imperatriz entraram em operação a partir das 20h do dia 8 de janeiro de 2009, quando a torre de número 137, situada no povoado Rancho Papouco, município de Bacabeira, sofreu ato de vandalismo, com o furto das hastes dos cabos, sendo derrubada pela chuva torrencial acompanhada de fortes ventos. Nesse trecho, é utilizado no sistema de transmissão de energia elétrica um tipo de torre (estaiada) cujos cabos de sustentação (estais) são fixados numa base presos por terminais metálicos. Como conseqüência do ato de vandalismo, ocorreu blecaute em todos os municípios atendidos pela Subestação Miranda do Norte e na grande São Luís, das 18h40 às 19h04

(hora local). Foi interrompida uma carga de aproximadamente 349 MW da Cemar, 815 MW da Alumar e 20 MW da Vale, no Maranhão. O ato criminoso já está sendo investigado pela polícia. Às 18h41, a Eletronorte já havia colocado o sistema à disposição do ONS para energização. Às 18h45 iniciou-se a energização das linhas e equipamentos com início da tomada de carga às 18h56, sendo concluída às 19h05. Às 20h foi religada a carga do consumidor especial Vale. União - Tão logo foi registrada a ocorrência, as equipes mobilizaram-se, iniciando o planejamento e estudos para a retomada do sistema com segurança. Após o planejamento feito por volta das 2h da manhã do dia 9 de janeiro, os primeiros técnicos subiram na torre para iniciar uma maratona com um só objetivo: colocá-la de pé e energizar a linha.

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CIRCUITO INTERNO

Equipes do Maranhão recuperam linha em tempo recorde

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Ao todo, uma equipe de 40 profissionais, entre técnicos e engenheiros, e 14 viaturas, sob a coordenação do engenheiro Djalma Ferreira Campos Filho, participou da recuperação da torre. Os trabalhos consistiram em desmontar e montar parte de uma estrutura pesando mais de seis toneladas, com 32 metros de altura e colocá-la em pé. Segundo dados do Centro de Informação e Análise da Transmissão, em Brasília, o tempo total para identificação e normalização da linha de transmissão, e disponibilidade para operação foi de 23 horas e sete minutos, um recorde nacional.

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O gerente regional, Mauro Aquino (abaixo), acompanhou os trabalhos do início ao fim e, emocionado, fez um agradecimento a todos: “Percebi a união e a integração entre as equipes. Na hora das dificuldades é que a gente vê o quanto a união faz a diferença. Fiquei impressionado com o resultado do trabalho. Nós não vamos nem pagar multa à Aneel, pois fizemos os trabalhos dentro do prazo determinado pela resolução. Todo mundo tem que reconhecer isso, vocês estão de parabéns”. Ministro reconhece esforço - O esforço, o comprometimento, o empenho e a capacidade técnica da Eletronorte foram reconhecidos pelo ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, em visita ao Centro de Operação Regional do Maranhão. A emoção marcou a solenidade em que o ministro homenageou toda a força de trabalho da Empresa, por meio dos trabalhadores que participaram da recuperação da torre 137 (acima). “São servidores modelo, exemplares, e que por isso estão sendo agraciados. São os únicos nestas condições? Não. Apenas estão sendo agraciados dessa vez e outros serão num passo seguinte. O que quero dizer é que são servidores da melhor categoria. Eles fazem a segurança e a grandeza da Eletronorte”, declarou Lobão. O ministro continuou destacando os trabalhos prestados por empregados da Empresa. “O meu secretário de Energia do ministério é


tiana Silva Santos, representando a equipe da Divisão de Transmissão de Imperatriz; Ernanes Silva Oliveira, representando a equipe da Divisão de Transmissão de Presidente Dutra; Jeferson Charles Moraes Santos, representando a equipe da Divisão de Transmissão de São Luís II; e Carlos Jorge Damous Neto, representando a equipe de motoristas e operadores de máquinas. O diretor-presidente da Eletronorte, Jorge Palmeira, lembrou dos anos em que trabalhou na operação e manutenção. “Em julho de 2009 vou fazer 31 anos de Setor Elétrico, dos quais 22 passei na operação e manutenção. A ocorrência aqui foi à noite, em local de difícil acesso, no escuro, e vocês mostraram que todas essas adversidades podem ser contornadas. A equipe toda está de parabéns pelo tempo, pelo sucesso, pela garra e pela coragem que dedicaram.” Obras - Pela manhã, o ministro Edison Lobão participou de solenidade no Auditório Fernando Falcão da Assembleia Legislativa do Maranhão, onde assinou contratos com a Eletrobrás e a Cemar que possibilitarão o reforço e a expansão dos sistemas de subtransmissão do estado no valor de R$ 97,6 milhões. Depois visitou as obras da subestação São Luís III. Ainda na Assembleia, o diretor-presidente da Eletronorte, Jorge Palmeira, apresentou o andamento das obras do Programa de Aceleração do Crescimento – PAC concluídas em 2008 e programadas para o período 2009/2010, sob responsabilidade da Eletronorte. O secretário Nacional de Energia Elétrica, Josias Matos Araújo, também falou sobre as obras do programa Luz para Todos no Brasil e no Maranhão.

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da Eletronorte. O chefe do meu gabinete é da Eletronorte. E tantos outros servidores que trabalham no sistema elétrico e em vários outros órgãos”, disse. Na ocasião, foram homenageados com peças trabalhadas em forma de torres de transmissão os seguintes empregados: Valter Diniz Barros, representando a equipe de segurança do trabalho da Regional de Transmissão do Maranhão; Raimundo Antônio Nunes Madeira, representando a equipe de Aquisição; Ka-

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Fórum Social Mundial: pluralidade de ideias em Belém


Viajei para Belém dia 27 de janeiro de 2009, às 10h20. Ao chegar no portão de embarque do aeroporto Presidente Juscelino Kubitschek, em Brasília, muitas pessoas aguardavam o vôo 3716. Certamente o destino da maioria delas era o 9º Fórum Social Mundial – FSM. Naquele momento, lembreime do meu primeiro FSM, em 2002, quando eu e uma turma de colegas da universidade levamos mais de 48 horas de ônibus da Bahia a Porto Alegre, local do evento.

Sete anos se passaram e, agora como profissional, faria a cobertura jornalística do FSM. De início, a minha pauta estava focada nas discussões sobre energia elétrica, mas ao longo dos seis dias, muitas outras histórias cruzaram o meu caminho. Assim como eu, 4,5 mil jornalistas, profissionais da comunicação e mídias livres estiveram no local. Foram credenciados 800 jornais de 30 países.

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Érica Neiva

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Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname, Venezuela e Guiana Francesa. A programação contou com atividades políticas e culturais. A indígena Moira Millan, da Frente de Luta Mapuche e Camponesa, sul da Argentina, enfatizou que o FSM em Belém foi diferente dos outros: “Neste Fórum deram muito valor aos povos indígenas. As pessoas têm interesse em saber do nosso conhecimento, da nossa experiência”, destacou. Cerca de 3,5 mil índios de 200 etnias de todo o mundo estiveram no FSM.

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No dia 27 pela manhã, cerca de 1,2 mil índios do mundo inteiro formaram uma faixa humana com as palavras “Salve a Amazônia”, chamando a atenção para a necessidade de preservação da região. Em seguida, na marcha de abertura, cerca de 70 mil pessoas saíram da escadinha do Cais do Porto - onde os povos africanos, que receberam a última edição do Fórum, entregaram o evento aos indígenas -, e marcharam em direção à Praça do Operário, no centro de Belém. Para a estudante paraense de geografia, Karen Nogueira (acima), que participou pela primeira vez do FSM, a marcha foi além de suas expectativas. “É muito boa a energia do pessoal, a diversidade de pessoas, culturas e identidades. Um tema que pode caracterizar bem esta marcha é a unidade na diferença. Todos juntos na luta por um propósito”, declarou a estudante. O segundo dia do FSM, ‘O Dia da PanAmazônia’, foi dedicado aos 500 anos de resistência, conquistas e perspectivas das populações indígenas, afrodescendentes e populares dos nove países da Amazônia -

Entendendo o FSM – O Fórum Social Mundial é um espaço aberto de encontro que estimula o debate, a reflexão, a formulação de propostas e a troca de experiências entre os povos de todo o mundo. A primeira edição do evento aconteceu em Porto Alegre, em 2001. A capital gaúcha ainda foi palco do evento em 2002, 2003 e 2005. Em 2004, o FSM foi realizado pela primeira vez fora do Brasil, na Índia; em 2006, aconteceu de maneira descentralizada em três países: Mali, na África; Paquistão, na Ásia; e Venezuela, na América do Sul . Em 2007, voltou a acontecer na África, dessa vez no Quênia. Para um dos idealizadores, o diretor do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas – Ibase, Cândido Grzybowski, o FSM surgiu em contraposição ao Fórum Econômico Mundial e a globalização neoliberal. “Decidimos ter um olhar social sobre a economia e o poder, por isso a ideia de um Fórum Social Mundial em contraposição ao Fórum Econômico Mundial. Como Fórum, a nossa proposta é essencialmente criar uma nova cultura política. Não somos uma instituição, não somos um partido. Até agora conseguimos preservar a autonomia e pluralidade de ideias em torno de valores compartilhados como a nãoviolência, participação, diversidade na igualdade, solidariedade e paz”, destacou. O Fórum Social Mundial


Participação - A paraense Maria de Fátima (acima) foi uma dos 135 mil participantes que acolheram o evento de braços abertos. “O povo paraense é solidário, independentemente de qualquer coisa. É uma solidariedade que todos abraçam. Cada um oferece o seu melhor. Quando ficamos sabendo que o FSM viria para cá, todos nós preparamos para ajudar. É importante a mobilização de todos na luta pela Amazônia”, relata. O holandês Roberto Smit (ao lado) veio representar a ONG belga Volens, que fez parte das 5.808 associações de 150 países envolvidas no evento. A ONG está presente em países da América do Sul, América Central e África. No Brasil são 44 organizações com sede em Recife. Elas desenvolvem um programa de economia

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é regido por uma Carta, espécie de ‘Constituição’ composta de 14 princípios. Segundo Cândido Grzybowski (ao lado), “a Carta previne a introdução de questões ideológicas e, assim, ficamos mais focados nas questões éticas. Quando elaboramos a Carta queríamos evitar os extremismos, a presença de grupos fundamentalistas e terroristas. Ela se tornou um instrumento importante para enfrentar os que propõem a partidarização do Fórum”, explicou. O Conselho Internacional do FSM, formado atualmente por 129 organizações, é responsável pela discussão sobre os rumos do evento, entre eles o local de sua realização. Para Cândido Grzybowski, Belém foi escolhida como sede por ser uma das maiores cidades da Amazônia e possuir grande densidade de movimentos sociais. “Em termos de movimentos sociais foi uma decisão acertada. A Amazônia não é apenas fonte de reserva de carbono como imaginam os países ricos. Ela é constituída por pessoas, possui uma perspectiva e nos oferece a possibilidade de pensarmos numa biocivilização. O Fórum tem a oportunidade de avançar a passos largos, juntando o ambiental com a crise do modelo de desenvolvimento”, reflete.

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FAL e Fala reúnem autoridades O VIII Fórum de Autoridades Locais – FAL e o I Fórum de Autoridades Locais da Amazônia – Fala, foram realizados conjuntamente, nos dias 30 e 31 de janeiro, no Centro de Convenções e Feiras da Amazônia – Hangar, em Belém. O FAL faz parte da programação do Fórum Social Mundial, desde sua primeira edição em 2001. Já o Fala é a novidade deste ano, implementado a partir da proposta da governadora do Estado do Pará, Ana Júlia Carepa, durante o Encontro de Governadores da Frente Norte do Mercosul. Segundo a Governadora (ao centro, acima), a importância do Fala se dá pela necessidade de se discutir a Amazônia e principalmente ‘olhar’ para a população amazônida.

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solidária com agricultores, camponeses e grupo de mulheres; e outro com a juventude. Morando em Olinda (PE) há quatro anos, o principal motivo que levou Roberto a participar do FSM foi a solidariedade. “Esse movimento global, principalmente, a favor dos mais pobres é algo que nos toca. São pessoas de várias partes do mundo trabalhando, suando, trocando experiências e acreditando num mundo melhor”. As 2.310 atividades do FSM aconteceram nas universidades Federal do Pará – UFPA e Federal Rural da Amazônia – UFRA. Foram constituídas de oficinas, seminários, painéis,

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“Temos que lembrar dos povos da Amazônia. As pessoas que aqui vivem têm direito à energia elétrica, água, saúde. Preservar a Amazônia é uma responsabilidade do mundo inteiro”, afirmou Ana Júlia. Ela ressaltou também a importância da integração regional, a partir da criação de projetos como o Navegapará, em parceria com a Eletronorte, que até final de 2009 atenderá mais de 600 escolas públicas, conectadas à internet por meio dos cabos de fibra ótica das linhas de transmissão, e permitirá a construção de 13 cidades digitais. Durante a plenária final do evento foi estabelecido que o Fala terá um Comitê de Coordenação, com reassembleias, cerimônias e atividades culturais, propostas e executadas por entidades, redes e organizações. No centro do debate, as discussões sobre os aspectos econômico, financeiro, ambiental e alimentar da crise global, com particular atenção à perspectiva dos povos indígenas. Foi fundamental a participação de 4.830 voluntários, tradutores e técnicos. A estudante de turismo, Emily Costa (abaixo), foi uma dessas voluntárias que tornou mais fácil o acesso dos participantes às atividades. “Inscrevi-me para ganhar experiência, ajudar e conhecer pessoas. Tive contato com gente de várias partes do mundo, algo que eu nunca imaginava. Muito interessantes foram os diferentes idiomas falados durante o evento. Quando não entendíamos o que as pessoas falavam sempre dávamos um jeitinho, fornecendo as informações por meio de mímicas. O importante é a luta de todos por um mundo possível”, destacou. Energia - Entre os temas debatidos estavam aqueles relacionados a fontes de energia renováveis, alternativas, soberania energéti-


presentantes de cada país amazônico. Na ocasião ainda houve a divulgação da Declaração da Amazônia, documento que condena as políticas capitalistas dominantes do modelo neoliberal.

ca, discussões sobre as hidrelétricas do Rio Madeira (RO) e os estudos do Aproveitamento Hidrelétrico Belo Monte (PA). Na UFRA, diversas tendas foram montadas ao ar livre para discutir essas temáticas. A Federação Nacional dos Urbanitários – FNU/CUT promoveu duas oficinas sobre Belo Monte. Segundo o diretor-executivo do Sindicato dos Urbanitários do DF, Mauro Martinelli (à direita), o objetivo foi trazer outro ponto de vista sobre a questão. “Acreditamos que o FSM é um ambiente democrático que respeita a diversidade de opiniões. Infelizmente, existia no FSM uma única visão sobre Belo Monte que é a visão dos ambientalistas, das ONGs, que respeitamos, mas discordamos. Somos favoráveis à construção de Belo Monte, desde que os impactos socioambientais sejam minimizados e existam ações mitigadoras e compensatórias para garantir qualidade de vida”, disse Mauro. É importante destacar que a Resolução nº 6 do Conselho Nacional de Política Energética - CNPE, de 3 de julho de 2008, garante, com base na avaliação de critérios técnicos, energéticos, econômicos e ambientais, um

trônico, porque quero tentar levá-la para o XXI Festival do Camarão em Oeiras do Pará”, contou o vereador de Oeiras do Pará, Gracimar Vale da Silva. Cláudia Matos, de Manaus, afirmou que ficou surpresa ao ver a exposição. “Gostei muito, achei bem diferente, não esperava encontrar isso no Fórum. É bom porque há pessoas de outros países que terão a oportunidade de conhecer a diversidade amazônica. Colaborou Kennya Corrêa, da Regional de Transmissão do Pará único aproveitamento no Rio Xingu, situado a jusante da sede urbana da cidade de Altamira, no Estado do Pará, denominado Aproveitamento Hidrelétrico Belo Monte. Além disso, de acordo com a revisão dos estudos de inventário hidrelétrico do Rio Xingu, para gerar uma potência de 11.181 MW, a área dos reservatórios foi reduzida de 18.150 km² para apenas 440 km². Na oficina “Aproveitamento Hidrelétrico da Usina Belo Monte e sua Importância na Matriz Energética Brasileira e para o Desenvolvimento Nacional” que aconteceu no dia 30 de janeiro, na UFRA, o engenheiro de Planejamento Energético da Eletronorte, Paulo César Domingues, destacou que, nos próximos dez anos, o sistema elétrico brasileiro deve crescer 4,9% ao ano. “Esse crescimento requer a construção de novas usinas no sistema, sejam elas eólicas, térmicas ou hidrelétricas. No entanto, a usina hi-

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Brasil 500 pássaros - A Eletronorte apresentou durante o FAL-Fala a exposição que surgiu como resultado do estudo feito pelo Museu Paraense Emílio Goeldi na área de influência onde viria a ser o reservatório da Usina Hidrelétrica Tucuruí, e que é parte integrante do projeto Brasil 500 Pássaros. A exposição (ao lado) surpreendeu o público que compareceu ao Hangar, a exemplo de Cícero Gomes Feitosa, de Xinguara (PA), que afirmou nunca ter visto nada igual. “Estou achando muito bonito e tirando fotos de tudo. É um modo de ver e conservar as espécies. Esse projeto toca o coração das pessoas para que elas aprendam a preservar”, afirmou. “Quando vi o painel não resisti, é muito lindo! E tem grande variedade de espécies, que a gente nem conhece”, conta Rosângela dos Santos, que mora em Belém, e estava passeando com a família no Hangar, quando viu a exposição. O projeto Brasil 500 pássaros nasceu com o objetivo de levar às pessoas o valor da educação ambiental, por meio de diferentes peças, livros de arte ilustrados, permeados por textos explicativos, mitos indígenas e poemas, além de jogos e músicas, que abrangem 500 espécies de pássaros catalogadas. “Adorei a exposição, tanto que cheguei a pegar o endereço ele-

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drelétrica, além de ser uma fonte renovável, é a mais barata. As condições do local de Belo Monte, com desnível de 90 metros e a grande vazão do Rio Xingu no período de cheia, significam um vantajoso aproveitamento do potencial hidrelétrico, e tornam a usina uma das fontes de geração de energia mais barata prevista nos próximos dez anos. Belo Monte pode contribuir com a redução de tarifas, energia mais limpa e de menor custo”. Paulo César (à esquerda, na foto acima) ainda frisou que com a dificuldade de implantação das hidrelétricas, o Ministério de Minas e Energia prevê a construção, nos próximos dez anos, de 82 termelétricas, com capacidade instalada de 20 mil MW. “Nunca houve um período com tantas termelétricas como agora. A previsão do próprio governo é que as emissões de dióxido de carbono tripliquem, ou seja, vão passar de 15 milhões de

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toneladas para cerca de 40 milhões. Isso é sujar a nossa matriz energética. O resultado é a redução, em dez anos, na participação das usinas hidrelétricas de 86% para 73%”. Impactos - A oficina “A integração da Usina Hidrelétrica de Belo Monte ao Sistema Integrado Nacional e aos Sistemas Isolados da Amazônia, e os Impactos Ambientais e Sociais” foi ministrada pelo superintendente de Expansão da Geração da Eletronorte, Luiz Fernando Rufato, no dia 31 de janeiro, na UFPA (abaixo). Na ocasião, ele deixou claro que os estudos ambientais e socioeconômicos de Belo Monte ainda estão em curso. Só após esses estudos o empreendimento será declarado viável ou não. “O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – Ibama exige do empreendedor um termo de referência, onde constam estudos do meio biótico, físico e social. No caso dos índios, existe um termo de referência da Fundação Nacional do Índio – Funai, que determina os fatores etimológicos a serem estudados. Após essa fase acontecem as audiências públicas, onde os órgãos oficiais apresentam à população o resultado dos estudos. Nesse momento, a população pode aprovar os estudos ou exigir que novas informações sejam levantadas, além de saber as opções de indenização. Depois do encaminhamento e aprovação dos estudos, o Ibama e a Funai emitem licença prévia para o empreendimento. O documento vai para leilão e aquele que apresentar menor preço ganha a


Pontos de vista - No dia 29 de janeiro, a tenda Os Povos da Floresta discutiu o tema “Impacto das Hidroelétricas em Terras Indígenas: o caso de Belo Monte”, onde estiveram representantes do Fórum dos Povos Indígenas do Pará, do Conselho Indigenista Missionário - Cimi, e do Movimento dos Atingidos por Barragens – MAB. O bispo da Prelazia do Xingu, Dom Erwin Kräutler, que atua em prol das causas indígenas, declarou não acreditar que Belo Monte seja construída: “Somos contra e não temos meia palavra. A energia de Belo Monte não irá beneficiar o Pará. É um projeto que vai sacrificar o Rio Xingu e não trará nada para o nosso povo”. Já na tenda Afro-Negritude, foi discutida a soberania energética e alimentar. O secretário de Petróleo da União Internacional dos Trabalhadores em Energia - UIS Energia, Aldemir de Carvalho Caetano, participou da mesa de discussão e destacou a luta de diversos países pela soberania energética, mais especificamente a luta pela nacionalização da energia – petróleo, gás, recursos naturais, recursos renováveis e energias alternativas. “Entendemos que a energia é um bem social e, portanto, deve servir ao povo de cada país. Defendemos a nacionalização e, acima de tudo, a integração dos povos no ramo de energia, visando ao desenvolvimento com a valorização do trabalho”, frisou Aldemir (acima). Fim – Na manhã do dia 1° de fevereiro, ao caminhar no campus da UFRA, enxerguei os primeiro sinais de que a nona edição do

FSM estava prestes a terminar. Aos poucos, alguns dos 15 mil jovens que estiveram no acampamento da juventude, desarmavam suas barracas. Levavam não apenas as mochilas nas costas, mas uma bagagem de aprendizado e troca de experiências. O último dia do FSM é conhecido como o “Dia das Alianças”. Pela manhã aconteceram assembléias entre as diversas organizações e movimentos sociais. O período da tarde foi destinado à socialização dos resultados das assembleias, com a apresentação dos acordos e alianças construídos. Foram lidos documentos sobre um conjunto de 22 questões pontuais, que continham desde a preservação da Amazônia aos problemas enfrentados por migrantes ao redor do mundo, a demarcação de terras indígenas, a questão palestina e a crise mundial. O monge africano Dada Jinanananda (abaixo), que participou de todas as edições do FSM, destacou que o evento é um instrumento que visa a criar uma consciência global sobre as mudanças que precisam ser feitas em nossas vidas, no âmbito social, econômico, político e cultural. “Os seres humanos precisam viver com cooperação, compreensão e compaixão. Todos devem ter espaço e oportunidade para crescer e ser feliz”.

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concessão. Todos os condicionantes ambientais e sociais devem ser cumpridos”, explica. Na oficina, Rufato deixou claro que nenhuma terra indígena será inundada. “Há três terras indígenas que estão muito próximas do empreendimento – Arara da Volta Grande, Paquiçamba e Jurunas. Deve-se ter um cuidado com essas etnias, por isso a Funai está buscando a maneira de minimizar os impactos e garantir que sejam compensados”. Ele ainda destacou que as 16 mil pessoas de Altamira que serão afetadas pela construção da usina deixam seus lares todos os anos durante o período de cheia do Rio Xingu e se alojam em escolas, estádios e igrejas. “Todas essas pessoas e mais as 2,8 mil que moram ao longo do rio terão novas casas. Numa democracia, nenhuma hidrelétrica pequena ou de grande porte pode ser feita sem a integração de governo e comunidade”, avalia.

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RESPONSABILIDADE SOCIAL corrente contínua

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Cozinhando com energia No Acre, o fogão que funciona como uma mini-usina térmica aumenta a qualidade de vida das comunidades isoladas João Batista Padilha, 30 anos, seringueiro, casado, nasceu e vive até hoje na reserva extrativista Chico Mendes, zona rural do município de Xapuri (AC), distante 188 km da capital Rio Branco. Energia elétrica só conheceu na adolescência, numa viagem à cidade. O primeiro contato foi algo mágico. Ele procurava uma explicação sobre a luz que estava “presa dentro daquele pequeno copo de vidro fechado”, depois de um tempo descobriu que aquele objeto parecido com um copo era uma lâmpada. O sonho de ter energia elétrica em casa era algo muito distante para a realidade da família de João. Até então, nenhuma autoridade ou órgão governamental havia criado um projeto para sanar o problema das famílias da zona rural de Xapuri. Com a chegada do fogão gerador de energia, a mudança na rotina da família foi significativa, porque a casa, antes iluminada precariamente pelo lampião, passou a ter algumas atividades que anteriormente não existiam. O anoitecer já não é apenas para o descanso de um dia exaustivo de trabalho,

mas também para o lazer que aos poucos começa a ser uma prática quase constante entre a família e os amigos do seringueiro. São algumas horas de conversa, jogos de dominó e baralho, e estudos para as crianças. O fogão foi desenvolvido em parceria com a Fundação de Tecnologia do Estado do Acre – Funtac, Eletroacre e Universidade Federal do Acre- Ufac, projeto orçado em R$ 675 mil. Desenvolvido desde dezembro de 2004, o equipamento possui tecnologia inovadora, concebida pelo inventor Ronaldo Muneo Sato. Em 2007, a partir dos resultados adquiridos após diversos testes em laboratório, foram montados 27 fogões para ser instalados em comunidades isoladas. A partir de reuniões realizadas com as comunidades, foi feito o cadastramento das famílias que vivem em três seringais da Reserva Extrativista Chico Mendes, no município de Xapuri: Floresta, Boa Vista e Nazaré. O fogão permite atender às famílias dispersas em áreas de difícil acesso, como seringueiros, ribeirinhos e indígenas. Antes da chegada dos fogões, as famílias usavam outras fontes para iluminar suas casas, ouvir o rádio, cozinhar seus alimentos, como as lamparinas, porongas, lampiões, velas, lanternas, pilhas e fogão de barro. Notícias e lazer - “O fogão trouxe grande melhoria para nós, porque graças à energia produzida, agora não precisamos mais gastar com diesel. Além disso, o tempo para o cozimento e a quantidade de lenha para o funcionamento é bem menor que o nosso antigo fogão a lenha. Outro coisa muito boa que a energia elétrica trouxe para nós foi a diversão. Comemoramos a virada do ano do dia 31 até a segunda noite de 2009 com uma grande festa”, conta João. Segundo relato do seringueiro, o seu pai, Raimundo Padilha, ficou muito feliz com as primeiras visitas dos técnicos do programa Luz para Todos e da Funtac, porque teve a certeza de que seus filhos e netos iriam usufruir da energia elétrica, esse bem tão sonhado e almejado por eles. “Eu não tive a opor(Continua na página 32)


Duas novas linhas de transmissão já iluminam o Acre O mais recente empreendimento que Arnaldo esteve à frente foi o linhão das subestações Rio Branco/Sena Madureira, com extensão até Manuel Urbano, e Rio Branco/Epitaciolândia/Brasiléia, com rebaixamento para Assis Brasil. “Participar dessa obra, que irá beneficiar mais de 100 mil habitantes, é muito gratificante, pois estamos contribuindo diretamente com o desenvolvimento e crescimento das cidades”, afirma. Empreendimento - A Eletronorte implantou as duas novas linhas de transmissão e respectivas subestações associadas entre 2005 e 2008. A linha de transmissão Rio Branco/Epitaciolândia em 138 kV, com 195 quilômetros de extensão, e a subestação Epitaciolândia; e a linha Rio Branco-Sena Madureira em 69 kV, com 148 quilômetros, e a subestação Sena Madureira. Até então, os municípios de Epitaciolândia e Sena Madureira contavam com o abastecimento de energia a partir da onerosa geração a base de óleo diesel. Com a construção das linhas de transmissão, a geração térmica foi paralisada e em breve, com a integração do Acre ao Sistema Interligado Nacional – SIN, será definitivamente substituída pela energia limpa, confiável e econômica de origem hidráulica, com benefícios para toda a região. Os investimentos alcançaram a cifra de R$ 101 milhões. A população beneficiada pelas obras chega a mais de 100 mil habitantes.

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A energia elétrica é um bem fundamental que move o mundo. A maioria das pessoas, porém, não imagina que o fornecimento ininterrupto exige que um pequeno exército de trabalhadores fique pendurado, em linhas de alta tensão por onde passa energia em potências elevadíssimas, de, por exemplo, 230 mil Volts. Esses trabalhadores fazem parte de um seleto grupo de eletricistas especializados em reparos nas linhas de transmissão em operação, ou seja, as que não são desligadas, as chamadas linhas vivas (acima). Durante os minutos em que o trabalhador está na linha, em geral entre 30 e 50 metros de altura, ele faz parte do sistema elétrico, porque passa pelo seu corpo a mesma tensão que passa pela linha. Qualquer falha que faça com que tenha algum contato com a terra é fatal. O trabalho desses homens garante a toda população a qualidade do serviço de distribuição de energia elétrica. Arnaldo Souza Gonçalves (abaixo, com a equipe), 32, casado, trabalha há sete anos na Eletronorte como eletricista de linha viva. Atualmente ele coordena a equipe de eletricistas da Regional de Produção do Acre. Feliz por estar numa atividade dinâmica, ele conta que se sente uma pessoa realizada, pois o seu trabalho não está restrito a ficar sentado em frente ao computador.

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tunidade de ter luz em minha casa, mas fico satisfeito por saber que meus filhos terão”. Palavras de Seu Padilha, que faleceu dias antes da entrega do fogão em sua casa. Para o seringueiro Robervaldo Ferreira de Oliveira, casado e pai de cinco filhos, o fogão é de grande valor para todos, pois a energia produzida por ele tem o objetivo principal de informá-los. Agora eles têm notícias, pois antes da eletricidade ele e a família não sabiam o que estava acontecendo no Acre, no País e no mundo, porque não tinham como manter o rádio, que só funciona com oito pilhas pequenas. “Quando estamos em casa, passamos o tempo inteiro ouvindo as notícias dos jornais e as músicas. É muito bom sentir que estamos fazendo parte do mundo”, afirma Robervaldo.

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Com o avanço do desenvolvimento da tecnologia algumas discussões foram realizadas com a empresa Damp Elétric Engenharia Torres e Ferragens S.A. para que fosse consolidada no Estado do Acre, o que se concretizou com a criação de uma nova empresa acreana denominada Energer Geradores de Energias Renováveis, que irá industrializar 500 unidades por mês em Rio Branco e gerar 50 empregos diretos. O fogão ganhou a marca BMG Lux. Entender o valor e a importância que tem o fogão BMG Lux para as famílias de comunidades isoladas, como as duas já mencionadas, só é possível quando se tem a oportunidade de assistir, in loco, a realidade dessas pessoas que lutam diariamente pela sobrevivência. A renda mensal das famílias não chega a um salário mínimo. Antes da chegada da inovação tecnológica, para que pudessem ter iluminação em suas casas, necessitavam

de diesel para acender as lamparinas. Mas para se ter o diesel é preciso pagar, por dois litros, R$ 5,00. O valor pode ser considerado pequeno para a maioria das pessoas, mas não o é para quem vive na reserva extrativista Chico Mendes, onde o poder aquisitivo é muito baixo, principalmente pelo fato de as famílias serem constituídas de, no mínimo, dez pessoas. Raimundo de Barros, mais conhecido co­ mo Raimundão, primo em primeiro grau de Chico Mendes, explica que o fogão ecológico trouxe à comunidade a esperança de uma vida melhor, pois muitos dos seringueiros viviam desanimados, não sonhavam com crescimento, mas tudo isso foi transformado. “Até a visão do cenário político do estado passou a ser outra, porque agora todos sabem de fato como tudo está acontecendo. A comunidade não precisa mais que um visitante, ou até mesmo um de nós que vai com mais freqüência à cidade, informe sobre os acontecimentos, pois agora todos recebem a notícia direto da fonte, por meio do noticiário das rádios acreanas”, disse Raimundão. Tecnologia - O fogão gerador de energia é composto por uma bateria, um inversor de carga, um controlador de carga e materiais periféricos (fios, lâmpadas, interruptores etc). As luminárias funcionam em corrente contínua (12 Volts), e o ponto para televisão (tomada) em corrente alternada (127 Volts). São muitas as vantagens oferecidas: acender três lâmpadas, simples manejo e pouca manutenção, componentes nacionais, ambientalmente correto, diminui a produção de fuligem, economiza o consumo de biomassa, permite o acesso à informação e reduz o nível de fumaça. O fogão pesa em torno de 140 kg, contém uma bateria de 20 kg, e funciona com o vapor de uma pequena caixa d’água aquecida, que passa para um motor acoplado a um gerador e transforma a energia mecânica em energia elétrica, armazenada numa bateria. “Além da geração de energia elétrica e economia no consumo de lenha, os usuários não encontram muita dificuldade para manejar o fogão. Sem contar que não há a emissão de fuligem, pois é ambientalmente correto e produzido com componentes nacionais”, ressalta Antônio Lima, técnico da Funtac. Colaboraram Renata Furtado e Leandro José Alves, da Regional de Produção do Acre


Márcia Oliveira Para uma população de quase 30 municípios do norte de Mato Grosso, a redenção para o progresso, a qualidade de vida e o avanço civilizatório na década de 1990 foram materializados em torres e cabos de aço energizados que deveriam ligar Sinop a Cuiabá, dando acesso ao ‘pedacinho do céu’ proporcionado pela energia elétrica. A história mostra que não erraram no sonho: em 1996, a Eletronorte energizou 446 quilômetros de linha de transmissão em 230 kV que, tal como uma artéria para o corpo humano, irrigou a região com a força vital que faltava para desenvolver seu potencial econômico e social. Para se ter uma ideia do potencial local, Sinop, o município polo da região, viu sua população crescer 544% de 1970 a 1980. Na década seguinte, o fenômeno continuou e a população dobrou. Depois manteve o índice sempre positivo, porém, no patamar de crescimento de um dígito.

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TRANSMISSÃO

Treze anos depois do linhão, norte de Mato Grosso vive o fenômeno do crescimento econômico

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Na década de 1970, migrantes do Sul do País vieram em massa para a região, incentivados pelo Governo Federal, que doou e vendeu a preços baixos terras tidas como excelentes para a agricultura e em extensão suficiente para desenvolver a pecuária. Terra agricultável e extensa na mão de um povo que, em 1995, somava 397.720 pessoas com garra, experiência e muita vontade de vencer na vida. Esses elementos, associados às possibilidades que a energia elétrica oferece, fizeram com que a região colaborasse hoje com 35% do PIB do estado, de R$ 52 bilhões. “A nossa vida pode ser dividida em antes e depois do funcionamento dessa linha de transmissão. Antes vivíamos num inferno, e depois, posso dizer que entramos no céu. Eu vim para Sinop em 1986 para trabalhar com madeireira e ficava por dias na mata, no escuro, com luz de lampião. Quando voltávamos para a cidade era raro um fim de semana que não tinha blecaute, normalmente de quatro a cinco por dia. A cidade de Sinop, antes abastecida por geradores a diesel da distribuidora estatal Cemat, com uma energia de péssima qualidade, registrava blecaute dia sim, dia não”, lembra o presidente do Sindicato Rural de Sinop, Antônio Galvan (acima). Se o céu é considerado como maior capacidade de sobrevivência, conforto e condições para desenvolver, Galvan está certo, pois a energia elétrica é fundamental para instalar hospitais que precisam manter bancos de sangue, vacinas, produtos conservados à temperatura adequada e unidades intensivas de tratamento (UTIs); energia elétrica é fundamental. Para instalar semáforos, tratamento de esgoto e atividades industriais, energia firme e de qualidade é também requisito básico. E foi desse estágio de energia fraquejando, com transmissão interrompida

ao longo do dia, com uma rede de distribuição quase inexistente e sem condições de atender à indústria, que a região saiu, a partir de 1996, para uma condição de acesso à energia firme, constante e de qualidade com a chegada do linhão. Isso possibilitou que o crescimento populacional fosse de 18% em dez anos entre 1995 e 2005, e que chegasse em 2008 a 543.393, 19% da população do estado. Alguns municípios, como Feliz Natal e Carlinda, nem existiam até a chegada do linhão, que funcionou como um incentivo para que crescessem. Hoje eles somam 22.791 habitantes. Indústria e consumo - Após a chegada da energia, a população pôde instalar indústrias moveleiras, de transformação, de beneficiamento de soja, de carne, usinas de biodiesel, entre outras, que exigiam continuidade e firmeza de energia. “Para a indústria e o crescimento da atividade econômica, a chegada da energia foi uma revolução que impactou no aumento da qualidade das atividades e no tamanho delas. Saímos das famosas serrarias para as indústrias de beneficiamento. E passamos a contribuir com as exportações para o mercado externo. Mas, para a população residencial também foi uma revolução. Só com essa linha a comunidade pôde entrar na era do ar condicionado, as escolas puderam ter aulas à noite e as donas de casa ganharam em tempo com as máquinas de lavar, encerar, entre outros confortos”, avalia o economista e doutor em Planejamento de Sistemas Energéticos da Universidade Federal de Mato Grosso - UFMT, José Manuel Marta (acima). O crescimento no consumo de energia da região, composta por 28 municípios, nos dez anos após a energização da linha Nobres/ Sinop, é um dos indicadores que apontam o progresso local. Dados da Rede Cemat


a de qualquer outra do País, afirma um dos primeiros técnicos de operação da Eletronorte em Mato Grosso, Sebastião Pereira Rosa, com base em análises da Agência Nacional de Energia Elétrica - Aneel (abaixo). Ao considerar os municípios que tiveram maior crescimento de carga, os números soam como algo estupendo. Em dez anos, o que teve o maior aumento de carga foi Nova Mutum, com crescimento de 1.435%. Criado oficialmente em 1988, segundo a classificação do Pnud está entre as regiões consideradas de alto desenvolvimento humano (Índice de Desenvolvimento Humano - IDH maior que 0,8). No período de 1991 a 2000, o IDH-M (municipal) de Nova Mutum cresceu 12,34%, passando de 0,713 em 1991 para 0,801 em 2000. O Produto Interno Bruto PIB do município foi de R$ 535 milhões em 2006, o 13º maior do estado, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE.

Sinop: sem blecautes a economia não para de crescer

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mostram o aumento de 370% no consumo de energia de 1994 para 2004, quando eram fornecidos para região 18 MW e 74 MW respectivamente. Hoje, a carga que a região recebe por essa linha é de 170 MW. O índice de crescimento no consumo é um dos mais espantosos, não apenas se comparado a outras regiões de Mato Grosso, mas também com

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A base econômica de Nova Mutum é a agricultura, com o plantio e armazenamento de soja, arroz e milho. A pecuária a suinocultura e a avicultura são tidas como destaque. Já o município que teve o segundo maior crescimento de consumo de energia, Sorriso, é também o que tem o melhor IDH de Mato Grosso: no período 1991-2000, o índice cresceu 11,05%, passando de 0,742 em 1991 para 0,824 em 2000. A dimensão que mais contribuiu para o crescimento foi a longevidade, com 38,0%, seguida pela renda, com 32,7%, e pela educação, com 29,4%. Se mantivesse essa taxa de crescimento do IDH-M, o município levaria nove anos para alcançar São Caetano do Sul (SP), o município com o melhor IDH-M do Brasil (0,919). O PIB de Sorriso é o quinto maior do estado: R$ 1,016 bilhão. O da capital, naquele ano, foi de R$ 7,1 bilhões e o de Rondonópolis, o segundo maior, de R$ 2,7 bilhões. “O processo de desenvolvimento pode, sem dúvida nenhuma, ser dividido em antes e depois da linha de transmissão da Eletronorte. Antes se queimava diesel para o abastecimento doméstico, o que dizer então para atrair indústrias. Após a linha, veio o desenvolvimento, que desde então se consolida ano após ano. Atualmente a região tem frigoríficos, indústrias, processamento de matéria-prima de origem animal e vegetal. As cidades se con-

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Energia e produção agrícola promovem PIBs e IDHs extraordinários

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solidaram. Tinha cidade que nem existia e algumas que, antes do linhão, eram apenas embriões, como Nova Mutum”, avalia o deputado Federal (PR/MT) e ex-presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso - Famato, Homero Pereira (ao lado). José Marta lembra que no final da década de 1970, com exceção de Rondonópolis e alguns municípios da Baixada Cuiabana, que abrange a capital de Mato Grosso e municípios do seu entorno, o resto do estado era todo abastecido com energia elétrica produzida por geradores a diesel. Em cidades como Pontes e Lacerda, a 442 km de Cuiabá, ele recorda que a energia era fornecida das 18h até às 22h. “Foi no contexto da crise do petróleo que o Governo Federal passou a planejar a construção de usinas hidrelétricas e, consequentemente, dos linhões. Energia naquela época era um artigo caro e de luxo, sendo gerada com a queima de diesel e além de tudo isso, tinha péssima qualidade. O linhão foi um marco da entrada do estado em outro patamar econômico”, reforça.


A demanda por energia na região se multiplicou por dez

no que chamavam de nova fronteira agrícola. Gente que via na falta de energia um entrave para o seu crescimento, e que exigiu essa ponte com o resto do Brasil. A necessidade de energia era cada vez mais crescente e a concessionária estadual alegava não ter recursos para esse tipo de investimento. Foi assim que o estado pediu ajuda ao Governo Federal, que por sua vez determinou à Eletronorte a responsabilidade pela obra”, relembra Francisco Sperandeo, ex-gerente regional e atual coordenador da Representação da Eletronorte em Mato Grosso . E foi assim que torres e cabos de alta tensão começaram a fazer o caminho pelo cerrado mato-grossense, seguindo a BR-163. Cerca de mil homens trabalharam na obra.

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Empreendimento - O gerente da Divisão de Operação da Regional de Transmissão de Mato Grosso, José Martins do Prado (ao lado), corrobora a declaração do estudioso. Ele afirma que na capital, até 1978, usava-se grupo gerador diesel. Com a chegada da linha de 138 kV, de Rio Verde/Rondonópolis e a continuidade dela até Cuiabá, no final da década de 1970 é que a capital e os municípios do seu entorno passaram a ter energia gerada em hidrelétricas. “Naquela época, o fornecimento era apenas das 7h às 22h e na região central da cidade. Em bairros e nas cidades do interior usava-se lampião e vela depois das 22h. Depois da chegada dessas linhas é que a distribuição passou a se estruturar. No norte do estado a dificuldade era ainda maior, mas como a migração foi muito intensa, a população começou a pressionar, tendo sido definida a construção da linha”, lembra. A demanda da região por energia elétrica, quando a linha Nobres/Sinop começou a operar, era de 15 MW, que percorriam 446 quilômetros de extensão passando pelos municípios de Nobres, Nova Mutum, Sorriso e Sinop. Na obra foram investidos R$ 88 milhões, mais de dois anos de trabalho e, caso fosse avaliada apenas do ponto de vista mercadológico, não sairia do papel. “Esse foi um empreendimento nascido da pressão do povo que à época vivia

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A distância entre uma torre e outra é de 400 metros e, segundo um dos engenheiros eletricistas que trabalharam na obra, o atual gerente de Obras de Mato Grosso, Hélio Monti (ao lado), seguir o traçado não foi muito difícil, porque a área já estava bastante desmatada. Hélio lembra que construir a linha foi marcante para todos os membros da equipe, que eram encarados como ‘heróis’ e recebidos com entusiasmo nas regiões por onde passavam. “É muito diferente construir uma linha num lugar onde o abastecimento de energia é muito esperado. A população não colocava dificuldades em nos receber e ajudar. Para se ter uma ideia, quando cheguei em Sinop para marcar a obra da subestação, a imprensa descobriu que estávamos

lá e rádio, tevês e jornais foram logo atrás das novidades. A linha era um anseio muito grande da população da região e qualquer informação virava notícia”.

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Lucas do Rio Verde, um exemplo de crescimento

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Um exemplo do que os gestores de Mato Grosso desejam para o desenvolvimento do estado nos próximos 20 anos é encontrado em um dos municípios por onde a linha de transmissão da Eletronorte passa, antes de chegar ao seu destino final. Lucas do Rio Verde, a 350 quilômetros de Cuiabá, está no centro-norte do estado, e, junto com outras cinco cidades, concentra o maior PIB per capta estadual: R$ 27,1 mil. Por ter na produção de soja, milho e outros grãos a principal atividade do agronegócio, ele conseguiu atrair a maior fábrica da Sadia na América Latina para o seu território, e vive atualmente sua segunda explosão de crescimento. Na planta da empresa consta um frigorífico de aves, que na capacidade máxima tem previsão de abater 500 mil frangos por dia; um frigorífico de suíno; uma fábrica de ração e uma indústria de derivados, os chamados embutidos (presunto, salsichas, apresuntados, entre outros). Atualmente o frigorífico abate de 100 mil a 120 mil aves por dia. Segundo o secretário de Desenvolvimento Econômico de Lucas do Rio Verde, Raimundo Dantas Filho, a partir de 2007 o lugar experimentou um crescimento populacional de 20% ao ano e passou a receber outras indústrias, empresas e serviços. “Tudo mudou depois do linhão. Hoje nossa demanda por escolas é de duas por ano, com vagas para 600 alunos cada. Postos de saúde teremos que fazer na mesma quantidade. Para a Sadia começar a operar aqui, teve que contratar 2,5 mil pessoas, o que nos obrigou a construir um conjunto habitacional com 1,5 mil casas, que devem chegar a três mil”, relata.

Na avaliação do secretário-adjunto de Planejamento do Estado de Mato Grosso, Arnaldo Alves de Souza Neto, nada disso seria possível sem a energia elétrica. “Duas coisas são fundamentais para verificarmos esse fenômeno que assistimos na região: uma é a energia elétrica de qualidade, e a outra é a estrutura de escoamento, pois não adianta nada produzir sem ter como escoar essa produção. E depois da década de 1990 contamos com essas duas condições na região”. Até 2010, a previsão é que a Sadia empregue 6,8 mil pessoas diretamente e gere 18 mil empregos indiretos.


O gerente de Obras da Eletronorte à época, Gustavo Reis Vasconcelos, lembra que mesmo durante a instalação das torres, a população ainda duvidava que viraria realidade. “Foi uma conquista muito grande para eles, afinal, era uma solicitação de dez anos, com o povo sofrendo sem energia. Os que podiam mais, tinham geradores, quem não podia, vivia mesmo à base de velas e lamparinas. E foi uma obra difícil para viabilizarmos equipamentos. Trouxemos muito material de Rondônia, de seis a sete carretas, numa época que logística, acesso e material eram etapas muito difíceis”. Mas, com a presença de autoridades e com a expectativa de toda a população, entrou em operação no dia oito de dezembro de 1994 a linha de transmissão de Nobres/Sinop (326

quilômetros), operando no primeiro momento com tensão de 138 kV. Gustavo Vasconcelos lembra que para a inauguração veio o presidente Itamar Franco, o ministro das Minas e Energia, Delcídio do Amaral, o então governador de Mato Grosso, Jaime Campos, e toda a população de Sinop, que se posicionou na praça central. “O marco simbólico da ligação da linha foi uma lâmpada, acesa pelo presidente e comemorada com festa. Dois anos depois, aconteceu a inauguração de um novo trecho foi feita, dessa vez com o presidente Fernando Henrique Cardoso, para mudar a tensão para 230 kV”, conta. E por conta da determinação da população e da Eletronorte, apoiada pela força de vontade do povo, é que o Mato Grosso é hoje o que é.

Depois que ela se instalou, Lucas do Rio Verde também passou a ter uma fábrica de biodiesel, uma esmagadora de soja e uma indústria dinamarquesa de produção de telhas isotérmicas. “Junto disso tudo veio também a mão-de-obra qualificada, o crescimento dos serviços e da demanda por serviço público. Para não termos um crescimento desordenado, já concluímos o nosso Plano Diretor, documento que nos indicará como crescer de forma planejada, pois temos que manter a nossa qualidade. Hoje somos a única cidade 100% asfaltada de Mato Grosso”, relata Arnaldo Alves.

Ele ainda lembra que o estado desenvolveu um documento chamado MT+20, que consiste num plano de desenvolvimento em que um dos itens estabelece como meta a redução, em 20 anos, de pelo menos 10% da dependência da economia local em relação ao produto primário do agronegócio. “Queremos que outras cidades vivam o que Lucas está vivendo hoje, a capacidade de manufaturar seus produtos primários. Isso agrega valor e traz complexidade para a economia. Podemos chamar o município hoje de um polo de transformação do produto primário em manufaturado e é isso que buscamos”.

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A cidade e a fábrica: transformação do produto primário

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GERAÇÃO

Trinta e dois anos depois de construída, a Usina Hidrelétrica Curuá-Una consegue licença ambiental, terá potência ampliada e se prepara para ser referencial de excelência Michele Silveira

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Há quatro anos a Usina Hidrelétrica Curuá-Una (PA) vestiu roupa nova. Mais do que isso, está de alma nova. As paredes de cor envelhecida deram espaço a um branco que contrasta com as águas turvas do rio de mesmo nome, chamado assim porque sua origem tupi-guarani quer dizer “rio de água escura” (curuá: rio e una: escuro). Diferente das demais usinas da Eletronorte, Curuá-Una não foi construída, mas sim adquirida pela Empresa. Antes de propriedade da Centrais Elétricas do Pará – Celpa, a Usina enfrentou um período de privatização da Companhia e, em 2006, passou para o comando da Eletronorte como parte do pagamento de dívidas da concessionária estadual. De lá pra cá a presença da Eletronorte em Santarém (PA) tem feito a diferença. Não só na qualidade da produção e geração de ener-

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Estrutura revitalizada

gia, como na vida de dezenas de famílias de empregados diretamente ligados à história de Curuá-Una. Histórias como a de Mário Pedreiro, que em novembro de 1968 chegava à região para acompanhar o pai que trabalharia na Usina. “Tivemos três diferentes momentos aqui: quando éramos do estado, quando fomos privatizados, e agora, com a Eletronorte. Essa é uma das melhores empresas em que trabalhei, em que as pessoas valorizam o ambiente de trabalho, onde há qualidade da produção; evoluímos bastante em relação a outros momentos que tivemos em CuruáUna”, afirma. Era meio de uma tarde de fim de ano quando Mário entrou na sala da Gerência de Imprensa da Eletronorte, em Brasília. Era a primeira vez que esse santareno de coração chegava à Sede da Empresa. Nascido em Belém, mas apaixonado pela ‘Pérola do Tapajós’, como é chamada Santarém, trazia


nas mãos um arquivo cheio de fotos e ideias. De uma conversa sobre a riqueza cultural e a biodiversidade da região, um ponto comum: a Usina Hidrelétrica Curuá-Una. Apaixonado pela obra, Mário guarda as fotos do tempo dos estudos geológicos e das primeiras máquinas que chegavam à primeira hidrelétrica da Amazônia. A paixão dele virou nossa pauta. Concepção - Curuá-Una está situada a montante da Cachoeira do Palhão, afluente do Rio Amazonas. Em 1952 a Servix Engenharia Ltda, com sede no Rio de Janeiro, foi contratada para estudar a viabilidade do aproveitamento hidrelétrico. Dois anos depois o parecer era favorável. O aproveitamento hidropluviométrico teve início em 1959 e foi concluído em 1962. Somente em 1965, quando a responsabilidade do projeto passou a ser da Celpa, o processo adquiriu forma concreta. Em 1967, a construtora Mendes Júnior instalou a infraestrutura do canteiro de obras e, em 1968, iniciou os serviços de construção. A construção da Usina Hidrelétrica Curuá-Una foi concluída e inaugurada para fins comerciais em 19 de agosto de 1977, com a primeira etapa de 20 MW, operando as unidades 01 e 02. A inauguração da segunda etapa aconteceu em 24 de setembro de 1985, com mais 10,3 MW. Em julho de 1998, a Centrais Elétricas do Pará S.A foi adquirida pelo grupo Rede em julho de 1998. Um ano depois, a linha de transmissão pro-

veniente da Hidrelétrica Tucuruí (Tramo Oeste), começou a operar comercialmente para Santarém. A barragem de Curuá-Una é de particular importância para a engenharia geotécnica brasileira pelo fato de ter sido construída sobre terreno aluvionar arenoso. Existem poucas barragens no mundo fundadas em substratos arenosos, entre elas a de Brats-Ki (Rússia) e Aswan (Egito). O engenheiro Gilson Machado da Luz, da Gerência de Segurança de Barragens da Eletronorte, explica que a concepção de projeto para Curuá-Una foi mesmo um desafio à engenharia nacional, por ter sido a primeira barragem construída no Brasil sobre terreno arenoso. “Em face dessas características atípicas de fundação, a Usina requer constante monitoramento. Temos trabalhado muito para executar as atividades de segurança de barragens, manutenção, reforma e melhoria das instalações de geração e pretendemos, em breve, elaborar a análise de risco da estrutura e implantar um plano de ação emergencial”, explica. Aos poucos, a força da experiência em geração hidráulica levou as marcas da Eletronorte a essa Usina de médio porte, capaz de gerar, hoje, 30,3 MW e atender em 75% o abastecimento energético dos quase 300 mil habitantes de Santarém em dias úteis. Toda a estrutura civil foi revitalizada e suas três unidades geradoras estão sendo revisadas de acordo com o calendário da manutenção programada.

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Em breve, mais uma nova turbina

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Hoje, com o Sistema Interligado Nacional SIN, a Eletronorte planeja a expansão da Usina com uma nova máquina, que vai adicionar 11,6 MW à potência instalada. “Essa ampliação vai significar o incremento da participação da Eletronorte no SIN e um aumento de receita”, argumenta o diretor de Planejamento e Engenharia da Eletronorte, Adhemar Palocci. Gerando cerca de 43.500 MWh/ ano, a estimativa é que a ampliação de Curuá-Una acrescente R$ 6,0 milhões ao ano na receita operacional da Empresa.

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Mais fortes - Mais do que o incremento na produção de energia, a ampliação de Curuá-Una é recebida com orgulho por quem acompanha a sua trajetória. Todos os dias, as equipes saem de Santarém e percorrem 72 km - hoje asfaltados – até à Usina. Saem da cidade às 6h30 e chegam à Usina por volta de 7h50. Nesse momento, os empregados de todas as áreas se reúnem para participar de uma reunião na qual discutem assuntos referentes aos serviços que serão executados durante o dia de trabalho. Antigamente, os trabalhadores moravam na Vila Residencial, mas apenas algumas casas hoje estão sendo reformadas pela Eletronorte para garantir estada para os técnicos da Empresa. “Antes a Vila era muito agradável, mas depois ficou muito abandonada, a escola atendia só até a quarta série, então o pessoal foi morar em Santarém. A Eletronorte já começou algumas reformas, reativou espaços como a quadra de esportes e o campo de futebol e vai apoiar a reforma da escola para atender às crianças das famílias do entorno do reservatório”, conta Mário.

Durante o processo de transição da Celpa para Eletronorte, as discussões sobre a permanência dos empregados eram árduas. “Foi um período difícil, pois não sabíamos o final dessa história”, conta Ronaldo César Pedreiro, supervisor de operação (à esquerda). A maior parte da mão-de-obra mantevese no quadro e, desde então, tem passado por treinamentos e cursos de capacitação. “Hoje nosso maior desafio é alcançarmos o padrão Eletronorte de qualidade”, afirma Ronaldo. Aos poucos, os programas desenvolvidos pela Eletronorte estão sendo implantados em Curuá-Una. “Desde a sua aquisição, a Usina vem sofrendo diversas melhorias, como a reforma da casa de força, troca dos mobiliários funcionais, compra de computadores novos, aquisição de ônibus para transporte dos funcionários, construção de novas salas dentro da usina, entre outras ações. Atualmente estamos implantando a metodologia TPM e já vemos resultados expressivos, principalmente no pilar Manutenção Autônoma. Esperamos que até o final do ano o processo já esteja consolidado nos mesmos padrões que temos em Tucuruí”, explica Antonio Augusto Bechara Pardauil, gerente Regional de Produção de Tucuruí, que também administra Curuá-Una. Segundo ele, está prevista também a modernização do sistema de controle das unidades geradoras, o que aumentará a confiabilidade operacional da Usina. “O grande desafio é torná-la referência de excelência para usinas de porte equivalente, com baixo custo operacional e alta performance operacional. É preciso ressaltar o alto grau de profissionalismo e competência de nossos colaboradores, que vêm realizando um excelente trabalho, superando-se cada vez mais”.


Meio Ambiente: novo capítulo na história de Curuá-Una nadense Robin C. Best, falecido em 1986. “Originalmente tinha entre seus principais objetivos utilizar o peixe-boi da Amazônia como um controlador biológico das plantas aquáticas que proliferaram no lago de Curuá-Una. Após o represamento de um rio e a consequente formação do lago, é comum a rápida proliferação de macrófitas aquáticas que acabam prejudicando a navegabilidade no lago, bem como a operacionalidade da hidrelétrica”, explica. Adicionalmente, esperava-se também conhecer melhor os movimentos e deslocamentos dos peixes-boi, bem como algumas características da espécie, tais como comportamento social - por exemplo, se machos e fêmeas permaneceriam juntos ou próximos o ano todo, ou se haveria alguma segregação por sexos na espécie. Para Fernando, a retomada desse trabalho realmente teria como primeiro passo a realização de excursões científicas para certificação da frequência de ocorrência da espécie no lago e registro da percepção dos moradores em relação ao peixe-boi. “É possível que algumas das árvores utilizadas para tomada de posicionamento dos peixes-boi na época ainda estejam lá. Na última visita que fiz encontrei uma delas, o que significa que talvez possam ser georreferenciadas. Contudo, seriam necessários tantos recursos financeiros para a retomada dos trabalhos, quanto humanos”, afirma. Eletricista, culinarista, historiador e turismólogo, Mário Pedreiro (ao lado) acompanha com atenção as novidades que chegam à Usina que ele conhece desde moleque. “Resgatar um programa como esse, levar a educação ambiental para os moradores da região, tudo isso, junto com a implantação da qualidade operacional tem feito a diferença em Curuá-Una”.

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Depois de conseguir a licença ambiental para operação da Usina no final do ano passado, a Superintendência de Meio Ambiente da Eletronorte se debruça agora sobre o atendimento às exigências da Secretaria de Meio Ambiente do Pará. “Estamos fazendo várias análises e mapeamento da situação, estudando os programas que serão implementados. Temos as margens ocupadas, alguns estudos da Celpa que foram feitos há muitos anos, enfim, são diversos fatores que precisam ser analisados”, explica o analista ambiental Rubens Ghilardi Junior. Com validade até junho de 2009, a autorização de funcionamento preenche uma lacuna da legislação na época da construção da Usina, quando não havia exigências de compensação e mitigação dos impactos ao meio ambiente. Na lista de ações que a Eletronorte vai desenvolver no entorno da Usina estão: a produção dos estudos ambientais da região, o monitoramento limnológico do reservatório, levantamento da ictiofauna, identificação dos impactos, condições de ocupação do entorno, alternativas para diminuir a degradação e os efeitos do cultivo da soja na região, incluindo o uso de agrotóxicos. Entre os projetos que serão monitorados e resgatados pela Eletronorte, um em especial chama a atenção: o Projeto Peixe-Boi. Em 1979 começaram a aparecer macrófitas no reservatório. Em julho de 1980, a partir de um convênio com o Departamento de Mamíferos Aquáticos do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia -Inpa, foram introduzidos no reservatório 42 peixes–boi da Amazônia, para o estudo do comportamento desses animais em seu habitat natural. Um dos participantes iniciais, o pesquisador do Inpa, Fernando Rosas, conta que o projeto foi idealizado pelo pesquisador ca-

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TECNOLOGIA

Contra crises, sempre ela: a inovação Byron de Quevedo

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Se fosse o Caetano Veloso diria: “A crise é linda... ou não...”. Já, o cantor Gilberto Gil, acalentaria “Não, não chores mais...”. Crises não são novidades por aqui. E para enfrentá-las os brasileiros usam e abusam da criatividade. Um dos setores que fazem isso muito bem é o da pesquisa e desenvolvimento de inovações tecnológicas. E nesse campo o Setor Elétrico é um dos que mais investem no País. Luis Cláudio Silva Frade (abaixo), chefe do Departamento de Gestão Tecnológica da Eletrobrás, é um dos que apostam no lado positivo da atual crise econômica mundial: “Deixa vir, pois ela está aí como uma boa fonte de oportunidades”. Em meio ao carnaval de pessimismo que muita gente está pulando, Frade canta um samba-enredo diferente: “A situação brasileira é peculiar. Acredito que tudo isto se transformará em chances para aqueles que veem a inovação como uma oportunidade diferenciada. A crise estimulará países e empresas a alavancar o desenvolvimento. Por exemplo, se por meio de investimentos em pesquisa e desenvolvimento (P&D), aumentarmos a capacidade de nossas linhas de transmissão e geração de energia elétrica, teremos um diferencial na conquista de novos mercados, atraindo mais recursos, empregos e desenvolvimento para o País”.

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Melhorando a harmonia – Segundo Frade, a Eletrobrás está criando uma política de P&D e inovação para que todas as empresas do Sistema possam falar uma mesma linguagem e agir conjuntamente, baseando-se nas grandes metas do Governo Federal para a área energética: o Plano Nacional de Energia – PNE, com horizonte de 30 anos; o Plano Decenal de Energia, também alinhado com o Plano de Ação do Ministério de Ciência e Tecnologia – MCT e a Política de Desenvolvimento Produtivo, do Ministério de Indústria e

Comércio - MIC. “Trabalharemos os objetivos estratégicos para P&D buscando desenvolvimento e inovações tecnológicas e alavancando a criatividade e a modernização das empresas”, afirma Frade. Somente em 2008 o Sistema Eletrobrás investiu cerca de R$ 340 milhões em mais de 150 projetos e nos últimos sete anos cerca de R$ 1,66 bilhão em mais de 1.550 projetos. Pela Lei 9.991 as empresas geradoras, transmissoras e distribuidoras são obrigadas a investir 1% de sua Receita Operacional Líquida em P&D. No caso do Sistema Eletrobrás, a Eletrobrás, Itaipu e a Eletronuclear não são obrigadas a investir, mas a Eletrobrás investe 0,5% do seu capital social ao ano, principalmente no Cepel, o que dá quase 1% da Receita Líquida do Sistema Eletrobrás no total, explica Frade. O acervo tecnológico esbarra nas questões das patentes. Segundo Frade ainda não se tem sistematizada no Setor Elétrico uma política de propriedade intelectual. “Estamos trabalhando nesse sentido. A tendência é valorizar as pessoas criativas, premiá-las e definir melhor a questão dentro do Sistema. Não havia como compensar financeiramente o pesquisador e o inventor. Porém, a Lei de Propriedade Intelectual e a Lei de Inovação já preveem que uma parcela do arrecadado com um produto desenvolvido no Sistema Eletrobrás se reverta em benefício do inventor. A Eletronorte se antecipou e já sistematizou as regras: tem 51 pedidos de patentes, inclusive há produtos seus no mercado, com ganhos de 20% das receitas revertidas para os inventores, através de contratos de transferência de tecnologia. A ideia é trazer essa experiência e padronizála para todo o Sistema Eletrobrás”. Ensaio geral - Com a tal crise, os investidores estão girando os seus capitais pelo mundo, testando os mercados, em busca de boas oportunidades de negócios. Em meio a esse ensaio financeiro geral, o Setor Elétrico brasileiro vive um grande momento: é o porta-bandeira do otimismo no novo século, apontando perspectivas de ganhos reais acima da inflação mundial, hoje em torno de 4%.


Passos no ritmo - Segundo o gerente de Programas de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológicos da Eletronorte, Álvaro Raineri, “a legislação foi modificada em 2006, com a criação da Lei 10.848, que alterou a distribuição de 1% da ROL, na razão de 0,4% para a gestão de projetos de P&D da empresa; 0,4% para o Fundo Nacional de Desenvolvimento de Ciência e Tecnologia – FNDCT, do MCT; e 0,2% para a Empresa de Pesquisa Energética - EPE. Em 2008, a Eletronorte obteve uma ROL de aproximadamente R$ 3,5 bilhões, portanto R$ 15 milhões vão para projetos de P&D, rubrica na qual já foram investidos, entre valores gastos e os já comprometidos, R$ 90 milhões. “Sugerimos à Aneel, na ocasião, inserir outros projetos não contemplados, tais como protótipos. Isto nos ajudou a resolver problemas bastante específicos. Por exemplo, há décadas milhares de aves sistematicamente

danificavam nossas subestações. A solução encontrada por um inventor da Empresa foi fazer bonecos gigantes de gaviões, cópias do predador natural dessas aves tão assíduas às nossas instalações, e o problema foi resolvido. Hoje podemos ter um projeto de P&D na Aneel, onde apresentamos o protótipo a um fabricante, que fará a análise de mercado e comercializará o produto. As modalidades de projetos de P&D abrangem a pesquisa básica, pesquisa aplicada, desenvolvimento experimental, protótipo, cabeça de série, que é o protótipo modelo para a produção industrial; e inserção no mercado”, explica Álvaro (ao lado). O FNDCT tem 15 fundos setoriais que trabalham verificando as características de cada situação. Há casos em que ninguém domina tal tecnologia, então a própria empresa a desenvolve. Quando uma tecnologia pertence a outra empresa, então adquire-se esse conhecimento. Álvaro comenta que há casos em que a empresa domina a técnica, mas considera mais viável customizá-la. “O estado da arte é a verificação do ponto em que estamos em relação a uma determinada tecnologia e onde queremos chegar. O estado da arte é, enfim, um objetivo acima do ponto almejado”. A Eletronorte já facilitou a execução de 292 projetos de P&D. Destes 164 utilizam os recursos da Aneel. Dez deles são executados pelo Centro de Tecnologia de Belém. Outros 35 projetos fazem parte da carteira interna da Eletronorte. Há ainda 66 projetos gerenciados pelo Cepel, mas com acesso da Empresa aos produtos. De acordo com Álvaro, dos projetos geridos por nós, 94 já foram concluídos, com 111 produtos: 34 softwares, 55 metodologias novas e 22 protótipos. Estandarte de ouro – Na Eletronorte inventor ganha prêmio, tal qual a escola de samba que faz um desfile impecável. A Empresa criou o Prêmio Muiraquitã, cuja quarta edição acontece este ano e onde vencem as inovações que mais trouxerem resultados reais. Álvaro esclarece: “Avaliamos o quanto foi investido e os resultados: ganhamos? Deixamos de gastar? Tivemos custos reduzidos? Evitaram-se perdas com a referida inovação? Então premia-se aqueles que obtiveram as melhores relações de investimento versus resultados, nas categorias Ouro, Prata e Bronze”.

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Ainda segundo Frade, o fundo Capital Semente, que aporta empresas inovadoras de base tecnológica com capitais do BNDES, Banco do Brasil, ou de bancos privados, está ajudando novas empresas a desenvolver suas tecnologias, colocar os seus produtos no mercado e vendê-los. “Investidores têm nos procurado. O último deles chegou falando em nome de um fundo de R$ 100 milhões para investir em produtos de projetos de P&D, para colocá-los no mercado. Temos projetos sendo finalizados e gerando produtos. A nossa Divisão de Produtos Tecnológicos está buscando parceiros para comercializar as tecnologias. Então a crise não é tão ruim, muito pelo contrário, no Setor Elétrico ela é benéfica. Reunimo-nos sistematicamente com o MME, MCT, com os fundos setoriais de energia e Finep, trabalhando sob orientação única, evitando duplicidade de projetos, otimizando recursos, fazendo projetos cooperativos e integrados. Essa ação servirá de parâmetro para outros setores”, afirma. Os recursos advêm de carteiras específicas: empresas, Aneel e Cepel. Há projetos de interesse próprio, caso da Eletronorte, em que ela contrata diretamente seus parceiros tecnológicos e comerciais. “Há também os projetos financiados pelo Fundo Setorial de Energia – CT-Energ, que tem convênios com a Finep e o CNPq. A política de P&D prevê de onde virão os recursos, inclusive de outros fundos setoriais e também via incentivo fiscal, pois aqueles que investem em tecnologia podem ter abatimentos sobre a contribuição, lucro líquido e o Imposto de Renda”.

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Regenerador óptico: milhões de economia e receita com patente

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Em virtude da atenção dedicada aos seus inventores e às equipes de apoio, é que a Eletronorte deverá chegar à marca de 105 pedidos de registro de patentes, em 2009, um acervo tecnológico rico para o País, principalmente em épocas difíceis. Um bom exemplo é o do regenerador óptico, um amplificador do sinal de fibra óptica, que evita a instalação de estações repetidoras a cada 300 quilômetros de linha de transmissão, evitando gastos de até R$ 1 milhão em cada uma delas, fora a mão-de-obra. Esse amplificador óptico mantém a qualidade da transmissão em todo o circuito. A Eletronorte o desenvolveu e a Padtec, de Campinas (SP), ganhou a licitação, e já comercializa o produto e o exporta para a Rússia, Canadá e vários países da África. A Eletronorte, por sua vez, recebe 7% da venda de cada exemplar vendido. O regenerador também representou a Empresa na recente publicação ‘101 inovações brasileiras’, do Monitor Group. Premeditando o breque - Há cerca de dois anos um surto premonitório assolou o MCT.

Seus técnicos, em parceria com vários setores do governo, passaram a preparar uma estrutura de proteção ao pequeno, médio e grande empresário, um escudo anticrise. Com o advento do chamado ‘PAC Tecnológico’, todos os tipos de empresas e de empresários puderam lançar mão de programas para a estruturação, modernização ou capacitação de empresa, com ajuda estadual ou federal. O coordenador-geral de Inovação Tecnológica do MCT, Reinaldo Danna, relata que o Ministério trabalha com quatro secretarias que prestam uma gama considerável de serviços: divulgação de tecnologias consolidadas; auxílio a arranjos produtivos regionais; locação tecnológica e geração de emprego e renda; estudos de mudanças climáticas; Amazônia; agricultura e saúde; auxílio a empresas de informática; e prestadoras de serviços. “No Plano de Ciência e Tecnologia, lançado em 2007, o governo começou a implantar os seus PACs, o primeiro deles foi o da Infraestrutura. Para o MCT veio o Plano de Apoio ao Desenvolvimento da Ciência, Tecnologia e a Inovação, um programa para o período 2007 a 2010, com orçamento previsto de R$ 40 bilhões. Somam a este valor os recursos de empresas do setor produtivo dos estados. A meta é ultrapassar inicialmente 1% do Produto Interno Bruto brasileiro - PIB, chegando 1,5% até 2010. O Plano foi montado com quatro áreas estratégicas, denominadas de eixos: consolidação dos sistemas de inovação, afeto a toda infraestrutura laboratorial, universidades, centros de pesquisa etc;


Mestre sala – Se no espaço de tempo do financiamento, a empresa contratar, via CLT, um mestre ou doutor, ela poderá solicitar à Finep um bônus equivalente a até 50% do salário pago ao profissional. “Quando se põe gente capacitada na empresa, ela evolui e melhora seus produtos. Os empregados se apegam ao pesquisador pela positividade de suas ações. E isto reforça a empregabilidade. Essa ferramenta foi criada para ajudar estudantes das escolas técnicas. Como se vê, temos antídotos contra a crise. Estamos falando de empresas normais, mas se elas se sofisticarem, podem vir a ser um cliente temático”. Para grandes empresas há subvenção, com tomadas de até R$ 150 milhões para áreas temáticas. “Estamos habilitados para enfrentar qualquer crise. Precisamos investir mais em tecnologia. Temos o sistema bancário mais sofisticado do mundo; as urnas do nosso sistema de votação, hoje exportadas. São ideias que saíram das incubadoras de empresas. Há muita competência empresarial no Brasil, desde o top tecnológico da biotecnologia e nanotecnologia até as processadoras artesanais”, conclama Reinaldo. Agora que o bloco passou, provavelmente quem virá varrendo os confetes será uma maquininha idealizada por um gari que foi ao MCT e garantiu seu invento. Nesse caso, a crise acabou em samba.

Entrevistamos o coordenador-geral de Tecnologias Setoriais do Ministério de Ciência e Tecnologia, Adriano Duarte Filho. Confira: Investir em ciência e tecnologia seria antídoto contra crise? Ao investir em ciência e tecnologia se planta o futuro. Houve uma retração de mercado, que diminuiu as compras, por conseguinte as reduziram seus investimentos. O objetivo primeiro é conseguir manter a demanda de produtos e serviços. Investir em obras, estimular ou facilitar o aumento de demanda é o primeiro remédio para sanar os efeitos. Ciência e tecnologia têm resultado em médio prazo, mas se deixarmos de investir agora, com crise ou sem crise, se perde o bonde lá na frente. Este ano houve um corte de verbas na proposta orçamentária no Congresso Nacional, que envolvia projetos nosso. É lamentável que isso ainda aconteça no Brasil. Quais as consequências dos cortes em investimentos em P&D neste momento? Investimentos em P&D não resolvem a crise hoje, vão resolver a capacidade de desenvolver serviços e produtos ao longo do tempo. Mas o governo tenta repor o corte de verbas e manter o planejado para o período 2007/2010 e os projetos continuam sendo desenvolvidos. Por exemplo, a tecnologia para a economia do hidrogênio. É algo para acontecer em dez anos, mas o Ministério tem esse programa de desenvolvimento de células a combustíveis para a produção de hidrogênio, uma tecnologia do futuro e um dos vetores energéticos. O importante é manter e ampliar esta estrutura de conhecimento, que envolve centros de pesquisas de formação de recursos humanos, de apoio ao desenvolvimento de pesquisas, criando esta base de suporte ao País. Algum outro projeto na área energética? Sim, e um dos exemplos é o programa do biodiesel. O MCT tinha linhas genéricas de apoio à pesquisa em energia, em biocombustíveis. Por causa das diretrizes do Governo Federal, se estruturaram redes de pesquisa com objetivos claros e metas definidas, para pesquisar a cadeia produtiva do biodiesel, desde a parte agrícola, que a gente faz com a Embrapa, e outras universidades, até teste de motores. E é um sucesso! Outro exemplo: há cerca de dois anos, já prevendo a demanda energética, vimos que teríamos de construir linhas de transmissão com tensões bem mais altas. Não havia laboratórios no Brasil capacitados para fazer os ensaios. Então, em parceria com a Eletrobrás e o MME, capacitamos os laboratórios do Cepel para lidar com a tensão de linhas de longas distâncias. Somente na área energética, o MCT investiu, em 2007, R$ 103 milhões, e em 2008, R$ 243 milhões.

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a área de recursos humanos, instrumentos e programas para empresas; as áreas estratégicas de biocombustíveis, etanol, diesel, energia eólica, petróleo e gás, energia elétrica e nuclear; e o que cuida da inclusão social”, relata Reinaldo (abaixo). Segundo ele, a Finep tem as linhas de financiamentos Juro Zero e Inova Brasil, para pequenas empresas, com financiamento de R$ 100 a R$ 600 mil, e prazos de até 100 meses, para desenvolvimento de projetos de P&D. Os agentes dão garantias de até 50%. Para projetos acima de R$ 1,0 milhão, a Finep também dispõe de linhas de financiamento com carência de três a sete anos, e taxa de 5% ao ano, para projetos do Programa de Desenvolvimento Produtivo.

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AMAZÔNIA E NÓS

Maranhão, terra das palmeiras, de cantos e encantos, cultura, magia, cores e sabores

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Arthur Quirino

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Segundo dizia o ex-presidente Jânio Quadros, o Maranhão é um oásis do Nordeste, não tem chuva demais nem sol demais. O Maranhão é uma terra de cantos e encantos, cores, poetas, cantores, cantadores e compositores. Embevecidos pela música ‘Maranhão, meu tesouro, meu torrão’, do cantador do Boi de Maracanã, Humberto, interpretada por muitos cantores maranhenses, entre eles a gloriosa Alcione, a ‘Marron’, vamos dar um passeio pelo Maranhão, ou pelo emaranhado da sua história, suas belezas, sua gente simples e hospitaleira, sua cultura, lendas e gastronomia. A cada paradinha, vamos cantar uma estrofe na brisa gostosa das praias de São Luís até concluirmos nossa jornada. O Maranhão, cuja capital é São Luís, uma das três capitais brasileiras localizadas em ilhas, com uma população de mais de cinco milhões de habitantes, possui 217 municípios e está localizado no oeste da região Nordeste, tendo como limites o Oceano Atlântico ao norte, o Piauí a leste, Tocantins ao sul e sudoeste, e o Pará a oeste. O nome Maranhão tem diversas versões, entre tantas, citamos algumas: dizem que era o antigo nome do Rio Amazonas, dado pelos nativos da região; outros acreditam que tem relação com o Rio Marañón no Peru; há ainda quem ache que sua origem significa ‘grande mentira’, ‘mexerico’, ‘mar grande’ ou ‘mar que corre’, e, por último, recebeu esse nome por ser abundante em caju, no seu litoral, fruta que, em castelhano, é marañon. No Maranhão, ainda podemos citar outras grandes cidades como Imperatriz, Açailândia, Timon, Caxias, Presidente Dutra, Codó, Santa Inês, Bacabal, Balsas, Zé Doca, entre


tantas outras. O estado é um pouco maior que a Itália e um pouco menor que a Alemanha, com seus mais de 330 mil km². Possui o segundo maior litoral do Brasil, com 640 km de extensão, ficando atrás apenas da Bahia, indo desde o delta do Rio Parnaíba até a foz do Rio Gurupi. Ao longo de sua extensão, podem ser encontradas diversas praias como Araçagi, Olho d’Água, Calhau, Caolho, Praia do Meio, Ponta d’Areia, além de regiões de manguezais.

São Luís - Ludovicense? Quem nasce em São Luís é chamado de ludovicense. São Luís, fundada em 8 de setembro de 1612, é dona de uma beleza singular: é a única capital brasileira fundada pelos franceses, mas curiosamente é a mais lusitana de todas. Foi cobiçada pelos holandeses e conquistada pelos portugueses. Localiza-se na Ilha homônima, no Atlântico Sul, entre as baías de São José e São Marcos. Seu nome é uma homenagem ao Rei da França, Luís XIII, o nome original é Upaon-Açu, que, na língua indígena dos tupinambás quer dizer ‘ilha grande’. Na Ilha de São Luís existem mais três municípios, Rapo-

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Lendas, mistérios e magias - O Maranhão é cheio de lendas, mistérios e magias. Entre elas a ‘Lenda da Serpente da Ilha’: “dizem que a Ilha de São Luís é circundada por uma grande serpente que, enquanto dorme camuflada, cresce sem parar, e chegará um dia em que, de tanto crescer, a cabeça do monstro encontrará sua própria cauda e ela acordará produzindo fortes rugidos, soltando labaredas de fogo pelos olhos e pela boca, aí então dará um forte abraço na Ilha e a levará consigo para as profundezas do mar”. E tem a ‘Lenda do Rei Sebastião, o touro encantado’: “dizem que nas profundezas das dunas de areia, da Ilha dos Lençóis, no fundo do mar, que têm muita semelhança com o campo de Alcácer-Quibir, onde o Rei Sebastião desapareceu, é o reino encantado de Dom Sebastião. O rei vive em seu palácio submerso e o seu navio nunca encontra a rota para Portugal e, às sextas-feiras, costuma aparecer em forma de um touro negro com uma grande estrela de ouro brilhante na testa. Segundo a lenda, se alguém conseguir atingir a estrela ou ferir o touro, o reino se desencanta e a cidade de São Luís desaparecerá, surgindo no seu lugar uma cidade encantada com os tesouros do rei”. Você teria coragem de desvendar esse mistério?

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Braçadas nas lagoas dos lençois

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sa, Paço do Lumiar e São José de Ribamar. São Luís possui grande expressão folclórica, como o bumba-meu-boi, o tamborde-crioula, a festa do Divino Espírito Santo, o carnaval de rua, entre outras. Também é conhecida carinhosamente como Atenas brasileira, Ilha do Amor, Cidade dos Azulejos, Ilha Rebelde, Jamaica brasileira, ou ainda Patrimônio Cultural da Humanidade, título concedido em 2000 pela Unesco, em reconhecimento ao seu rico acervo arquitetônico. Está curioso para saber o significado de tantos nomes, não é? Então vamos lá: ‘Atenas brasileira e Ilha do amor’: o Maranhão é um berço de cultura, poetas e romancistas que cantam a Ilha em versos e prosas. Entre eles, Gonçalves Dias, Aluísio de Azevedo, Arthur Azevedo, Ferreira Goulart, Maria Firmina dos Reis, a primeira romancista brasileira, entre tantos outros nomes ilustres. ‘Cidade dos azulejos’: não existe no mundo nada igual ao acervo cultural e arquitetônico de São Luís. Ao longo do centro histórico há mais de 3,5 mil edificações que remetem ao passado, com suas imponentes fachadas de belos azulejos, que, além de embelezar as fachadas dos casarões, protege contra as fortes chuvas e ameniza o calor interno das residências. Assim, tornou-se uma atração para turistas do mundo inteiro, que contem-

plam a beleza dos seus casarios. ‘Jamaica brasileira’: uma alusão ao reggae. É a única cidade do Brasil onde as pessoas dançam o reggae agarradinhas, e onde as indumentárias bem coloridas lembram os grandes Bob Marley, Peter Tosh e Jimmy Cliff. E ‘Ilha rebelde’: povo guerreiro, que não se entrega aos primeiros tropeços e vai à luta pelos seus objetivos, jargão que recebeu desde a greve de 1951. Agora que você já matou a sua curiosidade, vamos à nossa paradinha? “...Terra do babaçu/que a natureza cultiva/esta palmeira nativa/é que me dá inspiração...” Turismo - Ao visitar o Maranhão, antes de sair para os encantos dos municípios, faça um passeio pela capital, visite o centro histórico, os museus, artesanatos no Ceprama-Centro de Comercialização de Produtos Artesanais do Maranhão, a feira da Praia Grande, onde se pode apreciar licores de frutas típicas e a famosa cachaça tiquira. Andando pelos municípios do Maranhão, podemos nos deparar com as imponentes palmeiras do babaçu e do buriti. Não é à toa que o Maranhão é conhecido como a ‘Terra das Palmeiras’. O babaçu é uma das bases da economia de muitas famílias maranhenses, como as incansáveis e guerreiras que-


Cultura - Agora vamos ‘bailar’, fazer uma viagem com um roteiro único no Brasil, que só existe no Maranhão. Estamos falando do bumba-meu-boi, do tambor-de-crioula, do tambor-de-mina, do carnaval de rua, da festa

fotos: setur/ma

do Divino Espírito Santo, do reggae, do cacuriá! Aqui uma pausa para destacar o cacuriá de Dona Teté com suas danças sensuais. Haja vista a sua riqueza cultural, seria impossível listar aqui todas as manifestações culturais do Maranhão, mas não se pode deixar de citar um dos maiores berços dessa cultura, que é o bairro da Madre Deus, no centro de São Luís, berço da Companhia Barrica, Bicho Terra, Regional 310 e do Bloco Máquina de Descascar Alho. Madre Deus é o bairro onde canta Maria do Socorro da Silva, a ‘Patativa’, cantora e compositora, com seus 70 e tantos anos, uma das muitas figuras populares do bairro e da cidade. O bumba-meu-boi é o símbolo da cultura maranhense, é uma festa popular para todas as classes sociais e idades. A brincadeira, com uma mistura de traços de três povos europeus, indígenas e afro-negros -, tem vários estilos como o de zabumba, matraca ou

Banho de cachoeira na Chapada das Mesas

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bradeiras de coco, que, com suas cantigas passam o dia todo quebrando coco com um porretes e machados afiados. Outras belezas naturais do estado estão no Parque dos Lençois Maranhenses, nas cachoeiras de Carolina, na Chapada das Mesas, no Delta do Parnaíba, na Floresta dos Guarás, sem falar dos banhos refrescantes nas águas dos rios Itapecuru, Munim, Gurupi, Pindaré, Turiaçu, Parnaíba, Tocantins, entre tantos outros. O Parque Nacional dos Lençois é um verdadeiro paraíso ecológico, com 155 mil hectares de dunas, rios, lagoas com águas cristalinas e manguezais. O acesso a esse paraíso pode ser por Santo Amaro, pela BR-402, que fica a 172 km de São Luís, de modo bastante rústico percorrendo 38 km de estrada de terra; ou por Barreirinhas, pela MA-402, que fica a três horas de carro de São Luís. Lençois são um raro fenômeno geológico, formado há milhares de anos pela ação da natureza. Suas paisagens são deslumbrantes, com imensidões de areias que fazem o lugar parecer um deserto, mas lá chove, e muito. São as chuvas que garantem aos Lençois algumas das suas paisagens mais belas. As águas das chuvas formam lagoas que se espalham em praticamente toda a área do Parque, formando uma paisagem única que só existe lá. Algumas das lagoas são perenes, como a Azul, da Gaivota e Bonita, famosas pela beleza e condições de banho. Segundo o secretário de Estado do Turismo, João Pereira Martins Neto (abaixo), os Lençois Maranhenses são consider@ados pela Organização Mundial do Turismo, “a coisa mais singular do mundo”. O Secretário faz um convite a todos os turistas nacionais e internacionais a descobrirem verdadeiramente o Maranhão, para constatar tudo isso de perto, sentir a emoção que só vendo para crer. Segundo ele, “entre 2007 e 2008, o Maranhão foi o estado nordestino que teve o maior número de ocupação hoteleira, com 66,9%”.

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O boi, o tambor, a matraca: o que é mais marcante?

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sotaque da Ilha, e orquestra. O que os diferenciam são seus diferentes sons (sotaques), as fantasias e, principalmente, o gingar da música (toada). Cada um tem a sua característica forte, marcante, como o sotaque de matraca, duas peças de madeira resistente, que, ao repenicar uma na outra, produz um som afinadíssimo e inconfundível. As matracas fazem um contraponto com os pandeirões (grandes aros de madeira cobertos com couro de boi ou bode, que são afinados ao calor de fogueiras). Segundo a lenda, o enredo do bumbameu-boi conta a história de um casal, ‘Pai Francisco e Catirina’, onde a mulher grávida deseja comer a língua do boi mais precioso e bonito da fazenda, o boi que era o orgulho do fazendeiro. E Pai Francisco, para satisfazer o desejo da sua amada, matou o boi e deu a língua para Catirina comer. O fazendeiro, ao dar falta do seu boi no terreiro e saber que Pai

Francisco o havia matado, quer o seu boi de volta. Então Pai Francisco recorre aos pajéscurandeiros, “os cazumbás, uma das personagens da brincadeira, que fazem ressuscitar o boi do patrão e tudo termina em uma grande festa. Os personagens da brincadeira, além do boi (armação oca feita de madeira e coberta com lindos couros - panos cuidadosamente bordados manualmente com miçangas, canutilhos e muito brilho -, onde embaixo da armação fica uma pessoa que é chamada de miolo, que faz a coreografia e a alegria da festa), do Pai Francisco e sua esposa Catirina, tem ainda o amo que é o dono da fazenda, índios, cazumbás, músicos e brincantes. Segundo o secretário Estadual da Cultura, João Batista Ribeiro Filho (ao lado), ou, como é conhecido em São Luís, Joãozinho Ribeiro, que é bacharel em Direito, poeta, cantor, compositor, “o Maranhão é possuidor de uma imensa variedade cultural. É, de longe, culturalmente falando, o estado mais rico do País. É missão nossa manter esse quadro e passos importantes vêm sendo dados. O primeiro foi incorporar a cultura como questão estratégica na agenda de desenvolvimento do Maranhão, o que traduz fielmente nossa principal palavra de ordem, que batiza nosso programa de governo para a área cultural: a imaginação a serviço da cidadania e do desenvolvimento”. Depois, trabalhar visando os três ‘Ds’ da cultura: de-


Nosso povo, nossa fé - O Maranhão é um estado de muita fé, um povo cheio de espiritualidade e energia. Entre as grandes manifestações religiosas estão os festejos de Nossa Senhora da Conceição, Nossa Senhora Aparecida e de São José de Ribamar, padroeiro do estado. O Maranhão é conhecido como o estado dos “Josés de Ribamar ou simplesmente dos Zés”. No mês de setembro, época dos festejos, a cidade de São José de Ribamar vira um ‘formigueiro de gente’. Peregrinos vão a pé, de carroças e tem também a romaria dos motoqueiros. Muitas pessoas vão pagar promessas ao Santo milagreiro, batizar seus Josés de Ribamar, ou ainda levar seus carros para batizarem, uma tradição que existe há décadas. Outra manifestação religiosa muito marcante no Maranhão é a do Divino Espírito Santo, em Alcântara, cidade de muitas histórias e casarões em ruínas do tempo do Império, com suas paredes construídas de pedras com mais de um metro de largura, ponto turístico muito visitado. Lá concentra-se um dos maiores quilombos do Maranhão e também está situada a segunda base de lançamento de foguetes do Brasil. Vamos à nossa paradinha? “...Sereia canta na proa/na mata o guriatã/terra da pirunga doce/e tem a gostosa pitombatã/e todo ano, a grande festa da juçara/no mês de outubro no Maracanã...” Culinária - Para abrir o apetite, vamos fazer um drinque com a tiquira, cachaça feita à base da mandioca e muito apreciada pelos turistas, por suas cores azuladas ou arroxeadas e um tira-gosto com o delicioso sonho cor-de-rosa das crianças, o guaraná Jesus, único no Brasil. Quando se fala em culinária, o Maranhão é um caldeirão cozinhando em fogo brando, em um fogão a lenha, com suas misturas e influências de negros, brancos, índios, franceses, holandeses, portugueses, esse emaranhado que deixou uma herança exótica na culinária farta e saborosa. As principais iguarias vêm do mar: caldeirada de camarão, camarão ao alho e óleo, sururu ao leite de coco, casquinho de carangue-

jo ou patinha de caranguejo ou, se preferir, a torta de caranguejo e peixe frito que tem o seu sabor somado ao tradicionalíssimo arrozde-cuxá (ver box). No interior tem o peixe da água doce, a galinha caipira com o seu pirão de parida, arroz-maria-isabel, deliciosas linguiças curadas e a famosa carne-de-sol. Mas como falar em culinária maranhense sem falar de Melquíades Dantas de Araujo Filho, natural de Caicó no Rio Grande do Norte. O chef Dantas (abaixo) conta que sua paixão pela culinária começou cedo, desde criança, quando fazia a feira da casa e todas as tardes era responsável pelo jantar, fazia sopa para sustentar sua família, composta por sua mãe e dez irmãos. Segundo Dantas, ele aprendeu a cozinhar sozinho, já participou de alguns seminários, diz humildemente que, ao chegar ao Maranhão, foi aprendendo sobre a culinária maranhense com suas empregadas. E comenta com orgulho: “Não fui formado em nenhuma escola, aprendi na escola da vida”. Em cada prato criado pelo chef Dantas, os ingredientes são garimpados nas feiras, nos mercados e nos barcos que chegam do mar. Em suas mãos viram uma verdadeira obra de arte, ou melhor, obra gastronômica. Ele guarda a sete chaves um segredo sobre a deliciosa e exótica geléia de pimenta, servida em seus restaurantes e hoje já difundida em todo o Brasil. Segundo Dantas, a idéia de fazer geléia de pimenta surgiu de um sonho, pois, sem saber o que fazer com tanta pimenta, sacos de sessenta quilos enviados por um dos seus irmãos, ao amanhecer teve a idéia de fazer e geléia. Jogou as pimentas em um tacho e começou a colocar ingredientes que ele não conta quais, e daí surgiu a famosa combinação. É claro que, depois de uma boa refeição, tem que ter uma sobremesa à altura, e as frutas, algumas típicas do Maranhão, complementam esse cardápio, como o bacuri, o murici, a sapoti, o buriti, a juçara, o cupuaçu, o abacaxi, que das mãos hábeis das quituteiras ou do próprio chef Dantas são transformados em deliciosos sorvetes, doces, cremes e compotas. Vamos à nossa paradinha? “...No mês de junho tem o bumba-meu-boi/que é festejado em louvor a São João/o amo canta e balança o maracá/a matraca e o pandeiro/ é quem faz tremer o chão...”

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mocracia, descentralização e diversidade. É assim que caminhamos rumo à implementação de uma efetiva política pública de cultura em nosso estado”. Vamos à nossa paradinha? “...Na praia dos Lençois/tem um touro encantado/e o reinado/ do Rei Sebastião...”

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Aprenda a fazer Arroz de Cuxá Acompanhe a receita do chef Dantas: Ingredientes: - 500 gramas de camarão seco (já descascado) - 250 gramas de gergelim - 500 gramas de farinha seca (peneirada) - 20 maços de vinagreira - 3 pimentas de cheiro - 2 maços de cheiro verde - 3 cebolas e sal a gosto - Arroz cozido, bem solto Modo de preparar: Torra-se o gergelim e soca-se. Misturam-se os camarões descascados com a farinha seca, pimentas moídas, cheiro verde picado, cebola picada e o gergelim socado. Torna-se a socar. Põe-se a vinagreira, sem os talos, para cozinhar, tirase a vinagreira da panela e bate-se com a faca, em uma tábua de carne, bem batidinha. Reserva-se a água da vinagreira. Quando a farinha estiver bem socada, mistura-se a vinagreira e a água em que foi cozida (mas antes coloca-se água fria para não embolar). Prova-se do sal e leva-se ao fogo, mexendo sempre para não encaroçar. Se ficar grosso, põe-se um pouco de água e se ficar ralo, mais um pouco de farinha, tendo o cuidado de sempre molhar a farinha com água fria. Depois vá acrescentando o arroz já cozido, não esquecendo de que tem que ficar bem verdinho, por conta da vinagreira. Por fim é só degustar essa delícia de arroz maranhense. Vamos à nossa última paradinha? “...Esta herança foi deixada por nossos avós/hoje cultivada por nós/pra compor tua história, Maranhão”.

correio contínuo “Prezado Alexandre, parabéns a você e sua equipe pelo excelente trabalho que vem desempenhando com a revista Corrente Contínua”. Ricardo de Mello Brandão - Gerência de Administração de Escritório - Brasília - DF “Prezado Alexandre, ano passado assisti à apresentação do Uirapuru Bambu no Memorial dos Povos Indígenas. Fiquei maravilhado com o trabalho do grupo, que exige força extrema, agilidade e beleza nos movimentos dos acrobatas. Tudo foi perfeito, o local e as instalações de bambu. Parecia que havia algo de mágico naquele lugar. E mais maravilhado ainda fiquei ao saber que havia o patrocínio da Eletronorte. Aí sim, fiquei orgulhoso demais! A minha Empresa patrocinava algo digno e maravilhoso de ser visto. Aliás, foi pequena a divulgação pela mídia; mas muitos deveriam ter visto. E olha que a fila era grande. Parabéns à Eletronorte por patrocinar atividades assim. Parabéns também pela revista Corrente Contínua, melhor a cada dia. Tanto na apresentação gráfica e na qualidade do material impresso, quanto no conteúdo, com matérias interessantes e que levam conhecimento de quem nós somos, do que fazemos, como fazemos, das nossas conquistas tecnológicas, das invenções, enfim um registro das nossas potencialidades”. Vitor Homem - Gerência de Assuntos Regulatórios - Brasília - DF “Senhores, solicito informações de como receber a revista Corrente Contínua. Tive contato com número 222, sendo um excelente material sobre o mercado de energia elétrica e tendências. Desde já agradeço”. Rodrigo Silva - Areva T&D Brasil – São Paulo – SP “Prezados senhores, na ocasião em que agradecemos o envio da última edição da Corrente Contínua, a revista da Eletronorte, informamos que o novo Terceiro Secretário da Mesa Diretora da Câmara Legislativa do Distrito Federal é o Sr. deputado Milton Barbosa”. Pedro Mäder - Câmara Legislativa do Distrito Federal - Brasília – DF

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“Prezado Jorge Palmeira, recebi com satisfação a revista Corrente Contínua, e aproveito a oportunidade para parabenizar pela qualidade das matérias abordadas”. Senador Adelmir Santana - Presidente do Sistema Fecomércio - Brasília - DF

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“Recebemos e agradecemos a doação da obra Corrente Contínua. Temos certeza de que irá enriquecer sobremaneira nosso acervo, por ser fonte de informações preciosas para os usuários desta biblioteca”. Maria Hilda de Medeiros Gondim - Biblioteca Central/UFPA – Belém – PA


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Texto: Alexandre Accioly Foto: Rony Ramos

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Onde piso, tem pedrinhas É chão encerado, tábua que atravessa o tempo É poeira perfumada É andar ensaiado, pisar pesado Subo com cuidado, ato-me ao ar das alturas Desço correndo, sem medo de derrubar a sombra Onde piso deixo impressões sentimentais Sem desmanchar as mechas Sem quebrar o capacete Ando a tempo de me lembrar: Onde piso tem ferro, cimento e barro Tem um carinho desconhecido E passo a passo me envolvo em proteção E me perco por detrás das unhas pintadas

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