corrente contínua Ano XXXI - Nº 226 - Maio/Junho -2009
A REVISTA DA ELETRONORTE
Entre o lago e o rio, as maiores eclusas do Brasil
Eletronorte
TECNOLOGIA
Eclusas de Tucuruí, obra monumental por onde vão passar 40 milhões de toneladas de carga por ano
O desafio da transmissão em longas distâncias
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RESPONSABILIDADE SOCIAL
MEIO AMBIENTE Você pode ser o dono da água Página 10
Salão do Livro consolida Tucuruí como centro cultural Página 51
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CORRENTE ALTERNADA Grandes barragens, grandes ideias Página 57
AMAZÔNIA E NÓS
ENERGIA ATIVA No caminho da linha de transmissão, a pré-história de Mato Grosso
Nas asas do ‘Passarim do Jalapão’
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CIRCUITO INTERNO
Byron de Quevedo
Saudades do Guamá. A história de 30 anos do GIT
SISTEMA ELETROBRÁS
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CORREIO CONTÍNUO Página 66
Rondônia reescreve a história do Setor Elétrico
FOTOLEGENDA
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corrente contínua SCN - Quadra 06 - Conjunto A Bloco B - Sala 305 - Entrada Norte 2 CEP: 70.716-901 Asa Norte - Brasília - DF. Fones: (61) 3429 6146/ 6164 e-mail: imprensa@eletronorte.gov.br site: www.eletronorte.gov.br
Prêmios 1998/2001/2003
Eclusas de Tucuruí, obra monumental por onde vão passar 40 milhões de toneladas de carga por ano
Diretoria Executiva: Diretor-Presidente - Jorge Palmeira - Diretor de Planejamento e Engenharia - Adhemar Palocci - Diretor de Produção e Comercialização - Wady Charone - Diretor Econômico-Financeiro - Antonio Barra - Diretor de Gestão Corporativa – Tito Cardoso - Coordenação de Comunicação Empresarial: Isabel Cristina Moraes Ferreira - Gerência de Imprensa: Alexandre Accioly - Equipe de Jornalismo: Alexandre Accioly (DRT 1342-DF) - Bruna Maria Netto (DRT 8997-DF) - Byron de Quevedo (DRT 7566-DF) - César Fechine (DRT 9838-DF) - Érica Neiva (DRT 2347-BA) - Márcia Oliveira (DRT 1116 – MT). - Michele Silveira (DRT 11298- RS) - Rose Dayanne Santana Nogueira (DRT 525-TO) - Assessorias de Comunicação das unidades regionais - Fotografia: Alexandre Mourão - Roberto Francisco - Rony Ramos - Assessorias de Comunicação das unidades regionais - Revisão: Cleide Passos - Arte gráfica: Jorge Ribeiro - Foto da capa: Roberto Francisco - Arte da contracapa: Sandro Santana e Samuel Pereira - Impressão: Brasília Artes Gráficas - Tiragem: 10 mil exemplares - Periodicidade: bimestral
“Quem vê a estrutura fica embasbacado com seu gigantismo. Do alto, só é possível divisar caminhões e guindastes – os operários, de tão minúsculos, perdem-se na paisagem. Com dois tanques de 210 metros de comprimento, 33 de largura e 45 de altura, as eclusas permitirão o transporte por barco de 40 milhões de toneladas de carga por ano”. Assim, o repórter da revista Veja (07/06/2009), Leonardo Coutinho, descreve “um feito magnífico”, que são as eclusas da Usina Hidrelétrica Tucuruí. Eclusas são sempre extraordinárias, pois são feitas para resolver situações extraordinárias, tornando navegáveis mananciais aquíferos interrompidos por acidentes geográficos ou pela ação do homem, como é o caso dos barramentos. As eclusas de Tucuruí, com o seu canal em fase final de construção, restabelecerão a navegação no Rio Tocantins completando um arranjo paisagístico e arquitetônico surpreendente. Em meados da década de 1970, antes da construção da primeira ensecadeira da Hidrelétrica, a alternativa de transporte ao avião
era a longa viagem de barco que alcançava Marabá, a montante, e Belém, a jusante da pequena cidade de Tucuruí. A viagem durava dias ou horas, conforme o destino e o tipo de embarcação. Os trilhos da Estrada de Ferro Tocantins só serviam aos colhedores de castanhas e pequenos comerciantes da região. Eram apenas 117 quilômetros de extensão e ligavam Tucuruí a Jatobal, também na margem esquerda do Tocantins. A ferrovia foi criada para evitar justamente o encachoeiramento de Itabocas – onde seria construída a usina –, que no meio daquele trajeto impedia a navegação. Para passageiros e cargas, o único trem da E.F.Tocantins corria por uma estrada que teve relevância no ciclo da castanha, pois seu objetivo era desviar as corredeiras. O restante do percurso, inclusive o de carga e passageiros, era feito por embarcações. Quando da concepção da Usina, teoricamente, as eclusas seriam posicionadas na margem direita da barragem. Não se sabia se era indicado fazê-las para um desnível de 70 metros. No entanto, a solução foi posicioná-las na margem esquerda, mais rica em rochas. O Código das Águas determina que a entidade que interromper os fluxos de
Fotos: Roberto Francisco
Linhão Norte Sul I, uma história que percorre o Tocantins e o Brasil há uma década
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TRANSMISSÃO
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GERAÇÃO
sumário
GERAÇÃO
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água deverá criar alternativa de se transpor a interrupção. No caso de Tucuruí, todo o complexo hidrelétrico ficou sob a responsabilidade do Ministério de Minas e Energia, por intermédio da Eletronorte; e a transposição a cargo do Ministério dos Transportes, primeiro por meio da Portobrás, e hoje pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes – Dnit. De 1981 a 2005, a construção das eclusas teve recomeços e paralisações constantes, por força de determinações legais ou falta de liberação de recursos. Em dezembro de 2006 foi assinado o convênio de delegação da continuidade das obras pelo Dnit à Eletronorte. Em 2007 foi assinado mais um termo entre o Dnit, Eletronorte e a Camargo Corrêa S.A. As obras civis foram retomadas e encontram-se a todo vapor – mais de 90% já executadas -, e com o cronograma físico, financeiro e de indenizações em dia. Para o coordenador de Obras de Expansão da Geração da Eletronorte, Humberto Gama, optou-se pela solução mais cara, pois foi necessário incorporar 500 km² de área inundada na bacia do igarapé Caraipé. “As eclusas causaram a realocação do canteiro de obras e escritórios da empreiteira, porém sem paralisar as operações. Não havia definição sobre quem era responsável por sua construção. Então, a Eletronorte arcou com a responsabilidade ao longo dos anos. A usina tem 25 anos de operação. Nos últimos três anos o Governo Federal incluiu as eclusas no Programa de Aceleração do Crescimento - PAC e pretende inaugurá-las em março de 2010”, afirma.
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Números de junho de 2009: Eclusa1 - 94% Canal - 84% Eclusa 2 - 72%
Grandiosidade - Eclusas são um conjunto de tanques para elevar ou baixar embarcações entre níveis diferentes. As de Tucuruí estão entre as maiores do mundo e são as maiores do Brasil, feitas em duas etapas, transpondo desníveis de 33 metros cada uma. O orçamento para o período 2007/2010 é de R$ 807,8 milhões. As eclusas permitirão a passagem de um comboio de quatro chatas por elevação ou descida. Os tanques medem 33 m de largura, por 210 de comprimento, com 44,5 m de altura. Eles têm capacidade para dar passagem a 40 milhões de toneladas de cargas por ano. Para se ter uma ideia, as cinco eclusas da Usina Três Gargantas, com 125 m de altura, a maior do mundo, em Hubei, na China, tem capacidade de transportar 37,6 milhões de toneladas/ano em cargas. A navegação de cabotagem, no Brasil, é feita com navios costeiros de até 40 mil toneladas. Nas eclusas de Tucuruí, o calado regular para embarcações tipo barcaças, também chamadas ‘chatas’, é de 3,5 metros. Nas cheias pode haver passagem para navios maiores. O tempo de ultrapassagem dos comboios de jusante a montante ou vice e versa será de uma hora. Com a entrada na primeira eclusa, navegarão impulsionados por um rebocador pelos 5,5 km do canal intermediário e chegarão à segunda eclusa. O tempo de enchimento ou esvaziamento das câmaras será de 14 minutos. O canal permite comboios se deslocando em direções opostas A capacidade máxima será de 24 comboios nas duas direções por dia. São 16 eclusagens, ou 32 passagens de comboios, diariamente.
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As caixas das eclusas e o canal são enchidos mediante a ação da gravidade. Não há bombas para enchê-las, apenas abrem-se as válvulas. O gerente de Obras de Construção das Eclusas de Tucuruí, Júlio S. Schwartz (abaixo), afirma que a opção pelo método de funcionamento mecânico foi acertada. “O tamanho das eclusas também foi adequado, pois apenas uma comporta do vertedouro de Tucuruí jorra mais água num dia do que todas as eclusagens juntas. O DNIT sugeriu que a Eletronorte fique responsável pela operação de todo o sistema, mas há a possibilidade que ela venha a ser gerida pelo próprio Departamento ou pela Administração das Hidrovias da Amazônia Oriental - Ahimor. A marinha brasileira decidirá sobre a condução dos rebocadores no canal, que poderá ser uma solução operacional, seja por um prático, ou pelo próprio operador das embarcações. Riqueza - A região naquela parte do Estado do Pará é rica em minérios, principalmente em Carajás. A ferrovia que atende à exploração mineral já está com sua capacidade de carga no limite. Uma nova siderúrgica já está sendo instalada em Barcarena, próximo a Belém. O transporte de minério dessa região deverá ser feito por hidrovia, que transportará também a produção de grãos do Centro-Oeste, Tocantins, Mato Grosso e sul do Pará. Ela aumentará a capacidade brasileira de competir em mercados no exterior e vai gerar uma economia de R$ 10 milhões por dia com combustíveis. Segundo Júlio S. Schwartz, a ferrovia foi construída para
transportar o minério até o porto de Itaqui, em São Luís (MA). “Acredito que poderá ser estabelecido um transporte intermodal para outros tipos de minérios, de maior valor agregado, e também para grãos e agroindústria das regiões Norte e Centro-Oeste”, declara. Segundo o diretor da Norberto Odebrecht para assuntos das eclusas, Fernando Barine, a carga de peso transportada a cada dia equivalerá a 800 carretas carregadas com 25 toneladas. “Ainda estaremos retirando veículos das estradas, o que diminuirá a quantidade de acidentes, a manutenção de pistas, pontes e veículos, e consequentemente reduzindo o consumo de pneus, peças sobressalentes e
combustíveis. Isto ajudará a retirar gás carbono da atmosfera. Se comparado ao consumo dos veículos, via rodovia, o consumo das barcaças é irrisório, inclusive porque combustíveis alternativos poderão ser usados”, analisa. Barine (abaixo), comenta ainda o vínculo das obras com a região do entorno. “Temos aqui programas sociais de grandes dimensões. O nosso objetivo é construir um bem valioso para a humanidade. Participamos de algo grandioso, uma obra excelente. Em virtude das soluções desenvol-
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A carga de peso transportada a cada dia equivalerá a 800 carretas carregadas com 25 toneladas
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Grandiosidade nas obras vidas aqui, vários países da América do Sul civis e nas e África estão interessados em nossa tecnopeças logia”. metálicas
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Indenizações - Na região de Tucuruí, e graças à Hidrelétrica, a maior parte dos problemas fundiários já está resolvida. Em relação às eclusas, a situação atual (maio/2009) mostra que dos 362 processos da área urbana, 319 já estão pagos, um encontra-se em fase de negociação e 42 esperam por decisão judicial. Na área rural estão concluídos os 190 processos. Apenas para desapropriações, o orçamento da obra prevê R$ 10,9 milhões. Segundo o superintendente de Expansão da Geração da Eletronorte, Luiz Fernando Rufato, “a Empresa é confundida com o próprio Estado. De certa forma procede, desde que obrigações como erradicação de palafitas, esgoto, pavimentação e outras de infraestrutura básica sejam repassadas para os órgãos competentes. Mas estamos aprendendo muito e em futuros empreendimentos buscaremos a integração de todos para resolver os proble-
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mas. Quando se consegue fazer as lideranças sociais atuarem no espaço que conhecem não há reivindicações futuras”. As negociações com a comunidade e os movimentos sociais se deram a partir de 2007 e desde então, mesmo com o canteiro de obras sofrendo constantes ocupações irregulares, a Eletronorte tem cumprido todos os compromissos assumidos, inclusive aqueles que não são da sua alçada institucional, negociando e providenciando desde materiais de construção e cestas básicas, até a implantação de projetos sociais de produção agroindustrial. As eclusas de Tucuruí estão quase prontas. Em breve, esse espetacular sistema de transposição, que não terá qualquer influência sobre o regime de águas do Tocantins, mas sem dúvida transformará o rio, permitindo ao longo e magnífico curso d’água tornar-se uma importante rota comercial e turística, atendendo a um anseio que vem sendo exaustivamente expressado por autoridades paraenses e populações ribeirinhas. Quando estiverem operando, estarão naturalmente integradas à nova e deslumbrante paisagem de Tucuruí.
Eclusas estão sempre belas e inusitadas. A Roda de Falkirk (ao lado) é o trecho final na renovação do sistema de canais da Escócia, que permite a passagem de barcos entre dois canais do Primeiro Estuário para o Estuário de Clyde. A diferença de altura entre os dois canais é de 35 m. Antes, 11 comportas permitiam alcançar os diferentes níveis. Quando os canais foram reformados, a solução foi construir uma roda com berços para quatro barcos de 20 m de comprimento. Enquanto um lote afunda, mais dois podem ser erguidos ao mesmo tempo. A travessia leva 15 minutos. Já na Alemanha, em Magoeburg, a solução para permitir a passagem do Rio Elba para o Rio Mitteliandkanai, foi fazer um conjunto de eclusas em vários níveis, para baixar ou suspender as embarcações, a eclusa Wasserstrassenkreuz. Construiu-se uma hidrovia elevada de 918 por 228 metros, permitindo que os rios passassem um sobre o outro. Ainda na Alemanha, no Rio Reno, há várias eclusas para transpor desníveis de cinco ou dez metros. A maioria dessas eclusas é desvinculada da questão energética. O Canal do Panamá (ao lado), com 82 quilômetros de extensão, cortando o istmo do Panamá e ligando o Oceano Atlântico ao Pacífico, com dois grupos de eclusas, serviu de inspiração para o canal e as eclusas de Tucuruí. No lado do Atlântico, as portas maciças de aço das eclusas triplas de Gatún, com 21 metros de altura e pesando 745 toneladas cada uma, são tão bem contrabalançadas que um motor de 30 kW é suficiente para abri-las e fechá-las. O Lago Gatún, que fica a 26 metros acima do nível do mar, é alimentado pelo Rio Chagres, local onde foi construída uma barragem para a formação do lago. De Gatún, o canal passa pela falha de Gaillard e desce em direção ao Pacífico, primeiramente através de um conjunto de eclusas em Pedro Miguel, no lago Miraflores, a 16,5 metros acima do nível do mar; e depois, através de um conjunto duplo de eclusas em Miraflores. As eclusas são duplas e os barcos, dirigidos por aparelhos ferroviários, navegam nas duas direções. Uma curiosidade: o lado do Pacífico é 24 cm mais alto do que o lado do Atlântico.
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Eclusas pelo mundo
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Desafio para o Poder Público e sociedade é incrementar os instrumentos de participação das comunidades
Quem mora no Lago Sul, em Brasília (DF), convive com uma triste realidade: o bairro nobre da cidade tem um gasto médio de água por pessoa, de mil litros de água por dia. É um recorde de desperdício de água por habitante. E essa realidade não é privilégio da capital. O consumo médio diário de água por pessoa nos grandes centros urbanos brasileiros varia entre 250 a 400 litros, mais que o dobro do considerado ideal pela Organização das Nações Unidas – ONU, fixado em 110 l/dia. Mas não é só o desperdício que pauta a questão da água no Brasil. Quem vive em Belém, no Pará, precisa conviver com outro índice pouco lisonjeiro: 87% de seus moradores ainda não têm saneamento básico. Em Manaus esse índice chega a 89%. Em São Paulo, 70% da poluição das águas são de origem doméstica e 30% de origem industrial. Longe de Brasília ou Belém, em países da África como a Namíbia, as pessoas precisam sobreviver com menos de um litro de água por dia. E se o assunto for saneamento básico os índices de atendimento não ultrapassam os 35% da população. Ainda que pareça óbvio associar uso racional, qualidade da água e saneamento básico numa mesma pauta, nem sempre essa é uma realidade. É nesse contexto que nos últimos dez anos surge uma temática cada vez mais presente nos debates ambientais: a gestão de recursos hídricos. No Brasil, a Lei 9.433, de 8 de janeiro de 1997, instituiu a Política Nacional de Recursos Hídricos - PNRH e criou o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos. No primeiro artigo, dois incisos podem fazer a diferença: a água é um bem de domínio público; e a gestão dos recursos hídricos deve ser descentralizada e contar com a participação do Poder Público, dos usuários e das comunidades. Mais do que um dispositivo legal, os fundamentos da PNRH sinalizam um caminho para garantir a preservação e o uso racional dos recursos hídricos. “A implantação da gestão de recursos hídricos é um processo de mudanças de paradigmas sociais, inclusive da relação das pessoas com os corpos d’água. Certamente esse processo não acontece de um dia para o outro, mas o Brasil já avançou muito na questão e, nos últimos dez anos, tivemos progressos significativos. Um dos fatores dessa evolução foi o grau de consciência da população, que cada vez mais percebe a
Quantos
necessidade do uso sustentável dos recursos litros você hídricos”, afirma o diretor do Departamento gasta no de Revitalização de Bacias Hidrográficas do banho? Ministério do Meio Ambiente, Julio Thadeu Kettelhut. Comitês participativos - A participação das comunidades na PNRH está garantida por meio da criação dos comitês de bacia, que são instâncias deliberativas regionais, instaladas nas unidades de planejamento e gestão - as bacias hidrográficas -, e funcionam como espaço de articulação entre as diversas partes interessadas no uso e proteção dos recursos hídricos locais. Os comitês podem ter um total de membros variável, desde que respeitada a proporcionalidade entre os setores: até 40% de representantes dos poderes públicos; 40% de representantes de setores usuários das águas e pelo menos 20% de representantes da sociedade civil. Na opinião de Kettelhut, um dos diferenciais dos comitês é o fato de que eles fazem
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Você pode ser o dono da água Foto: Alexandre Accioly
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MEIO AMBIENTE
Michele Silveira
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parte de um aparato legal que garante caráter mais formal e normativo às decisões tomadas. “Um comitê é constituído a partir do momento em que determinada comunidade sente a necessidade de implantar um fórum que permita a discussão dos problemas relacionados ao rio. Esses comitês podem ser estaduais ou federais e aos poderes públicos cabe o papel de incentivar a criação dos comitês. Se a comunidade não identificar a necessidade de criação desse fórum, ele poderia até ser criado, mas, fatalmente, não teria sucesso”, explica. Entre as competências básicas de um comitê estão arbitrar conflitos de uso de recursos hídricos; aprovar e acompanhar a execução do plano de recursos hídricos da bacia hidrográfica; propor aos conselhos nacional e estaduais os usos insignificantes a serem isentos da obrigatoriedade de outorga pelo direito de uso da água; e propor valores e estabelecer mecanismos para a cobrança pelo uso da água. Kettelhut lembra que o Brasil, com as dimensões e as diferenças regionais que possui, precisa considerar que existem demandas e disputas diferentes a serem discutidas pelos comitês. “Cada caso é um caso. Há uma diferença muito grande entre as bacias do Sudeste e as da Amazônia. Em São Paulo, por exemplo, temos rios com ação antrópica mais intensa, uma disputa mais acirrada pelo uso dos recursos hídricos. Nos rios da bacia amazônica temos uma ação menos intensa, onde há pontos localizados, em geral próximos das cidades grandes, onde existem disputas re-
lacionadas ao uso urbano, mineração, entre outros motivos que podem originar a criação de um comitê”. De fato as diferenças são significativas: apesar da grande disponibilidade, a distribuição dos recursos hídricos no Brasil é bastante desigual em âmbito geográfico e populacional. Embora a Amazônia possua 74%
da disponibilidade de água, a bacia hidrográfica amazônica é habitada por menos de 5% da população brasileira. Desafios - Atualmente o Brasil tem oito comitês para rios federais e 152 em mananciais estaduais, que reúnem aproximadamente 15
mil pessoas. Mas existe espaço para 29 comitês federais e cerca de 400 estaduais. A expectativa, segundo Kettelhut, é que o País viva um incremento do número de comitês e, mais do que isso, um aumento na implantação dos instrumentos da Política Nacional de Recursos Hídricos, fundamentais para estabelecer uma
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Tudo o que é despejado no balde, é derramado nos rios
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A água tem preço?
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gestão sustentável. “Um dos desafios para chegarmos a esse cenário é que a sociedade conheça as políticas e saiba dessa possibilidade de participar efetivamente da gestão dos recursos hídricos. Precisamos difundir essa oportunidade”, afirma o diretor. Sobre os desafios do Poder Público para a consolidação da PNRH, Kettelhut cita a necessidade de aperfeiçoar ainda mais os instrumentos como os de outorga. “O plano de ação e a decisão de cobrança pelo uso da água, por exemplo, são decisões que dependem do comitê. Mas a outorga é uma função de Estado. Os órgãos estaduais e federais já evoluíram muito nessa questão nos últimos cinco anos, mas ainda podemos melhorar esse processo. Há estados que precisamos reforçar a infraestrutura institucional”. Outro desafio, segundo ele, é ampliar as ações de educação ambiental. “Quanto mais informação as pessoas tiverem, mais vão estar conscientes da necessidade do uso sustentável dos recursos hídricos”. De acordo com o relatório GEO Brasil Recursos Hídricos - publicado em 2007 pelo Ministério do Meio Ambiente, Agência Nacional de Águas - ANA e Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente – PNUD, a outorga é um ato administrativo pelo qual a autoridade outorgante concede ao outorgado o direito de
uso do recurso hídrico, seja para consumo final, seja como insumo de processo produtivo, por prazo determinado e de acordo com as condições expressas no ato. É um instrumento de competência da União, que tem como objetivo assegurar o controle quantitativo e qualitativo dos usos da água e o efetivo exercício dos direitos de acesso a esse tipo de recurso. A competência para emissão das outorgas em águas de domínio da União é da ANA, que poderá delegá-la a estados e ao Distrito Federal. Até dezembro de 2004 mais de 95 mil outorgas já haviam sido emitidas no Brasil, sendo o maior número destinado ao consumo humano, e as maiores vazões outorgadas para a atividade da agricultura irrigada, que representa 60% das outorgas para captação. Usos múltiplos – É necessário ter essa visão da gestão dos recursos hídricos no Brasil para uma avaliação da importância dos usos múltiplos dos reservatórios de usinas hidrelétricas. O assunto foi um dos principais temas tratados no 23º Congresso Internacional sobre Grandes Barragens (ver matéria na página 57). A Política Nacional de Recursos Hídricos prevê que a gestão dos recursos hídricos deve sempre proporcionar o uso múltiplo das águas. Com relação à utilização de suas
águas, o Brasil registra retirada total de 1.568 m³/s para diferentes usos, ou 3,4% da vazão com 95% de garantia. Este volume equivale a 38 piscinas olímpicas por minuto. Desse total, cerca de 840 m³/s são efetivamente consumidos, não retornando às bacias hidrográficas. Uma das discussões mais recentes sobre sustentabilidade e geração hidráulica diz respeito à renovação das concessões que vencem em 2015, de diversas usinas hidrelétricas que somam cerca de 20% da capacidade
Pesquisa de campo, fundamental na gestão dos recursos hídricos
saneamento. A estimativa da ANA é que, quando todas as bacias nacionais forem instaladas, o valor arrecadado pode chegar a R$ 520 milhões por ano. Na tese apresentada pela engenheira Marilene de Oliveira Ramos Múrias dos Santos à Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, “O Impacto da Cobrança pelo Uso da Água no Comportamento do Usuário”, a cobrança pelo uso da água é analisada como instrumento econômico, modificando o comportamento do usuário e conferindo sustentabilidade financeira aos sistemas de gestão de recursos hídricos. Segundo a pesquisadora, como instrumento econômico, a cobrança deve sinalizar corretamente para a sociedade o uso dos recursos hídricos de forma racional atendendo aos princípios do desenvolvimento sustentável. Na pesquisa, Marilene alerta que, diante das diferenças regionais, é preciso que a aplicação da cobrança seja feita de forma bastante flexível de modo a sinalizar corretamente o uso racional e sustentável dos recursos nos diferentes cenários. Por outro lado, segundo a pesquisadora, a cobrança pelo uso da água introduz um custo que se reflete em toda a cadeia produtiva. “Mesmo que estes custos sejam inicialmente baixos, a inserção da economia brasileira num mercado global recomenda que sejam facilmente comparáveis nacional e internacionalmente. Esse princípio poderá aumentar a aceitabilidade da cobrança pelos setores usuários, entre eles indústrias e outras atividades econômicas que atuam em escala nacional ou até mesmo internacional”.
instalada do País. Dois técnicos renomados do setor, José Luiz Alquéres, presidente da Light; e Jerson Kelman, professor do Coppe/UFRJ e ex-diretor da ANA e da Aneel, têm sugerido aproveitar a oportunidade para administrar o uso dos rios de uma forma economicamente eficiente e ambientalmente sustentável. Eles propõem mudanças no arcabouço legal de forma a concentrar, numa única entidade, a responsabilidade de se utilizar os rios para usos múltiplos.
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Água de beber água de banhar, quem a terá no futuro?
Prevista desde o Código de Águas de 1934, a cobrança pelo uso da água passou a ser aplicada como instrumento de gestão com a Lei 9.433/97. Seu objetivo é reconhecer a água como bem econômico e dar ao usuário uma indicação de seu real valor, em função da quantidade e da qualidade existente e do uso a que se destina. Além disso, visa a incentivar a racionalização do uso da água, além de obter recursos financeiros para o financiamento de estudos, programas, projetos e obras incluídos nos planos de recursos hídricos, como também para as despesas de implantação e custeio dos órgãos que integram o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos. A Lei prevê que a cobrança seja sempre associada à outorga e que os recursos oriundos da cobrança sejam aplicados prioritariamente na bacia hidrográfica em que forem gerados. A competência para realizar a cobrança é do detentor do domínio do recurso hídrico, ou seja, da União e dos estados, diretamente por intermédio do órgão gestor dos recursos hídricos (ANA e entidades estaduais correlatas), ou indiretamente mediante o apoio de outros agentes por meio de um contrato de gestão. Considerado o instrumento de maior grau de complexidade em sua implantação, a cobrança pelo uso da água ainda não é uma realidade em todos os estados brasileiros. “A cobrança não é um imposto, e sim uma decisão do comitê de bacia. Temos dois comitês de bacias federais que já efetivaram a cobrança: o Paraíba do Sul, que envolve os estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro; e o Comitê Piracicaba Jundiaí Capivari, com a maior parte em São Paulo, mas com trechos em Minas Gerais. Os comitês definem se vão cobrar, e depois, quanto e como vão cobrar, além de decidir onde serão aplicados os recursos, que revertem integralmente para a região da bacia”, explica o diretor do Departamento de Revitalização de Bacias Hidrográficas do Ministério do Meio Ambiente, Julio Thadeu Kettelhut. Em 2008, apenas essas duas bacias arrecadaram R$ 25 milhões, principalmente de indústrias e empresas de
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“Água suja não pode ser lavada”
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Segundo Alquéres, o conhecimento atual dos rios brasileiros já permite dividir o País em cerca de 50 a 60 conjuntos de bacias ou sub-bacias hidrográficas, bacias estas que poderiam englobar potenciais hidrelétricos desenvolvidos ou a desenvolver. “A preserva-
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Todo o lixo vai para o igarapé...
mações do ano anterior, e apresentará um diagnóstico da área com dados, estatísticas, avanços, retrocessos e recursos investidos. De acordo com o levantamento, a situação da qualidade da água no Brasil varia conforme a região. Na região amazônica é considerada excelente, pois mesmo que haja alguma poluição pontual acaba sendo diluída no grande volume de água. As regiões mais industrializadas e urbanizadas são as mais afetadas. O Índice de Qualidade da Água (IQA), apurado em 2006, mostrou uma condição óti-
ção da qualidade das nossas águas, do nosso ambiente e a utilização consciente do nosso potencial hidrelétrico é uma das maiores vantagens competitivas do Brasil. Nenhum país do nosso porte possui um grau de emissões de CO² tão baixo por unidade de PIB. E isso
...mas os banhos na mesma água continuam habituais
ma em 9% dos pontos avaliados no Brasil, boa em 70%, razoável em 14%, ruim em 5% e péssima em 2%. Ainda em março deste ano, durante as comemorações do Dia Mundial da Água, o 5º Fórum Mundial da Água, realizado em Istambul, na Turquia, reuniu aproximadamente 28 mil delegados de 182 países. A divulgação do 3º Relatório das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Mundial dos Recursos Hídricos mostrou que o acesso a serviços como água potável e saneamento básico continua inadequado na maior parte dos países em desen-
se deve à predominância das hidrelétricas em nossa matriz, o que vem sendo degradado continuamente com a proliferação de térmicas além do razoável, decorrente dos entraves no licenciamento ambiental das hidrelétricas. O fato de as concessões serem por
volvimento. Segundo o documento, se o cenário atual for mantido, até 2030 cerca de cinco bilhões de pessoas, ou seja, 67% da população mundial, vão continuar sem esgotamento sanitário. O Relatório também aponta que mais de um bilhão de pessoas não têm acesso à água de boa qualidade e 2,5 bilhões não dispõem de redes de coleta de esgotos. E o principal impacto dessa situação é observado na saúde. Segundo a própria ONU, quase 80% das doenças em países em desenvolvimento estão associadas à qualidade da água e causam cerca de três milhões de mortes por dia.
bacia facilitaria os licenciamentos ambientais também por bacia, que é uma sugestão de Jerson Kelman, o que representaria um notável ganho para viabilidade do atual e todos os futuros PACs do Brasil”, defende. Num cenário que precisa aliar desenvolvimento e sustentabilidade ambiental, a questão dos usos múltiplos das águas deixa de ser um dispositivo legal e passa a assumir função estratégica na consolidação de uma gestão responsável dos recursos hídricos. Segundo Kelman, em algumas bacias amazônicas, como a do Teles Pires (MT), por exemplo, a materialização da proposta significaria a escolha por licitação de um concessionário da bacia que teria a responsabilidade de construir de uma só vez todas as usinas hidrelétricas e as respectivas eclusas. Assim, estaria assegurado, além da produção de eletricidade, o escoamento por via fluvial de milhões de toneladas de cargas. A opinião dos dois parece representar um consenso: é preciso preservar a qualidade das águas, do ambiente e utilizar conscientemente nosso potencial hidrelétrico.
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O título é um provérbio africano citado pelo professor Armando Mendes na abertura do seminário internacional “Problemática do uso local e global da água da Amazônia”, realizado em 2003 na Universidade Federal do Pará - UFPA. Há seis anos a discussão pautava a afirmação da pesquisadora Bertha Becker, do departamento de Geografia da UFRJ: “A água está rareando em todo planeta, a ponto de lhe serem atribuídos um valor similar ao do petróleo no século XX”. O fato é que em menos de dez anos o tema saiu das salas de pesquisa e, felizmente, ganhou um olhar das políticas públicas e da sociedade. No lançamento da primeira edição do Relatório de Conjuntura dos Recursos Hídricos no Brasil – 2009, realizado em março deste ano, o presidente da Agência Nacional da Águas - ANA, José Machado, disse que o País é referência mundial em gestão de recursos hídricos e elogiou a legislação e o modelo de gestão, segundo ele, extremamente modernos e adequados às nossas dimensões continentais. Mas não deixou de dizer também que o Brasil começou tarde: a Lei Nacional das Águas, que estabeleceu diretrizes e instrumentos para a gestão das águas brasileiras, por exemplo, foi criada apenas em 1997. O Relatório, que está disponível na página da ANA na internet (www.ana. gov.br), será produzido anualmente, sempre com infor-
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Rose Dayanne Santana
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Até 1999, o Brasil possuía vários sistemas elétricos desconectados, o que impossibilitava uma operação eficiente das bacias hidrográficas regionais e da transmissão de energia elétrica entre as principais usinas geradoras. Somente após a construção do primeiro circuito do chamado Linhão Norte-Sul, foi possível instituir o Sistema Interligado Nacional – SIN, que integrou os sistemas Norte-Nordeste e Sul-Sudeste-Centro-Oeste. Em Tocantins, o Li nhão, com mais dois circuitos em operação, representa muito mais que um elo nacional, mas reflete a importância fundamental da eletricidade no desenvolvimento socioeconômico. Essa história tem dez anos, mas começou muito antes. Marcado por lutas, principalmente no que diz respeito à autonomia constitucional, o povo tocantinense primava pelo desgarramento cultural, histórico e político do Estado de Goiás, extinguindo-se o que era conhecido como o ‘nortão goiano’. Situamo-nos no ano de 1988, quando, por meio da Carta Constitucional desse mesmo ano, o Estado do Tocantins (que herdou o nome de um dos rios mais extensos e ricos do País) conquistou sua autonomia, direitos e deveres, mas também sérios problemas sociais. Das riquezas, aquelas legadas por Deus: solo fértil, água em abundância e um grande potencial energético. De acordo com Júnior Batista do Nascimento, professor, membro do Instituto CenogConorte e autor do livro Tocantins: História e Geografia; dos 60 municípios que o estado possuía no ano de sua criação, apenas 40% tinham acesso à energia, por meio de geradores à base de óleo diesel. O fornecimento elétrico era frágil e instável. “A energia falhava muito, ficavam-se horas sem energia. Nas cidades
atendidas pelos geradores havia horário para ter luz em casa e também mobilizações para que os aparelhos eletrodomésticos não fossem ligados à noite, de modo a não sobrecarregar o gerador que atendia à escola da cidade”, conta Nascimento (acima). O mais novo estado da Federação, com sua capital planejada, Palmas, localizada à margem direita do Rio Tocantins, passava a despertar os sonhos de muitos brasileiros, que a exemplo da “sociedade em movimento” da década de 1950 (nordestinos rumo a São Paulo e Rio de Janeiro), migravam para o meio norte brasileiro. Pessoas vindas principalmente das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, em busca de emprego, moradia e uma vida melhor. De acordo com a Secretaria de Planejamento do Estado, em 1991 o Tocantins contava com uma população total estimada em 919,3 mil habitantes. O crescimento de cidades como Araguaína, Gurupi, Porto Nacional, Paraíso e Miracema do Tocantins, as maiores, somava à demanda cada vez maior por energia elétrica confiável. Após a criação de Palmas, em 1989, o crescimento populacional foi significativo, chegando, em 1996, a somar mais de um milhão de habitantes, o que exigiu fortes investimentos em educação, saúde, transporte, moradia, saneamento básico e também no setor elétrico. Chega o Linhão - Dez anos após a autonomia constituída, os tocantinenses começam a ver outro sonho realizado. “A chegada da Eletronorte abriu um leque de oportunidades. Com a interligação energética vieram outras expectativas, principalmente quanto ao desenvolvimento da região e a consolidação de um abastecimento elétrico confiável”, conta João Batista Martins Teixeira, empregado da Eletronorte há dez anos.
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TRANSMISSÃO
Linhão Norte Sul I, uma história que percorre o Tocantins e o Brasil há uma década
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A história de João
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na região começou ainda na década de 1970, quando empreendeu um levantamento pioneiro do potencial hidrelétrico da Bacia Araguaia/ Tocantins, que resultou na construção das usinas hidrelétricas Tucuruí, Luis Eduardo Magalhães, Peixe Angical, Serra da Mesa e Canabrava. Depois, junto com Furnas, a Eletronorte construiu o primeiro circuito do Linhão em 500 kV, partindo de Imperatriz (MA) e chegando em Brasília (DF). Foi um recorde de tempo de construção, 11 meses, entre fevereiro de 1998 e março de 1999. “O Linhão mudou a história desse estado e do País. Percebemos significativamente a estabilidade do fornecimento de energia elétrica, pôde-se investir mais em educação, saúde, construção civil, comércio”, ressalta Júnior Batista do Nascimento. De acordo com o professor, a mortalidade infantil foi reduzida, comparandose o ano de 1998, que registrou um índice de 33,3 crianças mortas por 1.000 nascidas vivas, contra 27,3 em 2007. A taxa de analfabetismo diminuiu de 21,9%, em 1998, para 14,21 %, em 2007.
Conforme dados da Rede Energia/Celtins – empresa responsável pela distribuição de energia elétrica no estado desde 1989 – em 1999 apenas seis municípios tocantinenses utilizavam geradores a diesel como fonte de energia: Lizarda, Mateiros, São Felix do Tocantins, Centenário, Recursolândia e Santa Maria. Em 2001, todos os municípios já estavam interligados à rede de distribuição estadual. Também segundo a Companhia, em 1998, a frequência equivalente de interrupção por unidade consumidora (FEC) era de 96,3 vezes, com duração equivalente de interrupção por unidade (DEC) de 77,3 horas. No ano de 2008, os índices diminuíram significativamente, para uma FEC de apenas 33,9 vezes, com DEC de 46,0 horas. Joaquim Guedes Coelho Filho (à esquerda), diretor de Projetos Especiais da Rede/ Celtins, credita esses índices aos investimentos feitos nas linhas em 138 kV e no sistema de distribuição, somados ao ponto de suprimento possibilitado após a Interligação Norte Sul I. O diretor aponta a importância nacional do Linhão, uma vez que possibilita o tráfego de energia de ponta a ponta do País e interfere no contexto regional. “Foi uma das obras mais importantes para a consolidação do SIN, que permite uma melhor operacionalidade no suprimento de energia. Já no Tocantins, veio acrescentar mais um ponto de suprimento, principalmente para a região de Palmas e Mi-
racema, garantindo maior confiabilidade no fornecimento”, explica. Palmas foi o município que mais cresceu em consumo de energia elétrica. Em 1998, o consumo medido em KWh de 122.836.128, pulou para 295.344.278 KWh, em 2008, um crescimento de 140%. Desenvolvimento - O Tocantins vem crescendo a olhos vistos. Conforme a Secretaria de Indústria e Comércio do Estado, o aumento populacional apresentou um salto de 41,9%, de 1999 para 2005, enquanto a média nacional foi de 26,3% no mesmo período. O estado também oferece condições ideais a novos empreendimentos, a começar pela posição geográfica centralizada, disponibilidade de recursos hídricos, potencial energético e mineral,
críticas, inscreveu-se no certame, foi classificado, e após a aprovação no curso de formação, efetivou-se em dezembro de 1999, como eletricista de linha de transmissão. “A Eletronorte, na época, era vista pelas pessoas que trabalhavam na construção e eram da região, como uma empresa inalcançável. Não se imaginavam entrando na Empresa. Quando eu disse que tinha feito a inscrição no concurso, os meus colegas riram de mim, fui motivo de críticas e chacota. Eles diziam que eu iria jogar dinheiro fora. Para os meus colegas, o fato de trabalhar na construção e ser da região jamais me proporcionaria uma chance de entrar numa empresa como a Eletronorte”, lembra João Batista. Há dez anos na Empresa, João conta que realizou um sonho de infância: “Os meus horizontes se ampliaram, pude me capacitar e consegui também me graduar em engenharia civil. Para quem trabalhou como eu trabalhei em construção civil, a formação de engenheiro é o grau mais almejado”. Atualmente, João está se especializando em engenharia de segurança do trabalho. Uma das suas expectativas para o futuro: “Se tiver mais um concurso público para engenheiro civil na Eletronorte, pode ter certeza que serei um dos concorrentes!”. Estamos certos que também será um dos classificados. oferta de mão de obra, clima e solo favoráveis ao setor produtivo. No entanto, apesar das riquezas geográficas, a disponibilidade de um sistema elétrico é fator decisório para a instalação de um empreendimento. “Antes de investir em uma região, o empresário realiza pesquisas de mercado para saber se a região é compatível com o investimento e nesse caso o fator energia elétrica é decisivo”, conta o empresário César Moreira de Moraes. Há 12 anos em Tocantins, o goiano fixou moradia em Miracema e investiu no segmento de construção civil. Moraes via a região como um solo de oportunidades, mas precisava de investimento. Assim que inaugurou sua loja, no ano de 1997, o empresário afirma que passava por
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Palmas, A Eletronorte instala-se no Tocantins, com símbolo do crescimento sede na cidade de Miracema, no dia 24 de econômico julho de 1998, mas a presença da Empresa estadual
“Tá vendo aquela subestação ali, eu também trabalhei lá!”, parafraseia João Batista Martins Teixeira, os trechos da música ‘Cidadão’, mostrando a Subestação Miracema, uma obra que há pouco mais de dez anos ele ajudou a construir. Ao contrário do transeunte, – retratado na letra de Lúcio Barbosa e eternizado na voz de Zé Geraldo – a entrada de João não é proibida na obra que ele ajudou a levantar, tem acesso livre não só à Subestação, mas a todas as instalações da Eletronorte e a todos os benefícios oferecidos pela Empresa. De servente de obras ao cargo efetivo de eletricista de linha, orgulhoso com a magnitude que o empreendimento conquistou no decorrer dos anos, João Batista afirma que a chegada da Eletronorte ao Estado do Tocantins e a Interligação Norte Sul I proporcionaram desenvolvimento para a região e mudou a vida de muita gente, até mesmo a dele. Rapaz sonhador, tocantinense, daqueles ‘nascidos e criados’ no cerrado brasileiro, João viu sua vida mudar a partir do ano de 1998, quando trabalhou como servente na construção da Subestação Miracema. No auge dos seus 18 anos, morava em Miracema do Tocantins, e afirma que a vinda da Eletronorte para a cidade foi um divisor de águas em sua vida. “Antes da Empresa, as minhas expectativas eram restritas, até porque não tínhamos indústrias e nem empresas grandes. Quando começou a construção da Subestação e da linha de transmissão, o cenário mudou. Tivemos mais expectativas de empregos, melhoria no comércio. Foi quando comecei a trabalhar como servente na obra”, relembra. Ciente da importância do empreendimento para o cenário nacional, João queria mais. Dos 400 homens que trabalharam na construção da Subestação, ele foi o único a passar no concurso público realizado pela Eletronorte em 1998. Taxado de louco pelos colegas e em meio a muitas
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ENERGIA ATIVA
No caminho da linha de transmissão, a pré-história de Mato Grosso Márcia Oliveira Milhares de anos separam o homem da pedra lascada daquele que hoje dispõe dos grandes inventos contemporâneos de alta tecnologia. Mas uma ciência, a arqueologia, tem o poder de aproximá-los. E foi atuando no plano básico de controle e monitoramento ambiental para a construção da linha de transmissão Juba/Jauru, em Mato Grosso, que a arqueóloga Suzana Hirooka descobriu 2.654 materiais arqueológicos entre líticos (pedra lascada), pedaços de cerâmica e um crânio de criança, que ela acredita, podem ajudar a reconstituir a pré-história ou a história de sete municípios do sudoeste de Mato Grosso. As pedras lascadas são associadas ao estilo de vida do homem caçador-coletor que viveu no final do período pleistoceno - 1,8 milhão a 11 mil anos atrás - e a cerâmica ao homem agricultor, que viveu há três mil anos. As peças foram resgatadas em 11 sítios arqueológicos, um lítico e dez cerâmicos, identificados ao longo dos 159 quilômetros que cruzam os municípios de Barra do Bugres, Salto do Céu, Figueirópolis, Indiavaí, Araputanga, Jauru e Reserva do Cabaçal, por onde passam as linhas da Brasnorte Transmissora de Energia, Sociedade de Propósito Específico – SPE, da qual a Eletronorte detém 45% de participação. O material foi encaminhado para análise laboratorial com a qual se pretende identificar a datação. Depois, com o auxílio de estudos etnográficos e pesquisas antropológicas, será possível caracterizar a vida do homem que deixou esses vestígios. Uma primeira tentativa, com o método do Carbono – 14 foi feita, mas em função da acidez da terra,
o átomo do elemento não foi encontrado nas peças, explica a arqueóloga. Mas as pesquisas continuam com o uso de outras técnicas e, caso não seja possível datar com métodos laboratoriais, existe a alternativa de encontrar sítios datados que tenham o mesmo tipo de material e por similaridade, caracterizá-los. Até o final deste ano Suzana acredita que terá todos os elementos para dizer se os vestígios são de homens pré-históricos ou históricos, período a partir da chegada dos europeus ao Brasil. O homem em questão pode ser o primeiro, e se for esse o caso, pode ter tido um estilo de vida seminômade, tendo que buscar a sobrevivência num ambiente hostil, com animais gigantes como mastodontes, preguiças de três metros de altura e tatus do tamanho de fuscas. Tudo isso em áreas de savana, que hoje conhecemos como cerrado, e floresta, num ambiente de temperatura seca e até sete graus mais baixa que a atual. A outra possibilidade, de serem materiais deixados pelo homem histórico, leva a arqueóloga a supor que as peças tenham pertencido aos índios bororos do ocidente, ocupantes da região do Vale do Jauru até o final do século XIX, quando os registros históricos dizem que eles foram extintos em função da chegada do homem branco a partir de 1762. “Trabalho com as duas hipóteses porque encontrei material lítico e um crânio, enterrado de forma diversa da usada pelos bororos. E Mato Grosso é um dos estados onde foi registrada a segunda datação mais antiga da presença do homem, há 25 mil anos. Logo, não posso descartar a presença do homem pré-histórico naquela região. Também não posso desconsiderar que os materiais sejam dos índios bororo, que viveram ali e podem ter adotado a vida de agricultores”.
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Manutenção de qualidade garante a confiabilidade do sistema
algumas situações constrangedoras devido à instabilidade do fornecimento de energia elétrica. “Na época, se eu tivesse condição, teria instalado um gerador a diesel para utilizar no comércio e em casa. Às vezes estava atendendo um cliente e no meio de uma venda faltava energia, interrompia o sistema e prejudicava a compra. Era preciso torcer para não comprometer também os equipamentos”, lembra. Atualmente, Moraes (acima, atendendo a uma cliente) expandiu o seu negócio e conta com mais quatro filiais, três em outras cidades tocantinenses e uma em Goiás. A economia tocantinense vem se destacando no cenário econômico nacional. No período de 2002 a 2006, o Tocantins apresentou um crescimento acumulado em volume do Produto Interno Bruto (PIB) de 32,3%. Em 2002, o PIB foi de R$ 5,6 milhões e em 2006 atingiu R$ 9,6 milhões, agregando à economia R$ 4 milhões. O setor industrial foi o que mais expandiu, acumulando no mesmo período um volume de 41,04%, e ficando à frente dos setores de serviço (27,41%) e agropecuário (26,23%). Esse desempenho deve-se aos constantes investimentos em construção civil, como por exemplo, usinas hidrelétricas, ferrovias e edificações públicas e privadas.
Potência energética – Nos últimos anos, o Tocantins passou da condição de importador de energia para de exportador em potencial. Por meio do Linhão, a energia gerada nas usinas Lajeado e Peixe é despachada pelo SIN. Junto com PCHs a geração chega a uma média anual de 8,4 GWh, dos quais aproximadamente 16,03% ficam no estado, o restante entra no sistema interligado. A Interligação Norte-Sul I, com 1.277 km de extensão é um dos mais modernos sistemas de fornecimento de energia do mundo. São 3.015 torres, cada uma com 30 metros de altura e a distância média entre elas é de 400 metros, na tensão 500 kV, e capacidade de transmissão de 1.100 MW. No Tocantins são 392 km de linhas e 930 torres, seguindo a BR-153 (Belém-Brasília) por 23 municípios. A Eletronorte possui duas subestações, nas cidades de Colinas e Miracema do Tocantins, ambas em 500 kV. É na Subestação Miracema que a energia é rebaixada para 138 kV e entregue à Rede/Celtins. “A interligação que se faz em nosso estado é fator decisivo para viabilizar as futuras usinas do Rio Tocantins, pois possibilita a redução do custo da integração dessas usinas ao sistema de transmissão nacional. Ressalte-se ainda o desenvolvimento da região durante a implantação do empreendimento, com geração de empregos e aumento na demanda de bens e serviços, além de garantir maior confiabilidade, qualidade e continuidade no serviço ao consumidor, sendo até hoje a principal fonte de energia elétrica estadual”, analisa Paulo Cezar de Oliveira, gerente da Divisão de Transmissão da Eletronorte no Tocantins (à direita). De acordo com Paulo Cezar, os estudos de planejamento demonstraram que a interconexão desses sistemas proporcionaria ganhos energéticos significativos, decorrentes da diversidade hidrológica que permitiria uma operação mais eficiente dos reservatórios hidrelétricos. “Entre as ações avaliadas, concluiu-se que a construção de um elo entre os dois sistemas com capacidade de 1.100 MW permitiria a obtenção de um ganho energético de cerca de 600 MW médios anuais, com um custo em torno de US$ 15 para cada MWh adicional produzido”, conclui.
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Era do gelo - O registro histórico mais antigo da presença do homem em Mato Grosso ao qual Suzana se refere é o que foi encontrado no sítio arqueológico de Santa Elina, no município de Jangada, a 82 quilômetros da capital. Lá, na segunda metade da década de 1980, um grupo de cientistas brasileiros e franceses encontrou fragmentos de ossos de uma preguiça gigante e, no mesmo nível de escavação, 3,5 metros, coletaram três fragmentos de ossos de animais nos quais foram constatados cortes e polimentos que não fo-
ram moldados pela natureza. Assim, supõese, foram feitos por homens. “Os cientistas pesquisaram o lugar por 17 anos e sabiam que a descoberta provocaria polêmica, pois a teoria clássica, dos norte-americanos, afirma que as evidências mais antigas da presença do homem na América são de dez a 12 mil anos, quando teria ocorrido a última grande glaciação da Era do Gelo. No Estreito de Behring teria se formado uma ponte ligando a Ásia ao Alasca e assim iniciado a ocupação da América. Mas, no Brasil, já existem várias
evidências da presença do homem aqui antes disso”, explica Suzana. Ainda segundo a teoria clássica, o homem americano teria se originado de três ondas migratórias, a primeira seria de populações asiáticas, a segunda de povos denominados NaDene e a última de esquimós. Mas, o crânio de uma mulher, com datação de 11.500 anos, encontrado em escavações em Lagoa Santa (MG), foi apresentado à comunidade científica mundial, após ter sido reconstituído. E para a surpresa de todos, as feições de Luzia, como
foi batizada a primeira brasileira, apresentam traços muito mais próximos de grupos que habitavam a África e a Austrália, do que os dos asiáticos. Ou seja, ter encontrado esse vestígio no Brasil traz à tona a possibilidade de ter havido ao menos mais uma onda migratória para as Américas e isso teria ocorrido séculos antes de 12 mil anos, como propõe a teoria clássica. Controvérsias à parte, o que se sabe até agora é que o trecho por onde passa a linha Juba/ Jauru teve uma ocupação intensa de agricul-
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A arqueóloga Suzana Hirooka (ao lado) relata que durante toda a pesquisa a população demonstrou muita curiosidade e interesse pelos trabalhos científicos. “Quando nos viam fazendo os resgates queriam saber o que era aquilo e depois passaram a nos trazer parte de peças que eles haviam encontrado em suas propriedades. Alguns até tentavam reconstituir o que achavam, demonstrando o carinho e a importância que eles dão para esses achados. Essa relação com a comunidade é muito importante para percebermos que todos têm interesse em conhecer o seu passado, de onde viemos e como toda essa nossa história, ou pré-história, começou”, descreve. O trabalho de descobrir os segredos encravados na terra segue metodologias científicas, que podem ser divididas em três etapas de campo, numa junção do trabalho braçal e de pesquisa. Ele começa com o diagnóstico da área, trabalho que indicará se ali existe potencial arqueológico. “A maioria das áreas de Mato Grosso tem potencial, pois o País foi rico em populações indígenas dizimadas com a chegada dos portugueses. Se eram as populações indígenas que predominavam, onde elas estão hoje? Seus vestígios devem estar por todos os lados, pois eles eram vivos e muito presentes aqui. Logo, se não encontrarmos vestígios pré-históricos, com certeza teremos os históricos”, relata Suzana. O diagnóstico é rápido e pode demorar dois meses caso o arqueólogo desconheça a história, etnografia e pesquisas de ocupações recentes do local. Para auxiliar no diagnóstico é feita uma visita em campo no sentido de verificar a sedimentação do solo. “Como Mato Grosso tem um bom arquivo histórico e etnográfico, não encontramos problemas com isso. O próprio Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon, o Marechal Rondon, nos deixou muitos documentos que são fonte de pesquisa para qualquer área daqui. Já informações arqueológicas existem poucas, pois o primeiro arqueólogo a residir em Mato Grosso veio para cá na década de 1980, ou seja, esse tipo de estudo nessa região é muito recente”.
A busca pelos tesouros perdidos exige muita dedicação
Após o diagnóstico é hora de partir para a prospecção. É nessa etapa que o subsolo é verificado para que os pesquisadores se certifiquem da quantidade e qualidade dos sítios arqueológicos. O trabalho é feito com sondagens, em estratos da área pesquisada. “Fazemos buracos de 15 centímetros de diâmetro, com profundidades variadas de acordo com o potencial do terreno, com intervalos de cinco, dez e 50 metros de distância entre um
e outro. A distância é menor se o potencial é maior. Na região onde trabalhamos, identificamos sítios a 20 centímetros de profundidade e os máximos escavados foram de 60 cm. Já o tempo dos trabalhos depende da obra, do tamanho dela e do impacto na área”, explica. A última etapa é o resgate e salvamento das peças. É nesse momento que elas são retiradas com todo o cuidado possível para que não sejam danificadas. Depois, começam a limpeza, identificação e reconstituição das que podem ser reconstruídas, para que as teses sejam montadas. O trabalho do arqueólogo foi retratado no cinema com contornos aventureiros e cheio do sobrenatural com o
personagem de Indiana Jones, criado por Steven Spielberg e George Lucas. Nos filmes, Indiana tem que enfrentar o mal para encontrar e proteger tesouros perdidos. Tirando as aventuras glamorosas e os objetos de atração que inspirou Indiana, todo arqueólogo tem a intenção de encontrar e proteger tesouros perdidos, mesmo que eles não sejam cidades como Eldorado e Atlântida, mas apenas um rudimentar instrumento de osso. “A arqueologia é a busca por fatos e não pela verdade. Se é a verdade que procuram, pode assistir à aula de filosofia do doutor Tyree, do outro lado do saguão”, disse o professor Indiana em um dos seus filmes. E nisso, ele tem razão, pois toda interpretação do passado baseada em fatos é sempre provisória.
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Trabalho braçal e de pesquisa
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Cerâmicas - A primeira avaliação da aparência das cerâmicas só foi possível porque a partir dos fragmentos coletados, a pesquisadora e sua equipe reconstituíram os vasilhames. “Nessa etapa, pedimos a ceramistas profissionais que, a partir das formas arqueológicas que levantamos, refizessem os vasilhames e acrescentassem um traço pessoal (fotos da
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Mantidos por ONGs, os museus atraem visitas escolares
até o início da década de 1980 considerado como o de datação mais antiga da presença do homem no Brasil, com elementos que remetem há 14 mil anos. Crânio - Quanto ao crânio encontrado nas escavações no trecho da linha Juba/Jauru (ao lado), que junto ao material lítico é tido por Suzana como o principal indício da ocupação pré-histórica da região, Maria Clara avalia que pode ser mesmo um bom indício, já que os bororos, não os ocidentais, mas os da região, enterravam seus mortos em urnas
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tores. A interpretação é possível em função do volume de material encontrado, principalmente no município de Reserva do Cabaçal, onde o sítio que mais chamou a atenção da pesquisadora, apesar de não ser o mais densamente povoado, tem uma extensão de 600 metros. “Ali, os moradores usavam a terra para sustento de várias formas e percebemos, pela rede de sítios encontrados, que eles viviam em pequenas, médias e grandes aldeias. Outra coisa que identificamos é que existem dois tipos de cerâmica, uma mais grosseira e outra mais refinada, decorada e com padrão de modelagem. As peças mais grosseiras foram encontradas na Reserva do Cabaçal, e as mais refinadas já próximas ao município de Tangará da Serra”, relata a arqueóloga.
sequência). Agora temos as peças como supomos que fossem um dia quando estavam inteiras. O próximo passo é avaliar a argila, a inclinação, a temperatura de queima, as decorações, entre outras características das peças encontradas”. Independentemente do tipo de material que foi encontrado e das informações que ele pode reforçar ou elucidar, Suzana defende que os trabalhos de arqueologia desenvolvidos contribuem para a história do povo matogrossense. Ela avalia que os materiais encontrados podem até não ser relevantes para a discussão mundial sobre o mais antigo período de ocupação das Américas, mas é de extrema importância para a população local e do estado. “Com esse tipo de pesquisa temos a oportunidade de construir uma geração consciente, com padrão de conhecimento civilizado a respeito do próprio passado. Tem uma frase que gosto muito, e que diz ‘um país sem memória é muito mais que um país sem passado. É um país sem futuro’. Com o conhecimento do passado temos como planejar e fazer um futuro melhor, principalmente em relação ao meio ambiente”. Para a pesquisadora e doutora em arqueologia do Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - Iphan, Maria Clara Migliácio, a densidade de sítios encontrados no trecho da obra da Brasnorte é caracterizada como razoável. “A cada dez quilômetros a arqueóloga localizou um sítio, isso quer dizer que a região teve uma densidade ocupacional relevante e o local demonstra ser um campo importante para pesquisa”, avalia. Maria Clara diz que o Mato Grosso é um campo vasto para essas pesquisas por ter um extenso território e ser pouco explorado. Ela lembra que lá também está localizado o sítio Abrigo do Sol, localizado nos municípios de Comodoro e Nova Lacerda,
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Sala da Memória
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deixadas em cavernas, e não sob o solo. Posteriormente, eles teriam mudado o método em função da presença do homem branco. “Por perceberem que suas urnas estavam sendo violadas nas cavernas, os bororos passaram a colocar os corpos em cestos e a depositar esses cestos na água. Mas, como já disse, todos os vestígios que apontam a ocupação humana são interessantes para o conhecimento arqueológico e a datação dessas peças poderá tirar essas dúvidas”. O diretor da 18ª Sub-regional do Iphan, Claudio Quoos Conte, informa que em Mato Grosso existe hoje o registro de 700 sítios arqueológicos, o que não representaria 0,5% do potencial do estado. Ele afirma que o cadastro do órgão está desatualizado e que também existe uma subnotificação desses sítios, por falta de conhecimento da população e mesmo de investimento em pesquisas. A maioria dos estudos elaborada em Mato Grosso são
da mesma natureza do executado na obra de construção das linhas de transmissão Juba/ Jauru. São pagos pela empresa que executa o empreendimento como um pré-requisito legal, estabelecido na Lei 6.924/61 e regulamentado com uma portaria da década de 1980. “Os sítios arqueológicos são considerados pela Constituição como patrimônio da União e o órgão responsável por emitir as licenças de escavação e de análise, prospecção e resgate das peças somos nós. A lei estabelece que o estudo e resgate devem ser feitos sempre que um grande empreendimento tiver potencial de impactar esse patrimônio”, explica. Petroglifos - Conte informa que nos sítios já identificados foi encontrada uma infinidade de registros pré-históricos e históricos. Para contar um pouco sobre o passado de Mato Grosso existem pinturas rupestres, esculturas em pedras, os chamados petroglifos, os materiais líticos e cerâmicos associados a restos de ossos, alimentos, vestimentas, entre outros. Ele ressalta um sítio encontrado na região amazônica de Mato Grosso pela população, no município de Paranaíta. “Ali existe um afloramento rochoso, no meio da floresta, numa área de sete hectares, que é o que chamamos de petroglifo. É um atrativo turístico lindo, chamado de Pedra Preta de Paranaíta. São desenhos esculpidos na pedra que formam um curioso sítio”. Conte admite que faltam pesquisas de natureza acadêmica, o oposto das pesquisas de empreendimentos, já que as primeiras não têm prazo para começar nem terminar e têm como único foco o aprofundamento do conhecimento. Mas ressalta que as de empreendimentos, tais como o da Brasnor-
te Transmissora de Energia, são de extrema importância, lembrando que elas estão sendo feitas com maior intensidade e, consequentemente, contribuindo com o conhecimento do passado. Outra limitação é a ausência de um museu com estrutura para expor os materiais encontrados. Para se ter um exemplo de como essa limitação tolhe a proximidade da população com as descobertas, basta citar que os materiais mais significativos já encontrados no estado estão hoje com os pesquisadores da Universidade de São Paulo - USP, que inte-
Acervo conservado é a meta
mas nem por isso ficar apenas em seus limites. A população precisa conhecer e dar mais importância a esses valores e incluo nesse grupo os próprios empresários. Eles devem entender quais são os retornos do bom relacionamento que esses investimentos culturais trazem. Muitos de nós desconhecemos. Acredito que a iniciativa de criar a Sala da Memória aproxima a população de empresas como a nossa, cuja distância é uma constante mais prejudicial que positiva. E vejo essa como uma forma de se construir, também, a responsabilidade social”, declara. gram o grupo franco-brasileiro que pesquisa no sítio Santa Elina. “Como não temos um lugar para expor, eles são os fiéis depositários de tudo que encontraram ali. O que temos hoje são organizações não-governamentais que criaram pequenos espaços de exposição e figuram como nossos fiéis depositários. Nessa categoria temos dois espaços em Cuiabá, o Museu de Pré-História Casa Dom Aquino, coordenado pela ONG Instituto de Ecossistemas e Populações Tradicionais Ecoss; e o Museu Homem Brasileiro, coordenado pela ONG Instituto Homem Brasileiro”, informa Conte.
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Peças recolhidas nos sítios arqueológicos ficam expostos à população
A empresa que contratou a pesquisa arqueológica, a Brasnorte Transmissora de Energia, já sabe o que fazer com o material encontrado para disseminar o conhecimento e as descobertas. A intenção é, a partir de uma parceria com a prefeitura de Reserva do Cabaçal, município onde foi identificada a maioria dos sítios, montar uma Sala da Memória. Os materiais serão expostos em vitrines com a identificação das peças, para que a população local as conheça. “Além disso, pretendemos que os moradores dos outros municípios também tenham acesso a essas informações. A partir de apresentações, mostras, eventos culturais, feiras e exposições escolares serão mostrados esses achados. Vamos buscar parcerias para viabilizar a divulgação das descobertas, já que no estado não tem um espaço para centralizar o material”, afirma o diretor Técnico da Brasnorte, Sebastião Caetano Belém (acima). Para Belém, situar as peças numa espécie de museu é uma forma de devolver à comunidade local um pouco de identidade. Ele garante que após conhecer as informações e dados apontados com a pesquisa arqueológica, passou a enxergar a comunidade de outra forma, a ter identificação e um respeito maior. “Apesar de trabalhar em outros empreendimentos em Mato Grosso eu não sou daqui e não conhecia a história dessas cidades, e ao ter contato com o povo dessas regiões, percebemos que eles sabem de suas histórias, de suas origens e nisso também sou beneficiado. Vamos ficar por 30 anos nesse trecho, que é o tempo de concessão para explorar essas linhas, temos que saber a história dos lugares. E com as pesquisas, eles, os moradores, também saberão mais sobre o passado de suas terras”. O diretor lembra que a prospecção e o resgate das peças encontradas nos trechos da linha são obrigações legais, mas afirma que, como responsável pelo empreendimento, encontrou uma forma de se articular com a classe política local para ampliar o campo de divulgação do conhecimento. “Temos de cumprir as regras legais,
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A história de 30 anos do GIT Érica Neiva “Adeus ó meu Pará/Eu dessa terra vou me ausentar/Vou lá pra Bahia, vou lá pra Bahia/ Eu vou viver, vou estudar/Adeus boa gente de Belém/Que tantas alegrias todos têm/Adeus meu Pará/Saudades vou levar do pessoal lá do Guamá”. Música de despedida. Canto de saudade de um lugar, de pessoas, de uma cultura que por certo tempo pôde ser guardado apenas na lembrança. No bairro do Guamá, cidade de Belém (PA), nasceu Marino da Silva Neves. Há 30 anos ele fez essa música ao deixar sua cidade natal rumo ao centro de treinamento da Companhia Hidro-Elétrica do São Francisco – Chesf, em Paulo Afonso; momento em que passou a fazer parte do Grupo de Intercâmbio Técnico - GIT nº 04/78. Técnico em Eletrônica, recém-saído da Escola Técnica Federal do Pará, Marino participou, em janeiro de 1979, aos 23 anos, do
processo seletivo que visou a capacitar e suprir de mão de obra os sistemas de transmissão associados às usinas hidrelétricas Tucuruí – subestações Miramar, Utinga, Guamá, Vila do Conde, Marabá e Imperatriz – e Couto Magalhães – subestações Coxipó, Rondonópolis e Couto Magalhães, pertencentes à Eletronorte. O recrutamento reuniu mais de quatro mil pessoas e selecionou 237 jovens nos estados do Pará, Mato Grosso e Goiás. Em março de 1979, Marino fez a sua primeira viagem de avião rumo ao Centro de Treinamento da Chesf. Era um dos 16 eletrotécnicos que fizeram o curso na área de comando e controle. “Por meio do GIT fiz a minha primeira viagem e tive o meu primeiro emprego. Inicialmente fomos para a Chesf, onde fizemos o curso de manutenção de subestação e o primeiro estágio prático. Numa segunda etapa fomos para o centro da Companhia Energética de São Paulo – Cesp, em Ilha Solteira, onde
realizamos o curso de proteção de sistema de geração e transmissão, e também estagiamos. Ao terminar o curso fui para Tucuruí, onde trabalhei durante oito anos. Em 1988 vim para Brasília”, relembra. Hoje, ele viaja sempre à Subestação Marabá, no Pará, onde trabalha na modernização dos equipamentos de proteção e controle, mas, no tempo livre, ainda compõe músicas e toca violão. Ao terminar as atividades do GIT, Marino fez uma música de despedida: “Adeus eu vou voltar/Eu vou voltar lá para o Pará, eu vou/Adeus boa gente da Bahia/Eu agradeço pela sua companhia/Adeus escolinha lá da Chesf,/Pois era onde estudava com alegria/ Adeus companheiro e amigos/Muito obrigado pelas suas amizades/Eu vou embora, mas eu volto qualquer dia/E todos juntos vou sentir muitas saudades/Adeus Paulo Afonso adeus/ Muito em breve eu volto aqui”.
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GIT - O GIT foi um mecanismo criado pela Eletrobrás para ser utilizado sempre que o Sistema precisasse de um esforço conjunto
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“Adeus escolinha lá da Chesf, muito obrigado pelas amizades”
das empresas para atuar em aspectos fundamentais como treinamentos, equipamentos, relações humanas. Assim, formava-se o grupo de intercâmbio, numerando-o. Em 1978, a Eletrobrás criou o GIT nº 04/78 para capacitar a mão de obra que a Eletronorte precisaria na área-fim, que era operar e manter sistemas de geração e transmissão no Pará e Mato Grosso. Naquele período, o engenheiro de Operação da Eletrobrás, João Roberto Rodrigues (abaixo), passou a fazer parte do GIT e o seu papel foi manter intercâmbio com todos os centros de treinamentos que recebiam os ‘gitianos’. “A Eletrobrás tinha um sistema de capacitação muito intensivo nas empresas do sistema de energia elétrica. Ela dava suporte a toda questão de treinamento. Havia grande sensibilização e uma série de programas para a formação dos seus técnicos”, esclarece João. Uma das coisas que chamou a atenção dele foi a determinação das pessoas que trabalhavam na Eletronorte. “Viajava muito todo o Brasil, de Norte a Sul. Quando fui à primeira vez na Eletronorte fiquei surpreso. Era uma Empresa muito jovem com um desafio muito grande - construir Tucuruí e os sistemas associados. O GIT veio para preencher essa necessidade de uma forma muito profissional, programada e planejada em todos os sentidos. Ficava surpreso em ver a qualidade e a motivação das pessoas. Acredito que esse foi o melhor programa de formação das empresas do Sistema Eletrobrás. Tive muita honra em participar do projeto”, frisa João.
Marino, hoje, e na época de ‘gitiano’, o primeiro à esquerda, tocando violão
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CIRCUITO INTERNO
Saudades do Guamá
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dos processos - aspectos técnicos de recrutamento, seleção e treinamento -, e produzia os instrumentos necessários à coordenação, controle e avaliação, mantendo permanente sistema de acompanhamento dos treinandos e programas orientativos de visitas técnicas. Por sua vez, a Coordenação Administrativa, feita por Carlos Walfrido de Campos Monteiro, equacionava formas de pagamento de pessoal em treinamento, preparava solicitações, verificava a consecução dos pagamentos previstos, coordenava férias e frequencia. e história nova, pessoas diferentes em termos de origem e etnia. Para mim foi uma descoberta. Nos 42 anos de Setor Elétrico, diria que foi a vivência mais gratificante em termos de resultados, desde o processo de recrutamento até o momento em que aquelas pessoas passaram a trabalhar na Eletronorte, tornando-se excelentes profissionais. A maioria teve sucesso em todos os aspectos. Foi um crescimento não apenas profissional, mas social, pessoal e financeiro. A própria oportunidade que tiveram de sair do Pará e ter contato com outras regiões do Brasil foi muito valiosa”, rememora. O projeto teve ainda duas outras coordenações. A coordenação Técnica, sob responsabilidade de Waldo Vieira do Nascimento, preparava cronogramas relativos a todas as etapas
Centros de treinamento – O processo seletivo realizado pela Eletronorte recrutou as seguintes categorias profissionais – despachantes de carga (12), supervisor de Operação (cinco), operador de subestação e usina (106), eletricista de linha de transmissão (48), técnicos em eletrotécnica (16), eletrônica (40) e mecânica (dez). A distribuição destes treinandos nos centros de treinamento dependia da especialidade de cada um. Cada categoria tinha um cronograma a ser cumprido. Coube à Eletrobrás avaliar e selecionar os centros de treinamento de Furnas; da Chesf, em Paulo Afonso (BA); de Formação e Aperfeiçoamento da Celesc (SC), utilizado também pela Eletrosul; da Cemig (MG), em Sete Lagoas; da Cesp e da CPFL, em Ilha Solteira (SP). Em complementação aos cursos, os treinandos participaram de estágios em instalações de porte similares às da Eletronorte, visando vivenciar situações semelhantes às que se deparariam em seus locais de traba-
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Experiência de vida – O processo que selecionou os 237 ‘gitianos’ não priorizou pessoas da Região Norte por acaso. Para o coordenador-geral do GIT, Leonardo Govastki, (ao centro, atualmente, e como coordenador do GIT) a contratação do pessoal ocorria nos próprios locais de trabalho para facilitar o recrutamento, a seleção e a retenção quando estivessem em atividade. “Poderíamos buscar a retenção desse pessoal em outras regiões, mas as peculiaridades sociais, econômicas e geográficas não favoreciam a vinda desses profissionais para a Região Norte”, destaca. A maioria dos jovens saiu das escolas técnicas federais do Pará, Mato Grosso e Goiânia. A primeira função de Leonardo ao chegar à Eletronorte, em 1978, foi coordenar o GIT. Ele atuou na parte técnica e na de apoio administrativo. Apesar dos 31 anos transcorridos, ele se lembra até hoje da felicidade dos jovens que saíram principalmente de Belém em busca de uma vida melhor. “Eram muito jovens, a maioria sem nenhuma experiência profissional. Para muitos era o primeiro emprego e eles se agarraram à oportunidade com todo entusiasmo e intensidade, pois vislumbravam que a Eletronorte seria uma grande Empresa. Depositaram fé e esperança no projeto. Acertamos em termos do processo, apesar de termos selecionado pessoas sem nenhuma experiência”, avalia. Para o paulista Leonardo, que nunca tinha saído do seu estado antes de trabalhar na Eletronorte, a experiência do GIT foi, sobretudo, uma grande descoberta. “Foi uma experiência de vida fabulosa. Primeiro, nova cultura
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Amizade – Além da formação profissional, os centros de treinamento foram locais de verdadeiras e belas histórias de amizade não apenas entre treinandos, mas também entre estes e os instrutores. Como exemplo, temos o ex-instrutor de treinamento da Cesp e hoje coordenador de treinamento da Eletronorte, Orlando Benedito Zarlenga. Na época do GIT, Zarlenga tinha 30 anos e se lembra que a aproximação com os ‘gitianos’ deu-se, principalmente, por serem todos jovens. “Entroseime com o pessoal desse grupo, até pela nossa juventude e pelo fato de estarem distante da terra natal. Eram todos ‘meninos’. As amizades foram muito fortes. Houve uma interação muito grande”, relembra. Realmente, a interação entre eles foi tão grande que, ao serem finalizadas as atividades do GIT, o instrutor viajou com os treinandos para conhecer Belém. “O nosso vínculo tornou- se mais forte quando viajei para Belém e pude conhecer suas famílias. Empolguei-me com aquilo. Fiquei 15 dias na casa de um deles e o pai, Sr. Raimundo, foi muito gentil. Recebeu-me de braços abertos, de uma forma abnegada. Ali tive uma lição – eles faziam as coisas não esperando recompensas, mas, sim, de coração aberto. Mantenho contato até hoje. Sei onde a maioria deles se encontra. Há treinandos que, ao viajar, não me deixam ficar em hotel. Quando chego, já estão me esperando no aeroporto”, alegra-se Zarlenga. Quando o instrutor saiu da Cesp, em 1987, poderia ter se aposentado depois de seis anos. No entanto, sua ida a Belém, anteriormente, fez-lhe parar de pensar na aposentadoria e o motivou a vir para a Eletronorte. “Cheguei à Eletronorte em 1987. Sempre falo das oportunidades que a Empresa nos dá. Tenho duas grandes paixões – a Eletronorte e a Cesp. Aqui me realizei na área de educação e treinamento. Hoje ministro e coordeno cursos técnicos de manutenção e operação. Creio que a base para os futuros treinamentos foi o GIT. É muito gratificante saber que fizemos parte de um pouquinho do crescimento dos treinandos e podemos contar com a colaboração deles nas diversas atividades da Empresa”, frisa. Tempos de datilografia – Em 27 de novembro de 1978, com 22 anos, o auxiliar administrativo do GIT e hoje analista de Planejamento, Vitor Rodrigues Homem, entrou na Eletronorte. Naquele período, a Empresa era uma uni-
Tucuruí recebeu a maioria dos ‘gitianos’ Ao encerrar o projeto GIT nº 04/78, a maioria dos treinandos, 182 deles, encaminharam-se para Tucuruí, onde iriam operar e manter os sistemas de transmissão e geração do Pará. Como o sistema de transmissão ficou pronto em 1981 e a Usina, em 1984, parte dos ‘gitianos’ foi para algumas instalações que a Eletronorte havia encampado, como as usinas térmicas Miramar e Tapanã. O engenheiro eletricista Delcídio Amaral (fotos), hoje senador (PT-MS), foi o primeiro gerente regional da Usina Hidrelétrica Tucuruí e teve a oportunidade de comandar os ‘gitianos’. “Comecei, primeiro, como chefe do núcleo pré-operacional de Tucuruí. Depois me transformei em gerente regional. O GIT foi uma das experiências mais exitosas que a Eletronorte teve. O resultado desse trabalho foi espetacular, não só dando embasamento técnico, profissional e pessoal para aquele novo time de jovens, como também promovendo experiências extraordinárias, principalmente nos estágios”, destaca Delcídio. Para ele, o GIT foi fundamental não apenas pela preparação de técnicos para Tucuruí, mas para todo o sistema de transmissão. “A Eletronorte era uma Empresa jovem. Nós, praticamente, passamos a operar e manter um dos sistemas mais complexos do Setor Elétrico brasileiro, por meio do trabalho de jovens. Jovens engenheiros, jovens técnicos, que muito contribuíram com a geração de bons profissionais que a Empresa formou. A Eletronorte sinalizou para toda uma região que era fundamental para o sucesso de qualquer projeto, de qualquer investimento, a qualificação da mão de obra”, conclui.
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Tenysson (acima) e Zarlenga (à direita), ressaltam a amizade e o aprendizado de vida
de inflexão para muita coisa, inclusive para a minha carreira profissional. Eu era o mais jovem coordenador de curso da Cespe. Tinha 25 anos. Atuávamos em todas as áreas – profissional, social e pessoal. Um dia recebemos a notícia que um primo muito próximo de um treinando, que estava trabalhando em campo, havia falecido. Ficamos indecisos sobre que decisão tomar, uma vez que a amizade entre os dois era muito grande. Infelizmente, como não dava tempo de viajar para o velório, tivemos que dar a notícia no dia seguinte, com mais calma. Isto tudo é riquíssimo, um aprendizado para a vida. De repente perceber que você dá aulas, coordena cursos, supervisiona o estágio, fica de olho se a pessoa recebeu o pagamento, atenta-se a questões cotidianas que não se referem apenas aos aspectos técnicos. É participar de uma transformação”, reflete.
Foto: Jornal do Senado
lho. A etapa final do treinamento foi constituída de cursos ‘on site’, ou seja, os treinandos voltavam para a Eletronorte a fim de conhecer especificamente o sistema, equipamentos e instalações onde iam trabalhar, os quais possibilitavam uma adequada integração dos empregados à Empresa. Eles acompanharam o final da montagem dos equipamentos e testes de comissionamento dos sistemas de Tucuruí, para onde se deslocaram 182 pessoas; e Couto Magalhães, com 55 técnicos. Todo o processo durou cerca de dois anos. O Centro de Treinamento da Cesp, em Ilha Solteira, recebeu 107 ‘gitianos’, dos quais 35 passaram também por, pelo menos, outro centro de treinamento, a exemplo de Marino que estudou na Chesf e Cesp. O coordenador dos cursos do GIT na Cesp, Tenysson de Matos Andrade, hoje na área de Suprimentos da Eletronorte, relembra a excelência do centro. “Eram 36 salas de aula, um auditório, pátio com postes para treinamento do pessoal de distribuição, torres para treinamento do pessoal de manutenção de linhas, alojamento com capacidade para 320 pessoas, restaurante com cozinha industrial, quatro ônibus para levar os treinandos do alojamento ao centro. Trabalhavam 110 pessoas apenas no treinamento, das quais 50 instrutores”, ressalta Tenysson. Em cada empresa havia uma coordenação que gerenciava a operacionalização do projeto e passava os dados para a Eletronorte. Para Tenysson, contudo, o papel da Empresa naquele momento não foi apenas formar um especialista. “O GIT foi um ponto
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‘Gitiano’ amadurece conhecimento e torna-se instrutor “Acordávamos por volta das 6h da manhã. Tomávamos café no refeitório. Depois nos deslocávamos para os ambientes de aprendizado – sala de aula convencional ou laboratórios. No período matutino, os cursos iniciavam-se às 7h30 e se encerravam às 12h. Após o almoço retornávamos para as aulas que terminavam às 17h30. A partir das 18h, os laboratórios de eletrônica, de circuitos elétricos e as salas de desenho eram liberados para que pudéssemos fazer nossas tarefas de pesquisa, experiências e simulações. Geralmente nos fins de semana tínhamos folgas, exceto nos dias em que nos deslocávamos para visitas técnicas em usinas ou subestações. Sábado pela manhã íamos ao comércio. Nos domingos aproveitávamos também para conhecer as praias de Florianópolis, uma vez que minha turma fez o curso de operação na subestação do Centro de Formação e Aperfeiçoamento da Celesc”. A rotina acima foi descrita pelo treinando do GIT e atualmente gerente de Divisão Administrativa da Regional de Transmissão do Pará, Carlos Olimpio Casseb Quebra (foto menor). “Toda minha formação aconteceu na Região Sul, nos estados de Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Paraná. É importante destacar a organização do centro de treinamento. Até então, não tive a oportunidade de conviver num centro de formação com aquela estrutura. O meu conceito de escola era aquele tradicional. Tive oportunidade de vivenciar situações práticas nunca imaginadas, pois o que eu via na escola técnica era muito modesto em relação ao que comecei a presenciar quando
iniciei minha formação no GIT. Para mim o maior impacto foi cultural, pois o local onde estudei está situado em uma região colonizada por europeus, fato que refletia nas características físicas das pessoas, seus sotaques, bem como na maneira de se comunicar, alimentar e até na questão dos horários. Lá as pessoas se recolhiam muito cedo, talvez pela influência do próprio clima”, analisa Carlos. Após terminar o curso, Carlos foi para as instalações que a Eletronorte havia encampado, como a Usina Térmica Miramar, em Belém, uma vez que o sistema de Tucuruí estava sendo construído. “Depois disso passamos a integrar as equipes a fim de acompanhar a fase final da construção e o início do comissionamento das instalações onde iríamos operar. Em 1984, fui compor a equipe de operação de Tucuruí, que estava em fase final de construção”, recorda ele. No momento em que começou a fazer parte da equipe de supervisores de operação, Carlos e seu grupo tiveram a responsabilidade de não apenas estudar a Usina, mas também de repassar o conhecimento para um grupo de operadores que estava sendo preparado. Essa foi a primeira experiência como instrutor e perdura até hoje. “Passamos a fazer parte do corpo de instrutores dos operadores. Foi um curso de três meses. Foi a minha primeira experiência como instrutor na Eletronorte. De lá pra cá não parei mais de trabalhar com instrutoria não apenas na área operacional, mas também comportamental, pois depois de alguns anos me tornei psicólogo. Para mim é uma realização. Ensinar sempre foi uma área de meu interesse. Hoje também atuo como professor fora da Empresa”, afirma.
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Vitor não esquece a máquina de datilografia, e os ‘gitianos’ (abaixo) não esquecem de sua história
dade pequena e ficava em Brasília no Palácio do Rádio, Asa Sul. Ele fez parte do grupo de apoio administrativo. Na década de 70, não havia as facilidades atuais na área de informatização e nos processos administrativos. Ao Vitor cabia datilografar toda a documentação dos treinandos. “Era muito exaustivo, pois naquela época não tínhamos o computador. Tudo era datilografado. Era muito trabalho para poucas pessoas. Acompanhávamos todos os locais onde os ‘gitianos’ faziam os cursos e estágios, pois realizávamos transferências dos pagamentos, enviávamos as correspondências, fazíamos o controle das viagens. Tudo era feito usando a máquina de datilografia”, recorda Vitor. Ele não tinha um contato direto com os treinandos, mas de tanto datilografar o nome deles nas mudanças que faziam para diferentes partes do Brasil, desde o Nordeste até a Região Sul, recorda dos nomes de muitos deles. “Manuseava o nome dessas pessoas praticamente todos os dias. Todos eram jovens com sonhos, expectativas, receios e medos, saindo de uma vida tranquila para lugares onde as oportunidades fervilhavam. Apesar de tudo, sabemos que a escolha foi bem feita. Foi um casamento bem sucedido entre a Eletronorte e os ‘gitianos’”.
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Eletronorte e empresas do Sistema Eletrobrás constroem empreendimentos fundamentais Bruna Maria Netto
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Final da década de 50: o então governador do Estado de Rondônia, Paulo Nunes Leal, adquire uma turbina a vapor de 1.300 kVA e um conjunto de fôrmas para a fabricação de postes de concreto destinados à rede de distribuição da capital, Porto Velho. Ali começavam os investimentos no setor
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elétrico do estado. Final da primeira década do século XXI: Rondônia é palco para Eletronorte, Furnas, Eletrosul e Chesf erguerem a maior linha de transmissão do mundo, que distribuirá a energia elétrica gerada pelas usinas Jirau e Santo Antônio, no Rio Madeira, hidrelétricas que também contam com a participação do Sistema Eletrobrás. Juntas, protagonizam um fato inédito na história do Setor Elétrico brasileiro. A inovação se deve à atual configuração do Setor, que possibilita às empresas da holding atuarem em quaisquer áreas do território nacional em conjunto com empresas privadas, por meio de Sociedades de Propósito Específico – SPEs. Se 1960 foi o ano que ilustrou a crescente intervenção estatal no setor de energia elétrica - resultando na consolidação de empresas públicas- o ano de 2008 celebrou a solidificação do atual modelo do Setor Elétrico, com o arremate de lotes no leilão de transmissão do Madeira. O potencial hidrelétrico de Rondônia é, enfim, redescoberto. Antes de Jirau e Santo Antônio (fotos ao lado), uma hidrelétrica marcou a história de Rondônia e da Eletronorte, que surgiu justamente para alavancar o desenvolvimento energético na região. O relevo, o clima, a densa floresta, a extensão e dimensão dos rios além da baixa densidade populacional foram fatores marcantes na trajetória da Empresa. Enquanto as concessionárias atuantes nas demais regiões brasileiras puderam contar com uma rede básica de transportes, comunicações e serviços de saúde, a Eletronorte foi compelida a desenvolver soluções criativas para as condições de cada área e uma integração intensa e permanente com a sociedade, que marcaram toda a sua atuação na Amazônia. Além disso, sua criação representou um marco
importante no processo de consolidação da Eletrobrás como agente responsável pela execução da política governamental de energia elétrica no Brasil. Samuel - A Eletronorte apontava novas fronteiras para o desenvolvimento de grandes aproveitamentos hidrelétricos. O ano de chegada da Empresa em Porto Velho foi 1981, quando faltavam dez meses para Rondônia, até então território da União, tornar-se um dos estados brasileiros. Nessa época, com a instalação de sua unidade regional, a Empresa deu passos fundamentais para a sua afirmação no campo do planejamento e da operação de sistemas elétricos na Amazônia. Ainda em 1981, a Eletronorte iniciou a construção da Usina Hidrelétrica Samuel, no Rio Jamari. Os primeiros estudos de Samuel – nome herdado da cachoeira que serviu de base para a instalação da Usina - foram feitos pelo médico veterinário Ari Marcos, que governou Rondônia quando ainda era território da União. Ari percebeu que a Cachoeira de Samuel teria potencial elétrico. Após a criação da Eletrobrás, veio o Comitê dos Estudos Energéticos da Amazônia, o Ene-
A construção e operação de Samuel...
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SISTEMA ELETROBRÁS
Rondônia reescreve a história do Setor Elétrico
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...foi fundamental para sustentar a pujança econômica da região
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Eletronorte optou, em uma primeira etapa, pelo atendimento a Porto Velho e demais cidades do estado, por meio da implantação do aproveitamento em Cachoeira de Samuel, com cerca de 100 MW de capacidade instalada, operando na cota 80 m. Com o término da elaboração do projeto básico da Usina e a realização de um novo inventário do Rio Jamari, a montante do local previsto para a construção, e considerando o crescimento previsto para a região, viu-se que o aproveitamento era significativamente maior, com 216 MW de potência instalada. A construção da Usina iniciou-se em 1982. A entrada da primeira unidade geradora, com 43 MW, ocorreu em 15 de julho de 1989. Hoje, a energia elétrica gerada pela Hidrelétrica, que foi concebida inicialmente para suprir as cidades rondonienses de Guajará-Mirim, Ariquemes, Ji-Paraná, Pimenta Bueno, Vilhena, Abunã e Porto Velho, além de localidades em crescimento ao longo da BR-364, chega a 90% dos 52 municípios do estado e, desde 2002, passou a alimentar também a capital do Acre, Rio Branco. Vinte anos após sua construção, a Usina Hidrelétrica Samuel, marco no desenvolvimento econômico do Estado de Rondônia, passou a ser uma das principais atrações turísticas da região. Todos os anos, cerca de cinco mil pessoas visitam as instalações
de Samuel, que, somadas à energia gerada pela Usina Termelétrica Rio Madeira - de 90 MW - e à geração dos produtores independentes de energia, contabilizam 403 MW de potência instalada da Eletronorte em Porto Velho. Transmissão - Não é apenas com o Linhão do Madeira que a Eletronorte marca sua passagem por Rondônia na área de transmissão, longe disso. Desde sua chegada ao estado, a Empresa já construiu dez subestações transmissoras da energia da Hidrelétrica Samuel. A maior delas, Ji-Paraná, foi ampliada para, juntamente com a construção das subestações Pimenta Bueno e Vilhena, garantir um dos maiores empreendimentos no cone sul do estado: a linha de transmissão Ji-Paraná/Pimenta Bueno/ Vilhena, que permitirá a interligação dos estados do Acre e de Rondônia ao Sistema Interligado Nacional – SIN. As duas linhas de transmissão já energizadas percorrerão pelo menos 280 km interligando as subestações Ji-Paraná, Pimenta Bueno e Vilhena, beneficiando por volta de 207 mil pessoas daqueles municípios. Atualmente, o Estado de Rondônia conta com 1.187,89 quilômetros de linhas de transmis-
A Eletronorte construiu o sistema de transmissão Acre/Rodônia
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ram. Esse Comitê que iniciou efetivamente o reconhecimento do potencial energético da bacia hidrográfica amazônica e apoiou a realização de estudos de viabilidade do aproveitamento da Cachoeira de Samuel, com 54 MW de potência instalável, capaz de substituir integralmente a geração termelétrica na capital do então território, bem como atender à demanda local de energia por longo tempo. Com base no inventário de viabilidade, a
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A Eletrobrás e o Complexo do Madeira - A Eletronorte iniciou em 1983 o inventário hidrelétrico da Bacia do Rio Madeira em seu trecho nacional, a jusante da confluência do Rio Abunã, abrangendo uma área de aproximadamente 500 mil quilômetros quadrados. O inventário mostrou que os afluentes situados na margem direita do Madeira apresentavam considerável potencial energético apontando, porém, a possibilidade de aproveitamento apenas no trecho compreendido entre a foz do Abunã e a cidade de Porto Velho. Os estudos definiram a viabilidade de aproveitamentos hidrelétricos em dois pontos no trecho a jusante da bacia: um próximo à Vila de Tabajara e outro a jusante da foz do Rio Anari. Esse segundo ponto foi escolhido para a implantação da Usina Ji-Paraná, com potência final de 512 MW. Passados os anos, os estudos da Bacia do Rio Madeira foram ampliados e, 20 anos após o início do inventário feito pela Eletronorte, o Sistema Eletrobrás voltava ao local, por meio de Furnas, que estudou o Complexo do Madeira. De acordo com Furnas Centrais Elétricas, a Hidrelétrica Santo Antônio empregará até 20 mil trabalhadores diretos no seu momento auge. As turbinas utilizadas serão do tipo bulbo e cada uma terá capacidade de gerar 72 megawatts, num total de 3.150 MW. Já a Usina Hidrelétrica Jirau terá potência nominal de 3.300 MW, gerada por 44 turbinas, alimentando dez milhões de casas em todo o País. Com a construção de linhas de transmissão será possível o escoamento dessa energia em conexão com o Sistema Interligado Nacional – SIN. Em breve, o Linhão do Madeira inicia mais um capítulo da história de Rondônia, ligando a Região Norte definitivamente ao resto do País.
Como funcionava a disputa por empreendimentos em leilões antes do novo Sistema Eletrobrás? Airton - As empresas do Sistema Eletrobrás nunca disputaram entre si, ressalvada apenas para uma ocasião, quando houve uma disputa para estimular o leilão de Jirau e de Santo Antônio. Esse foi um caso excepcional, tanto que a direção do Sistema Eletrobrás oficializou a não disputa entre as empresas. A nossa política é atuar no sentido de buscar negócios de geração e transmissão. Vamos estar sempre participando, seja de forma isolada ou em parceria. Gribel - Não houve, na verdade, mudança substantiva nos procedimentos de Furnas diante da nova configuração do Sistema Eletrobrás. Nossa participação nos leilões de outorga de empreendimentos de geração e transmissão sempre foi previamente discutida e coordenada com a controladora que, em conjunto com as empresas do Sistema, definia quais os empreendimentos seriam disputados e por qual das controladas, assim como os parâmetros econômicos e societários básicos para os leilões. Mudou de alguma forma a visão da empresa com esse viés para empreendimentos em qualquer região do País? Airton - Nesse atual governo, que aprovou a parceria público-privada, foi o nicho de negócio que a Eletrosul, bem como as demais empresas da holding, achou um bom espaço para crescer no ramo de geração e transmissão, já que é uma parceria que reduz os investimentos do setor público em infraestrutura e solidifica o investimento em diversos empreendimentos. A Eletrosul, com a política do Sistema Eletrobrás, e o novo modelo do Setor Elétrico, é direcionada a participar de acordo com o melhor resultado para todo o Sistema. Gribel - Ampliou-se o espectro de parcerias potenciais, contemplando, inclusive, as empresas do Sistema Eletrobrás. Levamos às outras regiões as nossas experiências no trato das questões ambientais, mas sempre tendo em conta que cada região e cada empreendimento têm suas peculiaridades e contexto, que precisam ser identificados e respeitados.
Foto: Anísio Borges/Eletrosul
Da mesma forma que a Eletronorte levará o Linhão do Madeira até a cidade de Araraquara, em São Paulo, outras empresas do Sistema Eletrobrás estão unidas na expansão dos sistemas elétricos brasileiros. Responsáveis pelas hidrelétricas Jirau e Santo Antônio – em formação de SPE – o assistente da Diretoria de Construção de Furnas, João Batista Gribel, e Airton Araújo Silveira, assistente da Diretoria de Engenharia da Eletrosul, contam sua experiência.
Foto: arquivo Furnas
Furnas e Eletrosul contam suas experiências
João Gribel
De que forma foram feitos os ajustes para a formação das SPEs? Airton - Na verdade, qualquer participação da Eletrosul, seja de forma isolada ou em parceria, requer todos os atos legais. No que tange à participação em parceria, consideramos a Lei 10.848, que colocou o grupo Eletrobrás em condição de participar de forma minoritária. Internamente nós nos organizamos, com grupos coordenados pela Diretoria de Engenharia, com a participação das áreas financeira, jurídica, de engenharia de operação e manutenção, com vistas à formação de propostas e discussão do estabelecimento das parcerias com os sócios privados, tendo toda uma organização primando pelos cuidados e controle nesse tipo de sociedade. Gribel - Não houve nenhuma alteração relevante. Os parceiros são selecionados a partir de chamada pública com ampla divulgação e submetidos a critérios rigorosos de demonstração de saúde financeira e situação fiscal. Como regra geral os agentes privados são majoritários nas SPEs, caracterizando-se, dessa forma, uma empresa privada com participação minoritária do capital estatal. Quais as vantagens e desvantagens de atuar em leilões por meio de SPEs? Airton - A grande vantagem para nossas empresas, de estar participando de uma parceria com entes privados, é alavancar diversos empreendimentos em paralelo e isoladamente, que por muitas vezes encontram dificuldades por uma questão de restrição orçamentária ou financeira. A participação com ente privado permite no mínimo a fazer com que aquele capital trazido por ele nós não precisemos mais desembolsar, um item importante para relativas questões de garantias para o BNDES. O ente privado, pela sua própria condição de dar e captar garantias, tem mais facilidades junto aos agentes financiadores. Mas há momentos que, considerando a estratégia de um determinado negócio, é mais conveniente estar sozinho. A questão de estabelecer parceria ou ir a um leilão sozinho é uma questão de estratégia do Sistema Eletrobrás, até porque todas as decisões são tomadas em conjunto, sob a coordenação da holding.
Airton Araújo
Gribel - As parcerias virtuosas são aquelas que agregam capacitações distintas e complementares, existentes nas empresas que se associam em prol da nova sociedade que se cria. Isso traz maior competitividade, assim como traz mais confiança aos agentes, os privados em particular, em participar da expansão do sistema elétrico brasileiro. Muitos agentes privados sentemse mais seguros em participar dos leilões em companhia de empresas como as nossas, do Sistema Eletrobrás, pois sabem que agregamos efetivamente valor à parceria ao colocar nossa experiência em todo o ciclo de planejamento, projeto, construção, operação e manutenção, com vistas a uma participação técnica, ambiental e financeiramente consistente nos leilões. Houve alguma diferença nos estudos técnicos, financeiros e ambientais, na construção de empreendimentos na Amazônia em detrimento dos estudos que eram realizados anteriormente apenas na região geográfica? Airton - Qualquer leilão tem de primar pela boa prática da engenharia. Garantido os aspectos legais expressos no edital do leilão, a Eletrosul deve, enquanto empresa de engenharia, buscar o menor custo, e isso aderente à modicidade tarifária, que é a política do nosso Setor Elétrico atualmente, buscar a melhor solução para os projetos. Nesse sentido o projeto de Jirau, pelo seu porte, tanto financeiro quanto técnico, pelos aspectos ambientais e desafios da engenharia, surgiram soluções bastante inovadoras. Nós fomos muito felizes na parceria com as empresas Suez, Camargo Corrêa e Chesf, além da Leme Engenharia, quando desenvolvemos uma solução que permitiu darmos o grande deságio que demos no leilão. Gribel - Na área tradicional de atuação de Furnas, as regiões Sudeste e Centro-Oeste, há certo esgotamento dos potenciais hidrelétricos economicamente viáveis por explorar. Nossa aproximação com os potenciais do Rio Madeira, e o estudo de sua viabilidade, foi uma contribuição para a expansão da oferta de energia elétrica no País e, ao mesmo tempo, uma aposta no êxito de um enfoque totalmente distinto para a exploração dos potenciais amazônicos, com redução radical dos impactos ambientais frente às tecnologias tradicionais. Temos certeza que a usina de Santo Antônio será um marco na história do Sistema Elétrico brasileiro.
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são em 69 kV, 138 kV e 230 kV, e 1.787 MVA de capacidade de transformação. Além disso, a Eletronorte também realizou a ampliação de oito subestações de energia, levando energia de qualidade e segurança para os municípios de Rolim de Moura e da capital, Porto Velho, beneficiando mais 418 mil pessoas ao total. E os investimentos da Empresa não param por aí: ainda está prevista para este primeiro semestre de 2009 a ampliação da Subestação Abunã, em Porto Velho, além de mais ampliações a longo prazo nas subestações Ariquemes e Ji-Paraná.
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TECNOLOGIA
O desafio da transmissão em longas distâncias César Fechine
Atualmente, o único sistema de transmissão em operação em corrente contínua no Brasil é gerenciado por Furnas Centrais Elétricas, a partir da hidrelétrica binacional Itaipu, localizada no Rio Paraná (PR), fronteira do Brasil com o Paraguai. A primeira energização de uma subestação em corrente contínua desse sistema, ocorreu há 25 anos. Esse sistema, um projeto híbrido de corrente contínua e corrente alternada, proporciona uma Receita Anual Permitida – RAP de R$ 466,8 milhões à Itaipu Binacional e registrou, em 2007, um índice de disponibilidade de 99,9%. A produção de 18 das 20 unidades geradoras da hidrelétrica, cada uma com capacidade de 700 MW, é recebida por Furnas na Subestação Foz do Iguaçu (PR). Metade das turbinas tem frequência de 60 Hz, enquanto a outra metade opera em 50 Hz para atender ao sistema elétrico paraguaio, o que resultou na concepção de um sistema de transmissão híbrido.
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Foto: José Lins/Furnas
A temperatura é de dois graus negativos e a neve cobre as ruas da pequena cidade de Ludvika, na Suécia. Mas não é o fator tempo que chama a atenção do engenheiro Camilo Machado Júnior. Juntamente com os engenheiros Claudio Roth, Patrícia de Oliveira e Leonardo Rocha, Camilo integra uma das equipes formada por técnicos da Eletronorte e da Eletrosul que estuda o projeto básico da linha de transmissão e das subestações que vão atender ao Complexo do Rio Madeira. Os estudos estão sendo feitos na sede da Asea Brown Boveri- ABB, na Suécia, empresa contratada para desenvolver o projeto básico. “O que mais nos impressionou foi um fator cultural. Tivemos a surpresa de ver várias pessoas falando português. É que muitos trabalharam em Itaipu casaram-se com brasileiras e têm uma imensa simpatia pelo Brasil. Houve uma grande empatia e isso tem facilitado muito o nosso trabalho”, relata Camilo.
A construção das linhas de transmissão do Complexo do Rio Madeira, que transportarão a energia gerada nas usinas hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau, vai representar um grande desafio para a Eletronorte. Os 2.375 quilômetros de linhas de transmissão são, até hoje, a maior extensão já licitada pela Agência Nacional de Energia Elétrica – Aneel. “A linha de transmissão do sistema do Rio Madeira será, em breve, a maior em construção no mundo. Além de ser a maior, terá a particularidade de ser em corrente contínua”, afirma o diretor de Planejamento e Engenharia da Eletronorte, Adhemar Palocci. A Empresa compõe a Sociedade de Propósito Específico – SPE Norte Brasil Transmissora de Energia S/A, juntamente com a Eletrosul e Abengoa, constituída para construir o empreendimento. O desafio será utilizar a tecnologia de transmissão em corrente contínua, ou High Voltage Direct Current – HVDC, o que é novidade para a Eletronorte.
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Foto: José Lins/Furnas
A energia comprada do Paraguai em 50 Hz é transformada e retificada para corrente contínua (+ 600 kV) e transmitida por dois circuitos bipolos até a Subestação Ibiúna (SP), onde é novamente convertida para corrente alternada e frequência de 60 Hz. Já a energia gerada por Itaipu em 60 Hz segue, a partir da Subestação Foz do Iguaçu, por três circuitos de corrente alternada em 765 kV – a maior classe de tensão existente na América Latina. Entre Foz do Iguaçu e a subestação terminal Tijuco Preto (SP), as linhas passam pelas subestações Ivaiporã (PR), um dos principais pontos de cone-
Economia - Os estudos feitos pela Empresa de Pesquisa Energética – EPE, com a participação de técnicos de várias empresas, entre os quais da Eletronorte, mostram que quando se tem um sistema de transmissão em longa distância, normalmente acima de 1.500 quilômetros, é preciso avaliar as alternativas que existem para transmissão, que são a corrente alternada (CA), a corrente contínua (CC) e a opção híbrida. Segundo os estudos, a melhor alternativa econômica é construir a linha em corrente contínua, pois não são necessárias subestações intermediárias. “A linha em corrente alternada precisa de subestações a cada 400 quilômetros, aproximadamente. Essas subestações fazem a compensação das quedas de tensão que ocorrem ao longo da linha e que são compensadas por uma série de equipamentos (foto abaixo), como reatores, compensadores
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e banco de capacitores. E quando a transmissão é longa, esses equipamentos encarecem o projeto. Num projeto como o do Linhão do Madeira seriam necessárias seis subestações intermediárias. A CC não precisa disso”, explica José Henrique. A linha de transmissão em corrente contínua tem um custo menor porque a linha em corrente alternada é composta por cabos condutores nas três fases. Na corrente contínua só há cabos condutores nos dois pólos, o positivo e o negativo, formando o chamado bipolo, o que diminui o custo. Os estudos técnicoeconômicos aprovados pela EPE concluíram que a solução em corrente contínua, para esse sistema, resulta numa economia de cerca de 30% em relação às alternativas de corrente alternada ou híbrida. Técnicos das empresas que integram a Norte Brasil Transmissora também estudam as melhores alternativas para a compra de cabos condutores de alumínio que vão compor o sistema (ver box). Para discutir o projeto de interligação do Madeira, houve muito debate e a realização de fóruns e encontros. A linha de transmissão em tensão +600 kV vai começar em Porto Velho (RO) e terminar em Araraquara (SP). Já existe todo um atendimento energético aos estados de Rondônia e Mato Grosso, com linhas de transmissão que levam energia às cidades de Cuiabá, Pimenta Bueno, Vilhena e outras, bem como reforços que estão sendo feitos nesses sistemas. Além da linha, foi prevista uma ligação para o Estado de Rondônia, por meio de dois sistemas denominados back-to-back, que é uma conversão da energia gerada pelas usinas do Rio Madeira para atendimento ao sistema Acre-Rondônia, de 400 MW cada. Esse sistema, que compõe o lote A do leilão 007/2008 da Aneel, arrematado pela Norte Brasil Transmissora de Energia, também funciona como uma espécie de barreira protetora para evitar perturbações no sistema de 230 kV. “É como se houvesse um sistema de corrente contínua e um de corrente alternada de costas um para o outro na própria subestação. A corrente alternada é transformada em corrente contínua, que é novamente convertida em corrente alternada para atender a esse sistema”, informa José Henrique. “A região também vai receber a energia gerada pelo Madeira, tanto que no próprio leilão dessas linhas, há um reforço no sistema de Mato Grosso. Recentemente, houve o leilão do que se chama de Pré-Madeira, que é
Preços do alumínio em negociação A construção das linhas de transmissão do complexo do Rio Madeira vai exigir grande quantidade de cabos condutores de alumínio, commodity que tem o preço cotado em dólar no mercado internacional. “A quantidade de alumínio a ser comprada é de cerca de 70 mil toneladas que, a uma cotação de US$ 1.850 a tonelada, significa um investimento em torno de US$ 130 milhões, equivalente a R$ 260 milhões no câmbio atual”, explica Paulo Takao Yamamura, gerente de Estudos de Viabilidade Econômico-Financeira da Eletronorte (foto). A compra do alumínio corresponde a cerca de 25% do valor total do investimento em materiais e equipamentos para o empreendimento sob a responsabilidade da concessionária Norte Brasil Transmissora de Energia S/A. Considerando que o outro bipolo será construído pela Interligação Elétrica Madeira, subsidiária formada pela Companhia de Transmissão de Energia Elétrica Paulista – CTEEP, Furnas Centrais Elétricas e Companhia Hidro-Elétrica do São Francisco – Chesf, que adquiriu o lote composto pela outro circuito da linha de transmissão, as linhas do Madeira vão demandar 140 mil toneladas de alumínio. A participação das empresas que compõem o Sistema Eletrobrás em cada um dos consórcios é de 49% e as empresas estão procurando compartilhar as negociações. “Ao invés de negociar 70 mil toneladas, vamos negociar 140 mil, para termos um poder maior de barganha”, informa Takao. O trabalho inclui a cotação do alumínio também no mercado internacional. Além dos fabricantes nacionais, há fornecedores em países como a Rússia, Austrália, Estados Unidos, Canadá e China. Diante da volatilidade do mercado mundial, as empresas estudam agora a melhor operação financeira para garantir o preço e mitigar o risco de variação. A cobertura do custo das toneladas de alumínio normalmente é realizada por meio de um contrato na Bolsa de Metais de Londres – LME (London Metal Exchange, na sigla em inglês), único mercado global para este tipo de commodity. As opções para evitar que as eventuais flutuações de preços, câmbio ou de juros encareçam a operação de aquisição por parte da transmissora são fazer hedge (proteção) cambial ou hedge da commodity. Segundo Takao, “no modelo escolhido para o leilão foi sugerido que se fizesse a proteção da variação do preço da commodity na LME.”
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xão e intercâmbio energético das regiões Sul e Sudeste, e Itaberá (SP). “O ganho desse leilão é uma grande oportunidade para a Eletronorte, tanto para o corpo técnico, quanto para a relevância nacional e mundial da Empresa. Porque a nossa Empresa, diferentemente de Furnas, que opera o sistema de Itaipu, nunca teve linhas em corrente contínua”, declara José Henrique Machado Fernandes, assistente da Coordenação de Implantação de Empreendimentos da Eletronorte (à esquerda).
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Projeto básico - Técnicos da Eletronorte, Eletrosul e da Abengoa participam da finalização do projeto básico da linha de transmissão e das subestações, que será apresentado à Aneel. Com o projeto básico concluído, a Transmissora vai demonstrar que atende aos critérios estabelecidos para a realização do empreendimento no edital. Os estudos estão sendo feitos na sede da ABB, que vai fabricar e instalar os equipamentos das estações conversoras. O valor do contrato soma R$ 1,2 bilhão. O projeto básico detalha as características gerais do empreendimento por meio de programas que reproduzem as condições da linha de transmissão, a operação, os fluxos de carga e possíveis ocorrências de curtocircuito ou de descarga atmosférica. Ensaios que consistem no dimensionamento das estações conversoras servirão para definir as válvulas que serão utilizadas, corrente nominal, isolamento e tensão. Os simuladores digitais vão replicar os controles e componentes e simular as ações pré-operacionais para testar o projeto e as funções requeridas no edital. Os estudos do projeto básico são acompanhados também por técnicos da EPE, do Operador Nacional do Sistema Elétrico – ONS e do Centro de Pesquisas em Energia Elétrica – Cepel.
“Equipe Suécia” Engenheiros da Eletronorte e da Eletrosul foram enviados à Suécia para trabalhar nos estudos e planejamento do projeto básico da linha de transmissão do Complexo do Rio Madeira e subestações conversoras. Inicialmente, a equipe trabalhou em conjunto para verificar toda a documentação dos estudos elaborados pela ABB. Uma é responsável pelos estudos das especificações dos equipamentos, como os filtros, eletrodos, transformadores conversores e reatores de alisamento, que são alguns dos principais componentes de um sistema elétrico em corrente contínua. Outra equipe trabalha com os main circuits (circuitos principais) do sistema HVDC, coordenação de isolamento, eletrodos de aterramento, sobretensões, controle e proteção. O projeto tem características tão peculiares que o ONS, incumbido de analisar o projeto básico após a entrega por parte do empreendedor, está acompanhando também os estudos. Relatórios semanais são feitos com informações sobre os estudos e ligações telefônicas sem custo, por intermédio do skype, mantêm as equipes do Brasil em contato com a Suécia. De posse desses relatórios e de acordo com os pontos críticos e as pendências levantadas nos estudos, reuniões são agendadas para discussões técnicas com especialistas do Cepel. O resultado dos estudos será repassado à área de meio ambiente para minimizar os possíveis impactos da linha em alta tensão. As principais instalações das fábricas da ABB, onde são produzidas as válvulas do sistema HVDC e transformadores conversores estão localizadas em Ludvika, cidade de 25 mil habitantes, na província de Dalarna, a 220 km de Estocolmo, capital da Suécia. Durante o inverno, a temperatura na cidade pode chegar a 25 graus negativos. No verão, nos dias mais quentes a temperatura pode chegar a 30 graus positivos. A bicicleta é o principal meio de transporte na cidade. A diferença de fusos horários do Brasil para a Suécia é de cinco horas, o que também exige muita disciplina e dedicação da equipe para manter a interação com os técnicos daqui e verificar o impacto dos resultados de um determinado estudo em outro. “A ABB está sendo bastante transparente e nós temos acesso a toda memória de cálculo, planilhas e programas utilizados. A partir de agora, sempre que o planejamento consolidado pela EPE sinalizar que a opção mais econômica para a sociedade seja a corrente contínua, a Eletronorte estará presente”, conclui Camilo (foto à direita).
Em um dos raros dias com temperatura amena, mais um dia de trabalho na sede da ABB
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um sistema em corrente alternada exatamente para atender os estados do Acre, Rondônia e Mato Grosso. O restante da energia vai para o principal centro de carga do País, que é a Região Sudeste”, declara Palocci (ao lado). O lote C é composto, basicamente, por uma estação em Porto Velho que vai transformar a corrente alternada gerada pelas usinas em corrente contínua para transmissão. Em Araraquara, outra estação vai transformar a corrente contínua em corrente alternada para atender ao SIN. E o lote G é composto pela linha de transmissão, que integra um dos bipolos que vai escoar a energia elétrica gerada no Madeira. A RAP total a ser auferida pela Transmissora, descontados os deságios dos leilões, a partir da data de disponibilidade para operação comercial das instalações, será de R$ 363,3 milhões. O prazo para a conclusão de todas as obras é de 48 meses.
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RESPONSABILIDADE SOCIAL
ta a implantação de compensadores síncronos e a solução apresentada pela ABB utiliza capacitores em série. Mas todo o desempenho do sistema deve ser aprovado pelo ONS e pela Aneel”, explica Camilo. “Esse projeto do Madeira é extremamente complexo, porque tem muitas interfaces e estudos de sistemas e desempenho que interessam à Eletrobrás, ONS, EPE e Aneel. Os estudos serão considerados concluídos quando os resultados forem aceitos pela Eletronorte e Eletrosul, que fazem a engenharia do proprietário”, acrescenta o engenheiro de projeto Geraldo Nicola, que se integrou no fim do mês de maio à equipe que está na Suécia (foto à esquerda). Já os estudos ambientais para obtenção da Licença de Instalação estão sendo conduzidos juntamente com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – Ibama, bem como a realização das audiências públicas. A previsão é de que em fevereiro de 2010 seja obtida a licença para que as obras possam começar efetivamente. “Agora, a Eletronorte tem a oportunidade de dominar a tecnologia de corrente contínua, o que será muito importante considerando que provavelmente outras grandes usinas serão construídas na Região Norte, com grandes distâncias a serem vencidas. Queremos o envolvimento do maior número possível de técnicos para que esta tecnologia seja difundida internamente. Este é mais um dos grandes desafios que teremos e, com certeza, vamos responder da mesma forma que sempre respondemos, ou seja, de maneira satisfatória, atendendo, principalmente, às necessidades do País”, afirma Adhemar Palocci.
Salão do Livro consolida Tucuruí como centro cultural O que seria mais acessível? Um livro ou um computador? Em um cenário em que tecnologias audiovisuais e multimidiáticas como a televisão e a internet têm influenciado cada vez mais na cultura de crianças e jovens, o livro parece ter perdido seu valor na formação intelectual e educacional da juventude. Historicamente, o livro sempre foi considerado um produto comercial, quando na verdade deveria ser considerado um bem cultural. No passado, apenas pessoas com maior poder aquisitivo tinham contato com a literatura. Hoje, um livro pode ser adquirido facilmente, não só pelo baixo custo dos exemplares, mas também pela criação de bibliotecas públicas, pela ação de instituições e por programas de incentivo à leitura. Em todo o País, durante o ano inteiro, eventos como o 2º Salão do Livro da Região do Lago
de Tucuruí, realizado pela Eletronorte em parceria com o Governo do Estado do Pará, por meio da Secretaria de Cultura, ajudam a trazer a literatura para o cotidiano da população, que, segundo a pesquisa Retrato da Leitura no Brasil, publicada pela Câmara Brasileira do Livro, lê em média 1,8 livro por ano, enquanto na França, país homenageado pelo evento, esse índice é de sete livros. Parte de um projeto de descentralização da tradicional Feira Pan-Amazônica do Livro, realizada em Belém há doze anos, a segunda edição do Salão do Livro consolida o município de Tucuruí como polo de desenvolvimento cultural e tem o desafio de resgatar a cultura literária principalmente entre os jovens. Este ano, a estrutura montada no Complexo Cultural da Eletronorte superou a da edição
Governos estadual, municipal e Eletronorte unidos pela literatura
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Camilo Machado Júnior acaba de chegar da Suécia. Ele explica que o sistema em corrente contínua possui aspectos peculiares como transformadores conversores, retificadores, reatores de alisamento, isoladores, equipamentos de potência, eletrodos de terra e filtros. “No sistema HVDC, um dos aspectos mais importante é o cálculo dos filtros, que corresponde a aproximadamente 50% da área ocupada pela estação conversora. Esses filtros têm a função de assegurar a qualidade da energia, suporte de reativos e, entre outras, de que não haverá perturbações para os consumidores e interferências em sistemas telefônicos”, informa. A configuração do sistema HVDC exige o aprofundamento dos estudos e, às vezes, a solução apresentada pela ABB não é exatamente a solução apresentada no edital. Cabe, então, à Transmissora, juntamente com o fabricante, demonstrar o atendimento aos requisitos do edital. “Estão em andamento estudos em diversas frentes. Por exemplo, no caso específico do back-to-back estava previs-
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Vinte mil pessoas circularam pelo Salão do Livro de Tucuruí
O paralelo entre literatura e arte enriqueceu a programação do evento. Na Cidade das Artes, apresentações teatrais, musicais e de dança atraíram um grande público para o Cine Roxi. Já na Cidade dos Saberes, educação, arte e consciência ambiental foram disseminadas por meio de oficinas e cursos. O espaço infantil, integrado à Cidade dos Saberes ofereceu oficinas de técnicas circenses, confecção de marionetes, além da contação de histórias que movimentou o “Café Literário” durante todos os dias do evento. No 2º Salão do Livro foi possível também conhecer o ônibus-biblioteca da Eletronorte, parte do projeto Educação Ambiental sobre Rodas, que há três meses trabalha com escolas do município de Tucuruí. A população teve acesso à estrutura desenvolvida para dar um suporte educacional, que em breve também atenderá às escolas da região do entorno do lago. No final de cada dia do evento, as bandas e artistas regionais: Trilogia, Identidade do Samba, Vinil Laranja, La Pupuña, Wilson Veloso, Impressão Digital, Pedrinho Callado, Marco André, Paramar, Grupo Quaderna, Bluetooth Tadeu e Cartola - empregado da Eletronorte - e Warilou concentraram o público na arena de shows e na praça de alimentação.
Cultura e educação - Promover cultura e educação é a realização da verdadeira responsabilidade social. Essa foi a ideia que norteou o evento. Incentivar o hábito da leitura é apenas mais uma das ações realizadas pela Eletronorte, que tem contribuído com o avanço nos municípios da região do entorno da barragem. Um total de 140 pessoas estiveram diretamente ligadas à organização do 2º Salão do Livro. A Eletronorte contou com 121 colaboradores envolvidos. O Governo do Estado enviou 20 funcionários responsáveis também pela divulgação do Cred-Leitura, um incentivo financeiro oferecido aos professores da rede pública de ensino para adquirir livros didáticos. Para o 2º Salão do Livro foram disponibilizados R$ 207.930,00 no Cred-Leitura. A favela nua e crua - O bate-papo que rolou entre o público e o escritor Paulo Lins eviscerou a realidade da favela brasileira, sobretudo a rotulada favela carioca. Universitários, professores e alunos discutiram sobre a vida e a obra do escritor carioca que conviveu com a realidade madrasta do subúrbio retratada no livro Cidade de Deus. Paulo Lins falou de discriminação, preconceito, políticas públicas, crise mundial, cotas nas universidades e claro, literatura brasileira (foto abaixo). Em alto e bom tom, o escritor apontou as diferenças da obra literária que é Cidade de Deus e o premiado filme homônimo de Fernando Meireles. “Há pouca relação entre as duas formas de transmitir a mensagem, mas a essência da obra foi mantida e por isso o sucesso”, avaliou. Para ele, Cidade de Deus é um marco da literatura contemporânea por mostrar a realidade cabal da sociedade que se degenera gradativamente. “O Estado tem de investir em educação, saúde, cultura. Só assim irá valorizar quem trabalha para manter este País e acabar com o crime”.
Segundo Lins, o hábito da leitura deve começar na infância e as mães têm papel definitivo nesse processo. A escola também, mas é preciso fazer que a atividade literária não se torne chata. “Livro é igual a assistir uma boa peça de teatro ou um filme; e a família e a escola ainda são fundamentais para despertar nas crianças o interesse pela cultura”. Educação é arte - O 2º Salão do Livro da Região do Lago de Tucuruí reservou um espaço totalmente dedicado às crianças. O que de longe pareceu uma grande brincadeira, na verdade foi uma forma de aproximar o público infantil da arte. As oficinas e cursos trabalharam as diversas formas de linguagens usando recursos da arte cênica e do circo, sem esquecer o caráter lúdico proposto pelo espaço. Ao aguçar os sentidos e a criatividade, agilizar os movimentos, desenvolver a coordenação motora e a concentração, as crianças aca-
Crianças e jovens foram maioria entre os visitantes
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anterior, abrigando 40 estandes e 29 expositores, arena de shows, praça de alimentação e espaço para apresentações teatrais, musicais e de dança. Dividido em seis cidades com temáticas variadas, o 2º Salão do Livro recebeu uma média de público de duas mil pessoas por dia. A Cidade do Meio Ambiente teve grande destaque entre os visitantes pelas exposições e palestras abordando as consequências da ação do homem sobre o meio ambiente e possíveis soluções a serem adotadas no cotidiano do cidadão. Na Cidade do Livro, nomes importantes da literatura participaram dos encontros literários e das sessões de autógrafos, proporcionando um contato mais próximo com os leitores. Na Cidade dos Escritores e Leitores, palestras voltadas para o campo educacional atraíram não somente professores e profissionais da área, mas alunos que acompanharam as discussões sobre temas de vestibular. A Cidade das Letras proporcionou momentos diversificados. Ao mesmo tempo que manteve uma programação literária com saraus e narração de histórias, abriu espaço para temas de interesse da juventude, como sexualidade, mercado de trabalho e a internet como ferramenta de pesquisa.
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Max Martins - O escritor e poeta paraense Max Martins foi homenageado no 2º Salão do Livro da Região do Lago de Tucuruí. Como patrono do evento, além de uma exposição sobre sua vida e obra (acima), foi aberta ao público a mostra Caminhos do Marahu para despertar o interesse do público para a extensa obra do poeta, falecido em fevereiro deste ano. Max Martins nasceu em Belém do Pará em 1926. Autodidata, poeta da literatura pa-
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raense colaborou com periódicos, publicou livros e recebeu em 1993 o prêmio de poesia Olavo Bilac, concedido pela Academia Brasileira de Letras, pelo livro Não para Consolar. Max Martins morou toda a vida em Belém do Pará. Ao lado de Benedito Nunes, Francisco Paulo Mendes e Mario Faustino, viu chegar a modernidade na poesia brasileira, da qual se tornou um dos nomes mais importantes. Sua obra foi traduzida para o alemão, inglês e francês. Foi ele também o fundador da Casa da Linguagem O poeta das praças - O poeta das Praças, Eduardo Santos (acima), conquistou o público nos corredores do Salão do Livro, reconhecido como um dos poetas mais promissores e atuantes do Pará atualmente. A obra do autor é feita de modo artesanal, o que lhe rendeu a inclusão no livro de recordes (Guiness Book), como o maior produtor de livros artesanais do mundo, produzindo 118 livros em 24 horas. Desde os 12 anos escreve poemas. Recentemente seu trabalho foi mostrado em 27 países pelo Amazon Sat, e também houve divulgação do seu na BBC de Londres, retransmitida para 16 países da Europa.
Há seis anos mantém o recorde como o poeta que mais vende livros durante a Feira PanAmazônica do Livro realizada todos os anos em Belém. Por meio de sua livraria itinerante, adaptada em sua bicicleta, divulga sua poesia e comercializa seus livros nas principais praças da cidade e da região. Ônibus-biblioteca - Por meio do entretenimento, atividades lúdico-pedagógicas, acesso livre à literatura e às novas ferramentas de aprendizagem, como a informática, o ônibusbiblioteca da Eletronorte tem levado às escolas públicas e privadas do município de Tucuruí um novo suporte educacional. Inaugurado em março deste ano, o ônibus foi inteiramente adaptado para se tornar uma biblioteca itinerante e receber a visita de crianças de todas as idades. Ele é parte do projeto “Educação Ambiental sobre Rodas”, que a Eletronorte desenvolve, com uma programação voltada para a conscientização sobre as questões ambientais através de palestras temáticas, teatro de fantoches, baú da leitura e jogos virtuais educativos. Poesia que rompe grilhões - Um grito de revolta ou um pedido de socorro? Implícito na obra do poeta Valdiclei Silvino dos Reis, “Poesia Libertária”, tenta abrir os olhos do leitor de forma crítica e um pouco ácida quanto às mazelas do mundo e os rumos da humanidade. Mais que criticidade, a obra independente chama a
atenção sobre as dificuldades que os escritores paraenses enfrentam para publicar um livro. Sob os olhos atentos de professores e alunos, o professor Valdiclei observou a falta de incentivo aos escritores paraenses, sobretudo aos do interior do estado. A poesia libertária, ao contrário do que se imagina, não quer incentivar ninguém contra o Estado, conforme explicou o autor. “O que está nos versos é um pedido de reavaliação de conceitos”. Valdiclei é ativista social engajado na luta de classes. Militante político e crítico, o autor traduziu para o papel suas insatisfações, frustrações, sonhos, alegrias e as lições aprendidas que podem tornar o cotidiano mais valoroso. “A obra retrata o passar dos dias das pessoas, coisas e fatos atentando sempre para uma li-
O ônibusbiblioteca e a narração de histórias foram sensações marcantes
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bam somando aspectos positivos no que se refere ao desempenho escolar. O instrutor de técnicas circenses, Marcelo Siqueira, garante que exercitar o corpo e a mente na infância é uma necessidade. “Dentro de casa nossos pais nos ensinam a escovar os dentes apenas com uma das mãos, na escola não é diferente. Este tipo de atividade complementa e ajuda na formação das crianças, porque assim elas trabalham os dois lados do cérebro”.
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ção a ser aprendida. Um olhar realista e sem hipocrisia. A vida como ela é”.
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Educação ambiental - Com foco na educação ambiental, a maioria dos visitantes da Cidade do Meio Ambiente foi formada por crianças e jovens. Com um olhar curioso e sem conseguir conter a vontade de tocar em cada peça das instalações, as crianças participaram com entusiasmo durante toda a visitação. Stefane Cristini, de cinco anos, da Escola Irmã Ivone, afirma ter aprendido sobre os cuidados que deve ter com o meio ambiente. “Aprendi que o aquecimento global deixa o planeta Terra com febre, que quando a gente queima a madeira o planeta fica doente e isso também faz mal para a saúde das pessoas”. Segundo a diretora da Escola, Célia Boscaini, os temas abordados já vêm sendo trabalhados no cotidiano das aulas. No entanto a vivência, o contato visual e o tratamento pedagógico aproximaram mais as crianças das questões ambientais. “É muito interessante quando uma organização se compromete e traz uma instalação como essa. O teatro é muito bom, uma apresentação didática melhora o entendimento das crianças, torna concreto o que elas aprendem na teoria. No final, elas acabam multiplicando o que aprendem na escola e em casa. Vivenciar é muito importante”. A democratização do conhecimento - A interação entre autores e público proporcionou momentos de reflexão e troca de conheci-
mentos. Sentados lado a lado, o poeta Alonso Rocha, membro da Academia Paraense de Letras, e o escritor paraense Dilmar Batista autografaram livros e interagiram com crianças e jovens. Alonso Rocha destacou a importância do evento pela necessidade de aproximar a criança da literatura. “A leitura traz prazer e conhecimento. Você fica com um olhar mais amplo em relação ao mundo. O Salão do Livro é muito importante porque a nossa esperança de um mundo melhor está nas crianças. E quantas delas não sairão daqui amando os livros?”. Para Dilmar Batista o evento além de aproximar autor e leitor, também é uma grande oportunidade para que os escritores da terra divulguem suas obras. Com a intenção de desmitificar a temida Matemática, Dilmar lançou o livro Aprendendo e Brincando com a Tabuada, que traz um novo método de aprendizagem, buscando desenvolver a matemática de maneira fácil para que as crianças não criem medo dos números. “Esse livro mostra que a sabatina e a cartilha estão ultrapassadas. Com uma nova roupagem, cheio de cores e elementos atrativos o livro proporciona prazer, além de uma nova cultura para aprender matemática”. Enfim, mais de dez mil pessoas passaram pelo 2º Salão do Livro da Região do Lago de Tucuruí. Com o sucesso do evento, a Eletronorte e o Governo do Estado do Pará já discutem a realização da terceira edição. Aguardem. Colaborou Denis Aragão, da Assessoria de Comunicação Empresarial de Tucuruí
A Comissão Internacional de Grandes Barragens (Icold-CIBG), realizou em Brasília no último mês de maio, o 23º Congresso Internacional de Grandes Barragens, que reuniu 1.400 participantes de 88 países. Durante quase duas semanas de atividades, a maior organização profissional do mundo, dedicada ao avanço da arte e da ciência de engenharia de barragens e à promoção do desenvolvimento sustentável e da gestão criteriosa dos recursos hídricos e hidrelétricos do mundo, discutiu a disseminação da tecnologia de barragens em prol dos países em desenvolvimento. O presidente da Icold, Jia Jinseng, iniciou citando o Brasil: “O País é um dos maiores do mundo, com grandes rios e abundância de recursos hídricos. É também uma Nação que desempenha um papel muito importante na área de pequenas e grandes barragens. Tem algumas das maiores barragens do mundo; acredito que os especialistas em barragens têm grande interesse em verificar a experiência brasileira em matéria de planejamento, construção e operação de grandes barragens, em harmonia com o meio ambiente”. Além das discussões técnicas e da apresentação de trabalhos, o Congresso reuniu empreiteiras brasileiras, empresas de geração de energia, engenharia e construção que aproveitaram a Feira de Exposições para divulgar projetos e novas tecnologias. Além dos estan-
des, algumas empresas promoveram palestras técnicas. O Congresso também teve uma série de visitas – os chamados study tours – que percorreram o Brasil visitando usinas hidrelétricas. Os participantes conheceram, entre outras, as usinas Tucuruí, Itaipu e Paulo Afonso. Reconhecido pela capacidade técnica dos trabalhos apresentados, originários de diversos países, o Congresso discutiu nesta edição assuntos essenciais para a engenharia de barragens e o papel das barragens no desenvolvimento sustentável: barragens e energia hidrelétrica; gestão do assoreamento em reservatórios já existentes ou novos; melhoria de barragens existentes e gestão da segurança de barragens. De volta para casa - Depois de quase duas semanas de auditórios lotados, muita troca de experiências e informações técnicas, na mala de volta para casa, a sensação do dever cumprido. “Estamos muito felizes pelos participantes que vieram ao evento e possibilitaram sua realização de maneira bem-sucedida”, comemorou o presidente do Comitê Brasileiro de Grandes Barragens - CBDB, Edilberto Maurer. O secretário-geral da Icold, Michel de Vivo, anunciou as próximas reuniões da Comissão: no ano que vem no Vietnã; em 2011 na Suíça e em 2012, junto com o 24º Congresso da Icold, na cidade de Kyoto, no Japão.
Icold: especialistas em barragens valorizam a harmonia com o meio ambiente
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CORRENTE ALTERNADA Literatura e teatro, artes que aproximam e apaixonam as crianças
Grandes barragens, grandes ideias
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O CBDB promoveu o Simpósio Internacional sobre Barragens e Represas Multiuso. Edilberto Maurer explica o tema escolhido pela entidade brasileira. “Escolhemos a questão dos reservatórios com usos múltiplos, pois é hoje um tema muito relevante para a comunidade técnica nacional. A prevalência do uso dos reservatórios para a geração de energia elétrica era muito intensa no passado e hoje temos uma demanda para outras finalidades, como controle de cheias, abastecimento de água, irrigação e navegação, por exemplo. É uma questão econômica que envolve diversos setores e é preciso que cada um deles esteja preparado para atender a essa demanda”. Especialistas de diversas regiões do mundo discutiram as contribuições que a engenharia de barragens pode dar ao desenvolvimento sustentável dos recursos hídricos. Para o ex-presidente da Icold, Luiz Berga (ao lado), sem as barragens não haverá energia, nem vida. “A regulagem da água nos traz alimento, redução de enchentes e do impacto das secas, nos permite a navegação e a geração hidráulica. Temos análises econômicas que mostram que o uso das represas está ligado ao desenvolvimento socioeconômico dos países”. Segundo ele, a recuperação do ecossistema não é possível sem a eliminação da pobreza. “As discussões promovidas aqui vão nos ajudar a promover ações de desenvolvimento sustentável. Temos uma enorme experiência e estamos à disposição para enfrentar o desafio da eliminação da pobreza e do desenvolvimento sustentável”. O representante de Burkina Faso (acima), Adama Nombre, parabenizou e agradeceu à Comissão Internacional de Grandes Barragens pelo calendário de formação e treinamento que beneficia técnicos do mundo inteiro. “A construção de barragens começou há mais de três mil anos, e na África há cerca de cem anos. Essas barragens representam um componente muito importante no desenvolvimento humano, contribuindo para a produção alimentar. Estamos investindo em outros usos, como a irrigação, fornecimento de água potável e o desenvolvi-
mento econômico e social, e temos um potencial hídrico de quase 90% ainda inexplorado”, afirma. O vice-ministro de Recursos Hídricos da China, Jiao Yong, citou a Usina de Três Gargantas, que possui um forte impacto social e um grande potencial de geração elétrica. “O controle de enchentes é um dos fatores mais importantes desse projeto, já que tivemos episódios de cheias que resultaram na morte de milhões de pessoas e na destruição de cidades”. Segundo ele, a estocagem de água e a produção de energia, além de melhorar a navegação, vão permitir que as comunidades possam se concentrar no desenvolvimento econômico e social, beneficiando o meio ambiente. “Durante todo o processo de construção pensamos em garantir a segurança e a melhoria da vida de milhões de pessoas, conquistando a confiança de cada uma delas”.
Especialistas alertam para a importância da gestão de segurança de barragens Este ano, durante as cheias da Região Norte, a cidade de Altamira (PA) foi inundada após o rompimento de dezenas de barragens particulares. Vinte mil pessoas ficaram desabrigadas. No Piauí o rompimento da barragem de Algodões matou oito pessoas. No Setor Elétrico, a preocupação com segurança tem produzido um know-how reconhecido internacionalmente. As barragens hidrelétricas certamente estão à frente no que diz respeito à segurança, até porque têm recursos para manutenção e investem nesse processo. Infelizmente temos diversos outros casos de barragens que não recebem a manutenção adequada, muitas estão até mesmo abandonadas”. A declaração é do engenheiro civil Rogério Menescal (ao lado). Doutor em Recursos Hídricos, Menescal apresentou no Congresso da Icold um resumo de sua tese de doutorado defendida em fevereiro deste ano. Com o tema “Gestão de Segurança de Barragens no Brasil”, o engenheiro foi bastante elogiado pelos especialistas pela abrangência de seu trabalho, no qual pesquisou arcabouços regulatórios de barragens em 28 países a fim de elaborar propostas para o Brasil. No trabalho “Segurança institucional e jurídica de barragem para o Brasil - uma proposta”, ele demonstra que os acidentes ocorridos em diversas barragens brasileiras é um fato que exige solução em curto pra-
zo. Segundo ele, os constantes acidentes estão relacionados à forma como a gestão da segurança de barragens é tratada. Um grande problema, segundo ele, é a falta de vontade política para votar o projeto de lei nº 1.181/2003, que fixa claramente as atribuições de fiscalização aos projetos de barragens no Brasil. O projeto está parado na Comissão de Constituição e Justiça – CCJ, do Senado Federal. “Isso é uma questão de mobilização da sociedade, pois não é um tema que motiva os políticos a tocarem no assunto”, explica. Ao final do trabalho foram listadas 46 boas práticas para a segurança das barragens que incluem mecanismos de descentralização, transparência e participação pública. As recomendações elaboradas pelo Comitê Brasileiro de Barragens e pela Associação Brasileira de Mecânica de Solos e Engenharia Geotécnica - definidas e registradas em dezembro de 2008 - foram retomadas e enviadas a centenas de gabinetes parlamentares na Câmara e no Senado. Entre as recomendações está a aprovação, pelo Congresso Nacional do projeto de lei nº 1.181/03, da Câmara dos Deputados. O documento pede ainda que o Governo Federal crie uma Comissão Federal de Segurança de Barragens para articular as ações e propor melhorias de gestão de segurança de barragens; que estabeleça um Programa Nacional de Segurança de Barragens e que os órgãos oficiais responsáveis pela outorga, autorização, concessão, controle e fiscalização de projetos e obras envolvendo barragens aprimorem seus procedimentos, incluindo os referentes à análise de novos empreendimentos, e intensifiquem também as exigências das obras em andamento e das obras concluídas, visando sempre à prevenção de incidentes e acidentes com barragens. Outra sugestão propõe que as universidades e escolas técnicas verifiquem suas grades curriculares, instalações e laboratórios, de modo a adequar seus programas de formação profissional à cultura técnica de gestão da segurança de barragens. Para ver a íntegra do documento, acesse www.cbdb.org.br e clique no link Recomendações sobre Segurança de Barragens - CBDB/ABMS.
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“Não existe recuperação de ecossistema sem a eliminação da pobreza”
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surpresa que se revela constantemente, um ‘tiquinho’ de floresta amazônica, cerrado em sua maioria, no centro do Brasil. Noviço, chegando à sua maioridade. Para o cantor e compositor Dorivan (ao lado), artista tocantinense que já representou o estado em eventos nacionais e internacionais, o Tocantins, principal inspiração do seu trabalho, é uma região cultural e ecologicamente rica. “Temos etnias indígenas ainda muito virgens, uma cultura quilombola muito viva. O Jalapão, o capim dourado, o babaçu, o Parque do Cantão, a Romaria do Senhor do Bonfim, as cachoeiras de Taquaruçu, o patrimônio de Natividade, o amor perfeito de dona Naninha, a Ilha do Bananal e a nossa capital, que é a mais jovem do Brasil, menina dos olhos, com título merecido de capital ecológica. Sim, o Tocantins é culturalmente rico, musical até no nome que ‘toca e tins’”.
Foto: Alex Robinson
Se “a formiga que dói é jiquitaia, oh! menina segura a saia”, como prosam e cantam os catireiros, susseiros, poetas e compositores do Tocantins. Quiçá saber que o nome do estado, derivação da palavra tupi tucan-tim, quer dizer “nariz de tucano, nariz comprido, bicudo”. Nome de uma tribo indígena que teria habitado a região junto à foz do rio, o qual herdou o nome. Por aqui, se vê o que em outro canto nem se imagina. Conhece capim dourado? Capim? Questiona a carioca, às portas do Galeão, impaciente e afoita por retirar as pulseiras e os brincos que adornavam o corpo! Você não vai passar no detector de metais com esses acessórios, continua. Não vai ter problema, pois isso é capim! Convencer a carioca de que os acessórios eram feito de Syngonanthus nitens,
não foi fácil. Típica da região do Tocantins, a haste que dá sustentação a uma pequena flor ficou batizada como capim dourado, devido ao seu brilho intenso e metálico. Conhece o Jalapão? Lugar peculiar, que muitos consideram mágico. E o fervedouro ou ‘frevedor” – como dizem os nativos – um poço em que se mergulha e não se afunda. Um lugar que leveza maior não poderia proporcionar. E o Cantão, conhece? Parque Estadual, área de preservação ambiental, onde os biomas Cerrado e Pantanal encontram-se com a floresta amazônica. Sem falar da Ilha do Bananal, a maior ilha fluvial do mundo, com 20 quilômetros quadrados de extensão. Conhece sússia ou súcia, catira, Romaria do Bonfim, Festa do Divino Espírito Santo, biscoito amor-perfeito? Se você já ouviu falar de alguma dessas coisas, com certeza, estavam falando do Tocantins. O caçula do País, uma
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Rose Dayanne Santana
Foto: arquivo Adtur
Nas asas do ‘Passarim do Jalapão’
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O melhor período para conhecer o Jalapão é entre os meses de junho a setembro, época de estiagem. Para chegar, a partir de Palmas, siga 64 km pela rodovia TO-50, até Porto Nacional e depois 116 km pela TO-255, até Ponte Alta do Tocantins, porta de entrada do Jalapão. Além desses encantos, existem outros dois santuários, o Parque Estadual do Cantão e a Ilha do Bananal. Contemplado pela magnitude do Rio Araguaia e seus afluentes, o Cantão é um cenário ideal para prática de pesca esportiva, trilhas aquáticas e terrestres. Lá, encontram-se três ecossistemas: floresta amazônica, pantanal e cerrado, numa área de aproximadamente 90 mil ha, por onde também passam os rios Coco e Javaé, abrangendo os municípios de Pium e Caseara. No Parque é comum encontrar onças pintadas, jacarés, ariranhas, tartarugas e muitas espécies de aves e peixes. Do Parque do Cantão direto para a maior ilha fluvial. Com área total de 1.916.225 hectares, a Ilha do Bananal é um santuário ecológico, que encanta pela diversidade da fauna e flora. No santuário, existem mais de 1.580 espécies de pássaros catalogadas. Dividido por dois parques – o Parque Nacional do Araguaia, ao norte; e o Parque Indígena Araguaia, ao sul – é delimitado pelos rios Araguaia e Javaé. Na estação chuvosa, aproximadamente 80% de seu território ficam sob a água, formando pantanais transponíveis apenas por embarcações. Nos meses de seca surgem as praias de água doce. Capim dourado - “Costura” é o nome que se dá a arte de transformar o capim dourado in natura em artesanato. De acordo com a Fundação Cultural do Tocantins, a técnica de costurar hastes de capim dourado tem
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Encantos - A cultura, os encantos naturais, a arquitetura e séculos de história fazem da região uma das mais belas do País. O Tocantins tem uma população total de 1.248.158 habitantes, segundo dados do IBGE (2007), possui 139 municípios. Banhado por dois dos rios brasileiros mais importantes, Tocantins e Araguaia, que juntos formam a maior bacia hidrográfica inteiramente situada em território brasileiro, o estado limita-se com seis outros: Pará, Maranhão, Piauí, Bahia e Mato Grosso. “Co yvy ore retama”, exclamou o povo tocantinense em 5 de outubro de 1988, data de criação do estado. A expressão em tupi, que quer dizer “esta terra é nossa”, cunhada no brasão desde 1989. A sonhada consolidação do território federal do Tocantins remonta de décadas e até séculos. De acordo com o professor Júnior Batista, vem desde o século XVIII, quando a região foi desbravada pelos mineradores que buscavam extrair riquezas. Muitas gerações compartilharam o sonho de ver o norte de Goiás independente e o sentimento separatista tinha justificativas históricas. “Os nortistas reclamavam da situação de abandono, exploração econômica e do descaso administrativo e não acreditavam no desenvolvimento da região sem o seu desligamento do sul”, ressalta. Segundo o professor, no final do século XIX e no decorrer do século XX, a ideia de se criar o Tocantins estava inserida no contexto das
Cachoeiras, dunas e trilhas - “Cacimba que sacia a sede/ dessa gente que a gente nem vê/ guarde um pouco dessa água/deixe esse povo beber”. A 32 km de Palmas encontra-se o distrito ecoturístico de Taquaruçu, que impressiona pela paisagem serrana e bucólica. Um vale no alto da serra que, em meio a ribeirões e palmeiras, proporciona clima ameno aos fugitivos ávidos dos comuns 40º graus palmenses. Das serras brotam aproximadamente 82 quedas d’água, formadas pelos vários córregos, que atraem visitantes à procura de trilhas, sossego e aventura. Se tiver muito tempo, conheça todas, senão, vale a pena ir às cachoeiras do Roncadouro, do Escorrega Macaco, do Evilson, Vale do Vai-quem-quer e a Pedra de Pedro Paulo. O ecoturismo é o principal segmento turístico do Tocantins. Consagrado como um dos mais belos destinos do Brasil, abriga regiões que encantam visitantes de todo o mundo. As principais rotas turísticas são o Jalapão; Serras Gerais e suas cidades históricas; Ilha do Bananal, lagos e praias do Cantão. Dos tempos coloniais, o estado guarda as cidades históricas, como Porto Nacional, Natividade e Arraias. Segundo a presidente interina da Agência de Desenvolvimento Turístico do Estado – Adtur, Regina Reis, o turismo é uma forte arma econômica, que de forma planejada pode transformar uma economia. “O turismo é um grande propulsor de empregos, e faz com que praticamente todas as áreas onde a atividade esteja acontecendo de fato, tenham desenvolvimento econômico”.
“Por que a cachoeira da velha/se dá formiga em queda d’água/como é que aqui nasceram dunas/se nem é beira de mar/e nas águas do ‘frevedor’, por quê?/ que eu não consigo afundar!” Uma terra de extremos – como avaliam muitos visitantes – que surpreende a cada instante. Lugar onde um dia foi mar e que atrai anualmente milhares de turistas, o Jalapão oferece cachoeiras, paredões, dunas acobreadas aos pés da Serra do Espírito Santo, lagos e oásis de águas cristalinas. A região possui 34 mil km2 de extensão e abrange oito municípios: Ponte Alta do Tocantins, Novo Acordo, São Félix do Tocantins, Rio do Sono, Lizarda, Lagoa do Tocantins, Santa Tereza do Tocantins e Mateiros. Os amantes de esportes radicais arriscam-se nas areias áridas, ansiosos por testarem seus limites, seja no rafting ou nos rallys. Segundo a Adtur, as dunas são um dos atrativos mais visitados do Jalapão. Resultantes do processo de erosão natural da Serra do Espírito Santo, elas podem ser consideradas a única formação de dunas em pleno cerrado de que se tem conhecimento. Com mais de 40 metros de altura, formadas por areias finas e acobreadas, são delineadas pelo Córrego de Areias. Já o efeito “efervescente” é difícil de explicar. Mas você pode tentar, são dois na região do Jalapão: o Fervedouro de Mateiros e o Fervedouro do Alecrim, em São Félix. Com água morna e efeito borbulhante, a sensação é de estar numa piscina de hidromassagem. E o mais interessante é que as pessoas não afundam, nem querendo, pois a força que brota da água permite a flutuação no poço. O motivo é o refluxo das águas que correm sobre a nascente subterrânea. O fervedouro é uma piscina de águas claras, com fundo de areias brancas. Cercado por bananeiras forma um poço com aproximadamente seis metros de diâmetro. Ao sair do fervedouro, que tal um passeio no Rio Novo, um dos últimos de água potável do planeta, nascido nas veredas da Serra Geral. Mais de 50 corredeiras, que no rafting são classificadas como classe II, III, III+, reservam cenários somente apreciados pelos praticantes da modalidade, devido à falta de acesso terrestre. Do Rio Novo, dê uma passadinha nas cachoeiras da região. Entre as mais visitadas estão a Cachoeira da Velha, em formato de ferradura, possui cerca de 100 m de largura e 25 m de queda livre; e a Cachoeira da Formiga, famosa pelas águas cristalinas em tons de azul e verde esmeralda.
Foto: Thiago Sá
Foto: Manoel Júnior
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É de carona com o cantor Dorivan e um de seus sucessos, “Passarim do Jalapão”, que vamos conhecer uma das maravilhas da Amazônia: “Passarim do Jalapão/me revele alguns segredos/teus mistérios e magias/cante ao povo brasileiro”.
discussões apresentadas em torno da redivisão territorial do País. “O Congresso Nacional chegou inclusive a aprovar por duas vezes a criação, negada pelo então presidente da República, José Sarney”, explica. Palmas, cidade planejada, tem uma beleza eclética, que une arquitetura moderna à Serra do Carmo e às águas do lago. Que dirá a Praça dos Girassóis, uma das maiores da América Latina, com mais de 10 mil m² de extensão. O espaço abriga alguns dos mais belos monumentos. Além do Palácio do Araguaia – sede do Governo do Estado –, encontra-se ali o Relógio do Sol, o Cruzeiro – local do primeiro evento ecumênico na capital –, Monumento à Bíblia, Monumento ao Centro Geodésico do Brasil; Memorial Coluna Prestes, Monumento aos Pioneiros e aos 18 do Forte. O nome da cidade é uma homenagem à Comarca da Palma, criada pelo príncipe regente Dom João, em 18 de março de 1809.
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Foto: João Di Pietro
origem indígena e começou na região do Jalapão há aproximadamente 80 anos, quando a arte foi repassada aos moradores do povoado de Mumbuca. A precursora do artesanato em capim dourado, como meio de sustento, foi Guilhermina Ribeiro de Sousa, conhecida como dona Miúda, matriarca da comunidade, que repassou a técnica para a família. Assim, de mães para filhos, as técnicas do artesanato foram disseminadas na região. Mumbuca é um povoado reconhecido como comunidade
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remanescente de quilombos, localizado a 32 km da cidade de Mateiros. O capim dourado é uma planta nativa do Tocantins, encontrada nas veredas, na região do Jalapão. A colheita deve ser feita apenas uma vez por ano, de setembro a novembro. É delicada e exige cuidado na hora do corte, para deixar no lugar as sementes que estão localizadas na ponta da haste do capim. A matéria-prima é fonte de renda de muitas famílias artesãs espalhadas pela região, que estão em sua maioria em Mateiros, Santa Tereza, Ponte Alta, Lizarda, Lagoa do Tocantins, Novo Acordo e São Félix. Com a planta é possível confeccionar inúmeros produtos artesanais, como relógios, bolsas, potes, pulseiras, brincos, mandalas, chapéus, enfeites. As peças são normalmente arredondadas, pois a fibra não permite dobras. Para costurar e confeccionar as peças de capim dourado, os artesãos utilizam fios de palha de buriti. O brilho do capim dourado tornou-se um dos principais cartões postais do estado. Além de ser o principal meio de subsistência das comunidades da região, sua exuberância e beleza singular conquista admiradores em todo o Brasil e no exterior, movimentando o turismo no Tocantins. Religiosidade - “Rezadeira de bendito/faça um chapéu pra mim!/que é pra eu poder usar/ quando eu for lá pro Bonfim”. As manifestações culturais tocantinenses estão normalmente
Gastronomia – Amor-perfeito tem em Tocantins. Um biscoito fino, saboroso, aparentemente simples de fazer e que conquista quem se delicia dele. O berço de sua produção está na região sudeste, especialmente em Natividade, manuseado pela famosa dona Naninha. O sequilho é produto cultural que leva poucos ingredientes. Mas, como ressaltam as boleiras é preciso ter ‘ciência’ para fazê-lo.
De acordo com a idealizadora do projeto Sabores e Saberes, a jornalista Seleucia Fontes, a culinária do Tocantins absorveu e absorve muitas influências dos estados vizinhos. “A ocupação dessa região se deu pelo norte, com a vinda de nordestinos criadores de gado, isso há três séculos, e do sul, com as entradas e bandeiras paulistas. Por isso é comum reconhecer como pratos típicos a farofa de carne seca e o arroz maria-isabel (pratos nordestinos); e o arroz com pequi (goiano)”, declara. “Teus morros povoaram sonhos/criando mistérios e lendas/desenharam templos em pedras/coisas que eu nem sei cantar”. Valorizar a cultura é valorizar a história de vida do seu povo. Assim, alguns sonhos, roteiros e mistérios foram contados aqui. Mas, existem outros, como prosa o artista, que ainda não sabemos cantar.
Amor-perfeito
Foto: Anderson Silva
Aprenda a fazer com Dona Naninha o saboroso biscoito fino do Tocantins: Ingredientes: 1 prato de tapioca 800 g de açúcar refinado 400 ml de leite de coco 250 g de manteiga de leite Modo de fazer: Misture todos os ingredientes, menos o leite de coco, com cuidado e amasse bem com as mãos. Coloque o leite de coco aos poucos e amasse devagar. Deixe descansar por alguns minutos até que o açúcar desapareça na massa. Para fazer o formato de flor é preciso enrolar bolinhas e cortar um dos lados em formato de cruz. Asse em forno médio por cerca de dez minutos.
Foto: Thiago Sá
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Foto: Thiago Sá
Artesanato com capim dourado e as cavalhadas: ícones da cultura tocantinense
atreladas às festas em comemoração aos santos da igreja católica. “Nossa riqueza cultural está ligada às formas de expressão e à religiosidade do povo que tem uma característica própria e se expressa nos saberes e fazeres da sua gente. Rico na sua diversidade se apresenta no encanto de manifestações culturais, na devoção e fé dos romeiros; na história do patrimônio histórico e arquitetônico, nos monumentos e casarios; na beleza das matérias-primas, riqueza e cores do artesanato; na dança; nos ritmos, melodias e letras regionais da nossa música; na simplicidade e marca forte das comunidades quilombolas e indígenas; na literatura e nas técnicas e cores utilizadas pelos nossos artistas plásticos e visuais”, descreve o presidente da Fundação Cultural, Júlio César Machado. De acordo com o historiador da Fundação Cultural do Tocantins, Antônio Miranda, as principais manifestações culturais do Tocantins são a Romaria do Senhor do Bonfim (em agosto), nos municípios de Natividade, Araguacema e Fortaleza do Tabocão; as cavalhadas (também em agosto), em Taguatinga; a Festa Geral do Carmo (em julho), ao Divino Espírito Santo, Nossa Senhora do Carmo e Nossa Senhora do Rosário, na cidade de Monte do Carmo; a Festa dos Caretas que ocorre na Semana Santa, em Lizarda, e os festejos ao Divino Espírito Santo, típico na maioria dos municípios do Estado. A Festa do Divino Espírito Santo é símbolo cultural do Tocantins, pois além das cantigas, as folias também possuem danças típicas, como a sússia e catira. Agitada por tambores e cuícas, um bailado em que homens e mulheres gingam em círculos, a sússia, também conhecida como suça e súcia, é uma dança de origem escravagista. A Jiquitaia, por sua vez, é um passo da sússia. Já a catira é realizada aos pares, que bailam ao som das mãos e dos pés, como um sapateado compassado. A dança também acontece durante os giros das folias de Reis e do Divino. Os atores são catireiros, músicos repentistas que trovam poemas, com pandeiros, caixa e viola.
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“Meu nome é Thiago e trabalho na área de equipamentos de pátio para SEs de alta tensão. Atualmente curso mestrado na área de sistemas elétricos de potência na Universidade Federal de Itajubá (MG). Recentemente li a publicação Corrente Contínua e achei as reportagens e textos muito interessantes. Gostaria de saber se é possível receber esta publicação?”. Thiago Souza - Itajubá – MG
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Erramos - na edição 225 da revista Corrente Contínua, na reportagem intitulada “Em Tucuruí, cooperativas geram renda e esperança”, erramos alguns dados, que corrigimos nesta edição: o número de expropriados para o qual o Proset foi criado não é de 600, mas de 2.343 famílias; e no texto sobre a produtividade da Cooperativa Agroindustrial e Comercial dos Expropriados de Tucuruí, a primeira produção não foi de nove mil toneladas de peixes, mas sim de nove toneladas. A redação mantém as demais informações publicadas.
“Recebemos e agradecemos a revista Corrente Contínua. Temos certeza de que irá enriquecer sobremaneira, nosso acervo, por ser fonte de informação preciosa para os usuários desta biblioteca”. Maria Hilda de Medeiros Gondim - Diretora da Divisão de Desenvolvimento de Coleções da Biblioteca Central da UFPA - Belém – PA “Apraz-nos o recebimento da revista Corrente Contínua, nº. 225, a qual traz artigos relevantes para pesquisa e abstração de conhecimentos. Ademais, parabenizamos pelo belo artigo “Quem foi ao Pará parou, tomou açaí ficou”. Esperamos continuar recebendo a sua doação. Sucesso!” Antonia Farias da Costa Sousa – Bibliotecária da Fundação de Telecomunicações do Pará – Belém - PA.
“Recebemos e agradecemos o envio da revista Corrente Contínua, pois será de grande importância para o nosso acervo. Gostaríamos de continuar recebendo doações”. Mara Patrícia - Divisão de Processamento Técnico - Biblioteca Central da Universidade Federal do Amapá
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“Parabenizo os colegas pela excelente matéria da revista Corrente Contínua sobre a questão dos gases de efeito estufa nas usinas hidrelétricas. Ela é mais que informativa, é instrutiva para o leitor que ainda não conhecia o tema. Acredito que muitos colegas de empresa não sabiam que hidrelétricas também podem ser fonte de emissões de GEE. Mas como a própria matéria conclui, ainda serão necessárias muitas pesquisas até que se tenha um conhecimento técnico-científico mais aprofundado desses fluxos de GEE. O assunto é estratégico para o setor elétrico” Osmar Vieira Filho - Coordenação de Viabilização de Negócios da Eletronorte - Brasília - DF
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“Prezado Alexandre, vi a revista e achei muito bem feita. Creio que você e sua equipe usem toda energia e alegria para produzi-la. Parabéns!” Zuleica Nogueira Delfim - Centro de Pesquisas de Energia Elétrica - Cepel
Sabe lá Deus onde... Quem é esta mulher que vai aí dentro? Quem é o dono de tantos pensamentos? E como elas passam rápido por nós Esses homens sós Que universo é esse o desta criatura? Quer aprender tudo e já sabe tanto. Pra onde vai a menina quando vem a moça? Pra onde vai a mãe quando a avó se apresenta? A estudante, a viajante, a companheira, a dona dos nossos sonhos, a trabalhadora Eu sou apenas o barco. Viaje no meu corpo que te levo longe Mesmo sabendo que vais me deixar depois... Texto: Byron de Quevedo Sabe lá Deus onde... Foto: Rony Ramos
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“Prezado senhor Jorge Palmeira, agradeço sua doação da revista Corrente Contínua, a qual será muito utilizada pelos nossos usuários em suas pesquisas. Peço se possível a continuação de doações das publicações de sua instituição”. Rosa Elena Leão Miranda - Bibliotecária da Secretaria Estadual de Meio Ambiente do Estado do Pará - Belém - PA
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