Quixote do Gueto Poesia Cronica e um conto de resistencia

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Eliabe Cao$

A anos estamos resistindo, sorrindo e derramando lágrimas, mas ainda não conseguiram levar a nossa liberdade. De fato tentaram e reprimiram, nos colocaram nas piores situações e desafios, quando no exato momento que parecia estar perdido alguém gritou na multidão que era livre e que todos deveriam ser...

Quixote do Gueto Poesia Crônica e um Conto de Resistência


Deveria dizer ainda muito mais, porém creio que já é o suficiente para você continuar essa leitura. Demoro a partir de agora estamos juntos, e na correria pela mudança.

Peço por gentileza e com a educação opressora que me deram, digo a você que não leia essa história se não for ou foi parte dessa realidade. Caso tenha dificuldade em entender o que estou falando, ou mesmo fingir que não sabe o que esta acontecendo, deixo como ressalva as seguintes questões: • • •

Você já pegou um trem lotado, após o desrespeito de horas de espera; Já viu seus pais chegarem acabado da exploração do trabalho e no final do mês mal conseguir quitar as contas e sobreviver; Foi aluno dessa escola, precisou desses hospitais do governo, passou da infância a fase adulta tentando mudar sua realidade e sempre vendo os boy se dar bem; Fez 10 vezes melhor, representou as quebradas e ainda sim se viu em crise, pensando se estava fazendo a coisa certa.

Já sei que uns vão dizer, “que cara preconceituoso”, a arte é para todos. Então digo que 300 anos de escravidão, exploração, universidades de portas fechadas, teatros e cinemas com segurança impedindo a entrada da mulecada, para mim já é o suficiente para dizer: Deixe o Fêrrez, Sergio Vaz, Sacolinha, e tantos outros representantes da literatura marginal para a leitura de quem realmente precisa. Já roubaram e transformaram em branco o Machado de Assis, esconderam o Lima Barreto, esconderam Maria Carolina de Jesus. Então deixa esses longe da mania burguesa de transformar sonhos em frustrações, e pessoas em sujeitos de dominação e exploração para ganho pessoal. Deixa que nossa literatura, assim como vocês temiam é MARGINAL ATÉ A ALMA...

Eliabe Caos



PREFÁCIO Algo inflamável ainda pode ser escrito______________4 CONTO DE RESISTÊNCIA Urubus sobrevoam a tragédia______________6 CRÔNICAS Um dia se foi a companheira e filho de Inácio______11 Quando eu aprender a escrever_____________13 Hoje troquei ideia com a justiça__________________15 Desta Vez é Verdade_____________________16 Cala Boca já morreu ______________16 POESIA Salve Muleke______________________17 Raízes da Dor _______________18 Certo Como Conto________________19 Loucura de Quixote_____________________20 Quanto que custa as palavras__________________22 Sobre o Autor _________23


a miséria, tornar barracos de madeiras em verdadeiras fortalezas com pessoas nobres vivendo ali. Quantos problemas enfrentamos só no hoje e quantos ainda nos esperam ou nos colocaram na posição de desistirmos em sonhar.

ueria começar esse livro apertando a mão de todos e todas, olhar nos olhos e poder trocar ideias para aprender mais e ensinar um pouco. Não sendo possível isso, deixo um salve geral e agradeço a você que inicia essa leitura, talvez um dia possamos nos encontrar pelas ruas, ou quem sabe, numas dessas vielas e quebradas de sampa. E se caso não acontecer espero que você faça parte desse trabalho e se sinta livre para gostar ou não, pois o que nos interessa aqui é o sonho antigo de viver na plena liberdade. Entre tantas frustrações, dificuldades, revoltas e dias que achava que não conseguiria chegar a lugar nenhum, percebi que a maior resistência estava em mostrar a todos o quanto podemos nos tornar fortes. Fomos capazes de superar a fome, o trabalho pesado,

Entre essas páginas espero que todos possam ver o que acontece nas ruas de São Paulo, que entre painéis e shoppings, há pessoas que sonham e dia-a-dia acordam pensando que ainda podem mudar suas vidas. Entre os sonhos da mega-sena e a universidade distante da lógica, sempre fica o fato de estarmos ainda tentando sobreviver diante de uma soma de problemas, subtraído soluções e multiplicado pelo acúmulo de mazelas, dividindo ainda tudo isso, nos estaremos da cidade de SP. Tudo pronto a melhor fórmula já criada de opressão. Em vários momentos e a cada letra e texto construído aqui fui pensando em que poderia dizer, e se eu deveria realmente dizer algo para alguém. Percebi que a superação vem na esperança, não uma esperança sem sentido, mas como a de pessoas que mudaram a suas e a história de outros, uma esperança como a de Chico Mendes, Gandhi, Luiz Gama, Guevara, Rosa Parks, Luiza Mahin e tanto senhores e senhoras que enfrentam todos os dias o patrão com o sonho da vida de seus filhos ser diferente da que eles tiveram.


Dentre nossas peregrinações, vamos pelas ruas, becos e antigas e novas vielas, pelos barracos sem CEP, pois assim temos a vida pela forma e maneira de como ela é de luta cotidiana e de conquista a cada minuto por um momento de sorriso e um tempo depois lagrimas de redenção e coragem. Nossa natureza é questionável, mas nossa vontade de fazer melhor é a fonte que alimenta cada irmão e irmã que sobrevive no gueto de São Paulo. Das quebradas e caminhos nos horizontes aos becos e curtições do centro está por lá aqueles que possuem em si algo que ficou esquecido na vida. Ao final, se nada for dessas páginas, já estarei contente por que se chegou até este último parágrafo do prefácio, é por que já está finalizando a primeira página desse livro. De agora em diante terão mais algumas, e que você poderá ler em qualquer lugar que se sinta bem, ou mesmo no momento de revolta. Nessas páginas foca-se a resistência, lembrança de um país sem memória, força de cada letra colocada com uma intenção, a de resistir, também, através do que aprendemos com griôs, trovadores, músicos, poetas, rabiscadores de muro e saco de pão. Talvez finalize ainda dizendo que o mérito aqui não deve ser meu, mas de toda a polifonia e vozes de resistência que já estiveram um dia lutando pela liberdade, seja com a arte, seja pelas ruas, seja no gritar alto eu sou livre e minha meta é viver e morrer abraçado com a liberdade.

manhece o dia nas ruas de Sampa. 06h da manhã, o dia é sábado, a data e o ano já me esqueci, ou pelo menos tentei entre as tantas manhãs de fim de semana na periferia de São Paulo que acaba assim. Um montante de pessoas desce até o ponto de ônibus mais próximo de suas casas, outros seguem em uma caminhada de 30 minutos até a estação de trem. Aqui não guardarás o sábado, pois o patrão precisa lucrar. A geografia daqui é semelhante à de outros bairros no estremo de São Paulo, entre casas simples e ladeiras, o fato de todos sonharem em mudar de vida, abrir um barzinho que venda comidas nordestinas, uma igreja para se reunir no fim de semana, um salão de cabeleireiro, ou quem sabe uma oficina que conserta televisões, rádios. Hoje também dá para ganhar dinheiro consertando geladeiras, enfim se não abaixarem de novo o IPI da linha branca, as pessoas


vão consertar e não comprar outra geladeira, acho que o IPI da linha preta não para pelo menos a 500 anos, estamos no Índice de Pobres Indignados e sem oportunidades de realizar acordos de mudança. Todos que desciam e caminhavam, não notaram alguém deitado no chão, fim de semana, deve ser um desses bêbados ou drogados, jogado no chão por não conseguir chegar em sua casa. Será que ele tem pelo menos casa, família. Como dizia aquela senhorinha que vive perto do escadão, são todos uns vagabundos, se trabalhasse não tinha tempo para ficar assim jogado na rua. Essa até parece uma frase de colonizadores, do tipo que diz que o índio gostava do ócio e não colaborava com sua exploração, imagina o quanto que deixaram de influência em nossa história. Na verdade não notaram, mas no chão estava um jovem de 19 anos, conhecido como Gugu, ao seu lado jogado no chão estava próximo a um boné e apertado na mão direita o crucifixo, ainda pendurado no pescoço. Não por fatalidade o jovem estava morto, foi vitima de dois tiros, um na costa e um segundo de confirmação que atingiu a parte de trás da cabeça. Sem saber quem falou, chamou ou espalharam, às 07h da manhã estava ao redor do corpo uma viatura de policia, e um montante de curiosos. Comentários foram vários, deduções, um diz que é as drogas que já havia visto ele com maus elementos, outro diz que se estivesse na igreja isso teria sido diferente, e eis que um diz: “é que o rapaz é o Gugu filho da dona

Elza, a que trabalha costurando retalhos e revendendo produtos de beleza”. Um ainda insisti em saber, diz não saber, surge outra informação; O pai dele é o Paraíba aquele que sempre passa por aqui com uma sacola de ferramentas, pedreiro bom ele, fez o banheiro da minha vizinha. Outra viatura chega às 9h da manhã, neste tempo já havia no corpo algumas páginas de jornal e um pedaço de pano, se ainda me lembro um lençol velho trazido por alguém que disse que aquele corpo jogado ali sem nenhum cuidado ou respeito era um absurdo. Por volta das 10h da manhã, chega à pessoa que mais irá sentir com tudo isso, a mãe do jovem se aproxima rápido, esbarra na multidão e vê o que naquele momento seria o final de sua vida. Quem atirou levou mais do que o jovem, junto e no exato momento em que a mãe olhou, o mundo, sua vida e razão se perdeu em um buraco tão profundo que era impossível voltar. Não foi amparada por ninguém, ajoelhou próximo e ajeitou o lençol, o sangue de seu rosto marcou o tecido velho, as marcas ficaram como o santo sepulcro, nesse momento todos fizeram silêncio e perceberam que uma, aliás, duas vidas acabaram de se extinguir. Próximo do local do crime havia um campo de futebol, e três bares, o montante de pessoas chegava. Já pelas 11h da manhã curiosos se misturavam entre jogadores de fim de semana, nos bares cada um contava uma história, mais distante algumas mulheres com filho no colo e outros que brincavam em volta da mãe compartilhavam


do ocorrido, entre um bombeirinho e conhaque com limão, todos se tornaram um Datena, o cidade alerta estava concluído sem saber o que havia acontecido. Às 12h, o corpo ainda estava ali, um carro da policia cientifica acompanhava e examinava agora o jovem sem vida. O carro do IML estava atrasado como sempre, não sabiam a hora que iria chegar e tudo que se podia fazer era deixar uma viatura e fazer perguntas que terminavam sempre com a mesma resposta: “eu não vi, nem sei de nada”. Resposta diferente dos tantos comentários que estavam fazendo, mas por que dizer algo, desde pequeno aprende-se a não confiar na justiça, e essa da policia nunca nos sérvio de nada, ou seja, melhor o silêncio e deixar apenas os sentimentos a mãe e ao jovem que se foi cedo. A mãe acompanhou sozinha, um dos irmãos do jovem estava preso, e o outro que era mais novo do que ele não conseguiu se aproximar do irmão. O pai estava em um sono profundo, ressaca brava a base de rabode-galo, 51, algumas cervejas, um conhaque com mel, misturado ainda ao cansaço, frustração, sonhos perdido e lógico era fim de semana. Na mesa macarrão com frango cozido, refrigerante convenção e o almoço estava em várias mesas servido. Às 13h da tarde todos se concentravam em frente à televisão, entre os programas que atrofiam nossa criticidade, alguns comentários sobre o jovem morto. Uns dizendo que isso vai acontecer de novo,

outros que falta de religião dá nisso, no final de tudo algo deu para concluir, há comentários pior ou tão ridículos como o do Galvão Bueno e Ratinho uma mistura de palavras que não servem de nada nem para ninguém. Na madrugada que antecedia o caso, Gugu saiu de casa e sentia que o tempo não tinha muito sentido. Lembrou do tempo da escola, das correrias que fazia para ganhar umas moedas e jogar fliperama, do futebol e esquemas que tinha na parte da noite próximo a escola onde estudava. Não realizou o sonho da mãe, parou os estudos na 8° serie, decidiu que a escola não trazia nada então por que perder tempo, disseram que esse tempo é dinheiro, então decidiu usar o tempo para ganhar dinheiro. Na verdade o cara cansou de ver sua mãe com calos nos pés e nas mãos, não aguentava mais ouvir que na casa da patroa os filhos eram pessoas que estudavam, tinham uma vida pela frente. Lógico, pensou ele, os boy nascem e tem sua vida todo organizada, escola, diversão, universidade, carinho e o principal, que aqui falta muito, comida. Lembrou que ouviu na televisão um cara que dizia que não existem pessoas burras e sim pessoas subnutridas, acho que é difícil ser doutor sem o que comer, não interessa o conhecimento quando a barriga dói, e você ainda vive e acorda dentro de uma pressão para sair da miséria.


Mais dessa vez sua vida estava resolvida, mil por semana no esquema que estava. Venda de umas paradas de primeira, tipo aquelas que trazem direto da Bolívia, louco de mais, por que toda vez que o cara ouvia sobre a Bolívia e o Paraguai, o assunto envolvia drogas e contrabando, deve ser um país onde tudo é liberado, do tipo que a playboizada iria gostar, eles curtem essas coisas de fumar de boa, sexo sem limite, tudo fácil então é só se acaba, no final o pai paga a conta e desconta da empregada.

Próximo ao orelhão dois caras, acabavam de fazer uma ligação, Gugu olhou desconfiado, mas continuou os passos, tem que se mostrar forte aqui. O problema é que a noite estava quente de mais para usar os moletons que aqueles caras estavam, passou olhou na cara deles, percebeu que não conhecia nenhum, suavidade desconfiança de vida louca.

O problema na real eram os curiosos, ele saiu de casa e no relógio marcava 04h da manhã já tinha levantado uma grana, é louco o quanto que se consegue de viciados nesse lugar, empreendimento bom para traficar, sem parque, espaço para a comunidade curtir, nada de orientação. Só a policia que passa de vez em quando, mas tudo nosso, já me ligaram o esquema, do que vou tirar na semana separa uma parte para o robocop, ai tudo fácil, eu faço o meu, eles roubam na caruda e ai tudo mundo disfarça que a vida esta bem depois.

Na real nem sabe bem o que sentiu, ouviu o estralo, suas costas receberam uma puta pressão, o pensamento a mil e a reação de sobrevivência o fez correr, tropeço entre as pedras que estavam na rua e caiu. Sentiu outra pressão na cabeça, o boné saltou a frete dos olhos e o que ele podia ver era somente isso, uma bombeta bordada com o nome dos racionais e o crucifixo que agarrou firme na mão. Pediu mais uma chance para o tempo, a última coisa que venho à mente foi de como acabou rápido a vida.

Num baita cansaço saiu 05h da manhã de um bar próximo ao campo de futebol do bairro, andou em uma rua paralela ao campo de futebol de várzea, a cada passo de uma trave para outra foi observado a trave que estava do outro lado. Até lembrou que jogava numa escolinha de futebol que tinha ali, o cara que treinava ele gostava de dar umas lições de moral na mulecada, falar que quem quer jogar bola tem que estudar e não ficar de vadiagem, bons tempos.

O dois atiradores sumiram pelas ruas escuras e Gugu amanheceu ali mesmo, sem saber quem foi que atirou. Seu corpo foi retirado do chão às 18h da noite, já não havia mais ninguém, até sua mãe já estava em casa chorando pelo filho. Os policiais anotaram tudo e também se foram, concluíram que tudo se tratava de briga por território, alguns amigos comentaram sobre o cara na adolescência, outros


disseram que não lembravam. No chão continuou o rastro de sangue, mais o que mais marcou foi o tanto de urubus que estavam sobrevoando o céu, e os milhares que já havia indo embora.


m 1969 um Inácio qualquer, desses que criam coragem e se aproximam do balcão para pedir um rabo-de-galo, vai tomar a grande decisão de sua vida. Caminha por uma dessas ruas de São Paulo, de semelhante a outras, crianças jogando bola descalço, um cachorro magro revirando o lixo e um grupo de mulheres comentando os passos daquele que vai de camisa com botões fechado até o pescoço, barba por fazer, cabelo bem penteado, e uma colônia que só usa em momentos especiais. Muito corajoso esse tal Inácio, foi até a casa de Maria de Lourdes, e mesmo que lhe faltando um dedo, devido a um acidente de trabalho na metalúrgica, diz o que nem a moça esperava. − Você quer casar comigo? Qual poderia ser a reação da moça? E quantas perguntas seguiriam! − Inácio como você esta no trabalho? É época de dificuldades? É aqui que iremos morar?

Inácio não ouviu tudo, pois entendeu que todos aqueles questionamentos eram sinal de que a moça havia aceitado. Seriam enfim felizes, trabalharia muito para ter a casa dos sonhos. Uma simples, mais aconchegante com cortinas e lençóis de pedaços de renda, um chão vermelho e de brilho que Maria de Lourdes faria questão que todos que entrassem tirassem os sapatos para entrar. Pois assim foi o ano de 1969, o homem foi à lua, ainda velávamos Luther King, a seleção brasileira caminhava para uma seção de vitórias para ser campeã do mundo em 1970, a fabricação do fusca estava a todo vapor, surge os anos de chumbo, e que coisa, Paulo Maluf assumia a Prefeitura de São Paulo. Mas por que se preocupar tanto, Inácio e Maria de Lourdes estavam contentes. Ele o metalúrgico e ela uma tecelã caprichosa, dessas de dar orgulho no trabalho. Então que lua-de-mel faria, a simples e linda viagem a Poços de Caldas, 10 dias de descanso e Inácio nem mais se lembrava dos dias que carregou água numa lata no sertão do Pernambuco, do caminhão pau-de-arara em que veio para São Paulo com a família, do dedo que havia perdido em um acidente de trabalho, por fim tudo valeu a pena, Inácio e Maria de Lourdes eram felizes. Em 1971 a grande notícia, fruto desse amor e companheirismo, Inácio e Maria seriam pai e mãe. Inácio sabia que agora teria que lutar muito, o fusca tão sonhado teria que esperar, era hora de cuidar dos preparativos da chegada de seu filho. Infelizmente toda a vida de Inácio seria transformada, sua companheira Maria de Lourdes morreu aos 23 anos vitima


de falta de assistência à maternidade, o médico que a acompanhava era o mesmo que assinava falsos atestados para que a ditadura militar omitisse o número de pessoas mortas pela repressão. Assim como a liberdade do país, naquele momento Inácio se perdeu sem saber exatamente aonde, e tudo que havia esperado para seu futuro se foi no descaso e sonho interrompido pelo sistema de saúde da gestão Maluf. Inácio como homem forte superou essa tragédia em sua vida, talvez nesse momento tenha renascido e nada melhor do que com um novo nome, Inácio agora era denominado como Lula. Líder sindical, criador do PT (Partido dos Trabalhadores), o homem que conheceu e fez com que o mundo o conhecesse como presidente do Brasil. Inácio, ou agora Lula, continuou a enfrentar desafios, desigualdades, e opressores que insistem em não acreditarem em um mundo melhor, a meta de Inácio, desculpe Lula, era que as pessoas tivessem pelo menos três refeições por dia, e que pudessem acreditar em um futuro sem tantas mazelas. Se Inácio (Lula) conseguiu, talvez seja algo a se avaliar, por outro lado o esforço de Inácio continua. Hoje com um câncer, Inácio está recebendo tratamento em um hospital particular, um dos melhores do país, e muito se ouve (ti,ti,ti e blá, blá, blá) para que ele receba

tratamento no SUS (Sistema Único de Saúde). Mas por quê? Inácio, ele conhece de perto o que é o sistema público de serviços, e a questão não é se ele está ou não ali, até por que já esteve. Florestan Fernandes se tratou em um hospital público e nem por isso, mudou a qualidade do serviço, então a questão é. Inácio incomodou e incomoda, Maria de Lourdes não pôde ser a primeira dama do Brasil, mas foi o grande amor de Inácio e o que fez com que ele mudasse mais do que o SUS, mudou o rumos da história entre opressores e oprimidos.


esde criança tenho o sonho de desenhar as palavras, fazer como no desenho que mostra a imagem daquilo que se quer representar. Quantas vezes usando um graveto e desenhando no terreiro um cachorro, meu pai saindo para conseguir trabalho, o carro que tinha na cidade, desenhava minha mãe por que não sabia colocar seu nome, então seu desenho era seu nome escrito. Escrever é só para os doutores, dizia muito minha avó. Todos deveriam escrever para dessa maneira escrever sua história, suas angústias, a receita que aprendeu, escrever o sorriso daquela moça que vive aqui pertinho. Como queria escrever sobre seus olhos, quando aprender vou escrever sobre o que sinto quando a vejo, vou fazer poesia e sonhar escrevendo que ela está comigo por que escrevendo eu posso tornar real meu desejo.

Penso que escrever é a capacidade de convencer que o que está escrito é real, que a solidariedade assim como a busca de liberdade começa no ato de desenhar as primeiras palavras, de escrever o próprio nome para depois escrever quem eu sou e como eu sou. O quanto que vale um mundo sem letras, e que mundo podemos trocar sem letras que informem, comovam, digam, representem e evidenciem a razão de estarmos aqui e termos trilhado toda essa história escrevendo a nossa própria história. Nas cavernas escreveram sua origem, os muros das cidades estão escritos, nos livros, pedras, papiros e pergaminhos. Tantas histórias, mitos, crenças, ideias, razões, políticas, música, recado e tanta coisa boa de escrever. Quando for capaz de escrever vou contar a todos as histórias que conheço, do que me fez sorrir e me fez chorar, dos dias bons e ruins para todos compartilharem o que eu tenho para contar e em forma de escrita relatar. Já conseguir juntar o “j” com outras letras, combinou no meu nome, um João, não qualquer João, mas o João um eu João. Depois que escrevi meu nome, descobri mais do que as letras desse nome, entendi nesse momento que esse João pode escrever a sua dignidade.


humildes, afinal são os únicos julgados e condenados. Começo com a conversinha dizendo que a justiça é para todos, e que inclusive todos podem se defender. Já logo pensei, além de ser cega ainda gosta de mentir, desabafei dizendo que se é tudo igual, por que os políticos roubam e não vão presos, por que a molecada na quebrada é enquadrada enquanto nos bairros onde o pessoal tem grana não, e que perseguidos são bem parecidos, à quase 500 anos não mudam a face.

esta vez eu resolvo tudo, bem fácil entro falo a real e se não debater o por que dessas paradas erradas vai se lamentável vou fazer a justiça. Nem me preparei, do jeito que estava em casa sai, de camisão xadrez e calça jeans uma bombeta na cabeça e tênis branco no pé, já era. Deixei a lupa escura por que queria olhar na bolinha do olho, encarar a tal justiça e vê se é isso mesmo o se está de conversa dando ideia sem sentido. Entrei direto e nem pedir licença, tipo trator quebrado casa em terreno ocupado, já olhou para mim na arrogância e me perguntou que eu queria. Disse que queria saber quando veria a justiça fazendo alguma coisa, e que se tinha algum problema com os

Disse que eu teria que ter calma, por que a justiça tarda mais não falha, e que um mundo sem injustiças ainda é possível. Louco de mais para mim, muita conversa não conseguir aceitar, nada consta desse montante de ideia sem sentido que venho ouvindo à anos. Agora é sem chance, já que querem assim demoro, acabei com tudo de uma vez só, dois disparos no coração pelos injustiçados, mais dois na cabeça pelos perseguidos e por fim para terminar com o tambor, logo mais dois de misericórdia por achar que estávamos moscando.


o que tantos lutaram para alcançar finalmente se tornou verdade.

árias pessoas nas ruas gritando e um monte de faixas agradecendo as mudanças. Na multidão seguia brancos, negros, orientais, um judeu abraçava um muçulmano enquanto um homofóbico pedia desculpas e vestia uma camiseta rosa. Comecei a pensar se aquela pinga do interior de São Paulo era mais forte do que me haviam falado, ou se estava ficando louco de uma vez, acho que os dias sem comer acabaram, também, com meus neurônios. Resolvi sai nas ruas e acompanhar a multidão, logo na primeira esquina um bando de policias estava esperando, sabia que isso era bom de mais para ser verdade; Do nada começaram a jogar flores no chão e quando achei que já era a hora de enterrar alguém, percebi que os policiais e exercito estavam apoiando a população. Mais a frente em uma loja, o televisor anunciava que havia verba para saúde, que o salário de professores, aliás, de todos seriam de acordo para que houvesse uma sociedade justa, sem desigualdades. Sabia que um dia essas coisas ilícitas iriam me fazer mal, tudo muito perfeito e um mundo de igualdades,

Não aguentei de tanta emoção, gritei sem parar, entrei aos prantos, comecei a rir, é verdade eu sei que é verdade, Ghandi, Luther King, não morreram em vão e o eu tenho um sonho agora pode ser mudado para meu sonho é verdade. Quanta emoção que começou a explodir no meu coração nem sabia mais como seria minha vida, poderia agora viver e não mais que lutar por minutos respirados, nem conseguia pensar por onde começar nessa nova vida de liberdade e igualdade. No fulgor da alegria e emoção tropecei em uma pedra, cai no chão e bati com a cabeça no chão com tanta força que desmaiei na hora. Após alguns minutos, com a imagem de um policial ainda fosca levantei e ao meu redor tinha um monte de pessoas, abracei o policial e comecei a cumprimentar todos e a chamar as pessoas de companheiros. Nem percebi bem de onde venho, um empurrão e depois algemas no braço, enquanto entrava na viatura as pessoas olhavam para mim como se eu estivesse louco, já não sabia exatamente o que havia acontecido. Na delegacia entre a dor de cabeça e me sentido em um mundo paralelo, recebi a informação que havia bebido uma mistura de leite com soda cáustica e água oxigenada. Uma empresa havia feito essa mistura para conseguir um número maior de litros do produto, esse é o tipo de leite que faria um baita sucesso na cracolândia, venda em atacado e varejo.


Enfim o mundo não mudou, eu fui preso, a empresa foi liberada e o mundo está como é, o resto não preciso escrever vocês já sabem, podemos estar sendo observados.

Cala Boca já Morreu Como as crianças são resistentes, um dos maiores exemplos de liberdade. Pior é que insistimos em dominálas e vamos fortes com certezas e razões, dizendo menino não diga isso, menina senta direito não é modos de uma mocinha. É controlando que se cria adultos melhores, ou talvez frustrados, de qualquer jeito vamos ter que educá-los. É bem melhor, nos tempos dos meus pais era melhor, uma cintada e lá na correria foi a rebeldia. Fácil rápido, imagina se os pais dos políticos tivessem dado boas cintadas, não roubariam tanto assim, melhor o Kassab não deve ter tomado boas chineladas por que vive fazendo coisas erradas. Mais em meio a tantas dificuldades de compreensão, na discussão de duas crianças, uma em sua raiva estrema diz: “Cala a boca, não falo mais com você”. E então no calor do conflito o outro responde: “Cala a boca já morreu que manda na minha boca sou eu”. E ambos continuaram e resolveram seus conflitos, por que no conflito entre diálogos surge também a resolução dos conflitos.


alve muleque Olha a resistência o sonho cresceu Não é panela é competência Esfarrapado vivendo o caos no barraco nessa utopia vai pique os malaco Na ideia que encanta zoio brilha feito criança curti o som as bombeta temo herança Aprendi sobre quilombo que Rosa Parks não se levantou se rebelou silêncio não doutor

Quanto iguais nas fortalezas de madeira nunca desistiram não, não vê fraqueza


agora entendo o valor da luta intensa o quanto vai custar me manter com consciência No meu diploma tem bacharel em correria trovador moderno rima verso em rebeldia do subúrbio os loucos no RG carrega o caos tenta procurar não existe nada igual

o comando de velhos piratas nossas raízes vieram nos tumbeiros pelos mares traídos séculos torturados; Ontem hoje a mesmo história se repete nos barracos nas vielas na arquitetura da desglória Hey, então olha, quem esta na escuta corpos e mentes continuam escravizados por grana, droga, fama inveja na lama redenção ta ai não anda traição, o inicio de toda a dor que impregna a todos quantos que nóis vai nas vielas, nos cortiços nos nobres prédios é serio esse estado sinistro e não se vê tanto retorno aca mais mira no alvo certo poder desarrumar ir lá catar não é injusto pois, de aca levaram tudo pra lá nesse quarto de despejo me sinto imóvel as vezes com as pernas quebradas só que é treta o marginal resiste fora das regras no que a história diz, sendo o fruto da guerra e é só o loco no álibi, pra viver... caos do subúrbio agora hoje, sempre sem limites.


CERTO COMO CONTO Cheguei contemplando com coerência, correspondendo certo contudo caótico ciência carência corre corta corre corre, corrupção coitado, caneta certificou corroborou com cataclismo cada caetano colhe córrego cata-cata caixa coquetel correu... ciclismo, cinismo, covardia coluna cotidiano coitado com cabeça coberta cada cor com cor correspondendo corta coceira com compaixão cem caverna cogita carecer cem coragem

ei, mulher vim aqui só pra mostrar meu sonho e sou um peregrino latino aquele louco que tem só a ganância de ter todos os dias a mulher verdadeira a moça que hipnotiza é como mágica, uma mágica eu nem entendo mais quando estou perto de ti de tudo eu compreendo e explico é como a loucura de quixote que por amor transformou-se em nobre um bandoleiro e eu só um maloqueiro que de chapéu e terno li esses versos para ser aceito e tentar mudar seus olhos que me veem mais que nada não querem falar e a dor maior é quando penso e não consigo alguma maneira de ter aqui comigo


Uma expressão talvez o perfume do seu corpo só um momento para ti mostrar meu sonho lembra, eu te prometi já faz um tempo uma canção que mostrar o desejo que eu tenho e foi assim que eu fiz essa cação pra ti dizer que meu brilho maior é quando estou perto de ti.

Quanto custa as palavras Se é de resistência sabemos que o desafio é explicito no caminhar das mudanças esperamos e sempre estamos no ilícito Mais tudo agora é fácil só pagar que vem, sonhos de montão pra você e quem pagar só não tem liberdade. Pronto. Esquecido e fazendo poesias para onde que vai esses mininus são eles mesmo que por baixo da catraca agora escrevem o sorriso dos mendigos Quanto que custa essas palavras o valor se dá na dignidade que a cada verso escrito acerta com a verdade E mesmo que pouco lembrado continua no peregrinar por que um dia ainda vai sonhar sem a ninguém ter que pagar


Quixote do Gueto Ontem eu enfrentei gigantes Me falaram que não, que aquilo era favelas Insisti em dizer que eram gigantes, Gigantes neoliberais, capitalistas, Gigantes geradores de miséria disseram que eu estava louco levaram meus discos de rap e disseram que sofria de uma doença chamada utopia Eu e rocinante perdemos deixamo nosso quixote de lado e nos conformamos que não eram gigantes Depois de me considerarem louco perceberam, que a loucura era parte da esperança Mas não havia mas tempo já havia me adequado ao mundo injusto e estava morto com minha utopia

Eliabe G. De Souza, ou como é conhecido nas ruas “Eliabe Caos” é natural de São Paulo, da cidade de Franco da Rocha. Educador, escritor e musico, possui um disco gravado com o grupo Caos do Subúrbio com o título de Canibais do Novo Tempo. Graduado em Letras pela PUC-SP, foca seu trabalho na divulgação da cultura de maneira independente afirmando que apesar das dificuldades de financiar o próprio trabalho temos a satisfação de termos liberdade para criá-los.


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