TFG I - UFFS

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Proposta de moradia para estudantes da UFFS no centro de Erechim/RS

CASA DO ESTUDANTE

Elias Rust Barcelos Souza Introdução ao trabalho final de graduação do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal da Fronteira Sul Campus Erechim. Orientador: Vinícius Cesar Cadena Linczuk


QUESTÃO ESTUDANTIL

ERECHIM

CASAS DE MADEIRA

MADEIRA

ANÁLISES

DIRETRIZES

Acesso e evasão Moradia e direito à cidade

Intervindo no centro

3 5 7

Memória e preservação

10

Remanescentes

11

Características construtivas

15

Material sustentável

23

Tecnologia construtiva

25

Características do terreno

31

Paisagem

35

Moradia estudantil

39

Volumetria

45


OBJETIVO GERAL O trabalho se propõe ao desenvolvimento de um projeto arquitetônico de moradia estudantil para discentes da Universidade Federal da Fronteira Sul buscando a permanência dos estudantes, e evitando a evasão e consolidando assim a universidade. O projeto tem por objetivo explorar a madeira como material construtivo sustentável, concebendo um complexo de edifícios. Para a implantação desse complexo foram escolhidos locais no centro urbano de Erechim onde se localizam edificações residenciais de madeira, da época da colonização da cidade. A localização foi pensada como uma maneira de preservar esses conjuntos de valor patrimonial, garantir o direito à cidade para os discentes da UFFS e realizar um exercício de projeto no qual as antigas edificações conviverão harmoniosamente com os novos edifícios propostos, preservando assim o patrimônio ambiental urbano e trazendo novamente o uso da madeira para a cidade, de forma tecnológica, contemporânea e sustentável.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS - Levantar dados e estudos sobre a questão da moradia estudantil; - Fazer um levantamento sobre a história do uso da madeira na arquitetura de Erechim; - Identificar edificações residenciais de madeira da época da imigração remanescentes na cidade, para possível intervenção; - Projetar edifícios verticais em madeira para abrigar moradias universitárias;

Manifestação moradia estudantil na UFFS. Acervo pessoal

- Fazer com que os novos edifícios sejam implantados com coerência em relação as preexistências históricas do local.

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QUESTÃO ESTUDANTIL Acesso e evasão

1. BENINCÁ,

Dirceu. Universidade e suas Fronteiras. Outras Expansões, São Paulo, 2011.

A Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), fundada em 2009, surgiu a partir da demanda por ensino superior público, gratuito e de qualidade na Mesorregião Grande Fronteira Sul do Brasil. Movimentos sociais, ONGs e entidades públicas se articularam para criar a universidade com um caráter democrático e popular, interiorizando assim a rede de ensino superior pública. Essa interiorização rompe com o modelo de concentração das universidades nas capitais e com perfil elitista¹ devido ao pouco número de vagas

e as formas de acesso mediante vestibulares. Ela tem como premissa ser uma universidade “popular”, o que significa que o seu público-alvo são estudantes de baixa renda e de grupos que historicamente não tinham acesso ao ensino superior público. Para que isso ocorra a universidade tem uma política de acesso diverso que leva em consideração além da nota do ENEM, se o candidato procede da rede pública de ensino, da sua renda familiar e de sua etnia.

Alunos na UFFS campus Erechim. Fonte: Site oficial UFFS

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2. BENINCÁ, Dirceu. Universidade e suas Fronteiras. Outras Expansões, São Paulo, 2011. 3. PEREIRA, Thiago Ingrassia. Universidade Pública em Tempos de Expansão: Entre o Vivido e o Pensado. Evangraf, Erechim, 2014.

A universidade tem uma política de permanência baseada em auxílios econômicos, onde depósitos são feitos aos alunos mediante solicitação dos mesmos e de suas respectivas rendas. Com essa política a universidade pretende evitar a evasão, buscando assim proporcionar a permanência dos estudantes nos cursos. Essas politicas são fundamentais para que a experiência universitária ocorra de maneira completa, dando a possibilidade que os estudantes participem de atividades extracurriculares, tão importantes quanto as aulas para a sua formação². Para que isso ocorra o estudante precisa ter uma segurança financeira, para que o trabalho durante a graduação, caso necessário, seja apenas para complementar a renda, são tomando todo o seu tempo e prejudicando o aprendizado. Esses auxílios financeiros são uma medida importante, porém paliativa visto que não solucionam a questão.

Nesse contexto, mesmo com essas políticas de permanência, a UFFS enfrenta o problema da evasão, que é alta nos seus cursos. A evasão é quando o estudante se desvincula do curso, sem que o conclua. A evasão é maior nos cursos noturnos³, onde boa parte dos estudantes tem um perfil de estudante trabalhador, com menos tempo de dedicação à universidade faz com que a conclusão do curso seja mais difícil. É importante ressaltar que a questão financeira não é o único motivo de evasão, vários fatores levam a desistência dos estudantes como estrutura curricular do curso, falta de valorização das profissões da licenciatura, a não adaptação a vida universitária, e questões pessoais.

Evasão campus Erechim

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QUESTÃO ESTUDANTIL Moradia e direito à cidade

Diante da questão da evasão e de promover condições de permanência a UFFS possui um projeto de construção de um edifício para abrigar moradia para os estudantes. Essa proposta atenderia 96 estudantes no campus Erechim. O projeto é padrão para todos os campus da UFFS, o que se torna algo inadequado visto que o projeto ignora as condicionantes locais. A edificação foi projetada em módulos de dois pavimentos, sendo que cada módulo atende 96 alunos, dispondo 2 cozinhas coletivas (1 por andar), 1 lavanderia coletiva, 1 sala de meios e 1 sala de estudos. Cada dormitório abriga dois alunos e pode-se perceber na planta que o espaço não proporciona muitas possibilidades de layout e apresenta pouca privacidade aos moradores. A implantação seria no campus, junto a outras estruturas da universidade. O problema consiste no fato do campus Erechim está localizado a 12km da área urbanizada, situado no meio rural. As moradias não devem ser somente locais de estadia mas sim sociabilidade e convivência, e os estudantes também tem o direito, a saúde, ao lazer e outras coisas proporcionadas pela cidade e que não estão disponíveis no campus e nem no seu entorno.

CIDADE

UFFS

Planta baixa projeto padrão UFFS Esc:1/250 Fonte: Secretária de obras UFFS.

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1.IBGE, 2015 2. FÜNFGELT, Karla. História da paisagem e evolução urbana da cidade de Erechim – RS. 3.COSTA, Gerson Carlo de Oliveira. Moradias Estudantis: Uma política pública na consolidação do Direito à Cidade.

Erechim está localizado no norte do estado do Rio Grande do Sul e possui uma população estimada de 103.245 habitantes (IBGE 2015)¹. A implantação da cidade se deu na década de 1920 e desde a década de 1950, com a implantação do loteamento do bairro progresso pelo município, a população de baixa renda começou a ser expulsa da região central da cidade. Esse processo se intensificou com a ampliação do perímetro urbano do município em 1977, quando começaram a surgir vários loteamentos. A maior alteração na configuração urbana veio com a aprovação do plano diretor para a cidade em 1992, onde se incentiva a verticalização do centro da cidade e sua densificação e índices construtivos relativamente elevados. Essa alteração na lei e uma política de financiamento imobiliário do governo federal, gerou uma enorme valorização dos lotes na área central e pressão imobiliária para a verticalização², o que de fato ocorreu, empurrando assim cada vez mais a população de baixa renda para fora da centralidade. Boa parte dos estudantes da UFFS pertencem as classes que historicamente tiveram o direito à cidade reduzido ou mesmo negado.

Nesse contexto se torna fundamental a construção de moradias estudantis no centro urbano como uma política de acesso à cidade e educação. Cabe ao estado, segundo a constituição federal de 1988 garantir esses direitos: Estabelece-se uma perspectiva dialética entre o direito à moradia e o direito à educação, o que é evidente quando se analisa o artigo 182 da Constituição (caput e parágrafos 1º, 2º e 4º), responsável pela regulamentação do Princípio da Função Social da Cidade perante as políticas urbanas; esta norma garante que providências devem ser tomadas, pelo Poder Público, para que todos possam usufruir dos benefícios que os espaços urbanos podem oferecer, como o acesso à saúde, à educação, ao fluxo pelos espaços urbanos em um tempo razoável e a uma moradia que permita o acesso do cidadão a estes direitos; ocorre, portanto, um panorama dialético entre estas duas esferas do direito: o direito à moradia se materializa quando a moradia serve de um instrumento social, de que dispõe o indivíduo, para a obtenção do direito à educação, e o direito à educação, por sua vez, só pode ser concretizado num ambiente urbano se houver um mínimo de dignidade de moradia para o cidadão. (COSTA, p. 10)³

Imagem de Erechim, Outubro 2016. Fonte: Página “Drones Alto Uruguai” no Facebook.

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ERECHIM

Intervindo no centro

1. PEREIRA, Natália Biscaglia. Características construtivas e a influência na durabilidade: arquitetura em madeira histórica em Erechim-RS. 2.FÜNFGELT, Karla. História da paisagem e evolução urbana da cidade de Erechim – RS.

Partindo do pressuposto que o direito à cidade é consolidado quando as pessoas moram em locais efetivamente providos de infraestrutura e de urbanidade, a implantação dessas moradias estudantis seria favorável no centro da cidade. Para determinar locais de possível intervenção, foi levantado um breve histórico urbano e arquitetônico para a identificação de locais com potencial para acomodar as moradias estudantis para a UFFS. Erechim, foi colonizada tardiamente em relação ao restante do estado do Rio Grande do Sul, no começo do século XX com a passagem da ferrovia São Paulo – Rio Grande pela região do Alto Uruguai.¹ Sua formação se deu principalmente por imigrantes oriundos das “colônias velhas” na região da serra gaúcha. A sede do município foi implantada junto a estação ferroviária de acordo com o desenho urbano do engenheiro Torres Gonçalves. O plano consistia de uma malha xadrez, com uma praça ao centro da qual se irradiavam avenidas diagonais.

As vias eram largas e os lotes grandes, com 1.250m cada. O plano desconsiderava a topografia local, de relevo bastante acidentado, fato que faria com que as edificações tivessem de ter adaptações para se ajustarem ao terreno. O local da colônia era coberto de mata nativa bastante densa, com abundância de araucárias. Isso foi fundamental para a economia da cidade, onde até a década de 1950 era grande produtora de madeira inclusive para a exportação, essa abundância também determinou que as primeiras construções da cidade seriam em madeira. A cidade se desenvolvia rapidamente ganhando importância na região, se tornando uma centralidade e já contando com alguma industrialização e grande crescimento do comércio. No ano de 1931, a administração municipal decide que a cidade deveria ter novas características, isso se refletiu em uma lei que proibia novas construções em madeira no centro². No ano dessa lei haviam somente três edificações em alvenaria, sendo uma delas a estação ferroviária.

Projeto para a sede da colônia Erechim, projetada por Carlos Torres Gonçalves em 1914. Arquivo Histórico Municipal

Vista aérea da praça da bandeira e seu entorno na década de 1950. Arquivo Histórico Municipal

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3. FÜNFGELT, Karla. História da paisagem e evolução urbana da cidade de Erechim – RS.

No mesmo ano, após essa nova legislação municipal, ocorreram três grandes incêndios seguidos na cidade, destruindo muitas casas e comércios de madeira, eles ocorreram, coincidentemente, na área onde estavam proibidas novas edificações em madeira³. Assim toda a reconstrução teve de ser feita em alvenaria. As novas edificações, a maior parte da avenida Maurício Cardoso, eram de 2 ou 3 pavimentos com características ecléticas e posteriormente de estilo Art deco. Desde esse período a área central sofre mudanças sempre se “modernizando” em um ritmo de construção e substituição de edifícios acelerado.

Já em 1957 é construído o primeiro edifício vertical da cidade com 12 pavimentos, alterando assim todo o gabarito e gerando precedente para novas edificações em altura. Essa edificação era vista como sinal de desenvolvimento e esse anseio por modernidade, por parcela da população, significava que as antigas edificações já não correspondiam a esse ideal.

Avenida Maurício Cardoso, sentido norte-sul, início da década de 1930. Arquivo Histórico Municipal Incêndio na Av. Maurício Cardoso em 8 de Novembro de 1931. Arquivo Histórico Municipal v. Maurício Cardoso em 1957, em construção o edificio condominio Erechim com 12 pav. Arquivo Histórico Municipal.

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1. COSTA, Israel José da. Album oficial: cinquentenário de Erechim. 2.CRICHYNO, Jorge. Identidade e preservação do patrimônio ambiental da paisagem urbana de Niteroi: Concepções e perspectivas Sócio-Ambientais.

A revista comemorativa do Cinquentenário de Erechim tinha como título “Progresso em todos os sentidos...” e possuía trechos como: “Erechim se moderniza cada vez mais, novos prédios em construção mudam a fisionomia da cidade, havendo estimulo e entusiasmo num município em que tudo é trabalho.” (COSTA,1968)¹. A sociedade e economia capitalista implica no fato que o desenvolvimento deve ser constante, indivíduos e comunidades enfrentam uma constante pressão no sentido de se reconstruírem interminavelmente. Tudo que era inovador e de vanguarda em determinado momento, se tornarão decadentes e obsoletos num momento seguinte.² Desse processo de constante renovação na cidade de Erechim nem a antiga igreja matriz resistiu. Com cerca de 40 anos de idade em 1969 a igreja foi demolida para dar lugar a uma nova e moderna catedral. A partir da década de 1980 a verticalização se intensifica alterando de vez a paisagem da cidade. Atualmente o centro da cidade possui alta verticalização e alta taxa de aproveitamento, conforme o plano diretor, que é muito genérico. Não traz determinações além dos recuos mínimos de cada novo edifício¹, podendo ser construídos independente das condições históricas.

O fato de que os lotes ainda sejam grandes nessa parte central onde a cidade surgiu faz com que eles sejam muito valorizados e cobiçados pelo mercado imobiliário. Por isso a tendência é utilizar todo o potencial construtivo e a maior altura permitida, ignorando o entorno e removendo indiscriminadamente as construções existentes no local. A cidade tem assim novas edificações surgindo freneticamente, muitas por pura especulação visto que são todas de padrão alto ou para classe média.

Capa do Album Oficial: cinquentenário de Erechim. Maquete da nova catedral no jornal Voz da Serra, 1969. Arquivo Histórico Municipal Residência histórica na Rua Pedro Alvares Cabral e Verticalização ao lado ignorando totalmente o edificio histórico. Foto autor.

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INTERVENÇÃO

Memória e preservação

1. CRICHYNO, Jorge. Identidade e preservação do patrimônio ambiental da paisagem urbana de Niteroi: Concepções e perspectivas Sócio-Ambientais. 2. NARDI, Letícia. Patrimônio cultural e cidade contemporânea. Florianópolis: Editora da UFSC, 2012. 280p. 3. YÁZIGI, Eduardo. A Conceituação de Patrimônio Ambiental Urbano em Países Emergentes.

As cidades devem ser entendidas como objetos socialmente construídos e suas edificações como fontes de conhecimento, elas devem ser preservadas sob a perspectiva de que são exercícios de cidadania visto que a sua preservação as torna referências da história, da memória e das identidades. A memória é uma relação entre o passado e o presente, ela funciona como um instrumento de identidade e de desenvolvimento, a mudança sem memória é um fator de alienação e desagregação¹, ter consciência histórica é entender o universo social como uma contínua formação cultural². Atualmente a lógica do mercado se sobrepõe a qualquer outra lógica que atua na cidade, fazendo com que edificações de valor histórico corram risco de desaparecer.Para uma cidade ser viva ela precisa de diversidade, e os prédios antigos contribuem com isso, eles abrem espaços para a variedade arquitetônica, cultural e social. Preservar é uma forma de resistência as forças econômicas que reduzem o espaço a mercadoria, preservar é uma forma de se reapropriar da cidade. (Crichyno, 2001)¹. Diante de todo esse panorama, ainda resistem em no centro de Erechim, algumas residências em Madeira que datam do início da ocupação da cidade, que sobreviveram ao tempo e a modernização contínua.

Essas casas de interesse histórico e seu entorno, são entendidas como locais oportunos para a construção das moradias estudantis. Portanto o presente exercício não é o de pregar o congelamento da cidade, mas sim construir respeitando o existente e promover a diversidade de usos e ocupações. Assim a preservação, contrariando o senso comum, não conflita com o desenvolvimento econômico. A proposta desse trabalho é identificar, dentre as casas remanescentes em madeira, as que tem espaço disponível em seu entorno para que as moradias estudantis sejam implantadas, respeitando as relações de paisagem, pois a preservação dessas casas como objetos isolados seria insuficiente. Esses remanescentes que ainda possuem uma relação menos conflituosa com seu entorno, devem ser preservados no contexto do patrimonio ambiental urbano. Segundo Yázig³ é constituído de conjuntos arquitetônicos, espaços urbanísticos, equipamentos públicos e elementos naturais, onde o conflito deve ser o menor possível e a inclusão social uma exigência crescente. A diretriz é criar relações minimamente conflituosas entre as novas necessidades e o que está posto e criar mais urbanidade. Pois conceito de patrimônio ambiental urbano deve ser entendido não somente como a preservação de um conjunto existente, mas como um processo que está em construção, uma reapropriação da cidade.

Projeto do parque Guinle em 1943 pelo Lúcio Costa, projeto que busca ser harmonico com a edificação histórica existente. Archdaily

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REMANESCENTES Características e padrões

1.PEREIRA, Natália Biscaglia. Características construtivas e a influência na durabilidade: arquitetura em madeira histórica em Erechim-RS.

Desde a implantação da colônia até a década de 1930, a cidade viveu seu auge da construção em madeira¹. Isso foi possível devido à presença de construtores experientes provenientes de colônias já consolidadas. Essas casas seguiam um certo padrão construtivo. Tendo como base as casas remanescentes levantadas nesse estudo, estas foram divididas em quatro padrões construtivos em função das características arquitetônicas de suas fachadas e seus usos.

Dentre as edificações remanescentes foram identificadas três que possuem um grande potencial de intervenção devido as suas características arquitetônicas, técnicas e a sua implantação. Em seu entorno encontram-se construções que são passiveis de remoção para inserir as novas moradias estudantis. Essas casas identificadas e seus respectivos terrenos e entornos serão apresentadas com mais detalhes posteriormente.

1. Casa de um pavimento com porta de entrada pela rua. 2. Casa de dois pavimentos com uso comercial do terreo e sótão como segundo pavimento.

3. Casa de três pavimentos com o uso do porão para comércio e entrada da residência pela lateral. 4. Casa de dois pavimentos com uso comercial do terreo, com varanda e balção frontal.

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As residências em madeira identificadas caracterizam-se por serem divididas em três pavimentos, um porão ou pavimento semienterrado, o térreo e o sótão. Elas possuíam telhado em duas águas com inclinação muito elevada, o beiral em formato quase reto em relação ao telhado, fazia com que a água fosse projetada com mais velocidade e mais longe das paredes, diminuindo assim o risco de infiltração e protegendo as tábuas da parede da umidade.¹ Eles eram de telhas cerâmicas, sendo a telha do tipo francesa, a mais comum.

Os porões eram construídos de pedra ou tijolo queimado. Sua existência é principalmente devido à topografia bastante irregular, mas também como forma de evitar o contato da madeira com a umidade vinda do solo. Os demais pavimentos eram feitos de tábuas dispostas no sentido vertical, com as frestas vedadas pelas mata-juntas. Essas tábuas eram pregadas nas vigas mestras da estrutura e sua posição vertical permitia que a água das chuvas escorra sem acumular nas juntas, o que possibilitaria o apodrecimento da madeira. As tábuas possuíam um espaço entre elas variando em até dois centímetros, geravam uma possibilidade de ajuste, espaços que depois eram cobertos pelas mata-juntas. Algumas das casas remanescentes possuiam a fachada feita em tábuas com o encaixe do tipo macho e fêmea para que se tenha um acabamento melhor. Essas construções eram alinhadas às ruas, sem recuo e com recuos laterais, geralmente implantadas no centro ou nas esquinas.

mata-juntas

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REMANESCENTES localização

1. Casa na Avenida Maurício Cardoso, década de 1930. Foto autor.

2. Casa na rua Aratiba, nº 680. Construída pela família Tagliari em 1918. Foto autor

3. Casa na Avenida Getúlio Vargas esquina com a Av. Uruguai. Construída em 1916 por Modesto Rigoni. Foto autor.

4. Casa na Av. Tiradentes. Década de 1930. Foto autor

5. Casa na rua Pedro Alvares Cabral esquina com a Av. Comandante Kraemer. Década de 1930. Foto autor.

6. Casa na Av. Sete de Setembro, construída pela família Rigoni em 1927. Foto autor.

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REMANESCENTES Casa da rua Aratiba esquina com a rua Portugal

1. PEREIRA, Natália Biscaglia. Características construtivas e a influência na durabilidade: arquitetura em madeira histórica em Erechim-RS.

Essa residência, construída em 1918, tem suas paredes feitas em mata junta, e apresenta uma varanda frontal localizada no andar superior. Atualmente seu estado de conservação é ruim, mesmo que esteja sendo habitada. Algumas mudanças foram feitas nas aberturas e no guarda corpo do balcão. Em seu entorno se encontra um conjunto de casas operárias da década de 1950¹ e que possuem valor documental e de memória, principalmente por serem casas que eram vendidas prontas em peças feitas por fabricas da cidade. Boa parte delas estão habitadas mas seu estado de conservação deixa a desejar. Esse conjunto entra nas diretrizes de preservação junto com a casa de 1918.

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Conjunto de casas operรกrias na rua Portugal. Fotos autor.

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REMANESCENTES Casa da Av. Getúlio Vargas esquina com a Av. Uruguai

Essa residência, construída em 1916, tem suas paredes feitas em mata junta, e uma varanda frontal e lateral. Atualmente seu estado de conservação é aceitavel, e se encontra em um estado muito próximo do original. Em seu terreno se encontra também uma edificação onde funcionou a primeira escola de Erechim, que atualmente está fechado e tem problemas de conservação. Ela está inserida em um grande terreno com muita vegetação arbórea.

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Edifício onde funcionava o colégio, contruída em 1922. O telhado em folhas de zinco é original. Foto autor.

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REMANESCENTES

Casa da Av. Sete de Setembro

Essa residência, construída em 1927, tem suas paredes feitas em mata junta, sendo a fachada frontal feitas em tábuas do tipo macho-fêmea, com um acabamento melhor. Atualmente seu estado de conservação é muito bom, e se encontra em um estado muito próximo do original. Ela é habitada e no terreo, de alvenaria, funciona uma alfaiataria e uma barbearia. De todas as casas remanescentes é a que se encontra em melhor estado.

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INTERVENÇÃO

Determinação do terreno

1. FARR, Douglas. Urbanismo Sustentável: Desenho urbano com a natureza. p.121.

O presente exercício vai utilizar uma das edificações remanescentes identificadas e seu entorno para locação de um projeto para moradia estudantil. As três edificações remanescentes identificadas que possuem potencial de intervação possuem características similares, e igual necessidade de preservação devido à importância documental. Para escolha de uma dessas edificações, foi utilizado o critério da maior concentração de atividades importantes para a vida estudantil em um raio de 400m a partir de cada casa.

A maioria das pessoas caminha uma distância de 400m antes de retornar ou optar por ir de algum tipo de transporte não peatonal¹. A vida se torna mais conveniente quando os destinos podem ser percorridos a pé e por isso a escolha foi baseada nesse critério. Assim a o terreno onde está a residência na esquina da av. Uruguai com a av. Getúlio Vargas se mostra a mais conveniente para a implantação da moradia, pois dentro de seu raio se encontram 24 atividades e nesse perímetro também se encontram a maior variedade de atividades.

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MADEIRA

Alternativa sustentável

1.SILVA, Tânia Sofia Barbosa. Explorar a Potencialidade de um Edifício Construído com Madeira Lamelada Colada Cruzada (MLCC) 2. In:GRIGOLETTI, Giane de Campos. Caracterização de impactos ambientais de industrias de cerâmica vermelha do estado do Rio Grande do Sul. 3.MAURY, Maria Beatriz. Produção de cimento: Impactos à saúde e ao meio ambiente.

Desde o início da história construtiva da humanidade se utilizou a madeira como material de construção devido a sua abundância natural, seus altos índices de rigidez e resistência relativamente ao seu reduzido peso e sua facilidade de corte. Com o avanço da industrialização o uso da madeira começou a ser desestimulado em função de sua durabilidade restrita, e a alta industrialização do ferro fundido, que associado ao cimento e a alvenaria passou a ser o material construtivo mais utilizado¹. A problemática é que esses materiais não são renováveis, e no caso do concreto nem reciclável.

A construção civil contemporânea é um dos setores da economia que mais causa impacto no meio ambiente, consumindo grande quantidade de matéria-prima e liberando poluentes durante oprocesso de produção. Os materiais mais utilizados como a areia, a cal e o cimento, provém de fontes minerais esgotáveis. Somente a indústria do cimento é responsável pela liberação de 5% de carbono na atmosfera no mundo. Além das fábricas serem altamente prejudiciais ao seu entorno, sendo fontes de emissão de poluentes atmosféricos perigosos, e danosos a saúde dos seus trabalhadores³.

A produção de bens de consumo na sociedade contemporânea acontece em ciclos abertos, onde a matériaprima é extraída da natureza - sem reposição - processada, gerando resíduos - que são lançados na terra, ar ou água – e a produção após ser consumida gera mais resíduos, novamente lançados na terra, ar ou água. Esse ciclo aberto de materiais e energia leva a um esgotamento contínuo dos recursos naturais do planeta, tornando, a médio e longo prazo, a vida na terra insustentável.(LYLE,1997)²

Fábrica de produção de cimento. Fonte: http://www.cidade-brasil.com.br/foto-itau-de-minas.html Mina de extração de matéria prima para produção de cimento. Fonte: http://www.cidade-brasil.com.br/foto-itau-de-minas.html

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1.BERRIEL, Andréa. Tectônica e poética das casas de tábuas.

Diante desse cenário é necessária uma revisão das nossas técnicas e materiais construtivos, a fim de que as atividades da construção civil tenham um menor impacto sobre o meio ambiente. As técnicas devem ser desenvolvidas e utilizadas tendo como apoio modelos de produção que utilizem recursos renováveis e gerem trabalho e renda, além de utilizar materiais que causem baixo impacto ambiental. A madeira se enquadra nesses critérios produtivos, é um material renovável e pode ser produzido em sistemas que causem baixo impacto ambiental, como sistemas agroflorestais ou o manejo sustentável de matas nativas. Esse manejo sustentável permite a regeneração permanente da floresta, contribuindo assim para a recuperação ambiental, esse manejo, ao contrário das jazidas de minério, protege o solo contra a erosão, garante a qualidade da água e preserva a biodiversidade. Durante seu processo de crescimento a madeira ainda contribui com o sequestro de carbono, sua fotossíntese absorve carbono e libera oxigênio na atmosfera. No Brasil ainda se tem a vantagem que as árvores crescem em média três vezes mais rápido do que em países do hemisfério norte¹ onde a madeira é mais comumente usada como material de construção.

Atualmente a madeira é usada de maneira pouco tecnológica na cidade de Erechim, e por isso é associada à construções de baixa qualidade. Apesar de ser um material que sempre esteve presente na sociedade local e nas suas tradições construtivas, na contemporaneidade a madeira está caindo em desuso. O arquiteto deve desenvolver uma visão sistêmica de todo o processo construtivo, assumindo assim um papel que é de sua responsabilidade. Deve coordenar todo o processo construtivo, entendendo a origem dos materiais, seu processo de retirada da natureza, sua utilização e seu retorno para o meio ambiente. Agindo assim o arquiteto será capaz de ter uma atitude mais coerente com o ambiente, unindo arte e tecnologia em prol de uma sociedade mais justa ambientalmente e socialmente¹.

Exemplar de Araucária. Fonte: http://oregionalpr.com.br. Produção de madeira e manejo juntamente com a produção de alimentos. Fonte: http://ww.embrapa.br/

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MADEIRA

Uso da tecnologia da madeira lamindada colada

1.SILVA, Tânia Sofia Barbosa. Explorar a Potencialidade de um Edifício Construído com Madeira Lamelada Colada Cruzada (MLCC)

Nesse trabalho será utilizada tecnologia da madeira laminada colada (MLC). Essa denominação se refere ao material obtido a partir da colagem de lâminas de madeira, com as fibras da madeira coladas no sentido do eixo e unidas com uma lâmina adesiva¹. Esse material assume o formato e função de pilares e vigas ou paredes e lajes estruturais. Não possui os defeitos de uma peça maciça de madeira, que são os nós e medulas decorrentes do crescimento das árvores, defeitos que reduzem as características de elasticidade e resistência da peça. Além desses defeitos, as peças de madeira serrada possuem limitações nas suas dimensões, devido ao processo de extração, e transporte além da limitação de altura natural das árvores. As peças estruturais de MLC possuem ainda um baixo peso próprio, quando comparada ao aço e o concreto, o que gera uma maior economia na construção das fundações¹.

Peça de madeira laminada colada. Fonte: SILVA, Tânia Sofia Barbosa. Explorar a Potencialidade de um Edifício Construído com Madeira Lamelada Colada Cruzada (MLCC).

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1. REBELLO, Yopanan Conrado Pereira. A Concepção Estrutural e a Arquitetura.

Para o dimensionamento estrutural a NBR 7190/2012, determina que para emprego da madeira laminada colada, serão admitidas as mesmas propriedades da madeira usadas nas lâminas. Devem ser feitos ensaios nas lâminas de cola para determinar a resistência a tração e ao cisalhamento e a resistência das emendas. Na produção das peças, as lâminas são sobrepostas até atingir a seção transversal determinada no dimensionamento da peça estrutural. A qualidade do produto final depende de varias etapas do processo de fabricação, devendo as características de resistência e rigidez dos elementos de MLC ser garantidas pelos fabricantes através do controle de qualidade de cada componente do processo. Para fins de dimensionamento necessários na etapa postarior desse trabalho serão utilizados como referência os gráficos de dimensionamento de pilar e vigas de madeira desenvolvidos pelo Yopanan Rebello¹.

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1.SILVA, Tânia Sofia Barbosa. Explorar a Potencialidade de um Edifício Construído com Madeira Lamelada Colada Cruzada (MLCC)

A construção utilizando o MLC é caracterizada como uma obra seca, pois todas as suas peças são pré-fabricadas. A montagem é feita de forma rápida e eficiente no canteiro de obras, reduzindo assim o desperdício de água e a geração de resíduos como ocorre nas obras de alvenaria e concreto armado convencionais. A madeira precisa ser protegida dos fatores ambientais, principalmente do contato com a água, para isso o primeiro pavimento deve ser de concreto armado ou alvenaria, de modo similar as casas remanescentes mostradas anteriormente.

1. Colocação dos pilares de MLC, com a devida ancoragem, sobre a laje de piso térreo em concreto armado;

Esquema de montagem de edificação em MLC. Fonte: SILVA, Tânia Sofia Barbosa. Explorar a Potencialidade de um Edifício Construído com Madeira Lamelada Colada Cruzada (MLCC).

3. Montagem dos painéis das lajes de piso sobre as vigas de MLC

Abaixo temos um esquema gráfico da montagem de uma edificação do tipo pilar e viga usando MLC. Da esquerda para a direita temos as etapas¹:

2. fixação das vigas de MLC aos pilares previamente colocados e retirada da ancoragem. A colocação das vigas permite a estabilidade da estrutura.

4. fixação das vigas perimetrais de MLC aos demais elementos construtivos

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Uma barreia à construção em madeira, particularmente em edifícios verticais, é a ideia de que a madeira é menos resistente a incêndios do que o aço e a alvenaria. Se trata de um preconceito pois a madeira possui uma inerente resistência ao fogo. Durante um incêndio enquanto vigas de aço se deformam, as vigas de madeira mantêm as suas propriedades. A madeira arde a 0,7 milímetros por segundo, conseguindo-se portanto 30, 60 e 90 minutos durante a qual resiste aos efeitos do fogo. Para além desta propriedade, a massa total de um elemento de madeira é composta por 15% de água, que numa situação de incêndio, vai evaporar e impedir que a madeira queime efetivamente, funcionando como um elemento retardador. (SILVA,2014)

1.SILVA, Tânia Sofia Barbosa. Explorar a Potencialidade de um Edifício Construído com Madeira Lamelada Colada Cruzada (MLCC)

Para aumentar a resistência ao fogo a estrutura pode ser superdimensionada para que e edificação suporte um incêndio por mais tempo. No contexto local, para se adequar as normas de segurança, na proposta o edifício terá um núcleo de circulação vertical em concreto e alvenaria.

Viga de MLC queimada, mas com o interior intacto. Fonte: SILVA, Tânia Sofia Barbosa. Explorar a Potencialidade de um Edifício Construído com Madeira Lamelada Colada Cruzada (MLCC) Ruínas de uma edificação de aço e madeira após um incêndio. A madeira manteve a resistência enquanto as vigas de aço derreteram e comprometeram a estrutura.

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ESTUDO DE CASO LifeCycle Tower Austria. 2012

1.Hermann Kaufmann ZT GmBh Architeckten. Disponível em http://www.hermann-kaufmann. at/

O estudo de caso é um prédio comercial de oito pavimentos¹. O projeto possui um núcleo em concreto onde se concentram as escadas, elevador e banheiros. Esse núcleo não foi feito em madeira para atender as especificações da legislação de prevenção de incêndio local. Um elemento muito importante é a laje mista de madeira e concreto. A camada de concreto possibilita a separação entre os andares por uma camada de material não combustível. Como a madeira não deve ficar exposta as intempéries o edifício o revestimento externo em placas metálicas. Todas as partes em madeira foram pré-fabricadas.

Imagens do edifício em MLC. Fonte: http://www.hermann-kaufmann.at/

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Parte da edificação construída em concreto/alvenaria

Laje mista madeira/concreto

Imagens do edifício em MLC. Fonte: http://www.hermann-kaufmann.at/

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ÁREA DE INTERVENÇÃO Características

Índices:

I.A. = 3,5 T.O. = 80% h = 15 pav. Rec.lat. = h/15 +2m Rec.Fund. = h/20 +3m Rec.Front.= isento Conforme plano diretor municipal de Erechim. LEI Nº 2595, DE 04 DE JANEIRO DE 1994.

Demolições

Vista aérea da praça da bandeira e seu entorno na década de 1950. Arquivo Histórico Municipal. Casas que serão demolidas se encontram fechadas. Fotos do autor. Abril 2017.

Para o projeto dos edifícios para moradia estudantil será necessária a demolição de algumas edificações existentes, que são casas de madeira unifamiliares. A remoção se justifica, para além da necessidade de espaço, na falta de evidências que essas casas tem um valor patrimonial documental. Não possuem técnica singular, nem caráter artístico e se encontram abandonadas. Na foto da década de 1960, demonstra que elas não existiam. Por suas carcterísticas supõe-se que foram construidas nos anos 1980 para fins de locação pelos propriétarios do terreno.

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Composição do terreno

56%

Av

.G

Rua Aratiba

et

úl

io

Va

Vegetação

rg

as

10%

Patrimônio

34%

Disp. Intervir

Av. Uruguai

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ANÁLISES

Relações do terreno com o entorno

Usos no pavimento térreo

Comérciais Residênciais Institucionais Religioso

Usos nos demais pavimentos

Comérciais Residênciais Institucionais Religioso

Gabaritos

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Fluxos viários

Vegetação

Insolação

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ANÁLISES Paisagem

1. ANDRADE, Inês El-Jaick. Dimensão Ambiental da paisagem cultural: o impacto do entorno nos jardins de interesse histórico

A proposta é intervir no terreno para aliar preservação patrimonial com direito à cidade. É fundamental não preservar só fisicamente os edifícios em madeira, mas também a sua legibilidade, ou seja a nova edificação destinada a moradia não pode se sobressair às históricas. A legibilidade abrange o atributo da qualidade visual¹, onde a partir de enquadramentos visuais do edifício é possível uma leitura espacial do sítio, as partes devem ser reconhecidas e organizadas em um padrão coerente pelo observador.

Para identificar a legibilidade da casa a ser preservada, são necessárias análises a seguir, que vão determinar algumas diretrizeres para a nova edificação estudantil. Observando as fotos fica evidente que a massa de vegetação é componente fundamental da legibilidade do patrimônio, devendo ela também ser preservada.

A Casa pode ser vista desde a praça da Bandeira onde ela fica em segundo plano em relação a prefeitura e a catedral, mas é evidente a sua importância nessa composição, qualquer edifício significativamente maior tiraria o protagonismo da prefeitura. Não a nada que se sobressaia em terceiro plano, a casa e a sua massa vegetativa dominan.

Nessa vista a casa assume o primeiro plano, junto com a câmara municipal e as edificações na Av. Getúlio Vargas. Em segundo plano aparencem edifícios que não impactam na legibilidade da casa.

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A Casa aqui fica me primeiro plano. Embora as edificações na Av. Getúlio Vargas estejam em segundo plano elas influênciam na legibilidade, caso fossem prédios de maior gabarito a percepção da casa seria diferente. Ao fundo também não há nada além do céu.

Na vista da esquina a casa assume total protagonismo visual, não podendo ser observado nada ao seu fundo. Os edifícios nas laterais não impactam na legibilidade.

Dessa visão o que domina é a casa de madeira que funcionou como escola e a massa de vegetação. A casa da esquina não é perceptivel, e nada ao fundo além do céu. No canto direito há edificios mas que não causam problemas de legibilidade no conjunto.

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Desse ponto não é possivel observar as edificações de madeira que serão preservadas, há a predominância da vegetação. Esse é o ponto mais adequado para a nova edificação estudantil.

Da esquina oposta as edificações históricas não podem ser vistas. Somente a massa de vegetação, com destaque para as palmeiras de Jerivá.

Da Av. Uruguai, a edificação em madeira da esquina fica em segundo plano, e a massa de vegetação tem menos força. Porém ainda assim os edifícios de fundo são quase imperceptíveis.

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DIRETRIZES

Com base nas análises de uso e paisagem

Rua Ara

A área ideal para a edificação é a faixa em frente a rua Aratiba. Devido à seu grande fluxo, ausência de edificios de valor patrimonial e com baixa densidade de vegetação.

tiba

Aplicando os indíces do permitidos pelo plano diretor, chega-se a esse volume sem recuos frontais e laterais, mas que impactam negativamente a legibilidade das casas de madeira.

Aplicando as análises de paisagem, fica sendo 6 pavimentos como o gabarito ideal para fins de legibilidade. 8 Pavimentos seria o máximo tolerado. Porém ele seria visível como pano de fundo da edificação, causando um impacto considerável.

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MORADIA ESTUDANTIL

Moradia como “casa” e espaço de aprendizado

1.GARRIDO, Edleusa Nery. Moradia Estudantil e formação do(a) estudante universitário(a)

A moradia estudantil tem caráter socializador e formador, sua função vai além de oferecer apenas habitação. Estudos mostram que experiências extraclasses têm mais influência sobre o desenvolvimento acadêmico e intelectual dos estudantes do que o corpo docente e a equipe de assuntos estudantis comumente percebem¹. Porém nem toda experiência extraclasse produz efeitos positivos na aprendizagem dos estudantes. Não é fato de o estudante ter experiências que produz mudanças positivas, para contribuírem com a aprendizagem e o desenvolvimento intelectual. As experiências vividas devem estar alinhadas com as metas educacionais das instituições de ensino superior, e para isso é necessário um ambiente intencionalmente organizado com esse objetivo. As habitações estudantis que tem sido produzidas não proporcionam essas experiências, visto que são muito limitadas, desconsiderando esses aspectos de aprendizado e outros como os aspectos físicos, psicológicos e sociais, deixando de explorar todo esse potencial formativo.

Para além de objetivos de formação acadêmica há também a enorme influência da formação do estudante como indivíduo, como afirma Berlatto e Sallas: A transformação da convivência involuntária inicial em redes de solidariedade, propiciadas pela convivência no espaço coletivo; a construção de laços sociais e afetivos mais duradouros e a possibilidade de transformar um ambiente transitório em lar¹.

Isso demostra como o ambiente físico e as condições de interação que a sua arquitetura propicia repercutem em diferentes aspectos da vida do estudante morador. A qualidade desses espaços e suas características podem trazer consequências tanto desejáveis quanto indesejáveis, o que leva, por vezes, ao bem-estar ou ao sofrimento de seus moradores¹. Esses ambientes proporcionados, ou não, pela arquitetura da moradia não se restringem ao edifico, mas também na relação do edifício de moradias com a cidade e os ambientes positivos externos que ele cria, proporcionando encontros dos estudantes com a comunidade e sendo um elo de ligação entre a cidade e a universidade.

Moradia estudantil da UNICAMP. Os apartamentos dos estudantes se comunicam através de pátios internos. Fonte: Archdaily.com.br

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2. SCOARIS, Rafael de Oliveira. O projeto de arquitetura para moradias universitárias.

A moradia estudantil é um espaço de caráter coletivo e por isso não deve ser pensado e projetado apenas como um local de habitação transitória. Esse caráter de moradia transitória tá ligado ao fato dessas moradias fazerem parte de uma instituição, nessa -proposta fazem parte da UFFS. O fato de ser uma habitação institucional implica que os moradores te pouco controle sobre o ambiente e devem seguir as regras administrativas da instituição. Além disso é comum que esses edifícios de moradia sigam a mesma lógica de estruturação arquitetônica dos demais edifícios que compõem a instituição que a abriga². Essa situação pode ser apresentar como redutora das possibilidades de uso por parte dos estudantes. A ideia de casa fica comprometida, pois demanda características proporcionem o reconhecimento e a significação do espaço habitado. Um dos principais fatores do descontentamento estudantil com as residencias estudantis das universidades é a percepção institucional do espaço².

Planta baixa da moradia estudantil a UNICAMP, mostrando os patios comunicando entre si.

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DIRETRIZES

Baseadas nas reflexões anteriores

EDIFÍCIO COMO CRIADOR DE ESPAÇOS EXTERNOS; O projeto deve estar inserido em seu contexto, funcionando como um elemento de conexão e continuidade na malha urbana. Nesse sentido os espaços externos não devem ser espaços residuais entre as edificações, pois em geral esses espaços não são utilizados¹. Os espaços devem ser positivos, ou seja envolventes e aconchegantes e não amorfos. Para isso é necessário que as edificações funcionem como um complexo e não como um único edificio. Quanto mais monolítica for uma edificação mais ela se apresentará como uma instituição, edificações enormes e homogêneas diluem a identidade das pessoas.

ESPAÇOS DE LAZER COMUNITÁRIO; Devido sua função como elo entre universidade e a cidade é fundamental a criação de espaços de lazer, sejam eles culturais, de esporte ou mesmo de contemplação. Esses espaços devem ser proporcionados em formas e escalas variadas.

GRADIENTES DE PRIVACIDADE;

1.ALEXANDER, Christopher. A pattern language. 2.GARRIDO, Edleusa Nery. Moradia Estudantil e formação do(a) estudante universitário(a)

Os espaços externos e internos dos edifícios devem ter variados graus de privacidade e intimidade, mesmo algumas áreas comuns devem ser somente para determinados grupos. Uma edificação que tenha os seus ambientes muito interligados, sem a diferenciação de gradientes de privacidade, faz com que os espaços sejam homogêneos. Eliminando assim todas as sutilezas de interação social possíveis em um edifício¹.

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ESPAÇOS DE ALIMENTAÇÃO COLETIVOS; Os espaços de alimentação funcionam melhor se coletivos, não só pela economia construtiva e de equipamentos, mas também em função da saúde do estudante morador. Pesquisas mostram que o ato de comer coletivo melhora a qualidade da alimentação dos estudantes. Segundo Alves, dos estudantes com o padrão de alimentação coletivo, 57% relataram que frutas e hortaliças nunca faltavam em casa. Isso porque os moradores dividiam naturalmente as responsabilidades sobre a compra de alimentos, sendo que os alimentos citados eram repostos pelo grupo à medida que eram consumidos. Entre os que tinham padrão de compras individual, apenas 12% relataram ter sempre estes alimentos em casa.

DORMITÓRIOS INDIVIDUAIS. A necessidade de um ambiente calmo para estudos e descanso é fundamental para o bom desempenho do estudante e por isso um quarto individual é a opção mais adequada. Pesquisas mostram grande insatisfação por parte dos moradores estudantes de habitações onde os quartos são compartilhados. Segundo Mendes e Carvalho (2007) em dados coletados nas moradias entre os aspectos que desagradam os estudantes estão a falta de privacidade (58%), o barulho (52%) e a inexistência de quartos privativos (50%). A invasão do espaço alheio e a utilização de pertences são mais frequentes nos quartos compartilhados e há a utilização de barreiras, tais como: cortinas, armários, estantes e outros, para delimitar espaço e assegurar maior privacidade. Um maior controle sobre a utilização do espaço e dos objetos, causa um menor nível de conflito entre os estudantes moradores².

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URBANIDADE

Conceitos e análises para implantação

A relação com o lugar é parte indissociável da arquitetura, o edifício implantado passa a fazer parte do conjunto da cidade. A arquitetura constrói lugares, contribuindo, ou não, para o aumento da urbanidade. O conceito de urbanidade, considerado nesse exercício, se refere ao modo como espaços da cidade acolhem as pessoas. Espaços com urbanidade são espaços hospitaleiros. O oposto são os espaços inóspitos ou, se quisermos, de baixa urbanidade¹. A perspectiva atual é a de privatização dos espaços públicos e das atividades que antes eram realizadas nas ruas das cidades. A arquitetura acaba se fechando nela mesma, deixando de criar cidade.

1. AGUIAR, Douglas. Urbanidade e a qualidae da cidade.

Vivemos em cidades onde o espaço público é cada vez mais inóspito, marcado por grades nas fachadas de prédios, extensos muros contornando introvertidos condomínios, mega shopping-centers / mega estacionamentos e, a pior parte, as áridas freeways urbanas. Essa parece ser cada vez mais, nas mais diversas culturas, a urbanidade da classe média.¹

Antiga Catedral e o prolongamento da calçada

Em Erechim, haviam arquiteturas que proporcionavam urbanidade, como a antiga catedral e seu recuo frontal, e o clube do comércio e cine Luz, que criavam um prolongamento da calçada para o edifício. Ambos os exemplos se encontram alterados. O exercício aqui procura ir na contramão dessa tendência e propor edifícios que criem urbanidade e consequentemente cidade. O modernismo se tornou a nossa tradição arquitetônica². Assim como os pioneiros do modernismo buscaram estratégias construtivas na arquitetura colonial, nesse exercício explorarei exemplos da arquitetura modernista nacional. Esse exercício de análise terá como objetivo se apropriar das soluções projetuais desses projetos, para que essas soluções sejam interpretadas de forma que atendam aos interesses e necessidades atuais, e assim auxiliem no processo de implantação da moradia estudantil no terreno.

Clube do comércio e antigo cine luz com seus prolongamentos sobre a calçada.

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Edifício Louveira. Fonte: www.Archdaily.com.br

Prolongamento da praça em frente, criando um diálogo e unidade com o entorno.

Edifício Gustavo Capanema (MEC). Fonte: www.Archdaily.com.br

Criação de 2 praças e uma permeabilidade pelo uso de pilotis. Cria uma urbanidade em contraste com o entorno adensado.

Edifício Metrópole. Fonte: www.Archdaily.com.br

A torre se alinha com os edifícios do entorno. Faz um prolongamenti da praça existente e cria permeabilidade por meio de galeria coberta.

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DIRETRIZES

Baseadas nas condições climáticas

Erechim está localizada nas coordenadas 27° 38' 02" S 52° 16' 26", a 783m acima do nível do mar. Pela sua localização geográfica, a cidade está em um clima mesotérmico úmido, temperado, do tipo subtropical úmido, conforme a classificação de Köppen. Não foram encontrados dados sistematizados sobre a caracterização climática de Erechim, em função disso serão utilizados como referência para o projeto arquitetônico os dados de Passo Fundo, localizado a cerca de 80km de Erechim. O clima a ser utilizado como referência tem temperaturas médias entre 18ºC e 0ºC nos meses mais frios e acima de 22ºC nos meses mais quentes com um regime de chuvas bem distribuídos ao longo do ano. As situações proporcionais de conforto ou desconforto durante o ano são as seguintes¹:

Para proporcionar as condições adequadas de conforto na edificação, devido ao perfil climático da região, deverão ser adotadas medidas para o aquecimento solar passivo. Porém essas devem ser flexíveis devido as variações de temperatura ao longo do ano e mesmo nas estações frias onde podem ocorrer os “veranicos” devido à massas de ar quente. Devido a essas necessidades e características as fachadas orientadas para norte e noroeste oferecem uma insolação mais equilibrada ao longo do ano. Ainda que a melhor orientação é a norte, para propiciar a maior exposição a radiação solar possível.

- Situação de conforto: 29,1% do ano 1. CUNHA, Eduardo Grala. Elementos de arquitetura de climatização natural.

- Situação de frio: 57,5% do ano - Situação de calor: 13,4% do ano

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PROGRAMA

Definição dos usos e atividades

MORADIA

QUARTOS INDIVIDUAIS

COZINHA COLETIVA BANHEIROS

COLETIVOS

LAVANDERIA

VISITANTES

ESP. CONVIVÊNCIA

PERFIS DIFERENCIADOS (GESTANTES, IDOSOS, FAMÍLIAS)

SALA DE ESTUDOS MANUTENÇÃO/OFICINAS

CULTURA

BIBLIOTECA

COMÉRCIO

SERVIÇOS COMÉRCIO GERAL

ARQ. HISTÓRICO BARES E LANCHONETES AUDITÓRIO

ESTRATIFICAÇÃO DO PROGRAMA

QUARTOS CONVIVÊNCIA

COZINHAS/BANHEIROS

CIRCULAÇÃO VERTICAL

OFICINAS PRAÇA COBERTA

COMÉRCIO

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IMPLANTAÇÃO

Esquemas e características da implantação

Abertura para a esquina e a criação de espaços interligados

Moradias Gestantes, família, Pós Visitantes Auditório Biblioteca/ Arq. Histórico Oficinas

Comércio

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Preservação da legibilidade da edificação histórica e visibilidade das massas de vegetação.

Gradiente de privacidade nos espaços públicos. Público, uso mais direcionado aos moradores e a massa de vegetação.

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INSOLAÇÃO

Com base nos solstícios de inverno e de verão

Inverno 9h

Inverno 12h

Inverno 15h

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Verão 9h

Verão 12h

Verão 15h

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PERSPECTIVAS

Com base na organização espacial

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BIBLIOGRAFIA

AGUIAR, Douglas. Urbanidade e qualidade da cidade. Rio de Janeiro: Folio Digi-tal: Letra e Imagem, 2012. ALEXANDER, Cristopher et al. Uma Linguagem de Padrões. Porto Alegre, RS: Bookman, 2013. 1171p.: il. ANDRADE, Inês El-Jack. Dimensão Ambiental da paisagem cultural: O impacto do entorno nos jardins de interesse histórico. Tese de Doutorado, USP. São Paulo 2009. BENINCÁ, Dirceu. Universidade e suas Fronteiras. Outras Expansões, São Paulo, 2011. BERRIEL, Andréa. Tectônica e poética das casas de tábuas. Curitiba, PR. Instituto Arquibrasil, 2011. 108p. COSTA, Gerson Carlo de Oliveira. Moradias Estudantis: Uma política pública na consolidação do Direito à Cidade. COSTA, Israel José da. Album oficial: cinquentenário de Erechim. Porto Alegre: Metropole,1968. CRICHYNO, Jorge. Identidade e preservação do patrimônio ambiental da paisagem urbana de Niteroi: Concepções e perspectivas Sócio-Ambientais. Mundo & Vida Vol. 2 – 2001 CUNHA, Eduardo. Elementos de arquitetura de climatização natural. Porto Alegre. Masquatro editora, 2005. FÜNFGELT, Karla. História da paisagem e evolução urbana da cidade de Erechim – RS. Mestrado em Geografia – Centro de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2004. GARRIDO, Edleusa Nery. Moradia estudantil e a formação do estudante universitário. Dissertação de Mestrado. Unicamp. GRIGOLETTI, Giane de Campos. Caracterização de impactos ambientais de industrias de cerâmica vermelha do estado do Rio Grande do Sul. Mestrado em Engenharia Civil na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2001. JACOBS, Jane. Morte e vida de grandes cidades. São Paulo. Editora WMF Martins Fontes, 2009. MAURY, Maria Beatriz. Produção de cimento: Impactos à saúde e ao meio ambiente. Revista Sustentabilidade em Debate - Brasília, v. 3, n. 1, p. 75-96, jan/jun 2012 NARDI, Letícia. Patrimônio cultural e cidade contemporânea. Florianópolis: Editora da UFSC, 2012. 280p. PEREIRA, Natália Biscaglia. Características construtivas e a influência na durabilidade: arquitetura em madeira histórica em Erechim-RS. XV EBRAMEM - Encontro Brasileiro em Madeiras e em Estruturas de Madeira 09-11/Março, 2015, Curitiba, PR, Brasil PEREIRA, Thiago Ingrassia. Classes Populares na Universidade Pública Brasileira e suas Contradições: A Experiência do Alto Uruguai Gaúcho. Editora CRV, Curitiba, 2015. REBELLO, Yopanan Conrado Pereira. A concepção estrutural e a arquitetura. São Paulo, Zigurate Editora, 2000. SCOARIS, Rafael Oliveira. O projeto de arquitetura para moradias universitárias. Dissertação de mestrado. USP. São Paulo 2012. SILVA, Tânia Sofia Barbosa. Explorar a Potencialidade de um Edifício Construído com Madeira Lamelada Colada Cruzada (MLCC) Da organização espacial interior à relação interior – exterior. Dissertação de Mestrado, Universidade do Minho, outubro de 2014. YÁZIGI, Eduardo. A Conceituação de Patrimônio Ambiental Urbano em Países Emergentes.GEoINoVA12, 2006


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