Fanfic: Magia, Poder e Destino I Saga: Harry Potter 6º ano Edição de texto e capa: Elisangela Cristina. Revisão: Alessandro Bruno Autora: Elisa Vrastani, pseudônimo de Elisangela Cristina de Oliveira dos Santos, nascida no Rio de Janeiro, em 1979. Fã de Harry Potter desde a leitura do primeiro volume da saga, Harry Potter e a Pedra Filosofal, em março de 2001.
Esta fanfiction foi postada no site Floreios e Borrões de março a agosto de 2009.
Elisa Vrastani - Magia, Poder e Destino I
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SUMÁRIO 1.
SURREY
004
2.
A CASA VERDE
010
3.
MONSTRO
016
4.
VOLDEMORT
029
5.
O LORD
038
6.
A MISSÃO DE DRACO
046
7.
FORA DE CONTROLE
053
8.
THE BURNERS
064
9.
EMBARQUE
073
10. O MENSAGEIRO PRATEADO
080
11. HOGWARTS
087
12. ALUNOS INAPTOS
096
13. O CÃO E A CADELA
107
14. TOM RIDDLE
115
15. DESAPARECIDOS
125
16. INSPEÇÃO MINISTERIAL
136
17. RECOMPENSA
150
18. SEGREDOS
171
19. DESCOBERTAS
185
20. LITTLE HANGLETON
197
21. NOIVADO
214
22. O LEÃO E A SERPENTE
229
23. UMA GOTA DE INTRIGA
250
24. TESOUROS
259
25. DESFECHO
269
Elisa Vrastani - Magia, Poder e Destino I
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CAP. 1 – SURREY O sol começava a despontar no horizonte, ainda estava quente. Era seu quinto dia na rua dos Alfeneiros número quatro. Estava ansioso, tinha esperanças de receber a qualquer momento uma coruja com um bilhete de alguém dizendo que iria buscá-lo. Tinha esperanças de que fosse Sirius. No final do ano letivo ele lhe pedira para ser paciente, e que em breve lhe traria novidades. Sabia que Dumbledore estava às voltas em reuniões no Ministério para provar a inocência de Sirius e discutir os acontecimentos agora que todos sabiam que Voldemort realmente voltara. Seus tios não o perturbavam tanto desta vez, resolveram ignorar sua existência, não o olhavam, muito menos falavam com ele. Até que estava sendo bom, suas férias não estavam tão ruins; até estava gozando de certas liberdades, saía a qualquer hora todos os dias e seus tios não reclamavam, não falavam nada já que o estavam ignorando. Claro que não se atrevia a voltar muito tarde, tinha medo de encontrar as portas trancadas, pois tinha certeza de que o ignorariam também se tocasse a campainha. Edwiges estava fora, a jaula estava vazia num canto, estava deixando que ela também aproveitasse essa rara liberdade. Tomou um banho demorado pra se refrescar do calor e resolveu sair, tinha muito tempo até Duda voltar, que era quando reconhecia seu toque de recolher; então, quando o primo voltava, ele voltava também. Em cinco minutos alcançou a rua e seguiu em direção à praça. Fora obrigado a voltar à Surrey quando o que mais queria era ficar com seu padrinho, mesmo que fosse na velha e mofada casa do Largo Grimmauld. Dumbledore o obrigara a voltar, na verdade, tinha sido a única vez que o vira depois que voltaram do Ministério. Já havia se acostumado às ausências do diretor no ano anterior, mas agora ele estava realmente muito ocupado, já que fora provado que andara falando a verdade durante todo o tempo e sendo duramente ignorado e punido. Mas as coisas pareciam calmas agora, por enquanto, sabia que provavelmente continuaria a ser vigiado mas ninguém lhe dissera que estava proibido de sair de casa. O lugar estava quase vazio, ficou olhando as poucas crianças que brincavam ali na praça, após alguns minutos, seguiu em frente por uma rua tranquila e mais sombreada. Sabia que seu primo obrigatoriamente passaria por ali a caminho de casa; então, sentou na calçada, na sombra de uma árvore, e ficou esperando. O ar começava a ficar mais fresco e agradável, recostou-se no tronco da árvore, fitando um menino que se afastava em seu skate. –
Meu jovem ...
Assustou-se com o som próximo, virou-se rapidamente. Estivera distraído, não o ouviu se aproximando. Um homem alto usando óculos escuros estava parado ao lado da árvore. Sua voz era cordial, em uma das mãos segurava uma bengala, a outra estava dentro do bolso da calça. Vestia-se de maneira simples mas elegante, um tanto deslocado para estar ali naquele bairro, principalmente com relação ao clima, ele usava um sobretudo cinza. Harry, após alguns segundos olhando para o homem, olhou ao redor, não havia mais ninguém. –
O senhor falou comigo? – o homem não olhava para ele, quis ter certeza.
–
Sim, meu jovem, poderia me fazer um favor? Harry se levantou agora. Olhou novamente ao redor, a rua estava deserta.
–
Sim...
Elisa Vrastani - Magia, Poder e Destino I
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Poderia me ajudar a chegar a este endereço? – estendeu um papel cuidadosamente dobrado. – Não moro por aqui, nunca vim a este bairro, estou um pouco perdido... – disse enquanto retirava os óculos, suas pálpebras estavam cerradas sobre as órbitas vazias.
–
Arrepiou-se. Após alguns segundos encarando o estranho sentiu-se envergonhado, isso não era educado. Claro! – respondeu prontamente leu o papel “ rua Artenesis, 31” ficava logo à frente. Ficou embaraçado sem saber como prosseguir.
–
–
Se incomodaria em me guiar? – perguntou o estranho, repondo os óculos.
Não, não será nenhum incômodo – respondeu, aliviado pela iniciativa, tocando o braço que o homem lhe estendera.
–
O homem segurou o seu braço e se virou na direção que deveriam seguir. Me chamam de Leon – disse enquanto Harry observava que tinha um ótimo senso de direção apesar de ser cego, a bengala em sua mão parecia mais um adereço para combinar com o figurino, não parecia depender dela, se locomovia com segurança. Sentiu-se guiado ao invés de guia.
–
Eu sou Harry – respondeu prontamente, teve vontade de fazer algumas perguntas mas ficou com medo de ser grosseiro.
–
–
Quantos anos tem, Harry?
Quinze, senhor – estava admirado com a figura do homem, tão bem alinhado e perfumado. Apesar da roupa excessiva para o calor em Surrey não havia uma gota de suor em seu semblante.
–
–
Parece-me tão debilitado para quinze anos, tem tido anos difíceis, não?
Não estou debilitado! – espantou-se. Não se sentia tão magro assim, embora a Sra. Weasley sempre o considerasse. Sentia-se muito bem, é verdade que seus anos foram sempre difíceis, mas o que ele poderia saber?
–
Não se ofenda, parece ter passado por muitas provações e amadurecido muito, apesar de tão jovem.
–
Ficou ainda mais espantado, não conseguiu imaginar como poderia saber tanto em tão pouco tempo ou de que forma. –
O senhor deduz essas coisas como? Pela voz? – perguntou sem pensar.
Ah, não... eu enxergo muito bem – após pequena pausa continuou, embora não pudesse ver o olhar curioso de Harry. – Apenas de uma forma diferente.
–
Harry calou-se e passou a se concentrar nos números das casas, já haviam chegado à rua Artenesis. Sr. Leon... – começou, incerto, conferiu novamente o endereço no pedaço de papel – É esse mesmo o endereço, senhor?
–
–
Chegamos?
–
Sim, mas essa casa está vazia, n° 31...
–
Leve-me até a porta – pediu.
–
É que... não há ninguém morando aqui, parece estar abandonada há bastante tempo. Sentiu pena do homem enquanto focava as janelas despencadas e o jardim mal cuidado,
Elisa Vrastani - Magia, Poder e Destino I
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ficou espantado que uma casa naquelas condições existisse no bairro, não se admiraria se seu primo e os amigos tivessem contribuído para o atual estado da casa. Ficou imaginando o desapontamento do pobre homem, parecia ter vindo de tão longe. –
Tenho certeza de que o endereço está correto, leve-me até a porta, por favor, meu filho.
Sentiu-se embaraçado, parecia que o homem não estava entendendo, perguntou-se se ele pensaria que não o havia levado ao lugar correto. Resolveu guiá-lo até a entrada, sendo tão esperto iria notar o som do gramado por fazer e a poeira. Não mora ninguém aqui, está tudo caindo aos pedaços, consegue... sentir? – pronunciou cuidadosamente.
–
–
Ah! Não... claro que não mora, meu jovem, só vamos encontrar alguns amigos.
Harry começou a ficar nervoso, não estava conseguindo se fazer entender. Não havia condições de ter alguém ali, apesar da escuridão no interior, dava pra perceber que o telhado faltava em alguns cômodos do andar de cima. Ninguém marcaria uma reunião de amigos num lugar assim. E não gostou de ter sido incluído na tal reunião, não poderia demorar, ainda tinha que vigiar a chegada de Duda, e não queria participar de reunião nenhuma. Começou a imaginar que o homem estaria com a intenção de lhe pedir que aguardasse para guiá-lo na volta, sentiu-se desanimado. É sério, não há como seus amigos o estarem esperando em um lugar assim, quem sabe se o senhor ligar para eles...
–
Nesse momento ouviu um barulho vindo do interior da casa, com certeza o homem também ouviu pois apertou seu braço com mais força. –
Creio que já chegaram.
Espera – disse apressado, sentindo que o homem o pressionava a avançar. – Tem alguém lá dentro, pode ser algum desabrigado... – argumentou, embora ratazanas gigantes e outros bichos também passassem pela sua mente. De uma coisa tinha certeza, não iria entrar naquele lugar.
–
Não se preocupe – ele disse, continuando a empurrá-lo em direção à porta, agora muito próxima.
–
Começou a sentir pânico, seja lá o que estivesse lá dentro, não queria descobrir. Firmou os pés no chão para impedir o avanço indesejável. Ele apertou ainda mais o seu braço fazendo-o soltar um gemido em protesto, ficou espantado com a força do homem que agora o arrastava para aquela casa, suas tentativas de se libertar nem pareciam ser notadas. –
Me solta! – protestou. – Você está me machucando! Ouviu outro som vindo de dentro, agora parecia que alguém se aproximava da porta.
–
Ei, Harry!! O que está fazendo aí? – a voz grave assustou a ambos.
Harry aproveitou o choque do homem, que se virou apressado na direção da voz, e puxou com força o braço, atirando-se ao chão, arrastou-se rapidamente para longe ao perceber os esforços do homem em alcançá-lo. Correu, meio agachado ainda, na direção da rua, parou ao dar de cara com Duda, tinha reconhecido a sua voz mas estranhou a sua presença ali. O momento não durou muito, ao ouvirem o homem se aproximando começaram automaticamente a correr. Pensou ter ouvido passos atrás deles, apesar de achar improvável que o homem que se chamava Leon fosse se arriscar a segui-los, porém, não quis parar para conferir. Pararam, ofegantes, ao chegarem à praça, o céu estava fracamente iluminado agora e luzes artificiais reforçavam a iluminação do local, algumas crianças e jovens começavam a aparecer. –
O que está acontecendo? – Duda perguntou.
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Harry estava espantado que ele tivesse conseguido acompanhá-lo, suas aulas de boxe estavam sendo úteis pelo jeito. Dava pra perceber a mudança em seu físico, parecia mais compacto e ágil, suas gorduras se transformando em músculos. “Ainda mais perigoso” – Harry observou. –
Eu não sei... aquele cara é maluco – concluiu. – O que você estava fazendo ali?
Estava indo pra casa, te vi entrar naquele lote abandonado com o sujeito esquisito... então eu fui lá, sabe... dar uma olhada...não que eu estivesse... querendo...
–
Obrigado – cortou a explicação vendo que o primo estava ficando embaraçado. Nunca havia se imaginado agradecendo pela bisbilhotice de Duda.
–
–
Por nada – Duda respondeu, aliviado.
Caminharam de volta pra casa num silêncio constrangido. Harry massageou o braço dolorido, agora com uma grande marca roxa, o cara era forte mesmo. – “Afinal... onde estava minha guarda, pensei que ainda tivesse uma, que estranho...” – Harry pensou ao constatar que ninguém aparecera para ajudá-lo, imaginou que alguém da Ordem continuaria incumbido de vigiá-lo. Chegaram a casa e Harry foi prontamente ignorado, como já esperava. Sua tia Petúnia passou por ele e foi receber Duda com todos os mimos incansáveis de sempre. Duda não comentou nada a respeito do ocorrido embora Harry tivesse esquecido de pedir, mas percebeu, pelo meio sorriso tímido que lhe lançou, que guardaria segredo. Harry, espantado, subiu para o seu quarto. “Acabei de ser atacado por um trouxa e Duda, além de me ajudar, ainda sorriu para mim?! O que aconteceu com o mundo? Virou de cabeça pra baixo?” – pensou enquanto se atirava na cama. Olhou ao redor, Edwiges não estava, toda a tensão o tinha esgotado, seu braço latejava dolorosamente – “E se não for o Duda?” – pensou – “E se for algum Comensal disfarçado? Não... nesse caso ele não me ajudaria” – concluiu. Fechou os olhos e tentou relaxar um pouco, depois assaltaria a geladeira, seus tios não reclamariam, o estavam ignorando.
Estava muito escuro e a casa silenciosa. Sentiu a dor no braço e relembrou os acontecimentos daquela tarde. Não conseguiu visualizar, no escuro, a mancha, que ali estaria. Ficou imaginando se deveria pôr gelo, não sabia o que fazer com hematomas e não tinha a quem perguntar. Pensou em Sirius, na Sra. Weasley, ela com certeza lhe diria prontamente o que fazer. Sentiu-se desconfortável ao imaginar isso, teria que explicar o que acontecera – “o famoso Harry Potter era só um menino fraco que não conseguia se livrar de um trouxa sozinho” – sabia que não estava sendo justo consigo mesmo, não fazia muito tempo que enfrentara Voldemort no Ministério da Magia, lutara com ele de igual para igual. Também estava curioso, descobrira ano passado que vinha sendo vigiado a mando de Dumbledore, perguntou-se se sua guarda tinha se descuidado de novo. Então, deixaria alguém encrencado se contasse, lembrou do mau pedaço que Mundungo passara por um descuido durante a sua vigília. Resolveu esquecer, era só uma mancha, sumiria logo, já tivera ferimentos piores. Felizmente não tivera que recorrer à magia, embora esse pensamento nem tivesse passado pela sua cabeça na hora, não atacaria um trouxa. Enfim, tudo acabara bem, graças... ao Duda... Sacudiu a cabeça e levantou num salto, seu estômago estava roncando. Edwiges se agitou, empoleirada no alto do guarda-roupa, prometeu lhe trazer algo também. Elisa Vrastani - Magia, Poder e Destino I
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Quando chegou a tarde, ele resolveu ficar em casa, mal tinha visto Duda, ele sempre passava o dia fora, com os amigos, claro que ele podia fazer o que quisesse, imaginou se não estaria naquele momento vandalizando alguma outra casa do bairro. Já havia conhecido muitas pessoas estranhas, e passado por perigos maiores, mas por que procurar mais confusão para a sua vida nem um pouco tranquila? Seu sexto dia de férias estava acabando e nenhum contato dos seus amigos, nenhuma coruja, nada. Pensou então em escrever, abriu o malão em cima da cama e retirou papel e pena, sentou no chão, aos seus pés, pensando em como começar. –
Harry...
Um sussurro abafado. Olhou ao redor, o quarto estava vazio. Ouviu novamente. Olhou para Edwiges, encarando-o tranquilamente do topo da gaiola, franziu a testa – “Que esquisitice é essa agora?” – pensou. O som se repetiu, mais alto. Virou-se, a voz vinha do seu malão. Afastou algumas roupas e tocou num embrulho. Ahh! – exclamou, surpreso, como podia ter esquecido o embrulho que Sirius lhe dera no Largo Grimmauld, rasgou-o às pressas e virou o objeto para si. A princípio pensou que fosse um pequeno quadro, então a imagem falou.
–
–
Até que enfim! Estou tentando falar com você desde ontem, onde esteve?
Harry sorriu encarando, maravilhado, o rosto de seu padrinho que parecia bem preocupado no momento. Eu não sabia, não desfiz o malão ainda – Harry explicou. O semblante de Sirius se iluminou num sorriso.
–
–
Então é melhor nem se dar ao trabalho, viu o Profeta hoje?
Não – respondeu surpreso. – Cancelei minha assinatura ano passado – tivera muitos motivos para isso, a lembrança do jornal o irritava.
–
Tudo bem, guardei a reportagem, não é sempre que se tem o nome na primeira página do Profeta em um artigo de retalhação e parabenização, não o meu, pelo menos.
–
–
O quê!? Você já foi inocentado?
Perante todo o mundo bruxo e trouxa, com direito a um pedido de desculpas do Fudge e do atual Ministro – respondeu orgulhoso. – Você também recebeu um pedido de desculpas oficialmente publicado.
–
–
Eu tenho que ver isso...
E... como estão as suas férias? – perguntou em meio a uma expressão que Harry não conseguiu definir. – Tudo bem aí com os trouxas?
–
–
Até que sim, não estão sendo tão más desta vez.
Ah, mesmo?! – perguntou assumindo uma olhar desconfiado. – Pensei que estivesse ansioso pra sair daí, mas então, tudo bem... podemos adiar...
–
Nem vem!! Quando é que você vai me tirar daqui?! – cortou em tom urgente, quase beirando o desespero.
–
Sirius soltou sua gargalhada que lembrava um latido. Gostava de vê-lo feliz, muito diferente do ar rabugento que assumira durante sua estada forçada no Largo Grimmauld. Elisa Vrastani - Magia, Poder e Destino I
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Poderia ir te buscar agora mesmo, mas... – acrescentou depressa ao ver a expressão entusiasmada no rosto de Harry. – Dumbledore quer organizar o “grupo de salvamento” – ironizou. – Você sabe, sua segurança... é que ele tem estado bem ocupado, e pelo jeito quer que fique ao menos uma semana na companhia de seus tios...
–
–
Amanhã completam sete dias... – respondeu queixoso.
Não entendeu o motivo da necessidade de uma guarda para transferi-lo pra sabe lá onde, quando naquele momento parecia estar abandonado na rua dos Alfeneiros, pensou melhor e ficou agradecido por não ter havido testemunhas do constrangedor evento do dia anterior. Pra onde eu vou quando sair daqui? – imaginou que ficaria em Londres com Sirius, mas adoraria passar uns dias na Toca, com Rony.
–
Isso é surpresa – respondeu divertido. – Seria seu presente de aniversário, mas é claro que não vou aguentar esperar tanto.
–
Então me diz! – tentou, curioso. – Ao menos uma pista... – completou ao perceber a expressão decidida do padrinho.
–
Por que tanta ansiedade, afinal, suas férias estão sendo tão boas... nem sequer entrou em contato comigo nesses dias... deve estar tendo dias emocionantes – acusou tentando assumir um ar casual enquanto olhava ao redor do quarto pelo espelho. – Decoração interessante... – comentou reparando a bagunça que sempre fazia, não conseguia manter o quarto arrumado.
–
Para com isso, eu sabia que estaria ocupado com Dumbledore. E não sabia do espelho ainda, afinal, eu não estava esperando uma mensagem, pensei que viria me buscar de vez – rebateu. – Vou morar com você, não vou? – pressionou não dando tempo pra respostas – Pra onde vamos?
–
–
Paciência, Harry, pra onde você gostaria de ir?
Qualquer lugar com você, pra mim, estará ótimo – respondeu sinceramente, andara imaginando uma vida nômade onde poderiam cruzar por todo o continente viajando e fazendo de tudo que quisessem sem ninguém tentando trancafiá-los em algum lugar... rua dos Alfeneiros, largo Grimmauld...
–
Sirius sorriu, satisfeito, e se despediu sem dar ao menos uma dica. Foi dormir mais feliz do que qualquer outro dia. Não estava pensando em Voldemort, queria esquecer qualquer coisa que pudesse atrapalhar sua felicidade, teria uma vida normal, finalmente.
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CAP. 2 – A CASA VERDE O vento batia em seu rosto e brincava com seus cabelos, era quase tão gostoso quanto voar. Não conseguia tirar o sorriso dos lábios, mesmo sem olhar sabia que Sirius também sorria. A moto seguia a toda velocidade permitida. Olhou pelo espelho lateral e pôde perceber um pequeno tumulto no carro que os seguia, imaginou que Olho-Tonto e Tonks estariam estranhando o meio de transporte oferecido pelo Ministério. Sirius fez questão de ir buscá-lo em sua velha moto, que Hagrid guardara com tanto cuidado. Ele disse que era o passeio que estava lhe devendo há muitos anos. Harry ia na frente e Sirius lhe dava instruções sobre a maneira correta de guiá-la. Não sabia para onde estavam indo. Assim que a área urbana ficou distante e a rodovia passou a ser rodeada pela floresta e casas espaças, Sirius deixou que Harry tomasse o controle da moto. Foi o melhor passeio que tivera até então, embora longo e demorado, diferente do que estava acostumado, quando viajava com pó de flú ou chave de portal. Sempre que perdia o controle da moto e ameaçava sair da estrada Sirius começava a lhe dar instruções, como se fosse um mero espectador, retomando o controle da moto somente em último caso, parecia ter total confiança nele. Quando pegaram um caminho de terra Sirius pediu a Harry, que agora a controlava muito bem, que reduzisse a velocidade. Pararam e aguardaram que o carro os alcançasse. –
Que lugar é esse, Sirius?
Calma, ainda não chegamos. – Quando o carro emparelhou com a moto, Sirius se dirigiu ao motorista designado pelo Ministério da Magia. – Creio que Harry esteja com saudades de voar, vamos percorrer o restante do caminho pelo céu.
–
–
Não creio que seja prudente, Black...
Desceremos se avistarmos alguma coisa – Sirius disse. Retomou o controle da moto, sem esperar resposta, e acelerou. O coração de Harry disparou, sabia que a moto podia voar, era a mesma moto na qual Hagrid o levara à Surrey catorze anos atrás, mas não tinha pensado nisso até o momento.
–
–
Segure-se, Harry – Sirius disse ao seu ouvido.
Sentiu um frio na barriga, quando deu por si já iam muito alto no céu, acima da copa das árvores. A vista era incrível. Procurou o carro abaixo, um brilho entre as folhagens. Olhou para os lados procurando por Edwiges, a tinha visto por duas vezes voando acima deles quando percorriam a estrada lá embaixo, não a encontrou. Alguns segundos depois ouviu um pio à sua direita, ela surgiu como se o tivesse escutado chamá-la em pensamento. Estendeu o braço para ela. Empoleirada no guidão, ela se deixou conduzir de asas abertas, parecia estar aproveitando o passeio. –
Sirius!! – Harry exclamou, surpreso, apontando. – É a Toca?!
–
É, é sim – respondeu olhando ao redor como se procurasse por algo ou tentasse se localizar.
Harry estava entusiasmado, mal podia esperar para ver a cara do Rony quando chegassem voando. Perguntou-se se Sirius a emprestaria para eles darem uma volta, por terra, claro; achava que já sabia o suficiente para guiá-la sozinho. Elisa Vrastani - Magia, Poder e Destino I
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Já estava conseguindo definir bem os contornos da casa e dos jardins quando Sirius virou para a esquerda, afastando-se. O que houve? – perguntou alarmado, tentando visualizar algo que justificasse a mudança de direção, pensou que poderiam estar sendo seguidos.
–
Bom, temos que chegar ao nosso destino, não? – alguns minutos depois manobrou em direção ao solo e começaram rapidamente a perder altura.
–
Harry pensou em protestar mas visualizou alguma coisa entre as árvores à frente. Não havia estradas abaixo, pousaram numa trilha e continuaram avançando. Conseguiu definir uma construção camuflada entre as árvores. Estacionaram numa pequena clareira na frente da casa, Sirius desmontou e ajudou Harry a fazer o mesmo, suas pernas estavam adormecidas pelo tempo que passaram na mesma posição. Avançaram devagar. Sirius, de quem é? – sussurrou, querendo confirmar a resposta óbvia que surgia em sua mente.
–
–
Nossa...
Mal pôde acreditar. Bombardeou-o com perguntas enquanto ele explicava como e quando a adquirira. Ficou por tanto tempo abandonada que nem os Weasley se lembravam dela, e quando eu a avistei... Eu sabia que você iria adorar morar próximo a eles – acrescentou por fim. – Bom, vamos entrar, então!
–
Nesse momento o carro do Ministério se aproximou. Não esperou, correu para a casa. Por dentro, acompanhava o padrão do exterior com um verde mais suave. Achou-a aconchegante. Saindo da sala entrou por um corredor que parecia levar até a cozinha, viu uma porta grossa de carvalho em frente à escada que levava ao andar superior. Anda, vamos ver o seu quarto. – Sirius o convidou, subindo as escadas. Parecia tão entusiasmado quanto o próprio Harry.
–
Chegando no andar de cima deparou com um corredor e cinco portas. O banheiro fica na última porta, em frente, e aqui... – abriu a segunda porta à direita. – É o seu quarto...
–
Entrou devagar, observando cada detalhe, a decoração era bem mais simples que a do resto da casa, cama, armário, escrivaninha, a vista era muito agradável... Nessa direção fica a Toca, Sirius acrescentou se aproximando da janela, não dá pra vê-la daqui, mas imaginei que você fosse gostar de ficar com esse. Queriam decorá-lo também, mas eu não permiti. Foi uma operação rápida, queria que tudo ficasse pronto logo. Todos participaram, não confiaram no meu bom gosto – acrescentou sorrindo. –– Você vai encontrar alguns padrões de escolha da Tonks pela casa, e até de Olho-Tonto...
–
Sério!!? – perguntou Harry, espantado. Ficou imaginando como descobriria isso, se encontraria armadilhas e detectores de artes das trevas pela casa, escondidos.
–
O seu quarto eu fiz questão que você o decorasse, a seu gosto, embora Rony tenha ficado entusiasmado...
–
–
Rony já está sabendo?
–
Claro! Todos os Weasley ajudaram... Molly principalmente – murmurou. Mas Harry
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percebeu que mantinha o bom humor. –
Depois poderemos ir até lá?
–
Não se preocupe, sabem que você está aqui, não demorará... Ouviram vozes no andar de baixo, uma conversação animada.
–
Como estava dizendo... – Sirius indicou a porta sugerindo que descessem.
Houve muita confusão e falatório quando o avistaram. A Sra. Weasley o abraçou e beijou tantas vezes que parecia que ela é que estava recebendo um presente. Por fim rumou para a cozinha, já muito familiarizada com tudo, e Sirius a seguiu. E a Hermione, já sabe? – perguntou a Rony enquanto os gêmeos conversavam algo com Moody a respeito de artigos ilegais e licenças, e Tonks e Gina se dirigiam animadamente rumo ao corredor, provavelmente, para algum canto da casa que ele ainda não conhecia.
–
Ah, já. Escrevi para ela... não podia te mandar uma carta, se eu estragasse a surpresa não tenho ideia do que teriam feito comigo... e eu não aguentaria escrever sem dar nenhuma dica... – acrescentou rapidamente quando reparou a expressão de Harry.
–
–
Isso aqui é demais! – Harry comentou.
É, e Dumbledore lançou feitiços de proteção por todo o caminho daqui à Toca, então a gente vai poder se visitar sempre que quiser...
–
Sem entender bem o motivo, Harry se sentiu incomodado ao ouvir isso. Para afastar aquela sensação desagradável contou a Rony, em detalhes, toda a viagem até ali. O Sr. Weasley, que havia desaparecido sem ser notado, chegou a tempo de ouvir boa parte do relato e se mostrou encantado. É mesmo uma maravilha de máquina, se Molly me deixasse ter uma dessas... – na hora Harry soube onde ele estivera.
–
Lupin apareceu a tempo para o jantar de boas-vindas. Todos pareciam se divertir, os gêmeos deflagaram uma caixa de fogos, Rony, Gina e Harry se divertiram muito colocando o papo em dia. A Sra. Weasley insistia para que comesse mais, disse que precisava se alimentar melhor, Sirius concordou, dizendo que agora teriam tempo para cuidar disso. Sentiu-se desconfortável, não se via assim, tão mal, mas se o tivessem comparando a Rony... o amigo estava uma cabeça mais alto que ele agora, Harry analisou, e os ombros estavam bem mais largos. Lembrou de quando se conheceram, Rony era apenas dois dedos mais alto. Até Gina o estava alcançando, estava apenas dois centímetros mais baixa. –
É ótimo sermos todos vizinhos agora, só falta a Hermione... – Rony comentou.
–
Vou escrever amanhã chamando-a para passar o resto das férias aqui...
–
Eu já a convidei, Harry – Gina respondeu.
Ela vem na próxima semana – Rony acrescentou. – Assim que ela chegar poderemos fazer várias excursões por aqui, agora que a nossa área de permissão aumentou, o que acha, Harry? – Rony perguntou, dando um soco em seu braço, estava se referindo à extensão que havia recebido os feitiços de proteção de Dumbledore.
–
Harry não conseguiu conter um gemido, seu braço ainda estava muito dolorido. –
Rony! – Gina reclamou, parecia realmente aborrecida por Rony tê-lo machucado.
Não, tudo bem, Gina, eu me machuquei há dois dias, meu braço ainda está dolorido... – adorou o tom de voz que ela usou com Rony, repreendendo-o.
–
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Sério, Harry? Eu posso dar uma olhada pra você... – não haviam percebido que Lupin interrompera a conversa com Tonks e prestava atenção.
–
–
Não! – respondeu rapidamente. – Não é nada sério – acrescentou tentando suavizar a voz.
Não queria que Gina e os outros soubessem. A salvara uma vez, no segundo ano, sabia que ela ainda mantinha aquela visão a respeito dele. Não queria decepcioná-la. –
Mas se está dolorido eu posso usar um unguento, feitiço ou ...
–
Não... sério, vai passar – automaticamente segurou o braço, escondendo-o debaixo da mesa.
Luna também mora aqui perto, Harry, podemos visitá-la também. – Gina mudou de assunto, Harry sentiu, para que Lupin não insistisse. Ficou agradecido.
–
Não assim... – dessa vez o Sr. Weasley entrou na conversa. – Até os Lovegood é uma longa caminhada, um longo caminho que não recebeu feitiços de proteção, o que quer dizer que terão que avisar com antecedência para que alguém possa acompanhá-los...
–
–
Isso é mesmo necessário?
–
Claro que é, Rony, você sabe muito bem! – ressaltou a Sra. Weasley.
Por quê? Está acontecendo alguma coisa? – Harry estava se sentindo novamente incomodado. – Voldemort não está interessado ainda...?
–
–
Ele não desiste assim tão fácil, filho! – Moody declarou.
Então... ele ainda está atrás de mim? – sentiu-se como se tivessem lhe socado o estômago. Andara tão feliz que chegou a pensar que tudo ficaria bem...
–
Não há nada com que se preocupar. – Moody tentou consertar ao constatar a expressão de Harry e o olhar zangado de Molly – Dumbledore pessoalmente se certificou...
–
Mas o que ele quer desta vez? – Harry o interrompeu. – A profecia quebrou, ele sabe. Eu quero saber a verdade! – exigiu olhando para cada um dos presentes.
–
Não é tão sério assim – Sirius continuou, adotando uma expressão mais séria. – Nós não sabemos nada, ele está muito quieto pra falar a verdade. Estamos só sendo cautelosos.
–
É verdade, Harry, não temos nenhuma novidade, o manteremos informado, na medida do possível – Moody concluiu, seu olho mágico girou observando todos ao redor.
–
Não esquenta, Harry – Fred quebrou o silêncio. – Você-Sabe-Quem não deve passar o resto da vida atrás de você, não com o mundo todo pra aterrorizar.
–
Só Tonks e Jorge riram do comentário, ou da cara indignada de Fred quando a Sra. Weasley o beliscou. A noite terminou num clima menos carregado, Rony se despediu prometendo voltar no dia seguinte. Harry subiu para o quarto e começou a desfazer o malão, pela primeira vez em suas férias não ansiava pelo dia que tornaria a arrumá-lo. Ouviu uma batidinha na porta aberta, virou-se e sorriu para Sirius. –
Meu quarto é esse aqui ao lado caso precise de algo. Tudo bem com você?
–
Tudo – tranquilizou-o.
Deitou na cama após um banho quente e demorado, não imaginou que estivesse tão cansado. Dormiu logo, nem estranhou a cama, era a sua cama afinal de contas.
Elisa Vrastani - Magia, Poder e Destino I
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Acordou cedo. A casa estava silenciosa, desceu para preparar o café. Demorou algum tempo para encontrar todos os utensílios de que precisava, suas localizações não seguiam a mesma lógica da cozinha de sua Tia Petúnia, se perguntou se era porque provavelmente a Sra. Weasley a tinha arrumado, sendo uma dona de casa bruxa... ou se era pelo fato de Sirius o ter feito. Estava pensando em como lidariam com essa parte, já que não tinha conhecimentos culinários e duvidava que seu padrinho os tivesse, quando Sirius entrou na cozinha. –
Te acordei? Tentei fazer menos barulho possível...
–
Está preparando o café da manhã? Mas essa tarefa é minha... Sente-se, eu termino isso.
Não se preocupe, isso eu sei fazer, eu o fazia na casa dos meus tios. Mas eu não sei cozinhar, Sirius...
–
Não quero que se preocupe com esses afazeres, eu sou o adulto aqui, é minha obrigação agora – disse enquanto o ajudava a levar as coisas para a mesa. – Não importa o que fazia para os seus tios, eu quero que você aproveite suas férias.
–
–
Não me incomodo em ajudar... – protestou. Ouviu a pesada porta do corredor se abrir e Lupin entrou na cozinha logo depois.
–
Nossa, esse cheiro maravilhoso me acordou, está se superando, Sirius!
–
O mérito é do Harry, foi ele quem acordou mais cedo para preparar o café.
Pelo jeito é bem melhor que o de Sirius, Harry, talvez possa nos ensinar também... – sorriu e pousou a mão em seu braço.
–
Harry se encolheu ao toque mas não emitiu nenhum som. Sorriu para Lupin enquanto se afastava. Como assim? Vocês estão tendo aulas? – tentou retomar a conversa. Serviu-se de ovos e bacon.
–
Deixe-me ver isso, Harry. – Lupin se aproximou, segurou o seu braço e ergueu a manga da blusa.
–
Não precisa, não está doendo tanto agora... – Harry informou. Lupin soltou uma exclamação. Sirius se aproximou.
–
O que... Quem fez isso com você?! – Sirius perguntou, assumindo uma expressão cada vez mais exaltada – Como ele se atreveu a te fazer isso?! Eu vou...
–
Não, não foram os meus tios... – Harry esclareceu dando uma olhada agora, estava com uma péssima aparência, a marca de uma mão se distinguia entre as manchas escuras e amarelas.
–
Não?! Quem então? – Lupin invocou potes que saíram de um armário mais distante e foram para a sua mão.
–
Harry contou a eles o que havia acontecido pedindo que prometessem que não contariam a ninguém. Sirius o repreendeu seriamente por ter-lhes escondido o ocorrido. Tentou argumentar dizendo que não fora importante, que o cara nem era bruxo, mas parecia que quanto mais argumentava, mais exasperados eles ficavam, então, calou-se. Lupin umedeceu sua pele com três líquidos de cores diferentes, espantando-se com a força empregada pelo estranho. Teve que concordar com Lupin, o tal Leon era forte, até seus ossos estavam doloridos. Logo mais a Sra. Weasley apareceu oferecendo ajuda para preparar o almoço, Harry estava conhecendo o quarto-porão de Lupin, que insistira em abrir mão do quarto no segundo andar. O Elisa Vrastani - Magia, Poder e Destino I
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porão tinha uma suíte e bastante espaço, as janelas ficavam na parte mais alta, era bem confortável e as portas haviam sido escolhidas cuidadosamente, para suportar seu estado mais perigoso. Estou assumindo todos os papéis, não se preocupe, Molly – Sirius agradeceu, recusando a atenção.
–
Quando Harry soube da rápida visita ficou desapontado, esperava que fossem se reunir novamente com os Weasley. Sirius informou que eles viriam à tarde. Lupin teve que ir, tinha serviço a fazer para Dumbledore. Não disse qual quando Harry perguntou, e este também não insistiu. Ficou na cozinha tentando ajudar o padrinho no que fosse possível, apesar das tentativas, Sirius não conseguiu dissuadi-lo. Conseguiram se divertir apesar da refeição não ter ficado comparável à da Sra. Weasley. Quando terminaram foram dar umas voltas pela proximidade, ao retornarem encontraram os Weasley na varanda com vários pratos de guloseimas diversas. A alegria de Harry em revê-los durou até perceber que já sabiam do incidente ocorrido em Surrey. Olhou para Sirius, desapontado, ele fingiu não notar. Evitou os olhares de Gina. Rony fez menção de perguntar algo mas percebeu seu olhar a tempo, calou-se. Mais tarde constatou que outros membros da Ordem pareciam ter conhecimento também. Retomavam o assunto à medida que chegavam, queriam saber quem estivera de guarda no dia, pois, aparentemente, isso era feito sem escala pré-determinada, e sim, conforme a disponibilidade dos que se ofereciam. Harry sentiu o sangue esquentar-lhe a face, sentiu pena de quem estivera de plantão no dia, seja lá quem fosse ficaria muito mal quando descobrissem. O ataque do trouxa não é o importante, Sirius – Moody debateu – Harry daria conta dele muito bem sozinho, o problema foi a oportunidade que surgiu, e se fossem bruxos das trevas?
–
Parecia que a conversa nunca acabaria. Gina se aproximou dele e de Rony e sugeriu que fossem pra fora. Harry a seguiu rapidamente, feliz que tivesse sugerido. Nenhum deles tocou no assunto, Harry ficou aliviado. Ficaram conversando e observando os seres noturnos, havia uma grande variedade de animais ali, insetos, répteis,.... Quando regressaram encontraram Dumbledore conversando com os demais. Ah, Harry! Que bom te ver saudável. Pelo que soube, suas férias estão se tornando muito interessantes, depois de um ataque de dementadores, um ataque trouxa...
–
Harry sentiu seu coração descer para o estômago, estava arrependido de ter confiado em Sirius e Lupin. Dumbledore não o estava recriminado por ter saído de casa, porém, olhava-o por cima dos óculos de meia-lua com uma expressão de pesar. –
Infelizmente, Harry, não é apenas em bruxos das trevas que encontramos maldade.
Harry não disse nada, esperava que agora finalmente pudessem mudar de assunto, já que todos já haviam comentado a sua falta de sorte. Logo se reuniram à mesa, novamente armada no jardim, e conversaram sobre assuntos diversos. Só sentiu falta de Hermione. Gina também comentou sua ausência, seus longos cabelos vermelhos brilhando ao luar. Suspirou. –
O que foi, Harry? – Rony sussurrou ao seu lado. Sentiu-se ruborizar.
Que tal uma partida de quadribol amanhã? – desconversou, torcendo para que não percebesse seu desconforto.
–
Ótima ideia! – Rony animou-se – Vou falar com Fred e Jorge. Gina, topa um jogo amanhã? – convidou.
–
Claro... – ela concordou distraidamente, visivelmente mais interessada na conversa de Tonks e Lupin que, pelo o que Harry pôde observar, pareciam ter muitos assuntos em comum.
–
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CAP. 3 – MONSTRO Acordou na dia seguinte com o cheiro do café da manhã se espalhando pela casa. Tomou um banho e desceu. Sirius lançou-lhe um olhar cauteloso. Ficou curioso mas não disse nada além de lhe desejar um bom dia. Harry, espero que não tenha se chateado ontem mas todos estamos preocupados com o que pode vir a partir de agora, o clima anda bem tenso...
–
Tudo bem, eu entendo... – teve vontade de dizer que nunca mais lhe contaria nada, muito menos em segredo, só para chateá-lo, mas não teve coragem.
–
Tem outra coisa que quero te dizer, espero que não se aborreça, mas sei que já reparou que não sou nenhum mestre em assuntos domésticos, então, se você concordar vamos mantê-lo conosco pra me ajudar nesses assuntos, isso é, se você achar que está tudo bem...
–
–
Do que está falando? – não entendera nada do que Sirius dissera.
–
Dele.
Virou-se na direção que Sirius indicava, havia algo no chão, parecia uma trouxa de trapos sujos... mas a trouxa se mexeu. Harry prendeu a respiração. –
Sirius... Por que... Por causa dele...
Eu sei, ele traiu a gente. Mas ainda assim, ele me pertence, não posso me desfazer dele, não depois do tanto que ele tomou conhecimento. Dumbledore acha perigoso deixá-lo sozinho na Sede, aqui poderei ficar de olho nele, sem contar que ele poderá ser útil.
–
Harry ficou observando o monte de trapos no chão que na verdade era Monstro, encolhido, provavelmente se lamentando por estar ali. Ficou enojado. Ele mentiu pra você, eu sei, mas já dei ordens expressas para nunca voltar a fazê-lo, para considerá-lo seu mestre na minha ausência e ele sabe que não deve sair desta casa, não é mesmo, Monstro?
–
Sim meu amo, tudo o que quiser – respondeu entre dentes, visivelmente contrariado por estar ali.
–
–
Acha mesmo seguro?
Na primeira que ele aprontar eu o tiro daqui, ele não pode me desobedecer, Harry, estamos presos um ao outro.
–
Monstro chorava agora, seus pequenos punhos pressionados contra as têmporas. Harry achou loucura, ele os odiava, mas não disse nada. Lembrou de Dobby e imaginou o quanto Monstro devia se sentir infeliz servindo a pessoas de quem não gostava. –
Pretende sair? – Sirius mudou o rumo da conversa.
–
Fiquei de jogar quadribol com Rony hoje. Por quê? Você tem outros planos?
Não... Tenho mesmo que acertar algumas coisas, não imaginava que cuidar de uma casa desse tanto trabalho... não que eu não esteja gostando – acrescentou rapidamente. – Mas, você se perfumou todo só pra jogar quadribol?
–
Acha que está exagerado? – Harry corou, sentira vontade de se arrumar, nada especial, achava.
–
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–
Não... – Sirius respondeu, medindo-o, depois sorriu.
Achou melhor não perguntar o motivo, seja lá qual fosse. Tomou logo o café-da-manhã e saiu de casa assim que pôde, após ouvir quase quinze minutos de recomendações sobre o caminho a seguir, não sair da trilha e outras coisas mais. Após quase trinta minutos de caminhada nem avistava a Toca. Ninguém lhe falara que o caminho era tão longo, também, tirando ele, Rony e Gina todos os demais podiam aparatar. Parou. “Droga!” – bateu na testa, pensando consigo mesmo. – “Esqueci a vassoura” – ficara com tanta pressa de sair da casa... Encostou-se numa árvore. Quase imediatamente ouviu um barulho alto de passos à frente e Rony surgiu aos tropeços. –
Harry! – surpreendeu-se, também parecia bem cansado. – O que faz aqui?
–
Indo pra sua casa! E você?
Estava indo te buscar – largou-se no chão. – Sua casa está perto? – perguntou em tom esperançoso.
–
–
Uns trinta minutos...
–
O quê?!! Então é mais de uma hora de caminhada! Ninguém me disse isso!
–
Como vocês vinham?
Aparatação acompanhada, com meus pais. Não vejo a hora de prestar os exames de aparatação! Vamos poder ir a qualquer lugar... Bem, pelo menos te encontrei pelo caminho...
–
–
Tenho que voltar, esqueci minha firebolt – desculpou-se.
Ah... Não pode usar um feitiço convocatório? – reclamou já se levantando, sabia que era proibido, e Harry quase fora expulso ano passado por violar essa regra. – Regras idiotas!! – reclamou novamente.
–
Harry chegou em casa chamando por Sirius. Ninguém respondeu. Encontrou Monstro se arrastando pela cozinha. –
Ah... Monstro? Você sabe onde o Sirius está? – perguntou cauteloso.
–
Saiu, meu Senhor – respondeu entre dentes.
–
E... disse pra onde?
Compras para casa, meu Senhor – fez uma reverência exagerada, afastou-se em direção ao corredor e se enfiou dentro do armário sob a escada.
–
Harry ficou preocupado, por que Sirius deixaria o elfo-doméstico sozinho na casa se ainda há pouco havia dito que deveria ficar de olho nele... Ano passado Monstro havia mentido fazendo com que acreditasse que Sirius corria perigo... e se estivesse mentindo agora? –
O que está fazendo? – Harry se aproximou do armário.
–
Meu bondoso e amável senhor disse que Monstro podia se acomodar aqui – ironizou.
Rony achou graça. Harry, não. Também havia passado a maior parte de sua convivência com os Dursley dentro de um armário embaixo da escada, lembrou do que Dumbledore dissera ano passado, sobre Monstro ser exatamente o que os bruxos faziam dele, como o tratavam. Pensou no sentimento que nutria pelos Dursley. Nunca vira Sirius se dirigir a Monstro de maneira amável ou benevolente. Sentiu-se mal por Elisa Vrastani - Magia, Poder e Destino I
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isso, já o tinha visto em atitudes que o deixaram decepcionado e envergonhado... e o seu pai também. Olhou dentro do armário vazio, Monstro encolhido a um canto. Podemos deixá-lo bem confortável pra você – agachou-se. – Você é pequeno, vai ter bastante espaço... e pode decorar da maneira que você quiser, com coisas que goste.
–
Monstro ergueu os olhos pra ele e ficou em silêncio. –
É – Rony continuou. – Onde estão suas coisas?
Monstro não tem nada, tudo pertence à antiga e nobre Casa dos Black, e Monstro não pode ir buscar.
–
–
Bom, você vai precisar de uma cama – Rony insistiu.
Monstro nunca teve cama, seus donos nunca se importaram com isso, Monstro dorme em qualquer lugar... só mestre Régulus... – sua voz agora estava embargada.
–
Tudo bem, Monstro, vamos... vamos providenciar... Você pode trazer algumas coisas do Largo Grimmauld, coisas que goste...
–
Mestre Sirius proibiu Monstro de deixar a casa... o menino Potter vai deixar Monstro voltar lá? – olhou-o desconfiado.
–
Não posso... – disse Harry. Monstro se afastou e voltou a se encolher no seu canto. – Não sozinho...
–
Nem conseguia imaginar a reação de Sirius se pedisse pra que levasse Monstro a um passeio pelo Largo Grimmauld pra trazer algumas das lembranças da casa que ele tanto detestava. Mas talvez eu possa ir com você... – pensou alto demais, Monstro o encarou com uma expressão que nunca vira antes no rosto do elfo, seria esperança, felicidade...?
–
–
Harry, acha que Sirius vai deixar você ir até lá? – Rony soltou.
Não sei... “Era só o que me faltava” – pensou consigo mesmo. – “Por que não fiquei calado?”
–
Agora Monstro se levantou visivelmente animado. Que desculpa poderia dar para não ir? Que desculpa daria a Sirius se fosse? Olhou para Rony, ele parecia estar pensando a mesma coisa. Teria como, Monstro, irmos até lá sem que ninguém soubesse? Eu não sei aparatar... Creio que você consiga aparatar direto dentro da casa... – lembrou-se de que Dobby conseguia aparatar dentro de Hogwarts quando os bruxos não podiam.
–
–
Monstro pode levá-lo até lá e trazê-lo de volta.
–
Pode levar nós dois? – Rony quis saber.
–
Não, Rony, você fica. Pode ser perigoso, se Sirius aparecer...
Por isso mesmo eu vou contigo, Harry – interrompeu. – E tem que ser logo, antes que ele volte. É melhor que ninguém saiba, senão... – não conseguiu nem imaginar o que fariam com eles.
–
–
Não é melhor deixar um bilhete? De qualquer forma já teríamos ido...
Claro, junto com flores para jogarem nas nossas lápides... É melhor voltarmos antes que alguém perceba. Podemos ir, Monstro?
–
Monstro pegou as mãos de ambos, instantaneamente o ar ficou pesado e a luz sumiu, levou dois segundos pra perceberem onde se encontravam.
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Nossa!! Isso sim é viagem de primeira! – Rony se afastou observando os móveis, fazia tempo que não apreciam por lá.
–
Monstro, pegue só o essencial, temos que voltar logo. Não podemos levar a casa toda! – aumentou o tom pra que o ouvisse enquanto se afastava.
–
Shhhhh! – Rony se aproximou apressado e puxou-o rumo às escadas. – Acho que tem alguém lá embaixo, na cozinha – murmurou. – Eu ouvi um barulho.
–
Harry gelou. Nem pensou na possibilidade de encontrar alguém ali, algum membro da Ordem. O que diria? Sentiu o desespero palpável como a poeira que os rodeava. Esconderam-se num vão escuro ao lado da escada. Ouviram passos de alguém subindo os degraus de pedra da cozinha. Uma figura pequena e ruiva surgiu, carregando uma grande saca quase cheia. Parou em frente a um armário e começou a remexer nas gavetas. Pegou um castiçal escurecido e jogou dentro da saca. Harry não pensou duas vezes, avançou para o centro do cômodo sentindo Rony se enrijecer de espanto. O que você pensa que está fazendo, Mundungo?!! – perguntou em alto tom deixando-se levar pela raiva e indignação, era um membro da Ordem como podia estar roubando a Sede? Roubando Sirius?
–
O homenzinho pulou derrubando a sacola, várias coisas rolaram de seu interior. –
Arry?! O que faz aqui? Eu... não! Eu estava....
–
Roubando? – Rony estava ao seu lado agora.
Garotos! Como podem dizer uma coisa dessas?! – seus olhos corriam por todos os lados como se esperasse ser cercado a qualquer momento. – Sirius está aqui também?
–
–
Não interessa! Como pode fazer isso conosco? Estamos do mesmo lado, ou não?
–
Não estava fazendo nada... só uma arrumaçãozinha aqui, tantas coisas jogadas...
Ralé, escória, roubando a casa de minha Senhora!! Sempre se esgueirando e mexendo em tudo sim, menino Potter, um ladrão, sim!
–
Fora! – Harry disse, taxativo. – Saia daqui agora, e nunca mais toque em nada que estiver dentro desta casa, entendeu?
–
–
Mas eu sou inocente... – argumentou num tom que não convencia...
–
Monstro põe o ladrão pra fora se mestre Potter mandar!
Os três olharam pra Monstro, não parecia estar brincando, faria mesmo. Harry estava surpreso, era a primeira vez que o chamava de mestre. Eu já tô indo... – Mundungo se apressou para a porta, erguendo as mãos. Parou e virou-se. – Vocês dois ...
–
–
Fora! – Rony apontou-lhe a varinha. – Mundungo desapareceu batendo a porta atrás de si. Harry olhou para o amigo, admirado.
–
Ótimo, era tudo o que a gente queria, agora todos vão saber que estivemos aqui.
Se ele não contar, conto eu, Rony, ele não vai continuar entrando aqui pra roubar. São as coisas de Sirius mas são da Sede também, é como uma traição!
–
Não vou ficar admirado se descobrirem que era ele, novamente, quem estava de guarda no dia em que você foi atacado, Harry! Temos que nos apressar – voltou-se para Monstro, que
–
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estava agora agachado no chão, mexendo nos objetos que rolaram da sacola. Harry se aproximou e pegou uma peça de prata suspensa em uma corrente, era pesada para o tamanho. Tinha uma serpente verde, em forma de S, em alto-relevo. Devia conter algo dentro, mas Harry não conseguiu abrir. Já vi isso antes – concluiu. – Sirius já não o tinha jogado fora? – observou os olhos desejosos e a maneira nervosa com que Monstro torcia as mãos, imaginou que aquele fosse um dos muitos objetos que o elfo andara recuperando das lixeiras ano passado.
–
–
Era de mestre Régulus – murmurou com olhos aquosos.
Harry ficou observando o objeto, virando-o entre os dedos. Sentiu um formigamento estranho subir-lhe pelo braço. –
Então ele iria gostar que ficasse com você, toma – estendeu o objeto para o elfo. – É seu.
–
Mestre... – Monstro parecia sem falas.
Então – Rony quebrou o silêncio pegando a sacola vazia no chão. – Vamos pegar logo o que tivermos que pegar e dar o fora.
–
Os meninos ajudaram Monstro a recolher os objetos que iria levar, controlando-o nos excessos. Concluíram a lista com a cama da mãe de Sirius, por sugestão de Harry, que Monstro reduziu até o tamanho apropriado para um elfo, e que Rony teve que carregar, pois não cabia na sacola que já estava pela metade. –
Espero que caiba isso tudo lá – Rony comentou. Harry hesitou.
Vamos embora assim? E se ele voltar pra levar tudo o que puder, antes que os outros saibam? – Harry olhou em direção à porta.
–
–
Mas o mestre pode impedir, pode lançar um feitiço pra protegê-la do ladrão.
Não posso fazer magia fora de Hogwarts... Mas você pode! Essa casa também é sua, morou aqui toda a sua vida, pode fazer o feitiço, não?
–
–
Se é a vontade do mestre Potter, Monstro faz! – disse emocionado.
Por favor, Monstro, mas nada violento, apenas algo que o proíba de entrar desacompanhado de outro membro da Ordem, ou se a casa estiver vazia.
–
Monstro estalou os dedos. Harry e Rony ficaram olhado, esperando ver algo, mas não viram nada diferente. Só isso? – Rony se surpreendeu. – Simples assim? – insistiu ao ver a confirmação do elfo. – Puxa! Podiam ensinar isso na escola, magia de elfo-doméstico, parece ser tão mais simples do que decorar aquele monte de feitiços...
–
Monstro pareceu elogiado com o comentário, ao qual agradeceu com uma reverência. Harry estava feliz em ver a alegria do elfo, não lembrava mais o elfo resmungão e taciturno que conhecera ano passado, agora ele o lembrava Dobby , um elfo avô de Dobby, imaginou. Pegou a saca em uma das mãos e com a outra segurou a mão do elfo-doméstico, Rony fez o mesmo, em um piscar de olhos estavam novamente na claridade e no ar fresco da casa nova. –
ONDE VOCÊS ESTAVAM??
O grito os pegou desprevenidos, Rony largou a cama em cima do próprio pé, Harry sentiu pedras de gelo descerem pelo estômago. Elisa Vrastani - Magia, Poder e Destino I
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ONDE ESTIVERAM? COM A AUTORIZAÇÃO DE QUEM SUMIRAM DESSE JEITO? TÊM IDÉIA DE COMO FIQUEI PREOCUPADO??!!
–
Os gritos continuaram. Agora Sirius o segurava pelo braço, abriu a boca mas não conseguiu pensar em nenhuma resposta a dizer. –
ME RESPONDE!!
–
Está me machucando... – conseguiu sussurrar. Sirius o largou, Harry se afastou rapidamente para perto de Rony.
Desculpe, Harry... – Sirius passou a mão pelos cabelos e respirou fundo – Você não tem ideia do que eu passei... Foram os piores momentos da minha vida! Cheguei em casa e percebi que Monstro tinha desaparecido! Você não estava em lugar nenhum! Sobrevoei cada canto desta floresta... – sua voz subindo novamente a cada sentença.
–
–
Falou com a minha mãe?! – Rony quis saber, alarmado.
Claro que falei, foi o primeiro lugar em que fui procurar. Fiquei desesperado quando soube que você não tinha sequer aparecido na Toca hoje! Todos estão!
–
–
Ah, não! Você não ... todos quem? – pediu Harry.
Os Weasley apenas – Sirius se sentou e apoiou os cotovelos sobre os joelhos, parecia mais calmo. Harry se aproximou e se ajoelhou em frente ao padrinho.
–
Desculpe, Sirius... – olhou para Rony, que estava com cara de quem tinha visto a própria morte, ainda congelado no mesmo lugar. – Eu... você tinha saído, pensei que fosse demorar, não pensei que fosse... Me desculpe, por favor – estava mesmo se sentindo péssimo.
–
Não custava ter deixado um bilhete. – Sirius disse. Harry olhou novamente para Rony, paralisado com a mesma expressão.
–
–
Você ficaria menos zangado, se eu tivesse deixado um bilhete explicando?
Não – Sirius respondeu após alguns segundos. – Provavelmente pensaria que havia sido forjado – puxou-o para si e o abraçou. – Não faz mais isso, da próxima vez, espera eu voltar.
–
“Até que não foi tão ruim assim” – Harry pensou, passado o primeiro momento. Mas ainda estava longe de terminar. A Sra. Weasley entrou pela porta. –
RONALD WEASLEY! ONDE ESTEVE?
Rony arregalou ainda mais os olhos. Harry foi ficar ao seu lado. Monstro também estava parado ao lado de Rony, porém com ar tranquilo. Os objetos que trouxeram, Harry reparou, haviam sumido. Harry começou a explicar, para uma exaltada Sra. Weasley, tudo o que havia acontecido, de vez em quando, lançando olhares para ver a reação de Sirius. Então vocês resolvem, do nada, dar um pulo até Londres, como se não fosse nada de mais? Têm ideia do quanto ficamos preocupados? Seu pai pediu pra ser dispensado mais cedo do trabalho por sua causa!
–
–
Contou para o papai!!? – finalmente conseguiu falar.
Claro que contei!! Acha que eu iria rodar o mundo em busca dos seus restos mortais sozinha?!
–
Mas fomos direto para a Sede, aparatamos dentro da casa, não passamos em nenhum outro lugar...
–
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Então da próxima vez deixa escrito num bilhete pra gente colocar na sua sepultura quando você voltar! – Vai ficar de castigo dentro do quarto, sem saídas e sem visitas até segunda ordem!
–
Harry estava com pena do amigo, por culpa dele Rony se encrencara. Sirius apenas observava em silêncio. Harry esperou que ele não estivesse reconsiderando sua posição, fora muito mais compreensível. Sra. Weasley... – tentou argumentar percebendo que o castigo de Rony o incluía, já que o amigo iria ficar sem receber visitas. – Se não tivéssemos ido não descobriríamos o que Mundungo anda fazendo, não é? Afinal, foi muita sorte termos aparecido na hora certa...
–
Não, Harry! Sirius saberá o que fazer com você, é claro que te colocaria de castigo também, mas não cabe a mim decidir...
–
Harry achou que sua explicação havia sido um tanto sugestiva, com a qual Sirius concordou prontamente, dizendo que Harry também estaria de castigo a partir daquele instante. Rony, antes de ir embora, lançou-lhe um olhar de despedida, de quem está sendo levado para execução, que deixou o amigo se sentindo ainda mais culpado. Imaginou que a noite seria bem longa para Rony, ainda teria que enfrentar o pai quando chegasse em casa. Sentiu umas palmadinhas acima da cintura, olhou pra baixo, Monstro o olhava compadecido. Tentou sorrir. Ficou no quarto até a hora do jantar, que naquela noite foi um verdadeiro banquete, até Sirius pareceu voltar ao humor habitual por conta da maravilhosa refeição. Hesitou um pouco, mas tomou coragem e perguntou a Sirius enquanto este se servia pela segunda vez. –
Então... qual será o meu castigo?
Hum... Qual... O que os teus tios te mandavam fazer quando ficava de castigo? – perguntou um tanto incomodado.
–
–
Nada... me trancavam no quarto... sem comida – acrescentou de má vontade.
–
Não!! – Sirius discordou em tom de desaprovação – Vou pensar em alguma coisa. Harry ficou aliviado, as refeições prometiam ficar bem melhores agora, com Monstro.
Na manhã seguinte Sirius o surpreendeu com um convite para irem às compras, disse que precisavam comprar algumas coisas para decorar seu quarto. Saíram com Tonks, divertiram-se muito. Compraram enfeites, roupas de cama, e muitas outras coisas, tudo ao gosto de Harry. Levaram toda a manhã escolhendo cada item. Compraram também uns mimos para Edwiges e algumas coisas para o Lupin, que Sirius informou, à pergunta de Harry, andava pela floresta a trabalho. Tonks lhe contou que havia sido muito difícil convencer Lupin a ir morar com eles. Lupin se considerava uma ameaça para a segurança deles, embora todos, até mesmo Dumbledore, discordassem. Ele só aceitara mesmo o convite como um pedido para que Harry se sentisse mais em família, com mais pessoas em casa. Harry ficou durante algum tempo pensando a respeito, a poção de Mata-Cão, diziam, era muito difícil de ser preparada, deveria ao menos tentar aprender, mas não estudaria mais poções, não obtivera NOMs suficientes... Teria que esperar Hermione chegar para discutirem isso. Chegando em casa foram recebidos por um elfo-doméstico solícito e dedicado. Sirius estava recebendo com desconfiança a repentina mudança. Harry já havia pedido para que o tratasse Elisa Vrastani - Magia, Poder e Destino I
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melhor, para que parasse de associar o elfo ao próprio passado, assim conseguiria tratá-lo como deveria. Sirius pareceu surpreso com a sugestão, mas Harry percebeu suas tentativas. Depois do almoço Harry se ofereceu para ajudar Monstro com a arrumação das coisas que haviam trazido do Largo Grimmauld, mas Monstro mostrou-lhe que já providenciara tudo, então subiu e foi arrumar o próprio quarto. Idealizou mantê-lo sempre arrumado a partir de então, imaginou o que Gina pensaria se visse como costumava deixar seu quarto da rua dos Alfeneiros. Depois estranhou esse pensamento, afinal, Rony não era melhor do que ele nisso. Sirius apareceu no quarto com o seu par dos espelhos, que usara para falar com ele em Surrey, e sugeriu que enviasse um secretamente para Rony. Harry adorou a ideia, na mesma hora foi à janela e chamou por Edwiges, que costuma ficar sempre nas árvores próximas ao seu quarto. Sirius o ajudou a embrulhar e escrever um bilhete que alertasse Rony a guardar segredo e que ao mesmo tempo pudesse ser lido por qualquer pessoa sem levantar suspeita. Após mais de dez minutos bolando algo, conseguiram despachar a mensagem. Seu castigo, pelo jeito, Sirius havia esquecido.
Os próximos dias foram igualmente formidáveis para Harry, nunca havia sido tão paparicado, exceto pela Sra. Weasley. Até Monstro fazia de tudo para agradá-lo, sempre indagando por suas preferências. Rony e ele conversavam todos os dias, pelo par de espelhos, em segredo. Quando Hermione chegou, na outra semana, a Sra. Weasley concordou em liberar Rony do castigo. Hermione exigiu que lhe contassem tudo. Harry falou pela primeira vez, em detalhes, o que havia acontecido em Surrey, e Rony o ajudou a contar sobre a ida ao Largo Grimmauld. Para surpresa de ambos, Hermione os apoiou, disse que a Sra. Weasley havia exagerado um pouco com Rony e os parabenizou pelo feito, que segundo ela, poderia ser um bom exemplo a ser mostrado pelo F.A.L.E. Embora, se vocês tivessem me esperado, eu poderia ter ajudado – ela reclamou. – E duvido que teriam sido pegos.
–
Nós percebemos isso quando tudo saiu errado, você nem imagina o quanto sentimos a sua falta... – Rony respondeu, meloso demais. Hermione sorriu.
–
Harry riu e Rony ficou sem graça. Era difícil vê-lo assim tão afetuoso, geralmente era bem insensível, Harry não pôde resistir. Gina se juntou a eles, quebrando o clima de constrangimento e culpa. Os quatro passaram o resto da tarde juntos. Antes de se despedir Harry chamou Hermione para passar as férias com ele, na Casa Verde, que era como os outros da Ordem a chamavam, Rony pareceu não gostar da ideia. Sugeriu então, que passassem os três juntos em sua casa o resto das férias, Rony ficou de pedir à mãe. Marcaram de visitar Harry na manhã seguinte, Gina também se interessou em ir e Harry ficou feliz por isso, despediram-se. O Sr. Weasley fez questão de levá-lo pra casa. Ficou imaginando se permitiriam que passeassem pela propriedade como haviam planejado. Sirius o esperava para jantar, não sentia fome, mas não quis desapontá-lo. Depois do jantar pediu para ver a reportagem que Sirius mencionara há uma semana. O Profeta trazia na capa uma foto de Sirius e Dumbledore, relatava o “triste destino de Sirius Black”, condenado injustamente após a morte do melhor amigo, a fuga desesperada da prisão de Azkaban, a caçada promovida pelo Ministério o confronto com bruxos das trevas dentro do próprio Ministério, nesse ponto a narrativa se voltava para Harry, sua invasão ao Ministério com a Elisa Vrastani - Magia, Poder e Destino I
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esperança de salvar o padrinho – essa parte Harry imaginou que o próprio Dumbledore esclarecera o ocorrido, já que desconhecia que os amigos tivessem dado relatos à imprensa, assim como ele próprio. Mencionava também o confronto com Comensais da Morte, o duelo com Voldemort. A partir de então muitos comentários e especulações de bruxos e funcionários do Ministério que não quiseram se identificar – “Pura invenção” – Harry pensou, não tinha mais confiança no jornal. Citavam Harry como a esperança contra o reino das trevas, o menino que derrotara VocêSabe-Quem, o garoto cujo poder e magia eram comparáveis com o do bruxo das trevas mais poderoso que já existiu... que pela segunda vez após seu retorno o enfrentara e o vencera, relembravam, maldosamente, a semelhança entre eles, órfãos, ofidioglotas, ... Um monte de baboseiras, tirando o que realmente interessa – Sirius comentou. – Em alguns artigos te chamam de o Eleito, dizem que você é a esperança de derrotar o Lorde das Trevas, já em outros, que seus poderes, incomuns em tão pouca idade, podem ser um sinal preocupante, principalmente se consideradas as... semelhanças, e a obsessão que o Lorde das Trevas tem demonstrado por você... Especulações, Harry, chegam a ser ridículas. Acho que o Profeta quer agradar a todos que puderem comprar o jornal....
–
–
É... – concordou, evasivo. – Alguma notícia dele?
–
Não, ainda não.
Naquela noite teve pesadelos. Sobrevoava vales e montanhas, a paisagem mudando rapidamente. Quando desceu, Harry percebeu que não usava vassoura, sentia-se liberto no ar, sem limitações. Passou por uma fenda na rocha e desceu por um caminho estreito até a parte mais profunda e sombria. Estava angustiado, queria respostas. Chegou a uma grande gruta subterrânea, sombras se arrastavam por perto, o caminho mal iluminado por poucos archotes. Não sentiu medo, seguiu em frente descendo ainda mais, rumo às profundezas da terra. Parou em frente a um pequeno declive na rocha e olhou para baixo, alguma coisa se contorcia no chão, parecia um homem, a iluminação era muito fraca naquele espaço. O que vem fazer cá o que Lorde se diz? – uma voz sibilou na língua das cobras. Era fraca, pouco mais que um sussurro, como se seu dono já tivesse vivido muitos anos.
–
Tenho dúvidas, preciso de respostas que não encontro em nenhum lugar – o silvo saiu involuntariamente de sua boca.
–
–
Já esteve aqui antes, em corpo outro, não adiantou falar eu pra você... eu avisei, mas teimou!
Sim, mas fui bem sucedido e estou aqui hoje. Mas descobri, há pouco, uma parte da qual não tinha conhecimento, não deveria existir...e é por isso que estou aqui. Preciso saber o que fazer com essa outra parte, como desfazer sem...
–
Não! – sibilou raivosamente. – Avisado foi, coisa viva não usar! – o vulto agitou-se energicamente, parecia estar se erguendo. – Mesma espécie foi usado, então vida própria é, do pai mesmas características, mas controlar não consegue.
–
Mas eu não tive a intenção! Me diga o que devo fazer! – sentiu a raiva crescendo. – Tantos anos me sacrificando para chegar até aqui, onde nenhuma outra criatura viva conseguiu chegar...
–
Ninguém lugar de tolo quer – algo se agitou atrás da figura sombria, agora erguida até sua mesma altura. – Pegou demais, nada deu, transformação magia é, troca... Assim a natureza é, filho substitui pai, pra isso cria.
–
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Só que não fui eu que criei... O que faço agora? Muito tempo se passou, o destino já foi traçado ... – sentiu-se angustiado, não parecia haver resposta, nenhum caminho.
–
Chega! Destino não traçado foi! Você traçou! Desfazer não pode, mas transformar, terá... Guardiães já sabem... – o vulto deslizou rapidamente para longe, a conversa tinha chegado ao fim. Cruzou pela luz do archote mais próximo, em direção às trevas do outro lado da caverna, por alguns instantes teve o corpo iluminado.
–
Harry soltou um berro. Estava apavorado. A escuridão o envolvia. Se lançou para longe tentando se afastar da criatura, sua cicatriz queimava, se debateu no chão entre os lençóis, tentando ficar de pé mas tudo rodava, só havia escuridão e o pavor pela proximidade daquela criatura. –
Harry!! – uma voz gritou ao longe. Mãos o agarraram tentando puxá-lo para algum lugar nas trevas que o rodeava.
–
Afaste-se de mim!! – se ouviu gritar num silvo rouco.
Alguém o segurou com força e então surgiu a luz, cegando-o. Encolheu-se tapando os olhos com as mãos. –
Calma, estamos aqui – Sirius sussurrou, ainda imobilizando-o.
Abriu os olhos devagar, se habituando à recente claridade, estava sem os óculos, sua cicatriz ardia muito. Sentiu alguém se abaixar ao seu lado e por a mão sobre sua testa. A mão fria sobre sua cicatriz lhe proporcionou um pequeno alívio. –
Ele está muito quente! Vou buscar água.
Ouviu a voz de Lupin vinda de algum lugar. Não sabia que havia voltado. Aos poucos sentiu seu corpo parar de tremer. Sirius o ergueu do chão e o colocou sobre a cama. Sua cabeça ainda rodava, estava tonto, mas conseguia distinguir vultos. Estava em seu quarto, uma figura pequena se agitava bem próximo, ao lado de outra maior, que se debruçava sobre ele. Ouviu novamente a voz de Sirius, fazia perguntas que não entendeu, estava se concentrando em fazer seu corpo se mexer, se sentia muito pesado. Uma mão prendeu-o contra a cama. Ouviu novamente a voz de Lupin, alguém colocou algo frio sobre sua cicatriz, se sentiu melhor. –
Obrigado – sussurrou, ou pensou ter sussurrado e apagou.
Abriu os olhos devagar se acostumando à claridade. Olhou em volta estranhando o local. Fotos gigantes de motos decoravam a parede, do outro lado do quarto uma banda de rock se agitava num poster gigante. Estava no quarto de Sirius. Edwiges piou da janela aberta. Lembranças ruins tentaram invadir a sua mente. O lugar na cama, ao seu lado, ainda estava quente, mas não ouviu ninguém por perto. Procurou seus óculos mas não os encontrou na mesa de cabeceira. Levantou e saiu. Silêncio. Se esgueirou pelo corredor até chegar ao banheiro. Tomou um banho. Ficou um bom tempo deixando a água cair sobre sua cabeça. Chegou ao seu quarto com dificuldade, não enxergava muito sem os óculos. Não os encontrou em lugar nenhum, estava ficando angustiado. Alguém entrou apressado pela porta. –
Está se sentindo bem? Não devia ter se levantado ainda – Sirius o conduziu até a cama.
–
Estou bem, Sirius, sério, só não estou achando meus óculos...
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–
Eu os pus aqui...
Sirius afastou-se, voltando em seguida. Pôs os óculos em seu rosto. Ficou aliviado, se sentiu mais reconfortado. Agradeceu. –
O que está sentindo? – pôs a mão sobre sua testa.
–
Nada, não estou sentindo nada, estou ótimo.
–
Lembra o que aconteceu noite passada? – perguntou Sirius, hesitante.
Harry fechou os olhos e massageou a nuca. As imagens estavam todas lá, como se ele mesmo as tivesse vivido, já acontecera antes, sabia que não havia sido um sonho. –
Eu ... tive um pesadelo – mentiu.
Depois de tudo o que passara no ano anterior, não queria que o obrigassem a ter, novamente, aulas de Oclumência com Snape. Não agora que finalmente se livrara do professor. Sem falar em admitir que não conseguira aprender nada até então. –
Deita aqui um pouco – Sirius levou novamente a mão à sua testa.
–
Não preciso deitar – reclamou. – Estou ótimo! Lupin apareceu com uma taça nas mãos. – Como ele está, Sirius?
–
Não sei... – Sirius respondeu, hesitante. – Mas a febre já passou.
–
Eu estou bem!
–
O que aconteceu então, noite passada, o que você viu?
Queria abrir a boca e dizer que era normal, que aquilo não acontecia com ele, que não “virava” Voldemort quando fechava os olhos. –
Eu não sei ao certo... Mas eu estou bem – insistiu. – Só tive um pesadelo.
Com... cobras? Você falou em língua de cobra ontem, alguma cobra específica? A cobra de Voldemort? – Lupin inquiriu.
–
Harry se arrepiou com a lembrança da figura em seu “pesadelo”. Nagini? Não... – Sirius e Lupin se enrijeceram com a menção ao nome de Nagini. – É como ela se chama... a cobra – Harry explicou.
–
Beba isso, Harry – Lupin forçou a bebida em sua boca antes que pudesse perguntar algo. O gosto não era tão ruim. – É um tônico – Lupin explicou. – Vai se sentir melhor com ele.
–
–
Posso descer? Estou faminto – exagerou um pouco, só queria se livrar daquilo tudo.
–
Vou trazer algo...
–
Não! – exclamou, erguendo-se. – Eu quero descer. Sentaram à mesa. Monstro, tratando-o também como um doente, enchia o seu prato.
Chega, Monstro. Obrigado – pediu. – Rony, Hermione e Gina vão passar o dia comigo hoje, podemos dar umas voltas, dentro dos limites?
–
–
Quem sabe... se você confiar na gente e dizer exatamente o que o perturbou ontem... Harry suspirou, Sirius não se deixara convencer. Não queria falar a respeito.
Mas eu confio em vocês! É que... agora não, tenho que arrumar meu quarto. – nunca se preocupara em arrumar o quarto quando na casa dos Dursley. Estava virando paranoia.
–
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–
Não se preocupe, mestre Potter, Monstro arruma.
Abriu a boca pra dizer que não precisaria, que queria fazê-lo ele mesmo, mas já via apenas o lugar vazio onde Monstro estivera. Harry... – Lupin começou. – Isso pode ser muito importante, seria bom ter uma ideia do que ele está fazendo... o porquê de estar tão quieto.
–
–
Pensei que não quisessem mais que eu tivesse essas visões, que eu aprendesse Oclumência.
–
Bom, você tentou, não?
Sabemos também que pode afastá-lo, ele sequer conseguiu possuí-lo no Ministério, ele não vai te controlar, você só precisa treinar mais – Lupin sugeriu.
–
Não quero ter aulas com Snape! – apressou-se em esclarecer. – Posso ter aula com qualquer um que vocês quiserem, menos com ele.
–
–
Eu nunca iria propor uma coisa dessas! – Sirius afirmou, veemente. Harry se sentiu melhor.
Eu não sei onde ele está, mas não é por aqui, ele não está perto, havia montanhas e ... – parou e apoiou a testa nas mãos, sua cicatriz estava formigando de novo.
–
–
O que foi, Harry? – Sirius se levantou e foi pra perto dele.
–
Minha cicatriz... – murmurou. – Acho que... quero subir um pouco.
Não devia ter dito isso, sabia, mas não queria continuar com aquilo, forçar as lembranças agora o levariam de volta para onde Voldemort estivesse, pôde sentir. –
Talvez seja melhor – Sirius fez menção de ajudá-lo. Recusou.
Quando chegou ao quarto encontrou-o tão impecavelmente arrumado, que estranhou durante alguns segundos parado à porta. –
Monstro, obrigado, ficou ótimo!
–
É sempre um prazer, jovem mestre!
Harry olhou pra cama e percebeu que não poderia dormir, isso só facilitaria as coisas, deixaria sua mente vulnerável. Ficou olhando pela janela, imaginando quanto tempo seus amigos demorariam para chegar, pegou o espelho e chamou por Rony. Nada. Na certa, ainda estaria dormindo, acabara de amanhecer. Pegou sua firebolt e desceu. Sirius e Lupin, ainda à mesa, conversavam. Pararam quando o viram. Comunicou que iria dar umas voltas, rodear a casa, não iria longe. Na verdade só queria se manter ocupado. Ambos hesitaram um pouco, por fim, concordaram. Como sempre acontecia, assim que sentiu o vento frio no rosto se sentiu muito bem. Sobrevoou ao redor da casa contornando o bosque, foi subindo aos poucos. Estavam bem isolados do resto da civilização, ainda assim, tinham que tomar cuidado. Subiu o suficiente para que conseguisse avistar a Toca. Olhou pra baixo e lembrou da sensação que tivera quando sobrevoara aquela região desértica, a liberdade, deixava o voo em sua firebolt desconfortável em comparação. Essas lembranças não lhe trouxeram nenhuma sensação desagradável, ficou aliviado. Ficou a imaginar como Voldemort fazia aquilo, como conseguia voar sem uso de vassoura. Deixou-se inundar pela lembrança daquela sensação de leveza, sentiu sua vassoura corresponder também, as curvas ficaram mais suaves e fáceis. Resolveu checar se Rony já acordara, desceu e entrou pela janela do quarto, tentando fazer o Elisa Vrastani - Magia, Poder e Destino I
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mínimo de barulho possível. Colocou a firebolt sobre a cama, abriu o armário para pegar o espelho e se voltou para sair, flutuou até a janela quando se deu conta de que esquecera a vassoura sobre a cama. Aconteceu tudo muito rápido, levava em uma mão o espelho e quando tocou com a outra a janela olhou para baixo e percebeu que não pegara a vassoura, no mesmo momento despencou. Tinha mais da metade do corpo para fora da janela, ficou de ponta a cabeça, quase caindo lá embaixo, e enquanto tentava se içar para dentro do quarto novamente acabou deixando o espelho cair. Quando seus pés tocaram o chão do quarto de novo respirou fundo pra tentar acalmar as batidas de seu coração. Pegou a vassoura e desceu às pressas, recolheu todos os cacos que encontrou e os levou de volta ao quarto, o que queria falar com Rony já não tinha importância, acabara de voar pelo quarto! Seu primeiro impulso foi de falar com Sirius e Lupin, mas, pensou melhor. Afinal, não devia ser algo tão extraordinário, lembrou de quando Neville contara como sua família soube que não era um aborto como imaginavam, quando conseguira levitar da janela do primeiro andar ao térreo quando “largado” por seu tio... Ficou contemplando o céu e pensando se receberia uma carta do Ministério por isso. Sons de vozes e risadas chegaram aos seus ouvidos, foi recebê-los ainda no jardim. Assim que entraram na cozinha Hermione fez questão de parar e conversar com Monstro, que dessa vez se mostrava mais tolerante, ao menos, estava se esforçando muito ao lidar com o preconceito que recebera de herança da família Black. Sirius apareceu e sugeriu um passeio seguido de um piquenique ao ar livre.
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CAP. 4 – VOLDEMORT Divertiram-se muito observando a natureza e admirando a proximidade dos animais silvestres, pararam quando chegaram a um rio estreito e límpido que vinha de uma colina não muito distante. Aqui é o limite de até onde vocês podem chegar, sei que agora que estão juntos de novo vai ser mais difícil mantê-los fora de confusão, mas nada justifica sair dos limites. Subindo a colina, beirando o rio, na margem oposta, é a casa dos Lovegood. Mas vocês não têm permissão para irem sozinhos, entendidos?
–
Todos concordaram. Acamparam às margens do rio, Hermione contou sobre suas férias, Rony fazia muitas perguntas, queria saber sobre todos os lugares que Hermione visitara, todas as pessoas que conhecera, até Harry estranhou tanto interesse, mas Hermione não pareceu se incomodar, respondia a todas as perguntas e dava todos os detalhes pedidos, isso Harry não pôde estranhar. Gina ouvia em silêncio. Em meio à conversa, Harry lembrou do ocorrido mais cedo. –
Sirius, por que os bruxos usam vassouras para voar?
Hã? Que pergunta, Harry! Ninguém consegue voar sem vassouras. Imagina se pudessem, seria um caos aéreo, não?
–
Rony achou graça das palavras de Sirius, Gina sorriu, mas Hermione encarou Harry como se quisesse perguntar alguma coisa. Mas... – Harry pareceu confuso, prosseguiu. – Voldemort não usa vassouras, ou tapetes – contou a eles essa parte do “sonho” que tivera.
–
Rony arfou e Gina prendeu a respiração, Hermione parecia tão curiosa quanto Harry. –
Bem, Harry, bruxos decentes não voam, não usam esse tipo de magia.
Mas conseguem, não? Eles só não querem usar porque acham que é Magia Antiga, não é? – Hermione quis saber.
–
–
E é Magia Antiga, Hermione, com certeza, e claro que ele a usa, é sua especialidade.
O que tem isso? – perguntou Harry. – O que importa se é antiga ou nova, não é bem mais simples?
–
Não estamos falando disso, não é a idade, estamos falando da Magia Antiga, vocês aprenderam isso em Hogwarts...
–
–
Não. – Harry e Rony responderam juntos. Hermione os corrigiu.
Claro que aprendemos, no primeiro ano! O Prof Binns falou a respeito em várias aulas! A Magia Antiga, a magia proibida pela comunidade bruxa e pelo Ministério.
–
Harry e Rony se entreolharam. Ora, Harry, pra quê você acha que os jovens devem frequentar a escola de bruxos? O objetivo é orientar e limitar o uso descontrolado da magia.
–
–
Não é pra nos ensinar a usá-la? – Rony surpreendeu-se.
Não exatamente. Uma vez que possua o dom, usar a magia será algo involuntário e natural. O Ministério e as escolas existem para determinar a maneira como ela deve ser usada, ensinando na verdade, os limites pré-estabelecidos. Como o uso de feitiços, por exemplo, usar feitiços
–
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verbais, decorados, restringe as ações impulsionadas pelo desejo, que tendem a transformar tudo e qualquer coisa pela simples vontade. É por isso que o Ministério sempre foi contra Voldemort, não só pelos assassinatos, mas também pelo desrespeito às regras. Ele não aceita obedecer nenhuma norma ou autoridade, quer dominar todas as magias, ser o mais poderoso... Limites e controle são essenciais para a vida em sociedade, seria um caos se todos os bruxos saíssem por aí fazendo tudo o que quisessem, mudando o rumo natural das coisas pelo simples desejo. Todos ficaram em silêncio após o relato de Sirius, talvez, como Harry, refletindo sobre essa nova visão dos fatos que não havia percebido. Bom, Harry, seu aniversário está se aproximando, o que você vai querer pra sua festa? Algo especial? – Sirius estava tentando quebrar o clima.
–
–
Não... não estou pensando em nada.
Quem você quer convidar? Temos que organizar tudo de acordo com o número de convidados e também as medidas de segurança...
–
Não, não vou convidar ninguém a mais – pensou nos Dursley. – Só o pessoal da Ordem e os Lovegood....
–
OK então, e o que você vai querer de presente? E não adianta, você vai ter que escolher algo especial, me diga algo que você queira muito. Tenho certeza que não vai querer que eu escolha por você.
–
Ficou pensando, não achava que um presente escolhido por Sirius seria ruim, adorava sua firebolt, presente do padrinho, e o canivete, que havia se estragado no Ministério, tinha sido muito útil. O que ele poderia querer? Você pode me ajudar a virar um animago! – nunca havia pensado a respeito, mas a vontade ganhou força quando as palavras saíram de sua boca. Sirius pareceu chocado.
–
–
Isso... não, Harry, escolha outra coisa, qualquer coisa que você queira.
–
Mas é isso que eu quero. Ser um animago como você e meu pai.
Acho que já temos problemas suficientes com o Ministério sem você ser um animago ilegal, clandestino...
–
–
Como você?
Não sou mais clandestino, e Dumbledore teve muito trabalho pra me livrar dessa acusação. Você sabia que o Ministério queria me julgar por isso?
–
O quê?!! – Todos os quatro se espantaram e começaram a falar ao mesmo tempo , “É muita injustiça!”, “Depois de tudo o que você passou...”, “...doze anos em Azkaban sem julgamento...”
–
Pois é, mesmo assim, por isso tudo, eu acho que não é uma boa pra você no momento, talvez, mais tarde. Quando for maior de idade.
–
Harry resolveu não insistir mais, ficou de dar uma resposta depois. Sirius disse que iria embora e que poderiam ficar e aproveitar o passeio contanto que voltassem antes do fim da tarde. Levantaram acampamento, levaram algumas sobras do piquenique pra comerem mais tarde. Harry quis saber mais sobre a Magia Antiga e Hermione contou a eles o que sabia. Não havia livros em Hogwarts sobre o assunto, sabia apenas que havia sido condenada pelo Ministério e seus praticantes perseguidos. Harry contou-lhes a experiência vivida naquela manhã. Ficaram entusiasmados com a possibilidade, menos Hermione, que achava que poderia ser muito perigoso.
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Sirius tem razão, Harry. Isso não é bom. Imagina se o Ministério detectar o uso desse tipo de magia, o problema que irá trazer pra você e Sirius! Francamente, e querer ser um animago ilegal, também é querer atrair confusão...
–
Dá um tempo, Hermione, isso sim seria legal! – Rony exclamou. – Se tivéssemos ajuda não teríamos problemas, eles não tiveram. Além do mais, foi por ser um animago que Sirius conseguiu escapar, senão, estaria em Azkaban até hoje. Nós bem que poderíamos tentar, Harry, se eles conseguiram sozinhos...
–
–
Não, Rony, é muito perigoso, é um processo difícil e demorado..
–
Ah, Mione, você não está com medo de se transformar em uma coruja de biblioteca, está?
–
E você, está ansioso pra se transformar em uma preguiça, Rony?!
–
Chega, OK? – Harry interviu – Não precisam discutir por isso.
Os dois se calaram, mas ficaram de cara amarrada. Harry os deixou de lado e se distraiu conversando com Gina. Encontraram uma clareira com troncos caídos de árvores mortas, onde sentaram para terminar o que sobrara do piquenique. Começaram a fazer planos para o futuro, para depois de Hogwarts, analisando as possibilidades que teriam com base nos NOMs que conseguiram. Hermione, como era de se esperar, conseguira nota máxima em todos, já Rony e Harry... Não tenho certeza do que fazer agora que não posso mais tentar a carreira de auror... – Harry desabafou.
–
Ah, Harry... talvez seja melhor assim. Você não vai querer ficar pra sempre nisso, não é? Se envolvendo com bruxos das trevas, arriscando a vida...
–
–
Não! Claro que ele não vai! – Gina respondeu, enfática.
Não... – Harry a encarou, curioso, essa ideia parecia aborrecê-la – Pelo jeito não, se eles me deixarem em paz...
–
É, mas não restam muitas coisas legais pra se fazer, não é? Gui está em Gringotes, Carlinhos na Romênia, Percy no Ministério, Fred e Jorge tem a própria loja de logros....
–
Podemos trabalhar como os trouxas, Rony, tem muitas coisas legais pra se fazer, e não vamos precisar de NOMs pra isso...
–
É uma boa ideia, Harry! – Hermione entusiasmou-se – Seria uma ótima forma de cooperação... – ficou pensativa por um bom tempo.
–
–
Eu quero seguir a carreira médica, quero ser curandeira.
–
Sério? Pensei que fosse ser jogadora de quadribol...
–
Não, mas você poderia, é um ótimo apanhador...
Sua cicatriz ardeu de repente. Levantou num salto e puxou mecanicamente a varinha. Conhecia aquela sensação. –
O que foi, Harry?! – os outros, assustados, o imitaram.
–
Vamos embora! Agora! – se apressou a recolher todas as coisas. – Rápido, peguem tudo logo!
–
O que está acontecendo? – Hermione colocou o restante das coisas na cesta. – Harry ...
–
Ele está aqui, por aqui, eu sinto...
–
Você-Sabe-Quem?!!
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Vamos! – parou e levou a mão à testa, a dor estava ficando mais forte, tentou bloqueá-lo, fechar a mente, mas uma imagem surgiu, estava observando, do alto, toda a região. Ao longe conseguia avistar a Toca, olhou para o outro lado, não conseguiu distinguir a Casa Verde, mas sabia que estava ali. Abaixo dos seus pés, o rio.
–
A imagem foi sumindo, aos poucos voltou a si, estava de joelhos, a cicatriz ainda ardia, os amigos agachados ao seu lado com expressões horrorizadas. Ele está perto do rio... – sussurrou. Olhou para o alto, estava próximo, mas não o podia ver. – Vão, rápido.
–
–
Pra onde você vai?!
–
Eu quero ter certeza de que ele não vai passar se o escudo falhar...
–
Você vai fazer o quê?! Não pode fazer magia! Temos que chamar os adultos!
Então chame, Mione, eu quero saber o que ele veio fazer aqui – sua cicatriz continuava a queimar, começou a sentir um misto de raiva e inquietação... estava frustrado... ele ou Voldemort.... não conseguiu distinguir...
–
Se você ficar, eu também vou. – Gina segurou a sua mão. O toque dela fez passar uma corrente pelo seu corpo. A dor em sua cicatriz ficou menos intensa.
–
–
Nós também! – Rony respondeu, decidido. – O que faremos agora? Vamos até o rio, Harry?
–
Fazer o quê? Jogar latas vazias de conserva para afugentá-lo!? – Hermione reclamou.
Vocês não vão! – soltou a mão de Gina. – Ele veio por mim – a cicatriz ardeu intensamente outra vez, outra imagem surgiu em sua mente sem que pudesse impedir. Tonks, ferida e indefesa. Fora bem rápida, apenas um lampejo. – Chamem Olho-Tonto, é melhor não falarem com Sirius, vão até a Toca primeiro, a Sra. Weasley deve saber como entrar em contato com ele.
–
–
Esquece! Não vamos te deixar!
–
Eu vi a Tonks...
–
Ele a capturou?! – Gina perguntou, alarmada.
–
Não... acho que não...
Então ele está tentando te confundir, é uma armadilha, ele já fez isso antes. Vem com a gente, vamos falar com alguém, tenta fechar a sua mente. – Rony sugeriu, nervoso.
–
–
Eu sei, mas só há uma maneira de ter certeza... eu só vou checar.
–
Não, não vai...
Harry não pensou duas vezes, estava perdendo tempo, queria estar longe dali, se voasse chegaria mais rápido. Em menos de um segundo depois o vento batia em seu rosto enquanto seguia rumo à copa da árvore mais próxima, ouviu Hermione exclamar alguma coisa, mas não se virou. Sua determinação o impulsionava, isso tornava bem mais fácil manter a direção. Não viu ninguém ao redor. Seguiu para o rio.
Viu-o agachado na margem oposta, observando a correnteza. Ele ergueu os olhos quando Harry tocou a margem, ainda dentro do área de proteção. Seus lábios se crisparam num quase sorriso. –
Belo pouso, vejo que já descobriu alguns prazeres que a magia livre pode proporcionar.
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Harry olhou ao redor, não havia mais ninguém. Já esperava por isso. Segurou firme a varinha, a cicatriz latejando insistentemente. –
Acha que pode continuar me manipulado com essas visões? Esse truque eu já conheço.
–
Então, por que veio?
–
Quero saber o que você quer. Por que se deu ao trabalho de vir até aqui?
Depois do que aconteceu no Ministério, não era óbvio que eu viria? Você também não está curioso pra saber o que aconteceu naquele dia?
–
Harry franziu a testa, aconteceu que Voldemort tentou se apoderar da profecia, mas esta havia se quebrado, depois tentou possuí-lo, mas não conseguiu, foi repelido, alguma coisa o afastou, tinha consciência apenas da repulsa que sentira ao dividir seu corpo com Voldemort e da dor... Aconteceu que você, mais uma vez, não conseguiu o que queria – sentia a raiva latejando prestes a explodir. Deu alguns passos para trás, procurando alívio para sua cicatriz com a distância.
–
–
Não se pergunta o porquê? Ou como?
–
O sacrifício da minha mãe...
Te salvou, sim, mas a conexão que existe entre nossas mentes, a sua ofidioglossia, não têm nenhuma relação com o sacrifício dela... e a proteção que ela deixou em você, foi passada para mim também, pelo seu sangue... Não foi por isso... – olhou em volta, pensativo. – Você esteve comigo quando visitei o submundo de Tahaus, não?
–
Harry hesitou. A sensação era horrível, tentou se acalmar e esvaziar a mente. –
Eu te senti. Pelo o que viu e ouviu, chegou a alguma conclusão?
Não cheguei a conclusão nenhuma, e não me interessa o que você e... aquelas coisas dizem, foi você que me levou até lá, eu não quis ir, nem entendi nada do que disseram...
–
É a sabedoria dos Antigos, adquirida através da vivência, do sucesso e fracasso de experimentos... Já estudou sobre a Magia Antiga, ou melhor, já obteve o pouco e limitado conhecimento a respeito?
–
Muito pouco... – não quis dizer que não sabia nada até aquele dia, seria deixar claro que era um aluno medíocre, quando Tom Riddle havia sido o melhor e mais inteligente de seu tempo. – Mas isso não me interessa – mentiu. – Se veio só pra perguntar isso pode ir embora, nada que venha de você me interessa, nem suas viagens...
–
Mentira. Sua curiosidade é tão grande quanto a minha, por isso está aqui, por isso veio, mesmo sabendo que a adorável auror não corria perigo.
–
–
A profecia quebrou, não há mais como saber nada...
Na verdade, há. E você pode ter o conhecimento que desejar, muito mais do que você viu e verá em Hogwarts, Harry – deu alguns passos à frente como se fosse avançar sobre a água mas parou.
–
Automaticamente Harry deu alguns passos pra trás, a varinha firme em sua mão. Não precisa ter medo de mim, você está bem protegido, não posso me aproximar, nem estou usando uma varinha, percebeu? Não quero atacá-lo, vim só conversar.
–
–
Então diga de uma vez o que quer...
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–
Descobri algo interessante, confuso e assustador naquela noite.
–
E vai me contar...? – perguntou, irônico.
–
Sim, é relacionado a nós dois, não quer saber?
Quero! – respondeu prontamente, não sabia até onde Voldemort iria, ou o que pretendia com aquilo, mas queria obter informações se as pudesse ter. – A troco de quê?
–
–
Cooperação, ajuda para desvendar esse enigma que nos prende um ao outro.
–
Como?
É só você acessar a minha mente... e eu vou poder confirmar algo... algo que poderei te dizer mais tarde, se eu estiver correto.
–
–
Não...
Vai ser o mesmo que tem feito, só que dessa vez, de maneira controlada, voluntária e consciente, eu te explico como.
–
–
Por que eu confiaria em você?
Sim, claro. Mas eu estou aqui, te propondo um acordo, por que eu faria isso? Não quer se livrar dessa conexão indesejável, do incômodo de ter essa cicatriz? Dói com a minha aproximação, não é? Está doendo agora?
–
Deixou o ar escapar com força. “O que estou fazendo aqui?” – pensou. Olhou ao redor. – “Onde será que estão, será que já chegaram à Toca?” – se perguntou. Não confiaria em alguém que tentara, por tantas vezes, matá-lo. –
Vai embora, antes que alguém chegue, já devem saber que está aqui...
Sei que não vai ser fácil pra você confiar em mim, mas acredite, estou querendo estabelecer uma trégua entre nós dois. O destino nos uniu, nos conectou, na verdade. Acho que devemos descobrir o que podemos fazer com isso... Deixe-me dar uma prova das minhas intenções, algo que poderá te ajudar a entender mais da magia...
–
–
HARRY!! – Sirius surgiu da mata, correndo, Tonks atrás dele.
Harry virou-se novamente, mas Voldemort já havia partido. A cicatriz continuou incomodando, mas a dor menos intensa agora. –
Pra onde ele foi? – Tonks perguntou, apontava a varinha para todos os lados.
–
Foi embora...
Vamos sair daqui! – Sirius o puxou pelo braço, no mesmo segundo já estavam na varanda de casa. Tudo rodou. Não estava preparado para aquilo. O chão sumiu sob seus pés, uma sensação de embrulho no estômago. Tudo parecia se mexer ao redor, mas estava consciente de estar imóvel. Ouviu gritos e passos se aproximando.
–
–
Está tudo bem, deixem a gente passar. – Sirius respondeu de algum lugar acima dele.
Sentiu seu corpo fazer contato com algo, levou a mão à testa, seus movimentos estavam lentos, era como se estivesse debaixo d'água. Por que fez isso, Sirius, não sabe que é perigoso? Ele poderia ter estrunchado... – a voz de Tonks surgiu de algum lugar. Aos poucos as coisas foram entrando novamente em foco.
–
Ouviu várias outras vozes que se seguiram à de Tonks. Fechou os olhos e respirou fundo por várias vezes tentando se recuperar logo. Quando a vertigem passou, olhou ao redor, estava deitado no sofá da sala, Gina estava ao seu lado, viu a Sra. Weasley, Rony, e Hermione em volta de Tonks e Elisa Vrastani - Magia, Poder e Destino I
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Sirius, ouvindo enquanto contavam que chegaram a ver Voldemort instantes antes de sumir. Quando se mexeu Gina voltou-se para ele. –
É melhor continuar deitado, Harry. Você não parece bem.
Já está passando – resolveu seguir seu conselho e continuar deitado, não estava muito confiante.
–
–
O que aconteceu lá no rio? – Sirius quis saber.
–
Eu estava muito bem até você chegar, obrigado – sentiu-se mesmo irritado com ele.
Nesse momento uma voz desconhecida chamou da soleira da porta. Sirius foi atender e voltou minutos depois acompanhado do novo Ministro da Magia, Harry o reconheceu da foto que saiu no Profeta. Sentou-se devagar. Sirius estava com uma expressão nada satisfeita. –
Boa tarde a todos. Ouviu-se um burburinho acanhado.
Pelo jeito eu estava certo em vir, aconteceu alguma coisa aqui? – pareceu mais uma afirmação do que uma pergunta. Seus olhos se fixaram em Harry. – Detectamos algumas tentativas de violação do escudo, o que houve?
–
Sirius hesitou por alguns segundos, depois contou sobre a aparição de Voldemort, omitindo a presença de Harry. –
Por que não chamou o Ministério? Por que foi confrontá-lo? Ficaram em silêncio por um tempo.
Bom, não tivemos tempo, Harry estava na floresta, pensamos que estivesse em perigo – Tonks completou, seus cabelos passando de negros para vermelho intenso. Sirius fitava o tapete, contrariado.
–
–
Então me conte, Harry, o que aconteceu? Por que você estava sozinho na floresta?
Harry não gostou do tom do Ministro, mas relatou o que pôde até seu encontro com Voldemort, fez parecer que por coincidência foi parar no mesmo trecho do rio em que ele estava. –
E então, o que ele disse? O que queria?
–
Conversar, acho. Não disse muita coisa. Sirius e Tonks chegaram em seguida.
E... você resolveu andar sozinho por aí e deparou com ele, de repente? – perguntou desconfiado. – Não foi detectado uso de magia defensiva ou de ataque, o que fizeram, o que ele disse?
–
Ele queria saber sobre a profecia – continuou após algum tempo – Dizia respeito a nós dois, ele queria discutir o assunto...
–
Hum... dialogar a respeito... Não parece o estilo dele. Por que motivo faria isso? O que o fez mudar de ideia, Harry? O que ele quer de você dessa vez, se sabe que a profecia se quebrou e ninguém a ouviu?
–
–
Eu não sei, como disse, ele foi embora...
E o que você acha? Ele te vê como uma ameaça, ele acha que você conseguiria derrotá-lo? – Uma agitação incômoda se fez presente na sala.
–
–
Não, senhor, sou só um garoto. Isso é trabalho do Ministério. O Ministro, Scrimgeour, ao contrário de Sirius, não pareceu contente com a resposta.
Elisa Vrastani - Magia, Poder e Destino I
35
Afastou-se em direção à porta e conversou em voz baixa com Sirius, Tonks e a Sra. Weasley. Rony, Hermione e Gina ficaram se entreolhando enquanto aguardavam. Quando o Ministro finalmente foi embora, prometendo reforçar a segurança com a organização de uma ronda periódica de aurores, todos respiraram aliviados. –
Bom, agora o senhor vai nos contar tudo o que aconteceu de verdade. – Sirius ordenou. Harry contou aos seus seis atentos espectadores o que havia ocorrido.
Temos que falar com Dumbledore. – Molly determinou – Essa história agora, a quem ele quer enganar com isso, trégua, com aquele assassino frio e cruel!
–
Creio que ele ainda esteja muito interessado em Harry, essa ligação entre a mente deles... É, acho que no lugar dele eu também iria querer levar essa história até o fim. – Sirius ficou olhando-o por um momento, como se quisesse descobrir algo – Está se sentindo melhor?
–
–
Estou...
Você achou mesmo que eu estaria precisando de ajuda, Harry? – Tonks indagou com a voz suave, os cabelos agora na cor rosa-bebê.
–
–
Na verdade não, mas eu precisava conferir, não é? E nem ultrapassei o limite...
Não! Não precisava não! – Sirius protestou – Se tivesse vindo pra casa nos contar, como deveria, teria visto que Tonks estava aqui. E não me venha com essa de limite!
–
Ele sabia que eu não acreditaria, mas que iria de qualquer forma – acrescentou, apesar do mau humor de Sirius. – Se eu puder fazer alguma coisa, qualquer coisa, pra me livrar disso, eu farei. Eu quero ter uma vida normal, e não vou deixar que corram perigo por minha causa.
–
Tonks se aproximou e lhe deu um beijo na testa. –
Quer fazer o favor de não encorajar o meu garoto, ele já viola regras suficientes sem isso.
Sirius, eu não fiz nada errado, fiz o que devia ser feito! Vocês disseram que seria bom ter uma posição, saber o que ele está fazendo...
–
–
Mas não que você devia buscar essa informação!
Meninos! – Tonks exclamou, divertida – Eu acho que Harry foi muito corajoso, aliás, ele sempre é. E está certo, devemos ajudá-lo a desfazer essa conexão entre eles...
–
–
Obrigado! – Harry agradeceu ainda encarando Sirius.
–
Bom, então, vamos embora... – a Sra. Weasley os chamou.
Tonks, Rony e Gina protestaram, ainda estava cedo, e com certeza iriam querer ouvir, de Harry, mais detalhes. Eu ainda quero saber como o Harry conseguiu voar sem auxílio de nenhum objeto – Tonks declarou.
–
Tonks, querida, claro que você pode ficar, eu estava me referindo somente às crianças, mas eu também estou curiosa pra saber isso – Molly o encarou, aguardando.
–
Harry tentou explicar da melhor forma possível, a começar do “sonho” que tivera. Era estranho admitir, mas sabia voar porque Voldemort também sabia, assim como falar a língua das cobras, simplesmente sabia, só não havia percebido até então. Ficaram um tanto espantados e preocupados com a informação. Harry desejou que não tivesse ocorrido, que ainda ignorasse o fato. Estão vendo! É por isso que eu tenho que descobrir alguma forma de desfazer essa ligação entre nós. Não quero ser visto como uma aberração pelo resto da vida!
–
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–
Você não é uma aberração! – Gina reclamou.
Harry a olhou sentindo-se bem mais leve. Sirius o fez prometer que nunca tentaria fazê-lo novamente, voar, muito menos deixar que outros vissem ou soubessem. Harry sabia o que o padrinho pensava a respeito. Sra. Weasley se despediu de todos, Hermione perguntou se não poderia ficar, prometera passar um tempo com Harry, depois pegaria suas coisas. Harry aproveitou e perguntou a Sirius se Rony e Gina não poderiam ficar também, Rony dormiria com ele e Gina dividiria o quarto com Hermione, sabia que ele não poderia recusar, não depois de Harry passar todas as suas férias, desde que entrara em Hogwarts, na Toca com os Weasley. Se quiserem ficar, tudo bem, mas saibam que Harry ficará de castigo dentro de casa, proibido de sair, nem que seja só até o jardim.
–
Harry abriu a boca pra reclamar mas não teve o que argumentar. Calou-se. Os três concordaram. Tonks ficou conversando com Sirius depois que a Sra. Weasley foi embora. Os quatro subiram para o segundo andar. Ficaram no quarto de Harry, conversando sobre a atitude de Voldemort. Hermione o repreendeu por ter fugido deles daquela maneira. –
Você não teve medo, Harry? Ir até ele, sozinho... – Gina quis saber.
Não tenho medo de Voldemort. Ele é só um homem... meio homem... que sabe mais do que nós, que tem conhecimentos sobre assuntos que os outros bruxos não querem descobrir...
–
Conhecimentos que ele está oferecendo a você tão... facilmente... – Rony concluiu. – Isso seria legal!
–
Não seja idiota, Rony! Não é legal, é magia proibida! – Hermione se irritou. – Claro que ele não vai fazer isso, é um truque, com certeza. Por que deixaria Harry acessar sua mente se isso lhe daria acesso a suas lembranças, suas fraquezas...
–
Não sei... – Harry respondeu. – Tem alguma coisa a ver com encontrar um modo de desfazer nossa ligação.
–
Não seja ingênuo! Um modo de se livrar disso seria te matando, e isso ele já vem tentando fazer...
–
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CAP. 5 - O LORD Os dias correram sem mais incidentes, mas a casa já estava parecendo pequena e claustrofóbica, tentavam inventar várias formas de se distraírem, mas na manhã do quinto dia já estavam sem ideias. Harry sugeriu que fossem dar umas voltas, não precisavam cumprir o castigo com ele, não tinham feito nada de errado, mas eles recusaram. Por que vocês não vão jogar uma partida de quadribol? – Sirius sugeriu ao vê-los amuados a um canto.
–
–
Mas Sirius, você me colocou de castigo... Rony lançou um olhar de incredulidade para Harry.
–
Ah! É verdade. Então, está liberado, podem ir.
Não conseguiram esconder a satisfação, nenhum deles aguentava mais ficar trancado em casa. Harry pegou sua firebolt e rumaram pra Toca. Fred e Jorge passavam o dia na loja, trabalhando, só voltavam à noite, quando não dormiam lá mesmo, no Beco Diagonal, então só jogaram os quatro; Gui e Fleur, agora noivos, só regressavam no final da tarde. Sra. Weasley estranhou a presença deles, então, Harry contou que havia sido liberado do castigo. Ela se limitou a dizer um “Hum”, como se achasse que Sirius estivesse sendo muito mole com ele, na verdade, não lembrava da Sra. Weasley ser tão rigorosa assim. Mamãe só está com ciúmes, sabe – explicou Rony. – Ela já havia sugerido várias vezes à Dumbledore que você poderia morar aqui em casa, mas ele não achou boa ideia, e agora que você não vai mais passar suas férias conosco... bem, na verdade não vejo diferença, mas mamãe, sabe como é...
–
Eu não sabia disso... – Harry ficou surpreso. Teria adorado se os Weasley ficassem com a sua guarda, isso é, se Sirius não pudesse...
–
Jogaram até o pôr-do-sol. Rony queria que Harry explicasse como era voar sem a vassoura, Harry tentou explicar como pôde, para insatisfação de Hermione, mas Rony não conseguiu êxito. Quando voltaram à Toca Sirius os aguardava conversando com o Sr. Weasley. Gina disse que ficaria na Toca, estava com saudades de casa. Quando foram embora Harry sentiu um vazio estranho no peito, já havia se acostumado a serem um quarteto. Voltaram voando, Hermione de moto com Sirius, Rony e Harry de vassoura. A pedido de Rony, Sirius lhe deu algumas aulas de direção. Quando caiu a noite Rony já conseguia se manter equilibrado sozinho. Só por favor, não vão colocar a mão nela sem a minha autorização – Sirius pediu. – E não conte pra sua mãe!
–
Na manhã seguinte Sirius sugeriu uma visita aos Lovegood, enviara uma coruja há alguns dias e recebera a resposta de que ficariam honrados em recebê-los. Seria uma longa caminhada, então, Sirius sugeriu que levassem suas vassouras, Hermione iria de moto com ele se desejasse, o que ela aceitou prontamente, não gostava muito de voar em vassouras. Harry disse que tinham que passar na Toca primeiro, pra buscar Gina, e assim fizeram. Elisa Vrastani - Magia, Poder e Destino I
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Tonks, quase irreconhecível, com longos cabelos azul-marinho e óculos escuros, se juntou a eles na Toca, a Sra. Weasley parecia hesitante em deixar que Gina os acompanhasse. Harry ficou preocupado, não sabia se seria realmente seguro. Gina bateu o pé e conseguiu ser liberada. Apostaram corrida na ida, Harry ganhou da moto de Sirius, que argumentou não ter usado todo o potencial de sua Scarlet, nome que havia dado à moto, que era apenas para ocasiões especiais. Harry ficou curioso pra saber o que Scarlet poderia fazer, mas logo esqueceu. A casa dos Lovegood era, como os donos, excêntrica. Luna veio recebê-los com o pai, estava tão feliz que seu entusiasmo influenciava a todos. A casa tinha uma grande concentração de artefatos estranhos. Havia uma grande estufa que lembrava as estufas de Hogwarts, o resto da casa subia em espiral se estendendo por três andares. Enquanto lhes era mostrado a casa, em um canto da sala de estar era rodado O Pasquim, revista da qual o pai de Luna era editor-chefe. Deixaram Sirius e Tonks com o falante e excêntrico Lovegood e foram com Luna conhecer as estufas e o jardim. Foi uma manhã muito agradável e Harry aproveitou para convidá-los para sua festa de aniversário, que seria em dois dias. Agora que somos vizinhos, Luna, poderemos marcar algum passeio interessante nas férias, e você pode ir me visitar também.
–
Que bom, Harry. Eu sempre quis ter vizinhos pra visitar, mas nunca fui convidada. – Luna usava seu tom meigo e evasivo de sempre, mas os dois Weasley não conseguiram evitar de corar um pouquinho.
–
Na manhã de seu aniversário encontrou uma pilha de presentes ao pé da cama, começou a desembrulhá-los imediatamente. Ganhou uma caixa de doces de Rony, um canivete novo de Hermione, o que Sirius lhe dera havia se estragado no Ministério. Abriu os outros embrulhos, de Fred e Jorge, do Sr. e da Sra. Weasley, de Hagrid, Lupin, dos Lovegood, Tonks, Olho-Tonto, ... embaixo dos demais um pequeno e delicado embrulho de Gina. Abriu-o, curioso, era a primeira vez que ela lhe mandava um presente... um cachecol preto, nas pontas, um tigre bordado em cor prata e olhos verdes, era tão perfeito, assustador e ao mesmo tempo, delicado. A casa estava bem agitada, ele, Hermione e Rony, começaram cedo a ajudar nos preparativos. Os Weasley chegaram a seguir. Harry agradeceu pelos presentes, disse a Gina que havia adorado sua escolha. Fui eu quem o bordou, Harry. Não achei uma linha que pudesse recriar a cor dos seus olhos, mas...
–
–
Meus olhos...?!
Foi um sonho que tive, sonhei que estávamos correndo pela floresta proibida, fugindo de alguma coisa, de repente eu olhei para o lado e você não estava mais lá, só ele. – contou embevecida.
–
Harry ficou sem palavras, era um animal muito bonito, embora tivesse achado o sonho mais parecido com um pesadelo, mas não teve tempo de perguntar por detalhes, a Sra. Weasley passou distribuindo mais tarefas. Foi um dia agitado e cansativo. No começo da tarde estava tudo pronto, subiram pra se arrumar. As meninas demoravam demais no banheiro, Rony e Harry desceram pra usar o de baixo, quando voltaram, pra se vestirem no quarto, elas ainda não haviam terminado. Harry tentava disciplinar seus fios rebeldes enquanto Rony lutava com uma blusa que parecia ter encolhido um pouco. Elisa Vrastani - Magia, Poder e Destino I
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–
Ahh... que droga! Eu adorava esta blusa!
–
Pega uma minha... – Harry ofereceu.
–
Fala sério! Você acha que cabe em mim?!
–
Quem mandou crescer demais?
–
As garotas gostam... – disse Rony, despindo-se e pegando outra blusa.
–
Quem disse isso?
–
Ora, eu convivo com mulheres em casa, mamãe, Fleur...
–
Gina também? – seu tom de voz, não pôde disfarçar, estava apreensivo.
Olhou-se no espelho e não teve como não enxergar agora, em comparação ao reflexo de Rony, ao seu lado, que parecia bem mirrado para dezesseis anos, ficou deprimido. –
O que foi?! – Rony estranhou seu olhar. As meninas empurraram a porta e entraram, rindo.
–
Hei, ainda estamos nos vestindo!! – Rony reclamou. Harry vestiu rapidamente seu blusão.
–
A porta estava entreaberta! Não estamos vendo nada de mais!
Harry corou às palavras de Gina, imaginou que ela devia achar seu físico bem sem graça em comparação ao outros garotos da sua idade. Nesse momento duas corujas entraram voando pela janela, assustando-os. Largaram uma caixa nos braços de Harry e saíram. Mais presentes? A colheita este ano foi boa... – Rony se aproximou e segurou a caixa enquanto Harry desprendia o bilhete.
–
“Conforme prometido, uma prova de minhas palavras, posso te oferecer mais que isso. Aproveite-o bem. L.V.” Gina, que agora estava ao seu lado, ficou pálida. Assim como ele devia ter reconhecido a letra. Hermione não demorou a entender também. –
De quem é afinal? – Rony quis saber.
–
Se livra logo disso! – Hermione puxou uma extremidade da caixa.
–
Não! – Harry reclamou. – Eu quero ver!
–
Não abre, Harry, deve ser perigoso! – Gina pediu.
–
Eu não vou jogar fora, eu nem sei o que tem dentro!
Hermione e Gina tentavam puxar a caixa enquanto Harry, segurando o mais firme que podia, tentava argumentar com elas. –
O que foi?! O que está havendo?
Rony, me ajuda aqui! – Harry pediu. Os quatro começaram a discutir enquanto disputavam a caixa.
–
O barulho chamou a atenção de Sirius e Molly que apareceram de repente à porta do quarto. –
O que vocês estão fazendo?! – Sirius avançou dentro do quarto. Harry e Rony conseguiram se apoderar do embrulho. Harry jogou-o rapidamente para baixo
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da cama enquanto as meninas se voltavam para os recém chegados. –
Não está acontecendo nada – Harry se antecipou. – Não estamos brigando. Hermione abriu a boca pra dizer algo, mas Sirius foi o primeiro a falar.
–
Harry, por que não está vestido? E você, Rony? Na presença das meninas!
Harry olhou para sua blusa ainda aberta, Rony sem blusa... Gina e Hermione, desçam já! Não devem ficar no quarto dos garotos deste jeito, deixem que se vistam primeiro! Lá pra baixo, quero ter uma palavrinha com vocês... – Molly ralhou.
–
Hermione corou mas não disse nada. Gina lançou a Harry um olhar preocupado antes de sair. –
Bem, o que foi isso? Por que estavam discutindo?
–
Não estávamos – Harry repetiu enquanto se ajeitava – É cisma da Mione.
Tá OK, mas vocês estão crescendo e não fica bem se apresentarem desta forma na presença das garotas ...
–
Sirius passou um sermão demorado sobre comportamento que Harry achou totalmente despropositado, nunca tivera por costume trocar de roupa na frente delas. Pelo olhar de Rony, imaginou que o amigo estava pensando o mesmo. Acabaram descendo os três juntos e Harry não pôde examinar a caixa. Encontraram Hermione e Gina na sala ainda ouvindo o sermão da Sra. Weasley, saíram rapidamente. Mais tarde as avistaram no jardim, Gina parecia encabulada, mas Hermione lhes lançou um olhar fulminante. Vem, Harry, é melhor a gente manter distância por enquanto... – Rony o puxou – Afinal, o que aconteceu?
–
–
Voldemort me mandou a caixa...
–
O quê??!!! – Rony falou tão alto que chamou a atenção dos mais próximos.
Olho-Tonto e Tonks se aproximaram pra falar com ele. Mais convidados foram chegando e não puderam mais tocar no assunto. Sirius o interceptou e disse que havia se decidido pelo seu presente e que ele saberia no final da festa. Harry se entusiasmou. –
Você está falando sério?!
–
Claro, Harry... – estranhou – Não pode ser aqui, na frente de todos.
–
É mesmo!! Mas não é algo demorado? Não vai levar vários dias? Sirius o olhou, surpreso. – Do que você está falando, Harry?
–
Você não vai ajudar a me transformar em um animago?
Harry estranhou a pergunta, pois havia sido isso que pedira a Sirius, e depois não conseguira pensar em outra coisa. –
Não, Harry! – Sirius disse, chateado. – Já te disse que não! É perigoso demais!
–
Tá bom... – decepcionou-se. – O que é então?
–
Algo menos perigoso, mas igualmente proibido – assegurou – Então, só mais tarde.
Harry não gostou do suspense, agora eram duas coisas que o estavam intrigando. Estava ansioso pra subir e abrir a caixa, mas não poderia se ausentar sem que percebessem, a todo instante Elisa Vrastani - Magia, Poder e Destino I
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alguém o parava para o parabenizar. Hermione e Gina os estavam evitando. Rony também pareceu chateado, não parava de lançar olhares para elas, mas quando tentavam se aproximar elas se afastavam. Os Lovegood chegaram, ambos, pai e filha, com vestes verde-garrafa. Luna estava muito bonita, depois de falar com eles se juntou à Gina e Hermione. O som tocava várias músicas animadas das bandas de rock preferidas de Sirius, mas eles não prestavam muita atenção. Rony e Harry combinaram chamar a atenção delas e entraram na casa indo em direção ao quarto, não demorou pra que ouvissem seus passos correndo para alcançá-los. –
Você não vai mesmo fazer isso, não é, Harry? – Hermione parecia bem chateada.
Mione... Eu não vou fazer nada, só ver o que tem dentro, prometo. Depois eu entrego à Ordem, seja lá o que for. Entrego nas mãos de Dumbledore, se você quiser, mas primeiro eu quero ver o que é, entende?
–
Hermione pareceu mais tranquila. Gina não argumentou. Então é melhor ver logo, Harry. Se Dumbledore vier você poderá entregar ainda hoje. – Luna lhe sorriu.
–
Não era bem o que tinha em mente, gostaria de ter mais tempo, mas perante o olhar de aprovação de Hermione não pôde argumentar. Subiram e Harry puxou a caixa de debaixo da cama. Os cinco se agacharam em volta dela. Abriu impacientemente o embrulho. Gina puxou seu braço, assustando-o. –
Não toque, pode ser uma chave de portal...
Harry tirou a tampa e olharam dentro da caixa. Ficaram, por alguns segundos, imóveis. Hermione arfou, agarrou rapidamente o objeto e puxou pra si. –
Pensei que fosse pra não tocar! – Rony reclamou.
–
É um livro!! Parece muito antigo...
Harry o tirou das mãos de Hermione. Alisou a capa, era dura, parecia couro, as folhas eram amareladas e puídas nas bordas. Abriu-o. Havia uma dedicatória na primeira página. “Este livro agora pertence ao Harry Potter, seu portador, responsável por seu uso e proteção”. Estranho... é tão... humano, não imagino Voldemort fazendo uma coisa dessas. Me enviando um livro de presente...
–
–
Com dedicatória – exclamou Rony.
Começou a desfolhar as páginas. Tinha todos os tipos de feitiços, contrafeitiços, poções, encantamentos, quanto mais desfolhavam mais havia para ver... –
Olhem! Ensina a preparar a poção de Mata-Cão – Harry reparou com entusiasmo.
–
Hum... Talvez Lupin se interesse em ler isso. – Gina ponderou.
–
Podemos preparar para ele... não parece muito complicado...
–
Olha só isso, Harry, transformação....seja lá o que for... Olhe só as figuras! Transfiguração de
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seres humanos em animais... e objetos! Huh! – Rony fez uma careta. – Que estranho! Mas podemos tentar... Até parece que o Harry vai tentar usar algum desses encantamentos ilegais! – Hermione irritou-se.
–
–
Quem disse que é ilegal?
Vindo de quem veio, com certeza essas coisas estranhas são artes das trevas, e Harry nem vai ficar com o livro!
–
–
Tem muitas coisas legais aqui também, Mione. Até as que aprendemos em Hogwarts.
É, mas você não vai ficar com o livro, não é? Tá na cara que foi enfeitiçado! – Gina argumentou.
–
E com artes das trevas! – Hermione sentenciou. – Parece que não tem fim, quantos tipos de encantamentos diferentes poderia ter um livro normal? Nem há título! – fechou o livro em sua mão, a capa nada continha.
–
Harry abriu-o novamente, na página inicial, numa folha em branco que não haviam visto antes, no centro e em negrito, o título: O Lord. –
Essa folha não estava aí antes – Luna observou.
Isso é tão esquisito. – Hermione pegou o livro. Desfolhou-o. O livro acabou após algumas dezenas de folhas escritas em uma linguagem antiga e estranha. Abriu a boca, perplexa. – Mas... Onde estão?! Sumiu...
–
Gina tirou o livro de suas mãos, virou as folhas, apenas textos meio apagados naquela língua antiga. Jogou-o no chão. –
É arte das trevas! Harry o recolheu depressa.
Não faz isso, vai acabar estragando... – reabriu o livro, viu novamente o título e após a dedicatória vários encantamentos conforme foi passando as folhas, muitos, inúmeros, estavam todos lá novamente, as explicações, as gravuras...
–
Exclamações percorreram o círculo. Não é melhor a gente levar isso lá pra baixo? – a voz de Rony deixava transpassar seu nervosismo.
–
Harry o fechou. –
Acho que ele só se abre pra mim.
–
É melhor entregá-lo a alguém. Vamos falar com o Sirius – Gina se levantou.
–
Não! – Harry se sobressaltou. – Eu não vi tudo ainda!
Harry, você quer ver o quê? – Hermione irritou-se. – É um livro das trevas, quanto mais você folheia mais coisas aparecem, não vai terminar nunca!
–
Você tem que se desfazer dele, ou ele vai acabar te controlando... – Gina fez coro à Hermione.
–
Não é assim, Gina, não é igual ao diário. É só um livro antigo... protegido por magia... Mas e daí? Tem coisas bem legais nele.
–
–
Harry! Você tinha dito que só ia olhar!
Elisa Vrastani - Magia, Poder e Destino I
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–
E ainda não acabei! Luna e Rony acompanhavam a discussão. Luna pouco interessada e Rony apreensivo.
–
Eu acho que você deve entregar a alguém da Ordem, agora! – Gina foi taxativa.
–
Eu também! – Hermione acrescentou. Harry viu que iriam recomeçar tudo de novo. Virou-se pra Rony.
–
O que você acha? – perguntou. – Você não vê nada demais no livro, não é? – pressionou.
Rony ficou indeciso, não queria contrariar o amigo, mas também não queria se indispor com Hermione. Eu acho que o conhecimento não é ruim, e sim a forma como o usamos. – Luna declarou tranquila.
–
–
Dois a dois – Harry contou. – Rony? Ouviram passos na escada, em seguida, Lupin apareceu à porta.
–
O que estão fazendo aqui em cima? Por que não estão na festa? Harry novamente fez o livro desaparecer antes que percebessem.
Já estávamos nos preparando pra descer – foi em direção às escadas. Os outros o seguiram, Gina e Hermione de cara amarrada.
–
Assim que chegaram lá embaixo Hermione não parou de reclamar, sobre sua irresponsabilidade, as consequências que isso traria... Gina lhe apoiando o tempo todo. Harry desejou que as duas ainda o estivessem evitando. Tudo que dizia para tentar argumentar era inútil. Por fim, até Rony largou sua posição neutra e o defendeu, não aguentando mais o falatório das duas. Chega! O presente é dele e ele decide o que fazer, tá OK? Harry sobreviveu a muitas coisas até hoje, por que um livro iria matá-lo? Só se alguém o golpear na cabeça com ele!
–
Luna teve uma crise de risos. – Muito engraçado, Rony! – Os demais a ignoraram. Mas pode o induzir a fazer coisas... perigosas, feitiços errados... – Hermione insistiu – Tem noção das consequências disso? Um ingrediente errado e em vez de poção pra animar ele pode acabar bebendo veneno!
–
–
Não estou a fim de beber nenhuma poção pra animar...
Harry deu as costas e se afastou pra perto de Lupin, queria evitar que a discussão continuasse, mas começou a se preocupar com as palavras da amiga. Dumbledore chegou e todos se reuniram em um grande grupo pra trocarem as novidades. O único que não pertencia à Ordem era o Sr. Lovegood, e pelo que parecia, estava sendo convencido a participar. Tomei a liberdade, Xenofílio, de estender a área de proteção para além de sua propriedade ontem, isso não interferirá em nada nas suas atividades – Dumbledore dizia. – Mas vai impedir visitas inesperadas como a que recebemos a alguns dias atrás.
–
Harry imaginou que se referia a Voldemort, se afastou, se o assunto continuasse certamente iriam acabar incluindo-o. Foi buscar algo na mesa, para comer, Rony o acompanhou. Tentaram decidir o que fazer em relação ao livro. Concordaram em analisá-lo melhor e com calma mais tarde. Algum tempo depois se aproximaram das meninas.
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Não viemos discutir – Harry se apressou em explicar. – Vocês têm razão, só vou pedir mais tempo pra estudá-lo melhor...
–
Luna! – o Sr. Lovegood também se aproximou. – Temos que ir agora, despeça-se de seus amiguinhos, meu bem.
–
–
Tchau, pessoal – Luna se despediu acenando, enquanto corria animada pra perto de seu pai.
–
Tchau – despediram-se em uníssono se dando conta da movimentação. A Sra. Weasley e Sirius aproximaram-se também.
–
Bom, vamos? Rony? Gina? Vamos pra casa.
–
Sra. Weasley, por favor, o Rony não pode ficar? – Harry suplicou.
Na verdade não queria ficar sozinho com Hermione, a conhecia muito bem pra saber o quanto podia ser irritante e insistente. –
Hum... É, tudo bem, talvez seja melhor. Hermione, não se importa de vir comigo e Gina, não
é? –
Mas eu queria ficar... – Hermione tentou se justificar, mas a Sra. Weasley a interrompeu.
Acho melhor ficar comigo e Gina, tenho certeza de que seus pais iriam preferir assim – falou o mais doce possível, mas em um tom que não admitia protestos, imaginaram que ela ainda estava pensando no episódio ocorrido mais cedo.
–
Harry não evitou de se sentir aliviado. Queria examinar o livro com calma e seria bom não tê-la por perto. Um a um os convidados foram se retirando, despediram-se de todos e subiram. Passaram o resto da noite em claro, lendo o livro. Estavam espantados com a quantidade de coisas que poderiam aprender, pegaram alguns livros escolares e fizeram comparações com as informações do Lord, não encontraram nada de estranho ou informações trocadas como Hermione sugerira. Harry desejou obter orientações sobre Oclumência e na página seguinte as encontrou. Quanto mais analisava o livro mais se convencia de que ele seria muito útil em Hogwarts. Rony também estava muito ansioso para experimentar algumas de suas azarações, que iam desde feitiços pra fazer crescer as unhas dos pés a mudar a cor dos cabelos. Todos bem inofensivos, concluíram. Nos dias que se seguiram não viram Gina nem Hermione, imaginaram que estivessem com raiva deles e evitando-os novamente. –
Garotas... Dá pra acreditar? – Rony reclamou. Agora eram só os dois, e nada pra fazer.
Aproveitaram para estudar o livro, Harry agora se dedicava às explicações sobre Oclumência. Quando não estavam lendo o livro se distraíam com o presente que recebera de Sirius, um monóculo que lhes possibilitava enxergar através de qualquer camada sólida, provavelmente feito do mesmo material que o olho mágico de Alastor Moody. Sirius lhe dissera que não podia revelar de onde ou como o tinha conseguido, e que ninguém poderia saber que o tinha, principalmente alguém do Ministério. Mais tarde Harry se perguntou se o motivo disso estaria relacionado ao fato de terem estado no Ministério recentemente. Rony ficou mais interessado no uso que poderiam fazer dele.
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CAP. 6 – A MISSÃO DE DRACO Receberam o correio coruja trazendo cartas de Hogwarts. Eles se animaram com a possibilidade de finalmente conhecerem a loja de logros de Fred e Jorge no Beco Diagonal. Sirius não ficou entusiasmado. Não esperem muito. Estão esquecendo que há uma guerra lá fora? Muitas lojas estão fechando, alguns donos estão fugindo com medo, outros estão desaparecendo sem deixar pistas.
–
–
Mas a Ordem está fazendo alguma coisa, não? – Harry perguntou, preocupado.
–
Estamos fazendo o possível... mas o outro lado também está.
No dia seguinte acordaram cedo para ir ao Beco, Sirius acertara tudo no dia anterior com os Weasley, foram se encontrar com eles na Toca, desde a festa não falavam com Hermione ou Gina. Para surpresa de Harry e Rony, elas os receberam com alívio. –
Por que não vieram antes? – Gina queixou-se.
–
Vocês não apareceram também, não estão de mal com a gente? – Rony quis saber.
Ficamos presas aqui, a sua mãe acha que estamos muito crescidas pra ficarmos com vocês o tempo inteiro. Ela queria que a gente fizesse “coisas de garota”!
–
–
Foi um pesadelo! – concluiu Gina. – Preferíamos ficar com vocês! Harry não pôde disfarçar um sorriso.
Dividiriam-se em dois grupos, chegariam ao Beco por chave de portal. Harry se reuniu a Rony, Hermione e Gina em volta de uma bota velha, que seria uma das chaves. O Sr. Weasley, Gui e Fleur estavam no trabalho. Olho-Tonto o puxou bruscamente, deixando claro que iria com ele e Sirius somente, Harry imaginou, para garantir a segurança dos demais, que iriam com a Sra. Weasley.
Não o reconheceu de imediato, não era o Beco Diagonal ao qual estava acostumado. Havia poucos grupos de pessoas apressadas e também havia silêncio, não característico do local e muitas portas fechadas. Chegaram primeiro, os outros se materializaram a alguns passos de distância. Harry foi até eles. –
Fiquem juntos! – orientou Moody.
Sra. Weasley distribuiu os afazeres, queria que acabassem logo e fossem embora, mas Moody insistiu para que se mantivessem juntos. Se dirigiram para a Floreios e Borrões para comprar os livros. Quando os viram, dois repórteres do Profeta Diário aproximaram-se às pressas. Moody puxou Harry para a entrada de uma loja, escondendo-o. Eles cercaram Sirius, o ex-perigoso foragido, tiraram fotos e fizeram mil perguntas. Harry foi escoltado despercebidamente até que entraram na livraria. Juntou-se aos outros e Moody foi aguardar do lado de fora caso Sirius, que ainda estava impedido, precisasse de um apoio. Elisa Vrastani - Magia, Poder e Destino I
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Lá dentro vários estudantes de Hogwarts se preparavam para a volta às aulas. Pegaram suas listas e foram procurar os livros de que precisariam, quinze minutos depois suas cestas já continham todos os livros pedidos para o ano letivo, exceto a de Hermione, que já continha uns cinco livros extras e ela ainda examinava as estantes em busca de mais novidades. Mione! – Rony chamou indignado. – Esqueceu que Hogwarts tem uma biblioteca? Bem grande, aliás.
–
–
Mas eu vou ler o que até voltarmos às aulas?
Rony fez uma careta e abriu a boca pra dizer algo, mas uma algazarra se fez ouvir na entrada da loja, viram Sirius entrar vasculhando a loja com os olhos. Harry se adiantou pra falar com ele. Assim que seus olhos se encontraram Sirius lhe fez um sinal em direção à entrada, bem a tempo de Harry ouvir a voz do Ministro e de mais alguns outros que conversavam eufóricos, e se escondeu embaixo de sua capa de invisibilidade, que levara a pedido de Moody. Rony, Hermione e Gina ficaram olhando para o lugar onde tinha desaparecido ainda sem entender. Harry recuou para um canto da loja enquanto o Ministro e sua comitiva, ou guarda-pessoal, entravam ocupando o pouco espaço restante. Harry foi em direção à saída, algumas pessoas tentavam entrar para ver o Ministro, aproveitou uma brecha e se esgueirou pela porta. Moody estava parado em meio ao tumulto. Viu seu olho mágico se mover, seguindo-o. Entrou na loja de vestes para bruxos, próxima à Floreios, e que parecia estar vazia. Retirou a capa e a guardou no bolso. Não precisou avançar muito para ouvir a voz arrastada de Draco, parecia irritado por algum motivo. Harry se aproximou devagar para tentar ouvir o que diziam. Ah! Notou como o ar ficou poluído de repente, mãe? – a voz de Draco transpassava sua raiva.
–
Deveria mostrar um pouco de respeito, garoto! – o desprezo era perceptível na voz de Narcisa. – Por que não aguarda do lado de fora?
–
Harry lançou a ela um olhar rápido, sentia algo estranho, como se estivesse prestes a lembrar de algo muito importante, algo que o impulsionava a se aproximar de Draco, mesmo que não tivesse vontade de fazê-lo, seus passos decididos o levavam na direção do jovem Malfoy. –
Por que eu faria isso? É uma loja, qualquer um pode entrar.
O que você está querendo, Potter?! – Draco cruzou o restante do caminho que os separava pronto para confrontá-lo. Malfoy também havia crescido tanto quanto Rony, porém, mais magro.
–
Harry aproveitou a proximidade e segurou com força seu braço esquerdo, no mesmo instante sentiu algo. A princípio não soube o que era, mas logo uma certeza incontestável o dominou. –
Largue o meu filho! Você não tem decência? Acha que pode desafiar a todos só porque...
–
Não se mete, mãe! – Draco rosnou puxando a varinha.
A senhora acha – disse sem tirar os olhos de Draco e sem fazer nenhum movimento pra pegar a varinha ou se defender. – Que fazer do seu filho um Comensal da Morte pra dar continuidade aos erros do pai, é sim algo muito decente?
–
Mesmo sem se mexer, pelo silêncio que se fez e pela expressão de assombro no rosto de Draco, Harry soube que eles não esperavam que alguém descobrisse, o que só se confirmou com o olhar que Draco lançou ao seu braço coberto, ainda nas mãos de Harry. O que pensa que está fazendo? – ele perguntou, desta vez, se dirigindo ao Draco. – Acha que pode ocupar o lugar do seu pai? Quer acabar indo pra Azkaban também? Ou morrer para seguir
–
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os ideais de um lunático? Malfoy puxou o braço das mãos de Harry, que ficou parado, sem reação, com um misto de horror e pena em seu semblante. Não. Vou ficar do lado vencedor, Potter. Pensa que ninguém mais é tão bom quanto você, o Eleito? Quero ouvir o que vai dizer quando o seu pessoalzinho cair!
–
–
Se você estiver lá...
Nem tente fazer algo contra o meu filho, que eu não vou deixar, seu moleque! – Narcisa aproximou-se enfurecida.
–
–
Eu não preciso fazer nada, não há mais a ser feito, ele já se incluiu nessa guerra estúpida!
Eu não deixaria que nada lhe acontecesse – sua voz estava trêmula de raiva – Eu morreria por ele!
–
Acho que é isso que as mães fazem, não é? – Harry virou para encará-la nos olhos. – Mas será mesmo o suficiente, para mantê-lo seguro?
–
Harry percebeu que pelos olhos dela passaram muita compreensão. –
Vamos embora, Draco. – disse com a voz embargada.
Harry não se mexeu, apenas ficou ouvindo eles se afastarem. Quando a vendedora retornou com os braços cheios de peças de pano em cores diversas e perguntou pela Sra. Malfoy, que deveria a estar esperando, Harry não respondeu. Vestiu novamente a capa, sob o olhar assombrado da comerciante, saiu da loja e voltou à Floreios. Os outros já esperavam à porta, apreensivos, apenas Moody parecia menos impaciente. Assim que se aproximou o suficiente Moody mandou que continuasse sob a capa. Foram para a loja de logros e brincadeiras de Fred e Jorge, uma explosão de cores e artigos variados. Tonks apareceu logo depois deles, radiante com seus cabelos amarelo ouro, curtos e espetados. Harry não sabia se haviam combinado, mas imaginou que sim. Dentro da loja pôde retirar a capa. Ele, Gina, Rony e Hermione ficaram com Tonks dentro da loja enquanto os outros se dividiram para providenciar o que estava faltando na lista. Harry não soube o que tinha desencadeado aquela mudança repentina nos planos, os outros também não souberam dizer quando os questionou e Tonks se fez de desentendida. Jorge lhes mostrou, orgulhoso, toda a loja. Harry queria falar a respeito do que descobrira mas a loja estava muito cheia, em contraste com o resto do Beco. Parecia que era nos momentos de crise que as pessoas mais buscavam meios de contrabalancear o stress constante, com distrações e brincadeiras. Viu, pelo vidro da loja, Draco Malfoy passar sorrateiro e de cabeça baixa, parecia temer ser reconhecido por alguém. Harry se aproximou mais do vidro seguindo-o com o olhar, viu quando virou à esquina, parecia ir em direção à Travessa do Tranco. Rony e Hermione se aproximaram. Contou a eles quem vira. É... deixa pra lá – disse Hermione. – Com o pai dele na prisão imagino que agora ele vá perder um pouco da pose.
–
Harry não teve tempo pra explicar, ainda não havia contado o episódio anterior, num impulso vestiu a capa. Esperem aqui, inventem qualquer coisa pra Tonks, eu volto logo – sem esperar para ouvir o que diriam andou o mais depressa que pôde, estando encoberto pela capa.
–
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Seguiu Malfoy pela Travessa do Tranco, não ficou espantado quando o viu entrar na Borgin & Burkes, loja de artigos para artes das trevas. Tentou se esgueirar pela porta antes que ela se fechasse, mas não conseguiu evitar o barulho dos sinos quando a abriu um pouco mais para poder passar. Malfoy se virou para olhar, mas ao não ver ninguém logo se mostrou desinteressado. Borgin veio atendê-lo com um enorme sorriso e reverências. –
Vim buscar o que te pedi. – Draco disse secamente, parecia não gostar de estar ali.
Ah, sim... – Borgin pareceu hesitante, seu sorriso se perdendo no semblante preocupado – Jovem Sr. Malfoy, tem certeza de que é isso mesmo o que quer?
–
–
Mas eu encomendei semana passada, não acredito que ainda não conseguiu.
–
Não, meu senhor, está aqui, eu o separei especialmente para aguardá-lo...
–
Então me dê logo! – puxou das vestes a carteira e contou os galeões.
–
Mas é que isso é muito perigoso... sabe que causará a morte de quem o usar, não?
Pra que você acha que eu encomendei? Não seja idiota, eu não sou mais criança! Estou a serviço do próprio Lorde das Trevas, ou ainda não sabe...?
–
–
Ah, sim, meu senhor, eu já fiquei sabendo, parabéns! – suas palavras soavam falsas.
Draco soltou um esgar de impaciência. Borgin se calou e colocou o embrulho sobre o balcão. Harry ficou fitando o embrulho, curioso, se Draco planejava causar a morte de alguém com aquilo a mando de Voldemort, ele não poderia permitir. Se aproximou devagar, do balcão, ergueu a mão com cuidado e puxou o embrulho pra debaixo da capa. Seu coração batia apressado e teve medo que pudessem ouvir, se afastou lentamente, de costas, os olhos fixos nos dois. Se virou e tocou de leve a maçaneta da porta, se pudesse usar um feitiço pra sair sem fazer barulho... lera um no livro do Lord, mas não podia, não fora de Hogwarts... –
Onde está meu pacote?!
Esquecendo a prudência Harry escancarou a porta e se lançou para a rua. Nem parou para verificar de que lado ficava a saída para o Beco Diagonal. Só estivera na Travessa do Tranco uma única vez há alguns anos, não conhecia o local. Se preocupou apenas em pôr distância entre ele e Draco, depois procuraria com calma pela saída. Ainda estava consciente de que precisava estar de volta à loja de Fred e Jorge antes que Tonks percebesse que saíra, não sabia que história Rony e Hermione inventariam. Não lembrava de ter visto tantas pessoas circulando pela Travessa quando chegara. Sem querer esbarrou num cara alto e vestido de preto que estava no caminho. Pediu desculpas, só depois se lembrou que não podiam vê-lo. –
Ei!
A voz de Draco soou bem atrás dele. Correu não se preocupando com o som de seus passos, hesitou perante uma bifurcação e entrou em uma das ruelas, tinha de achar um lugar para se esconder até que desistisse de persegui-lo. O feitiço das pernas bambas o pegou de surpresa, atingido pelas costas foi lançado pra frente caindo em meio à sarjeta. Puxou rapidamente a varinha desfazendo o feitiço. Draco entrou no beco arfando, seu rosto estava rubro de raiva e esforço. –
Não pode usar magia fora de Hogwarts! – disse ao se levantar, segurando firme a varinha
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com uma mão e com a outra recolhendo a capa do chão e guardando no bolso das vestes. –
E você acha que eu ainda me preocupo com essas regras idiotas?
Ah, claro! Agora que é um Comensal da Morte já tem conhecimento suficiente pra abandonar a escola, óbvio!
–
Não se meta nessa história, Potter – seu rosto ficando pálido de cólera. – Se contar isso a alguém eu nego! Se eu não fosse obrigado a voltar esse ano...
–
–
Vai voltar a Hogwarts? Pra quê?
–
Não te interessam meus assuntos... Me devolve o embrulho, paguei por ele, é meu!
Não seja idiota! – bradou. – Está planejando matar alguém! Se acha mesmo capaz? Quem ele mandou que matasse?!
–
Gostaria que tivesse sido você! – sua voz já não demonstrava tanta firmeza. – Mas essa diversão é restrita apenas ao Lorde das Trevas.
–
–
É, ele tem se divertido muito tentando me matar todos esses anos...
Ficaram se encarando nos olhos, imóveis. Nada mais se movia na ruela escura e mal cheirosa. Estavam sozinhos, assim pensavam. –
Curioso – uma voz grave soou próxima a eles.
Ambos viraram depressa, assustados pela presença inesperada. Encostado ao umbral de uma porta lacrada, um homem de meia idade, alto e vestido de preto. Com uma mão segurava um cigarro, com a outra uma varinha prateada que brilhava na pouca luz do local e que segurava rente ao corpo, apontada para o chão. Harry imaginou já tê-lo visto antes, mas o cara parecia totalmente deslocado para o ambiente. Suas vestes eram simples, um terno preto que o manteria discreto em qualquer lugar, trouxa. O cigarro passava uma certa estranheza, dos bruxos que conhecera até então, não se lembrava de ter visto algum fumando cigarros em todos esses anos. Draco parecia tão surpreso quanto ele com a aparição do homem, até porquê, era impossível que já estivesse ali antes deles aparecerem, e não havia como ter entrado depois sem que o vissem, mesmo se aparatasse, teriam ouvido o som. Por que um ascendente em magia, um príncipe das trevas, se preocupa com a disseminação da maldade? – continuou enquanto fitava o cigarro em suas mãos, indiferente ao olhar de espanto de seus ouvintes.
–
Harry lançou um olhar a Draco, este parecia estar avaliando a estranha figura. O assunto aqui é particular, se importa de procurar outra viela pra continuar com seus delírios?
–
Estou falando com ele, jovem – disse indicando Harry com o olhar. – Se bem que posso sentir algo dentro de você, sua luta interior está sendo travada... ainda não há um lado definido...
–
Príncipe das Trevas? Ascendente?!!! – Draco encarou Harry, o olhar de espanto e repulsa era recíproco. – O título de o Eleito já não é ridículo o suficiente?
–
Não... – o homem respondeu calmamente alternando o olhar entre ambos. – É apenas uma das muitas possibilidades...
–
Desculpe, mas não sei do que está falando – Harry interrompeu. – Não pode simplesmente nos dar licença, temos um assunto pra resolver.
–
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Não tenho nada pra resolver com você, Potter. Devolve minha caixa agora, ou posso chamar alguns amigos... E tenho amigos muito mais interessantes agora – Draco protestou, ignorando o estranho.
–
–
Chama eles de amigos?! Um bando de assassinos!? Por que seu pai ainda está preso, então? Antes que Malfoy pudesse abrir a boca o estranho se aproximou.
Você me espanta. Esperava encontrar algo bem diferente. Se não soubesse quem você é nunca diria que é você o causador desse desequilíbrio. Talvez fosse melhor matá-lo aqui mesmo, ou matar os dois – declarou erguendo a varinha, que ambos puderam ver que não era uma varinha, era uma lâmina prateada.
–
Que espécie de idiota é você? – Malfoy se afastou até encostar no muro, a varinha erguida nas mãos. Harry agiu primeiro.
–
–
Expelliarmus!
Viu o seu feitiço ser absorvido pela lâmina, nada aconteceu. Draco também atacou com outros dois feitiços, nenhum resultado. Esse tipo de magia primária é inútil, vocês já deveriam saber disso, já que estão desafiando as leis da Magia Oculta.
–
–
Que Magia Oculta? – Harry perguntou. Draco bufou.
Não venha com histórias da carochinha, acha que vai nos amedrontar com isso? Não existe mais Magia Oculta.
–
Harry os olhou curioso. O estranho o encarou. –
Do que vocês estão falando? Não violei lei nenhuma... que eu saiba.
–
De onde você saiu, cara? Por que não se manda? – Draco sugeriu arrogantemente.
–
Ou talvez seja melhor levá-los até o Conselho – decidiu o estranho – Venham comigo.
Malfoy soltou uma risada debochada que não escondia seu nervosismo. Estavam em vantagem de dois contra um, mas suas habilidades eram inúteis contra aquele adversário. Se afastou mais, ficando ao lado de Harry. Ambos ainda apontavam as varinhas, inutilmente, para o homem. Não pretendo ir a lugar algum, sou um dos seguidores do Lorde das Trevas! É melhor manter distância de mim!
–
Vejo o que você é, e posso sentir. A você também... – disse a Harry. – Gostaria de estudá-lo melhor, pra isso precisa vir comigo. Esse assunto deverá ser reavaliado.
–
–
Desculpe, mas não sou uma cobaia, se foi Voldemort quem te mandou aqui...
–
Não recebo ordens daquele que se diz Lorde... – declarou com irritação.
Harry desistiu de tentar entender tudo aquilo. Olhou ao redor procurando uma saída. A única existente era passando pelo homem, coisa que sabia, não conseguiria, sua magia não tinha efeito contra ele. Atrás deles a ruela levava a lugar nenhum. O prédio abandonado a sua direita tinha todas as portas lacradas, mesmo se conseguissem entrar, não via como isso ajudaria. À sua esquerda um muro se erguia não muito alto, mas não tinha certeza que poderia sobrevoá-lo, não com o peso extra de Draco... –
Admirável! – o estranho desviou sua atenção, estava rindo. O que era admirável não se preocupou em saber, acabara de reparar nos sacos, latas de lixo e
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caixotes encostados ao longo do prédio abandonado. Não pensou duas vezes, enfeitiçou-os lançando-os contra o estranho que pego de surpresa não teve nenhuma reação. Draco o acompanhou enfeitiçando também as demais tralhas que se encontravam atrás deles , na ruela. Logo o lugar onde estivera o estranho era um amontoado de lixo. Sem pensar Harry segurou a mão de Draco e o puxou rente ao muro, escalando algumas caixas e sacos chegaram ao início da ruela e correram passando novamente em frente à Borgin & Burkes, desviando dos pedestres e ignorando os olhares das figuras bizarras que apareciam no seu campo de visão. Correu sem parar para verificar se o estranho os perseguia. Os músculos de suas pernas protestavam e o seu peito doía quando chegaram na entrada do Beco, mesmo assim continuou correndo diminuindo apenas quando avistou Moody e os outros discutindo na porta da loja de logros. Malfoy puxou bruscamente a mão, libertando-se, enquanto os outros corriam em direção a eles. Ambos estavam cansados e respiravam com dificuldade. Sem dizer palavra alguma, Draco se afastou para a calçada oposta, se desviando deles, e partiu apressado. “Mal agradecido” – Harry pensou se encostando num poste próximo, não estava em condições de raciocinar claramente, ainda ouvia as batidas de seu coração mais alto do que qualquer outro som. –
O que houve? O que está sentindo? – Sirius se aproximou e o segurou pelo ombro.
Harry ergueu a mão num pedido para que esperasse. Quando os outros se aproximaram pediu para que fossem embora, o que foi entendido sem mais perguntas, alguns curiosos paravam para ouvir. Voltaram para o interior da loja. Viu o olhar curioso de Fred quando passaram em direção aos fundos. Moody estendeu uma caixa vazia que todos tocaram sem hesitação. Em menos de um minuto depois estavam no jardim em frente à Casa Verde.
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CAP. 7 – FORA DE CONTROLE Lupin se juntou a eles na sala, curioso. Só então, Harry reparou, Tonks não viera com eles, devia ter continuado na loja por algum motivo. –
Pode começar a se explicar, moleque! – Moody rosnou, parecia mesmo furioso.
Harry não esperou novo pedido, estivera ansioso pra contar. Relatou tudo o que descobrira sobre Malfoy, só parou depois de descrever o acontecido na ruela da Travessa do Tranco. Quando terminou os outros ainda o encaravam perplexos. Harry esperou impacientemente, como ninguém quebrou o silêncio, puxou do bolso das vestes a encomenda feita por Draco. Moody se adiantou e pegou o pacote. –
É um frasco pequeno, contém um líquido dentro – Moody relatou.
–
Borgin disse que mataria quem o usasse – Harry completou.
Foi bom ter pego isso, garoto, boa iniciativa – Moody disse, para surpresa de Harry. Os dois olhos fixos no pacote, avaliando-o. – O que não apaga a idiotice de sair da loja desacompanhado. Ainda mais pra ir atrás de um Comensal!
–
Você tem certeza disso, Harry? – a Sra. Weasley perguntou. – Ele é só um garoto! Você chegou a ver a marca tatuada no braço dele?
–
Eu tenho certeza. Eu não vi... – ia dizer que sentira a marca, mas se conteve a tempo. – Mas ele confirmou depois.
–
–
Ele podia estar mentindo – Hermione comentou.
Mas não estava, eu sei que não! – disse irritado. – Temos que descobrir quem Voldemort quer matar desta vez, e por que mandar o Draco fazer? Por que não faz ele mesmo ou manda outro qualquer? E Draco disse que iria voltar a Hogwarts este ano. Pra quê? Se ele agora é um Comensal da Morte como o pai, por que se arriscar a voltar à escola e ser pego pelo Ministério?
–
Que se danem os Malfoy, ninguém naquela família nunca prestou! – Sirius cortou. – Eu quero saber quem é esse estranho. O que exatamente ele disse, Harry?
–
Harry se concentrou pra lembrar, não havia dito muitas coisas, mas eram muito confusas para ele. Relatou o melhor que pôde. Lupin trocou um olhar preocupado com Sirius. –
Tem certeza que ele mencionou a Magia Oculta?
–
Tenho. O que é isso? É o mesmo que Magia Antiga?
Lupin não respondeu. Moody fez uma careta e Sirius passou a mão pelos cabelos, pensativo. Harry olhou para cada um deles aguardando uma resposta. A Sra. Weasley estava pálida e visivelmente preocupada. –
Onde isso vai parar, crianças virando Comensais, a Magia Oculta sendo mencionada...
Harry olhou para Hermione, ela lhe devolveu o olhar perplexo e curioso. O comportamento dos adultos era muito estranho. –
Vocês não vão contar pra gente? – Harry tentou chamar-lhes a atenção.
–
Não! – Moody rosnou.
–
Não somos mais crianças! Se até o Draco sabe a respeito, por que...
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–
Claro! Sendo o pai dele quem é! – Sirius reprovou exaltado.
–
Mas eu tenho o direito de saber …. – Harry tentou argumentar.
Você está muito encrencado pra fazer exigências! – Lupin o interrompeu, a raiva transparecendo a cada palavra. – Não dá pra compreender, por mais esforços que façamos para mantê-lo a salvo, o que não é nada fácil, você sempre arranja um meio de colocar tudo a perder!
–
As palavras de Lupin o atingiram como um murro na altura do estômago. –
Eu não tenho culpa se...
Ah, tem sim. Sempre ignorando as regras, nossas recomendações, o sacrifício de seus pais! Castigos não resolvem mais no seu caso, o que fazer então?!
–
Molly abriu a boca pra dizer algo mas deixou que se fechasse lentamente enquanto encarava Lupin. Sirius se manteve calado, observando o amigo. “Então é isso o que pensam a meu respeito...” – Harry pensou, sentiu o calor fugir de suas faces. Sua cicatriz ardeu. Eu não procuro por nada, eu sou encontrado! Não me importo de morrer, se for lutando pelo o que eu acredito, e eu acredito que não é certo que Voldemort continue solto, impune, planejando a morte de outras famílias! Eu não vou permitir se puder... Se é isso que sou pra vocês, um estorvo... – disse olhando para cada um deles. – Então não se esforcem mais!
–
Subiu as escadas e foi direto ao quarto. Abriu o malão e começou a jogar nele os seus pertences. Estava com muita raiva, sua cicatriz queimava. Ouviu alguém se aproximar correndo. Não se virou, apressou-se em sua tarefa. –
Harry! O que está fazendo?! – reconheceu a voz alarmada de Hermione, mas não parou. Rony e Gina entraram no quarto.
O que está fazendo?! – Harry não respondeu. Rony o parou, segurando o seu braço, e repetiu a pergunta.
–
–
Você também acha isso, Rony? – perguntou.
Claro que não! Todo mundo sabe que não é culpa sua. Não é como se você saísse por aí procurando, as coisas simplesmente acontecem contigo – respondeu sem precisar perguntar o que o estava incomodando.
–
Não sabia ao certo o que iria fazer ao sair dali, sabia apenas que isso já estava decidido. –
Você não vai a lugar nenhum! – Gina exclamou, impaciente. Harry a olhou mas não teve coragem de discutir com ela, então voltou a juntar suas coisas.
Lupin estava nervoso, Harry. Ele não te culpa por nada, só está com medo... por você! – Hermione tentou acalmá-lo.
–
–
Onde pensa que vai?! – Sirius entrou acompanhado de Moody.
Harry tinha planejado sair sem ser visto, talvez pela janela. Não esperava ter mais confrontos. Só então percebeu que devia estar sendo vigiado desde que subiu as escadas. Se sentiu sufocado, era um prisioneiro naquela casa, assim como o era em Hogwarts, constatou alarmado, nunca tinha visto as coisas assim antes, mas era tão óbvio! –
Não importa – disse por não ter nada a dizer. Não tinha planos.
–
Não fale assim comigo, rapazinho! Não te dei autorização para ir a lugar algum!
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E eu não pedi! Nem estou pedindo agora! – a última coisa que queria era brigar com Sirius, mas estava sentindo tanta raiva... – Escuta, só me deixe ir, OK? – se virou para fechar o malão, sentiu sua cicatriz arder mais intensamente.
–
Não seja ridículo, já disse que você não vai! Eu sou responsável por você, então EU decido isso!
–
–
Você não tem obrigação nenhuma – respondeu tentando controlar suas emoções.
Tenho sim, você ainda é menor de idade! – Harry sentiu o peito doer com aquelas palavras. Poderiam ser consideradas normais, mas naquele momento teve um significado diferente para ele.
–
–
Eu já tenho dezesseis anos, daqui a um ano serei maior de idade...
–
Acabou de fazer dezesseis! E um ano é muito pouco tempo pra se tornar responsável.
–
Eu não sou irresponsável! Já passei por muita coisa...
–
Querer sair de casa, sem rumo, com tudo que está acontecendo lá fora...?
–
Vou voltar para a rua dos Alfeneiros – mentiu. – Vou ficar com meus tios.
Sentiu Hermione e Rony se agitarem em volta dele, mas não os olhou. Tinha certeza de que não acreditariam. Mas por quê? Você disse que não gostava de ficar lá, nunca gostou – a voz de Sirius parecia triste e cansada. Harry não teve coragem de encará-lo.
–
Eu estava enganado – disse fitando o malão fechado. Já havia se decidido, achava que seria melhor para todos desse jeito e não iria mudar de ideia.
–
–
Espera eu pegar as minhas coisas, Harry. Eu vou com você – Hermione decidiu.
–
E eu também! – Rony exclamou, surpreso. Você não ia me deixar pra trás, não é?
Vocês não vão comigo. – Harry declarou, ignorando a expressão ofendida de Rony, o olhar surpreso de Hermione e o ar invocado de Gina.
–
Abriu novamente o malão, ele só atrapalharia. Pegou a mochila, colocou dentro o livro do Lord e começou a escolher algumas peças de roupa. É por causa dele? Eu disse que não deveria ficar com isso, não é você que quer ir, é ele, não é? Para pra analisar, você está confuso...
–
Agora, não, Mione, por favor! Não é nada disso! – encheu a mochila com o resto das suas coisas que julgava essenciais e fechou-a com dificuldade. – Ou você acha que eu também estou louco, além de todo o resto?
–
Do que estão falando? – Sirius quis saber, como ninguém respondeu continuou. – Não acho que os Dursley vão ficar felizes em recebê-los, a nenhum de vocês!
–
–
Arrr... Acaba logo com isso Sirius! Chega de tanta conversa!
Harry ignorou a reclamação de Moody e pôs a mochila nas costas. Sirius passou as mãos pelo cabelo, gesto que fazia sempre que tentava se decidir por algo ou estava preocupado. Harry não tinha mais nada a esperar, foi em direção à porta. Moody barrou sua passagem. –
Sirius! – Moody o repreendeu. – Ou quer que eu faça?
Harry olhou desanimado para ambos, não iria ser fácil, então. Olhou pra janela. Com um movimento rápido Sirius a lacrou com barras de ferro. Os quatro olharam espantados.
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–
É para o seu próprio bem, Harry – Sirius sussurrou como se pedisse desculpas.
O que você está querendo afinal? O que quer de mim? Sou um estorvo, sou um ingrato, não tenho feito nada além de preocupar, aborrecer e violar regras, então por que não me deixam ir?! – estava tremendo agora, tentando controlar a raiva que tentava aflorar com toda a força.
–
–
Você não é nada disso pra mim... – Sirius tentou se aproximar, mas Harry se afastou.
Não importa o quanto você esteja a fim de se matar, nós não vamos deixar – Moody declarou convicto. – E não é por causa dos seus pais, que foram boa gente e fizeram a única coisa que os pais podem fazer pelos filhos, garantir sua sobrevivência, não... Vamos fazer isso porque você é bom e decente demais, pra servir de diversão ao Lorde das Trevas enquanto ele o tortura e mata. É contra isso que lutamos até hoje. E não vamos deixar que aconteça com um de nós, mesmo que este seja um adolescente inconsequente, preocupado demais com os outros para pôr a própria segurança em primeiro lugar.
–
Harry não se mexeu, não conseguiu dizer nada. Aquelas palavras vindas de Alastor Moody poderiam ser consideradas como uma declaração de afeto. Os outros podem sair. Harry não vai precisar de ajuda para por as coisas novamente no lugar. – Sirius afirmou.
–
Harry sentiu os outros se mexerem a sua volta, mas continuou parado, a raiva dando lugar ao conformismo. Quando todos saíram Moody parou à porta. As grades continuarão aí. E se não forem suficientes pra você, posso arranjar correntes pra sua cama combinando com elas. – fechou a porta atrás de si. Uma luz amarela a envolveu por instantes.
–
Harry ainda ficou um tempo sem se mexer, depois se jogou na cama. Não se deu ao trabalho de conferir, sabia que estava preso e não conseguiria sair.
O sol já estava se pondo quando resolveu se mexer de novo, ficara na cama observando o teto por tempo demais. A bandeja com seu almoço ainda estava intocada, do jeito que Monstro a deixara. Não sentia fome, seu estômago já estava muito pesado. Abriu o malão e revirou os poucos pertences procurando pelo espelho, fazia tempo que não o via. Abriu o guarda-roupa, agora quase vazio, e passou a mão pelos lençóis buscando o contato com sua superfície lisa e fria. Agarrou uma trouxa de pano e a puxou com força, sentiu algo pontiagudo perfurar sua mão, gemeu. Puxou para si a mão dolorida. O primeiro impulso foi ir até o banheiro lavar o sangue, mas lembrou-se de que estava trancado. Acabou de puxar a trouxa com a outra mão, agora com mais cuidado. Manteve a mão ferida fechada, agora o sangue escorria pingando no lençol. Puxou uma fronha limpa e envolveu o corte. Com a outra desfez cuidadosamente a trouxa expondo no chão os cacos do espelho. Esquecera de pedir a Sirius para consertá-lo. Lamentou que quase tivesse partido sem levá-lo, iria fazer falta quando quisesse falar com os amigos, saber notícias de casa. Estava se perguntando se deixariam que conversasse com Rony, após repararem o espelho, quando ouviu um barulho na porta, se virou e esperou para ver quem seria. Lupin espiou, cauteloso, pelo vão da porta. –
Sei que não deve estar querendo me ver, mas vou te impor a minha presença por alguns
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minutos – entrou fechando a porta atrás de si. Harry ficou parado, observando. Na verdade estava aliviado que tivesse aparecido, chegou a pensar que Lupin estaria com tanta raiva dele que não iria querer vê-lo tão cedo. –
Bem, Harry... – começou a dizer mas parou quando viu o espelho quebrado no chão.
Harry olhou também, tinha tentado arrumar os cacos de forma a reconstituí-lo sobre o lençol salpicado com seu sangue, sabia que se faltasse um pedaço seria impossível repará-lo. A próxima coisa que sentiu foi os braços de Lupin erguendo-o bruscamente do chão. O que está fazendo?! Está louco?! – Lupin berrava de encontro ao seu rosto. Harry tentou empurrá-lo, com a mão boa, esforçando-se para que seus pés encostassem no chão novamente.
–
Sirius entrou, escancarando a porta do quarto. –
O que houve?! Remo! – avançou e puxou seu braço. – O que está fazendo?!
Harry aproveitou para se soltar, indo para perto de Sirius que o puxou para trás de si, protegendo-o. –
Eu?! – Lupin perguntou indignado. – Eu, Sirius?! Olhe para ele! Está tentando se matar!
Sirius se virou para ele também. Harry estava assombrado demais para falar. Lupin se aproximou e ergueu seu braço. Harry se encolheu, sua cicatriz começou a arder novamente. A fronha enrolada em sua mão agora estava empapada de sangue, que começou a escorrer pelo seu antebraço. Esforçou-se para se controlar enquanto a compreensão invadia sua mente. Não fiz isso! Foi um acidente – tentou puxar o braço, mas Lupin o segurava firme. Sirius pegou sua mão e desenrolou a fronha. Não tinha imaginado que um corte tão pequeno pudesse sangrar tanto. – Se eu quisesse me matar não tentaria cortando a palma da mão! – tentou trazer um pouco de bom senso à situação. Lupin o encarou pensativo.
–
Claro... desculpe. Eu me descontrolei quando vi o vidro e o sangue... Tive medo que estivesse com raiva suficiente a ponto de cometer alguma loucura – apontou a varinha para sua mão, que ficou ainda mais quente por alguns segundos. Depois com um aceno da varinha fechou o corte.
–
Sirius ergueu a varinha e limpou o sangue. –
O corte foi fundo, por que esperou tanto pra chamar alguém?
–
Obrigado – limitou-se a responder.
–
Desculpe-me, Harry – Lupin pediu novamente, parecia envergonhado. – Machuquei você?
Não... – Harry respondeu sem saber se ele se referia a alguns instantes ou ao que dissera mais cedo – Tudo bem.
–
Acho que esse trabalho está me deixando um pouco descontrolado, agora não só quando se aproxima a lua cheia – comentou, desgostoso.
–
Harry que até então não sabia o que Lupin fazia nos seus longos períodos de ausência, pois ele se recusara a responder quando perguntara, tentou novamente. –
Que trabalho está fazendo?
–
Não, Harry. Não vai ser hoje que vamos falar sobre isso.
–
Vamos falar algum dia? – espantou-se. Lupin sorriu.
–
Você é um garoto incrível, e eu gosto muito de você, de verdade. Desculpe-me pelo o que eu
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disse mais cedo, não quis te magoar... Eu me arrependi antes mesmo de você subir, mas ... e como Moody viu que você estava nervoso, achei melhor dar um tempo, depois tive medo de estar dando tempo demais... Essa visão agora, descontrolou os meus nervos, de novo. Desculpe. Harry baixou os olhos, sem jeito, Lupin o abraçou. Bom, já que está tudo bem agora – Sirius disse olhando a bandeja intocada. – Que tal comer? Vou pedir pro Monstro te trazer alguma coisa.
–
Não, Sirius, não estou com fome. Sério – confirmou perante seu olhar de descrença. – Não estou tentando me matar de fome, aliás não estou tentando me matar de maneira nenhuma. Já tem muita gente fazendo isso – tentou fazer piada, mas eles o olharam preocupados. – É brincadeira...
–
Abaixou-se perante os cacos do espelho. –
Podem consertar pra mim? – pediu para desviar o assunto.
–
Claro! – Sirius se aproximou. Com um toque o espelho estava inteiro de novo.
–
Posso falar com o Rony? – arriscou.
–
Por que não poderia? – Sirius se surpreendeu.
–
Não sei... – se sentiu meio idiota. – Porque estou de castigo?
Com Sirius as coisas eram bem diferentes, depois de tantos anos sob o regime perverso de seu tio Válter, ainda não tinha se acostumado. Não, você não está de castigo. A menos, é claro, que tente fugir de novo. Você não ia mesmo voltar para a casa dos seus tios, não é?
–
–
Não! Claro que não! – admitiu. – Talvez para algum lugar ao sul... Lupin bufou.
–
Com tantos lá fora atrás de você, como esperava conseguir isso? Harry achou que Lupin estava sendo dramático.
Os Comensais não contam, pelo o que Draco disse, eles nem têm autorização... Então, por enquanto... oficialmente...
–
Não é bem assim, agora começo a pensar que o incidente acontecido em Surrey não seja um fato isolado, com certeza há alguma ligação nisso. – afirmou Lupin – Dois estranhos que surgem do nada, que não parecem bruxos mas também não se comportam como trouxas comuns... um deles mencionando a Magia Oculta... E Dumbledore concorda comigo, deve haver uma ligação entre os dois casos.
–
Harry ouviu em silêncio, já havia, há muito tempo, esquecido o incidente do início das férias. Muitas coisas estavam acontecendo naquele verão. Nem queria pensar no que aconteceria quando começasse o período letivo. –
Dumbledore já sabe? – processou melhor a informação.
Ele esteve aqui para te ver, mas quando soube da sua... determinação... achou melhor que continuasse trancado em seu quarto – Sirius encurtou a história.
–
–
Ah... – foi só o que conseguiu dizer. – Já que não estou de castigo, posso voar até a Toca?
Preferia conversar com os amigos pessoalmente, queria saber se eles tinham conseguido alguma informação.
Elisa Vrastani - Magia, Poder e Destino I
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–
Hum... não, hoje não – Sirius respondeu. – Não abuse da sorte.
Harry se surpreendeu, então havia um limite. Limite que era influenciado pela opinião da Sra. Weasley, imaginou. Quando desceu para jantar seu estômago doía de fome. Sirius e Lupin o olhavam comer contentes, pareciam até aliviados. Ficou tentando imaginar se seu pai também seria assim, talvez um pouco dos dois... permissivo como Sirius, exigente como Lupin... nunca saberia. Aproveitou o bom humor deles. Quando eu usei magia hoje de manhã, na Travessa do Tranco – explicou rapidamente para que a lembrança não despertasse, nenhum dos sentimentos já manifestados anteriormente. – Por que ninguém do Ministério apareceu lá, naquela hora? Dois bruxos menores de idade, usando feitiços fora de Hogwarts, por que não fomos detectados?
–
–
Isso não funciona assim, uma vez que você não deveria estar lá, eles não tem como detectar...
–
Sirius! – Lupin interrompeu. – Não acho prudente... Os dois se olharam, cheios de mistérios.
–
Você tem razão. Esquece isso, Harry. Nem tudo é perfeito o tempo todo. Harry se irritou.
–
E vocês não vão me explicar sobre a Magia Oculta?
Não!! – a resposta foi simultânea, então desistiu. Sirius tinha razão, era melhor não abusar da sorte.
–
Depois do jantar chamou Rony pelo espelho. Hermione apareceu logo depois. Disse a eles que estava tudo bem agora e prometeu, para uma Hermione insistente, que não iria tentar fugir, nem pensava mais no que o tinha motivado a decidir isso, queria mesmo era discutir sobre o que Malfoy estaria fazendo agora, que outros meios estaria bolando para atacar seja lá quem Voldemort quisesse morto e sobre a tal Magia Oculta, novo tabu do mundo bruxo. Os amigos também não tinham ideia, não conseguiram arrancar nada de ninguém da família Weasley. Pensa bem, Harry, por que o Lorde das Trevas iria querer um bruxo menor de idade e sem formação completa em magia como um dos seus seguidores? Sabemos o quanto Malfoy é metido, ele só devia estar querendo se gabar, tirar vantagem do fato de que agora todos sabem quem é o pai dele.
–
–
Eu já disse, Mione, ele é um Comensal da Morte, ele tem a marca!
–
Mas você disse que não chegou a ver...
–
Moody acreditou em mim!
É, mas estamos falando do Malfoy, não dá pra acreditar nele – Rony emendou – Não o aceitariam como Comensal da Morte, não nos deixam nem participar das reuniões da Ordem...
–
Duvido que Voldemort tenha tanto escrúpulo assim... É difícil explicar, eu senti a marca no braço dele... Não sei explicar como... – confessou. Os amigos absorveram a informação em silêncio. – Onde está Gina?
–
–
Lá embaixo, com a mamãe.
–
E o seu livro, Harry? – Hermione perguntou. Harry fez uma careta, não queria começar uma
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discussão a respeito disso de novo. – Rony disse que ele mostra qualquer coisa que você queira saber, já tentou perguntar a ele? Harry a olhou desconfiado, não conseguiu identificar nenhuma censura em seu olhar. Foi até o guarda-roupa e buscou o livro. Mentalizou e o abriu. Nada. Ele não mostra nada... estranho... – murmurou – Talvez Voldemort não soubesse a respeito quando o fez... ou não queira me dizer...
–
Bom, se é assunto proibido, o Ministério deve ter impedido publicações sobre o assunto... – Hermione concluiu.
–
Sua cicatriz doeu de novo, como acontecera outras vezes mais cedo. Estava achando mais fácil controlar esses momentos agora. Os ensinamentos do livro o estavam ajudando muito. Achou irônico que seria Voldemort e não alguém da Ordem que o ajudaria a controlar isso, o que o fazia questionar novamente se Snape estivera mesmo tentando ensiná-lo Oclumência. Dividiu sua opinião com os dois. Por que eu teria mais facilidade em aprender num livro do que com um professor? A maneira como o Lord explica... Snape nunca me ensinou isso... assim, dessa maneira.
–
Bom, cada um tem um jeito diferente de ensinar... – Hermione defendeu, pensativa – Você também nunca foi bom em Poções! Mas, talvez, se você aprendesse com outra pessoa...
–
–
Mas você não concorda que o Snape...
Não... – Hermione cortou. – Acho que pode ser psicológico, sua animosidade com Professor Snape deve influenciar muito, afetava Neville também! Quando eu explicava Poções a ele, parecia entender muito bem, mas nas aulas... além do mais, se Snape estivesse realmente com a intenção de não te ensinar Oclumência ano passado, digamos, a mando do Você-Sabe-Quem, por que agora, o próprio te mandaria um livro com essa informação?
–
Ah, Mione... porque... ele não sabia que tinha essa informação, porque o livro é velho demais e já tinha esquecido, porque ele nunca o leu, porque ele é maluco... Não importa, estou falando do Snape!
–
–
Esquece, Harry, nunca encontramos nada contra ele.
É, Harry, nos livramos dele finalmente, agora esquece! – Rony completou. – E você agora não precisa de professor de Poções, você pode aprender com o Lord.
–
Harry ficou em silêncio por alguns minutos, meditando. –
Podemos aprender a preparar a poção de Mata-Cão, para o Lupin.
É muito difícil! – Hermione discordou. – Poucos bruxos conseguem prepará-la, nem Lupin se atreve a tentar! Se alguma coisa sair errado, vai piorar ao invés de ajudar.
–
–
Se Snape consegue...
–
Snape é professor, é mestre em Poções! E nem todos os professores conseguem!
Harry não disse nada, estava tendo uma ideia. Passou boa parte da noite estudando o livro do Lord, lendo as explicações. A poção era mesmo bem complexa, demorava pra ficar pronta, mas se seguidas as etapas corretamente... No dia seguinte disse a Sirius que precisaria comprar alguns ingredientes. –
Por que não comprou quando fomos ao Beco Diagonal?
–
Porque eu não sabia que iria precisar, como não vou mais estudar Poções...
–
Então, pra quê você quer, se não vai mais estudar Poções?
Elisa Vrastani - Magia, Poder e Destino I
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–
Quero fazer uma experiência... Se eu não praticar, vou esquecer o pouco que aprendi.
–
Só não vá me deixar de cabelos brancos!
–
Não, não é pra você... – Harry ponderou se contaria ou não o que queria fazer.
–
Estou dizendo que você é um ímã pra problemas, vê se não me assusta. O que vai preparar?
–
Eu queria tentar a poção de Mata-Cão... – comentou. – Isso ajudaria Lupin...
Não, Harry... Além de ser muito difícil de preparar, ele não poderia... ele está a serviço da Ordem...
–
–
Por isso mesmo, se isso o está deixando tão descontrolado...
Ele está andando com o bando, entende? – Sirius segredou. – Dumbledore precisa que ele haja como os outros, que permaneça infiltrado.
–
–
Mas isso está fazendo mal a ele...
Eu sei, e logo agora que... – Sirius refletiu, pesaroso. – Deixa pra lá... talvez não desse certo mesmo...
–
Passou o dia sozinho, estudando algumas azarações do Lord, Rony havia lhe dito, mais cedo pelo espelho, que não tinham recebido permissão para sair depois do ocorrido após a volta do Beco Diagonal. A Sra. Weasley achou melhor “deixarem que Sirius e Harry se entendam!”. Harry disse a eles que seu relacionamento com o padrinho era bem diferente, mas era melhor que ela não soubesse. –
O que você tanto lê? – Sirius perguntou examinando o livro aberto em suas mãos.
–
Não vai tirar a grade da janela? – Harry perguntou, pra distraí-lo.
–
Não sei... – Sirius passou a mão pela barba por fazer. – Ela ficam bem aí.
Não, ela atrapalha! Fica ruim pra Edwiges também – sua coruja raramente o visitava agora, não tanto pela grade, Harry achava que ela estava se acostumando à vida selvagem. Mas preferia vê-la feliz em seu habitat do que dentro da gaiola de mau humor. Sirius riu.
–
Eu estou brincando, tinha esquecido dela – no mesmo instante as retirou. – Mas saiba que elas podem voltar se for necessário! – disse seriamente.
–
–
Sim, Senhor. – Harry respondeu guardando o livro.
–
Não precisa falar assim comigo! – Sirius reclamou, fechando a cara.
Harry lhe lançou um rápido olhar – Desculpe – seu Tio Válter sempre exigia que respondesse “com o respeito que se deve aos mais velhos”. Sirius era bem diferente. O que vamos fazer amanhã? Suas férias estão acabando, que tal um passeio? Você escolhe o lugar, um parque, zoológico, qualquer lugar normal...
–
Harry riu. Era estranho de imaginar, por mais que quisesse isso. –
Acho melhor não sair por aí...essas férias já estão sendo agitadas demais... Sirius ficou em silêncio, pensando a respeito.
Amanhã vou passar o dia na Toca – Harry improvisou. – Por que não aproveita e sai um pouco?
–
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–
Sem você?
–
Sirius... tenho certeza que você tem muito o que fazer lá fora.
–
Tá bom, posso aproveitar e adiantar algumas coisas pra Ordem...
No dia seguinte, pela manhã, Sirius o levou até a Toca. Harry tinha falado com Rony pelo espelho, durante a noite. Os quatro passaram o dia sob o olhar atento da Sra. Weasley. Jogaram quadribol, xadrez de bruxo e confabularam sobre o que Draco poderia estar querendo ao voltar a Hogwarts. Não acredito que Dumbledore o deixará voltar – Hermione disse. – Se ele for mesmo um Comensal ...
–
–
Ele é um Comensal!
Tá bom, Harry... – Hermione corrigiu – Já que ele é um Comensal... colocaria em risco todos os alunos e Dumbledore não permitiria isso.
–
Mas mesmo que não volte – Rony atirou o jornal do dia sobre a mesa da sala. – Ele vai continuar livre pra fazer o que quiser? Ainda não li nada no Profeta a respeito dos Malfoy, será que a Ordem não vai denunciá-lo?
–
Talvez não seja tão fácil de provar – Gina disse enquanto arrumava as peças no tabuleiro – Eles não iriam andar por aí com a Marca Negra à mostra, devem ter meios de disfarçá-la, meios indetectáveis...
–
Como isso aconteceu, Harry? – Hermione o olhou preocupada. – Como, de uma noite pra outra, você passou a pressentir a presença dos seguidores dele? E a voar sem vassoura? E por que aquele homem, da travessa, acha que você sabe Magia Antiga?
–
Não sei... Você acha que são a mesma coisa, então? Magia Antiga, Oculta, proibida... é, faz sentido... – analisou massageando as têmporas.
–
Sirius voltou à Toca no final do dia, parecendo radiante. Cumprimentou a todos alegremente, distribuindo sorrisos. O Sr. Weasley chegou logo depois e ficaram trocando informações, coisas da Ordem. Os quatro foram, providencialmente, enxotados até a hora do jantar. A Sra. Weasley insistiu para que Harry passasse a noite, ele aceitou, estava com saudades da Toca, do soar do relógio da família aos sons do vampiro do sótão. Sirius, ainda de bom humor, concordou e se despediu deles. Foi embora em sua moto, fazendo-a roncar o motor ensurdecedoramente.
Os quatro resolveram voltar à Casa Verde no final da tarde. Foi uma longa caminhada, mas animada. –
Oi, Monstro – Harry o cumprimentou enquanto procurava por Sirius.
–
Ele saiu, mestre Potter...
–
Saiu? Pra onde?
Mestre Sirius não disse a Monstro... mas deve voltar logo, nem almoçou em casa... – Monstro se afastou resmungando.
–
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Aproveitando que não tem ninguém em casa, Harry, traz o seu livro aqui – Hermione pediu se acomodando à mesa da sala.
–
–
Pra quê? – Harry perguntou, desconfiado.
Eu quero tirar uma dúvida – os outros a olharam, incrédulos. – Só quero fazer uma pesquisa... Bom, eu não tenho um biblioteca à disposição no momento – completou. – Eu admito que ele pode ser muito útil, afinal deve ter sido criado com o intuito de facilitar os estudos. É um livro antigo, pode ter sido feito por qualquer um, além do mais, ele já foi um aluno, foi Monitor-chefe! Quando não se faz uso da tecnologia, esse tipo de magia avançada pode...
–
Tá bom Hermione, já entendi. Você mudou de ideia. – Harry se afastou sorrindo enquanto a amiga corava.
–
Voltou rápido e lhe entregou o livro, ainda sorrindo. Ela o pegou, ansiosa, desfolhou-o rapidamente e o devolveu contrariada. –
Procura pra mim por “Tipos de Magia”. Harry compreendeu o que ela queria fazer, obedeceu. Hermione puxou o livro de suas mãos.
Bruxaria, clarividência, ilusionismo, forças ... Não, não tem nada aqui também. – disse desanimada. – Talvez a gente não esteja fazendo a pergunta correta, vamos ter que...
–
Sirius entrou assobiando neste momento. –
Olá crianças! – cumprimentou-os animado.
–
Onde esteve? – Harry perguntou.
–
Dando umas voltas...
–
O dia inteiro? – Gina perguntou, curiosa.
É... o dia passou rápido hoje, não? – disse sonhadoramente. – Encontrei um ótimo programa pra amanhã, poderemos ir os cinco, ou seis, se Tonks quiser...
–
–
Qual? – Harry perguntou, desinteressado.
–
Um show da banda de rock The Burners, amanhã à noite.
Sei... – não sentiu nenhum entusiasmo com o convite, mas Sirius tinha um poster dessa banda na parede do quarto, então, fingiu que tinha gostado da ideia.
–
Hermione e Gina não disfarçaram a falta de interesse e prontamente dispensaram. Rony aceitou o convite em solidariedade a Harry, a The Burners não era sua banda preferida também, achavam seu estilo pesado demais. –
Mas não acha... perigoso... sair assim... – Harry tentou uma desculpa.
–
Não, nós vamos disfarçados! Animem-se, Vai ser legal!
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CAP. 8 – THE BURNERS Rony chegou à Casa Verde no fim da tarde. Os três se reuniram no quarto de Sirius para se arrumarem, o que foi uma tarefa bem difícil. Horas depois dois garotos ruivos desceram as escadas usando jeans rasgados, camisetas pretas de malha e tênis. Um deles não parava de coçar os olhos como se tivesse acabado de acordar. Para com isso! – repreendeu o homem alto, de calça jeans e camisa preta de gola alta, que desceu logo atrás. Tinha os cabelos presos num rabo de cavalo e o rosto bem barbeado o deixava mais jovem.
–
–
Isso incomoda, Sirius! Tenho mesmo que usar lentes?
Claro! Esse curativo ainda chama a atenção, mesmo com a maquiagem, com os óculos então...
–
–
Mas nem eu me reconheço!
Não põe a mão, você vai acabar se acostumando. Se parar de pensar nelas vai conseguir esquecer que as está usando.
–
Harry tentou seguir seu conselho. Enfiou as mãos nos bolsos da calça. Eu acho que você está ótimo – Rony disse. Estava usando os cabelos arrepiados e tinha ganhado um “sinal de nascença” no lado esquerdo da face. – Queria que Hermione pudesse nos ver agora.
–
Os três subiram na moto de Sirius. Harry ia na frente, guiando, e Rony atrás de Sirius, empolgado com a ida à civilização. Seguiram por uma trilha desconhecida para os garotos, alguns minutos depois cruzaram por uma clareira e avistaram prédios rodeando o beco escuro no qual surgiram. Rony exclamou algo, admirado. Harry também estava impressionado. –
Deste jeito será impossível nos rastrearem – Sirius explicou.
Saíram do beco e após algumas curvas avistaram várias pessoas em frente a uma construção antiga, de aparência vandalizada, com pouca luz interior e um som pulsante. Deram a volta até a lateral do quarteirão e pararam num estacionamento quase lotado. Algumas pessoas olharam para eles admirando a monstruosa moto de Sirius, Scarlet. Era difícil encontrar uma igual àquela, principalmente alterada por magia. Viram alguns punks e góticos enquanto se encaminhavam para a entrada. Harry e Rony, agora bem mais entusiasmados, nunca tinham ido a um show de rock antes, olhavam tudo e comentavam admirados. Fiquem perto de mim, sempre! – Sirius recomendou. – Se nos perdermos uns dos outros, nos reencontraremos na entrada, certo? – continuou quando ambos concordaram. – E usem apenas os nomes que combinamos!
–
Naquela noite seriam os primos Bryan e Mat com seu tio Scot. Assim que entraram foram envolvidos pelo ar denso e barulhento do ambiente. O local era amplo, o palco, no final do salão, era bem alto. Na lateral, um vasto bar, e uma escada, que levava aos andares superiores. Sirius passou os braços pelos ombros de ambos e os conduziu para as escadas. Chegaram ao andar superior, igualmente mal iluminado. As escadas seguiam desaparecendo num andar bem mais escuro que o térreo. Seguiram pelo salão lotado até chegarem à sacada, de onde avistaram as
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pessoas lá embaixo se agitando ao som da música, tentando se aproximar do palco onde cinco figuras pálidas, vestidas de preto e prata, tocavam euforicamente. Ao contrário da maioria, eles, incluindo Sirius, estavam mais interessados nas pessoas próximas que conseguiam avistar na pouca luz. Dois casais à direita, vestindo jeans e couro, se agitavam e gritavam, mais adiante outro casal se agarrava indiferente à falta de privacidade do local. Rony e Harry se entreolharam boquiabertos. Do outro lado uma menina gótica, com um vestido preto, meias arrastão, botas até os joelhos e maquiagem igualmente pretos, sorriu para eles. –
Esse lugar é bem legal! – Rony disse, retribuindo o sorriso.
–
Si... ah, Scot, as pessoas aqui... são iguais a gente... são...
Não! Nem todas! – Sirius respondeu a Harry elevando a voz pra que o ouvissem. – Na verdade, creio que somos minoria. A maioria de nós ou é conservadora, ou não gosta de se misturar. E a Burners faz sucesso principalmente do lado de cá.
–
Duas horas depois, após vários empurrões de fãs eufóricos que queriam ter melhor visão de seus ídolos, Rony não estava mais achando o lugar tão legal assim. Quantas músicas vão tocar nesse show? Vamos ter que ficar até o final? – Rony cochichou no ouvido de Harry.
–
–
Não sei... – Harry respondeu. – A gente podia andar um pouco...
–
A gente vai descer um pouco, pra beber alguma coisa, tudo bem? – Rony pediu a Sirius.
Não, deve estar muito cheio lá embaixo – olhou ao redor – Venham – Sirius os guiou até as escadas. – Esperem por mim aqui, vou trazer alguma coisa pra vocês.
–
Rony e Harry subiram alguns degraus da escada que levava ao andar superior e se sentaram, era a único lugar tranquilo, exceto por casais que subiam ou desciam de vez em quando. Espero que Scot não queira ficar pra pegar autógrafos no final do show. – Rony reclamou. – Meus pés estão doloridos.
–
Meus olhos estão ardendo... quero tirar logo essa porcaria. Gostaria de ter trazido os meus óculos, seria difícil achar algum conhecido neste lugar...
–
Acho que aqui seria perfeito pra se esconder... cheio, escuro, poucos bruxos... garotas bonitas... – Rony disse, olhando um grupo de garotas que desciam sorridentes. – Aposto que conseguiríamos comprar qualquer coisa no bar...
–
–
Tomara que Sirius... Scot, não demore.
Do jeito que isso aqui está cheio, seria melhor se ele aparatasse e trouxesse alguma coisa lá de casa...
–
A menina gótica, que havia sorrido para eles mais cedo, subiu agarrada a um sujeito pálido e de cabelos compridos até os cotovelos. Harry tentava se controlar pra não levar a mão aos olhos a cada minuto. Um sujeito alto, de cabelos pretos e lisos, vestindo calça preta e blusa branca, o que o destacava do tradicional jeans e preto, parou encostado à parede ao pé da escada. –
Droga! – Harry exclamou de repente. Rony desviou a atenção do topo da escada.
–
O que foi?
–
Uma das lentes caiu! – disse apalpando as roupas.
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–
Como vamos achar no escuro? – Rony perguntou examinando os degraus abaixo.
Não vamos... deixa – Harry disse, percebendo que o homem de blusa branca os observava com interesse. – Estamos chamando atenção. Vamos procurar Sirius.
–
É melhor esperarmos aqui ou vamos acabar nos desencontrando... – Rony disse, voltando a atenção para o andar superior.
–
Com uma visão parcial e incômoda, se sentindo pior do que antes, quando pelo menos enxergava, Harry aguardou irritado. –
O que será que tem lá em cima? – Rony perguntou.
–
Não sei – Harry respondeu de mau humor. – Vai lá ver! Rony se levantou preparando-se pra subir.
–
Aonde vai?! – Harry perguntou, espantado.
–
Ora, vou ver...Você vem?
Não, não estou em condições de ver nada agora – ficou observando enquanto Rony subia apressado.
–
Era obrigado a piscar repetidas vezes pra tentar amenizar o incômodo da lente e evitar levar a mão aos olhos, fechou-os e recostou a cabeça no corrimão. –
Por que está aborrecido?
Harry abriu os olhos ao som da voz grave e musical. O homem de blusa branca estava agora sentado no degrau inferior, sorrindo pra ele. Tentou retribuir o sorriso apesar da irritação constante. –
Não estou conseguindo enxergar muito bem... – respondeu com sinceridade.
–
Irritação por lente de contato? Eu também sofri quando comecei a usar as minhas.
Você usa lentes? – Harry perguntou, examinando seus olhos castanhos dourados. – Está usando agora?
–
Tenho que usar sempre que saio em público, esta não é a minha cor natural... Mas agora eu uso um colírio apropriado, não tenho mais problemas com elas. Quer experimentar? – tirou um pequeno frasco do bolso. Harry ficou em dúvida. – Não custa tentar. Eu te ajudo – ele subiu mais um degrau enquanto abria o frasco. Levantou o queixo de Harry e pingou o líquido em seus olhos.
–
O alívio foi imediato, embora uma leve ardência continuasse, sentiu-se bem melhor. –
Obrigado, melhorou muito!
–
Disponha, meu nome é John. – disse estendendo a mão.
–
Bryan – Harry respondeu, apertando-lhe a mão.
Gosto do tom de verde dos seus olhos – John disse alegremente. – Apesar de ter optado por esta cor artificial, gosto dos meus olhos ao natural também... As cores são importantes, garoto, mostram muito do equilíbrio interior. Pessoalmente, eu prefiro verde a vermelho, mas há quem goste de outras cores.... – disse com uma risada. Harry o olhou, confuso.
–
Tenha um desses sempre à mão quando usar lentes – John sorriu amistosamente, mostrando o frasquinho.
–
–
Acho que vou ficar com os meus óculos mesmo... Rony desceu as escadas olhando-os com curiosidade.
Elisa Vrastani - Magia, Poder e Destino I
66
Você precisa ver o que tem lá em cima... – Rony confidenciou enquanto se sentava no degrau superior ao deles.
–
Não quero ver mais nada por hoje... – Esse é John. Meu primo, Mat. – Harry recitou suas falas.
–
–
Não se parecem muito – John observou.
É porque a minha família é muito grande – Rony explicou. – Muito diversificada também, de ocidentais a orientais ... – Harry o olhou espantado, não sabia disso, até então. Rony o chutou num movimento rápido e furtivo.
–
–
Vocês não vão descer pra pista de dança? Se divertir um pouco?
–
Já nos divertimos o quanto foi possível neste lugar – Rony disse.
–
A coisa mais divertida que podemos fazer agora é ir pra casa – Harry concordou.
–
Posso levar vocês, se quiserem.
–
Estamos com nosso tio – Harry explicou. – Ele está lá embaixo pegando alguma bebida.
–
Ah... E vocês moram aqui perto? – John perguntou.
–
Em Ottery St. Catchpole... – Rony respondeu.
Hum... – John passou a mão pelos cabelos, afastando-os dos olhos. – Vocês não se acham jovens demais pra estarem num ambiente como este? Vocês ainda frequentam a escola, não?
–
–
Estudamos em Hogwarts – Harry respondeu, curioso por saber se ele também era bruxo.
–
Hogwarts? Onde fica isso?
–
Em um lugar ao norte – respondeu evasivamente. – E você, onde mora?
Por toda a parte! – John respondeu, sorrindo. – Sou um andarilho, já estive em diversos lugares, sei fazer de tudo um pouco, ando por aí prestando uns serviços... Não me prendo a nenhum lugar específico. Agora estou aqui, amanhã já não estarei...
–
–
Puxa, deve ser legal... – Rony disse, sonhador.
–
Pra onde vocês costumam ir nas férias?
–
Normalmente, ficamos confinados... – Harry se queixou – Não temos tanta liberdade assim.
–
Quem sabe, de uma hora pra outra, isso pode mudar.
–
Contanto que não seja pra pior, tudo bem – Rony gracejou.
Estou preocupado com o Scot, não é melhor procurarmos por ele, agora? – Harry perguntou massageando a região dos olhos, cansado – Já faz muito tempo que desceu.
–
É melhor – John concordou. – Já está muito tarde – apertou a mão de Rony despedindo-se. – Espero poder revê-los novamente.
–
–
Eu também – Rony disse, levantando-se.
Tchau – Harry se despediu apertando-lhe a mão também. – Obrigado por tudo, John. – disse descendo as escadas com Rony.
–
–
Tchau, Harry – John disse em resposta.
Harry voltou-se bruscamente ao ouvir o seu nome. Rony também parou ao perceber o movimento repentino do amigo. Harry olhou os degraus de cima a baixo, não tinha mais ninguém ali. Elisa Vrastani - Magia, Poder e Destino I
67
Pra onde ele foi? – Rony perguntou, surpreso, olhando em volta. Não teria como ter chegado ao andar superior tão rápido. – Aparatou? Pensei que não fosse bruxo...
–
Ele me chamou de Harry... – Rony o olhou sem entender. – Eu disse a ele que me chamava Bryan... Como foi que me reconheceu? – Harry perguntou, preocupado, olhou ao redor, mas não conseguia enxergar muito bem. Levou a mão ao curativo pra verificar a cicatriz.
–
Não faz isso – Rony abaixou sua mão. – Dá muita bandeira. Vamos embora – acrescentou nervosamente, olhando ao redor, mas ninguém os observava.
–
Harry e Rony desceram os lances de escada até o térreo. Rony parou abruptamente quando chegaram ao bar, poucas pessoas estavam paradas ali, não estava tão cheio quanto imaginaram. Localizaram facilmente o homem alto, de cabelo preso e de costas para eles, conversando entusiasmadamente com alguém. Alguém de vestido preto e cabelos curtos. –
Que sacana! – Rony exclamou, perplexo. – E a gente lá, esperando...
Harry levou rapidamente a mão à testa enquanto sua cicatriz queimava violentamente. De repente estava dentro de uma construção em ruínas, estava escuro, o ar era pesado e úmido. Alguma coisa estalava sob seus pés, eram ossos. Lutando para afastar as imagens conseguiu visualizar o bar à sua frente. Ratazanas enormes se aproximavam, curiosas, as ignorou, a luz de sua varinha era ávidamente consumida pela escuridão. Estava ansioso, a fraca luz iluminava os diversos restos mortais espalhados pelo chão, alguns, amontoados em pilhas. Alguns não eram humanos, não totalmente. “Finalmente encontrei” – Sentiu a mão de Rony pousando sobre o seu ombro, virou-se bruscamente. Com a respiração irregular Harry se arrastou até o balcão, com a ajuda de Rony, e se concentrou para expulsar aquelas imagens de sua cabeça. Sentiu-se fraco. O que foi? O que você está sentindo? – Rony falou ao seu ouvido tentando se fazer entender apesar da música alta.
–
Harry passou a língua pelos lábios, a boca seca. Aos poucos sua respiração foi voltando ao normal enquanto se concentrava. Sirius estava a poucos metros à frente, mas não se sentia capaz de chegar até ele. –
Já estou melhorando – disse à Rony enquanto massageava a testa. – Preciso beber algo. Rony chamou o barman mais próximo.
–
O que vão querer?
–
Me vê um refrigerante, por favor – Harry pediu.
Cerveja amanteigada – Rony pediu. O homem o olhou com incredulidade. – Uísque de fogo? – tentou.
–
Dois refrigerantes – Harry pediu. O homem se afastou para pegar os pedidos. – Estamos em ambiente trouxa, eles não conhecem cerveja amanteigada – Harry o lembrou. – E nem aqui vendem bebida alcoólica para menores.
–
Bem, não custava tentar – Rony se desculpou. – O que você viu? – Rony estava curioso pra saber, mas o barman voltou com o pedido.
–
Harry sorveu o conteúdo de sua lata, estava sedento. –
Você está pálido, quer que eu chame o Sirius?
Não... – queria compartilhar sua visão com Rony, mas estava se sentindo indisposto. – Me dê alguns minutos.
–
Elisa Vrastani - Magia, Poder e Destino I
68
Ficaram algum tempo ali em silêncio enquanto bebiam. Rony se debruçou no balcão e passou a mão pelos cabelos, disfarçando. –
Tem uns caras olhando pra cá.
–
Acha que reconheceram a gente também?
Não acho que sejam como nós... – meditou olhando naquela direção. – Eles têm tatuagens e piercings demais...
–
–
Não fica encarando – Harry pediu, a cicatriz o incomodando.
–
Será que meus pais me deixariam fazer ao menos uma? Bem pequena?
Duvido que deixem, Rony. – Harry se lembrou da implicância da Sra. Weasley com os cabelos compridos de Gui. – Já Sirius, acho que não se importaria... Talvez ele até tenha alguma... – espantou-se por não saber informar algo tão banal, que com certeza um filho saberia dizer sobre seu próprio pai. – “Mas Sirius não é meu pai” – pensou, olhando na direção do homem que ria alegremente, esquecido da existência dele. Sentiu o coração apertar. – “A qualquer momento ele vai conhecer alguém, se casar e esquecer que eu existo” – pensou, amargurado. – “Talvez tenha filhos...” – Vamos! – Harry se decidiu.
–
Foram até Sirius, ele nem se virou para dar-lhes atenção. –
Com licença – ouviu a voz irritada de Rony, ao seu lado.
–
Sim? – Sirius olhou para eles, impassível, esperando que falassem, não os reconhecendo.
–
Será que podemos ir agora? – Rony perguntou, ignorando sua expressão surpresa.
Sirius olhou de um para o outro, uma expressão de alarde e espanto em seu semblante, olhou ao redor parando na mulher sorridente ao seu lado que olhava os recém chegados com interesse. –
O que...? – Sirius começou a dizer. – Eu demorei aqui? – perguntou, confuso.
–
Umas duas ou três horas... – Rony respondeu, sarcástico.
Sirius se levantou rápido como se estivesse acabando de acordar de um pesadelo. Lançou um olhar perplexo para o seu relógio de pulso. –
Podemos ir agora, por favor...? – Harry pediu.
Sirius murmurou algumas desculpas para sua companhia que ainda lhes sorria. Harry se afastou com Rony para dar privacidade aos dois. Sirius logo os alcançou e os guiou para fora. A caminho do estacionamento pediu mil desculpas, não havia percebido a hora passar, havia se distraído. –
Percebemos... – Rony trocou um olhar com Harry.
Harry ficou em silêncio. Estava feliz por Rony ter ido também. Seus olhos ainda ardiam, sua cicatriz formigava e estava se sentindo fraco. Uma noite divertida. Meia hora depois estavam novamente no jardim de casa. Sirius desligou a moto e desceram. Rony tocou o braço de Harry. –
Quer que eu te ajude a subir? – ele perguntou, preocupado com a palidez do amigo.
–
Por quê? O que aconteceu? – Sirius perguntou.
Perdi uma das lentes – Harry explicou. – Não que eu estivesse muito melhor com ela... mas eu consigo achar meus óculos sozinho, pelo menos.
–
Entraram. Monstro havia deixado a casa iluminada, aguardando-os. Não teve problemas em Elisa Vrastani - Magia, Poder e Destino I
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se locomover no ambiente iluminado e familiar. Trocou a lente pelos óculos e se arrumou para dormir, não estava a fim de conversar.
Acordou com o dia já alto, o tempo estava nublado e frio. Rony estava sentado na cama ao lado. –
Até que enfim acordou, está se sentindo melhor?
–
Estou – Harry informou, espreguiçando-se. Vestiu-se e desceram pra tomar café.
Sirius estava à mesa, em silêncio, com ar aborrecido. Uma xícara vazia à frente e o Profeta dobrado ao lado. Cumprimentou-os polidamente quando entraram. Sentaram e serviram-se. –
Quero pedir perdão a vocês por ontem, não sei o que aconteceu.
–
Tudo bem – Harry disse educadamente.
Não, não está! – Sirius disse, aborrecido consigo mesmo. – Deixei vocês sozinhos, desprotegidos. Recusei a companhia de Quim porque achava que daria conta e no final....
–
–
A gente entende – Rony disse, despreocupado. – Ela era mesmo bonita...
–
Nada justifica... – Sirius disse, encabulado.
Não vamos comentar isso com ninguém – Harry o confortou. – Vamos fazer de conta que nada aconteceu.
–
Não é isso que estou pedindo – Sirius disse, aborrecido. – Ao menos conseguiram aproveitar a noite?
–
Harry e Rony mentiram, evitando chateá-lo ainda mais. –
Você ainda não contou o que viu, Harry. – Rony o lembrou.
Hum... Não vi muita coisa, um cemitério, provavelmente. – Harry contou sobre a visão que teve.
–
Receberam a Sra. Weasley, Hermione e Gina para o almoço, contaram o mínimo sobre a noite anterior, apenas descrevendo o ambiente e as pessoas. Mais tarde, os quatro se isolaram na varanda, enquanto a Sra. Weasley tentava descobrir de Sirius o motivo da mudança brusca de humor, já que estivera tão animado nos últimos dias. Aqui, Harry – Hermione puxou da bolsa um rolo de pergaminho e o passou a Harry. – Fiz uma lista com algumas palavras que podem estar relacionadas à Magia Antiga, talvez ela não tenha sido descrita com esse nome, como parece ter várias denominações...
–
Tá brincando? – Harry perguntou, desenrolando o extenso pergaminho. – Você quer que eu pesquise cada uma dessas palavras no Lord?!
–
–
Se você é o único que pode...
Não poderíamos só perguntar a alguém que não se importe em responder? Proibida, oculta, não mencionada,... – Harry leu algumas das palavras do pergaminho. – Posso achar infinitos assuntos para cada uma delas, vai demorar um século.
–
Elisa Vrastani - Magia, Poder e Destino I
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O John parecia ser legal – Rony observou, pegando o pergaminho – Poderíamos ter perguntado a ele, se soubéssemos quem ele era... – disse pesaroso.
–
–
Quem é esse? – Gina perguntou, acariciando Edwiges, que tinha pousado no ombro de Harry. Rony contou a elas sobre o cara que haviam conhecido.
Não podem sair perguntando essas coisas a estranhos. E se alguém do Ministério fica sabendo? – Hermione tirou o pergaminho das mãos de Rony e devolveu a Harry.
–
E se eu perguntasse ao Voldemort? – Harry sugeriu. Ao ver a cara de espanto de seus amigos logo acrescentou. – Ele aparece aqui falando sobre a Magia Antiga e logo depois aparece aquele cara na travessa mencionando a Magia Oculta, que parece ser a mesma coisa, me chamando de ... – hesitou por alguns momentos. – Com certeza está tudo relacionado a ele.
–
Provavelmente, Harry, mas você acreditou mesmo que ele te diria? Ele mesmo pode ter enviado aquele sujeito.
–
–
Não só o cara da travessa, Mione – Gina argumentou – Não se esqueçam do cego...
Estamos dando voltas e não estamos chegando a lugar nenhum! – Harry reclamou, levantando-se. – Edwiges o trocou por Gina. – Eu preciso saber quem era aquele sujeito, o que é Magia Oculta e como ela está relacionada à minha ligação com Voldemort. Por que não perguntar a ele, já que se ofereceu para responder? Posso tentar, pelo menos.
–
Ah, claro que ele vai responder! E o que será que vai pedir em troca? – Gina perguntou, sarcástica. – Mais sangue? Servidão eterna? Ou talvez ele queira a sua vida!– disse fingindo uma expressão chocada. Harry revirou os olhos.
–
–
Então me deem uma ideia melhor... Após alguns minutos Hermione se agitou, os olhos fixos nas árvores próximas.
Talvez haja um lugar onde possamos achar todas as informações que quisermos... e informações confiáveis!
–
–
Onde? – Harry se aproximou, ansioso.
–
No Ministério da Magia!
Como assim? – Rony perguntou. – Você acabou de dizer que não podemos perguntar por aí por causa do Ministério, agora quer que a gente pergunte aos caras?
–
Não, Rony! – respondeu sorrindo. – Não vamos perguntar a ninguém, vamos pesquisar! – os três ainda a olhavam sem entender. – O Ministério a proibiu, mas deve ter guardado alguma informação pra si mesmo, livros, documentários, alguma coisa!
–
–
Como uma biblioteca de livros proibidos? – Harry quis saber.
–
É! – Hermione respondeu, entusiasmada, os olhos brilhantes. – Pode ser... Ouviram a voz de Tonks na cozinha. Baixaram mais o tom de voz.
E como vamos descobrir se isso existe mesmo? Não dá pra simplesmente entrar lá, depois do que aconteceu com a profecia, devem ter aumentado a segurança. – Gina comentou.
–
–
Bom... podemos encontrar uma maneira... – Hermione disse, pensativa. Tonks apareceu na varanda, sorridente. Seu cabelo mudou rapidamente de azul para rosa
pink. Olá! – os cumprimentou. – Harry, quero falar com você... – disse ela, aproximando-se. – Onde está o Lupin? Ele ainda não voltou de lá?
–
Elisa Vrastani - Magia, Poder e Destino I
71
Não... Que eu saiba não, eu nem sei onde é “lá” – Harry estranhou a pergunta. – Por que não pergunta ao Sirius? Está acontecendo alguma coisa?
–
–
Não! Só curiosidade... O Sirius está ocupado falando com Dumbledore.
–
Dumbledore?! – perguntaram surpresos.
–
É. Ele pediu pra eu vir chamá-los, quer falar com vocês.
Os quatro entraram apressados na cozinha. Sentado à mesa, com Sirius e Molly, Dumbledore tomava chá tranquilamente. Crianças... – Dumbledore os observou seriamente. – Vim lhes fazer um comunicado... O início do ano letivo se aproxima e eu quero que os três, ou quatro... – disse olhando para Gina. – Esqueçam o caso Malfoy. Estou cuidando pessoalmente desse assunto, então o deixem em paz, não se envolvam com ele de nenhuma forma...
–
–
Ele vai voltar a Hogwarts? – Harry perguntou, incrédulo.
Se ele assim quiser, irá. E não quero que comentem com mais ninguém o que descobriu, sobre ele ser agora um Comensal.
–
–
Mas por quê? Ele vai continuar solto? – Rony estava indignado.
–
Não espero que entendam por enquanto, só que obedeçam. Os quatro se olharam com espanto.
–
Tudo bem então, se ele fizer o mesmo... – Harry replicou.
Neste caso – Sirius falou – Não será perigoso para Harry, ter um Comensal da Morte adolescente sob o mesmo convívio?
–
Não é perigoso pra mim, é perigoso para todos os alunos – Harry corrigiu. – Pelo menos até nós descobrirmos o que ele está tramando.
–
Você não se inclui nesse “nós”, nenhum de vocês, não ouviram o que Dumbledore disse? – Molly ralhou com eles. – Não é pra sair por aí procurando confusão com Comensais!
–
Eu não vou procurar por nada, mas não garanto que não vou achar alguma coisa... – Harry disse, contrafeito.
–
Por falar nisso – Dumbledore o ignorou – Este ano vocês serão escoltados até a plataforma 9 ¾ pelos funcionários do setor de defesa do Ministério. Sairão daqui por chaves de portal.
–
–
Até a plataforma? – Molly estranhou – Por que não direto para o castelo?
Chamaria muita atenção para Harry, agora que o Profeta decidiu que ele não é louco, e sim um alvo interessante para uma nova rede de boatos. Acredito que escondê-lo só irá incentiválos.
–
Não creio que isso seja significante, o mais importante é a segurança deles. – Sirius fez coro à Sra. Weasley.
–
–
Nosso pessoal também estará lá, Sirius – Dumbledore assegurou.
Elisa Vrastani - Magia, Poder e Destino I
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CAP. 9 – EMBARQUE No dia do embarque acordaram cedo. Edwiges amanheceu em sua janela esperando a partida, porém relutou em voltar para a gaiola. –
Você a deixou solta por tempo demais – Sirius observou. – Me dê ela, eu a prendo pra você.
Não, tudo bem, ela pode ir voando quando quiser – acariciou as penas de sua coruja. – Você sabe onde me encontrar quando sentir saudades.
–
Edwiges soltou um pio agudo de despedida e voou para perto de uma coruja castanha, provavelmente não domesticada, que os olhava desconfiada. Agora tinha o espelho pra falar com Sirius, seu único correspondente, e poderia usar as corujas de Hogwarts. Despediu-se de Monstro e foi com Sirius, por meio de aparatação acompanhada até a Toca, onde se reuniram aos demais. O Sr. Weasley também iria acompanhá-los. Quatro funcionários do Ministério já aguardavam impacientes. –
Está com o espelho? – Harry perguntou a Rony.
No meu malão – Rony afirmou enquanto enchia a jaula de Pichitinho com petiscos para fazêlo se calar.
–
–
Sirius, deixei meu par de espelho em cima da minha cama, pra quando quiser falar comigo...
Ah, claro, depois eu vejo... – ele disse, afastando Harry dos funcionários do Ministério, que os estudavam interessados.
–
Cuidado com o que diz, Scrimgeour anda muito interessado em saber o que a Ordem anda fazendo, e em você também. – Sirius sussurrou a Harry. – Todos essas especulações no Profeta...
–
Tudo certo, Vamos? – A Sra. Weasley saiu, após todos terem pegado suas malas, e lançou um feitiço na casa.
–
Dividiram-se em dois grupos, cada um com dois funcionários do Ministério.
A plataforma estava cheia de alunos, apesar de ainda faltar meia hora para o embarque. Outros aurores rodeavam a área que tinha sido reservada para a chegada deles. Várias pessoas olhavam curiosas, algumas apontavam. –
Que bom que chegamos discretamente – Rony comentou, corando com a atenção recebida.
Foram direto ao trem, dois funcionários do Ministério os impediram de entrar enquanto outros três verificavam o interior. Harry se agitou, incomodado, olhou ao redor, ignorou os olhares curiosos dos mais próximos. Moody se aproximou deles mancando. –
Não sei pra quê todo esse circo! Era pra fazer o garoto passar despercebido!
Cuidado, Alastor. – Arthur o advertiu. Baixou mais a voz. – Devíamos ter esperado que o Ministro fosse querer mostrar presença, com tudo o que está acontecendo...
–
Ainda assim há muitos Comensais aqui. – Harry comentou, tentando ignorar aquela sensação incômoda, a mesma que sentira na loja de vestes do Beco Diagonal.
–
Elisa Vrastani - Magia, Poder e Destino I
73
Eles não se atreveriam a aparecer por aqui, não com toda essa exibição do Scrimgeour. – Sirius garantiu.
–
Harry não contara a eles, depois da reação que tiveram quando souberam que dividia com Voldemort sua habilidade de voo, resolvera omitir certos fatos. Um casal sorridente se aproximou deles, cumprimentando-os. O Sr. Weasley se adiantou apertando-lhes as mãos. Harry observou impacientemente. Está tudo bem com vocês, Arthur? – o homem perguntou, indicando os aurores que os rodeavam à curta distância.
–
–
Tão bem quanto Voldemort possa estar! – Harry respondeu, desafiante, encarando-os.
O homem empalideceu, o sorriso morrendo aos poucos em suas feições congeladas, a mulher corou e o arrastou rapidamente para longe. –
O que está fazendo?! – Sirius sussurrou, mortificado.
–
Eles são Comensais! – Harry se justificou.
–
Shh... – Moody chiou pedindo silêncio.
–
Tudo bem? Algum problema? – um dos aurores se aproximou.
–
Não... – Sr. Weasley respondeu, pálido. – Tudo bem.
–
Pode deixar, Lence, eu fico com eles. – Quim se aproximou.
–
Tudo bem? – repetiu quando o outro voltou ao seu posto.
Harry, eu os conheço há anos – Arthur comentou, ignorando a pergunta de Quim. – Matthew Stout trabalha comigo no Ministério...
–
Sr. Weasley... – Harry hesitou olhando os rostos surpresos e apreensivos. Gina se aproximou dele, seus braços se tocando. – Eu senti a Marca Negra neles como senti em Malfoy, naquele dia, no Beco Diagonal...
–
–
Sentiu!? – a Sra. Weasley perguntou, perplexa.
–
E você nos conta isso assim? Aqui!? – Moody reclamou. Quim tentou disfarçar, se mostrando pouco interessado enquanto ouvia atentamente.
–
Onde estão? – Moody perguntou, ansioso.
Harry ficou cabisbaixo, olhando para os próprios pés. Estava se sentindo pior agora, ao admitir mais essa anormalidade. Tem três deles à minha direita, cinco mais à frente... – concentrou-se tentando aumentar sua área de percepção. – Tem um grupo à esquerda, lá no final, um deles dentro do trem... – levou a mão à cicatriz que formigou em protesto, pelo esforço.
–
Chega! – Sirius se adiantou e ergueu seu queixo, para olhar em seus olhos. – Não precisa fazer isso! Eu não quero que faça.
–
–
Vem comigo, Quim? – Moody perguntou, afastando-se.
–
Os alunos... – Molly advertiu.
–
Só vamos checar. – Quim a tranquilizou.
Alguns aurores lançavam olhares curiosos agora. Sirius se postou ao lado de Harry olhando todos ao redor, como se algo pudesse saltar sobre eles a qualquer momento. Elisa Vrastani - Magia, Poder e Destino I
74
Um grupo de garotas, que Harry imaginou serem da Corvinal, passou sorrindo para eles. Gina segurou seu braço e encostou a cabeça em seu ombro, enquanto observava as garotas se afastando constrangidas. –
Podem entrar agora – dois aurores se aproximaram, ajudando a recolher as bagagens.
Foram levados até uma cabine, onde guardaram seus pertences no bagageiro. Voltaram pra se despedir. Moody e Quim haviam voltado. Encontrei um grupo de pais de alunos lá adiante. – Moody comentou em voz baixa. – A maioria da Sonserina. – rosnou para os outros.
–
Eles têm de embarcar os filhos... – Harry comentou, dando-se conta de que apesar de serem Comensais, tinham famílias e levavam uma vida normal nos intervalos.
–
–
Não tinha nenhum adulto dentro do trem, mas o jovem Malfoy estava lá. – Quim concluiu.
–
Vamos! Faltam menos de cinco minutos! – um auror apareceu conduzindo-os ao trem.
Despediram-se rapidamente e foram acenar da janela, até que o trem se afastou e os perderam de vista. Voltaram à cabine. Rony e Hermione se despediram prometendo voltar mais tarde.
–
Vocês não podem se afastar, terão de ficar na cabine – um dos dois aurores, Sthephen e Derek, que iriam acompanhá-los na viagem, barrou a passagem deles.
–
–
Somos monitores, temos que ir para o primeiro vagão. – Rony informou.
–
Não desta vez, são ordens do Ministério.
–
Mas temos que patrulhar os corredores... – Hermione tentou argumentar.
Não se preocupe, há aurores fazendo isso, nenhum aluno tem permissão de perambular pelos corredores – Derek disse, taxativo.
–
Rony e Hermione entraram na cabine, emburrados. Rony fechou a porta. –
Dá pra acreditar? – reclamou ao se jogar no banco.
–
Será que Tonks também está aqui? – Gina perguntou esperançosa.
–
Não – Hermione a desiludiu. – Ela teria vindo falar com a gente. Ouviram a voz de Sthephen repreendendo um dos alunos.
Mesmo se eu tivesse obtidos NOMs suficientes, não iria querer ser igual a esses caras... – Harry comentou.
–
–
Nem eu! – Rony confirmou.
Por falar nisso... – Hermione baixou o tom de voz. – Acho que sei como a gente pode entrar no Ministério...
–
Ouviram uma voz conhecida soar do lado de fora. –
São nossos amigos, só queremos falar com eles! – Neville argumentou ousadamente. Harry se adiantou e abriu a porta.
–
Eles são nossos amigos! – Harry declarou ao avistar Neville e Luna.
Podem esperar até chegarem ao castelo! – Derek ordenou arrogantemente. Alguns alunos arriscaram colocar a cabeça pra fora da porta, curiosos.
–
–
Eles estiveram conosco no Ministério... – Gina informou decidida.
Elisa Vrastani - Magia, Poder e Destino I
75
Ah...Sr. Longbottom e Srta. Lovegood? – Derek perguntou a eles, com interesse, enquanto Sthephen fazia os curiosos voltarem às suas cabines.
–
Neville corou violentamente, mas manteve-se firme. –
Somos! Derek os levou para a cabine, fazendo com que os quatro entrassem, e fechou a porta.
–
Que caras antipáticos – Luna observou como se comentasse o tempo.
–
Por que disse aquilo? – Rony perguntou à Gina.
Porque o Ministério parece tão interessado em vigiar a gente quanto aos seguidores de VocêSabe-Quem – Gina explicou, paciente. – E a reação deles, lá fora, só confirmou isso!
–
Hermione sorriu para ela, orgulhosa. Então é verdade o que estão dizendo no trem? – Neville perguntou, alarmado. – Vocês foram presos por invadirem o Ministério?
–
–
Não! Claro que não! – Hermione se surpreendeu. Um auror, que não era Derek nem Sthephen, passou pelo corredor olhando-os pelo vidro.
–
Se bem que é isso o que parece, não é? – Rony olhou para os outros, preocupado. Harry puxou a varinha, apontou para a porta e sussurrou.
–
Abaffiato! É um feitiço que li no Lord – explicou. – Para que não ouçam a nossa conversa. Hermione olhou pra porta, desconfiada. Gina sorriu para Harry, parabenizando-o.
–
Continue, Mione. – Gina pediu. – Que ideia você teve pra entrar no Ministério?
–
Vocês vão invadir o Ministério, de novo?! – Neville estava surpreso.
–
“Não!!” – Hermione exclamou. – “Vamos...” – Rony disse ao mesmo tempo.
–
Não vamos? – Harry perguntou, confuso.
Eu nunca disse que iríamos invadir! – Hermione tirou da mala uma edição do Profeta e mostrou a eles um anúncio.
–
“Estágio no Ministério” –
Mas isso é só para alunos do sétimo ano – Gina esclareceu, pegando o jornal.
Pretendo fazer um pedido especial à Professora Minerva... Com os meus NOMs... – disse encabulada. – Acho que ela abrirá uma exceção. E você, Harry, tenho certeza que o Ministro não negaria...
–
De jeito nenhum! – interrompeu – Não vou pedir nada ao Ministro! Olha lá fora, acha mesmo que iam me deixar circular pelo Ministério procurando arquivos secretos ou livros proibidos?
–
Vocês vão entrar na sessão de livros proibidos do décimo nível? – Luna perguntou, interessada.
–
–
Existe mesmo isso? – Rony perguntou, perplexo.
Claro, meu pai sempre quis entrar lá, mas Fudge recusou seu pedido, três vezes. Só funcionários do alto escalão podem ter acesso...
–
Elisa Vrastani - Magia, Poder e Destino I
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Hermione ficou encantada. Harry repassou mentalmente as possibilidades. –
Por que só vocês dois vão entrar lá? Eu também quero ir! – Gina reclamou.
Acha que conseguiremos organizar uma excursão ao Ministério? Nem eu sei como vou conseguir entrar... – Harry tentou persuadi-la.
–
–
Uma excursão... – Hermione repetiu, pensativa.
A senhora que passava com o carrinho de guloseimas apareceu, de cara amarrada. Harry foi até a porta, os outros o acompanharam em fila. Sthephen ficou supervisionando-os à curta distância enquanto compravam doces. Algum tempo depois, um outro auror parou em frente à porta deles, provavelmente tentando ouvir o que diziam. Harry foi obrigado a retirar o feitiço Abaffiato para não levantar suspeitas, então, se limitaram a conversar sobre amenidades. Harry recostou-se, olhando a paisagem e sentindo o perfume floral dos cabelos de Gina, ao seu lado, acabou adormecendo.
Acordou com o solavanco do trem, ouviu vários protestos e exclamações. O trem foi diminuindo, aos poucos, a velocidade. –
O que houve? – perguntou enquanto tirava os óculos e os limpava na ponta da camisa.
Não sei – Hermione respondeu, consultou o relógio. – Nossa! Parece que vai cair uma tempestade, está escurecendo rápido!
–
Alguns minutos depois o trem parou. Viram alguns aurores passarem agitados. Ficaram sentados aguardando por vários minutos. Rony baixou a janela pra tentar ver melhor. –
E aí, Simas! O que está acontecendo? – Rony gritou da janela.
Não sabemos. Tudo bem aí, Rony? – ouviram Simas respondendo de algum lugar não muito longe.
–
Aos poucos vários outros alunos foram aparecendo nas janelas, pra conversarem uns com os outros, já que não podiam sair para os corredores. Não demorou muito para os aurores começarem a surgir reclamando e lacrando as janelas com magia. Alguém começou a vaiar, logo, vários outros se juntaram a ele numa onda de gritaria que se espalhou pelo trem, voltando a morrer em poucos minutos, provavelmente, por coação. Meia hora depois estavam impacientes e o trem continuava parado. Harry se levantou e foi para o corredor. –
O que houve com o trem? – perguntou a um outro auror que não era Sthephen nem Derek.
Fiquem em suas cabines!! – foi a única resposta que recebeu, obedeceu antes que resolvessem lacrar as portas também.
–
Bichento, que passara a manhã dormindo tranquilo no bagageiro, desceu agitado. Quarenta minutos depois ainda estavam no mesmo lugar. Rony se levantou decidido. Vou pedir pra ir ao banheiro e tentar encontrar algum auror da Ordem que possa nos dizer alguma coisa.
–
Harry se levantou também.
Elisa Vrastani - Magia, Poder e Destino I
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–
Eu vou com você, vou levar minha capa...
Não é um bom momento para se meterem em confusão! Vocês têm de se comportar, senão, não aceitarão nosso pedido para ir ao Ministério! – Hermione reclamou levantando-se também.
–
Rony abriu a porta e espiou o corredor, saiu calmamente. –
Não tem ninguém aqui...
Os outros se juntaram a ele, examinando ao longo do corredor, em ambos os lados não viram ninguém. Todas as luzes se apagaram ao mesmo tempo lançando o trem na total escuridão. Nenhuma luz vinha das janelas. Os gritos se espalharam pelo trem. Harry sentiu uma mão deslizar pelo seu braço e segurar a sua. –
Gina... – sussurrou.
–
Harry?
–
Mione!?
O que vocês estão fazendo? – ouviram a voz de Gina se aproximando. Harry puxou a varinha.
–
–
Lumus!
A luz de sua varinha iluminou o corredor e diminuiu rapidamente de intensidade deixandoos na penumbra. Os outros o imitaram e o mesmo aconteceu. –
LUMUS! – Harry reforçou o feitiço, mas o fato se repetiu.
–
O que houve com nossas varinhas? – Rony perguntou.
Avistaram vários outros pontos mal iluminados surgindo no corredor. Aos risos, o restante dos alunos começaram a sair, também não estavam conseguindo conjurar o feitiço apropriadamente. Essa escuridão não é normal... – Harry disse, lembrando-se de uma cena familiar. – Fiquem juntos!
–
Foram seguindo pelo corredor junto aos demais alunos que tropeçavam e esbarravam uns nos outros achando graça. Não viram nem ouviram nenhum auror. Alguns alunos se amontoavam na porta tentando enxergar alguma coisa do lado de fora, o céu estava escuro, mal distinguiam o contorno da floresta próxima à linha do trem. Muitos começaram a descer para os trilhos, ansiando por liberdade. Rony pulou do trem e conjurou degraus enquanto ajudava Hermione a descer. Voltem para o trem! – ouviram um auror esbravejando ao longe. Outros pontos de luz se aproximavam rapidamente também gritando ordens.
–
–
Que caras malas!! – alguém reclamou próximo a eles.
–
Há Comensais aqui, Harry? – Hermione perguntou em voz baixa
Não... só um... – ficou parado aguardando enquanto um feixe de luz se aproximava, a varinha apontada para o chão tentando iluminar o caminho.
–
–
Aonde está indo, Malfoy? – Harry perguntou, barrando seu caminho.
Você é bizarro, Potter! – Draco ergueu a varinha tentando iluminar à sua volta. – Por falar nisso, você me deve doze galeões!
–
–
E você me deve um muito obrigado!
Elisa Vrastani - Magia, Poder e Destino I
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Não é culpa minha se tem tanta gente querendo te ver morto... – disse arrogantemente. – Não se meta comigo! – desviou e continuou se afastando.
–
Harry o observou partir. Rony o puxou pela blusa. –
O que está fazendo? Esqueceu o que Dumbledore disse?
Pra onde ele está indo? Sozinho, no escuro... Deve estar tramando alguma coisa.– Harry disse, pensativo.
–
–
Ele não vai fazer nada na frente dos funcionários do Ministério...
Harry deixou Rony falando sozinho quando ouviu um auror se aproximar ralhando com um grupo de alunos para que voltassem a entrar no trem. Foi até ele enquanto os alunos se afastavam, resmungando, em direção ao Expresso. –
O que está acontecendo? Por que ninguém retirou esse feitiço ainda?
–
O que... Quem falou em feitiço, garoto?
–
Essa escuridão consumindo a luz de nossas varinhas é o quê, então?
Potter? – outro auror colocou a mão em seu ombro, virando-o para ver ser rosto. – Vem comigo! Travor, pode continuar a patrulha – pediu enquanto o conduzia para longe de ouvidos curiosos.
–
–
Sou George Killingbeck, estive em sua festa de aniversário... Vocês estão bem?
Estávamos procurando por alguém da Ordem – Harry chamou por Rony, lançou um Lumus em direção ao trem para localizá-los. Eles se aproximaram enquanto a luz de sua varinha se enfraquecia novamente. – O que houve com o trem? – voltou-se novamente para George quando os seis se reuniram.
–
O maquinista sumiu – ele aguardou o término das exclamações surpresas para continuar. – Não sabemos como... O trem parou e quando Lence foi até lá, não encontrou ninguém. A escuridão caiu à nossa volta como um feitiço escudo, não conseguimos aparatar, nem as Chaves de Portal estão funcionando aqui.
–
Então temos que sair daqui, não tem ninguém que possa guiar o trem? – Hermione perguntou.
–
Nós estávamos lá na frente agora, examinando a área, os trilhos sumiram, simplesmente não estão mais lá. Já enviamos três pessoas para buscar ajuda além da barreira, nenhum deles voltou até agora, nem sabemos se conseguiram passar. Temos que aguardar, estamos desfalcados, somos apenas nove agora, e não sabemos quando irão nos atacar.
–
–
Vão nos atacar? – Neville aproximou-se mais de Luna.
Como o Harry percebeu, essa escuridão não é normal... Não sabemos que feitiço é esse, não conseguimos removê-lo. Talvez estejam tentando nos desorientar no escuro, temos que aguardar enquanto a ameaça não toma forma...
–
Ouviram um som alto, próximo, seguido de um tremor, parecia uma árvore sendo arrancada. O som se repetiu. Vários alunos levantaram as varinhas, assustados. Ouviram três aurores lançarem o Lumus Máxima na direção em que vinha o som. Uma extensa área foi momentaneamente iluminada. Gritos de medo ressoaram pela floresta.
Elisa Vrastani - Magia, Poder e Destino I
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CAP. 10 – O MENSAGEIRO PRATEADO A escuridão caiu novamente e com ela algo que fez o chão estremecer. Uma chuva de folhas caiu sobre eles e a seguir novamente o som de algo atingindo o solo. –
Estão nos atacando! – ouviram um auror gritar ao longe, correndo em direção à floresta.
Escondam-se, fiquem no trem! – George os empurrou em direção ao Expresso, virou-se e correu para a floresta.
–
Vários alunos ainda gritavam, alguns voltaram para o trem, outros correram, sumindo na escuridão. Ficaram parados no mesmo lugar, a pouca luz só permitia que visualizassem nove pontos luminosos correndo em direção ao desconhecido. –
O que eram aquelas coisas? Gigantes? – Gina perguntou, nervosa.
Não deu pra ver direito... acho que não – Luna apontou a varinha para o alto – Perículum – uma chuva de faíscas vermelhas subiu até o manto negro que os cobria e se espalhou.
–
Ótima ideia, Luna! – Neville disse, erguendo sua varinha e fazendo o mesmo, os outros o imitaram.
–
Vários pontos luminosos, como estrelas, se espalharam iluminando a cena de vermelho. Quatro monstruosos seres de barro com mais de três metros de altura arrancavam as árvores pela raiz como se fossem grama. Viram os feitiços lançados pelos aurores os atravessarem sem causar danos. Temos que tirar o trem daqui antes que o esmaguem! – Harry disse, correndo para a cabine do maquinista.
–
–
Mas e os trilhos?! – Gina o lembrou. – Retiraram os trilhos!
–
Não podemos enfeitiçar o trem? E se usarmos o Locomotor?
O Expresso é muito extenso, acho que só nós seis não vamos conseguir... mas podemos tentar – Hermione disse, apontando a varinha para o trem. – No três...1,2,...
–
Locomotor! – Gritaram juntos. Nada aconteceu. Avistaram ao longe os aurores tentando interceptar os galhos e troncos lançados pelos homens de barro, haviam desistido do confronto direto.
–
Precisamos de ajuda... – Harry disse, apreensivo. Apontou a varinha para a própria garganta e murmurou – Sonorus – virou-se para o trem. – Armada de Dumbledore! Precisamos de vocês aqui fora, no primeiro vagão!
–
Não demorou para que alunos começassem a saltar do trem e correr na direção deles. Contaram nove pessoas: Dino, Simas, as gêmeas Parvati e Padma, Cátia, os irmãos Cólin e Dênis Creevey, Ernesto e Justino. Obrigado por terem vindo! – Harry não deixou de se surpreender por terem atendido prontamente ao seu pedido. – Vamos tentar tirar o trem daqui, venham comigo.
–
Deram a volta no trem, ficando do lado oposto ao dos atiradores de árvores. –
Preciso que se espalhem, vamos usar o Locomotor no trem para tentar movê-lo. No três...
Os catorze se espalharam do primeiro ao último vagão e aguardaram. Harry começou a contagem, sua voz se sobrepondo ao som da batalha travada pelos aurores. Elisa Vrastani - Magia, Poder e Destino I
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–
Um, Dois...LOCOMOTOR!
O trem se ergueu alguns centímetros, flutuando acima do trilho. Alguns alunos dentro do trem gritaram. Vários disputavam um espaço à janela para colarem ao vidro seus rostos curiosos. Ficaram empolgados, com as varinhas firmes na mão, foram conduzindo-o para frente. O trem deslizou com facilidade. Harry começou a correr incitando os outros a fazerem o mesmo. Foram conduzindo-o para longe da batalha e dos troncos de árvores que eram lançados. O trem parou de repente. Ouviram alguns gritos e sons de malas caindo. Não conseguiram mais movê-lo. Tem alguma coisa aqui, barrando a passagem. – Harry tentou lançar luz à frente, mas esta foi rapidamente consumida. Tinham chegado à extremidade do escudo. Seu peito estava pesado e os outros também pareciam muito cansados pelo esforço.
–
Andou para a frente, em direção à escuridão, com o braço estendido, sua mão a atravessou facilmente, era como ar, não sentiu nada sólido impedindo sua passagem, nenhuma mudança de temperatura, nada. Continuou avançando, seu braço, aos poucos, sumindo na escuridão. Gina o puxou pelas vestes. –
Não faz isso! Não sabemos o que tem do outro lado!
Ouviam, ao longe, a tentativa dos aurores em derrubar as criaturas. O trem pousou com um baque forte causando mais gritos. Precisamos abrir espaço pra deixar o trem passar – Harry disse aos outros. Todos ficaram em silêncio, ainda cansados. Denis se agachou, arfando. – Hermione? – Harry pediu, esperançoso.
–
–
Eu não sei... – Hermione disse angustiada. – Talvez uma luz cortante... Harry ergueu a varinha disposto a tentar de tudo.
Lumus Secare! – a luz atravessou o escudo, ao invés de desaparecer, se manteve forte, Harry moveu a varinha para fazer a luz deslizar cortando o bloqueio, os outros o ajudaram.
–
Com muito esforço conseguiram abrir uma janela. Viram os trilhos brilhando à luz do luar, logo à frente. Olhou para trás, cinco aurores jogando sobre as criaturas algo brilhante, que saía de suas varinhas, parecia ser água. –
Alguém tem que ir lá fora buscar ajuda – disse.
–
São mais de três horas de trem, nunca chegaríamos a pé! – Parvati observou.
–
Vai você, Harry, você tem uma firebolt! – Colin afirmou, confiante, encostando-se no trem.
Precisamos de um mensageiro veloz, que consiga passar pelo o que estiver lá fora, se houver alguma coisa. – Harry explicou. Não abandonaria seus amigos.
–
–
Um Patrono! Patronos podem enviar mensagens – Dino informou.
–
A janela está se fechando... – Luna apontou.
A janela foi se fechando rapidamente, a escuridão retomando-a. Harry apontou sua varinha para o espaço restante e berrou com urgência – Expecto Patronum! – o enorme veado prateado saltou de sua varinha, atravessando a passagem. –
Pontas! Pontas! – Harry o chamou com urgência. – Vá para Hogwarts, traga Dumbledore! Seu veado empinou nas patas traseiras e disparou deixando um rastro de luz, sumiu antes
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que a passagem se fechasse por completo. –
Você conseguiu? Enviou uma mensagem?
Eu não sei, Cátia, nunca fiz antes, não sei se vai dar certo – disse ele, escorregando para o chão, estava muito cansado. Apontou a varinha para a própria garganta e murmurou – Quietus.
–
Ouviram alguém gritar ao longe, um auror. Temos que ajudá-los... – Harry se obrigou a levantar e fingiu escalar o trem enquanto flutuava com dificuldade para o teto. Ernesto e Justino tentaram acompanhá-lo, sem sucesso.
–
Ficou olhando os quatro aurores, resistindo, cambaleantes. As criaturas continuavam a atirar troncos de árvores e galhos ao longe, não estavam mirando o trem. Harry olhou para a luz fraca em sua varinha e percebeu, alarmado, que não estavam sendo atacados de verdade, ainda não.
Harry começou a correr pelo teto do trem, saltando os espaços entre os vagões. Percebeu que os amigos o acompanhavam. Quando chegou ao último saltou para o chão. Eles não estão nos atacando – informou com urgência. – Estão nos distraindo, nos enfraquecendo! Cada vez que usamos magia ficamos mais fracos!
–
–
Como assim, Harry? – Simas perguntou, mal conseguindo se manter de pé.
Olhe pra você! Olhe pra gente! Acho que não conseguiria conjurar outro Patrono se precisasse de um! E os aurores estão lutando sozinhos... – disse, apontando-os.
–
Harry correu em direção aos quatro aurores que ainda restavam, Lence, Travor, Seth e Rowan, não esperou para saber se o tinham compreendido. Suas pernas tremiam, mas se obrigou a continuar. Eles perceberam, surpresos, sua aproximação. –
Venham! Precisam vir comigo!
–
O que está fazendo? – Seth perguntou, mal resistindo enquanto Harry o arrastava para longe. Seus amigos cercaram os outros três e os arrastaram também. Pararam a meio caminho do
trem. –
Estão loucos? – Rowan perguntou.
Essas criaturas não estão nos atacando. Olhem para elas... – os monstros de barro continuavam incansáveis, lançando os galhos para o vazio, sem nenhuma consciência da ausência de suas tentativas em pará-los. – Eles são só uma distração, para fazer com que lutem enquanto esse escudo os enfraquece! – os quatro observaram as criaturas em silêncio, visivelmente esgotados.
–
–
Temos que sair daqui antes que venham nos atacar de verdade! – Simas os avisou.
Tem uma maneira de abrir uma passagem através do escudo, mas não dura muito tempo... – Harry continuou. – Vamos precisar da ajuda de vocês pra passar todo o trem. Onde está George? – perguntou apreensivo. – E os outros?
–
Eu vi George cair perto de mim, mais adiante... – Seth levantou-se, cauteloso, ainda observando as criaturas.
–
–
Temos que levá-los para o trem...
–
Você é muito esperto, jovem... – Uma voz forte soou estrondante próximo a eles.
Elisa Vrastani - Magia, Poder e Destino I
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Olharam ao redor, alarmados, não viram nada. Os três gigantes de terra foram se desfazendo aos poucos. Cinco corpos caíram do céu, rodeando-os. Os cinco aurores que haviam desaparecido durante o combate. Harry foi até o mais próximo e se agachou. Teve receio de tocá-lo, não sabia se estava vivo ou morto. Estão vivos... – a voz soou novamente, como se lesse seus pensamentos. – Não matamos sem necessidade...
–
A árvore mais próxima teve os galhos agitados. Olharam para cima e conseguiram distinguir uma enorme sombra se movendo. Lence tentou acertá-la com um feitiço, a fraca luz vermelha se apagou assim que saiu de sua varinha. Ouviram o ar sendo cortado por um movimento rápido e no segundo seguinte o auror havia desaparecido. –
Voltem para o trem, rápido! – Rowan gritou para eles.
Harry percebeu a luz do luar surgindo aos poucos, iluminando o que eram agora três grandes montes de terra, e com ela, algo mais. Olhou para os amigos temendo o que viria a acontecer. Viu o trem mais adiante, cheio de alunos, e além dele, nenhum sinal de seu Patrono ou de reforço. Vocês podem ir... – a sombra se agitou, aumentando de tamanho, esticou as asas. – Foi interessante observá-los... mas o falante da língua vem comigo...
–
Harry sentiu algo o envolver prendendo seus braços. Foi erguido tão rápido que se sentiu tonto, pensou que fosse vomitar. O corpo forte da criatura o apertou, dificultando sua respiração, ouviu gritos abaixo dele. Sua cicatriz doeu intensamente. Imobilizado, Harry se concentrou em tentar respirar e fechar a sua mente. –
O que pensa que está fazendo, Kariel?!
A voz familiar chegou aos seus ouvidos. Ouviu gritos ao longe, pensou em seus amigos lá embaixo, tentou se mexer mas não conseguiu, sentiu a varinha escorregar de sua mão. –
Esse assunto não é mais seu! – a criatura bradou, com raiva.
–
O garoto é meu por direito! Você sabe disso! – Voldemort estava furioso.
–
Mas você não o tem! Como pretende reclamá-lo?
Algo atingiu a criatura que o prendia, o corpo de serpente afrouxou o aperto em volta do seu. Deixou-se cair, tocou o chão e rolou para longe. Viu quatro formas, aparentemente humanas, se movendo na escuridão da floresta. Procurou pela varinha, estava muito escuro para que pudesse enxergá-la, estava sem forças e seu corpo doía por causa do aperto da criatura, a dor em sua testa o deixava ainda mais fraco. – Accio! – repetiu as palavras se concentrando ao máximo que pôde, mas não conseguiu invocá-la. Olhou para cima, os dois brigavam por ele, Kariel bateu as asas com ferocidade, com um curto gesto de varinha Voldemort o atingiu, ele se afastou, espantado, segurando o braço ferido. Harry percebeu a aproximação de cinco Comensais, as quatro figuras avançavam rapidamente em sua direção, estava cercado. Sua cicatriz ardia incontrolavelmente, continuou procurando por sua varinha. Os Comensais se aproximaram e passaram por Harry, se colocando entre ele e os quatro desconhecidos. Não parou para analisar isso, queria encontrar logo sua varinha e sair dali. – “Lumus” – pronunciou, desesperado, mas não viu nenhuma luz, estava no meio de uma batalha e indefeso. Ouviu o tronco da árvore próxima estalar ameaçadoramente quando o primeiro feitiço a atingiu, arrastou-se para longe. Eles se confrontavam ferozmente, ouviu o urro de um animal em Elisa Vrastani - Magia, Poder e Destino I
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algum lugar próximo. Tentou se levantar e correr, mas teve a cabeça puxada violentamente para trás quando uma mão agarrou seus cabelos. Tentou se desvencilhar e sentiu a lâmina fria em sua garganta. Desequilibrou-se, caindo de costas, quando o dono da mão que o segurava foi jogado longe. Voldemort estava acima dele. A dor era insuportável, não conseguia afastá-la desta vez, desistiu, a qualquer momento perderia a consciência, concentrou seus pensamentos em Voldemort, e desejou que ele acabasse logo com aquilo. O alívio foi imediato, sentiu toda a sua fúria e determinação. Voldemort olhou para baixo em sua direção, seus olhos vermelhos brilharam. Sua distração lhe custou um golpe no peito que o lançou para longe, Harry também sentiu seu espanto. As imagens que via não estavam sendo vistas por seus olhos, ao mesmo tempo tinha total consciência da batalha que estava sendo travada à sua volta. Sentiu satisfação, imprópria para a situação em que se encontrava, sozinho e sem sua varinha, o sentimento não era seu. Viu a sombra da criatura alada no chão, o escudo havia se rompido. Correu sem certeza de estar saindo ou se aprofundando mais na floresta.
Os membros da AD ficaram paralisados de espanto, sentiram o ar se agitar perto deles, as gêmeas gritaram. Rony olhou para Harry, mas ele não estava mais lá, olhou à sua volta, assustado. –
Harry?! Onde ele está?
Hermione agarrou seu braço, olhava para o alto. Ouviram a voz de Voldemort. Ele flutuava mais à frente, acima das árvores, parecia falar com a criatura. Venham, rápido! Voltem para o trem! – Travor disse com urgência para eles. Alguns alunos, dentro do Expresso gritaram.
–
–
Hermione! Eles levaram o Harry! – ela lhe devolveu o olhar apavorado.
Rápido, temos que fazer alguma coisa! – Gina tentou correr em direção à floresta. Rony a segurou.
–
Vocês têm de levar os feridos para o trem – Rony se dirigiu aos membros da AD. – Depois ajudem os aurores a levá-lo para Hogwarts. Gina, você vai com eles.
–
Quem disse que é você o líder na ausência dele! Eu também vou ajudá-lo! Me larga, Rony, estamos perdendo tempo!
–
Ouviram o som do confronto, dentro da floresta. –
Leve ela com vocês, não precisam nos esperar! – empurrou Gina na direção de Rowan.
Vocês não vão entrar lá! Esperem aqui! – ele gritou enquanto se afastavam, conseguiu segurar Gina a tempo.
–
Kariel estava à sua frente procurando algo entre as árvores logo abaixo, imobilizou-o com cordas flamejantes. Harry parou, confuso, a sucessão de imagens o desconcentrava, obrigou-se a continuar Elisa Vrastani - Magia, Poder e Destino I
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correndo. Ouviu o som de um animal o perseguindo. Um Comensal se materializou à sua frente fazendo-o derrapar enquanto tentava evitá-lo. Ouviu-o gritar algo e a seguir o som do animal, urrando furioso. Correu até que suas pernas cederam em protesto. Alguém gritou o seu nome, tentou se guiar pelo som. Rony e Hermione também estavam na floresta, apressou-se para encontrá-los. Kariel se virou na direção de onde vinham as vozes, o atacou obrigando-o a se afastar. Harry parou, atordoado. Hermione correu para ele e se lançou em seus braços. –
Tive tanta medo por você! Você está bem? Está machucado?
–
Harry! Você está bem? – Rony perguntou apreensivo.
–
Agora não... vamos sair daqui... A criatura parou por alguns segundos olhando na direção do trem, não ousou desviar o
olhar . Isso não vai acabar aqui... irmão... – Kariel proferiu as palavras, com raiva, antes de desaparecer.
–
Olhou para o trem, desapontado. Harry parou tentando se concentrar na floresta à sua frente. Rony e Hermione ergueram as varinhas, Harry olhou na direção em que as apontavam. Duas pessoas se aproximavam, não conseguiu visualizar seus rostos, não eram Comensais. Ergueu os braços empurrando os amigos para trás de si, sabia que seus feitiços não seriam suficientes contra eles. Sentiu-se dominar pela fúria, não iria permitir que os amigos se machucassem por sua causa. Não toquem neles! – ordenou. As árvores começaram a se agitar e um vento forte começou a soprar na direção dos dois desconhecidos que haviam parado, observando-os; porém, nenhum vento passou pelos três.
–
Um deles deu um passo à frente, mas o outro segurou seu braço. –
Não! Não o desperte. – disse com a voz clara e tranquila. Pareciam ser totalmente humanos.
Uma luminosidade prateada surgiu pela esquerda e logo Pontas apareceu galopando em volta dos três. Olharam novamente naquela direção, eles haviam sumido. Foram rodeados por aurores do Ministério. Pontas desvaneceu. –
Há Comensais aqui! – Harry informou-os com urgência.
Foram conduzidos às pressas para fora da floresta. Dumbledore e o Ministro estavam com alguns membros da Ordem verificando o trem e acalmando os alunos. Viu o grupo se afastando, pousou na orla da floresta e sentiu seus Comensais se aproximando.
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Harry parou e virou-se para a floresta. Voldemort e os Comensais os observavam a distância. Ficou um tempo vendo a si mesmo, intrigado. Viu varinhas sendo apontadas em sua direção, mas estavam logo atrás de si. Viu Dumbledore correr e parar ao seu lado. Sentiu-se ansioso e frustrado. –
Harry! – Dumbledore o chamou energicamente enquanto o puxava para trás. Recebeu com alívio a dor em sua cicatriz, incomodando-o de leve.
–
Estou bem... – murmurou, cansado.
Deixou-se conduzir para o primeiro vagão, dos monitores. Alguns aurores ainda apontavam as varinhas para a floresta, agora vazia; outros olhavam ao redor, apreensivos, temendo um novo ataque. Os aurores feridos estavam num canto do vagão recebendo a atenção dos membros da Ordem. Somente eles e a AD estavam no vagão, haviam sido isolados dos demais. Gina correu para ele, os olhos vermelhos e inchados. –
Machucaram você?
Não, estou bem... – mentiu enquanto recebia seu abraço. Sentiu o corpo, ainda dolorido, protestar ao seu aperto, mas não quis afastá-la.
–
Dino lançou um olhar resignado aos dois. Aurores se agitavam do lado de fora enquanto Scrimgeour gritava ordens. O trem tremeu por alguns instantes e logo estavam em movimento.
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CAP. 11 – HOGWARTS Foram conduzidos ao castelo pelos membros da Ordem enquanto os aurores coordenavam o desembarque dos outros alunos. A Profª McGonagall os recebeu e os levou, apressada, à Ala Hospitalar apesar das explicações de Justino e Cátia de que não haviam se ferido. O Diretor me mandou uma mensagem dizendo que vocês deveriam ser mantidos aqui! Estiveram expostos a magias desconhecidas... Papoula irá cuidar de vocês... – Saiu e trancou a porta.
–
–
Ela nos trancou mesmo! – Padma reclamou, testando as portas.
Ótimo, já chegaram... – Madame Pomfrey surgiu com uma bandeja cheia de copos. – Vocês vão beber isso aqui... – disse ela, enchendo os copos com um líquido verde e viscoso. – Vai ajudá-los a repor as energias!
–
Harry foi o primeiro a pegar um copo e bebeu sem reclamar, apesar do gosto horrível, os outros se sentiram encorajados a fazer o mesmo. –
Vou mandar trazer o jantar de vocês...
–
Vamos ter que comer aqui? – Ernesto perguntou, indignado.
Ora, Sr. MacMillan! O que esperava? Uma festa? Com tudo o que está acontecendo lá fora? – Madame Pomfrey o repreendeu.
–
Eles se espalharam pelos leitos. Após tomarem banho e vestirem os pijamas da enfermaria receberam o jantar, que como lhes foi explicado estava sendo servido no Salão das respectivas Casas. Os novos alunos haviam sido levados pela Profª Minerva para serem selecionados sem a tradicional cerimônia. –
Você está bem, Potter? – Madame Pomfrey perguntou, aproximando-se. – Não está ferido?
Não. Eu estou bem – respondeu encabulado. – Não vamos poder ir para os nossos dormitórios?
–
Claro que não! Há leitos suficientes aqui! – disse isso e dividiu a enfermaria em duas partes para dar maior comodidade às meninas.
–
Não acredito que vão nos prender aqui até amanhã! – Justino reclamou quando foram deixados sozinhos.
–
Harry ficou pensando nos últimos acontecimentos. Em todas as vezes que tinha se encontrado com Voldemort a dor em sua cicatriz fora insuportável, em todas, ele tentara afastá-lo fechando sua mente, mas sem sucesso. Agora se livrara desse incômodo justamente permitindo que a conexão se estabelecesse, embora outros incômodos tenham substituído a dor, poderia se defender melhor dessa forma. Ouviram a voz do Ministro do lado de fora da porta, fazendo exigências. Ficaram em silêncio enquanto o tom enérgico de Dumbledore se sobrepunha, e depois o som de passos se afastando. Dumbledore não o deixou entrar, por que será? O que está acontecendo lá fora? – Simas se perguntou.
–
Seja o que for não estou a fim de encontrar o Ministro ou os membros do Ministério hoje. – Harry disse, deitando-se. Retirou os óculos e ficou fitando o vazio enquanto ouvia os amigos
–
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conversando. Estava esgotado e dolorido, não demorou a adormecer. Acordaram cedo na manhã seguinte, Cólin e Dênis acordaram, e foram acordando os demais com suas conversas e brincadeiras. Tiveram que tomar o café-da-manhã na enfermaria. As portas continuavam trancadas e ninguém apareceu para explicar o que estava acontecendo. Será que fomos contaminados por alguma coisa e colocaram a gente de quarentena? – Denis perguntou, preocupado.
–
Os outros o olharam com descrença. Harry não conseguiu evitar de achar graça. Gina sorriu também, embora não tivesse entendido, e sentou ao seu lado. Logo começaram a reclamar com Madame Pomfrey. Receberam seus uniformes, mas foram impedidos de sair. Simas, Dino, Justino e Ernesto começaram a se distrair testando feitiços e fingindo duelar. Você vai continuar nos dando aulas este ano, não vai, Harry? – Ernesto perguntou enquanto desarmava Dino com maestria.
–
Harry sentiu um vazio no peito, a lembrança da perda de sua varinha o assaltando. As portas da enfermaria se abriram e por ela entraram Scrimgeour, Quim e dois membros da Ordem, contrariados com a presença do Ministro, tinham estado montando guarda do lado de fora da porta por ordens de Dumbledore. Não se preocupe, só teremos uma rápida conversa com os garotos – o Ministro disse, ao ver Madame Pomfrey se aproximar irritada. – Ora, mas vocês parecem estar muito bem! – comentou enquanto Papoula se retirava.
–
Eles se entreolharam estranhando o comentário. Ouvi o relato dos colegas de vocês e dos meus funcionários, agora gostaria de ouvir por vocês, os acontecimentos de ontem... – o Ministro ficou contemplando os rostos deles e o silêncio. – Pelo que entendi, Potter, você liderou esses alunos no contra-ataque de ontem...
–
Não, não atacamos ninguém. Pensamos que estivéssemos sendo atacados e tentamos tirar os outros alunos de lá, os aurores estavam ocupados...
–
Sim, mas você os liderou, não é? – Scrimgeour recebeu seu silêncio como uma afirmativa. – Que sorte contar com a ajuda de seguidores tão corajosos, dispostos a enfrentar o perigo...
–
–
São meus amigos! – Harry o corrigiu, indignado. – Não tenho seguidores...
Ah, claro! Desculpe... expressei-me mal – respondeu cinicamente. – E o que vocês têm a me contar? – perguntou aos demais. – O que aconteceu ontem?
–
Olharam para Harry aguardando uma orientação, Harry desejou que não tivessem feito isso, Scrimgeour os observava, atento. Contra a vontade, fez um sinal com a cabeça para que eles se sentissem à vontade para responder. Ernesto tomou a frente pomposamente, os outros logo o acompanharam. Harry trocou um olhar apreensivo com Rony e Hermione. Dumbledore entrou tempestuosamente na enfermaria, os gestos tranquilos se contrapondo ao olhar zangado. Ministro! Pensei ter dito ontem que o chamaria quando os garotos estivessem prontos para dar seus depoimentos...
–
Eles parecem prontos para mim... não posso esperar muito tempo! Os pais dos alunos estão aí fora, eu tenho que dar uma explicação!
–
–
Não acredito que eles terão muito a acrescentar, seus funcionários já ouviram exaustivamente
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os alunos... –
Não os alunos da “Armada de Dumbledore” – ele disse, enfatizando as últimas palavras.
Alunos de um grupo de estudos, corajosos, mas apenas alunos... Já discutimos sobre isso ontem, Ministro...
–
Tudo bem, eu só quero ouvir o que eles têm a dizer... Já sei o que tentaram fazer, sobre o trem, quero saber o que aconteceu na floresta.
–
Harry teve que começar, já que fora o primeiro a entrar. Dumbledore não pareceu se incomodar, então, contou tudo de que se lembrou, exceto o fato de ter tido dois pontos de vista do confronto. Toda a história bate perfeitamente com o que já ouvi. – Scrimgeour comentou como se tivesse esperado ouvir alguma mentira. – Por quê? – perguntou a Dumbledore. – Há anos que não temos notícias dessas criaturas, deveriam estar extintas, por que estão se arriscando a aparecer agora...? – olhou para Harry, estudando-o. – Como e onde fez contato com essas criaturas? Por que estão interessadas em você?
–
Harry não sabe nada a respeito disso, Ministro! – Dumbledore respondeu firmemente. – Não é o tipo de magia que ensinamos em Hogwarts. Seja lá o que queiram, com certeza está relacionado à Voldemort.
–
Claro... mas então, parece que estão se desentendendo – Scrimgeour disse, empertigando-se. – Quem sabe não encontraremos um corpo naquele lugar, hoje. É bom saber que desta vez, pelo menos, não estão do mesmo lado, como poderíamos temer...
–
–
Vão voltar lá hoje? – Harry perguntou, esperançoso.
Temos que encontrar os seis alunos que desapareceram e três de nossos aurores e o maquinista...
–
Harry se lembrou de ter visto os alunos fugindo durante a confusão. O Ministro não pareceu tão altivo ao afirmar isso. Será que eu posso ir também? Não vou atrapalhar – pediu no tom mais educado que pôde. O Ministro e Quim o olharam com incredulidade. – Eu perdi minha varinha, com certeza ela ainda está lá, em algum lugar...
–
–
Se ela estiver lá, nós a encontraremos. – Dumbledore garantiu.
Harry passou o resto da manhã pensativo. Muitos pais de alunos chegavam e partiam, queriam ver se seus filhos estavam realmente bem. Hogwarts só voltaria ao funcionamento normal no dia seguinte. Harry manteve-se distante do Salão de Entrada, para evitar os olhares curiosos. O Sr. Weasley apareceu com Sirius. Falaram com eles brevemente. Arthur precisava voltar logo para o Ministério, tinha que despachar uma mensagem para Molly, tranquilizando-a. Sirius foi se juntar aos outros na busca, era um bom cão de caça. Depois do almoço a Professora McGonagall os procurou para entregar os horários. No caso dos alunos do sexto ano, tinha que conferir as matérias que cursariam, de acordo com os NOMs obtidos. Harry escolheu continuar Feitiços, Defesa contra as Artes das Trevas, Herbologia e Transfiguração, assim como Rony. Hermione optou por Feitiços, Defesa contra as Artes das Trevas, Herbologia, Transfiguração, Aritmancia, Runas Antigas e Poções. Rony espiou, assustado, as suas opções. A Professora McGonagall recolheu o horário deles. Elisa Vrastani - Magia, Poder e Destino I
89
Temos uma novidade para vocês – Minerva informou, analisando as fichas de Rony e Harry. – Vocês vão poder continuar estudando Poções com o Prof. Snape – eles a encararam com espanto.
–
Como assim? Tiramos apenas um “Excede Expectativas”, o Prof. Snape só admite quem conseguir “Ótimo” – Rony lembrou, perplexo.
–
Sim, mas esse ano... – acrescentou com um suspiro. – O próprio Ministro intercedeu junto ao Diretor para que fossem reavaliadas as exigências para essa matéria...
–
–
Para quê? – Harry perguntou com um mau pressentimento.
Creio que ele ficou sabendo, pela Dolores Umbridge, da sua pretensão em se tornar auror, e como as notas dos NOMs são informadas todos os anos ao Ministério... – disse pesarosa. – Ele deixou a entender que espera ficar no cargo tempo o suficiente para tê-lo como um dos seus funcionários – disse severamente.
–
Eu não quero! – Harry respondeu, alarmado. – Desculpe Professora, mas eu mudei de ideia, não quero mais ser um auror!
–
Eu acho que vocês não deveriam perder esta oportunidade, não deixem seus sentimentos interferirem na razão. – Minerva argumentou.
–
–
Não, Professora, obrigado – disse Rony.
Tudo bem... Potter, também tenho uma boa notícia para você – disse num quase sorriso. – Você será o novo Capitão do time de Quadribol este ano.
–
Rony, Gina e Hermione sorriram para ele. Ele os olhou indiferente. –
Mas eu nem pretendo jogar Quadribol... – informou aos seus perplexos amigos.
–
Como assim!? – Minerva perguntou, chocada. – Do que você está falando?!
Eu também não joguei no ano passado... não pretendo voltar este ano – afirmou estranhando o espanto da Professora.
–
Ano passado! Por favor, Sr. Potter! Não vamos falar das atrocidades que funcionários do Ministério cometeram em Hogwarts ano passado! – disse referindo-se ao período em que Dolores assumiu como Diretora e o expulsou do time, juntamente com os gêmeos Weasley.
–
–
Sério, Professora, eu não estou com cabeça pra pensar em jogo agora.
Na verdade, não conseguia ver mais graça alguma em voar limitado pelo uso de uma vassoura. Vou deixar que você pense melhor a respeito, depois você me dá uma resposta – afastou-se zangada.
–
Harry... você sempre gostou tanto de jogar Quadribol... – disse Gina quando a Professora se afastou.
–
Sério, não tenho tempo para pensar nisso, depois, não seria um jogo honesto... – não precisou entrar em detalhes, seus amigos entenderam o que queria dizer.
–
Dá pra acreditar nisso? – Rony perguntou, mudando de assunto. – Voltar a ter aulas com Snape!
–
–
Eu não o vi ainda... – Harry observou.
–
Espero não vê-lo nunca mais! – Rony comentou enquanto saíam para os terrenos.
–
Eu acho uma bobagem, vocês deveriam aproveitar a oportunidade e continuar as aulas.
Elisa Vrastani - Magia, Poder e Destino I
90
–
Pra quê, Mione? – Rony se surpreendeu – Nunca aprendemos nada mesmo! Hermione suspirou. – Vai ser estranho, sem ter vocês lá, comigo...
–
Vai sentir a minha falta? – Rony perguntou, brincalhão.
–
Vou sentir a falta dos dois... – Hermione respondeu, corando. Harry e Gina se entreolharam segurando o riso.
Passaram a tarde com Hagrid. Quando entraram em sua cabana perceberam o quanto sentiram falta de Hogwarts. Recontaram a Hagrid todo o ocorrido no dia anterior. O amigo os ouviu, chocado, e quando acabaram ele continuou em silêncio, o olhar perdido. Harry olhou para os amigos se animando, isso não lhes havia ocorrido até então. Hagrid... – perguntou da forma mais descontraída que conseguiu. – O que você sabe sobre a Magia Oculta?
–
Aguardaram esperançosos enquanto Hagrid coçava o emaranhado de pêlos que era a sua barba. A coisa mais importante que vocês devem saber sobre a Magia Oculta... – disse olhando bem nos olhos ansiosos de cada um deles. – É que é melhor não saber nada!
–
Mas Hagrid... – disse Hermione, meigamente. – Se o Harry está sendo atacado por esses praticantes de Magia Oculta, não acha que ele deve saber ao menos o que ela é? Assim poderá aprender a se defender...
–
Hermione! – Hagrid ralhou com ela. – A curiosidade foi o primeiro passo dado pelos que caíram na tentação da magia livre... Olha como eles acabaram!
–
–
Como?! – Rony e Gina perguntaram ao mesmo tempo.
–
Não! Não! Vão! Voltem para o castelo, eu não sei de nada... Já está entardecendo, vão!
Saíram e voltaram para o castelo, realmente já estava entardecendo e Harry queria aguardar a chegada dos aurores. –
Ele ficou mesmo nervoso, não acham? – Hermione observou.
Eu é que estou ficando nervoso com tudo isso! – Harry informou, irritado. – Ninguém parece se importar com o fato de que eu teria morrido se Voldemort não estivesse lá!
–
E isso foi realmente estranho – Rony disse ao seu lado enquanto caminhavam. – Por que se dar ao trabalho de vir até aqui, quando era mais fácil esperar que os outros fizessem o serviço pra ele, que diferença faria?
–
–
Não fala assim, Rony! – Gina pediu.
É verdade – Harry concordou. – E poderia ter me matado a qualquer momento, ele mesmo, eu nem tinha uma varinha...
–
Harry... – Rony o chamo, pensativo. – Se você perdeu a sua varinha assim que entrou na floresta, como foi que fez aquele feitiço contra aqueles dois desconhecidos?
–
–
Que feitiço? – Harry perguntou sem entender.
Quando te encontramos na floresta... – Hermione explicou. – Você fez alguma coisa com as árvores à nossa volta...
–
–
Não... não fiz nada...Se não foram vocês...
–
Tenho certeza de que foi você, Harry... deu pra sentir... – Rony assegurou.
Elisa Vrastani - Magia, Poder e Destino I
91
Não deu importância, havia um grupo de funcionários do Ministério se aproximando do castelo. Os aurores voltaram com seis alunos assustados e famintos que haviam, por sorte, se embrenhado pela floresta, do lado aposto onde ocorrera o conflito. Sirius e Moody estavam com eles. Desculpe Harry, achamos estas cinco varinhas... – Sirius disse, mostrando as varinhas que haviam encontrado na floresta. – Mas creio que nenhuma seja a sua.
–
Harry confirmou com a cabeça. Sentiu os olhos embaçarem, tinha perdido uma amiga, sua companheira. Vou pedir permissão a Dumbledore para te levar ao Olivaras no sábado, você vai poder comprar outra, tão boa quanto a primeira...
–
Harry o olhou sem dizer nada. Não haveria outra tão boa quanto a sua, que tinha sido feita com uma pena de Fawkes, a fênix de Dumbledore. Passou o resto da noite deprimido. SEGUNDA FEITIÇOS FEITIÇOS XX TRANSFIGUR. TRANSFIGUR.
TERÇA DCAT DCAT XX – –
QUARTA HERBOLOGIA HERBOLOGIA XX RUNAS RUNAS
QUINTA ARITMANCIA ARITMANCIA XX POÇÕES POÇÕES
SEXTA TRANSFIGUR. – XX FEITIÇOS –
Na manhã seguinte receberam o comunicado de que não teriam aula de Defesa Contra as Artes das Trevas porque o professor designado pelo Ministério, o auror Lyman Dekker, não havia comparecido ainda e não estavam conseguindo contato com ele. Estava desaparecido. Teriam que aguardar que um novo professor fosse designado. –
Que bom! Acho que nos livramos de uma! Imaginem, ter um daqueles caras como professor!
Ronald! – Hermione o repreendeu, chocada. – Como pode dizer isso? Com tanta gente morrendo lá fora?
–
–
Desculpe, Mione... – murmurou sem jeito. – Eu falei sem pensar.
–
Algo muito comum... – Gina comentou.
Não é bem assim, Rony, há aurores legais também, Tonks, Moody, Quim, George... – Harry enumerou.
–
–
Tá bom! OK! Me desculpem...
–
Então, você mudou de ideia, Harry? Vai querer ser um auror? – Gina perguntou, chateada.
–
Não... não vou dar esse gostinho ao Ministro!
–
Ele não é nosso inimigo...
Não, Hermione... só não é nosso amigo! Você ouviu o que ele disse ontem, o que quis insinuar.
–
Tenho que ir! – Gina se surpreendeu quando percebeu que o salão estava ficando vazio. Despediu-se deles jogando a mochila no ombro e se afastou apressada.
–
Bom, o que vamos fazer? – Rony perguntou aos dois . Harry continuou sentado, observando a mesa da Sonserina. – Harry! O que foi?
–
–
Vocês não querem saber o que ele veio fazer aqui, afinal?
Elisa Vrastani - Magia, Poder e Destino I
92
–
Harry, não! – Hermione reclamou. – Deixa o Malfoy, Dumbledore está cuidando disso.
Mas... e se Hogwarts tiver a ver com a missão que ele recebeu? E se o alvo dele estiver aqui? Por que mais Voldemort o incumbiria dessa missão se ele não fosse o único capaz de realizá-la? O único capaz de entrar em Hogwarts?! – disse entusiasmando-se com sua conclusão. – Mione, faz sentido!
–
É absurdo! – disse Hermione, observando o sonserino. – Sob o mesmo teto que Dumbledore...
–
Alguém que viva em Hogwarts, que dificilmente saia daqui... senão, ele mesmo o faria. – Harry disse, levantando-se.
–
–
Um professor? – Rony arriscou. – Impossível!
Chegaram à entrada do Salão, Harry parou de repente, virou-se olhando novamente para a mesa da Sonserina, Malfoy continuava no mesmo lugar. Se Draco está aqui... Quem está lá fora? – perguntou alarmado. Levou mecanicamente a mão ao bolso das vestes, a retirou frustrado.
–
Snape entrou, empertigado, lançou a eles um olhar mortífero, como se o tivessem ofendido e seguiu rumo às escadas. –
Nossa! O que fizemos desta vez? – Rony se surpreendeu.
Ele também... tinha me esquecido... É tão irritante ficar percebendo-os o tempo todo! Pelo menos, dele nós nos livramos – disse Harry, satisfeito. – Ah, desculpe, Mione. – percebeu seu olhar chateado.
–
Não acho que Draco seja capaz de fazer isso... matar um professor – ela cochichou. – Não sozinho...
–
–
Se for o Snape... nós podemos ajudá-lo. – Harry sugeriu, ignorando seu olhar reprovador.
Passaram a manhã passeando pelos terrenos, Neville se juntou a eles. Só teriam dois tempos de aula naquele dia, de DCAT; então, tinham o dia inteiro livre. –
Vamos ter bastante tempo para organizar as aulas da AD este ano.
–
Teremos muita coisa para estudar, Neville, Os NIEMs... – Hermione o lembrou.
Você vai ter muita coisa pra estudar – Rony a interrompeu. – Harry, Neville e eu só faremos quatro matérias...
–
Não sei se vou continuar com a AD – Harry informou. – Não há mais motivos pra isso. E eu não tenho mais nada pra passar pra vocês...
–
–
Claro que você tem, Harry, você sabe como é estar frente a frente com eles...
–
Neville! Eu quase morri naquela floresta, se Voldemort não estivesse...
–
O que aconteceu? – Hermione parou para olhar para ele.
Temos o Lord... tem muita coisa que podemos aprender, juntos... – disse Harry. Hermione fez uma careta pra ele. – O que foi?
–
–
Ele não nos ensina o que precisamos saber, defesa contra Magia Antiga!
–
E eu nem tenho uma varinha... – Harry voltou a se desanimar.
Não é tão ruim assim. Eu também já tive que trocar de varinha, lembra? E não sinto diferença nenhuma... – disse Rony, tirando fagulhas de sua varinha enquanto a limpava nas vestes.
–
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Eu comprei a minha nessas férias, no Olivaras, é até melhor que a primeira... – Neville puxou sua varinha e fez aparecer uma rosa amarela, ofereceu-a à Hermione. Ela ficou encantada. Rony fechou a cara para os dois.
–
Mas a minha era especial, ela me salvou no quarto ano, quando duelei com Voldemort... Não vou achar outra igual...
–
Isso não existe... Não é a varinha, é o bruxo quem realiza os feitos, elas só se tornam mais eficazes à medida que a gente evolui... – Hermione comentou, acariciando sua rosa.
–
No dia seguinte Rony e Harry tiveram aulas apenas nos dois primeiros tempos, de Herbologia. Na parte da tarde ficaram na Sala Comunal fazendo os deveres enquanto Hermione assistia aula de Runas Antigas. Quando ela voltou eles ainda não tinham terminado. Hermione se juntou a eles para começar a fazer os dela. Se todos os professores se comportarem assim este ano, vamos precisar de ainda mais tempo livre pra dar conta de todos os deveres... – Rony pegou mais um livro entre os que tinham empilhado sobre a mesa.
–
Já tinham nos avisados que os estudos seriam bem mais puxados neste período. – Hermione escolheu um livro e começou a pesquisar.
–
Harry se levantou e correu para o dormitório. –
O que houve com ele? – Hermione desenrolou um pergaminho e começou a escrever.
Não sei... Dever ter se assustado com a quantidade de dever que você tem pra fazer... – disse Rony, ela lhe deu um meio sorriso. – Como pretende dar conta de todos eles fazendo sete matérias?
–
Harry voltou com o Lord. –
Vai nos ajudar a economizar tempo! – ele disse ao abrir o livro sobre a mesa.
Boa ideia! Podemos dispensar essa montoeira de traças... – Rony empurrou a pilha de livros para longe.
–
Ora, tenho dois tempos livres na terça, assim como vocês, e sexta-feira também. – ela abriu um livro ao lado do Lord, comparou os textos e começou a escrever. Harry sorriu.
–
Mas não serão suficientes, ainda mais se você começar a fazer estágio no Ministério nos fins de semana... A gente quase não vai se ver... – Rony queixou-se. Harry ficou observando os dois.
–
–
Vamos nos ver nas aulas e teremos os tempos livres...
–
Nos quais estaremos sempre ocupados demais...
Mione, não é uma boa ideia esse estágio no Ministério – Harry disse, interrompendo-os. – Não vai dar certo, temos que estudar para os NIEMs e além disso, o Ministro sabe que você é minha amiga, não iria facilitar as coisas...
–
–
É... talvez... mas estou com outra ideia, só preciso checar algumas coisas...
Gina entrou no salão com um grupo de amigos do quinto ano, acenou para eles e se afastou com o grupo para o outro lado do salão. As duas garotas que estavam com ela sorriram para eles, mas o rapaz alto, de cabelos castanhos, estava muito interessado em continuar a conversa com Gina. Hermione ficou olhando Rony terminar de copiar o último trecho da página. O rapaz se Elisa Vrastani - Magia, Poder e Destino I
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aproximou de Gina pra cochichar algo em seu ouvido. Harry desviou o olhar para outro grupinho de alunos e fingiu não estar prestando atenção. Rony terminou de copiar e virou a página. –
Harry... O que é isso? – Hermione chamou-lhe a atenção.
–
O quê? – perguntou mal-humorado.
–
Azarações... Não é o que estamos estudando...
–
Ah, desculpe... – virou mais algumas folhas voltando a se concentrar no trabalho. Alguns minutos depois Gina foi até eles. Harry procurou, mas não viu mais o rapaz.
–
Vamos descer para jantar? – Gina convidou alegremente.
Harry desceu em silêncio enquanto Rony e Hermione conversavam. Viu o rapaz à mesa da Grifinória, mas Gina nem olhou em sua direção, sentou-se com eles. Durante o jantar Dumbledore pediu a atenção dos alunos do sexto ano para informar que a matéria de Poções faria, obrigatoriamente, parte da grade dos alunos do sexto ano que haviam obtido notas acima de Aceitável. Rony e Harry se olharam perplexos. Hermione os encarou contente. Harry a fuzilou com o olhar. –
Ah, não é tão ruim assim... – ela tentou amenizar.
–
Perdemos nossas tardes de quinta-feira! – Rony bateu na mesa. – Pra quê isso agora?
Eu não vou voltar a ter aulas com Snape! De jeito nenhum! – Harry olhou para a mesa dos Professores e notou o olhar mortífero do Professor. – Então é por isso que ele estava com aquela cara ontem...
–
Que estranho... obrigar os alunos a ter aula de Poções, mesmo não sendo útil na carreira deles... – Gina comentou pensativa.
–
Quando os alunos começaram a esvaziar o salão Harry e Rony correram até a mesa dos Professores para falar com o Diretor. A norma é para todos que tenham obtido pelo menos um E, sinto muito, mas não há brechas para exceções. Particularmente, eu acho bom que você tenha essa aula, Harry.
–
–
Por quê?
Dumbledore o encarou por alguns momentos mas não respondeu. Pediu que voltassem aos seus afazeres. Não é justo!! – bradou com raiva quando regressaram ao Salão Comunal, foi direto para o dormitório sem falar com ninguém, sua cicatriz começou a incomodar.
–
Ficou andando de um lado para o outro enquanto tentava se controlar. Por fim abriu a janela para sair. Simas e Dino entraram no quarto. –
O que está fazendo? – Dino perguntou, curioso, observando Harry de pé na janela.
–
Nada... Estava tentando... enxergar Hogsmeade daqui...
–
Ah... Mas vê se não vai cair – Simas o olhou desconfiado. Harry fechou a janela e se jogou na cama.
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CAP. 12 – ALUNOS INAPTOS Harry acordou ainda de mau humor, sua cicatriz o incomodara a maior parte da noite. Rony também não parecia nada feliz, teriam que ter aulas com Snape naquela tarde. Encontraram todos os Professores no Salão. Harry olhou, incomodado, em direção ao Professor Snape, que parecia estar muito ocupado observando a pessoa com quem Dumbledore conversava. –
Não vou aturar as ofensas dele este ano.
–
Pretende enfrentá-lo? – Rony perguntou, considerando a ideia.
Se eu tiver sorte, posso ser expulso de suas aulas... – sussurrou para que Hermione não ouvisse.
–
Dumbledore pediu a atenção de todos os alunos. –
Ah, não! O que será agora? – Rony puxou para si um prato de mingau.
Quero apresentar a vocês... – Dumbledore começou, sua voz ressoando no salão. – A nova Professora de Defesa Contra as Artes das Trevas, Profª Raven Sterling. Ela assumirá temporariamente o cargo do auror Lyman Dekker, designado pelo Ministério, até que este seja encontrado... – os alunos bateram palmas educadamente. A mulher de cabelos pretos e curtos e maquiagem extravagante, sorriu alegremente para eles.
–
Rony acotovelou Harry nas costelas, fazendo-o derrubar a colher com mingau. –
Harry! É ela!
–
Ela quem?! – perguntou, irritado, limpando o mingau que havia respingado em suas vestes.
–
A garota... do Sirius!
–
Quem? – Hermione perguntou, interessada. Harry também o olhou curioso.
A garota com quem Sirius estava no bar, no show da The Burners! – disse impacientemente. – Você não se lembra?
–
Eu não estava enxergando muito bem naquela noite... – Harry respondeu, examinado-a. – Tem certeza?
–
Claro! Eu ia me esquecer de uma ga... garota... com quem Sirius estava conversando? – respondeu desajeitado.
–
–
Professora... Será que Sirius sabe?
–
Ela não tem cara de professora... – Gina avaliou.
O correio coruja chegou e Hermione recebeu seu exemplar do jornal Profeta Diário, folheou-o enquanto continuavam observando a nova professora. Hermione arfou de repente. –
Encontraram um dos aurores desaparecidos... Derek Schreiber...
–
Que bom! – Gina voltou a se concentrar no seu mingau. – Apesar dele ser muito chato...
–
Morto... – Hermione completou.
O quê? – Harry puxou o jornal para ler a reportagem. – Os outros dois continuam desaparecidos... – informou aos amigos. Entreolharam-se preocupados.
–
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Levantaram assim que terminaram o desjejum. Hermione teria aula de Aritmancia e Gina, de Transfiguração. Rony e Harry iriam terminar o dever de Herbologia. Uma coruja entrou atrasada, com a correspondência matinal, e os seguiu até a entrada do Salão, só perceberam quando viram alguns alunos apontando curiosos. Harry recebeu, com surpresa, o embrulho que ela deixou cair. Não havia remetente. Rasgou-o rapidamente, curioso. Seus olhos se iluminaram. Olhou para os amigos, sorrindo. Não acredito... – retirou o objeto de dentro da caixa. – É a minha varinha!! – poderia tê-la beijado se não tivesse tanta gente olhando.
–
Hermione puxou a caixa de sua mão. –
Não tem remetente, nem bilhete? – examinou-a mas não encontrou nada. Harry foi apressado até os terrenos, riscou o céu com sua varinha.
Iris Illuminati! – um lindo arco-íris de cores brilhantes apareceu. – Está inteira... – disse encantado.
–
–
Tem certeza que é sua? – Hermione se desfez da caixa vazia.
Claro que é! Eu conheço a minha varinha... – ele argumentou. Gina também olhava a varinha em sua mão com desconfiança. Apontou-a em direção à floresta. – Expecto Patronum!
–
Um enorme veado rompeu da ponta de sua varinha, trotou garbosamente em volta deles e se aproximou de Harry. Tocou suavemente seu rosto com o focinho. Também tive medo de nunca mais te ver... – deslizou os dedos pelo pescoço do animal, nunca o havia tocado antes, era como vapor, mas também, denso e frio, seus dedos o atravessavam.
–
Ele é lindo! – Gina se aproximou, Pontas curvou a cabeça para permitir que ela o tocasse também. Harry nunca havia reparado o quanto ele era grande.
–
–
Harry, é seu patrono! Você o conjuraria com qualquer varinha, isso não significa...
De quem é esse animal? – Hagrid apareceu saindo da Floresta Proibida, puxando Bicuço, que havia sido devolvido a ele por Sirius.
–
–
Meu patrono! – Harry respondeu, alegre. – Recuperei minha varinha. Pontas fez uma reverência para eles e desapareceu.
Que bom, Harry! É muito difícil para um bruxo se separar de sua varinha... – Hagrid acariciou despercebidamente o cabo do guarda-chuva cor-de-rosa que carregava dentro do casaco. – Mas o seu patrono é impressionante! Nunca vi um patrono agir assim, ou se deixar tocar...
–
Alguém mandou a varinha para o Harry pelo correio, Hagrid, sem nenhum bilhete, você não acha estranho? – perguntou Hermione.
–
É, é estranho... – concordou. – Eu iria querer agradecer pessoalmente a essa pessoa... E vocês não deveriam estar em aula?
–
–
Harry e eu temos esse tempo livre até o almoço – Rony gabou-se.
–
Mesmo? – espantou-se. – Então poderiam estar matriculados na minha turma...
–
Eu tenho que ir! Estou atrasada para a aula de Aritmancia! – rapidamente, Gina a seguiu.
Hermione escapou
–
É que... nós... – Harry tentou explicar – Não vamos precisar da sua matéria... para o que
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vamos fazer... –
E o que vocês vão fazer quando saírem de Hogwarts? – perguntou, chateado.
–
Não temos muita certeza ainda... – Rony confessou.
Não é que não gostamos da sua matéria, é que não estamos com... disponibilidade, as matérias a nível de NIEMs são muito puxadas... Também não vou praticar quadribol este ano, nem teria aulas de Poções se pudesse evitar...
–
Vocês não devem desistir das coisas que gostam assim tão fácil! Não importa o que acontece lá fora, ou o quanto as coisas fiquem difíceis, vocês são jovens, devem aproveitar o quanto puderem...
–
Ouviram mais cinco minutos de sermão até que, para alívio deles, Hagrid lembrou dos cinco alunos esperando para assistir sua aula de Trato das Criaturas Mágicas. Rony e Harry voltaram para o Salão Comunal para terminarem os deveres. Quando desceram para o almoço Harry ainda estava de bom humor. Alguns alunos observavam admirados o lindo arco-íris que se refletia no teto encantado do Salão Principal. Encontraram Gina à mesa da Grifinória, com duas amigas, juntaram-se à ela. Hermione apareceu logo depois, serviu-se e começou a comer rapidamente sem dar atenção a eles. O que houve? Vai à biblioteca? – Harry perguntou com o garfo na mão enquanto a amiga engolia três garfadas.
–
Muito dever... – ela conseguiu dizer enquanto engolia. – Quero adiantar alguma coisa antes da aula de Poções... – Harry fez uma careta.
–
–
Gina... Você não trouxe nenhum kit mata-aula com você? Hermione se engasgou. Harry deu umas batidinhas em suas costas.
–
Rony! Você é monitor! – reclamou. – É esse o exemplo que quer dar aos alunos?
Rony passou a comer em silêncio. Harry reparou em algumas garotas da Grifinória, sentadas, olhando para eles e dando risadinhas. Franziu a testa estranhando, não as conhecia. Olhou para a mesa da Corvinal e viu Luna sorrindo para ele enquanto conversava com um grupo de meninas, elas também sorriram, falavam sobre ele, teve certeza. Tentou ver o seu reflexo na taça, não achou nada estranho. Percebeu a entrada de Snape e olhou em sua direção, ele conversava com a nova professora. –
Estranho esse auror ter sumido assim, logo quando ia assumir em Hogwarts...
Eu também estive pensando nisso, Harry! – Hermione parou para lhe dar atenção. – É muita coincidência... mas o que ganhariam raptando o professor de DCAT?
–
–
O Snape não estava aqui no dia em que chegamos, nem no dia seguinte...
Não era bem isso que eu estava pensando – Hermione suspirou. – E quem garante que ele não estava?
–
–
Eu não senti a presença dele – sussurrou.
Mas você saberia se ele estivesse em qualquer outra parte do castelo? Isso aqui é muito grande...
–
Harry não soube responder. Olhou para Malfoy, cochichando alguma coisa com Crabe e Goyle na mesa da Sonserina, parecia bem irritado. Voltou a atenção para a mesa dos professores. Hermione se levantou, apressada, e disse que os encontraria na aula. Elisa Vrastani - Magia, Poder e Destino I
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–
Você não vai terminar de comer? – Gina observou seu prato quase intocado.
Estou sem fome... – Harry empurrou o prato lembrando que logo teria que assistir a aula de Poções. – Você não tem mesmo nenhum doce do kit mata-aula?
–
–
Não... desculpe.
Quando saíram em direção à Sala Comunal ouviram alguns alunos comentando com tristeza que o arco-íris estava desaparecendo.
Harry e Rony chegaram à masmorra com as caras mais inconformadas do mundo. Hermione se juntou a eles logo depois. Os três ocuparam a última bancada da sala. Malfoy também não parecia nada feliz por estar ali. Como vocês já sabem – disse Snape, enquanto circulava entre as fileiras – Este ano estou sendo obrigado a aceitar alunos que considero pouco aptos para as minhas aulas de NIEMs... Mas saibam que não vou desacelerar o avanço da turma por causa dos menos despreparados, embora o Ministro ache que estes devam receber o privilégio de estarem aqui... – disse lançando um olhar desdenhoso à Harry.
–
Malfoy também lançou a Harry um olhar invocado, como se ele estivesse fazendo barulho demais. Vamos dar início às nossas aulas com o preparo de uma poção simples de aceleração do crescimento, que será testada ao final da aula. As instruções estão no quadro... Comecem!
–
–
Poção simples? Essa é bem complexa... – Hermione sussurrou.
Que bom, porque eu nem aprendi as simples ainda – Rony queixou-se preparando seu caldeirão. – Neville é que se deu bem, conseguiu só um “Aceitável”, se eu soubesse, teria me esforçado menos no NOM.
–
–
Podemos estudar juntos, você vai conseguir...
Será que o triângulo amoroso acha seus devaneios românticos mais importantes que a minha aula?! Srta. Granger? – Snape chamou a atenção deles embora vários alunos também cochichassem.
–
Estamos falando a respeito da poção que o Senhor pediu. – Harry mentiu enquanto Hermione corava.
–
Não mandei que falassem... Mandei que fizessem! – disse com raiva – Estão esperando o quê?
–
Houve uma agitação na sala, todos iniciando o mais rápido possível o preparo de suas poções. Harry olhou para Rony. –
Agora ele vai descontar na gente as decisões do Ministro...
Potter! Aqui na frente! – Snape apontou para a bancada mais próxima à sua mesa, a qual ninguém se atrevera a ocupar.
–
Harry arrastou, com raiva, suas coisas para a bancada e pegou os ingredientes no armário, benefício concedido aos que, assim como ele, tinham sido pegos despreparados para aquela matéria. Leu duas vezes as instruções, o preparo era muito complicado. Ficou algum tempo considerando a opção de não fazer nada. Sabia, por experiência, que Snape arranjaria uma desculpa pra lhe dar zero, fazendo ou não. Elisa Vrastani - Magia, Poder e Destino I
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O que foi, Potter? Não está conseguindo acompanhar a aula? – Snape perguntou em voz alta fazendo-o corar. Olhou com raiva para o professor, estavam todos apreensivos demais com o seu mau humor pra lhes dar atenção, nem mesmo Malfoy se deu ao trabalho de fazer seus costumeiros deboches.
–
Abriu o Lord discretamente e começou o preparo. Snape perambulava por toda a sala repreendendo os mais atrasados. Harry percebia, involuntariamente, seus movimentos, isso o estava deixando ainda mais irritado e nervoso. –
Chega! Acabou o tempo – disse a menos de quinze minutos para o término da aula.
Harry guardou o livro, satisfeito, tinha feito o melhor que podia. Snape espalhou algumas mudas sobre a mesa. Conforme eu os chamar, venham à frente com uma amostra para testarmos nas plantas... – ficou ao lado da mesa com uma prancheta na mão, dando notas e fazendo comentários rudes aos que não conseguiam resultados satisfatórios.
–
A muda de Rony não cresceu, mas surgiram outros brotos, feito conseguido pela maioria, mas Snape lhe deu nota três em vez de cinco. Draco tinha feito sua muda crescer apenas dois centímetros antes de murchar e morrer e Snape tinha lhe dado nota sete. Rony trocou um olhar emburrado com Harry antes de voltar para sua bancada. Hermione fora a única que tinha conseguido um crescimento considerável de cinco centímetros e tinha recebido oito. Harry aguardou impaciente enquanto era deixado por último. Levou a sua poção até a mesa, quando chegou a sua vez, e a despejou confiantemente sobre a planta. Ela cresceu. Quase tanto quanto a de Hermione, e se abriu em ramos. –
O que você fez?! – Snape se aproximou de seu caldeirão, com raiva, para examinar a poção.
–
Fiz o que o Senhor pediu, a poção de aceleração do crescimento...
Impossível... – disse ele, examinando seu caldeirão e os ingredientes à mesa. – Que um aluno sendo, há cinco anos, tão medíocre, consiga tal resultado sozinho...
–
–
Então deve ser porque eu tive um bom professor nessas férias. – respondeu em alto tom.
–
Menos trinta pontos para a Grifinória, Potter! – pronunciou cada sílaba lentamente.
Saiu da aula revoltado, recebera nota quatro. Hermione e Rony o seguiam tão revoltados quanto. Você merecia um dez, Mione! E conseguiria, se fosse da Sonserina... Ei! Não podem jogar essa porcaria nos corredores! – gritou para dois alunos do primeiro ano que jogavam frisbies dentados.
–
–
Rony! Não faz isso! – Hermione pediu, envergonhada. – Eles nem são da Grifinória...
E daí? É proibido pra eles também, ou não? Ninguém nunca facilitou pra gente! Cadê o Filch? – perguntou olhando ao redor enquanto os garotos corriam.
–
Quer se acalmar?! – Harry o puxou pelo corredor. – Isso não vai mudar nada! Temos que arranjar um jeito de nos livrarmos do Snape, porque com certeza ele está nos responsabilizando pela decisão do Ministro e duvido que vá esquecer isso até o final do ano.
–
–
É, você tem razão! Procura alguma coisa no Lord... uma azaração de desaparecimento...
Elisa Vrastani - Magia, Poder e Destino I
100
O dia seguinte era o último da semana, teriam a aula de Transfiguração com a Profª McGonagall. Sr. Potter... – ela o chamou ainda no Salão Principal. – Já está tudo confirmado para amanhã de manhã, seu padrinho virá buscá-lo.
–
Harry havia esquecido de comunicar sobre sua varinha, esquecera de avisar a Sirius também. Professora eu não vou precisar, já recuperei minha varinha – disse ele, retirando-a do bolso. – Desculpe, eu esqueci de avisar ontem... Vou falar com Sirius assim que terminar a aula... – acrescentou notando a mudança brusca em sua expressão.
–
–
Acompanhe-me, por favor, Sr. Potter! – disse friamente. – Os outros me esperem na sala.
Harry a acompanhou enquanto ela seguia rapidamente pelo corredor, em direção à sala dos professores. –
Professora, o que aconteceu?
Você vai aguardar aqui enquanto chamo o Diretor. Não acredito que tenha tido a coragem de sair sem permissão...
–
–
Eu não saí! Eu a recebi ontem pelo correio! – respondeu, indignado.
–
Pelo correio!? De quem? – perguntou desconfiada.
Não sei, não tinha remetente... É verdade! Pode perguntar para a Hermione, Rony ou Gina... – ele observou sua expressão furiosa mudar lentamente.
–
Deixe-me ver isso! – ela pegou a varinha nas mãos, examinando-a. Entrou na sala dos Professores. – Prof. Flitwick! Que bom encontrá-lo aqui. Alguém enviou, ontem, esta varinha para o Sr. Potter sem se identificar! E ele simplesmente esqueceu de nos avisar... – disse olhando-o severamente.
–
A Profª Sprout, o Prof. Binns, único professor fantasma de Hogwarts, e a nova professora de DCAT, Profª Sterling, também estavam na sala. –
A varinha que tinha perdido? – Prof. Flitwick recebeu a varinha com cuidado exagerado.
–
Não tem nada errado com ela, eu já testei... está funcionando muito bem...
Pode ir, Sr. Potter, nós vamos examiná-la. Não acredito que possa continuar sendo tão irresponsável!
–
O que vão fazer com ela? – ele perguntou, lembrando-se do quanto tivera que esperar por sua firebolt enquanto era testada com todos os feitiços possíveis.
–
–
Examiná-la, lógico, desmontá-la para saber se há alguma irregularidade...
–
Se ela for desmontada, voltará ao normal depois?
Bom... De qualquer maneira Sirius virá amanhã e te levará pra comprar uma nova... – ela desconversou. – Agora saia!
–
A Profª Minerva o pôs para fora da sala. Ele ficou algum tempo encarando a porta fechada. Tão inesperadamente quanto a tivera de volta, agora, a estava perdendo outra vez. Tinha que arranjar um jeito de salvá-la da desconfiança da professora. Ficou andando no corredor, de um lado para o outro, não se importando com os alunos que passavam apressados, indo para as aulas.
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101
–
Oi, Harry – uma garota da Grifinória parou para cumprimentá-lo. – Meu nome é Evandra.
Oi... – respondeu mecanicamente enquanto continuava indo e vindo, tentando pensar em uma forma de convencer a Profª Minerva. Evandra o acompanhou.
–
Por que está nervoso? – ela atravessou seu caminho para fazê-lo parar. Harry a olhou nos olhos, eram azuis, era mais alta que ele e seus cabelos cor de avelã caíam em cachos até os ombros.
–
–
Desculpe, mas estou ocupado agora, o que você quer?
O que ainda faz aqui, Sr. Potter? – perguntou Minerva, ao sair da sala. – Srta. Velaska, não deveria estar em aula?
–
Professora, eu tenho certeza de que não há nada errado com a minha varinha, eu me responsabilizo por ela... – Harry declarou enquanto a garota se afastava, contrariada.
–
–
Vai ter de aguardar até o término dos testes, e não quero mais falar a respeito. Harry a seguiu pelo corredor até a sala de aula.
–
Professora, por favor... Ela é importante para mim, não vou conseguir achar outra igual...
Eu entendo... Há coisas das quais achamos difícil nos separar, mas você vai superar isso. Muitas percepções mudam enquanto nos tornamos adultos, você mesmo, já superou sua paixão pelo Quadribol...
–
Se eu a tiver de volta... poderei voltar a jogar este ano... – arriscou. Ela parou com a mão na maçaneta e virou-se para ele.
–
–
Tem certeza disso? Pode mesmo voltar ao time? – sua expressão séria era indefinida.
–
Claro! – entusiasmou-se, seria uma troca justa.
E o Senhor acha que coloco interesses por um jogo acima da segurança dos meus alunos?! – entrou na sala pisando firme.
–
–
Desculpe professora, é só que...
Se disser mais uma palavra sobre esse assunto vou descontar dez pontos da Grifinória Sr. Potter! E não me importo que seja de minha própria casa! – disse severamente.
–
Harry foi até o fundo da sala e sentou-se ao lado de Rony. Os amigos o olharam curiosos, mas não abriu a boca para dizer nada até o final da aula.
Mas ela tem razão, Harry – disse Hermione, a caminho do Salão Comunal. Iriam usar o tempo livre antes do almoço para adiantar os deveres.
–
Eu já te disse, depois que você começar a usar a varinha nova, não vai nem se lembrar da antiga. – Rony atravessou o buraco do retrato e se sentou à mesa.
–
Terminaram o dever de Herbologia e começaram o de Transfiguração. Quando tocou o sinal do término da aula, Harry deixou os amigos terminando o dever de casa e foi procurar a Profª Minerva. Encontrou-a na porta de sua sala. –
Ainda não, Sr. Potter – respondeu antes que ele falasse.
Mas como é que ela está? – ele perguntou, temeroso. Alguns alunos ainda saíam das salas e o corredor estava cheio.
–
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102
A professora de DCAT a está examinando agora. Ela fez questão de contribuir com seus conhecimentos...
–
O estômago de Harry afundou ao imaginar a que tipo de feitiços ela poderia estar submetendo sua varinha. Não vá incomodá-la, duvido que seja tão paciente quanto eu! – Harry ouviu a Professora recomendar enquanto se afastava.
–
Viu Cho Chang no corredor, ela andou em sua direção, meio constrangida. –
Oi Harry, eu queria falar com você...
–
Oi... pode ser outra hora? Preciso encontrar a nova Professora.
–
Ah, ela já saiu da sala... tive aula com ela agora, acho que ela foi para a sala dos professores.
–
Obrigado, depois eu falo com você! – disse enquanto se afastava.
Pegou o atalho que ficava escondido atrás de uma tapeçaria e seguiu pelo corredor cheio de alunos. Encontrou-a mais à frente, conversando com algumas alunas. –
Professora! – Harry a chamou, ofegante, enquanto se aproximava correndo.
Harry! – ela abriu um enorme sorriso, seus olhos, castanhos dourados, brilharam. – Que bom revê-lo! – ela o cumprimentou, para seu espanto e das três garotas da Corvinal que a acompanhavam. – Tinha esperanças que viesse me procurar... Pena não termos sido devidamente apresentados naquela noite, Sirius ficou tão chateado... – ela falava descontraidamente como se fosse muito natural estarem ali dialogando a respeito daquilo.
–
–
Ah... é, acho que sim – disse ele, encabulado. As garotas olhavam para ambos com interesse.
Podem ir meninas, mais tarde a gente conversa... – elas se afastaram lentamente, a contragosto. Muitos olhavam curiosos enquanto passavam por eles.
–
–
Professora... A Profª McGonagall disse que a senhora está...
–
Não, Harry... não me chame de senhora, me chame de Raven...
Desculpe... – disse pacientemente. Ela passou o braço por seus ombros e o conduziu pelo corredor. – Você está fazendo testes com a minha varinha... vou poder tê-la de volta?
–
–
Você a quer?
–
Muito! Ela é especial pra mim...
Ela não é tão necessária assim... com o tempo vai descobrir isso – ela comentou. Harry a olhou desanimado. – Mas se ela é tão importante pra você... Vou devolvê-la sim, e inteira... mas na hora certa – completou ao perceber seu entusiasmo.
–
–
Obrigado.
Esse não é o melhor momento, mas você se incomodaria se eu desse uma olhada? – parou e fez um gesto significativo apontando para o próprio rosto. – Estou muito curiosa...
–
Minha cicatriz... – afastou o cabelo da testa. Estava achando-a muito simpática, ao contrário do que insinuara a Profª Minerva.
–
–
Não, seus olhos.
Ela se aproximou e retirou seus óculos. Não gostou de se sentir vulnerável, mas também não reclamou. Ela o olhou diretamente por alguns segundos. –
Os olhos são o espelho da alma, sabia? Refletem toda a nossa luta interior, o equilíbrio... –
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103
repôs seus óculos no lugar. – Você é um guerreiro! – disse alegremente enquanto Harry corava, agarrou o seu braço e continuaram a caminhada. Ela lhe fez várias perguntas, seus gostos, seus horários, seu relacionamento com o padrinho... Harry estava gostando dela, seu jeito descontraído e rebelde o fazia se lembrar de Sirius. Seguiram para o salão Principal, que estava cheio naquele momento, várias pessoas comiam apressadas ansiando por mais tempo livre antes da próxima aula. Você fica bem, ruivo, mas eu prefiro ao natural – disse ela, assanhando seus cabelos. Beijoulhe a testa e foi para a mesa dos professores.
–
Harry cruzou rapidamente o salão em direção à mesa da Grifinória. Ignorou os olhares e risinhos. –
O que foi aquilo? – Gina perguntou quando se sentou ao lado de Rony.
Nada... fui falar com ela sobre a minha varinha, ela disse que vai devolver... – disfarçou servindo-se de um pouco de tudo que estava à sua frente. Nem se atreveu a olhar em direção à mesa dos professores.
–
E o que isso tem a ver com o beijo? – Rony perguntou entre risadinhas. – Harry lamentou que estivesse sem sua varinha, teve vontade de azará-lo.
–
–
É que ela é muita espontânea... extrovertida...
–
E grudenta...? – Gina sugeriu com raiva.
–
Na verdade, ela me lembra um pouco o Sirius.
Irresponsável? – Hermione perguntou, descontraída, mas disfarçou assim que notou o olhar reprovador de Harry. – Você já teve aula com ela, não é? Como foi? – Hermione perguntou a Gina.
–
–
Horrível! – Gina jogou os longos cabelos para trás, numa perfeita imitação de Fleur.
–
Ela é má professora? – Hermione comia rapidamente enquanto falava, olhando para ela.
–
Não – respondeu a contragosto.
–
É severa? Passa muitos deveres? – Rony perguntou com curiosidade.
–
Não... – Gina respondeu, desanimada.
Então por que disse que a aula dela é horrível? Ela parece ser muito legal – Rony a defendeu. – Você está com inveja...
–
Ah, é? Vai ficar bajulando e paparicando-a sempre que a ver, na esperança de ganhar um beijo também? Como fazia com a Fleur?
–
Rony corou violentamente. Hermione parou de comer e o olhou, irritada, levantou e disse que os veria mais tarde. –
Você me paga! – Rony vociferou, ameaçando puxar a varinha.
Nem se atreva, Rony! – Harry disse seriamente, segurando o seu braço. Rony lhe lançou um olhar chateado e se levantou também.
–
–
Não devia ter dito aquilo – disse Harry, enquanto Gina observava o irmão se afastar.
–
Eu sei... é que ele me irrita às vezes... – ela disse, aborrecida. Harry sorriu. Ela sorriu de volta.
–
Se incomoda em limpar isso? – Gina pediu, encarando-o.
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104
–
Isso, o quê?
Gina debruçou-se sobre a mesa e limpou a marca de batom em sua testa com um guardanapo. Ficaram conversando até a mesa se esvaziar. Harry carregou sua mochila até a sala de aula. Neville e Luna estavam parados à porta, conversando. Cumprimentaram-se. Neville devolveu à Luna seu material, despedindo-se. Harry fez o mesmo com Gina. As duas entraram conversando animadamente. Harry e Neville se olharam, meio sem jeito, e foram para a aula. –
Você soube o que o Malfoy fez? – Neville perguntou enquanto caminhavam.
–
Não. O quê? – perguntou interessado.
–
Desistiu do time de quadribol também.
–
Como assim? Ele não vai mais jogar?
Pelo que parece, não. Acho que ele só entrou para o time pra te chatear, como você não vai jogar mais este ano, resolveu sair também.
–
Harry ficou em silêncio, duvidava que tivesse alguma coisa a ver com a decisão de Malfoy, imaginou que deveria ter algo mais em sua atitude, na verdade, achava seu comportamento este ano muito estranho, ele estava muito quieto. Ficou curioso em saber o que Dumbledore estava fazendo a respeito. O Professor Flitwick já estava em sala quando chegaram. Harry viu Rony e Hermione cochichando na última fileira, estavam sorrindo. Ficou aliviado, detestava ter que assistir a briga dos dois. Aproximou-se cautelosamente, com medo de interromper alguma coisa. Olhou ao redor, por acaso, e viu Malfoy sentado sozinho a um canto. Crabe e Goyle estavam mais à frente. Se deixou levar pela curiosidade e se aproximou cuidadosamente, sentando-se na última fileira, exatamente atrás da carteira de Draco. Draco encarava fixamente uma folha de papel, Harry se perguntou se não seriam instruções de Voldemort. Tentou ler o que estava escrito. –
Harry! – Rony o chamou do outro lado. Harry o olhou, irritado. – “Gina tem razão!” – pensou.
O que você quer aqui, Potter? – Draco perguntou, enfezado, enquanto dobrava o papel e o guardava no bolso.
–
–
Recebendo novas instruções de Voldemort? – cochichou.
–
Claro! Ele me manda cartas todas as manhãs! – respondeu, debochado.
O seu alvo é um professor, não é? Por isso ele te mandou pra cá. – disse Harry. Malfoy estreitou os olhos, avaliando-o. Harry esperou, impaciente, mas ele não disse nada.
–
Eu quero que vocês se dividam em pares... – Prof. Flitwick iniciou a aula, de cima de seu banquinho. – Potter, você pode ficar observando por hoje, já que está sem varinha.
–
–
Professor, eu esqueci a minha varinha no dormitório, na verdade, não lembro onde a guardei.
–
Vou ter que descontar três pontos de sua casa, Sr. Malfoy, pelo desleixo.
Como se eu me importasse... – Draco sussurrou. – Essa aula ridícula! Toda essa cobrança... E por sua causa ainda terei de frequentar as aulas de Poções também... O queridinho de Dumbledore, protegido do Ministro, O Eleito... – murmurou com desdém.
–
Se está tão incomodado por que não vai embora? Voldemort o está obrigando a ficar? – chacoteou. Rony e Hermione vigiavam os dois de longe.
–
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105
E você? Não? Você é tão prisioneiro quanto eu! E o mais ridículo é que mesmo com todo aquele show montado pelo Ministério, bastou um dos Antigos aparecer pra acabar com o espetáculo...
–
Um dos Antigos? Kariel... – ficou um tempo meditando a respeito – E os outros, quem são? – Harry perguntou, esperançoso.
–
–
Ora, que pergunta idiota! – Draco o olhou desconfiado.
–
Então responde...
–
Não te contam nada, Potter? Te consideram muito, então! – disse, satisfeito.
Imagino, então, que Voldemort deve te pôr a par de tudo o que acontece... – disse irritado. Malfoy bufou.
–
São dois velhacos ultrapassados... Acham que podem obrigar todo o mundo a fazer o que querem. Afinal, eles se parecem muito, o Lorde das Trevas e Dumbledore...
–
Harry abriu a boca para protestar, mas não disse nada. Há muito vinha perdendo a admiração que sentia a respeito de Dumbledore, sempre omitindo fatos, negando-se a dar-lhe atenção, fazendo exigências, negando informações. Pensou em Lupin, sendo obrigado a andar com os lobisomens, em Sirius, obrigado a ficar encarcerado por um ano inteiro. Ele mesmo, obrigado a conviver com os Dursley quando poderia ficar com os Weasley... –
É, tá na hora de uma nova geração assumir... – Draco concluiu.
Você? Derrubar o Lorde das Trevas? – Harry se espantou com a confiança de Draco. – Vai salvar o mundo mágico!?
–
–
Vou salvar a minha família! – Draco o corrigiu.
–
O que você sabe sobre a Magia Oculta? – Harry perguntou espontaneamente.
Não sou seu professor, Potter! O que eu ganho por essa informação? – seus olhos frios encararam os de Harry.
–
–
Bem, eu te ajudei...
Não... – Draco o interrompeu. – Estamos quites! Quem você acha que avisou aos Comensais sobre o ataque ao trem?
–
–
Você! – espantou-se. – Por que fez isso?
–
Por que ele pediu para ser avisado caso alguma coisa acontecesse.
–
Então isso não conta...
–
Você está vivo, não está!?
–
Malfoy? – Crabe e Goyle se aproximaram curiosos.
Não tinham percebido que o professor já havia dispensado a turma. Vários alunos lançavam olhares curiosos aos dois. A inimizade entre eles era tão natural, para os outros alunos, quanto a disputa entre as Casas. Malfoy se levantou e partiu com os dois. Harry viu, de relance, a varinha em seu bolso. Levantou-se também e foi se juntar a Neville, Rony e Hermione que o aguardavam com cara de assombro.
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CAP. 13 - O CÃO E A CADELA Harry acordou antes de todo mundo, desceu e ficou aguardando no Salão Comunal, ansioso para que as horas passassem rápido, Sirius chegaria logo mais, para acompanhá-lo ao Olivaras, tinha esperanças que a professora de DCAT devolvesse sua varinha antes disso. Aproveitou para adiantar seu dever de casa. Rony lhe fez companhia uma hora depois. Quando Hermione e Gina desceram os quatro foram tomar o café da manhã. O Salão estava quase vazio. A mesa dos professores também. Mais tarde viram a Professora Sterling entrar alegremente, acompanhada de Snape, ele puxou a cadeira para que ela se sentasse à mesa, muito solícito e cavalheiro. É impressão minha ou o Snape está muito interessado na nova professora? – Rony perguntou com um risinho debochado – Até que seria legal se eles namorassem, se isso melhorasse o humor dele...
–
–
Mas e Sirius?
Quem disse que os dois estão namorando? Pelo o que vocês disseram eles só se encontraram num show, isso não significa namoro – Hermione questionou.
–
Pelo jeito que ela falou ontem, parecia o conhecer muito bem – Harry defendeu. – E ela não merece alguém como o Snape!
–
Que importância tem isso? – Gina perguntou, aborrecida. – Você acha mesmo que Draco estava falando a verdade ontem? – mudou de assunto.
–
–
Não sei... acho que sim. Dá pra entender.
Não, não dá não! A família dele sempre esteve envolvida com Artes das Trevas, por que ele seria diferente?
–
Ele não disse que quer mudar de lado, Rony. Ele só disse que quer mudar essa situação. E não acredito que ele vá se tornar um Comensal de verdade, mesmo tendo a marca...
–
–
Você sempre achou que ele não prestava! – Gina estranhou.
Mas é diferente. Ser um metido, antipático e ser um assassino cruel! Aquele cara esquisito, na Travessa do Tranco, disse alguma coisa sobre ele não ter se decidido ainda, algo assim... E ele está certo, por que temos que ficar nos submetendo às vontades dos outros, do Ministro, ou seja lá de quem for? Eu acho que tenho o direito de saber o que está acontecendo à minha volta, se isso me inclui. E tenho o direito de me recusar a ter aulas com um professor que me odeia.
–
E o que você está pensando em oferecer a Draco em troca da informação? – Hermione perguntou, pensativa, enquanto se dirigiam ao saguão de entrada.
–
Está brincando? Você não vai fazer acordo com ele, não é, Harry? Eu prefiro invadir o Ministério! – Rony disse, veemente.
–
O que é isso! Quem vai invadir o Ministério? – os corações deles deram um salto dentro do peito.
–
–
Sirius! – Harry o abraçou aliviado.
–
O que vocês estão pensando em aprontar? – perguntou seriamente a eles.
–
Nada, foi só força de expressão – Rony disfarçou mas Sirius os encarou com desconfiança.
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107
Sirius!! – a Professora Sterling correu para ele e se jogou em seus braços. Os quatros se entreolharam espantados.
–
–
Vocês já conheceram a Professora Raven? – Sirius perguntou com um sorriso.
Eu finalmente conheci o Harry, ontem. – ela contou entusiasmada. – E já dei aula pra essa linda ruivinha – disse acariciando o rosto da espantada Gina. – Ginevra Molly Weasley!
–
–
Só Gina, por favor – pediu, encabulada.
Você é o Rony, claro. E você... – olhou nos olhos de Hermione, avaliando. – De olhar prático e intelectual... só pode ser a Hermione... Você tem uma alma voraz por conhecimento! – disse encantada.
–
–
Obrigada... – respondeu sem jeito.
–
Pra onde nós vamos? – se dirigiu a Sirius ainda agarrada ao seu pescoço.
O que quer dizer? Você sabe que tenho que levar Harry ao Beco Diagonal hoje... O que está aprontando? – perguntou divertido.
–
Você não precisa mais... – retirou do bolso a varinha de Harry e a devolveu. Ele a recebeu maravilhado. – Na verdade eu poderia ter te devolvido ontem mesmo, mas eu queria que Sirius viesse.
–
–
Claro que eu viria de qualquer jeito! – disse abraçando-a apertado enquanto ela gargalhava. Alguns alunos que saíam para o saguão olharam dando risadinhas.
–
Vocês, por favor, podem fazer isso em outro lugar? – Harry perguntou, constrangido.
Ah, Harry, não seja tão careta! – Sirius sorriu para ele e Raven se afastou de Sirius, fingindo estar emburrada.
–
Eu já fui chamada a atenção ontem! Só por causa de um beijo inocente! – reclamou com Sirius. – O pessoal aqui é careta demais... – cochichou.
–
–
Bom, depende de quem você beijou... – Sirius respondeu, enciumado.
–
Só o Harry... – disse inocentemente.
Você é professora, não pode demonstrar afeto ou preferência. Deixa pra fazer isso quando estivermos em casa... – Harry os olhava boquiaberto, estava parecendo ser mais que um simples namoro... Sirius nunca havia lhe dito nada, mas sentiu uma urgência maior de desviá-los para outro assunto iminente.
–
–
Vamos lá pra fora....
–
Não estamos fazendo nada de mais, Harry...
Sério, vamos sair daqui! – Harry tentou conduzi-los para o jardim. Sirius continuou parado, olhando sem entender. – Snape está vindo pra cá! – explicou.
–
Ora, e por que eu deveria ter medo do Ranhoso? – Sirius perguntou, confuso. Raven também o olhava da mesma forma.
–
Professora... Sterling? – Snape apareceu no saguão. Olhou Sirius de cima a baixo, com desdém. – Professora, eu estava pensando... não deseja que eu a leve para conhecer o castelo hoje? Tenho bastante tempo disponível... algo raro de acontecer...
–
Sirius lançou a ele um olhar mortífero. –
Eu adoraria, ainda não me habituei a tantos corredores e passagens... mas agora não tem
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como... Nós vamos levar esses quatro adolescentes para um passeio. Hermione trocou com Harry um olhar incrédulo. –
“Nós”? Quem? – Snape perguntou.
Sirius e eu... Não se preocupe, nós podemos dar conta, não é? – perguntou a Sirius. Ele se aproximou mais dela e pôs a mão em sua cintura.
–
–
Claro!
–
E o Diretor está sabendo disso? – Snape perguntou, com um olhar exasperado.
–
Disso eu mesmo cuido! – Sirius lhe devolveu o olhar.
Então, podemos ir? Sirius! Vamos?! – Harry ficou temeroso que pudessem começar a duelar a qualquer momento. Alguns alunos agora saiam do salão e diminuíam o passo, pressentindo que poderia ter alguma confusão a caminho.
–
Cuidado, Professora, para não contrair pulgas de cachorro! Alguns animagos têm dificuldades em conviver com o seu modo animal...
–
Eu não tenho pulgas, Ranhoso! – Sirius se aproximou de Snape puxando a varinha. – Mas isso é sanável, ao contrário da raiva transmitida por morcegos...
–
Snape se aproximou também, a mão no bolso das vestes. Harry se posicionou na frente de Sirius pondo a mão em seu peito.
–
É melhor vocês pararem, estão chamando atenção! – Sirius continuou impassível. – Professor Snape, Dumbledore não vai gostar de saber disso... – Snape lançou a Harry um olhar de puro ódio.
–
–
Não se preocupe, Professor Snape, eu adoro cães! – Raven disse friamente.
Snape se afastou, furioso. Os poucos curiosos que esperavam por perto começaram a se dissipar, desapontados. Você nunca me disse isso! Que era um animago! – ela olhava para Sirius, aborrecida. O brilho em seus olhos voltando aos poucos.
–
Nunca pintou oportunidade... – disse ele, sem jeito. – Mas saiu no Profeta Diário, não é mais segredo pra ninguém.
–
–
Eu não leio publicações ministeriais! – disse irritada.
Shhhh! – Sirius levou o dedo aos lábios pedindo silêncio. – Dumbledore teve muito trabalho pra convencer o Ministro de que você era apta para o cargo. Não deixe ninguém perceber sua opinião desfavorável ao Ministério... – cochichou. Harry, Hermione, Rony e Gina acompanhavam surpresos.
–
Tudo bem, então... – disse voltando a sorrir. Lançou os braços em volta de seu pescoço. – Que cão você é?
–
–
Hum... um Irish Wolfhound – respondeu, cauteloso.
–
Se você me apresentar o seu Irish Wolfhound... eu te apresento a minha Setter Irlandesa... – disse meigamente. Você também é um animago?! – perguntou espantado. Os quatro olhavam de um para o outro, absorvendo as informações.
–
Shhhh! – ela repetiu seu gesto. – Ninguém pode saber disso! – disse olhando para os cinco.
–
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109
–
Clandestina? – Sirius sussurrou.
Claro! Senão, que graça teria? – os dois sorriram, cúmplices. – Como foi que soube que o Prof. Snape estava vindo pra cá? – ela perguntou a Harry.
–
Ele não soube. Snape está sempre rondando quando estou por perto. Nós nos odiamos, acho que você percebeu...
–
É, ele vai ser bem difícil... – ela observou, pensativa. – Mas aonde vai nos levar? Vamos a Hogsmeade? Eu ainda não conheço...
–
Não vamos poder! – Hermione se adiantou. – Não temos permissão, e temos muitos deveres a fazer.
–
É verdade. – Sirius concordou. – Eu teria que pedir a Dumbledore primeiro... – Raven fez uma careta.
–
–
Então vamos... Tchau crianças... Outro dia levaremos vocês para passear... Se afastaram rindo e brincando. Os quatro ficaram um tempo olhando-os partir.
–
Eu gostaria de ir a Hogsmeade... – Gina comentou.
Está louca? Ir com esses dois? – Hermione reprovou. – Teríamos que tomar conta deles, tomar conta de nós mesmos e ainda segurar vela...
–
Eles são um casal perfeito, são idênticos! – Rony disse, deslumbrado. – E o Snape? Viram a cara dele? Ele achou mesmo que podia competir com Sirius?
–
Harry ouviu em silêncio, não gostara da expressão de ódio que vira em seu rosto. Teria que arranjar uma maneira de se livrar de suas aulas para o seu próprio bem. Podem ser idênticos, mas não há perfeição, falta razão e responsabilidade. – Hermione avaliou.
–
–
Acho que vamos ter mais gente para o natal... – Gina comentou, alegre.
–
Pensei que não gostasse dela. – Harry observou.
Ah! Isso foi ontem! – Gina trocou com Hermione um olhar significativo. As duas foram em direção ao salão Comunal. Rony e Harry as seguiram.
–
Desceram para o almoço algumas horas depois, passaram toda a manhã fazendo deveres de casa, Gina os esperou, queria que fossem assistir seu teste para o time de quadribol, depois do almoço. Rony estava reticente quanto a continuar no time. –
Claro que você vai, você sempre quis isso! – Harry reclamou.
Eu não vou fazer falta nenhuma, deve ter candidatos melhores do que eu. Eu fico nervoso demais... – admitiu chateado.
–
Faça o teste. Se você não conseguir, pelo menos tentou, não é o fim do mundo! É só um jogo idiota! – Hermione tentou animá-lo. Gina a olhou com cara feia. – Nem tão idiota assim ... – consertou.
–
–
Eu posso usar um feitiço que te ajude nisso, eu li um no Lord... – Harry disse.
–
Que tipo de feitiço? – Hermione perguntou.
–
Um bem diferente... Nunca vimos antes...
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Não pode usar feitiços desconhecidos em alguém, não sem antes ter certeza de que é seguro. Deixa eu ver... – ela pediu.
–
Mione! Acha que eu deixaria que alguma coisa ruim acontecesse ao Rony? – Harry reclamou. – Você confia em mim, não confia? – perguntou ao indeciso Rony.
–
Rony ficou em silêncio por alguns segundos enquanto se decidia. –
Tá, pode fazer. Harry puxou a varinha e apontou em sua direção, guardou-a novamente a seguir.
–
Não senti nada...
–
Ótimo, não é para sentir mesmo, só vai te deixar melhor em campo.
Rony pareceu acreditar. Desceram para o campo de quadribol. Cátia Bell, a nova Capitã do time, os recebeu animada. –
Harry! Que bom que mudou de ideia! Harry a olhou sem entender.
–
Não, Cátia, eu só vim assistir...
–
A Profª McGonagall disse que você reconsideraria... Ela veio assistir ao teste.
Harry se virou para a arquibancada e viu a professora conversando com Madame Hooch. Rony e Gina foram para o gramado enquanto Harry seguia com Hermione para a arquibancada, outros alunos da Grifinória também estavam lá, para assistir. – –
Potter, sabia que viria – a Professora McGonagall disse ao avistá-los. Só vim assistir... – Harry disse, desconfiado.
Pensei tê-lo ouvido dizer que poderia voltar a jogar se tivesse a sua varinha e a Profª Sterling me contou hoje que a devolveria, não sei como ela conseguiu fazer todos os testes em tão pouco tempo, mas ... – disse analisando de longe os candidatos. – Se existiu a pretensão de voltar ao time, você não poderia pelo menos ficar como nosso reserva? – pediu olhando-o por cima dos óculos.
–
Vou ter que fazer os testes? – Harry perguntou, não conseguiu recusar o pedido da professora, gostava dela. Ela o havia apoiado ano passado; quando escolhera a carreira de auror, contra a Umbridge.
–
–
Não seja ridículo, vou avisar à Srta. Bell... – afastou-se satisfeita.
Que bom, Harry, você gosta tanto! Se bem que não será muito honesto... Por falar nisso – Hermione respondeu ao aceno de Rony, que iria iniciar o teste. – Posso ver esse feitiço agora?
–
Não existe feitiço nenhum, eu nunca busquei sobre isso no Lord... Sério! – confirmou ao perceber seu olhar incrédulo. – Eu te disse, não iria arriscar a segurança dele. Ele é um bom goleiro, só precisa acreditar nisso.
–
Rony jogou muito bem, defendeu todos os gols e Gina foi igualmente maravilhosa, ficou com a posição de artilheira. No final dos testes os alunos se espalharam pelo gramado, a tarde estava agradável. Hermione e Harry foram até lá para falar com os amigos. Harry! Você não vai ficar chateado se eu for o novo apanhador? – Dênis perguntou, temeroso.
–
Só se você me der motivos para voltar ao campo – brincou. Assistira aos treinos, achou que Dênis tinha sido a melhor escolha, era ágil e leve, se sairia bem.
–
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–
Parabéns Rony, você foi muito bem! – Hermione o cumprimentou.
–
Obrigado... – respondeu satisfeito consigo mesmo.
Sirius e Raven se aproximaram cautelosamente, cientes do olhar de interesse dos alunos em ver a nova professora, que poucos conheciam; a maioria ainda não havia tido aulas de DCAT, com o ex-fugitivo Sirius Black. Harry estranhou o comportamento deles, antes tão grudados, agora vinham lado a lado mas há centímetros de distância, feito que antes pareciam não conseguir realizar. Harry olhou ao redor e não viu a Profª Minerva, imaginou que ela poderia ter cruzado com eles pelo caminho. –
O que houve? – Harry perguntou a Sirius.
–
Viemos ver vocês... Vai ter jogo hoje?
–
Não, hoje foram só os testes.
–
Sirius disse que você joga muito bem – Raven comentou.
–
Este ano vou ficar só na reserva, espero não precisar jogar.
A Profª McGonagall comentou comigo ainda há pouco. Muita coisa tem acontecido, mas você não pode deixar que isso atrapalhe seus planos. Desistiu da carreira de auror também... – Sirius comentou, preocupado.
–
Auror!! – Raven se espantou. – Ele não vai ser um auror! Eles são assassinos, exterminadores sob a proteção do Ministério! – cochichou.
–
–
Raven... Por favor... – Sirius pediu. Ela fechou a cara para ele. Gina sorriu. Harry imaginou que Luna, talvez, fosse gostar da nova professora.
Não importa, eu não vou ser. Não dá pra agir normalmente e fingir que não tem nada acontecendo lá fora, não dá pra fingir que eles não existem só porque vocês não querem me contar a respeito! – disse revoltado. – Aliás, nem sei se vou chegar a ser alguma coisa, então, pra quê me preocupar?
–
Raven o olhou com interesse. –
Não comece com isso...
Não, Sirius – Raven o interrompeu. – Ele tem razão de estar curioso... e revoltado, é natural...
–
–
Oi, Harry! Lembra de mim?
Harry se virou e deparou com a menina de cabelos cacheados, cor de avelã, que conhecera no dia anterior. –
Ah! Oi... Vela...
–
Evandra Velaska. – ela se apresentou. – Sou do sétimo ano da Grifinória.
–
Ah, claro... Desculpe por ontem, eu...
Tudo bem, eu entendi. Eu te procurei porque quero muito fazer parte do seu grupo, da Armada de Dumbledore!
–
–
Bom... ainda não decidimos se vamos continuar com o grupo...
Mas vocês têm de continuar! – indignou-se. – Vocês são um marco para uma nova era. A voz de uma geração...
–
–
Desculpe, mas eu acho que não há mais necessidade desse grupo existir, vocês voltarão a ter
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aulas de Defesa este ano, aulas de verdade. – Raven a interrompeu. –
Mas não são só as aulas, é o conhecimento prático que Harry pode nos passar, é …
Justamente, conhecimento esse que é perigoso demais para ser passado assim! – Raven o repreendeu com o olhar.
–
Harry se perguntou se era possível que ela soubesse do Lord, mas nem contara ao Sirius a respeito do livro. Eu, como professora sou contra a continuação dessa “Armada” e gostaria que você entendesse, Harry...
–
Evandra o encarou aguardando sua posição a respeito. Você é aluna do sétimo ano, não veria muita utilidade nos nossos encontros... – Ele decidiu e ela suspirou perante a decisão dele.
–
Por causa de tudo o que você sofreu ano passado, toda a calúnia e difamação, que eu decidi fazer, neste ano, um estágio no Profeta Diário. Estava meio indecisa quanto a qual carreira seguir, mas todo o episódio ocorrido me fez decidir! Não é possível que uma coisa dessas aconteça a um inocente! E se não fizermos nada, nada mudará. Eu pretendo fazer a minha parte. – ela discursou. Hermione se aproximou mais. – Vi a maneira como você persistiu até o fim, aguentando as torturas daquela mulher horrorosa, você se manteve firme, é esse o exemplo que eu quero seguir, vou me manter firme nos meus ideais.
–
Você é corajosa. – Harry a admirou. – Na verdade, eu desisti do Ministério depois de tudo o que ele me fez passar.
–
–
Mas o melhor lugar, para se começar a mudar, é de dentro para fora. Harry a olhou, pensativo.
Seria bom se os alunos pudessem ter uma ideia melhor de como é o Ministério, o que é e para que serve... – Hermione sugeriu. – Ficaria mais fácil acompanhar suas ações, discernir o que é certo e o que é errado, até onde ele deve agir para proteger a comunidade bruxa – opinou.
–
Eu também penso assim! E esse é o meu objetivo no Profeta, trazer maior transparência ao que acontece, divulgando sempre a verdade, sem omitir ou criar situações...
–
O Profeta poderia fazer uma pressão para que o Ministério se interessasse em informar e orientar os alunos sobre sua funcionalidade, promover passeios educacionais ao Ministério... Isso iria em encontro ao princípio da transparência, não?
–
É uma ótima ideia! – Evandra se entusiasmou. Hermione sorriu satisfeita. – Vou propor isso ao editor...
–
Raven olhou para cada um deles, desconfiada. Evandra se despediu deles. Harry ficou observando ela se afastar. Sirius sorriu para ele, desviou rapidamente o olhar, Gina também o estava observando. –
Ela tem razão. – Hermione concluiu.
–
Acha que vai dar certo? – Harry perguntou à Hermione, que sorriu confiante.
–
Do que vocês estão falando? O que estão pretendendo? – Raven perguntou, interessada.
–
Nada de mais, só planos... – disfarçou.
Não fiquem chateados pelo grupo, é muito legal, mas... eu prometo passar todo o conhecimento que vocês irão precisar, antes que eu vá embora...
–
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–
Embora? Pra onde? – Sirius perguntou assustado.
–
Sou a Professora substituta... – respondeu sorrindo. – Assim que o professor voltar, eu irei.
–
Eu duvido que ele volte... – Sirius respondeu pesaroso.
De qualquer jeito, o cargo está enfeitiçado mesmo. Nenhum professor fica por mais de um ano – Rony lembrou.
–
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CAP. 14 - TOM RIDDLE A semana começou e se viram novamente atolados com deveres de casa. Harry e Rony haviam despachado Pichitinho à loja dos gêmeos no fim da semana, sem que Hermione soubesse. Tinham enviado um pedido de kits mata-aula num envelope com dinheiro e todas as manhãs aguardavam ansiosos pelo correio. Na terça-feira foram para a aula de DCAT. Raven os recebeu alegre, como sempre. A aula foi bem divertida, tanto quanto eram as de Lupin. Gostei da aula dela. – Rony comentou algumas horas depois enquanto se encaminhavam para o Salão Comunal.
–
Harry estancou de repente e os puxou com urgência para dentro da porta mais próxima, o banheiro da murta. –
O que foi? – Hermione reclamou.
–
A marca – sussurrou. – Pode ser o Snape.
Puxou de dentro da mochila o mapa do maroto. Viram um pontinho com o nome de Severo Snape passar pelo corredor ao lado de onde os nomes deles estavam marcados. Ele seguiu até o final do corredor e parou ao lado de outro, que marcava Raven Sterling. –
O que será que estão fazendo? – Rony perguntou. – Será que ele ainda tem esperanças?
–
Contanto que não a trate como trata o Sirius, ou a mim...
–
O que vocês estão fazendo? – Murta perguntou acima deles, tentando ler o pergaminho.
Só esperando o Professor Snape ir embora... – Harry passou o mapa à Hermione, que continuou vigiando. – Como você está?
–
Sozinha... – Murta disse, tristonha. – Vocês não vêm mais me visitar... Ninguém vem aqui, só algumas alunas do primeiro ano, às vezes...
–
Pode ir nos visitar quando estiver se sentindo sozinha, não precisa ficar aqui o tempo todo. Os outros fantasmas circulam por todo o castelo... – Harry comentou.
–
–
Sério? – perguntou ajeitando os óculos.
–
Claro! Eles circulam pelo castelo todo, o tempo inteiro...
–
Não! Posso mesmo visitá-los? – perguntou entusiasmada.
Pode sim, somos amigos, não? – Rony respondeu, examinando a passagem que levava à Câmara Secreta. – Ninguém nunca mais a abriu, não é?
–
–
Não... acho que só o Harry consegue... – disse ela, flutuando em volta das pias.
O Prof. Snape bem que poderia dar umas voltinhas lá embaixo – Rony sugeriu a Harry, brincando.
–
–
Ele já foi. – Hermione avisou.
–
Como assim ele já foi? Se só o Harry consegue abrir... – Rony estranhou.
–
Eu quis dizer que ele foi embora, já podemos sair. Despediram-se da Murta e seguiram para o Salão Principal. Não viram o Prof. Snape. A
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Profª Sterling conversava animadamente com a Prof.ª Sprout. Depois do almoço Harry subiu com Hermione enquanto Cátia marcava com Rony o primeiro treino do time. Raven fora a única que não passara dever de casa até então. Ficaram aliviados. Ainda tinham deveres de Feitiços e Transfiguração das aulas do dia anterior. Rony apareceu depois, de cara amarrada. Hermione e Harry já tinham começado a fazer seus deveres. –
O que foi? – Hermione perguntou. – Vai ter que acordar muito cedo para o treino?
–
Acabei de perder dez pontos para a Grifinória! – disse de mau humor.
–
Por quê?! – Harry o olhou, curioso.
Snape! – pronunciou com raiva. – Só porque eu estava com pressa, eu nem estava correndo! Acho que a Professora Raven deve ter dado um fora nele...
–
Harry suspirou aborrecido. Tinham muitos problemas a resolver.
Na quinta-feira de manhã receberam a resposta de Fred e Jorge. Uma caixa vazia com um bilhete: “Para monitores é mais caro!” –
Eles vão ver só! – Rony vociferou.
–
Deixa que eu escrevo a eles. – Harry pegou papel na mochila e começou a escrever.
–
Mesmo assim, o que faremos hoje? – ele perguntou desesperançado.
–
Do que vocês estão falando? – Hermione olhou pra caixa vazia sem entender.
–
Nada... Mamãe esqueceu de me mandar um suéter que eu pedi... Mandaram Pichitinho de volta com a carta de Harry.
Tiveram que assistir a aula de Poções à tarde. Ficaram em silêncio durante toda a aula, mesmo assim, Snape tirou dez pontos da Grifinória por Harry não saber responder o nome dos ingredientes da poção Veritaserum e mais dez por não saber a utilidade da poção Amortentia. Pensei que eu estivesse aqui pra aprender, e não pra dar as respostas – respondeu malcriadamente.
–
–
Detenção, Sr. Potter! – Snape exclamou, satisfeito. – Na minha sala, sábado, às 9hs.
Harry ficou perplexo, trocou um olhar indignado com Rony. – “o que pode acontecer de pior?” – perguntou-se. A resposta veio antes do término da aula. Espero que se preparem para a minha próxima aula – Snape os avisou antes de tocar o sinal. – Pois consegui um raríssimo veneno de manticora... Eu tenho o veneno, vocês irão preparar o antídoto e no final da aula sortearei um aluno para testar sua eficiência perante a classe. Aconselho a se esforçarem, o veneno do manticora causa dores alucinantes...
–
Os alunos se entreolharam, incrédulos, alguns arriscaram um risinho nervoso na esperança de que fosse uma brincadeira. Ele não pode fazer isso! – Hermione sussurrou. – Não existe antídoto para o veneno de manticora que seja eficiente o bastante... Os sintomas podem permanecer por dias...
–
Aqui está o veneno – Snape mostrou uma ampola de vidro com um líquido alaranjado. O silêncio reinou na sala, todos pareciam estar prendendo a respiração. – Para não dizerem que não sou justo, estou avisando com antecedência para que os menos privilegiados na minha
–
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matéria também tenham uma chance... – trocou com Harry um rápido olhar. Harry sentiu tanta raiva que sua cicatriz ardeu ferozmente. Estava convicto que seria o aluno “sorteado”. Saiu da sala apressado, queria pôr a maior distância possível entre ele e o professor. Rony e Hermione o alcançaram um pouco depois. Lutou para se acalmar e retomar o controle. Aos poucos a dor foi suavizando. Não se preocupe, Harry, ele não pode fazer isso, seria tortura e Dumbledore não vai permitir...
–
Dumbledore tem permitido muita coisa ultimamente... Draco, o ataque ao trem... – levou a mão à cicatriz, respirou fundo para voltar a se controlar.
–
Na sexta-feira ainda não estava se sentindo bem, sua cicatriz latejava frequentemente. Estava tendo dificuldade em manter o controle, estava seguindo as dicas do Lord, mas toda aquela situação o atrapalhava a se concentrar. Evandra foi procurá-los depois do almoço. –
Eu falei sobre a sua ideia, lá no Profeta – comentou com Hermione.
–
Mas você não disse o meu nome, não é? – perguntou preocupada.
Não... Eu dei a entender que vários alunos haviam sugerido isso, pra dar mais força ao pedido, mas eles não deram nenhuma atenção, estão preocupados com o que está acontecendo, ainda há três aurores desaparecidos, vocês sabem, não é?
–
–
Estamos sabendo... – Hermione respondeu, desanimada.
Mas vou continuar tentando... Já falei com Susana, ela prometeu comentar com a tia a respeito.
–
–
Quem? – Rony perguntou.
–
Ela participou da AD ano passado...da Lufa-lufa!
–
Susana Bones! A tia dela trabalha no Ministério... – Harry comentou esperançoso.
Tudo bem, mas não queremos que nossos nomes sejam envolvidos, muito menos o do Harry. Já estamos muitos visados, entende? – Hermione pediu.
–
Claro, não se preocupem! – Evandra sorriu para Harry e se afastou prometendo arranjar mais interessados para promover uma pressão interna também.
–
–
Pelo menos estamos tentando.
–
É, só que não está sendo o suficiente... – Harry reclamou enquanto esfregava a testa.
No dia seguinte desceu com os amigos, mas não conseguiu tomar o café-da-manhã. Sua cicatriz continuava a arder insistentemente, estava ficando preocupado. É melhor você falar com Dumbledore... – Hermione congelou a água do copo, embrulhou a pedra de gelo num guardanapo e passou para Harry.
–
Não... eu consigo... Só está sendo mais difícil desta vez. O Snape me deixou com muita raiva, perdi o controle. Além disso, o que Dumbledore pode fazer? Mandar eu ter aulas de Oclumência com o Snape, novamente?
–
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–
Então evite pensar no Prof. Snape... – Rony encheu o prato com panquecas.
–
Como? Esqueceu que tenho que cumprir detenção com ele hoje?
Por que você não pede para ser dispensado, Harry? Fale com a Professora Minerva, diga que não está se sentindo bem... – Gina o olhava preocupada.
–
Não dá, eu pretendo passar mal na próxima aula do Snape, se começar desde agora ele ficará desconfiado.
–
–
Como assim “pretende passar mal”? – Hermione indagou.
Vou ter uma doença qualquer, contagiosa, Rony vai pegar também... – disse enquanto apertava o gelo contra a cicatriz.
–
Quem sabe você consegue ficar doente hoje e estender durante o resto da semana – Rony disse, olhando para o teto, na esperança de avistar alguma coruja.
–
Tudo bem matar a aula de Poções – Hermione concordou. – Mas não pode faltar a semana inteira, é muita matéria.
–
Está falando sério? – Harry duvidou. – Concorda que eu use uma das Gemealidades Weasley para faltar à aula do Snape?
–
–
Depois da última aula... talvez seja melhor pra você.
–
Ele não pode fazer isso! – Gina exclamou, revoltada. – Dumbledore...
O Diretor sempre o defende – disse Harry, com raiva. – Não é a primeira vez que ele nos ameaça de envenenamento, mas pra ele chegar a fazer isso, de verdade, só se o Diretor tiver autorizado, Snape não se arriscaria tanto...
–
–
Acha então que ele só estava sendo desagradável? – Rony perguntou. – Sendo normal?
–
É melhor não arriscarmos...
Se Fred e Jorge não mandarem hoje o kit que encomendamos eu vou até lá pessoalmente! – Rony irritou-se.
–
Se vocês verem o Sirius hoje, falem com ele, ele pode ir até a loja pra gente. Não sei a que horas o Snape vai me dispensar...
–
–
Ele ficou de vir?
É provável que venha se encontrar com a Professora Raven. Se não vier, eu falo com ele mais tarde, pelo espelho.
–
Despediram-se no saguão, Rony e Gina foram para o treino de Quadribol, Hermione voltou para o Salão Comunal, para adiantar os deveres. Desejaram-lhe boa sorte. Às nove horas, Harry bateu à porta dos aposentos de Snape. Ele mandou que entrasse. Sentiu como se estivesse novamente nas aulas de Oclumência, a sala sombria e fria lhe trazia más recordações. Aproxime-se, Potter. – Snape apontou para a mesa – Essa será a sua tarefa até o término da detenção.
–
Mostrou a ele uma bacia de insetos mortos. Harry sentiu o estômago revirar. –
Mas está podre... – comentou, enojado, cobrindo o nariz com a mão. Não seja estúpido! Esse é um cheiro característico dos Bundimuns. Quero que os esmague e separe a secreção neste jarro – Snape depositou um jarro de
–
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vidro sobre a mesa. – Há o suficiente para enchê-lo. Harry ficou feliz por não ter tomado o café da manhã. Snape lhe deu um pilão e um recipiente de prata, ficou observando enquanto Harry retirava uma colher de insetos mortos da bacia, prendendo a respiração, e colocava no pote. Com o fluído deles pode-se preparar uma poção capaz de secar todo o liquido do corpo de quem a beber, um prático processo de mumificação. – Snape disse, enquanto andava pela sala verificando os rótulos dos frascos na estante, pegando um ou outro de vez em quando.
–
O cheiro o estava deixando tonto além de nauseado, sua cicatriz não estava dando um minuto de trégua. A presença de Snape o deixava com ainda mais raiva, mais vulnerável. Triturou os insetos mortos com toda a ira que sentia. Virou o pote no jarro, caíram duas gotas apenas. Olhou com desânimo para a bacia, levaria no mínimo o dia inteiro para conseguir encher aquele jarro pela metade. Começou a sentir fisgadas na testa a intervalos cada vez mais constantes. Uma hora depois, a palma de sua mão estava vermelha e dolorida e ainda conseguia ver o fundo do jarro. Não aguentou. Professor, posso continuar isso amanhã? Não estou me sentindo bem... – estava considerando a possibilidade de ir para a enfermaria, talvez pudesse ficar lá até segunda-feira.
–
Está enjoado? – perguntou Snape, verificando sua palidez. – Acostume-se. Para quem consegue conviver com Sirius Black, não vejo o porquê de tanto incômodo... – comentou maldosamente.
–
–
Por favor, Professor...
Por que eu deveria te conceder o privilégio? O inútil do teu padrinho virá hoje também? Logo agora que você conseguiu permissão para viver com ele, parece que ele resolveu formar a própria família... Que pena! – suspirou. Harry o olhou, furioso, mas não disse nada, voltou novamente para a mesa. – Não pense que ter um dos professores o bajulando irá lhe conceder mais regalias do que já tem!
–
Harry se apoiou na mesa e levou uma mão à testa, estava tremendo. Os potes na estante começaram a chacoalhar. O que está fazendo? – Snape perguntou, surpreso e enfezado. – Pare com isso, Potter! – um vidro explodiu na estante fazendo seu conteúdo respingar pela parede, em seguida, outro. – Já mandei você parar com isso!
–
Snape puxou bruscamente seu braço, para encará-lo de frente. Ambos olharam para a sua mão ensanguentada. Foi a última coisa que Harry viu.
Caiu num mar de escuridão e silêncio pelo qual foi arrastado rapidamente. De repente, a claridade. Abriu os olhos devagar, a luz do sol era reconfortante. Levantou-se, não sabia onde estava, viu árvores, o céu azul, a relva verde... –
Gosta daqui?
Harry ouviu a voz familiar, mas não havia saído de sua boca desta vez, virou-se. Voldemort estava de pé encostado a uma árvore, as mãos enfiadas no bolso, numa posição bem descontraída. Mas não era o Voldemort, era Tom Riddle, do jeito que o conheceu no diário, ainda adolescente. Buscou automaticamente por sua varinha, mas não a encontrou nos bolsos. –
O que faz aqui? – perguntou Harry, desconcertado.
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–
Estou exatamente onde eu deveria estar... Harry olhou ao redor, nenhuma casa ou pessoa.
Estou morto? – perguntou assustado. Lembrou da detenção com Snape e de ter visto o sangue. Olhou para as mãos, estavam limpas.
–
–
Você deve estar delirando... – Tom Riddle disse pacientemente.
–
Mas se você está morto... O que eu estou fazendo aqui?
Morto? Eu? Nada, nem ninguém, pode me matar. Estou protegido da morte humana, já mencionei isso – disse irritado – Você deve estar se referindo ao diário que o meu estúpido servo deixou que parasse em suas mãos... Não confunda uma “lembrança” com quem eu sou de verdade – Harry o ficou observando em silêncio. – Tudo bem que você esteja confuso – disse em tom mais suave. – Tive que recorrer a magias muito poderosas para te trazer aqui hoje. Você tem bloqueado todas as minhas tentativas de aproximação.
–
–
Tenho?! – espantou-se.
Afinal, não foi tão boa ideia assim te dar aquele livro... – um sorriso apareceu nos lábios de Riddle. – Imagino que tenha aprendido a fechar sua mente.
–
Harry olhou para o céu, o sol brilhava, mas mesmo assim sentiu frio. –
Onde estamos? Que lugar é esse?
Esta é uma lembrança da minha adolescência, um lugar especial para mim... – disse ele, olhando ao redor.
–
E por que me trouxe até aqui? – Harry achou difícil associar o belo rapaz ao que Voldemort se transformara.
–
Eu prometi te dizer o que eu havia descoberto depois que você me permitisse confirmar minhas suspeitas, lembra? Você cumpriu a sua parte, mesmo que involuntariamente – disse enquanto andava ao seu redor. – Trouxe você aqui para cumprir a minha.
–
Harry o acompanhava com o olhar, desconfiado. Você se deu a todo esse trabalho só pra cumprir com uma promessa sobre algo que eu sequer aceitei? O que está querendo desta vez? Sem jogos...
–
Tom Riddle parou e o encarou por um tempo, um breve lampejo avermelhado passou por seus olhos, Harry sustentou seu olhar. Na noite em que seus pais morreram – Voldemort começou a explicar, omitindo o fato que fora ele o causador das mortes. – Parte de minha... alma, acidentalmente, se uniu à sua através do corte em sua testa, enquanto meu corpo era destruído.
–
Harry o olhou incrédulo, passou o dedo sobre a cicatriz, não estava doendo naquele momento. Nunca ouviu falar em divisão de alma? – Harry negou lentamente. – Uma alma pode se dividir em certas circunstâncias... especiais... A parte que se desprende, se não conseguir retornar à sua origem e não for direcionada para algo específico...
–
–
Eu estou com parte da sua alma?!
Sim, está... Mas ela não deixou de me pertencer, existe uma atração muito forte que tende a manter a alma sempre una, ao sentirem a presença umas das outras, as partes sempre buscarão se unir, por isso dói à minha presença.
–
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–
Impossível... – Harry sussurrou. Riddle se aproximou, determinado.
Continuamos conectados como um só, apesar dela estar presa a você. É por isso que você consegue me acompanhar quando perde o controle...
–
–
Quando estou dormindo, ou com raiva?
Qualquer sentimento ou situação que te faça baixar a guarda... irá possibilitar que prevaleça a vontade dela.
–
Harry pensou nas vezes em que não soube explicar a origem da raiva que sentia, lembrou da súbita vontade que teve de fugir da Casa Verde. Aproximou-se também. Riddle havia controlado Gina uma vez, isso não acontecia com ele, tinha total consciência do que fazia. –
Você está dizendo que isso pode me controlar, tem vontade própria? Como o seu diário?
Controlar não... influenciar, talvez. É muito parecida com a minha “lembrança”, que você conheceu em meu diário. Os meus poderes, a minha ofidioglossia, tudo que você herdou de mim se deve à presença dela.
–
Isso é loucura... – pronunciou, mas muita coisa fazia sentido para ele. – E como eu tiro isso...
–
–
Não. Não há como ser desfeito.
–
Se for como o diário, é claro que tem... eu o destruí.
–
Era um objeto, você só liberou a alma contida nele.
Então era uma parte de sua alma também? Ela voltou para você quando eu o destruí? – Riddle se afastou dele e começou a caminhar devagar. Harry o seguiu. – Como você a colocou num diário? Foi acidental também?
–
–
Não te trouxe aqui para discutir isso...
–
Pra quê então? Me matar e pegar a sua alma de volta? – desafiou.
Não... – Tom Riddle parou e o avaliou durante algum tempo. – Antes eu não sabia o que você era, não há nenhuma vantagem para mim em fazer isso agora. Na verdade, não garantiria tê-la de volta, não sei o que poderia acontecer.
–
–
Se não sabe o que pode acontecer, como pode ter certeza de que não há como desfazer?
Não tenho, mas a alma que está em você, agora é tão sua quanto minha, assim como você herdou características dela, minhas, isso pode ter acontecido em sentido inverso, por isso seres vivos não são usados. Não existe nenhum caso semelhante ao nosso, teríamos que aprender com nossas próprias experiências e eu não vou arriscar ter de volta algo que eu nem sei mais o que é ou o quanto foi modificado.
–
Não importa o que vai fazer com ela, é sua, só pegue-a de volta. – pediu Harry. Riddle olhou para sua cicatriz. – Está com medo?!
–
Mesmo se eu soubesse como... já perdi onze anos... Eu aprendo com os meus erros. Minha prioridade agora é te manter a salvo enquanto descubro o que fazer.
–
A salvo do quê? – perguntou irritado. – Eu não vou continuar compartilhando nada com você, seus poderes, sua alma perdida... Eu quero desfazer isso!
–
Eu também quero! Mas de forma segura e racional... Não seja tão emotivo! Grandes bruxos não demonstram sentimentos.
–
Ficou chocado com aquela crítica, os únicos bruxos que conhecia e que se encaixavam Elisa Vrastani - Magia, Poder e Destino I
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naquela descrição eram, talvez, Dumbledore e Snape, e nunca que seria igual a ele. Teve vontade de dar uma resposta mas só se afastou. Olhou para o céu azul e respirou fundo para se acalmar. –
Ótimo, Harry. Vejo que você herdou também o meu bom senso...
–
Não me irrite... – disse entre os dentes, tentando manter o controle.
Com os meus conhecimentos e a sua juventude, pode ir muito além do que imagina. Não precisaria se submeter a ninguém, a nenhuma magia...
–
Harry se reaproximou, cauteloso, estava se sentindo muito próximo de obter o que queria. Quem são esses praticantes de Magia Oculta e o que são essas magias Oculta e Antiga? O seu livro não mostra nada sobre elas...
–
São a mesma coisa. – Riddle respondeu prontamente como se esperasse o tempo todo pela pergunta. – É tudo magia. Simples, complexas, avançadas, elementares, todas originadas de uma única fonte.
–
Tom Riddle caminhou até próximo a uma grande árvore e se sentou à sua sombra. Harry o seguiu. Não encontrei nada a respeito em livros, foram todos destruídos – continuou. – Quando o Ministério resolveu ditar suas regras e eliminar o uso da magia descontrolada, da magia livre, ela foi intitulada de Magia Antiga, tudo que existia a seu respeito foi destruído e seus praticantes, os que não quiseram se submeter às diretrizes impostas pelo Ministério... Bem, estão lá onde você pôde ver naquela noite. Um cemitério secreto, último descanso dos resistentes, protegido pela magia dos Antigos.
–
–
Foram assassinados? Pelo Ministério?! – Harry perguntou, perplexo.
–
Você já teve uma pequena amostra do que o Ministério é capaz. Por que o espanto?
Harry olhou para as costas de sua mão direita, apoiada na árvore; as marcas de seu castigo, imposto pela Subsecretária Sênior do Ministro, Dolores Umbridge, ainda eram visíveis. Deslizou os dedos pelas iniciais de Riddle – TSR – gravadas no tronco. Sentiu um calafrio. –
Mas o que eles fizeram?
Nada. Só quiseram continuar escolhendo o próprio meio de vida. Os poucos remanescentes são praticantes da Magia Oculta agora. Tenho certeza de que já percebeu o descaso com o qual o Ministério trata todas as criaturas antigas que, apesar de racionais, fogem ao padrão de normalidade aceito pelo Ministério, elfos-domésticos, lobisomens, centauros, e muitos outros.
–
–
Isso é um absurdo...
Embora o Ministério saiba que ainda existam praticantes da magia livre, não tem como encontrá-los, estão bem protegidos. Apenas um membro poderia quebrar o encantamento que os protege mas todos são obrigados a fazer um voto perpétuo. É a única forma de entrar para a irmandade.
–
–
E o que eles querem comigo, se eu nem sabia que existiam?
Quando eu saí de Hogwarts – Riddle acariciou lentamente a grama, um ato humano e descontraído – Rodei o mundo em busca de todo e qualquer conhecimento que pudesse me dar mais poder. Eu sabia que o que eu havia aprendido em Hogwarts não era o suficiente, sempre me senti capaz de muito mais. Por causa da proibição do Ministério em relação a qualquer coisa ou assunto que mencionasse a Magia Antiga, eu fui procurá-los.
–
Harry aguardou impacientemente enquanto ele pensava a respeito.
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122
O Ministério tenta nos impor uma magia limitada, para nos pôr sob seu controle. Associei-me à irmandade e a abandonei depois que consegui o conhecimento que queria. Por isso não sou muito bem quisto entre eles.
–
Isso eu percebi... – Harry comentou, lembrando da maneira como o mencionavam “o que se diz Lorde”.
–
Eles esperavam que eu ficasse como eles, me escondendo em buracos abaixo da terra, com medo do Ministério...
–
Harry analisou a informação. Era sobre mim que você e Tahaus estavam conversando naquela noite? – ele perguntou, Riddle assentiu. Lamentou-se por não se lembrar de muita coisa. – E por que não estão atrás de você? Por que aceitam que vá até lá?
–
Tahaus é apenas um dos mais Antigos que existem no nosso país, e eu não sou uma ameaça. Ainda estou preso ao voto e não há nada que possam fazer contra mim... – Riddle o observou durante alguns segundos. – Quase nada... – concluiu.
–
Ainda não entendi por que estão atrás de mim... – sentou-se de frente para Riddle, enquanto ele brincava com um ramo seco recém arrancado da relva.
–
Porque eles sabem o que você é. Sabem do que você pode ser capaz. Você tem muitos dos meus conhecimentos, embora nem saiba que tenha, incluindo os conhecimentos sobre a Magia Oculta. Assim como descobriu sobre o voo livre, pode vir a descobrir a forma de quebrar o encantamento que os protege e denunciá-los ao Ministério. Você não faz parte da irmandade, não fez o juramento, é uma ameaça para eles. – Harry pousou a testa sobre as mãos.
–
Eu não pretendo fazer nada disso... – disse após um tempo. – Bastaria que eu dissesse isso a eles?
–
Isso eu creio que eles já saibam, pelo o que Draco Malfoy me contou sobre o seu encontro com um dos Guardiães.
–
–
Um... Quem são os outros?
Não sei quem são agora, há muito não sei o que acontece entre eles, mas serão sempre quatro. Provavelmente você irá conhecê-los, está causando desequilíbrio no mundo deles... Os praticantes da Magia Oculta conseguiram sobreviver até hoje por se manterem unidos, e você os está dividindo, entre os que querem descobrir até onde você pode chegar sem se tornar uma ameaça, e os que querem te eliminar pela simples possibilidade de você se tornar uma, até mesmo por saber o que você carrega, são esses que me preocupam.
–
–
Como Kariel? Riddle ficou algum tempo olhando o vazio, o olhar inexpressível. Levantou-se.
Tenho que ir. O melhor que você tem a fazer agora é ficar ao meu lado. – Harry fez uma careta, desaprovando a ideia. – Dumbledore não pode protegê-lo, na verdade nunca conseguiu fazer isso; aceite seu destino, Harry, juntos podemos descobrir uma maneira de contornar isso, até lá, você poderá usufruir da magia livre, sem perseguições...
–
–
E me tornar um praticante também? Deixar de ser humano...
–
Não seja tolo! Tudo tem um preço. Você já conseguiu muito sem ter de pagar nada por isso.
Eu não pedi... não tenho uma vida perfeita! Eu sequer tenho uma vida normal! – Levantou-se também. – Muito obrigado pela oferta, mas acho que posso tentar resolver isso sem virar uma aberração maior do que já sou... – olhou em volta imaginando como sairia daquele lugar.
–
Elisa Vrastani - Magia, Poder e Destino I
123
Com a minha orientação você não precisará se transformar em nada, assim com eu também não fui.
–
Harry se virou para encará-lo. –
Não foi? – perguntou, sarcástico.
Não me faça perder a paciência! – Riddle deu alguns passos em sua direção, seus olhos mudando rapidamente de preto para vermelho. Parou. – Estão me chamando, espero que seja realmente importante... – disse, irritado, perdendo a consistência enquanto desaparecia.
–
–
Espera, você não me disse...
Foi envolvido pelo vazio e sentiu-se emergir para a consciência. Abriu os olhos para uma parcial escuridão, uma vela brilhava fracamente de cima de uma mesa de cabeceira. Sua cicatriz latejou em protesto, estava um pouco atordoado. Retirou o pano úmido de sua testa e sentou-se. Sentiu a textura do lençol negro e acetinado sob suas mãos. Olhou em volta estranhando o lugar. O teto era irregular como o de uma caverna, nas paredes, imagens de pessoas se contorcendo, vítimas de terríveis maldições. Pulou da cama, enojado, quando percebeu onde estava. Era o quarto do Snape.
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CAP. 15 – DESAPARECIDOS Arrepiou-se, o aposento parecia o quarto de um vampiro sanguinário, era escuro e frio. Sentiu algo quente escorrendo pela sua face, tentou afastar com a mão, mas era só um filete de sangue, que continuava a escorrer de sua cicatriz, passou a toalha pela testa. Saiu do quarto cautelosamente, sem saber o que poderia encontrar, estava se sentindo fraco, mas não ficaria ali nem se fosse para ganhar cem pontos para sua Casa. Atravessou o corredor igualmente mal iluminado e se dirigiu para a porta em frente. Percebeu que Snape não parecia ter problemas em se locomover no escuro, se perguntou se o que Sirius dissera no último sábado tinha sido só para irritá-lo ou se Snape realmente conseguia se transformar em um morcego. Abriu apressadamente a porta e se lançou para fora. Fechou os olhos, afetados pela claridade; porém, a luz, embora fraca, era um alívio após a escuridão anterior. Meu querido! Você está bem? – ela o puxou para a sala e o empurrou para uma cadeira de espaldar alto – O que ele fez com você? – Raven perguntou docemente.
–
Nada... Estou bem... – respondeu sem saber ao certo a quem ela se referia. Snape também se aproximou, olhando-o atentamente.
–
–
Saiam da frente vocês dois, deixem-me examiná-lo! – Madame Pomfrey reclamou.
Com um aceno de mão Raven afastou as cortinas, aumentando a claridade. Embora com ar desaprovador, Snape não reclamou, parecia intimidado perante a presença da Professora. Eu estou bem... – Harry repetiu enquanto Madame Pomfrey retirava a toalha de sua mão, que deveria ter sido branca, mas que agora estava tingida de vermelho.
–
Isso é muito incomum! Não sei como agir num caso como esse, não há cortes para serem fechados, não há ferimentos... – retirou um vidro de sua maleta, umedeceu um algodão e passou por sua testa.
–
Alguns minutos atrás ele estava completamente inconsciente e febril. – Snape comentou erguendo a mão para tocar sua testa, mas Harry se afastou.
–
Mesmo? – Raven perguntou, sarcástica. – E como o senhor contribuiu para que isso ocorresse?
–
–
O que está insinuando? – Snape a olhou nos olhos, ultrajado.
Posso ir embora? – Harry tentou se levantar quando Madame Pomfrey terminou de examinar sua cicatriz. Estava começando a se sentir novamente enjoado.
–
Ah, que horror! Bundimum! – Raven exclamou, enojada, olhando para a bacia à mesa. – Ainda usa esses insetos Prof. Snape? São tão ultrapassados!
–
–
Faziam parte da detenção, Professora.
–
Nossa! Muito educativo.
Não me culpe pela má educação que o garoto recebe do padrinho, se soubesse se comportar em aula isso não seria necessário...
–
Vocês dois, por favor... – Madame Pomfrey lhes chamou a atenção enquanto Harry se dirigia para a porta. – Você vai para a Ala Hospitalar, Potter! – ela disse, seguindo-o.
–
–
Eu quero falar com Dumbledore! – Harry disse, encaminhando-se para o escadas, precisava
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125
contar ao Diretor o que acontecera. Quando ele chegar eu o aviso, até lá você ficará comigo... Olha só! – reclamou apontando a varinha para sua testa. – Tergeo! – limpou o sangue de sua testa com o feitiço. – É melhor falar com a Minerva, eu não sei curar isso...
–
–
Estava bem pior antes, acredito que esteja parando – Snape comentou, aproximando-se. Harry se afastou e continuou a caminhar, a dor em sua cicatriz quase não incomodava agora.
–
Então vou esperar por ele no sétimo andar...
–
Papoula! Aconteceu alguma coisa?
Eles se viraram ao ouvir a voz da Professora McGonagall. Ela se aproximou acompanhada de Dumbledore e Moody. Estavam visivelmente preocupados. –
Ah, que bom encontrar vocês... a cicatriz do Sr. Potter está ...
–
Não, isso não tem importância, Diretor, eu preciso falar com o senhor...
O que houve em sua testa? – Dumbledore se aproximou e virou seu rosto para examiná-lo melhor.
–
Já está passando... – Harry limpou, impacientemente, com a manga da blusa. – O que eu tenho pra falar é muito importante...
–
–
O que aconteceu com ele, Severo? É grave?
Ele ficou um bom tempo desacordado, Diretor, perdeu muito sangue, mas acho que já está voltando ao normal...
–
Harry ficou irritado por ele perguntar ao Snape e não a Raven ou Madame Pomfrey, que se importariam de verdade com seu estado. Vou pedir para que espere um pouco, Harry. Aguarde-me na Ala Hospitalar, fique em repouso, eu irei vê-lo mais tarde. Professor Snape, venha conosco, por favor...
–
Mas... – Harry pensou em protestar. – Aconteceu alguma coisa? – mudou de ideia ao perceber o clima tenso entre eles. – Tem alguém ferido?
–
–
Vá para a Ala Hospitalar, Potter! Eu vou saber se você não for... – Moody ameaçou.
–
Nossa! Ele mete medo! – Raven comentou quando eles e Snape se afastaram.
–
Moody é legal... Mas acho que está acontecendo algo grave, não achou?
–
Vamos, Potter, você ouviu o Diretor. – Madame Pomfrey tentou conduzi-lo à enfermaria.
Hermione, Gina, Luna e Rony apareceram correndo pelo corredor. Harry se adiantou para encontrá-los. Pode deixar Madame Pomfrey, eu o levo daqui a pouco... – Raven pediu e esperou que ela se afastasse.
–
–
Raven conseguiu te livrar do Snape? – Gina perguntou, animada.
Não, eu encontrei o Snape levando a Madame Pomfrey para a sala dele. Ele falou que o Harry desmaiou durante a detenção... – Raven contou.
–
–
Como assim “desmaiou”? – Hermione o olhou de cima a baixo – O que é isso em sua testa?
–
Nada! Depois... Vocês souberam o que está acontecendo? Por que eles estão daquele jeito?
–
Não. Vimos Dumbledore chegar com Moody, parecia que tinha acontecido alguma coisa –
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126
Rony respondeu – Então pedimos para a Cátia nos dispensar. Gina não estava conseguindo se concentrar mesmo, estava preocupada com... Vimos quando Dumbledore foi buscar a Professora Minerva, e depois você sair da sala do Snape... – Gina terminou a explicação e devolveu o mapa a ele.
–
–
Será que alguém se feriu? Sirius não vem hoje? – perguntou à Raven.
Não, ele não disse nada... Não falo com ele há dois dias... – ela começou a ficar preocupada. – Para onde será que eles foram?
–
–
Para o escritório de Dumbledore, com certeza... – Luna comentou.
–
Vou deixá-lo com a Madame Pomfrey, depois vou ver se consigo descobrir alguma coisa.
Como? Não vão deixá-la entrar – Harry abriu o mapa, a maioria dos alunos estavam nos terrenos, aproveitando o fim de semana.
–
–
Não estou esperando ser convidada... – Raven mordeu os lábios, pensativa.
–
Tonks está vindo pra cá! – informou aos amigos. – Está lá embaixo.
Então vamos perguntar a ela. – Gina afirmou como se todos os problemas estivessem solucionados.
–
–
Onde arranjou isso? – Raven perguntou, interessada.
Meu pai, Sirius e Lupin fizeram quando estudaram aqui... – não viu necessidade em mencionar Rabicho também. Raven pegou o pergaminho.
–
–
É... essa é a letra dele... – comentou, sorrindo, enquanto acariciava, com o dedo, o título.
Harry tirou o mapa de sua mão, impaciente, e foi em direção às escadas. Os outros o seguiram. Eu não disse que você pode ir, estão te esperando na Ala Hospitalar... – Raven o chamou. Harry parou, desanimado, e voltou até ela.
–
Professora, por favor, pode ser Sirius quem esteja ferido! – Raven franziu a testa e seguiu para as escadas.
–
Deixem que eu falo com essa auror! – mencionou como se fosse ser uma tarefa muito perigosa.
–
–
Você vai gostar dela, Tonks é muito legal. – Rony informou.
–
E é prima do Sirius! – Gina completou.
–
Ah! Mesmo? – Raven pareceu reconsiderar sua decisão.
Encontraram Tonks no meio do caminho. Ela estava nervosa, seus cabelos, cor de palha, estavam sem vida. Cumprimentou educadamente a Profª Sterling e disse estar com muita pressa, não poderia parar para explicar. Aconteceu alguma coisa com Sirius? – Harry perguntou rapidamente enquanto ela se afastava.
–
Não... Ele ainda não chegou? – surpreendeu-se. – Depois, Harry, Dumbledore está me esperando... – afastou-se apressada.
–
Há dor nos olhos dela... – Raven comentou. – Alguém de quem ela gosta deve estar sofrendo...
–
–
O que houve com a Tonks? – surpreenderam-se ao ouvir a voz de Jorge.
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127
–
Ela mal falou com a gente... – Fred reclamou.
Vocês!! O que fazem aqui?! – Os olhos de Rony se estreitaram ao reparar as vestes dos irmãos.
–
–
Viemos atender à carta de vocês... – responderam juntos.
Vocês estão esquisitos... – Gina reparou o terno que usavam. Jorge trazia uma valise nas mãos.
–
Somos Homens de Negócios... – Fred se empertigou, orgulhoso. Gina começou a apresentálos à Raven.
–
Tudo bem, Raven? Seu irmão esteve lá na loja, um dia desses... – Jorge a cumprimentou como se fosse uma conhecida de longa data.
–
–
Ah, ele adora essas novidades, ficou encantado com as invenções de vocês...
–
Vocês se conhecem de onde? – Hermione perguntou.
–
Sirius me levou até a Toca... – explicou.
Quando... ? – Harry estava espantado com a rapidez com que haviam se envolvido. Tinha levado meses para conseguir falar com a Cho.
–
Acabamos de comprar a Zonko’s – Jorge o interrompeu para anunciar o grande feito. – Quando soubemos que Hogwarts havia proibido a comercialização da maioria dos nossos produtos...
–
Resolvemos vir para mais perto, para atender a esse vasto mercado de transgressores de regras... Vocês! – Fred completou.
–
–
Eu gostava da Zonko’s... – Luna comentou.
Ótimo... – Harry se concentrou no assunto mais urgente que os levara até ali, estava se sentindo fraco, ainda estava em jejum, mas a curiosidade era mais forte. – Precisamos ouvir o que estão dizendo lá no escritório do Dumbledore... Vocês têm algo que possa ajudar? – os gêmeos se entreolharam, sérios.
–
Você começou pegando pesado, Harry... Tivemos sorte de Hagrid ter nos deixado entrar... – Fred olhou ao redor, retribuiu o aceno de um grupo de alunos do sétimo ano e prometeu falar com eles mais tarde.
–
–
Isso é importante... – Raven informou.
Precisamos de um lugar adequado – Jorge sussurrou. – Escritório de Dumbledore... Torre de Astronomia? – perguntou a Fred, que confirmou com um aceno. Os outros os seguiam enquanto eles se encaminhavam rapidamente para o local.
–
–
Nós não temos permissão para entrar lá... – Hermione os lembrou.
–
Ora, de que adianta ser monitor, então? – Fred perguntou, sarcástico.
–
Não se preocupem, eu autorizo – Raven a tranquilizou.
Chegaram ao topo da torre e entraram na sala circular. Harry se sentou em uma das mesas enquanto Fred e Jorge estudavam a correta localização da sala do Diretor. Você está bem? – Raven se aproximou e colocou a mão em sua testa, não estava mais sangrando.
–
–
Estou cansado... – admitiu.
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Ela o puxou para si, para que apoiasse a cabeça em seu ombro enquanto afagava seus cabelos. Harry fechou os olhos durante alguns instantes, sentindo seu cheiro almiscarado. Quando era menor, por várias vezes desejou saber qual era o cheiro de sua mãe, chegou a perguntar uma vez à sua tia Petúnia qual o perfume que usava, mas ela se recusou a responder, talvez, também não soubesse. –
Pronto, tenho certeza que é para lá. – Jorge quebrou o silêncio abrindo a valise sobre a mesa.
Harry se afastou, constrangido, foi ver o que os gêmeos haviam trazido. Hermione o olhava curiosa. Fizemos isso aqui para ouvir o que os nossos concorrentes andam dizendo – Fred mostrou um pequeno objeto com duas concavidades opostas – Mas não temos certeza se funcionará aqui em Hogwarts, tem muita magia defensiva.
–
–
Isso não é ilegal? – Hermione perguntou. Os gêmeos se olharam por um segundo e começaram a rir, riram até ficarem vermelhos.
–
Hermione, você é muito engraçada! – Jorge secou uma lágrima no canto dos olhos.
–
Tá legal, como funciona? – Harry perguntou antes que ela começasse a discutir.
Jorge apontou o objeto na direção da sala de Dumbledore e deu uma batidinha com a varinha. Vários sons inundaram o aposento ao mesmo tempo. Deu mais duas batidinhas. Ouviram o som de uma cadeira sendo arrastada, olharam ao redor para confirmar a origem do som, surpresos com a qualidade da reprodução. “Não importa se ele participou ou não, ele não está em seu estado normal, está precisando de ajuda!” – a voz de Tonks soou agressiva. “Eu concordo, temos que resgatá-lo antes que ele se perca de vez” – ouviram Moody opinar. “É arriscado, se nem os Comensais estão conseguindo controlá-los... Enquanto estiverem em bando será impossível chegar até eles.” – a voz de Snape soou limpa e clara. “Não me importa, estou indo até lá agora!” – se surpreenderam ao ouvirem a voz de Sirius. – “Vou tentar achar o rastro dele” – ouviram passos decididos e em seguir o som de uma porta se abrindo. “Eu vou com você, Sirius” “Não, Tonks. Ele conhece minha forma animal, confia em mim, e como cachorro ficará mais fácil passar pelos outros. Você não é um animago, seria muito perigoso para você”. “Tome cuidado, Sirius, não poderemos entrar lá. A única coisa que poderemos fazer é tentar confundir o Ministério para que não descubram a localização deles. Não se arrisque.” – A voz de Dumbledore soou decidida. Ouviram uma porta batendo. Harry correu para a saída, queria alcançá-lo antes que partisse. Ouviu os outros seguindo-o. Alguns alunos que passeavam pelo castelo se afastavam, assustados, enquanto eles passavam. Conseguiu alcançá-lo no terceiro andar. –
Sirius! – Harry o chamou, ofegante. – O que aconteceu com o Lupin?
Os outros chegaram em seguida. Raven era a única que não parecia cansada. Aproximou-se de Sirius e o abraçou, não se importando com os alunos que passavam. –
Quem falou a vocês sobre isso?
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–
Ninguém contou. Para onde você vai? – Raven perguntou.
Essa informação não é oficial, não faz muito tempo que o Ministério chegou ao local, então ninguém deve ouvir sobre isso. Eu preciso ir agora – pôs a mão sobre o ombro de Harry. – Vou ficar fora por algum tempo, assim que eu voltar eu te aviso.
–
Eu vou com você – Raven decidiu. – Por favor, avisem ao Diretor que recebi uma mensagem e precisei sair – pediu aos garotos. Sirius tentou argumentar. - Sei lidar com lobisomens. Juntos temos mais chances de encontrá-lo, e posso chamar meu irmão para ajudar, se for necessário.
–
Temos que achá-lo antes dos funcionários do Ministério... – Sirius segurou a mão dela enquanto se dirigiam para fora do castelo.
–
Harry se sentou no degrau da escada e ficou olhando enquanto partiam. –
Quem é o irmão dela? É um lobisomem também? – Luna perguntou.
–
Não sabemos... – Gina olhou ao redor. – Onde estão Fred e Jorge?
–
Não sei, vamos descer? Estou morrendo de fome – Rony pediu.
Foram para o Salão e se sentaram à mesa da Grifinória. Luna também se sentou com eles, ao lado de Neville. Harry viu Malfoy acenar para ele furtivamente, tentando chamar sua atenção, franziu a testa, estranhando, e o ignorou. Estava muito cansado para pensar em Draco ou na conversa que tivera com Tom Riddle. Fred e Jorge se juntaram a eles na mesa. Os alunos da Grifinória se concentraram ao redor deles querendo saber as novidades. Aos poucos alguns alunos da Lufa-lufa e Corvinal foram se aproximando também. A mesa dos professores estava vazia, então não demorou para que se sentissem à vontade. Jorge começou a tirar suas mercadorias da valise e arrumar sobre a mesa enquanto Fred fazia demonstrações. Harry se afastou lentamente, queria ir para o dormitório. Conseguiu chegar ao saguão sem que ninguém notasse. Parou ao pé da escada quando percebeu a aproximação de Draco. –
Potter, eu quero falar com você! – seu tom de voz era urgente.
–
Tem de ser agora? – Harry suspirou, cansado.
Não... Pode ser ano que vem! – Draco respondeu, debochado. Harry se aproximou. – Não quero que vejam a gente...
–
–
Então vamos lá pra fora – sugeriu.
Atravessaram o saguão e desceram as escadas para os terrenos. Viu Hagrid, ao longe, indo em direção a sua cabana, com Canino. –
Potter!
Harry parou ao ouvir Moody chamando-o. Draco baixou a cabeça e seguiu em direção ao lago. Ele esperou enquanto Moody se aproximava com a Professora McGonagall. Subiu alguns degraus e sentou-se. Decidiu subir mais tarde pelo lado de fora do castelo, nem que tivesse que dormir no gramado até que escurecesse. –
O que está fazendo?! – Minerva perguntou quando se aproximaram.
–
Descansando... – respondeu sem se preocupar em ser repreendido.
O Diretor mandou que ficasse longe do garoto Malfoy! – Moody o ergueu pelo braço, obrigando-o a se levantar.
–
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–
Foi ele quem me chamou... – protestou enquanto era puxado de volta para o castelo.
E você atendeu prontamente ao pedido de um Comensal da Morte para dar uma volta por algum lugar afastado, longe de testemunhas... – Moody o repreendeu.
–
Minerva balançou a cabeça, incrédula, olhando-o severamente. Harry ficou em silêncio, não estava a fim de explicar nada, já que faziam o mesmo com ele. Não quero falar com o Diretor agora, deixa para outro dia... – informou ao perceber que era conduzido para as escadas.
–
Você vai para a Ala Hospitalar, como eu mandei que fizesse! – Moody vociferou. – Onde está a nova Professora? Ela não deveria ter te levado?
–
–
Ela teve que sair. Recebeu uma mensagem urgente... do irmão, acho. – improvisou.
Deixou-se conduzir sem reclamar. Bebeu toda a poção que Madame Pomfrey lhe ofereceu e meia-hora depois estava deitado no leito se concentrando para fechar a mente. Mas agora sabia que a ameaça não era só externa. Não demorou a perder a consciência.
Teve vários sonhos estranhos, com cães ganindo, lobos uivando e um homem sem rosto que o acompanhava em todos eles. Acordou faminto. O sol entrava pelas janelas da enfermaria. Pegou os óculos, na mesinha de cabeceira, e se levantou. Não tinha ninguém por perto, foi em direção ao banheiro e vestiu seu uniforme. Saiu o mais silenciosamente que pôde, tinha certeza que Madame Pomfrey não deixaria. Queria saber notícias de Sirius ou Raven, embora soubesse que dificilmente eles entrariam em contato assim tão rápido. Encontrou alguns alunos andando pelos corredores e perguntou a hora a um deles. Tinha perdido o café da manhã, seu estômago doeu só em pensar. Resolveu parar na cozinha para comer alguma coisa, desde que voltara não havia visto Dobby ainda. Duas garotas da Lufa-lufa pararam no meio do saguão de entrada quando o viram e cochicharam dando risadinhas. Perguntou-se até quando continuariam com aquele tipo de comportamento, o episódio do trem havia acontecido há muito tempo. Desceu para a cozinha e passou pela pintura de fruteira de prata. Oi... – Harry cumprimentou meia dúzia de elfos solícitos e sorridentes que se aproximaram dele. Pediu que lhes arranjasse alguma coisa para comer.
–
Em menos de um minuto tinha diante de si um pequeno banquete, perguntou por Dobby enquanto comia, ele não estava. Procurou pelo mapa no bolso, mas não o encontrou, queria saber se os amigos haviam voltado para a Torre da Grifinória. Dobby apareceu logo depois. Piscou várias vezes e agitou as orelhas de abano quando o viu. –
Harry Potter acordou e veio ver Dobby!! – disse, abraçando-o.
Claro... – deu tapinhas nas costas do seu amigo elfo. – Por que não foi me ver? Tem andado muito ocupado?
–
Dobby vê Harry Potter todas as noites quando vai limpar os dormitórios... Mas Harry Potter está sempre dormindo...
–
–
Hum... Então é melhor aparecer em outro horário, não? – Harry se servindo de mais um
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bolinho. – Dobby, você ouviu os professores comentando algo sobre a Professora Raven? Quando ela vai voltar ou se mandou notícias? Professora Raven Sterling? – perguntou animado. – Dobby gosta muito dela... E ela também gosta de conversar com Dobby!
–
É mesmo? – não se surpreendeu. Raven era muito simpática, não era de se admirar que as pessoas gostassem dela tão rapidamente, até mesmo o Professor Snape.
–
–
Dobby não ouviu nada sobre ela, mas viu ela chegar hoje de manhã.
Ela já voltou!? Então já encontraram ele... – levantou-se apressado. – Dobby eu preciso ir – correu para a porta recusando os pratos que os elfos-domésticos ofereciam para que levasse.
–
Foi até o Salão Principal mas não viu Raven nem os amigos, só a Professora McGonagall. –
Professora, a senhora sabe onde está a Professora Raven?
–
Potter! Papoula já te liberou? Está se sentindo melhor hoje?
–
Estou me sentindo bem... – desconversou meio sem jeito. – A senhora a viu?
Não... Mas acredito que o senhor tenha bastante dever de casa, pra se ocupar em procurar pela Professora Sterling no fim de semana... – disse severamente.
–
Harry se afastou espantado, Lupin estava passando por problemas, e ela queria que ele se ocupasse com o dever de casa. Encontrou os amigos perto das escadas. Acabamos de vir da enfermaria, por que fugiu? – Hermione pousou a mão em sua testa, para sentir sua temperatura.
–
–
Para com isso – reclamou. – Não estou doente.
Mas ontem à tarde você estava febril... – Gina pousou a mão em seu pescoço para se certificar.
–
–
Harry afastou sua mão e a ficou segurando entre as suas.
–
Vocês viram a Professora Raven?
Não... Ela ainda não saiu de seus aposentos. – Rony conferiu no mapa. – Deve estar dormindo, só voltou hoje de manhã.
–
–
Então, vamos falar com Sirius.
–
Ele também ainda não entrou em contato – Rony lhe passou o espelho. Harry recebeu o espelho e o guardou no bolso das vestes, frustrado. Cho Chang passou perto deles olhando furtivamente para Harry.
–
Cho! – Harry a chamou, chocado. – Desculpe, eu esqueci, você queria falar comigo?
Quero... – ela olhou para Gina e depois para suas mãos, ainda unidas. – Não, deixa. Não era importante...
–
–
Tudo bem, pode falar. Se quiser...
Não, Harry. Esquece. Miguel está me esperando... – informou enquanto se afastava em direção à saída.
–
–
O que foi? O que ela queria falar contigo? – Rony perguntou, curioso.
Não sei. – Harry deu de ombros. – Seja o que for, não devia ser importante. Agora eu preciso encontrar o Malfoy, ele também queria falar comigo ontem, mas Moody apareceu...
–
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–
Sobre o quê? A Magia Oculta? – Hermione sussurrou, interessada.
–
Hum... Não sei... mas... – começou indeciso.
Você descobriu alguma coisa ontem – Hermione afirmou. Harry confirmou com um breve aceno. – Vamos lá pra fora – ela sugeriu enquanto passava para ele o jornal do dia.
–
A principal notícia era sobre um ataque de lobisomens a um povoado trouxa, uma mulher havia morrido e um rapaz havia sido mordido e agora estava no St. Mungus. Pelo o que conseguiram ouvir no dia anterior, o ataque não tinha sido planejado pelos Comensais da Morte, não estavam mais conseguindo controlá-los. Harry se perguntou se Lupin poderia ter sido o responsável por um dos dois casos e como ele estaria se sentindo agora. Sentaram-se à beira do lago e Harry contou a eles a conversa que tivera com Tom Riddle. Eu nunca li nada a respeito. Ele disse que seres vivos não são usados... Usados em quê? Então objetos podem, logo, o diário não foi acidental... Pra que alguém vai querer tirar um pedaço da própria alma? Com que finalidade?
–
–
Não sei, Mione... Para guardar a Câmara Secreta? Não, isso não...
–
Isso é fácil de descobrir, é só perguntar a um professor. – Rony concluiu.
–
Pode ser... – Harry apontou a varinha para o castelo e invocou o Lord. Ficaram observando enquanto ele procurava o que queria. Leram juntos.
“Técnica utilizada em Magia mui maligna” – Harry virou a página. “Utilizada em uma das invenções mais malignas da magia” – passou para a próxima folha. “Não falaremos nem daremos instruções sobre horcruxes”. –
Ótimo! – Harry fechou o livro com raiva. – Mais um tabu.
–
Se é magia das trevas... – Hermione comentou – Não vamos encontrar nada em livros.
Nada em livros comercializáveis... – Gina corrigiu. – Então, estamos de volta ao plano original... O Ministério da Magia...
–
Que plano? – Harry perguntou, chateado. – Não temos plano nenhum... Na melhor das hipóteses poderiam nos trancafiar em Azkaban para sempre, se nos pegassem. Não temos como entrar lá.
–
Como é isso? Ter uma alma, ou parte dela, de outra pessoa? O que você sente de diferente? – Hermione o olhou com interesse.
–
Não comece a me olhar como se eu fosse uma experiência interessante – Harry pediu. – Eu não sinto nada, eu não sei o que deveria sentir. Eu me acho normal...
–
Vamos aprender tudo o que pudermos sobre esse assunto e depois descobrir uma maneira de te livrar disso – Gina sentenciou.
–
Dumbledore me disse que Voldemort havia transferido para mim apenas alguns dos seus poderes, e eu achei que isso era um problema. O que faço então com uma alma que tem vontade própria e conhecimentos obscuros que não devem ser revelados?
–
Pergunte a si mesmo, talvez não seja preciso ir a lugar algum! Se você tem o conhecimento dele, então o consulte...
–
Elisa Vrastani - Magia, Poder e Destino I
133
–
Como, Mione? Eu não sou um diário! Nem ouço vozes na minha cabeça! – Harry reclamou.
De qualquer forma não é tão ruim assim, pelo menos ele não tem como te controlar. Vamos nos concentrar em descobrir uma forma de te livrar disso e em ficar longe desse pessoal da Magia Antiga, eles nunca vão conseguir entrar em Hogwarts. – Rony consultou novamente o mapa. – Vamos voltar para o Salão Principal?
–
–
Você só pensa em comer? – Gina ralhou com o irmão.
–
É que a Professora Raven já está lá.
Entraram no salão e se sentaram na extremidade próxima à mesa dos professores. Raven se levantou quando os viu e foi se sentar com eles. Os professores ficaram observando, espantados. Professora... – Hermione começou, meio sem jeito. – Não é comum os professores se sentarem à mesa com os alunos. Estão todos olhando...
–
Hermione, olha bem para mim... – Raven pediu, a voz fraca e cansada. Estava com olheiras e seu cabelo curto estava desgrenhado. – Estou com cara de quem se importa com regras sociais? Fazia tempo que eu não participava de uma caçada, estou morta! – encheu o prato com um pouco de tudo que pôde alcançar.
–
–
Como foi? Encontraram ele? – Harry perguntou.
Achamos um rastro, mas o perdemos depois de algumas horas. Cobrimos a floresta inteira mas não achamos mais nada.
–
–
Devem ter aparatado então? – Gina sugeriu.
Nem todos os lobisomens são bruxos ou possuem algum tipo de poder mágico. Achamos que foram levados, encontramos rastros de humanos no local. Dumbledore deve estar no Ministério agora, está tentando descobrir se foram eles que os capturaram.
–
Mas talvez só os prendam, não é? – Rony se preocupou, agora sabiam do que o Ministério era capaz.
–
Só se a notícia vazar, aí talvez se vejam obrigados a apenas prendê-los, mas por que se dar ao trabalho de prender um bando de lobisomens selvagens, o que fazer com eles durante a lua cheia? – Raven se serviu de mais ensopado.
–
Hermione a olhou horrorizada. Nem Rony costumava comer tanto. –
Desculpem, mas estou faminta. Só comi uma lebre desde ontem. Gina parou de comer e afastou discretamente o prato.
Por que fizeram isso? Por que atacaram aquelas pessoas inocentes se não haviam recebido ordens de fazê-lo? – Gina perguntou, penalizada.
–
Não se pode ter lobisomens em bando por muito tempo, são seres solitários por natureza, são selvagens demais. Parece que os planos do... “Lorde” de ter sua própria alcateia não deu muito certo. Quanto mais tempo dividindo um mesmo território, mais hostis e descontrolados.
–
O que faremos agora? – Harry perguntou, preocupado. Seus problemas, agora, pareciam insignificantes; pelos menos, não estava causando a morte de ninguém, sentiu pena de Lupin.
–
Torcer para que possamos descobrir quem ao certo os tirou de lá, e para que tenham sido os Comensais.
–
Levaram seus deveres para fora e se sentaram na escada de entrada para o saguão do castelo, tentavam se concentrar enquanto aguardavam, ansiosos, por notícias. Dumbledore passou por eles no fim da tarde. Elisa Vrastani - Magia, Poder e Destino I
134
–
Professor Dumbledore, tem alguma notícia do Lupin?
–
Quem falou com vocês sobre Lupin? – examinou-os com curiosidade.
–
Lemos no Profeta... o ataque, ele também estava, não? Dumbledore assentiu.
–
Como está se sentindo? E a sua cicatriz? – passou a mão por sua testa afastando seus cabelos.
–
Normal...
Ótimo! Quer conversar comigo agora, enquanto os membros da Ordem não chegam? – Dumbledore perguntou e Harry recusou. – Continuem seus estudos... – recomendou a eles.
–
Não vai contar a ele a sua conversa com Tom Riddle? – Gina perguntou quando Dumbledore se afastou.
–
Ele tem coisas mais importantes para resolver neste momento. E depois, não mudaria nada. Nem os Antigos sabem como desfazer esse tipo de conexão que tenho com Voldemort – retirou o espelho do bolso e chamou por Sirius. Nada.
–
Aos poucos os membros da Ordem foram aparecendo, apressados. Não se atreveram a perguntar nada. O Diretor não havia respondido, duvidaram que os outros o fizessem. Sirius chegou com Tonks, ambos pareciam cansados e abatidos. Alguma novidade? – Gina se aproximou de Tonks e segurou sua mão. Ela continuava com os cabelos sem vida, cor de palha, parecia não estar se preocupando em mudá-los.
–
–
A lua cheia termina hoje, estamos com esperanças de que ele apareça.
Harry duvidou que ele fosse querer aparecer depois daquilo, imaginou que ele deveria estar se sentindo culpado, tendo atacado alguém ou não. Ele não vai voltar – Harry disse, depois que haviam partido. – Deve estar se culpando. Alguém tem que falar com ele.
–
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135
CAP. 16 – INSPEÇÃO MINISTERIAL A semana começou sem que soubessem mais nenhuma novidade. Dumbledore estava sempre ausente. Raven também não tinha notícias, raramente conseguiam falar com Sirius agora. Você não vai entrar para a Ordem? Teria acesso a todas as informações. – Rony perguntou a Raven. O Profeta não publicara nada até então. Não sabiam o que estava acontecendo.
–
–
Não... Eu não posso.
–
Por quê? – Harry insistiu.
–
Harry, me avise se voltar a ter problemas com o Snape. – Raven pediu, mudando de assunto.
–
Tá... – concordou. – Por quê?
Tive uma conversa séria com ele. Qualquer problema que ele tiver com você, vai ter que vir resolver comigo ou com Sirius – Raven declarou, e depois se afastou, decidida, para preparar a próxima aula.
–
Acho que ela te adotou... – Rony comentou, divertido, percebendo o embaraço de Harry. – Seria bom se ela fosse da Ordem, saberíamos tudo o que está acontecendo.
–
–
Se ela fosse, seria proibida de nos dizer qualquer coisa também – Hermione o desiludiu.
–
Não acho que ela se importe com proibições – Gina comentou.
Na manhã de quinta-feira Harry ficou indeciso quanto a usar ou não o kit mata-aula que Fred e Jorge haviam deixado. Depois do ocorrido, no fim de semana, não estava a fim de chamar mais atenção para si mesmo. Está brincando? Mesmo que nos levem para o St. Mungus! É preferível! – Rony tentou incentivá-lo.
–
Não... Não quero que Snape pense que tenho medo dele, não sei o que Raven andou dizendo...
–
A aula foi a mais tranquila possível. Snape ficou em sua mesa, calado, enquanto os alunos preparavam seus antídotos, o que os deixou mais a vontade e menos nervosos. Harry havia passado toda a manhã pesquisando no Lorde sobre o veneno. Rony tinha resolvido ir para a Ala Hospitalar com sangramento nasal. Gina tentou persuadi-lo a fazer o mesmo, mas já havia se decidido. Quando todos haviam acabado o preparo de suas poções, Snape saiu da sala, deixando-os apreensivos. Os alunos perguntavam uns aos outros como seria o sorteio. Malfoy, que até então, não havia mais tentado falar com Harry, o olhou entediado. Harry imaginou que ele não deveria estar nem um pouco preocupado, era o aluno preferido do Professor. Snape voltou conduzindo uma gaiola que continha uma cobra de quase dois metros de comprimento. Os alunos olharam surpresos enquanto Snape informava que todos iriam ter a chance Elisa Vrastani - Magia, Poder e Destino I
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de testar seus antídotos e participar da experiência. Observaram ele forçar o veneno pela boca do animal, que o aceitou tranquilamente sem saber o que o aguardava. Demorou menos de cinco minutos para que a cobra começasse a se contorcer e sibilar em agonia. Os alunos ficaram olhando, com seus antídotos na mão, receosos em se aproximar, ninguém parecia querer ser o primeiro a tentar. Venham! Formem uma fila. – Snape os incentivou, indiferente a agonia do animal. Harry teve certeza que ele se lembrava muito bem que poderia ouvir enquanto o animal era torturado.
–
Vai Hermione! Por favor, ele está sofrendo! – empurrou a amiga para o início da fila. Tinha esperanças que o antídoto dela funcionasse, era a única que poderia chegar mais próximo de produzir um antídoto eficaz.
–
Ela entregou sua ampola ao Prof. Snape, temerosa de se aproximar do animal. Ele fez com que a cobra bebesse o líquido. Ficou alguns minutos fazendo anotações enquanto o animal continuava a se contorcer, embora não tão ferozmente. –
Próximo! – chamou. Mas ninguém se adiantou.
Harry se lembrou de ter lido que alguns antídotos funcionavam melhor se misturados à essência da vítima antes de ingeridos. Uma gota de sangue da pessoa faria com que o antídoto fosse mais eficiente. Professor, o sangue dele deve ser misturado à poção, para surtir melhor efeito! – sugeriu, angustiado, enquanto ouvia a agonia do animal.
–
Vejo que resolveu levar os estudos a sério, finalmente. Quem te falou a respeito da essência? – sua voz era fria, sem emoções.
–
–
Eu li num livro... – respondeu, impaciente, enquanto o Professor o observava.
–
Qual livro? Harry tentou se lembrar do nome de um livro qualquer.
–
Não me lembro – disse por fim. O animal se contorcia, se enrolava e batia a cauda na grade.
E quem foi que te deu esse livro do qual não se lembra o nome? – Snape cruzou os braços, irritado.
–
Eu peguei na biblioteca – respondeu com raiva, pelo descaso do Professor com o sofrimento do animal.
–
Snape pegou a amostra da poção de Harry e se aproximou da jaula, colheu uma gota do sangue do animal, misturou à poção e fez com que bebesse. Aos poucos o animal foi se acalmando. Ele discursou para a turma sobre a eficiência de usar a essência da vítima na produção de poções de cura. Quando o sinal tocou foram saindo aliviados. Harry se aproximou de sua mesa. O que vai fazer com ele? – perguntou a Snape, indicando o animal que agora parecia estar adormecido. Aguardou temeroso pela resposta.
–
Snape o ficou observando durante algum tempo enquanto se decidia. É só um réptil... O que importa? – Snape respondeu. Harry continuou observando o animal. – Eu já dispensei a turma, Sr. Potter. Tem certeza que quer ficar comigo depois da aula?
–
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137
Hermione o puxou para fora da sala. –
Snape vai matá-lo! Você viu como ele o torturou, ele é cruel!
Por favor, Harry! Não vai arrumar confusão com o Snape por causa de uma cobra! Fique feliz por não ter sido você!
–
Encontraram Rony no Salão Comunal e Hermione contou a ele sobre a aula, enquanto Harry fingia se concentrar no dever de casa.
Raven os procurou depois do jantar e os conduziu até seus aposentos. Da última vez que Harry havia estado ali a sala ainda pertencia a Umbridge e as paredes haviam sido pintadas de rosa. Agora estavam novamente no tom de pedra natural, só que uma delas estava grafitada com desenhos coloridos que Harry não conseguiu distinguir e havia quatro posteres de bandas de rock espalhados nas demais, um deles, da The Burners. A um canto sofás com mantos coloridos e plantas penduradas nas paredes, em outro, uma mesa comprida e cadeiras. Acharam-na bem aconchegante. –
Legal a sua sala – Gina comentou, sentando-se no sofá.
–
Obrigada, eu mesma a decorei, já que tenho que ficar aqui, por que não ficar confortável?
–
Você não gosta daqui? – Hermione perguntou.
–
Gosto... É que não sou de ficar muito tempo parada num mesmo lugar...
–
Soube de alguma notícia? – Harry se sentou ao lado de Gina.
Infelizmente... Não foram os Comensais que os levaram – ela contou. Harry tampou o rosto com as mãos. – E o Ministério negou as acusações que saíram na revista O Pasquim de saber o paradeiro deles. Muita coisa já pode ter acontecido.
–
Não vamos ficar parados, especulando a respeito – Harry se levantou, decidido. – Vamos procurá-los. Se não estão com os Comensais nem com o Ministério, só podem estar com os praticantes da Magia Oculta.
–
–
Que absurdo, Harry!! – Raven se surpreendeu.
–
Quem mais é poderoso o bastante para capturar um bando inteiro de lobisomens?
Raven abriu a boca para protestar, mas Harry fez sinal para que fizessem silêncio. Procurou o mapa nos bolsos mas não o encontrou, ainda estava com Rony. –
O que foi? – Gina perguntou.
–
A marca... Snape, acho – sussurrou.
Ficaram algum tempo aguardando, depois ouviram uma batida à porta. Raven trocou com ele um olhar curioso e foi atendê-la. Ficaram em silêncio enquanto Snape comunicava à Professora sobre a visita de inspeção que o Ministério faria na manhã seguinte. Dumbledore pedia para que todos os professores se preparassem e agissem naturalmente. –
O que foi isso? – Raven perguntou quando voltou.
Ele já foi, Harry? – ele fez um gesto confirmado, Hermione continuou. – Acham que ele estava tentando ouvir?
–
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138
–
Se estava, não conseguiu ouvir nada, não deu tempo – Harry informou.
–
Querem me dizer o que aconteceu? Harry?
Harry explicou a ela que conseguia sentir a presença de quem tivesse a Marca Negra, contou, superficialmente, sobre sua ligação com Voldemort, as visões, a ofidioglossia... Ah, isso... – disse como se achasse algo muito natural. Harry imaginou que Sirius já deveria tê-la informado a respeito.
–
Vocês não estão surpresos com essa inspeção que o Ministério vai fazer amanhã? – Gina indagou. – Depois da Umbridge qualquer coisa que venha do Ministério me assusta.
–
Deve ser uma resposta às insinuações que Dumbledore tem feito... – Hermione concluiu, temerosa.
–
–
Pode ser uma boa oportunidade para tentar descobrir alguma coisa... – disse Rony, pensativo.
–
Não quero vocês se envolvendo com o Ministério! – Raven ordenou.
Eu também não queria, mas parece ser o caminho mais fácil para começar... Se descobrirmos que não foi mesmo o Ministério... teremos que achar esses praticantes...
–
–
Você acha o Ministério o caminho mais fácil?! – Raven perguntou, incrédula.
–
Pelo menos eles não estão tentando me matar... ainda...
Vem aqui, precisamos conversar... – Raven o puxou até o sofá. Ouviram uma nova batida na porta. – Snape de novo? – perguntou a ele.
–
–
Não... – Harry informou. Ela se levantou e foi atender.
–
Professora McGonagall! Snape já me deu o aviso...
–
Que bom. Mas não é sobre isso... Está na hora dos alunos voltarem aos seus dormitórios...
–
Já?! – Hermione espantou-se, verificando a hora.
–
Podem ir enquanto eu converso com a Professora de vocês... Eles se retiraram em silêncio.
Será que ela vai se meter em encrenca? – suficiente.
–
–
Rony perguntou quando estavam longe o
Ela não fez nada.... Vão alegar o quê? – Gina se indignou.
Seja o que for, não vão puni-la, nada acontece com o Snape, nunca! Eu não vou deixar... – Harry informou.
–
Assim que desceram para o café-da-manhã, no dia seguinte, notaram a mudança. Os alunos circulavam pelos corredores em silêncio. Encontraram Seth, ele os cumprimentou discretamente, à entrada do Salão Principal. Dumbledore conversava com o Ministro, em frente à mesa dos professores, enquanto alguns alunos observavam silenciosamente de suas mesas. Todos os professores se encontravam no Salão, alguns sentados, outros circulando para inspecionar os alunos. Raven estava sentada ao lado da Professora Sibila e os seguiu com o olhar Elisa Vrastani - Magia, Poder e Destino I
139
quando entraram. Evandra conversava, em um canto do salão, com dois funcionários do Profeta Diário. É impressão minha ou o Ministro está providenciando outro espetáculo para mostrar serviço ao eleitorado? – Hermione sussurrou enquanto seguiam para a extremidade, da mesa, mais próxima à mesa dos professores, para tentarem ouvir alguma coisa.
–
–
Harry! – o Ministro o chamou antes que se sentassem.
Ele trocou com Hermione um olhar significativo e se aproximou do Ministro. Os funcionários do Profeta se aproximaram também, procurando um bom ângulo para uma foto. A expressão de Dumbledore era indefinida, mas seus olhos azuis pareciam gelados. –
Conhece a Srta. Velaska, não? Ela pertence à Grifinória também...
–
De vista... – Harry lançou a ela um olhar cauteloso.
Ela faz estágio no Profeta, e está com ótimas ideias sobre incentivar a participação dos alunos no Ministério.
–
Harry não está mais interessado em ser um auror, Ministro – Dumbledore comentou. – Impor aos alunos aulas obrigatórias não é o suficiente para mudar uma decisão.
–
Eu desisti da carreira de auror, mas na verdade, ainda não sei o que mais o Ministério faz além de combater as artes das trevas... – tentou salvar a situação.
–
Ótimo! Porque é justamente essa a ideia. E como o Ministério não tem nada a esconder... – disse ele, dirigindo-se ao Diretor. – Estaremos de portas abertas para atender aos alunos que desejarem conhecer nosso trabalho. Você não se importaria em ser o aluno modelo desse projeto junto com a Srta. Velaska, não?
–
Aluno modelo? – Harry não gostou da ideia. – O que significa? – percebeu o olhar reprovador de Raven à mesa. Mudou de posição para olhar para outro lado.
–
Nada de mais, apenas estar presente em todas as excursões, tirar fotos, falar sobre a importância do projeto, coisas do gênero...
–
Em outra situação saberia exatamente o que responder ao Ministro, mas nesse caso se limitou a fingir interesse. A exemplo do que aconteceu na vinda a Hogwarts, não acho que será uma boa ideia o expôr dessa forma.
–
Claro que todas as medidas de segurança serão tomadas, Diretor. Aquele pequeno incidente será apagado em breve de nossas lembranças.
–
Se é esse o real objetivo, criar uma falsa imagem para se sobrepor à verdadeira, eu não concordarei.
–
Harry olhou, indignado, para o Diretor, ele estava estragando uma ótima oportunidade. O garoto não é sua propriedade, Dumbledore. Ele tem um representante legal e eu duvido que este irá se opor a uma medida Ministerial. Tudo só depende da decisão de Harry – o Ministro olhou para ele.
–
Harry achou ter percebido um tom de ameaça na explicação do Ministro. Ficou em silêncio por algum tempo para aumentar o suspense, o Ministro parecia ansioso por sua resposta. –
Claro! Por que não? – respondeu por fim.
Com licença, Ministro – Raven se aproximou. – Será que esse “passeio educativo” pode ser estendido aos professores também? Eu também não conheço o trabalho do Ministério...
–
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140
Ah, claro, Professora Raven Sterling... Será um prazer contar com o apoio dos professores também! – disse encantado. – Vamos providenciar uma data e a informaremos...
–
Amanhã, Ministro. Amanhã seria ótimo. – Harry o pressionou, quanto mais tempo se passava, menos chances tinham de encontrar o Lupin com vida.
–
–
Amanhã? Sei... – Não pareceu gostar nem um pouco da ideia.
–
Amanhã de manhã, então – Evandra decidiu. – Um grupo de dez pessoas...
Vinte e cinco! – Harry a corrigiu, precisaria de um certo tumulto para que sua ausência não fosse notada. – Vamos começar pelos alunos do sétimo e sexto ano. – decidiu com intenção de pedir apoio aos membros da AD. – Como iremos?
–
Ótimo garotos! Vocês estão pegando o jeito rápido! Enviarei funcionários do Ministério amanhã de manhã e providenciarão chaves de portal, então.
–
Despediu-se após tirar várias fotos com Evandra e Harry para o jornal. –
E a inspeção, Ministro? O que pretende fazer? – Dumbledore o lembrou.
A inspeção conclui que Hogwarts está colaborando bem com o Ministério e vou torcer para que continue assim...
–
Viu o que me obrigou a fazer? – Raven cochichou para ele enquanto os funcionários do Ministério se retiravam.
–
–
Eu não a obriguei a nada, não precisa ir se não quiser...
–
Claro que preciso, tenho que garantir a sua segurança!
–
Não tem não...
Harry! – Dumbledore o chamou. – Quero falar com você no final da aula, antes do almoço, no meu escritório, traga também a Srta. Granger e o Sr. Weasley – Dumbledore anunciou e se retirou sem aguardar resposta.
–
Harry aproveitou para se afastar também, precisava organizar, com Evandra, a lista dos alunos que iriam. Combinaram de pedir aos Monitores de cada Casa para que fizessem uma lista com os alunos interessados em ir. Evandra foi falar com a Lufa-lufa e Corvinal enquanto Harry falaria com os da Grifinória e Sonserina, no caso, Malfoy, ele não tinha aparecido para o café da manhã. Rony e Hermione ficaram de preparar a lista da Grifinória, estavam entusiasmados, só Gina pareceu nada feliz com a situação. Desculpa, Gina, não dá para incluir três anos de uma só vez, você vai poder ir no próximo grupo... Não sabemos se vamos conseguir o que queremos na primeira vez...
–
Ela não pareceu se importar com sua explicação e foi para a aula, emburrada. Harry se concentrou em fazer o que tinha de ser feito, se sentou ao lado de Malfoy durante a aula de Transfiguração e falou com ele sobre a ida ao Ministério. –
Por causa de quê, você acha que vou me meter nessa história?
Não estou pedindo para você ir, estou pedindo para listar os alunos da sua Casa! Você é o Monitor! – sussurrou, irritado, durante a aula da Professora Minerva.
–
–
O que está querendo lá dentro, Potter? Está tramando alguma coisa, não está?
Não te devo satisfações, Malfoy, o que eu ganho por essa informação? – Harry devolveu, debochado.
–
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141
Draco assentiu, mordendo os lábios. Harry se levantou e voltou para o seu lugar. Terminada a aula foram para a Torre da Grifinória concluir um antigo ritual, adiantar os deveres. Quando o sinal tocou foram para o escritório de Dumbledore. A Professora McGonagall e Sirius já aguardavam no local. Tiveram um mau pressentimento. –
Que história é essa de ir ao Ministério? – Sirius perguntou assim que entraram.
–
Eu fui convidado...
–
E por que aceitou?!
Calma, Sirius! Tenho certeza que Harry tem um bom motivo... – Minerva o estudou desconfiada.
–
–
Tenho... Eu não conheço todo o Ministério ainda...
–
Você não está nem aí pra isso! Vocês estão tramando alguma coisa, não estão?
–
Não! – negaram juntos. Olharam-se nervosos.
–
Por que isso? – Harry perguntou.
Não precisa participar se não quiser – Sirius disse mais brandamente. Pôs a mão em seu ombro virando-o de frente para ele. – Não se sinta pressionado...
–
–
Mas eu quero. Todos os alunos irão... Pressionado por quê? Eu não tenho medo do Ministro!
Ele quer explorar a sua imagem, se promover à sua custa. Muitos estão te considerando O Eleito agora, eles têm esperanças...
–
Eu nunca estive tão longe de ser isso! – considerou por alguns segundos se deveria ou não contar a eles.
–
Se é isso mesmo o que você quer... – Dumbledore decidiu. – Nós estaremos atentos se alguma coisa acontecer...
–
–
Vou ser só um estudante colaborando com o Ministério. Nada de mais...
–
Acham que deveríamos ter contado a verdade? – Harry perguntou aos amigos mais tarde.
Que estamos pretendendo invadir sessões restritas do Ministério para roubar informações que eles não querem que saibamos? Não... – Hermione respondeu.
–
Perderam quase uma hora no átrio ouvindo o discurso do Ministro e tirando fotos. Harry se perguntou se iriam rodar uma edição especial do jornal só de fotos, porque não teria espaço na edição normal para tantas. Os alunos estavam encantados com o tamanho do Ministério. A maioria nunca havia estado ali antes. Terminado o discurso e tiradas as fotos foram encaminhados aos elevadores, tiveram que subir em duas turmas. Raven os acompanhava, silenciosa, parecia preocupada desde que vira o Profeta durante o desjejum. A foto de Harry e Evandra ao lado do Ministro estava na primeira página. Gina também tinha feito uma careta para o jornal e sumiu sem se despedir, quando terminou o café da manhã. Harry também havia ficado preocupado, mas por outro motivo; até então, não tinha parado para Elisa Vrastani - Magia, Poder e Destino I
142
pensar na possibilidade de os praticantes da Magia Oculta pensarem que ele estava se associando ao Ministério. Viram Lence quando chegaram ao nível um, ele o cumprimentou respeitosamente. Retribuiu espantado. Foram levados para conhecer o andar. Harry começou a ficar nervoso com a atenção extra que estava recebendo dos aurores do local. Eles o cumprimentavam com tapinhas nas costas e apertos de mão. Não sabia se havia conquistado o respeito deles depois do episódio do trem ou se era um esquema do Ministro para mantê-lo sobre constante vigilância. Hermione o olhou preocupada, provavelmente, pensando a mesma coisa. Seria difícil se ausentar do grupo sem ser notado se fosse o personagem de destaque. Conheceram todas as salas do andar, e ouviram sobre seus ocupantes e atribuições. Não precisaram esperar que anunciassem para saber de quem era a ridícula sala cor de rosa no final do corredor. Harry ficou feliz que estivesse vazia. Percebeu Rony fazer um movimento rápido ao seu lado enquanto a porta se fechava e o grupo seguia, mas não se importou. Quando finalmente conheceram a sala do Ministro ele se despediu, deixando-os com George Killingbeck e Rowan Rodda, este o recebeu amistosamente, insinuando que já estava se acostumando a trabalharem juntos. Harry sorriu de volta pensando numa maneira de mantê-lo ocupado nas próximas horas, George não seria um problema. Desceram para o nível dois, Harry se deixou ficar para trás, fechando o grupo com Hermione e Rony, enquanto George ia à frente mostrando o local e Evandra fazia perguntas, realmente interessada em conhecer mais sobre o Ministério. Rowan também se deixou atrasar para ficar ao seu lado. Trocou um olhar angustiado com os amigos. Raven o olhou impassível como se dissesse “Eu avisei”. Encontraram vários outros funcionários no local, conheceram o Quartel General dos Aurores, Rowan lhes mostrou as dependências, Harry começou a prestar atenção, realmente interessado. Afastaram-se quando viram o Sr. Weasley, tencionando falar com ele e ficarem um pouco a sós. –
Como é que vamos despistar esse cara? – Rony sussurrou.
–
Não tenho a mínima ideia, e você, Hermione? – Harry apertou a mão do Sr. Weasley.
–
Do que vocês estão falando? – Arthur se inclinou para falar com eles, sem entender nada.
–
Disfarça, pai... Estão marcando a gente o tempo inteiro, fica difícil planejar alguma coisa...
–
Planejar? Planejar o quê?
–
Bom, vamos ter que parar para um intervalo... – Hermione concluiu, sorrindo para ele.
Voltaram ao grupo quando Rowan os chamou, deixando o Sr Weasley boquiaberto e confuso. Harry, desta vez, ficou o tempo todo ao lado de Evandra enquanto ouvia as explicações de George. Não queria que Rowan desconfiasse que estavam tentando tramar alguma coisa. Depois de conhecerem o nível quatro, de Regulamentação e Controle das Criaturas Mágicas, voltaram ao Átrio e foram conduzidos ao Refeitório. Harry puxou a mão de Evandra enquanto se dirigia ao grupo. Vamos fazer um intervalo de duas horas? Depois nos reencontraremos no Átrio... – pediu a confirmação de Evandra.
–
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143
–
Duas horas? – Rowan estranhou. – É muito tempo! Harry lançou um olhar rápido pelo grupo.
–
Eu estou cansado! Meus pés estão doendo... – Neville fingiu mancar.
–
Duas horas é muito pouco... – Padma reclamou.
–
Não dá tempo nem de retocar a maquiagem... – Cátia se juntou a ela.
Rowan pareceu meio desconcertado. Não esperava ter de lidar com um grupo de adolescentes reclamões. Harry sorriu por dentro, era uma sorte poder contar com a AD. Por que não deixa que Evandra e eu tomemos conta das coisas agora? Nos reencontraremos em duas horas.
–
–
Claro! – George concordou prontamente.
–
Não... Não acho que seja...
Ah, Sr. Rowan... – Raven sorriu para ele encantadoramente. – Não pode me fazer companhia durante o almoço? Eu gostaria muito de ouvir mais sobre o trabalho dos aurores...
–
E... Eu? – Rowan não pareceu acreditar que ela se dirigia a ele. Passou a mão pelos cabelos ajeitando-os rapidamente. – Claro, Professora, será um prazer... – disse com voz suave.
–
Harry o olhou desconfiado. Hermione o puxou para que se afastassem enquanto Raven o mantinha ocupado. –
Anda, Harry! Não temos muito tempo! – Hermione sussurrou. O grupo começou a se dissipar.
–
Neville, Luna, ajudem Evandra enquanto eu estiver fora, OK?
–
Pode deixar, Harry – Neville assegurou e se afastou, com Evandra e Luna, para a cantina.
Entraram no elevador vazio e subiram até o segundo nível, para disfarçar. Caso alguém estivesse observando do Átrio, diriam que tinham ido procurar pelo Sr. Weasley. Usaram o feitiço da Desilusão que tinham aprendido no Lord. Harry o sugeriu porque Moody o tinha usado no ano anterior, e a capa estava ficando pequena para cobrir os três. Mesmo assim também se cobriram com ela e aguardaram enquanto o elevador descia para o nono nível. Estavam esperando encontrar o pessoal saindo para o almoço, mas os corredores estavam desertos. Seguiram em direção à porta familiar, com a qual Harry tanto sonhara no ano anterior e dobraram à esquerda antes de se aproximarem o suficiente. Desceram em direção ao Tribunal onde Harry havia sido julgado por praticar magia fora de Hogwarts. O corredor era mal iluminado como as masmorras do castelo. Harry tirou a capa e a guardou no bolso. Havia várias portas de madeira maciça, ele imaginou que seriam suficientes para deter a fúria de um lobisomem. O que você consegue ver? – Harry perguntou a Rony, ele tirou do bolso o monóculo que Harry havia ganhado de aniversário.
–
Conseguiam identificar apenas os contornos uns dos outros, o feitiço não os deixava invisíveis, apenas da mesma cor e textura do ambiente a volta deles, então, procuraram se manter sempre próximos. Uma sala vazia... – Rony anunciou, passando para a segunda porta. – Uma sala com... alguma coisa que eu não sei o que é... parecem móveis... – passou para a terceira porta.
–
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–
Vê isso direito, Rony! – Hermione reclamou.
Peraí! – disse irritado. – Um corredor... – continuou seguindo e parou em frente a uma porta escura e encardida.
–
–
Aqui é o tribunal – Harry informou a eles.
É – Rony confirmou. – Sinistro... – passou para a última porta, continuou andando até o final do corredor e depois voltou. – Não consigo enxergar nada nessa aqui. Não é uma sala vazia... Ou está muito escuro, ou...não sei...
–
Hermione tirou o monóculo de suas mãos. –
Que estranho... – confirmou. – Também não vejo nada. Parece... nada...
–
E a última? – Harry perguntou, apontando para a última porta do corredor, em frente a eles.
–
Outro corredor... – ela devolveu o monóculo a Rony.
Dois corredores, uma sala vazia e outra não... – meditou. – Vou tentar essa aqui, disse enquanto puxava a varinha. Segurou a maçaneta da porta através da qual não conseguiam enxergar.
–
Os amigos se prepararam também, empunhando as varinhas. Girou a maçaneta, não estava trancada. Sentiu uma fisgada desconfortável na altura do estômago enquanto seus pés saíam do chão e era atraído para dentro da sala escura. Segurou-se no batente enquanto puxava a porta com força, fechando-a. Acho que essa aqui não é uma boa ideia – informou a eles. – Vamos tentar o último corredor, depois voltamos – disse ele, massageando o abdômen.
–
Foram para a última porta. Estava trancada. Harry usou o Alohomora e entrou. Avançaram devagar pelo corredor. Rony ia à frente enquanto observava pelo monóculo. Estranho não ter ninguém por aqui, não acham? – Rony sussurrou. – O lugar está abandonado...
–
–
Talvez ninguém tenha permissão para estar aqui...
O corredor terminou em outro corredor transversal com duas portas, uma em cada extremidade. –
Lá! A da direita! – Rony indicou a porta entusiasmado. – Estantes!
Avançou com Hermione em direção à porta. Harry os seguiu. Um calafrio percorreu sua espinha e arrepiou os pêlos de sua nuca. Segurou os amigos pelas vestes. –
Ai! – Hermione reclamou. – O que foi?
–
Estão sentindo isso? – sussurrou.
–
Isso o quê? – Rony perguntou aos cochichos.
Harry voltou, de costas, puxando-os para trás, a sensação sumiu. Avançou novamente e parou quando a sensação voltou. Deu um passo para trás e passou a mão pelo ar percorrendo a largura do corredor. –
O que está fazendo? – Hermione perguntou, aproximando-se.
Tem alguma coisa aqui. Algum tipo de magia... Está sentindo? – Harry perguntou, guiando a mão dela através da linha invisível.
–
–
Não estou sentindo nada...
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Vamos tentar o outro lado – encaminhou-se em direção à porta da outra extremidade do corredor. Não sentiu nada daquele lado. – Rony?
–
–
Ah... São arquivos...
Harry destrancou a porta e entrou. Era uma sala grande, com arquivos nas duas extremidades e uma porta estreita no final. Abriu uma das gavetas do arquivo mais próximo. Pegou uma ficha amarelada de um homem sentenciado a passar quinze anos em Azkaban. Fechou a gaveta. Os arquivos estavam separados por anos. Procurem, no último, pelo nome do Lupin – sugeriu pegando o monóculo da mão de Rony e examinando as paredes. Atrás da porta estreita tinha um armário que se estendia até o teto, contendo gavetas pequenas.
–
–
Acha que o levaram para Azkaban? – Hermione perguntou.
Mesmo que ele esteja em outro lugar, talvez tenham registrado isso... – Harry voltou ao corredor enquanto os amigos examinavam os arquivos. Regressou observando o teto. – Acho que tem como ir por cima, tem um duto passando por aqui.
–
Flutuou até o teto e afastou a grade do duto de ventilação. Parecia ser uma instalação recente se comparado a tudo o mais por ali. O espaço era apertado mas conseguiria passar. Desceu. Vou tentar chegar até a outra sala – devolveu o monóculo a Rony e entregou sua capa à Hermione.
–
–
Acha seguro? – Hermione recebeu a capa e a guardou.
Só temos uma hora e vinte minutos, Harry – Rony avisou, consultando o relógio. – Tem muitos livros, você vai precisar de ajuda...
–
–
Você não vai conseguir passar por ali... – analisou. – Vou tentar ser o mais rápido possível.
–
Procure por Horcruxes, deve ficar mais fácil – Hermione sugeriu.
–
O que é isso? – Harry perguntou, sem entender.
Harry! É o que estava no Lord! “Não falaremos nem daremos instruções sobre horcruxes”, não lembra?
–
Ah, tá! Continuem procurando, eu aviso quando chegar do outro lado. – disse mostrando seu galeão falso.
–
Voltou para o teto e passou pela abertura. Teve que ir se arrastando pelo espaço apertado. O progresso era lento e começou a se sentir sufocado. Por fim, conseguiu chegar à outra saída. A grade estava presa e teve que forçá-la, fazendo mais barulho do que queria. Afastou-a e olhou pela abertura. A sala era enorme. Desceu, flutuando com cuidado para não tocar em nada. Achou melhor não tocar no chão também. Sentiu a moeda esquentar em seu peito, tirou-a do bolso. Hermione tinha invertido o feitiço de Proteu, para falar com ele. Leu a frase que apareceu em espiral. “Que barulho foi esse?” “Tudo bem, consegui entrar.” – mandou de volta. Percorreu as estantes, havia muitos títulos interessantes ali “Liberação da Magia”, “Ultrapassando limitações mágicas”, … Escolheu um e começou a ler o índice, procurando por algo promissor. Depois do décimo, começou a ficar angustiado. Harry olhou ao redor, examinando a sala do alto. Viu uma pequena passagem para um outro Elisa Vrastani - Magia, Poder e Destino I
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lugar, parecia uma fenda na parede. Foi até lá e passou pela abertura. Era um pequeno reservado com poucos livros, examinou os títulos “Sua alma em troca da eternidade”, “Garantindo a eternidade”... Pegou o livro “Descobrindo o poder da alma” e leu o índice, continha capítulos interessantes “Como dividir a alma” e “Horcruxes”. Sentiu seu peito esquentar novamente, por causa do seu falso galeão. Fechou o livro, era grande e pesado, usou um feitiço encolhedor, enfiou-o no bolso e se virou para sair. Ficou algum tempo olhando ao redor, a abertura tinha sumido. Esfregou os olhos e tentou manter a calma. Percorreu toda a parede, descobriu onde a abertura deveria estar, tinha algo diferente ali, algum tipo de magia protetora. Apontou a varinha, decidindo que feitiço usar. Sentiu sua moeda esquentando novamente. “Harry, você está bem? Responde!” “Estou preso numa sala, estou procurando outra saída” “Vamos atravessar o corredor” “Fiquem aí” Olhou ao redor, não havia nenhuma outra fenda, janela, ou duto de ventilação, morreria asfixiado se ficasse preso ali por muito tempo. Tirou o livro do bolso e o repôs na estante. A abertura reapareceu, sorriu aliviado, um feitiço simples. Pegou-o, nada aconteceu, quando se aproximou da saída ela se fechou novamente. Colocou novamente o livro na estante e o fez levitar cuidadosamente através da passagem depois passou por ela rapidamente. – “Não são tão espertos” – pensou enquanto guardava o livro e voltava para a abertura no teto. Rastejou de volta e saiu. –
Você demorou! – Hermione reclamou, apreensiva. – Conseguiu?
–
Consegui. E vocês?
–
Nada... – Rony informou, desanimado. Harry viu a porta, que levava até o armário, aberta, e foi até o cômodo.
–
São só varinhas... – Hermione informou. – Dos que foram enviados para Azkaban...
Harry percorreu os olhos pelo cômodo, interessado. Cada gaveta correspondia a um ano, às vezes mais de duas. –
As mais recentes estão lá em cima – Rony avisou.
Harry flutuou até lá e abriu uma gaveta. Não demorou a achar a varinha com uma cabeça de cobra prateada, confirmou o nome escrito na etiqueta presa a ela e guardou-a no bolso. A gaveta seguinte não continha nenhuma marcação, dando a entender que ainda não havia ocorrido prisões no ano. Harry a abriu rapidamente e já ia fechá-la quando as avistou, parou e a puxou novamente. –
Vamos Harry, só temos mais quarenta minutos! – Hermione o apressou.
Harry pegou as cinco varinhas que estavam ali e as examinou rapidamente. Fechou a gavetinha e desceu. Ele esteve aqui... – disse perplexo, mostrando uma delas aos amigos. Leram o nome de Remo Lupin na etiqueta. – Vamos tentar as outras salas, rápido!
–
Fecharam as portas e saíram. Passaram pela porta do Tribunal e pararam em frente à porta que daria para o primeiro corredor. Tentou abrir, estava trancada. Usou o Alohomora, mas ela não Elisa Vrastani - Magia, Poder e Destino I
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cedeu. –
O que você vê, Rony?
–
Nada, cara! Só um corredor bem longo!
–
Use o feitiço para silenciar enquanto eu arrebento a porta, no três, OK? Um... Dois...
A fechadura se espatifou, mas não ouviram nenhum som. Harry atravessou o corredor sentindo o vento em seus cabelos, saiu em um salão circular com várias outras portas de madeira maciça e grades de ferro, pousou em frente a porta mais próxima e chamou por Lupin. Ouviu algo colidir com outra porta à direita e um braço apareceu pela grade. Sorriu aliviado. Ouviu os passos de Hermione e Rony correndo. –
Ele está aqui! – aproximou-se da porta e segurou sua mão. –– Lupin, sou eu, Harry!
–
Que Harry? – perguntou uma voz gutural. Não a reconheceu.
Harry Potter... – tentou libertar sua mão mas ele o segurou com força. – Conhece Lupin? Sabe onde ele está?
–
–
Abra a porta e eu te mostro onde...
Viemos libertar vocês... – disse, incerto de que era mesmo isso que queria fazer. – Mas vão ter que prometer não atacar ninguém... – embora não estivessem na lua cheia teve certeza de que eles teriam força suficiente para isso.
–
–
Harry? – Ouviu a voz de Lupin, chamando-o de outra porta. Tentou se soltar.
ABRA LOGO A DROGA DESSA PORTA!! – a pessoa que o segurava puxou-o contra a grade.
–
Harry viu seus braços ficarem peludos e suas unhas se transformarem em garras. Dois feitiços estuporantes o acertaram pela grade, derrubando-o. Harry se endireitou e correu, com Rony e Hermione, para a porta onde Lupin estava. Você está bem, Lupin? – Hermione se aproximou da grade, estava escuro lá dentro e mal conseguiam distinguir seu rosto.
–
Onde vocês estão? – Lupin passou o braço pela grade. Ainda estavam sobre o efeito do feitiço da Desilusão. Harry tocou seu braço. Lupin passou a mão pelo seu cabelo e sorriu.
–
–
Viemos te tirar daqui.
Outros rostos e mãos apareceram nas grades das demais portas. Lupin o puxou para perto, farejando-o. –
SAI DAQUI! – berrou, empurrando-o com violência. Harry o olhou assustado.
–
Mas nós viemos para libertar vocês! – Rony explicou, chocado.
–
Você está sangrando... – sua voz escapou entre os dentes enquanto tremia.
Harry passou a mão pelo ombro, sentindo o corte. Percebeu a agitação dos outros à sua volta. Rony e Hermione perceberam também. Não podemos simplesmente abrir as portas – Hermione comentou com ele, baixinho. – Nos atacariam...
–
–
Não! Não devem fazer isso! – Lupin se pendurou à grade e puderam ver seu olhar feroz.
O que devemos fazer, então? – Harry perguntou, tirou o relógio do bolso, tinham trinta minutos para decidir. – Consegue fazer isso sozinho? – passou a varinha pela grade. Ele a pegou
–
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com cuidado, evitando tocá-lo. – Tenho mais quatro aqui... Dê para mim! – disse com urgência. – Eu as distribuo. Não quero que fiquem no nosso caminho quando sairmos!
–
E os funcionários? – Rony perguntou, olhando em direção à porta do lobisomem que tinham atacado.
–
Teremos que fazer isso quando tiverem partido... – Lupin respondeu, ainda tremendo. Harry se afastou mais.
–
–
Fique com meu relógio. – Hermione o passou pela grade. Meia-noite seria um bom horário.
–
Vão embora... – Lupin pediu, aceitando o relógio.
–
Você vai voltar pra casa, não vai? – Harry pediu – Pra Casa Verde?
–
SAIAM DAQUI! POR FAVOR!
Afastaram-se assustados. Correram de volta pelo corredor, Hermione reparou a porta quando saíram e a fechou. Subiram as escadas e se cobriram com a capa enquanto esperavam pelo elevador, que chegou vazio. Quando parou no oitavo nível, para que alguns funcionários entrassem, aproveitaram para se esgueirarem pela porta e foram em direção ao banheiro. Vários alunos esperavam por ali em pequenos grupos, mas não viram nenhum membro da AD. Por sorte, encontraram as gêmeas Patil saindo do banheiro feminino, pediram que elas vigiassem enquanto entravam. Despiram a capa e desfizeram o feitiço da Desilusão. Harry limpou o sangue da roupa, depois que Hermione fechou o corte. Rony e Harry saíram cobertos pela capa e entraram no banheiro masculino. Hermione se juntou a elas e se afastaram encenando uma conversa animada. Alguns minutos depois, Harry e Rony saíram e foram se juntar a Dino e Simas, perto da fonte. Depois de cinco minutos, George apareceu e logo depois Raven surgiu acompanhada por Rowan. –
Vamos continuar? – Rowan perguntou a eles, animado.
Encontraram Tonks perto dos elevadores, ela parecia meio desnorteada, ficou olhando para eles enquanto se afastava. Hermione retribuiu o olhar, ansiosa para dizer alguma coisa. Harry a acotovelou para que parasse de dar bandeira. Ela o olhou enfezada. Recomeçaram do quinto nível. Pareceu que os andares estavam ficando cada vez maiores. Estavam famintos e preocupados com Lupin. Harry não se atreveu a tentar passar nenhuma mensagem a George ou ao Sr. Weasley. Quando finalmente terminaram o sétimo nível, Harry se dirigiu, aliviado, para os elevadores. Se juntaram no Átrio e aguardaram a chegada do Ministro. Harry encenou seu papel de aluno modelo, ao lado de Evandra, aguardando ansioso o momento em que enfeitiçariam logo a chave de portal para levá-los de volta.
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CAP. 17 - RECOMPENSA Quando voltaram à Hogwarts foram recebidos por Dumbledore e a Professora Minerva, no saguão de entrada. Gina estava com eles, esperando apreensiva, esfregava seu falso galeão nas mãos e sorriu, aliviada, quando os viu. Aguardaram, próximo às portas do Grande Salão, enquanto os alunos se dispersavam para as suas Casas e os funcionários do Ministério conversavam com o Diretor. Rony lançou um olhar triste para as mesas vazias. Estavam mortos de fome. Raven prometeu providenciar alguma coisa para eles em sua sala e se afastou. Assim que os funcionários foram embora Tonks apareceu com Sirius. –
O que aconteceu? – Tonks indagou, apreensiva.
–
Encontramos ele! – Hermione anunciou, alegre. – Ele está no Ministério!
–
O quê?! Lupin? – Sirius mal acreditou. – Como ele está?
–
Não muito bem... – Hermione respondeu, cautelosa.
–
Ele está confuso – Harry explicou.
–
Não, ele está selvagem! – Rony o corrigiu
–
Ele consegue se controlar – Harry o defendeu.
Tudo bem, nós sabemos que ele não está em seu juízo perfeito. Como descobriram onde ele está?
–
–
Aqui não, Sirius. – Dumbledore os chamou. – Venham!
Dessa vez foram para a sala dos professores, Harry nem se importou com a presença do Professor Snape, estava ansioso para contar o que estava acontecendo. Omitiram apenas a ida à sala dos livros proibidos. –
Como souberam que ele estava no décimo nível? – Dumbledore perguntou seriamente.
–
Não sabíamos, foi meio por acaso...
Foi por acaso também que você ficou preso lá embaixo? Eu fiquei preocupada, sabiam? – Tonks reclamou. – Eu nem sabia onde procurar!
–
Quem contou isso? – Hermione perguntou, perplexa. Perceberam Gina corar guardando a moeda.
–
Temos que arranjar um outro meio de comunicação, mais privativo! – Rony reclamou com Gina, irritado.
–
Isso não tem importância agora, temos que voltar hoje à noite, eles vão tentar fugir, temos que ir ajudar...
–
Vocês foram muito valentes hoje, não posso negar – Dumbledore olhou para eles, friamente. – Apesar de terem mentido, transgredido as regras, desrespeitado nossa autoridade e, claro, ter nos deixado preocupados.
–
–
Nós precisávamos fazer alguma coisa pelo Lupin... – disse Hermione, timidamente.
–
E vocês acham que nós não estávamos fazendo nada por ele? Que estávamos de braços
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cruzados? – Tonks irritou-se. Sirius também olhava para eles, zangado. Vocês deveriam ganhar pontos para Grifinória, por terem ajudado a encontrá-los... – Dumbledore comentou. Rony chegou a se entusiasmar por alguns segundos – Mas, como estavam fora dos limites de Hogwarts... Já por todas as transgressões... Vão cumprir detenção durante os fins de semana, a partir desta noite...
–
Harry não disse nada, estava começando a ter calafrios; massageou o ombro, incomodado. Rony ficou de cabeça baixa para não mostrar o quanto estava desapontado. Saíram, chateados, e foram direto para a torre da Grifinória. –
Desculpem... – Gina pediu timidamente.
Você não tem culpa de nada – disse Harry, antes que Rony abrisse a boca. – Eles é que não confiam na gente, não importa o quanto a gente faça!
–
Harry demorou debaixo do chuveiro quente o quanto seu estômago permitiu, estava se sentindo imundo depois de se arrastar pelos dutos do Ministério, saiu sentindo ainda mais frio do que quando entrou. Reuniram-se no Salão Comunal, Colin e Dênis os cercaram, queriam saber detalhes do que havia ocorrido, também haviam acompanhado a troca de mensagens entre Harry e Hermione e tinham ficado curiosos. Prometeram explicar mais tarde. Hermione, eu vou ficar com essa marca? – mostrou a marca avermelhada, em alto-relevo, que ardia em seu ombro. – Não tem como tirar isso?
–
–
Não sei... – ela respondeu, pensativa. – Podemos procurar alguma coisa...
–
Não ficou muito ruim... – Rony o consolou enquanto se dirigiam à sala da Professora Raven.
Já tenho cicatrizes o suficiente, e nem sou um auror! – disse ele, chateado, esfregando as costas de sua mão direita.
–
Eu não me importo... – Gina segurou sua mão, alisando a marca deixada pelas suas detenções com a Umbridge.
–
Vai continuar não se importando daqui a alguns anos? – Harry perguntou, observando os dedos dela deslizando sobre a sua pele.
–
Rony bateu com o braço em seu peito. –
Otimismo seu pensar isso, Moody está vindo para cá!
Disfarçaram e viraram no primeiro corredor pelo qual passaram, deram a volta e pegaram um atalho até a sala da Professora Raven. Ao chegarem encontraram a mesa posta, não esperaram convites para se servirem. Enquanto comiam contaram a ela o que tinha acontecido. Não omitiram nada. Harry contou também sobre a conversa que tivera com Voldemort e o porquê dos praticantes da Magia Oculta estarem atrás dele. Ficou aliviado por poder contar a alguém, a um adulto. Já a considerava como se fosse de sua família, já que seria da de Sirius. Vocês se arriscaram tanto só por causa disso aqui?! – folheou o livro rapidamente e o fechou sobre a mesa.
–
–
Não tínhamos a quem perguntar – Hermione explicou.
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Sirius não sabe sobre isso, e mesmo assim, não quer falar a respeito, se souber que estamos buscando informações...
–
É, eu já percebi... – Raven comentou, pensativa. – Ele tem um certo preconceito quanto a esse assunto...
–
–
Acho que as pessoas têm medo, eles não são do tipo amigáveis.
–
Não é bem assim, Harry...
Eles já me atacaram três vezes... – sentiu um calafrio percorrer seu corpo. – Depois que eu descobrir como me livrar da alma e dos conhecimentos de Voldemort talvez eles me deixem em paz...
–
– Harry... – Raven segurou seu rosto para que ele a olhasse nos olhos. – Nossa! Você está tão quente! – Não acho, acho até que está muito frio! – Você! Não esta sala! – Não está frio aqui – Rony informou a ele. – Você está febril! O que houve? Você se machucou? Tocou em algum objeto estranho, ingeriu ou aspirou alguma coisa lá no Ministério? – perguntou apreensiva. – Não... – ele respondeu, achando-a meio exagerada. – Se machucou sim, um lobisomem o arranhou – Hermione o corrigiu. – Você quer dizer um dos homens que estavam presos... – Não! Um lobisomem de verdade! – Rony contou – Ele se transformou na nossa frente e nem estamos na lua cheia! –
Greyback... Ele é o único que consegue... – Raven explicou, preocupada.
–
Por que só ele consegue? – Gina perguntou.
–
Vamos primeiro verificar esse corte...
Mione já fechou pra mim... tem como tirar essa marca? – Harry aproveitou para pedir sua ajuda.
–
–
Vocês limparam antes de fechar? – Raven perguntou.
–
Limpar? Como assim? – Hermione perguntou, corando.
–
Deve estar infeccionado... – Raven examinou seu ombro.
–
Desculpe... – pediu Hermione. – Eu sei feitiços, não sei curar pessoas...
–
Eu não teria feito melhor – Harry a tranquilizou.
–
Vai ter que reabrir o corte – Gina comentou ao seu lado.
É verdade... – Raven meditou. – Teremos que reabrir para limpar o ferimento antes que piore – pegou uma caixa e colocou um estojo com lâminas, alguns vidros, gazes e toalhas em cima da mesa. Destampou um dos vidros, um cheiro forte se espalhou pelo cômodo. – Não se preocupe, eu sei o que estou fazendo... já cuidei de vários ferimentos causados por lobisomens. Meu irmão adorava brincar com eles quando era pequeno.
–
–
Ele era maluco?! – Rony perguntou, surpreso.
–
Não... – Raven respondeu, sorrindo. – Ele é um Lobo-Cinzento.
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Ele também é animago? – Harry trocou um olhar chateado com Rony enquanto Raven passava um líquido esverdeado em seu ombro. – Nós também queríamos ser, mas Sirius... Espera! O que está fazendo?! – segurou sua mão quando sentiu o frio da lâmina em seu ombro.
–
–
Não vai doer... muito...Se quiser eu posso te levar à enfermaria, para Madame Pomfrey...
–
Não! Eu não quero ficar na Ala Hospitalar...
–
Bom, eu não sou tão boa com cortes quanto o meu amigo Doc, mas se você ficar quieto...
–
Deixe que eu faço... – Gina pediu a ela a lâmina. – Você confia em mim, não é, Harry?
Confio... – disse incerto. Rony fingiu estar interessado em observar as bandas de rock se agitando silenciosamente nos quadros e se afastou. Hermione deu um sorrisinho amarelo e desapareceu do seu campo de visão.
–
Você ainda não consegue se transformar? – Raven perguntou. – Harry sentiu uma breve ardência e depois o sangue escorrendo pelo ferimento.
–
–
Dizem que é um processo muito complicado e demorado...
Aposto que não será para você... – umedeceu algumas gazes com um líquido cor de barro e passou à Gina. – Se o “Lorde das Trevas” consegue, você provavelmente conseguirá também. Sabendo o que fazer, o ritual se torna apenas um detalhe.
–
–
Ele também é um...?
–
Deve ser, é tão útil e prático... Um ótimo disfarce. Harry ficou curioso por saber em que animal Voldemort conseguia se transformar.
Há quanto tempo vocês são animagos? – sentiu uma queimação incômoda em seu ombro mas não reclamou.
–
–
Desde que decidimos ser, acho que eu tinha nove...
–
Seus pais deixaram?
–
Claro! Sempre tivemos muita liberdade!
–
Diferentes... – Hermione comentou de algum lugar distante.
–
Pronto! – Gina avisou.
Harry passou a mão pelo ombro, depois se virou para olhar, não viu nada além de uma fina linha rosada. –
Gina! Você é maravilhosa!! – exclamou contente.
Vai ser muito bom termos uma curandeira na família. Ainda mais com o gosto que vocês possuem por correr riscos... – Raven guardou seus vidros e poções. Gina corou, satisfeita.
–
Bateram à porta e Hermione foi atender. –
Professor Moody!! – ela o cumprimentou em alto tom. Raven rapidamente pegou o livro, em cima da mesa, e o fez desaparecer.
Não sou mais professor... – lembrou-lhe enquanto seu olho mágico observava o aposento – Fiquei sabendo do que fizeram hoje...
–
Já fomos castigados... – Rony o avisou, cauteloso. – O Prof. Dumbledore nos mandou cumprir detenções...
–
–
Por isso mesmo que eu vim, vou levá-los até lá.
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–
Mas, já? – Gina perguntou, chateada. – Posso ir também?
–
Claro que não! – vociferou. – Vamos, só vocês três!
–
Isso é muito injusto! – Raven os defendeu. – Depois de tudo o que passaram...
Desculpe-me Professora, mas em se tratando de criar adolescentes a senhora se parece muito com Sirius...
–
–
O que quer dizer? – Raven perguntou, intrigada.
Tudo bem, Professora, a gente se fala mais tarde... Obrigado. – Harry se adiantou, empurrando Rony para que saíssem logo, antes que discutissem.
–
Foram levados para uma das torres mais distantes. Era circular e com estreitas janelas oferecendo uma visão limitada da floresta proibida, dali não tinham vista para o lago, os terrenos, nem o vilarejo. Continha mesas e cadeiras, duas estantes enormes abarrotadas de papéis velhos e amarelados, alguns meio comidos por traças, e ao lado, uma caixa contendo pergaminhos novos. Vocês vão copiar todos esses documentos, para que não se percam pela ação do tempo – Moody anunciou. Os três olharam, desanimados, as duas estantes de quase três metros de altura. – Deem-me as varinhas...
–
Sem Magia?! – Rony espantou-se. – Durante os fins de semana... Vamos levar toda uma vida! Vamos ter de voltar aqui depois que nos formarmos em Hogwarts!
–
Tem razão – Moody concordou com ele, coçando o queixo. – Então, vocês virão também em todos os tempos vagos que tiverem durante a semana, incluindo o almoço e jantar, para adiantar o serviço!
–
–
Mas precisamos estudar também, nossos deveres... – Hermione começou a explicar.
–
Vocês os farão aqui!
–
Vamos dormir aqui também? – Rony perguntou de mau humor.
Posso providenciar algumas camas, Sr. Weasley! – Moody disse severamente. Rony abriu a boca para argumentar.
–
–
Cala a boca, Rony! – Harry pediu, irritado.
Tem banheiros no final daquele corredor – informou indicando uma porta à direita e recolheu suas varinhas. – Letra legível, por favor!
–
Saiu deixando-os trancados. Harry se jogou em uma das carteiras. Por que estão fazendo isso com a gente? – Rony perguntou, chateado. – Bastaria um “muito obrigado por se arriscarem resolvendo um assunto que não conseguimos...”
–
–
Querem nos isolar... espero que, pelo menos, consigam ajudá-los a fugir...
Onde está o livro? – Hermione pediu a ele – Teremos bastante privacidade para estudá-lo aqui.
–
Harry examinou os bolsos. – Está com a Raven! –
Que droga! – Rony deitou sobre as carteiras e ficou observando o teto.
–
Anda! Vamos começar logo a copiar esses papéis... – Hermione sugeriu, chateada.
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No dia seguinte, domingo, foram conduzidos de volta à torre depois do café da manhã. Examinaram o mapa mas não encontraram a Professora Raven no castelo. Temos que arranjar um jeito de falar com a Professora e pegar o livro de volta! Tente falar com Sirius, talvez estejam juntos – Hermione sugeriu.
–
Harry tirou o espelho da mochila, o tinha levado com essa intenção, queria saber notícias de Lupin. Passaram a manhã tentando falar com ele a intervalos regulares, depois do almoço Monstro atendeu ao chamado deles. Jovem Mestre... – fez uma reverência, sumindo momentaneamente do campo de visão deles. – Mestre Sirius está lá embaixo, no porão. Está muito ocupado agora...
–
–
Eles conseguiram, então? O Lupin está com ele?
–
Monstro não tem permissão para falar sobre isso...
–
Mas eles estão bem?
–
Ninguém foi mordido ainda... Resolveram considerar essa informação como sendo uma boa notícia.
–
A Professora Raven está com ele? Monstro abanou as orelhas parecendo confuso.
–
A mulher de cabelos cor de arco-íris está...
–
Ah, Tonks! – Hermione concluiu, feliz.
–
Tudo bem então, Monstro, obrigado. Despediram-se.
Ótimo, Lupin já está solto, só falta a gente... – Rony pegou novamente sua pena e voltou a escrever.
–
Eram obrigados a voltar à torre durante todos os tempos livres entre as aulas e só saíam após o horário de recolher. Praticamente não falavam com ninguém. Nunca conseguiam um tempo a sós para conversar com Raven, não podiam ir à mesa dos professores durante o café da manhã e a sua aula era a única de terça-feira, quando o sinal tocava Filch já estava à porta aguardando para conduzi-los de volta e todas as demais refeições eram feitas na torre. Murta era a única que os visitava. Estava adorando a ideia de mantê-los informados sobre o que acontecia pelo castelo, já que não conseguiam mais ter acesso a informação nenhuma. E estavam muito felizes por tê-la por perto, todos os dias ela os bombardeava com notícias de tudo o que acontecia no castelo, brigas entre alunos, intrigas, fofocas... –
Vocês não sabem o que eu ouvi... – ela comentou; flutuando, animada, pela torre.
Não, Murta... não sabemos... – Hermione disse pacientemente enquanto copiava uma auto de detenção aplicado a um aluno da Corvinal há mais de 70 anos.
–
Parece que um aluno destruiu a sala de uma das funcionárias do Ministério, Dolores Umbridge, com uma bombinha silenciosa... Uma aluna da Lufa-lufa estava falando com as amigas no corredor do quarto andar, a tia dela trabalha no Ministério... Quando ela voltou ao trabalho no dia seguinte, encontrou todos os móveis destruídos, parece que tiveram que reconstruir as paredes... – Murta contou alegremente a novidade, adorava saber detalhes sobre a
–
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vida alheia, já que não mais possuía uma. Harry notou as orelhas de Rony ficando vermelhas. Por que teria que ser um aluno? – Rony se defendeu. – Aposto que muita gente não gosta dela naquele lugar...
–
Ah, Rony! É muita coincidência que isso aconteça logo depois de alunos terem estado visitando o lugar – Hermione reclamou. – Espero que não estejam acusando ninguém...
–
–
E o Ministro, Murta? Ainda não o viu circulando pelo castelo? – Harry perguntou.
Já... umas duas vezes, mas ele foi direto para o escritório do Diretor e nenhum fantasma tem permissão para ir até lá... – comentou decepcionada. – Agora eu tenho que ir, dois alunos da Corvinal, Miguel Corner e Rogério Davies, marcaram uma briga lá embaixo, na sala de barcos. Depois eu volto pra dizer quem ganhou... – despediu-se.
–
–
Por que será? – Rony ficou curioso.
Rogério já quis sair com Cho, ano passado, no dia dos namorados, dever ter algo a ver – Harry explicou. – Talvez Murta consiga descobrir o motivo também, ela parece gostar disso...
–
É, que bom que alguém tem se divertido... – Hermione enrolou o pergaminho e pegou um novo documento na pilha.
–
Seus colegas, no princípio, lançavam a eles olhares curiosos durante as aulas, estranhando a constante ausência, mas com o tempo foram se acostumando. Harry recebeu a visita de Edwiges dias depois, ficou feliz por revê-la, mas ela não trazia nenhum bilhete de Sirius. Ficou decepcionado, seu padrinho o tinha abandonado, não se comunicou nem para dar notícias sobre Lupin. Snape continuava a fazer demonstrações sobre os variados tipos de veneno e a usar Photon, nome que Harry deu ao jovem espécime ofídio, como cobaia. Nenhum aluno parecia se importar tanto quanto ele com as torturas impostas ao animal. Rony era liberado, para os treinos de Quadribol, uma vez por semana. Professora McGonagall, eu também não tenho que treinar de vez em quando, apesar de ser só o reserva? – perguntou esperançoso por uma oportunidade de se afastar por mais tempo de seu cárcere.
–
Que bom que você está voltando a se interessar por práticas mais saudáveis e menos perigosas... – Minerva comentou com eles no final da aula.
–
E Hermione? – Rony perguntou angustiado. – Ela não pode nos assistir nessas horas? Para não ficar sozinha...
–
Minerva lançou a eles um olhar penetrante, avaliando-os. –
Tudo bem, pode sim – disse lançando a ela um meio sorriso.
Na manhã de sábado, no jogo contra a Corvinal, conseguiram a tão sonhada liberdade. Após o café da manhã Harry e Rony se trocaram no vestiário com os outros. Depois, Harry e Hermione subiram para o pódio dos Professores de onde Cólin irradiava a Elisa Vrastani - Magia, Poder e Destino I
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partida. Aproveitaram para trocar algumas palavras com a Professora Raven. O Professor Flitwick e a Professora McGonagall estavam próximos a eles. –
Professora Raven, eu gostaria de ter de volta aquele livro... – Harry começou.
Ah, sei... mas ele não está mais comigo... – Raven disse em tom de desculpa. Harry a olhou surpreso, mas se recompôs rapidamente.
–
–
Onde ele está? – tentou parecer o mais casual possível.
Eu pedi que meu irmão o guardasse para mim, sabe, ele é muito... “raro”, não é bom que fique por aí...
–
Harry calou-se, não poderia dizer mais na frente dos professores e não poderia pedir que ela se arriscasse a ser pega de posse do livro. Suspirou, chateado, teria que aguardar uma oportunidade para conversar melhor com ela a respeito. Foi uma disputa fácil, Grifinória ganhou com duzentos e trinta pontos a sessenta da Corvinal. Dênis havia feito uma ótima captura, Rony havia defendido muito bem e Gina tinha sido responsável por cinco dos oito gols. Após a saída dos gêmeos, os Weasleys voltavam a fazer a diferença nas partidas de Quadribol. Mal puderam comemorar, uma hora após regressarem à Sala Comunal, a Professora Minerva foi buscá-los. Por favor, Professora, nós temos nos comportado... – Hermione pediu. – Só hoje então, por favor. – insistiu.
–
–
Sinto muito, mas vocês ainda não terminaram com todos os documentos.
E isso importa mesmo? – Harry perguntou, irritado. – Vocês sabem que nunca vamos conseguir dar conta de tudo aquilo! Até quando vão continuar castigando a gente?
–
–
Até aprenderem a obedecer, Sr. Potter!
Seus amigos assistiram enquanto seguiam de volta à torre, revoltados; assim que entraram entregaram as varinhas. Vamos poder ir à inauguração do Gemialidades Weasley hoje à noite? – Rony arriscou. – Todo os alunos irão...
–
–
Nem todos, Sr. Weasley, os alunos do primeiro e segundo anos não têm permissão...
–
Mas somos do sexto – Hermione não estava escondendo mais sua insatisfação.
–
Veremos... – Minerva hesitou, observando-os. – Vou consultar o Diretor quando ele voltar...
–
Ele vai deixar! – Rony afirmou quando ficaram sozinhos – Afinal, são meus irmãos...
Harry permaneceu em silêncio, observando as paredes nuas. Hermione cruzou os braços e se encostou à porta, olhando para os próprios pés. Foi um bom jogo hoje! – Rony tentou distraí-los, mas ninguém respondeu. Sentou em uma das carteiras. – É bem chato ficar só assistindo, bem angustiante... – Harry desviou rapidamente o olhar para ele e voltou a observar o vazio. – Você se arrependeu de não ter aceitado ser capitão do time?
–
–
Me arrependo por não ter fugido quando tive chance... – disse lentamente.
Harry? É você mesmo...? – Rony perguntou, cauteloso, esticando-se na carteira para encarálo nos olhos. Levou um tapa no topo da cabeça. – Tudo bem! Desculpa! Só estava checando...
–
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157
Quando a noite caiu ouviram fogos ao longe. Rony correu para a janela, mas não conseguiu ver nada dali. Hermione continuou sentada, massageando o pulso dolorido. Harry estava debruçado sobre a carteira copiando letra por letra de seu documento, desenhando-as lentamente. Rony voltou e consultou o mapa. O castelo está quase vazio!! – esticou-o sobre a mesa. – Não estou vendo os Professores... só Madame Pince na entrada , Madame Pomfrey na enfermaria, Professora Sprout na sala dela... Esqueceram a gente aqui!! – reclamou exaltado.
–
Hermione se levantou para conferir. Parecia que todos os alunos a partir do terceiro ano tinham deixado o castelo. Harry nem se mexeu. Estamos no alto de uma torre! Nem se berrássemos alguém nos ouviria, quando algum dia se lembrarem de nós, já teremos morrido de fome!! – Rony se desesperou.
–
–
Dobby nunca atrasou nossas refeições... – Harry se limitou a lembrá-lo.
–
Não podem continuar fazendo isso com a gente, é tortura! – Hermione reclamou.
Harry despertou de seu estado letárgico e puxou o mapa. Animou-se ao perceber a sala do Snape, vazia, ele não parecia estar por perto. Eu vou sair! – avisou aos amigos. – Vou aproveitar que o Snape não está e tentar libertar Photon. Se alguém aparecer... não, não precisam dizer nada! Estou me lixando pra isso!
–
–
Harry, não! Você não pode sair! E além do mais, não há como...
Ele guardou o mapa e correu para o banheiro. Havia algumas janelas no alto, um pouco menos estreitas que as outras, flutuou até lá . –
Harry! – Hermione o chamou de novo. – Se te pegarem...
Vão fazer mais o quê?! Já estou prisioneiro pelo resto da vida... Vão me mandar para Azkaban?
–
Deixa ele, Hermione, ninguém vai desconfiar, não há como a gente sair daqui... Pena que eu não tenho nenhuma outra bombinha...
–
Harry se espremeu pela abertura e saiu, não estava mais se incomodando com o seu tamanho diminuto, estava achando-o muito útil. –
Por que você é tão teimoso!?
Ouviu Hermione reclamando lá dentro. Esgueirou-se com cuidado, rente à parede, evitando as janelas. Estava escuro e seria difícil que alguém o visse. Contornou o castelo vendo os fogos de luxo de Fred e Jorge sendo deflagrados ao longe. Não demorou para encontrar os aposentos de Snape. Parou, decepcionado, próximo à janela, sentiu sua presença lá dentro. Abriu o mapa para se localizar, talvez conseguisse falar com a Professora Raven. Ficou examinando o mapa por alguns segundos, estupefato. Abriu a janela e entrou. –
O que está fazendo aqui? Draco virou-se, assustado, apontando a varinha em sua direção.
–
Que droga! O que VOCÊ está fazendo aqui?!
–
Roubando ingredientes do Snape... – Harry reparou o frasco em sua mão. – Está maluco?
Que eu saiba, você também não deveria estar aqui, deveria estar preso no alto de alguma torre! – disse ele, achando graça.
–
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Harry sentiu raiva, mas estava sem varinha e com pouco tempo. Foi até a jaula de Photon. Deixou que ele se enrolasse em seu corpo enquanto sussurrava o que pretendia fazer. Sobressaltouse quando percebeu outra aproximação pelo corredor, olhou ao redor enquanto Draco continuava a examinar as estantes, resolveu deixar a jaula aberta para parecer que a cobra tinha conseguido sair sozinha. Correu apressado de volta à janela. Espero que Snape seja benevolente com os amigos Comensais, porque ele está vindo pra cá! – avisou antes de sair.
–
Foi surpreendido por Draco seguindo-o. Havia um bom espaço no parapeito da janela, mas não havia como sair dali. –
O que você está fazendo? – perguntou irritado. – Não pode sair por aqui!
–
Se você consegue, eu consigo! – Draco o empurrou e fechou a janela.
Snape entrou na sala sem reparar a jaula vazia. Harry ficou parado sem saber o que fazer, não poderia ficar esperando a boa vontade de Snape sair novamente, se é que sairia, poderia demorar uma eternidade. Também não poderia voar de volta para a torre na frente de Draco. Malfoy se aproximou da beirada, devagar, e examinou as paredes ao redor. –
Como chegou por aqui? – sussurrou, surpreso.
Harry não respondeu. Sentou-se no parapeito, irritado, e olhou para baixo tentando resistir à vontade de sair dali, tinha que voltar logo para a torre antes que alguém aparecesse. Draco recuou de volta à janela e ficou espiando. Snape desapareceu em direção ao quarto e voltou logo a seguir com um livro nas mãos, sentou-se à mesa e começou a ler. Harry ficou conversando com Photon, ele o estava apertando demais, não gostava de alturas. Ficou acariciando o animal, para acalmá-lo, enquanto observava os fogos ao longe. Estava considerando ir embora, Voldemort já sabia o que ele conseguia fazer e Draco não poderia fazer nada contra ele além de o delatar, mas então delataria a si mesmo também. Você está se parecendo com o Lorde das Trevas, sabia? – Draco perguntou, ressabiado. – Ele também faz isso.
–
Harry o olhou de esguelha e voltou a apreciar os fogos que iluminavam o céu com suas luzes coloridas. –
O quê? Fica sentado na janela aturando caras chatos, metidos a besta e impertinentes?
–
Fica horas conversando com aquela cobra dele...
Bom, Draco... – levantou-se. – Tenho que ir, acho que Snape não pretende sair mais hoje, então... Boa-noite!
–
Lançou-se no ar e desceu, deixando Draco com cara de assombro. Todas aquelas insinuações o estavam irritando. Levou Photon até uma árvore e o libertou. Voltou ao castelo o mais rápido possível. Os amigos já estavam jantando. –
O que aconteceu? Alguém te viu? – Hermione perguntou, preocupada.
–
Não, só o Malfoy. Ele estava roubando ingredientes na sala do Snape.
Que estranho! – Hermione comentou. – Por que será que não pediu? O Prof. Snape adora ele...
–
Talvez o Snape esteja um pouco egoísta... – Rony sugeriu, picando um dos pergaminhos amarelados e misturando-o às sobras de seu prato.
–
–
O que está fazendo? – Harry perguntou enquanto se servia.
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Temos que passar a deixar sobras de comida para que recolham junto com esses documentos idiotas, senão, nunca sairemos daqui – explicou.
–
Snape estava de péssimo humor, na próxima aula, ameaçou realizar torturas inimagináveis com quem tivesse tido a ousadia de entrar em sua sala e roubar sua cobaia e ingredientes que ele classificou como raríssimos. Harry e Draco copiaram as expressões de espanto de seus colegas. Snape estava sendo tão desagradável que Harry, Rony e Hermione estavam ansiando por voltar à torre. Quando o sinal tocou os alunos correram para disputar a saída. –
Harry Potter! Fique!
Harry sentiu-se gelar, não tinha pensado na hipótese de Snape acusá-lo, todos sabiam que ele andava enclausurado na torre. Aproximou-se devagar enquanto os outros saíam. Rony e Hermione o ficaram esperando perto da porta. Podem sair, vocês dois, eu chamei apenas um, ou não podem se desgrudar nem um segundo sequer?!
–
Snape foi até o seu armário, quando eles saíram, e voltou com uma taça dourada. Depositoua sobre a mesa. –
Beba! Harry olhou para o líquido translúcido e sentiu-se arrepiar.
–
Eu não fiz nada! – deu um passo para trás e olhou para a porta. Com um movimento brusco, Snape agitou a varinha, fechando-a.
–
Beba! – gritou colericamente.
–
Não pode fazer isso! Não pode me obrigar a beber veneno... – lembrou-o, assustado.
Infelizmente não... – ele disse, olhando-o nos olhos. Harry desviou rapidamente o olhar, não tinha certeza se conseguiria fechar sua mente naquele momento. – Isto é veritaserum... – explicou, dando a volta na mesa. Harry se afastou. – Você vai beber e me dizer como conseguiu fazer isso!
–
Mas eu estava preso na torre... – continuou se afastando enquanto Snape avançava ferozmente.
–
Não é a primeira vez que rouba de meu estoque! Quem mais se preocuparia em levar aquele réptil idiota? Se é inocente, então beba e me conte a verdade! Não se preocupe, por mais que me seja tentador, nada vai te acontecer... se for mesmo inocente...
–
–
Então, o senhor primeiro...
Não seja insolente! – estendeu o braço direito e invocou a taça, com o outro prensou-o contra a parede e levantou seu queixo.
–
Snape foi arremessado contra as carteiras, a taça voou de sua mão. Professor Snape! É melhor vir comigo, rápido! – Draco ficou parado à porta, observando a cena.
–
Saia daqui, Draco! Eu não vou aturar isso, Potter! – Snape puxou a varinha e apontou para Harry, que retribuiu o gesto.
–
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–
É urgente, Professor! Parece que invadiram a sua sala, de novo... – Draco insistiu.
O que disse?! – virou-se para ele, estava possesso. – A minha sala! – Snape disparou pela porta. Draco lançou um breve olhar para Harry e seguiu atrás dele.
–
Harry ficou observando enquanto se afastavam, seu coração estava disparado, sentia muitas coisas ao mesmo tempo, não soube definir seus sentimentos. Sua cicatriz estava queimando, passou a mão pela testa para ver se sangrava. Saiu da sala devagar Rony e Hermione correram para ele. –
O que houve? O que aconteceu com o Snape? – Hermione o olhou assustada.
–
Você está bem? – Rony tocou em seu braço.
Filch aguardava para reconduzi-los à torre; olhava, curioso, na direção em que Snape sumira. –
O que houve com o Professor Snape? Por que saiu daquele jeito? – Filch se aproximou.
Eu quero ver o Professor Dumbledore! – Harry anunciou com a voz relativamente calma apesar de estar tremendo.
–
–
O Diretor não está no castelo. Venham, eu vou levá-los à torre...
–
Eu quero falar com ele! Quero dar queixa do Professor Snape!
O quê?! Queixa!? – Filch espantou-se. – De um professor? Bom... vai ter que esperar ele voltar...
–
Um aluno da Lufa-lufa apareceu correndo e disse a Filch que Snape o estava chamando, alguém tinha inundado sua sala. Filch ficou nervoso com a notícia. Deixaram que ele os conduzisse de volta à torre. Ao chegarem perto das escadas puderam ouvir o som da água descendo em cascata pela escadaria. Assim que chegaram Filch tentou pegar as varinhas mas Harry não permitiu. Não vamos ficar aqui indefesos caso o Snape volte. Se quiser que a gente aguarde pelo Diretor aqui, então, é melhor não insistir! – bradou com ferocidade.
–
Filch hesitou durante algum tempo, sem saber que atitude tomar, depois resolveu deixá-los e atender ao chamado do Professor. –
O que houve, Harry? O que ele fez? – Hermione se aproximou dele.
Harry sentou-se e apoiou os cotovelos sobre a mesa, tirou os óculos e escondeu o rosto nas mãos, sua cicatriz ainda ardia. Rony sentou-se ao seu lado. –
Harry, fala com a gente! O que está acontecendo? – Rony insistiu.
–
Snape! Ele tentou me obrigar a beber uma poção!
–
O quê? Que poção? – Hermione puxou o braço dele, obrigando-o a olhar para eles.
–
Veritaserum! Queria me obrigar a confessar que entrei na sala dele!
–
Mas ele não conseguiu, não é? – Rony perguntou, alarmado.
Não... Ele é doente! É maníaco! Centenas de alunos passam próximo à sala dele todos os dias! Mesmo se eu estivesse acorrentado aqui, ele me culparia!
–
A Professora Minerva apareceu horas depois, contou a ela o que tinha ocorrido e que não iria mais aceitar ter aulas de Poções com o Professor Snape. Não é justo a maneira com estão nos tratando, nós só queríamos ajudar um amigo, a cada minuto que passava as chances de encontrá-lo com vida se reduziam e a Ordem não estava conseguindo nada! – discursou furiosamente. – Por que temos que ser punidos? Conseguimos
–
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resolver, não foi? Ele está vivo graças a nós! Acalme-se, Sr. Potter... – ela pediu controladamente. – Quanto a isso vocês mereceram a punição, sim. Desobedeceram-nos, colocaram-se em perigo desnecessário, não iríamos deixálos impunes para incentivar aos demais alunos, principalmente aos entusiastas pela Armada de Dumbledore! Quanto ao Professor Snape... ele se excedeu – examinou a marca deixada em seu rosto. – Está furioso pela invasão à sala dele, ainda mais agora que perdeu vários ingredientes importantes com a “inundação”.
–
–
Podem me expulsar se quiserem, eu não vou mais ter aulas com ele! – informou taxativo.
O Diretor irá voltar neste fim de semana... ele está tendo que se ausentar constantemente... Até lá vocês continuarão aqui, o Professor Snape não terá permissão para chegar perto desta torre... Vocês não fizeram nada mesmo? – olhou ao redor fazendo um rápido exame da sala, parecia impossível que alguém pudesse sair dali.
–
–
Professora, eu não roubei ingrediente nenhum!
–
Tudo bem... Vocês serão avisados assim que o Diretor regressar. Foram reconduzidos de volta à torre da Grifinória.
Bom, quanto a isso você tem sorte, Harry – Rony comentou mais tarde quando estavam nos dormitórios. – Mamãe iria preferir me ver beber Pus de Bobotúbera a permitir que eu ameace sair de Hogwarts.
–
A Professora McGonagall foi vê-los na torre, no fim da tarde de sábado. Harry levantou-se ansioso, o pergaminho à sua frente permanecia intocado desde que chegara. –
O Diretor já chegou?
–
Já, mas ele teve que sair novamente, recebeu um chamado urgente.
–
Está acontecendo alguma coisa? – Hermione perguntou, apreensiva.
Tem muita coisa acontecendo Srta. Granger, e tudo ao mesmo tempo. Os membros da Ordem estão fazendo o impossível para tentar impedir os avanços do lado das trevas. Não pude falar com ele sobre vocês ainda...
–
O desânimo percorreu o trio, não aguentavam mais continuar naquela situação. Mas... – continuou – Como sou a responsável em sua ausência vou liberá-los da detenção, quanto às suas aulas de Poções, não cabe a mim decidir...
–
–
Professora, eu falei sério, não vou voltar às aulas. Minerva viu a determinação em seu olhar, então, não argumentou.
A maioria dos alunos está em Hogsmeade. A loja de Fred e Jorge Weasley está atraindo muita gente de fora, talvez, pela sensação de segurança pela presença dos funcionários do Ministério. Pode-se dizer que Hogsmeade é o povoado mais seguro que existe, já que é onde os aurores estão alojados para vigiar o castelo... Não vou impedi-los de sair, mas os aconselho a não irem; apesar dos aurores, não temos membros da Ordem disponíveis hoje...
–
Voltaram à torre da Grifinória. Rony foi até a janela quando ouviu os primeiros fogos iniciarem a noite. –
Eu estou a fim de ir, quero ver a nova loja deles, e vocês?
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–
Não... – Hermione começou a dizer.
–
Sim, vamos sim. Nós merecemos sair um pouco. Eu vou! – Harry anunciou, decidido.
Passaram por quatro aurores a caminho de Hogsmeade, que os cumprimentaram cortesmente. A loja era, de longe, a mais atraente do vilarejo. Várias pessoas circulavam pelas ruas, que haviam recebido uma iluminação especial, que fazia parecer dia ao invés de noite, e as pessoas assim se comportavam, entrando e saindo das lojas com suas compras. O interior da loja dos gêmeos era igualmente iluminado, as prateleiras repletas de embalagens coloridas, a música alegre instigava as pessoas a se manterem sempre em movimento. Não acredito! – Fred descia as escadas, mas parou quando os viu. – Jorge! Vem ver quem está aqui!
–
Ah, droga! – Hermione resmungou, encabulada. Várias pessoas próximas se viraram para olhar. Ela puxou Rony e Harry pela mão para que se aproximassem logo dele. – Quer parar com isso?
–
Ah, não! Já soltaram o trio! – Jorge desceu também e olhou de cara feia para eles, visivelmente chateado por vê-los em liberdade.
–
–
Obrigado!! – disse Rony, indignado.
Estávamos elaborando um kit de fuga para situações extremas! E agora? Quem vai testar pra gente?! – Fred os encarou mal-humorado como se o tivessem feito perder uma ótima oportunidade.
–
–
Que kit? – Rony se interessou em saber.
Meus queridos!! – Raven abraçou e beijou os três. – Finalmente liberaram vocês! Eu estava me sentindo tão sozinha naquele castelo...
–
Então, por que não tentou entrar em contato com a gente? – Harry perguntou, magoado. – Estivemos esse tempo todo no mesmo lugar...
–
–
Ah, não... Não fiquem chateados comigo... Eu não podia, não me autorizaram...
–
E daí? – Rony perguntou, também magoado com o abandono.
Rony! Se não autorizaram, claro que ela não poderia! – Hermione chamou sua atenção. – Queria que fosse punida por nossa causa?
–
Acreditem, minha ficha já não está muito limpa... Mas venham conhecer meu irmão! – Conduziu-os alegremente até o fundo da loja.
–
Um homem de cabelos pretos, usando jeans e camiseta, estava parado, examinando a seção de artigos defensivos. John?! – Rony perguntou, incrédulo. – Vocês são irmãos? – assombrados, para Raven e ele, percebendo algumas semelhanças.
–
Harry e Rony olharam,
Que bom revê-los, garotos!! – John os saudou entusiasmadamente, sacudindo o cabelo para longe dos olhos cor de mel.
–
–
Por que você não disse quem era, naquela noite? – Harry perguntou.
–
Vocês estavam fingindo ser outra pessoa, então...
–
Mas você reconheceu a gente! – Rony o acusou.
Não havia outras crianças no local... – John esclareceu. Harry e Rony fecharam a cara para aquele comentário. – Outros adolescentes... – corrigiu. – Como Sirius estava ocupado demais
–
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para nos apresentar formalmente... – lançou um sorriso gaiato para a irmã, ela fez uma careta e um breve aceno com a mão, como para espantar seu comentário. –
E Sirius? Onde está? – Harry perguntou a Raven.
Não o tenho visto ultimamente, mal nos falamos. Ele anda muito ocupado, a serviço da Ordem...
–
–
Não tanto pra você quanto para mim... – respondeu, ainda chateado.
E vocês, como estão? – John tentou descontraí-los. – O que tiveram que fazer durante a detenção? Fred e Jorge têm estado ocupados pensando em alguma forma de ajudá-los...
–
Lembra quando disse que as coisas poderiam mudar? – Rony perguntou. – Pois mudaram para pior! Só faltaram nos acorrentar! E isso porque ajudamos, se tivéssemos feito algo para atrapalhar então ...
–
–
Não é assim, Rony, nós violamos as regras! Só que eles exageraram um pouco...
–
Desculpe, nós não fomos apresentados ainda... você é a Hermione, não? Eu sou John.
–
Prazer... – correspondeu ao seu aperto de mão, corando.
Rony a olhou desconfiado. O semblante de Harry se iluminou quando viu Gina se aproximando. Não sabia que vocês viriam!! Já se livraram do castigo?! – Gina perguntou alegremente, sorrindo para Harry.
–
Já... – Rony respondeu lentamente, ainda olhando para Hermione. – A Professora Minerva liberou a gente...
–
John, você está com o meu livro? Raven disse que entregou a você... – Harry aproveitou a oportunidade para pegá-lo de volta.
–
Eu estava, mas... – John coçou a nuca enquanto pensava numa resposta. – Eu não podia ficar andando por aí com ele, então, entreguei a um amigo...
–
O quê?! Deu a outra pessoa? – Rony estranhou. – Tudo bem... quando você vai pegar de volta?
–
Eu não sei onde ele escondeu o livro, mas vou perguntar assim que o encontrar novamente – acrescentou sorrindo para eles.
–
–
Quando?! – Harry perguntou, impaciente.
–
Não tenho ideia, ele é um andarilho como eu...
–
Você está brincando! O livro é meu! Eu tive muito trabalho para roubá-lo!
–
Harry! Fala baixo! – Hermione lhe chamou a atenção.
Ei! discussão em família? Aqui não é lugar para isso! – Fred apareceu ralhando com eles. – Por favor... acompanhem-me.
–
Fred os conduziu até o segundo andar e parou em frente a um espelho, após alguns segundos sua imagem refletida desapareceu e o espelho se transformou numa passagem, atravessaram. É o Salão Comunal da Grifinória?! Como fizeram isso? – Rony ficou espantado, observando a passagem que tinham usado.
–
Nós a decoramos para ficar idêntica à de Hogwarts, foi lá que tivemos nossas melhores ideias! Tirando as matérias e os professores... nós gostávamos da escola... – Fred saiu para
–
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ajudar Jorge na loja, deixando-os à vontade. –
Legal... – Gina passou a mão pela lareira, admirando a semelhança.
–
Tá, mas e o meu livro?! – Harry estava irritado demais para se importar com a decoração.
–
Não é o tipo de informação que deva ficar por aí... – John comentou seriamente.
–
É verdade, Harry. – Raven apoiou o irmão. – O livro não foi uma boa ideia...
Você vai me contar, então? O que eu preciso saber? – Harry perguntou, com raiva, estava muito decepcionado com eles.
–
Não podemos... – John trocou um olhar com Raven. – Não é um assunto para ser tratado assim, livremente. Os resultados oferecidos pala magia livre são tentadores, poucos resistem, e para os que a buscam é pedido algo em troca, um pagamento. Vocês estão dispostos a pagar o preço?
–
–
Claro!
Claro que não! – Raven o censurou – Não pode fazer isso, John, ele não entende o que está acontecendo...
–
–
Então vai ser bom que ele saiba o quanto antes...
–
Não enquanto houver outras possibilidades...
Vocês estão escondendo alguma coisa da gente? – Gina também parecia estar perdendo a paciência.
–
Sim... Esses assuntos são proibidos para vocês! – Raven admitiu. – Então, não podemos contar...
–
–
Que outras possibilidades? – Hermione perguntou, curiosa.
Se ele tem mesmo os conhecimentos do Lorde das Trevas sobre a Magia Oculta e tudo o mais, basta que ele as recorde, aí ninguém vai precisar contar nada, nem violar as regras...
–
–
Eu já pensei nisso... mas como? – Hermione se interessou.
–
Temos que fazê-lo se lembrar...
–
Já conversamos sobre isso, Raven, é perigoso... – John chamou-lhe a atenção.
–
Andaram conversando sobre mim? Conversando o quê?! – Harry perguntou, mal-humorado.
–
E Raven tem outro assunto agora que não seja você e Sirius? – John perguntou, aborrecido.
–
Você está com ciúmes...? – Raven o abraçou.
Não! Vou ser eternamente grato ao Sirius, por te tirar do meu pé! – John retribuiu seu abraço e beijou-lhe a face.
–
Você contou isso a mais alguém? – Harry perguntou a Raven, preocupado, ela parecia ser do tipo descontraída o suficiente para mencionar o assunto numa conversa amigável.
–
Não! É melhor que ninguém saiba disso. Além do mais, ninguém sabe até onde isso vai, o quanto você pode descobrir...
–
Mas eu só quero saber o suficiente para desfazer nossa ligação. Até porque os praticantes da Magia Oculta não querem que eu saiba muito.
–
Até onde eu entendi, eles não vão se opor se você entrar para a irmandade deles... – John sugeriu.
–
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Ah, claro, e nos deixar! – Gina se irritou com John. – Nós vamos ajudá-lo a se livrar tanto da alma de Vocês-Sabem-Quem quanto dos conhecimentos sobre essa gente! – olhou para Harry como se o desafiasse a falar algo em contrário.
–
Tá, claro... eu nunca iria me associar a eles, não sou um assassino... – Harry respondeu prontamente. John e Raven olharam para eles sem entender.
–
–
Pelo o que sabemos, eles mataram um auror... Derek Schreiber – Hermione explicou. Rony puxou Harry pela manga e cochichou em seu ouvido.
–
É melhor você tomar cuidado, ela está ficando igual à mamãe...
–
Eu ouvi isso, Rony! – Gina puxou a varinha para ele.
–
Aqui não!! – Fred entrou na sala.
–
Vão estragar nossa decoração! – Jorge brigou com os irmãos.
É melhor vocês irem, os aurores estão fazendo todos os alunos voltarem ao castelo. – Fred os dispensou.
–
–
Vamos logo, crianças, precisamos ir... – Raven os apressou.
John, você está devendo à gente! – Rony reclamou enquanto seguiam em direção ao castelo. – Depois de tudo o que passamos no Ministério...
–
Eu vou recompensá-los pelo livro. O que querem saber? Que não esteja relacionado àquele assunto... – acrescentou antes que Harry pudesse sugerir.
–
–
Nos ensine a aparatar! – Rony pediu.
Vamos ter aulas este ano – Hermione os lembrou. – Todos os alunos do sexto ano têm aulas com funcionários do Ministério após o natal...
–
–
É muito tempo, você pode nos ensinar antes, não pode, John?
Tudo bem, não tem nada de mais, posso vir nos fins de semana... Amanhã de manhã eu estarei aqui também, tudo bem para vocês?
–
Rony concordou prontamente e Hermione deu de ombros, mas Harry não quis responder. John se despediu deles no portão enquanto se juntavam aos demais estudantes. Várias garotas olharam interessadas enquanto ele se afastava.
Todos os fins de semana, pela manhã, iam até a loja de Fred e Jorge e saíam pela porta dos fundos, em direção à floresta. John havia encontrado uma boa clareira na qual poderiam praticar sem interferência dos aurores do Ministério. Decidiram que era melhor que ninguém soubesse, e tomavam cuidados extras já que Harry lhes informara que havia sempre um Comensal rondando por Hogsmeade nos fins de semana. Na terceira aula, Hermione já estava conseguindo atravessar de uma ponta a outra da clareira. Muito bom, Hermione! – John a parabenizou. – Claro que distâncias maiores vão exigir maior concentração... – E vocês? Não estão se esforçando o suficiente...
–
Eu acho que tenho problemas de concentração. – Harry fez uma pausa e sentou-se ao lado de Raven, aos pés de uma árvore. – Também demorei a aprender Oclumência... – pegou o Lord na mochila e começou a desfolhá-lo.
–
Elisa Vrastani - Magia, Poder e Destino I
166
Na verdade, sua curiosidade não o estava permitindo se concentrar, havia tido uma visão com Voldemort, tinha sido muito rápido, mas percebeu que ele estava satisfeito com algo que tinha nas mãos. A princípio pensou que pudesse ter algo a ver com o assunto que tinham em comum, mas pensou que neste caso, provavelmente, ele o procuraria, e o Profeta não noticiava nada de novo, apenas mortes, desaparecimentos, conflitos... –
Eu consegui! – Rony anunciou alegremente.
Mas você continua no mesmo lugar – Gina estava tendo mais sucesso que eles, conseguia aparatar, só não estava conseguindo se orientar, reaparecia sempre em um lugar diferente ao combinado.
–
–
Não, eu estava ali – apontou para um ponto a menos de dez centímetros de distância.
–
Então você se desequilibrou e saiu do lugar – Hermione palpitou.
–
E você acha que sou assim tão idiota?! – perguntou a ela, aborrecido.
–
Tudo bem – John o acalmou. – Tente novamente para a gente ver... Rony ficou parado, olhando para eles, suas orelhas começaram a ficar vermelhas.
–
Eu não consigo assim, com vocês olhando... – murmurou encabulado.
Hermione suspirou e se afastou para perto de Harry, então, todos resolveram parar também, para comer alguma coisa. Raven havia levado uma cesta de comestíveis para um piquenique. John – Harry chamou sua atenção. – Por que naquela noite, no show da The Burners, você fingiu que não conhecia Hogwarts?
–
–
Mas eu não conhecia Hogwarts... Só ouvi falar em Hogwarts mais tarde.
Onde vocês estudaram, na Durmstrang? – Rony perguntou enquanto olhava para Hermione, para ver sua reação.
–
–
Onde? – John perguntou, confuso.
Nós nunca frequentamos escolas – Raven explicou. – Estudávamos em casa, com nossos pais.
–
–
Sério? – Harry estranhou. – Deve ter sido legal...
–
Era... – Raven sorriu. – Eles foram pais maravilhosos...
–
Seus pais eram meio hippies? – Gina perguntou a Raven.
É... – ela pensou um pouco a respeito. – Pode-se dizer que sim... Nós vivemos na colônia até completarmos a maior idade, aí então, saímos para conhecer o mundo.
–
–
E estamos conhecendo até hoje! Vinte anos depois! – John comentou, alegre.
Mas sempre voltamos para casa. Eu sou professora, trabalho com crianças, mas sempre em cursos e atividades de férias ou temporárias, não consigo me ausentar por muito tempo.
–
–
Trabalha com trouxas? – Hermione se entusiasmou.
Sim, sempre. Vivemos harmoniosamente, na verdade, esse termo dado pelo Ministério “trouxa” nós achamos ofensivo, lá na colônia nós os chamamos de céticos. Porque muitos possuem dons mágicos, só não acreditam neles, paranormais, médiuns, curandeiros, sensitivos, ... embora não apresentem o nível de magia considerado pelo Ministério para serem chamados de bruxos...
–
–
Eu aprendi a fazer de tudo um pouco – John a interrompeu. – Para ajudar na colônia, não
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temos um sistema econômico, nós plantamos e colhemos para comer, construímos e consertamos para usufruir. Não usamos magia pra tudo. Eu sei um pouco de eletrônica, elétrica, carpintaria, alvenaria, hidráulica, e outras coisas mais... –
Você me leva com você, para conhecer a sua colônia? – Harry pediu a Raven. Raven sorriu para ele, seus olhos se umedeceram.
–
Você vai gostar de lá – disse com a voz embargada, pigarreou para disfarçar.
Mas antes disso – John chamou sua atenção. – Eu quero levar você e Rony para conhecerem a estrada, para experimentarem um pouco da verdadeira liberdade... Se deixarem, lógico.
–
–
Eu quero! – Rony aceitou entusiasmadamente.
Vocês terão que ter autorização dos seus pais primeiro. – John o lembrou. Rony fez uma careta que resumia o quanto isso seria difícil. Harry sorriu para ele. – Você também, Harry!
–
Harry deixou o sorriso morrer em seus lábios e o olhou preocupado, virou-se para Raven. –
Você deixa, Raven?
–
Claro que sim, meu amor – Raven respondeu, surpresa. – Mas você terá que pedir ao Sirius.
Você consegue convencê-lo, não consegue? – Harry pediu, suplicante. Raven sorriu para ele em cumplicidade.
–
–
Vamos ver o que eu consigo fazer...
Harry passou a faltar a todas as aulas de Poções e ninguém o havia procurado para falar a respeito, por precaução, passou a evitar a presença de Snape. Pegava um desvio ou utilizava as passagens secretas sempre que sentia alguma presença, a marca, e frequentava o Grande Salão apenas quando Snape não estava presente. Fazia a maioria de suas refeições na cozinha, para alegria de Dobby. Quase não via Winky, ela ainda estava muito mal, e ninguém parecia estar se importando, os outros elfos a ignoravam. Harry mentalizou tocar no assunto com Hermione, mais tarde, talvez pudessem achar um outro dono para ela, um amo de verdade, para que se sentisse melhor. Sábado, após o almoço, foram se encontrar com John em Hogsmeade. Passaram pelos aurores e os cumprimentaram descontraidamente, já estavam familiarizados com suas idas e vindas. Encontraram Sirius na estrada, indo para o castelo. Raven não coube em si de alegria quando o viu. Hermione e Gina trocaram olhares e risinhos. Sirius os cumprimentou ainda abraçado a Raven. –
Por que vocês estão aqui fora? É perigoso... – Sirius estranhou.
Já ficamos presos por tempo suficiente naquele castelo – Harry reclamou. – E Hogsmeade está cheia de aurores.
–
–
Sim, mas Dumbledore permitiu? – Sirius insistiu.
Eles estão comigo! E John... – Raven disfarçou. – E agora você está aqui também... Vamos ao Três Vassouras?
–
–
Tudo bem, vamos... – Sirius ficou meio hesitante, mas concordou para fazer sua vontade.
–
E o Lupin, Sirius? Como ele está? – Harry perguntou.
Está controlado, mas mesmo assim, Tonks e eu temos nos revezado para não deixá-lo sozinho.
–
Elisa Vrastani - Magia, Poder e Destino I
168
–
Eu gostaria de ir visitá–lo. Você não pode me levar num desses fins de semana?
–
Não... Não acho que seja uma boa ideia agora – Sirius respondeu.
Harry ficou chateado mas não argumentou. Quando chegaram em frente à Gemealidades Weasley, Rony, Hermione e Gina pararam, indecisos. –
Nós... encontraremos vocês mais tarde, então... – Harry se despediu de Raven e Sirius.
–
Não vão ficar com a gente? – Sirius se surpreendeu.
–
Nós marcamos com o John lá dentro, ele está nos esperando – Rony explicou.
Por que não o chamam para se juntar a nós? – Sirius sugeriu. Gina e Hermione olharam para Harry, esperando que ele decidisse.
–
–
Não... nós combinamos de fazer outra coisa... – Harry recusou.
Vamos, Sirius, mais tarde a gente se encontra com eles... – Raven o puxou em direção ao bar. – No mesmo horário! – gritou para eles enquanto se afastavam.
–
–
Tem certeza que não quer ficar com eles? – Hermione perguntou a Harry.
–
Tenho. Nós atrapalharíamos, acho que eles preferem ficar a sós.
Entraram na loja e a atravessaram direto para a saída dos fundos. Os gêmeos não estavam, eles se revezavam entre Hogsmeade e o Beco Diagonal. Encontraram John, encostado numa árvore, em frente à loja, e foram para a clareira. Harry, o que está acontecendo com você? – John reclamou depois de uma hora. – Você estava indo bem semana passada.
–
Desculpe... – Harry não estava conseguindo se concentrar o suficiente. – Que perfume é esse? – sentiu um cheiro familiar que o vento trazia das árvores.
–
Esquece o perfume! Você tem que se concentrar mais... Se eu pudesse te ensinar do jeito mais fácil ...
–
–
E existe um jeito mais fácil?! – Rony o encarou, pasmo. – Ah, deixa eu adivinhar...
–
É, é proibida para vocês...
–
E por que você sabe e a gente não pode? – Hermione aparatou para mais perto deles.
–
Porque eu sou adulto...
–
Isso não é resposta! – Gina reclamou.
Vamos, vamos! – John bateu palmas, instigando-os. – Continuem se concentrando, eu quero treinar longas distâncias com vocês ainda hoje, isso encerra as nossas aulas.
–
–
Pensei que gostasse de ficar com a gente – Gina comentou decepcionada.
–
Não acho que seja uma boa ideia terminarmos hoje... – Hermione opinou.
Não é nada disso meninas, vamos continuar nos vendo nos fins de semana, mas não em todos, claro...
–
Não... não é isso é ... por causa dos meninos, eles ainda não estão prontos. – Hermione gaguejou.
–
Quem disse que não estamos prontos?! – Rony se irritou. – Podemos ir mais longe que vocês!
–
–
Há, isso eu duvido! – Gina o desafiou.
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169
–
Vamos ver então! – Rony aceitou o desafio. Foi até Harry e cochichou em seu ouvido.
–
Não acho uma boa ideia... – Harry deu para trás. – É muito longe...
–
É Rony, não seja infantil... – Hermione ralhou com ele.
–
Eu sou infantil?! Ou é você que está com medo de perder?
–
Parem pessoal, isso não é uma competição... – John tentou acalmá-los.
Nós podemos fazer isso, Harry! Podemos ir para onde quisermos, basta se concentrar no lugar certo! Imagine o que mais poderemos fazer se conseguirmos... Poderemos ir a qualquer lugar... – Rony sussurrou para ele.
–
Vence quem conseguir ir mais longe! Vem, Mione, vamos – elas trocaram algumas palavras e no instante seguinte se foram.
–
–
Não! – John tentou impedi-las. – Não é para ser assim, eu preciso estipular o lugar primeiro! Mas elas já haviam partido, no segundo seguinte Rony também se foi e a seguir Harry.
–
Droga! – John olhou ao redor coçando a nuca.
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170
CAP. 18 - SEGREDOS Harry se desequilibrou, deu um passo para trás e caiu sobre os degraus. Levantou gemendo e massageando as costas. –
O que foi? – Rony perguntou, descendo a escada.
–
Não foi bem isso que eu tinha planejado... aparatar no meio da escadaria...
Mas conseguimos! Isso é que importa! – comemorou Rony, exultante. – Só quero ver a cara da Hermione quando souber. Para onde você acha que elas foram?
–
–
Não sei... nem faço ideia. O que vamos levar para provar que estivemos aqui?
Olharam ao redor, o local estava imundo, cheio de copos de plástico, papéis amassados... Rony chutou alguns copos e embalagens vazias. Harry foi até a sacada e olhou o salão embaixo, havia muito mais sujeira espalhada por todos os cantos, da entrada ao palco. –
Deve ter tido algum show aqui de ontem para hoje...
Vamos ver se achamos algum ingresso com a data e o nome do local, deve servir para provar que viemos aqui. – Rony sugeriu e desceu.
–
Harry procurou por todo o andar e não encontrou nada, aproximou-se da janela e espiou entre os vidros empoeirados, não havia muito movimento do lado de fora, parecia ser um bairro bem tranquilo apesar de ter na vizinhança um galpão que servia para a realização de shows de bandas de rock. Ficou aproveitando a brisa e a sensação de liberdade que estava experimentando. Um rapaz passou pela rua, de bicicleta e fone de ouvido, parecia bem descontraído. Harry ficou tentando imaginar como seria viver assim, depois desceu para se encontrar com Rony. O que está fazendo? – Harry encontrou Rony no bar, bebendo de uma garrafa que continha um líquido de cor azul.
–
–
Tem muitas garrafas aqui... eu só peguei uma...
–
É melhor você não fazer isso... – Harry o repreendeu.
Eu só estou experimentando... Quando terei outra oportunidade? – Rony virou a garrafa na boca e engoliu fazendo careta.
–
Harry balançou a cabeça, em desaprovação, e se afastou à procura de alguma coisa que pudessem levar. –
Me ajude, temos que voltar logo! – Harry o chamou.
Cobriram, cada um, um lado do galpão, mas não encontraram nada. Harry tirou algumas moedas do bolso do jeans. Por acaso você não tem nenhum dinheiro trouxa com você, não é? Poderíamos comprar alguma coisa lá fora...
–
Rony tirou alguns sicles do bolso, com a mão livre, e os contou com dificuldade. –
É uma sensação muito esquisita ... – Rony comentou.
–
Por que ainda está bebendo isso? Pensei que não tivesse gostado...
–
Os adultos bebem...
Elisa Vrastani - Magia, Poder e Destino I
171
–
Um copo, não uma garrafa inteira... – Harry reparou na garrafa abaixo da metade.
Ouviram vozes do lado de fora, som de chaves e de alguém mexendo no portão de entrada. Harry puxou Rony de volta para o andar superior, o amigo o seguiu aos tropeços. “Nossa! Esse lugar vai dar trabalho!” - ouviram alguém reclamar no andar de baixo. – “Vamos buscar as vassouras”. Rony começou a rir. Harry tapou a sua boca. –
Eles vão te ouvir! – cochichou. Rony afastou a sua mão.
–
Eles vão limpar isso sem magia? Como vão fazer isso?! – Rony achou graça.
–
Fala baixo! – Harry pediu, irritado. Rony tapou a própria boca com ambas as mãos.
Ficaram um tempo parados tentando ouvir alguma coisa, uma porta bateu e ouviram passos lá embaixo. –
Vamos embora, Rony, deixa isso para lá, foi uma ideia idiota.
Não! – Rony sussurrou com urgência. – Temos que levar alguma coisa! Podemos comprar algo...
–
–
Mas só temos dinheiro de bruxo... Vamos voltar a Hogsmeade.
Não, vamos ir ao Beco Diagonal! Tem muitas lojas de bruxo lá! – Rony se virou e foi em direção às escadas que levavam ao andar de cima. Harry o puxou pelas vestes.
–
O que há com você? Está ficando louco? – perguntou a ele, preocupado. – Olha, podemos levar isso aqui, OK? – catou um maço vazio de cigarros. Ouviu um estampido alto e levantou assustado olhando em volta. – Rony...! – chamou-o, alarmado.
–
“Que barulho foi esse?” Harry ouviu uma voz assustada no andar de baixo. Aparatou também.
O Beco Diagonal estava quase vazio, a maioria das lojas estavam fechadas. Um homem idoso olhou para ele rapidamente quando o ouviu aparatando e se afastou. Não estava com sua capa. Seguiu pela rua procurando por Rony e reparando nas lojas, as poucas que estavam abertas pareciam vazias. Começou a considerar que ele poderia ter voltado a Hogsmeade quando viu dois Comensais saindo de Gringotes, carregavam uma maleta em cada mão. Se escondeu atrás de uma pilastra, em forma de vassoura, na entrada da loja de artigos esportivos. Uma mão pousou em seu ombro, assustando-o. –
O que você está fazendo aí? – Rony perguntou.
–
Onde esteve? Estava te procurando... – Harry ficou aliviado por reencontrá-lo.
Comprei isso aqui na loja Artefatos e Encantos – mostrou a ele um saquinho com o nome da loja e guardou-o novamente no bolso. – A vendedora não acreditou quando eu disse que não era aluno de Hogwarts... Vamos embora? Eu estou tonto...
–
Por que será? – perguntou ironicamente. – Aqueles homens são Comensais – explicou apontando os dois homens de costas para eles, andando tranquilamente. – Acabaram de sair de Gringotes com quatro bolsas, devem estar cheias de dinheiro. Você trouxe o monóculo com você?
–
–
Não... – Rony disse tristemente. – Estou enjoado...
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172
Harry começou a se afastar, mas Rony o puxou de volta. –
Aonde você vai?
Eu quero saber para onde eles estão indo, se não aparataram é porque vão para algum lugar aqui perto – explicou tentando fazer com que Rony largasse a manga de sua camisa.
–
–
Eu não quero voltar para aquela torre, Harry, é melhor a gente ir embora.
–
Agora você acha melhor?! – reclamou empurrando seu braço.
Viram Travor e outros três aurores passarem pelos dois Comensais, olhando-os desconfiados. –
Pelo jeito, eles não os conhecem, não devem saber que são Comensais... – Harry comentou.
–
Mas conhecem a gente e estão vindo pra cá... Harry olhou para o amigo, que estava com uma cara nada boa.
Vem, se segura em mim, vamos voltar OK? – Harry passou o braço dele por cima do seu ombro.
–
Assim que surgiram na clareira Rony caiu de joelhos e vomitou. Pra onde vocês foram?! Querem me matar de susto? – John ralhou com eles. – O que é que eu ia dizer para Raven e para o Sirius?!
–
–
O que houve com o Rony?! – Hermione perguntou, alarmada.
–
Acho que ele bebeu demais...
–
Bebeu!? – John se agachou ao lado dele.
E você deixou? Eu não acredito, Harry.... O que você está sentindo, Rony? – Hermione perguntou.
–
–
O que você queria que eu fizesse?
–
Que o impedisse, Harry! Você é amigo dele! – Gina também brigou com ele. Harry ficou olhando enquanto elas cercavam Rony, preocupadas, sentiu-se culpado.
–
Eu vou buscar a Raven, ela vai saber o que fazer.... – anunciou a eles e se afastou.
Harry entrou pela porta dos fundos da loja dos gêmeos e logo avistou Sirius e Raven examinando a loja. –
Vocês esqueceram o horário combinado? – Raven ralhou com ele.
–
Onde você estava? Estamos aqui há tempos – Sirius perguntou.
–
Raven... hã, Professora... pode vir comigo até lá fora... um pouquinho? Raven o olhou preocupada e depois para Sirius.
–
Você me espera aqui, meu amor? Eu já volto... – Raven pediu.
–
Por que eu não posso ir? O que está acontecendo? – Sirius olhou para ambos, desconfiado.
Raven deu de ombros, foi puxando Sirius até os fundos da loja enquanto Harry ia na frente, abrindo caminho. Encontraram John e as meninas saindo da floresta e segurando Rony, pálido e trôpego. O que houve com ele? – Raven se aproximou examinando seus olhos e medindo sua temperatura.
–
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–
Minha cabeça está girando... meu estômago está queimando... – Rony sussurrou.
–
Ele está cheirando a.... – Sirius começou a dizer.
–
É... ele andou bebendo... – John explicou, meio sem jeito.
–
Você deixou que ele bebesse?! – Sirius perguntou, incrédulo.
–
Não! Foi minha culpa... – Harry o defendeu. – John não sabia de nada. Sirius o puxou para mais perto.
–
Você está cheirando a cigarro! Andou fumando também?!
Claro que não! – Harry se soltou. – Eu não bebi nem fumei nada... é só um maço vazio... – explicou retirando-o do bolso.
–
–
De onde você tirou isso? – Sirius perguntou, enfezado.
É meu, desculpe – John tirou o maço das mãos de Harry. – Eu pedi que Harry jogasse no lixo para mim, ele deve ter esquecido...
–
Você! Fumando? – Sirius pareceu surpreso. – Bruxos não costumam se deixam seduzir por essas fraquezas trouxas! Espero que não esteja incentivando os garotos a fazerem o mesmo!
–
O que é isso, cunhado?! Eu nunca faria uma coisa dessas, eu só estava... tentando impressionar uma garota trouxa, sabe como os trouxas agem como idiotas quando querem impressionar alguém... eu queria ser convincente... – sorriu sem jeito e lançou a Harry um olhar reprovador quando Sirius não estava olhando.
–
Raven já ia longe, conduzindo Rony de volta ao castelo com as meninas. Correram para alcançá-las. Não podem levá-lo de volta assim... – Harry pediu. – Se alguém perceber ele vai pegar uma detenção...
–
–
E não é o que ele merece? – Sirius devolveu.
Por que o está julgando? – Harry se irritou com sua falta de compreensão. – Eu cansei de copiar o seu nome naqueles autos de penalidades, você não era nenhum bom exemplo.
–
–
Por favor, rapazes! – Raven pediu. – Não é hora pra isso!
–
Está tudo bem? – um dos aurores que circulava pelo povoado se aproximou deles.
–
Está tudo ótimo – Sirius avisou, mal-humorado, é que ele comeu algo que não lhe fez bem...
Harry olhou para trás e viu um homem jovem em frente ao bar da Madame Rosmerta, vigiando-os. Ele sorriu para Harry quando seus olhares se cruzaram. Harry o encarou, enfezado, e continuou seguindo com os outros. Bom, pessoal, acho que a gente vai ficar um bom tempo sem se ver... – John se despediu nos portões do castelo.
–
–
Por quê? – Harry e Gina perguntaram ao mesmo tempo.
O Tio John aqui vai precisar resolver outros assuntos... Vocês estão muito bem, não vão mais precisar de mim... – completou com um sorriso e partiu.
–
Sirius os observou desconfiado mas não fez perguntas. Levaram Rony direto para a sala da Raven, encontraram apenas alguns alunos pelo caminho. Deitaram-no no sofá, Raven foi preparar alguma poção que o reanimasse. –
O que foi exatamente que ele bebeu? – Raven perguntou a Harry, ele tentou se lembrar do
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rótulo da garrafa. –
Tequila... – Rony sussurrou levando a mão à cabeça.
–
Quanto? – Raven perguntou.
–
Uma garrafa... quase... – Harry sussurrou encabulado.
Onde conseguiram? Não foi no Três Vassouras... – Sirius o pressionou. – Aproveita e me conta toda a verdade!
–
Harry olhou para Hermione e Gina enquanto pensava em alguma coisa. –
Rony e eu... encomendamos...e eles entregaram a bebida...
–
Ah, sei... uma entrega trouxa de bebida alcoólica em Hogwarts...
Não... em Hogsmeade... – respondeu incerto se o povoado bruxo poderia ser encontrado por trouxas. Percebeu que não tinha sido uma boa tentativa quando Hermione fez uma careta para ele.
–
Eu te proíbo de voltar a sair deste castelo! Acabaram suas visitas a Hogsmeade! – Sirius vociferou.
–
–
Você não pode...
Ah, não?! – Sirius se retirou batendo a porta. Harry ficou olhando assustado e curioso enquanto o som de seus passos sumia no corredor.
–
Ele tem estado nervoso, Harry – Raven se desculpou por ele. – Foi muita falta de responsabilidade do John, ele deveria estar tomando conta de vocês! Rony poderia ter entrado em coma alcoólico, vocês têm ideia do quanto isso é sério? – Raven lhes chamou a atenção. – E Sirius já está passando por tanta coisa... Toda essa pressão do Ministério...
–
Raven fez Rony beber a poção com a ajuda de Hermione. O que está acontecendo? – perguntou Harry, agachando-se ao lado do amigo. – O que o Ministério está fazendo?
–
Eu não conto os seus segredos a ele, e não posso contar os dele a você, ele prefere não te preocupar com isso. – Raven disse com determinação. – Acho melhor vocês dois sentarem e conversarem a respeito de tudo o que está acontecendo – o aconselhou.
–
Hermione, Gina e Harry ficaram em volta de Rony, velando seu sono. Desculpem... – Harry pediu a elas, estava se sentindo muito irresponsável. – Eu deveria tê-lo impedido, mas não quis chateá-lo...
–
Puxa, Harry... Ele nunca havia bebido antes... uma coisa é provar, outra, totalmente diferente, é se embebedar... – Gina ainda estava chateada com ele.
–
Sirius voltou um tempo depois, parecendo mais calmo. A Professora McGonagall também não concordava com as saídas de vocês todos os fins de semana, só permitia por causa da presença da Raven e dos aurores no povoado... Cancelei a autorização que te dei para as visitas a Hogsmeade.
–
Harry ficou paralisado por um tempo, olhando-o, incrédulo, enquanto absorvia aquela informação. Sentiu-se traído. Não disse nada, apenas abaixou a cabeça e ficou em silêncio. –
Ah, Sirius... – Raven suspirou.
–
Isso foi por você ter mentido para mim... – Sirius reclamou, chateado. – Quando resolver me
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contar a verdade... Harry se retirou sem querer ouvir mais, deixou-o falando sozinho. Foi andando, sem rumo, pelo castelo. Após tanto tempo preso injustamente na torre, agora isso. Estava se sentindo sufocado, deu meia-volta decidido a sair do castelo, pensou em visitar Hagrid, nem se importou com quem estava vindo pelo corredor, ao seu encontro, não estava com disposição para pegar outro caminho, queria sair dali o quanto antes. Potter... – Snape pronunciou seu nome lentamente. – Não o tenho visto mais pelo castelo... Tem usado seu mais novo “dom” para me evitar?
–
–
Não sou mais seu aluno... – Harry o lembrou.
–
Claro, você consegue tudo o que quer, não é mesmo?
Nem tudo... – Harry respondeu imaginando que nunca conseguia se livrar dele por mais que desejasse. Afastou-se para virar no próximo corredor, mas Snape o puxou pelo braço.
–
–
Não dê as costas para mim! Eu não terminei de falar com você!
–
Me deixa em paz... – reclamou, cansado.
Um grupo de cinco alunos da Lufa-lufa surgiu no corredor, rindo e conversando, ficaram rapidamente mudos quando viram o Professor Snape. Se não desaparecerem em cinco minutos vou descontar dez pontos da Casa de vocês, dez para cada um! – Snape vociferou sem tirar os olhos de Harry. Eles sumiram rapidamente. – Eu posso não ser mais o seu professor, mas ainda posso arranjar uma detenção para todos os dias de sua vida até conseguir provar que foi você!
–
Pode ter sido qualquer um... o Senhor não é nada popular... – comentou sem se importar com a raiva em seu olhar.
–
Os alunos sempre me respeitaram, você é o único que teima em me desafiar! – apertou ainda mais o seu braço, com raiva, enquanto Harry tentava se soltar.
–
Você é que me persegue! Eu estava na sua aula quando inundaram a sua sala, vai me culpar por isso também?
–
Snape o soltou e ficou estudando-o enquanto Harry massageava o braço dolorido. –
Eu já disse que não roubei seus ingredientes! – afirmou, olhando-o nos olhos.
Harry sentiu uma pressão incômoda na base do crânio e uma lembrança começou a se formar, conseguiu afastar a imagem e bloquear o acesso do Professor à sua mente. Encarou-o alarmado quando conseguiu focar novamente o seu rosto igualmente surpreso. Como conseguiu aprender Oclumência?! Quem te ensinou? – um vinco se formou entre os olhos do Professor.
–
–
Ninguém... eu aprendi sozinho... – respondeu com sinceridade, afastando-se lentamente.
Não gosto de ironias! – Snape se irritou. – Você nunca conseguiu aprender nada do que te ensinei! Aprendeu com quem, então? Foi a Professora Sterling?
–
Harry continuou olhando-o sem dizer nada. Mais uma que resolveu ter pena do pobre órfão... ou será que é só para agradar ao padrinho dele...? – Snape insistiu, mediante seu silêncio.
–
E o que isso te importa? – Harry perguntou, irritado. – Não é culpa minha se ela preferiu o Sirius ao Senhor...
–
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Snape ficou ainda mais pálido que o normal. Agora sim, eu vou te dar muitos motivos para fazer queixas a meu respeito... – sua voz baixa e calma se contrastava com a fúria vista em seus olhos.
–
Harry sacou a varinha, assustado, quando percebeu o olhar assassino do Professor. Foi o Senhor quem começou... – ele reclamou, achando sua reação exagerada. Snape sacou também sua varinha.
–
Harry aproveitou a distração causada pelo surgimento de alguns alunos distraídos que cruzaram o corredor e correu o mais rápido possível, ouviu Snape gritando com os alunos para saírem do seu caminho. Atravessou pela primeira passagem que avistou e a lacrou, para ganhar tempo. Não sabia qual era a melhor atitude a tomar no momento, só tinha certeza de que mentindo ou contando a verdade, não importava o que dissesse, Snape sempre encontraria algo do qual pudesse acusá-lo. Continuou se afastando, apressado; chegou ao próximo corredor e foi em direção às escadas. O Salão Comunal estava vazio, os alunos que não estavam em Hogsmeade estavam aproveitando o fim de tarde no campo de quadribol ou próximo ao lago. Sentou-se e debruçou-se sobre a mesa, apoiando a testa sobre o braço direito, com a mão esquerda ficou tamborilando os dedos sobre a mesa impacientemente. Sua tentativa em obter informações no Ministério tinha falhado, até agora John não tinha dado notícias sobre o amigo que estava com o livro roubado. Tinha que pensar em alguma outra coisa, não aguentava mais ficar esperando. Harry... – alguém sussurrou baixinho ao seu lado, tocando em sua mão. Endireitou-se assustado, estava tão absorvido em seus pensamentos que não tinha escutado alguém se aproximando.
–
–
Oi, Evandra – tirou os óculos e esfregou os olhos para tentar despertar de tantos problemas.
–
O que aconteceu? – Evandra perguntou gentilmente.
Nada. Esse é o problema, preciso que aconteça alguma coisa... preciso fazer acontecer alguma coisa. – corrigiu, jogou-se contra o encosto da cadeira e suspirou, frustrado.
–
O Ministro me perguntou por você, semana passada, disse que está com novos planos e precisará da nossa participação, seus “alunos modelos”. Ele considerou que não é uma boa ideia ter estudantes perambulando pelo Ministério, disse que não pode disponibilizar aurores suficientes para tomar conta, com tantas coisas para eles resolverem... e isso porque ele não chegou a receber os alunos do primeiro e segundo anos, aí sim ele iria saber o que é uma excursão escolar – disse ela, sorrindo.
–
–
Desculpe, mas não estou mais interessado nessas idas ao Ministério...
–
O sumiço de vocês três naquele dia tem a ver com a mudança de planos do Ministro, não é?
–
Acha que ele está desconfiado? – Harry perguntou, preocupado.
–
Se desconfiou, ele não comentou nada, que eu saiba...
Harry baixou a cabeça, pensativo, estava começando a se preocupar com o que o Ministério poderia estar querendo com Sirius, com certeza sabiam que ele e Lupin eram amigos – “Talvez pense que eu ajudei a libertá-lo a mando de Sirius” – pensou, franzindo a testa em preocupação. –
Não se preocupe, não vou publicar isso... – Evandra brincou, tentando animá-lo. Harry ficou olhando para a mão dela, ainda sobre a dele, continuou assim por um bom
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tempo, em silêncio, enquanto uma ideia lhe surgia. –
Evandra, você tem ou consegue me arranjar as publicações do Profeta dos últimos meses?
Eu tenho todas as edições desde o ano passado, quando resolvi que era isso que iria fazer... A partir de quando você quer? – perguntou solícita.
–
Eu quero... a partir da publicação da invasão ao Ministério, quando admitram publicamente o retorno de Vol... Você-Sabe-Quem – respondeu entusiasmado. – Estão aqui com você?
–
–
Espere um pouco... – Evandra se afastou em direção ao dormitório feminino.
Harry se levantou e aguardou, impaciente, pelo seu retorno, caminhando pela sala enquanto colocava as ideias em ordem. Ela voltou pouco depois levitando três caixas de tamanho considerável. –
É muita coisa... Você tem certeza? – ela perguntou, interpretando corretamente sua expressão.
Obrigado... – os jornais estavam enrolados e arrumados dentro das caixas organizadamente. Começou pegando o mais antigo. – Acho que vou demorar um pouco com eles... tem algum problema?
–
–
Não, tudo bem. O que está procurando? Eu posso ajudar...
–
Eu não sei ao certo, vou ter que ler todos eu mesmo, detalhadamente...
Começou a examinar o que tinha nas mãos procurando por qualquer coisa estranha ou fato atribuído às artes das trevas. Evandra sentou à sua frente e ficou observando. Não achou nada no primeiro além do relato da prisão dos Comensais, lembrava de ter lido aquela reportagem, passou para o próximo. Reviu a matéria sobre Dumbledore e Sirius. –
É verdade sobre a tal profecia...? – Evandra perguntou, curiosa.
–
Tinha uma profecia lá... – confirmou. – Mas se quebrou, ninguém sabe o que dizia...
Só depois de várias publicações começou a achar algo interessante, vários bruxos de um mesmo povoado afirmaram ter visto homens encapuzados andando à noite pelo local. Comentou seu achado com Evandra, ela deu a volta na mesa e sentou-se ao seu lado. Desde que foi noticiada a volta dele, tem aparecido muitos relatos assim, ainda há, mas nem todos são publicados. Muitas pessoas, de tão amedrontadas, começam a achar que estão vendo coisas... – Evandra explicou. Harry não se deixou desanimar por isso.
–
–
O que o Profeta tem feito para identificar os relatos verdadeiros? – perguntou, interessado.
Vão ao local... se acharem que dará uma matéria interessante... – Ela se aproximou mais, para alcançar a caixa, e entregou a ele um dos jornais. – Olhe esse da semana retrasada, esse ataque à ponte – Evandra desdobrou o jornal na sua frente. – Os bruxos que testemunharam afirmam terem sido os seguidores dele, mas eles partiram assim que o Ministério chegou.
–
–
Mas o que eles lucrariam com isso, destruindo pontes?
Eu também não entendo... para intimidar, talvez... – seus rostos estavam tão próximos que quando ela virou em sua direção Harry teve que recuar para que não se tocassem. Ficou um tempo perdido em seus olhos azuis enquanto se decidia.
–
Preciso pegar uma coisa... – escorregou pela lateral da cadeira e foi em direção ao seu dormitório, pegou pergaminhos, pena e tinta para começar a selecionar o que era importante.
–
Quando voltou, três alunos do primeiro ano estavam sentados próximo à lareira. Harry começou a anotar todo e qualquer acontecimento atribuído aos Comensais e os fatos estranhos Elisa Vrastani - Magia, Poder e Destino I
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também, dando maior atenção aos desaparecimentos. Evandra permaneceu sentada ao seu lado olhando-o pacientemente. Por que não está com seus amigos, em Hogsmeade? – perguntou a ela durante uma pausa para pegar a próxima edição.
–
–
Não há nada lá que me interesse... – suspirou e olhou pela janela.
Os alunos do primeiro ano saíram novamente, Harry se distraiu vendo-os rindo alto, felizes, e se lembrou do seu primeiro ano. Naquela época suas preocupações eram outras, entretanto, percebeu que sempre havia alguma. Nenhum ano tinha sido realmente tranquilo. Aquela informação ele não havia recebido na carta de Hogwarts, no seu décimo primeiro aniversário, de que sua iniciação no mundo bruxo lhe custaria todos aqueles anos de preocupações, perigos e superações... uma espécie de cobrança, a magia ali também tinha um preço, concluiu. Harry... – Evandra o chamou, tinha passado muito tempo em transe. – Acho que somos os únicos aqui num fim de tarde de sábado.
–
–
Hã... ? É, por que não vai se distrair, eu quero ficar e terminar isso...
Você não vai conseguir terminar isso tudo hoje – disse com um sorriso. – De qualquer forma vão ficar com você, por que a pressa?
–
Harry baixou os olhos e voltou a se concentrar no seu pergaminho, não tinha como explicar o quanto seu tempo estava limitado. Sentiu seu cheiro adocicado, de frutas, quando ela se aproximou. Só percebeu o que ela estava fazendo quando seus lábios se tocaram. Sentiu o coração acelerar e seu raciocínio se perder, aceitou seu beijo. Minutos depois se afastaram para pegar fôlego. –
Por que fez isso? – ele perguntou, olhou em volta para se certificar que ninguém tinha visto.
–
Só um beijo, Harry... O que tem de mais? Você não tem namorada, não é?
Tenho! – respondeu, indignado, mas então pensou melhor. – Não... não sei... Me desculpe, eu gosto de você, você é muito legal, mas...
–
–
Gosta? – ela perguntou.
–
Como amigo... – apressou-se em esclarecer.
–
Eu te acho uma gracinha... – Evandra confessou, olhando-o nos olhos.
Hum... obrigado... – Harry sentiu-se corar, embaraçado, ficou um tempo sem saber o que dizer, sua mão estava suada e seu coração ainda batia acelerado.
–
Evandra lhe sorriu e voltou a se aproximar, passando a mão pelo seu pescoço. Ficou de pé num salto. Não, Evandra, não acho certo... não estamos namorando... sabe, eu não... quero ter um relacionamento agora... não posso – disse ele, procurando as palavras.
–
–
Mas podemos ser amigos... – levantou-se também e se aproximou dele.
Podemos... – Harry confirmou. Ela se inclinou para ele, para encontrar seus lábios. – Amigos! – ele ressaltou, enfático, pondo mais distância entre eles.
–
–
Sim... E você nunca beijou uma amiga? A Hermione...
–
Claro que não!
Algumas pessoas acham que já rolou alguma coisa entre vocês... – Evandra sondou. – Vocês vivem juntos, dizem que passam as férias juntos também...
–
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–
É e com o Rony – ele explicou, aborrecendo-se.
–
Hum... E a Cho Chang...
–
Ela não era minha amiga! – Harry foi até a mesa e enrolou o jornal e seu pergaminho.
Evandra puxou suas vestes fazendo-o se virar e olhar para ela, os lábios dela esmagaram os seus e suas mãos deslizaram por sua nuca. Harry sentiu sua mente esvaziar, perdeu-se naquela sensação, levitou um pouco para tornar sua posição menos incômoda enquanto a abraçava. A passagem se abriu, vozes e risos ecoaram pelo salão. Afastaram-se constrangidos, Harry contornou a mesa rapidamente deixando que seus pés tocassem novamente o chão, dedicou-se a terminar de juntar suas coisas rapidamente. Levitou as caixas até seu dormitório enquanto Evandra se afastava e sentava numa poltrona distante, fingindo estar interessada numa revista que encontrou jogada por ali. Ficou um tempo sozinho no dormitório pensando no que tinha feito, tomou um banho frio para ajudar a pôr as ideias em ordem e se concentrar no que tinha que fazer. Até a hora do jantar tinha conseguido eliminar meia caixa. Até então não tinha achado nada que lhe dissesse muita coisa. Desejou saber o que Voldemort estava fazendo naquele momento, se estava tentando encontrar alguma coisa que pudesse ajudá-los. Levantou e espreguiçou-se, dolorido, estivera escrevendo sobre a cama, teria que encontrar um local mais apropriado no qual pudesse continuar sua tarefa sem ser interrompido, não precisou pensar muito para achar o lugar ideal. Desceu. Cumprimentou Parvati e Lilá a caminho da saída. Evandra não estava mais por ali. Foi até a Sala Precisa, era o local perfeito, mas não conseguiu entrar, estava ocupada. Seguiu pelo castelo prestando atenção à presença do Professor Snape. Parou às portas do salão, ele estava lá dentro, na mesa dos professores, achou melhor não arriscar, então, foi até a cozinha, comer alguma coisa. Ainda não tinha encontrado as meninas, tinha esquecido o mapa, não sabia onde poderiam estar. Queria saber notícias de Rony mas não queria ir até a sala de Raven para não correr o risco de encontrar Sirius. Percebeu que Draco vinha descendo as escadas, já que o Prof.Snape continuava no Salão Principal, resolveu parar no primeiro andar e esperar por ele. Quando Draco se aproximou, foram ao encontro um do outro. Preciso falar com você – Harry pediu. Draco o encarou, surpreso e curioso. – Eu estou disposto a comprar qualquer informação importante que você tenha sobre o que ele estiver fazendo ou planejando – Harry lhe informou.
–
Draco ficou mudo por alguns minutos enquanto esperavam alguns alunos, que desciam, afastarem-se. Resolveram procurar uma sala vazia, por ali mesmo, onde tivessem mais privacidade. O que vai fazer desta vez? – Draco perguntou, visivelmente interessado, enquanto entravam na sala de aula. Harry não estava esperando por essa pergunta, imaginou que ele se interessaria em saber o que poderia ganhar, até porque, não tinha essa resposta ainda. – Você conseguiu entrar no Ministério e ajudou a libertar os lobisomens...
–
–
Onde ouviu isso?! – Harry alarmou-se por essa informação ter vazado.
–
Fenrir Greyback … Ele está a serviço do Lorde das Trevas...
Hum... Não sei ainda, mas pretendo fazer alguma coisa sim... – admitiu. – E você? E os seus planos de derrubar o Lorde das Trevas? – Draco ficou encarando o vazio, perdido em pensamentos. – Desistiu?
–
Uma coisa de cada vez, Potter. Tenho que resolver outro assunto primeiro – Draco lhe respondeu. Harry pensou na poção que deveria estar preparando com o ingrediente roubado.
–
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É a sua missão? Ele mandou que você viesse a Hogwarts para providenciar a morte de alguém?
–
Draco o olhou, zombeteiro, quase sorriu. – Você tem cada ideia idiota... Acha mesmo que ele confiaria a mim uma tarefa dessas? –
Não sei, você é um Comensal agora... – respondeu Harry, confuso.
Foi um castigo... por tê-lo enfrentado... – Draco respondeu, taciturno. – Ele só estava me tirando do caminho, assim fica mais fácil controlar a minha mãe. Minha família o tem servido há anos e com o meu pai fora, ele tem tido acesso direto aos negócios dele, enquanto eu fico jogado aqui, preso.
–
Mas... e aquele frasco, para quê você o queria? – Harry perguntou, agora se sentindo realmente idiota.
–
Dizem que ele é imortal... mas eu queria fazer um teste, poderia ter sido útil se ninguém tivesse atrapalhado! – Draco o olhou diretamente nos olhos.
–
Ah... – Harry disfarçou coçando o queixo. – Não iria dar certo. Ele saberia, é muito bom em Legilimência...
–
É por isso que aprendi Oclumência. – Draco declarou e foi até a janela. – Valeria a pena tentar, se ele quase morreu uma vez deve ter um ponto fraco, talvez possa “quase morrer” novamente – virou-se para encará-lo.
–
–
Se soubermos como ele fez para conseguir isso, talvez...
Sei que é algo que até bruxos das trevas temem experimentar, provavelmente deve estar ligado aos Antigos, não há nenhuma informação a respeito em Hogwarts. Já procurei em toda a seção reservada e não há como descobrir nada estando preso aqui – informou Draco, dirigindose à saída.
–
–
Se você souber de alguma coisa...
–
Eu não tenho acesso a muitas informações, minha m... fonte... não participa das decisões.
Sei... – Harry ficou decepcionado, esperava poder obter informações mais valiosas, mas se lembrou de que realmente a mãe dele não era uma Comensal, não tinha sentido a marca nela, no Beco Diagonal.
–
Mas se eu ficar sabendo de algo poderemos negociar... – Draco concordou antes de sair.
–
Harry ainda ficou um bom tempo sozinho naquela sala, pensando no que deveria fazer a partir de então. –
O que está fazendo aqui sozinho? – a pergunta de Rony o sobressaltou.
–
Rony! Você está bem? – levantou e se aproximou, estava preocupado com o amigo.
Só um pouco de dor de cabeça, mas Raven disse que é normal... – Rony foi até ele também. – Nunca mais faço outra idiotice igual àquela! – falou com seriedade.
–
–
Está chateado com a gente? – Gina perguntou, guardando o mapa.
–
Não... – respondeu evitando olhar em seus olhos.
–
Então por que está se escondendo aqui? – perguntou Hermione.
Harry contou a eles o que estivera conversando com Draco, e sua ideia em tentar traçar uma trajetória dos passos de Voldemort. –
Evandra me emprestou algumas publicações do Profeta – disse evitando olhar para eles. –
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Datam a partir de nossa ida ao Ministério para tentar salvar Sirius. Estou selecionando notícias sobre as aparições dos Comensais, qualquer coisa que me diga por onde Voldemort tem mostrado interesse. Algo que me ajude... Sua cicatriz ardeu, incomodando-o, ficou na expectativa de obter alguma imagem ou informação, mas parou logo a seguir deixando-o decepcionado. Os amigos se mostraram meio céticos com a sua ideia, mas era a única que tinham. Harry passou os próximos dias se dividindo entre as aulas; os deveres de casa; os treinos de quadribol, os quais tentava faltar sempre que possível mas sem muito sucesso; a sua busca nas antigas edições do profeta, anexando a isso os exames diários nos jornais que Hermione recebia. Ainda tinha que se preocupar em evitar o Prof. Snape e agora também, Evandra, que parecia ter anotado seus horários vagos e tentava ficar a sós com ele sempre que possível. Rony e Hermione o ajudavam apesar dele insistir por várias vezes que poderia fazer as pesquisas sozinho, para não deixar que eles também se atolassem com os deveres. Estava evitando Gina também, mas por se sentir culpado. Tinha a sorte de ter a desculpa do excesso de deveres, que realmente estavam se acumulando; e ela também precisava estudar para os NOMs, então, se viam muito pouco. O que está acontecendo entre você e a Evandra? Você fica estranho quando ela está por perto – Rony o acusou. – Por que a está evitando?
–
Harry ouviu, em silêncio, as suas indagações. Estavam sozinhos no dormitório, Simas, Dino e Neville ainda não haviam retornado do jantar. Harry contou a ele sobre o que havia acontecido entre os dois. –
Então é por isso? – Rony assumiu um ar meio aborrecido. – Você está afim dela!
–
Não! – afirmou veemente. – Eu não tinha intenção de beijá-la, só aconteceu....
–
Só porque a beijou você fica nervoso quando a vê? Então ficou balançado...
–
Já disse que não. Eu gos.. eu ... – gaguejou sem jeito. – Ela é mais alta do que eu...!
Todo mundo na minha família é alto, Harry... – Rony disse num tom ofendido. – Mais alto que você, pelo menos.
–
–
E daí? – perguntou sem entender seu comentário. – Na minha, pelo jeito, não... Rony jogou um travesseiro em sua direção, mas Harry se desviou agilmente.
–
Não conta pra ninguém, não quero que as meninas saibam – ele pediu.
–
É... – Rony concordou, olhando-o atravessado. – É melhor...
Durante as quintas, quando Rony e Hermione assistiam aulas de Poções, ele ia sozinho para a Sala Precisa, lugar que tinham escolhido para analisar com calma as publicações. Apesar de estarem tendo dificuldades em encontrá-la vazia ela era a melhor opção. Tinham começado a marcar no mapa, que a sala lhes forneceu, os locais onde eram denunciadas a presença de Comensais, para terem uma melhor visualização do que estavam fazendo. Hermione havia juntado às marcações do mapa, também, as datas dos acontecimentos. Durante duas semanas houve sete denuncias de suspeitas de Comensais rodando esta área – Harry apontou o mapa. – E outros mais em lugares distintos e distantes, podem ter sido alarmes falsos... ou não, mas com certeza teve algo aqui que os interessou.
–
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É... parece que sim... – Hermione concordou, pensativa. – Mas depois não aconteceu mais nada até...
–
Até a noite que eu tive o pesadelo... com Tahaus... que foi no dia em que você chegou à Toca... – Harry concluiu, verificando as datas.
–
–
Deve ter alguma coisa relacionada a isso... – Hermione o olhou, intrigada.
–
Com o quê? Com a sua chegada à Toca?! – Rony perguntou sem entender.
–
Não! Com o pesadelo do Harry...
–
Ah... Mas depois disso não houve concentrações – Rony informou.
Estranho... – Hermione comentou. – Essas aparições de Comensais em público... parece exibicionismo. Fora as mortes e desaparecimentos, que ocorrem sem testemunhas, eles só aparecem em público para vandalizar e chamar a atenção, não acham?
–
Bom, pelo menos eu tenho um lugar por onde começar... – Harry anotou num papel o nome do bairro onde ocorreram as primeiras aparições: Little Hangleton.
–
–
Mas se ele já esteve lá, Harry, e até agora não encontrou nada...
Não estou esperando encontrar a cura milagrosa para o meu problema, quero ao menos obter alguma informação útil... E tem o Beco Diagonal, eu quero checar se há alguma base de reunião deles lá.
–
Draco não disse que Você-Sabe-Quem assumiu os negócios da família dele? Então pode ser que estivessem saindo do cofre dos Malfoy, eles são ricos... – Rony concluiu.
–
Talvez, mas mesmo assim quero checar isso. – Harry acrescentou mais algumas marcações ao mapa. – Hermione, seus pais guardam as edições dos jornais trouxas diários?
–
–
Não... Por quê? – respondeu sem tirar os olhos do mapa.
Onde você acha que eu posso encontrar os registros dos últimos acontecimentos noticiados pelos trouxas?
–
Na Biblioteca... – Hermione respondeu prontamente e o olhou curiosa, mas Harry não disse mais nada, continuou com sua tarefa.
–
Naquela mesma noite chamou por Sirius, pelo espelho, e pediu que lhe enviasse o par de lentes que havia deixado para trás, decidido a nunca mais voltar a usá-lo, Sirius havia comprado dois pares para ele, ainda restava um. –
Você não gostou de usá-las... Para quê as quer?
Estou a fim de mudar um pouco de visual, nada de mais... Pode me mandar também um frasco de colírio, do tipo que a Raven usa?
–
–
A Raven usa colírio? – Sirius estranhou. – Para quê?
Ora... não usa? – perguntou, confuso. – O John usa lente colorida e eles têm a mesma cor de olhos...Pensei que ela usasse também... – Harry argumentou.
–
Eu... eu nunca perguntei isso. – Sirius admitiu, desconcertado. – É o tipo de coisa que eu deveria saber...
–
Acho que você iria acabar descobrindo, de qualquer jeito... – Harry se perguntou se seria uma prova de anti-romantismo não saber a verdadeira cor dos olhos da namorada. – E o Lupin? – perguntou, desejoso de poder falar com ele finalmente.
–
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–
Está fora... com o bando... – Sirius respondeu distraidamente.
–
Como assim?! Está andando com eles novamente? Mas...
Não com o bando de Voldemort – Sirius explicou. – Depois que fugiram do Ministério poucos voltaram para ele. Remo está tentando convencê-los a vir para o nosso lado. Afinal, estiveram próximo da morte e nenhum Comensal foi salvá-los... Se não fosse por... – Sirius se freou a tempo, mudando de ideia.
–
Tudo bem, não precisam nos agradecer... de novo! – Rony comentou sarcasticamente da cama dele, de onde acompanhava a conversa, observando o teto.
–
Ah, Rony! – Sirius reconheceu sua voz. – Também não precisa agradecer por eu não ter contado aos seus pais que você andou se embebedando.
–
–
Obrigado, cara! Eu nunca mais vou fazer aquilo de novo – Rony prometeu de sua cama.
É o mínimo que eu espero... A propósito, vão me contar o que aconteceu naquele dia? – Sirius perguntou cauteloso por aquilo ter sido motivo de desentendimento entre eles.
–
–
Vou – Harry concordou. – E você vai me dizer o que o Ministério quer contigo? Sirius disfarçou, disse que voltaria a entrar em contato e se despediu.
Você percebeu? – Harry perguntou a Rony. – E ele acha que eu tenho que contar sempre a verdade de tudo o que acontece, quando ele não me conta nada...
–
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CAP. 19 – DESCOBERTAS Sábado tiveram a partida de quadribol contra a Sonserina, à qual Harry teve que ir assistir como reserva. Percebeu que Draco nem ao menos estava na arquibancada. Subiu novamente com Hermione para a arquibancada dos professores, odiando cada minuto que teve que aturar a presença do Prof. Snape se vangloriando pela robustez dos jogadores de sua Casa. Harry teve que concordar, eram todos monstruosos, após sessenta minutos de jogo dois artilheiros prensaram Dênis num encontrão, que alegaram “não intencionado”, deixando-o seriamente machucado. Cólin não silenciou sua revolta, vendo o irmão sair da quadra amparado pela Madame Hooch. Harry o apoiou, estava claro que tinha sido proposital. –
O que está fazendo ainda aqui, Sr. Potter? – indagou Minerva – Vá, você tem que substituí-
lo! Harry se espantou, não tinha se dado conta disso, pegou sua firebolt, apressado. Um momento, Professora – Snape se opôs. – Sabemos bem que isso seria uma desvantagem para a Sonserina. Uma coisa é mantê-lo ocupado com treinos, outra, bem diferente, é deixá-lo jogar...
–
Também é desvantajoso a equipe da Grifinória ter que competir contra Nimbus 2001, Professor Snape – Minerva rebateu. – Mas não se preocupe, como sabemos, nada supera a capacidade e o talento.
–
Harry não conseguiu esconder o sorriso de satisfação, nem quando Snape o fuzilou com o olhar, contrafeito. Raven o abraçou desejando boa-sorte, estava ansiosa para vê-lo jogar. Se os jogadores da Sonserina também tivessem cérebro ao invés de apenas músculos, teriam se dado conta de que esse golpe covarde contra o apanhador da Grifinória colocaria Harry Potter de volta no campo. Vamos ver agora se eles têm chances contra o Eleito... – Cólin extravasou sua frustração.
–
Harry não gostou do último comentário, mas os alunos da Grifinória sim, ovacionaram ensurdecedoramente puxando o apoio da Corvinal e Lufa-lufa, o que sempre acontecia num jogo contra a odiada Sonserina. Ele se reuniu ao time para ouvir as instruções da Capitã, Cátia, foi recebido com sorrisos convencidos da vitória iminente. Estavam em vantagem de trinta pontos, o plano era aumentar a dianteira ao máximo possível. Harry já esperava pelos ataques, sabia que seria o próximo alvo, mas desviar dos balaços e evitar os batedores não era um problema, ao contrário, teve que fingir, por duas vezes, escapar por pouco para não chamar atenção. A contra-resposta não demorou a chegar, ouviu o apito paralisando o jogo. Desceu apreensivo quando viu o time se reunindo em volta de Gina. –
O que houve? – abriu caminho entre eles, o coração acelerado.
Aquele idiota do Crabbe quebrou a minha vassoura! – Gina reclamou, revoltada. Harry ficou aliviado, teve medo que ela tivesse sofrido algum dano.
–
Rony usou o Reparo para consertar a vassoura mas ela estava imprestável, demorava a mudar de direção, não teria como continuar com ela. Tome, pegue a minha – Harry estendeu-lhe a firebolt. Gina o olhou espantada, assim como os outros. – Pegue! – Harry insistiu tirando de sua mão a vassoura danificada.
–
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–
Não... Harry... precisamos de você para pegar o pomo! – Cátia desaprovou sua atitude.
Não se preocupe, não vamos perder. – Harry a tranquilizou levantando voo para impedir outras oposições. A única diferença agora era que ele teria que carregar a vassoura consigo ao invés de montá-la.
–
Harry ouviu os comentários surpresos de Cólin questionando se estaria sofrendo de algum mal para abrir mão de sua firebolt. Mas tanto as radiações quanto os burburinhos da torcida mudaram quando perceberam que o jogo continuava e a Grifinória continuava na liderança. Harry se preocupou apenas em manter o apanhador da Sonserina ocupado seguindo suas pistas falsas, Gina marcou cinco gols seguidos, uma pequena vingança. Cólin mudou de ideia quanto a sua atitude de entregar à Gina sua vassoura, comentando que ela era um verdadeiro talento. Antes que a Professora McGonagall o repreendesse expressou sua opinião de que formariam um casal notável, que mesmo com uma vassoura danificada Harry conseguia voar melhor que todos os sonserinos. Harry se surpreendeu com seus comentários e passou a diminuir a velocidade. Quando estavam em vantagem de oitenta pontos capturou o pomo, colocando a Sonserina a duzentos e trinta pontos abaixo da Grifinória. Assim que chegaram ao chão todos quiseram parabenizá-los pela vitória, a tradicional comemoração que costumava ser na Sala Comunal da Casa teve que ser transferida para o Salão Principal, pois Corvinal e Lufa-lufa também quiseram comemorar com eles o feito. Os sonserinos se recolheram, sumindo de suas vistas, desmoralizados. Minerva, embora tenha dito que eles exageraram um pouco, estava satisfeita a ponto de permitir que eles continuassem a comemoração até mais tarde, deixando Raven responsável pelos alunos. Como poucos alunos da sonserina apareceram para o jantar, que nesse dia teve gosto de festa, Minerva providenciou para que algo fosse levado até eles. Assim que ela se foi Raven afastou as mesas e providenciou a música. Agora que a festa tinha realmente começado não tinham hora para terminar. A iluminação de baile, providenciada por Raven, levou os alunos ao delírio, Filch apareceu logo depois, mas se reclamou alguma coisa ninguém conseguiu ouvir por causa da música alta. Murta flutuava pelo salão acompanhando, do alto, a movimentação dos estudantes e buscando novas histórias. Algumas garotas apareceram convidando Harry e Rony para dançar, mas eles as dispensaram, tanto por não saberem dançar quanto por estarem dispostos a dividir a atenção com outras pessoas. Rony e Hermione riam muito, conversando aos cochichos. Harry aguardava impacientemente enquanto Gina era disputada pelos colegas do quinto ano que chegavam para parabenizá-la pelos gols e tirá-la para dançar. Harry começou a se aborrecer, só estavam tocando músicas dançantes e rock, não entendia o porquê de precisarem de uma companheira de dança. Foi abrindo caminho na multidão, disposto a se arriscar pedindo-lhe, também, uma música. Evandra atravessou seu caminho, sorridente, ele sorriu de volta e tentou desvencilhar-se, mas ela o impediu. Harry gesticulou dizendo que não estava conseguindo ouvir o que ela dizia por causa da música alta, ela o puxou pela mão até uma das extremidades do salão, que eram mais escuras, mas também menos barulhentas. Eu estava te procurando, não temos mais conseguido um momento a sós, eu quero falar sobre o que aconteceu naquele dia... – ela esclareceu.
–
–
Não precisa falar nada! – Harry a interrompeu apressado. – Não devia ter acontecido, vamos
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esquecer isso – pediu ele, tencionando se afastar. –
Não, Harry, eu quero falar com você – insistiu.
Eu não posso agora, tenho umas coisas para resolver – ele passou os olhos pelo salão à procura de Gina.
–
Por que está fazendo isso? Você está me evitando, por acaso está com medo de mim? – Evandra perguntou, realmente aborrecida.
–
Desculpe... – Harry se deu conta de que deveria estar sendo grosseiro, poderia resolver essa situação sem magoar ninguém. – Evandra... – mediu as palavras sem saber como começar.
–
Ela o encostou na parede e o beijou. Manteve uma mão em seu peito e com a outra segurava seu rosto. Harry passou a mão por seus cabelos encaracolados, aspirando seu cheiro adocicado, não podia deixar de admitir que adorava a sensação que sentia quando a beijava, conseguia se esquecer de tudo, mas quando seus lábios se separaram conseguiu pensar com clareza no que estava fazendo. Droga! – ajeitou os óculos, chateado consigo mesmo, e olhou em volta, ninguém prestava atenção neles. Ela levantou seu queixo e se inclinou para beijá-lo novamente. – Não, Evandra, chega! – disse rispidamente, afastando-a.
–
–
Você não gosta de me beijar? – perguntou incrédula.
–
Gosto... – admitiu. – Mas não é isso o que quero fazer, entende?
Acho que era isso o que você queria fazer a alguns segundos atrás – ela afirmou, deixando-o encabulado. Harry passou a mão pela nuca sem saber como argumentar com ela.
–
Se você quiser continuar minha amiga, de verdade, não faça mais isso – Harry pediu, alteando o tom de voz para que ela ouvisse enquanto aumentava a distância entre eles.
–
–
Tudo bem... – Evandra concordou. – Não tem graça nenhuma ficar só sendo sua amiga.
A última frase pareceu ecoar pela ausência da música, logo outra começou a tocar estrondosamente mas algumas pessoas mais próximas continuaram olhando. Harry se afastou, envergonhado, porém Evandra segurou seu braço pedindo que ficasse. Para com isso! – Harry pediu, indignado, ela sempre lhe passara a imagem de uma pessoa responsável e equilibrada.
–
Eu gosto de ficar sendo só sua amiga, Harry... – ouviram a voz de Murta acima deles. Ela estava flutuando de bruços, o queixo apoiado nas mãos entrelaçadas, uma atenciosa espectadora.
–
Obrigado, Murta. – Harry puxou o braço, libertando-se, e se afastou rapidamente, procurou por Rony ou Hermione mas estava difícil avistá-los no meio de tantos com tão pouca luz, não conseguiu distinguir os cabelos vermelhos de Rony nem os de Gina.
–
Meu príncipe precisa ser salvo? – Raven cochichou em seu ouvido, abraçando-o. Sorriu para ele, divertida, quando ele se recuperou do susto.
–
Estou procurando Rony e Mione – disse enquanto ela o afastava da pista simulando uma valsa apesar da música agitada. Todos já estavam acostumados a vê-los juntos, o relacionamento dela com Sirius não era segredo.
–
Eles estavam sentados lá atrás – indicou com o olhar os fundos do salão. – Gostei de te ver jogando hoje, você é muito bom.
–
Você não pode me avaliar por isso, você deveria ter me visto jogando quando eu não sabia voar sem vassoura... ou quando eu achava que não sabia... – Harry comentou, indeciso. – Pelo jeito essa profissão também está descartada, eu nunca poderia ser um jogador profissional se eu
–
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quisesse. Não há nada de errado em ter aptidões extras, contanto que você não as utilize para tirar proveito sobre outras pessoas...
–
Como o que eu fiz hoje... – Harry viu Evandra passar por eles olhando-o de uma maneira que o fez se sentir mal.
–
Essa menina está gostando de você – Raven comentou, olhando-o nos olhos. – Quem são os pais dela?
–
Não sei... – Harry estranhou a pergunta, não havia tido a curiosidade de saber, até o momento.
–
Evandra Velaska... – Raven pronunciou o nome dela lentamente – Sirius conhece a família dela?
–
–
Não sei... Por quê?
Você não pode começar a namorar uma garota sem a conhecer direito – Raven explicou passando os dedos pelo seu cabelo, arrepiando-os ainda mais, do jeito que seu pai gostava de usar. – Sirius já sabe?
–
Eu não estou namorando ela! Foi só um beijo... – justificou-se, embora nem passasse pela sua cabeça pedir permissão a Sirius para começar a namorar alguém.
–
Não é ela o motivo de você querer usar lentes? – Raven sondou com um sorriso desconfiado. Harry negou achando a ideia absurda. – Ah...Já explicou isso a ela? – ela perguntou em tom de repreensão.
–
–
Já... mas acho que ela não entende...
–
Hum... sei... Ela faz o tipo determinada e insistente.
E o que eu faço? – Harry perguntou esperançoso de que ela tivesse uma solução simples para tirá-lo daquele constrangimento.
–
A primeira coisa que eu sugiro é que tenha uma conversa franca com ela, que deixe bem claro os seus sentimentos. De maneira educada! Você não precisa magoá-la...
–
–
E se não der certo...
–
Então deixa que eu converso com ela... – Raven finalizou com um sorriso.
Nem pensar! – Harry se opôs firmemente, lembrou-se do episódio com o Snape, sabia que ela era realmente capaz disso.
–
Eu também já fui adolescente, eu sei que pode ser meio chato, mas por experiência própria afirmo que não há ninguém melhor do que os pais para afastar um pretendente.
–
Não, Raven, por favor... – Harry pediu, achou que seria vergonhoso ter ela ou Sirius se metendo nesse assunto. Ela apenas desviou o olhar reparando o salão.
–
–
O que está achando da comemoração? – mudou de assunto.
–
Legal... Não costumamos fazer isso após os jogos, nossas comemorações são mais simples.
–
Sei, um tédio – Raven concluiu.
–
Como convenceu a Professora McGonagall? Isso não faz o gênero dela...
Hum... Convencer? – Raven mordeu os lábios com um meio sorriso gaiato no rosto. – Ela me deixou responsável, não? E pra mim comemoração sem agito... não dá!
–
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Raven... – Harry suspirou, preocupado. – Não vá arranjar confusão com a Professora Minerva, ela é muito legal, mas não admite que quebrem as regras.
–
Tudo bem, ela já pega no meu pé de qualquer jeito – Raven não pareceu se importar com o seu comentário. – O que vocês três tem feito? Quase não me procuram mais...
–
–
Temos tido muitos deveres... – respondeu automaticamente.
–
É só isso mesmo? Não estão aprontando nada?
Estamos só investigando algumas coisas... – Harry contou, não gostava de mentir para ela, ao contrário dos outros, ela era compreensiva. – A gente te conta, se acharmos algo.
–
Raven o arrastou para a mesa e o obrigou a comer mais antes de subir, despediram-se com um beijo de boa noite. Harry não sabia se Rony e Hermione ainda estavam por ali, então não se deu ao trabalho de procurá-los e se retirou. Os corredores estavam desertos embora ainda fosse cedo, a maioria dos alunos continuava na festa. O feitiço Incarcerous o pegou desprevenido, foi coberto por um lençol e teve a varinha retirada de seu bolso antes que pudesse tentar qualquer reação. Que tal uma comemoração de verdade, Potter? – Urquhart, capitão da Sonserina, perguntou enquanto ele era suspenso e carregado.
–
O lençol impedia que visse para onde o estavam levando e as cordas o cortavam conforme tentava se soltar, só conseguiu perceber que o levavam para baixo. –
Se não ficar quieto vamos quebrar seus braços – Harper ameaçou.
–
É, assim você não vai poder capturar mais pomo nenhum! – Vaisey apoiou.
Teve vontade de dizer que não precisaria capturar mais nada, que o rebaixamento da Sonserina valia por todos os jogos do ano, mas a mordaça o impediu. Ouviu o Alohomorra ser lançado numa porta que rangeu alto ao abrir, imaginou que não deveria ser usada há um bom tempo. Continuaram descendo, desta vez por um caminho totalmente escuro, conseguiu distinguir apenas a luz de suas varinhas. Após alguns minutos de descida voltaram a caminhar em linha reta, seus passos ecoando. Tá bom aqui – ouviu Urquhart falar aos outros dois. – Espero que se divirta – ele disse enquanto o colocavam no chão.
–
O chute no estômago quase o fez vomitar. Ficou se contorcendo no escuro enquanto os ouvia correr de volta à saída, o lençol que o cobria lhe dava a sensação de sufocamento, rolou até conseguir uma posição que lhe permitisse dar o impulso necessário para sair do chão. No ar pode se movimentar com maior liberdade e se livrar do lençol que o cobria. Conseguiu tirar o calçado mas nem assim pôde libertar seus pés; continuou a se debater, furioso, mas a corda não cedia, só conseguiu fazer com que os cortes causados por ela ardessem mais a cada movimento. Sua cicatriz ardeu violentamente como se protestasse. Parou e respirou fundo – “Calma, está tudo bem...” – pensou consigo mesmo – “Eu sou um bruxo, eu posso encontrar uma maneira de sair dessa”. Fechou os olhos, lamentou não estar com o canivete, se concentrou na corda, tinha que se livrar dela. Após várias tentativas ela caiu aos pedaços no chão. Retirou a mordaça, satisfeito. –
Aqueles idiotas! – sua voz ecoou pelo salão vazio.
O antigo capitão, Marcos Flint, nunca tinha levado uma derrota tão a sério a ponto de chegar a esse extremo, embora ameaças e azarações fossem comuns entre os adversários. Catou seus
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óculos, que tinham caído junto com o lençol. Ficou feliz por não terem se quebrado, não teria como consertá-los já que tinham levado sua varinha. Olhou em volta tentando se acostumar com a escuridão. Calçou-se novamente, atento aos sons ao redor, ouvia alguns guinchos e um baixo arranhar de garras no chão de pedra, “ratos”, imaginou. Arriscou alguns passos por ali sem saber em que direção seguir. Passou a mão pelo relevo de uma das pilastras e distinguiu com facilidade o ornamento que as enfeitava, serpentes. Com certeza estava em algum lugar das masmorras, habitar dos sonserinos. O lugar parecia estar, há séculos, abandonado, as teias de aranha grudavam em sua pele conforme as transpassava. Seguiu tateando até encontrar uma parede e a percorreu até o teto em busca de um archote, continuou se deslocando até conseguir um. Aquela escuridão o deixava nervoso. Ascendê-lo não foi tão difícil, depois das cordas estava se sentindo mais confiante, foi como direcionar o calor do seu corpo para a palma da mão, detestou a sensação de frio e fraqueza que sentiu, mas valeu a pena pela luminosidade. Havia duas passagens, uma à direita e outra à esquerda, ambas com longos corredores escuros e de aparência assustadora. Viu alguns roedores fugindo da claridade, olhou ao redor mas não conseguiu distinguir o branco do lençol naquela escuridão, não sabia por onde o tinham trazido. Continuou em frente até encontrar uma porta dupla de madeira ornamentada, como tudo o mais ali, com duas serpentes, uma em cada porta. Passou a mão sobre elas, seu coração acelerou, tinham algo de familiar. Nas laterais havia outras duas passagens mais estreitas, as ignorou. Prendeu a tocha na estrutura mais próxima e forçou e empurrou a porta dupla até conseguir uma abertura pela qual pudesse passar, estava emperrada e difícil de ser movida. Quando recuperou a tocha e entrou, descobriu o que a prendia, havia acontecido um desmoronamento no local. Pensou em recuar mas queria muito ir mais adiante, flutuou sobre os escombros, Hogwarts era milenar e os desmoronamentos não eram raros, imaginou que só mesmo muita magia conseguia mantê-la de pé. O corredor acabava com uma estreita porta de metal semi-bloqueada pelo desabamento. Empurrou e puxou mas não conseguiu abri-la. Tentou desobstruir a passagem, estava decidido a entrar de qualquer jeito, então uma resposta simples lhe ocorreu. “Abra” – sibilou em alto som e a porta começou a se mover com um rangido alto de esmagamento, em protesto a tantos anos de esquecimento. Recebeu um banho de terra e poeira que apagou a tocha que carregava. Espremeu-se pela abertura e puxou a porta enquanto ordenava que ela se fechasse. Sacudiu a poeira de seus cabelos enquanto ouvia parte do teto deslisando do lado de fora. Percorreu os olhos rapidamente pelo aposento. Quando o som parou, tentou abrir novamente a porta, apenas um alto estalido foi ouvido após sua voz. Ótimo! – gritou para a porta. – Feliz agora? Estamos presos aqui! – falou consigo mesmo, em desespero.
–
Tinha se deixado levar pela curiosidade, arrependeu-se por não ter procurado logo pelas escadas. Encostou-se na parede e deslisou até o chão. Observou as estranhas marcas no assoalho, não havia ratos ali, pôde sentir a presença de magia. Esqueceu a entrada e foi atrás da origem da luminosidade que se refletia pelas paredes de pedra lisa do aposento. Havia uma velha cama de dossel e um guarda-roupa num canto, já tinha visto o suficiente na velha casa do Largo Grimmauld para saber que era mais prudente não tocar em nada. O cômodo se estendia por vários metros à frente e fazia uma curva em L, ficou se perguntando por que tanto espaço para tão poucas coisas. A fonte da luz estava sobre uma escrivaninha, uma taça de cristal Elisa Vrastani - Magia, Poder e Destino I
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contendo um líquido transparente onde um anel flutuava, um anel de prata com uma pedra verde musgo. Ficou um bom tempo observando a taça, cobiçando o anel. Virou a taça mas nem o líquido nem o anel caíram, ele estava protegido. Procurou algo na escrivaninha que o ajudasse a pegá-lo, abriu as gavetas mas só encontrou papéis, passou os olhos por eles, sem interesse, até perceber a letra familiar. Sentou-se e sob a luz da taça olhou mais detalhadamente as folhas soltas, Tom Riddle havia estado ali. Descobrir isso fez com que visse o local de um jeito diferente, aquele lugar era especial. Examinou os papéis, eram o mapa de um vilarejo, com uma marcação em destaque numa colina próxima. Um nome em especial lhe chamou a atenção “Little Hangleton”, era o mesmo que havia sido noticiado no Profeta. Enrolou os papéis e os prendeu no cós da calça, por baixo da blusa. Vasculhou cada canto do aposento, meticulosamente, em busca de qualquer coisa a mais que ele pudesse ter deixado para trás; porém, além do anel, não achou mais nada de interessante. Havia uma enorme banheira de pedra em um canto do salão, maior que a do banheiro dos Monitores. Ela estava cheia com a água que escorria pela boca de três serpentes, torneiras fixadas na parede rochosa. A água parecia escoar pela outra extremidade da banheira, formando uma piscina de água corrente. No final do aposento havia uma enorme cabeça de cobra que se projetava da parede, como se houvesse mesmo uma cobra gigante se espremendo por uma estreita abertura, com a boca escancarada. Harry pegou a taça, única fonte de luz do local, e se aproximou, cautelosamente, observando a abertura. Era maior que uma porta, imaginou que deveria ser uma passagem que descia para algum outro lugar, mas a ideia de ser engolido vivo pela estátua não o agradava. Sentou-se encostado à parede e depositou a taça ao lado da banheira. As pedras vermelhas, que eram os olhos da serpente pareciam brilhar em expectativa. Estava indeciso, não podia ficar ali para sempre, mas também não estava disposto a deslizar por sua garganta, estava cansado e imundo e seu estômago ainda doía pelo chute recebido. Gostaria de ter seu galeão falso, mas depois que voltaram do Ministério tinham descartado a ideia de continuar usando a moeda para se comunicarem entre si. Permaneceu sentado, em silêncio, apreciando o anel dentro da taça. Não percebeu quando adormeceu, despertou sobressaltado e com frio. Tinha sonhado que estava sentado à escrivaninha observando a si mesmo desacordado ao lado da taça, um sonho bobo, mas que devido às circunstâncias o assustou. Olhou em volta, ainda impressionado, estava sozinho. Um formigamento percorreu sua cicatriz deixando-o arrepiado. Olhou de novo para a passagem, que era a boca da serpente, de repente aquela hipótese se mostrou mais atraente do que a de permanecer ali naquele lugar, afinal, não tinha outra opção, era provável que nunca descessem ali para procurá-lo e mesmo se fizessem, as chances de perceberem que ele poderia estar ali, atrás de todo aquele escombro eram mínimas. Pegou a taça do chão, prestando atenção à cada sombra que surgia. O túnel era espaçoso e descia em alguns trechos quase verticalmente. Foi andando e escorregando até chegar a uma abertura que ficava a quase três metros do chão de um outro salão que continha pilastras também ornamentadas por serpentes e uma fraca luz esverdeada que clareava o local. Agora estava ainda mais abaixo de Hogwarts, tinha que descobrir um meio de subir. Harry flutuou para mais à frente e parou, observando. Havia algo no chão que lhe chamou a atenção, sobrevoou aquela estrutura estranha, intrigado, até perceber o que era, um enorme esqueleto de serpente. Olhou para trás, a estátua de Salazar Slytherin ainda conservava a boca aberta, desde que Tom Riddle invocara a presença do basilisco, revelando o enorme buraco negro que havia sido seu local de repouso. Tinha acabado de sair da boca de Slytherin, estava na Câmara Secreta. Elisa Vrastani - Magia, Poder e Destino I
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Animou-se, conhecia o caminho de volta. Até conseguia imaginar Riddle sentado à escrivaninha tendo aos pés um basilisco como se fosse um bichinho de estimação, o que não deixava de ser uma visão assustadora. Reparou melhor na estátua, o bruxo trazia uma joia pendurada no pescoço, um pequeno amuleto ornamentado com a letra S, de Slytherin, aproximou-se mais e identificou que a letra, na verdade, era uma serpente, assim como nas portas do aposento acima. – “Como um brasão de família” – pensou, e então se lembrou de onde já tinha visto aquele símbolo, um amuleto idêntico àquele, se não fosse o mesmo. Perguntou-se como aquilo tinha ido parar na casa de Sirius. O braço direito da estátua apontava a varinha para o chão e o esquerdo estava cruzado no peito segurando cuidadosamente um objeto que parecia um cetro ou chave, pois a ponta era esculpida como se para encaixar em algo. Deixou sua análise de lado, estava exausto, poderia voltar outro dia. Foi em direção à saída, seguiu pelo corredor e abriu mais a abertura que ele e Gina tinham usado para sair da Câmara após o desmoronamento, tantos anos antes. Subiu pelo encanamento e espantou-se com a claridade que entrava pela janela do banheiro feminino. Seguiu pelas escadas até chegar ao sétimo andar, alguns alunos já desciam para o café da manhã. Não se importou com os olhares de espanto, estava imundo, e ainda trazia a taça na mão, irradiando luminosidade. Entrou devagar no dormitório e pegou roupas limpas, guardou a taça e as anotações de Riddle no malão. Os quatro ainda dormiam. Demorou um bom tempo no banheiro até conseguir retirar toda a poeira do corpo, vestiu as roupas limpas e saiu ouvindo o burburinho de início de manhã, foi até os dormitórios checar os demais membros da equipe. Dênis, que já havia sido liberado pela Madame Pomfrey, dormia a sono alto, Jaquito e Cadu, os batedores do time, estavam acabando de acordar, avisou a eles para tomarem cuidado com os alunos da Sonserina. Desceu para o Salão Comunal ao invés de ir para a cama, queria saber como estavam as garotas. Encontrou Rony, ainda de pijama, conversando com uma sonolenta Hermione. Harry!! – Rony o cercou, apressado. – Você não dormiu aqui, eu acordei e sua cama ainda estava arrumada! – acusou.
–
–
Eu cheguei há pouco... Não dormi ainda.
–
Então é verdade o que estão dizendo? – Hermione perguntou após um bocejo.
O que estão dizendo?! – Harry se irritou imaginando os sonserinos contando vantagem por tê-lo pego pelas costas, desprevenido e na covardia de três contra um.
–
–
Na verdade, foi a Murta. Ela contou que você e Evandra se beijaram – Hermione explicou.
Ah! Isso? – Harry desarmou-se, o episódio parecia ter ocorrido há muito tempo. A noite tinha durado, para ele, uma eternidade. – Foi ela quem me beijou!
–
E você não?! – Rony revirou os olhos. – É melhor você decidir logo se gosta mesmo dela... – Rony sugeriu, impaciente.
–
–
O fato de gostar de beijá-la não quer dizer que eu goste dela! – defendeu-se.
Não tem como você não gostar de uma garota e gostar do beijo dela – Rony afirmou. – Assim como é impossível você gostar de alguém e não gostar do beijo dessa pessoa, não é? – Rony pediu a opinião de Hermione.
–
Bom... até agora eu não tive esse problema... – Hermione afirmou, esfregando os olhos, parecia que tinha dormido muito pouco.
–
Rony ficou feliz e surpreso com sua resposta, tentou esconder o sorriso enquanto se largava Elisa Vrastani - Magia, Poder e Destino I
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em cima de uma poltrona. Harry olhou de um para outro, não tinha imaginado que as coisas entre eles tivessem avançado tanto. –
Não acredito que estamos falando sobre isso! – Harry reclamou. – E a Gina?
–
Ela ainda não sabe... – Hermione o avisou.
–
Eu só quero saber se ela está bem! – explicou, mal-humorado.
Por quê? O que eu ainda não sei? – Gina apareceu detrás dele com os cabelos molhados do banho espalhando seu perfume pela sala.
–
Ei, eu te vi ontem! Tinha que ficar com aquele pessoal o tempo todo? – Rony saltou da poltrona e se aproximou da irmã, novo alvo do seu sermão.
–
Eu também te vi ontem – Gina rebateu, fazendo Hermione corar. – Não tenho culpa de você não saber dançar.
–
–
Mas tinha que passar a noite toda dançando? – Rony insistiu, não se deixando intimidar.
–
Eu sou popular, tá legal? Eu só estava dançando com meus colegas, que mal há?
Azar o seu! – Rony deu de ombros, enfezado, e foi para perto de Hermione, ela o olhou compassiva.
–
Não entendi... – Gina olhou de Rony para Hermione, pedindo explicação, depois se virou para Harry – Você também acha que eu fiz algo de mais?
–
Não é problema meu – Harry respondeu, azedo, deixando Gina desconcertada. – Cátia! Você e Demelza estão bem?
–
Sim... – Cátia, que tinha acabado de descer, estranhou sua pergunta. – Demelza ainda está dormindo... Por quê?
–
Porque três jogadores do time da Sonserina me atacaram ontem à noite, me jogaram numa parte desativada da masmorra, só consegui sair hoje de manhã – Harry resumiu para eles o acontecido, irritado por ter sido o único escolhido como alvo por eles, alguns dos alunos que desciam para o café pararam para ouvir também.
–
–
O quê?! E nós pensamos que você estava...
–
Comemorando... – Hermione interrompeu Rony antes que ele falasse demais.
–
É foi muito divertido... – Harry levantou a manga da blusa para mostrar as marcas da corda.
–
Vamos dar queixa à Professora McGonagall! – Cátia sugeriu, horrorizada.
–
E o que você fez com eles, nada? – Gina perguntou, revoltada.
Eu fui atacado pelas costas! – Harry se defendeu. – Fui amarrado e amordaçado, e ainda pegaram a minha varinha... – Harry ficou paralisado por alguns segundos olhando os presentes – Minha varinha...!
–
Harry caminhou para a saída, decidido, deixando-se dominar pela fúria. Ouviu Hermione falando algo a Rony sobre o fato dele ainda estar de pijama. Lançou-se escada abaixo, o mais rápido que pôde, deixando que a ira o recarregasse e espantasse seu cansaço. Entrou no salão e foi direto para a mesa da Sonserina, encontrou Urquhart e Harper cochichando à mesa. Vocês dois, vamos lá pra fora! – Harry ordenou aos espantados sonserinos. – Agora! – insistiu ao ver que eles continuavam paralisados. Draco observava, curioso, da outra extremidade.
–
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–
Calma aí, cara, a gente passou lá hoje de manhã pra te soltar... – Harper começou a gaguejar.
Muita gentileza... O que foi? Estão com medo de um aluno desarmado ou é porque vocês só atacam pelas costas? – Harry foi em direção ao saguão, não dando importância aos curiosos. Ficou atento a qualquer movimento que pudessem fazer às suas costas. Precisava de um escudo e conjurou um, sentiu uma energia sendo liberada de seu corpo envolvendo-o por completo.
–
O que foi, Potter, não aguenta uma brincadeira? – Urquhart debochou quando chegou ao saguão. Harper, ao seu lado, não parecia tão confiante assim.
–
–
Eu quero a minha varinha de volta!
Até que eu gostaria, mas ela não está mais com a gente não... – disse Urquhart, sorrindo. Seu sorriso virou uma careta de medo quando foi erguido pelos tornozelos e elevado à altura do teto.
–
Harper sacou a varinha, Harry ergueu a mão, defendendo-se instintivamente, nem sentiu quando o feitiço tocou seu escudo. Desarmou-o e o jogou contra a parede com um simples desejo. Onde está a minha varinha?! – repetiu, furioso. Alguns alunos que tomavam café agora saiam para assistir, e os que estavam chegando paravam por ali mesmo.
–
Harry! Faz ele descer, os professores... – Hermione parou ao seu lado, Justino também, empunhando a varinha, mas não tinha nada a ser feito.
–
Está no telhado da torre de Adivinhação! – Harper informou, amedrontado, tentado se desgrudar da parede. – Fizemos levitar até o telhado ontem, eu posso voar até lá e trazer pra você!
–
–
Harry... – Gina pediu.
Harry deixou que ele se soltasse. Urquhart despencou do teto, gritando, algumas garotas deram gritinhos tampando os olhos, Harry fez com que ele parasse a alguns centímetros do chão, depois o liberou. –
Isso foi pelo chute – disse Harry.
Mas o que é que está acontecendo aqui?! – Minerva apareceu acompanhada da Professora Sprout. Harry nem tinha pensado na presença dos professores quando se dirigiu à mesa da Sonserina. – Isso aqui é uma escola! O que vocês estão pensando?
–
Raven também surgiu, descendo as escadas correndo. –
Professora, é que eles... – Harry tentou se justificar.
Harry, por que será que não estou surpresa em te ver envolvido nisso? – Minerva o olhou severamente e depois para Urquhart e Harper. Os três venham comigo, agora! – ordenou antes de se afastar.
–
–
Será que eu posso...? – Raven pediu, cautelosa.
Eu cuido disso, Professora Sterling. – Minerva a dispensou energicamente. Harry seguiu a Professora Minerva junto com os outros dois.
–
Rony apareceu descendo as escadas, esbaforido. Harry pediu que ele fosse até o alto da torre checar se sua varinha estava mesmo lá. Lançou um olhar irado a Harper que o fez estremecer. Assim que chegaram à Sala dos Professores Cátia apareceu também, com os capitães dos times da Corvinal e Lufa-lufa, que se uniram a ela para protestar temendo que seus jogadores fossem os próximos alvos. Harry recontou a história à Professora McGonagall. Eu não esperava isso de vocês, quanta imaturidade! – Minerva reclamou com Harper e Urquhart. – A antiga Ala de Salazar é proibida aos alunos! É muito perigoso lá embaixo, há
–
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risco de desmoronamentos...! Harry e os três Capitães ouviram em silêncio enquanto ela ralhava com os sonserinos. Além de tirar cinquenta pontos de cada um ela prometeu escrever aos pais deles informando o ocorrido, deixando a cargo de Snape, Diretor da Casa, a detenção que iriam cumprir. Minerva os liberou e foi com Harper e Urquhart em busca de Vaisey e Snape. Os quatros saíram satisfeitos. O que eu perdi? – Rony lhe entregou a varinha.
–
A cara de medo do Capitão da Sonserina e um Harper apavorado... – Harry comentou, divertido, guardando-a no bolso.
–
Raven e as meninas também o aguardavam do lado de fora da sala. Eu vi o que você fez... O que estava querendo? – Raven o olhava séria e preocupada.
–
Mas você não viu o que eles me fizeram primeiro... – Harry se defendeu.
–
Foram até a sala de Raven e Harry contou a eles, em detalhes, tudo o que tinha acontecido enquanto ela inspecionava seus ferimentos. Ficaram impressionados com a história, intrigados com os pertences deixados por Riddle, tinham muitas suspeitas e suposições, mas Harry não estava mais conseguindo prestar atenção, estava muito cansado. Por insistência de Raven, adormeceu em seus aposentos enquanto eles examinavam seu achado.
No primeiro intervalo que tiveram para ir à Sala Precisa Harry levou as anotações e a taça de Riddle. Rony e Hermione também se entusiasmaram com o nome do vilarejo, assim como ele, estavam convencidos de que tivera alguma coisa lá. Harry estava se dedicando a descobrir uma maneira de retirar o anel de dentro da taça. A maneira mais lógica de pegá-lo parecia ser bebendo seu conteúdo, mas para ele isso se assemelhava a um convite para o chá feito por Snape. –
Você não deveria ter trazido isso, Harry.
Hermione, Gina e Raven tinham tido aversão à taça. Rony tinha impedido que elas a jogassem ao fogo enquanto Harry permanecia desacordado. Por que eu a deixaria lá, abandonada? Esse anel é importante, para ele ter se dado ao trabalho de protegê-lo... – Harry revirou a taça nas mãos, admirando o anel flutuando no líquido translúcido. Já haviam tentado invocar o anel, quebrar a taça, e vários outros feitiços, mas sem sucesso. Abriu o Lord.
–
Hermione passou a se concentrar nas anotações deixadas por Riddle, um mapa e explicações de como chegar ao local. Harry procurou, no Lord, por feitiços e encantamentos que pudessem usar para proteger a joia, não demorou para encontrar o que buscava. Acho que eu achei, as descrições conferem... – Harry passou para Rony o livro aberto, para que também o analisasse. – O encantamento está na taça, e não no líquido, que pelo jeito, é água comum. O objeto só pode ser usado para a sua função original, no caso da taça, para se beber algo, só assim se terá acesso ao anel...
–
E o que a bebida fará com a pessoa que estiver a fim de pegar o anel? – Hermione perguntou, desconfiada de tanta facilidade.
–
–
Não sei... Pode ser que ele tenha usado outro encantamento para isso, ou não...Quem sabe ele
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não o deixou lá justamente para que o próximo que abrisse a Câmara ou os aposentos de Slytherin o pegasse, e essa proteção seja somente para conservá-lo... –
Não seja bobo! – Hermione voltou a analisar o mapa, irritada.
–
Enchê-la parece ser bem fácil, mas esvaziar... – Rony comentou.
Harry olhou para ele e sorriu, procurou em volta da sala até achar o que estava precisando. Pegou a jarra e virou o seu conteúdo, lentamente, dentro da taça, até que ela começou a transbordar e o anel flutuou até a superfície e caiu. Rony também sorriu , depois de tentarem tantos feitiços para tentar pegar o anel, uma solução bem simples. Harry estendeu a mão para pegá-lo mas a retirou depressa. –
O que foi?
Está dando choque... – respondeu Harry a Rony. – Tentou novamente e conseguiu colocá-lo na palma da mão.
–
–
Conseguiram?! – Hermione voltou a prestar atenção neles. – Acho melhor não fazer isso...
Mas Harry colocou-o no indicador, ficou muito largo a principio, mas aos poucos foi se ajustando ao seu tamanho, imaginou ele que a magia do anel o estava aceitando como seu legítimo dono. –
É lindo, não é? – perguntou, feliz por tê-lo finalmente.
–
O que será esse desenho? – Rony indicou a pedra verde.
–
Um brasão de família – Harry respondeu.
Como é que você sabe? – Hermione não gostou de vê-lo usando o anel. – Pode ser qualquer coisa, por que não o mostra a Dumbledore? – insistiu, pois já havia sugerido isso e Harry a ignorou.
–
Porque é meu – ele respondeu encerrando a questão. – Agora estou curioso para saber como o medalhão de Slytherin foi parar com os Black...
–
–
Se for mesmo o medalhão de Slytherin... – Hermione fechou a cara para ele.
–
Daqui há algumas semanas será natal, poderemos perguntar pessoalmente... – Rony sugeriu.
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CAP. 20 - LITTLE HANGLETON Raven e Gina, assim como Hermione, também se opuseram ao fato de Harry usar o anel, mas ele não se incomodou. Raven passou a semana vigiando-os, a todo intervalo os procurava para saber se estava tudo bem. Raven, a Professora McGonagall já cuidou deles, eles não vão tentar mais nada, mesmo se quisessem – Harry reclamou na sexta-feira. Os três sonserinos estavam cumprindo suas detenções na torre, terminando a tarefa que tinha sido dada a Harry, Rony e Hermione.
–
Tá bom! Desculpe-me, vocês só vão voltar a me ver na terça-feira, durante a aula. – Raven anunciou com uma expressão compenetrada que a fazia se parecer mais com a imagem que tinham de uma professora.
–
Não! Eu não quis dizer isso! – Harry se desculpou. – Eu só não quero que você fique se preocupando...
–
Raven sorriu para ele. Estou dizendo isso porque vou passar o fim de semana fora e só volto na segunda. Não se preocupe, não vou desistir de você... – piscou um olho para ele e se afastou.
–
–
O que será que ela tem? Está tão séria – Hermione comentou quando ela se foi.
Não sei... mas ela não vai estar aqui amanhã... – Harry disse, pensativo. – Então é uma ótima oportunidade para a gente ir em busca de informações, Dumbledore está fora também.
–
–
Amanhã? Mas e as suas lentes? – Rony o lembrou, Sirius ainda não as havia enviado.
–
Não vou ficar esperando... vou levar a minha capa – ele decidiu. Rony e Hermione trocaram um olhar meticuloso e concordaram.
Desceram para o café, na manhã seguinte, e não encontraram Raven, ela já havia partido. Saíram do castelo e foram caminhando em silêncio. Tudo estava do jeito que se lembravam, as janelas lacradas, os poucos móveis, quebrados. A Casa dos Gritos ficava fora dos domínios de Hogwarts, não havia proteção ali. Hermione consertou e limpou uma mesa, onde depositou os pertences que retirou de sua bolsa tiracolo, potes de gel, cremes, prendedores de cabelo... Em trinta minutos estavam prontos, dois meninos e uma menina de cabelos pretos, vestindo roupas comuns. Hermione tinha prendido o cabelo num rabo-de-cavalo e usava óculos sem graus. –
Vamos? – Hermione perguntou a eles alguns minutos depois.
Harry vestiu a capa e eles se deram as mãos. Aparataram no Beco Diagonal, em frente à loja de artigos esportivos que sabiam estar fechada. Como da última vez, o Beco estava quase vazio. Olhem! De novo, outro Comensal saindo de Gringotes! – Harry disse, observando um homem idoso que ia apressado, carregando uma valise.
–
Não comece! Já decidimos isso, hoje só vamos trocar o dinheiro, ou você desistiu de Little Hangleton? – questionou Hermione.
–
Harry concordou, de má vontade. Tinham que visitar um lugar de cada vez, não podiam Elisa Vrastani - Magia, Poder e Destino I
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demorar e ele ainda queria fazer uma consulta na Biblioteca local. –
É melhor ficarem aqui, eu vou e volto logo. – Hermione decidiu.
–
Combinamos de ficarmos juntos! Sem mudança de planos, lembra? – Rony reclamou.
–
Eu sei, mas o Banco pode estar cheio... – Hermione disse a ele com um olhar intenso.
Que seja. – Harry concordou, percebendo que ela queria se referir a ele. – Mas se você demorar nós iremos entrar.
–
Hermione se afastou rapidamente. Rony ficou puxando conversa com Harry o tempo todo, fazendo perguntas bobas. Você não está nervoso, está? Lembre-se que eu não estou aqui, você está conversando com as portas de uma loja fechada...
–
–
É verdade... – Rony lembrou, olhou ao redor. – Me dê a sua mão então...
–
Obrigado, mas eu não estou com medo. – Harry riu.
–
Estou falando sério, eu quero saber onde você está.
Para... você está parecendo a Mione... Não me diga que vocês estão virando a alma gêmea um do outro... – Harry brincou com ele.
–
–
Isso incomoda você? – Rony perguntou com seriedade.
Não, claro que não! Eu estou feliz por vocês – respondeu com sinceridade. Desde o jogo contra Sonserina, ele inventava desculpas para se afastar e deixar os dois sozinhos durante os tempos vagos que tinham juntos, mas eles sempre davam um jeito de estar por perto. Disse isso a Rony.
–
–
Não... não queremos assim, nada muda entre a gente, ainda somos um trio, certo?
Hermione voltou e sugeriu que aparatassem numa viela que dava para os fundos de um prédio desativado e que ficava a poucos quarteirões da Biblioteca, assim o fizeram. A viela estava deserta, exceto por alguns gatos vira-lata e um mendigo que dormia encolhido a um canto. Seguiram em direção à rua principal, não havia muito movimento, ainda era cedo. Rony se encantou com uma casa de jogos, mas Harry e Hermione o apressaram. O prédio histórico possuía dois andares, Harry e Rony ficaram assombrados com o tamanho, nunca haviam estado lá antes. Harry se livrou da capa e foi em direção à galeria de livros. Não, por aí não! – Hermione o puxou. Subiram até o segundo andar onde ficavam os computadores. – O que você quer pesquisar primeiro? – perguntou a Harry.
–
–
Sobre Little Hangleton... – Harry pediu.
A tela se encheu de links de notícias recentes, foram abrindo um por um, em busca de algo interessante. Isso é muito legal! – Rony exclamou, assombrado, pois até então não tivera acesso à tecnologia trouxa. – É melhor que o seu livro, Har... Bryan!
–
Tinham combinado de usarem somente os nomes fictícios quando estivessem fora de Hogwarts, Hermione atenderia por Samantha. Poderíamos ter um desses em Hogwarts... Para quê perder tempo desfolhando centenas de livros?
–
Que bom que pensa assim, eu estou querendo começar um projeto de digitalização da cultura bruxa... – Hermione sussurrou, embora estivessem sozinhos no laboratório alguém
–
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poderia aparecer de repente. – Você pode me ajudar... –
Claro, Sam... O que você quiser...
Por que vocês não vão procurar por alguma notícia que possa ser interessante, algo fora do comum? – Harry sugeriu enquanto lia as reportagens.
–
Samantha levou Mat para outro terminal, para ensiná-lo sobre informática. Após duas horas tinham em mãos, impressas, as principais notícias dos últimos meses. Ocuparam uma mesa do salão de leitura para discutir o próximo passo. Houve alguns relatos trouxas de atividades estranhas na floresta que circunda o povoado, datados da mesma época que as denúncias de bruxos mascarados no local. – Harry começou informando-os. – Pelo o que eu entendi, essa colina que Riddle marcou no mapa tem fama de ser mal assombrada, os trouxas evitam ir até lá, superstições...
–
Que bom... fantasmas não são perigosos – Rony comentou, despreocupado. – Se bem que podem ser espíritos agourentos, poltergeist, ...
–
–
Pode ser só magia defensiva. – Hermione o tranquilizou.
Seja o que for, nós descobriremos... Vamos? – Harry os convidou, levantando-se. Hermione guardou os papéis em sua bolsa e foram em direção ao banheiro.
–
Little Hangleton ficava há duas horas do centro, como bruxos também habitavam o local Harry teve que ficar sob a capa. O povoado não era muito grande, o comércio era modesto, havia escolas e um hospital. Percorreram as ruas observando as casas, sem saber o que procurar. Hermione tirou da bolsa o mapa feito por Riddle, havia várias colinas rodeando o povoado. –
O lugar que estamos procurando fica na direção do cemitério – Hermione avisou.
Que coincidência! – reclamou Rony – Um lugar mal assombrado que fica no meio da floresta e ainda, na direção do cemitério...
–
Hermione pediu informação a um homem que passeava com o cão. Voltaram pelo mesmo caminho e depois seguiram em direção ao leste. Vão andando e esperem por mim em frente ao cemitério, preciso comprar umas coisinhas – Hermione falou ao chegarem próximo aos comércios.
–
– –
Quer que a gente espere por você em frente ao cemitério?! – Rony bufou. O que isso tem de mais? – Hermione perguntou, já se virando para partir.
Nada... – Rony respondeu, meio encabulado. – Não demora! – gritou enquanto ela se afastava.
–
–
O que foi? Você não tem medo de fantasmas. – Harry estranhou seu nervosismo.
Não estou pensando em fantasmas, estou pensando em criaturas das trevas de verdade, criaturas horripilantes...
–
Então não pense... Anda Mat! Talvez tenha algo interessante lá. – Harry o chamou enquanto se afastava.
–
Seguiram pela rua. Alguns minutos depois, após passarem pelas últimas casas, viram o extenso muro do cemitério. Por que será que aquelas senhoras ficaram olhando pra gente? Será que eram bruxas? – Rony perguntou, cismado.
–
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Talvez... – Harry procurou pelo portão – Porque não somos daqui.... e porque você estava falando sozinho. – sorriu e tirou a capa, não havia ninguém por perto ou casa, se dirigiu ao portão de entrada.
–
–
Aonde vai?
–
Procurar alguma pista enquanto Samantha não volta, não temos muito tempo...
–
Mas... Quem disse que tem alguma coisa lá dentro? – Rony perguntou, nervoso.
–
Você... você tem razão, é muita coincidência... Harry parou quando chegaram ao portão e ele avistou o interior do cemitério.
–
O que foi?
Nada... Cemitérios são todos iguais... – Harry respondeu após algum tempo, mas aquele em especial lhe trazia péssimas recordações que, provavelmente, voltariam a assombrar seus sonhos durante a noite.
–
Seguiram em silêncio pelos túmulos, observando os nomes das lápides. Não havia nada que chamasse a atenção ali, mas um nome não saía de sua mente, estava ficando cada vez mais desconfiado, embora durante o dia não parecesse tão assustador. Vocês estão procurando alguém? – a voz veio de uma lápide próxima ao local onde estavam, um homem estava ajoelhado ali, fazendo reparos, parecia ser o responsável pelo local.
–
Não... – Harry deixou escapar, com a voz fraca. – Não – repetiu com maior firmeza. Rony tentou sorrir para o estranho, para disfarçar seu nervosismo. – É aqui que estão enterrados os Riddle? – Harry perguntou a ele.
–
Ah, sim... é só seguir em frente – o homem respondeu, observando-os com curiosidade. Harry apenas olhou na direção que ele indicava.
–
O Senhor sabe me dizer se alguém esteve visitando o túmulo recentemente? – Harry pediu enquanto Rony olhava ao redor.
–
Vocês não são daqui, não é? – o homem levantou com dificuldade, a idade pesando sobre os ossos cansados. – Isso aconteceu há muito tempo, existem outras histórias interessantes na cidade...
–
–
Mas ninguém fez perguntas sobre o túmulo, ou levou alguma coisa?
Nada sai daqui de dentro sem a autorização das famílias, e eu saberia se tivessem – invocouse. – Já tem quase dois anos que estiveram aqui, por que querem saber? Quem são os pais de vocês?
–
Rony pediu desculpas e puxou Harry em direção à saída antes que ele pudesse responder. –
Qual o problema? – reclamou Harry – poderíamos convencê-lo a dizer mais alguma coisa.
Ele disse que vieram há quase dois anos! O que aconteceu aqui a dois anos atrás? – Rony perguntou. Harry compreendeu. – Podem ter sido os funcionários do Ministério, investigando, ou da Ordem, mais provavelmente...
–
Encontraram Hermione do lado de fora, aguardando impacientemente. Ela trazia três pacotes de lanches para a viagem. Então, seja o que for que ele estava querendo aqui, deve ter algo relacionado com a família dele, acha melhor procurar a casa dos Riddle? – Hermione perguntou enquanto comiam sentados na calçada, em frente ao cemitério.
–
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Não, ele marcou a colina, deve ter algo lá – Harry consultou o relógio. – Podemos voltar outro dia e revistar a casa se ainda estiver abandonada.
–
Hermione tirou as anotações da bolsa e estudou a direção correta. Entraram pela floresta. Após vinte minutos de caminhada começaram a subir, a floresta era densa e não conseguiam avistar o povoado, paravam de vez em quando para executar o Feitiço dos Quatro Pontos. –
Por que a gente não aparata logo lá em cima? – Rony sugeriu após algum tempo.
–
Não sabemos onde está o que procuramos, nem sabemos o que é...
Justamente, pode estar em qualquer lugar ou direção – Rony insistiu. – Pelo menos, descer é mais fácil.
–
Fiquem aqui, eu vou dar uma olhada. – Harry impulsionou-se e foi acompanhando os galhos até chegar à copa das árvores. O povoado parecia estar bem distante, à frente deles viu apenas árvores.
–
Rony tem razão, é melhor subirmos, a visão daqui de baixo é muito ruim – Harry disse quando voltou ao chão.
–
Não! Vamos continuar, pode ter alguma coisa por aqui – Hermione continuou a caminhada, e eles a seguiram, prestando a atenção a qualquer anormalidade.
–
Quando chegaram no alto Rony se jogou no chão, cansado, e Hermione se sentou ao seu lado. As árvores impediam a visibilidade para o povoado, ela executou novamente o Feitiço dos Quatro Pontos para verificar se estavam na direção correta. Venham ver isso – Harry os chamou. A descida, do outro lado, era íngreme e com poucas árvores, dando uma melhor visibilidade da planície abaixo.
–
–
É lindo! – Hermione exclamou, parando ao seu lado.
O que é aquilo? – Rony apontou para um arvoredo à direita, um pouco abaixo de onde estavam, havia algo entre as árvores, parecia uma construção.
–
Tentaram achar uma trilha que os conduzisse até lá, mas não havia nenhuma, desceram com dificuldade, deslisando pela encosta. As árvores se agitaram de repente, como se atingidas por um vendaval, tudo o mais, ao redor, permanecia quieto. Acho que encontramos, não é? Deve ser uma casa mal assombrada. – Rony parou quando alcançaram a primeira árvore.
–
Mas de quem será? – Hermione se adiantou e Harry segurou o seu braço, pegou a varinha e foi andando na frente.
–
O vento os recebeu com uma chuva de terra. Ergueram as mãos protegendo os olhos. –
VÃO EMBORA! SAIAM DE MINHA PROPRIEDADE! – A voz chegou num silvo rouco.
–
Desculpe! Não queremos incomodar! – Harry gritou em resposta, sibilando.
O vento parou tão repentinamente como quando começou. Espanaram a terra das roupas. A figura translúcida de um velho apareceu em frente a eles, olhando-os com curiosidade. –
Faz muito tempo que não ouço um ofidioglota.... – o velho sibilou para eles. – De onde são? Hermione e Rony se aproximaram mais de Harry, sem entender o que estava acontecendo.
Nós estamos vindo de Hogwarts... – Harry sibilou. – Podemos fazer algumas perguntas? – O velho olhou dele para os outros dois, estudando-os. – De quem é essa casa? – perguntou em linguagem humana para que Rony e Hermione pudessem entender também, enquanto sacudia a
–
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201
terra dos cabelos. Como conseguiu esse anel? Onde o pegou? – O velho sibilou. Aproximou-se pairando à sua frente, os olhos fixos no anel em sua mão.
–
É meu – respondeu descuidadamente. O velho arregalou os olhos, examinando-o, seus cabelos negros, seu rosto, ficou um tempo encarando-o nos olhos.
–
Eu não acredito que esteja aqui... – disse por fim, emocionado. – Tive esperanças, mas pensei que nunca chegaria a conhecê-lo...
–
–
Me... me conhecer? – Harry gaguejou sentindo uma pressão estranha no peito.
Um bisneto... Eu tenho um bisneto... – o velho pareceu, de repente, ainda mais frágil e cansado. – Há anos tenho aguardado que seu pai voltasse aqui, e agora estou conhecendo você, que é mais do que eu poderia esperar...
–
–
Harry...? – Hermione segurou sua mão.
–
Harry... – o velho repetiu, sorrindo – E vocês...também...?
São meus amigos... – Harry os apresentou. Ele os olhou rapidamente mas se demorou estudando as feições de Harry. – Desculpe, mas como se chama?
–
Ah... entendo... Eu sou Servolo Gaunt – o velho baixou a cabeça, decepcionado. – Seu pai não falou sobre mim...
–
Não... – disse lentamente, estava falando com o avô de Tom Riddle, sentiu-se ansioso, sempre tivera vontade de conhecer a própria família, agora estava conhecendo a de Voldemort. – Eu achei o mapa deste lugar por acaso... O senhor é pai...
–
Sou o pai de Mérope, sua avó. – Servolo se afastou em direção à construção, Harry soltou a mão de Hermione e o seguiu.
–
Não havia mais telhado, todo o segundo andar já tinha desabado, era só uma lembrança da imponente mansão que havia sido um dia. Lembro-me da única vez em que esteve aqui – Servolo parou na varanda e se virou para a propriedade, Harry ficou aos pés da velha escadaria, que já não possuía a maioria dos degraus. – Um pouco mais velho do que você é hoje. Minha Mérope fugiu de casa para viver com o pai dele por causa da minha intolerância... Na época, não pude permitir ver a minha filha, descendente de Salazar Slytherin, apaixonada por um trouxa. Foi meu pior erro Harry... e eu me arrependo até hoje... – Gaunt o olhou tristemente.
–
Conte-me mais – Harry pediu, sentou-se em um dos degraus que restavam, o que aconteceu depois? Eu sei que o pai dele a abandonou e ela morreu dando à luz, deixando-o sozinho para ser criado em um orfanato, mas por que ninguém foi buscá-lo?
–
–
Eu fui... – Servolo baixou a cabeça, envergonhado. Rony e Hermione se aproximaram e sentaram ao lado de Harry.
Quando soube que Tom Riddle tinha voltado sozinho eu fui procurar minha filha. Se eu tivesse sido mais compreensivo ela não teria tido medo de voltar. Quando eu consegui encontrar seu paradeiro, três anos já haviam se passado. Minha Emily já tinha partido, a tristeza por ter perdido nossa única filha a levou. Eu estava sozinho e descobri que minha filha tinha morrido trazendo ao mundo o filho daquele... – suspirou. – Eu não tive coragem, não tinha mais forças, ele era tão parecido com o pai... – lamentou-se. Deslizou para perto de Harry mirando seus olhos. – Você não, você deve se parecer com sua mãe... de que família ela descende?
–
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–
Minha mãe nasceu trouxa – afirmou Harry, com desafiante orgulho.
–
Ela deve ser uma bela mulher... – Gaunt considerou.
Era... Seu neto a matou quando eu tinha um ano de idade... – Harry começou a contar a verdade.
–
Não! Não...! – O Sr. Gaunt se desesperou, assustando-os. Pairou para longe e depois regressou rapidamente. – Isso não pode continuar, esse ciclo de ódio que está arruinando nossa família, geração a geração! Você o odeia! Assim como ele odiou o próprio pai e minha filha, a mim... Será que fui eu quem os condenou a isso? Será que nunca vou ter paz?!
–
Harry trocou um olhar com Rony e Hermione sem saber o que fazer ou dizer, eles o olharam assustados, sem reação. Não é culpa sua ele não ter perdoado o pai – Harry disse, tentando acalmá-lo. – Ele, talvez, tenha se arrependido de tê-lo matado...
–
Ele te contou… – Servolo ficou surpreso, deixou os olhos se perderem na direção dos sabugueiros – Sim... na noite em que veio aqui. Tom Riddle nunca se interessou em saber deles, eu mesmo o teria feito, mas não quis magoá-las ainda mais, minha Mérope e minha Emily... Naquele dia, há muito meu corpo havia perecido, mas minha culpa me manteve aguardando por todos os minutos desses longos anos... E ele veio, atrás de suas raízes, seus direitos, não havia mais nenhum parente vivo e a fortuna da família há muitas gerações havia se perdido, restara apenas o medalhão com o brasão dos Slytherin, que Mérope levou consigo, mas creio que o perdeu, pois ela não o tinha quando a trouxe para junto de sua mãe; e esse anel... que me acompanhou até a morte...
–
Hermione olhou para a mão de Harry, Rony fez uma careta de repulsa. Harry tentou tirá-lo do dedo, Riddle tinha profanado o túmulo do avô para pegá-lo. Não! Por favor, fique com ele, é seu! – Servolo protestou. – Fico muito feliz em saber que está com ele, que os Gaunt continuarão a ser lembrados...
–
–
Não restou mais nada? – Harry perguntou, aceitando o anel.
Só a propriedade... foi construída pelo próprio Salazar, quando abandonou Hogwarts... uma herança que ruiu com a ação do tempo e a falta de magia.
–
Harry olhou as ruínas analisando aquela informação. –
Não há compartimentos secretos, câmaras,...?
Havia sim – Servolo informou, entusiasmado por ter alguém com quem falar depois de tantos anos, satisfeito por ser com seu descendente. – Mas não há mais nada lá, seu pai também esteve interessado naquela época e homens mascarados vieram aqui há pouco tempo também procurando...
–
–
Procurando o quê? – Hermione demonstrou interesse, mas logo se calou, corando.
–
O Cetro de Slytherin... tolos, é o que são. – Gaunt flutuou indo em direção aos sabugueiros.
–
Por quê? Eles não o acharam? – Harry se levantou. Gaunt parou e se virou para ele.
Ah... – Gaunt deu um muxoxo de insatisfação. – Contavam, nossos ascendentes, que quando os trouxas começaram a formar o povoado lá embaixo, Salazar se retirou para sua outra propriedade, um refúgio, onde guardava seus bens mais preciosos, mas ninguém conseguiu encontrá-la. Salazar era um bruxo magnífico e a protegeu bem, muitos já se interessaram ao longo dos séculos, mas ninguém conseguiu achar indicações de onde isso seria ou do paradeiro do cetro, que ele levava sempre consigo.
–
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O cetro é uma chave? – Harry lembrou-se do estranho formato que o cetro apresentava nas mãos da estátua da Câmara Secreta.
–
Dizem que sim... – disse Servolo Gaunt. – Mas isso é mais lenda do que realidade. Sinto por não ter sobrado mais nada para vocês...
–
Está tudo bem... – Harry o confortou. – Ele se orgulha muito de ser um descendente de Salazar Slytherin...
–
–
Ele disse que nunca me perdoaria... – Servolo lamentou-se. Viram dor em seus olhos.
Eu o perdoo – disse Harry, com sinceridade. – E acredito que Mérope também tenha te perdoado...
–
Tentou por a mão em seu ombro, mas o frio se espalhou até sua espinha quando sua mão o atravessou. Servolo fechou os olhos, as lágrimas peroladas escorrendo por sua face, desvaneceu lentamente, partiu. Harry levou a mão à cabeça, ficou momentaneamente tonto, sentiu um vazio no peito, uma enorme sensação de perda. Respirou fundo. –
Pra onde ele foi? – Rony olhou ao redor.
–
Foi embora. – Harry declarou.
Foi andando até os sabugueiros, não demorou a localizar as três lápides. Cortou o mato que crescia ao redor e reparou a lápide profanada. Ajoelhou-se diante do túmulo de Mérope e ficou tentando imaginar como ela teria sido. Vem, Harry, vamos voltar. – Hermione o segurou pela mão e o fez se levantar. Voltaram para a Casa dos Gritos.
–
Harry ouvia em silêncio enquanto Rony e Hermione se arrumavam e repassavam as informações obtidas. O que levou Você-Sabe-Quem a mandar seus seguidores até lá foi o interesse pela herança perdida de Slytherin. – Hermione disse enquanto soltava o cabelo e tirava o disfarce.
–
Que perda de tempo, isso nem deve existir... Você não acha, Harry? – Rony perguntou a ele para trazê-lo de volta. Harry apenas deu de ombros e continuou calado. – Você não precisa se culpar por ter mentido para o Sr. Gaunt, com certeza ele está melhor agora, sem o peso da culpa.
–
Eu não menti Rony... Eu o perdoei, por ter contribuído para fazer de Tom Servolo o que ele é hoje, o homem que matou os meus pais...
–
–
Você está se sentindo bem? – Hermione perguntou, observando-o de longe.
–
Estou... – mentiu.
–
O que você quer fazer agora? – ela perguntou enquanto seguiam de volta ao castelo.
–
Não sei, talvez...
–
Ei, garotos! – Hagrid os chamou, saindo da floresta. – O que estão fazendo?
–
Oi, Hagrid! Dando umas voltas... – Rony respondeu a ele.
–
E que tal um chá? – Hagrid os convidou, animado. Foram com ele até sua cabana.
–
O que é isso, Hagrid? – Hermione apontou para a sacola enorme que ele carregava.
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Algumas coisas que o Professor Snape me pediu, ele perdeu muitos ingredientes com a brincadeira que fizeram...
–
Duvido que tenha sido uma brincadeira, Hagrid – Rony comentou, sorrindo. – A maioria dos alunos não gosta dele.
–
É, mas vocês não tiveram nada a ver com isso, não é? – Hagrid olhou de soslaio para Harry, este suspirou.
–
Ele continua dizendo que fui eu... – Harry deduziu. – Mas eu já disse várias vezes que não fiz nada...
–
Nem invadiu a sala dele para pegar o animal? – Hagrid perguntou, desconfiado, enquanto servia chá para eles em canecas gigantes.
–
–
Peguei... – Harry admitiu. – Mas foi só pra isso...
Ah, Harry... Você não deve aborrecer o Prof. Snape! Se eu fosse você manteria distância dele daqui para frente... Dumbledore disse a ele, mais cedo, que se não há provas de que foi você...
–
–
Dumbledore esteve aqui hoje?! – espantaram-se.
Ele está no castelo! Dumbledore voltou hoje de manhã – Hagrid informou a eles. Os três trocaram um olhar surpreso, adorariam saber o que o Diretor andava fazendo lá fora.
–
–
E como ele está, Hagrid? O que ele disse?
Ocupado, analisando seus livros antigos, era de se esperar que estivesse cansado, mas há tanta determinação em seus olhos... – Hagrid comentou. – Mas ele sabe que você é inocente... Ele acha que você é... – corrigiu lançando-lhe um olhar reprovador. – Eu mesmo disse: Para que o garoto iria querer escama de moke (lagarto verde-prateado)? E Dumbledore concordou comigo, que serventia teria?
–
–
E para que serve isso? – Rony perguntou curiosamente.
–
A única utilidade que eu conheço é para a poção do Sono da Morte.
–
Poção do quê? – Harry e Rony perguntaram juntos, nunca tinham escutado a respeito.
É só uma poção que simula a morte... – Hermione explicou. – Quem dela beber é dado como morto até que os sintomas passem, o que pode demorar horas... Para quê alguém iria querer passar por isso, pelo risco de ser enterrado vivo? – perguntou olhando para Harry.
–
Ele ficou em silêncio pensando a mesma coisa, o motivo para Draco querer aquilo. –
O que é isso, Harry? Um brasão de família? – Hagrid ergueu sua mão.
É... eu ganhei. – Harry disse, enquanto Hagrid examinava seu anel. – Meu pai não tinha nenhuma herança de família...?
–
–
Ora, Harry, está tudo em Gringotes...
–
Não... não isso, objetos pessoais, fotos, quadros de nossos antepassados, alguma joia...
Não sei... A casa foi parcialmente destruída, o que sobrou continua lá, do mesmo jeito. O Ministério isolou o local na época e lançou feitiços defensivos, uma homenagem aos Potter...
–
–
Ah, sei...
–
Por quê? Você queria alguma coisa?
Não, tudo bem... – ele disse, cabisbaixo, passando o polegar sobre o anel, acariciando-o inconscientemente.
–
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Raven voltou na segunda-feira, como havia dito que faria, mas ela não quis comentar como tinha sido seu retorno para casa, queria apenas saber as novidades, o que eles tinham feito em sua ausência. Contaram a respeito da visita a Little Hangleton, foi a primeira vez que ela se zangou com eles. A intensidade de sua indignação era tanta que conseguiam senti-la pelos seus olhos. Se eu souber que saíram novamente deste castelo sem mim, eu conto tudo a Sirius! – Raven os ameaçou.
–
Você não acha que está exagerando? Não tinha nada... – Rony mudou de ideia e se calou mediante sua expressão feroz.
–
–
Quando você diz “sem você”... – Hermione arriscou.
Quero dizer que vão ter de me levar, se precisarem sair novamente, claro! A vida aqui dentro é um tédio... – confessou descontraidamente, mas logo recuperou o tom brusco e invocado. – E eu não quero que corram riscos desnecessários!
–
Não disfarçaram a animação, o apoio de Raven era importante e poderia ajudá-los muito.
O que mais me chamou a atenção foi a quantidade de pessoas desaparecidas, assim como no nosso mundo, há muitos trouxas sumindo por toda a parte. Não sei se há alguma correlação, talvez não, mas... – Hermione comentou, na Sala Precisa, enquanto analisavam os impressos que haviam conseguido na biblioteca.
–
Harry ficou sentado, acariciando o anel distraidamente, enquanto Rony observava o mapa. Estamos novamente sem rumo. – Rony comentou após algum tempo. – Se Você-Sabe-Quem está mais interessado em caçar tesouros perdidos ao invés de procurar algo que resolva o problema de vocês... O que vamos seguir agora?
–
Hermione pegou um saquinho de presente e despejou seu conteúdo sobre a mesa. Tocou com a varinha as três correntinhas com pingente de coração, separando-as. Que coisa é essa? – Rony soltou. – Quero dizer... pra quê isso? – tentou disfarçar quando Hermione lhe lançou um olhar ofendido.
–
–
Eu comprei em Little Hangleton...
Mas você comprou três iguais... Não era melhor ter comprado enfeites diferentes? – Rony observou.
–
–
Não vou usar os três, é um para cada um de nós – esclareceu a eles. – Anda, peguem! Rony e Harry se olharam alarmados.
–
Isso é de menina! – Rony reclamou.
Era só o que tinha na loja... Vamos ter que usar esse mesmo – Hermione decidiu, indiferente ao ar perplexo deles.
–
Você quer dizer... você e o Rony, não é? – Harry se ajeitou em sua poltrona, sentindo-se desconfortável.
–
Isso é para substituir as moedas – explicou impacientemente e pegou a sua. – O primeiro toque é importante, fará com que eles se abram apenas para a primeira pessoa a tocá-los – mostrou a eles, abrindo seu relicário em forma de coração. – Assim ninguém além de nós poderá ler as mensagens que trocarmos.
–
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Rony e Harry trocaram um olhar cauteloso. Pegaram cada um o seu. Parem de frescura, ninguém precisa saber que estão usando isso! – Hermione reclamou, prendeu sua corrente ao pescoço e a escondeu sob as vestes. Fizeram o mesmo.
–
Na quinta-feira Harry acordou disposto a encontrar Draco. Revirou seu malão, desde que voltara do Ministério a havia jogado ali e se esquecido dela, na hora não soube ao certo porque a queria, mas agora ela lhe serviria bem. Pegou a varinha e prendeu-a no cós da calça. Procurou por Draco, no mapa do maroto, mas não o viu em parte alguma do castelo. Ele também não veio almoçar... – Harry reparou, examinando a mesa da Sonserina horas depois. – Mas deve ir à aula de Poções... dá um recado a ele pra mim...
–
–
Tá brincando?! Eu não vou falar com o Draco! – Rony reclamou, perplexo.
Rony, lembra do que Dumbledore disse, temos que nos unir contra nosso inimigo em comum. Além disso, ele está diferente agora, acho que a convivência com Voldemort fez bem a ele... – Harry gracejou, mas Rony amarrou a cara, desgostoso. – Mione, você pode?
–
–
Tá... tá bom... – Hermione suspirou e revirou os olhos.
Oi... – Evandra os cumprimentou sentando ao lado de Hermione, de frente para Harry e Rony. – Como está a investigação? – perguntou a Harry.
–
Sem grandes descobertas... – Harry respondeu, meio sem jeito. Desde o jogo contra a Sonserina eles não se falavam.
–
–
E no Profeta? – Hermione perguntou, assumindo a conversa. – Alguma novidade?
Bom... O Ministro ameaçou acusar Dumbledore de abandono de cargo por causa de suas constantes ausências, ficaram sabendo? – perguntou Evandra.
–
–
Eles deveriam estar se unindo e não brigando. – Hermione censurou.
Todos no Profeta sabem o quanto o Ministro anda interessado em saber o que o Diretor tem feito, consulta os repórteres constantemente, ansioso por notícias, chegou até a encarregar alguns de conseguir alguma informação... Aquela nojenta da Rita Skeeter...
–
–
Você também não gosta dela? Ela é um horror! – Hermione concordou.
Depois de todas aquelas histórias ridículas que ela inventou sobre o Harry... – Evandra comentou.
–
É, mas descobri um jeito de calar a boca dela. Na verdade, ela foi bem útil. – Hermione assegurou.
–
A publicação que saiu no Pasquim...? – elas riram. – Você deveria fazer mais vezes do seu “jeitinho”, ela tem um sério problema de desvio de moral...
–
Então, é por isso que ele ainda está aqui. – Harry comentou com Rony e olhou em direção à mesa dos professores, onde o Diretor conversava com a Professora McGonagall.
–
Raven estava duas cadeiras depois, em silêncio, parecia totalmente distraída. Harry ficou um tempo a observando, preocupado, depois surpreendeu Dumbledore olhando-o atentamente antes de
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voltar a conversar com McGonagall, teve a impressão de que falavam sobre ele. –
Que lindo o seu anel... – Evandra segurou a mão de Harry sobre a mesa, examinando a pedra.
Harry trocou um olhar nervoso com Rony e depois olhou para Gina, ela estava afastada, sentada com as amigas do quinto ano. Tem mais alguma coisa acontecendo que não esteja saindo nos jornais? – Hermione perguntou à Evandra. Harry puxou a mão de entre as dela gentilmente.
–
Não... nada realmente novo, só alguns boatos... – Evandra voltou sua atenção para ela. – Mas talvez te interesse, Harry, já que... quer dizer... – ficou encabulada de repente.
–
–
O que é? – Rony perguntou com curiosidade.
Não quero dizer exatamente que te interesse... Você tem seu padrinho... É só que o Ministério está querendo criar um lugar especial para bruxos órfãos, menores de idade, sabe, que não tem para onde ir nas férias – disse meio sem jeito.
–
Isso seria ótimo – Harry disse, pensando em si mesmo. – Mas é um pouco tarde, deveriam ter criado isso antes... Uns cinquenta anos atrás... – pensou em Tom Servolo.
–
Que perda de tempo, com tantas coisas acontecendo, tantos ataques... Quantos bruxos órfãos existem na Inglaterra? – Rony reclamou.
–
Tenho a ligeira impressão que o Ministro não está realmente empenhado em resolver problemas – Harry comentou.
–
Quem sabe ele se interesse por projetos inovadores, Hermione, como o de Digitalização e o FALE – disse Rony carinhosamente.
–
Harry se esforçou para não rir, sabia que Rony se interessava pelo FALE tanto quanto ele. –
O que é FALE? – Evandra perguntou para eles.
É um projeto que eu tenho... ainda está em planejamento, Fundo de Apoio à Liberação dos Elfos...
–
–
Sério? – Evandra entusiasmou-se. – Já ouviu falar na DRED?
–
Não... O que é isso?
Dignidade e Respeito aos Elfos Domésticos. Nunca leu nada a respeito? – perguntou decepcionada. – Meu pai escreveu um livro sobre isso, ele começou esse movimento há mais de cinco anos... Nunca ouviu falar de Jonathan Gardner Velaska? Escritor, Historiador...?
–
–
Seu pai?! – Hermione admirou-se, eufórica.
–
Por falar nisso, a Winky ainda está precisando de ajuda... – Harry comentou.
Hermione contou a ela tudo sobre a elfo-doméstico que tinha pertencido ao Bartolomeu Crouch. Rony e Harry ficaram escutando enquanto elas não paravam de falar, parecia que Hermione tinha encontrado uma entusiasta à altura. Quando o sinal tocou elas simplesmente se levantaram e foram para a aula, tagarelando. Harry e Rony as seguiram indignados. Harry seguiu para a Sala Precisa, queria ficar um tempo sozinho para pensar e fazer os deveres. Quando chegou à porta, Draco saiu. –
Ah... Então é você quem anda usando a sala quase o tempo todo... – Harry concluiu.
–
O que você quer aqui, Potter? – Draco parecia bem cansado.
–
Eu também uso esta sala, tem coisas minhas aí – disse Harry espiando pela porta, mas
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Malfoy continuou bloqueando a passagem. –
Não aqui...
É aqui que você está fazendo a tal poção? A Poção do Sono da Morte? – Harry perguntou. Draco pareceu surpreso, mas logo se recompôs. – Só por curiosidade, já que estou levando a culpa pelo seu roubo... Não é para você, é?
–
Claro que não, por que eu iria querer beber isso? – Draco não se moveu, parecia estar se decidindo por algo. Naquele momento Harry imaginou o que, no lugar de Draco, faria com aquela poção.
–
Entendo... – Harry comentou após algum tempo. – É difícil não fazer nada – estava pensando em Sirius. – Quanto tempo até ficar pronta?
–
Draco fixou os olhos no corredor além dele. –
Entre – Draco o convidou.
Harry olhou para trás, surpreso, pensou que ele se dirigia a outra pessoa, mas a única pessoa além deles no corredor, era uma garota de ar invocado que se aproximava rapidamente. –
Vai entrar ou não? – Draco o apressou tencionando evitar o encontro com Pansy Parkinson.
A sala, para Draco, era muito bem iluminada e clara, havia uma bancada no meio, dois caldeirões, um deles aceso, vários frascos e potes e uma estante com livros na outra extremidade, tudo muito bem organizado. Harry se aproximou da bancada e viu um livro aberto na explicação sobre a poção do Sono da Morte. –
Onde arranjou o livro?
Aqui mesmo. Esta sala fornece tudo de que eu preciso. – Draco foi até o caldeirão verificar o andamento de sua poção.
–
Harry não tinha pensado nisso. A sala forneceria tudo de que precisasse, foi até a estante e se concentrou pedindo algum livro que substituísse o que havia sido roubado no Ministério. Não percebeu nenhuma alteração. Se concentrou no exato livro, mas nada surgiu, vasculhou a estante e não encontrou nada que lhe fosse útil. O que você anda fazendo aqui na sala? – Draco observava, insistentemente, uma gaiola vazia. Harry ficou indeciso se poderia dizer ou não, mas afinal, ele tinha permitido que entrasse ali.
–
Estou mapeando as atividades dos Comensais, os lugares em que atacam – respondeu por fim.
–
Isso vai te ajudar em quê? – Draco olhou para ele rapidamente, franzindo a testa. – Que eu saiba, isso não é decidido com um propósito. O Lorde das Trevas em determinado momento chama um ou outro e diz para irem a determinado lugar fazer determinada coisa, por mais idiota ou estranha que pareça ser e eles têm que ir. Só isso. Não há grandes planejamentos... – Draco explicou.
–
Harry prestou atenção e ficou em silêncio, sabia que tinha algo mais, Voldemort não poderia simplesmente estar agindo por tédio. Aproximou-se do outro caldeirão que borbulhava, não teve dificuldade em reconhecer a poção Polissuco. Draco pegou o livro em cima da bancada e acompanhou as instruções. Você não tem nenhum livro proibido? Um livro sobre artes das trevas ou qualquer coisa assim...? – Harry perguntou enquanto olhava os rótulos dos frascos sobre a banca.
–
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Não... – Draco parou para observá-lo. – Meu pai é que tem – informou, olhando-o desconfiado.
–
Ótimo! – Harry se entusiasmou. – Pode me arranjar alguma coisa que fale sobre horcruxes? – Draco abanou a cabeça negativamente. – Não vai ser de graça – comentou, impaciente.
–
Eu não tenho acesso ao escritório do meu pai. Só ele tem, está lacrado, protegido por magia, as batidas do Ministério … – comentou de mau humor.
–
Harry sabia bem sobre isso, já tinha ouvido comentários do Sr. Weasley. –
E você não sabe a respeito?
–
Sobre horcruxes? Não é Magia Antiga? Se for, ninguém possui livros sobre isso...
–
Eu não sei. Você não lembra de ter lido algo nos livros do seu pai?
–
Ah, claro, como se eu não tivesse nada a fazer nas férias a não ser estudar! – Draco reclamou.
Então... Pode ser que seu pai tenha livros úteis... Sobre imortalidade, por exemplo – acrescentou deixando-o pensativo – Você pode pedir a ele o acesso.
–
É... talvez, mas... – Draco ficou encarando a gaiola. Harry se aproximou para ver melhor a gaiola, que pensava estar vazia, mas que na verdade continha um pequeno rato que se confundia com o forro cinza.
–
–
Há quanto tempo ele está assim? – Harry imaginou que ele deveria estar testando a poção.
Desde ontem, quando a poção ficou pronta... – Draco respondeu, desanimado. – Não estou conseguindo acordá-lo.
–
Talvez demore mais um pouco para passar o efeito. – Harry sugeriu. Tocou, de leve, o animal com a varinha. Pegou o Lord na mochila e o consultou, achou que, aparentemente, a poção de Draco estava normal.
–
Deixa a Hermione dar uma olhada na poção, talvez ela consiga salvá-la. – Harry pediu, lamentando os ingredientes usados, seria difícil voltar a juntá-los.
–
Por que vocês iriam querer ajudar a libertar um Comensal da Morte, principalmente depois do ocorrido no Ministério?
–
Se você acha que Voldemort vai aceitar o seu pai de volta se ele fugir, é melhor repensar seus planos. Na verdade, talvez Azkaban seja o lugar mais seguro para ele no momento.
–
Harry retirou a varinha de Lúcio Malfoy do bolso das vestes e colocou-a sobre a bancada. – Eu trouxe isto do Ministério, estou propondo uma parceria, sem brigas ou traições.... Draco recolheu a varinha cuidadosamente, como se fosse uma relíquia, ficou um tempo examinando o acessório, a cabeça prateada, depois a guardou com cuidado. –
Pensei que já tivéssemos – disse fingindo indiferença.
–
Você não vai para a aula de Poções? – perguntou Harry.
Não estarei me sentindo bem hoje – Draco jogou-se sobre um sofá e esfregou os olhos. – Ela vai vir?
–
Harry assentiu e se afastou para poder tirar o colar de dentro das vestes, enviou a mensagem. Ficaram discutindo os planos de Voldemort. Draco ainda não havia recebido nenhuma informação importante. Quando sentiu seu “coração” esquentar junto ao peito, Harry abriu a porta para deixar que Rony e Hermione entrassem. –
O que é assim tão urgente? – Hermione perguntou enquanto entravam, mas se calou ao
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perceber a presença de Draco. Harry contou a eles o que estava acontecendo, Rony pareceu meio reticente, mas Hermione aceitou bem a sugestão. Realmente... – disse Hermione, após examinar a poção e o rato, que estava morto. – Ela não vai servir pra nada.
–
Mas você pode recuperá-la? fazê-la funcionar? – Harry pediu enquanto Draco aguardava ao seu lado em silêncio.
–
–
Não há como, ela já está pronta, não posso fazer mais nada... Ele iria mesmo beber?
–
Se o julgassem morto e devolvessem seu corpo à família...
–
Há casos em que eles são enterrados lá mesmo – Hermione avisou. – Ou atirados ao mar. Hermione foi até o outro caldeirão e analisou a poção Polissuco.
–
Esta aqui, pelo menos, você vai poder usar.
–
Mas sem a Poção do Sono, para quê esta me serviria? – Draco reclamou.
Para entrar em Azkaban, conversar com seu pai, pedir informações... Não vai poder pedir isso numa carta. – Harry acrescentou mediante seu olhar indagativo.
–
–
Vai mesmo fazer isso? – Rony perguntou rispidamente.
Vou tentar tudo o que puder ... – Draco informou, se livrou da gaiola e da poção, não serviriam para nada.
–
Harry levou a mão esquerda à cicatriz percorrendo-a com o dedo, o anel brilhou em sua mão. – –
O que foi, Harry? – Hermione baixou seu braço para olhar par ele. Nada...
Durante a noite resolveu colocar em prática o que tinha em mente, achou que Draco tinha razão, tinha que usar as ferramentas que tinha e esta era a fonte mais confiável que poderia ter. Concentrou-se, queria saber o que Voldemort estava fazendo e não descobriria isso pelos jornais. Teve uma noite de sono agitada, acordou ainda se sentindo cansado. Não entendeu o porquê de não estar conseguindo quando antes isso ocorria contra a sua vontade. Tentou novamente na próxima noite, mas sem sucesso, temeu que a prática de Oclumência tivesse bloqueado sua mente por definitivo. Sirius apareceu no sábado, estavam no Salão Comunal quando um aluno do segundo ano foi chamá-lo. Harry o encontrou parado às portas do castelo, sorriu quando se aproximou, Sirius apenas o olhou, pensativo. –
O que aconteceu? – perguntou Harry, ficando preocupado.
–
Temos que conversar... – declarou Sirius.
Claro – Harry concordou prontamente imaginando que finalmente ficaria sabendo o que o estava incomodando tanto.
–
Harry... Você sabe que Raven e eu estamos juntos... – começou enquanto passeavam pelo castelo. Harry aguardou, curioso, todos sabiam disso. – Eu... bem, eu a pedi em casamento semana passada...
–
Harry sentiu o estômago pesar, parou e ficou olhando para Sirius, esperando que continuasse. Elisa Vrastani - Magia, Poder e Destino I
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Não vai me dizer nada? – Sirius pediu, ansioso. Harry passou a mão pela nuca, não sabia o que dizer.
–
Sinto muito... – Harry murmurou. – Acho que é muito cedo, vocês mal se conheceram... não que eu ache que vocês não foram feitos um para o outro, mas...
–
–
Ah... mesmo? – perguntou Sirius, decepcionado. – Pensei que fosse ficar feliz.
–
Feliz? Por que eu ficaria feliz? – Harry perguntou, chocado.
–
Eu só quero que você tenha uma família, uma vida normal...
–
E... o fato da Raven não aceitar seu pedido me deixaria feliz...? – ele perguntou, confuso.
–
Quem disse que ela não aceitou? – Sirius perguntou, espantado. – Ela disse alguma coisa?
Não, ela não comentou nada com a gente. É que… como ela tem estado estranha, preocupada, eu pensei...
–
Ah, não, ela está com problemas em casa, eles são muito ritualistas, mas ela disse que está tudo bem... Eu pedi que não comentasse, queria falar com você primeiro...
–
–
Isso é ótimo! Então vocês vão casar mesmo? Quando? – perguntou Harry, animado.
Fico feliz que você aprove – Sirius sorriu. – Marcamos o noivado para o natal, semana que vem.
–
Legal... – Harry olhou ao redor ansiosamente, resolveu seguir o conselho de Raven. – Podemos conversar? Sobre outro assunto... – esfregou a mão que começara a comichar.
–
Ah... sei, desculpe a demora – Sirius entregou-lhe um embrulho. – Pode ser mais tarde? Preciso encontrar Dumbledore, se ele ainda estiver em Hogwarts... – pediu sorrindo para ele.
–
Tudo bem... – respondeu meio a contragosto. Desembrulhou-o enquanto Sirius se afastava, eram as lentes que pedira, imaginou que ele andara ouvindo os palpites de Raven e pensava que ele queria falar sobre garotas.
–
Harry parou no banheiro e deixou que a água caísse abundantemente sobre a mão esquerda, o indicador estava vermelho em volta do anel, passou os dedos sobre ele, sabia ser ele o causador daquilo, mas não entendia o porquê. Voltou para a torre da Grifinória e comentou com Rony e Hermione sua decisão. Eu acho ótimo, eles podem ajudar a gente, não conseguimos nada até agora – Hermione aprovou imediatamente.
–
–
Vai contar exatamente o quê? – perguntou Rony.
Sobre o mapa que fizemos, o que encontrei lá embaixo... – Harry foi interrompido por uma forte fisgada no peito causada por uma descarga de energia que subiu pelo seu braço. Em contra-resposta sua cicatriz ardeu intensamente. Olhou para o anel em sua mão.
–
Tá, mas não conte sobre Little Hangleton, se eles souberem... aquela torre vai parecer o paraíso! – Rony o avisou.
–
Harry não estava ouvindo, estava tentando retirar o anel. Maior que o desejo que sentira de tê-lo, era o de se livrar dele naquele momento, e não se importou em saber de onde vinha esse sentimento, mas por mais que tentasse ele não saía. –
O que foi? O que está fazendo? – Hermione observava suas tentativas infrutíferas.
–
É este anel, tem alguma coisa estranha nele... não quer sair...
–
Ah, não acredito! Eu te...
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212
–
Hermione! Isso pode te fazer sentir melhor, mas não vai me ajudar!
O que você fez, usou um feitiço permanente? – tentando ajudá-lo.
–
Rony reclamou após alguns minutos
Esperem aqui – Hermione saiu e voltou minutos depois com gelo envolto em uma toalha e colocou sobre sua mão.
–
Que tipo de feitiço deve ter nesse anel para fazer algo assim? – Rony perguntou enquanto Harry fazia careta mas mantinha a mão sob o gelo.
–
–
E por que isso só foi acontecer agora? – Hermione o observava preocupada. Gina entrou pela passagem do retrato, carregando seus livros, e se sentou à mesa com eles.
Não aguento mais ouvir falar em NOMs... – Gina reclamou. – Se eu soubesse o quanto teria que me dedicar para seguir a carreira de curandeira teria escolhido outra profissão...
–
– –
Está falando sério? – perguntou Hermione. Na verdade não... Só estou chorando um pouquinho... – Gina admitiu. – Não desistiria nunca.
Você vai conseguir, Gina, você tem um dom natural pra isso. – Harry a confortou, retirou o gelo e fez nova tentativa, mas não conseguiu. Gina quis saber o porquê de sua mudança de ideia em relação ao anel, Harry contou a ela.
–
–
Deixe por mais tempo – Hermione pediu.
–
Mas minha mão já está dormente... Isso dói, sabia? – Harry reclamou.
–
Então da próxima vez você me escuta!
–
Deixa eu tentar – Gina segurou a mão dele entre as dela – Estranho...
–
Tente um feitiço, Mione – Rony pediu.
–
Não dá para usar um feitiço que quebre apenas o anel, iria acabar machucando-o também.
–
Não! Não vou danificá-lo, quero guardá-lo num lugar seguro! – Harry reclamou.
Não acredito que você vai querer continuar com esse anel! Não vê que ele pode estar cheio de…
–
–
Então guarde-o. – Gina estendeu-lhe o anel que segurava entre os dedos.
–
Você conseguiu! – Harry espantou-se e estendeu a mão para pegá-lo.
–
Acho que foi você, ele simplesmente saiu...
–
Não volte a usar isso, Harry – Rony pediu.
Harry o guardou no bolso com cuidado. Quando desceram, mais tarde para o almoço encontraram apenas Raven, Sirius tinha saído com o Diretor. Parabenizaram-na pelo noivado. Não é o máximo? – Raven indagou sonhadora. – Nunca eu imaginaria que o meu destino pudesse estar unido ao de vocês... É tão perfeito... – suspirou.
–
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CAP. 21 – NOIVADO O Natal chegou e foram para casa. Hermione foi visitar os pais mas prometeu que não faltaria ao noivado. Harry e Rony chegaram primeiro à Toca, por chave de portal, com Raven e Sirius. O Sr. Weasley os recebeu ainda no quintal e fez com que entrassem. Gui e Fleur também estavam em casa. Tonks e Lupin chegaram um pouco depois, de mãos dadas. Os cabelos negros e com mechas azuis, de Tonks, desciam até a cintura, e nunca tinham visto Lupin tão bem disposto. Ele ficou um pouco receoso quando viu Harry mas este não se importou. –
Ficamos preocupados com você – Harry disse enquanto o abraçava.
–
Desculpe-me, eu não queria ter agido daquela forma, era mais forte do que eu...
–
Você não fez nada! Você era, com certeza, o mais controlado naquele lugar.
–
E como estão as coisas? – Rony perguntou – Os lobisomens vão ficar do nosso lado?
–
Ora, que pergunta é essa?! – Sra. Weasley brigou com ele.
Vocês mal chegaram e já estão querendo se meter de novo em assuntos que não lhes dizem respeito? – O Sr. Weasley ralhou com eles.
–
Rony e Harry trocaram um breve olhar e foram se sentar perto da lareira. Fleur e eu estávamos pensando que vocês poderiam se casar junto conosco, na mesma data, o que acham? – Gui perguntou a Raven e Sirius.
–
–
Nas próximas férias, em julho... pra mim estará perfeito... – Sirius concordou.
O quanto antes melhor – Raven se aninhou em seus braços. – Então temos que começar a providenciar os preparativos, o vestido, a decoração... então, Harry pode levar todas as alianças... – sugeriu a Sirius.
–
–
Por que eu? – protestou.
Porque é nosso casamento! Você não vai querer participar? – Raven indignou-se. – Por mim...
–
–
Hum... tá, tudo bem... – Harry concordou a contragosto.
Rony riu e puxou de dentro das vestes o seu cordão, mandou uma mensagem para Hermione. Ela não demorou a responder, Harry e Rony sentiram o relicário esquentar segundos depois. –
Muito engraçado, Rony! – Harry reclamou após ler a mensagem, Rony riu ainda mais.
O que é isso que estão usando? – Tonks perguntou, curiosa. – Uma lembrança do dia dos namorados? – perguntou por causa do coração.
–
Não! – Harry se apressou em responder escondendo-o novamente. – Foi a Mione que deu à gente.
–
–
Aos dois? – A Sra. Weasley estranhou.
–
Por que eu não tenho um? – Gina reclamou.
–
Deve ser porque você é muito discreta! – Rony alfinetou.
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–
Nós ainda temos as moedas... – Harry se intrometeu antes que brigassem.
Ah... eu quero ter muitos filhotes, Sirius... – Raven disse carinhosamente, olhando para os três.
–
–
Quê?! – Sirius assustou-se, corando.
–
Ora, filhotes... nós dois... Lupin riu do embaraço do amigo.
–
E que casal não quer filhos? – perguntou Tonks, deixando Lupin pálido e preocupado.
–
Ah, mas dão um trabalho! – Molly comentou, sorrindo satisfeita.
–
Por favor... as crianças... – Sirius pediu a eles.
Tudo bem, nós vamos lá pra fora. – Harry se levantou seguido por Rony e Gina, deixando Sirius ainda mais nervoso.
–
Nunca vi Sirius tão embaraçado – Rony comentou, divertido, quando pararam para olhar os gnomos espalhando a neve do jardim.
–
Lupin e Tonks parecem felizes juntos – Harry comentou. – Mas como eles farão durante a lua cheia?
–
Vocês ainda não sabem? Lupin e Sirius a estão ajudando a se transformar em um animago. – Gina esclareceu. – Ela me contou há tempos.
–
–
Que caras de pau! – Rony reclamou.
Isso é bom pra eles. – Harry considerou. – E ela já sabe que animal será? – Harry perguntou. Gina sorriu.
–
–
Uma raposa vermelha.
Depois do almoço Tonks teve que voltar ao trabalho, no Ministério. Rony, Harry, Lupin e Sirius partiram deixando Raven na Toca por insistência da Sra Weasley, que a acomodaria no quarto de Ronald. Harry e Rony estranharam a Casa Verde, o quintal tinha sido ampliado para receber aros de quadribol e tinha ganhado um terceiro andar. Nossa! Vocês vão querer mesmo muitos filhos... – Harry brincou. A ideia não o desagradava, adorava Raven, e agora tinha outros planos para si.
–
Para com essa história – Sirius pediu, encabulado. – Isso é pra você. Um lugar para praticar esporte e estou construindo uma sala de estudos lá em cima, por enquanto são só cômodos, se você preferir posso colocá-la próxima ao seu quarto...
–
–
Pra quê tudo isso? Em julho faço dezessete, serei maior de idade...
–
O que quer dizer? – Sirius parou nos degraus da varanda fazendo-o parar também.
Que já poderei morar sozinho... – Harry disse cuidadosamente, não tinham discutido a respeito ainda, mas pensou que seria óbvio que ele se afastaria quando os dois casassem.
–
–
Que loucura é essa agora, Harry? – Lupin perguntou, confuso.
–
Não é loucura, só estou dizendo que tenho planos para o ano que vem... – buscou o apoio de
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Rony com o olhar, tinham discutido isso na noite anterior, precisaria de um tempo longe da vigilância da Ordem para conseguir algum avanço em suas buscas, ter liberdade para fazer o que precisasse. Não, não comece com mais uma de suas ideias... – Sirius reclamou e continuou a subir. – Pensei que estivesse feliz com o casamento.
–
Eu estou feliz por vocês, mas isso não quer dizer que eu tenho que ficar aqui... Sério, vocês não vão sentir minha falta...
–
É claro que vamos! Não! Não vamos, porque você não vai a lugar nenhum – Sirius decidiu. – E não deixe Raven saber que você pensou isso. Ela está fazendo tantos planos, quer que sejamos uma grande família...
–
Eu não quero continuar sendo vigiado e controlado, acho que com a maior idade em ganho esse direito, não? – Harry perguntou enquanto subiam para guardar as bagagens no quarto.
–
–
É verdade, ganha. – Lupin concordou.
–
Você o está incentivando? – Sirius se virou para ele.
–
Ele ganha o direito, sim, mas não a capacidade para exercê-lo. – Lupin se explicou.
–
Por que não discutem isso ano que vem? – Rony sugeriu. – Falta muito tempo ainda.
É melhor. Arrumem suas coisas que nós temos que organizar os preparativos para o natal.– Lupin sugeriu, levou Sirius consigo.
–
Deixe para se estressar uma vez só, quando for a hora de se mandar – Rony sugeriu, quando ficaram sozinhos. – Ninguém vai poder te arrastar pra cá contra a sua vontade.
–
–
Será? – Harry duvidou.
Abandonaram seus pertences no quarto, de qualquer jeito, e desceram para procurar por Monstro. Ouviram as vozes abafadas de Sirius e Lupin vindas do porão, foram até a cozinha. –
Monstro! – Harry o chamou. Ele apareceu ao seu lado no mesmo instante.
É um prazer revê-los jovem mestre e seu amigo... – fez uma reverência depois se apressou a por na mesa vários doces que tinha preparado para a chegada deles.
–
Obrigado, Monstro – Harry se serviu de um enquanto Rony catava vários, enchendo a mão. – Monstro, lembra daquele medalhão que encontramos no Largo Grimmauld? Que você disse ter pertencido ao irmão de Sirius? – Monstro abanou as orelhas e balançou a cabeça em concordância. – É o medalhão de Salazar Slytherin, pertenceu à família de Voldemort, como foi parar na casa dos Black?
–
Monstro esfregou as mãos, indeciso, enquanto olhava para ambos. Olhe... – Harry tirou do bolso o anel dos Gaunt. – Este anel pertenceu a Voldemort também, tem alguma coisa estranha nele eu gostaria de examinar também o medalhão.
–
Então ambos devem ser destruídos, mestre Potter, os dois. – Monstro foi até seu armário e o pegou. – Mestre Régulos disse que o medalhão deveria ser destruído, mas ele não conseguiu.
–
Rony pegou o medalhão. Como se fossem ímãs o medalhão e o anel tentaram se unir. Rony e Harry se olharam, surpresos. Você tem que destruí-los, mestre Potter, terminar a tarefa do meu amado mestre – Monstro pediu.
–
–
Mas que tipo de magia é essa? – Harry perguntou, pôs o anel e o medalhão sobre a mesa, e
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observou eles se juntarem. – O que faz eles agirem assim? –
“O que” não, jovem mestre, “quem”... Harry sentiu a cicatriz latejar quando entendeu o que ele queria dizer.
Como o diário... Rony, acho que são como o diário, contém pedaços da alma de Voldemort... – concluiu alarmado, olhou para Monstro, pedindo confirmação.
–
Você serviu a uma família de bruxos das trevas sua vida inteira – Rony observou. – Você sabe para quê isso serve, não sabe? Pra quê ele anda por aí se dividindo...?
–
Monstro olhou em direção à porta fechada do porão. –
Sirius não está aqui mas eu estou, Monstro, e te autorizo a me contar tudo o que você souber.
São as horcruxes dele. – Monstro disse rapidamente. – Mestre Régulos descobriu o medalhão, mas não conseguiu destruí-lo. Ele não sabia que havia mais...
–
–
Sirius sabe disso, ou mais alguém?
Não, jovem mestre, Monstro nunca contou a ninguém, era segredo do meu amo Régulus e ele confiou a Monstro a tarefa de guardá-lo até que descobrisse uma forma de destruí-lo, mas ele não voltou mais...
–
–
Mas para quê elas servem? – Rony insistiu.
Para prender a alma à Terra. Ele não morrerá enquanto sua alma estiver dividida. Uma alma incompleta não viaja para o mundo dos mortos. – Monstro sussurrou para que nada, além deles, ouvisse.
–
Ou se... parte da alma dele estiver unida à de outra pessoa...? – Harry perguntou, pensativo. Monstro estreitou os olhos para ele, sem entender. – E se ao invés de estar em um objeto... – olhou para o medalhão e o anel sobre a mesa – Estiver dentro de uma pessoa...
–
–
Não acontece assim, só objetos são usados... – Monstro explicou.
–
Mas isso é Magia Antiga ou é Arte das Trevas? – indagou Rony.
É conhecimento – Monstro sacudiu as orelhas olhando para ele. – Os humanos dividem o conhecimento em permitido, das trevas, antigo... Para criaturas que andam sobre a terra desde o princípio, são apenas conhecimentos. Vocês têm que destruir as horcruxes dele se quiserem que ele deixe este mundo para sempre.
–
Rony olhou para Harry esperando alguma reação, mas ele permaneceu imóvel. Nós vamos – Rony prometeu a Monstro, recolhendo-as. – Harry... vamos descobrir o que precisamos saber, mas agora...
–
–
Como...? – Harry perguntou, desesperançado.
Ei! Se concentra em me ajudar a destruir isso aqui primeiro, você conseguiu destruir o diário... – Rony puxou-o até o quarto, pegou o Lord e o entregou a Harry. – Acho que precisamos de alguma coisa tão letal quanto as presas do basilisco.
–
Harry recebeu o livro e ficou olhando-o sem abrir. Estamos mais perto do que antes! Percebe que acabamos de descobrir o ponto fraco dele? Se forem mesmo o que estamos pensando, poderemos nos livrar delas e torná-lo vulnerável. Pare de pensar no que não podemos fazer ainda, pense no que já descobrimos. – Rony pediu, angustiado – Nós também vamos descobrir o que fazer quanto a ligação de vocês... Queria que Hermione estivesse aqui...
–
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Tudo bem, Rony... – Harry tentou tranquilizá-lo. Abriu o Lord e procurou o que ele pedia. – Tem... fogomaldito... é um feitiço, parece bem complicado.
–
–
Não podemos fazer magia aqui.
–
Certo... metal forjado por duendes que tenha absorvido substância mágica de grande poder...
–
Não temos isso!
–
Garra de dragão...
–
Caramba! Não tem nada mais fácil?
Talvez seu irmão Carlinhos consiga arranjar algumas... – Harry sugeriu ainda examinando o livro.
–
Claro!! – exultou Rony, assustando-o. – Vou mandar uma mensagem para ele... Acho que vou ter que buscar Pichitinho lá em casa – disse ele, olhando ao redor, aparatou antes que Harry pudesse dizer alguma coisa.
–
Harry ficou olhando, apreensivo, para o lugar onde Rony tinha estado, se soubessem que podiam aparatar as coisas ficariam mais complicadas para eles. Deixou o Lord sobre a cama e foi até a janela procurar por Edwiges. Ela não tinha aparecido ainda, não devia estar por perto. Subiu até o telhado e chamou por ela, dali podia avistar a copa das árvores próximas e não viu nenhum movimento, ficou ainda mais triste ao imaginar que ela poderia tê-lo deixado para sempre. O céu cinzento refletia seu estado de espírito no momento. Saltou para o jardim. –
Harry! – Lupin o chamou, descendo as escadas da varanda. – O que estava fazendo?
–
Procurando Edwiges... Vocês a tem visto?
Hum... Não... – disse após pensar um pouco. – Escuta, você não pode ficar fazendo isso, mantenha seus pés no chão.
–
–
Mas estamos em casa.
Sirius já te pediu para não fazer isso, alguém pode aparecer de repente, funcionários do Ministério...
–
O que viriam fazer aqui? – Harry olhou em volta se lembrando das palavras de Raven, de que o Ministério andava pressionando Sirius. – Estão atrás de você! É por isso que Sirius tem estado preocupado, o Ministério sabe que são amigos e o estão pressionando... – Harry concluiu. Lupin ergueu uma sobrancelha enquanto o fitava com interesse.
–
Sabe, você tem muita imaginação... Mas, realmente, não posso ser visto por aqui, por isso já estou indo.
–
–
Para onde você vai?
Para casa. Estamos nos abrigando na floresta de Nottinghan, longe do preconceito dos bruxos e curiosidade dos trouxas, na verdade, foi ideia da Raven, estaremos perto o suficiente para nos unirmos se aparecer um inimigo e longe o bastante para mantermos a paz, faremos um voto, um juramento, que irá nos ajudar nisso.
–
Isso é muito legal, deixa eu ir com você. – Harry pediu, tentando esquecer momentaneamente de seus problemas.
–
Não posso te levar, não hoje. Estamos na lua crescente... – Lupin o lembrou mediante seu olhar decepcionado. – Não somos todos tão bem civilizados ainda, mesmo tendo nossos territórios definidos. Levarei você durante as férias... Durante a lua nova! – acrescentou após se despedir.
–
Elisa Vrastani - Magia, Poder e Destino I
218
Harry ficou, por um tempo, parado no mesmo lugar, olhando para o vazio, depois foi caminhando em direção às árvores, observando os galhos a procura de Edwiges, chamando-a de vez em quando. Parou quando se sentiu cansado e subiu até o galho de uma árvore, ficou sentado, de olhos fechados tentando não pensar em nada. Ficou assim até sentir os primeiros respingos gelados sobre a sua pele, tinha voltado a nevar. Sentiu o colar esquentar em seu peito e puxou o cordão, Rony o estava procurando, levantou-se decidido a voltar para casa. –
Harry! Assustou-se ao ouvir a voz de Raven, chamando-o, tão próxima, desequilibrou-se e caiu.
– –
Desculpe! Não queria te assustar... – disse Raven, as mãos espalmadas sobre o coração. Tudo bem, eu consigo cair de pé – caminhou até ela.
Como um felino... – Raven fez uma careta, passou o braço sobre seus ombros. – Quer conversar? – perguntou enquanto o guiava de volta pra casa.
–
Foram caminhando devagar, apesar da neve que caía insistentemente. Rony te contou... – Harry deduziu, pela sua aparição repentina. – Ele, pelo menos, conseguiu chegar à Toca sem que ninguém o visse aparatando?
–
Por pouco. Tive que puxar as orelhas dele. Se descobrirem, como é que eu vou explicar isso? Vão me culpar pelos passeios proibidos de vocês... Se bem que posso colocar a culpa no John...
–
–
Faria isso com ele?
Para que servem os irmãos? – Raven perguntou, fazendo-o sorrir. – Gosto de te ver assim... – Acrescentou abraçando-o com força. – O que está te preocupando?
–
–
Tudo... – disse olhando-a nos olhos. – Tudo o que tenho que fazer...
–
Você não tem que fazer nada. Conte tudo à Ordem e deixe que o destino se cumpra.
–
Destino? O meu está dependendo do que acontecer ao dele...
–
Então destrua todas as horcruxes, deixe-o vulnerável, mate-o.
–
Eu?!
Não é o que você quer? Ele é cruel, matou os seus pais e os de tantos outros, vem tentando te matar há anos. Você não deseja acabar com ele? Se vingar? – Raven o instigou.
–
–
Não! Quero que ele pare, mas... não quero fazer isso...
–
É, foi o que imaginei... – ela sentou nos degraus da varanda. Harry sentou-se ao seu lado.
O que acontece comigo se ele for morto? Vou morrer também ou a alma dele não conseguirá partir? – Harry perguntou, angustiado.
–
–
Gostaria muito de poder te responder isso...
–
O que você acha que eu devo fazer?
As coisas vão melhorar, Harry, confie nisso. Ano que vem seremos uma família e tudo vai se ajeitar, enfrentaremos juntos o que vier.
–
Harry gostou de ouvir seu otimismo. Talvez eles tenham me deixado em paz... – não tivera mais nenhum contato com Voldemort ou os Antigos, começou a considerar isso um bom presságio. – Só conheci dois dos Guardiães, talvez tenham chegado à conclusão de que não vale a pena se expor tanto por minha causa... – disse ele, esperançoso.
–
Elisa Vrastani - Magia, Poder e Destino I
219
Eu não iria tão longe – Raven o desiludiu. – Nós o estamos protegendo, nada conseguiria chegar até você.
–
Pensei que quisesse me animar... – Harry chutou a neve que se acumulava sobre seus pés. Raven o puxou para mais perto, abraçando-o.
–
Estávamos indo procurar vocês, o que aconteceu? – Sirius apareceu, com Rony, e sentou-se com eles na escada.
–
Nada, saudades... Mas não posso demorar, combinei com Molly de escolher alguns pratos especiais para o nosso noivado. – explicou a Sirius entre beijos.
–
Raven ficou um tempo com eles depois se despediu, restou a Harry e Rony ajudarem Sirius com a decoração da casa. O tom dourado, vermelho e prata deixou o ambiente alegre e aconchegante. Rony olhava para ele a todo instante, ansioso para que dissesse algo. –
Conseguiu enviar a mensagem ao seu irmão? – Harry perguntou a ele.
–
Consegui... Mamãe disse que ele virá para o natal, então, acho que Píchi chegará a tempo.
–
Quem te levou até lá? Nem sabia que tinha saído. – Sirius perguntou.
–
Raven... – Rony respondeu naturalmente. – Ela queria falar com Harry, então, pedi a ela...
–
McGonagall acha que vocês vivem de segredos pelos cantos...
–
Acho que todos nós temos segredos... – Harry jogou, referindo-se a ele e à Ordem.
–
Fico feliz que confiem na Raven – Sirius disse e pareceu sincero.
Eu confio em você... – Harry se sentiu desconfortável com seu comentário. – Se você parasse de brigar comigo por qualquer coisa e voltasse a agir como meu padrinho...
–
Não posso ser conivente com você, como seu tutor eu tenho responsabilidades – Sirius passou a mão pelos cabelos, chateado. – Óbvio que consigo ser melhor padrinho do que pai...
–
–
Você é um ótimo padrinho e será um ótimo pai.
Obrigado... – Sirius o olhou, melancólico. – Eu não quero ficar sabendo o que andaram fazendo de errado, mas você pode me contar o que não estiver relacionado a alguma regra violada, norma desobedecida...
–
Harry o encarou em silêncio por um tempo, depois olhou para Rony, ele também parecia não estar conseguindo se lembrar de nada assim. –
Por Merlim! – Sirius exclamou. – Que bom que temos a Raven!
Deram uma atenção especial ao porão, que Sirius transformou em salão de festa especialmente para a ocasião. O amplo espaço ganhou mesa e cadeiras, sofás e uma aparelhagem de som que prometia botar a casa a baixo se ligado na máxima potência. –
Raven adora festas – Sirius explicou. – Quero fazer algo especial.
–
Vai ser especial. Ela vai gostar – disse Harry.
Não conseguiu dormir, passou a noite olhando os flocos de neve batendo no vidro da janela. O dia seguinte foi agitado, Sirius parecia ansioso para que tudo estivesse perfeito para o dia seguinte. Aproveitaram a chegada de Raven, Fleur e da Sra. Weasley, à tarde, para saírem da casa enquanto eles discutiam os preparativos para o noivado e planejavam o casamento. É estranho como as coisas estão acontecendo tão rápido... – Harry comentava com Rony quando chegaram à Toca.
–
Elisa Vrastani - Magia, Poder e Destino I
220
–
O quê exatamente? – Fred perguntou a ele quando entraram.
–
Pensei que só viessem amanhã – comentou Rony.
É véspera de natal, fechamos a loja mais cedo – explicou Jorge. – Aproveitem e venham escolher seus presentes.
–
O que preferem? – Fred indicou a mesa da cozinha, abarrotada de itens da loja de logros, que eram inspecionados por Gina.
–
Algo que possa ser usado contra as Artes das Trevas... – Rony se aproximou para examinálos.
–
–
Tem algo defensivo? Algo realmente forte? – perguntou Harry.
–
Ei, trouxemos presentes, não um arsenal de guerra! – Fred reclamou.
–
Nada? – Rony perguntou decepcionado.
O que estão planejando desta vez? Talvez tenhamos alguma coisa... Se nos contarem o que pretendem – Fred os chantageou.
–
O sucesso está se tornando monótono para nós, estamos à procura de desafios – gabou-se Jorge.
–
–
Metidos... – Rony sussurrou.
Boa escolha, Gina. – Fred se aproximou da irmã que examinava um estojo de cura de emergência – Pode curar pequenos ferimentos acidentais causados por magia.
–
Mas não quer algo mais feminino? – Jorge passou-lhe uma caixinha. – As garotas adoram, faz o maior sucesso em Hogsmeade.
–
–
O que ele faz? – Gina perguntou, pouco interessada, girando o brilho labial nas mãos.
Torna seus beijos irresistíveis, quem for beijado vai sentir exatamente o que mais desejar, nenhum garoto vai resistir a eles. Nós o inventamos a partir da fórmula da Amortentia... – Jorge explicou, orgulhoso.
–
Não que você precise... Na verdade... eu não quero te dar isso não. – Fred acrescentou, pegando-o de volta.
–
–
Eles fazem o quê?! – Harry tomou-o de suas mãos, perplexo, enquanto lia as informações.
–
Hum... interessados? – Jorge se aproximou deles.
–
Isso é desonesto! – Rony reclamou.
Na verdade, não... é só uma ajudinha nas conquistas femininas. – Fred explicou. – Mas podemos desenvolver uma linha masculina também, talvez tenhamos que mexer na fórmula...
–
–
Não acredito que fizeram isto. – Harry devolveu a caixa.
Vocês podem usar esse e nos dizer como funciona, assim poderemos fazer as modificações necessárias – Jorge sugeriu. – Poderíamos usar nós mesmos, mas já somos irresistíveis, não teríamos como medir o desempenho...
–
Não vou usar essa porcaria! – Rony foi para um canto da sala, emburrado, tirou a corrente do pescoço e a manteve bem escondida na palma da mão, Harry imaginou que estivesse trocando mensagens com Hermione.
–
Nós pagaremos para serem nossas cobaias... – Jorge propôs a eles. Harry também se afastou, indo se sentar próximo à lareira – O que você acha, Fred? Há mercado?
–
Elisa Vrastani - Magia, Poder e Destino I
221
–
Vamos fazer uma pesquisa – Fred sugeriu.
Eu vou ficar com o kit de emergência. – Gina avisou, indo se sentar ao lado de Harry. – O que você tem? Parece cansado.
–
–
Estou. Não consegui dormir essa noite. – Harry explicou, olhando para ela, indeciso.
–
Quer me dizer alguma coisa?
–
Não... – desviou o olhar. – Hoje não.
O quarto estava escuro e Rony roncava na cama ao lado. Levantou-se com cuidado para não acordá-lo, vestiu-se e desceu. Estava cansado mas tinha coisas demais na cabeça pra conseguir dormir. Todas as portas estavam trancadas, estava se sentindo angustiado, foi até o quarto de hóspedes e saiu pela janela. Ficou empoleirado no galho de uma velha árvore, observando a noite. O frio cortante o ajudou a se distrair. Ouviu um uivo distante, os pêlos do seu corpo se arrepiaram e seus lábios se contraíram involuntariamente. Esticou-se e massageou a nuca tentando relaxar. Acabou adormecendo ali mesmo. Acordou se sentindo melhor, o céu já estava claro. Voltou para o quarto de hóspedes mas a janela estava fechada, deu a volta até seu quarto e entrou. Rony já tinha acordado e deixado a janela aberta. Tomou um banho quente e desceu. Sirius ria à mesa, ouvindo Monstro relembrar uma época em que os Black haviam sido uma família feliz. Sentou-se com ele, contente por vê-los assim. –
Onde está o Rony? – Harry perguntou, servindo-se.
Pulou da cama e correu para a Toca, nunca o vi tão ansioso, nem quis esperar que eu o levasse...
–
Hum... – Harry sabia que sua animação se devia ao fato de que Hermione viria para o noivado. – Sirius, onde fica mesmo aquele lugar onde Voldemort mantinha os lobisomens, a floresta?
–
Leicester? – perguntou, depois fechou a cara para ele. – Não importa, a única coisa que eu quero que você saiba e não se esqueça... é que voltarei a colocar grades nas janelas se você continuar teimando em não usar a porta. – Sirius o avisou.
–
Harry considerou a ameaça e passou a se concentrar em suas torradas. Sirius passou a mão pelos seus cabelos fazendo-o olhar para ele. –
Feliz Natal, Harry.
Não demorou muito para a casa ficar cheia e barulhenta. Primeiro chegaram Raven, Fleur e Molly requisitando a cozinha para iniciar os preparativos. Tonks chegou logo depois, disposta a ajudar, para preocupação da Sra. Weasley. Hermione chegou com os demais Weasley e correu para abraçá-lo quando o viu. –
Você está melhor? – Hermione perguntou ao seu ouvido.
–
Estou ótimo – sussurrou.
Gina foi logo requisitada pela mãe, que queria manter Tonks distraída. Gui, Carlinhos e Sirius foram providenciar mais lenha para as lareiras e Harry, Rony e Hermione subiram ao terceiro andar para planejarem os próximos acontecimentos. Elisa Vrastani - Magia, Poder e Destino I
222
Carlinhos trouxe as garras – Rony contou, sua voz ecoando no cômodo vazio; mostrou, na mão espalmada, duas garras de aproximadamente vinte centímetros de comprimento. – Os filhotes trocam as garras quando crescem... – repetiu a informação que Carlinhos lhe dera.
–
–
Acham que só isso vai funcionar? – Hermione pegou uma delas.
–
Só há um jeito de descobrir – Rony disse, confiante. – Eu vou buscar...
Não, aqui não – Harry o impediu. – Não é tão simples assim. Lembrem-se do que o Tom Servolo, do diário, fez à Gina. Não é só um objeto a ser destruído, é um bruxo das trevas que teremos que enfrentar...
–
–
Então, talvez seja melhor entregar aos membros da Ordem – Hermione sugeriu.
Mas eu prometi ao Monstro que iríamos destruir – Rony reclamou. – Podemos entregar a eles depois, já temos as garras... – Rony insistiu, ansioso para se testar.
–
–
OK – Harry concordou. Foram até o quarto pegar o anel e o medalhão.
Evandra e eu conseguimos uma solução para o problema da Winky – Hermione informou alegremente enquanto desciam. – Estivemos conversando com ela e decidimos que ela precisa de uma família de verdade e a mãe da Evandra concordou em ter um novo elfo, o deles já está muito idoso... o Sr. Gardner Velaska o mantém, mas não para os afazeres de casa, o tratam como um membro da família... por falar nisso, ele virá passar o natal com elas... – Hermione disse, mudando de assunto.
–
–
Ficaram amigas de repente? – Rony perguntou, desaprovando.
Evandra é muito legal. Gostaria de ir visitá-la amanhã. Você poderia falar com o pai dela, Harry... – Hermione sugeriu. – Ele é Historiador.
–
–
O que eu tenho pra falar com ele? – Harry não escondeu o quanto a ideia o desagradava.
–
O que aconteceu com o “não se meter ou tomar partido”? – Rony se irritou.
Nós não falamos sobre o Harry, ela nunca tocou no nome dele comigo – Hermione esclareceu, chateada. – Você acha que eu iria sugerir isso se ela estivesse se mostrando interessada nele?
–
–
Do que estão falando? Ela não está? – Harry perguntou.
–
Até onde eu sei, não... Você gostaria que estivesse?
–
Claro que não! – Harry disse, emburrado. – Que tal a gente voltar a falar em como destruir...?
Não deixe sua alma sombria apagar a magia do natal, Harry – Fred disse a ele enquanto espalhava fadinhas luminosas pela casa. Harry o olhou, chocado, e foi para a varanda, onde não havia ninguém que pudesse ouvi-los.
–
O pai dela pode saber alguma coisa sobre o Cetro de Slytherin... alguma indicação de seu paradeiro – disse Hermione.
–
Pra que vamos perder tempo procurando...? – Rony foi interrompido pelo pai, que queria ajuda para arrumar a mesa.
–
Desistiram de tentar conversar ali. Sirius tinha ido buscar Lupin, John, Quim e Moody, chegaram logo após terem terminado. –
Por onde tem andado, John? – Harry perguntou a ele.
–
Irlanda... encontrei um lugar muito bonito, vocês vão gostar.
–
Vai nos levar? – Rony perguntou, entusiasmado.
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223
Negativo! – Raven estava atenta a eles enquanto finalizava a arrumação. – Desculpem mas eu mudei de ideia quanto àquele passeio, não vou deixar. – Harry abriu a boca para protestar, mas Raven o silenciou – Não depois do que aconteceu da última vez...
–
Que passeio é esse? – Moody estava de costas para eles, mas devia estar observando-os com o olho mágico. – Não estou ciente disso – virou-se para encará-los.
–
Porque não vai mais acontecer, não até o casamento, aí sim poderemos viajar todos juntos. – Raven prometeu a eles.
–
–
Não tão cedo, nada mudou lá fora. – Moody os lembrou.
–
Mas Sirius e eu iremos nos responsabilizar...
E isso me preocupa ainda mais – Moody a cortou e saiu mancando para perto de Sirius, que estava analisando, com o Sr. Weasley, as possíveis mudanças que poderia fazer com a reforma que estava realizando para o casamento.
–
Raven deu um muxoxo e murmurou alguma coisa que se parecia com “aurores”. Harry ficou em silêncio, meditando, se ficasse com eles a Ordem iria interferir nos planos dela. Ela estava acostumada a ser livre e o castelo já a entediava, não se acostumaria a viver desse jeito. Almoçaram todos juntos, no porão. Raven fez questão de que Monstro se juntasse a eles à mesa e Hermione ficou radiante com isso. Rony aproveitou para lhe mostrar as garras de dragão. –
O que você acha, Monstro? Pode funcionar?
–
Mestre Régulus nunca tentou isso antes...
Harry cutucou Rony, Moody os vigiava com o olho mágico e imaginou que estivesse com os ouvidos atentos também. Mais tarde Sirius discursou aos presentes e deu a Raven uma delicada aliança de ouro onde dois focinhos se uniam beijando uma pérola. Depois de todos os votos de felicidade e fotos, Rony chamou Harry e Hermione para fora. Caminharam até não poderem mais ver a casa, para então, aparatar. Procuraram, na beira do rio, por uma pedra plana o suficiente para depositarem o medalhão. Rony pegou uma das garras e passou outra para Hermione. –
É melhor você ficar afastado, Harry. Não sabemos se isso pode te afetar – Rony pediu.
Estão esquecendo que fui eu que destruí o diário? – Harry ficou impaciente com o protecionismo deles.
–
Mas naquela época foi diferente, ele não tinha um corpo ainda e a ligação entre vocês não estava tão forte – Hermione argumentou.
–
Deixa a gente fazer desta vez, OK? – Rony pediu, entregando-lhe o anel. – Tome conta deste, por enquanto.
–
Harry recebeu o anel, evitando olhar para ele, e o guardou rapidamente no bolso. Rony e Hermione se olharam por instantes e se aproximaram da pedra. Mais de meia hora depois, Harry e Rony estavam sentados no chão atirando pedrinhas no rio, entediados, enquanto uma insistente Hermione tentava forçar a abertura do medalhão com a garra. Estamos deixando de fazer alguma coisa – Hermione o depositou novamente sobre a pedra – O diário não foi tão difícil, foi? – perguntou quando Harry olhou para ela.
–
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224
Talvez esteja protegido assim como o anel estava, dentro da taça; ou talvez, só se abra para Voldemort... – Harry sugeriu.
–
Nesse caso... – Rony se levantou e pegou novamente o medalhão forçando-o com a garra em suas mãos, porém sem êxito. – Não podemos fazer nada.
–
–
Que outro tipo de proteção ele poderia ter usado? – Hermione perguntou a Harry.
–
Não sei, eu não trouxe o Lord... – estranhou sua pergunta.
Eu sei, mas pense... como se você fosse ele... – pronunciou cuidadosamente as palavras. – Digamos que você o tenha protegido e que agora, depois de muitos anos, queira que ele se abra novamente... – Harry olhou dela para o medalhão balançando nas mãos de Rony, que suspirou desanimado. – Como você faz... para abri-lo, Harry?
–
–
Abra... – Harry sibilou em resposta.
Com um estalido alto o medalhão se escancarou e um denso vapor negro começou a se desprender rapidamente. Rony o largou no chão, assustado. Dois olhos negros surgiram em meio a forma indistinta que a principio pensaram que fosse um dementador. Não olhem nos olhos dele! – Harry gritou para eles, mas Rony parecia não estar ouvindo, apenas encarava a criatura – Rony! – correu até o amigo, o empurrou para longe e sacou a varinha.
–
Quando Harry se virou para enfrentar a criatura, deparou-se com um rapaz quase adulto, de expressão séria e olhar curioso. Uma figura pálida, meio transparente, como um personagem de um antigo filme em preto e branco. Piscou várias vezes, tentando se focar enquanto sua cicatriz latejava. Encararam-se, imóveis. Harry soube o que ele estava tentando fazer, entrar em sua mente, mas não permitiu. Era uma briga de vontades, não conseguia desviar o olhar. Uma queimação percorreu sua cicatriz como uma descarga elétrica e a figura à sua frente piscou, surpreso. O grito agourento, dado pela criatura, fez com que se encolhesse e tapasse os ouvidos. Não durou muito, mas foi perturbador. Rony, ainda no chão, onde tinha sido jogado, destapou os ouvidos lentamente e olhou ao redor. Assim como o grito a figura de Tom Servolo também havia desaparecido. Harry olhou para Hermione, agachada em frente ao medalhão que agora continha seu interior espelhado reduzido a cacos mínimos. Desculpem, na hora eu não imaginei que ele fosse realmente abrir... – Harry se agachou ao lado de Hermione, Rony se arrastou para perto e retirou a garra das mãos dela.
–
Você está bem? – Rony segurou as mãos dela e as esfregou entre as suas, estavam trêmulas e frias.
–
Isso foi horrível... Tive medo por vocês dois... – Hermione livrou uma das mãos e puxou o medalhão pela corrente.
–
Vamos... – Harry sugeriu, abraçando-a para ajudá-la a se erguer. Tentou não fazer qualquer movimento em direção à sua cicatriz, que o incomodava, não queria que se preocupassem, estava se sentindo satisfeito apesar de tudo.
–
Voltaram para a Casa. Assim que entraram na cozinha Gui fez uma careta para eles, souberam na hora que estavam encrencados. Acho que agora é um bom momento pra contar a verdade – Harry sugeriu a Rony e Hermione, que concordaram prontamente, mas deixaram que ele fosse na frente.
–
Desceram, com Gui, até o porão. Todos se viraram para eles e na mesma hora o som foi desligado. Elisa Vrastani - Magia, Poder e Destino I
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Onde estavam? Sirius, John e Moody foram procurar vocês... – Raven se aproximou rapidamente. – Nem pensem em dizer que estavam na Toca – sussurrou para eles, para que não se encrencassem ainda mais mentindo.
–
Para onde vocês três foram? Sozinhos?! – Molly parecia estar a ponto de puxá-los pelas orelhas.
–
E para fazer o quê? – Arthur os repreendeu com o vinco de preocupação marcando a testa. – Francamente, não sei quem são piores, vocês três ou os gêmeos...
–
–
Nós estamos quietos aqui! – Fred o lembrou, acenando.
–
Nós vamos contar tudo – Harry anunciou a eles. – Quando todos voltarem.
Lupin ficou distante, abraçado a Tonks, parecia não estar querendo se intrometer, Harry imaginou, pela proximidade que estavam da lua cheia. Monstro os olhou ansiosamente e Hermione lhe entregou o medalhão que ele ficou admirando como que hipnotizado. Arthur saiu, recomendando que todos ficassem, e voltou pouco tempo depois com os três. Harry olhou para Rony e Hermione e começou a contar sobre o mapa que tinham feito a partir das notícias publicadas no Profeta, Rony foi buscá-lo e o estendeu sobre a mesa. –
Como vocês têm nos negado informações, nós andamos pesquisando por conta própria...
Sirius se sentou numa cadeira levando Raven consigo. Moody olhou para todos os presentes e por último para os três. –
Estamos ouvindo – declarou.
Conferindo a data e o local dos ataques que têm ocorrido, acreditamos que ele esteja fazendo com que percam tempo, com encenações planejadas, enquanto se dedica a algo realmente importante. Como na noite em que eu tive aquele pesadelo, com Tahaus, ocorreram dois ataques, na costa e no centro – Harry explicou, apontando as marcações no mapa – Mas sabemos que ele estava bem longe dali, em algum lugar árido e montanhoso. Ele deve ter ordenado essas outras duas aparições para desviar a atenção.
–
Tinha a informação de Draco, sobre como Voldemort decidia aquelas aparições, para comprovar o que estava dizendo, mas preferiu não comentar isso, estava proibido de se aproximar dele. Sua teoria é muito interessante... – Quim comentou. – Realmente esses ataques não fazem sentido algum.
–
Muita coisa acontece, pessoas desaparecem sem que ninguém veja nada. Essas aparições são só para desviar a atenção do que ele está fazendo de verdade, que é procurar o Cetro de Slytherin. – Rony afirmou.
–
Quem disse isso? Isso é uma bobagem! – Moody o olhou com o olho bom enquanto o mágico ainda analisava o mapa.
–
Nós sabemos. – Harry se limitou a responder, não iria contar sobre as saídas do castelo. Tirou o anel do bolso e o colocou na mesa, sobre o mapa – Vocês se lembram do diário de Tom Riddle, que foi responsável pela abertura da Câmara Secreta? – perguntou se dirigindo aos Weasley, mas sabia que os demais já tinham ouvido a história e ele mesmo contara a Raven.
–
–
Sim... – Arthur confirmou, olhando para o anel.
–
Existem mais objetos parecidos com ele – Hermione estendeu a mão para Monstro, que lhe
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devolveu o medalhão. Colocou-o ao lado do anel – Nós acabamos de confirmar um. Parecidos com o diário? Como assim...? – Gina pediu explicação, sem tirar os olhos dos três, enquanto Arthur inspecionava o medalhão danificado e passava aos demais.
–
Ele guardou parte da alma dele dentro do diário, e também do anel e do medalhão, horcruxes... Garantem a ele a imortalidade.
–
Mas isso é lógico! No que estávamos pensando? – Moody o interrompeu se dirigindo aos demais enquanto segurava o medalhão. – Se fosse apenas o diário, como pensávamos, nada o teria prendido aqui, ele nem tinha um corpo ainda!
–
Ele poderia ter feito qualquer outra coisa, sabemos que já bebeu sangue de unicórnio e tentou fazer uso da pedra filosofal. Poucos bruxos se arriscam a fazer uma horcrux, ainda mais... três... – Lupin se aproximou do anel e tocou-o com a varinha. Olhou diretamente para eles – Vocês descobriram isso tudo... como?
–
Harry contou sobre a noite do jogo contra a Sonserina, como descobriu os aposentos de Slytherin, o anel e as anotações, a Câmara Secreta e a estátua com o medalhão que tinha visto na mansão dos Black. Nessa parte Monstro teve que contar o que sabia, como guardara o medalhão a pedido de Régulos Black que tencionava encontrar uma forma de destruí-lo. –
E nós acabamos de vê-lo saindo de dentro do medalhão – Rony confirmou.
–
Por que fizeram isso sozinhos? Por que não pediram nossa ajuda? – Arthur inquiriu.
Nós queríamos ter certeza de que eram mesmo as horcruxes dele – Rony explicou, mas não conseguiu tirar o ar de preocupação do semblante dos pais nem mudar o olhar de acusação de Gina.
–
Calma aí, é muita informação... – Tonks reclamou. – Há quanto tempo estão sabendo de tudo isso?
–
–
Há algum tempo, vocês não permitiam que falássemos a respeito – Hermione reclamou.
–
E nos puniram por ajudar a encontrar o Lupin! – Rony não quis perder a oportunidade.
Vocês tiveram muita sorte de não terem se machucado! – Molly exclamou severamente, depois olhou para os três atentamente – Vocês não se machucaram, não é?
–
Não... queremos saber o que vamos fazer de agora em diante. Como vamos ter certeza de quantas horcruxes ele fez? – Harry perguntou, ansioso.
–
Teremos que consultar Dumbledore. – Moody lembrou a todos quando permaneceram em silêncio.
–
–
Mas não vão continuar nos ignorando, não é? – perguntou Hermione.
–
Por que é tão difícil para vocês se manterem fora disso? – Sirius perguntou, preocupado.
Não adianta, Sirius. O interesse do Lorde das Trevas por Harry é tão forte quanto o dele pelo Lorde das Trevas, e nada que façamos pode mudar isso. – Moody declarou, convicto.
–
–
Não é algo que dê pra evitar... O meu destino cruza com o dele o tempo inteiro...
Então você já deve ter percebido que a ligação entre você e o Lorde das Trevas está se tornando cada vez mais forte – Lupin o questionou. – Sua cicatriz, a Ofidioglossia, os sonhos, o voo, a percepção da Marca Negra, agora, Snape disse a Dumbledore que você conseguiu se desenvolver em Oclumência sendo que não tinha aprendido nada com ele ano passado... Tudo isso, acreditamos, fruto de sua ligação com Voldemort, sem falar no interesse que os Antigos têm demonstrado por você. E não sabemos o que podemos fazer para evitar isso, a não ser,
–
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tentar te manter afastado. Harry olhou para eles em silêncio, poderia acrescentar mais algumas coisas à lista, mas decidiu não revelar tudo ainda, o ponto de vista deles não estava muito longe da verdade. Não sabemos até onde isso vai – Sirius declarou. – Mas o Ministério não sabe nem metade das coisas que você pode fazer e está se mostrando muito interessado em você, por isso pedimos tanto para que tome cuidado. Ele acha que você pode vir a se tornar uma ameaça e sabemos o que ele é capaz de fazer quando se sente ameaçado...
–
Ou um grande trunfo, Sirius – Lupin o interrompeu. – Isso também justifica o modo como tem agido, talvez ele queira controlar o garoto.
–
Não ligo para o que o Ministério pensa a meu respeito, minha única preocupação é cortar essa minha ligação com Voldemort – pegou o anel de volta.
–
–
Deixe, nós destruiremos o anel. – Tonks estendeu a mão em sua direção.
Só que eu não vou deixar que vocês o destruam. – Harry disse, encarando-os. Só vou entregá-lo se prometerem encontrar um meio de libertar a alma dele sem destruir o anel.
–
Harry... – Hermione tencionou reclamar, mas se calou quando seus olhos se encontraram. – É... o anel é importante... pode ser útil mais tarde – ela o apoiou e embora Rony não tenha entendido, permaneceu em silêncio.
–
–
Não há como fazer isso – disse Tonks.
–
Então nós encontraremos um jeito – Harry guardou o anel no bolso.
–
Você não está falando sério... – Sirius reclamou mas Moody pediu silêncio a todos.
Alguém acabou de atravessar a barreira – seu olho mágico apontava para o teto, foi mancando até as escadas. – Pode ser um dos nossos... ou não... – lançou um olhar rápido na direção de Lupin.
–
Sirius ligou novamente o som e Lupin subiu ao terceiro andar até ter certeza de que seria seguro sair. Tonks, Sirius e Quim acompanharam Moody para recepcionarem o recém chegado. Arthur recolheu o mapa e o medalhão enquanto Molly foi à cozinha com Raven e os outros se espalharam tentando fazer com que tudo parecesse normal. –
Nós podemos tentar ajudar – Fred ofereceu.
Adoramos desafios – Jorge acrescentou. – E eles não querem que participemos ativamente da Ordem, só porque abandonamos a escola.
–
Nossa única contribuição é elaborando artigos defensivos, vestuários com feitiço escudo, detonadores-chamariz,... Se nos derem como isso é feito, poderemos pensar numa forma de desfazer...
–
Claro... – Harry se animou, chamou por Monstro mas ele não estava mais no porão, tampouco apareceu, nem o ouviria com a música.
–
Cruzaram o porão para procurá-lo na cozinha. Até que não foi tão ruim – Rony comentou enquanto subiam as escadas. – Ao menos ninguém deu um... ataque... – As palavras morreram em seus lábios quando se depararam com Dumbledore.
–
Elisa Vrastani - Magia, Poder e Destino I
228
CAP. 22 – O LEÃO E A SERPENTE Harry estava sentado na janela, com uma folha de pergaminho no colo e uma pena na boca, pensando no que escrever. Rony estava deitado na cama, enfeitiçando as cortinas para mudarem de cor até achar uma que lhe agradasse. Hermione andava lentamente pelo dormitório vazio. Simas, Dino e Neville só voltariam no final do dia seguinte. Eles e Gina eram os únicos alunos da Grifinória no castelo, os demais estavam aproveitando a oportunidade de estarem com suas famílias; o que, devido às circunstâncias atuais, era algo incerto de poder se repetir. Você ainda pode voltar pra casa, passar esses dois últimos dias com seus pais – Rony sugeriu a ela.
–
Ainda acho que seria interessante se procurássemos o Cetro de Slytherin – Hermione ignorou seu comentário.
–
Não estou interessado nas joias da família dele – disse Harry, olhando para seu pergaminho, até agora havia escrito apenas “diário”, “medalhão” e “anel”. Estava tentando relacionar outros possíveis objetos que Voldemort poderia ter transformado em horcruxes.
–
–
Não mesmo? – Rony perguntou, sarcástico.
O Sr. Gaunt me deu o anel, é meu agora. E se conseguirem extrair a alma dele sem destruílo...
–
Foi uma boa ideia – Hermione concordou. – Tínhamos que arranjar outras para testarmos até conseguirmos.
–
Quantas vocês acham que são? Lupin disse que três já era muito – Rony decidiu por deixar as cortinas na cor salmão.
–
Não consigo pensar em nada – Harry pôs o pergaminho de lado. – Eu teria que saber quais objetos ele já teve, e então sim, decidir quais ele poderia ter usado.
–
–
Hogwarts é grande, se duas horcruxes vieram parar aqui, quem sabe... – Rony especulou.
Vamos descer – Harry ficou de pé e caminhou para a porta. Encontraram Gina, sozinha, no Salão Comunal, estudando. Desde o dia anterior ela os estava evitando e os olhava como se a tivessem traído.
–
Oi – Hermione a cumprimentou mas ela fingiu não ouvir. Rony sentou ao seu lado, porém, ela sequer olhou em sua direção.
–
Nós estamos descendo, Gina, quer vir com a gente? – Harry tentou. Ela se levantou e foi sentar mais distante, próximo à lareira.
–
–
Descer mais pra onde? – Rony estranhou.
Pra baixo de Hogwarts, vamos começar pela Câmara Secreta, depois procuramos pelo resto do castelo – Harry explicou enquanto se encaminhava para o retrato.
–
Entraram no banheiro feminino e lacraram a porta. Murta não se limitava mais ao banheiro, não queriam correr o risco de serem surpreendidos por alguém. Desceram escorregando pelo encanamento, passaram pelo desmoronamento e chegaram à Câmara. Harry voltou a examinar a estátua enquanto Rony e Hermione se espalhavam, admirando a grandiosidade do lugar. Vasculharam todo o local e os encanamentos secundários, mas não acharam nada. Elisa Vrastani - Magia, Poder e Destino I
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Isso virá bem a calhar, já que Dumbledore ficou com as nossas garras de dragão – Rony comentou enquanto recolhiam as presas do basilisco.
–
–
Só as usaremos em último caso... – Harry o lembrou.
–
Onde vamos achar essa informação, para os gêmeos? – Hermione indagou, pensativa.
Aposto que eles sabem, bem que poderiam nos ter dito, pensei que as coisas mudariam agora... – Rony reclamou.
–
Claro que não, Rony! Para começar nem deixaram que a gente falasse com Monstro. Podem até liberar alguma informação, mas da forma mais limitada possível – disse Hermione.
–
Voltaram à torre da Grifinória, para guardar as presas e pegar o mapa. Tinham perdido a hora do almoço, então, foram comer alguma coisa na cozinha, com Dobby. Após, decidiram continuar pelo lado leste do castelo. Não estaria tão à vista assim, para qualquer aluno ou professor. – Harry disse a eles no final da tarde, quando terminaram o lado leste, imundos e um pouco desmotivados por não terem achado nada. – Podemos ser mais seletos... depois da Câmara Secreta, um outro lugar em que poucos ou só ele teria acesso...
–
–
O dormitório da Sonserina... – Hermione sugeriu, animando-se.
Como vamos entrar lá sem que nos matem? – Rony limpou as mãos empoeiradas nas vestes imundas – Poção Polissuco?
–
–
Draco...
Viram, no mapa, que ele estava com Pansy Parkinson em uma das torres oeste. Encontraram os dois abraçados, olhando a floresta ao longe. –
Bela vista, daqui de cima – Harry os interrompeu.
Pansy olhou para eles com desdém, reparando em suas vestes imundas. Draco pediu que ela descesse e o esperasse nos jardins. –
Não vou sair e te deixar sozinho com esses três... – disse olhando-os desafiadoramente.
–
Não somos covardes como vocês, sonserinos... – Rony bufou.
Por favor, Pansy. – Draco pediu com doçura fazendo Rony e Harry trocarem um olhar enojado.
–
O amor te faz bem, Draco... – Hermione se admirou enquanto Rony observava o mapa para ter certeza de que ela não ficaria para tentar ouvir a conversa. – Nada como um pouco de sensibilidade...
–
Vocês estão tentando se confundir com a sujeira do castelo? Tudo isso é pra se esconder deles? – Draco gracejou.
–
–
E bom humor... – Hermione cruzou os braços, irritada.
–
Esconder de quem? – Harry olhou para baixo, na direção que ele apontara. – Ah... aurores! Rony e Hermione se aproximaram para ver também.
–
Mas... o que é isso? Nos disseram que podíamos confiar neles... – disse Rony.
Sim, mas não que iriam confiar na gente, não acreditei que fossem facilitar. – Harry disse a eles.
–
–
Isso dificulta tudo. Como vamos sair com aurores vigiando os terrenos?
Elisa Vrastani - Magia, Poder e Destino I
230
–
Vamos encontrar um jeito, Mione...
Eu ainda estou aqui, lembram? Vão me dizer ou não o que está acontecendo? Eles não vieram por mim...
–
Por que viriam? – Harry o encarou. – Você conseguiu mesmo? – perguntou, pasmo. – Foi até Azkaban?
–
–
Por que eu não conseguiria? Você se acha o único esperto por aqui? – Draco se aborreceu.
–
Desculpe, não tive a intenção... – Harry pediu, calmamente, e se sentou na murada.
Tudo bem... A principio eu pensei que tivessem me descoberto – Draco reconsiderou. – Mas então, descobri que vocês tinham voltado mais cedo...
–
–
Que esperto... – Rony debochou sentando-se aos pés de Harry.
–
Não viemos discutir quem violou mais regras, temos muito a fazer – Hermione os lembrou.
Harry pôs Draco a par das últimas descobertas sobre as horcruxes e pediu sua ajuda para procurar as que poderiam existir no dormitório da Sonserina. –
Mas como eu vou achar isso? – Draco perguntou, temeroso.
Bom... estará, provavelmente, escondido, e será antigo e protegido por magia – Harry explicou.
–
–
E é provável que tente te matar... – Rony reparou o olhar deles – O que foi?
–
Só queremos que você ache e traga pra gente – Harry pediu.
Vocês acabaram de destruir uma, saberão reconhecê-la melhor do que eu. – Draco se justificou.
–
–
E como você espera que entremos lá sem sermos atacados pelos seus “amigos”?
–
Aguardem dez minutos e me encontrem lá embaixo. – Draco pediu e desceu.
–
Vão confiar nele? – Rony perguntou quando ele se afastou.
–
Rony... – Hermione reclamou. – Seja mais tolerante.
Após dez minutos, desceram. Passaram pela Professora Vector, de Aritmancia, ignorando seu olhar alarmado para o estado deles e desceram até as masmorras. Raven havia ficado com Sirius, só voltaria no dia seguinte junto com a maioria dos alunos, até lá teriam o castelo todo para explorar. Esconderam-se quando viram meia duzia de alunos da Sonserina saírem reclamando e tampando o nariz. Draco apareceu à entrada e fez sinal para que entrassem. Ótimo, e agora, onde ficam os dormitórios? – Hermione perguntou com a voz anasalada enquanto interrompia a respiração.
–
Draco os guiou. Procuraram em cada centímetro dos quartos do dormitório masculino. Olharam embaixo das camas à procura de um piso solto ou qualquer compartimento secreto, Harry vasculhou o teto. Não encontraram nada. Não há nada aqui – Draco reclamou quando terminaram o último quarto, olhando criticamente a própria camisa empoeirada e amarrotada.
–
Claro que não! – Harry exclamou de repente. – Este nem sempre foi o Salão Comunal da Sonserina!
–
–
A antiga Ala de Salazar Slytherin... – Draco comentou, percebendo o que ele estava tentando
Elisa Vrastani - Magia, Poder e Destino I
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dizer. –
Vamos, antes que passe o efeito da bomba de bosta e alguém resolva retornar. Apressaram-se para a saída. Harry olhou ao longo do corredor.
–
Para que lado fica? – perguntou a Draco.
Assim que desceram Harry girou a varinha em círculo fazendo com que todos os archotes se acendessem em sequência. Observaram atentamente o caminho para que não se perdessem na volta. –
Este lugar é assustador – Rony comentou.
Você acha isso porque não ficou preso aqui, no escuro... – Harry parou diante dos primeiros corredores. – Há mais dois corredores lá na frente, é melhor nos separarmos.
–
–
É melhor ficarmos juntos. – Hermione se opôs.
Você e Rony podem ficar com o corredor da direita – Harry apontou a varinha para o longo corredor escuro. – Se acharem alguma coisa... – sugeriu levando a mão ao cordão. – E você Draco? Prefere ficar com a próxima passagem?
–
–
Não... sua presença não me incomoda tanto assim...
Acenderam as varinhas e entraram no corredor à esquerda. Draco lançou um feitiço para limpar o caminho das teias de aranha. Chegaram a uma área circular com duas portas laterais, o corredor continuava em frente, mas antes inspecionaram os aposentos. Eram amplos e o teto era pintado com desenhos do oceano refletindo o pôr-do-sol. Passaram por mais cinco locais iguais ao primeiro, não encontraram nada. Hermione e Rony também não haviam mandado nenhuma mensagem ainda. O corredor terminou em um grande salão de banho. Havia grandes blocos coloridos no meio do caminho, que haviam se desprendido do teto. Contornaram os escombros e olharam os sanitários e os chuveiros. Havia um espaço vazio num canto onde o chão era mais baixo. Harry foi até lá e desceu para aquela área retangular o som de metal ecoou no aposento, bateu com o pé no chão confirmando suas suspeitas. O que você acha? – Harry perguntou a Draco, que tinha aproveitado para lavar as mãos e o rosto em uma das pias.
–
–
Que esses são bem melhores que o nosso. Slytherin tinha bom gosto.
Estou falando desta parte do chão! – Harry pulou sobre a placa de metal. – Está ouvindo? É oco, deve ter algo aqui embaixo.
–
Sim, esgoto. E se continuar pulando aí vai acabar caindo lá dentro, ou fazendo alguma coisa cair em cima da gente – Draco observou a pintura restante no teto desbotado.
–
Harry flutuou acima da área suspeita e fez com que a tampa levitasse até o outro lado do banheiro. Ficou um tempo observando a piscina de mármore branco. Draco se aproximou para observar também. –
É só uma banheira – Draco comentou, por Harry continuar observando-a insistentemente.
Mas está tão limpa após tanto tempo... – disse reparando o mar azul refletido na superfície da água.
–
O que é um verdadeiro espanto neste castelo imundo – Draco concordou, espanando a poeira da roupa. – Vamos verificar logo o outro corredor.
–
Harry foi para a borda, ergueu a manga da blusa e deitou no chão. Mergulhou o braço na Elisa Vrastani - Magia, Poder e Destino I
232
água, junto com o frio que invadiu o seu corpo sentiu algo mais, que fez sua cicatriz latejar. Está ali, está vendo? Lá no fundo – Harry se ergueu apontando a varinha. Tentou invocar o objeto, mas tal como o anel ele estava protegido.
–
Não estou vendo nada... – Draco se agachou na borda e mergulhou a varinha iluminada dentro d'água, alguma coisa fez sombra no fundo da banheira, algo tão branco quanto o próprio mármore. – Que objeto é aquele?
–
Não sei... Mas seja o que for, é uma horcrux. – pegou o cordão e enviou uma mensagem a Rony e Hermione enquanto Draco fazia um fio dourado sair de sua varinha para tentar pescar o objeto mas não conseguiu fazer com que chegasse perto dele. – Você conseguiu inundar a sala do Snape, não consegue esvaziar a banheira?
–
A sala dele não estava protegida por magia naquela época. – Draco tentou alcançar o ralo que faria a água sair, mas também era impossível. – Te aconselho a nunca mais tentar entrar lá, ele me deu uma ideia do que irá acontecer a quem tentar...
–
Rony e Hermione apareceram e Harry mostrou a eles onde estava o objeto. Alguma ideia para tentar tirar isso daí de dentro? – perguntou já se despindo dos sapatos e das blusas.
–
Não... Mas eu não acho que você deva fazer isso, se está protegido como o anel, não sabemos o que pode acontecer a quem mergulhar aí. – Hermione considerou.
–
O objeto é pesado demais para boiar, o que mais podemos fazer? – sentou à borda da banheira e dobrou as pernas da calça. Ficou um tempo olhando para o fundo, reunindo coragem para fazer o que devia ser feito.
–
–
Deixa que eu faço. – Draco se ofereceu desabotoando a roupa.
Não, talvez seja menos arriscado se eu fizer – disse Harry, lembrando que só ele conseguira abrir o medalhão.
–
–
Ou justamente ao contrário – Hermione franziu a testa e olhou de esguelha para Draco.
Harry entrou na água gelada, um estremecimento percorreu seu corpo e teve certeza que não era só pelo frio. É mais fundo do que parece – Harry procurou se direcionar exatamente acima do objeto, seus pés nem encostavam no fundo, teria que mergulhar. Tirou os óculos e os jogou para Hermione, não precisaria da visão embaixo d'água, poderia senti-la.
–
Rony já estava retirando o excesso de roupa, tencionando entrar se algo acontecesse. Harry tomou fôlego e mergulhou. Na mesma hora sua cicatriz ardeu violentamente, desorientando-o. Tentou focar apenas o objeto ao fundo enquanto cada parte do seu cérebro gritava para que saísse dali, mas sabia que era tarde, tinha que pegar o objeto. Seus dedos se fecharam sobre o objeto cilíndrico mas ao invés de subir, seguiu seus instintos e foi em direção ao ralo, só então se impulsionou para emergir, mas como previra, a superfície formava um manto intransponível. Entendeu o que Hermione tentara dizer, a proteção feita para não permitir que a alma de Voldemort fosse retirada do local escolhido para seu repouso, e em seu caso, isso talvez o incluísse também. Sentiu medo, mas então fechou os olhos e se sentiu melhor, não estava sozinho.
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Assim que Harry pegou o objeto no fundo da banheira Rony se agachou na borda para ajudá-lo a sair da água, mas ele não subiu, ao invés disso, afastou-se em direção ao ralo. –
O que ele está fazendo? – Hermione reclamou enquanto Rony entrava na água gelada.
Uau! Dá pra usar um feitiço para esquentar um pouco isso aqui? – Rony pediu a Hermione enquanto boiava olhando na direção em que Harry subia, mas ele não saiu.
–
–
Não mergulhe! – Hermione gritou.
Rony nadou rapidamente até Harry, o segurou antes que afundasse. O nível da água descia lentamente; puxou-o, com dificuldade, até a borda. Draco também entrou e ajudou a retirá-lo. Deitaram-no na margem, estava muito pálido. Ele está gelado... – Hermione passou a mão pelo seu rosto afastando os cabelos molhados, e o chamou repetidas vezes, sacudindo-o, em vão.
–
O coração dele está batendo – Rony disse, após encostar o ouvido em seu peito. – Ele está respirando... Por que não acorda?
–
Hermione retirou, com dificuldade, o cilindro de seus dedos enregelados e o fez rolar para longe. –
Enervate! – Draco apontou a varinha diretamente para o peito de Harry, mas nada aconteceu.
Hermione fez vapor sair de sua varinha para aquecê-lo e Rony fez o mesmo. Aos poucos sua cor foi voltando ao normal e sua respiração se tornou mais perceptível. –
Tom... – Harry sussurrou. Hermione beijou seu rosto repetidas vezes, aliviada.
Harry, somos nós. Estamos aqui com você... – Rony disse, enquanto ele abria os olhos devagar.
–
–
Rony? São sete, Rony...
–
Tudo bem... – Rony disse a ele. – Vamos te tirar daqui.
É melhor levá-lo até a Ala Hospitalar – Draco sugeriu enquanto Rony e Hermione o ajudavam a se levantar.
–
–
Estou bem, Draco. Obrigado. – Harry disse, trêmulo, pegando os óculos. – Onde ela está? Hermione lhe passou o cilindro branco, que ele examinou atentamente.
É pesado, o que será isso? – Harry o revirou nas mãos, o cilindro era composto por seis partes móveis, mas não se desenroscavam, não podiam ser separadas. – Tem letras... – observou girando-as aleatoriamente.
–
–
Não! Você pode acabar abrindo! – Rony o retirou de suas mãos.
–
Ela está mesmo aí dentro? – Draco observou o objeto nas mãos de Rony.
–
Está... – Harry assegurou, ainda tremendo, enquanto pegava suas roupas. Draco tirou o objeto das mãos de Rony.
Isso parece um código – disse antes de entregá-lo à Hermione. – É melhor sairmos daqui. – tentou secar as roupas com vapor de sua varinha enquanto Harry e Rony se vestiam.
–
Temos que aparecer para o jantar, há poucos alunos, podem acabar percebendo. – Hermione aconselhou.
–
–
Com certeza vão perceber – Rony concordou.
Elisa Vrastani - Magia, Poder e Destino I
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Você vai primeiro – Hermione sugeriu a Draco quando chegaram ao alto da escada. – É melhor que não nos vejam juntos.
–
Draco assentiu e saiu, após alguns minutos eles saíram também. O corredor estava deserto, passaram por Draco, parado à entrada do Salão Comunal da Sonserina, e correram em direção ao térreo. Você nos assustou. – Rony reclamou enquanto subiam as escadas. – Por que falou o nome dele quando acordou? Você teve alguma daquelas... você sabe...visões?
–
Não, foi só um sonho estranho... Ele tem usado Oclumência contra mim... – Harry disse, tomando consciência daquele fato que antes não tinha percebido. – Ele está fazendo alguma coisa e não quer que eu saiba.
–
Já era de se esperar algo assim. Por que ele iria deixar que você continuasse invadindo a mente dele a qualquer tempo? – Hermione perguntou. – E o que são sete, Harry? Você disse a Rony que eram sete, o quê?
–
–
Eu disse...? – falou após um bocejo.
Rony e Hermione se olharam e resolveram deixar para conversarem no dia seguinte, quando ele estaria mais descansado. Gina correu para eles assim que passaram pelo retrato. –
Onde vocês estavam? Vocês sumiram o dia inteiro!
Nós te chamamos, mas você não quis vir com a gente... – Harry a lembrou enquanto seguia em direção ao dormitório.
–
–
Minerva estava procurando vocês, eu não sabia o que dizer... – Gina os seguia reclamando.
O que disse, então? – Hermione perguntou, pensando em uma possível desculpa, caso alguém perguntasse.
–
–
Que não sabia... Não ia dizer que vocês tinham ido à Câmara Secreta...
–
E quem te disse isso? – Rony se voltou para ela.
Eu ouvi vocês comentando... Então, tive que convencer a Murta a ir até lá embaixo ver se estavam bem, só que vocês não estavam mais lá.
–
Então, amanhã, a escola toda vai estar sabendo. – Rony concluiu e se afastou enquanto Hermione puxava Gina até o dormitório feminino e explicava o que tinha acontecido.
–
Encontraram-se mais tarde no Salão Comunal, impecavelmente limpos, e desceram para jantar. O Salão Principal estava quase vazio, todos os alunos e professores estavam reunidos em uma das mesas. Minerva olhou para eles quando entraram, mas não fez comentários. Draco estava sentado ao lado da mal-humorada Pansy e teve o cuidado de não olhar na direção deles. –
Harry, come alguma coisa. – Gina pediu, reparando que ele não se servira.
–
Estou sem fome.
Quando voltaram à torre da Grifinória Harry foi direto para perto do fogo e Rony e Hermione mostraram à Gina a horcrux encontrada. Começaram a fazer planos para o dia seguinte, agora que estariam em cinco demorariam menos para vistoriar o castelo. Por onde começaremos amanhã, Harry? – Rony perguntou em voz alta, mas ele não respondeu, já estava aninhado sobre o tapete, em frente à lareira. – Harry?
–
Tentaram acordá-lo mas ele parecia estar muito cansado. Depois de se certificarem de que ele estava respirando normalmente foram até o dormitório pegar seus pertences, dormiram todos no Salão Comunal. Elisa Vrastani - Magia, Poder e Destino I
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Harry despertou lentamente, sentiu seu braço esquerdo imobilizado, a cabeça de Gina estava apoiada sobre o seu ombro. Esfregou os olhos, sonolento, enquanto tentava se lembrar do porquê de estarem ali. Afastou lentamente o braço de Hermione de cima do seu peito. Quer ajuda? – ouviu a voz de Sirius, sussurrada de algum lugar próximo, e a seguir o peso de Gina saiu de cima de seu braço, mas não conseguiu mexê-lo de imediato. Ouviu ela resmungar enquanto se remexia ao seu lado.
–
O vulto de Sirius apareceu no seu campo de visão e por alguns segundos pensou que ainda estivesse na Casa Verde. Foi puxado para fora da cama. Olhou em volta esfregando os olhos, o borrão de cores vermelhas indicava que realmente estava na Casa da Grifinória. Estendeu o braço direito, em direção à cama improvisada, invocando seus óculos. Deixou-se cair numa cadeira e ficou absorto, relembrando os acontecimentos do dia anterior, suas pálpebras ainda estavam pesadas. Viu Rony deitado com o braço de Hermione envolvendo seu pescoço. Não se lembrava de terem se deitado ali. –
O que aconteceu ontem para estarem tão exaustos assim? – Sirius perguntou, ao seu lado. Harry olhou para ele por alguns segundos se dando conta de que ele realmente estava ali.
–
Acho que ele ainda não acordou, Sirius. – Raven abraçou o noivo enquanto o estudava.
O que vocês estão fazendo aqui? – perguntou Harry, realmente despertando, enquanto massageava o braço dormente.
–
Estamos tentando falar com vocês desde ontem, mas parece que andaram muito ocupados. – Sirius sondou.
–
–
Aconteceu alguma coisa? Pensei que você só voltaria à noite – perguntou à Raven.
Ela não respondeu, apenas olhou para Sirius, esperando. Hermione se mexeu, acordando com o som da conversa. Ela esticou o braço direito sobre o espaço vazio ao lado e ergueu a cabeça quando percebeu que Harry não estava. Adormecera com o braço sobre seu peito prestando atenção a sua respiração. –
Mione, Sirius e Raven estão aqui. – Harry a avisou.
Aos poucos todos foram levantando e recolhendo seus pertences antes de subirem ao dormitório para se aprontarem para o café da manhã. Raven acompanhou as meninas ao dormitório feminino enquanto Sirius ia até a cozinha pedir que fosse servido o desjejum no Salão Comunal. Depois que voltaram do banheiro Harry e Rony foram verificar se as presas de basilisco e a horcrux estavam bem guardadas. Foi sorte a Mione ter lembrado de guardá-la aqui ontem de noite – Rony abriu seu malão, conferindo. – Vai contar a eles sobre essa?
–
Não, não permitiriam que ficássemos com ela e precisamos entregar uma aos seus irmãos. – Harry decidiu. Desceram.
–
Sentaram-se à mesa e Harry ficou observando-os reunidos como uma família de verdade. Sirius reclamou por ele não estar se servindo, então, se esforçou para comer alguma coisa. –
Vocês ainda não disseram o que vieram fazer aqui, tão cedo – Harry o lembrou.
Sirius estava preocupado com o que vocês poderiam estar pensando, depois de serem mandados para a escola mais cedo e com os aurores pelo terreno do castelo... Como vocês não respondiam pelo espelho e Minerva disse que tinham sumido o dia inteiro, resolvemos vir vê-los de perto, saber o que estão fazendo. – Raven explicou.
–
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Querida, não precisa ser tão detalhista – Sirius pediu a ela, segurando sua mão. – Não foi só por isso... Vocês queriam falar com Monstro e eu não permiti.
–
–
Vai nos contar, então? O que queremos saber? – Rony perguntou, desconfiado.
Não é isso... É que eu o encontrei morto naquela noite... Acho que assim que descobriu que o medalhão tinha sido destruído se sentiu liberado da promessa feita ao meu irmão. Foi pra cama e... não acordou mais. – Sirius explicou, pesaroso.
–
–
Achamos que ontem não era o melhor momento para contar. – Raven se desculpou.
Hermione não tentou impedir as lágrimas. Rony a abraçou, consolando-a. Harry se controlou, iria sentir a falta do elfo, ficou ouvindo, cabisbaixo, enquanto Sirius contava onde o tinha enterrado, próximo ao jardim. Ele finalmente pôde descansar, imagina como deve ter sido penoso para ele ter de guardar a horcrux em segredo por tanto tempo, ele já estava muito velho... – Rony argumentou para consolá-los.
–
Não se preocupem – Sirius pediu após algum tempo. – Iremos nos dedicar a encontrá-las, as horcruxes, e deixar para o Ministério a tarefa de tentar capturar seus Comensais. Só conseguimos pegar doze deles até agora, quando chegamos eles desaparecem sem querer nos confrontar... Dumbledore acha que vocês estão certos.
–
Onde ele tem ido, Sirius? – perguntou Harry, sem muita esperança de obter uma resposta. Agora o Diretor se ausentava apenas nos fins de semana.
–
Ontem ele esteve no Beco Diagonal, checando a sua informação, ou melhor, intuição. Mas não tinha nada lá. Os duendes de Gringotes não dão informação sobre seus clientes. O próprio Voldemort poderia estar indo pessoalmente ao Banco que não faria diferença para eles, eles não se metem nos assuntos dos bruxos e Dumbledore não conseguiu convencê-los.
–
–
Mas eles devem ter algum lugar ali. Eu posso achá-los, posso senti-los...
–
De jeito nenhum! – Sirius o cortou fazendo com que se calasse.
Harry não insistiu, não valeria a pena discutir. Passaram o dia com eles, a maior parte, jogando e conversando no Salão Comunal.
As aulas recomeçaram e os deveres de casa dobraram. Muitos reclamaram inutilmente. Antes, estava difícil se manter em dia com os deveres, agora estava quase impossível. Que coincidência eles fazerem isso logo agora – Hermione reclamou durante o tempo vago de sexta-feira. Ela estava sendo a mais atingida, fazia mais matérias que eles.
–
Tinham quase tempo nenhum para andar pelo castelo e depois do ocorrido na Antiga Ala de Salazar tinham decidido não fazerem isso separados. Não tinham mais falado com Draco, evitavam serem vistos juntos, prometeram avisar quando achassem outra horcrux, mas isso não tinha acontecido ainda. Dois meses se passaram e ainda não haviam conseguido terminar o lado norte do castelo, apesar disso, já duvidavam que voltariam a encontrar mais alguma coisa em Hogwarts. Conseguimos duas só na Antiga Ala de Salazar, temos que ficar felizes por isso. – Harry comentou durante o almoço de sexta-feira.
–
–
Repararam como Salazar gostava do oceano? O teto de todos os salões continha a mesma
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pintura... –
Ainda está pensando em sua propriedade secreta? – perguntou Gina.
Por que simplesmente não pergunta a Evandra sobre o cetro, se está tão interessada? – Harry sugeriu.
–
Já perguntei, mas o pai dela não pode receber corujas no local onde está agora... Ele está trabalhando com trouxas em uma escavação... Evandra disse que ele já é considerado excêntrico sem ter corujas levando mensagens... – Hermione reclamou. – Dumbledore também se mostrou interessado... – afirmou para convencê-los da importância do assunto.
–
–
Esquece isso, Mione – Rony pediu. – O que nos interessa é encontrar as horcruxes.
Tirando Hogwarts, onde mais poderíamos procurar? Que lugar ele consideraria tão seguro quanto? – perguntou Gina.
–
Mais seguro do que Hogwarts? Talvez Gringotes... – Rony especulou. Harry e Hermione olharam para ele, sérios.
–
Não dá para simplesmente entrar em Gringotes e ficar procurando nos cofres... – Hermione disse, desanimada.
–
Não acredito que ele tenha alguma coisa lá, os Gaunt com certeza não tinham mais – Harry olhou em direção à mesa da Sonserina, onde Draco conversava despreocupadamente com Pansy e Nott.
–
Murta! – Harry a chamou. Ela estava sobrevoando a mesa da Corvinal e se aproximou, feliz, quando ouviu seu chamado.
–
–
Harry... Faz tempo que eu não falo com vocês... Tenho estado tão ocupada...
Murta, pode me fazer um favor? – Harry a interrompeu. Pode dar um recado a uma pessoa, por mim? Está vendo aquele menino loiro sentado no final da mesa da Sonserina?
–
–
Ele é monitor... – Murta se esticou para vê-lo melhor.
–
Você o conhece? – Gina indagou.
–
Não, mas ele usa o banheiro dos monitores...
É, é ele mesmo – Harry disse, impacientemente, lembrando-se de que ela tinha o péssimo hábito de espionar o banheiro masculino. – Pede para ele me encontrar hoje, no final da aula, em frente à Biblioteca, por favor. E não deixe ninguém ouvir.
–
Claro, eu posso fazer isso... Vocês vão a Hogsmeade logo mais? prometendo uma grande festividade – Murta disse a Rony.
–
–
Seus irmãos estão
Para comemorar o quê? – Harry perguntou, distraído.
O dia dos namorados... – Murta respondeu com ar de incredulidade. – Todo mundo está comentando sobre o evento especial em Hogsmeade! Começa hoje à noite e vai até amanhã... As meninas da Lufa-lufa estão curiosas para saber quem você vai levar... – comentou meigamente.
–
Harry olhou rapidamente em direção ao grupo de meninas que ela apontara e voltou a prestar atenção na mesa da Sonserina. –
Quem você vai levar?! – insistiu, impaciente.
Ninguém! Eu tinha me esquecido disso... – ele olhou para Rony e Hermione estranhando que não tivessem comentado a respeito. – Também, nem tenho permissão pra sair...
–
–
Você vai, eu sei – Murta falou a Gina – suas amigas pediram pra você levá-las para ajudarem
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na loja Gemealidades, mas elas querem é tentar chegar perto do cantor... como é mesmo o nome dele... ? –
Murta, você não deve ficar por aí comentando a vida dos outros... – Hermione a repreendeu.
–
É – Rony a apoiou. – Só pra gente.
–
E vocês dois... Vão juntos, não vão? – Murta perguntou, sorridente, para Rony e Hermione.
–
Nós não vamos...
–
Por que não? – Harry a interrompeu. – Ninguém proibiu vocês de sair.
Talvez a gente possa dar um olhadinha... – Rony sugeriu a Hermione. – Para ver a decoração...
–
Eu posso ficar, se você quiser. – Gina ofereceu enquanto Murta voltava a sondar a mesa da Corvinal após ouvir um garoto mencionar algo a respeito de uma competição.
–
–
Não precisa, provavelmente o castelo ficará vazio, vou aproveitar para terminar o lado norte.
–
Você não vai fazer isso sozinho! – Hermione o repreendeu.
–
Por desencargo de consciência, não deve ter mais nada...
–
Oi meus amores... – Raven abriu espaço entre eles. – Animados para mais tarde?
–
Você vai a Hogsmeade? – Gina perguntou.
–
Nós vamos... – Raven a corrigiu. – Eu convenci Sirius, ele virá também.
–
Sirius? – Harry estranhou. – Numa comemoração do dia dos namorados?
Claro, eu pedi! É tão romântico... E será nosso primeiro dia dos namorados... – Raven suspirou.
–
–
Nós só vamos se o Harry for – Hermione o chantageou.
Não sou eu que tenho que ir com você – Harry a lembrou. Rony sorriu, mas ficou rapidamente sério quando ela o olhou. – Eu não vou.
–
–
Vamos todos! Ninguém vai ficar – Raven os intimou.
Harry e Rony desceram com Neville, Dino e Simas, mas ficaram aguardando no Salão Comunal enquanto eles saiam. Tinham se arrumado com capricho. Harry tirou os óculos e os guardou no bolso de seu sobretudo preto. –
O que você acha? – Harry perguntou. – Fico melhor sem eles?
Fica diferente – Rony comentou, distraído, passando a mão pelos cabelos pela enésima vez. Tinha-o penteado todo para trás, o que lhe dava uma aparência mais madura.
–
Diferente tipo... esquisito? – olhou-se na superfície espelhada de um dos quadros. Parvati e Lilá desceram, risonhas, Harry os recolocou rapidamente.
–
–
Hermione já está descendo – Lilá os avisou quando passou por eles.
Hermione desceu alguns minutos depois, parecendo bem entusiasmada para quem disse que não iria. Harry percebeu isso mas não comentou nada. Gina tinha ido mais cedo, com as amigas, ajudar os irmãos com os preparativos. –
Você está linda – Rony a elogiou.
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239
Obrigada... – Hermione agradeceu, satisfeita, deu o braço aos dois, conduzindo-os para fora. Desceram para se encontrarem com Raven e Sirius.
–
Acho que Draco está subindo – Harry comentou, franzindo a testa enquanto desciam para o saguão.
–
O que vocês conversaram hoje? – Hermione perguntou, mas Harry não respondeu, torceu o nariz depois tentou aparentar indiferença. Ela olhou para os pés da escada e viu o porquê. Desceram em silêncio.
–
O comportamento de vocês é totalmente fora dos padrões! – Snape puxou Harry para longe de Hermione e obrigou Rony a fazer o mesmo. – Também, com o exemplo que recebem... Não é de se admirar...
–
–
Não estamos fazendo nada... – Hermione queixou-se.
Justamente, vocês estão sempre fazendo nada, pobres vítimas inocentes do acaso... – Snape desdenhou. – Você não tem mais permissão para ir a Hogsmeade – Snape se dirigiu a Harry, reparando-o de cima a baixo.
–
–
Meu padrinho...
Ah, claro... – Snape o interrompeu. – O seu responsável irresponsável... – criticou-o com azedume e se afastou, decidido.
–
–
O que houve com ele? – Rony continuou a descer. – Não descontou pontos da gente...
–
Parece que ele foi fazer queixa a alguém – Hermione observou.
Deve ter ido mesmo... – Harry indicou Sirius e Raven abraçados num canto do saguão, se beijando.
–
Os três se aproximaram o mais ruidosamente possível. –
Vocês não deveriam fazer isso aqui, o Snape acabou de passar...
–
É, eu sei – Sirius sorriu, zombeteiro.
–
Ele continua implicando com você? – Raven perguntou, agarrando-se ainda mais a Sirius.
Não, só tem se demonstrado tentado a me torturar até a morte... – Harry gracejou fazendo Rony rir.
–
–
Você não me disse isso! – Raven reclamou.
Só estou brincando – Harry reconsiderou, não queria que ela voltasse a tomar suas dores, estava se saindo muito bem em evitar a presença do Professor.
–
Snape sabe o quanto eu quero uma oportunidade, ele não me daria esse gostinho – Sirius a tranquilizou. – Vamos.
–
Hogsmeade estava iluminada, da estrada conseguiam ouvir o som da música. O vento frio os castigava, mas ao entrarem no vilarejo o clima mudou totalmente, estava agradável e acolhedor, uma bolha térmica envolvia todo o povoado. –
Mais uma invenção de Fred e Jorge – Hermione deduziu.
–
Eles podem inventar qualquer coisa – Raven concordou.
–
Espero que sim – sussurrou Harry, olhando as pessoas a sua volta.
Não precisaram de uma desculpa para despistarem Sirius e Raven, o local estava muito movimentado. Eles estavam tão distraídos um com o outro que Harry teve certeza que nem Elisa Vrastani - Magia, Poder e Destino I
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perceberam quando se afastaram. Havia muito mais que alunos no povoado, mas principalmente casais e os que estavam desacompanhados estavam procurando companhia. Entraram na loja de logros mas não viram os gêmeos, havia tumulto no segundo piso, o cantor, cujo nome Harry e Hermione desconheciam, estava usando os aposentos cedidos pelos gêmeos, para antes do show, e algumas fãs se aglomeravam aguardando sua passagem. Deram umas voltas pela loja e como não encontraram Gina, saíram novamente para a rua principal. –
Você ainda não disse o que conversou com Draco. – Rony o lembrou.
Só pedi para ele ver se tem algo interessante no escritório do pai dele, algo que nos seja útil. Agora ele já sabe como entrar... Olhem, o Madame Puddifoot... Que tal?
–
Vamos... – Rony deu de ombros, não muito entusiasmado com a decoração cor de rosa que saltava aos olhos de quem passava do lado de fora.
–
Atravessaram a rua movimentada, com dificuldade, e subiram as escadas da loja. Quando chegaram à porta Harry estancou de repente. O Simas... – disse enquanto olhava para o mar de pessoas na rua. – Preciso falar com ele! Me esperem lá dentro, eu não demoro... – afastou-se rapidamente, não dando tempo para que protestassem, e se misturou à multidão.
–
Com uma espiada rápida em direção à loja viu Rony e Hermione entrarem, resignados. Diminuiu o passo. Foi andando sem rumo, observando as lojas, queria que eles tivessem um dia dos namorados decente. Parou em frente ao Correio, lembrou-se de Edwiges. –
Oi, Harry – Evandra se aproximou. – Cadê a Hermione?
Ela não tinham voltado a falar com Harry sobre o incidente ocorrido entre os dois, então, Harry decidira esquecer. Considerava Evandra uma ótima companhia, principalmente agora, que tinha certeza de não sentir nada por ela. Está com o Rony, no Puddifoot... Espera! – a chamou de volta. – Você não vai até lá, não é? Acho que eles querem ficar sozinhos...
–
Ah... Claro. Eu ia chamá-la para ir ao camarim do Braxton comigo, eu consigo entrar com o crachá do Profeta – disse entusiasmadamente. – Você... vai ficar aqui, sozinho?
–
Não estou sozinho... – Harry olhou em volta, viu Draco e Pansy, de mãos dadas, entrando na Dedosdemel. Voltou a olhar para Evandra, sorriu. – E o seu acompanhante? Não quer ir ao camarim com você? – mudou de assunto.
–
Eu o perdi por aí – ela olhou ao redor, distraída. – Deixa pra lá... – virou-se para ele novamente, sorrindo. – Vamos andar um pouco? – sugeriu e segurou seu braço.
–
Hermione disse que seu pai trabalha com trouxas... – Harry comentou enquanto caminhavam lentamente entre as pessoas. Vários grupinhos trocavam aviõezinhos de papel cor-de-rosa, encantados especialmente para a troca de mensagens entre os paqueradores.
–
Está trabalhando para uma multinacional em expansão, ela atua em vários nichos de mercado e parece que gosta muito de antiguidades, e o meu pai também... Ynys Corporate, acho – afastou os cachos dos ombros, empurrando-os para as costas. – Ele gosta de uma vida dupla, assim como você...
–
–
Eu gosto de uma vida dupla? – espantou-se.
Do bom menino que se arrisca em situações perigosas ao infringidor de regras e criador de problemas.
–
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Você acha? – Harry achou graça de seu comentário. – Mione quer muito conhecer o seu pai, será que poderíamos visitá-lo nas férias?
–
– –
Claro. Eu a convidei no natal, ela disse que iria com vocês… mas não puderam, não é? Não...
Evandra! – o rapaz que a acompanhava apareceu de repente abrindo caminho entre as pessoas, apressado. Era mais velho que eles e trabalhava com ela, no Profeta. – Você sumiu! – reclamou reparando o braço dela preso ao de Harry, ele rapidamente a soltou.
–
Você já conhece o Harry? Harry Potter... – ela o apresentou. – Esse é meu colega de trabalho, Mark...
–
–
Oi, prazer. – Harry o cumprimentou.
Evandra fala muito de você, Harry Potter... Mas afinal, quem não fala? – comentou grosseiramente.
–
–
Eu já vou indo, te vejo por aí. – Harry se despediu dela.
Não quer ficar? Eu te faço companhia. – Evandra se ofereceu, ignorando o comentário de seu colega.
–
Tá brincando? – Mark sussurrou para ela. – Você não quer bancar a babá do garoto, ele dá azar!
–
Como é que é? – Harry já estava se afastando mas voltou quando o ouviu. – Por que não repete isso?
–
Mark olhou para as suas mãos, mas Harry as manteve paradas ao longo do corpo, não tentou pegar a varinha, mas Mark pegou a dele, por precaução. –
Já ouvi falar sobre as coisas que você fez e tudo o mais… você atrai coisas ruins.
–
Mark! – Evandra o olhou com raiva. – Por que não vai embora?
Mas é verdade... começando pela morte dos pais... depois um prisioneiro conseguiu fugir de Azkaban pra ir atrás dele, e ainda é ofidioglota! – murmurou preconceituosamente. – Até VocêSabe-Quem voltou...
–
–
O que você está insinuando?!! – Harry vociferou.
Mark caiu de joelhos, tossindo e engulhando, o rosto ficando rapidamente tingido de vermelho. –
Para, Harry! – Evandra se desesperou, agachou ao lado de Mark. – Para! Você vai matá-lo! Harry mirou seus olhos azuis, ofendido, enquanto Mark, sugava o ar com sofreguidão.
–
Eu não ia fazer isso!! – Harry reclamou, chocado.
Afastou-se abrindo caminho entre os presentes, não tinha percebido as pessoas se aglomerando em volta deles. Seguiu apressado, disposto a voltar ao castelo. Deparou-se com dois aurores do povoado vindo em sua direção, não o tinham visto, mas provavelmente tinham pressentido a confusão e iriam fazer perguntas. Olhou em volta, procurando por Sirius mas não o viu. Caminhou na direção oposta e entrou no Cabeça de Javali, o pub estava quase vazio apesar do movimento na rua. A sujeira do local espantava os possíveis frequentadores. Atravessou-o e saiu pelos fundos. Contornou a orla da floresta, em direção ao castelo, arrependido de ter saído. Massageou a nuca e abriu o colarinho da blusa, ainda estava quente, de Elisa Vrastani - Magia, Poder e Destino I
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raiva e indignação. Diminuiu os passos quando sentiu a presença de um deles à sua frente, mas logo reconheceu a figura pálida, sentada nos fundos da Dervixes e Bangues, aproximou-se. –
Noite ruim? – Harry perguntou sentando-se ao seu lado.
–
Não... péssima – Draco respondeu, carrancudo.
Quando você vai até sua casa? – Harry perguntou, mudando de assunto, não iria perguntar o que tinha acontecido, também não queria falar sobre o incidente ocorrido há pouco.
–
–
Não posso ir. Deve haver pessoas lá...
–
Você disse que sua mãe estava com sua tia, ela voltou?
Não, nossa casa está... servindo aos interesses de outra pessoa... E seus... seguidores, talvez estejam lá – pronunciou escolhendo as palavras.
–
Mas é sua casa! Não pode dizer que está indo pegar alguma coisa, sei lá, inventa uma desculpa!
–
–
É arriscado... – Draco murmurou, indiferente, mais interessado em seu drama pessoal.
–
Tudo bem, eu vou. – Harry se levantou. – Me diz como eu faço.
–
Você ouviu o que eu disse? Há Comensais lá! – respondeu de mau humor.
–
Ótimo. Eu quero saber o que estão fazendo...
–
Minha casa recebeu proteções extras você não vai conseguir entrar...
Então me coloca lá dentro, depois eu dou um jeito de sair, nem que eu tenha... que mexer um pouquinho na decoração...
–
Você é louco e suicida! – Draco virou-se para o outro lado e atirou algumas pedras para longe.
–
Não tem como esta noite ficar pior... não vou ficar aqui parado enquanto tanta coisa acontece lá fora. Anda! Temos que aproveitar a oportunidade... – Harry o instigou.
–
–
Há aurores por todo o canto, como acha que vamos conseguir sair?
–
Como você saiu da última vez?
–
Tive que caminhar pela floresta até a estação, fora da área de proteção que eles fizeram.
Harry se lembrou da clareira atrás da loja dos gêmeos, mas Raven havia dito que os aurores tinham ampliado a área de proteção. Como conseguiu entrar em Azkaban? – Harry perguntou por fim, andava muito curioso, mas não havia tido a oportunidade ainda.
–
Peguei um fio de cabelo da roupa de um dos aurores que vigiam o povoado. Disse aos guardas de Azkaban que estava a serviço do Ministro. Alguns deles me conheciam, o auror. Não foi difícil – gabou-se. – Ao menos, eles não desconfiaram de nada.
–
Também não será difícil desta vez, vamos para a Casa dos Gritos – Harry sugeriu. – Se ela ainda estiver desprotegida... Vamos!
–
Obrigou-o a se levantar e foi abrindo caminho pela floresta, se guiando pelo Feitiço dos Quatro Pontos. Em poucos minutos chegaram ao terreno da Casa dos Gritos. Harry pulou sobre a cerca e foi em direção à Casa.
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–
Espera! – Draco reclamou mais atrás.
Tá, aqui tá bom... – Harry aguardou que ele se aproximasse. – Vai aparatar sozinho ou quer ajuda?
–
Harry guardou os óculos e olhou em volta se certificando de que ninguém os vigiava. Já haviam começado a ter aulas de aparatação, mas a maioria estava tendo dificuldades ainda. Estava pensando numa chave de portal... mas eu consigo, é claro! – disse irritado por ser considerado incapaz.
–
Eu não sei preparar uma chave de portal... – Harry tentou reconciliar. – Então, eu vou de aparatação mesmo.
–
A rua estava escura por causa das sombras das árvores que ladeavam o extenso muro de pedra. Harry ficou parado em frente às grades do portão, concentrando-se na casa que se projetava nos fundos, uma mansão de dois andares. Olhou em volta e não viu ninguém. Passou a mão pelos cabelos e cobriu a cabeça com o capuz. Draco entrou na rua, cabisbaixo, aproximando-se devagar, tentando evitar que o som de seus passos ressoassem na rua deserta. –
Por que foi tão longe? – Harry perguntou quando se aproximou.
Eu não... – Draco ergueu os olhos para o garoto loiro, de olhos verdes, que estava parado em frente ao seu portão. Abanou a cabeça em desaprovação. – Acha que vão acreditar que você é meu parente?
–
–
Não tem ninguém na sua casa. – Harry explicou.
Como sabe? – inquiriu, mal-humorado. – Esquece... – ergueu o braço esquerdo, que continha a Marca Negra tatuada, e atravessou o portão puxando Harry consigo.
–
Harry olhou para trás, o portão continuava do mesmo jeito, intocado. Seguiram pelo jardim bem cuidado. A visão de casa deixou Draco mais entusiasmado, foi andando na frente, mostrando o caminho. Cruzaram a varanda e ele abriu as portas duplas que levavam até o hall de entrada. A decoração era de muito bom gosto e os móveis, caros. Harry olhou tudo atentamente. –
Com o que seu pai trabalha? – Harry perguntou enquanto o seguia pela casa.
–
Arte. Ele tem... tinha galerias de arte.
Faz sentido... – Harry se deteve para observar um quadro, o corredor no qual tinham entrado era repleto deles, várias gerações da família, mas aquele em especial lhe chamou a atenção. Uma mulher, cujas feições se lembrava de ter visto em um rosto mais velho, sentada ao lado dos dois filhos e do marido.
–
Harry sorriu ao identificar nas feições marotas de uma das crianças, os traços do padrinho. Seu irmão, Régulus, tinha os olhos menos vívidos, mais humildes. Se lhe dissessem que um deles viria a se transformar em um seguidor do Lorde das Trevas, Harry não teria apontado Régulus. –
Ei! – Draco o chamou do final do corredor – Temos que sair antes que alguém chegue...
Harry correu para acompanhá-lo. Desceram para o porão e seguiram até a parede dos fundos. Draco apontou a varinha, calculando, tentando se lembrar onde deveria ser a abertura. Harry tocou a parede e foi deslisando a mão por ela lentamente, sentindo-a. –
Aqui – avisou a Draco, ele obedeceu sem questionar.
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Apontou a varinha e murmurou os contra-feitiços de proteção. Entraram. Havia poeira acumulada dos meses em que ninguém pisara ali e vários artefatos interessantes. Sentiu o pingente esquentando contra sua pele, puxou-o de dentro das vestes e suspirou contrariado ao ler a mensagem. Draco ficou observando mas não perguntou nada. –
O que é aquilo? – Harry perguntou ao erguer os olhos para um punhal pendurado na parede.
Um Athame de prata, dizem que perfurou o coração de uma hidra... Coisas do meu pai, às vezes ele coleciona peças raras.
–
–
Foi feito com metal forjado por duendes? – perguntou Harry.
–
Ele diz que é do melhor metal... Harry foi até a parede e pegou o punhal.
– –
Diga ao seu pai que eu vou devolver assim que eu puder. Se algum dia ele souber... – Draco comentou, sombrio.
Foram para a estante e começaram a checar os livros, havia muitos títulos curiosos mas Harry só levaria o que lhe servisse. Achou-o após alguns minutos. Tinha tudo o que queria saber sobre horcruxes, Harry sobressaltou-se de repente, deixando-o cair de sua mão. Chegaram...dois...quatro – anunciou olhando para cima. Recolheu o livro e guardou-o no bolso interno do sobretudo também.
–
Atravessaram o porão rapidamente, após o escritório ser novamente lacrado. Voltaram por onde tinham entrado. Draco correu para a saída, mas Harry o deteve, já estavam dentro da casa. – –
Onde fica os fundos? – Harry perguntou em voz baixa. Não! – Draco sussurrou. – Nunca usamos essa saída, está cheia de detectores de presença.
Regressaram, passaram novamente pela entrada do porão, foram para outro corredor e saíram numa pequena sala que tinha mais duas entradas. Draco estava nervoso e mais pálido que o normal. –
Onde eles estão agora? – perguntou a Harry.
Continuam na sala – respondeu após algum tempo. – Um deles está indo pra lá – Harry apontou o caminho por onde o Comensal se deslocava.
–
É a cozinha. – Draco andou até a janela, todas possuíam detectores de presença e feitiços defensivos, voltou coçando a cabeça, pensativo. – Não podemos ficar aqui nos escondendo a noite toda – reclamou. – Não sei por que fui ouvir você...
–
Harry já tinha saído pela outra porta, deixando-o para trás. Estava tentando chegar perto o suficiente para ouvir o que diziam. Seguiu por um corredor, esgueirou-se para outra sala, maior e ornamentada com antiguidades, que continha uma porta de vidro dando para os jardins e uma passagem circular que levava a um corredor bem mais largo que os anteriores. Havia também outra passagem, que o levou por um corredor estreito até um cômodo solitário. Entrou no cômodo escuro, arrepiando-se ao ver os troféus de caçadas, não tinha outra saída ali. Foi em direção às vozes que surgiam fracamente, vindas do outro lado da parede. Lamentou-se por não estar com sua capa nem com as orelhas extensíveis. Quer se matar?! – Draco sussurrou, puxando-o pelo braço para que saíssem dali. Harry desvencilhou-se pedindo um tempo com as mãos espalmadas. – E se eu fosse um deles?
–
Estava acompanhando seus movimentos, sabia que era você. Sua casa parece um labirinto – reclamou encostando o ouvido à parede. – Quantas pessoas moravam aqui antigamente?
–
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Draco se aproximou para ouvir também. “Detesto... gostaria de não ter que …levá-los até uma cidade...” “… fazer isso, eles precisam se alimentar... mais famintos... sejam os trouxas” “... coitadas … pessoas... depois de mortas” Estão matando pessoas?! – Harry se perguntou, alarmado. – Para alimentar o quê? Você entendeu?
–
Draco o olhou, espantado. –
Seja o que for, eu serei o próximo se te pegarem aqui – Draco concluiu, nervoso.
Isso não vai acontecer, eles são apenas quatro – disse Harry, fazendo o caminho de volta. Draco bufou. – Tem como eu chegar mais perto sem que percebam?
–
–
Não! Você já pegou o que queria, nós vamos sair! – Draco sussurrou, irritado.
Harry olhou ao redor, não havia como sair por ali sem chamar a atenção, se fizesse, teria que enfrentá-los. Coçou o queixo considerando a possibilidade. – –
O que tem lá em cima? Os quartos, o sótão...
Estão vindo – Harry sussurrou com urgência, voltando para a primeira saleta em que estiveram.
–
Draco o puxou até a outra porta, atravessaram rapidamente um pequeno hall e sem dizer nada o empurrou em direção às escadas de mármore branco e voltou para a sala. Harry ficou ouvindo, do alto da escada, enquanto Draco explicava que tinha ido pegar algumas roupas. Um deles se queixou da incompetência do Diretor em controlar os alunos, deu a entender que a filha estava em Hogwarts e que esperava que estivesse segura. Harry achou o comentário irônico pois eram eles a ameaça à segurança. Ouviu Draco perguntar por Narcisa e uma segunda voz responder ranzinzamente que ela e a irmã estavam na companhia do Lorde das Trevas. Uma terceira voz se ofereceu para levá-lo de volta e ele recusou educadamente. Aguardou-o no corredor enquanto ele subia. – –
Não foi tão ruim... – disse Harry, quando Draco se aproximou. Ainda não saímos – ele murmurou e se dirigiu para uma das portas.
Harry o seguiu para dentro do quarto e enquanto ele pegava algumas peças de roupa, ficou reparando as paredes, o chão, os móveis, tudo era branco. Mesmo naquela hora, apenas com a luz do quintal entrando pela janela, tudo era nítido e perceptível. Você dorme mesmo aqui? – Harry olhou para a cama imaculadamente branca e lembrou do próprio quarto.
–
A casa dos Malfoy se diferenciava totalmente da ideia que tinha de uma casa de bruxos das trevas. Conseguiu distinguir a branca lareira num canto do quarto branco. É de verdade? – dirigiu-se até ela e abriu a grade de ferro que a ornamentava, agachou-se no pequeno espaço e examinou a abertura acima, era estreita, mas teve certeza de que conseguiria passar.
–
–
É, mas... deve estar imunda... – Draco o alertou.
–
Você tem razão, é melhor ficar e ser torturado a se sujar com cinzas – desdenhou. – Te vejo
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no portão. Subiu pela lareira se lembrando do apertado duto de ventilação do Ministério, o livro e o punhal se comprimiam contra seu corpo. Agradeceu por seu sobretudo ser preto, assim a sujeira não seria notada, espanou um pouco da fuligem ao chegar ao telhado e foi se encontrar com Draco, no portão. –
Conseguiu descobrir mais alguma coisa sobre o que eles estavam falando?
–
Eu tive sorte de não desconfiarem de nada! – Draco o puxou para fora.
Aparataram de volta aos terrenos da Casa dos Gritos. Harry baixou o capuz, sacudiu os cabelos, novamente negros, e recolocou os óculos, sentia falta deles mesmo que não precisasse. –
Vai você primeiro, não quero que nos vejam juntos – Draco pediu.
Draco, obrigado. – Harry pediu, antes de seguir para a estrada que o levaria de volta ao povoado.
–
Olhou ao redor, ninguém olhou duas vezes na sua direção, a melodia triste e chorosa embalava alguns dos casais, outros, apenas caminhavam abraçados. Viu Neville e Luna perto do palco olhando, Harry supôs, alguma criatura minúscula que ela trazia nas mãos, ou algum ser imaginário. Sorriu ao se perguntar se Neville já estava sendo capaz de enxergá-los também. Parou ao avistar os cabelos vermelhos de Gina. Ela estava parada na entrada da loja dos irmãos, conversando com um dos gêmeos. Harry mordeu o lábio inferior considerando a possibilidade de sair novamente. Ainda estava cheio de adrenalina e inquieto, ninguém parecia ter percebido sua ausência ainda e havia muitos lugares que gostaria de visitar e, principalmente, muitas informações que ansiava por obter; mas primeiro tinha que achar Rony e Hermione, mandou uma mensagem para eles e foi até a loja de logros. –
Oi... Tudo OK? – Harry os cumprimentou.
Diga você, o que aconteceu? – Fred lhe lançou um olhar gaiato. Gina o olhou friamente e não disse nada.
–
Harry!! – Hermione o chamou enquanto subia as escadas. – Onde esteve? – perguntou, zangada.
–
–
Estamos te procurando há tempos! – Rony reclamou.
–
Me procurando pra quê? – perguntou inocentemente. Hermione bufou.
Você não disse que ia falar com o Simas? Ele apareceu no Puddifoot com a Lilá, disse que nem tinha te visto!
–
–
Com a Lilá? Hum... Gostaram da decoração?
–
Para de tentar enrolar a gente, nós ficamos preocupados... – Rony reclamou.
–
Por quê? Eu disse a vocês que estava bem...
–
Disse que estava ocupado! – Hermione se irritou. – O que é muito diferente...
–
Será que eu não posso ter trinta minutos de privacidade?
–
Uma hora e vinte minutos – Rony o corrigiu, consultando o relógio. – Onde esteve, afinal?
Estava ocupado com uma garota ou atacando mais alguém? – Fred perguntou com ar divertido. – Não se preocupe – acrescentou ao ver sua expressão de preocupação. – Ele não vai continuar espalhando essa história por aí, Jorge e eu já demos um jeito nisso.
–
–
Sério? – Harry o olhou desconfiado. – O que fizeram?
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O que qualquer irmão mais velho faria... Não que você precise de ajuda, mas estávamos precisando de alguém em quem testar nosso Embaralhador de Memórias...
–
–
Fizeram ele de cobaia?! – Hermione ficou chocada.
Ele só vai se sentir um pouco confuso sempre que tentar se lembrar do ocorrido, só isso... – Fred deu de ombros ignorando seu olhar de reprovação.
–
Obrigado, Fred. – Harry enfiou as mãos nos bolsos do sobretudo certificando-se de que o livro e o punhal estavam seguros. – Não existe garota nenhuma e eu não estava atacando ninguém, estava com o Draco.
–
Você dispensou a gente pra ficar com o Draco? Agora ele é seu amigo? – Rony perguntou, enciumado.
–
Meus amigos de verdade deveriam estar aproveitando esta noite, mas pelo jeito... – suspirou chateado. – Tudo bem, se preferem brigar comigo ao invés de verem o que eu consegui...
–
Harry virou-se novamente para as escadas. Até que enfim nos reencontramos! – Raven apareceu, de mãos dadas com Sirius, barrando seu caminho. – Noite agitada? – perguntou diretamente a Harry.
–
–
Um pouco. E vocês? Se divertindo?
–
Não tanto quanto você, imagino – Sirius disse. – Atacou mesmo um funcionário do Profeta?
–
Não... mais ou menos – Harry admitiu, incomodado. – Ele me provocou.
Não brigue com ele, Sirius, esse Mark é que deveria ter vergonha de brigar com crianças, agora deve estar fingindo que não lembra o que aconteceu...
–
–
Raven! – Harry reclamou.
–
Que foi, meu amor? – Raven perguntou com doçura.
Eu vou voltar ao castelo – Harry anunciou a eles. Afastou-se considerando a noite por encerrada antes que piorasse. Rony foi o primeiro a acompanhá-lo.
–
Quem é essa garota, a Evandra? – Sirius apareceu ao seu lado e passou o braço pelos seus ombros. – Raven disse que você não gostava dela; então, por que brigou com o sujeito?
–
Não foi por isso, não teve nada a ver com ela – Harry explicou. – Você acha que tenho tempo para pensar em relacionamentos com tudo o que está acontecendo?
–
–
Você deveria. Esses anos não irão voltar, independente do que venha a acontecer. Caminharam em silêncio até o castelo. Encontraram Dumbledore no saguão, com Snape.
–
Já voltaram, que bom, eu estava indo buscá-los... – Dumbledore comentou.
–
Aconteceu algo? – Sirius perguntou, ignorando a presença de Snape.
Não, nada. Só achei que já havia passado tempo suficiente – olhou para Harry e sorriu. – Acho que não é muito prudente que se afaste do castelo por muito tempo.
–
Harry olhou rapidamente pra Snape, imaginou que ele deveria ter sido muito convincente para fazer o Diretor ir até o povoado. Disse a eles que estava voltando para a Torre da Grifinória e se afastou após se despedir de Sirius e Raven. Atravessou o buraco do retrato e esperou que se aproximassem, só havia alguns poucos alunos espalhados por ali, nenhum deles prestando atenção ao que fazia. Quando Rony, Hermione e Gina se aproximaram, esvaziou os bolsos, colocando os objetos sobre a mesa. Hermione arfou, Elisa Vrastani - Magia, Poder e Destino I
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depois o olhou acusadoramente. Harry contou a eles os acontecimentos daquela noite. –
Acha que essas pessoas que estão sumindo...? – Rony estava perplexo.
É o que parece. Se ainda tivéssemos o mapa poderíamos marcar os locais dos desaparecimentos e traçar com as atividades dos Comensais, procurar algum rastro...
–
–
Isso tudo é grave demais. Mas o que a gente poderia fazer? – Hermione perguntou.
Não podemos fazer tudo sozinhos. – Gina pegou o livro. – Vamos nos dedicar apenas em solucionar o seu problema, para que você possa ter uma vida normal...
–
–
E vocês... Não quero que continuem se limitando por minha causa. – Harry falou aos três.
–
Pensei que fossemos como uma família – Rony reclamou. – Logo, temos que ficar juntos.
–
Sempre – Hermione completou.
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CAP. 23 – UMA GOTA DE INTRIGA No dia seguinte Rony e Hermione foram a Hogsmeade levando o livro, a horcrux e as presas do basilisco; não precisariam delas agora que tinham o punhal, mesmo assim, não tencionavam usálo. Descobrir como eram feitas as horcruxes não os animou muito, não havia como desfazer um assassinato. Dumbledore sempre dissera que não havia como trazer os mortos de volta, mas resolveram deixar que os gêmeos tentassem o que fosse possível. Harry e Gina ficaram aguardando, impacientemente, nos jardins, deixando que todos os vissem no castelo, estudando. Rony e Hermione voltaram algum tempo depois, com as mãos vazias. –
O que eles disseram? Por que demoraram? – Gina perguntou ansiosamente.
Estávamos tentando abrir o cilindro, achamos que deve haver um código de seis letras, uma palavra, que consegue fazer com que se abra. – Hermione explicou.
–
Achamos que o cilindro seja apenas uma proteção, e que haja outro objeto dentro dele, talvez... – Rony continuou.
–
–
E por que não o quebraram logo e pegaram o objeto? – perguntou Harry, impaciente.
Calma, meu amigo, isso não foi possível... – Rony sorriu pondo a mão em seu ombro. – Mas conseguimos outra coisa... – retirou do bolso um bolo de notas. – Isso vai financiar nossas expedições para fora daqui quando formos procurar as outras.
–
–
O que fizeram? Assaltaram um banco?
Fred e Jorge. – Hermione disse, satisfeita. – Negociamos as presas, eles só precisariam de uma. Nós vendemos as outras, são muito raras...
–
Algumas pessoas tinham comentado sobre a briga com Mark Dawnson, mas como ele não prestou queixa, ninguém tinha abordado Harry a respeito; apesar do Ministro ter aparecido duas vezes em Hogwarts, vezes essas em que Harry procurou se manter fora de vista. Ele ainda estava chateado com Evandra, então, a estava ignorando e recusou o convite feito a Hermione para que os três visitassem seu pai no início das férias. Desculpe, Hermione, mas você e Rony podem ir sem mim. Até lá vocês já serão maiores de idade, poderão ir onde quiserem e eu terei que esperar até o final de julho. Mesmo assim, Moody não permitiria.
–
Sirius tinha comunicado sua decisão em deixá-lo aos cuidados de Moody logo após o casamento, enquanto saíam em lua-de-mel. Tinha desconsiderado seu pedido para ficar com os Weasley ou com John, sabia que isso se devia à sua intenção de sair de casa quando completasse dezessete e Raven não quis interferir na decisão de Sirius, prometendo apenas que estariam de volta antes do seu aniversário. Seguiram fazendo o possível para se dedicarem às aulas. Os gêmeos tinham mandado notícias dizendo que ainda não tinham conseguido descobrir o código de abertura do cilindro. Todas as sugestões que pudessem dar estavam sendo descartadas. O tempo estava passando rapidamente agora e Raven estava ansiosa com o casamento.
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Tinha tirado um fim de semana para escolher o vestido, apenas Gina e Hermione receberam autorização para vê-lo. Ambas garantiram que ela seria uma noiva linda. Para com isso! – Rony pediu a Harry pela segunda vez e retirou o tinteiro de sua mão. Estivera batendo-o ritmicamente sobre a mesa.
–
Harry estava irritado e impaciente. O sinal tocou e a Professora McGonagall dispensou a classe, foi o primeiro a se levantar, não estivera prestando atenção à aula, nem anotara nada do que fora dito. Vamos pra biblioteca, estou cansada de ficar no Salão Comunal – Hermione pediu. Andavam presos ao Salão ultimamente, tentando dar conta de todos os deveres.
–
–
Eu vou visitar o Hagrid. – Harry anunciou, parando na escadaria.
Por que agora? Temos muito o que fazer... – Hermione o olhou inquisitivamente. – O que você tem?
–
–
Não estou a fim de estudar. Vocês podem ir se quiserem.
E quem é que está? – Rony começou a descer, entusiasmado. – Faz tempo que não vemos o Hagrid... como se já não bastasse não estarmos assistindo suas aulas... – argumentou com Hermione, que os seguia contrariada.
–
Ouviram os latidos de Canino conforme foram se aproximando, não demoraram para avistarem Hagrid indo em direção à floresta proibida. Correram até ele e conseguiram alcançá-lo antes das primeiras árvores. –
O que estão fazendo aqui fora?
–
Viemos te ver. – Hermione coçou entre as orelhas de Canino, que latia insistentemente.
Desculpem, mas não vou poder dar atenção a vocês agora, tenho trabalho a fazer – disse Hagrid, ajeitando o arco sobre o ombro.
–
–
Posso ir com você? – Harry pediu, ansioso.
–
Claro que não. Vocês não têm dever de casa?
–
Ah, Hagrid... – Rony reclamou por ser lembrado de suas obrigações.
Hagrid, que tipo de criaturas das trevas se alimenta de pessoas? – Harry tinha certeza de poder obter a resposta com Hagrid, sendo ele professor de Trato das Criaturas Mágicas. – Criaturas que Você-Sabe-Quem possa estar usando?
–
–
Além dos lobisomens? Várias. – Hagrid passou a mão livre pela barba.
–
Lobisomens? – Hermione estranhou.
Sim... mas só os mais selvagens, não lobisomens como o Lupin... Há as viúvas negras, manticoras, serpentes..., ora Harry, qualquer animal carnívoro, e são a maioria deles...
–
–
Mas que possam andar pela cidade sem serem vistos...
–
Por que está interessado nisso? – perguntou Hagrid.
Acho que ele está envolvido no desaparecimento de trouxas... – Harry respirou fundo e massageou a nuca tentando descontrair, estava se sentindo tenso, caminhou até a orla da floresta depois voltou até Hagrid. – E os Centauros, como estão?
–
–
Não os tenho visto muito ultimamente...
–
E o Grope?
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–
Nas montanhas, aqui perto... O que você tem, afinal?
Nada. – Harry olhou na direção do salgueiro lutador. – A gente se vê mais tarde – despediu-se e seguiu pelos terrenos enquanto Hagrid seguia para a floresta, desconfiado.
–
–
Quer explicar o que está acontecendo? – Hermione o parou.
–
Tem alguma coisa errada. – Harry disse a ela, angustiado. – Mas eu não sei o que é... Reparou em volta, um testrálio levantou voo de dentro da floresta. Olhou para o castelo.
–
Vou sentir falta daqui.
–
Ah, não! Você está sentimental... – Rony caçoou.
Não há nada de errado nisso – Hermione o repreendeu. – Também vou sentir falta daqui, mas por que pensar nisso agora?
–
Não tinham mais o que fazer, então Harry e Rony se resignaram e seguiram Hermione de volta ao castelo. Depois da aula de Feitiços o Professor Flitwick deu o recado de que Harry deveria ir ao escritório do Diretor. Ele deixou os amigos, a caminho do Salão Comunal, e foi até a gárgula de pedra que vigiava a entrada para a torre. Subiu as escadas após dizer a senha “acidinhas”, bateu à porta e entrou após receber permissão. –
Mandou me chamar, Diretor?
–
Sim, venha Harry, sente-se.
Dumbledore estava sentado à escrivaninha e Fawkes estava em seu poleiro, dormindo com a cabeça embaixo de uma das asas. –
Pedi que viesse para te devolver isto.
Colocou o anel à sua frente, sobre a mesa. Estava inteiro e perfeito, por alguns segundos Harry não soube o que dizer, apenas sorriu. –
O Senhor conseguiu! – Harry pegou o anel com cuidado, não sentiu nada.
Não, Harry, eu não consegui. – Dumbledore apenas o olhava pacientemente, as mãos entrelaçadas sobre a mesa.
–
–
Mas... Ele não está mais aqui... – examinou o anel, confuso. – Para onde ele foi?
Estranha essa sua capacidade de senti-lo, não? Preocupante até. Chegou a sentir o mesmo em relação ao diário naquela época?
–
–
Não, que eu me lembre não... O que aconteceu com o anel, Senhor?
Talvez, porque ele ainda não tivesse um corpo... – Dumbledore meditou, ignorando sua curiosidade. – O que acha destas vestes? – perguntou descontraidamente estendendo-lhe uma caixa amarelada que continha, em seu interior, um conjunto de terno e calça, cor de beterraba.
–
Hã... – Harry olhou para o interior da caixa meio sem jeito, achou estranho que estivesse pedindo sua opinião, achou que a escolha não era a das melhores.
–
Não são para mim, apesar da cor não me desagradar – explicou o Diretor. – Quero que me diga se essas vestes possuem algum traço dele, de Voldemort... Cuidado! – o advertiu quando esticou a mão para pegá-las. – Já mataram muitos trouxas e um bruxo que ousaram vesti-las. Achei o fato curioso e são bem antigas...
–
–
Não, não são. – Harry disse após tocá-las, ainda dentro da caixa.
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–
É, era de se esperar, não faz o gosto dele, não é mesmo?
–
Não, Senhor – Harry concordou. – O anel ainda está inteiro, como conseguiu? – insistiu.
Eu simplesmente o reparei depois de destruí-la hoje cedo, já que o queria tanto. É algo difícil de ser feito com um objeto danificado por magia tão forte, mas não para mim, claro.
–
Harry não conseguiu esconder a decepção. Colocou o anel no dedo e ele novamente se ajustou ao seu tamanho, um dos cantos de seus lábios se crisparam num quase sorriso, suspirou desanimado. –
Deixe-me ver...
Dumbledore puxou sua mão e ajeitou os óculos meia-lua enquanto a examinava, tirou o anel de seu dedo. Agora o tamanho era pequeno demais para ele, e o anel não se ajustou. É um anel de família que deve ter passado por muitas gerações, moldando-se especialmente para cada herdeiro. – Dumbledore o olhou por cima dos óculos, estudando-o. – Com certeza enfeitiçado para reconhece-los, o que com certeza não te inclui. Por que, então, ele te aceita, Harry?
–
Harry se remexeu na cadeira, inquieto, o tom de voz do Diretor o deixou nervoso. Sentiu com se o tivesse acusando ou querendo que ele chegasse a uma linha de raciocínio que desconhecia. –
Porque, talvez, tenhamos algum parente em comum?
Harry pensou em Sirius e Draco que possuíam um parentesco, apesar de não agirem como uma família. Sabia que era pelo fato de ter parte da alma de Voldemort, mas já havia se decidido por não mencionar isso. Não, não houve qualquer relacionamento, já estudei a genealogia de vocês – declarou o Diretor. – Os Potter tem um parentesco longínquo, de séculos, com os Howard. Conhece Isabele Howard, do segundo ano da Corvinal?
–
–
Não, Senhor...
É a última descendente que leva o sobrenome, o qual será perdido assim que ela se casar. Será o fim dos Howard – comentou, pensativo, enquanto olhava para a lareira. – Acontecerá o mesmo com os Sterling quando a Professora Sterling se casar com Sirius Black. Meio injusto como uma das famílias desaparece por meio do casamento, não acha?
–
Ainda tem o irmão dela, John Sterling... Professor, mesmo que não tenha dado certo com o anel, tem como ser feito não é?
–
Talvez, em circunstâncias especiais... Mas o estou devolvendo inteiro, não era o que queria? – Dumbledore estendeu o anel para ele. – Quero que me fale sobre a Professora Raven Sterling. Sirius não está capaz de analisar com clareza alguns fatos e não sei se ela é realmente confiável... Parece haver algo diferente em seu passado, ela lhe contou sobre os pais?
–
–
Não tem nada de errado com a família dela e ela não fez nada. – Harry a defendeu.
Se não fez nada isso a torna, ao menos, conivente... Ela parece gostar muito de você, e te apoiar em tudo...
–
–
E do que estou sendo acusado agora?
–
De nada. E espero que não haja nada do qual possam te acusar... novamente.
Não deveria confiar no Snape! Ele tem ciúmes, está tentando envenená-lo contra Raven porque ela o desprezou...
–
–
O Professor Snape, Harry! – Dumbledore o repreendeu. – Eu confio no julgamento dele, se
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ele desconfia de algo devo ficar atento... mas pelo jeito vocês já estão muito ligados, pelo que percebo, possuem um relacionamento sólido de proteção mútua. –
Somos uma família – respondeu, irritado. – Posso ir agora, Professor?
Claro – concordou também se levantando. – Harry... – chamou-o quando tinha chegado à porta. – Eu prefiro que você não volte a usar o anel.
–
Harry apertou mais o anel na palma da mão e saiu. Pensou em ir tirar satisfações com Snape ou então usar o espelho para chamar Sirius e avisar o que estava acontecendo. Ambas as hipóteses poderiam acarretar em graves consequências. Quando chegou à Torre da Grifinória recolocou o anel no dedo.
Acordaram tarde no sábado. Harry acordou, pois demorara a pegar no sono. Rony, Hermione e Gina o esperavam no Salão Comunal para descerem para o café. Harry ainda estava chateado com a conversa que tivera com Dumbledore, no dia anterior, com o modo como Snape o estava envenenando contra Raven, e com sua desesperança com relação à horcrux. Acho que sei o que estava te deixando angustiando ontem – Hermione comentou, baixando o jornal e o estendendo sobre a mesa do café para que os quatro lessem.
–
Ficaram pasmos por um tempo. Na terceira folha do jornal, em uma notícia sem muito destaque estava noticiado a fuga de Azkaban, de cinco Comensais, liderados por Lúcio Malfoy, que conseguira obter uma varinha. Harry olhou para Draco, que estava cabisbaixo na mesa da Sonserina. –
Bom, não é uma surpresa que o Sr. Malfoy tenha preferido sair de lá – Harry comentou.
E como foi que ele conseguiu pegar a varinha de volta se estava preso em Azkaban? – Rony perguntou a Harry, este franziu a testa estranhando a pergunta.
–
–
Você sabe que eu a entreguei ao Draco.
Mas ninguém mais precisa saber disso, e é o que, provavelmente, os funcionários do Ministério vão imaginar, se desconfiam que estivemos mesmo lá embaixo – Rony explicou. – Se devolvemos as varinhas dos lobisomens, por que não a do Sr. Malfoy?
–
Qualquer outra pessoa poderia ter estado lá também, e roubado a varinha, e não está dizendo que a varinha usada era a dele – Harry argumentou.
–
É só uma questão de tempo até perceberem, e a Ordem sabe o que fizeram – Gina os lembrou – Podem acabar fazendo a ligação.
–
Mas e daí? O que isso muda? – Harry não se importou. – Parece que o Ministro não quer que essa notícia tenha muita repercussão, então, não irá fazer muito caso disso... – Virou-se quando percebeu que Draco estava saindo.
–
Ele olhou em direção à mesa deles antes de ir para o saguão. Harry se levantou também e os outros o seguiram. –
Sabem o que isso significa? – Draco perguntou quando entraram na Sala Precisa.
–
Que você conseguiu arranjar mais problemas pra gente – Rony concluiu.
Rony... ninguém pode provar que fomos nós que roubamos a varinha nem que foi Draco quem a levou até lá – Harry descartou o pessimismo deles.
–
–
Não é sobre isso que estou falando. Meu pai vai tentar voltar para o bando deles.
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Não acredito muito que eles irão aceitá-lo de volta, se o abandonaram em Azkaban... – Harry comentou.
–
Eu também não – Draco concordou. – A não ser, que ele entregue alguma coisa em troca, algo que o Lorde das Trevas queira.
–
E será que seu pai consegue descobrir onde está o cetro de Slytherin? – Harry perguntou, imaginando que o Sr Malfoy devia conhecer muita gente com interesse em antiguidades.
–
Estou falando de você! Eu falei com meu pai, ele não acredita nessa história de Eleito ou que vamos conseguir destruir as horcruxes dele.
–
–
Contou ao seu pai sobre as horcruxes?! – Rony sobressaltou-se.
Não tem importância, Voldemort já sabe – Harry o tranquilizou. – Ele descobriu isso ontem quando Dumbledore destruiu o anel. Da primeira vez ele ainda não tinha um corpo e com o medalhão ele não conseguiu identificar, mas agora ele sabe.
–
–
Meu pai acha que te entregando ao Lorde das Trevas, talvez consiga ser perdoado.
–
Está pensando em ajudar o seu pai? – Hermione o desafiou. Draco olhou para ela, ofendido.
Se Draco quisesse me entregar, o teria feito quando fomos à casa dos pais dele. – Harry olhou para os três, repreendendo-os. – E sinceramente, eu não o culparei se quiser. – Harry falou a Draco e se afastou; caminhando, pensativo, pela sala.
–
–
Harry! – Hermione reclamou, chocada.
–
Eu não pretendo fazer isso – Draco ficou olhando para a estante, perdido em pensamentos.
Vai dizer que não o agradaria ver seu pai novamente recuperar o poder ao lado de Você-SabeQuem?
–
Não, não me agrada vê-lo submisso ao Lorde das Trevas, menina Weasley! Eu sei como ele trata seus seguidores! – Draco abriu a blusa, com raiva, mostrando a cicatriz do lado direito do peito.
–
–
Desculpe, eu sinto muito... – Gina pediu, constrangida.
–
E se ele conseguir? Você não deve subestimar meu pai... – Draco continuou.
Vocês continuarão sem mim – Harry o interrompeu. – Você sabe que essa história é bobagem, Draco, provavelmente inventada pelo Profeta pra vender mais jornais. O fato de eu estar vivo ou não, não altera o que tem que ser feito.
–
Harry andara pensando no que faria se destruísse todas as horcruxes e mesmo assim descobrisse que Voldemort não podia ser morto, se isso realmente acontecesse já tinha decidido o que fazer, motivo pelo qual tinha resolvido não contar a ninguém a verdade sobre a conexão entre eles, muito menos ao Sirius. Não deixaria que Voldemort continuasse aterrorizando o mundo. Sentou-se no sofá e ficou em silêncio, acariciando o anel, um hábito que não conseguia largar. –
Do que está falando? – Hermione sentou ao seu lado.
Que enquanto eu puder, vou fazer o possível para ajudar a encontrá-las, mas se eu não estiver mais aqui...
–
Dá um tempo, você ainda não aprendeu nada depois desses anos todos? – Rony reclamou. – Nada vai acontecer, e se acontecer você vai se sair bem, como sempre.
–
Rony... – Harry pensou em argumentar mas desistiu. – Isso é porque eu sempre posso contar com vocês.
–
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–
E a gente com você... – Gina se aproximou. – Sempre pensando em salvar os outros...
Ei! Lembram de quando ouvimos falar pela primeira vez em Tom Riddle, no segundo ano? Eu disse a vocês que tinha lido a respeito dele... – Rony comentou, entusiasmado. – Ele recebeu um prêmio por serviços especiais prestados à Hogwarts! E se ele é tão apegado assim a objetos de valor sentimental...
–
–
Rony! – os olhos de Hermione brilharam.
–
Claro... – Harry saltou do sofá, entusiasmando-se. – Então, vamos!
–
Esperem! E sobre o que estávamos falando? – Draco os interrompeu.
Tenho certeza que Dumbledore aceitará o seu pai, se ele quiser se unir à Ordem. Mas ele é que terá que decidir, não podemos fazer nada quanto a isso. – Harry comentou se dirigindo à porta, decidido. – Ou talvez possamos fazer muitas coisas, por todos nós, e uma delas está lá embaixo agora, na Sala de Troféus.
–
Pararam em frente ao escudo dourado que estava guardado dentro de um armário. Draco, prudentemente, não os acompanhara. A sala estava vazia, mas era enorme e o som ecoava ali dentro. Hermione usou o Alohomoha para abrir o armário e Rony pegou o escudo cuidadosamente. –
O que acham? É uma horcrux? Está tão desprotegida... – Rony observou.
Depende do que você achar por desprotegida, se Filch não for o suficiente... – comentou olhando em direção à porta.
–
Gina
Harry passou a mão pelo escudo e o retirou das mãos de Rony, o analisou por um tempo, chateado, depois o devolveu à prateleira. –
Não é ele – anunciou, desanimado.
Então tenta a medalha que ele ganhou, de Mérito em Magia... – Rony foi até a outra parede onde diversas medalhas eram guardadas em um grande armário.
–
Demoraram um tempo até localizá-la. Rony a pegou e estendeu a Harry, ele a tocou brevemente. –
Parabéns, Rony, você a achou! – Harry o felicitou.
Fecharam o armário e saíram rapidamente antes que alguém aparecesse, por sorte, ninguém mais se sentia atraído pelos troféus adquiridos pelos antigos alunos do castelo. –
Fácil demais não acham? – Hermione olhou para trás, em direção à sala que haviam deixado.
–
Será que esse é o limite? – Gina perguntou.
Ele também gostava muito de Hogwarts – Harry observou. – Mas não vamos encontrar mais nada aqui.
–
–
Então você acha que há mais delas? – Gina o olhou, curiosa. Dumbledore descia as escadas, eles se calaram e continuaram a subir.
Estive agora na Torre da Grifinória, procurando por você, Harry. – Dumbledore os parou quando se encontraram. – Suba e se vista com roupas normais, de trouxa, pegue também alguma roupa de frio, nada mais. Ah, e sua varinha, claro.
–
–
Para onde eu vou? – Harry olhou pela janela, o sol brilhava timidamente.
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Vou precisar de ajuda em algo que preciso fazer. – Dumbledore olhou para o rosto espantado dos quatro. – E pensei em te levar comigo, mas tudo bem se quiser ficar...
–
–
Não! Eu vou! – Harry concordou prontamente.
–
Encontro você no saguão em uma hora. – Dumbledore avisou.
Os quatro subiram apressados. Harry abriu o malão quando chegou ao dormitório e começou a escolher o que iria usar. Pegou uma calça preta e uma blusa branca de gola alta. Pra onde será que ele vai te levar? – Hermione questionou observando-o separar a roupa. – Estar no meio dos trouxas não quer dizer estar em segurança, não com todos eles lá fora...
–
Provavelmente ele achou alguma coisa e quer que eu diga se é uma horcrux... – Harry palpitou.
–
Então por que não trouxe até aqui? Será que é tão grande assim? – Rony tirou do bolso a medalha de Mérito de Riddle. – Devemos entregar essa ao Fred e Jorge, e deixar a outra para uma segunda tentativa, não conseguimos abri-la ainda...
–
Faça isso, não temos muito tempo, ele já sabe o que está acontecendo, então é melhor que sejam todas desfeitas o quanto antes.
–
Harry foi até o banheiro e voltou algum tempo depois, já vestido. Colocou no bolso do casaco luvas e um gorro. –
Algum lugar frio... – meditou.
Não esqueça de levar a capa da invisibilidade – Hermione o lembrou. – Será melhor que não o vejam.
–
–
E não faça bobagens – Gina pediu.
–
Vocês se preocupam demais, eu estou indo com Dumbledore... – Harry as tranquilizou.
Desceram e encontraram Raven andando pelo corredor, abraçada a um balde cheio de objetos que saltitavam, brilhantes. Que bom que encontrei vocês, que tal me ajudarem a escolher alguns enfeites para o casamento? Estou pensando em decorar as árvores da trilha principal que levam à Casa Verde...
–
Raven os convidou, entusiasmada, mas então reparou nas vestes de Harry. –
Acho que você fica bem de cinza grafite... vou falar com Sirius, ele vai te levar...
Raven, eu estou saindo, a gente se fala depois... – Harry a interrompeu. Ultimamente ela andava empolgada demais com o casamento.
–
–
Saindo? Como assim? – perguntou, ficando séria de repente.
–
Dumbledore vai me levar com ele...
Te levar para onde? – Raven pareceu não gostar da notícia, principalmente depois de Harry dar de ombros indicando que não sabia e não se importava muito com isso.
–
Raven desceu com eles até o saguão. Minerva aguardava ao lado do diretor com uma expressão contrariada no rosto. Dumbledore usava um sobretudo marrom, um conjunto de calça e pullover cinzas sobre uma blusa amarelo canário, e trazia o longo cabelo prateado preso num rabo de cavalo. Parecia muito bem disposto, Harry imaginou que a ideia de estar lá fora lhe fazia tão bem quanto a si próprio. Vamos, então? – Dumbledore perguntou a Harry. – Trouxe também a capa de invisibilidade? – Dumbledore reparou.
–
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–
Trouxe – respondeu, feliz por Hermione ter sugerido.
–
Deixe-a, não precisaremos dela. – Dumbledore pediu.
–
Para onde irá levá-lo, Diretor? – Raven perguntou enquanto Harry entregava a capa a Rony.
–
Para Londres – Dumbledore esclareceu.
–
Mas não é perigoso...?
Eu o trarei de volta, Professora – Dumbledore estudou sua expressão preocupada depois chamou Harry para acompanhá-lo.
–
O que vamos fazer em Londres? – Harry perguntou quando cruzaram os portões de Hogwarts.
–
–
Vamos para o Norte, mas não é preciso que saibam – Dumbledore respondeu.
–
E como vamos chegar lá, Senhor? Chave de Portal ou...
–
Aparatação é mais simples.
Dumbledore o conduziu pelo povoado, passaram pelos aurores, os quais cumprimentou a todos, e seguiram em direção à Casa dos Gritos. Harry olhou para trás se dando conta de um fato que não tinha parado para analisar. –
Descobriram o Comensal que andava pelo povoado, Professor?
Sim, o prenderam, ele estava trabalhando no Três Vassouras. Com o aumento da clientela Madame Rosmerta precisou de ajuda no atendimento. E como a proteção que eles lançaram exclui os moradores e funcionários... Mas você sabia, claro – Dumbledore concluiu. – Por que não nos avisou antes?
–
Ele não me fez nada... – Harry explicou após pensar a respeito, não havia tido motivos para entregá-lo, ele tinha tantos seguidores espalhados.
–
–
Notável, imagino que não quis comprometer seus passeios com a Professora Sterling.
Harry se calou, não queria voltar a discutir aquele assunto. Contornaram a Casa dos Gritos e continuaram andando por uma trilha que Harry nunca tinha visto antes, ficou tentado em dizer que já poderiam aparatar dali mesmo, mas conseguiu se conter.
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CAP. 24 - TESOUROS O local era mais frio do que esperava. Dumbledore, ao contrário dele, parecia não perceber a baixa temperatura, o vento gélido brincava com sua barba branca que trazia presa na altura do peito. Em breve, Harry – Dumbledore pôs a mão em seu ombro, guiando-o pelo terreno semicoberto pela neve. – Sirius poderá perder a sua guarda. Scrimgeour tem posto em dúvida sua capacidade em criar alguém tão... necessitado de atenção. Ele sabe o que você fez no Ministério, e o que você já fez até hoje. Depois da fuga dos cinco Comensais, não vejo o porquê dele perder a oportunidade de alegar preocupação com a sua segurança.
–
–
Por quê? Por que ele está tão preocupado comigo?
–
O que você acha de ter sua guarda transferida para o Ministério?
–
Que ele tente! – Harry disse em tom de desfio. – Não vou receber ordens do Ministério...
É justamente isso o que ele acha. Para ele, uma maneira eficaz de se livrar de um futuro problema é mantê-lo sob vigilância... somados ao interesse dos Antigos por você, por quem o Ministério nutre profunda intolerância... E seus planos estão dando certo, nem com o casamento Sirius irá conseguir provar ter condições, não quando está associado a lobisomens e tem um histórico próprio de transgressões que ganha até mesmo de vocês três – comentou.
–
–
Isso tem alguma coisa a ver com a profecia?
Ah, sim. Eles acreditam nessas bobagens. Profecias são ambíguas e evasivas, feitas para se adaptarem a qualquer época e situação. Mas desde que alguém acredite e esteja disposto a tornála realidade... “Virá uma época em que o mal se espalhará” – Dumbledore recitou ironicamente. – O mal está sempre quebrando as barreiras que tentamos usar para contê-lo, conflitos, guerras...
–
–
Doenças... – Harry considerou. – Mas o que tem a ver comigo?
–
Ela dizia que alguém pelo mal seria marcado e esta pessoa teria o poder de decidir o futuro...
–
Um Comensal? – especulou.
Como eu disse, ambíguo. O Eleito. Eles precisam acreditar nisso e que os outros acreditem também, motivá-los, dar-lhes esperança, ou teriam apenas caos. – Dumbledore parou para pegar um punhado de terra úmida entre os montes de neve.
–
–
Ele não deveria estar se preocupando com Voldemort?
Deveríamos nos unir e lutar contra nosso inimigo em comum, como sugeri diversas vezes, mas ele prefere esperar para ver se fracassarei em meus esforços, assim terá uma ameaça a menos para se preocupar, porque ele também me vê com uma. Ele é um estrategista, interessante, não? – Dumbledore cheirou a terra depois a jogou fora e limpou as mãos.
–
–
E se ele conseguir? Acha que vai me convencer em tão pouco tempo...
Ah, claro que não, mesmo usando feitiços poderosos para controlar sua mente. Com certeza vai emitir um decreto aumentando a maior idade para dezoito ou talvez vinte anos... Mas isso não importa agora, assim que Sirius perder entrarei com um pedido para ser seu tutor, ainda tenho muitos amigos no Ministério, terei muitos votos ao meu favor.
–
–
O Senhor?! Mesmo? – Harry perguntou, surpreso.
–
Por que a surpresa? É lógico que pedirei! – exclamou achando graça de seu espanto. – Há um
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povoado por aqui, um povo rústico, criadores de cabras, apegados a costumes antigos. Para que lado? – Harry olhou ao redor, estavam num vale e não tinha nenhum sinal de povoação por perto. Havia montanhas ao longe, cobertas pela neve, a vegetação era escassa e parcialmente coberta.
–
Acho que estamos do lado errado, mesmo com a neve, a terra deveria estar cheirando a esterco e urina – Dumbledore observou – e deveria haver cabras pastando em algum lugar... Espere aqui. – ele pediu e após, aparatou.
–
Harry olhou em volta, curioso, Dumbledore ainda não havia dito o que iriam fazer ali. Como eu imaginei, do outro lado das montanhas, é lá que corre o rio – Dumbledore disse ao retornar. – Vem, há um lugar afastado o suficiente para aparatarmos sem sermos vistos.
–
–
O que exatamente é essa horcrux, Professor? Que tipo de objeto?
Horcrux? – perguntou distraidamente enquanto seguiam em direção ao conjunto de casas construídas no vale. Antes tinham parado para verificar o rio que surgia de dentro da montanha, algumas cabras pastavam por ali. – Não viemos em busca de horcruxes, viemos atrás de algo muito mais importante.
–
O quê? – perguntou após se recuperar do choque daquela informação, não imaginava o que poderia ser mais importante do que destruir as horcruxes e enfraquecer Voldemort.
–
–
Você já leu a respeito das relíquias do Bretwalda1?
Não – Harry respondeu prontamente. Dumbledore lhe lançou um olhar pesaroso por sua ignorância.
–
Não conte com ter os amigos ao seu lado pela eternidade, Harry. A Srta. Granger é uma jovem inteligente, mas embora goste de bancar a mãe de vocês dois, hoje, um dia terá os próprios filhos... E espero que todos herdem sua mente brilhante... Mas como eu dizia... – Dumbledore continuou quando Harry abriu a boca para protestar. – Numa época em que a magia era atribuída a deuses, existiu um rei, um Bretwalda, que dizem, governou toda a terra, ao menos, toda a terra que tinham conhecimento de existir. E isso, graças aos presentes mágicos recebidos pelos deuses. Nunca perdeu uma batalha e se manteve soberano por mais de um século.
–
–
Ele era um bruxo, então.
Não se sabe, mas creio que não, ou então, teria sido equiparado a algo mais ou a um druída. Naquela época, gostavam de acreditar que tudo poderia se resolvido com a queima das ervas corretas ou com um sacrifício em um lugar sagrado.
–
Chegaram à entrada do vilarejo. Dois esqueletos de algum animal, fincados em estacas, ladeavam a entrada. Seus ossos chocalhavam com o vento, alguns deles jaziam no chão. Acreditam que isso espanta o mal – Dumbledore esclareceu. – Como eu disse, eles se apegam a costumes antigos, e um deles é sacrificar crianças, então, fique perto de mim – lançou um rápido olhar para o anel em sua mão. – E seja obediente desta vez.
–
Pessoas agasalhadas com peles de animais passavam pela rua principal, atarefadas com seus afazeres, nenhuma parou para olhar duas vezes para eles, ninguém estranhou a presença deles no local. –
Ninguém vai perguntar o que viemos fazer aqui? – Harry estranhou.
–
Passamos pela proteção deles, acreditam que todo o mal fica contido do lado de fora –
1 “Um título saxônico que significava Governador da Grã-Bretanha.” (O Inimigo de Deus. CORNWELL, Bernard.)
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Dumbledore cumprimentava as pessoas pelas quais passavam com sorrisos e acenos de cabeça. – E nós entramos. –
E o que viemos fazer aqui, Professor?
Ah, claro, então o rei dividiu as relíquias, um dia antes de morrer, entre alguns de seus inúmeros filhos, e ele teve muitos em mais de cem anos de vida, e o seu reino acabou com sua morte. Os filhos brigaram entre si, as terras foram invadidas por novos conquistadores e os tesouros se perderam. Alguns acreditam que foi a ambição pelos tesouros que destruiu o reino, outros, que as relíquias não deveriam ter sido separadas, porque assim, seu poder foi dividido e se tornou insuficiente.
–
–
O Senhor acredita nisso?
Eu sei, Harry, que os tesouros foram reunidos uma vez mais e com eles foi erguido um reino, mas com um objetivo diferente do de governar. Quatro pessoas, cada uma, portadora de uma das relíquias, então houve um desentendimento entre eles e após a saída de um dos quatro, resolveram torná-las inacessíveis à cobiça de pessoas inescrupulosas.
–
Harry ouvia a história , incrédulo, parecia um conto de um livro infantil. Pensou na horcrux que tinham acabado de encontrar. Voldemort estava procurando o tesouro de Slytherin e Dumbledore, relíquias da lenda sobre um reinado primitivo. Suspirou desanimado. Entraram em um modesto estabelecimento que se diferenciava muito pouco das demais casas do local, todas construídas com a madeira extraída das árvores da montanha. O lugar tinha cheiro de mofo, havia um amontoado de capim úmido em um dos cantos; em uma parede, prateleiras com ovos, carne salgada e outras coisas que Harry não conseguiu distinguir quando passaram. Acompanhou Dumbledore até o balcão, onde um homem trançava uma cesta de palha. Ele tinha os cabelos cor de um amarelo pálido e olhos claros e desbotados, como todos os demais moradores que tinham visto. Olhou para eles com curiosidade e falou numa língua que Harry não conseguiu entender, Dumbledore respondeu no mesmo idioma. O dono do local indicou Harry, estudando-o curiosamente e perguntou algo que Dumbledore confirmou com um aceno, trocaram mais algumas palavras a seu respeito. –
Ele nunca viu alguém com cabelo tão escuro – Dumbledore explicou. – Intrigante, não?
Harry passou a mão pelo cabelo, que deveria estar revolto após passarem por aquela ventania gelada, ficou olhando para ambos enquanto conversavam, depois, como não conseguia entender nada do que diziam, foi observar as prateleiras. Continham comida e algumas coisas de utilidade geral, nada que fosse interessante. Foi até a porta e ficou observando o movimento das pessoas carregando, limpando e conversando. Achou o ambiente muito agradável apesar dos esqueletos na entrada. Viu crianças brincando, pareciam normais e felizes, se perguntou se Dumbledore tinha inventado aquela história para deixá-lo impressionado. Olhou para o interior da loja, os dois ainda conversavam no balcão, que agora continha uma garrafa e dois copos parcialmente cheios. Encostou-se no umbral e ficou aguardando. Vamos – Dumbledore disse após algum tempo, vindo em sua direção. – Rústicos, mas inteligentes. Uma civilização notável, apesar dos costumes selvagens.
–
–
O que vamos fazer agora?
–
Ele me explicou como chegar ao local dos rituais, é lá que eu suspeito que encontraremos...
Uma senhora sorridente os abordou quando se encaminhavam à saída, insistiu com Dumbledore apontando uma das residências que deveria lhe pertencer. Dumbledore retribuiu o Elisa Vrastani - Magia, Poder e Destino I
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sorriso galantemente enquanto lhe falava docemente. Beijou-lhe a mão. Antes de partirem ela ofereceu a Harry uma fruta de sua cesta, escolheu uma de cor amarelada e formato oval que Harry desconhecia. Após uma rápida troca de olhar com o Diretor ele aceitou e agradeceu, Dumbledore traduziu o agradecimento e o guiou para fora. Quando se afastaram o suficiente do povoado ele continuou com a narrativa. –
Então, eu acredito que neste lugar possa estar...
O cheiro da fruta era atraente, Harry a mordeu , achou a casca levemente amarga mas em compensação, a polpa era muito doce. O que está fazendo!? Cospe isso! Anda, cospe! – Dumbledore ordenou quando percebeu o que tinha feito. – Será que não te ensinamos nada em Hogwarts? – apontou a varinha para o pedaço da fruta que ele havia cuspido, incinerando-o. – É óbvio que está enfeitiçada!
–
–
Mas...pensei que não fossem bruxos. – Harry justificou-se, confuso.
Há vários níveis de magia, Harry. Não há necessidade de se formar como um bruxo para saber cozinhar ervas e outras pequenas coisas mais – Dumbledore o repreendeu. – Uma senhora adorável, mas tem sua própria crença, que não nos convém, aliás. Deve-se enxergar além das aparências, aprenda isso pelo menos. – Dumbledore retirou a fruta de sua mão e a incinerou também. – E quando eu disser para ficar perto, quero dizer ao meu lado, não posso te vigiar e extrair informações ao mesmo tempo.
–
–
Eu sei me cuidar – murmurou, ofendido.
Eu sei que sabe. Estava me preocupando com essas pobres pessoas de cultura limitada. O que pensariam ao te ver reagindo a elas com magia? Que é um demônio ou um deus, quer que passem a fazer sacrifícios em seu nome também?
–
Não! – Harry respondeu, surpreso com a pergunta. Olhou para o povoado que ficava cada vez mais distante e após alguns minutos quebrou o silêncio. – Desculpe, eu não tive a intenção...
–
Tudo bem – Dumbledore olhou para ele. – Não me arrependi de ter te trazido, tua presença me conforta... Caminhar sozinho é muito chato.
–
O Senhor não pensava isso ano passado. – Harry deixou escapar. Ainda se sentia magoado pelas vezes em que tinha sido evitado e ignorado pelo Diretor.
–
Ano passado eu não pude te dar a atenção que eu queria, não com Voldemort tentando invadir a sua mente. Eu estava tentando te proteger – Dumbledore explicou. – Desculpe se te chateei, agora eu percebo o quanto meu protecionismo em relação a você tem te afetado, você é um adolescente agora e dar motivos pra te deixar ainda mais revoltado não é uma atitude inteligente.
–
Revoltado? – Harry o olhou de lado, o vento frio deixava sua pele corada, vestiu o gorro e calçou as luvas.
–
Não tanto quanto eu fui, mas tenho te negligenciado este ano também, você precisa de incentivo e orientação adequados e é o que pretendo te oferecer a partir de hoje.
–
–
O Senhor ainda não me disse o que viemos procurar… – Harry o lembrou.
É verdade... a trombeta. São quatro relíquias dignas de um rei, uma coroa, uma espada, um cetro e... a trombeta.
–
–
O Senhor acredita que sejam mágicas? Presentes de deuses que não existem?
–
O que sabemos nós, simples mortais? Não me importo se caíram do céu ou se nasceram em
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árvores, contanto que valham meu esforço, e estou velho e cansado; logo, meu esforço é grande – Dumbledore fez com que parassem quando chegaram ao pé da montanha, para procurar a trilha que a contornava. – Você já usou a espada, me diga o que acha dela. –
A espada... de Godric Gryffindor...?
A coroa de Ravenclaw, o cetro de Slytherin, a trombeta de Hufflepuff... Na verdade, adquiridas ou herdadas por eles. Quem conseguir reuni-las novamente poderá se considerar um novo Bretwalda, não haverá poder que o sobreponha. E não podemos deixar que Voldemort o tenha.
–
–
Eu pensei que o cetro fosse uma chave, para os tesouros de Slytherin...
Não conheço outra utilidade que o cetro possa ter ou que tenham dado a ele, mas eu preciso do cetro, assim como preciso dos outros dois tesouros...
–
Dumbledore pulou um cercado rasteiro que isolava a entrada de uma caverna, era formado por crânios humanos e de animais. Harry parou, observando aquela formação bizarra. O que foi? – Dumbledore se virou para ele e olhou para o chão. – Um desrespeito aos mortos, mas não há magia aqui, venha.
–
Harry sobrevoou a cerca, evitando fazer qualquer contato com ela. Dumbledore sorriu quando ele pousou ao seu lado. O Diretor acendeu a varinha e entrou, Harry fez o mesmo. Era uma caverna natural que levava ao interior da montanha. Por que o Senhor acha que está aqui? – Harry observou a caverna simples e escura, alguns morcegos se agitaram no teto quando ergueu a varinha para iluminá-lo.
–
Ando analisando o passado dos fundadores de Hogwarts e percebi que Helga Hufflepuff gostava de estudar civilizações antigas, principalmente as não mágicas, e um local que seria desprezado pelos bruxos, temido e respeitado pelos trouxas, me parece um bom esconderijo.
–
–
O Senhor acredita que ele saiba disso e que esteja procurando os outros tesouros também?
–
Ninguém tem ideia do que ele realmente pretende, só espero que consiga chegar antes dele.
E se ele já tiver conseguido algum? Como vai recuperá-lo? – Harry se perguntou se era esse o motivo de Voldemort estar usando Oclumência também, não querer que soubesse a respeito e alertasse à Ordem.
–
Não faço ideia ainda, se ele tiver algum dos tesouros, estaremos com ainda mais problemas. – Dumbledore o fez parar quando chegaram a uma bifurcação.
–
Um dos caminhos, o da direita, era de terra batida e o outro, rochoso com algumas cristas de gelo nas paredes. –
Qual dos dois caminhos você acha que devemos seguir? – Dumbledore perguntou.
Harry se adiantou, enquanto Dumbledore aguardava pacientemente, e ergueu a varinha para iluminar melhor as passagens. –
Este, Professor, o da direita. Há pegadas aqui.
É verdade – Dumbledore concordou. – Vamos pegar o da esquerda – decidiu, puxando-o em direção ao caminho rochoso.
–
–
Mas, por quê? – Harry se deixou conduzir pelo caminho irregular.
–
Você não vai querer ver o que tem lá – Dumbledore decidiu. Mas Harry não entendeu o
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motivo pra não querer, na verdade, ficou curioso. A temperatura caía conforme se aproximavam do interior da montanha. Chegaram a uma galeria onde o gelo cobria as paredes e um lago natural, parcialmente congelado, ia da metade até a outra extremidade da gruta. Esta deve ser a nascente que alimenta o rio – Dumbledore comentou. Não havia muito o que ver ali, fez uma luz azulada sair de sua varinha e percorrer o local.
–
Harry ficou esperando para ver o que aconteceria mas não notou nada de diferente. Fique aqui, não vou demorar – Dumbledore pediu, dirigindo-se à saída. – Preciso olhar o outro caminho.
–
–
Eu vou com o Senhor – Harry se ofereceu.
–
Fique aqui! – Dumbledore repetiu energicamente.
Harry parou, obedientemente, e se virou novamente para o lago enquanto ele saía. Olhou ao redor, tocou as paredes em busca de algum tipo de magia ou passagem secreta mas não encontrou nada. Sobrevoou o lago reparando os blocos de gelo boiando na superfície escura, observou as estalactites do teto, decoradas com gelo. Ouviu um som vindo da água, lançou luz naquela direção, no final da gruta, mas não havia nada lá, ela terminava numa parede espessa de gelo; e a água semicongelada não era nada convidativa a qualquer animal. Olhou para a entrada, chateado, Dumbledore estava demorando. Harry se perguntou se o Diretor estaria se divertindo, porque ele não estava, naquele lugar gelado. Sentiu-se tentado a sair, mas sabia que se o fizesse Dumbledore não mais o convidaria. Voltou pra margem e sentou numa pedra fria. Ficou observando o gelo flutuando na água. Mais alguns pedaços se desprenderam do teto e se juntaram aos demais. Um dos blocos encostou na parede, no final da gruta, e a seguir sumiu, novamente o som enquanto o gelo era sugado para algum lugar do outro lado. Harry ergueu a cabeça e ficou observando enquanto outro se encaminhava lentamente para o mesmo fim. Imaginou que por algum lugar ali embaixo a água saía para formar o rio, mas nenhuma claridade estava entrando, suspeitou que pudesse haver outra gruta por trás daquela parede. Voltou até lá. Tocou a parede e não sentiu nada. Apontou a varinha e começou a fazer pequenos cortes no gelo, após algum tempo visualizou a parede rochosa, continuou quebrando determinado a encontrar uma passagem escondida pela espessa camada branca. Passou a mão pela rocha retirando algumas lascas de gelo presas no contorno de uma figura encrustada na pedra. –
Harry... – Dumbledore o chamou da entrada.
Professor, tem alguma coisa aqui, na parede. – Harry ficou olhando enquanto o Diretor caminhava em direção ao lago, e não parou quando chegou à borda, ergueu a varinha e continuou andando, a água se solidificando aos seus pés, formando uma ponte de gelo.
–
Afaste-se – ele pediu a alguns metros de distância, observando a parte do desenho que estava à mostra.
–
Dumbledore ergueu a varinha e o restante do gelo rachou e se dividiu em várias partes que se desprenderam e pousaram na superfície do lago, expondo a figura de um animal. Harry enfiou as mãos nos bolsos, se contendo, e desceu devagar até pousar em um dos blocos flutuantes. –
Um texugo... – Dumbledore comentou com um sorriso nos lábios. – Acredita que este era um
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animal sagrado de alguma civilização antiga? Eu não... –
Devemos quebrar a parede?
Não... Isso poderia causar um desmoronamento... – lançou um rápido olhar para as estalactites pontiagudas no teto.
–
–
Há uma passagem subterrânea. – Harry apontou.
Bem observado, fique aqui, não demorarei. – Dumbledore pediu, retirando o sobretudo. Harry concordou com um aceno. – Está sentindo alguma coisa? – perguntou a ele, preocupado com sua obediência súbita. – Você chegou a engolir algum pedaço daquela fruta? – insistiu após sua negativa.
–
–
Não... Está frio, Professor...
–
Sábia decisão. – Dumbledore sorriu para ele antes de mergulhar.
Harry abaixou e retirou da água um pequeno pedaço de gelo que flutuava ao lado, o pressionou contra a cicatriz. A imagem de uma velha casa apareceu em sua mente, os degraus rangiam sob seus pés, olhou para baixo. O lago refletia seu rosto pálido, fechou os olhos e assim ficou por um bom tempo, até ouvir um som vindo da água novamente. Dumbledore emergiu e subiu na passarela de gelo. Harry levantou e atirou o gelo para longe. Muito bom para revigorar os ânimos! – com um movimento da varinha estava novamente seco.
–
–
Achou? – Harry perguntou enquanto ele vestia novamente o sobretudo. Dumbledore lhe passou o objeto ornamentado, com relevos dourados.
O rei o usava para convocar seu imbatível exército, “e eles se materializavam como fantasmas e surpreendiam o inimigo” – recitou. – Ainda existem fragmentos sobre essas canções de batalha, escritas pelos poetas da época, exageros. – Dumbledore explicou enquanto se encaminhavam para a saída. – Não faça isso... – impediu Harry de levá-la aos lábios.
–
–
Acha que pode aparecer alguma coisa?
Acho que ficou exposta, por muito tempo, a todo o tipo de contaminação; logo, não é prudente que a coloque na boca. – Dumbledore esclareceu e Harry lhe devolveu o objeto, sorrindo.
–
–
O que tem lá, Senhor? – perguntou quando passaram novamente pela bifurcação.
Nada. – Dumbledore respondeu evasivamente. – Nada mesmo, estamos entrando na época do degelo, os rituais são praticados no final da primavera – esclareceu após seu olhar descrente.
–
Voltaram para a luz do dia. Harry hesitou frente ao cercado de crânios e após trocar um breve olhar com o Diretor, usou a varinha para varre-los para dentro da gruta. Fez algumas pedras deslizarem até a abertura e algumas lascas da rocha se desprenderem para ajudar a cobrir a entrada. Dumbledore ficou observando enquanto ele lacrava a passagem, apreciando o feito. –
E agora? Pra onde vamos? – perguntou, entusiasmado, quando terminou.
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–
Pra Hogwarts, claro.
Mas... e as outras? – perguntou, surpreso. – Vamos procurar em outros lugares... O Senhor disse que queria minha ajuda para encontrá-las.
–
Disse que precisava de ajuda hoje, para conseguir a localização deste lugar, eles não me diriam se não acreditassem que compartilho com eles da mesma crença. E você me ajudou muito mais, a encontrar a trombeta... Estou muito grato a você por isso.
–
Professor! Temos que achá-las antes de Voldemort! – reclamou. – Ele sabe sobre as horcruxes e já sabe que saímos, deve pensar que estamos procurando as outras, mas e se desconfiar do que estamos fazendo? Irá hoje mesmo atrás da coroa e do cetro, se já não os tiver...
–
Se ele já sabe, então está na hora de voltarmos. Isso confirma que ele continua tendo informantes entre nós, como eu pensei... E não é um de seus Comensais...
–
–
Talvez seja – Harry sugeriu.
–
Draco Malfoy não...
–
Snape! – deu a resposta que lhe parecia óbvia. Fechou a cara para o olhar reprovador do Diretor.
Eu não quero voltar... Hermione acha que um historiador ou arqueólogo poderia dar alguma dica de onde encontrar o cetro. A trombeta estava desprotegida de magia, qualquer um poderia tê-la encontrado, e neste caso estaria agora em algum museu.
–
A magia pode se acabar com o tempo, ou talvez não tenha sido realmente usada, para não atrair a atenção de bruxos experientes que pudessem percebê-la.
–
Então podem estar em qualquer lugar, depois de tanto tempo... O Senhor disse que iríamos para Londres – Harry o cobrou.
–
Você está parecendo um ex-presidiário que vê pela primeira vez a luz do dia – reclamou Dumbledore.
–
Mas tenho sido tratado como um... – queixou-se enquanto se afastavam por um caminho oposto ao do povoado.
–
–
Não vai perdoar a mente cansada de um velho por um pequeno esquecimento à toa?
Um esqu... – Harry pensou em reclamar mas desistiu, duvidava que tinham sido deixados naquela torre, por tanto tempo, por esquecimento.
–
Quem sabe, se eu o levar ao Wallace Collection... – passou o braço pelos seus ombros e aparataram.
–
O sol brilhava iluminando o chafariz da praça, por onde tantas pessoas passavam. Da sacada do restaurante podiam avistar uma parte da Hertford House, sede da Coleção Wallace. Dumbledore lia a previsão do tempo enquanto Harry desfolhava a página policial em busca Elisa Vrastani - Magia, Poder e Destino I
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de alguma notícia fora do comum. Você ainda não terminou, está sentindo alguma coisa? – Dumbledore reparou seu prato quase intocado.
–
–
Não tenho sentido muita fome ultimamente – Harry comentou.
Nós só iremos quando você terminar – Dubledore anunciou, voltando a atenção para o jornal.
–
Harry, imediatamente, se obrigou a comer. Nunca tinha estado em um museu antes, muito menos à procura de tesouros. Deixaram o restaurante, voltando para a claridade solar onde pessoas bem vestidas andavam pela calçada e carros buzinavam nas ruas. Pareceu-lhe impossível que tivessem saído, há pouco, de uma caverna escura onde pessoas ofereciam sacrifícios em troca de uma vida simples. Uma jovem os abordou em frente aos jardins de Manchester Square oferecendo miniaturas do local em globos de vidro e também, de outros pontos turísticos. –
Senhor, que tal uma lembrança para a sua esposa? – a vendedora ofereceu.
Não há uma Senhora a quem eu poderia ofertar esse belo souvenir, mas obrigado. – Dumbledore recusou.
–
E você, jovenzinho, não quer presentear a mamãe? – Harry olhou para os globos, pensativo. – Ou a namorada? – a vendedora insistiu.
–
Vou querer três – Harry contou o que tinha sobrado do dinheiro que Hermione havia trocado em Gringotes e pagou por eles, um da Hertford House, um do Museu Britânico e outro do Museu de História Natural.
–
Imagino que não sejam os três para a mesma garota – Dumbledore comentou, curioso, enquanto se afastavam da satisfeita vendedora.
–
–
São para Mione, Gina e Raven. – Harry explicou.
Deixe-me guardá-los para você – Dumbledore ofereceu, retirando a sacola de suas mãos e fazendo-a sumir no bolso interno do sobretudo. – Lamento por não ter sido feliz na minha decisão de te deixar com os Dursley. Agora eu vejo o quanto seu lado emocional ficou vulnerável pela falta de uma figura materna...
–
O quê?! – Harry olhou para ele enquanto atravessavam a rua em direção ao prédio de três andares.
–
–
Você sentiu muito a falta de uma mãe...
–
Claro... Por que não sentiria...? – Harry murmurou após alguns segundos, pensativo.
Isso te deixa propenso a pensar que todas as mulheres... – Dumbledore começou a discursar, mas Harry não estava prestando atenção, estava soletrando enquanto contava nos dedos.
–
Puxou o cordão de dentro das vestes e mandou uma mensagem a Rony e Hermione. –
Você está me ouvindo? – Dumbledore pousou a mão em seu ombro.
–
Senhor?
Voltaremos a conversar sobre isso quando voltarmos a Hogwarts – abanou a cabeça em reprovação enquanto entravam no prédio.
–
Poucas pessoas circulavam pelo local, se juntaram a um grupo de visitantes, que era conduzido por um guia que dava explicações a respeito de cada objeto que paravam para analisar Elisa Vrastani - Magia, Poder e Destino I
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demoradamente. Harry sinalizou para que se afastassem mas Dumbledore o ignorou, parecia muito interessado em ouvir sobre quem usara o conjunto de porcelana que o grupo observava. –
Isso aqui é muito chato – Harry reclamou minutos depois.
–
Um pouco de cultura não irá te fazer mal – Dumbledore o repreendeu.
Nunca conseguimos trazer nosso neto para esses passeios – um homem idoso, que passeava com a esposa, comentou com o Diretor. – Kevin está sempre ocupado e com aquele aparelho barulhento nos ouvidos – reclamou.
–
Os jovens de hoje são muito impacientes, não conseguem se comportar... – Dumbledore observou. – No meu tempo...
–
Preciso ir ao banheiro – Harry anunciou antes de se afastar deles. Apesar do olhar reprovador do Diretor, deixou-o dialogando com o casal e subiu até o último andar.
–
Depois de um longo tempo, Harry reencontrou o grupo subindo as escadas para o segundo nível enquanto ele descia. Dumbledore suspirou examinando seu rosto desapontado. Não tem nada aqui – Harry comunicou quando se aproximou. – Ninguém nesses quadros foi pintado usando uma coroa ou segurando um cetro. Não há nada dentro dos armários, das cômodas, embaixo das camas ou dos sofás...
–
–
Deixaram que tocassem nos móveis? – Dumbledore estranhou.
–
Não... – Harry disse despreocupadamente.
É melhor irmos embora – Dumbledore aguardou que o restante do grupo subisse depois o guiou para fora. – Agora...
–
–
Agora vamos ao Museu Britânico – Harry pediu.
–
Eu já te trouxe até aqui, ainda não está satisfeito? Foram em direção a uma cabine telefônica, na esquina do quarteirão.
Com o quê? Não encontramos nada! – Harry olhou para o Professor, desconfiado. – O Senhor não estava procurando, não é?
–
Este é o lugar menos perigoso ao qual eu poderia te levar, e mesmo assim já estamos correndo riscos.
–
–
Eu não me importo que seja perigoso, estamos perdendo tempo!
–
Era para ser agradável e educativo, mas claro, não é nenhum show de rock...
–
Isso foi um passeio? – Harry o olhou admirado, o Diretor o surpreendia sempre.
–
Uma compensação...
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CAP. 25 - DESFECHO Chegaram à estação de Hogsmeade e Dumbledore pegou a varinha, por precaução. O sol despontava no horizonte deixando uma luz levemente alaranjada tingindo o céu. Deveria ter deixado que escolhesse o lugar... dentre as opções que eu achasse apropriadas, claro.
–
Obrigado, eu gostei de estar com o Senhor. – Harry agradeceu polidamente e Dumbledore respondeu com um sorriso. – Vai me levar amanhã ao Museu Britânico? – insistiu.
–
Tão impulsivo... – Dumbledore suspirou. – O dia de hoje foi mais produtivo que qualquer outro deste ano, acho que você me deu sorte... Vou deixar que me ajude a analisar a possível localização das outras, talvez haja algo que meus olhos cansados não tenham enxergado.
–
Harry sabia que ele gostava de usar a idade para fingir fragilidade, achava que ele fingia a maior parte do tempo. Aquela manhã fora um dos raros momentos em que ele deixava transparecer um pouco da sua força e vigor. –
Eu acho que seria bom começarmos pelos museus...
Você poderá me ajudar, mas na segurança do castelo. Considere hoje um dia especial, não irá se repetir. – Dumbledore desfez suas ilusões.
–
Não ficou chateado por ser dispensado pelo Diretor, ainda tinha que procurar pelas outras horcruxes. Uma ave sobrevoou a estrada enquanto seguiam em direção ao povoado. –
Um falcão... – Dumbledore observou. – Difícil ver um desses por essa região.
Professor... – Harry indicou os aurores que rodeavam o Ministro na entrada para o povoado, e que pararam de conversar quando os avistaram e ficaram aguardando sua aproximação.
–
–
Pode permanecer ao meu lado, se quiser – Dumbledore o convidou.
Obrigado, Professor, mas acho que eu não saberia me comportar. – Harry continuou seguindo pela estrada enquanto Dumbledore ia ao encontro deles.
–
Passou por alguns alunos que seguiam em direção ao povoado. Parou próximo ao portão e puxou o cordão para verificar onde Rony e Hermione estavam. A resposta surgiu quase que imediatamente, estavam na loja, com os gêmeos. Deu meia volta, queria saber se sua dica tinha funcionado, o nome da mãe dele, Mérope, podia ser o acesso para a horcrux. Ei, Harry Potter! – um auror, encarregado de vigiar os terrenos, chamou-o. – Você não está autorizado a deixar o castelo.
–
Harry ficou olhando para ele, sem entender, eles não eram responsáveis por conferir a autorização dos alunos. Eu não estou deixando, eu ainda não entrei. – Harry continuou o caminho de volta. O auror correu para alcançá-lo. Parou.
–
–
O Ministro quer que aguarde no castelo – insistiu.
Estou com Dumbledore, ele está conversando com o Ministro, ali na frente. – Harry apontou. O falcão crocitou ao pousar no galho de uma árvore, à beira da estrada, lançou para eles um olhar pouco interessado, seus olhos cor de âmbar brilharam, coçou a asa.
–
–
Dumbledore não responde mais por você. Tem que acatar a decisão do Ministro e ele quer
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que aguarde no castelo até que venham buscá-lo. Harry olhou para ele, pasmo, não imaginou que isso aconteceria tão rápido, achou um absurdo que ninguém fosse consultá-lo primeiro. Assustou-se quando sentiu a aparição deles, Voldemort sabia que tinham voltado. –
Eles estão aqui... Comensais, preciso falar com o Diretor... Uma neblina surgiu e se espalhou rapidamente.
O quê? – O auror tentou espalhá-la com um feitiço, mas em segundos tinha tomado toda a estrada. – Volte para o castelo!
–
Harry o ouviu recomendar antes de sumir, tudo a sua volta ficou branco, hesitou sem saber se deveria tentar achar o Diretor ou os portões de Hogwarts. Sentiu o perfume familiar segundos antes de um braço envolver seu pescoço imobilizando-o. Ele era muito forte e suas tentativas de se soltar, infrutíferas. Não precisou de muito tempo para associar seu perfume ao que sentira na floresta a algum tempo atrás e ao que sentira pela primeira vez em Surrey. Não conseguiu alcançar sua varinha, concentrou-se tencionando afastá-lo. Ouviu-o arquejar, forçou-se para longe libertando-se. Correu. Topou dolorosamente com uma árvore, a névoa não permitia que visse nada, agachou aos seus pés e sacou a varinha. O auror estava gritando seu nome de algum lugar além de onde tinha fugido, não ousou responder. Estaria a salvo se conseguisse entrar em Hogwarts, mas não tinha noção de onde estava. Tentou se acalmar para que não ouvissem o som de sua respiração, ficou prestando atenção ao barulho ao redor. Conseguiu distinguir o som de passos cautelosos de alguém que vinha em sua direção. Levantou lentamente e tentando não fazer barulho pairou para longe, não queria que seus passos soassem na relva, mas não sabia para onde estava indo e isso o deixava nervoso. Derfel, ele está indo na sua direção, pegue-o! – assustou-se com a voz de Leon poucos metros atrás, impulsionou-se para subir.
–
O corpo de uma ave se chocou com o seu. Sentiu as garras em seu peito, tentou afastá-la, mas então, seu peso o derrubou no chão. Fica quieto! Não vamos machucar você... – o homem-falcão reclamou enquanto tentava imobilizá-lo.
–
–
Segure-o, eu vou quebrar o feitiço de proteção.
–
Não!
As palavras de Leon o alarmaram, se quebrassem o escudo todo o vilarejo ficaria vulnerável e havia muitas pessoas lá. Seu braço estava preso sob o peso de seu captor, mas conseguiu girar a varinha o suficiente. O feitiço Rictusempra o fez saltar para longe, ouviu suas asas se agitando no ar e o som da colisão, quando seu corpo se chocou com uma árvore. Subiu o mais rápido que pôde, afastando-se. No alto, conseguiu se livrar do nevoeiro e avistou a rua principal. Dumbledore e os outros cercavam o auror que tinha conseguido sair do nevoeiro. – –
Professor Dumbledore! – Harry desceu, pousando ao lado do Diretor. Mas.. O qu...? – O Ministro o olhava assombrado e seus aurores se aproximaram perplexos.
Você está bem? O que está acontecendo? – Dumbledore segurou seu rosto com ambas as mãos ignorando a presença dos demais.
–
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Os Guardiães estão na floresta, eles vão quebrar o feitiço que protege o povoado, temos que tirar todos daqui.
–
–
Do que... Como...? – Scrimgeour ainda parecia perdido mediante a alteração de seus planos.
–
Há Comensais também? – Dumbledore pediu confirmação.
Doze... dezessete, eles continuam chegando. – Harry afirmou, apontando em direção ao local onde tinham aparatado mais cedo.
–
–
Como? Quem disse isso...?
Vamos precisar de reforços, Ministro. – Dumbledore o interrompeu. – Você ouviu, estamos na iminência de um ataque, temos que fortalecer nossas defesas imediatamente!
–
O Ministro se virou para o local de onde viria a ameaça, chamou rapidamente seus aurores. Harry, fique aqui, eu voltarei logo, fique com os aurores – Dumbledore pediu e entrou no nevoeiro, sumindo enquanto seguia em direção ao castelo.
–
Harry não se preocupou, achava impossível que eles pudessem fazer algo contra o Diretor. Levou a mão à testa e cambaleou. Eles estavam ao seu redor, aguardando instruções, eram muitos. O que você está sentindo? – alguém perguntou ao seu lado, mas estava tentando ouvir o que Yaxley estava lhe dizendo. Concentrou-se para fortalecer a conexão que tinha se estabelecido.
–
Voldemort está aqui. – Harry avisou, o Ministro estava ordenando que alguns dos seus aurores reforçassem o escudo, enquanto outros já estavam tentando fazer com que o nevoeiro desaparecesse.
–
Como você sabe? O que você sabe? – Scrimgeour se aproximou ansiosamente como se aguardasse por uma grande revelação.
–
O escudo caiu, Ministro, não conseguimos mantê-lo. Tem alguma coisa interferindo! – um auror o avisou, alarmado.
–
Alguns aurores estavam fazendo com que as pessoas se abrigassem no interior das lojas, algumas estavam assustadas, outras, curiosas; ninguém sabia ao certo o que estava acontecendo. Lorez! Travor! – o Ministro os chamou urgentemente. – Levem o garoto para o Ministério e o mantenham lá até eu voltar...
–
–
Eu não vou! – Harry protestou, indignado.
–
Pra sua segurança... – o Ministro tentou convencê-lo.
Cuide da segurança deles – Harry pediu, indicando o povoado, lhes deu as costas e seguiu rapidamente em direção à estrada que o levaria à Casa dos Gritos.
–
Harry! Aqui... – Gina acenou para ele da entrada da loja dos gêmeos. Rony e Hermione também saíram da loja.
–
–
Eu vou voltar – prometeu a eles. Tomou impulso e se afastou. Observou, com satisfação, enquanto ele se aproximava.
–
Sabia que viria ao meu encontro – Voldemort tomou impulso e seguiu em sua direção.
O que veio fazer aqui? – Harry perguntou enquanto estudava sua própria expressão determinada através dos olhos dele.
–
Estavam em frente à Casa dos Gritos agora, muito próximos ao povoado. Concentrou suas Elisa Vrastani - Magia, Poder e Destino I
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energias até se sentir envolver por seu escudo, teria que distraí-los até que conseguissem restabelecer a proteção do povoado, mas não sabia como. –
Não vou deixar que se aproximem do povoado.
Não me interessa o povoado... – disse Voldemort, com desdém. – Só quero que as entregue a mim... – sua voz era calma, mas sentiu uma leve exasperação.
–
Não sei do que está falando... – disse com sinceridade, não sabia se ele se referia às relíquias ou às horcruxes. Viu a aproximação dos aurores às suas costas.
–
O Ministro os liderava, chegaram lançando feitiços contra os Comensais que os olhavam de baixo, aguardando instruções. Conseguiram aprisionar três que estavam distraídos. Apontou sua varinha para Voldemort. –
Ah, não... Harry o atacou antes que terminasse, seu Petrificus Totalus foi habilmente bloqueado.
Espere! Isso é inútil, uma perda de tempo... – Voldemort seguiu, despreocupadamente, até a Casa dos Gritos e pousou no beiral de uma das janelas lacradas. – É melhor que partamos. Sabe que se não vier, muitos dos seus amigos poderão se machucar hoje – lançou um rápido olhar para os que se confrontavam, seus seguidores estavam em vantagem numérica.
–
–
Ele não irá com você – a voz de Dumbledore soou clara e tranquila.
Harry olhou para baixo, aliviado. O nevoeiro tinha sumido, desejou que os guardiães também, olhou ao redor e não viu nenhum sinal deles. A imagem de Dumbledore permanecia fixa enquanto Voldemort descia, aproximando-se. –
Sei o que está fazendo – Voldemort se dirigiu a Dumbledore.
–
Sabe mesmo, Tom? – Dumbledore o desafiou. – Então por que veio?
Voldemort reparou na espada que Dumbledore trazia na mão esquerda mas não pareceu se importar. –
Acha que pode usar o garoto contra mim...
Harry sentiu um feitiço estuporante atingir seu escudo. Olhou para baixo, na direção dos cinco Comensais mais próximos que enfrentavam Quim e Tonks. Desarmou-os dando vantagem aos dois. Percebeu que Voldemort não sabia sobre os tesouros e embora o Diretor portasse a espada e a trombeta, que não tinha certeza do que poderiam fazer, desconhecia a existência das outras duas horcruxes, a medalha e o cilindro. Seria um confronto inútil que poderia ter graves consequências. –
Harry, volte para o castelo, os outros já estão em segurança – pediu Dumbledore.
–
Não! Fique, Harry Potter! Você não vai querer perder nenhum detalhe...
Voldemort via o Diretor de Hogwarts como um desafio ao qual queria muito vencer. Atacou primeiro. O Diretor bloqueou seu ataque, três vezes seguidas. Harry tentou aplacar a fúria que estava sentido, não gostava desse sentimento. Voltou sua atenção à Casa dos Gritos, era uma porta de entrada para o castelo e não tinha nenhuma proteção. Foi até ela tencionando bloquear a passagem, se os Guardiães entrassem, talvez conseguissem quebrar a proteção do Castelo também. Sentiu-se fraco de repente, olhou para Voldemort e Dumbledore que duelavam testando-se. Estava pesado demais para se sustentar no ar, conseguiu chegar ao telhado e caiu de joelhos. Alguma coisa estava sugando toda a sua força. Elisa Vrastani - Magia, Poder e Destino I
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Dumbledore o atacou, aprisionando-o com correntes enquanto levava a mão à cabeça, surpreso. O falcão voou para perto, olhando-o fixamente; seus olhos, agora, estavam negros. Harry se arrastou pelo telhado tentando se afastar. Esforçou-se para ficar de pé, mas era impossível, caiu. Não! – protestou enquanto se livrava das correntes que o prendiam. Antes que Dumbledore tivesse a chance de um novo ataque, aparatou.
–
Viu-se estirado sobre as madeiras e telhas quebradas, o líquido vermelho estava empapando a sua blusa. Queria se levantar mas não conseguia se mexer. Respirar era difícil e doloroso, fechou os olhos e ficou observando a si mesmo enquanto ele se aproximava, pedaços do telhado se espatifando sob seus pés. Viu seus óculos jogados a poucos centímetros de onde estava, tentou esticar o braço naquela direção, mas era difícil coordenar os movimentos. Ele se agachou e os pegou. Abriu lentamente os olhos e o vulto ao seu lado se sobrepôs à imagem que via de si mesmo. Ele tirou a varinha de entre seus dedos imóveis, passou o braço por baixo de seus ombros e o ergueu, o líquido quente encheu sua boca e escorreu pelo queixo. Harry tentou fechar os olhos para aquela imagem, mas ela continuou lá. Estremeceu quando os longos dedos brancos tocaram o pedaço de madeira ensanguentada que se projetava saindo de seu corpo, ela sumiu com o toque mas a dor e a queimação permaneceram. Tentou olhar ao redor, mas sua visão estava embaçada. Estava tão perto de Hogwarts, fora naquela casa que ficara frente a frente com Sirius pela primeira vez. Enquanto era suspenso, a Casa dos Gritos foi ficando cada vez mais escura até desaparecer de vez. Ergueu o pequeno corpo, o casaco escorregou dos braços que pendiam inertes. Subiu passando pela abertura feita no telhado, um pássaro levantou voo e desapareceu na noite. Abaixo, seus Comensais lutavam, alguns jaziam imobilizados, Dumbledore se ocupara em deter cinco dos seus melhores, teria que tentar reavê-los depois. Mais aurores haviam aparecido, mesmo assim, estavam em maior número. Convocou-os descendo o suficiente para que todos o vissem e ao que carregava. Apreciou, satisfeito, a expressão de espanto no rosto daquele homem que há tanto tempo se dedicava a atrapalhar seus planos. Poderia se vangloriar perante seu olhar assombrado, mas estava sem tempo. Lançou um rápido olhar para o corpo ensanguentado em seus braços e após uma última convocação aparatou. Observaram, em silêncio, eles partirem. Estavam surpresos. Após algum tempo, alguns aurores começaram a se ocupar dos prisioneiros, outros, em ajudar aos que tinham sido feridos. Os membros da Ordem se aproximaram de Dumbledore, aturdidos demais para falar,
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estavam todos se sentindo derrotados. Ouçam bem! – o Ministro gritou para que todos pudessem ouvir. – Nenhuma palavra deve ser dita sobre o que aconteceu aqui. Ninguém deve saber, muito menos a imprensa... Dumbledore!
–
Scrimgeour o chamou quando o viu se afastar com os membros da Ordem orientando e fazendo solicitações. Ele se virou para o Ministro, o olhar vazio. Diretor! Eu não quero que nenhuma palavra sobre o que aconteceu aqui seja divulgada no castelo ou a quem quer que seja. As pessoas não podem saber disso, teremos que inventar uma história...
–
O Senhor acha, criatura egoísta e intolerante, que eu tenho tempo a perder inventando histórias?! – Dumbledore o surpreendeu se impondo altivamente e brandindo a espada em sua direção. – Pouco me importa o que o Senhor grita, fala ou sussurra, mas não me venha dizer o que devo fazer em meu castelo enquanto for o Diretor e não me inclua em seus planos descabidos e sem fundamento!
–
Todos observaram em silêncio enquanto Scrimgeour se rendia perante a figura que se erguia imponente, caindo, literalmente, de joelhos enquanto aquele era tomado por uma energia e determinação que nunca tinham visto antes. Enquanto for Diretor... – o Ministro vomitou debilmente a ameaça enquanto Dumbledore seguia, determinado, de volta ao castelo.
–
Pense bem antes de atravessar o meu caminho, Ministro – Dumbledore bradou. – Porque estamos em uma guerra, onde às vezes, os inimigos se aliam para se livrar de um incômodo em comum!
–
Dumbledore seguiu para o castelo, convocou os professores e pediu que os alunos fossem encaminhados para seus dormitórios. Os habitantes do povoado que tinham procurado abrigo em Hogwarts receberam permissão para partir, mas para os que preferiram ficar foram arranjados dormitórios. Professora Sterling – Dumbledore a chamou. – Pode, por favor, pedir que a Srta. Granger e o Sr. Ronald Weasley venham até o Salão Principal? E quando Sirius chegar... – acrescentou. – Por favor, acompanhe-o, ele irá precisar muito da senhora.
–
Raven estava procurando por Harry entre os que chegavam, mas se afastou rapidamente para realizar o que era pedido, muitos boatos tinham chegado até o castelo pela boca dos que haviam fugido do povoado, ainda não tinha visto as crianças, apressou-se em procurá-las. Dumbledore se uniu aos demais, no Salão Principal, muitos chegavam a todo instante. – –
Severo! – chamou-o com urgência assim que entrou. Diretor... – Snape correu para atendê-lo. – É verdade o que ...?
É – Dumbledore o interrompeu. – Preciso que vá agora. Peça que faça seu preço, o que ele quiser, estou aberto a negociações... Por favor – enfatizou olhando-o diretamente nos olhos. – Faça o seu melhor – observou o Professor desaparecer pela porta.
–
Pouco tempo depois Rony e Hermione entraram afoitos e se juntaram a Tonks e Moody, que tentaram convencê-los a esperar. Eles tinham estado no conflito mas não queriam falar sobre o que tinham visto até que Dumbledore se pronunciasse. Quando todos estavam presentes e as portas fechadas Dumbledore se dirigiu a eles. –
Como a maioria de vocês já deve saber, acabamos de ser atacados...
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Sirius foi o primeiro a deixar o local, correu desesperado em direção à floresta, Raven o seguiu tentando fazer com que se acalmasse. Aos poucos os demais membros também foram partindo, tinham novas ordens e muito o que fazer. Hermione ficou abraçada a Rony, o rosto escondido em seu peito, ele afagava seus cabelos mecanicamente, a expressão vazia, os pensamentos bem distantes dali. O céu já começava a se tingir de azul-marinho quando Snape voltou. Com os olhos pesarosos e uma expressão de preocupação no rosto, aproximou-se do Diretor e dos demais professores que ainda aguardavam no salão. –
Eu sinto muito, Senhor... Dumbledore se levantou energicamente, seu rosto era uma máscara de revolta e frustração.
–
Não sinta por mim, Severo, não por mim... – disse antes de se afastar para o seu escritório.
>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>> FIM DO SEXTO ANO
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