Guarda Viva

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Índice ENTREVISTA A ELSA fernandes, Vereadora da Acção Social e Inserção social, Comunicação e Imagem e Marketing Territorial “Auto-estima e envolvimento colectivo são as principais ferramentas para a promoção da Guarda”.................................................................................................................. 3 Património natural Biodiversidade Natural da Guarda.............................................................................................. 6 TURISMO Uma visita ao Museu da Guarda.................................................................................................... 10 património edificado antigo paço episcopal / actual paço da Cultura.................................................................... 12 Cultura Manuel António Pina: nome de ciclo… e de prémio................................................................. 13 O TMG abriu há 5 anos e a Guarda nunca mais FOI a mesma!................................................ 14 desporto Uma mão cheia de modalidades desportivas em 2010............................................................. 16 património afectivo O PONTO CARDEAL................................................................................................................................ 17 colectividades Associação Cultural e Desportiva do Jarmelo........................................................................ 18 freguesias Panoias de cima: às portas da cidade......................................................................................... 20 economia call center da adecco já está a funcionar na Guarda........................................................ 22 Breves................................................................................................................................................... 23 EDUCAÇÃO EDUCAR PARA UMA ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL................................................................................... 24 animação da cidade Milhares de pessoas assistiram ao Julgamento e Morte do Galo do Entrudo.............. 26 toponímia Rua carolina beatriz ângelo......................................................................................................... 28

Nota Editorial As efemérides são pretextos para desocultar as ideias e os pensamentos, momentos para reavivar as emoções e os sentimentos. Mas, como tão bem diz Eduardo Lourenço, povos e indivíduos só têm passado à sua disposição e é com ele que imaginam o futuro. Se as efemérides são ocasiões para reflectir sobre o passado, elas devem servir para projectar o futuro. Não é possível hoje pensar as cidades, os seus territórios, sem dar relevância à sua dimensão cultural. A cultura, encarada muitas vezes como actividade supérflua e dispendiosa, é vista hoje como um veículo fundamental para afirmar a identidade regional, a coesão do território e a competitividade dos centros urbanos. Falar hoje em cultura já não é falar numa mera actividade ligada à diversão e ao recreio, mas numa actividade económica fundamental que pode dinamizar sectores como o turismo, criar emprego e potenciar a economia local de desenvolvimento. A Guarda teve a capacidade de antecipar esta nova visão da cultura. Desde muito cedo, a Câmara Municipal assumiu a cultura como actividade política prioritária, desempenhando um papel fundamental no apoio e incentivo à criação artística e no desenvolvimento de projectos estruturantes na área da programação cultural. Mas ela continuava a sofrer da síndrome da interioridade. Esta interioridade resultava, em termos culturais, não de uma ausência de políticas e projectos, mas da inexistência de equipamentos que permitissem o desenvolvimento e realização de todas as manifestações artísticas. A exigência de um teatro municipal não surgiu de um simples devaneio ou capricho, mas como consequência do todo um trabalho continuado, sistemático e insistente, desenvolvido na área cultural que, apesar do esforço, esbarrava na ausência de equipamentos de qualidade. Desenvolveram-se todos os procedimentos que culminaram com a inauguração do Teatro Municipal da Guarda no dia 25 de Abril de 2005. Projectou-se e construiu-se um edifício dotado de espaços e condições técnicas que permitissem o desenvolvimento e realização de todas as manifestações artísticas. A construção de um equipamento desta natureza e com esta dimensão exigia um grande esforço e investimento, mas as dificuldades que se avizinhavam não eram menores. A sua construção é importante, mas igualmente importante é ganhar vida, construir a sua identidade, assumir uma centralidade enquanto pólo de desenvolvimento cultural. Foi este desafio hercúleo, esta vitória, que tiveram todos aqueles que estiveram e estão ligados a este projecto. Mas este nosso olhar sobre o passado não pode ser, diz Eduardo Lourenço, “como o de Loth, que convertia familiares em estátuas de sal. Temos de saber que a viagem no nosso passado apenas começou. E que o futuro dos homens é um eterno presente”. Neste aniversário, dou os meus parabéns a todos aqueles que permitiram que o sonho se tornasse realidade. Mas, como em todos os sonhos, temos que continuar a mantê-lo vivo.

Publicação QUADRIMESTRAL • Nº 8 • Distribuição Gratuita Propriedade e edição Câmara Municipal da Guarda Direcção Joaquim Carlos Dias Valente, Presidente da Câmara Municipal da Guarda Coordenação Editorial Susana Adaixo Coordenação Gráfica Sérgio Currais Colaboradores nesta edição Dânia Dinis, Dulce Helena Borges, Helder Sequeira, Isidro Almeida, Sofia Pinto Fotografia Arménio Bernardo, Armando Neves, Fernando Guerra, Fernando Romão, Sérgio Currais e conteúdos fotográficos cedidos em colaboração Fotografia de capa Fernando Guerra Produção Culturguarda, E.M. Tiragem 5.000 exemplares Impressão Marques e Pereira ISSN 1647-1083 Depósito Legal ------/-boletim.municipal@gmail.com

Joaquim Carlos Dias Valente Presidente da Câmara Municipal da Guarda

Câmara Municipal da Guarda Praça do Município, 6301-854 GUARDA | PORTUGAL Linha Verde 800 216 800 E-mail geral@mun-guarda.pt www.mun-guarda.pt


Foto: Arménio Bernardo

ENTREVISTA


Elsa Fernandes, vereadora responsável pelos pelouros da Acção Social e Inserção social, Comunicação e Imagem e Marketing Territorial

“Auto-estima e envolvimento colectivo são as principais ferramentas para a promoção da Guarda”

Criar uma «mentalidade mais positiva e colectiva» e acrescentar-lhe alguma dose de «auto‑estima» são algumas das ferramentas fundamentais para que a cidade e concelho passem uma boa imagem para o exterior. Quem o diz é Elsa Fernandes, vereadora responsável pela Imagem e Marketing Territorial da autarquia. ela garante que a imagem da Guarda está a ser trabalhada e que a melhor estratégia de promoção da cidade e do concelho é o envolvimento colectivo: «há toda uma cidade que pode servir de ferramenta de promoção, há mais de 40 mil pessoas que são veículos de informação privilegiados». A nova “sala de visitas da Guarda” (Centro de Visitantes e Torre de Menagem), entrou em funcionamento em dia de aniversário da cidade. O que pode o visitante conhecer neste espaço? E como tem sido a receptividade do público a este equipamento? O Centro de Recepção aos Visitantes e a Torre de Menagem são uma parte de um projecto maior que pretende, de forma interligada, promover o Turismo Cultural numa vertente, particularmente, histórica e patrimonial. A Câmara Municipal da Guarda enfatiza, com este projecto, a importância da cultura, do património e da história para um desenvolvimento sustentado e para uma promoção turística equilibrada. A visita à Torre de Menagem é uma visita orientada, ou seja implica sempre a presença de um guia que começa a visita no Centro de Recepção e só depois passa para a visita à Torre. Optou-se por esta forma de recepção para permitir cumprir o objectivo: criar a apetência e a vontade no visitante ou no turista para, a partir da Torre, conhecer a cidade e o concelho. O Centro de Recepção aos Visitantes é uma “sala do concelho” que engloba um pouco do que todas as freguesias do concelho têm para dar e mostrar. Através de uma projecção, cuja sequência é decidida pelo visitante, é possível ver, ler e ouvir todas as freguesias, nomeadamente com um levantamento pormenorizado do património edificado, mas também com o património imaterial, no qual o nosso concelho sublinha a sua unicidade - a gastronomia, a etnografia, o artesanato, as lendas… Para permitir uma contextualização história e, parcialmente, científica, o visitante é convidado a descobrir, através de achados arqueológicos e com recursos a montras interactivas, todo um passado que se conta em moedas, em jóias, em pratos e vasos. A Torre de Menagem segue-se com a subida ao ponto mais alto da cidade e que nos permite ter a fama da mais alta. Do cimo dos 1059m é possível ver a olho nu todo o concelho num percurso de 360º e é possível dar conta de horizontes únicos. Em dias luminosos é possível localizar a Serra da Malcata, Serra da Lapa, o topo da Serra da Estrela, Serra da Gata (Espanha); é possível perceber nos recortes topográficos os vales do Zêzere, do Mondego e do Côa. Mas, também, é do alto da Torre que o visitante percebe a organização da cidade e localiza a Sé, a igreja de S. Vicente e S. Pedro, a Misericórdia, a Judiaria, a Torre dos Ferreiros, o traçado da muralha… Depois de “abrir o coração” do visitante com vistas únicas convidamo-lo a folhear virtualmente um livro mágico onde é possível ver o foral atribuído à Guarda por D. Sancho e onde lhe é narrado um pouco da história mais recente. Por fim o visitante desce para o piso térreo da Torre e vê um filme que lhe permite a sensação de uma visita em 3D.

Dadas as características muito particulares desta visita e do próprio equipamento foi imprescindível criar regras muito próprias: trata-se do único equipamento na gestão da autarquia que tem um horário de inverno (de 30 de Outubro a 29 de Março) e um de verão (de 30 de Março a 29 de Outubro); a visita à Torre de Menagem tem um horário próprio e uma duração de cerca de 20 a 30 minutos; por motivos de conforto e segurança e dados os condicionalismos do próprio espaço a visita é limitada a um máximo de 25 pessoas de cada vez. A Torre de Menagem é parte integrante do Patrimonium, projecto através do qual a autarquia prevê reabilitar outros espaços de interesse histórico do concelho, nomeadamente o Castro do Tintinolho, a estação arqueológica da Póvoa do Mileu e o Castro do Jarmelo. Em que fase estão agora estes projectos? É verdade. Como já tinha referido o Centro de Recepção aos visitantes e a Torre de Menagem são parte de um projecto maior: Patrimonium. A intenção deste projecto é devolver os espaços à população. Para isto acontecer é necessário pensar na segurança e na qualidade, mas também na preservação da história. Tratam-se de projectos que têm uma clara intenção de preservar e promover memórias e por isso, também são projectos minuciosos e exigentes. Actualmente, os projectos estão em fase de formalização das candidaturas por forma a permitir a sua viabilidade financeira. Estamos convencidos que nos próximos três anos conseguimos oferecer à Guarda o projecto Patrimonium concluído. O Turismo continua a ser uma das apostas fundamentais deste executivo para o desenvolvimento do concelho? Quais os futuros projectos do executivo nesta área? O Turismo para além de ser uma aposta do executivo actual é uma necessidade desta região. Estamos convictos que quando nos referimos ao turismo nos referimos ao desenvolvimento económico e portanto há factores que nós já identificámos como frágeis e que carecem de intervenção como é o exemplo do trabalho em rede, seja inter-institucional, seja inter-regional e para isso é importante termos todos a mesma linguagem – a Câmara Municipal, as instituições de ensino; os serviços descentralizados; as colectividades e as associações, as freguesias, mas também os Municípios que nos são vizinhos ou estão próximos e que connosco partilham produtos e ofertas turísticas. Neste sentido, já participámos este ano em conjunto com a Região de Turismo da Serra da Estrela na BTL; estamos a pensar vários projectos comuns a várias regiões numa candidatura em rede que permite desenvolver várias iniciativas culturais e promocionais; estamos a trocar informações com várias instituições, num esforço claro de minimizar repetições ou sobreposições de acções, de eventos, etc. Também já percebemos que há carência de competências e de qualificação do canal HORECA (Hotéis,

Restaurantes e Cafés), fundamental para uma estratégia turística sustentável; o comércio tradicional, os artesãos, etc. Ou seja é importante dotar as pessoas que, de forma directa ou indirecta, promovem a nossa região, de competências comportamentais, linguísticas, comerciais, etc. Com este objectivo tem sido feito o esforço de apoiar o ensino nestas áreas e no mesmo sentido a Câmara Municipal da Guarda negociou a venda do Hotel de Turismo ao Instituto Turismo de Portugal, com o compromisso de manter a traça original e de, além das valências hoteleiras com qualidade superior, integrar uma Escola Profissional de Hotelaria, nível IV. Outra dificuldade que percebemos é que a Guarda tem, actualmente, um problema de identidade e de identificação da missão. Não se tratando de um problema exclusivo nas áreas do turismo e do marketing é um problema que, também aqui, tem repercussões graves, já que quando não se assume uma preferência, dificilmente se comunica, se divulga, se informa, se promove ou se dinamiza. Entendemos que antes de promover a Guarda para o exterior há a necessidade de criar um clima social mais favorável entre os locais que levem ao orgulho e aquilo que alguns teimam em designar de “auto-estima”. Estamos convencidos que este processo passa por mais informação, mais transparência e passa, principalmente por maior ligação entre as instituições. Estamos convencidos que se as pessoas perceberem que as instituições se aproximam para promover a região, elas próprias sentirão um clima mais optimista e de orgulho. Neste contexto assumimos a importância de uma estratégia que envolva todos e que seja para todos. De que informação e merchandising pode usufruir um turista que chegue à cidade? Apostamos numa informação actualizada, de qualidade e ao longo de todo o ano. Assim e para sermos correctos devemos distinguir esta disponibilidade de informação quando é em proximidade e, portanto, no próprio local e à distância. No próprio local, a Guarda destaca-se do panorama global e das suas congéneres porque é dos poucos concelhos que disponibiliza várias opções de acesso à informação turística. O turista pode dirigir-se ao Posto de Turismo, à Loja Coisas d’Aqui, ao Centro de Recepção do Visitante, ao Museu de Tecelagem dos Meios e todos podem disponibilizar informação sobre o concelho, sobre outras valências culturais, ambientais, turísticas, comerciais, etc. Durante sete dias por semana (só encerram três dias ao longo do ano: dia 1 de Janeiro, domingo de Páscoa e 25 de Dezembro), no horário das 10h00 às 18h30 (com intervalo para almoço das 13h00 às 14h00). Em cada um destes serviços são disponibilizadas publicações em várias opções linguísticas e temas distintos - mapas, folhetos, brochuras, postais, livros, e.o. – merchandising identificado com a região - peças artesanais; cerâmicas


«Entendemos que antes de promover a Guarda para o exterior há a necessidade de criar um clima social mais favorável entre os locais que leve ao orgulho e àquilo que alguns teimam em designar de “auto-estima”. Estamos convencidos que este processo passa por mais informação, mais transparência, e passa principalmente por uma maior ligação entre as instituições. Estamos convencidos de que se as pessoas perceberem que as instituições se aproximam para promover a região, elas próprias sentirão um clima mais optimista e de orgulho. Neste contexto, assumimos a importância de uma estratégia que envolva todos e que seja para todos.»

várias; produtos regionais (cestaria, doçaria, ervanária, etc.); acessórios distintos e estátuas e estatuetas. A par com estas opções existem também os Audioguias que permitem realizar um percurso no Centro Histórico da Guarda de forma autónoma do guia turístico tradicional.

«Para além das medidas que as políticas sociais municipais têm ao dispor, a Câmara Municipal da Guarda colocou em protocolo, ainda no ano passado, uma nova valência que permite apoiar estes públicos de uma forma provocadora de acção. Trata-se do Gabinete da Empregabilidade e da Inserção, que já se encontra a funcionar na Câmara Municipal da Guarda com o intuito de centralizar e disponibilizar toda a informação que possa ser do interesse do munícipe, seja para poder obter medidas de apoio social, seja para poder criar o próprio emprego.»

Isso não é totalmente verdade, aliás temos reduzido a nossa participação em feiras, para investir em informação mais focalizada: visitas institucionais, recepção a visitantes em grupo; intensificar as relações entre instituições; etc.

«Estamos convencidos que a Câmara Municipal da Guarda, também neste con texto, deve ser impulsionadora de acções em cadeia que depois se vão auto alimentando. Ou seja, a Câmara Municipal da Guarda não pretende criar uma Bolsa de Solidariedade, nem tão pouco uma Loja Social, mas queremos mostrar às várias colectividades do concelho que estas opções têm um espaço próprio e que podem ser facilmente desenvolvidas.»

Para além destes espaços e equipamento sobre a gestão da autarquia contamos com o canal HORECA para servir de intermediário privilegiado. À distância e antes de chegar fisicamente à cidade o turista pode percorrer toda a informação sobre a Guarda em vários sítios da internet, também mantemos fortes ligações com os operadores turísticos no sentido de permitir uma veiculação de informação e para realizar programas personalizados e continuamos a aprticipar em eventos identificados, por nós, como importantes. A promoção da cidade, dentro e fora do país, tem sido feita, fundamentalmente, através da participação em feiras. Porquê?

No entanto, estamos crentes que não é possível reforçar a imagem da Guarda se as pessoas continuarem a ser intensamente e destrutivamente críticas. Há que criar uma mentalidade mais positiva e mais colectiva. Todos os dias damos conta que quem nos visita fica maravilhada com a beleza da cidade. Por certo já muitos de nós ouvimos elogios rasgados à paisagem e ao património, mas também aos jardins, às ruas, à hospitalidade das pessoas, etc. Elogios que sendo válidos são do exterior e muitas vezes acompanhados com observações jocosas e irónicas de quem aqui vive e trabalha. Já todos participamos de forma passiva ou activa neste tipo de circunstâncias. Estou certa que só poderá existir investimentos em promoção quando e se a população participar positivamente. No exterior a participação tem sido discreta. Algumas vezes em parcerias e em colaborações com entidades oriundas do país visitante, outras vezes através da participação de colectividades nossas. Que outras ferramentas a autarquia vai utilizar para a promoção da cidade? A autarquia irá utilizar no futuro todas as ferramentas desde que estejam adequadas a uma estratégia de promoção coerente e sustentada. Não podemos e nem devemos continuamente dar mais importância à ferramenta do que ao conceito. É, neste momento, o tempo oportuno de definição conjunta, de trabalhar em rede, de discussão e criação. Estamos empenhados em colaborar no sentido de termos uma cidade modelo a vários níveis e potencializar ao máximo as circunstâncias que nos são favoráveis. Pessoalmente, sou defensora de uma estratégia promocional que utilize de forma coerente todas as ferramentas ao dispor, sem passar, obrigatoriamente, por criação de novas ou próprias. Há toda uma cidade que pode servir de ferramenta de promoção, há mais de 40.000 pessoas que são veículos de informação privilegiados, há um conjunto de instituições que já são per si ferramentas de promoção. A única coisa a fazer é aproveitar estas sinergias e gerir estes inúmeros recursos. Fácil? Claro que não. Mas acredito que é um esforço que vale a pena e que tem de ser feito. Considera fundamental a criação de uma imagem de marca para a cidade mais alta? Se sim, para quando? A pergunta já propõe uma imagem de marca “cidade mais alta”, ou foi sem querer? Agora a sério. Claro que sim. Aliás não tenho feito outra coisa de há anos a esta parte que não seja defender uma imagem de marca para a cidade, aproveitando sempre para reforçar que a minha defesa intransi-

gente se orienta para a criação do conceito e, ainda não, do grafismo que pode vir a estar associado. A Guarda foi ao longo do tempo perdendo elos de ligação ou, melhor dito, foi dispersando em conceitos múltiplos, criando uma personalidade quase feita de heterónimos e diluindo ao longo do tempo a tão referida identidade. Hoje ainda não temos respostas, mas temos um conjunto vasto de perguntas e sabemos que a solução só surge se fizermos as perguntas certas. Portanto, actualmente temos reflectido muito em termos do que são os pontos em comum, as oportunidades, as fragilidades, o que de melhor e o que de pior temos, o que nos une e o que nos separa, o que nos leva a escolher esta cidade todos os dias para viver e o que leva outros a optar por sair… Neste contexto, a gestão das vontades e dos pensamentos é o mais difícil, mas estou convencida que todos vão dar o seu contributo numa lógica pró-activa. Sei e todos os dias o sinto que a criação de uma imagem de marca da cidade é uma necessidade que todos sentem e que muitos percebem que, a ser bem feito e com a paciência necessária, tem impactos positivos em várias situações do município, particularmente, economia e emprego, qualidade de vida, auto-crítica colectiva. Trata-se de um processo moroso e que exige dos intervenientes a paciência necessária para uma gestão eficaz e eficiente. Mas todos percebemos que nunca tanto se falou nesta temática, nunca tanto se escreveu sobre a Marca Guarda, sobre a identidade, a auto-estima, sobre a necessidade de uma promoção estratégica e sustentada, portanto e respondendo directamente a questão “para quando”: já está a acontecer. Em menos de meio ano, a Delphi despediu 500 pessoas e a Vidrofuso fechou as portas, despedindo duas dezenas. Dois duros golpes para a cidade. A autarquia tem acompanhado de perto a situação destes desempregados e das suas famílias? Temos a consciência que sempre que uma empresa faz despedimentos ou fecha se trata de um problema que envolve famílias, crianças, idosos e portanto tentamos sempre perceber quais os impactos a curto, a médio ou a longo prazo que estas situações podem provocar num contexto desejável de sociedade justa e igualitária. A nossa primeira reacção é perceber se as pessoas estão encaminhadas para soluções e para medidas de apoio que possam manter o equilíbrio pessoal e familiar, depois tentamos perceber o que pode provocar esta situação em termos da Guarda. Nestas situações, em particular, percebemos algumas debilidades cujos impactos estamos a tentar reduzir através de respostas muito concretas. Percebemos, ainda no ano anterior e tem-se reforçado há medida do tempo, que alguns destes desempregados podem estar a gerar graves desequilíbrios nas finanças domésticas. Seja por falta de gestão, seja por desconhecimento, a situação destes desempregados pode agravar-se a médio prazo quando se acabar o valor da indemnização e o apoio ao desemprego. Pensamos, inclusive, que as acções de formação para desempregados deveriam compreender módulos de apoio a este grupo de pessoas no sentido de poder evitar uma total desequilíbrio por desconhecimento ou por má informação. Pensamos que módulos de formação como gestão doméstica, direitos e deveres laborais, teriam todo o cabimento de serem concretizados através das várias instituições que ministram as acções de formação dirigidas a estes públicos. Para além das medidas que as políticas sociais municipais têm ao dispor, a Câmara Municipal da Guarda protocolou, ainda no ano passado, uma nova valência que permite apoiar estes públicos de uma forma provocadora de acção. Trata-se do Gabinete da Empregabilidade e da Inserção que já se encontra a funcionar na Câmara Municipal da Guarda com o intuito de centralizar e disponibilizar toda a informação que possa ser do interesse do munícipe, seja para poder obter medidas de apoio social, seja para poder criar


Foto: Arménio Bernardo

o próprio emprego. Este Gabinete é constituído por dois gestores que intervêm, nesta primeira fase, em estreita colaboração com a Segurança Social e o IEFP e que serve de agilizador de informação. Criámos, desta forma, um espaço que centraliza a informação necessária para a grande maioria das pessoas que estejam em situação de desemprego e que sublinha, em permanência, a acção, a pro-actividade, o empreendedorismo em detrimento da inoperância e da subsidio-depêndencia. A autarquia tem vindo a promover diversas acções de solidariedade social, como a recolha de roupas e de outros bens essenciais. Os guardenses respondem à chamada? São generosos e solidários nas causas sociais? Estou convencida que a Câmara Municipal da Guarda, também neste contexto, deve ser impulsionadora de acções que depois se vão auto alimentando. Ou seja, a Câmara Municipal da Guarda não deve criar uma Bolsa de Solidariedade, nem tão pouco uma Loja Social, por exemplo, mas deve mostrar às várias colectividades do concelho que estas opções têm um espaço próprio e que podem ser, facilmente, desenvolvidas. Não queremos substituir-nos às colectividades e demais instituições. Dito isto, temos feito algumas iniciativas para as quais solicitamos a participação activa dos guardenses a título particular e as empresas a título colectivo. Aproveitamos a época do Natal para lançar o pedido de colaboração e desde aí temos vindo a receber várias colaborações, sendo umas mais “singelas” e outras mais “reforçadas”. Os desafios até agora lançados têm-se restringido às empresas e aos funcionários da Câmara Municipal da Guarda e, tanto uns como outros reagiram de forma muito positiva. Atrevo-me a desabafar que não foi uma surpresa, porque já noutras ocasiões os funcionários e colaboradores da Câmara Municipal da Guarda demonstraram o seu sentido de solidariedade e companheirismo, pelo que tenho a certeza que, sempre que forem desafiados, eles responderão à altura. Quanto às empresas optamos até agora por intervir directamente com as grandes e médias superfícies e de todas recebemos uma colaboração extraordinária. Neste momento já estamos a tentar que algumas colectividades desenvolvam acções deste género em

colaboração com a autarquia, pelo que, por exemplo o Encontro SOL que tinha uma lógica, predominante, de partilha de experiências e conhecimentos entre técnicos e entre utentes, complementada com recolhas várias, já está acordado no âmbito do CLDS da Guarda com a Associação de Beneficência de Avelãs de Ambom para este ano o poder continuar a organizar. A par com este conjunto de abordagens aos problemas sociais do nosso concelho iremos ter a breve trecho um regulamento de apoio aos munícipes que na prática se traduz num cartão de benefícios que vai incidir, por exemplo, em actividades organizadas pela autarquia, em custos com taxas e licenças e também nos transportes urbanos. Queremos que a maior parte dos nossos munícipes em situação desfavorecida seja pela idade, pela condição física ou mental, pela situação financeira possa usufruir de forma equilibrada das várias ofertas que a autarquia tem e que, principalmente se possa deslocar com o mínimo de conforto. Mais do que uma resposta social, trata-se de um instrumento de desenvolvimento regional que pretende provocar e facilitar oportunidades aos nossos munícipes. A Acção Social é uma área muito acarinhada por este executivo. Que programas e apoios tem previstos a autarquia neste sector? As preocupações de carácter social são e sempre foram uma das prioridades da Autarquia da Guarda. Sempre se apostou em políticas sociais no sentido de contribuir para a promoção do desenvolvimento do concelho. Temos total consciência que a acção social das autarquias deve incidir em várias dimensões: os recursos financeiros, a saúde, a habitação, a escolaridade, o trabalho, a integração social, psicológica, cultural, entre outras. Sabemos, por experiência, que este trabalho deve ser cooperativo, ou seja, deve envolver as entidades que intervém a nível destes problemas em diversos patamares e temos a noção que no âmbito das políticas sociais, o trabalho desejável é em termos preventivos. A nível local tem-se conseguido fazer um trabalho ex-

traordinário com as diversas instituições evidenciado em acções concretas que cada vez mais são para além de eficientes, eficazes. Um dos frutos destas parcerias inter-institucionais foi a elaboração do Diagnóstico Social do Concelho em 2006, que neste momento está a ser actualizado. Este documento permitiu às instituições elaborar planos de acção mais concretos e ajustados à realidade e permite à autarquia ter informações concretas sobre a dinâmica social do concelho. Aliás a Rede Social é um dos melhores exemplos de desenvolvimento de respostas sociais integradas. Na sequência deste diagnóstico a Câmara Municipal da Guarda tem-se pautado intervindo activamente em diferentes parcerias vocacionadas para inclusão social e para o combate à pobreza (Progride – Cáritas; Escolhas – NDS, Riscos – NDS/IDT; Núcleo Local de Inserção (RSI); Cruz Vermelha; CLDS, etc); apoia directamente várias Instituições de solidariedade; disponibiliza habitações com rendas proporcionadas aos rendimentos auferidos (Habitação Social); apoia pontualmente famílias carenciadas a nível de potenciar qualidade de vida em termos de condições de habitabilidade (Casa +; Bricosolidário, isenção de taxas e licenças, etc.); intervém em termos de acção social escolar, seja em termos de possibilitar a frequência dos ATL’s, da comparticipação dos passes escolares ou na aquisição de material e livros escolares; organiza acções pontuais com o intuito de criar oportunidades para novas respostas: recolha e distribuição de bens diversos (roupas, brinquedos, alimentos, etc.); estamos a criar o cartão municipal social; criámos com o CLDS o Gabinete de Empregabilidade e Inserção, concluímos e aprovámos o regulamento de atribuição de apoio, etc. Queremos, naturalmente fazer muito mais, mas temos consciência que o papel da autarquia dever ser dinamizador de uma política integrada de respostas sociais, cuja estratégia esteja correctamente fundamentada em diagnósticos e sustentada em parcerias coesas.


Patrim贸nio natural

Biodiversidade Natural da Guarda

Rio Mondego


Caracterizada por uma paisagem natural diversificada, representada por matas de carvalhos e castanheiros, matas ribeirinhas de amieiros, salgueiros e azereiros, alcantilados e fragas das vertentes do alto Mondego, planaltos cerealíferos e de matagais, agricultura, fruticultura e pastorícia extensiva, a Guarda alberga ainda uma importante biodiversidade de valores naturais representativa destes ecossistemas. No ano em que se celebra o Ano Internacional da Biodiversidade, é premente que se divulguem estes valores também localmente, pois a nossa realidade local inclui, igualmente, seres vivos ameaçados e pouco conhecidos.

Texto: Sofia Pinto Fotos: Fernando Romão

O concelho da Guarda insere-se numa região de transição entre a área montanhosa da Serra da Estrela (1991 m) e a região planáltica da Meseta Ibérica, que faz parte das montanhas de dobramento antigo que se formaram durante a Orogénese Hercínica e são constituídas por rochas do antigo maciço Hespérico, caracterizadas pela presença de granito e xisto, e conservam cumes relativamente altos devido ao ritmo muito lento da erosão na zona granítica. Como consequência dos condicionalismos naturais (relevo, constituição geológica e clima) depara-se com uma densa rede hidrográfica de regime irregular, basicamente torrencial, com cheias na época de maior precipitação e no degelo, apresentando um caudal diminuto na época estival. As principais bacias hidrográficas que se encontram no concelho da Guarda são as dos rios Mondego, Douro e Tejo, que se separam próximo de Vale de Estrela. Os vales fluviais são profundamente encaixados na região serrana e, de direcção frequentemente rectilínea, Nordeste-Sudoeste, para os principais cursos de água. O rio Mondego assume no concelho da Guarda características de Regato de Montanha, caracterizado por águas muito rápidas e onde abundam cascatas, as quais formam poços profundos, que chegam a atingir os 3 a 4 m de profundidade. O fundo é constituído por calhaus e areias grossas. Por norma, a sua temperatura não excede os 10°C e são águas muito ricas em oxigénio. O clima da Guarda, condicionante de toda a diversidade natural, é muito húmido, mesotérmico com défice de água moderado e moderada eficácia térmica no Verão. Após a construção da barragem do Caldeirão (associado ao fenómeno

de aumento da temperatura global) a humidade relativa do ar aumentou o que fez com que o número de dias com neve diminuísse e que a temperatura do ar se elevasse um pouco na última década. Em relação à paisagem característica do concelho da Guarda, observam-se os vales agrícolas espraiados, com plataformas aluviais e encostas com socalcos de serra granítica. Na zona de sub-serra as características do relevo e paisagem são escarpadas e rugosas com visível erosão fluvial. As encostas têm características de montanha em blocos dissimétricos. O relevo e a vegetação são ditados por uma predominância essencialmente granítica, granito porfiroide de grão grosseiro, com zonas de transição (rocha férrea) para o xisto que têm menor expressão no concelho, apesar da sua dominância na zona de Videmonte. As plataformas aluviais de fundo dos vales, têm largura variável e encostas declivosas armadas muitas vezes em socalcos com muros de suporte de pedra solta. Os solos graníticos são fortemente erosionáveis, por isso as zonas declivosas e despidas de vegetação encontram-se quase sempre em fases esqueléticas e delgadas. A zonagem ecológica é predominantemente sub-atlântica, transitando para sub-atlântica x oro-atlântica a Noroeste do Concelho, onde dominam os soutos e castinçais (Castanea sativa) nas zonas de solos férteis e profundos, que desde sempre suportaram a economia tradicional local. As influências mediterrâneas ocorrem no nível sub-montano de menor altitude, dominando neste andar o azinhal (Quercus rotundifolia). Sendo de referir também uma faixa de influência continental onde dominam os bosques de carvalho-negral (Quercus pyrenaica).

A vegetação natural é de reduzida expressão devido à intensa utilização do solo, mas este património natural acompanha ainda as linhas de água, encostas mais declivosas e pedregosas, taludes e caminhos rurais, pertencentes aos andares basal e intermédio. Os registos de floresta primitiva dividem-se pelo andar basal, onde encontramos um clima de expressão mediterrânica e onde se observam as espécies inicialmente dominantes como a Azinheira (Quercus rotundifolia) e o Azereiro (Prunus lusitanica). Das espécies que compõem o elenco florístico do azinhal destacam-se: Azinheira (Quercus rotundifolia) e, no estrato arbustivo o Lentisco-bastardo (Phillyrea angustifolia), a Estêva (Cistus ladanifer) o Zambujeiro (Olea europea var sylvestris) e o Medronheiro (Arbutus unedo). As zonas declivosas são cobertas por matos de urzes (Erica spp.), carquejas (Pterospartum tridentatum), plantas aromáticas e medicinais, como a Bela-luz (Thymus mastichina), o Rosmaninho (Lavandula sp.), a Cidreira (Melissa officinalis), os giestais brancos e amarelos (Genista sp. e Cytisus sp.) que encantam a paisagem a partir de Março. E diversos arbustos de sub-bosque como o Azevinho (Ilex aquifolium), o Medronheiro (Arbutos unedo) e os Folhado (Viburnum tinus) e o alecrim (Rosmarinus officinalis). Os planaltos e algumas encostas eram zonas essencialmente de sequeiro e de cultura de cereais como o centeio e o trigo, que intercalavam com os pinhais de pinheiro-bravo (Pinus pinaster) desde a primeira metade do Séc. XX. Também ali se encontravam alguns nutritivos pastos de primavera que alimentavam os numerosos rebanhos locais e algumas rotas de transumância. As margens fluviais estão ainda em grande parte ocupadas importantes bosques ribeirinhos de cuja vegetação se destacam os salgueiros (Salix


Melitae Atrivia

sp.), o Amieiro (Alnus glutinosa), o Freixo (Fraxinus sp.), o Loureiro (Laurus nobilis) e a relíquia da floresta pré-glaciar que é o Azereiro (Prunus lusitanica). Na maior parte do vale do alto Mondego, o rio e as suas margens encontram-se ainda pouco alteradas. A vegetação muito densa, quase natural, constitui um excelente habitat e refugio para uma grande diversidade de espécies, desde anfíbios e répteis a aves e mamíferos, muitos deles com estatuto de endémicos, raros, vulneráveis ou ameaçados. É por isso de extrema importância conservar e valorizar estes corredores fluviais sem alterar a sua vegetação natural. Todos estes ecossistemas são palco de uma vasta panóplia de fungos, nomeadamente cogumelos de grande valor nutritivo, económico e de fascínio, sobretudo na época de Outono. De entre essas espécies destacam-se os comestíveis como os Frades ou Tortulhos (Lepiota sp.) e os não comestíveis e perigosos, mas não menos belos, como algumas espécies de Amanitas (Amanita spp.).

Os cursos de água e as albufeiras presentes no concelho da Guarda estão incluídos na definição das águas salmonícolas. A Truta-fário (Salmo trutta fario) da família Salmonidae, é a espécie mais abundante nestas águas, sendo esta zona caracterizada por “Zona da Truta”. Nesta zona ecológica pode encontrar-se além da truta, a Enguia (Anguila anguila), a Boga (Chondrostoma polylepis), o Barbo do Norte (Barbus bocagei), o Escalo (Leuciscus cephalus), o Bordalo (Rutilus alburnoides), a Pardela (Chondrostoma lemmingii), a Pardela-comum (Rutilus arcasii). Os peixes são, actualmente, o grupo de vertebrados mais ameaçado no nosso país, sobretudo devido à degradação da qualidade da água e à (ir)regularização dos cursos de água devido à construção de barragens ou à impermeabilização do leito e das margens.

As povoações rurais traduzem-se em aglomerados concentrados, como regra geral, mas aparecendo igualmente com ocupação linear ao longo das vias de comunicação e linhas de água, e mesmo zonas de povoamento disperso.

De entre as numerosas espécies de répteis e anfíbios existentes na região destacam-se principalmente o Lagarto-de-água (Lacerta schreiberi), o Sardão (Lacerta lepida), a Cobra-de-ferradura (Hemorrhois hippocrepis), a Vibora-cornuda (Vipera latasti), a Salamandra-lusitanica (Chicoglossa lusitanica), a Salamandra-dos-poços (Pleurodeles waltl), o Tritão-de-ventre-laranja (Lissotriton boscai), o Sapo-parteiro (Alytes obstetricans), o Sapo-corredor (Epidalea calamita) e a Rã-ibérica (Rana iberica).

Ao nível do suporte à economia tradicional encontramos os olivais (na zona de influência mediterrânica), os soutos e castinçais, os pomares e a utilização essencialmente agrícola de regadio, rodeada de encostas incultas (matos), pastos ou povoamentos florestais, essencialmente de pinheiro bravo.

O grupo das aves é constituído por elementos interessantes dos quais convém destacarmos a Águia-cobreira (Circaetus gallicus), a Águia-caçadeira (Circus pygargus), a Sombria (Emberiza hortulana), a Laverca (Alauda arvensis), a Codorniz (Coturnix coturnix) e o Abelharuco (Merops apiaster), associados às terras altas e encostas

rochosas ou de matagais; o Falcão-peregrino (Falco peregrinus), o Melro-das-rochas (Monticola saxatilis), a Andorinha-das-rochas (Ptyonoprogne rupestris), o Corvo (Corvus corax), verdadeiros representantes das vertentes escarpadas; das zonas mais baixas, ribeirinhas e florestadas, realçamos o Guarda-rios (Alcedo atthis), o Melro-d’água (Cinclus cinclus), o Rouxinol (Luscinia megarhynchos), a Trepadeira-azul (Sitta europaea), o Tentilhão (Fringilla coelebs), o Pintassilgo (Carduelis carduelis), o Pica-pau-pequeno (Dendrocopus minor) e o Chapim-de-crista (Parus cristatus). Nesta região encontram-se várias espécies de mamíferos protegidos das quais se destacam a Toupeira-de-água (Galemys pyrenaicus), o Musaranho-de-dentes-vermelhos (Sorex granarius), o Musaranho-de-água (Noemys anomalus), a Papalva ou Fuínha (Martes foina), a Lontra (Lutra lutra), o Gato-bravo (Felis silvestris), a Gineta (Genetta genetta) e várias espécies de morcegos. Não menos importantes, mas muito menos conhecidos e considerados, os invertebrados, principalmente o grupo dos insectos, merecem também um destaque especial e uma chamada de atenção para a sua importância vital nos ecossistemas. Desde algumas centenas de espécies de borboletas, às libélulas, abelhas e vespas, aranhas… O concelho da Guarda mantém um vasto património natural, inalienável da sua identidade cultural, que deve ser protegido e valorizado pela sua biodiversidade, pelo seu potencial turístico, gastronómico, pedagógico e científico.


Guarda-rios (Alcedo Athis)

Souto de Famalic達o


Turismo

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Uma visita ao Museu da Guarda Dulce Helena Borges O edifício O Museu da Guarda, situado no centro da cidade, está instalado no antigo Seminário Episcopal cuja construção se insiciou em 1601 por D. Nuno de Noronha, Bispo da Guarda. O edifício faz parte integrante de um conjunto arquitectónico que ocupa todo o quarteirão e que inclui o antigo Paço Episcopal, do séc. XVII, e uma capela de traça posterior. Do ponto de vista arquitectónico, o edifício insere-se na corrente estética da contra reforma. Este conjunto, em silharia de blocos rectangulares de granito dispostos em fiada, notável pelas suas vastas proporções, caracteriza-se pela austeridade formal, de linhas despojadas, frias e límpidas. Os raros ornamentos, dizem respeito às armas do bispo e a elementos que enquadram inscrições no portal principal e no cunhal da fachada. A função primeira do edifício prolongar-se-ia até ao início do séc. XX. Com a proclamação da República passou para a posse do Estado. Desde então e durante anos, vários serviços pú-

blicos ocuparam o edifício sendo ainda hoje visíveis referenciais arquitectónicos dessa ocupação. Breve história do museu O Museu da Guarda é herdeiro do Museu Regional da Guarda fundado em 1940, sob a dependência da Câmara Municipal, no âmbito das Comemorações Centenárias. Para a criação do Museu Regional da Guarda contribuíram diversas personalidades da vida nacional e local destacando-se: Dr. Ernesto Pereira, Dr. Alfredo Filipe e os pintores Eduarda Lapa e Teodósio Ferreira. O seu modesto acervo resultou, essencialmente, de doações e ocupou parte do edifício do antigo Seminário. Em 1983 iniciaram-se obras de remodelação do edifício e simultaneamente elaborou-se um plano museológico para a apresentação da colecção permanente. Abriu ao público em Junho de 1985, sob a designação de Museu da Guarda e na dependência do IPPC. Actualmente, o Museu da Guarda é tutelado pelo IMC e ocupa todo o espaço do antigo Seminário e parte do antigo Paço Episcopal.

A colecção O espólio do Museu da Guarda, com cerca de 4800 peças, é constituído por colecções de arqueologia, numismática, escultura sacra dos sécs. XIII a XVIII, pintura sacra de entre os sécs. XVI a XVIII e armaria dos sécs. XVII a XX. Encontramos ainda cerâmica, fotografia, etnografia regional, pintura portuguesa e desenho de finais do séc. XIX e 1ª metade do séc. XX. Deste acervo merecem particular destaque: Na arqueologia, duas espadas da Idade do Bronze, uma fíbula anular hispânica datável da 2ª metade do séc. VII a. C./ finais do VI a. C., a colecção de numismática romana e um torso de estátua couraçada do séc. II; Na escultura, um granito policromado, do séc. XIII, representando Nossa Senhora do Consolação, o Altar da Anunciação da escola renascentista coimbrã do séc. XVI e os espaldares de cadeiral dos sécs. XVI e XVIII; Na pintura sacra incluem-se obras de oficinas locais e dos importantes centros oficinais de Lisboa, Viseu e Évora;


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A colecção de armaria inclui peças do séc. XVII ao séc. XX, que ajudam a documentar a evolução das armas neste período; Na pintura portuguesa, encontramos desenhos de Carlos Reis, António Carneiro, e óleos de Columbano, Eduarda Lapa, Almeida e Silva e João Vaz, entre outros; As colecções etnográficas, actualmente em reserva, permitem a elaboração de exposições temporárias de média duração, facilitando uma leitura das principais actividades económicas da região em épocas passadas.

Horário | Museu e Loja De Terça a Domingo, das 10h00às 12h30 e das 14h00 às 17h30. Encerrado Segunda-feira, 1 de Janeiro, Domingo de Páscoa, 1 de Maio e 25 de Dezembro. Loja Publicações, postais, réplicas e peças de artistas contemporâneos Biblioteca Especializada em História Regional e História de Arte Centro de documentação Reúne materiais audiovisuais e fotográficos, bem como documentação escrita da história do Distrito. Auditório 50 lugares sentados e capacidade para 80 pessoas.

Serviço Educativo Visitas orientadas para o público em geral. Programas especiais de animação cultural e pedagógica, sobre as colecções e sobre as exposições temporárias destinadas à comunidade escolar. Disponibiliza materiais pedagógicos temáticos, concebidos para deficientes visuais e auditivos. Actividades Temporárias O Museu organiza exposições temporárias no âmbito das suas colecções e da história local.

Museu da Guarda Rua General Alves Roçadas, 30 6300-663 Guarda Tel. (351) 271 213 460 / 271 214 716 Fax. 271 223 221 mguarda@imc-ip.pt www.museudaguarda.imc-ip.pt


Património edificado

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Antigo paço episcopal / actual paço da cultura Foi construído há mais de quatro séculos. teve origem religiosa, mas foi confiscado pelo estado em 1910. Tornou-se imóvel de interesse público em 1982 e foi recuperado com fins culturais em 1999, num projecto de Maria José Abrunhosa e Sérgio Gamelas. Actualmente, funcionam no Paço da Cultura, um dos edifícios mais emblemáticos da cidade, o Núcleo de Animação Cultural da autarquia, o Centro Cultural da Guarda e o coral pedras vivas. Situado na Rua Alves Roçadas, o edifício actualmente designado por Paço da Cultura teve a sua origem em pleno ciclo filipino, com a construção do conjunto formado pelo Paço Episcopal (actuais Núcleo de Animação Cultural e Centro Cultural da Guarda), Igreja (actuais instalações do Museu de Arte Sacra) e Seminário (actuais instalações do Museu da Guarda). Em 1601, o seminário Episcopal, o primeiro a ser edificado, foi mandado construir pelo Bispo D. Nuno de Noronha, cumprindo um programa pedagógico determinado pelo Conselho de Trento. Continuando a sua vertente educativa, já em pleno século XX, o edifício do antigo Paço Episcopal, hoje Paço da Cultura, acomodou ainda a Escola do Gaiato, o Colégio de S. José e a Escola Primária (do Tribunal Velho), o Jardim de Infância da Sé e, a partir da década de 80, o Centro Cultural da Guarda (instituição que permanece até hoje a funcionar neste emblemático edifício). No antigo Paço Episcopal funcionaram ainda a Tesouraria da Secção de Finanças e o Tribunal da Guarda. No pátio do Paço estão ainda implantados dois brasões, na parede sul do edifício. O primeiro

deles é de D. João Mendonça, nomeado Bispo da Guarda em 1711. O segundo brasão é de Jerónimo Rogado de Carvalhal, também ele Bispo da Guarda a partir de 1742. A igreja que se situa ente o edifício do Paço e o do Museu, e que recentemente foi recuperada pela autarquia e entregue à diocese para futuras instalações do Museu de Arte Sacra, foi mandada construir pelo Bispo D. Tomaz Gomes de Almeida. Mais tarde, já no primeiro quartel do século XIX, esta igreja foi encerrada ao culto. O Paço Episcopal viria a ser confiscado pelo estado em 1910. Designado como “Arquitectura Religiosa residencial, educativa, maneirista”, em 1982 o edifício foi considerado Imóvel de Interesse Público. O Paço na actualidade O edifício foi recuperado em Março de 1999, num projecto da autoria dos arquitectos Maria José Abrunhosa e Sérgio Gamelas. A obra rondou, na altura, os 220 mil contos (mais de um milhão de euros), comparticipados a 75 por cento pelo FEDER através do Procentro. O edifício

foi entregue à cidade no ano em que se comemoraram os 800 anos da cidade mais alta, a 27 de Março de 1999. Desde então, funcionam nesta estrutura o Núcleo de Animação Cultural da Câmara Municipal da Guarda, o Centro Cultural da Guarda, com as Escolas de Ballet e Música, o Rancho Folclórico, o Conjunto Rosinha e o Orfeão da Guarda. No edifício está também sedeado o grupo Coral Pedras Vivas. O Paço da Cultura é ainda constituído por duas salas de exposições temporárias, onde se privilegia a mostra de trabalhos de autores com ligações ao concelho da Guarda, e um auditório com capacidade para cerca de cem pessoas onde se realizam actividades de música, conferências, apresentação de livros, seminários, entre outros. A autarquia promove ainda todos os anos um ciclo de música nos claustros do Paço da Cultura. A iniciativa desdobra-se nos meses de Verão (Julho e Agosto), traz aos claustros as várias sonoridades da música tradicional e tem por nome “O Paço é do Povo”.


Foto: Arménio Bernardo

CULTURA

Manuel António Pina: nome de ciclo… e de prémio Depois de um ciclo sobre a sua obra, a Câmara Municipal da Guarda avança em 2010 com a criação de um prémio com o seu nome: Manuel António Pina. Trata-se de Um galardão que premiará poesia e literatura infanto-juvenil, a primeira em anos pares, e a segunda em anos ímpares. 2010 será ano de poesia. A Câmara Municipal da Guarda, o Teatro Municipal da Guarda e o Centro de Estudos Ibéricos promoveram em Janeiro um ciclo dedicado à obra do escritor Manuel António Pina. Um dos destaques da iniciativa foi precisamente a criação de um prémio literário com o nome do escritor, e que a autarquia da Guarda vai passar a atribuir todos os anos. O Prémio irá contemplar a poesia, em anos pares, e a literatura infantojuvenil, em anos ímpares. Trata-se, por isso, de um galardão que passará a marcar anualmente o panorama cultural da cidade. O prémio foi apresentado a 21 de Janeiro, na véspera de terminar este ciclo que mostrou teatro, poesia, oficinas, seminários e exposições. Podem concorrer ao Prémio Manuel António Pina autores já publicados ou não, sem limite de idade, desde que a obra seja inédita. Foi celebrado um protocolo entre a Câmara Municipal da Guarda e a editora Assírio & Alvim que garante a edição do texto vencedor e um prémio

pecuniário de 2500 euros, atribuído pelo município, por conta de direitos de autor. Manuel António Pina será um dos elementos do júri. O prémio estará em vigor já em 2010, ano par e, portanto, de poesia, como dita o regulamento. Manuel António Pina nasceu no Sabugal. Poeta e autor de livros para a infância, é licenciado em Direito pela Universidade de Coimbra. Entre 1971 e 2001 foi jornalista do Jornal de Notícias (JN), no Porto, onde desempenhou igualmente funções de editor e chefe de redacção. Além do JN, tem ainda colaboração dispersa por outros órgãos de comunicação, entre imprensa escrita, (colabora na Revista Visão, entre outros) rádio e televisão. Foi também professor da Escola Superior de Jornalismo do Porto e membro do Conselho de Imprensa. A obra de Manuel António Pina consegue uma forte coesão, mantendo em ambos os registos

– o da poesia e o da chamada “Literatura para a Infância” – aquilo que já foi classificado como “um discurso de invulgar criatividade e de constante desafio à inteligência do leitor”, qualquer que seja a sua idade. Como poeta, a sua obra revela um cariz simultaneamente sentido e reflexivo, de tom irónico e tendência filosofante, a que é apontada uma tendência nietzschiana para alcançar “uma segunda e mais perigosa inocência”. Como autor de literatura infantil, a sua obra tem um lugar à parte no panorama nacional, mercê de um “nonsense” de tradição anglo-saxónica, (onde poderemos detectar a herança de Lewis Carroll) que brinca, inteligente e seriamente, com as palavras e os conceitos, num jogo de imaginação sem tréguas. Grande parte de sua obra para a infância está representada em manuais escolares e publicada em antologias em Portugal e Espanha.

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CULTURA

O TMG abriu hรก 5 anos e a Guarda nunca mais FOI a mesma!

Foto: Fernando Guerra

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Foto: Fernando Guerra

Foi inaugurado há cinco anos, em dia de liberdade, E de então até agora muita coisa mudou no panorama cultural do interior do país. O TMG promoveu mais de 1700 actividades a que assistiram mais de 220 mil espectadores. pelo equipamento passaram mais de meio milhão de pessoas. O TMG tornou-se num verdadeiro motor cultural e também num local de “peregrinação” obrigatória. Há um antes e um depois do TMG. A Guarda nunca mais foi a mesma.

Já passaram cinco anos. Cinco anos que mudaram por completo a paisagem cultural no interior do país. A Guarda passou a ser ponto de passagem obrigatória de grande parte das companhias e artistas nacionais. O Teatro Municipal da Guarda é hoje um teatro cosmopolita e passou a ser local de “peregrinação” de muitos amantes da cultura. Música, teatro, dança, exposições, cinema, tertúlias e debates, oficinas e formação, numa oferta intensa e diversificada, transversal a todas a classes etárias e sociais. O TMG afirmou-se como uma instituição activa, dinâmica, que trabalha para a comunidade e com a comunidade. Em cinco anos, o TMG mostrou pela primeira vez na região exposições de grandes nomes das artes plásticas nacionais. Somou-lhe dezenas de concertos e espectáculos que tiveram a sua estreia portuguesa aqui, no TMG. Na área do teatro, o TMG criou o Projéc~ (estrutura de produção teatral) e com ele colocou em cena oito produções. Em cinco anos, o teatro promoveu também dezenas de ciclos, festivais e mostras de todos os quadrantes artísticos, do teatro à performance, da música clássica à música contemporânea, do Jazz à música experimental, dos Blues à guitarra, das marionetas às vozes…

Todas as artes cabem nesta casa de cultura que é o Teatro Municipal da Guarda, um dos mais activos equipamentos culturais do país. Mais de meio milhão de pessoas em 5 anos Em cinco anos o TMG realizou 1741 sessões às quais assistiram 221.707 espectadores. Pelo equipamento passaram mais de meio milhão de pessoas (511.452). Os dados foram revelados no dia do 5º Aniversário do TMG (25 de Abril) numa sessão comemorativa que teve lugar no Café Concerto e que contou com a presença de diversas personalidades, entre as quais o director-geral das Artes, Jorge Barreto Xavier, o director regional de Cultura do Centro, António Pedro Pita, o vereador da Cultura e vice-presidente da Câmara Municipal da Guarda, Virgílio Bento e o director artístico do TMG, Américo Rodrigues. Neste aniversário, o director do Teatro voltou a reclamar o apoio do Ministério da Cultura para o TMG e também a criação efectiva da rede nacional de Teatros. O director artístico do TMG falou ainda de outros desejos: um Centro de Arte Contemporânea, uma Escola de Artes e uma “Praça do Teatro”, visto que o edifício foi projectado e construído a contar com esta intervenção urbanística.

Por seu turno, o vice-presidente da Câmara Municipal da Guarda sublinhou a importância do TMG na afirmação da Guarda como «capital da cultura da Beira Interior». A cultura, diz o vereador da Cultura, «é um vector de desenvolvimento da cidade, assente no triângulo cultural constituído pelo TMG, Biblioteca Eduardo Lourenço e o Centro de Estudos Ibéricos». A sessão foi ainda pretexto para a apresentação da obra “Caminhos. Sinais. Sentidos (TMG 2005 – 2010), uma edição comemorativa que junta textos e fotos sobre os primeiros cinco nos do teatro. O livro conta com artigos de Manuel Maria Carrilho, Gabriela Canavilhas, António Pedro Pita, Joaquim Valente, Vera Pires Coelho, Carlos Veloso, Victor Gama, Maria do Carmo Borges, Álvaro Guerreiro, Manuel Poppe, Américo Rodrigues e Victor Afonso.

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DESPORTO

Uma mão cheia de modalidades desportivas em 2010 16

Motocross, ciclismo, radiomodelismo, futsal, ginástica, futebol, voleibol e natação são algumas das modalidades desportivas que deverão passar pela cidade mais alta ao longo do ano de 2010. Apresentado em Janeiro, o Plano Desportivo da Câmara Municipal da Guarda para este ano conta com um investimento na ordem dos 200 mil euros. O plano desportivo da Câmara Municipal da Guarda para o ano de 2010, num investimento máximo de 200 mil euros, envolve a realização múltiplas actividades nas mais diversas áreas. O Plano foi anunciado no passado mês de Janeiro por Vitor Santos, vereador responsável pelo Pelouro do Desporto da Câmara Municipal da Guarda. Do Programa de actividades constam, entre outras modalidades: motocross, ciclismo, radiomodelismo, futsal, ginástica, futebol, voleibol e natação. Em Fevereiro, a Guarda recebeu o Allstar Game de Basquetebol e também o 2º Campeonato da Europa de Futsal INAS-FID. Em Março, o destaque foi para a Gala Nacional de Ginástica e também para a Taça das Nações de Ciclismo, uma actividade, que regressará nos próximos três anos com partidas e chegadas. Em Abril, destaque ainda para o Europeu de Radiomodelismo. Em Maio, realizar-se-à o campeonato Regional de Motocross, na Pista de Fernão Joanes. Em Junho decorre em Maçainhas, entre os dias 5 e 10, o Europeu de Radiomodelismo e nos dias 12 e 13 de Junho realiza-se a prova Guarda

Cup Futebol Infantil. De realçar ainda que a autarquia tem previstas diversas actividades para o referido mês a decorrer na Praça Velha por alturas do Mundial de Futebol da África do Sul (de 12 de Junho a 11 de Julho). Já em Julho, haverá um Festival Automóvel, em parceria com o Clube Escape Livre. Trata-se de um evento que contará com a participação de viaturas das chamativas marcas Ferrari, Volvo e Lotus. Em Agosto decorrerá o Torneio Internacional de Futebol Júnior, agendado para os dias 13, 14 e 15, no Estádio Municipal da Guarda. Para Setembro ficou marcada a realização da 4ª Golden Cup, do 3º Downhill Urbano Cidade da Guarda (dia 19) e o Campeonato Nacional de Elite Motocross (dia 12). Já em Novembro, a Câmara Municipal da Guarda promoverá o Campeonato Nacional de Natação de Absolutos (Pista Curta 25 metros). Uma actividade que decorrerá no Complexo de Piscinas Municipais da cidade mais alta. Recordamos numa espécie de balanço que, em 2009 a Câmara Municipal da Guarda investiu cerca de 250 mil euros na organização de 50 iniciativas que trouxeram à cidade 35 mil pessoas. De referir ainda que em 2009 a Guarda voltou a assistir a uma passagem da Volta a Portugal em Bicicleta.

Calendário Desportivo até ao final do ano Regional de Motocross Em Maio Pista de Fernão Joanes Europeu de Radiomodelismo 5 a 10 Junho Pista de Maçainhas Retransmissões do Mundial de futebol África do Sul De 12 de Junho a 11 de Julho Praça Velha Guarda Cup Futebol Infantil 12 e 13 Junho Estádio Municipal Festival Automóvel (Guarda 2010) Em Julho Praça Velha Torneio Internacional de Futebol Júnior 13, 14 e 15 de Agosto Estádio Municipal 4ª Golden Cup 3, 4 e 5 de Setembro Pavilhão Desportivo - S. Miguel 3º Downhill Urbano Cidade da Guarda 19 de Setembro Cidade da Guarda / Centro Histórico Campeonato Nacional de Elite Motocross Em Setembro Pista de Fernão Joanes Campeonato Nacional de Natação de Absolutos (Pista Curta 25 mt) Em Novembro Complexo de Piscinas Municipais da Guarda


património afectivo

O PONTO CARDEAL

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manuel poppe

Há um golpe na vida do infante e advém assim: um dia bacharela-se no ofício de crescido. É a “viagem de camioneta para isso que as pessoas de senso chamam vida, hão-de sempre chamar vida! (É a vida!)”, denunciou Tomaz de Figueiredo, em A Má Estrela. Aconteceu-me a desventura quando a tacanhez de tolos mestres me arrancou à Guarda. Declararam-me persona non grata, e eis-me a caminho de Lisboa, cidade a que pertenço por registo civil e só por isso –nem por pia baptismal, que eu saiba, ou talvez sem o saber, cerimónia celebrada à má fé. O meu baptismo, o meu abrir ao mundo, à beleza da terra e ao amor, deu-se onde Sancho I encontrou a Ribeirinha; também ali comunguei em espírito com certa rapariga, ao modo de Werther e outra, parente afastada da mulher de Magdala, me ensinou a conhecê-la, tal qual a Bíblia diz ser homem e mulher conhecerem-se. E a alma e a carne ficaram marcadas. De malas e coração amarrados, desci à capital, para trás o alto monte da Sagrada Beira e o barbeiro de Augusto Gil; os livros a prestações do Sr. Casimiro; a bondade e a ironia de quem

passou ao lado do Concílio de Trento: o Padre Pôpo, director insubstituível da Biblioteca Municipal; o Café Mondego e a Casa dos Sumos; o Poço do Gado e Libânia; a Cova Funda e os versos de Musset, regados a tinto, na companhia de um poeta puro: o José Pires Sanches, primo de Dostoievski e de Nobre e afilhado de Camilo; as longas discussões metafísicas até de madrugada, ora com o Cida – António Almeida –, ora com o Nelson. Aquilo que a capital me deu – e alguma coisa me terá dado – não curou a ferida. On ne guérit jamais de son enfance. E ����������������������� ainda bem: resiste a semente. A vida é, sempre, um turbilhão! E não mentir, que trabalho que dá! Não nos doutorarmos, escaparmos ao Conde d’ Abranhos e a Calisto Elói; escaparmos ao Dr. Assis, do In illo tempore, de Trindade Coelho! Em suma: não aceitar o diploma de crescido. Aquele tempo, na Guarda, ensinou-me o caminho.

Todos temos de ter um lugar, uma pátria, uma casa. Um ponto de referência: um Norte. Calhou-me destino de judeu errante ou de holandês voador. Vivi – afora este onde nasci – em quatro países e em três continentes. A luzinha, ao fundo, a amparar-me, se batiam à porta o bezerro de oiro ou a comenda do Dâmaso Salcede, foi sempre esse berço tardio -pois só aos oito anos cheguei à Guarda-, matriz da aventura interior, que impôs a recusa de deitar às ortigas o sonho, a esperança e a aventura. A ele me encosto e ele me aconchega, agora, ao entardecer.


COLECTIVIDADEs

Associação Cultural e Desportiva do Jarmelo 18

Isidro Almeida A região do Jarmelo, rica em história e tradições, é composta por um conjunto de aldeias dispersas no seu território geográfico (Freguesia do Jarmelo – São Miguel e Freguesia do Jarmelo – São Pedro). Perante a dispersão das várias aldeias, bem como a continuada desertificação populacional de toda a região, uma Associação Cultural e Desportiva, poderia surgir como um elemento aglutinador das povoações das várias aldeias das duas freguesias do Jarmelo em torno de propósitos comuns. A criação da Associação Cultural e Desportiva do Jarmelo teve assim lugar no dia 14 de Maio de 1986. Em termos desportivos, a partir da época de 1999/2000 e até à época 2003/2004, a Associação Cultural e Desportiva do Jarmelo participou com a inscrição de uma equipa de futebol no Campeonato Distrital da 2ª Divisão da Associação de Futebol da Guarda. As várias equipas apresentadas ao longo dos anos eram essencialmente compostas por jovens com origens nas várias aldeias do Jarmelo, bem como por jovens amigos do Jarmelo, que, de forma generosa, sem qualquer remuneração, “lutaram” pelas cores da Associação Cultural e Desportiva do Jarmelo. Durante 5 anos o Campo de Futebol do Vale da Prata reuniu as populações das duas freguesias do Jarmelo em torno de uma equipa que fazia chegar mais longe o nome do Jarmelo. Em termos culturais, as actividades começaram a acontecer em 2001. Após celebração de protocolo para os devidos efeitos com a Freguesia

do Jarmelo (São Pedro), foi cedida à Associação Cultural e Desportiva do Jarmelo, depois de devidamente recuperada pela Câmara Municipal da Guarda, a antiga Casa da Câmara do extinto concelho do Jarmelo. Depois de devidamente equipada, a antiga Casa da Câmara, foi transformada em Casa Museu do Jarmelo, que dentro das suas possibilidades vai mostrando um pouco dos vários patrimónios que constituem o Jarmelo (património histórico, património etnográfico, património edificado, património religioso, património natural, etc…). A Associação Cultural e Desportiva do Jarmelo tem mantido assim a Casa Museu aberta todos os fins-de-semana, de Junho a Setembro, ou sempre que tal seja solicitado, procurando dessa forma dar a conhecer aos visitantes do Jarmelo as peculiaridades desta região. Com a abertura da Casa Museu do Jarmelo, novas dinâmicas culturais foram surgindo. Desde logo emergiu um conjunto de actividades devidamente espaçadas no tempo, denominadas “IN-Ventos”, que procuraram durante os primeiros anos atrair os mais diversos públicos à antiga Vila do Jarmelo, criando dessa forma a habituação de visitar aquele lugar em busca de cultura. Foram assim programadas exposições de fotografia, de desenho, de pintura, de escultura, espectáculos musicais dos mais diversos géneros, espectáculos de teatro, enfim, todo o tipo de manifestações culturais possíveis de realizar naquele espaço carregado de História. Foram assim expostos vários trabalhos de artistas do

Jarmelo, bem como acolhidos outros, exteriores à região, que permitiram dar às populações locais a possibilidade de sentirem expressões artísticas diversificadas. Fruto de uma aposta do Núcleo de Animação Cultural da Câmara Municipal da Guarda, através do “Projecto Emergências”, a Associação Cultural e Desportiva do Jarmelo apresentou, no dia 21 de Janeiro de 2004, o seu grupo de cantares tradicionais denominado “Ronda do Jarmelo”. O grupo “Ronda do Jarmelo” é o resultado de um projecto de recolha de temas musicais nas várias aldeias do Jarmelo (cerca de 50 temas), que depois de tratados e ensaiados por César Prata, deram origem a um espectáculo musical que rapidamente foi integrado no “Projecto Andarilho” da Câmara Municipal da Guarda. Desde então o grupo de cantares “Ronda do Jarmelo” realizou mais de 80 actuações um pouco por todo o lado. Actuou em muitas aldeias do concelho e distrito da Guarda, fez deslocações aos distritos de Viseu, Castelo Branco e Portalegre, actuou por duas vezes em Lisboa e uma no Porto, tendo mesmo experimentado a actuação no estrangeiro, numa actuação no Norte de Espanha, em Aguilar de Campoo. O grupo de cantares “Ronda do Jarmelo” foi ainda convidado a participar em diversos programas televisivos, que em conjunto com as restantes actuações, permitiram divulgar o Jarmelo para além do seu território envolvente. A maior parte dos membros do grupo de cantares “Ronda do Jarmelo” é constituída pelos elementos que testemunharam os


temas inicialmente recolhidos. Muitos dos temas são acompanhados com sons e ritmos emitidos por objectos associados às tradições do Jarmelo (peneiras, tesouras de tosquia, forje, garrafas, etc…). Também em 2004 foi lançado o CD da “Ronda do Jarmelo”, a primeira edição musical da Associação Cultural e Desportiva do Jarmelo. Sobre o grupo de cantares “Ronda do Jarmelo”, foi também apresentado, no dia 5 de Dezembro de 2008, mais um caderno da colecção “O Fio da Memória” da Câmara Municipal da Guarda. Aproveitando a massa humana do grupo de cantares “Ronda do Jarmelo”, a Associação Cultural e Desportiva do Jarmelo, tem participado, a convite da Culturguarda, EM, nas mais diversas realizações culturais organizadas por esta empresa (Guarda, Paixão e Utopia; Guarda, Rádio Memória; Centenário do Sanatório da Guarda; Feira de São João – 2008/2009; Julgamento e Morte do Galo do Entrudo – 2008/2009/2010). Também a convite da Culturguarda, EM, no âmbito do projecto de acção cultural “Inside Out”, foi realizado o espectáculo denominado “Um Elo Chamado Jarmelo”, coordenado pelo músico Fernando Mota e pela actriz Cláudia Andrade. No âmbito da realização de eventos, também a Associação Cultural e Desportiva do Jarmelo, em colaboração com a Freguesia do Jarmelo (São Pedro), e com o apoio da Câmara Municipal tem vindo a programar, desde 2002, toda a animação cultural associada à “Feira do Jarmelo”. Este evento de raízes rurais, com a sua origem na promoção e defesa das raças Jarmelistas (bovina, caprina e ovina), tem vindo ano após ano a ganhar dimensão, mostrando-se face às suas peculiaridades uma referência a nível local e regional. Nos últimos anos, a possibilidade de extinção da raça bovina Jarmelista, veio despertar consciências, transformando essa efectiva perca de património natural do Jarmelo numa causa de todos os Jarmelistas, e não só. Com o apoio das mais diversas instituições e organismos públicos foi possível classificar a raça

bovina Jarmelista como valor concelhio e posteriormente como raça autóctone nacional. A Associação Cultural e Desportiva do Jarmelo, desde a primeira hora, resolveu associar-se a esta causa colaborando na realização anual da Feira do Jarmelo, bem como divulgando e alertando para o problema, das mais diversas formas. Nesse espírito, desde 2006 a 2008, a Associação Cultural e Desportiva do Jarmelo organizou três passeios de ciclo-turismo, denominados “Yellow Cow Parade”. Os referidos passeios possibilitaram aos seus participantes a descoberta dos mais diversos patrimónios do Jarmelo, desde o património edificado, ao património etnográfico, mas acima de tudo procurou-se o contacto, no campo, com animais da raça bovina Jarmelista, dando a conhecer, aos participantes no passeio, o seu comportamento no seu habitat natural. Os passeios realizados, tiveram como palco do seu inicio e da sua conclusão o lugar histórico do Alto do Jarmelo. O Alto do Jarmelo, é ainda, passados mais de 150 anos sobre a extinção do antigo concelho, o centro cívico, religioso e cultural de toda aquela região. Como tal, é junto às antigas muralhas do Castro do Jarmelo, que se respira História. Embrenhada nesse espírito, a Associação Cultural e Desportiva do Jarmelo, conhecedora da relação histórica do Jarmelo com o episódio da morte de Inês de Castro, em Coimbra, atenta aos movimentos culturais nacionais, promoveu em 2005 a realização de um conjunto escultórico em ferro, inaugurado no dia 7 de Janeiro de 2006, assinalando dessa forma o fim de mais um “Ano Inesiano”. O conjunto escultórico, criado por Rui Miragaia (artista plástico do Jarmelo), veio desde então engrandecer, ainda mais, todo o conjunto histórico existente no Alto do Jarmelo. Procurando sensibilizar quer a população local, quer as entidades responsáveis pela defesa do património edificado, a Associação Cultural e Desportiva do Jarmelo, a convite do IGESPAR

(ex- IPPAR), realizou nos anos de 2005, 2006 e 2008 as “Jornadas Europeias do Património” no Jarmelo. Foi assim possível promover e divulgar o património edificado do Jarmelo junto dos residentes e visitantes. Também no sentido da divulgação da região do Jarmelo e das suas actividades, a Associação Cultural e Desportiva do Jarmelo, esteve presente ao longo de vários anos com um espaço próprio na Feira das Tradições em Pinhel e na Beirartesanato na Guarda. Já no ciberespaço, a Associação Cultural e Desportiva do Jarmelo está presente através do seu blogue jarmelo-acdj. blogspot.com e no site www.jarmelo.net. A Associação Cultural e Desportiva do Jarmelo tem vindo assim, ao longo dos anos, a desenvolver um conjunto de actividades em prol do Jarmelo, dando a conhecer aquela região, as suas gentes e a sua cultura. Procurou também desenvolver um processo de crescimento da auto-estima de todos os Jarmelistas, valorizando e promovendo as suas singularidades aos mais diversos níveis. Muito terá ficado por fazer, mas muito mais poderá ainda ser feito. É objectivo da Associação Cultural e Desportiva do Jarmelo continuar envolvida com os mais diversos parceiros, nas mais variadas acções de promoção e desenvolvimento integrado da região do Jarmelo, quer a nível cultural, quer a nível desportivo ou social. A nível cultural, para além de manter e desenvolver as actividades já conhecidas, é sua intenção assinalar, em 2010, de uma forma especial, os 500 anos da atribuição de Foral à Vila do Jarmelo, pelo rei de Portugal D. Manuel I. Já em 2011, a Associação Cultural e Desportiva do Jarmelo pretende desenvolver um conjunto de actividades para assinalar os seus 25 anos de existência.

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Freguesias

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Panoias de cima: às portas da cidade «Há aproximadamente cem anos, um alfaiate natural das Panoias, passando de noite no local do Barroquinho, foi atacado pelos lobos; num instinto de defesa subiu a um penedo ou barroco que ainda se encontra no local e invocou a protecção do Senhor dos Aflitos. A alcateia das feras debandou, e no local que fica num pitoresco outeiro, foi construída a ermida do Senhor dos Aflitos.» É assim que reza a história da ermida do Barroquinho, sítio de peregrinação da freguesia de Panoias cujo orago é S. Salvador. Situada a oito quilómetros da sede de concelho, a freguesia de Panoias de Cima tem como localidades vizinhas Aldeia do Bispo, Ramela, João Antão, Santa Ana da Azinha e Vila Garcia. Trata-se de uma freguesia com uma área de 11,4 km2, constituída por oito localidades anexas, são elas Panóias de Cima, Panóias do Meio, Panóias de Baixo, Valcovo, Barracão, Cerdeiral, Póvoa de S. Domingos e Quinta dos Prados. A fábrica do Barracão e a estação do Sabugal De todas as localidades que constituem a freguesia de Panoias de Cima há que destacar a aldeia do Barracão. No início do século XX, esta era uma das mais prósperas localidades da região, em grande parte devido à Fábrica de Sais de Rádio que aí se instalou entre 1909 e 1944.

Nesse local era extraído o rádio do minério proveniente do concelho do Sabugal. A fábrica com o nome de “Société L’ Urane E. Urbain, A. Feige & Cª.” foi a primeira em Portugal no tratamento do referido minério. Por outro lado, na época de ouro dos comboios, o Barracão teve a sorte de ver instalada uma estação na localidade. Curiosamente, a sua designação foi a de Estação do Sabugal. A aldeia era no início do século XX um interposto de mercadorias na linha da Beira Baixa. A localidade entrou depois em diminuição populacional na segunda metade do século, um fenómeno que se deu um pouco por toda a freguesia de Panoias de Cima. «A população de Panoias registou uma diminuição acentuada da sua população na passagem dos anos 60 para os anos 70, devido a fenómenos como a emigração e o êxodo rural. Contudo, houve uma inversão dessa evolução e os anos 80 registaram um aumento importante, talvez pelo regresso de emigrantes ou mesmo porque Panoias é uma freguesia relativamente próxima da sede de concelho. A partir dos anos 80 e até aos dias de hoje, a população de Panoias começou a diminuir, tendo hoje uma população aproximada à verificada no início dos anos 70. Um outro aspecto que ressalta da análise des-

tes dados é a predominância das mulheres em detrimento dos homens, ao longo destes anos», refere o Observatório local da ADM Estrela, sobre esta freguesia. Actividade e Património Actualmente, na freguesia, a população dedica-se maioritariamente a actividades agrícolas e pastoris e também a pequenos comércios como reparações automóveis, serralharia (alumínio e ferro), carpintaria, serrações, material de construção civil e comércio de cereais. Quanto aos atractivos paisagísticos, ao nível da flora, a freguesia é predominantemente vestida por pinheiros, carvalhos e castanheiros, refrescados pela passagem do Rio Noéme. A freguesia é também o destino escolhido para os amantes da caça desportiva. A lebre, a perdiz, a raposa e o javali são as espécies mais usuais nas matas e campos das Panoias, conforme refere a página de internet da Junta de Freguesia. Existem em Panoias vários locais que bem merecem uma visita mais demorada. Na lista do património edificado destacam-se as Igrejas Matriz de Panoias e a do Barracão, há ainda as capelas Stº. António, na localidade de Cerdeiral;


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PANOIAS

de S. Domingos, na anexa de Póvoa de São Domingos e a Capela de N. Sr dos Aflitos, no Barroquinho. Para ver também espalhados pelas diversas localidades Alminhas e alguns Cruzeiros, chafarizes (no Barracão, na Póvoa de S. Domingos e em Prados), as fontes de Mergulho de Valcôvo e Prados e o Lavadouro público e a ponte romana de Prados. Festas e Romarias Festa de N. Sr. dos Aflitos, também conhecida por Festa do Barroquinho, que se realiza na Quinta-feira da Ascenção (Maio), em Panoias de Baixo. O Barroquinho é uma área arborizada com mesas de merenda onde os devotos aproveitam para descansar e merendar nos dias festivos. Realizam-se ainda na freguesia a Festa de Nª. Srª. de Fátima, em Agosto, nas Panoias; a Festa de Stº. António, no dia 13 de Junho, no Cerdeiral; a Festa de S. Domingos, em Agosto, na Póvoa de São Domingos e a Festa de S. Cristóvão no Barracão, em Agosto.

/ 11,4 km² de área / 573 habitantes (segundo os Censos de 2001) / 45,3 hab/km² (densidade populacional) A Visitar / Ermida do Barroquinho / Fontes de mergulho de Prados e Valcôvo / Igreja Matriz de Panoias / Chafariz do Barracão / Estação de Caminhos-de‑Ferro (Actualmente está encerrada para obras, tal como a linha da Beira Baixa. Deverá reabrir em 2012. Mesmo assim, vale a pena dar uma espreitadela)


EcONOMIA

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Call center da adecco já está a funcionar na Guarda A Adecco, líder mundial de Prestação de Serviços de Gestão de Recursos Humanos, inaugurou no passado mês de Fevereiro um Centro de Suporte a Clientes e Negócios (Call Center). Localizado no Parque Municipal da Guarda a nova estrutura deverá potenciar a criação directa de 250 novos empregos, tendo o projecto todo com um investimento de cerca de 800 mil euros. «Este investimento traz novas dinâmicas à Guarda e ao seu concelho. Estamos cientes da importância deste projecto, e também da importância que as pequenas e médias empresas representam no desenvolvimento económico. Este equipamento constitui uma excelente oportunidade de criação de emprego para a nossa região e é reconfortante que uma multinacional como a Adecco entende a importância estratégica do nosso concelho, seja em termos de centralidade, seja em termos de recursos humanos.», refere o presidente da Câmara Municipal da Guarda, Joaquim Valente, a propósito deste equipamento. O Call Center emprega, numa fase inicial cerca de duas dezenas de trabalhadores, estando previsto num horizonte temporal de dois anos que ele venha a criar os 250 empregos.

Na inauguração, o director-geral da Adecco Portugal, Paulo Canoa, não escondeu a satisfação pelo novo espaço: «Estamos muito satisfeitos com a inauguração deste Call Center. Para além de ser uma importante notícia para a cidade da Guarda no que respeita à criação de postos de trabalho, é também a prova de que as equipas envolvidas fizeram um excelente trabalho, pois em menos de quatro meses foi possível implementar este excelente centro com numa localização fantástica. Parabéns a todos os envolvidos e votos de um excelente trabalho para os que agora iniciam a sua actividade neste centro». A inauguração do espaço, que foi reabilitado pela autarquia para estas novas funções, contou com a presença de vários responsáveis de entidades da região, da equipa da Câmara Municipal envolvida no projecto, de inúmeros clientes da Adecco e também da primeira equipa deste Call Center. A Adecco Líder mundial em Recursos Humanos, o Grupo Adecco resulta da fusão entre as empresas ADIA (suíça) e ECCO (francesa), beneficiando

assim dos mais de 40 anos de experiência destas duas empresas no sector em que actua. Presente em 74 países, com uma rede de mais de 6.600 delegações onde trabalham mais de 30.000 pessoas, o Grupo Adecco coloca a trabalhar diariamente, nas mais de 200.000 empresas suas clientes, distribuídas por todo o mundo, cerca de 800.000 pessoas. A Adecco desenvolve, a nível mundial, actividades altamente especializadas, prestando serviços nas áreas de Trabalho Temporário e Gestão Contratual, Outsourcing, Outplacement, Gestão de Carreiras, Permanent Placement (Recrutamento e Selecção), Formação e Consultoria em Recursos Humanos. O Grupo Adecco ocupa actualmente o lugar de líder em 11 dos 13 Países com maior significado na prestação de serviços de Recursos Humanos, estando cotado nas bolsas de Zurique, Paris e Nova Iorque. www.adecco.pt


BREVES

Jornadas do Radão Flores, flores de na Guarda em Maio mil cores Nos próximos dias 14 e 15 de Maio decorrerão no Auditório Municipal da Câmara Municipal da Guarda as Jornadas SOS Radão. Investigadores, médicos, psicólogos, sociólogos, historiadores, geólogos, arquitectos, jornalistas, autarcas, jovens estudantes do 12º Ano de Escolaridade, professores e o público em geral poderão participar nestas sessões que incluem várias Mesas Redondas, Debates e Exposições.

Guarda os Sabores no Parque Urbano O Parque Urbano do Rio Diz da Guarda recebeu, nos dias 16, 17 e 18 de Abril, uma actividade dedicada aos sabores e aromas da cozinha regional, denominada “Guarda os Sabores”. Esta iniciativa foi uma excelente oportunidade para aprender a confeccionar pratos variados e com produtos regionais. O evento contou com a participação de três chefes de cozinha de renome nacional e internacional, nomeadamente, Chef Felício Dantas, e Chef Alexandre Ferreira. Durante o evento, os participantes tiveram oportunidade de confeccionar, degustar, participar em prova de vinhos, conhecer a variabilidade e a pedagogia alimentar, e aprender a confeccionar comida saudável com produtos regionais e alta cozinha Beirã.

Embaixador de Israel esteve na Guarda O presidente da Câmara Municipal da Guarda, Joaquim Valente, recebeu em Abril, nos Paços do Concelho, o embaixador de Israel em Portugal, Ehud Gol. O diplomata inaugurou a Exposição “Stories of Israel – Histórias de Israel”, que esteve patente até 18 de Abril no átrio da Câmara Municipal da Guarda. Uma viagem fotográfica ao interior e à alma da Nação de Israel.

Semana da Floresta A Câmara Municipal da Guarda celebrou, entre os dias 19 e 27 de Março, a Semana da Floresta, com actividades diversas e direccionadas para vários públicos: um seminário sobre gestão de recursos hídricos e florestais, exposições (nos Paços do Concelho e no Centro Comercial Vivaci), actividades de jardinagem e reflorestação oficinas de expressão artística e a apresentação de diversos materiais didácticos e pedagógicos. A semana culminou com o Workshop de Saladas Selvagens que a Quinta da Maúnça realizou pelo terceiro ano consecutivo. Quem participou, provou, gostou e prometeu voltar para frequentar outros workshops que a quinta organiza, sempre no último sábado de cada mês. A iniciativa envolveu cerca de mil pessoas, tendo as exposições sido visitadas por cerca de 72 mil pessoas.

Cultivadas ou silvestres, comestíveis ou não, as flores são, sem margem para dúvida, dos elementos mais atractivos da natureza pela sua beleza, aroma e colorido. Com simbologias diversas, as flores transmitem sentimentos, emoções, filosofias de vida… são, portanto, uma forma de comunicar onde as palavras são remetidas para segundo plano. Com o objectivo de sensibilizar para a importância e riqueza da nossa biodiversidade, a Quinta da Maúnça da Câmara Municipal da Guarda promoveu no passado dia 24 de Abril um workshop intitulado: “Flores, flores de mil cores”, onde foram trabalhados temas como a simbologia das flores, as formas de recolha e conservação, as flores comestíveis e a decoração com flores (arte floral). Os participantes puderam também usufruir de uma prova de aromas da Maúnça e de um almoço temático, com uma ementa na qual constavam flores.

Ciclismo: Troféu Cidade da Guarda para o holandês Tom Dumoulin O russo Arkimedes Argueles, que liderou a corrida desde o primeiro dia, vestindo a camisola amarela na chegada ao Sabugal, registou uma pesada derrota no contra-relógio, de 17,5 Km, disputado na Guarda, no qual o holandês Tom Dumoulin obteve uma vitória categórica que lhe valeu a conquista do Troféu Cidade da Guarda – 4º GP de Portugal, organizado pela PAD, primeira prova do calendário da Taça da Nações criada pela UCI para ciclistas da classe Sub-23. O melhor português, Nelson Oliveira (Portugal A), confirmou as suas características de contra-relogista, ao impor-se como o mais directo adversário do holandês, com uma actuação que lhe valeu o segundo lugar na etapa, a escassos 04 segundos do vencedor, e a subida ao segundo posto da geral, apenas com mais 13 segundos. Nos 17,5 quilómetros do percurso desta etapa final, o holandês Tom Dumoulin gastou 24m 41s, à média de 42,539 Km/h, e desde que discutiu a vitória na primeira etapa no Sabugal, que perdeu para o russo Arkimedes Argueles, manteve este sob a mais discreta vigilância para, nesta especialidade, fazer valer os seus créditos. O russo gastou mais um minuto, classificando-se em 17º na etapa e em 4º na geral. Entre os portugueses, para além dos espectaculares segundos lugares de Nelson Oliveira na etapa e na geral final, merece particular destaque a valiosa prestação de Joni Brandão (Portugal B), que se cotou no 13º lugar, tendo gasto mais 52 segundos do que o vencedor. O segundo melhor português foi Amaro Antunes (Portuga A), que terminou em 16º lugar, com mais 1m 16s, seguindo-se Vasco Pereira (Portugal A), em 28º, a 1m 47s.

Individualmente, Tom Dumoulin triunfou também na geral da Juventude, o russo Arkimedes Argueles venceu por pontos (Regularidade), e o norte-americano Benjamim King, foi o rei da montanha. Por equipas, a vitória final coube à selecção mista da UCI.

Livros, teatro, exposições e conferências para comemorar o Centenário da República Até Outubro de 2011, a Câmara Municipal da Guarda vai apresentar uma série de iniciativas no âmbito das Comemorações do Centenário da República. Exposições, conferências, espectáculos e edições prometem animar a cidade mais alta. O programa comemorativo foi elaborado por 15 personalidades do concelho com ligações ao ensino, à cultura e a à investigação histórica. Um programa que garante Joaquim Valente, presidente da autarquia da Guarda, «vai estar à altura de quem deu o seu contributo para a consolidação da República Portuguesa». O rol das iniciativas arrancou em Abril com a tertúlia “República e Cidadania”, que teve lugar no Café Concerto do Teatro Municipal da Guarda (TMG). Do programa destacam-se a edição da obra “A Guarda na 1.ª República”, orientada por Maria Antonieta Garcia, dois volumes especiais da revista cultural Praça Velha que serão dedicados ao “Centenário da República”, e ainda o espectáculo comemorativo do dia da cidade “Guarda: a República”, uma produção da Culturguarda que juntará em palco cercsa de 500 participantes (grande parte de colectividades do concelho) e que terá por base episódios evocativos da República ligados à Guarda. O espectáculo estará em cena no TMG de 26 a 28 de Novembro de 2010. Está também prevista a criação de uma peça de teatro baseada na vida e obra de Carolina Beatriz Ângelo, a primeira mulher que exerceu pela primeira vez o direito de voto em Portugal. A peça tem estreia marcada para Março de 2011 pela mão do Projéc~, a estrutura de produção teatral do TMG.

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EDUCAÇÃO

EDucar para uma alimentação saudável 24

DÂNIA DINIS - NUTRICIONISTA DA CÂMARA MUNICIPAL DA GUARDA A convicção da educação para a saúde torna‑se cada vez mais importante quanto mais compreendemos que os problemas mais sérios de saúde estão ligados com o estilo de vida e o comportamento adoptado. A educação alimentar constitui uma parte vital do processo educativo geral e da nova política da maioria dos países. A nutrição é o factor mais importante para a saúde do homem, como defende a Organização Mundial de Saúde (OMS).

ra a obesidade como um dos desafios de saúde pública mais importantes, com um especial enfoque nas crianças (Plataforma contra a Obesidade, 2008). Os últimos dados revelam a prevalência da obesidade em crianças entre os 7 e os 9 anos, e reportam uma prevalência de excesso de peso e obesidade de 30%, o que faz de Portugal um dos países da Europa com maior prevalência de excesso de peso e obesidade em crianças.

É nossa preocupação sensibilizar as crianças, os jovens e toda a comunidade educativa para a adopção de formas de vida saudáveis. Partindo da constatação de que a escola pretende cada vez mais ser inovadora e estruturante com os hábitos alimentares das crianças e dos jovens, tornou-se imprescindível actuar na área da educação alimentar, sobretudo no pré-escolar e no 1º CEB. A escola afirma-se assim como espaço privilegiado do desenvolvimento do processo educativo e da promoção da saúde das crianças.

Tornou-se urgente realizar um rastreio do IMC (índice de Massa Corporal) às crianças do 1º CEB do Concelho da Guarda, no ano lectivo 2008/2009, no âmbito do projecto “Prevenção da obesidade: “As curvas da alimentação”. O rastreio foi efectuado nas Piscinas Municipais da Guarda, durante o período lectivo, e a análise dos resultados foi feita pelo Gabinete de Alimentação e Nutrição da CMG. As crianças com obesidade estão a ser encaminhadas para a consulta de Nutrição da União Local de Saúde da Guarda e as que apresentam excesso de peso serão indicadas para participar nas actividades do plano de prevenção da obesidade elaborado pelos sectores e instituições intervenientes do projecto (Sector do Desporto, Gabinete de Alimentação e Nutrição, Espaço Educativo e Florestal da Quinta da Maúnça e União Local de Saúde da Guarda). Este projecto é contínuo, pois estamos a realizar um novo rastreio a todos os alunos do 1º Ciclo do Ensino Básico e a desenvolver o plano de prevenção dos alunos com excesso de peso.

A Câmara Municipal da Guarda pretende estimular, por meio de acções educativas e de orientações promotoras de uma alimentação correcta, a adopção de um estilo de vida saudável na comunidade escolar, contribuindo para a prevenção e o controlo de problemas relacionados com uma alimentação inadequada. A prevalência da obesidade está a aumentar em muitos os países, atribuindo-lhe a OMS a designação de epidemia global. O governo conside-

Paralelamente a este projecto, desenvolvemos um outro de Educação Alimentar, com actividades lúdico/didácticas realizadas ao longo do ano lectivo no espaço Educativo e Florestal da Quinta da Maúnça (actividades no campo, na cozinha e no laboratório), com o objectivo de promover hábitos alimentares correctos em toda a comunidade educativa. Para comemorar o dia Mundial da Alimentação, realiza-se anualmente, desde há dois anos, a “Semana da Alimentação”, com actividades desportivas e culturais alusivas a este tema. Toda a comunidade educativa e a população em geral são convidadas a participar nas actividades. Candidatámo-nos ao Projecto do regime de frutas escolares, para dar continuidade aos projectos já implementados, e obtivémos aprovação para o fornecimento e disponibilização de frutas e produtos hortícolas. A aquisição dos produtos privilegia os regimes públicos de qualidade certificada de produção integrada ou de produção biológica, de denominação de origem protegida, de indicação geográfica protegida ou de protecção integrada. A distribuição e o fornecimento pelos 36 estabelecimentos do 1º Ciclo, num universo de 1632 alunos, corresponde a duas peças de fruta por semana por aluno. A CMG tem noção da sua responsabilidade enquanto instituição no que toca à criação e promoção de hábitos de vida saudável junto dos munícipes, com enfoque especial nas crianças e nos jovens.


Objectivos dos projectos de educação alimentar

ALIMENTAÇÃO E SAÚDE para CRIANÇAs E JOVENS

Promover o desenvolvimento de hábitos alimentares correctos Promover a educação alimentar a longo prazo Criar atitudes positivas face aos alimentos e à alimentação Desenvolver a compreensão da relação entre a alimentação e a saúde Encorajar a aceitação da necessidade de uma alimentação saudável e diversificada, nomeadamente o consumo de frutas e hortícolas Incutir regras de higiene dos alimentos (utilização correcta das frutas e produtos hortícolas)

1 – Diversificar o mais possível, evitando uma alimentação monótona: sempre que possível experimentar novos alimentos e pratos diferentes

10 – Beber 3 chávenas de leite meio gordo por dia (250ml cada) ou derivados (1 chávena = 2 iogurtes sólidos = 1 iogurte líquido = fatia de queijo - 30gr)

2 – Fazer as refeições a horas reguladas

11 – Preferir ao lanche pão com queijo, fiambre, manteiga ou doce em vez das merendinhas de pastelaria, croissants ou bolos

20 Sugestões para uma alimentação mais equilibrada....

3 – Cinco a seis refeições por dia, com intervalos não superiores a 3h30m (Não comer muito numa só refeição) 4 – Não passar mais do que 30m desde o acordar até ao pequeno-almoço 5 – Valorizar o consumo de produtos hortícolas, fruta, cereais completos, lacticínios e leguminosas 6 – É desejável que as refeições principais (almoço e jantar) comecem por uma sopa de legumes 7 – Usar sempre como acompanhamento do prato principal saladas e hortícolas 8 – Consumir regularmente peixe (de preferência uma vez por dia). No que se refere às carnes, é preferível as brancas em detrimento das vermelhas (pequenas quantidades são suficientes) 9 – Preferir o azeite na confecção de alimentos

12 – Moderar o consumo de sal, substituindo-o por ervas aromáticas 13 – Reduzir o consumo de açúcar, quer seja de adição quer em produtos açucarados 14 – Restringir o consumo de gorduras 15 – Preferir cozidos, grelhados, assados sem molhos, caldeiradas e estufados em vez dos fritos, refogados e guisados 16 – Mastigar devagar 17 – Beber água em abundância, mesmo sem sede 18 – Consultar o rótulo dos alimentos 19 – Verificar sempre a higiene dos alimentos 20 – Fazer exercício físico regular

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Animação da cidade

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Milhares de pessoas assistiram ao Julgamento e Morte do Galo do Entrudo Fotografias de arménio bernardo Foram milhares as pessoas que responderam à chamada e que no passado dia 15 de Fevereiro assistiram ao espectáculo de Carnaval “Julgamento e Morte do Galo do Entrudo”, nas ruas da cidade da Guarda. Apesar do frio e da chuva, mais de cinco mil pessoas assistiram ao desfile dos foliões desde a Alameda de Santo André até à Praça Velha. Um trabalho apenas possível graças à participação activa de mais de 400 pessoas, entre técnicos, colectividades, músicos, actores e grupos convidados, todos eles os verdadeiros responsáveis pelo sucesso deste espectáculo colectivo. Já na Praça Velha, o julgamento foi uma luta renhida entre a acusação do galináceo e a defesa. No entanto, como aliás já todos o sabiam, o Galo foi condenado à fogueira. Antes porém, o réu teve direito a um último desejo. Este ano, o galináceo quis que lhe aparecesse o Anjo da Guarda, e assim aconteceu: um anjo (funâmbulo) cruzou a Praça Velha pelo ar, desafiando tudo e todos. Só depois de realizado o desejo, o galo sucumbiu às chamas purificadoras, deixando a cidade mais leve e mais feliz para o início de um

novo ciclo. Pelo meio, a organização distribuiu vinho da região ao público e no final foi servida uma monumental canja… de galo. O Julgamento e Morte do Galo do Entrudo teve coordenação geral de Américo Rodrigues. O Galo foi criado e construído pelo artista plástico Daniel Martins e a voz do galináceo foi de Joaquim Martins. A edição de 2010 do Julgamento e Morte do Galo do Entrudo voltou a contar com a forte adesão das colectividades do concelho da Guarda. Participam nesta actividade: Aldeia SOS da Guarda, Alunos de Artes da Escola Secundária da Sé, Alunos do Curso de Animação Sociocultural do Instituto Politécnico da Guarda, Aquilo Teatro, Associação Cultural Copituna D’Oppidana, Associação Cultural e Desportiva do Jarmelo, Associação Cultural, Social e Recreativa da Sequeira, Associação Desportiva, Recreativa e Cultural da Rapoula, Associação da Juventude Activa da Castanheira, Associação de Jogos Tradicionais da Guarda, Centro Cultural da Guarda, Centro de Cultura e Desporto de Aldeia do Bispo, Gambozinos e Peobardos – Grupo de Teatro

da Vela, Grupo de Cantares da Arrifana – Associação Cultural, Grupo de Cantares de S. Miguel da Guarda “A Mensagem”, Grupo de Cantares “Ontem Hoje e Amanhã” de Maçainhas, Raiz de Trinta – Associação Juvenil e Rancho Folclórico de Videmonte. O Julgamento e Morte do Galo do Entrudo foi um espectáculo produzido pela Culturguarda/ TMG para a Câmara Municipal da Guarda.


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toponímia HELDER SEQUEIra

Rua Carolina Beatriz ângelo

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Embora o nome de Beatriz Carolina Ângelo esteja, durante o corrente ano, a ser alvo de diversificadas referências, pela efeméride que se assinala, a toponímia guardense já o tem registado (há cerca de duas décadas) numa das ruas da zona outrora pertencente à Quinta do Pinheiro. Fundadora da Associação da Propaganda Feminina, Carolina Beatriz Ângelo foi a primeira mulher a exercer, em Portugal, o direito de voto, posicionando-se também num lugar de destaque no quadro europeu, ao nível da intervenção cívica. Nascida na Guarda, a 20 de Maio de 1877, aqui frequentou o Liceu, a partir de 1891, antes de rumar para Lisboa onde estudou na Escola Politécnica e, dois anos depois, na Escola Médico-Cirúrgica, concluindo o curso de Medicina em 1902. Nesse mesmo ano casou com o médico Januário Barreto, natural de Aldeia do Souto (Covilhã). Carolina Beatriz Ângelo, para além do facto que a tem envolvido em singularidade e distinção, é conhecida igualmente por ter sido a primeira mulher portuguesa a desenvolver actividade cirúrgica, no Hospital de São José, em Lisboa; naquela cidade teve consultório na Rua do Almada. Tendo abraçado desde cedo a causa feminista, onde pontuaram nomes como Maria do Carmo Lopes, Adelaide Cabete, Ana de Castro Osório e Domitila de Carvalho, entre outras, Carolina Ângelo viria a aderir à Maçonaria; fundadora, e elemento activo, da Liga Republicana das Mulheres Portuguesas afastou-se, por divergência de princípios com outras dirigentes, e empenhou-se na

criação da Associação de Propaganda Feminista, a que, aliás, presidiu.

Ângelo colheu de surpresa mais diversos meios políticos, intelectuais e sociais.

Foi um período de grande envolvimento na reivindicação do sufrágio feminino e na exigência do reconhecimento dos direitos das mulheres. Em 1911, no mês de Fevereiro, subscreve, juntamente com outras destacadas figuras feministas, um documento – entregue a Teófilo Braga – em que solicita o direito de voto para a mulher, com reconhecida independência económica. Recorde-se que a primeira lei eleitoral da República Portuguesa condicionava o direito de voto aos cidadãos “com mais de 21 anos, que soubessem ler e escrever e fossem chefes de família”.

Como escreveu Antonieta Garcia, no seu excelente trabalho “Carolina Beatriz Ângelo – Guarda(Dora) da Liberdade”, a médica guardense “na luta pelo direito ao sufrágio, pela educação feminina, pela emancipação, ergueu a voz, envolveu-se na regeneração do país, na utopia republicana”. Afirmando-se como “mulher de um tempo em devir, moderna, audaz, com talento, com coragem, sabedoria, intuiu que o feminismo não podia ter pressa mas, tacitamente, interveio cultural e politicamente nas res publica, abraçando a causa da igualdade entre os géneros”.

Em Tribunal argumentou, em favor do exercício do seu direito de voto, com o facto de ser viúva (o marido falecera em Junho de 1910) e “chefe de família”. Em 28 de Abril de 1911, o juiz João Baptista de Castro, considerando que excluir a mulher “é simplesmente absurdo e iníquo e em oposição com as próprias ideias da democracia e da justiça proclamada pelo partido republicano”, sentenciou que “a reclamante seja incluída no recenseamento eleitoral em preparação no lugar e com os requisitos precisos”.

Pioneira do sufrágio feminino, em Portugal, o nome de Carolina Beatriz Ângelo faz parte da toponímia da Guarda e de outros centros urbanos, como Lisboa, Porto, Tavira ou Almada, e foi atribuído também à futura unidade hospitalar de Loures/Odivelas.

Nesse mesmo ano, a 28 de Maio, e nas eleições para a Assembleia Constituinte, protagonizou o primeiro voto por parte da mulher portuguesa; acto que teve lugar na assembleia eleitoral de S. Jorge de Arroios (Lisboa). Quando do seu papel de liderança e da sua combatividade em prol dos ideais feministas e republicanos muito havia a esperar, a notícia da morte – a 3 de Outubro de 1911 – de Carolina

A Guarda, contudo, é indissociável desta personalidade que “internacionalizou o feminismo português”.


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