7 minute read
Resumo
Segundo Piaget (1993), o desenho é visto como uma atividade lúdica e propicia a integração entre cognição, criatividade, imaginação, percepção e sensibilidade. Utilizar uma vivência de desenho como ferramenta de acolhimento junto às crianças, além de ser de fácil aceitação e envolvente para o público infantil, oferece a possibilidade de aproximação deles com o novo ambiente em que se encontram. Para a realização da atividade, foram utilizados papel e giz de cera de várias cores. Após o encerramento, realizou-se uma análise de todos os elementos encontrados nos desenhos confeccionados pelos alunos, que foram separados em dois grupos. No primeiro grupo, denominado “natureza”, os desenhos continham elementos que podem ser encontrados durante a caminhada na floresta; no segundo grupo, que foi nomeado de “não natureza”, os desenhos continham elementos que não podem ser encontrados durante a caminhada na floresta. As cores predominantes nos desenhos das crianças do grupo “natureza” foram verde, azul e marrom, cores também encontradas no ambiente visitado. A vivência de acolhimento mostrou que a maioria dos alunos participantes interagiu com a natureza do entorno da Escola do Meio Ambiente (EMA), desenhando prováveis elementos que seriam encontrados na caminhada no interior da floresta. Embora tenha sido oferecida a diversidade das cores de uma caixa de giz de cera, as mais utilizadas pelas crianças, nos desenhos, foram tonalidades predominantes no cenário em que estavam realizando a vivência. O acolhimento foi importante na construção dos princípios de convivência que contribuíram com o andamento pedagógico da trilha, realizada com alunos do Ensino Fundamental I.
Palavras-chave: acolhimento, desenho, Escola do Meio Ambiente, natureza.
Advertisement
Abstract
According to Piaget (2003), drawing is seen as a playful activity and provides the integration between cognition, creativity, imagination, perception and sensitivity. Using a drawing experience as a welcoming tool for children, in addition to being easier to accept and engaging, offers the possibility of bringing them closer to the new environment in which they find themselves. To carry out the activity, paper and crayons of various colors were used. At the end, an analysis of all the elements found in the drawings were made and than separated into two groups. The first group, called “nature”, contained elements found while walking in the forest, the second group was named “non-nature” and contained elements not found during the forest walk. Regarding the colors used, those that appeared most frequently in the group of drawings called “nature” were considered. The welcoming experience showed that most of the participating students interacted with the nature of the surroundings of the Escola do Meio Ambiente (EMA), drawing probable elements that would be found in the walk inside the forest. Although it was offered a diversity of colors of a crayon box, the most used by children were predominant shades in the scenario where the experience was led. Welcoming was important in the construction of the principles of coexistence that contributed to the pedagogical progress of the trail, carried out with Elementary School students.
Keywords: reception, drawing, Escola do Meio Ambiente, nature.
Segundo Piaget (1993), o desenho é visto como uma forma de brincar, ou seja, constitui, para a criança, uma atividade lúdica, a qual engloba suas possibilidades e necessidades, propiciando a integração entre a cognição, criatividade, imaginação, percepção e sensibilidade. O autor ainda cita que a criança, quando desenha, “escreve” o mundo à sua maneira e essa “escrita” revela o conhecimento e as experiências que vivencia concretamente.
Essa ferramenta permite que os pequenos consigam organizar informações, processar experiências vividas e pensadas, estimulando-os a desenvolver um estilo de representação do mundo. Portanto, vivências gráficas fazem parte do crescimento psicológico e são indispensáveis para o desenvolvimento e para a formação de indivíduos sensíveis e criativos capazes de transpor e transformar a realidade (GOLDBERG et al., 2005).
Se o novo gera insegurança e ansiedade em qualquer idade, na infância, esse processo pode ser ainda mais intenso, saindo de suas rotinas/ comodidades, ou seja, a escola de origem, pois os alunos são convidados, na Escola do Meio Ambiente (EMA), a participar de atividades incomuns ao seu dia a dia: caminhar pela natureza, por meio das trilhas interpretativas.
O acolhimento, na chegada dos pequenos, passa a ser o momento de transição ao qual eles vão se habituando ao novo ambiente para, posteriormente, participarem das respectivas trilhas dos 1ºs, 2ºs, 3ºs, 4ºs, 5ºs anos: Jequitibá, Tatu, Sujão, Peabiru e Agroecológica.
Utilizar uma vivência de desenho como ferramenta de acolhimento junto às crianças, além de ser de fácil aceitação e envolvente para o público infantil, oferece a possibilidade de aproximação deles com o novo ambiente em que se encontram.
Sabe-se que, quando regras em demasia são estabelecidas, como o que desenhar e quais cores usarem, inibe-se a expressão livre. Por isso procurou-se utilizar apenas o nome e algumas características da trilha que os alunos iriam percorrer como orientação para elaboração do desenho.
Para a realização da atividade, foram utilizados papel e giz de cera de várias cores. Após o término, realizou-se uma análise de todos os elementos encontrados nos desenhos confeccionados pelos alunos. Inicialmente, os desenhos foram separados em dois grupos. O primeiro grupo denominado “natureza”, continha elementos encontrados durante a caminhada na floresta como, por exemplo: nuvem, sol, árvore, animal, água, terra, jiribana (corda), índio, fada, entre outros. O segundo grupo foi nomeado de “não natureza” e agrupava elementos não encontrados durante a caminhada na floresta, tais como: desenhos abstratos, casa, ônibus e perfume.
Tendo como base o fato de que algumas trilhas apresentam pessoas caracterizadas como personagens, as pessoas sem caracterização foram triadas em “natureza”, servindo como fundamento para observação de quantos alunos foram capazes de se perceberem no espaço da Escola do Meio Ambiente. Deve ser ressaltado que, embora as pessoas desenhadas estejam incluídas no total dos elementos chamados de “natureza”, para melhor visualização do número de ilustrações com seres humanos, a contagem desses desenhos foi, também, apresentada separadamente, conforme se pode ver nos resultados mostrados abaixo.
Em relação às cores utilizadas, foram consideradas as que apareceram com maior frequência no grupo de desenhos denominados de “natureza”.
A vivência de acolhimento, no decorrer do ano letivo de 2017, envolveu os alunos do Ensino Fundamental I da rede pública dos municípios paulistas de Botucatu e São Manuel. Tanto as orientações da atividade como as análises dos desenhos foram realizadas de forma unificada, ou seja, foram as mesmas, independentemente do local de procedência das crianças.
As orientações foram transmitidas pelos estagiários e auxiliares educacionais da EMA (estudantes do curso de Ciências Biológicas, UNESP
- Botucatu/SP ou de Agronegócios da Fatec - Botucatu/SP) na Oca do Acolhimento, espaço interno da Escola do Meio Ambiente, e as análises posteriores, feitas por estagiários, auxiliares educacionais e três monitores ambientais, sendo dois servidores municipais com formação em Biologia e uma servidora formada em Biologia e Pedagogia.
Os resultados obtidos foram os seguintes:
1º Ano (Figura 1): Trilha do Jequitibá – 235 desenhos analisados
Personagem presente na trilha: Caipora
Elementos natureza (206 desenhos): água, animal, céu, coração, grama, jiribana (corda), oca, pessoas, banco, planta, personagem índio, personagem saci, sol e terra.
Desenhos contendo pessoas sem caracterização de personagem da trilha: 76
Elementos não natureza (29 desenhos): bola, casa, cruz, desenho abstrato, ônibus, perfume, personagem de desenho animado (mídia) e pneu.
Cores predominantes: verde, azul e amarelo.
2º Ano (Figura 2): Trilha do Tatu – 278 desenhos analisados.
Personagem presente na trilha: Guardião/ã das águas (Cristalino/a)
Elementos natureza (264 desenhos): água, animal, céu, coração grama, jiribana (corda), oca, pessoas, planta, ponte, sol e tatu.
Desenhos contendo pessoas sem caracterização de personagem da trilha: 55
Elementos não natureza (14 desenhos): abstrato, casa, bola e ônibus.
Cores predominantes: azul, marrom e vermelho.
3º Ano (Figura 3): Trilha do Sujão – 288 desenhos analisados.
Personagem presente na trilha: Bugiganga
Elementos natureza (279 desenhos): água, animal, céu, jiribana (corda), lixo, pessoas, planta e trilha.
Desenhos contendo pessoas sem caracterização de personagem da trilha: 92
Elementos não natureza (9 desenhos): abstrato e casa.
Cores predominantes: azul, verde e marrom.
4º Ano (Figura 4): Trilha do Peabiru – 217 desenhos analisados.
Personagem presente na trilha: Índio e Tropeiro
Elementos natureza (209 desenhos): água, animal, banco, céu, gramado, jiribana (corda), ocas da EMA, personagem índio, pessoas, planta, terra e violão.
Desenhos contendo pessoas sem caracterização de personagem da trilha: 31
Elementos não natureza (8 desenhos): abstrato, casa, cruz e ônibus. Cores predominantes: verde, azul e marrom.
5º Ano (Figura 5): Trilha Agroecológica – 452 desenhos analisados. Elementos natureza (438 desenhos): água, animal, céu, gramado, jiribana (corda), pessoas e planta.
Desenhos contendo pessoas sem caracterização de personagem da trilha: 63
Elementos não natureza (14 desenhos): casa e personagem de desenho animado (mídia).
Cores predominantes: verde, azul e marrom.
Seguem, abaixo, alguns desenhos de participantes da vivência de acolhimento realizada na Escola do Meio Ambiente:
Figura
Fonte: Acervo da Escola do Meio Ambiente
A vivência de acolhimento mostrou que a maioria dos alunos participantes interagiu com o ambiente do entorno da sede da escola desenhando prováveis elementos que seriam encontrados na caminhada no interior da floresta, conforme podemos observar nas figuras de 1 a 5. Nas ilustrações apresentadas, notam-se, também, desenhos contendo pessoas sem caracterização de personagens das referidas trilhas, evidenciando a percepção da criança no ambiente. Ademais, tenha sido oferecida a diversidade das cores de uma caixa de giz de cera, as que foram mais utilizadas nos desenhos onde a criança se mostra acolhida no ambiente natural foram: marrom, azul e verde; tonalidades predominantes do cenário em que estavam realizando a vivência.
Deve, também, ser considerado que o momento do acolhimento foi importante na construção dos princípios de convivência que contribuíram com o andamento pedagógico da trilha, permitindo, assim, uma aprendizagem mais agradável e sensibilizadora para as questões ambientais abordadas pela Escola do Meio Ambiente junto ao público do Ensino Fundamental I.
Sugerimos, portanto, que a atividade seja empregada, sempre que possível, no momento do acolhimento da chegada das crianças que participarão de vivências junto à natureza, proporcionando uma integração harmoniosa e possibilitando investigações da relação singela que a criança estabelece com o ambiente no qual está inserida.
Agradecimentos
Agradecemos a todos os colaboradores da Escola do Meio Ambiente (EMA) pela ajuda na coleta e triagem dos dados. Também somos gratos pelas orientações e correções da diretora da EMA Profª. Drª. Eliana Maria Nicolini Gabriel.
Agradecemos, ainda, a Monitora Ambiental Edilene Lúcia
Bortolozzo Vieira pela colaboração na execução desse trabalho. Por fim, gratidão a todos os alunos que com sua simplicidade e sinceridade participaram desta pesquisa.
Referências
GOLDBERG, L. G.; YUNES, M. A. M.; FREITAS, J. V. de. O desenho infantil na ótica da ecologia do desenvolvimento humano. Psicologia em estudo, v. 10, n. 1, p. 97-106, 2005.
PIAGET, J.; INHELDER, B. A psicologia da criança. Lisboa: Edições Asa, 1993.