Carta aberta do Fórum de Mulheres de Pernambuco
HOSPITAL DA MULHER DEVE TER NOME DE MULHER! O Fórum de Mulheres de Pernambuco vem a público manifestar sua indignação frente aos argumentos do Projeto de Lei publicado recentemente em Diário Oficial que visa denominar o Hospital da Mulher “Governador Eduardo Campos”. Este projeto de Lei, de autoria do Vereador Gilberto Alves, líder do governo na Câmara dos Vereadores, traz em seu texto a seguinte justificativa: “pelo porte da obra, o nome faz jus “à trajetória do ex-governador Eduardo Campos. Pela grandeza dos seus atos como homem público e exemplar chefe de família”. Os motivos para discordar de tal proposta se baseiam exatamente nesses argumentos. Por que um serviço de saúde, específico para atender as mulheres, não homenageia uma mulher? Serviço de saúde é um direito das mulheres e um dever do Estado. Assegurar este direito não pode ser compreendido como “uma obra de grande porte”, nem fruto da “grandeza de um exemplar chefe de família”. A construção do Hospital é tão somente o cumprimento, em parte, de uma responsabilidade com a saúde da população, para a qual foi designado um gestor. Vivemos em uma sociedade que tem entre seus pilares a desigualdade de gênero. Essas desigualdades impactam diretamente nos processos de adoecimento das mulheres, bem como nos cuidados a elas ofertados nas instituições de saúde. Assim, ao assegurar o acesso a serviços específicos para mulheres significa ter a equidade como horizonte da ação e garantir a assistência e atenção a saúde que reconheça as desigualdades e assuma o compromisso com a sua superação. Deve ser, portanto, um serviço que se comprometa a oferecer cuidados de forma integral e que compreenda esse espaço como também de fortalecimento das mulheres que dele fizerem uso. O município de Recife e o estado Pernambuco apresentam uma longa história de atuação e organização do movimento feminista e de mulheres, com muitas mulheres que lutaram e continuam lutando, no processo de construção de novo modelo de sociedade, igualitária, nãoopressiva e não- violenta. O reconhecimento do protagonismo das mulheres no processo de
conquistas por direitos e serviços implica também o reconhecimento das mulheres como sujeitos políticos e históricos, devendo ser visibilizadas, como uma possibilidade também de romper com a lógica patriarcal que, historicamente, tem colocado a mulher de forma secundária na construção da vida em sociedade. O questionamento do FMPE pela visibilidade e reconhecimento da mulher como sujeitos de mudança é uma luta de muitas décadas. Em especial, quanto ao seu protagonismo na luta por direito à saúde integral, pela efetivação dos direitos sexuais e reprodutivos, por acolhimento de qualidade e humanizado nos serviços, em todas as fases de sua vida. Por estas questões o FMPE reafirma que o nome do Hospital da Mulher deve homenagear uma mulher que tenha, em sua vida, contribuído para o fortalecimento das causas feministas e das mulheres no processo de conquista de direitos e superação das desigualdades. Uma mulher que cotidianamente inspire trabalhadoras e usuárias a reafirmarem seus direitos civis, econômicos, sociais, culturais e políticos. Homenagear uma mulher, através do nome de um Hospital para Mulheres, será “uma obra importante” que um gestor deixará como comprometimento com mudanças na historia das mulheres de nosso estado.
POR UM HOSPITAL DA MULHER, COM NOME DE MULHER!!! Em tempo, solicitamos também informações à prefeitura da Cidade do Recife sobre o andamento das obras, que já se encontram atrasadas em relação ao cronograma apresentado. Reafirmamos ainda a importância da participação da sociedade civil e movimento de mulheres na construção dos objetivos e finalidades do hospital em questão.