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Correndo contra a dor Inflamação comum entre atletas iniciantes e adeptos da corrida e do ciclismo, a canelite provoca fortes dores na parte anterior da perna e precisa de tratamento imediato Publicação: 10/06/2012
“É como se você estivesse levando uma facada na perna.” Foi por causa de uma dor intensa, durante uma corrida, que Emerson Cavalcante dos Santos, professor de educação física, descobriu que estava com a Síndrome do Estresse Tibial Medial, a popular canelite. “Toda vez que eu apoiava o calcanhar no chão para correr, sentia uma dor muito forte na perna”, lembra. O problema é comum entre atletas de primeira viagem, mas também pode aparecer nos mais habituados com a rotina de esportes. “Canelite é um termo genérico usado para descrever o sintoma de dor na parte anterior da perna associado, principalmente, à prática de corrida. Hoje, sabemos ela faz parte de um conjunto de sinais relacionados com a síndrome, cuja incidência varia entre 40% a 35% em atletas”, explica Wagner Martins, fisioterapeuta e especialista em traumato-ortopedia funcional pela Universidade de Brasília (UnB). De maneira geral, quando os músculos do corpo são submetidos a uma atividade física, microlesões podem aparecer, o que é normal na prática de qualquer exercício. Por outro lado, se a intensidade e a repetição do exercício aumentam, o corpo responde com a formação de lesões maiores. Por isso, o aquecimento ou o alongamento inadequado na hora
de iniciar uma atividade pode facilitar o aparecimento de inflamações, como é o caso da canelite. Os exageros para enquadrar o corpo na forma e no condicionamento físico desejados podem causar sérios danos à saúde. O professor de educação física e coordenador de um grupo de corrida Márcio Monteiro, por exemplo, já teve um aluno que chegou ao grau extremo dessa exigência. “Ele estava com sobrepeso e queria emagrecer rapidamente. Aumentou a intensidade dos treinos para chegar ao resultado. Eu o aconselhei a parar para se recuperar e adaptar o corpo aos exercícios, mas ele não quis. Em pouco tempo, a inflamação no osso tibial foi tão grande que ele teve uma fratura”, conta. A canelite geralmente é sentida durante a prática de esportes que envolvem esforço redobrado das pernas, como ciclismo e corrida. Nos níveis menores de inflamação, a dor aparece apenas durante a atividade, mas há casos em que mesmo em repouso a dor intensa e aguda permanece, como no caso do empresário Vinícius Canhedo. Ele é adepto do triatlon — modalidade que mistura natação, corrida e ciclismo — e durante a preparação para uma das provas, em fevereiro deste ano, começou a ter os primeiros sinais da canelite. “Senti dor quando colocava o pé no chão durante os treinos. E ela foi ficando mais intensa”, relata. Sem querer interromper o treinamento, competiu sentindo fortes dores e, desde então, faz fisioterapia. Quando não está perto de competições importantes, ameniza os exercícios com natação e esteira. “O melhor mesmo era ficar parado, mas não posso, senão perco meu rendimento.” Ao contrário de Vinícius, o professor de educação física Emerson, que também era atleta de alto rendimento, decidiu parar com a corrida. “Atletas mal informados são os principais alvos da canelite”, acredita. Para prevenir o reaparecimento da lesão, ele mantém uma rotina de musculação. A causa da canelite ainda não foi esclarecida totalmente, mas é possível preveni-la com exercícios que ajudem a fortalecer essa região da perna. “Algumas pesquisas têm sido publicadas sobre o efeito dos músculos em proteger o osso da região anterior da perna. Estudos demonstraram que, quanto menor é a atividade muscular, mais difícil se torna a adaptação óssea ao impacto”, esclarece o fisioterapeuta Wagner Martins. Outro fator que colabora para o surgimento da canelite é um tipo de má formação dos pés, a pronação — quando a pisada é para dentro. O especialista em traumatologia esportiva Marcus Montenegro explica que quem tem esse tipo de pisada compensa o desequilíbrio fazendo pressão na musculatura de dentro da perna, causando, assim, uma inflamação no periósteo (membrana que envolve o osso). “Nesse caso, é importante uma avaliação do médico do esporte. Ele pode solicitar alguns exames para auxiliar no diagnóstico, como, por exemplo, a baropodometria (exame de avaliação da pisada). Outro exame importante é a ressonância magnética, pois com o raio X não é possível visualizar a lesão”, explica. Quando a canelite é descoberta logo no início, o resultado é mais eficaz. A economiária Geisa Celina Vieira participa do grupo de corrida do professor Márcio Monteiro e teve canelite logo nas primeiras aulas: “A dor era intensa, mas eu só sentia quando ia correr. Depois que parava, ela ia embora”, lembra. Como não fazia qualquer outro exercício físico antes, o despreparo do corpo pode ter favorecido o surgimento do problema. Dado o diagnóstico, há um mês, os treinos foram adaptados para que ela se recuperasse. “O professor me passava os treinos para mudar a pisada, a maneira de caminhar”, conta. Com o tempo, a dor passou. Durante os treinos do grupo de corrida, Márcio Monteiro introduziu o disco de equilíbrio — espécie de bola achatada sobre a qual os alunos treinam a estabilidade do corpo — e percebeu redução na incidência da inflamação. “Além disso, exercícios de salto exigem mais e ajudam a fortalecer esse grupo de músculos afetados pela canelite”, ressalta. Além da escolha errada do calçado e dos problemas de pisada, terrenos muito lisos podem favorecer a inflamação. “Se você pratica corrida e tem sintoma de dor na parte anterior da perna, procure um ortopedista e um fisioterapeuta para uma avaliação. Agora, se você pensa em iniciar a corrida ou já iniciou, procure um professor de educação física para potencializar suas aptidões físicas relacionadas com a corrida”, orienta o especialista Martins. “O tratamento deve ser sempre individualizado e depende do exame físico, ou seja, da avaliação feita a partir de exames complementares e da dor e do desconforto que o paciente sente em manobras específicas.” Montenegro completa: “É importante seguir um treino prescrito a partir das condições físicas e dos objetivos do atleta. E sempre respeitar períodos de descanso”.
Dicas Para deixar a canelite longe dos treinos, é bom seguir algumas regras básicas, que valem também para evitar outras lesões durante os exercícios: — — — — — — —
Faça uma avaliação médica sempre que for iniciar algum esporte. Tenha o acompanhamento de um profissional qualificado. Escolha o tênis adequado para isso, consulte o ortopedista. Faça alongamento antes e depois de cada atividade. Sentiu dor, comunique ao professor. Nos casos iniciais da canelite, o gelo pode ajudar a diminuir a inflamação. Respeite os limites do próprio corpo, nada de exageros
Agradecimentos: Pé Duro Assessoria Esportiva Disponível em: www.correiobraziliense.com.br/revista/2012/06/10/correndo-contra-a-
dor.shtml (Acessado em: 011.06.2013)