ÁGUA
ESPECIAL
EMAS DE BEJA REDUZ ÁGUA NÃO FATURADA EM 12% EM DOIS ANOS O OBJETIVO DA EMPRESA MUNICIPAL PASSA POR CHEGAR AOS 20% JÁ ESTE ANO. INVESTIR NO CONHECIMENTO DA REDE FOI FUNDAMENTAL.
A PARTIR DE MARÇO, HAVERÁ SETE EMPREITADAS A DECORRER EM SIMULTÂNEO PARA SUBSTITUIR REDES
A gestão de perdas de água foi sempre uma “preocupação presente” na atividade da Empresa Municipal de Água e Saneamento (EMAS) de Beja, mas para que os resultados começassem a surgir foi importante investir num bom conhecimento da rede e delinear uma estratégia para agir em tempo útil. “Até
determinada altura, este trabalho era feito mas sem um fio condutor”, observa Alexandre Leal, administrador executivo da empresa. Foi isso mesmo que foi feito a partir de 2014, com a constituição de uma equipa de gestão de redes e controlo de perdas constituída por quatro pessoas
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que, diariamente, olham para os caudais mínimos noturnos e, através do cruzamento de diversos dados, sinalizam ruturas visíveis e não visíveis no sistema de distribuição de água. Isto permite fazer um diagnóstico das redes e um balanço hídrico mais apurado. Em 2015 e 2016, esta equipa sinalizou 550 ruturas não visíveis. As ferramentas já lá estavam. Desde 2007, a empresa tinha investido na realização de um cadastro da rede e num sistema de informação geográfica. Nos anos seguintes, foi instalado um sistema de telegestão, sectorizada a rede e criadas zonas de medição e controlo. O sistema estava montado, mas era ainda necessário “colocar as ferramentas a falar umas com as outras”, resume Alexandre Leal. Este conhecimento acrescido do sistema possibilitou a elaboração de um plano estratégico de reabilitação de redes de água que tem norteado as intervenções nesta área, incidindo sobre zonas onde se verificava uma maior incidência de ruturas. Atualmente, estão aplicados 2,5 milhões de euros em empreitadas de renovação de redes, incluindo duas obras em curso na cidade de Beja e outras duas em freguesias rurais. Em Março, serão lançadas quatro novas intervenções – três em zonas rurais e uma na cidade. No que respeita às ruturas visíveis – “mais fáceis de identificar” – o objetivo tem passado por reduzir o tempo de reparação.
CONTADORES SUBSTITUÍDOS A EMAS de Beja tem igualmente tomado medidas para reduzir perdas aparentes – que correspondem a 12% do total de água não faturada em 2016 –, tendo ini-
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MAR | ABR 2017
ciado uma campanha de substituição de contadores ainda em 2014. “Tínhamos um parque de contadores bastante antigo”, observa Alexandre Leal. A ideia é manter um parque com uma idade média de oito anos e, para tal, têm sido substituídos cerca de 1200 contadores por ano. Em 2017, serão 2000 e a partir do ano seguinte, a empresa estima que passará a ser necessária a substituição de cerca de mil equipamentos todos os anos. Em zonas mais isoladas ou em habitações onde não há residentes em permanência, a empresa está a optar pela telemetria. “Queremos em 2017 expandir o parque de contadores por telemetria”, adianta o administrador. Quanto a consumos autorizados não faturados, a empresa municipal tem contadores instalados para saber o que representam no balanço hídrico. Já os consumos ilícitos, correspondem a um consumo “residual”, assegura. Com tudo isto, a EMAS de Beja conseguiu reduzir a água não faturada em doze pontos percentuais, entre 2014 e 2016, de 37 para 25%. “Em termos de recuperação de perdas financeiras, o mais aliciante é ir às perdas aparentes”, admite Alexandre Leal, mas para esta entidade gestora, as perdas reais “têm uma importância grande”, porque compram água em alta e o ganho financeiro com a sua redução pode ser “significativo”. O objetivo é “continuar a reduzir até ao mínimo” e atingir os 20% de água não faturada já este ano, ainda que Alexandre Leal reconheça que será “cada vez mais difícil” manter o mesmo ritmo de redução a partir de agora. Para as perdas reais, a empresa tem como meta que estas correspondam a cerca de 30 a 40% do volume não faturado, mas ainda está longe desse valor. “É para aí que queremos caminhar”, diz o administrador.
AGUARDA-SE FINANCIAMENTO Para concretizar novos projetos, a EMAS de Beja está também atenta aos avisos do Programa Operacional de Sustentabilidade e Eficiência no Uso de Recursos e prevê reformular o plano de investimentos – nomeadamente alargando o prazo de implementação até 2022 – para incorporar novas orientações. Ainda assim, a empresa municipal não põe de lado a possibilidade de criar sinergias com outros municípios e admite que têm existido “conversações” nesse sentido. “Estamos expectantes, a aguardar a ver o que o futuro nos traz”, remata Alexandre Leal. JOANA FILIPE